Candomble Estudo Das Palavras
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Ogun
Ogun é na África, em país Yorubá, o deus do ferro, dos ferreiros e de todos aqueles
que utilizam este metal: agricultores, caçadores, açougueiros, barbeiros,
marceneiros, carpinteiros, escultores de madeira. Desde o início do século, os
mecânicos, os motoristas de automóveis ou de trens, os reparadores de velocípedes e
de máquinas de costura vieram se juntar ao grupo de seus fiéis.
No Brasil, Ogun é sobretudo conhecido como Deus dos Guerreiros. Perdeu sua
posição de protetor dos agricultores, pois os escravos, nos séculos anteriores não
possuíam interesse pessoal na abundância e na qualidade das colheitas e, sendo
assim, não procuravam sua proteção nesse domínio. Como deus dos caçadores ele foi
substituído por Oxossi cujo culto era muito popular em Ketu, local de origem dos
escravos libertos que criaram os primeiros candomblés da Bahia.
No Brasil, Ogun é uma única divindade, tendo, porém, sete nomes: 1. Ogun Mejê; 2.
Ogun Alagmedé; 3. Ogun Onirê; 4, Ogun Alakorô; 5. Ogunjá; 6. Ogun Ominí, 7.
Ogun Wari.
O nome Ogun Mejê teria a sua origem na frase em Yorubá Ogun Mejê Mejê Lodê Iré
(Ogun está nas sete partes do Iré"), alusão a sete vilarejos, hoje desaparecidos, que
teriam existido em volta de Iré. Este número sete, que lhe é associado, é representado
nos locais que lhe são consagrados por instrumentos de ferro forjado, em número de
sete, quatorze ou vinte e um, alinhados todos sobre uma haste de ferro: lança, espada,
enxadas, torquês, facão, ponta de flecha, enxó, símbolos de suas atividades
guerreiras, agrícolas, de ferreiro, de caçador, de escultor, etc.
A origem deste número sete. ligado a Ogun, e do número nove em relação a Oyá-
Yansã nos é relatada por uma lenda onde Oyá era a companheira de Ogun Alagbedê
(2.º da lista) - Ogun o ferreiro - antes de se tornar mulher de Xangô Ela ajudava
Ogun no seu trabalho, levava docilmente suas ferramentas da casa para a oficina e,
lá, ela manejava o fole para ativar o fogo da forja. Um dia, Ogun ofereceu a Oyá uma
vara de ferro, parecida com uma de sua propriedade, e que tinha o dom de dividir em
sete partes os homens e em nove as mulheres quepor ela fossem tocados, no decorrer
de uma luta. Xangô gostava de vir sentar-se à forja a fimde apreciar Ogun bater o
ferro e, freqüentemente, lançava olhares a Oyá; esta, por seu lado, furtivamente o
olhava. Xangô era muito elegante, muito elegante mesmo, afirma o contador da
história. Sua imponência e seu poder impressionaram Oyá e, um belo dia, ela fugiu
com ele. Ogun lançou-se a sua perseguição, encontrou os fugitivos e brandiu sua
vara mágica. Oyá fez o mesmo e eles se tocaram ao mesmo tempo. E, assim, Ogun foi
dividido em sete partes e Oyá em nove, recebendo ele o nome de Ogun Mejê (1.º da
lista).
Ogun teria sido o filho mais velho de Odudúa, o fundador de Ifé. Era um temível
guerreiro que brigava sem cessar contra os reinos vizinhos. Guerreou contra a cidade
de Ará e destruiu. Apossou-se drrra cidade de Iré, matou o rei, aí instalou seu próprio
filho no trono e regressou glorioso, usando ele mesmo o título de Oniré, rei do Iré,
sendo chamado Ogun Oniré (3.º da lista).
Por razões que ignoramos, ogun nunca teve direito de usar uma coroa, Ade, feita co
pequenas contas de vidro e ornada por franjas de missangas, dissimulando o rosto,
emblema de realeza par os Yorubás. Foi autorizado a usar, apenas, um simples
diadema, chamado Akorô, e isto lhe valeu ser saudado como Ogun Alakorô (4.º da
lista). Ogun decidiu, após numerosos anos ausente de Irê, voltar para visitar seu
filho. Infelizmente as pessoas da cidade, celebravam, no dia de sua chegada, uma
cerimônia durante a qual os participantes não podiam falar, sobre pretexto algum.
Ogun tinha fome e sede. Descobriu alguns potes destinados a vinho de palma, mas
ignorava que estivessem vazios. Ninguém o havia saudado ou respondido às suas
perguntas. Ele não reconhecia o local por ter ficado ausente durante muito tempo.
Ogun, cuja paciência é pequena, enfureceu-se com o silêncio geral, para ele
considerado ofensivo. Começou a quebrar, com golpes de sabre, os potes e, logo
depois, sem poder se conter, começou a cortar a cabeça das pessoas mais próximas,
até que seu filho apareceu, oferecendo-lhe as suas comidas prediletas, tais como cães
e caramujos, feijões regados com azeite de dendê e potes de vinho de palma.
Enquanto saciava a sua fome e a sua sede, os habitantes de Iré cantavam louvores
onde não faltava a menção a Ogunjajá, que vem da frase Ogun je ajá - "Ogun come
cachorro"- oque lhe valeu o nome de Ogunjá ( 5.º nome da lista). Satisfeito e calmo,
Ogun lamentou seus atos de violência e declarou que já vivera bastante. Baixou a
ponta de seu sabre em direção ao chão e desapareceu pela terra a dentro,
transformando-se em Orixá.
Esta primazia foi, no entanto, contestada por Obaluayé e Nanan Buruku que, como
veremos mais tarde, se insurgiram contra ela e, para provar sua maior antiguidade de
vinda ao mundo, se recusaram a utilizar facas de ferro forjado por Ogun,
este"recém-chegado" !!! Ogun é também representado por franjas de folhas de
dendezeiro, devidamente desfiadas, chamadas Mariwó. Era, segundo se diz, a roupa
por ele usada, em outros tempos, quando a tecelagem ainda não tinha sido inventada.
Estes Mareiwós, pendurados em cima da porta e das janelas de uma casa, ou na
entrada dos caminhos, representam proteções e barreiras contra as más influências.
Na África, os locais consagrados a Ogun ficam ao ar livre, na entrada dos palácios
dos reis e nos mercados. São geralmente pedras em forma de bigorna colocadas sob
uma grande árvore, Araba, ( Ceiba Pentandra) e protegidas por uma cerca de
nativos, Peregún (Draceana fragans) ou de Akoko (Newboldia laevis). Nestes locais,
periodicamente, realizam-se sacrifícios de cachorros e de galos.
A vida amorosa desse Orixá caracteriza-se pela instabilidade. Ogun foi o primeiro
madiro de Oyá-Yansã, aquela que se tornaria, mais tarde, mulher de Xangô. Teve,
também, relações com Oxun antes que ela fosse viver com Oxossi e com Xangô. E,
também, com Obá, a terceira mulher de Xangô. Teve numerosas aventuras galantes
quando partia para as guerras, tornando-se, assim, o pai de diversos outros Orixás,
como Oxossi e Oranmiyan.
Oranmiyan, ao que se diz, fora concebido em condições muito particulares,
dificilmente aceitas por um geneticista, pois teria tido dois pais ao mesmo tempo... De
acordo com a lenda, Ogun, no decorrer de suas expedições guerreiras, conquistou a
cidade de Ogotum, saqueou-a, dela retirando valiosos despojos. Uma prisioneira de
rara beleza, Lakanjé, agradou-o ele não respeitou a sua virtude. Mais tarde, quando
a mesma mulher foi vista por Odudúa ( pai de Ogun) este mostrou-se igualmente
perturbado, desejou possuí-la, tornando a finalmente como uma de suas mulheres.
Ogun, amedrontado, não revelou a seu pai o que havia se passado entre ele e a bela
prisioneira. Nove mês mais tarde, Oranmiyan vinha ao mundo . Seu corpo,
entretanto, estava dividido verticalmente em duas dores: marrom de um lado, pois
Ogun possuía a cor escura, e amarelo do outro, como Ododúa, que era bastante claro
de pele.
Ele mata tanto o proprietário da coisa roubada como aquele que critica esta ação.
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Oxossi, deus dos caçadores, seria irmão mais jovem ou filho de Ogun. Seu culto
encontra-se quase extinto na África, nos países de língua Yorubá, no entanto é
muito difundido no Novo Mundo, tanto no Brasil quanto em Cuba. Isto explica-se,
talvez, pelo fato de Kétu, na África, haver sido completamente destruído e
saqueado pelas tropas do rei Daomé, no século passado, sendo os seus habitantes
vendidos como escravos para o Brasil e para a Cuba,
inclusive os iniciados no Culto de Oxossi, chegou-se a tal ponto que, embora
existindo ainda, em Kétu, os locais onde Oxossi recebia outrora oferendas e
sacrifícios, já não existem, atualmente, pessoas que saibam ou desejam cultuá-lo.
No Brasil, seus numerosos iniciados usam colares de cor verde ou azul claro
quinta-feira é o dia da semana que lhe é consagrado; Oxossi tem como o símbolo,
tanto na África como no Brasil, um arco e flecha de ferro batido; sacrificam-lhe
porcos e são-lhe oferecidos pratos de Axoxo, milho fervido, servido com pedaços da
polpa de coco. Oxossi é sincretizado na Bahia com São Jorge e, no rio de Janeiro,
com São Sebastião. No decorrer das cerimônias públicas do Xiré dos Orixás, ele
segura em uma das mãos o arco e a flecha, seus símbolos, e tem na outra um
Erukerê, espanta-moscas, insígnia de dignidade dos reis da África e que lembra e
ter sido ele so rei de Kétu. Suas danças imitam a caça, a perseguição do animal e o
arremesso da flecha. É sau dado com o grito Oké
A importância de Oxossi deve-se, na África, a diversos fatores:
O primeiro, era descoberta, no decorrer de suas expedições, de local favorável ao
estabelecimento de uma roça ou de um vilarejo. Tornava-se, assim, o primeiro
ocupante do lugar e senhor da terra, Onilé, com autoridade sobre os habitantes
que aí viessem a se instalar posteriormente.
O terceiro, de ordem administrativa e policial pois, outrora, os caçadores, Odés,
eram os únicos a possuir armas nos vilarejos, servindo também como guardas
noturnos, Oxós.
uma lenda explica a origem do nome de Oxossi:
"Olofin Odudúa, rei de Ifé, celebrava a festa dos novos inhames, esquecendo-se,
porém, de fazer uma oferenda às feiticeiras. Havia grande multidão no pátio do
Palácio Real.
Olofin estava sentado em grande estilo, magnificamente vestido, cercado de suas
mulheres e de seus ministros, enquanto que escravos o abanavam e espantavam
moscas, tambores batiam e louvores eram entoados em sua honra. Os convivas
conversavam alegremente, e felizes festejavam o vento, comendo os inhames novos
e bebendo vinho de palma. Subitamente, um pássaro gigantesco planou sobre a
multidão, indo se empoleirar sobre o teto do prédio central do Palácio do Rei. Este
pássaro malvado era mandado pelas feiticeiras, chamadas Eleyés, proprietárias de
pássaros utilizados na realização de nefastos trabalhos. No Palácio reinava a
confusão e o desespero. Foram procurados, sucessivamente, quatro Oxós,
caçadores guardiães da noite, chamados respectivamente de Oxotôgun, o atirador
de vinte flechas, Oxotoji, o atirador de quarenta flechas, Oxatadotá, o atirador de
cinqüenta flechas e Oxótakanxoxo, o atirador de uma única flecha. Nenhum dos
três primeiros - todos muitos seguros de si mesmo um pouco fanfarrões - conseguiu
atingir o pássaro, apesar de possuírem, todos eles, grande habilidade. O pássaro,
de proporções gigantescas, era protegido pelo poder das feiticeiras.
Quando chegou a vez de Oxótakanxoxo, sua mãe foi consultar um Babalaô que lhe
declarou o seguinte: "Seu filho está somente a um passo, seja da morte, seja da
riqueza. Faça uma oferenda e a morte se transforma em riqueza".
Ela foi depositar, então, na estrada, uma galinha que havia sido sacrificada,
cortando-lhe e abrindo-lhe o peito, pois essa foi a boa maneira de se fazer uma
oferenda às feiticeiras. A mãe de Oxátakanxoxô pronunciou três vezes um
encantamento: "Que o peito do pássaro aceite esta oferenda!!!" Era o momento
preciso em que seu filho lançava sua única flecha. O pássaro deixara relaxar,
exatamente agora, o seu poder protetor, o qual teria impedido a oferenda de
chegar ao seu peito e, assim, a flecha de Oxátakanxoxô o atingiu em cheio. Ele caiu
pesadamente ao chão e morreu. Todo mundo se pôs a cantar e a dançar:
"Oxowusi! Oxo é popular! Oxowusi! Oxo é popular!"
Com o passar do tempo, Oxowusi transformela ou-se em Oxossi.
Conta-se no Brasil, que Oxossi era irmão de Ogun e de Exú, todos três filhos de
Yemanjá. Exú, por ser indisciplinado e insolente com sua mãe, foi por mandado
embora.
