Caracterização Mineralógica
Caracterização Mineralógica
Caracterização Mineralógica
Mineralógica e
Tecnológica de
Minério
Caracterização Mineralógica
e Tecnológica de Minério
Presidente
Rodrigo Galindo
Conselho Acadêmico
Ana Lucia Jankovic Barduchi
Camila Cardoso Rotella
Danielly Nunes Andrade Noé
Grasiele Aparecida Lourenço
Isabel Cristina Chagas Barbin
Lidiane Cristina Vivaldini Olo
Thatiane Cristina dos Santos de Carvalho Ribeiro
Revisão Técnica
Paulo Sérgio Siberti da Silva
Fernando Fagundes Fontana
Sonia Denise Ferreira Rocha
Editorial
Camila Cardoso Rotella (Diretora)
Lidiane Cristina Vivaldini Olo (Gerente)
Elmir Carvalho da Silva (Coordenador)
Letícia Bento Pieroni (Coordenadora)
Renata Jéssica Galdino (Coordenadora)
ISBN 978-85-522-0713-9
CDD 550
2018
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumário
Unidade 1 | Introdução à caracterização mineralógica e tecnológica
de minérios 7
Introdução à caracterização
mineralógica e tecnológica
de minérios
Convite ao estudo
Caro estudante, os minérios podem ser originários de
várias formações geológicas e podem constituir tipos dos mais
diferentes possíveis. Para descrever os minérios, temos de nos
munir de conhecimentos que permitam extrair as características
daquele minério e aproveitá-las para estudos de aproveitamento
mineral. Em mineração, uma das etapas dos projetos consiste
em caracterizar o minério e avaliar seu comportamento em
processos de concentração mineral.
Ao final desta unidade, você será capaz de reconhecer e saber
quando aplicar a caracterização mineralógica e tecnológica
de minérios, suas premissas, etapas, processos e, também, os
profissionais que podem auxiliá-lo nesses trabalhos. Esta unidade
está dividida em três seções, nas quais serão apresentados
e estudados os contextos de aplicação da caracterização
mineralógica e tecnológica de minérios, alguns conceitos-
chaves e verificar as etapas do processo de caracterização e
ainda a aplicação de amostragem a minérios.
Veja agora o contexto para aprendizagem no qual vamos
trabalhar ao longo da Unidade 1, para que você aplique os
conteúdos estudados. Está preparado? Então, vamos lá!
Imagine que a empresa de projetos de engenharia na qual
você trabalha foi convidada a enviar uma proposta para executar
um projeto que envolve a análise e proposição de uma rota
de caracterização de um minério de alta complexidade. Seu
chefe, que não é da área mineral, lhe convidou para auxiliá-lo
na concepção do projeto de caracterização mineralógica e
tecnológica de minérios. Foi delegado a você, portanto, tratar
da concepção e da condução da caracterização mineralógica e
tecnológica desse minério, indicando os profissionais que podem
atuar nesse projeto e as premissas básicas. No entanto, seu chefe
e os demais associados da empresa gostariam de conhecer
um pouco mais sobre esse tema para incluí-lo no portfólio da
companhia. Seu trabalho nesta unidade estará dividido em três
etapas principais, que são:
I. Apresentar os fundamentos básicos da caracterização
mineralógica e tecnológica, e indicar a formação e competência
dos profissionais para auxiliá-lo.
II. Detalhar, para sua equipe, quais características e
propriedades do minério deverão ser determinadas e qual a
sequência e associação de técnicas devem ser adotadas para
uma caracterização generalizada.
III. Determinar, por fim, o tamanho da amostra necessária para
que os trabalhos possam ser iniciados.
Nesse contexto, você está se questionando: como explicar
o que é caracterização mineralógica e tecnológica? Quais
profissionais poderiam auxiliá-lo no desenvolvimento do projeto?
Quais as fases ou etapas necessárias a esse projeto? Existem
informações prévias que possam ajudar na caracterização
do minério? E mais, como o minério é complexo, você está
extremamente preocupado com os resultados da caracterização
em função da amostragem.
Ficou curioso para saber como solucionar essas situações?
Então, vamos adiante. Avance nos estudos das seções desta
unidade para solucioná-las.
Seção 1.1
Contextualização da caracterização mineralógica
e tecnológica de minério
Diálogo aberto
Caro aluno, o reconhecimento de uma amostra mineral consiste
em caracterizá-la para identificar seus componentes e, posteriormente,
os processos aos quais a amostra pode ser submetida. As amostras
podem ser provenientes de diversas fases do processo de mineração,
desde a pesquisa mineral até mesmo de fases do processamento do
minério. Por essa razão, saber aplicar a caracterização para cada tipo
de amostra e os seus objetivos, bem como saber os profissionais que
podem nos auxiliar, torna-se fundamental. Para isso, vamos trabalhar a
situação hipotética apresentada no Convite ao Estudo. Vamos revê-la?
A empresa de projetos de engenharia para a qual você trabalha foi
convidada a elaborar uma proposta para caracterização mineralógica
e tecnológica de um minério complexo, no qual ainda se prevê uma
predefinição de rota de processamento. Seu chefe, que não é da área
mineral, solicitou que você fosse o responsável pela concepção e
execução do projeto. No entanto, para que esse tipo de projeto possa
ser incluído no portfólio de trabalhos da empresa, imagine agora que
o seu chefe solicitou que você apresentasse os fundamentos básicos
da caracterização mineralógica e tecnológica para os associados
da empresa, mostrando quais os objetivos e quando pode ser
aplicada a caracterização mineralógica e tecnológica de minérios.
Além disso, com o avanço dos trabalhos, seu chefe autorizou você
a indicar a formação e competência dos profissionais que também
deveriam auxiliar no projeto e ressaltou que tais pontos deverão ser
incluídos, juntamente com os das demais etapas desse trabalho, em
um documento que oficialize a conclusão do projeto ao final desta
unidade; uma vez que este constará no portfólio e será enviado na
proposta à empresa solicitante.
Diante da situação apresentada, você começa a se questionar sobre:
como explicar a importância da caracterização e quando aplicá-la para
projetos de engenharia mineral? Qual a formação ou competência de
Exemplificando
Para ajudar você a compreender o conceito de caracterização
mineralógica e tecnológica, vamos traçar uma analogia. Imaginemos
que você é paciente de um médico. Quando chegamos ao consultório
de um médico generalista e está se queixando de dor. Ele tende a nos
Atenção
É importante destacarmos que, apesar de essa ferramenta estar voltada
para a caracterização do minério antes do início da operação de
uma unidade de mineração, seu conceito pode ser ampliado. Com
o desenvolvimento tecnológico e com a evolução dos trabalhos na
mina, a matéria-prima mineral pode sofrer alterações e novas formas
de processamento se tornam passíveis de avaliação. Nesse contexto,
também podemos aplicar a caracterização mineralógica e tecnológica
de minérios para fornecer um diagnóstico para a implementação de
tecnologias novas em um processamento já operante.
Assimile
Veja o esquema que evidencia a relação entre a caracterização
mineralógica e tecnológica e as suas particularidades.
Reflita
Sendo assim, para conhecer efetivamente o minério com o qual estamos
trabalhando, seria necessário ter acesso à “montanha” de minério que está
sendo estudada, não é mesmo? Como isso é feito?
Pesquise mais
A representatividade da amostra é uma premissa básica para a
caracterização de minérios. Entretanto, essa não é a única premissa. O
viés tecnológico também apresenta premissas próprias e semelhantes
àquelas do tratamento de minérios. Para compreender melhor a
aplicação da caracterização mineralógica e tecnológica, pesquise mais
sobre as premissas do tratamento de minérios:
• Liberabilidade das fases de interesse.
• Propriedade diferenciadora.
• Separabilidade dinâmica.
Esses aspectos serão discutidos em unidades posteriores. Entretanto, para
facilitar a assimilação do conteúdo, pesquise mais sobre essas premissas
em outras fontes. Como sugestão, veja mais em:
ARAÚJO, A. C. Introdução. In: VALADÃO, G. E. S.; ARAÚJO, A. C. (Orgs.).
Introdução ao tratamento de minérios. Belo Horizonte: Editora UFMG,
2007. p. 11-16.
MININGMATH - Consultoria em Mineração. Tratamento de minérios -
vídeo 1: conceitos fundamentais de tratamento de minérios. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=bevO5oLIXW8>. Acesso em:
14 jan. 2017. (Vídeo do Youtube)
Exemplificando
O tema “barragem de rejeitos” tem dominado a cena da mineração nos
últimos anos, dadas as grandes implicações que o seu rompimento
pode causar ao meio ambiente. Além disso, contribui para o interesse
nas barragens o fato de que muitas delas apresentam teores do mineral
de interesse maiores que o minério que está sendo processado
atualmente. Diante disso, alguns pesquisadores têm investigado
o aproveitamento do rejeito contido em barragens através da
caracterização mineralógica e tecnológica.
