MENICUCCI, M. Do C. Ducação Especial Inclusiva Ênfase em Ciências Humanas Livros Textos 1. Belo Horizonte PUCMinas Virtual, 2005.P. 44a 67
MENICUCCI, M. Do C. Ducação Especial Inclusiva Ênfase em Ciências Humanas Livros Textos 1. Belo Horizonte PUCMinas Virtual, 2005.P. 44a 67
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Sumário
Apresentação
Carla Ferretti Santiago 06
Bom trabalho!
Estamos ainda longe de um quadro radicalmente diferente. Ou seja, ainda nos en-
contramos muito distantes de uma escola efetivamente inclusiva. Entretanto, a
escola também tem acompanhado o movimento da sociedade pela conquista de
direitos. O esforço pela inclusão escolar já mostra seus frutos com o ingresso na
escola regular de crianças que tradicionalmente estiveram fora dela. São crianças
excluídas social e economicamente, de diferentes culturas e grupos étnicos, com
deficiências físicas ou mentais e portadoras de necessidades educacionais especi-
ais. Um universo de crianças que expressam a diversidade humana, e cuja presença
em sala de aula revela diferenças de perfis, percursos, culturas e necessidades, com
as quais a educação básica haverá de lidar.
É pensando nesse professor, pensando nos seus alunos, nessa nova escola, e em um
projeto maior de país e cidadania, que o CEFOR PUC Minas estruturou o curso
Educação Especial Inclusiva. Não pretendemos, nesse curso, distribuir receitas de
trabalho ou procedimentos didáticos. Nosso propósito é possibilitar a reflexão e o
diálogo, a troca de experiências e de conhecimentos. Nossa expectativa é de, com
esses propósitos e através de estratégias variadas de formação, podermos contri-
buir para aquilo que – acreditamos - é o desejo de todos nós, professores: uma
escola inclusiva e democrática, condição fundamental para a consolidação da soci-
edade de direitos no Brasil.
Livro-texto 1 7
Educação Inclusiva:
possibilidades e desafios atuais
Maria Do Carmo Menicucci
Pedagoga / Mestre Em Educação Especial
INTRODUÇÃO
Este é um termo amplo, que envolve o dever de se garantir o acesso a uma escola
de qualidade para todos (Conferência de Jointien,1990), incluindo-se neste todos,
as crianças e jovens com necessidades educacionais especiais (Declaração de
Salamanca,1994).
I- REVISÃO HISTÓRICA
Livro-texto 1 9
Como a escola regular não se abria para a maioria das crianças e jovens então consi-
deradas “doentes, pacientes”, surgiram as escolas e classes especiais, como espaço
exclusivo para aqueles cuja deficiência motivou a rejeição da escola regular, sob a
justificativa da necessidade de um atendimento especializado médico, clínico es-
pecializado, porém não pedagógico.
Educação Especial:
Esse é um conceito que merece destaque pelo novo significado que atribuiu à edu-
cação especial:
Livro-texto 1 11
5. Apoiar, complementar, suplementar os serviços educacionais comuns: os servi-
ços e recursos da educação especial devem ser colocados à disposição da cons-
trução de uma escola inclusiva, o que pressupôe uma reorganização também das
escolas especiais.
6. Garantir e promover o desenvolvimento das potencialidades: privilegia o mode-
lo sócio-educacional, deslocando o foco da deficiência, para focalizar as possibi-
lidades.
Novos significados:
- A educação especial
deixa de ser o FIM Educação Inclusiva:
para se transformar
no MEIO de assegu- A proposta da educação inclusiva é ampla e inclui o acesso e a permanência de
rar o direito à escola todas as crianças, jovens e adultos em todas as etapas e modalidades do sistema
de boa qualidade a educacional, independente de suas condições pessoais de raça, gênero, etnia, classe
todos. social ou deficiência.
- Rompe-se a dico- No entanto, interpretações equivocadas e ingênuas têm resumido esta proposta
tomia entre dois sis- aos alunos da educação especial, ou seja, aos alunos com deficiência.
temas paralelos de
educação: o regular A proposta da educação inclusiva nos remete ao conceito de Escola Inclusiva, que,
e o especial. “pressupõe uma nova maneira de entendermos as respostas educativas que se ofere-
cem, com vistas à efetivação do trabalho na diversidade.Está baseado na defesa dos
direitos humanos de acesso, ingresso e permanência com sucesso em escolas de boa
qualidade (onde se aprende a aprender, a fazer, a ser e a conviver) no direito de
integração com os colegas e educadores, de apropriação e construção do conheci-
mento, o que implica, necessariamente, em previsão e provisão de recursos de toda a
ordem” (Carvalho, 2004).
Integração X Inclusão:
Estes são conceitos que têm sido objeto de acalorados debates em todos os fóruns
cuja temática é a educação inclusiva; uns defendem a concepção “pura” do termo
inclusão, em contraposição à integração, entendida por outros como um processo
interativo que deve fazer parte da educação inclusiva (Carvalho, 2004).
Ainda citando Carvalho (1998), reproduzo a citação de Doré: “sem ser incompatí-
vel com a noção de integração, a inclusão institui a integração de maneira mais
radical e sistemática, alertando para as implicações práticas da integração” (p.35).
Já o modelo da inclusão, determina que é a escola que deve se preparar para rece-
ber todos os alunos, inclusive aqueles com quadro de deficiência, adequando-se às
necessidades dos alunos.
Mittler entende que a inclusão implica uma reforma radical nas escolas em termos
de currículo, avaliação, pedagogia e formas de agrupamento de alunos (p. 34).
Segundo Coll (2004), “a integração é o processo que permite aos alunos que habitu-
almente foram escolarizados fora das escolas regulares serem educados nelas” (p.
25).
Integrar é articular as
A inclusão prescreve, segundo Coll (2004), a exigência de educar todos os alunos
partes para formar o
na mesma escola e a necessidade de empreender uma reforma do conjunto do siste- todo, não há como in-
ma educacional (p.26). cluir sem integrar.
Deficiência:
Art. 3º:
Livro-texto 1 13
da, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o
desempenho de funções;
III - deficiência visual – acuidade visual igual ou menor que 20/200 no melhor
olho, após a melhor correção, ou campo visual inferior a 20º (tabela de Snellen), ou
ocorrência simultânea de ambas as situações;
Condutas Típicas:
Este é um conceito que começou a ser usado em 1960, mas só ganhou divulgação
em 1974, com o Informe Warnock, na Inglaterra e foi mundialmente adotado du-
rante a Conferência de Salamanca, em 1994, na Espanha.
Embora tenha atribuído uma ampliação muito grande aos supostamente usuários
dos serviços da educação especial, tem o mérito de focalizar o atendimento às
diferenças dos alunos, nas respostas educativas da escola. Segundo Coll (2004 p.19/
Lembrem-se:
III- FUNDAMENTOS LEGAIS
“Existem necessidades
“O que se opõe à igualdade não é a diferença, é a desigualdade” educacionais especiais
que requerem da escola
(Cury,2005).
uma série de recursos e
apoios de caráter mais
especializado, que pro-
Hoje podemos afirmar que o Brasil tem um arcabouço legal muito avançado, no porcionem ao aluno
que se refere à garantia dos direitos sociais às pessoas com deficiência. meios para acesso ao
currículo”.
Os atos normativos, pós Constituição de 88, contemplam avanços significativos no
(Parecer nº 17/CNE,
campo da garantia dos direitos das pessoas com deficiência, embora muito ainda se
2001)
encontre no campo das letras e não no âmbito da sua concretização.