Os outros dois filhos se conduziam melhor. Ogun trabalhava no campo e Oxossi
caçava nas florestas vizinhas. A casa encontrava-se, assim, abastecida de produtos
agrícolas e de caça. Yemanjá, no entanto, andava inquieta e resolveu consultar um
Babalaô. Este aconselhou não mais deixar Oxossi ir à caça, pois se arriscava a
encontrar Osanyin, aquele que possuía o conhecimento das virtudes das plantas e
que vivia nas profundezas da floresta. Oxossi ficaria exposto, assim, a um feitiço de
Ossanyin para obrigá-lo a permanecer em sua companhia.
Em vista disto, Yemanjá ordenou ao filho que renunciasse às suas atividades de
caçador. Este, porém, de personalidade independente, continuou as suas incursões
à floresta. Partia em companhia de outros caçadores que tinham o hábito de, ao
chegarem aopé de uma grande árvore, Iroko (Chlorophora excelsa), se separarem,
indo à caça isoladamente, para se encontrarem, no final do dia, no mesmo local.
Certa noite, Oxossi não voltou ao local do encontro, nem respondeu aos apelos dos
outros caçadores. Ele tinha encontrado Ossanyin que o convidou à beber uma
poção onde certas folhas tinham sido maceradas, caindo assim em estado de
amnésia. Não sabia mais quem era nem onde morava. Ficou, pois, vivendo em
companhia de ossanyin, como havia previsto o Babalaô.
Ogun, inquieto pela ausência do irmão, partiu à sua procura, encontrando-o nas
profundezas da floresta. Ele o trouxe de volta, mas Yemanjá , irritada, não quis
receber o filho desobediente. Revoltado com a intransigência materna, Ogun
recusou-se a continuar em casa. É por este motivo que o local consagrado a ogun
encontra-se sempre ao ar livre. Quanto a Oxossi, este preferiu voltar para a
floresta, para perto de Ossanyin, Yemanjá desesperada por ter perdido os três
filhos, transformou-se em um rio.
O contador desta lenda, no Brasil, destaca o fato de que "estes quatro deuses
Yorubás-Exú, Ogun, Oxossi e Ossanyin - são igualmente simbolizados por objetos
em ferro forjado e vivem todos eles ao ar livre".
O arquétipo de Oxossi é aquele das pessoas espertas, rápidas, sempre alertas e em
movimento. São pessoas cheias de iniciativa e sempre na pista de novas descobertas
ou de novas atividades. Têm o senso da responsabilidade e dos cuidados para com
a família, são hospitaleiras, generosas, amigas de ordem, mas gostam muito de
trocar de local de residência e achar novos meios de existência em detrimento,
algumas vezes, de uma vida doméstica harmoniosa e calma.
Uma lenda explica como surgiu o nome de Òsóòsì, derivado de Òsówusì (“o
guarda-noturno é popular’’): “Olófin Odùduà, rei de Ifé, celebrava a festa dos
novos inhames, um ritual indispensável no início da colheita, antes do quê,
ninguém podia comer desses inhames. Chegado o dia, um grande multidão reuniu-
se no pátio do palácio real. Olófin estava sentado em grande estilo, magnificamente
vestido, cercado de suas mulheres e de seus ministros, enquanto os escravos o
abanavam e espantavam as moscas, os tambores batiam e louvores eram entoados
para saudá-lo. As pessoas reunidas conversavam e festejavam alegremente,
comendo dos novos inhames e bebendo vinho de palma. Subitamente um pássaro
gigantesco voou sobre a festa, vindo pousar sobre o teto do prédio central do
palácio. Esse pássaro malvado fora enviado pelas feiticeiras, as Ìyámi Òsòròngà,
chamadas também as Eléye, isto é, as proprietárias dos pássaros, pois elas
utilizam-nos para realizar seus nefastos trabalhos. A confusão e o desespero
tomaram conta da multidão. Decidiram, então, trazer, sucessivamente, Oxotogun,
o caçador das vinte flechadas, de Idô; Oxotogí, o caçador das quarenta flechas, de
Moré; Oxotadotá, o caçador das cinqüenta flechas, de Ilarê, e finalmente
Oxotokanxoxô, o caçador de uma só flecha, de Iremã. Os três primeiros, muito
seguros de si e um tanto fanfarrões, fracassaram em suas tentativas de atingir o
pássaro, apesar do tamanho deste e da habilidade dos atiradores. Chegada a vez de
Oxotokanxoxô, filho único, sua mãe foi rapidamente consultar um babalaô, que lhe
declarou: “Seu filho está a um passo da morte ou da riqueza. Faça uma oferenda e
a morte tornar-se-á riqueza”. Ela foi então colocar na estrada uma galinha, que
havia sacrificado, abrindo-lhe o peito, como devem ser feitas as oferendas às
feiticeiras, e dizendo três vezes: “Que o peito do pássaro receba esta oferenda”. Foi
no momento preciso que seu filho lançava sua única flecha. O pássaro relaxou o
encanto que o protegia, para que a oferenda chegasse ao seu peito, mas foi a flecha
de Oxotokanxoxô que o atingiu profundamente. O pássaro caiu pesadamente, se
debateu e morreu. Todo mundo começou a dançar e a cantar: “Oxó (Òsó) é
popular! Oxó é popular! Oxowussi (Òsówusì)! Oxowussi!! Oxowussi!!!” Com o
tempo, Òsówusì transformou-se em Òsóòsì.
Conta-se no Brasil que Oxóssi era irmão de Ogum e de Exu, todos os três filhos de
Iemanjá. Exu era indisciplinado e insolente com sua mãe e por isso ela o mandou
embora. Os outros dois filhos se conduziam melhor. Ogum trabalhava no campo e
Oxossi caçava na floresta das vizinhanças, de modo que a casa estava sempre
abastecida de produtos agrícolas e de caça. Iemanjá, no entanto, andava inquieta e
resolveu consultar um babalaô. Este lhe aconselhou proibir que Oxóssi saísse à
caça, pois arriscava-se a encontrar Ossaim, aquele que detém o poder das plantas e
que vivia nas profundezas da floresta. Oxóssi ficaria exposto a um feitiço de
Ossaim para obrigá-lo a permanecer em sua companhia. Iemanjá exigiu, então,
que Oxóssi renunciasse a suas atividades de caçador. Este, porém, de
personalidade independente, continuou suas incursões à floresta. Ele partia com
outros caçadores, e como sempre faziam, uma vez chegados junto a uma grande
árvore (ìrókò), separavam-se, prosseguindo isoladamente, e voltavam a encontrar-
se no fim do dia e no mesmo lugar. Certa tarde, Oxóssi não voltou para o
reencontro, nem respondeu aos apelos dos outros caçadores. Ele havia encontrado
Ossaim e este dera-lhe para beber uma porção onde foram maceradas certas
folhas, como a amúnimúyè, cujo nome significa “apossa-se de uma pessoa e de sua
inteligência”, o que provocou em Oxóssi uma amnésia. Ele não sabia mais quem
era nem onde morava. Ficou, então, vivendo na mata com Ossaim, como
predissera o babalaô. Ogum, inquieto com a ausência do irmão, partiu à sua
procura, encontrando-o nas profundezas da floresta. Ele o trouxe de volta, mas
Iemanjá não quis mais receber o filho desobediente. Ogum, revoltado pela
intransigência materna, recusou-se a continuar em casa (é por isso que o lugar
consagrado a Ogum está sempre instalado ao ar livre). Oxóssi voltou para a
companhia de Ossaim, e Iemanjá, desesperada por ter perdido seus filhos,
transformou-se num rio, chamado Ògùn ( não confundir com Ògún, o orixá). O
narrador desta lenda chamou atenção para o fato de que “esses quatro deuses
Iorubás- Exu, Ogum, Oxóssi e Ossaim – são igualmente simbolizados por objetos
de ferro forjado e vivem todos ao ar livr
voltar próxima
Ode onija
Sese lehin aso
Ee ko po de
Oju t'ori egbin ko fo
Ojo po iya ma bi
A kere togbonsinon
Ode ko ti ku agbanli
O si'di bata leriebe
Ode nwo mo eru nba mi
Também unida com nosso bem-estar, Òsóòsì é médico, devido ao tempo dele
gastado na aprendizagem de floresta os segredos de folhas e medicina de Òsányìn,
Àrònì (Aroni em Lukumi) e Aja (Ayao em Lukumi). Maceiro (1954) nos fala em
Ketu é um Olòsányìn, (o padre de Òsányìn) treinou na preparação de medicina
herbária e talismans que são o guardião de Òsóòsì.
Orisha diz que ele não deveria servir qualquer mais para qualquer um.
Elenco para Vestuário elegante quando eles disseram que ele não pudesse ser rico,
Já na vida dele.
Orisha disse que ele não deveria preocupar, ele faria um vestido.
Quando o dia veio Tudo deles fez " guiné-fowl³ " vestidos;
Eles disseram que ele nunca pudesse ser rico na vida dele.
² que Outro registrou que versão soma, " porque ele também não teve dinheiro " que
também soma aquele Orisha lhe deu bronze e setas de cobre, e que ele caçou com
setas, os símbolos de Oshosi,
' No sexto dia, Aworo Ose (o padre de cabeça de Obàtálá & Òsóòsì) permaneceu
dentro da combinação. Nenhum sacrifício foi feito ou oríkì cantado para Obatala,
mas o àwòrò executaram os ritos para Osoosi. Agarrando o arco e seta de Osoosi na
mão esquerda dele, o padre dançou A Pedra de Osoosi " ao redor " (Okuta
Osoosi) ...As serve uma deidade de caçador, um cachorro foi sacrificado a Osoosi,
como também uma cabra masculina, caracóis e um galo. No ìtàn (story/myth) a casa
de Aworo Ose diz que Osoosi veio de Ile Ife e era um caçador que protegeu Obatala'
Ìlekè Òsóòsì
O colar de Òsóòsì é tradicionalmente dobre encalhado com azul e amber/honey,
normalmente em padrões de sete e quatorze. O colar também tem acentos de coral
vermelho, jato e ouro. Algumas linhas de tradição também somam cowries..
Detalhe de um tassle de um mazo " pequeno " decorava igba Òsóòsì (a tigela de Òsóòsì)
Pulseiras com um desígnio espiral são usadas como parte da regalia dos Caçadores
achada na tradição de Lukumi. Aqui mostrada em marfim e prata. De acordo com Denis
Williams (1974) estas pulseiras, são levados ìfúnpá chamado com outros charmes e
medicina, quando não em uso amarrou ao colete do caçador. O ìfúnpá é usado no braço
superior e " manipulou para produzir engasgamento no inimigo
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Como personagem histórico, Xangô teris sido o terceiro Alafin Oyo, Rei ( Senhor
do Palácio) de Oyo. Era filho de Oranmiyan e de Torossí, esta filha de Elempe, rei
dos Tapa, que tinha firmado uma aliança com Oranmiyan. Xangô cresceu no país
de sua mãe indo se instalar, mais tarde, em Kosô, onde os habitantes não o
aceitaram por causa de seu caráter violento e imperioso; mas ele conseguiu,
finalmente , impor-se pela força. Em seguida, acompanhado pelo seu povo, dirigiu-
se para Oyo, onde estabeleceu um bairro que recebeu o nome de Kosô. Conservou,
assim, seu título de Oba Kosô que, com o passar do tempo, veio a fazer parte de
seus Orikis (louvores).
Dadá-Ajaká, irmão consangüíneo de Xangô, filho mais velho de Oranmyian,
reinava em Oyo por essa época. Seu caráter era calmo e desprovido da energia
necessária a um verdadeiro chefe. Xangô o destronou e Dadá-Ajaká exilou-se em
Igboho, durante os sete anos de reinado de seu meio-irmão. Teve que se contentar,
então, em usar uma coroa feita de cauris, chamada Adé de Bayani. Depois que
Xangô deixou Oyo, Dadá-Ajaká voltou a reinar. Em contraste com a primeira vez,
ele mostrou-se, agora, valente e guerreiro e, voltando-se contra os parentes da
família materna de Xangô, atacou os Tapa, sem grande sucesso.
Xangô, sob seu aspecto divino, é filho de Oranmyian, tendo Yamassé como mãe e
sendo marido de três divindades: Oyá, Oxun e Oba, que se tornaram rios no país
Yorubá.
Xangô é viril e potente, violento e justiceiro, castiga os mentirosos, os ladrões e os
malfeitores. Por este motivo, a morte pelo raio é considerada infamante. Da mesma
forma, uma casa atingida por um raio é uma casa marcada pela cólera de Xangô.
O proprietário deve pagar pesadas multas ao sacerdotes do Orixá que vêm
procurar, nos escombros, os Edun Ará ( pedras de raio) lançados por Xangô e
profundamente enterradas no local onde o solo foi atingido.
Este Edun Ará (na realidade machados neolíticos ) são colocados sobre um pilão de
madeira esculpido, odô, consagrado a Xangô. Tais pedras são consideradas
emanações de Xangô e contém o seu Axé - o seu poder. O sangue dos animais
sacrificados é derramado, em parte, sobre suas pedras de raio para manter-lhe a
força e a potência. O carneiro, cuja chifrada tem a rapidez do raio, é o animal cujo
o sacrifício mais lhe convêm. Fazem-lhe, também, oferecimentos de Amalá, iguaria
preparada, com farinha de inhame regada com um molho feito com quiabos. É no
entanto, formalmente proibido oferecer-lhe feijões brancos da espécie Sesé. Todas
as pessoas que lhe são consagradas estão sujeita à mesma proibição.
O emblema de Xangô é o duplo machado estilizado, Oxé, que os seus iniciados
trazem na mão, quando em transe.