Um dos estudos mais recentes foi feito por Gomes (2017), em que se
buscou investigar alternativas para o processamento do rejeito de minério
de ferro contido na barragem da Mina de Pau Branco da Vallourec (Nova
Lima). Gomes (2017) realizou a caracterização detalhada de parâmetros
físicos, químicos e mineralógicos utilizando diversas técnicas que
veremos ao longo desta disciplina. No viés tecnológico, investigou-se a
deslamagem, como etapa de preparação, e a separação magnética para
concentração desse rejeito de minério. Com resultados promissores para
pellet feed (finos para pelotização), atingiu-se 81% de recuperação com
teores de Fe e SiO2 de 65,9% e 2,7%, respectivamente, de uma amostra
com teores iniciais de 35,5% (Fe) e 43,6% (SiO2 ) .
Outro estudo com mesmo cunho investigativo foi realizado por
Gomes (2009) para a barragem I da Mina Córrego do Feijão, que tinha
volume estimado ao fim da vida útil de 20 milhões de toneladas (2010).
Em seus estudos, Gomes (2009), além de caracterizar as amostras
física, química e mineralogicamente, também avaliou a deslamagem,
Atenção
Definição clássica: caracterização mineralógica e tecnológica consiste
nos trabalhos e estudos realizados para identificação, quantificação e
caracterização das fases portadoras do mineral de interesse e dos de
ganga, bem como na utilização das características dos minerais para que
o minério possa ser separado em duas frações (concentrado e rejeito),
através de um processo, equipamento ou técnica (LUZ, SAMPAIO,
FRANÇA, 2010; VALADÃO, ARAÚJO, 2007).
Reflita sobre esse conceito: essa definição restringe a caracterização
mineralógica e tecnológica de minérios. Existe outra forma de defini-la e
torná-la mais simples?
Avançando na prática
Caracterização mineralógica e tecnológica para quê?
Minério de ferro é minério de ferro em qualquer lugar
Descrição da situação-problema
O proprietário de uma pequena empresa que está iniciando no
ramo de mineração descobriu uma ocorrência de minerais de ferro na
região do quadrilátero ferrífero (Minas Gerais). Para esse empresário, os
minérios de uma espécie são sempre iguais e, portanto, a aplicação dos
métodos de concentração também deve ser a mesma. Consultando
Resolução da situação-problema
A situação apresentada pelo proprietário incorre em um erro
muito grande. Embora as características dos depósitos de uma
mesma região, como o quadrilátero ferrífero, sejam semelhantes, é
provável que o processamento mineral aplicado possa ser diferente.
Nesse sentido, o proprietário deve solicitar uma caracterização
mineralógica e tecnológica de minérios. Com esse estudo, que
pode ser realizado tanto com a amostra com origem na mina ou no
processo já instalado, será possível identificar as fases mineralógicas
presentes, que podem ser diferentes daquelas observadas em
outras minas da região, e explorar métodos e condições para a sua
concentração. As diferenças mineralógicas entre depósitos podem
fazer com que o método de concentração seja alterado. O minério
pode não atender a determinadas condições operacionais ou
mesmo aos métodos utilizados. Como já houve o investimento em
separação gravítica, os estudos devem, primeiro, ser direcionados à
aplicação desse método, buscando otimizá-lo e, consequentemente,
melhorar os resultados da concentração. Um dos aspectos a ser
analisados é o grau de liberação da amostra e, se este não for
adequado para aquela condição, a operação de concentração fica
prejudicada. Caso o mineral já esteja liberado, é necessário avaliar
as condições operacionais do processo. Ainda assim, se não forem
verificadas melhoras, será necessário investigar outros métodos de
concentração que também podem ser contemplados pelo estudo
de caracterização mineralógica e tecnológica.
Exemplificando
Um depósito de minerais de ferro corresponde a uma jazida quando o
minério, constituído por minerais como quartzo, dolomita, hematita,
goethita e caulinita, pode ser lavrado, processado e comercializado.
Os minerais-minério, nesse exemplo, são os óxidos de ferro (hematita
e goethita), enquanto os demais constituem a ganga. Caso o minério
não possa ser lavrado, processado ou comercializado, seja por motivos
técnicos ou econômicos, o depósito constituiria uma ocorrência mineral.
Pesquise mais
Rochas ornamentais e gemas constituem um ramo diferente na
caracterização. Para esses produtos, a caracterização está mais voltada
para suas propriedades, como resistência, beleza e suas características
mineralógicas. O estudo das rochas ornamentais e gemas foge ao
escopo deste livro e não será abordado. Para saber mais sobre os
métodos de caracterização de rochas e pedras preciosas, verifique as
referências a seguir.
FRASCÁ, M. H. B. O. Caracterização tecnológica de rochas ornamentais
de revestimento: estudo por meio de ensaios e análise de patologias
associadas ao uso. In: Simpósio de Rochas Ornamentais do Nordeste.
Fortaleza: SIMAGRAN. Disponível em:<http://www.fiec.org.br/sindicatos/
simagran/artigos_palestras/Curso_Caracterizacao_TecndeRochas.htm>.
Acesso em: 23 out. 2017.
Exemplificando
Suponhamos que um minério é composto pelas partículas idealizadas e
apresentadas na Figura 1.3.
Figura 1.3 | Partículas hipotéticas de um minério
Mineral-minério Ganga
Fonte: elaborada pelo autor.
Lembre-se
O processo de concentração mineral baseia-se na diferença entre as
propriedades dos minerais que constituem o mineral-minério e a ganga.
O ideal seria que todas as partículas estivessem livres, mas isso exige muito
do processo de fragmentação, que é intensivo em consumo de energia.
Atenção
O fracionamento mineral, muitas vezes, pode ser confundido com o
fracionamento granulométrico quando não aplicado em um contexto
próprio. De fato, ambos os fracionamentos existem e podem ser aplicados
na caracterização de minérios. No entanto, o fracionamento da amostra
por granulometria baseia-se apenas no tamanho das partículas, enquanto
o fracionamento mineral diz respeito à concentração de espécies por
um equipamento através da diferença de propriedades entre os minerais-
minério e os de ganga.
Assimile
De modo geral, a caracterização de um minério pode ser realizada de
acordo com os passos apresentados no diagrama de blocos da Figura 1.4.
Figura 1.4 | Fluxograma de caracterização
Atenção
Não confunda fracionamento mineral com fracionamento granulométrico!
O primeiro separa a amostra em função das propriedades do minério,
enquanto o último trata de separação por tamanho.
Resolução da situação-problema
O diagnóstico da atual condição da concentração do minério,
de acordo com as informações apresentadas, não está operando
corretamente. A separação magnética está gerando amostras
de fosfatos que ainda contém minerais de ferro e a flotação está
apresentando perda de fosfato no rejeito. Para identificar por que o
minério está se comportando dessa forma, é preciso realizar um estudo
de caracterização mineralógica e tecnológica. Há dois problemas que
precisam de solução: reduzir o teor de ferro no concentrado fosfático
da separação magnética e diminuir a perda de fosfatos na flotação.
A caracterização mineralógica e tecnológica deve ser a ferramenta
utilizada para identificar a causa e também para propor as soluções.
Com a polpa de concentrado fosfático da separação magnética, é
necessário avaliar quais minerais de ferro estão presentes, quantificá-los
e ainda avaliar o grau de liberação dos minerais de ferro em relação ao
fosfato. É possível, ainda, avaliar a operação do sistema de separação e
verificar se as condições operacionais podem ser alteradas de modo a
melhorar os resultados. Em relação ao processo de flotação, suspeita-
Diálogo aberto
Prezado aluno, para conhecer as características de um determinado
depósito mineral, precisamos ter acesso a uma porção desse material a
partir da qual seja possível solicitar as análises de interesse. Como você já
deve ter observado na prática industrial, os minérios podem apresentar
uma variabilidade espacial das características. Nós, como profissionais
das áreas de caracterização e processamento de minérios, temos de
obter a amostra de modo que essa pequena porção represente todo o
corpo mineralizado. Para trabalhar os conceitos de amostragem, veja a
situação preparada para o desenvolvimento desses conteúdos.
Nesta unidade estamos trabalhando com o seguinte contexto:
uma empresa de projetos de engenharia foi convidada para apresentar
uma proposta de caracterização de minérios e gostaria de incluir esse
tipo de serviço em seu portfólio de serviços. Você foi selecionado
pelo seu chefe para a concepção e condução do projeto. Depois de
apresentar ao pessoal da empresa o contexto da caracterização e as
fases utilizadas no estudo, você começou a elaborar o projeto. Imagine
que durante a elaboração você se atentou a um aspecto de muita
relevância nos resultados da caracterização. Como vimos, o minério
é complexo e, agora, em uma última reunião, o cliente informou
ser possível identificar diferentes cores e tamanhos de partículas nos
afloramentos. Em inspeção visual, os donos da empresa solicitante
informaram ainda que o top size (tamanho da maior partícula) é da
ordem de 25 mm. Como será necessário recolher amostras para os
estudos de caracterização, você está preocupado em determinar a
melhor maneira de realizar a coleta.