Merecem destaque:
- A Política Nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência (Lei Nº 7.853/
89)
- O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei Nº 8.069 / 90)
- A Lei Orgânica da Assistência Social (Lei Nº 8742 / 93)
- O Estatuto do Idoso (Lei Nº 8.842 / 94)
- A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei Nº 9394 / 96)
- A Lei Orgânica da Saúde (Lei Nº 8.080 / 90)
- A Lei do Passe-livre inter estadual (Lei nº8.899 / 94)
- A Lei da Acessibilidade (Lei Nº 10.098/00)
Nossa luta atual é para que elas sejam respeitadas e implementadas. Para isso, tor-
na-se necessário conhecer e multiplicar a informação sobre os fundamentos legais
que sustentam e asseguram os direitos sociais a todos os cidadãos, em cada espaço
de convivência.
Livro-texto 1 15
No campo da educação, podemos destacar as seguintes legislações complementa-
res à LDBN/96, que reservou todo o seu Cap. 5 à organização da educação especial
no sistema educacional brasileiro:
A inclusão escolar significa que todas as crianças e jovens em idade escolar devem
freqüentar a mesma escola, e que esta escola deve estar organizada para atender às
necessidades educativas especiais de todos os seus alunos.
No entanto, a inclusão escolar não significa apenas colocar todos os alunos na escola
comum, fazendo assim uma inclusão apenas física, ou segundo Mittler, uma
Para isso, a escola tem de oferecer os suportes que o aluno vai precisar para que ele
possa aprender com e como os outros colegas.
Para garantir esses suportes, é preciso que os órgãos públicos de educação, as Se-
cretarias de Educação estadual e municipal estejam também comprometidas com
a inclusão escolar, enquanto política pública, de forma que sejam implementadas
condições básicas que facilitem o ingresso de alunos com necessidades educativas
especiais na escola comum: escolas acessíveis, sem barreiras físicas, atitudinais e
curriculares, professores melhor preparados, número menor de alunos nas salas
inclusivas, apoios pedagógicos, como e quando necessário, professor de apoio, ma-
teriais específicos (braille, sorobã, dentre outros), professor intérprete.
Essas são as chamadas adaptações de grande porte, ou seja, adaptações que depen-
dem de uma ação do poder público.
Livro-texto 1 17
Está sendo traçado, pouco a pouco, em cada município, em cada escola, por todos
aqueles que querem contribuir com um sistema educacional de qualidade para
todos os alunos. A inclusão escolar é, portanto, um caminho a ser buscado por
todos, com compromisso, responsabilidade e sobretudo com a crença de que essa
construção é possível.
“A inclusão é uma visão, uma estrada a ser viajada, mas uma estrada
sem fim, com todos os tipos de barreiras e obstáculos, alguns dos quais
se encontram em nossas mentes e em nossos corações”.
(Mittler, 2003. p.21)
Outros defendem o desmonte total dos serviços da educação especial, como estra-
tégia necessária para a implementação do modelo inclusivo.
Nesta ótica, a ressignificação da educação especial vai exigir uma interlocução per-
manente entre a escola comum e a escola especial, de forma a que seja construída
uma prática cooperativa entre elas e que seja possível organizar os serviços de apoio
mútuo.
É preciso acreditar que as duas escolas têm muito o que aprender e o que ensinar
mutuamente.
Tais posturas, tanto da escola comum como da especial têm impedido ou dificulta-
do a tão necessária e urgente reorganização de todas as escolas.
Esta mudança implica uma reorganização das escolas, tanto da escola especial quan-
to da escola comum, e isso exige que seja firmado um pacto, que seja explicitado o
acolhimento da escola e dos educadores ao paradigma da inclusão escolar.
Sem a adesão das escolas e dos educadores, a inclusão escolar não estará presente
no cotidiano das escolas. E será apenas mais um discurso ideológico e
“polìticamente correto”.
Livro-texto 1 19
VI- NEE ASSOCIADAS A UMA DEFICIÊNCIA
Para evitar tais comportamentos, torna-se necessário conhecer algumas dicas im-
portantes de convivência com a diversidade:
3. Trate a pessoa com deficiência com a mesma consideração e respeito com que
você trata as demais pessoas.
4. Quando quiser uma informação de uma pessoa com deficiência, dirija-se a ela e
não ao seu intérprete ou acompanhante.
5. Quando puder, ofereça ajuda e pergunte qual a melhor forma de ajudar. A pró-
pria pessoa auxiliará você quanto a melhor forma de ajudá-la.
6. Trate a pessoa com deficiência como alguém com limitações específicas da defi-
ciência, porém com as mesmas qualidades e defeitos de qualquer Ser Humano.
8. Chame a pessoa com deficiência pelo nome, como se faz com qualquer outra
pessoa.
9. Permita que a pessoa com deficiência, como qualquer Ser Humano, tenha o
direito de expressar as suas emoções, qualidades e defeitos.
Conceitos:
- Surdez:
É uma condição natural que não precisa ser tratada como uma deficiência ou
uma doença que necessita de cura (visão social).
- Deficiente Auditivo:
Termo técnico utilizado para denominar as pessoas que apresentam uma perda
sensorial auditiva. Geralmente esse termo não é utilizado pelo grupo que per-
tence à comunidade surda.
- Surdo-mudo
Formas de comunicação:
O aparelho de amplificação sonora não faz a pessoa surda ouvir, ele terá somen-
te acesso a algumas pistas sonoras.
- Língua de Sinais:
Língua de sinais não é universal. Cada país apresenta a sua língua de sinais.
Possibilidades de Comunicação:
- Caso você não conheça a língua de sinais e queira se comunicar com a pessoa
surda:
- Olhe para a pessoa surda enquanto estiver falando.
- Fale com movimentos labiais bem definidos, a fim de que a pessoa surda
possa compreendê-lo.
- Fale naturalmente, sem alterar o tom de voz, ou exceder nas articulações.
- Evite falar de costas, de lado ou com a cabeça baixa, quando estiver conver-
sando com a pessoa surda.
- Seja expressivo, pois a expressão fisionômica auxilia a comunicação.
Livro-texto 1 21
- Caso queira chamar a atenção, sinalize as mãos movimentando-as no campo
visual da pessoa surda ou toque gentilmente em seu braço.
- Se você tiver dificuldades em compreender o que a pessoa surda está falan-
do, seja sincero e diga que você não compreendeu. Peça a ela para repetir o
que falou. Se você ainda não entender, peça-lhe para escrever.
- Quando a pessoa surda utiliza o serviço do intérprete:
Observe as dicas:
- Olhe diretamente para a pessoa surda com quem está conversando.
- Evite dizer ao intérprete “diga a ele...” “pergunte a ele...” seja objetivo e fale
diretamente à pessoa surda: “você”.
- Ao falar utilize seu tom e seu ritmo de voz normal. Não é necessário falar
pausadamente ou em tom mais elevado.
Conceitos:
Formas de Locomoção:
Formas de Comunicação:
A pessoa que teve uma lesão cerebral pode ter uma dificuldade na articulação
dos órgãos da fala e a sua linguagem oral pode estar alterada e não ser bem
compreendida por todos. Em alguns casos, será necessário, que você se acalme e
ouça atentamente a pessoa para conseguir compreender o que ela diz.
A pessoa que tem uma fala mais comprometida terá, muitas vezes, de utilizar
outras formas para se comunicar: o olhar, a comunicação através de gestos, a
escrita e até mesmo computadores com adaptações.