O chocalho, chamado Xeré, feito de uma cabeça alongada, contendo pequenos
grãos, é sacudido em honra a Xangô. Convenientemente agitada, quando são
anunciados os seus louvores, este instrumento imita o barulho da chuva.
As saudações, Oriki, que seus fiéis lhe dirigem não deixam de ter certa graça e
mostram a sua forte personalidade:
Ele ri quando vai à casa de Oxun.
Ele fica bastante tempo em casa de Oyá.
Ele usa um grande pano vermelho.
Elefante que anda com dignidade.
Meu senhor, que cozinha o inhame com o ar que escapa de suas narinas.
Meu senhor, que mata seis pessoas com uma só pedra de raio.
Se franze o nariz, o mentiroso tem medo e foge.
Xangô é o irmão mais jovem, não somente de Dadá-Ajaká como também de
Obaluayê. Entretanto, não são os vínculos de parentesco, ao que parece, o que
permite explicar a ligação entre o deus do trovão e os das doenças contagiosas
mas , sim, prováveis origens comuns no país Tapa.
Neste lugar, Obaluayê seria mais antigo que Xangô e, por deferência para com o
mais velho, em certas cidades como Saketé e Ifanyin, são sempre feitas oferendas a
Obaluayê, na véspera da celebração das cerimônias para Xangô.
O pai de Xangô, Oranmiyan, tornou-se, como dissemos acima, o primeiro rei de
Oyo e o fundador da dinastia dos Alafin Oyo. O mito da criação do mundo, tal
como é contado em Oyo, atribuiu este ato a Oramiyan e não a Odudúa. Estes dois
personagens são os fundadores das respectivas linhagens reais de Oyo e de Ifé, o
que bem demonstra que o mito da criação do mundo é, de uma parte e de outra, o
reflexo da lenda histórica sobre a origem das dinastias que dominam esses dois
reinos.
A supremacia estabelecida por Oramiyan sobre seus irmãos nos é contada numa
lenda recolhida, em Oyo, no século passado, por Jean Hess:
"No início, a terra não existia. Em cima era o céu, embaixo era a água. E nenhum
ser animava a terra ou animava a água. Ora, o Todo Poderoso Olodumaré criou,
no início, sete príncipes coroados. Fez aparecer em seguida sete sacos onde haviam
búzios, missangas e tecidos, uma galinha e vinte e uma barras de ferro. Fez,
também, com tecido preto, um volumoso pacote do qual não se via o conteúdo.
Criou, enfim, uma longa corrente de ferro com a qual prendeu os tesouros e os sete
príncipes. Depois, deixou que tudo caísse do alto do céu. No limite do vazio não
havia senão água. Olodunmaré lançou uma noz de palma que caiu na água e, no
mesmo momento uma palmeira se levou em direção aos príncipes, oferecendo-lhes
um abrigo no desabrochar de seus galhos. Os príncipes aí se refugiaram e se
instalaram com suas bagagens. A corrente de ferro voltou ao Todo Poderoso.
Eram todos príncipes coroados e, por conseqüência, todos queriam comandar.
Resolveram se separar a fim de seguir os seus destinos. Os sete príncipes decidiram
dividir, entre eles, a soma do tesouro que o Todo Poderoso lhe havia dado. Os seis
mais velhos pegaram os búzios, as contas, os tecidos e tudo que julgaram precioso.
Deixaram ao mais jovem, Oranmyian, o pacote de tecido preto. Ele o abriu e
encontrou uma grande quantidade de substância preta que não conhecia. Sacudiu
o tecido. A substância caiu na água e tornou-se um montículo. A galinha para lá
voou e, logo que pousou, começou a raspar com os pés e com o bico a substância
preta que se estendeu por todos os lados. O montículo foi se alargando e tomando,
progressivamente, o lugar da água. Eis como nasceu a Terra, segundo a vontade do
Todo Poderoso... Eis como Oraniyan tronou-se rei de Oyo e soberano de todo país
Yorubá, quer dizer, de toda a Terra".
O culto de Xangô é muito popular no Novo Mundo, tanto no Brasil como nas
Antilhas. Em Recife, seu nome serve mesmo para designar o conjunto de cultos
africanos praticados no Estado de Pernambuco. Na Bahia, seus fiéis usam colares
vermelho e branco, como na África. Quarta-feira é o dia da semana que lhe é
consagrado. Assim que saudam, gritando: Kawo-Kabiyisilé!, "Venham ver o rei
descer sobre a Terra!" Os tambores Batá não são conhecidos no Brasil, embora
ainda o sejam em Cuba, mas os ritmos batidos para Xangô são os mesmos.
São ritmos vivos e guerreiros, chamados Tonibodé e Alujá, e são acompanhados
pelos ruídos dos Xerés, agitados em uníssono. No decurso de suas danças, Xangô
brande orgulhosamente seu machado duplo e assim que a cadência se acelera ele
faz o gesto de quem vai pegar num saco Labá, pedras de raio e lançá-las sobre a
Terra. O simbolismo de sua dança deixa, a seguir, aparecer seu lado licenciosos e
atrevido.
No decorrer de certas festas, Xangô aparece frente à assistência, trazendo sobre a
cabeça um Agerê, panela cheia de furos, contendo fogo, e começa a engolir mechas
de algodão inflamadas, denominadas Akará, como na África.
Na Bahia, segundo consta, existem doze Xangôs: 1. Dadá; 2. Obá Afonjá; 3.
Obalubé; 4. Ogodo; 5. Obá Kosô; 6. Jakuta; 7. Aganju; 8. Baru; 9. Oranmiyan; 10.
Airá Intilé; 11. Airá igbonán; 12. Airá Adjaosi.
Reina uma certa confusão nesta lista, pois Dadá (1) é irmão de Xangô, Oranmiyan
(9) é seu pai e Aganju (7), um de seus sucessores. Na Bahia acredita-se que Ogodo
(4)é originário do país Tapa e que segura dois Oxés quando dança, sendo o seu
Edun Ará composto de dois fios. O Airá (10 a 12) seriam Xangôs muitos velhos,
sempre vestidos de branco e usando contas azuis, Seji, em lugar de corais
vermelhos, como os outros Xangôs. Ao que parece, teriam vindo da região de Savé.
Xangô foi sincretizado com São Jerônimo, no Brasil, e com Santa Bárbara, em
Cuba. Já assinalamos, anteriormente, o caráter estranhos de semelhantes escolhas.
Na Bahia, quando uma festa é celebrada em honra de Dadá, irmão mais velho de
Xangô, a cerimônia parece conter reminiscências de fatos antigos, sem que os
participantes saibam, muitas vezes as histórias dos Yorubás. O Iaô de Dadá vem
dançar frente a assistência, tendo na cabeça uma coroa, o Adê de Bayani. Logo
depois, Xangô montado sobre um (ou uma) de seus iniciados, toma a coroa,
colocando-a sobre sua própria cabeça. Após ter dançado assim adornado por um
certo tempo, a coroa é restituída a Dadá.
Este elemento do ritual parece ser uma reconstituição do destronamento de Dadá-
Ajaká por Xangô, e sua volta ao poder sete anos mais tarde.
O arquétipo de Xangô é aquele das pessoas voluntariosas e enérgicas, altivas e
conscientes de sua importância, real ou suposta. Das pessoas que podem ser,. ao
mesmo tempo, grandes senhoras, corteses, mas que não toleram a menor
contradição e, nestes casos, são capazes de se deixarem levar por crises de cólera,
violentas e incontroláveis. Das pessoas sensíveis ao charme do sexo oposto e que se
conduzem com tato e encanto no decurso de reuniões sociais, mas que podem
perder o controle e ultrapassar os limites da decência. Enfim, o arquétipo de
Xangô é aquele das pessoas que possuem elevado sentido de sua própria dignidade
e de suas obrigações, o que as leva a se comportarem com um misto de severidade e
benevolência, segundo os humores do momento, mas sabendo guardar, geralmente,
um profundo e constante sentimento de justiça.
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Oxun é a divindade do rio do mesmo nome que corre na Nigéria, nas regiões Ijexá e
Ijebú. Era, segundo dizem, a segunda mulher de Xangô, tendo vivido antes com
Ogun, Orunmila, e Oxossi, seu pai teria sido Oxalá. As mulheres que desejam ter
filhos dirigem-se a Ogun pois ela, com efeito controla a fecundidade, graças aos
laços mantidos com Iyami-Ajé, "Minha Mãe Feiticeira". Sobre esse assunto, uma
lenda conta que "quando todos os Orixás chegaram à terra organizaram reuniões
onde as mulheres não eram admitidas. Oxun ficou aborrecida por ser posta de lado e
não poder participar de todas as deliberações. Para vingar-se, tornou as mulheres
estéreis e impediu que as atividades desenvolvidas pelos deuses chegassem a
resultados favoráveis. Desesperados, os Orixás voltaram a Olodumaré e explicaram-
lhe as coisas iam mal sobre a terra. Olodumaré perguntou se Oxum participava das
reuniões e os Orixás responderam que não. Olodumaré explicou-lhes então que que,
sem a presença de Oxun e do seu poder sobre a fecundidade, nenhum de seus
empreendimentos poderiam dar certo. De volta à terra, os Orixás convidaram Oxun
para participar de seus trabalhos o que ela acabou por aceitar, depois de muito lhe
rogarem . Logo em seguida, as mulheres tornaram-se fecundas e todos os projetos
obtiveram felizes resultados".
Oxun é chamada de Iyalodê, título conferido à pessoa que ocupa o lugar mais
importante entre todas as mulheres da cidade. Os Axés de Oxun constituem-se de
pedras do fundo do rio do mesmo nome, de jóias de cobre e de um pente de tartaruga.
O amor de Oxun pelo cobre - metal mais precioso do país Yorubá nos tampos antigos
- é mencionado nas saudações que lhe são dirigidas:
"Mulher elegante que tem jóias de cobre maciço.
É uma cliente dos mercadores de cobre.
Oxun limpa suas jóias de cobre antes de limpar seus filhos".
Numerosos lugares profundos, Ibus, entre Igedê, onde nasce o rio, e leké, onde eles
deságua na lagoa, são os locais de residência de Oxun.
Aí, ela é adorada sob nomes diferentes e suas características são distintas umas das
outras. Encontramos:
"Oxun Ijumú, rainha de todas as Oxuns e que, como a que vem a seguir, está em
estreita ligação com as bruxas, Ajés;
Oxun Ayalá ou Oxun Aynlá, a Grande Mãe (a Avó) que foi a mulher de Ogun;
Oxun Oxogbô, cuja fama é grande por ajudar as mulheres a ter crianças;
Oxun Apará, a mais jovem de todas, de gênio belicoso;
Oxun Abotô, muito feminina e elegante;
Oxun Abalú, a mais velha de todas;
Yeyê Ipetú;
Yeyê Ipondá, guerreira;
Yeyê Karé, muito guerreira;
Oxun Popolocum, cujo culto é realizado próximo à lagoa e que, diz-se no Brasil, não
sobe à cabeça das pessoas". Apesar de todos esses nomes e características diversas é
sempre a única e mesma Oxun.
Sobre Oxun Ayalá, também chamada de Oxun Ayanlá, a Avó, diz-se que era uma
mulher poderosa e guerreira que ajudava Odun Alagbedé, seu espojo, na forja, na
mesma maneira que Oyá, como vimos no capítulo precedente. Ogun forjava e,
quando o ferro começava a esfriar, ele o colocava no fogo, atiçado por Oxun que
fazia funcionar os foles em cadência. O barulho que eles faziam "kutu, kutu, kutu",
era tão ritmado que parecia qu oxu tocava um instrumento de música. Um Egungun
que passava pela rua se pôs a dançar, inspirado pelos sons que provinham dos foles.
Os passantes maravilhados testemunharam seu contentamento oferecendo dinheiro a
Egungun. Este, muito honestamente, ofereceu metade da soma recolhida a Oxun, a
Avó, o que lhe valeu ser denominada de:
"Tocadora de música num fole para fazer dançar Egungun.
Proprietária de um fole que sussurra como a chuva, e cuja tosse ressoa como explode
o cobre e como urra o elefante".
Laços muito estreitos existem entre Oxun e os reis de Oxogbô. Neste lugar, a festa
anual das oferendas a Oxun é uma comemoração pela chegada de Larô, fundador da
dinastia, às margens deste rio cujas águas correm permanentemente. Larô, depois de
muitas atribulações, achando o lugar favorável ao estabelecimento de uma cidade, aí
se fixou com sua gente. Alguns dias depois de sua chegada, uma de suas filhas foi se
banhar num rio e se perdeu sob as águas. reapareceu no dia seguinte, soberbamente
vestida, declarando ter sido muito bem acolhida pela divindade do rio. Larô, para
demonstrar sua gratidão, dedicou-lhe oferendas. Numerosos peixes, mensageiros da
divindade, vieram comer em sinal de aceitação, as comidas que Larô havia jogado
nas águas. Um grande peixe que nadava próximo ao local onde este se encontrava
cuspiu-lhe água. Larô recolheu esta água numa cabaça e bebeu, fazendo assim um
pacto de aliança como rio. Estendeu, depois, as duas mãos para frente e o grande
peixe saltou sobre elas. Larô recebeu o título de Ataojá - contração da frase Yorubá A
tewo gba ejá, "Ele estende as mãos e recebe o peixe" - e declarou: Oxun gbô, "Oxun
está em estado de maturidade", suas águas serão sempre abundantes, esta foi a
origem do nome do cidad de Oxogbô.