Nesta última seção, estamos, então, finalizando o serviço da primeira
unidade de ensino, que envolveu a contextualização da caracterização
mineralógica e tecnológica de minérios, bem como suas premissas e
fases, agora, envolverá a amostragem. Nesta última etapa, você deve
propor um procedimento de amostragem de minérios que minimize
os erros, bem como definir o tamanho da amostra a ser utilizada. E,
Assimile
Nem todos os erros podem ser mensurados. No entanto, saber o que
são e quais as suas causas facilitam a utilização de estratégias que os
minimizem. Os erros de preparação das amostras, juntamente com
os erros de delimitação e operação, não podem ser mensurados
numericamente. O Quadro 1.1 traz as causas para os principais erros
å (x
2
- x ) (1.3)
i
Sa =
n -1
Sa
Ea = ±t(n-1;1-a) (1.4)
n
L
l= (1.7)
d95
Exemplificando
Tomemos como exemplo um minério fosfático, cujo teor de P2O5 é de
13% m/m e com tamanho máximo de partícula 35 mm. O mineral-minério
(apatita) apresenta densidade de 3,1 g/cm3 e a ganga de 2,7 g/cm3. O grau
de liberação de 95% é atingido, após a cominuição, em partículas abaixo
de 1,7 mm. Deseja-se determinar a massa mínima da amostra para que o
erro total seja menor que 0,3% P2O5 a 95% de nível de confiança.
A teoria de Pierre Gy faz uso do desvio padrão da amostragem, que pode
ser determinado de acordo com equação do erro amostral (Equação 1.4),
considerando que o parâmetro a ser analisado apresenta uma distribuição
normal. O parâmetro t é obtido pela distribuição t-Student com grau de
liberdade infinito (amostra composta por infinitas partículas e nível de
confiança de 95% [Tabela 1.2]).
Tabela 1.2 | Fragmento da distribuição t-Student (caso bilateral)
n 1
Sa = Ea = 0,3 = 0,153
t n-1;a 1,96
( 2 )
1,7
l= = 0,22 f = 0,5 g = 0,25
35
Assim,
Qlfgd3 3112,51× 0,22 × 0,5 × 0,25 × 3,53
w= = = 23,986 kg
S2a 0,153
” Muito rico ou
Muito pobre ou Pobre ou Rico ou
ou mm Médio exclusivamente
muito uniforme uniforme spotty
Mesh spotty
4"
3 19,0 85 300 1400 3600 -
2"
1 12,7 35 125 600 1600 -
4"
1 6,35 10 30 150 400 14000
Reflita
A Tabela de Richards permite estimar a massa mínima da amostra
classificando o minério de acordo com o teor do elemento de
interesse de forma qualitativa. Pense um pouco a respeito do que é um
minério rico e um minério pobre. Qual o universo de comparação para
enquadrar o teor em uma das categorias?
Assimile
É comum utilizar as três técnicas de redução do tamanho da amostra,
principalmente quando a amostra primária é muito grande. Normalmente,
se aplicam as pilhas longas como primeira forma de redução. Existem
divisores de rifles de vários tamanhos e estes podem ser aplicados tanto
anteriores como posteriores ao cone quarteamento. A ordem em que são
utilizados ou a utilização de um ou outro depende também do objetivo
da amostragem.
(a)
(c)
(b)
Fonte: arquivo pessoal do autor.
Pesquise mais
É comum a aplicação de sistemas de amostradores automáticos
(indústria) para geração de amostras primárias de fluxos de materiais
e também quarteadores de polpa (laboratório) para amostragem
secundária. Nesses sistemas, os incrementos são coletados quando o
amostrador corta o fluxo de material, coletando-o. Veja como são esses
sistemas e como podem ser empregados na indústria ou em laboratório
nas referências a seguir.
GOÉS, M. A. C.; LUZ, A. B.; POSSA, M. V. Amostragem. In: LUZ, A. B;
SAMPAIO, J. A.; FRANÇA, S. C. A. (Eds.). Tratamento de minérios. Rio
de Janeiro: CETEM, 2010. p. 36-42. Disponível em: <http://mineralis.
cetem.gov.br/bitstream/cetem/721/1/CCL00230010.pdf>. Acesso em:
15 nov. 2017.
SISTEMA de amostragem engendrar. Engendrar Engenheiros Associados.
Campinas: Engendrar. Vídeo de livre acesso (2:31 min.): son., color.,
Simulação de Produto. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=z8o71vCdi5w>. Acesso em: 20 out. 2017.
SAMPLERS – Real footage and simulations from CSIRO. EssaAustralia.
Perth: EssaAustralia. Vídeo de livre acesso (6:05 min.): mudo, color.,
Simulação e exemplos reais. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=vCa9Ui2oSyQ>. Acesso em: 20 out. 2017.
DIVISOR de polpa. Dialmatica. Itabira: Dialmática. Vídeo de livre acesso
(2:58 min.): son., color., Quarteamento de polpa. Disponível em: <https://
www.youtube.com/watch?v=f3tDh7xtCCg>. Acesso em: 20 out. 2017.
Atenção
Na situação em que você se encontra, a única informação útil que os
proprietários lhe forneceram foi o tamanho máximo da amostra, que é da
ordem de 25 mm. Portanto, apenas com essa informação não é possível
determinar a massa da amostra primária pelo método de Pierre Gy.
Entretanto, é possível aplicar inicialmente a tabela de Richards para indicar,
na melhor das hipóteses (menor massa) o tamanho mínimo da amostra.
Avançando na prática
Determinação da massa mínima para minérios:
Tabela de Richards versus Pierre Gy
Descrição da situação-problema
Em um novo projeto, surgiu uma dúvida a respeito da
amostragem do minério, já que é originário de um fluxo da planta de
beneficiamento. Será necessário gerar três amostras primárias, cada
uma delas representativas desse fluxo. Admite-se um erro máximo
de amostragem de 0,5%. Em ensaios preliminares foram coletados e
avaliados 30 incrementos. Nesses incrementos, a média dos tamanhos
máximos foi de 20 mm e a liberação foi obtida com partículas de 1 mm.
O minério contém 15% de Zn como esfalerita (ZnS) com desvio padrão
da análise de 1,5. A ganga é composta por quartzo, principalmente. O
equipamento amostrador coleta 400 g de material por incremento. Foi
indicada a necessidade de 85 kg de minério. Você foi consultado para
avaliar a situação. A equipe está correta? Se não, qual a melhor maneira
de amostrar esse material?
k 1
Sa = Ea = 0,5 = 0,24
t30;2,5 2,04
Podemos aplicar a teoria de Pierre Gy, pois temos os parâmetros
necessários.
é x 100 - x ù é 15 100 - 15 ù
Q = x (100 - x ) ê r + rMG ú = 15 (100 - 15) ê 4,1 + 2,6ú = 3601,88 g cm3
êë 100 MM 100 ú
û ê
ë 100 100 úû
L 1
l= = = 0,22 f = 0,5 g = 0,25
d95 20
• x x •
• x • x
• x • •
• • x •
• x x •
Fonte: elaborada pelo autor.
Caracterização física
e fundamentos de
caracterização mineralógica
Convite ao estudo
Prezado aluno, na unidade anterior vimos o universo da
caracterização de minérios pelo seu lado externo. A nós,
profissionais, interessa também saber como essas características
podem ser acessadas e quais as suas implicações para os
processos de mineração. As características dizem respeito à
qualidade física e química do minério, mas também constituem
a sua identidade, já que cada minério é único no mundo e pode
responder de maneira diferente aos estímulos do processo.
Nesta unidade, trabalharemos com os fundamentos e as
técnicas empregadas para a caracterização física e mineralógica
de minérios para que você saiba reconhecê-los e aplicá-los
quando necessário. A unidade foi dividida em três seções que
abordam a caracterização granulométrica, a apresentação
de características físicas complementares (Work index, área
superficial específica e porosimetria) e finalizaremos a unidade
com a caracterização mineralógica, apresentando a principal
técnica utilizada: a difratometria de raios-X.
A compreensão dos conceitos é melhor fixada quando
trabalhamos dentro de algum contexto prático. Portanto, vejamos
então o contexto preparado para esta unidade. Vamos lá?