O importante, neste caso, é você falar com ela, ainda que ela não consiga res-
ponder com palavras. Procure formular frases com perguntas diretas, para faci-
litar a resposta de um sim ou de um não, com movimentos corporais.
Livro-texto 1 23
Mas é fundamental que saiba que ela entende você, apenas não consegue se
expressar da maneira usual.
Dicas de convivência:
- A cadeira de rodas ou muletas é quase uma extensão do corpo de seu usuá-
rio. Quando for empurrá-la, pergunte antes se a pessoa assim o deseja e como
você deve proceder para fazê-lo. No caso de muletas, pergunte antes tam-
bém, pois você poderá dificultar ao invés de auxiliar.
- Tome cuidado ao empurrar a cadeira de rodas para não bater nas pessoas da
frente e nem esbarrar por onde anda.
- Se estiver andando com uma pessoa com dificuldades de locomoção, tente
acompanhar o seu ritmo.
- Se a pessoa fala com dificuldades, ela sabe que pode não ser entendido na
primeira vez, então não se intimide em dizer que não conseguiu compreen-
der e que gostaria que ela repetisse.
- Nas subidas, as cadeiras são mais pesadas e a sua ajuda nesta hora é impor-
tante, mas não se esqueça de perguntar se a pessoa deseja ser auxiliada.
- Deixe as muletas ao alcance das mãos da pessoa, para facilitar que ela própria
as alcance.
- Pergunte-lhe se quer que você a auxilie com as pastas, cadernos e material
que esteja carregando.
- Se a pessoa usa cadeira de rodas, saiba que o melhor é sentar para conversar
com ela por mais tempo, evitando assim que ela fique olhando para cima.
Conceitos:
A diminuição da resposta visual pode ser leve, moderada, severa, profunda (que
compõe o grupo de visão subnormal ou baixa visão) e ausência total da resposta
visual (cegueira).
Dicas de Convivência:
- Evite utilizar os advérbios, aqui, lá, cá, etc, de maneira inadequada.
- Ofereça sua ajuda sempre que uma pessoa cega pareça necessitar. Mas não
ajude sem que ela concorde.
- Sempre pergunte antes de agir. Se você não souber em que e como ajudar,
peça explicações de como fazê-lo.
- Ao guiar uma pessoa cega, não a pegue pelo braço: além de perigoso, isso
pode assustá-la. Ao contrário, ela é quem deve apoiar-se no braço de quem a
conduz, ou ainda de preferência no cotovelo ou no ombro. À medida que
encontrar degraus, meios fios e outros obstáculos, vá orientando-a. Em luga-
res muito estreitos para duas pessoas caminharem lado a lado, ponha seu
braço para trás de modo que a pessoa cega possa segui-lo.
- Ao sair de uma sala, informe à pessoa cega; é desagradável para qualquer
pessoa falar para o vazio. Não evite palavras como “cego”, “olhar” ou “ver”, as
pessoas cegas também as usam.
Livro-texto 1 25
- Ao explicar direções para uma pessoa cega, seja o mais claro e específico
possível. Não se esqueça de indicar os obstáculos que existem no caminho
que ela vai seguir.
- Ao guiar uma pessoa cega para uma cadeira, guie a sua mão para o encosto da
cadeira, e informe se a cadeira tem braços ou não;
- Uma pessoa cega é como você, só que não enxerga; trate-a com o mesmo
respeito com que você trata uma pessoa vidente.
- Converse com a pessoa cega em tom de voz normal; ela não é surda.
- Atravesse a pessoa cega sempre em linha reta, para que ela não perca a dire-
ção.
Conceito:
SISTEMA 92: Adota um novo modelo para compreensão das pessoas com defi-
ciência mental. A ação diagnóstica é baseada nas inter-relações dessa pessoa com
A pessoa deverá ser avaliada nos dois aspectos e em todas as áreas do comporta-
mento adaptativo citadas anteriormente, verificando-se em cada uma delas o
que essa pessoa faz sem apoio, o que faz com apoio e o que ela não consegue
fazer.
A INTENSIDADE dos apoios que essa pessoa necessitará também deverá ser
definida: permanente, transitório, intermitente, contínuo, intenso.
Dicas de convivência:
- Deficiência mental não significa infância eterna. Não trate a pessoa sempre
como a uma criança.
- Respeite os ciclos de vida e suas características: pessoas com deficiência men-
tal também vivenciam os intrigantes e desafiadores conflitos da adolescência,
idade adulta e velhice.
- Enriqueça o ambiente com estímulos e desafios.
- Desenvolva expectativas positivas em relação à pessoa: elas irão determinar
boa parte de seu futuro.
- Proporcione situações de trocas sociais e de relações afetivas: o desenvolvi-
mento da inteligência é impulsionado por elas.
- A criança com deficiência mental necessita de estímulos, convivência social
com seus pares, desafios, limites, como qualquer criança.
- Pessoas com deficiência mental grave e sem condições de se beneficiarem
dos programas de educação profissional, devem ter suas necessidades básicas
atendidas através de programas de Educação Continuada, focalizadas na in-
clusão social, lazer e preservação da qualidade de vida.
- Adolescentes e adultos com deficiência mental necessitam de programas fun-
cionais que os prepare para a vida, através do trabalho, de forma real, funcio-
nal e com o olhar voltado para suas necessidades futuras.
Livro-texto 1 27
- Permita que seu aluno faça escolhas, cometa erros, se arrisque. Somente as-
sim ele poderá atingir a independência e a autonomia.
- Alunos com deficiência mental necessitam de escolas com currículos plane-
jados, programas e estratégias de ensino bem elaboradoras de modo a facili-
tar a aprendizagem dos conteúdos curriculares
- Organize os espaços escolares e as atividades pedagógicas de forma clara,
simples e objetiva.
- Dê instruções curtas e seqüenciais.
Lembre-se:
- Adote sempre que possível atividades em grupo.
Deficiência não é do- - Acredite na capacidade de seu aluno. Estimule-o a explorá-la.
ença. É uma condição.
REFLEXÕES FINAIS:
Ela representa um novo caminho que está sendo construído por tantas e tantas
pessoas que sonham com uma sociedade justa, solidária e pronta para garantir os
direitos de todas as pessoas que nela vivem.
Sabemos que essas vivências continuam sendo, senão negadas, ainda dificultadas
para um número significativo de crianças, jovens e adultos com deficiência.
A educação inclusiva é, sem dúvida, uma conquista que vai facilitar que essas
vivências passem a fazer parte da vida de todas essas pessoas, cidadãos de direitos
e deveres, como todos.
Não temos dúvida de que a inclusão escolar se fará pela inquietação coletiva de
educadores e educandos e pelos desafios que estão mobilizando profissionais, alu-
nos, pais e governantes.
Este texto pretende provocar e estimular a discussão entre todos aqueles que quei-
ram compreender de que escola estamos falando, quando falamos de um sistema
educacional inclusivo.
Esperamos que cada professor, sentindo-se motivado por essas reflexões, possa
acrescentar muitas e muitas outras, surgidas no cotidiano de sua convivência com a
diferença de seus alunos.
EDLER, Rosita Carvalho. A Nova LDB e a Educação Especial. Rio de Janeiro: WVA,
1997.
EDLER, Rosita Carvalho. Educação Inclusiva: com os pingos nos “IS”. Porto Alegre:
Mediação, 2004.
GLAT, Rosana. Questões Atuais em Educação Especial. Rio de Janeiro: Sette Letras,
1998.
GLAT, Rosana. Uma professora muito especial. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1999.