No dia da festa anual, Ataojá vai solenemente até as margens do rio. Sua cabeça é
coberta por uma coroa monumental feita com pequenas missangas reunidas e é
vestido com pesada roupa de veludo. Anda com calma e gravidade, rodeado por suas
mulheres e seus dignatários. Uma de sua s filhas leva, nesta procissão anual, a
cabaça contendo os objetos sagrados de Oxun. É a Arugbá Oxun, "aquela que leva a
cabaça de Oxun". Ela representa a moça que outrora desaparecera no rio. Sua
pessoa é sagrada, e o próprio rei inclina-se à sua frente. Depois que atinge a idade da
puberdade ela nào pode mais preencher essa função. Mas, pela graça de Oxun, a
descendência de Ataojá é sempre numerosa, não faltando, pois, a possibilidade de se
encontrar uma Arugbá Oxun disponível.
Ataojá senta-se numa clareira e acolhe as pessoas que vem assistir a cerimônia. Os
reis e os chefes das cidades vizinhas estão todos presentes ou enviaram
representantes. as delegações chegam, uma após a outra, acompanhadas por
tocadores de tambores. Trocas de saudações, prosternações e danças sucedem-se
como formas de cortesia recíproca, com animação crescente. Ao final da manhã,
Ataojá, acompanhado pelo seu povo e pelos seus hóspedes, aproxima-se do rio e aí
manda lançar oferendas e comidas, no mesmo lugar onde Larô o fizera outrora. Os
peixes as disputam sob o olhar atento das sacerdotisas de Oxun.
Ataojá dirige-se, a seguir, até as proximidades de um pequeno templo vizinho e senta-
se sobre a pedra onde seu ancestral Larô havia repousado em outros tempos. A
adivinhação é feita para saber se Oxun está satisfeita e s ela tem alguma vontade de
exprimir. Ataojá volta em seguida para a clareira, onde recebe e trata seus
convidados com uma generosidade digna da reputação de Oxun, a rainha de todos os
rios.
No Brasil, os adeptos de Oxun usam colares de contas de vidro de cor amarelo-ouro e
numerosos braceletes de latão. o dia da semana que lhe é consagrado é o sábado e ela
é saudada, como na África, pela expressão Oré Yeyé o!!!. "Chamemos a
benevolência da Mãe !!!".
É recomendável fazer sacrifícios de cabra a Oxun e ofercer-lhe patos de Molokun
(mistura de cebolas, feijão de espécie fradinho, sal e camarões), de Adúm (farinha de
milho misturada com mel de abelha e azeite doce). A sua dança lembra o
comportamento de uma mulher vaidosa e sedutora que vai ao rio para se banhar,
enfeita-se com colares, agita os braços para fazer tilintar os seus braceletes, abana-se
graciosamente e contempla-se com satisfação num espelho. O ritmo que acompanha
as suas danças denomina-se Igexá, nome de uma região da África, por onde corre o
rio Oxun.
Ela é sincretizada, no Brasil, com Nossa Senhora das Candeias (na Bahia) e nossa
Senhora dos Prazeres (em Recife), enquanto que em cuba é assimilada a Nossa
Senhora da Caridade, cuja igreja encontra-se em El Cobre.
O arquétipo de Oxun é o das mulheres graciosas e elegantes, com paixão pelas jóias,
perfumes, vestimentas caras. Das mulheres que são símbolo do charme e da beleza.
Voluptuosas e sensuais, porém mais reservadas que Oyá. Elas evitam chocar a
opinião pública à qual dão grande importância. Sobre sua aparência graciosa e
sedutora escondem uma vontade muito forte e um grande desejo de ascensão social
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Erinlé teria tido com Oxun Ipondá um filho chamado Logun Edé, cujo culto realiza-
se muito raramente, em Ilexá, na África, e parece estar em vias de desaparecimento.
No Brasil, na Bahia, ele tem, ao contrário, numerosos adeptos, dentre os quais o
digno Pai de Santo Eduardo Igexa a quem já nos referimos anteriormente. Logun
Edé tem a particularidade de viver, durante seis meses do ano, sobre a terra,
alimentando-se de caça e, nos outros seis meses, embaixo d'água, num rio, comendo
peixe. Seria também, alternadamente, seis meses do sexo masculino e seis do sexo
feminino. Este deus, segundo o que se diz na África, demonstra aversão pelas roupas
de cor vermelha ou marrom. Nenhum de seus fiéis ousariam usar tais cores nas suas
vestimentas, mas em contrapartida, o azul turquesa parece merecer a sua aprovação.
Ganagana bi ninu elomi ninu Um orgulhoso fica infeliz que um outro esteja contente
A se okùn soro èsinsin É difícil fazer um corda com as folhas espinhosas da
Tima li ehin yeye re urtiga
Okansoso gudugu Montado de cavalinho sobre as costas de sua mãe
Oda di ohùn Ele é sozinho, ele é muito bonito
O ko ele pé li aiya Até a voz dele é agradável
Ala aiya rere fi owó kan Não se coloca as mãos sobre o seu peito
Ajoji de órun idi agban Ele tem um peito que atrai as mãos das pessoas
Ajongolo Okunrin O estrangeiro vai dormir sobre o coqueiro
Apari o kilo òkò tímotímo Homem esbelto
O ri gbá té sùn li egan O careca presta atenção à pedra atirada certeiramente
O tó bi won ti ji re re Ele acha duzentas esteiras para dormir na floresta
A ri gbamu ojiji Acordá-lo bem é o suficiente
Okansoso Orunmila a wa Nós somente o vemos e o abraçamos como se ele fosse
kan mà dahun uma sombra
O je oruko bi Soponna / Somente em Orunmila nós tocamos, mas ele não
Soro pe on Soponna e nià responde
hun Ele tem um nome como Soponna /
Odulugbese gun ogi órun É difícil alguém mau chamar-se Soponna
Odolugbese arin here here Devedor que faz pouco caso
Olori buruku o fi ori já igi Devedor que anda rebolando displiscentemente
odiolodi Ele é um louco que quebra a cerca com a cabeça
O fi igbegbe lù igi Ijebu Ele bate com seu papo numa árvore Ijebu
O fi igbegbe lú gbegbe meje Ele quebrou sete papos com o seu papo
Orogun olu gbegbe o fun oya A segunda mulher diz ao papo para usar um pente
li o (para desinchar o papo)
Odelesirin ni ki o wá on sila Um louco que diz que o procurem lá fora na
kerepa encruzilhada
Agbopa sùn kakaka Aquele que tem orquite ( inflamação dos testículos) e
Oda bi odundun dorme profundamente
Jojo bi agbo Ele é fresco como a folha de odundun
Elewa ejela Altivo como o carneiro
O gbewo li ogun o da ara nu Pessoa amável anteontem
bi ole Ele carrega um talismã que ele espalha sobre o seu
O gbewo li ogun o kan omo corpo como um preguiçoso
aje niku Ele carrega um talismã e briga com o filho do feiticeiro
A li bilibi ilebe dando socos
O ti igi soro soro o fibu oju Ele veste boas roupas
adiju Com um pedaço de madeira muito pontudo ele fere o
Koro bi eni ló o gba ehin oko olho de um outro
mà se ole Rápido como aquele que passa atrás de um campo sem
O já ile onile bó ti re lehin agir como um ladrão
A li oju tiri tiri Ele destroi a casa de um outro e com o material cobre
O rí saka aje o dì lebe a sua
O je owú baludi Ele tem olhos muito aguçados
O kó koriko lehin Ele acha uma pena de coruja e a prende em sua roupa
O kó araman lehin Ele é ciumento e anda "rebolando" displiscentemente
O se hupa hupa li ode olode Ele recolhe as ervas atrás
lo Ele recolhe as ervas atrás
Òjo pá gbodogi ró woro Ele anda "rebolando" desengonçado para ir ao pátio
woro interior de um outro
O pà oruru si ile odikeji A chuva bate na folha de cobrir telhados e faz ruído
O kó ara si ile ibi ati nyimusi Ele mata o malfeitor na casa de um outro
Ole yo li ero Ele recolhe o corpo na casa e empina o nariz
O dara de eyin oju O preguiçoso está satisfeito entre os passantes
Okunrin sembeluju Ele é belo até nos olhos
Ogbe gururu si obè olori Homem muito belo
A mò ona oko ko n ló Ele coloca um grande pedaço de carne no molho do
A mo ona runsun rdenreden chefe
O duro ti olobi kò rà je Ele conhece o caminho do campo e não vai lá
Rere gbe adie ti on ti iye Ele conhece o caminho runsun redenreden
O bá enia jà o rerin sún Ele está ao lado do dono dos obi e não os compra para
O se adibo o rin ngoro yo comer
Ogola okun kò ka olugege li O gavião pega o frango com as penas
òrùn Ele briga com qualquer um e ri estranhamente
Olugege jeun si okurú ofun Ele tem o hábito de andar como a um bêbado que
O já gebe si orún eni li oni bebeu
O dahun agan li ohun Sessenta contas não podem rodear o pescoço de um
kankan papudo
O kun nukuwa ninu rere O papudo come no inchaço de sua garganta
Ale rese owuro rese / Ere Ele quebra o papo do pescoço daquele que o possui
meji be rese Ele dá rapidamente crianças às mulheres estéreis
Koro bi eni lo Ele guarda seus talismãs numa pequena cabaça
Arieri ewo ala A noite coisa sagrada, de manhã coisa sagrada /
Ala opa fari Duas vezes assim coisa sagrada
Oko Ahotomi Rápido como alguém que parte
Oko Fegbejoloro A proibição do pássaro branco é o pano branco
Oko Onikunoro Ele mexe os braços fantasiosamente
Oko Adapatila Marido de Ahotomi
Soso li owuro o ji gini mu Marido de Fegbejoloro
òrún Marido de Onikunoro
Rederede fe o ja kùnle ki Marido de Adapatila
agbo Bem desperto, ele acorda de manhã já com o arco e
flecha no pescoço
Oko Ameri èru jeje oko Como um louco ele se debate para colocar os joelhos
Ameri no chão, como o carneiro
Ekùn o bi awo fini Marido de Ameri que dá mêdo
Ogbon iyanu li ara eni iya ti Leopardo de pele bonita
n je Ele expulsa a infelicidade do corpo de alguém que tem
O wi be se be infelicidade
Sakoto abi ara fini Assim ele diz e assim ele faz
Orgulhoso que possui um corpo muito belo
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Oyá, mais conhecida no Brasil sob o nome de Yansã, é a divindade dos ventos, das
tempestades e do rio Niger que, em Yorubá, chama-se Odô Oyá, o Rio Oyá. Foi a
primeira mulher de Xangô e tinha um temperamento ardente e impetuoso. Conta
uma lenda que Xangô enviou-a em missão ao país dos Baribas, a fim de trazer-lhe
um preparado que, uma vez ingerido, lhe permitiria lançar fogo e chamas pela
boca e pelo nariz. Oyá, desobedecendo as instruções do esposo, experimentou esse
preparo no caminho de volta a Oyó, tornando-se também capaz de cuspir fogo, o
que provocou grande desgosto em Xangô que desejava guardar, só para si, esta
terrível faculdade.
Oyá foi, no entanto, a única das mulheres de Xangô que, ao final de seu reinado,
seguiu-o na sua fulga ao páis de Tapa. E quando Xangô recolheu-se para debaixo
da terra, em Kosô, ela repetiu o feito em Irá.
Antes de se tornar mulher de Xangô, Oyá tinha vivido com Ogun. Vimos, em
capítulos precedentes, como a aparência do deus do ferro e dos ferreiros e causou-
lhe menos efeito que a elegância, o garbo e o filho do deus do trovão
Ela fugiu com Xangô e Ogun, enfurecido, resolveu enfrentar o seu rival; mas este
foi à procura de Olodumaré, o deus supremo, para confessar-lhe que havia
ofendido Ogun. Olodumaré interveio junto ao amante traídoe recomendou-lhe que
perdoasse a afronta. E explicou-lhe: "Você, Ogun, é mais velho do que Xangô!"
(seu avô, se acreditarmos nas lendas referidas mais acima, onde ogun é pai de
Oranmiyan e este, pai de Xangô). "Se, como mais velho, deseja preservar sua
dignidade aos olhos de Xangô, e aos dos outros Orixás, você não deve se aborrecer,
não deve brigar, deve renunciar a Oyá sem recriminações". Mas Ogunnão foi
sensível a este apelo, dirigido aos seus sentimentos de indulgência. Não se resignou
tão calmamente assim, lançou-se ã perseguição dos fugitivos e, como vimos
anteriormente, trocou golpes de varas mágicas com a mulher infiel que foi, então,
dividida em nove partes.
Este número nove, ligado a Oyá, está na origem de seu nome Yansã e encontramos
esta referência no ex-Daomé, onde o culto de Oyá é feito em Porto Novo sob o
nome de Avessân, no bairro Akron, Lokorô dos Yorubás, e sob o Abessân, mais ao
norte, em Baningbé. Estes nomes teriam por origem a expressão Aborimesan,
"com-nove-cabeças", alusão, ao que parece, aos nove braços do delta do Niger.