Imagine que uma mineradora está enfrentando problemas na
sua usina de processamento mineral. A empresa contratou uma
equipe de consultores, da qual você faz parte, para solucionar
os problemas. No início dos trabalhos, houve uma reunião
para apresentar aos consultores alguns dos problemas atuais e,
também, os resultados da caracterização tecnológica realizada
antes do início da operação da unidade. Como consultor, e
tendo em vista seu conhecimento em caracterização física e
mineralógica de minérios, você ficou encarregado de rever as
análises realizadas no passado. Além disso, você deve identificar
possíveis incoerências frente à caracterização realizada e propor
medidas corretivas para que os problemas observados sejam
resolvidos. Esse estudo de caracterização física e mineralógica,
que será materializado na forma de um documento técnico, está
pautado em três frentes de avaliação diferentes, sendo elas:
i. Análise granulométrica do minério processado nos
dias atuais;
ii. Avaliação dos parâmetros indicadores da moabilidade
do minério;
iii. Verificação de alterações na composição mineralógica
da amostra.
Assim, você começa a refletir e pensar sobre o que pode ter
acontecido com o minério oriundo dessa mina. A distribuição
granulométrica do minério pode ter sofrido alteração? Houve
alterações em outras propriedades físicas do minério? Quais
propriedades poderiam ter sido alteradas e estariam ocasionando
problemas? A composição do minério permanece a mesma?
Como identificar se houve alterações?
Para entender o que pode ter acontecido com o minério,
precisamos estudar os conteúdos desta unidade e aplicá-los
a fim de avaliar cada um dos problemas que estão ocorrendo
na planta de processamento mineral. Vamos verificar quais
as características e como acessá-las para resolver as situações
decorrentes desse contexto?
Nos vemos ao longo da unidade.
Seção 2.1
Caracterização granulométrica
Diálogo aberto
Prezado aluno, os minérios encontram-se derivados das rochas e
precisam ser fragmentados, seja no desmonte ou no processamento
mineral. Ao ser fragmentado, as partículas mudam de tamanho,
tendendo a serem menores que as iniciais. O estudo do tamanho das
partículas constitui a análise granulométrica, que pode ser utilizada,
por exemplo, para identificar a granulometria (o tamanho) de liberação
do mineral de interesse na amostra. Nesta seção, trabalharemos com
a caracterização granulométrica, cujos conteúdos serão aplicados
para a resolução da primeira frente do serviço proposto no contexto
apresentado no início da unidade. Vamos relembrá-lo brevemente e
conhecer o nosso caso de estudo atual?
A mineradora está enfrentando problemas na sua usina de
processamento mineral e contratou uma equipe de consultores para
investigar e solucionar os problemas. Na primeira reunião, a empresa
apresentou os problemas e forneceu os resultados da primeira
caracterização realizada para o minério. Você é um dos integrantes da
equipe e se prontificou a avaliar as características físicas da amostra.
Imagine, então, que durante a visita técnica à empresa, vocês,
consultores, verificaram que há um acúmulo de material superior ao
previsto em um dos deques da peneira que é alimentado pelo britador
secundário. Questionando o pessoal da empresa se isso era frequente,
você foi informado de que isso começou a ocorrer recentemente.
De posse dos dados da caracterização mineralógica e tecnológica
disponíveis, você verifica que não há erros aparentes nas análises
realizadas no passado. Assim, vocês suspeitam que possa ter ocorrido
alteração na composição granulométrica do minério e gostariam
de avaliar esse aspecto. Diante disso, você solicitou uma amostra
representativa do fluxo que alimenta a peneira.
Diante desse contexto e ao receber a amostra, você começa
a avaliar: quais métodos seriam aplicáveis para comparação da
distribuição granulométrica atual com a anterior? Quais aspectos
do ensaio devem ser verificados para a análise? Como validar
corretamente uma análise granulométrica?
Exemplificando
Vejamos o exemplo da análise granulométrica para um minério de ferro,
com densidade de 4,1 g/cm3 e considerando o número de camadas para
a massa de Gaudin como 2, apresentado na Tabela 2.2.
Tabela 2.2 | Distribuição granulométrica para minério de ferro
Abertura da Massa de Massa Retido Passante
peneira(µm) Gaudin (g) retida (g) acumulado (%) acumulado (%)
600 186,8 2,6 1,8 98,2
425 132,0 15,9 12,9 87,1
300 93,4 23,5 29,4 70,6
212 65,9 18,6 42,3 57,7
150 46,6 33,4 65,7 34,3
106 33,0 20,1 79,7 20,3
75 23,3 8,7 85,8 14,2
53 16,5 8,3 91,6 8,4
Fundo - 12 100,0 0,0
Pesquise mais
Para complementar os estudos, pesquise mais nas referências abaixo e
também naquelas que você tiver, sobre as formas de análise granulométrica
e, sobretudo, as técnicas mais modernas.
CRISTOFOLETTI, S. R; MORENO, M. M. T. Granulometria por difração a
laser e sua relação com a faciologia das rochas argilosas da formação
Corumbataí-SP. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CERÂMICA, 60., 2016,
Águas de Lindóia. Anais... São Paulo: Associação Brasileira de Cerâmica,
2016. Disponível em: <http://metallum.com.br/60cbc/anais/PDF/01-
060TT.pdf>. Acesso em: 12 out. 2017.
LIMA, R. M. F; LUZ, J. A. M. Análise granulométrica por técnicas que se
baseiam na sedimentação gravitacional: Lei de Stokes. Rem: Revista
Escola de Minas, Ouro Preto, v. 54, n. 2, p. 155-159, 2001. Disponível em:
<http://dx.doi.org/10.1590/S0370-44672001000200014>. Acesso em: 12
out. 2017.
Avançando na prática
Análise granulométrica não validada. Como
determinar a massa para o novo ensaio?
Descrição da situação-problema
A sua equipe de trabalho realizou uma análise granulométrica
(Tabela 2.4), mas os resultados não puderam ser validados devido ao
fato da massa de algumas peneiras terem sido maiores que a massa
máxima permitida.
Tabela 2.4 | Análise granulométrica para minério com densidade de 3,5g/c,3 em
peneiras de 20 cm de diâmetro
Resolução da situação-problema
Prezado aluno, de fato não podemos considerar essa análise
granulométrica devido ao fato das massas retidas nas peneiras de 75
e 45 µm terem ultrapassado a massa de Gaudin (n=2). No entanto,
essa análise não é de todo desperdiçada. Vamos adotar que ela seja
verdadeira para determinação da nova massa a ser ensaiada.
Tabela 2.5 | Determinação da nova massa a ser ensaiada
1 2 3 4 5 6 7
% da massa Estimativa da
Tamanho Retida Razão entre
Massa de Massa em relação a massa retida
de partícula simples Gaudin e a
Gaudin (g) retida (g) massa limitante no próximo
(µm) (%) massa retida
(75 µm) ensaio (g)
Abertura da Massa
Massa de Gaudin (g) Passante acumulado (%)
peneira(µm) retida (g)
300 63,8 31,3 20,9
Assimile
Outro método bastante empregado é o teste com o moinho de Bond
padronizado pela norma técnica NBR 11376 da Associação Brasileira
de Normas Técnicas (1990). Com essa norma e o ensaio padronizado,
calcula-se o índice de moabilidade (Mob) , que corresponde à massa,
em gramas, das partículas com tamanho inferior à malha da peneira de
teste gerada a cada rotação do moinho para um circuito fechado. O
teste envolve ainda a utilização de uma malha padrão ( Am) , em mm .
Nessa norma, a determinação do moinho é feita de acordo com a
Equação 2.6. O fator 1,1 é utilizado para conversão de toneladas curtas
em toneladas métricas.
44,5
Wi = ´1,1
é 10 10 ù (2.6)
Am0,23Mob0,82 ê - ú
êë P F úû
Fonte: Roland Junior (1982 apud LUZ; SAMPAIO; FRANÇA, 2010, p.151-152) e Wills (2006, p.111).
Pesquise mais
O Wi é bastante utilizado no escalonamento de plantas de britagem e
moagem. Sendo o principal índice relacionado à energia consumida para
a cominuição do minério, ele tem uma aplicação bastante prática. Veja
nas referências a seguir a aplicação desse índice em estudos.
ALVES, V. K.; MAZZINGHY, D. B.; ROSA, M. A. N. et al. Aplicação
de método simplificado de determinação de Wi na previsão de
desempenho de moinhos de bolas da usina de Sossego. Tecnologia
em metalurgia, materiais e mineração, São Paulo, v. 10, n. 4, p. 318-
323, 2013. Disponível em: <http://www.tecnologiammm.com.br/files/
v10n4/v10n4a05.pdf>. Acesso em: 23 out. 2017.
SCHNEIDER, C. L.; ALVES, V. K.; MAZZINGGHY, D. B. O Wi de Bond
como parâmetro para a avaliação da variabilidade em projetos de plantas
de moagem. In: SEMINÁRIO DE REDUÇAO DE MINÉRIO DE FERRO E
MATÉRIAS-PRIMAS, 43. Belo Horizonte, 2014. Disponível em: <http://
www.cetem.gov.br/images/congressos/2013/CAC00530013.pdf>.
Acesso em: 23 out. 2017.