MITTLER, Pettler. Educação Inclusiva. Contextos Sociais. Porto Alegre: Artmed, 2003.
Livro-texto 1 29
PUC MINAS. ANAIS: Seminário Internacional Sociedade Inclusiva – 2001.
RIBEIRO, Maria Luiza S. (org.) Educação especial – Do querer ao fazer. São Paulo:
Avercamp, 2003.
SUSAN e WILLIAM Stainback. Inclusão – um guia para educadores. Porto Alegre: Ar-
tes Médicas Sul, 1999.
INTRODUÇÃO
A partir do início do século XX, passam a ser divulgados os estudos de Piaget (1896-
1980) e de Vygotsky (1896-1934), que trouxeram grandes avanços na explicação
do desenvolvimento cognitivo humano. E é na contribuição das idéias desses autores
para a compreensão do processo ensino-aprendizagem que será dada ênfase, nesta
primeira parte do curso de atualização para professores de crianças portadoras de
necessidades especiais.
Livro-texto 1 31
TEORIAS BEHAVIORISTAS – VISÃO EMPIRISTA DA
APRENDIZAGEM
Quando se castiga uma criança, sempre que ela faz algo considerado errado, o pres-
suposto é de que o castigo removerá ou diminuirá aquele tipo de ação. Quando o
professor faz com que os estudantes executem, mecanicamente, inúmeras vezes
uma ação, o pressuposto é o de que a repetição garante a formação do comporta-
mento ou habilidade ou atitude que se deseja fixar. Esses são apenas dois exemplos
de uma das concepções do processo aprendizagem mais presente na prática peda-
gógica dos professores: a concepção empirista. Segundo esse ponto de vista, o co-
nhecimento parte, sempre, dos sentidos, que captam, através das sensações e per-
cepções, as impressões colhidas do mundo real.
Pavlov, no final do século XIX, realizando estudos sobre glândulas, observou que
animais, mantidos no laboratório onde desenvolvia suas pesquisas, começavam a
salivar logo que viam o seu tratador, ou seja, antes de receber o alimento. Formu-
lou, então, a hipótese de que isso ocorria em razão de uma associação feita, pelos
mesmos, entre o alimento e o tratador, já que bastava visualizarem esse último para
a ativação do reflexo de salivação.
Gestalt é uma palavra de origem alemã que significa forma, padrão, contorno, orga-
nização, estrutura, configuração. A psicologia da gestalt ou da forma opõe-se à con-
cepção empirista, por rejeitar a idéia de que o comportamento possa ser explicado
por uma determinação do meio, ou seja, pela simples associação entre estímulos e
respostas. Para a gestalt os estímulos só ganham sentido se inseridos num campo
de significações no qual a subjetividade predomina. É no campo da percepção que
a gestalt fundamenta as suas explicações para o conhecimento, pelo fato de existir
uma relação estreita com a maturação do sistema nervoso.
Livro-texto 1 33
Vejam algumas leis universais que regulam a percepção humana e mobilizam o
insight, segundo essa teoria:
- Figura e fundo: em toda percepção existe uma figura que se destaca sobre um
fundo mais geral. Uma música, por exemplo, destaca-se, se houver um fundo
de silêncio;
Exemplos de agrupamento. Em a, os pontos são percebidos em colunas verticais, por causa de sua maior proximidade na
direção vertical do que na horizontal. Em b, quando a proximidade é igual, as fileiras são percebidas como horizontais, devido
ao agrupamento por semelhança. Em c, o princípio da boa continuidade faz com que a figura do alto seja vista como constituída
de duas partes (apresentadas à esquerda, embaixo), mesmo que, de um ponto de vista lógico, pudesse ser igualmente composta
das duas partes apresentadas à direita, embaixo, ou ainda, em um grande número de outras combinações de duas ou mais
partes. (adaptado de Wertheimer, 1923)
Para refletir:
Eis alguns de seus pressupostos, usados para a condução da prática pedagógica do
professor: - Procure se lembrar de
uma atividade ou de
- Percebemos inicialmente o todo e não as partes; uma fala ou de uma
- A percepção depende do amadurecimento de certas estruturas nervosas; postura docente que
- O amadurecimento do sistema nervoso determina a possibilidade de conheci- você tenha tido opor-
mento; tunidade de observar
e que você classifica-
- As diferenças individuais devem ser a base para a organização do processo
ria de inatista.
ensinoaprendizagem;
- Que características da
- O professor é um simples facilitador da aprendizagem e o seu trabalho consiste
visão inatista do co-
em conduzir a atividade na sala de aula, de acordo com o ritmo de desenvolvi-
nhecimento se expres-
mento e aprendizagem de cada aluno.
sa na situação lembra-
da?
TEORIAS PSICOGENÉTICAS - VISÃO CONSTRUTIVISTA DA - Em sua opinião, as
APRENDIZAGEM leis da percepção po-
dem ajudar no plane-
Quando o professor se preocupa em saber quais são as condições atuais dos seus jamento e na condu-
alunos, que conhecimentos prévios eles possuem e planeja, a partir dessa avaliação, ção do processo ensi-
a forma de atuar no processo ensino-aprendizagem, ele estará, por certo, conside- no-aprendizagem? Se
rando os seguintes aspectos, entre outros: acha que sim, dê um
ou mais exemplos de
- O ponto de partida para o trabalho pedagógico é o aluno real, concreto, com atividades que poderi-
suas necessidades atuais e com quem passamos a nos relacionar e compartilhar am ser melhoradas,
experiências; levando em conta tais
- É fundamental o enriquecimento dos ambientes de aprendizagem para que es- princípios.
ses favoreçam as ações construtivas dos alunos e ampliem as chances da forma-
ção de novos conhecimentos;
- O acompanhamento da trajetória dos alunos, ajudando-os a interpretar seus er-
ros, é condição para que possam superar as suas dificuldades.
Livro-texto 1 35
determinismo ambiental ou orgânico - que o indivíduo organiza o seu conhecimen-
to sobre o real, ao mesmo tempo em que desenvolve a sua própria capacidade de
conhecer, ou seja, ao mesmo tempo em que desenvolve as suas estruturas do co-
nhecimento.
Para Piaget, a inteligência humana não é nem inata e nem determinada exclusiva-
mente pela ação do meio sobre o indivíduo. Para esse grande epistemólogo (aquele
que estuda o conhecimento), o desenvolvimento da inteligência se dá através da
sociogênese e da psicogênese.
Como se pode notar, Piaget modifica o conceito de orgânico, ao admitir que certas
estruturas mentais, inobserváveis diretamente e que se desenvolvem após o nasci-
mento, são construções orgânicas específicas para o ato de conhecer. Isso o levou a
abordá-las por meio de modelos construídos para esse fim, tal como procedem
alguns cientistas que, não podendo, por exemplo, estudar diretamente certos ele-
mentos ou fenômenos, mas conhecendo seus efeitos, idealizam modelos de sua
estrutura que são ou não confirmados pela observação.
Piaget, mediante seus estudos sobre a epistemologia genética, abriu caminho para a
compreensão do conhecimento, trazendo explicações sobre como ele se forma, se
amplia e passa de níveis menos complexos para níveis cada vez mais complexos no
processo de conhecer.
Piaget nos mostrou, ainda, que o conhecimento implica organizar, estruturar e ex-
plicar as nossas experiências com o mundo dos objetos. Assim, a simples vivência
de certas situações não resulta, necessariamente, em conhecimento. Uma criança
pode, por exemplo, passar longos anos na escola e não saber escrever, contar etc,
ignorando o que mais circula na escola, que são essas aprendizagens.