Uma outra indicação sobre esta nome nos é dada pela lenda da criação da roupa de
Egungun por Oyá. Roupas sob as quais, em certa circunstância, os mortos de uma
família voltam à terra a fim se saudar seus descendentes. Oyá é o único Orixá
capaz de enfrentar e de dominar os Egunguns:
"Oyá se lamentava por não ter filhos. Esta triste situação era conseqüência da
ignorância das suas proibições alimentares. Embora a carne de cabra lhe fosse
recomendada, ela comia carne de carneiro. Oyá resolveu consultar um Babalaô,
que lhe resolveu o seu erro, aconselhando-a a fazer oferendas, entre as quais
deveriam figurar tecido vermelho que, mais tarde, haveria de servir para
confeccionar as vestimentas dos Egunsguns. Tendo cumprido esta obrigação, Oyá
tornou-se mãe de nove crianças, que se exprime em Yorubá pela frase: Iya omo
mesan, origem de seu nome Yansã. Assim que a roupa de Egungun, foi criada,
formou-se, em torno dessa "novidade", uma sociedade composta exclusivamente
de mulheres, com o objetivo de enfrentar a prepotência dos homens. Mas elas
exageraram e se aproveitam da confusão provocada pela aparição desses seres
estranhos, os Egunsguns, para enganar impunemente os seus maridos. Estes
exasperados, conseguiram descobrir seu segredos, apoderaram-se da Sociedade e
reservaram-na aos homens dela excluindo as mulheres para sempre" Existe uma
lenda, conhecida na África e no Brasil, que explica de que maneira os chifres de
búfalo vieram a ser utilizados no ritual do culto de Oyá-Yansã: "Um caçador foi
em expedição à floresta. Colocando-se à espreita, percebeu um búfalo que vinha
em sua direção. Preparava para matá-lo quando o animal, parando subitamente,
retirou a sua pele. Uma linda mulher apareceu. Era Oyá-Yansã. Ela escondeu a
pele num cupinzeiro e dirigiu-se ao mercado da cidade vizinha. O caçador
apossou-se do despojo, escondendo-o no fundo de um depósito de milho, ao lado de
sua casa, indo, em seguida, ao mercado a fim de fazer a corte à mulher búfalo. Ele
chegou a pedi-la em casamento, mas Oyá recusou inicialmente, aceitou entretanto,
quando, de volta à floresta, não mais achou a sua pele. Oyá recomendou ao
caçador que não contasse a ninguém que, na realidade, ela era um animal.
Viveram bem durante alguns anos. ela pôs nove crianças ao mundo, o que
provocou o ciúme das outras esposas do caçador. Estas, porém, conseguiram
descobrir o segredo da origem da nova mulher. Logo que o marido se ausentou
elas começaram a cantar: Máa jé, máa mu, awó re nbe ninu aká, o que significa:
"Você pode beber e comer ( e pode exibir a sua beleza) mas a sua pele está no
depósito ( você não é senão um animal)". Oyá-Yansã compreendeu a alusão, achou
a sua pele, revestiu-a e, tendo retomado a forma de búfalo, matou as mulheres
ciumentas. Os seus chifres ela os deixou, em seguida, com os filhos, dizendo-lhes:
"Em caso de necessidade, bata-os um contra o outro, e eu virei imediatamente em
vosso socorro". É por esta razão que chifres de búfalos são sempre colocados em
locais consagrados a Oyá-Yansã.
Tive a oportunidade de recolher esta história na Bahia. Ela apresenta, entretanto,
algumas variações, em relação àquela que me foi contada posteriormente na
África. Mas Cosme, um velho Pai de Santo, hoje falecido, pronunciava com
perfeita correção a frase Yorubá citada acima.
Os Oriki, saudações dirigidas a Oyá, descrevem-na bastante bem:
"Oyá, mulher corajosa que, ao acordar, empunhou um sabre.
IOyá, mulher de Xangô.
Oyá, cujo marido é vermelho.
Oyá, que morre corajosamente com seu marido.
Oyá, vento da morte.
Oyá, ventania que balança as folhas das árvores que toda a parte.
Oyá, que é à única que pode segurar os chifres de um búfalo".
No Brasil, as pessoas dedicadas a Oyá-Yansã usam colares de contas de vidro cor e
vinho. A quarta-feira é o dia semana que lhe é consagrado, o mesmo dia de Xangô,
seu marido. Seus símbolos são os chifres de búfalo e um alfanje, colocados sobre
seu Oeji. Ela recebe oferendas de cabras e acarajés (akará na África). Ela detesta
abóbora. Carne de carneiro lhe é proibida. Quando se manifesta sobre uma das
iniciadas está adornada com uma coroa cujas franjas de contas escondem o seu
rosto. Ela traz um alfanje, em uma das mãos e um espanta-moscas, feito de cauda
de cavalo, na outra. Suas danças são guerreiras e, se Ogun está presente, ela não
deixa de se empenhar num duelo, lembrança, sem dúvida, de suas antigas
divergências. Ela evoca também, por seus movimentos sinuosos e rápidos, as
tempestades e os ventos enfurecidos. Seus fiéis saudam-na gritando: Epa Heyi Oyá.
No Brasil, Oyá é sincretizada com Santa Bárbara e, em Cuba, com Nossa Senhora
da Candelária.
Certas Yansãs, chamadas de Yansãs de Igbalé, ligadas aos cultos dos mortos, os
Egunsguns, logo que começam a dançar, parecem expulsar as almas errantes com
seus braços largamente abertos e estendidos para a frente.
O arquétipo de Oyá-Yansã é o das mulheres audaciosas, poderosas e autoritárias.
Mulheres que podem ser fiéis e de lealdade absoluta em certas circunstâncias mas
que, em outros momentos, quando contrariadas em seus projetos e seus
empreendimentos, são capazes de se deixar levarem à manifestações da mais
extrema cólera.
Obá, divindade de um rio que leva o mesmo nome, é a terceira mulher de Xangô.
Uma grande rivalidade, porém, não demorou a surgir entre ela e Oxun. Ela era
jovem e elegante, Obá era mais velha e usava roupas fora da moda, fato que nem
chegava a perceber pois pretendia monopolizar o amor de Xangô. Com este
objetivo, sabendo o quanto Xangô era guloso, procurava sempre surpreender os
segredos das receitas de cozinha utilizadoas por Oxun, a fim de preparar as
comidas de Xangô. Oxun, irritada, decidiu pregar-lhe uma peça e, um belo dia,
pediu-lhe que viesse assistir, um pouco mais tarde, a preparação de determinado
prato que - segundo lhe disse Oxun, maliciosamente - realizava maravilhas junto a
Xangô, seu esposo comum. Obá apareceu na hora indicada. Oxun, tendo a cabeça
atada por um pano que lhe escondia as orelhas, cozinhava uma sopa na qual
nadavam dois cogumelos. Oxun mostrou-os à sua rival, dizendo-lhe que tinha
cortado as próprias orelhas, colocando-as para ferver na panela, a fim de preparar
o prato predileto de Xangô. Este, chegando logo em seguida, tomou a sopa com
apetite e deleite e retirou-se, gentil e apressado, em companhia de Oxun. Na
semana seguinte, era a vez de Obá cuidar de Xangô. Ela decidiu pôr em prática a
receita maravilhosa: cortou uma de suas orelhas e fê-la cozinhar numa sopa
destinada a seu marido. Este não demonstrou nenhum prazer em vê-la, assim, com
a orelha decepada e achou repugnante o prato que ela lhe serviu.Oxun apareceu,
neste momento, retirou seu lenço e mostrou que suas orelhas jamais tinham sido
cortadas, e devoradas por Xangô. Começou, entào, a caçoar da pobre Obá que,
furiosa, se precipitou sobre a sua rival. Seguiu-se uma luta corporal entre elas.
Xangô, irritado, fez explodiro seu furor. Oxun e Obá, apavoradas, fugiram e se
transformaram nos rios que levam seus nomes. No local de confluência dos dois
cursos d'água, as ondas tornam-se muito agitadas em lembrança da disputa entre
as duas divindades.
Consta-se ainda sobre Obá uma lenda, por vezes atribuída a Oxun, baseada num
jogo de palavras: "O rei de Owú, partindo em expedição guerreira, deve
atravessar o rio Obá com seu exercito. O rio estava em período de enchente e as
águas tão tumultuadas que não podiam ser atravessadas. O rei fez, então uma
promessa solene, embora mal formulada. Ele declarou: 'Obá, deixe passar meu
exercito, eu lhe imploro; faça baixar o nível de suas águas e, se sair vitorioso da
guerra eu lhe oferecerei uma boa coisa, nkan rerê'. ora, ele tinha por mulher uma
filha do Rei de Ibadan que levava o nome de Nkan, e era esta que o rio Obá
pensava receber como oferenda. As águas baixaram, o rei atravessou o rio e
venceu a guerra. Regressou com um saque considerável. Chegou próximo ao rio
Obá, ele o encontrou novamente em período de cheia. O rei ofereceu-lhe todas as'
boas coisas', nkan rerê - tecidos, búzios, bois, comidas - mas o rio rejeitou todos
estes dons. Era Nkan, a mulher do rei, que ele exigia. Como o rei de Owú era
obrigado a passar, teve que lançar Nkan às águas. Mas ela estava grávida e pariu
no fundo do rio. Este rejeitou o recém-nascido, declarando que somente Nkan lhe
tinha sido prometida. Ás águas baixaram e o Rei voltou triste aos seus domínios,
seguido pelo seu exercito.
O Rei de Ibadan tomou conhecimento do ocorrido. Indignado, declara não haver
dado a sua filha em casamento para que lhe servisse de oferenda a um rio. Fez a
guerra a seu genro, venceu-o e expulsou de seu país".
No Brasil, assim que Obá aparece num candomblé, montada sobre uma de suas
iniciadas, ata-se um turbante sobre sua cabeça a fim de esconder uma de suas
orelhas, como recordação da lenda já referida. Se Oxun se manifesta, no mesmo
momento, a tradição exige que as duas divindades encarnadas procurem lutar
novamente e é preciso, então, intervir energicamente para separá-las. A dança de
Obá é guerreira: ela brande um sabre com uma das mãos e leva um escudo na
outra.
São-lhe feitas oferendas de cabras, patos e galinhas de Angola. Ela é sincretizada
com Santa Catarina mas, como existem muitas santas com este nome, não se sabe,
co certo, se se trata de Santa Catarina de Alexandria, ou de Bolonha, ou de
Gênova, ou de Siena.
O arquétipo de Obá é aqueles das mulheres valorosas e incompreendidas. Suas
tendências um pouco viris fazem-nas freqüentemente voltar-se para o feminismo
ativo. As atitudes militantes e agressivas são conseqüências de experiências
infelizes ou amargas por elas vividas. Os seus insucessos são freqüentemente
resultado de um ciúme um pouco mórbido. Entretanto encontram geralmente
compensações para as frustrações sofridas, em êxitos materiais, onde a sua avidez
de ganho e o cuidado de nada perder de suas bens, tornam-se garantias de sucesso
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Lenda de Ewá
Um dos mitos diz que Ewá estava se banhando no rio enquanto suas mucamas
lavava suas roupas, quando subitamente um jovem vestido de branco vinha
correndo pelas margens do rio apavorado, pedido socorro à Ewá.
Ewá muito desconfiada, perguntou lhe o que estava acontecendo, ele lhe respondeu
que estava sendo perseguido por Iku (a morte).
Ewá vendo que o rapaz estava sendo sincero em seu pedido ordenou a suas
mucamas que o esconde-se em baixo de suas roupas que estava a lavar, logo após
em sua perseguição vinha Iku perguntando à Ewá se a mesma havia visto um
jovem passar por ali.
Ewá respondeu lhe então:
- você não vê que estou a me banhar, respeite o banho da esposa do rei Omolu, e
respeite as fronteiras do meu reinado;
Iku respondeu à Ewá:
- Iku não tem fronteiras, Iku se quiser mata reis e rainhas e destroí reinados. E Iku
perguntou novamente onde estava o jovem e Ewá percebendo que Iku estava
desconfiado ela lhe respondeu:
- ele desceu o rio, Iku então continuou á sua perseguição descendo o rio abaixo.
Em seguida o rapaz saiu debaixo dos panos agradecendo á Ewá, ela então lhe
perguntou o seu nome e ele respondeu eu me chamo Ifá o deus da adivinhação.
Ifá disse á Ewá de hoje em diante você será a mãe da adivinhação.
Então Ewá iria lhe fazer uma pergunta e Ifá lhe respondeu:
- Ewá não diga nada, pois eu sei o que você quer, você deseja Ter a fertilidade, ela
respondeu:
- sim, e ele disse não se preocupe Ewá você será fértil, então Ifá partiu.
Com ao passar do tempo Ewá conseguirá dar a luz á seu filho e de Omolu.
O arquétipo de Ewá são o das mulheres belas, tranqüilas e adaptáveis, mulheres
cheias de iniciativa, sensíveis e poéticas. Enfim os filhos de Ewá adoram ler, mas
em relação ao amor só se entregam em absoluto quando estão loucamente
apaixonados.
Ewá representa o horizonte.
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"Yemanjá, cujo o nome deriva de Yeye oman ejá, "Mãe cujos filhos são
peixes", é o Orixá dos Egbás, uma nação yorubá estabelecida outrora na
região de Ibadan, onde existe ainda o rio Yemanjá. As guerras entre
nações yorubáslevaram os Egbás a emigrar, em direção oeste, para
Abeokutá, no inicio do século XIX. Evidentemente, não lhes foi possível
carregar o rio, mas, em contrapartida, transportaram consigo objetos os
sagrados, suportes do Axé da divindade, e o rio Ogun, que atravessa a
região, tornou-se a partir de então, a nova morada de Yemanjá.