Reflita
Na escolha de outro adsorvato, alguns parâmetros físicos e da adsorção
também podem ser modificados. Reflita sobre quais são esses
parâmetros que são alterados e pense ainda se a área determinada com
N2 e outro adsorvente são as mesmas. Se não forem, que aspectos as
tornam diferentes?
Exemplificando
Porosidade e área superficial específica são aspectos físicos pouco
estudados na área de mineração. Entretanto, alguns estudos indicam que
essas características podem afetar a formação das tortas de filtragem e
suas características.
Graça et al. (2016) avaliaram os efeitos da superfície da hematita no
processo de filtragem, utilizando amostras compostas por hematitas
diferentes (granular, tabular, martítica, policristalina, agregados de hematita-
goethita e goethita). Eles observaram, para as amostras analisadas, que
a área superficial variava de 250 a 520cm2/g, sendo as maiores áreas
obtidas nas amostras onde a hematita martítica estava presente. Para
avaliar a filtrabilidade e a umidade da torta de filtragem, os autores
formaram misturas contendo os seis tipos de hematita em proporções
diferentes. Os autores observaram que a presença de hematita martítica,
que possui maior área superficial específica, produziu tortas de filtragem
com maior umidade devido à retenção de água em seus poros. No
entanto, a produtividade desse tipo de amostra foi maior que nas demais
composições.
Mangabeira (2009) buscou avaliar a influência da porosidade nas
etapas de beneficiamento de minério de ferro da Samarco e concluiu
que a porosidade não apresenta qualquer influência nos resultados de
deslamagem e flotação. Nesse trabalho, a autora utilizou diversos métodos
para medição de área superficial específica (Blaine e BET) e também para
a determinação da porosidade (Porosimetria de intrusão de mercúrio e de
adsorção gasosa).
1 1
Pressão relativa Pressão relativa
æ po ö æ po ö
æ p ÷ö
ç W çç - 1÷÷÷ æ p ÷ö
ç W çç - 1÷÷÷
çè po ÷÷ø çè p ÷ø çè po ÷÷ø çè p ÷ø
1,81´10-1 18,4 - -
Resolução da situação-problema
Como discutido na apresentação dos conteúdos, a determinação
da área superficial específica pode ser feita pelo método de multipontos,
quando temos vários pontos da isoterma, ou também pelo método
de monoponto quando apenas um ponto está disponível, nesse caso
específico, o último ponto. A Figura 2.5 mostra as representações dos
dois métodos com os seus respectivos ajustes lineares.
1 NA 1 NA
BETASE = BETASE =
s + i Mm s + i Mm
1 6,022 ´1023 × 1,62 ´10-19 1 6,022 ´1023 × 1,62 ´10-19
= =
78,709 + 3,509 28 × 0,9126 87,248 28 × 0,9126
= 45,97m2 g = 43,32m2 g
Filtro beta
Fenda soller
Detector
Fenda divergente
Fenda soller
Fenda convergente
Amostra
Assimile
Os tubos de raios-X já foram descritos no início da seção. É importante
salientar que, como grande parte da energia é dissipada sob a forma
de calor, os tubos requerem um sistema de arrefecimento para não
queimarem. Além disso, são necessários os filtros de raios-X, que, em
geral, são janelas de berílio, que permitem a passagem de comprimentos
de ondas de raios-X específicos.
Reflita
O método de Laue tem aplicações importantes na mineralogia e
cristalografia, uma vez que é possível identificar propriedades estruturais
através dessa técnica. O método de Laue para os profissionais da
mineração não é muito aplicado, pois precisamos de informações mais
expeditas. Alguns requisitos desse método nem sempre podem ser
cumpridos pelas amostras de mineração. Pense um pouco a esse respeito
e identifique quais requisitos são esses. Em alguns casos eles podem ser
cumpridos? Se sim, em quais tipos de minério?
Intensidade
(a) (b)
Fonte: adaptada de Hatnean et al. (2014, p. 4) e Gomes (2017, p. 83).
Pesquise mais
O método de Rietveld é bastante complexo do ponto de vista de
modelamento matemático, mas pode ser bastante útil. Pesquise nas
referências a seguir, e nas que estiverem disponíveis na biblioteca ou na
internet, como foi realizado o modelamento. Lembre-se, no entanto,
de que esses métodos de quantificação já estão implementados nos
softwares de análise. Veja alguns trabalhos que aplicaram a difratometria
de raios-x como método de caracterização.
ERDÓCIA, F. A. B. Difração de raios-X em minerais de bauxita e análise
através do refinamento pelo método de Rietveld. 2011. 93 f. Dissertação
(Mestrado em Física) – Instituto de Ciências Exatas e Naturais, Universidade
Federal do Pará, Belém. 2011. p. 44-57. Disponível em: <http://www.ppgf.
ufpa.br/download/Dissertacoes/38_F%C3%A9lix_Erd%C3%B3cia.pdf>.
Acesso em: 31 out. 2017.
ALBERS, A. P. F.; MELCHIADES, F. G.; MACHADO, R.; BALDO, J. B.;
BOSCHI, A. O. Um método simples de caracterização de argilominerais
por difração de raios X. Cerâmica, v. 48, n. 305, p. 34-37, 2002. Disponível
em: <http://www.scielo.br/pdf/ce/v48n305/a0848305.pdf>. Acesso em:
31 out. 2017.
KONIG, U.; POLLMANN, H.; ANGELICA, R.S. O Refinamento de Rietveld
como um método para o controle de qualidade de minérios de ferro.
Revista Escola de Minas, Ouro Preto, v. 55, n. 2, p. 111-114, 2002.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid
=S0370-44672002000200007>. Acesso em: 31 out. 2017.
Lembre-se
A quantificação de fases minerais pelo método de Rietveld, por exemplo,
deve ser vista com cautela, pois o limite de difração de raios-X é alto (> 5%).
Com isso, fases presentes podem não ter sido identificadas e a proporção
das presentes pode não representar os valores reais. De toda forma, a
quantificação de fases é um indicativo das proporções entre as fases.
Resolução da situação-problema
Sabendo que foi identificado em outras avaliações, os picos das
fases que compõem essa amostra e a descrição da configuração
do difratograma e da preparação da amostra indicam que pode ter
ocorrido amorfização involuntária com o material. A amorfização
involuntária ocorre quando as partículas são cominuídas de tal
maneira que o tamanho final das partículas não é capaz de produzir
um padrão de difração com picos definidos, resultando, portanto,
em um domo contendo os picos de alguns minerais, configuração
semelhante à da Figura 2.9.
Pela descrição do difratograma, não é possível identificar as fases,
pois os picos não estão definidos. Entretanto, a técnica de difração de
raios-X pelo método do pó é a técnica correta para a identificação de
fases minerais. Para que as fases sejam identificadas, é necessário que
se repita a preparação da amostra, deixando as partículas um pouco
maiores. No entanto, deve-se entender como “um pouco maiores” os
tamanhos inferiores a 45µm, pois assim garante-se a homogeneidade
da amostra.
Com maior cuidado para não amorfizar involuntariamente a
amostra, o difratograma deve exibir os picos das fases presentes.
Microscopia ótica e
fracionamento de minérios
Convite ao estudo
Caro aluno, começamos a verificar nas duas primeiras
unidades quais as características, os métodos e técnicas
que podemos utilizar para obter as características que
desejamos. Mas para que utilizamos essas características? Em
caracterização de minérios estamos interessados em utilizar
essas características para poder diferenciar os minerais de
interesse dos minerais de ganga e poder aplicar os métodos
de concentração existentes. Assim, se um minério contém
magnetita, por exemplo, provavelmente será utilizado um
sistema de separação magnética, visto sua manifestação em
campo magnético.
Exemplificando
A Figura 3.1 mostra dois exemplos de imagens feitas a nicóis cruzados
e descruzados, para identificação de características por minerografia.
Figura 3.1 | Fotomicrografias em microscópio ótico de luz refletida a nicóis cruzados
(esquerda) e descruzados ou paralelos (direita) de cristal de hematita martítica
(Eq. 3.1)
∑ ng D
gα =0
α
Assimile
As partículas mistas constituem um grande dilema na determinação
do grau de liberação da amostra, uma vez que não é possível estimar
com precisão a quantidade de mineral de interesse na amostra. Além
disso, em razão da configuração da partícula mista, sua liberação
Reflita
Os métodos de determinação do grau de liberação parecem bastante
simples e factíveis. Imagine você trabalhando com um minério
complexo, em que mais de duas fases estão presentes. Como essa
metodologia seria aplicada? Seria possível utilizá-la para determinar o
real grau de individualização das partículas? Se não, que tipo de análise
seria mais indicada para esse caso a fim de determinar a individualização
das partículas de interesse?