Livro-texto 1 37
pectos materiais das ações, embora se subordine à experiência lógico-matemáti-
ca. Como exemplo, citam-se as noções de peso e tamanho dos objetos.
- Experiência lógico-matemática, da qual resulta a abstração reflexiva, que decor-
re da construção de relações entre objetos, com as suas duas formas:
reflexionamento e reflexão. Como exemplo, pode-se apontar toda forma de
inferência lógica.
Em decorrência dessas duas formas de abstração, todo desenvolvimento atingido
em um certo estágio se projeta no seguinte (reflexionamento), exigindo, a partir
daí, uma construção e uma reorganização daquilo que foi construído, de um pata-
mar para outro. Esse desenvolvimento recursivo (movimento pelo qual se parte,
sempre, do que já existe, superando em complexidade o que já foi construído e
abrindo perspectiva para o novo, para novos possíveis) foi representado, por Piaget,
através de uma espiral.
Por exemplo, no plano motor, quando uma criança que já consegue andar com uma
certa desenvoltura (ou seja, já formou o esquema de andar) é desafiada a caminhar
carregando um certo objeto, normalmente se desequilibra e não prossegue na ca-
A cronologia dos estágios (idade em que ocorrem) deve ser entendida como aproxi-
mações médias de tempos de aquisições freqüentes em nossa cultura. Seu valor é
apenas o de uma orientação básica, já que está sujeita a sensíveis diferenças indivi-
duais resultantes de múltiplos fatores.
Por exemplo, o fato de a criança já saber que a mudança na forma de uma massinha
(daquelas coloridas e vendidas numa caixinha) não altera a quantidade de massa
contida nas várias possibilidades de formatos (de bola, de salsicha ou de biscoito)
não nos assegura que ela seja capaz das mesmas conclusões, se for levada a compa-
rar quantidades iguais de líquidos distribuídos em vasilhames de diferentes forma-
tos (copos, largos, finos etc).
Estende-se do nascimento até por volta dos dois anos, aproximadamente. A inteli-
gência é, nessa fase, essencialmente prática e regulada pela percepção. As constru-
ções sensório-motoras das noções de espaço, tempo e causalidade garantem, nesse
Livro-texto 1 39
estágio, as bases para o desenvolvimento da inteligência lógica. Nele também os
processos de assimilação e de acomodação se dissociam, de modo a garantir, pela
interação criança-meio, a construção de esquemas práticos e a organização da reali-
dade.
Eis algumas das inferências possíveis de serem extraídas dos estudos piagetianos
sobre a formação do conhecimento e da inteligência:
- A inteligência não é um atributo dado “a priori”, mediante a transmissão genéti-
ca. Também não é algo produzido unicamente pela ação do meio sobre os indiví-
duos. Ela é produzida por meio das trocas que cada pessoa realiza com o meio.
Vygotsky (1896), psicólogo soviético, mudou definitivamente o enfoque dado aos - Cite, pelo menos, três
condições que, segun-
estudos da relação entre desenvolvimento e aprendizagem. Ele verificou que esses
do Piaget, imprimem
processos vinham sendo tratados como se não tivessem uma relação estreita entre
um sentido construti-
si. Por incrível que possa parecer, essa visão pode ser constatada em certos cursos
vista ao processo ensi-
de Pedagogia e de Psicologia que, ainda hoje, abordam, separadamente, a Psicologia
no-aprendizagem.
do Desenvolvimento e a Psicologia da Aprendizagem.
Apoiado nesses estudos, esse psicólogo verificou que existem dois níveis de desen-
volvimento: o real ou efetivo e o potencial. O desenvolvimento efetivo é aquele já
concluído e que habilita a criança para resolver certas atividades com independên-
cia, ou seja, sem ajuda. Entretanto, existe um nível de desenvolvimento que não
aparece nos testes, mas que pode ser detectado quando conseguimos fazer com
que a criança seja capaz de realizar algo - que não conseguiria realizar independen-
temente - com ajuda. Esse tipo de intervenção é possível acontecer no que Vygotsky
denominou de zona de desenvolvimento proximal (ZDP), entendida como a distân-
cia entre o nível de desenvolvimento real ou efetivo e o de desenvolvimento poten-
cial. E o mais importante é que aquilo que a criança é capaz de fazer com ajuda,
através da ZDP, poderá, mais tarde, ser feito de modo autônomo, resultando na
sua transformação em desenvolvimento efetivo e na formação de novas zonas de
desenvolvimento potencial.
Essas idéias devem nos alertar para uma das funções primordiais da escola: a de
favorecer o desenvolvimento de certas capacidades, apoiando, dando suporte, cri-
ando “próteses” (no sentido metafórico), quando necessário, para ampliar as possi-
Livro-texto 1 41
bilidades de aprendizagem e de desenvolvimento, em lugar de limitar as chances
Para refletir: de o aluno avançar, como acontece em muitas de nossas escolas.
- Procure se lembrar de
uma atividade ou de Enfim, um dos compromissos da educação, em qualquer nível ou modalidade, é o
uma fala ou de uma de criar, progressivamente, novas zonas de desenvolvimento potencial, para nelas
postura docente que intervir e trabalhar ajudando os alunos a superar as suas dificuldades e limitações.
você tenha tido opor-
tunidade de observar e
que tem o papel de in- CONCLUSÕES
tervir na ZDP. Com
base nos estudos sobre Como foi visto ao longo deste texto, existem formas diferentes de explicar a apren-
as relações entre a dizagem e sua relação com o desenvolvimento da inteligência.
aprendizagem e o de-
senvolvimento de Segundo a visão empirista, aprendizagem e desenvolvimento se confundem, o que
Vygotsky, aponte pelo acarreta, na prática, o negligenciamento das condições internas do indivíduo. Essa
menos 3 razões que concepção se expressa no trabalho do professor que lida com o aluno como sendo
justifiquem sua res- respondente, apenas, aos estímulos do meio. Lamentavelmente, essa concepção
posta. ainda está presente nos contextos educativos.
entre a teoria e a prática. Belo Horizonte: PUC Minas: PUC Minas Virtual, 2003.
PIAGET, Jean. A gênese das estruturas lógicas elementares. Rio de Janeiro: Zahar,
1972.
1976.
VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.
Livro-texto 1 43
Tempo: uma categoria central do
pensamento e da ação humana
Lana Mara de Castro Siman
Doutora em Didática da História Université Laval, Québec-Canadá
As idéias que temos de tempo não são inatas e nem automaticamente apreendidas.
Elas são construções intelectuais que resultam de nossas experiências e ações e
começam a se desenvolver desde nossos primeiros anos de vida.
ESTÁGIOS DE CONTRUÇOES DE
DESENVOL- CARACTERÍSTICAS NOÇÕES DE TEMPO E
VIMENTO PRINCIPAIS DA PERSPECTIVA DA EXEMPLOS
INTELECTUAL TEMPORALIDADE HISTÓRICA
Livro-texto 1 45
OS ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO INTELECTUAL SEGUNDO PIAGET E O
DESENVOLVIMENTO DA NOÇÃO DE TEMPO HISTÓRICO (continuação)
ESTÁGIOS DE
DESENVOL- CARACTERÍSTICAS CONTRUÇOES DE NOÇÕES DE
VIMENTO PRINCIPAIS TEMPO E DA PERSPECTIVA DA EXEMPLOS
INTELECTUAL TEMPORALIDADE HISTÓRICA
Pensamento egocên-trico:
o sujeito se considera no Observa-se que as primeiras intui- O que foi feito antes e de-
centro de todas as ações. ções temporais são centradas sobre pois de chegar a escola.