Este rio Ogun, entretanto, não deve ser confundido com Ogun, o deus do
ferro e dos ferreiros, contrariamente à opinião de numerosos autores que
escrevem sobre o assunto no século passado. Estes mesmo autores
publicaram, a partir de 1884, copiando-se uns aos outros, uma série de
lendas escabrosas e extravagantes que fizeram a delícia dos " meios
eruditos", mas que eram completamente desconhecidos nos meios
tradicionais.
O templo principal de Yemanjá fica em Ibará, bairro da cidade de
Abeokutá. Os fiéis desta divindade vão procurar, todos os anos, a água
sagrada para levar os Axés, suportes de seu poder, não no rio Ogun, mas
na fonte de um de seus afluentes, chamado Lakaxá. Esta água, recolhida
em jarras, é trazida em procissão para seu templo.
Yemanjá seria a filha de Olokun, deus ( em Bénin e em Lagos) ou deusa
( em Ifé) do mar. Em certa lenda, ela aparece casada pela primeira vez
com Orunmila, senhor das adivinhações, depois com Olofin-Ododúa, Rei
de Ifé, com o qual teve dez filhos cujas atividades bastante diversificadas
e cujos nome enigmáticos parecem corresponder a outros tantos Orixás.
Dois dentre eles são facilmente identificados: "O arco-iris-que-desloca-
com-a-chuva-e-guarda-o-fogo-nos-seus-punhos" e "O trovão-que-se-
desloca-com-a-chuva-e-revela-seus-segredos". Estas denominações
representam, respectivamente, Oxumarê e Xangô.
Yemanjá, cansada de sua permanência em Ifé, foge mais tarde em
~direção ao oeste. Olokun que havia dado, autrora, por medida de
precaução, uma garrafa contendo um preparado, pois "não-se-sabe-
jamais-o-que-pode-acontecer-amanhã"; recomendara-lhe que a quebrasse
no chão em caso de perigo. E assim, Yemanjá foi se instalar na "Noite-da-
Terra", à este, em Abeokutá, "ilusão à migração dos Egbás". Olofin-
Ododúa, rei de Ifé, lançou seu exercito em procura de Yemanjá. Esta,
cercada, em vez de se deixar prender e ser conduzida de volta a Ifé,
quebrou a garrafa, segundo as instruções recebidas. Um rio criou-se na
mesma hora, levando-a para Okun, o mar, lugar de residência de Olokun.
As imagens que representam Yemanjá dão-lhe o aspecto de uma matrona,
com seios volumosos, símbolo de maternidade fecunda e nutritiva. Esta
particularidade de possuir seios um pouco mais que majestosos - e
somente um deles, segundo outra lenda - foi a origem de
desentendimentos com seu marido, embora ela já o houvesse,
honestamente, prevenido antes do casamento, dizendo-lhe que não
toleraria a mínima alusão desagradável ou irônica a esse respeito. Tudo ia
muito bem e o casal viva feliz. Uma noite, porém, quando o marido havia
se embriagado com vinho de palma, não mais podendo controlar as suas
palavras, fez comentário sobre seu seio volumoso. Tomada de cólera,
Yemanjá bateu com o pé no chão e transformou-se num rio a fim de voltar
para Olokun, como na lenda precedente.
As saudações a Yemanjá são bastante interessantes:
"Rainha das águas que vem da casa de Olokun.
Ela usa, no mercado, um vestido de contas.
Ela espera, orgulhosamente sentada, diante do rei.
Rainha que vive nas profundezas das águas.
Nossa Mãe de seios chorosos".
Yemanjá recebe sacrifícios de carneiro e oferendas de comidas à base de
milho branco, azeite, sal e cebolas.
Ela se apresenta sob diversos nomes, ligados, como no caso de Oxun,
aos diversos lugares profundos, Ibús, do rio Ogun.
No Brasil, como em Cuba, dá-se sete nomes a Yemanjá e se conta:
que de Olokun, o mar, nasceram;
Yemowô, que na África é mulher de Oxalá;
Yamassê, mãe de Xangô;
Yewá ( Euá), rio que na África corre paralelo ao rio Ogun e que
freqüentemente é confundido com ele;
Olossá, a lagoa na qual deságua o rio Ogun;
Yemanjá Yogunté, casada com Ogun Alagbedé. "É - diz Lydia Cabrera,
falando de Yemanjá em Cuba - uma amazônia terrível, que traz pendurada
na cintura o facão e os outros instrumentos de ferro de Ogun. Ela é
severa, rancorosa e violenta. Detesta pato e adora carneiro";
Yemanjá Assaba, ela manca e está sempre fiando algodão. Lydia Cabrera
acrescenta: "Ela tem um olhar insustentável, É muito orgulhosa, e
somente escuta dando as costas ou ficando ligeiramente de perfil. É
perigosa e voluntariosa. Usa uma corrente de prata amarrada no
tornozelo. Foi mulher de Orumilá e este aceitou seus conselhos com
respeito";
Yemanjá Assessú, muito voluntariosa e respeitável. Lydia Cabrera
especifica que "ela vive em água agitada. É muito séria. Gosta de comer
pato. Muito lenta a escutar os pedidos de deus fiéis. Esquece o que lhe
pedem e se põe a contar minuciosamente as penas do prato que lhe
deram como oferenda. Se acontece se enganar nos seus cálculos, ela
recomeça e esta operação se prolonga indefinidamente".
Na Bahia, os adeptos de Yemanjá usam colares de contas de vidro
transparentes e vestem-se, de preferência, de azul-claro. seu Axé é
constituído por pedras marinhas e conchas, guardadas numa sopeira de
porcelana azul. Seus Iaôs durante o Xirê dos orixás, trazem um leque de
metal branco nas mãos levadas alternadamente sobre a testa a nuca, cujo
simbolismo não me foi possível perceber. Gisèle Cossard pensa que
Yemanjá, por este gesto, procura chamar a atenção para a beleza de seu
penteado de rainha.
Saúda-se Yemanjá gritando-se Odoyá. Sábado é o dia da semana que lhe
é consagrado, juntamente com outras divindades femininas, as Ayabas,
as rainhas.
Na Bahia, Yemanjá é sincretizada com Nossa Senhora da Imaculada
Conceição, festejada no dia 8 de dezembro. Ela é mais ligada às águas
salgadas do mar que às águas doces dos rios, que é domínio de Oxun.
Curiosamente, porém, as pessoas fazem abstração, na Bahia, do
sincretismo que liga o Oxun a Nossa Senhora das Candeias, festejada no
dia 2 de fevereiro, pois é nessa data que se organiza um solene presente
para Yemanjá, o que mostra que o sincretismo entre os deuses africanos
e os santos da igreja católica não é de uma rigidez absoluta.
Esta festa do dia 2 de fevereiro é uma das mais populares do ano,
atraindo à praia do Rio Vermelho uma multidão imensa de fiéis e de
admiradores da Mãe das Águas, freqüentemente rpresentada sob a forma
latinizada de uma sereia, com longos cabelos soltos ao vento. Chamam-
na, também, Dona Janaína, a Princesa ou a Rainha do Mar.
Neste dia (2 de fevereiro), bem cedo pela manhã, longas filas de pessoas
se formam diante da pequena casa construída rapidamente, na véspera, a
fim d obrigar as grandes cestas destinadas a receber os donativos e as
oferendas par Yemanjá.
Durante todo este dia, forma-se um lento desfile de pessoas de todas as
origens e de todos os meios sociais, trazendo ramos de flores frescas ou
artificiais, pratos de comida feitos com carinho, frascos de perfumes,
sabonetes embrulhados em papel transparente, bonecas, cortes de
tecidos e outros presentes agradáveis a uma mulher bonita e vaidosa.
Cartas e súplicas não faltam, nem presentes em dinheiro, assim como
colares e pulseiras. Em algumas horas as cestas já estão cheias e
substituídas por outras. Ao final da tarde, os ramos de flores são
colocados em cima das cestas, transformando-as, assim, numas 30
braçadas de flores, imensas. O entusiasmo da multidão chega ao seu
máximo.
Não se escutam senão gritos alegres, saudações a Yemanjá, votos de
prosperidade futura. Uma parte da assistência embarca a bordo de
veleiros, barcos e lanchas a motor. A flotilha se dirige para o alto mar,
onde as cestas são depositadas sobre as ondas. Segundo a tradição, para
que as oferendas sejam aceitas, elas devem mergulhar até o fundo, sinal
de aprovação de Yemanjá. se elas forem rejeitadas e, conseqüentemente,
devolvidas à praia, é sinal de recusa para grande tristeza e decepção dos
Admiradores de Yemanjá.
Tomo emprestada a descrição do arquétipo de Yemanjá de Lydia Cabrera,
ela mesma filha de Yemanjá, certamente a mais competente de todas
aquelas que me foi dado o prazer de conhecer: "As filhas de Yemanjá são
voluntariosas, fortes, rigorosas, protetoras, altivas e, algumas vezes,
impetuosas e arrogantes; põem à prova as amizades que lhe são
devotadas, custam muito a perdoar uma ofensa e, se a perdoam, não a
esquecem jamais. Preocupam-se com os outros, são maternais e sérias.
Sem possuírem a vaidade de Oxun, gostam do luxo, das fazendas azuis e
vistosas, das jóias caras. Têm tendência à vida suntuosa mesmo se as
possibilidades do cotidiano não lhes permitem um tal fausto"
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Oxalufan, sem perder a paciência, lavou e trocou de roupa após cada uma
das experiências. Chegou, finalmente, à fronteira do reino de Oyo, e lá
encontrou um cavalo que havia fugido, pertencente à Xangô. No momento
em que Oxalufan quis amansar o animal, dando-lhe espigas de milho, e
tendo a intenção de levá-lo ao seu Senhor, os servidores de Xangô, que
estavam à procura do animal, chegaram correndo. Pensando que o
homem idoso fosse um ladrão, caíram sobre ele com golpes de cacete, e
jogaram-no na prisão. Sete anos de infelicidade se abateram no reino de
Xangô. A seca comprometia a colheita, as epidemias acabavam com os
rebanhos, as mulheres ficavam estéreis.
Esta festa é, atualmente, uma das mais populares da Bahia. Neste dia, as
baianas, vestidas de branco, cor de Oxalá, vêm em cortejo à Igreja do
Bonfim. Trazem à cabeça potes contendo água para lavar o chão da Igreja
e flores para enfeitar o altar. São acompanhadas por uma multidão, onde
sempre figuram as autoridades civis do Estado da Bahia e da Cidade de
Salvador.
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Ìyá Mi Osorongà
As Senhoras dos Pássaros da Noite
Quando se pronuncia o nome de Yiá Mi Oxorongá, quem estiver sentado deve-se
levantar, quem estiver de pé fará uma reverência, pois se trata de temível Orixá, a
quem se deve apreço e acatamento.
( Jorge Amado )
Origem e história
Iyá Mi Osorongá ( Ìyá Mi Osorongà ) é a síntese do poder feminino, claramente
manifesto na possibilidade de gerar filhos e, numa noção mais ampla, de povoar o
mundo. Quando os Yorubás dizem "nossas mães queridas" para se referirem às
Iyá Mi, tentam, na verdade, apaziguar os poderes terríveis dessa entidade.
Donas de um axé tão poderoso quanto o de qualquer orixá, as Iyá Mi tiveram seu
culto difundido por sociedades secretas de mulheres e são as grandes
homenageadas do famoso festival Gèlèdè, na Nigéria, realizado entre os meses de
março e maio, que antecedem o início das chuvas do país, remetendo
imediatamente para um culto relacionado à fertilidade.
Poder procriador, tornaram-se conhecidas como as senhoras dos pássaros e sua
fama de grandes feiticeiras as associou à escuridão da noite; por isso também são
chamadas de Eleyé e as corujas são seus maiores símbolos.
A sua relação mais evidente é com o poder genital feminino, que é o aspecto que
mais aproxima a mulher da natureza, ou seja, dos acontecimentos que fogem à
explicação e ao controle humano. Toda mulher é poderosa porque guarda um
pouco da essência das Iyá Mi; a capacidade de gerar filhos, expressa nos órgãos
genitais femininos, sempre assustou os homens e as cantigas entoadas durante o
festival Gèlèdè fazem alusão a esse terrível poder - que não pertence apenas às Iyá
Mi, mas a qualquer mulher.
Mãe destruidora, hoje te glorifico:
O velho pássaro não se aqueceu no fogo.
O velho pássaro doente não se aqueceu ao sol.
Algo secreto foi escondido na casa da Mãe ...
Honras à minha Mãe!
Mãe cuja vagina atemoriza a todos.
Mãe cujos pêlos púbicos se enroscam em nós.
Mãe que arma uma cilada, arma uma cilada.
Mãe que tem potes de comida em casa.
As mães são compreendidas como a origem da humanidade e seu grande poder
reside na decisão que tomar sobre a vida de seus filhos. É a mãe que decide se o
filho deve ou não nascer e, quando ele nascer, ainda decide se ele deve viver. A
mulher, especialmente nas sociedades antigas, tinha inúmeros recursos para
interromper uma gravidez. E, até os primeiros anos de vida, uma criança depende
totalmente de sua mãe; se faltarem seus cuidados a criança não vinga. Em síntese,
todo ser humano deve a vida a uma mulher. Se todas as mulheres juntas decidisses
não mais engravidar, a humanidade estaria fadada a desaparecer. Esse é o poder
de Iyá Mi: mostrar que todas as mulheres juntas decidem sobre o destino dos
homens.
Mãe todo-poderosa, mãe do pássaro da noite.