Legenda: microscopia refletida para minério de ferro itabiritico dolomítico bservados a nicóis paralelos para
a faixa granulométrica −75 + 45µm (A) e −45µm (B) e de itabirito goethítico observados a nicóis
Avançando na prática
Avaliação do grau de liberação pelo método de concentração
Descrição da situação-problema
Imagine que durante uma pesquisa de um minério você teve que
avaliar o grau de individualização das partículas contendo hematita
e quartzo. Não tendo equipamentos capazes de captar imagens de
partículas de faixa granulométricas menores, não há outra maneira
de avaliar a liberação pelo método de concentração utilizando a
separação densitária. Para isso, você utilizou um sistema simples de
separação, adicionou um líquido com densidade intermediária a de
( 3
)
quartzo 2, 65 g cm e hematita 5, 00 g cm3 e 10g de amostra. ( )
A cada ensaio você coletava o sobrenadante e o afundado e analisava
quimicamente. Os resultados são apresentados no Quadro 3.1.
Quadro 3.1 | Massa recuperada por faixa granulométrica para um ensaio densitário
Faixa granulométrica
Massa média recuperada
(µm) Teor (%)
no afundado (g)
-300+150 40 1,0
-150+75 40 1,5
-75+38 40 5,0
-38 40 3,7
Fonte: elaborado pelo autor.
Resolução da situação-problema
A determinação do grau de liberação é um importante requisito
para a utilização de métodos de concentração convencionais em
tratamento de minérios. Quanto mais próximo da liberação total
(100%) mais a propriedade diferenciadora pode ser manifestada
na amostra. Ao avaliarmos os resultados dos ensaios densitários
apresentado no Quadro 3.1 verificamos que a recuperação (em
massa) do afundado aumenta até a faixa granulométrica de
−75 + 38µm , com recuperação de 50% do minério no afundado.
Esses resultados não indicam o grau de individualização absoluto
da amostra. Entretanto, se os ensaios foram realizados da mesma
forma, eles indicam que a propriedade que diferenciam os minerais
(densidade) se manifesta melhor nas partículas nessa faixa pois a
recuperação do mineral é maior. Com a diminuição do tamanho
da partícula pode-se formar uma suspensão estável com densidade
superior à do líquido denso o que explica a redução da recuperação
de massa no afundado. Para essa situação não podemos indicar o
grau de liberação do minério, mas sim que para a faixa −75 + 38µm
o grau de liberação é maior que nas faixas superiores.
Reflita
Os três requisitos acima são de suma importância para o funcionamento
correto de um processo de concentração. Reflita sobre como a não
observação de cada um desses requisitos implicaria no processo
de concentração. Quais seriam os resultados observados? Qual a
consequência da não observância desses requisitos? Se pudermos
interferir nesses requisitos, como deveríamos fazê-lo?
Assimile
A Figura 3.5 resume a classificação das partículas em meio denso
de acordo com os mecanismos que podem atuar no processo de
concentração.
Figura 3.5 | Principais mecanismos atuantes no processo de concentração gravítica
Pesquise mais
Os processos de concentração gravítica apresentam vários equipamentos
que podem ser utilizados industrialmente e, por isso, também podem ser
avaliados durante a caracterização de minérios. Sugiro que você tenha
como base para a concentração gravítica a referência de Lins (2010).
Para conhecer os outros processos gravíticos e como eles são aplicados
na indústria, pesquise mais nas referências a seguir:
Concentração magnética
A concentração magnética possui como propriedade
diferenciadora a suscetibilidade magnética, ou seja, o comportamento
da partícula sob ação de um campo magnético. Os minerais podem
ser classificados de acordo com a suscetibilidade magnética em
minerais diamagnéticos e paramagnéticos. Os minerais diamagnéticos
são repelidos pelo campo magnético para uma região onde a
intensidade do campo é menor. Os paramagnéticos, por outro lado,
tendem a se ajustar com as linhas de força do campo magnético
e a se deslocarem em direção ao campo magnético mais intenso.
Dentro dos minerais paramagnéticos, há aqueles que ainda possuem
capacidade de armazenar o magnetismo mesmo quando afastado da
ação do campo magnético, são os chamados ferromagnéticos.
A concentração magnética é um método consagrado em
processamento mineral e também na purificação de substâncias
minerais. A aplicação desse método é realizada principalmente para
a separação de magnetita e hematita, minerais paramagnéticos,
de quartzo, dolomita e calcita (minerais diamagnéticos) no
processamento mineral. Elementos como Ni, Co, Mn, Cr e Ti,
por exemplo, também conferem paramagnetismo ao mineral,
Legenda: Esquemas de concentradores magnéticos de alto campo operado a seco (A), de baixo campo operado
a úmido (B) e Jones – eletroímã (C).
Fonte: adaptada de Pereira (2016, p. 19) e Wills (2006, p. 357 e 360).
Exemplificando
A existência de equipamentos de baixo e alto campo é essencial para a
separação de alguns minerais e evitar a paralização dos equipamentos
por entupimento das matrizes. Por exemplo, um minério que apresenta
alto conteúdo de magnetita deve ser tratado primeiro com um
equipamento de baixo campo para que essa magnetita seja removida.
Posteriormente, o rejeito dessa operação pode ser tratado com um
campo de maior intensidade, para concentração de outros minerais
paramagnéticos. A não observação desses aspectos pode ser prejudicial
tanto para a operação como para a caracterização de minérios.
Avançando na prática
Minério fosfático e separação dos óxidos de ferro
Descrição da situação-problema
Um colega de profissão lhe apresentou uma amostra de minério
fosfático de origem carbonatítica da região de Araxá-MG para
caracterização mineralógica. Durante a caracterização você identificou
além de fosfatos e quartzo, uma pequena parcela de magnetita e
hematita. Você precisa avaliar formas de concentração desse minério
Resolução da situação-problema
É comum observar a associação de óxidos de ferro a minérios
fosfáticos de origem magmática. Em geral, é possível observar a
presença de magnetita e hematita como contaminantes desses
minérios. Como o produto comercial exige concentrações baixas
de ferro, é necessário remover o excedente ainda no processo de
concentração da rocha fosfática. A utilização de métodos gravíticos
pode não ser efetiva, pois, considerando como fluido de separação
( )
a água ρ = 1, 0 g cm3 , o critério de concentração (CC) calculado
pela Equação 3.4 expressa facilidade de separação em relação ao
quartzo, mas não em relação à apatita.
δ −ρ
CCquartzo = h
5, 3 − 1, 0
= 2, 6 CCapatita =
5, 3 − 1, 0
= = 1, 9
δl − ρ 2, 65 − 1, 0 3, 2 − 1, 0
(Eq. 3.4)
A presença dos óxidos de ferro é um forte indicativo de
que o minério deve passar por uma etapa previa de separação
magnética, dada a suscetibilidade magnética elevada dos
minerais constituintes da amostra. Nesse processo, a separação
magnética é vista como uma forma de purificação do minério
a) Parafuso classificador.
b) Cone concentrador.
c) Espiral concentradora.
d) Hidrociclone.
e) Concentrador Terras Raras.
Separação
Espiral Separação magnética
Rota magnética de alto
concentradora de baixo campo
campo
I 1 2 3
II 3 2 1
III 3 1 2
Fonte: elaborado pelo autor.
Exemplificando
A separação em meio denso em escala de bancada pode ser realizada
através da utilização de líquidos densos em ordem decrescente de
densidade. Assim, inicia-se a separação com um liquido mais denso e
o material que flutuar deve ser lavado e transferido para o líquido denso
com densidade inferior. O afundado é coletado, lavado e analisado.
Com isso para cada líquido é provável que tenha uma parcela afundada
e outra flutuante e cada uma delas deve ser caracterizada. A Figura 3.8
mostra um exemplo simples de separação em meio denso.
Figura 3.8 | Esquema de separação em meio denso
Porcentagem de
massa próximo
a densidade de Facilidade de
Processo recomendável Tipo
interesse separação
(±0,1)
Jigue, mesas,
0-7 Fácil Qualquer processo
espirais
Dificuldade calha, cones,
7-10 Processos eficientes
moderada DMS
Processos e operação
10-15 Difícil
eficiente
Processos e operação
15-25 Muito difícil DMS
muito eficiente
Limitado a poucos DMS com
Extremamente
+25 processos com eficiência controle
difícil
de operação elevadas elevado
Fonte: adaptado de Mills (1978); Bird (1931) apud Wills (2006, p. 260); Gupta; Yan (2006, p. 543).
Assimile
A Figura 3.9 mostra o modelo de dupla camada elétrica (DCE) com o
potencial eletrostático associado.
Reflita
Como podemos observar, diversos são os reagentes necessários
para a flotação. Cada um desses reagentes é aplicado com dosagens
específicas, geralmente expresso em gramas do reagente por
tonelada de minério. Todavia, nem todos são necessários para todo
tipo de flotação, alguns inclusive podem desempenhar dois papeis.
Conhecendo as funções dos reagentes empregados, reflita um pouco
a respeito da ordem em que eles devem ser adicionados à polpa. Há
um requisito a seguir? Qual seria ele se não houvesse seletividade do
coletor? E se o mineral necessitasse de ativação?