Não é capaz de considerar alguma relação privilegiada ligada ao Quem nasceu antes?
mais do que um fato a ca- egocentrismo. A criança inicia a ca-
da vez. Sua percepção é pacidade de ordenar os acontecimen- Seu pai ou o seu avô?
submetida às percepções tos em ordem de sucessão temporal,
imediatas. Não é capaz de demonstra uma intuição da noção O que fez durante as fé-
Pré-operatório reversibilida-de, mas pode da duração social do tempo, sem, rias, o recreio? O que
(2-7 anos) descobrir o certo por en- contudo, quantificá-las. dura mais: o tempo de
saio e erro. A aquisição da aulas ou o tempo de féri-
linguagem muda as condi- as?
ções do seu pensamento
CONTRUÇOES DE
ESTÁGIOS DE
NOÇÕES DE TEMPO E
DESENVOL- CARACTERÍSTICAS
DA PERSPECTIVA DA EXEMPLOS
VIMENTO PRINCIPAIS
TEMPORALIDADE
INTELECTUAL
HISTÓRICA
Após a apresentação desse quadro síntese1, que buscou estabelecer relações entre
o desenvolvimento do pensamento lógico, segundo Piaget, e o desenvolvimento do
pensamento Histórico – cuja noção de tempo tem um papel central -, torna-se
importante um conjunto de observações, a fim de que possamos melhor entender
e aproveitar essas idéias para o ensino da História, numa perspectiva de educação
inclusiva.
1
Esse quadro síntese foi elaborado por Christian Laville, pesquisador canadense do ensino da História e Lana Mara de
Castro Siman.
Livro-texto 1 47
capacidade é também de longa duração e o ensino da História pode desempenhar
um papel muito importante para o seu desenvolvimento.
Esse quadro síntese nos permitiu ver, portanto, que a aquisição das noções de tem-
po e da perspectiva da TEMPORALIDADE HISTÓRICA não são inatas, mas sim
construções intelectuais que resultam da experiência e da ação. Ela se constrói ao
longo do tempo e parece acompanhar o processo do desenvolvimento do raciocínio
lógico, indo do estágio sensório motor ao operatório formal, passando pelo pré-
operatório e pelo operatório concreto. Vimos, também, que a aquisição da pers-
pectiva da temporalidade histórica comporta várias noções de tempo de físico e
social, ocorrendo paralelamente ao processo de DESCENTRAÇÃO e ao desenvol-
vimento do processo da LINGUAGEM. Por exemplo, a utilização adequada de
expressões- advérbios de tempo- que denotam ordenação, duração simultaneida-
de, tais como: antes, depois, durante, ao mesmo tempo, enquanto que, desde, até,
entre outras expressões. Vimos, ainda, que muitas das noções de tempo são da
ordem do tempo, físico e matemático: ordenação, sucessão, duração, simultanei-
dade, quantificação do tempo e que tais noções ganham sentido para o desenvolvi-
mento da temporalidade histórica ao se articularem à memória e ao sentido social
do tempo.
Sabemos que o tempo histórico não se limita ao cronológico, à sucessão linear dos
acontecimentos no tempo físico. Portanto, concordamos com Poster (1979) quan-
do diz.
o sentido de passado histórico envolve muito mais do que relógios, calendá-
rios, seqüências, e categorização de um período de anos, como período clás-
sico ou outro período como a renascença. Um sentido de tempo físico é um
ingrediente necessário, mas não suficiente como idéia de passado. (Pôster,
1979:589).
O contato das crianças com os mais velhos e com a memória que eles trazem do
passado do grupo familiar permite às crianças que tomem consciência de outras
épocas e do princípio de alteridade, permitindo a elas que ressignifiquem a percep-
ção do seu próprio tempo. Como disse FRAISSE (1957) parte das nossas perspec-
tivas temporais vem da história da nossa infância e das nossas primeiras recorda-
ções, assim como das recordações dos nossos pais. Essa idéia é também reforçada
por LE GOFF (1992) quando esse historiador diz de sua própria experiência na
aquisição do sentido do tempo histórico:
(...) foi através da memória de meus pais – e ainda pelo contato com uma
memória dos tempos de sua infância e de sua juventude que sobrevivia nos
seus caracteres, nas suas idéias, nos seus comportamentos quotidianos – que
se edificou pouco a pouco em mim um sentido da duração, da continuidade
histórica e, ao mesmo tempo, das rupturas (LE GOFF, 1992:206).
...”mudou tudo porque quando a minha avó fazia aquelas comidinhas, que
tinha aquelas panelinhas, tudo pequenininhas no fogão de lenha, na roça.
Só que não existe aqui em Belo Horizonte. Porque já passaram o tempo deles
e aí agora é nosso tempo, depois é o tempo de outras pessoas”. (Mari, 1º ano
do 1º ciclo, 1997. Projeto Desenvolvimento do Raciocínio Histórico: a di-
mensão da temporalidade e causalidade histórica” FAE/ CP UFMG).
Pudemos ver aqui que crianças auxiliadas pelas memórias dos mais velhos perce-
bem as durações, a simultaneidade, a sucessão, assim como as permanências e
mudanças, independentemente de saber, com exatidão, suas localizações no tem-
po cronológico: anos, séculos e outras marcações temporais.2
Para que a criança desenvolva uma verdadeira consciência do tempo, não é sufici-
ente apenas associar o tempo com movimentos externos, faz-se necessário, tam-
bém, que ela se dê conta que as coisas têm relação não apenas entre si, mas tam-
2
A esse respeito podemos examinar também estudo de NADAI E BITTENCOURT. Repensando a noção de tempo
histórico no ensino. In: PINSKY, Jaime (Org.) O Ensino de História e a Criação do Fato – 7a ed. – São Paulo: Contexto.
1997. p. 86.
Livro-texto 1 49
bém com elas mesmas. Isso só se torna possível com o desenvolvimento da memó-
ria. E esse sentido da memória na criança envolve suas vivências e experiências e as
do seu grupo de convívio familiar e social.(Wintrow, 1993).
Vejamos a explicação dada por crianças de 9 anos de idade, quando forma a profes-
sora lhes perguntou para que serve o calendário4.
6- Nat: Eu acho que é assim, professora, por exemplo, ce vai ao médico, aí ele
marca pra você voltar, aí você vai lá e olha no calendário pra saber quando é
que tem que voltar.
Nesse exemplo temos indicações de que uma organização doméstica baseada numa
relação positiva com o tempo gera predisposições favoráveis ao desenvolvimento
cognitivo, à aquisição de estruturas cognitivas ordenadas que passam a funcionar
como “estruturas de ordenação do mundo” (LAHIRE, 1997:26). Vimos também,
por meio desse exemplo, que o professor poderá captar, através das falas e com-
portamentos das crianças, o mundo de significados particulares que elas trazem
como carga de experiências da sua vivência fora da sala de aula. (SMOLKA, 1989).
A sala de aula é assim concebida como um espaço de construção de conhecimento
através das interações sociais entre os diferentes sujeitos ali presentes.
3
Maiores informações em: LAHIRE, Bernard. Sucesso Escolar nos meios populares; as razões do improvável. São
Paulo: Editora Ática, 1997.
4
Este exemplo foi extraído de uma aula da Profa Soraia Freitas Dutra, no Centro Pedagógico da UFMG, no ano de
2000.