Grande mãe com quem não ousamos coabitar
Grande mãe cujo corpo não ousamos olhar
Mãe de belezas secretas
Mãe que esvazia a taça
Que fala grosso como homem,
Grande, muito grande, no topo da árvore Iroko,
Mãe que sobe alto e olha para a terra
Mãe que mata o marido mas dele tem pena.
Iyá Mi é a sacralização da figura materna, por isso seu culto é envolvido por tantos
tabus. Seu grande poder se deve ao fato de guardar o segredo da criação. Tudo que
é redondo remete ao ventre e, por conseqüência, as Iyá Mi. O poder das grandes
mães é expresso entre os orixás por Oxum, Iemanjá e Nanã Buruku, mas o poder
de Iyá Mi é manifesto em toda mulher, que, não por acaso, em quase todas as
culturas, é considerada tabu.
As denominações de Iyá Mi expressam suas características terríveis e mais
perigosas e por essa razão seus nomes nunca devem ser pronunciados; mas quando
se disser um de seus nomes, todos devem fazer reverencias especiais para aplacar a
ira das Grandes Mães e, principalmente, para afugentar a morte.
As feiticeiras mais temidas entre os Iorubás e nos candomblés do Brasil são as Àjé
e, para referir-se à elas sem correr nenhum risco, diga apenas Eleyé, Dona do
Pássaro. O aspecto mais aterrador das Iyá Mi e o seu principal nome , com o qual
tornou-se conhecida nos terreiros, é Oxorongá, uma bruxa terrível que se
transforma no pássaro de mesmo nome e rompe a escuridão da noite com seu grito
assustador.
As Yiá Mi são as senhoras da vida, mas o corolário fundamental da vida é a morte.
Quando devidamente cultuadas, manifestam-se apenas em seu aspecto benfazejo,
são o grande ventre que povoa o mundo. Não podem, porém, ser esquecidas; nesse
caso lançam todo tipo de maldição e tornam-se senhoras da morte.
O lado bom de Iyá Mi é expresso em divindades de grande fundamento, como
Apaoká, a dona da jaqueira, a verdadeira mãe de Oxóssi Dizem que o deus
caçador encontrou mel aos pés da jaqueira e em torno dessa árvore formou-se a
cidade de Kêtu.
Os assentamentos de Iyá Mi ficam junto a grandes árvores como a jaqueira e
geralmente são enterrados, mostrando a sua relação com os ancestrais, sendo
também uma nítida representação do ventre. As Iyá Mi, juntamente com Exú e os
ancestrais, são evocadas nos ritos de Ipadé, um complexo ritual que , entre outras
coisas, ratifica a grande realidade do poder feminino na hierarquia do Candomblé,
denotando que as grandes mães é que detém os segredos do culto, pois um dia,
quando deixarem a vida, integrarão o corpo das Iyá Mi, que são, na verdade, as
mulheres ancestrais.
As ruas, os caminhos, as encruzilhadas pertencem a Esu. Nesses lugares se invoca a
sua presença, fazem-se sacrifícios, arreiam-se oferendas e se lhe fazem pedidos
para o bem e para o mal, sobretudo nas horas mais perigosas que são ao meio dia e
à meia-noite, principalmente essa hora, porque a noite é governada pelo
perigosíssimo odu Oyeku Meji. À meia-noite ninguém deve estar na rua,
principalmente em encruzilhada, mas se isso acontecer deve-se entrar em algum
lugar e esperar passar os primeiros minutos. Também o vento (afefe) de que Oya
ou Iansan é a dona, pode ser bom ou mau, através dele se enviam as coisas boas e
ruins, sobretudo o vento ruim, que provoca a doença que o povo chama de "ar do
vento". Ofurufu, o firmamento, o ar também desempenha o seu papél importante,
sobretudo á noite, quando todo seu espaço pertence a Eleiye, que são as Ajé,
transformadas em pássaros do mal, como Agbibgó, Elùlú, Atioro, Osoronga,
dentre outros, nos quais se transforma a Ajé-mãe, mais conhecida por Iyami
Osoronga. Trazidas ao mundo pelo odu Osa Meji, as Ajé, juntamente com o odu
Oyeku Meji, formam o grande perigo da noite. Eleiye voa espalmada de um lado
para o outro da cidade, emitindo um eco que rasga o silêncio da noite e enche de
pavor os que a ouvem ou vêem. Todas as precauções são tomadas. Se não se sabe
como aplacar sua fúria ou conduzí-la dentro do que se quer, a única coisa a se
fazer é afugentá-la ou esconjurá-la, ao ouvir o seu eco, dizendo Oya obe l’ori (que a
faca de Iansan corte seu pescoço), ou então Fo, fo, fo (voe, voe, voe). Em caso
contrário, tem-se que agradá-la, porque sua fúria é fatal. Se é num momento em
que se está voando, totalmente espalmada, ou após o seu eco aterrorizador,
dizemos respeitosamente A fo fagun wo’lu ( [saúdo] a que voa espalmada dentro
da cidade), ou se após gritar resolver pousar em qualquer ponto alto ou numa de
suas árvores prediletas, dizemos, para agradá-la Atioro bale sege sege ([saúdo]
Atioro que pousa elegantemente) e assim uma série de procedimentos diante de um
dos donos do firmamento à noite. Mesmo agradando-a não se pode descuidar,
porque ela é fatal, mesmo em se lhe felicitando temos que nos precaver. Se nos
referimos a ela ou falamos em seu nome durante o dia, até antes do sol se pôr,
fazemos um X no chão, com o dedo indicador, atitude tomada diante de tudo que
representa perigo. Se durante à noite corremos a mão espalmada, à altura da
cabeça, de um lado para o outro, afim de evitar que ela pouse, o que significará a
morte. Enfim, há uma infinidade de maneiras de proceder em tais circunstâncias.
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EGUNS
Ancestralidade e Continuidade !!!
Os negros iorubanos originários da Nigéria trouxeram para o Brasil o culto dos
seus ancestrais chamados Eguns ou Egunguns. Em Itaparica (BA), duas sociedades
perpetuam essa tradição religiosa.
Os cultos de origem africana chegaram ao Brasil juntamente com os escravos. Os
iorubanos - um dos grupos étnicos da Nigéria, resultado de vários agrupamentos
tribais, tais como Keto, Oyó, Itexá, Ifan e Ifé, de forte tradição, principalmente
religiosa - nos enriqueceram com o culto de divindades denominadas
genericamente de orixás.(1 - Por motivos gráficos e para facilitar a leitura, os
termos em língua yorubá foram aportuguesados. Ex.: orisá = orixá.)
Esses negros iorubanos não apenas adoram e cultuam suas divindades, mas
também seus ancestrais, principalmente os masculinos. A morte não é o ponto final
da vida para o iorubano, pois ele acredita na reencarnação (àtúnwa), ou seja, a
pessoa renasce no mesmo seio familiar ao qual pertencia; ela revive em um dos
seus descendentes. A reencarnação acontece para ambos os sexos; é o fato terrível
e angustiante para eles não reencarnar.
Os mortos do sexo feminino recebem o nome de ìyámí Agbá (minha mãe anciã),
mas não são cultuados individualmente. Sua energia como ancestral é aglutinada
de forma coletiva e representada por ìyámí Òsóróngá, chamada também de Iá Nlá,
a grande mãe. Esta imensa massa energética que representa o poder de
ancestralidade coletiva feminina é cultuada pelas "Sociedades Geledê", compostas
exclusivamente por mulheres, e somente elas detêm e manipulam este perigoso
poder. O medo da ira de ìyámí nas comunidades é tão grande que, nos festivais
anuais na Nigéria em louvor ao poder feminino ancestral, os homens se vestem de
mulher e usam máscaras com características femininas, dançam para acalmar a
ira e manter, entre outras coisas, a harmonia entre o poder masculino e o feminino.
Além da Sociedade Geledê, existe também na Nigéria a Sociedade Oro. Este é o
nome dado ao culto coletivo dos mortos masculinos quando não individualizados.
Oro é uma divindade tal qual ìyámí Òsóróngá, sendo considerado o representante
geral dos antepassados masculinos e cultuado somente por homens. Tanto ìyámí
quanto Oro são manifestações de culto aos mortos. São invisíveis e representam a
coletividade, mas o poder de ìyámí é maior e, portanto, mais controlado, inclusive,
pela Sociedade Oro.
Outra forma, e mais importante de culto aos ancestrais masculinos é elaborada
pelas "Sociedades Egungum". Estas têm como finalidade celebrar ritos a homens
que foram figuras destacadas em suas sociedades ou comunidades quando vivos,
para que eles continuem presentes entre seus descendentes de forma privilegiada,
mantendo na morte a sua individualidade. Esse mortos surgem de forma visível
mas camuflada, a verdadeira resposta religiosa da vida pós-morte, denominada
egun ou Egungum. Somente os mortos do sexo masculino fazem aparições, pois só
os homens possuem ou mantém a individualidade; às mulheres é negado este
privilégio, assim como o de participar diretamente do culto.
Esses Eguns são cultuados de forma adequada e específica por sua sociedade, em
locais e templos com sacerdotes diferentes dos dos orixás. Embora todos os
sistemas de sociedade que conhecemos sejam diferentes, o conjunto forma uma só
religião: a iorubana.
No Brasil existem duas dessas sociedades de Egungum, cujo tronco comum
remonta ao tempo da escravatura: Ilê Agboulá, a mais antiga, em Ponta de Areia,
e uma mais recente e ramificação da primeira, o Ilê Oyá, ambas em Itaparica,
Bahia.
O egun é a morte que volta à terra em forma espiritual e visível aos olhos dos
vivos. Ele "nasce" através de ritos que sua comunidade elabora e pelas mãos dos
Ojé (sacerdotes) munidos de um instrumento invocatório, um bastão chamado ixã,
que, quando tocado na terra por três vezes e acompanhado de palavras e gestos
rituais, faz com que a "morte se torne vida", e o Egungum ancestral
individualizado está de novo "vivo".
A aparição dos Eguns é cercada de total mistério, diferente do culto aos orixás, em
que o transe acontece durante as cerimônias públicas, perante olhares profanos,
fiéis e iniciados. O Egungum simplesmente surge no salão, causando impacto visual
e usando a surpresa como rito. Apresenta-se com uma forma corporal humana
totalmente recoberta por uma roupa de tiras multicoloridas, que caem da parte
superior da cabeça formando uma grande massa de panos, da qual não se vê
nenhum vestígio do que é ou de quem está sob a roupa. Fala com uma voz gutural
inumana, rouca, ou às vezes aguda, metálica e estridente - característica de egun,
chamada de séègí ou sé, e que está relacionada com a voz do macaco marrom,
chamado ijimerê na Nigéria.
As tradições religiosas dizem que sob a roupa está somente a energia do ancestral;
outras correntes já afirmam estar sob os panos algum mariwo (iniciado no culto de
egun) sob transe mediúnico. Mas, contradizendo a lei do culto, os mariwo não
podem cair em transe, de qualquer tipo que seja. Pelo sim ou pelo não, egun está
entre os vivos, e não se pode negar sua presença, energética ou mediúnica, pois as
roupas ali estão e isto é egun.
A roupa do egun - chamada de eku na Nigéria ou opá na Bahia -, ou o Egungum
propriamente dito, é altamente sacra ou sacrossanta e, por dogma, nenhum
humano pode tocá-la. Todos os mariwo usam o ixã para controlar a "morte", ali
representada pelos Eguns. Eles e a assistência não devem tocar-se, pois, como é
dito nas falas populares dessas comunidades, a pessoa que for tocada por egun se
tornará um "assombrado", e o perigo a rondará. Ela então deverá passar por
vários ritos de purificação para afastar os perigos de doença ou, talvez, a própria
morte.
Ora, o egun é a materialização da morte sob as tiras de pano, e o contato, ainda
que um simples esbarrão nessas tiras, é prejudicial. E mesmo os mais qualificados
sacerdotes - como os ojé atokun, que invocam, guiam e zelam por um ou mais
Eguns - desempenham todas essas atribuições substituindo as mãos pelo ixã.
Os egun-Agbá (ancião), também chamados de Babá-egun (pai), são Eguns que já
tiveram os seus ritos completos e permitem, por isso, que suas roupas sejam mais
completas e suas vozes sejam liberadas para que eles possam conversar com os
vivos. Os Apaaraká são Eguns mudos e suas roupas são as mais simples: não têm
tiras e parecem um quadro de pano com duas telas, uma na frente e outra atrás.
Esses Eguns ainda estão em processo de elaboração para alcançar o status de
Babá; são traquinos e imprevisíveis, assustam e causam terror ao povo.
O eku dos Babá são divididos em três partes: o abalá, que é uma armação
quadrada ou redonda, como se fosse um chapéu que cobre totalmente a
extremidade superior do Babá, e da qual caem várias tiras de panos coloridas,
formando uma espécie de franjas ao seu redor; o kafô, uma túnica de mangas que
acabam em luvas, e pernas que acabam igualmente em sapatos; e o banté, que é
uma tira de pano especial presa no kafô e individualmente decorada e que
identifica o Babá.
O banté, que foi previamente preparado e impregnado de axé (força, poder,
energia transmissível e acumulável), é usado pelo Babá quando está falando e
abençoando os fiéis. Ele sacode na direção da pessoa e esta faz gestos com as mãos
que simulam o ato de pegar algo, no caso o axé, e incorporá-lo. Ao contrário do
toque na roupa, este ato é altamente benéfico. Na Nigéria, os Agbá-egun portam o
mesmo tipo de roupa, mas com alguns apetrechos adicionais: uns usam sobre o
alabá mascaras esculpidas em madeira chamadas erê egungum; outros, entre os
alabá e o kafô, usam peles de animais; alguns Babá carregam na mão o opá iku e,
às vezes, o ixã. Nestes casos, a ira dos Babás é representada por esses instrumentos
litúrgicos.