Figura 3.10 | Esquema de uma célula de flotação (a) e do tubo de Hallimond (b)
Assimile
A flotação, como descrita acima, é considerada direta, uma vez que
o material flotado representa o concentrado do minério trabalhado.
Entretanto, alguns minérios, por apresentarem teores dos elementos
(mineralógicos/químicos) de interesse em maior quantidade que os
contaminantes, e também quando um reagente pode apresentar mais
de uma função, ocorre a flotação dos minerais de ganga, ao invés
dos minerais de interesse. O concentrado, nesse caso encontra-se no
afundado e não no flotado.
Pesquise mais
Agora que você conhece um pouco sobre flotação pesquise mais nas
referências a seguir sobre os estudos de flotação e microflotação que
vem sendo desenvolvidos. Busque ainda outros artigos para que possa
discutir com o professor e com os seus colegas.
Avançando na prática
Separação em meio denso para fracionamento mineral
Descrição da situação-problema
Você está participando de uma investigação de uma amostra
mineral que foi caracterizada pela presença de hematita, goethita,
quartzo, dolomita, caulinita e outras fases mineralógicas que ainda não
foram identificadas. As amostras foram recebidas com granulometria
inferior a 75 µm, e como solicitação da equipe de mineralogia,
essas fases devem ser separadas para que seja possível evidenciá-las
melhor e também poder identificar outras fases em minoria, além da
associação aos minerais identificados. Considerando que os elementos
de interesse são os óxidos de ferro e que você está interessado em
identificar as associações a esses minerais, explore um método de
separação que permita a individualização dos minerais. Para isso,
qual método seria o mais indicado? Como ocorreria uma ordem de
separação? E mais, como identificar as associações das fases não
identificadas aos minerais de interesse ou de ganga? Considere, se
Resolução da situação-problema
Como foi solicitado a individualização de cada fase mineral,
o método mais indicado é a separação em meio denso, pois os
componentes apresentam diferentes densidades. Observando ainda
as densidades dos minérios é possível indicar que a separação em
meio denso não pode ser realizada para quartzo e caulinita que
apresentem densidades semelhantes, no entanto, para os demais é
possível separar.
A separação deve usar uma sequência de líquidos com densidades
decrescentes, utilizando o sobrenadante de cada líquido como
alimentação do líquido seguinte. Para conseguir a separação efetiva
deve ser empregada a sequência de líquidos densos: solução Clerici
( )
4, 5 g cm3 , solução de iodeto de metileno 3, 3 g cm3 e ( )
solução de tetrabromoetano e tetracloreto de carbono
(2, 7 g cm3 ) . A Figura 3.11 ilustra a sequência de remoção das fases
e os líquidos correspondentes:
Figura 3.11 | Esquema de separação de fases de um minério de ferro utilizando
líquidos densos
Caracterização química
de minérios
Convite ao estudo
Caro aluno, ao longo desse livro, verificamos os métodos
e as técnicas utilizados na caracterização mineralógica, bem
como a utilização de técnicas de separação de minerais
(gravítica, magnética, meio denso e flotação). A avaliação
apenas de características mineralógicas e físicas qualitativas
não é suficiente para podermos avaliar, quantitativamente,
o conteúdo dos elementos de interesse, nem mesmo a
eficiência/recuperação dos processos de concentração
tecnológicos. Torna-se necessário, portanto, a utilização de
informações a respeito do conteúdo químico, não só dos
elementos de interesse, como também dos elementos de
ganga e, sobretudo, daqueles prejudiciais à comercialização
dos concentrados de minérios.
Exemplificando
Reflita
Você deve ter observado que a maioria dos minérios é formada por mais
de uma fase mineral. Imagine agora que, para um minério complexo,
além das fases minerais, ainda existem elementos que podem estar
associados a diferentes fases mineralógicas. Quando o minério é
atacado quimicamente, toda essa complexidade é transportada para a
solução. Como esses elementos poderiam não reagir entre si e formar
novas espécies? Em que condições as soluções devem ser mantidas
para evitar sua alteração de modo a garantir que o conteúdo dissolvido
do minério permaneça o mesmo?
Assimile
Como já verificamos no início dessa seção, os objetivos da
caracterização química são bastante diversos e, por isso, apresentam
também significância e importância variada para a caracterização de
minérios. O grande destaque da caracterização química fica a cargo da
quantificação dos elementos de interesse e dos elementos de ganga,
tanto para controle de processos, como na especificação de produtos
concentrados. Na especificação de concentrados, a caracterização
química de minério é importante também para a quantificação dos
contaminantes, pois a não conformidade de contaminantes pode
inviabilizar a comercialização do produto. Além desse aspecto com
foco comercial, a caracterização química quantitativa permite verificar
como está a distribuição do mineral de interesse na alimentação, no
concentrado e no rejeito, contribuindo para a avaliação e a indicação
de que o processo precisa ser melhorado.
Meio de
Técnica Abertura Propriedade analisada
análise
Sólido
Emissão de raios X específicos
FRX Não prensado em
do elemento
pastilhas
Absorção de radiação
EAA Sim. Ácida, Solução da
eletromagnética específica
fusão + dissolução do
Emissão de energia pelos
ICP ácida, etc. minério
átomos a altas temperaturas
Sólido
embutido
em resina ou Emissão de raios X
MEV/EDS Não
depositado característicos
em fitas de
carbono
Absorção de radiação para
FTIR Não Sólido movimentos vibracionais e
rotacionais
Perda de massa com aumento
TG Não Sólido
de temperatura
Pesquise mais
Antes de avançarmos para o final dessa seção, sugerimos que você leia
as referências a seguir para entender a importância da caracterização
química, não só para a caracterização de mineralógica, como também
para a caracterização de processos.
Avançando na prática
Elementos Terras Raras: caracterização em minérios
Descrição da situação-problema
Os elementos terras raras (ETR) apresentam-se distribuídos na crosta
terrestre em pequenas quantidades, mesmo quando concentrados em
depósitos minerais. É comum observar esses elementos associados
a diversos minerais. Imagine que você recebeu uma amostra de
minério com indícios da presença de elementos terras raras, mas antes
de quantificá-los, visto que esta é uma análise mais cara, é preciso
certificar-se de que eles realmente estão presentes. Para isso, você
deve indicar a técnica apropriada para detecção de ETR e explicar o
seu funcionamento. Então, responda aos seguintes questionamentos:
Qual a técnica apropriada para se certificar da presença de ETR? Qual o
princípio dessa técnica? Como a identificação de ETR pode auxiliar na
caracterização como um todo?
Resolução da situação-problema
Os elementos terras raras são incorporados na estrutura de
minerais do depósito de origem, e esse incremento depende do
relacionamento que os ETRs possuem com os elementos do mineral
no qual se encontram. Como se tratam de concentrações baixíssimas,
a quantificação dos ETRs deve ser feita por Espectrometria Indutiva
por Plasma Acoplado. No entanto, antes de quantificar, é necessário
certificar-se de que os elementos estão presentes. Nesse sentido,
a técnica com melhor sensibilidade para elementos terras raras é a
Espectrometria de Massas por Íons Secundários (EMIS).
Diálogo aberto
Prezado aluno, na seção anterior começamos a trabalhar alguns
conceitos de caracterização química de minérios, introduzindo
algumas das principais técnicas de caracterização avançadas. No
entanto, as técnicas apresentadas na seção anterior possuem
objetivos bastante específicos e representam os avanços tecnológicos
em caracterização química de minérios. Contudo, existem tipos de
análises químicas que são frequentemente empregados no ramo de
caracterização mineralógica e tecnológica de minérios.
Existem técnicas capazes de fornecer, de maneira ágil, as
informações que buscamos. Mas que tipo de informações
procuramos ao fazer uma caracterização química? Quando se
trata desse assunto, busca-se a composição e a quantificação dos
elementos que compõem a amostra. Com o intuito de escolher
a técnica adequada para cada necessidade, vejamos a próxima
situação preparada para que possamos resolvê-la utilizando os
conteúdos abordados nesta seção.
O Departamento de Caracterização de Minerais e Materiais
(DCMM) da empresa na qual você trabalha recebeu algumas
amostras para caracterização química. Na primeira etapa do serviço
(Seção 4.1), você identificou de maneira qualitativa algumas técnicas
que poderiam ser aplicadas para a caracterização dessas amostras
e agora precisa conhecer melhor as amostras e as técnicas para
indicar a técnica adequada. Lembre-se de que você faz parte de
uma equipe de engenheiros, técnicos e analistas que realizarão a
caracterização dessas amostras.