Livro-texto 1 51
agir dessas pessoas influenciaram o nosso presente? O que mudou e o que perma-
neceu? As coisas mudaram da mesma forma em tempos e espaços diferentes? Os
homens reagem igual na mesma situação? Existem diferenças?
Assim, para aprendermos história – como sendo o estudo das ações, pensamentos
e relações dos homens no tempo - precisamos compreender a nossa própria
historicidade, as relações que a nossa história guarda com a história de nossos gru-
pos de referência, desses com a de nosso país e com a do mundo. Precisamos ainda,
compreender e explicar as relações entre as diferentes realidades sociais: aquelas
mais próximas e aquelas longínquas no tempo e no espaço; aquelas mais próximas
ou mais distantes do nosso universo sociocultural.
Nesse sentido, a própria idéia de tempo deve ser analisada numa perspectiva histó-
rica, como resultante de múltiplas experiências de mundo, num longo processo
evolutivo.
Nas sociedades indígenas brasileiras, por exemplo, o tempo está ligado aos fenô-
menos da natureza, obedecendo a uma circularidade que corresponde aos movi-
mentos repetitivos dos ciclos da natureza. Já nas sociedades industrializadas, o tem-
po está relacionado ao mundo do trabalho. Para Pomian (1993:33-34), foi “a disci-
plina no trabalho da indústria que proporcionou uma procura maciça pelos relógios
e inscreveu definitivamente o tempo quantitativo no corpo dos indivíduos”, atra-
vés do estabelecimento do tempo do trabalho e do tempo livre, do trabalho sema-
nal e da folga semanal.
O tempo histórico é, pois, marcado pela pluralidade. Ele é tão múltiplo quanto é
múltipla a sociedade humana. O tempo histórico corresponde ao tempo da reali-
dade social: múltiplo, descontínuo, apresenta ritmos variados, refere-se a mudan-
ças e permanência.
Olhar a forma como cada grupo social imprime a sua marca no tempo é um exercí-
cio profundo de alteridade que deve ser desenvolvido.
Uma criança ao ser indagada acerca da história da sua cidade, responde: ‘como eu
vou saber se eu não estava lá para ver’(...)
No entanto, sua capacidade pode ser ampliada na medida em que são intensifica-
das as intervenções pedagógicas que favoreçam a percepção dos vestígios do passa-
do e de outras culturas no seu presente. Posteriormente, novos movimentos de
ampliação da sua descentração poderão ocorrer, tornando a criança capaz de pensar
a diversidade numa escala temporal que vai do próximo ao mais distante, assim
como compreender a coexistência de diferentes experiências históricas, sociais e
culturais num mesmo tempo.
Assim, todas as crianças, por mais diferentes que sejam em suas experiências de
vida, suas capacidades em termos visuais, auditivos, sua diversidade em termos de
ritmos de aprendizagem, carregam consigo uma experiência temporal. Cabe a nós,
na escola, na sala de aula, considerá-las e, a partir delas, permitir a que as crianças
Livro-texto 1 53
acedam ao seu desenvolvimento. Como crianças portadoras de necessidades edu-
cacionais especiais vivem e pensam o tempo? Quais experiências temporais essas
crianças possuem? Como ela organiza o seu próprio tempo cotidiano, escolar e
familiar? De que forma elas adquirem o sentido do tempo? Que lembranças essas
crianças possuem de sua própria história e do seu grupo familiar? Quais os meios
que utiliza para acessar o passado? De que forma relaciona o presente o passado e o
futuro? Como ela relaciona sua experiência com a experiência social?
COELHO, Araci R., Brincadeiras de outros tempos, Revista Presença Pedagógica, v.4, nº24,
nov/dez/1998, p.63, 69.
HOBSBAWN, Eric. Sobre História. São Paulo: Companhia das letras, 1998.
LAHIRE, Bernard. Sucesso Escolar nos meios populares; as razões do improvável. São
Paulo: Editora Ática, 1997.
LE GOFF, Jacques, O desejo pela história, In: Ensaios de ego história, Lisboa: Editora 70.
LOWENTHAL, David, Como conhecemos o passado, Projeto História, São Paulo, (17),
nov. 1998.
POMIAN. K. Tempo/ Temporalidade, Enciclopédia Einaudi, vol. 29, Lisboa: Imprensa Naci-
onal - Casa da Moeda, 1993, p. 10-91.
POSTER, John. The Birth of past: childrens’ perception of historical time, The history Teacher
vol, no 4, p.594-595, aug.1973.
SIMAN, Lana Mara de Castro. A temporalidade histórica como categoria central do pensa-
mento histórico: desafios para o ensino e a aprendizagem “Quanto tempo o tempo tem.
Editora Alínea, 2003, p. 109-143.
VYGOTSKY, LEV. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.
Livro-texto 1 55
Espaço: uma categoria
central do pensamento
e da ação humana
Rita Elizabeth Durso Pereira da Silva
Mestre em educação pela FAE/UFMG
Professora de Geografia no Centro Pedagógico/UFMG
INTRODUÇÃO
Nesse caso, o sentimento que prevalece entre professores, pais, outras pessoas de
seu convívio é o de que não são capazes de possibilitar a essas crianças, o desenvol-
vimento de suas potencialidades. Existe até uma tendência em fazer por elas o que
elas próprias podem aprender e desenvolver autonomamente, com orientações
adequadas. Tal atitude é parte da dificuldade em reconhecer a diferença, de valori-
zar o direito à diversidade, e de construir suportes, caminhos, recursos materiais,
para que todos possam exercitar sua cidadania. Como vivemos numa sociedade
pouco afeita aos direitos e muito submetida a padrões, o exercício do direito e do
respeito à diversidade tem sido conquista relativamente recente da luta de grupos
envolvidos na questão.
O cotidiano da criança é pleno de vivências espaciais. Desde que nasce ela se des-
loca, começa a construir a noção de que objetos e pessoas ocupam espaços diferen-
tes, percebendo que existe proximidade e distância, movimento, diferenças no
que vê à sua volta. Tal percepção necessita, no âmbito escolar, da mediação do
Livro-texto 1 57
professor, para que o desenvolvimento das relações de orientação espacial deixem
de ser percepções “soltas”, espontâneas, constituindo-se em processos fundamen-
tados e organizadores das noções espaciais da criança.
É preciso compreender que as práticas sociais são desenvolvidas desde que a crian-
ça ainda é um bebê. Ela quer pegar as coisas, senti-las, percebê-las não só com a
visão, mas com o tato e, muitas vezes, com o paladar (colocando-as na boca). Ela as
reconhece assim – sentindo-as, observando-as, experimentando-as. E começa a
identificá-las quando a ajudamos no processo de nomeação das coisas, das situa-
ções vivenciadas, autorizando aquelas possíveis para a sua idade, e negando as que
ainda não forem adequadas. A criança portadora de necessidades especiais necessi-
ta dos mesmos estímulos e incentivos e de materiais apropriados – para que possa
sentir, no caso das não videntes –, ou descrever por outras vias – no caso das porta-
doras de limitações auditiva. Dessa forma a criança vai construindo um referencial
próprio para apreender a ordem espacial das coisas. As formas vão tomando nome,
os conceitos vão sendo construídos e ordenados ao longo da infância,
potencializados em sua escolarização. Devemos, no entanto, ter conhecimento so-
bre as noções espaciais dominadas pela criança, como essas noções devem ser orde-
nadas no trabalho escolar e quais adaptações necessárias nos materiais para as cri-
anças portadoras de necessidades especiais.