Existem várias qualificações de egun, como Babá e Apaaraká, conforme sus ritos, e
entre os Agbá, conforme suas roupas, paramentos e maneira de se comportarem.
As classificações, em verdade, são extensas.
Nas festas de Egungum, em Itaparica, o salão público não tem janelas, e, logo após
os fiéis entrarem, a porta principal é fechada e somente aberta no final da
cerimônia, quando o dia já está clareando. Os Eguns entram no salão através de
uma porta secundária e exclusiva, único local de união com o mundo externo.
Os ancestrais são invocados e eles rondam os espaços físicos do terreiro. Vários
amuxã (iniciados que portam o ixã) funcionam como guardas espalhados pelo
terreiro e nos seus limites, para evitar que alguns Babá ou os perigosos Apaaraká
que escapem aos olhos atentos dos ojés saiam do espaço delimitado e invadam as
redondezas não protegidas.
Os Eguns são invocados numa outra construção sacra, perto mas separada do
grande salão, chamada de ilê awo (casa do segredo), na Bahia, e igbo igbalé
(bosque da floresta), na Nigéria. O ilê awo é dividido em uma ante-sala, onde
somente os ojé podem entrar, e o lèsànyin ou ojê agbá entram.
Balé é o local onde estão os idiegungum, os assentamentos - estes são elementos
litúrgicos que, associados, individualizam e identificam o egun ali cultuado - , e o
ojubô-babá, que é um buraco feito diretamente na terra, rodeado por vários ixã, os
quais, de pé, delimitam o local.
Nos ojubô são colocadas oferendas de alimentos e sacrifícios de animais para o
egun a ser cultuado ou invocado. No ilê awo também está o assentamento da
divindade Oyá na qualidade de Igbalé, ou seja, Oyá Igbalé - a única divindade
feminina venerada e cultuada, simultaneamente, pelos adeptos e pelos próprios
Eguns.
No balé os ojê atokun vão invocar o egun escolhido diretamente no assentamento, e
é neste local que o awo (segredo) - o poder e o axé de egun - nasce através do
conjunto ojê-ixã/idi-ojubô. A roupa é preenchida e egun se torna visível aos olhos
humanos.
O espaço físico do salão é dividido entre sacro e profano. O sacro é a parte onde
estão os tambores e seus alabê e várias cadeiras especiais previamente preparadas
e escolhidas, nas quais os Eguns, após dançarem e cantarem, descansam por alguns
momentos na companhia dos outros, sentados ou andando, mas sempre unidos, o
maior tempo possível, com sua comunidade. Este é o objetivo principal do culto:
unir os vivos com os mortos.
Nesta parte sacra, mulheres não podem entrar nem tocar nas cadeiras, pois o culto
é totalmente restrito aos homens. Mas existem raras e privilegiadas mulheres que
são exceção, como se fosse a própria Oyá; elas são geralmente iniciadas no culto
dos orixás e possuem simultaneamente oiê (posto e cargo hierárquico) no culto de
egun - estas posições de grande relevância causam inveja à comunidade feminina
de fiéis. São estas mulheres que zelam pelo culto, fora dos mistérios,
confeccionando as roupas, mantendo a ordem no salão, respondendo a todos os
cânticos ou puxando alguns especiais, que somente elas têm o direito de cantar
para os Babá. Antes de iniciar os rituais para egun, elas fazem uma roda para
dançar e cantar em louvor aos orixás; após esta saudação elas permanecem
sentadas junto com as outras mulheres. Elas funcionam como elo de ligação entre
os atokun e os Eguns ao transmitir suas mensagens aos fiéis. Elas conhecem todos
os Babá, seu jeito e suas manias, e sabem como agradá-los.
Este espaço sagrado é o mundo do egun nos momentos de encontro com seus
descendentes. Assistência está separada deste mundo pelos ixã que os amuxã
colocam estrategicamente no chão, fazendo assim uma divisão simbólica e ritual
dos espaços, separando a "morte" da "vida". É através do ixã que se evita o
contato com o Egun: ele respeita totalmente o preceito, é o instrumento que o
invoca e o controla. às vezes, os mariwo são obrigados a segurar o egun com o ixã
no seu peito, tal é a volúpia e a tendência natural de ele tentar ir ao encontro dos
vivos, sendo preciso, vez ou outra, o próprio atokun ter de intervir rápida e
rispidamente, pois é o ojê que por ele zela e o invoca, pelo qual ele tem grande
respeito.
O espaço profano é dividido em dois lados: à esquerda ficam as mulheres e
crianças e à direita, os homens. Após Babá entrar no salão, ele começa a cantar
seus cânticos preferidos, porque cada egun em vida pertencia a um determinado
orixá. Como diz a religião, toda pessoa tem seu próprio orixá e esta característica é
mantida pelo egun. Por exemplo: se alguém em vida pertencia a Xangô, quando
morto e vindo com egun, ele terá em suas vestes as características de Xangô,
puxando pelas cores vermelha e branca. Portará um oxê (machado de lâmina
dupla), que é sua insígnia; pedirá aos alabês que toquem o alujá, que também é o
ritmo preferido de Xangô, e dançará ao som dos tambores e das palmas entusiastas
e excitantemente marcadas pelo oiê femininos, que também responderão aos
cânticos e exigirão a mesma animação das outras pessoas ali presentes.
Babá também dançará e cantará suas próprias músicas, após ter louvado a todos e
ser bastante reverenciado. Ele conversará com os fiéis, falará em um possível
iorubá arcaico e seu atokun funcionará como tradutor. Babá-egun começará
perguntando pelos seus fiéis mais freqüentes, principalmente pelos oiê femininos;
depois, pelos outros e finalmente será apresentado às pessoas que ali chegaram
pela primeira vez. Babá estará orientando, abençoando e punindo, se necessário,
fazendo o papél de um verdadeiro pai, presente entre seus descendentes para
aconselhá-los e protegê-los, mantendo assim a moral disciplina comum às suas
comunidades, funcionando como verdadeiro mediador dos costumes e das
tradições religiosas e laicas.
Finalizando a conversa com os fiéis e já tendo visto seus filhos, Babá-egun parte, a
festa termina e a porta principal é aberta: o dia já amanheceu. Babá partiu, mas
continuará protegendo e abençoando os que foram vê-lo.
Esta é uma breve descrição de Egungum, de uma festa e de sua sociedade, não
detalhada, mas o suficiente para um primeiro e simples contato com este
importante lado da religião. E também para se compreender a morte e a vida
através das ancestralidades cultuadas nessas comunidades de Itaparica, como um
reflexo da sobrevivência direta, cultural e religiosa dos iorubanos da Nigéria
EGUNS
Os textos litúrgicos aqui apresentados fazem parte do jogo de Ifá, no qual seu
senhor e oráculo, a divindade Orumilá, nos ensina mitos e tradições que foram
mantidos através do próprio jogo. Esses conhecimentos, transmitidos a todos
oralmente, hoje se tornaram verdadeiras escrituras sagradas (atualmente, vários
pesquisadores já registraram em livros as lendas colhidas oralmente entre os
iniciados).
Através deles entendemos o porquê de certos ritos e preceitos usados e conservados
no dia-a-dia dos cultos. Vários textos explicam o mesmo fato ou se complementam,
e à vezes de forma diferente e aparentemente contraditória; mas isto é reflexo de se
terem originado em diferentes regiões. De uma forma ou de outra, porém, chegam
aos mesmos fundamentais conceitos religiosos.
quatro em quatro dias (uma semana iorubana), Iku (a morte) vinha à cidade de Ilê
Ifé munida de um cajado (opá iku) e matava indiscriminadamente as pessoas. Nem
mesmo os orixás podiam com Iku.
Um cidadão chamado Ameiyegun prometeu salvar as pessoas. Para tal,
confeccionou uma roupa feita com várias tiras de pano, em diversas cores, que
escondia todas as partes do seu corpo, inclusive a própria cabeça, e fez sacrifícios
apropriados. No dia em que a Morte apareceu, ele e seus familiares vestiram as
tais roupas e se esconderam no mercado.
Quando a Morte chegou, eles apareceram pulando, correndo e gritando com vozes
inumanas, e ela, apavorada, fugiu deixando cair seu cajado. Desde então a Morte
deixou de atacar os habitantes de Ifé.
Os babalaôs (adivinhos e sacerdotes de Orumilá) disseram a Ameiyegun que ele e
seus familiares deveriam adorar e cultuar os mortos por todas as gerações,
lembrando como eles venceram a Morte.
DOS OIÊ MASCULINOS (relacionados aos culto a Egungun)
na cidade de Oyó um fazendeiro chamado Alapini, que tinha três filhos chamados
Ojéwuni, Ojésamni e Ojérinlo. Um dia Alapini foi viajar e deixou recomendações
aos filhos para que colhessem os inhames e os armazenassem, mas que não
comessem um tipo especial de inhame chamado 'ihobia', pois ele deixava as pessoas
com uma terrível sede. Seus filhos ignoraram o aviso e o comeram em demasia.
Depois, beberam muita água e, um a um, acabaram todos morrendo.
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Iroko/Oko/Oraniam
Orixas muitas vezes esquecidos em nossa religião
ORIXÀ IRÓKÒ
QUALIDADES
- GIROKOSSI
- LOKOSSI
SUAS FOLHAS
SEUS BICHOS :
- Um cabrito de chifre virado;
- Um galo d'angola;
- Um pombo branco.
ORISÀ
OKÓ
QUALIDADES
- ETEKÒ
- LEJUGBÉ
ORANIAN
Orixas funfuns
OBÀTÁLÁ
É o mais velho dos Òrìsás , o grande rei branco , raíz de todos
os outros ÒÒSÀÀLÀ . Êle não é feito , faz-se AYRÀ ou ÒSUN
OPARÀ . É o pai de OSÀLÚFÓN , que por sua vêz é o pai de
OSOGUIAN , tão grande e poderoso é OBÀTÁLÁ que não se
manifesta , sua palavra transforma-se , imediatamente, em
realidade .
ODUDUWA
ÒRÚNMÌLÀ IFÀ
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Maria Padilha é uma das principais entidades da umbanda e do candomblé traz consigo o dom do
encantamento
de amor é muito procurada pelas pessoas que sofre de paixões não Correspondidas sejam eles gays
lésbicas
hetero xexual travesti etc
E suas oferendas são compostas geralmente de cigarros champanhe rosas vermelhas perfumes anéis
e
gargatilhas batom pentes espelho farofa feita com azeite de dendê suas obrigações são geralmente
arriadas
nas encruzilhadas de T aceita como sacrifício galinha vermelha cabra e pata preta
Mulheres que trabalham com esta entidade são geralmente belas bonitas atraentes e sensuais
são dominadoras
e de personalidade muito forte sabem amar como ninguém mas com a mesma facilidade
sabem odiar seus
parceiros amorosos
Maria Padilha é protetora das prostituta gosta do luxo e do sexo adora a lua mas odeia o sol
suas roupas são
geralmente vermelhas e pretas igualmente seus colares e sua coroa suas cantigas são muito
alegres e cheias
de magia e segredos E mulher de sete exu rainha dos cabarés e das encruzilhadas suas
cantigas geralmente
falam de homens como vamos descrever abaixo
Cantigas número 1
Este homem é meu e ninguém toma quem
quiser homem bom vai buscar na zona bis
cantiga nº 2
Sou eu sou eu sou eu Maria Padilha sou eu
corro no mundo e ninguém não me pega cada fumaça do meu cigarro é um tombo e uma
queda
cantiga nº 3
Quando ela vem no clarâo do sol
quando ela vai no clarao da lua
dando risada qua qua qua Maria Padilha ainda é dona da rua ( BIZ )
cantiga nº 4
Maria Padilha tem cinco dedos em cada mão cinco dedos em cada pe
gosta de homem e de mulher ai ai gosta de homem e de mulher ( BIZ )
Zé Pilintra
Na direita ele vem na linha de baianos e pretos velhos ,fuma cigarro de palha,bebe
batida de coco,pinga coquinhos ou simplesmente cachaça,sempre com sua
tradicional vestimenta.Calça Branca,sapato branco(ou branco e vermelho),seu
terno branco,sua gravata vermelha, seu chapéu branco com uma fita vermelha ou
chapéu de palha e finalmente sua bengala.
Gosta muito de ser agradado com presentes,festas,ter sua roupa completa,é muito
vaidoso,os Zé Pilintra ,tem duas características marcante:
Outra é ficar mais sério ,parado num canto assim como sua imagem,gosta de
observar o movimento ao seu redor mas sem perder suas características.
Agora quando ele vira para o lado esquerdo, a situação muda um pouco ,em
alguns terreiros ele pede uma outra roupa,um terno preto,calças e sapatos
também pretos ,gravata vermelha e uma cartola,fuma charutos ,bebe
marafo,conhaque e uísque ,até muda um pouco sua voz.Em alguns terreiros ele usa
até uma capa preta.
É muito conhecido por sua irreverência,suas guias pode ser de vários tipos,desde
coquinhos com olho de cabra até vermelho e preto, vermelho e branco ou preto e
branco.
Pontos:
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ÁGUAS DE OXALÁ
Babá êpa ô
Babá êpa ô
Ará mi fo adiê
Êpa Babá
BI O TA LADÊ
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