Como vimos anteriormente, uma das amostras é de minério
fosfático, da região de Araxá (MG), onde foi detectada a presença de
ferro, mesmo após a separação magnética. O conteúdo de ferro em
rocha fosfática deve ser inferior a 4% para evitar efeitos indesejáveis
no processo de preparação de fertilizantes. Uma segunda amostra
que necessita de caracterização química corresponde a um rejeito
Exemplificando
Uma informação qualitativa pode ser transformada em semiquantitativa
a partir da medição cuidadosa dos picos de raios X detectados. A
estimativa das concentrações pode ser obtida através da Equação 4.1,
em que Px é a intensidade relativa da linha de medida em relação ao
número de contagens, mantendo-se um período fixo; Wx é a fração
em peso do elemento em estudo na amostra; Ps é a intensidade relativa
da linha se a fração em peso do elemento de estudo na amostra fosse
unitária, sendo Ps determinado com base em uma amostra pura do
elemento ou em um padrão.
Px = Ps Wx (4.1)
Reflita
Uma amostra pode ser composta por diversos elementos diferentes.
Como estamos tratando de raios X, parte deles pode ser absorvida pelos
elementos da amostra, reduzindo o sinal recebido pelo equipamento.
Em FRX, é possível detectar apenas elementos de número atômico
maior que o flúor, sendo necessário minimizar a interferência dos
elementos. Isso significa que os elementos de menor número atômico
(O, N, C, B, Li e H) não interferem na análise? Pense a respeito e discuta
sobre como as interferências que ocorrem para elementos de número
atômico maior podem ser minimizadas.
Assimile
Nesses últimos dois métodos de caracterização química de amostras, a
dissolução de todo o sólido contido na amostra é essencial. A diluição
parcial, sobretudo de amostras contendo silicatos, pode afetar os
resultados de maneira significativa. Os sólidos em suspenção adquirem
carga, em geral, para pHs baixos, e a carga da superfície dos sólidos é
negativa. A dissolução dos metais torna evidente a sua carga positiva.
Esses íons podem então ser adsorvidos pelo silicato não dissolvido.
Dica
As técnicas analíticas normalmente apresentam os resultados em
termos do elemento químico analisado. No entanto, podemos estar
interessados em resultados referentes aos óxidos desses elementos, e
quando o equipamento não fornece a conversão, temos que utilizar
uma ferramenta de conversão chamada análise dimensional, que
consiste na conversão de uma forma de expressar o resultado em outra.
cF MAl2O3 (4.2)
%Al2O3 = × ×100
Vm MAl
Pesquise mais
Veja nas referências a seguir a aplicabilidade da caracterização química
por essas técnicas e como elas podem ser empregadas em estudos
de caracterização de minérios e concentrados/rejeitos de operações
de fracionamento.
Descrição da situação-problema
A sua empresa foi contratada para caracterizar uma amostra
de minérios de origem desconhecida. O requisitante da análise,
um proprietário rural, não conhece a geologia de sua região, mas
encontrou um tipo de rocha bastante diferente das demais rochas
da fazenda. Segundo a descrição do proprietário, na região onde
esse material está exposto há uma vegetação de maior porte e,
ao redor, o solo parece duro, como uma crosta, apresentando
vegetação de pequeno porte. O requisitante trouxe uma amostra
dessas duas regiões para análise. Diante desse contexto simples e
fictício, qual seria a técnica indicada para caracterizar esse material?
Como proceder à análise? Para verificar se o material pode constituir
uma jazida, que tipo de análise química inicial deveria ser feita?
Resolução da situação-problema
A situação ilustrada no problema trata-se de uma caracterização
química inicial de amostras de rochas/minérios. Como a amostragem
não utilizou um plano de amostragem predefinido, a caracterização a
ser feita envolve apenas aspectos qualitativos, para identificação dos
constituintes majoritários. A presença de vegetação de maior porte
pode sinalizar que a região é mais rica em nutrientes para plantas, pois
no local ocorre o desenvolvimento de plantas de maior porte, assim
como ao redor existe uma região escassa de nutrientes, podendo-se
tratar de um escudo cristalino ou ainda de um processo de laterização,
tornando a superfície pobre em nutrientes para plantas.
A caracterização química inicial, que inclusive pode preceder a
difratometria de raios X, consiste na análise qualitativa dos elementos
majoritários presentes na amostra através da fluorescência de raios
X. Com essa modalidade da técnica, busca-se verificar os elementos
que constituem as amostras e, para isso, ambas as amostras de
Reflita
Sabemos que átomos de carbono e de ouro apresentam configurações
eletrônicas, tamanhos e pesos diferentes e, por isso, podem afetar as
Exemplificando
Dada a versatilidade de sinais captados pelo conjunto MEV/EDS, podem
ser gerados diversos tipos de análises e de imagens. A seguir temos
alguns exemplos de resultados de análises em MEV/EDS para amostras
de diversos estudos (KAHN; MANO; TASSINARI, 2002; CARVALHO,
Pesquise mais
Para finalizarmos essa seção, aproveite esse momento para analisar como
essas técnicas (MEV/EDS, FTIR e TG) têm sido empregadas na caracterização
mineralógica de minérios e de minerais. Aproveite para verificar a quais
técnicas estudadas anteriormente elas estão associadas. Fique à vontade
para pesquisar em novas referências, afinal, com o passar do tempo, as
técnicas podem apresentar inovações e ser aplicadas de diferentes formas,
e conhecer essas capacidades é necessário para aplicá-las.
Avançando na prática
Análise térmica como técnica complementar à caracterização
de rejeitos de minérios cauliníticos
Descrição da situação-problema
Em unidades de produção de caulim diversos resíduos são
gerados. Uma forma de aproveitamento de resíduos do caulim é o
emprego na indústria cimentícia como parte da carga de calcário a
ser utilizada. O processo de produção do chamado metacaulim de
alta reatividade consiste na calcinação em temperaturas moderadas
e moagem de argilas com alto teor de caulinita. Imagine que
Resolução da situação-problema
O processo de calcinação aplicado na produção de cimentos
ocorre com a submissão da amostra para fornos de calcinação que
podem atingir temperaturas da ordem de 1000 o C . Os minerais
que compõem a amostra para calcinação sofrem transformações
diversas ocasionadas pela temperatura e pela atmosfera presentes
nos fornos. Muitas dessas transformações emitem um resíduo gasoso,
consequentemente, a massa da amostra que entra no início do forno
não é a mesma que sai pela abertura de ejeção de calcinado.
O estudo dessas transformações deve ser realizado previamente,
para identificar as perdas de massa do sólido e, posteriormente, a
proporção entre a carga de caulim e a carga cimentícia. A avaliação
da perda de massa em relação às temperaturas deve ser realizada
com o auxílio da análise termogravimétrica (TG). Com essa técnica, é
possível identificar as temperaturas onde ocorrem perdas de massas
e, a partir delas, buscar as transformações que podem ocorrer.
Para o material em questão, caulim, podem ser identificados dois
eventos de perda de massa característicos. O primeiro deles, que
ocorre também em diversas análises termogravimétricas, é a perda
de água (umidade) até aproximadamente 150 o C . O outro evento
é a desidroxilação da caulinita, transformando-se em metacaulinita
(Equação 4.4), que ocorre na faixa de 450 - 600o C . Em amostras
contendo gibbsita também é possível observar uma perda de massa
em torno de 300o C , que corresponde a transformações sofridas
por essa fase. ∆
Al2Si2O5 (OH) → Al2Si2O5 + 2H2O
(4.4)
Figura | Origem dos sinais captados pelo MEV a partir da interação da amostra como
feixe de elétrons
Com base na localização e no tipo de análise que pode ser realizada, avalie
as alternativas abaixo e selecione a que contém uma informação verdadeira.
a) O sinal emitido pela região III corresponde aos elétrons secundários que,
por possuir maior energia, permite a avaliação da superfície das partículas.
b) A análise química elementar por EDS tem origem no sinal de raios X
característicos emitidos pela região IV.
c) A análise de elétrons retroespalhados originários da região I permite a análise
da composição química das partículas, tendo como resultado a mineralogia
da partícula.
a) A FTIR não pode indicar a presença de hidroxiapatita, uma vez que apenas o
fosfato (PO43−3−
) na estrutura das apatitas possui ligações covalentes, requisito
básico para a técnica.
b) Não é possível diferenciar carbonato-apatita de apatitas, apesar da
substituição do PO43- pelo CO3 2- , porque as ligações covalentes com
oxigênio possuem absorção de infravermelho em mesmo número de onda.
c) A FTIR permite a identificação tanto da hidroxiapatita, como da carbonato-
apatita pela avaliação das ligações do cálcio ao grupamento carbonato, fosfato
e hidróxido, mas não é possível diferenciar a flúor-apatita e a cloro-apatita.
d) A hidroxiapatita é identificada através dos picos de absorção de radiação
infravermelho das ligações OH que foram identificados, principalmente por
estiramentos, enquanto a carbonato-apatita é identificada pelas vibrações das
ligações no CO3 2- .
e) A amostra de concentrado apatítico não possui os requisitos necessários
para aplicação da técnica do infravermelho, pois é um mineral que possui
somente ligações iônicas.