Alguns autores, tais como Jean Piaget, têm se debruçado para pesquisar a constru-
ção da noção de espaço pelas crianças. Suas pesquisas são muito utilizadas na Geo-
grafia quando se discute a alfabetização cartográfica. Em suas pesquisas, Piaget
trabalha com a idéia de estágios de desenvolvimento, procurando descrever o que a
criança conseguiria compreender em cada fase da infância.
O quadro síntese nos informa sobre os estágios e, posteriormente, é feita uma Box 1: Veja o quadro
discussão sobre a importância do desenvolvimento da linguagem para que o con- que aparece no texto “O
creto e o abstrato sejam trabalhados com os alunos, discutindo o concreto e o abs- tempo, uma categoria
trato para a História. Como se sabe, as noções de espaço e tempo são inerentes à central do pensamento e
vida, ao ato de existir. da ação humana”.
Com base nos estudos de Piaget, desenvolveu-se a idéia de ser necessário promo-
ver uma alfabetização cartográfica, onde se investiria a construção da noção de
espaço através do desenvolvimento das relações espaciais topológicas, projetivas e
euclidianas. O desenvolvimento de tais noções se daria em consonância com os
estágios de desenvolvimento sensório-motor, pré-operatório, operatório concre-
to, operatório formal. (Box 1 – reveja o quadro dos estágios de desenvolvimento
intelectual no texto sobre o tempo). A abordagem, aqui apresentada, terá como
foco de discussão o desenvolvimento das relações espaciais topológicas, projetivas
e euclidianas, no contexto escolar.
Livro-texto 1 59
do carro (no caso dos portadores de limitações auditivas) e pela intensidade do
som do veículo (no caso dos portadores de limitações visuais).
Livro-texto 1 61
ENSINANDO A LER O ESPAÇO GEOGRÁFICO
A proposta é romper com a lógica que fazia a criança pensar o espaço seqüenciado
a partir da sala de aula, escola, casa, bairro, cidade, estado, país, como se fossem
escalas hierárquicas, isoladas entre si, passando a privilegiar a compreensão das
relações existentes entre esses diversos espaços. É importante compreender que
essas dimensões espaciais se interligam no tempo e no espaço, que compõem um
todo dialético, que constroem e se reconstroem historicamente. As explicações
para o que acontece em determinada localidade encontram-se muitas das vezes
numa esfera mais distante (nacional, regional e global). É importante compreender
que o bairro ou o país, a escola e a casa têm suas especificidades próprias, mas
também expressam o mundo globalizado atual, em suas contradições, desigualda-
des e diversidades. Criar situações que possibilitem a comparação e
problematização desses espaços/realidades é uma excelente forma de compreendê-
los.
Vale ressaltar que, para aprender a ler o espaço criticamente, a criança precisa com-
preender a localização, a orientação e a representação dos elementos sociais, políti-
cos, econômicos, culturais e ambientais que constituem o espaço urbano e rural. É
importante que as noções espaciais, a serem trabalhadas pelas diversas estratégias
pedagógicas, estejam contextualizadas em situações reais: de qual espaço estamos
tratando? É da escola? É da casa? Onde eles estão localizados? No bairro? Na zona
rural? Como é a paisagem da localidade em que a casa e a escola das crianças estão
localizados? Como vivem as pessoas? Em que trabalham? Como se alimentam?
Como se divertem? O que acontece para as coisas serem do jeito que são: moradi-
as, atividades econômicas, ruas, estradas, praças, avenidas, meios de comunicação
e de transportes, etc? Por que falta água num bairro de periferia? Por que não têm
muitas pracinhas com brinquedos, parques para passeio, principalmente onde mo-
ram ou perto de onde moram os pobres? Por que tem gente que não tem onde
morar se existe tanto espaço? Com isso, a compreensão de como as pessoas se
organizam para viverem tanto na cidade quanto no meio rural e o conceito de espa-
ço enquanto lugar social e historicamente produzido vão sendo incorporados pelas
crianças.
Livro-texto 1 63
escolarização nas séries iniciais e que é a observação quanto ao nível de desenvolvi-
mento das relações espaciais euclidianas que possibilitará tal aprofundamento.
Atividades com mapas, tanto como leitor quanto como mapeador, podem e devem
ser usadas como recurso visual e/ou tátil para identificar lugares, desenvolver as
noções de distância e localização de municípios, estados, países. Nos dois primei-
ros anos de escolaridade, o mapa deve ser manuseado, sentido, questionado, sem
intenções de leitura cartográfica (saber localizar lugares, identificar legendas, títu-
los, escalas), mas que despertem a curiosidade diante das representações e susci-
tem perguntas. Nos anos subseqüentes, a ampliação dos referenciais de orientação,
da noção de legenda e escala, demonstrarão que, além de compreender o espaço
pelas relações desenvolvidas, a criança consegue entender, produzir e ler, atribuir
sentido aos signos representados, sendo também um leitor de mapas.
Livro-texto 1 65
Assim, para a construção das dimensões da noção de escala o professor conduz a
criança a estabelecer medidas com padrões de seu próprio corpo: palmos, pés,
passos. Depois pode manusear o barbante, para medir algum objeto e/ou local,
como a carteira, a sala de aula, para, em seguida, passar para a unidade de medida
padrão – o metro. Esse exercício ajudará no entendimento da noção de escala, de
redução, que implica o estabelecimento de relações de distância entre localidades
nos mapas.
As crianças devem também ser instigadas a criar símbolos, para representar os lu-
gares por onde passam e circulam, tanto na escola como nos trajetos cotidianos que
compõem seu espaço de vivência. E organizá-los sob a forma de legenda. Quanto
mais o espaço estudado for o conhecido, vivido, mais possibilidade as crianças te-
rão de desenvolver percepções de inclusão espacial. É preciso que o professor ava-
lie se a criança tem habilidade para estabelecer em seus desenhos traços que repre-
sentam elementos que ela observa à sua volta. No mapa há uma série de conven-
ções para indicar como representar rios, estradas, cidades. Os alunos costumam
fazer desenhos parecidos. Por exemplo, a maioria costuma desenhar a casa repre-
Box 2: No caso da cri- sentada por um triângulo sobre um retângulo. É importante ressaltar a observação
ança com deficiência das crianças quanto às construções das casas da rua onde moram, da cidade, de
visual sugerimos o se- outros lugares. Elas vão percebendo as diferenças de tamanho, número de janelas,
guinte texto: Engenha- distância entre elas, elementos do espaço que ficam entre as casas, questões soci-
ria Cartográfica: ma- ais, econômicas e culturais que as casas revelam. O desenho ajuda na simbolização
pas para cegos. O en- e na discriminação do que está sendo observado.
dereço eletrônico para
informações é: Com essa lógica, o desenvolvimento das relações espaciais toma outros significa-
www.unesp.br/jornal/ dos. A criança aprende para ter maior domínio sobre o espaço, aprende para inter-
197/cartografia.php vir, para agir com conhecimento no local e no mundo em que vive.
PAGANELLI. Tomoko et all. Estudos Sociais – Teoria e Prática. RJ: Editora Access,
1993.
LE SANN, Janine Gisèle, revista Geografia e Ensino, nº 13/14, v. 4, dez. 1992, p.35-50,
IGC-UFMG.
SIMIELLI, Maria Elena. Primeiros Mapas. Como entender e construir. 3ªedição. SP:
Ed.Ática, 1996.
Livro-texto 1 67
Belo Horizonte,
setembro de 2005