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Chico Rei

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Quem visita a mina do Chico Rei, em Ouro Preto/MG, normalmente não tem ideia de toda a história que

permeia o seu nome. Algumas fontes sociológicas trazem Chico Rei como um personagem lendário, cuja
existência não pode ser cientificamente comprovada pela História.
O Chico Rei que dá nome à mina teria sido rei no Congo, na África, de onde portugueses mercantilistas
do século XVIII, necessitados de mão de obra para ampliação do comércio, teriam-no trazido como
escravo em um navio negreiro chamado “Madalena”. O escravo veio acompanhado de seus familiares,
mas apenas ele e um de seus filhos teria resistido à desgastante viagem.

Inicialmente, teria chegado ao Rio de Janeiro, onde todos os escravos daquele lote foram comprados por
Major Augusto de Andrade Góis, um senhor que tinha propriedades em Ouro Preto, a antiga Vila Rica, e
explorava as minas de ouro daquele lugar.

Ao chegarem ao Brasil, não importava a crença anterior, todos os escravos eram rebatizados. No batismo
da Igreja Católica, Galanga ganhou por nome Francisco e ficou conhecido como Chico em toda
vizinhança.

Ao chegar à Vila Rica, que depois se tornou Ouro Preto, Chico, o “rei escravo” conseguiu pagar por sua
liberdade e a do seu filho. Tempos depois, teria conseguido comprar uma mina, a “Mina da
Encardideira”, que posteriormente foi rebatizada com seu nome. Sem perder a majestade, foi tratado
como rei por outros escravos, de quem conseguiu comprar também a alforria.
Muitos boatos apontam no sentido de que o escravo, assim como outros colegas, ao trabalharem na mina,
escondiam um pouco de ouro entre os seus cabelos, que era lavado na igreja e guardado. Inclusive, há
relatos de que religiosos os encobriam nesse perigoso desafio.

Outros rumores dizem que não houve apropriação de Chico Rei de parte do ouro da mina. Sua alforria e a
de seu filho foram conseguidas por ele ter sido extremamente fiel ao seu senhor e, assim, seu patrão lhes
concedeu a liberdade por pura gratidão.

O grupo de negros alforriados e libertados por Chico Rei construiu a Igreja de Nossa Senhora do
Rosário, localizada em Ouro Preto, que seria o local de oração e devoção dos negros daquela época.
Há também boatos de que, quando perseguido por ter muita liberdade e comprar a liberdade de seu povo,
Chico Rei juntou-se à Igreja Católica, instituição muito poderosa à época, e construiu outras igrejas para
os padres que lhe apoiavam. A cada igreja construída, uma festa de inauguração era realizada, com a
coroação do rei.

É interessante saber que a origem da festa do Congado, em janeiro, é essa e, atualmente, são realizadas
muitas festas no mês de janeiro, em comemoração. Para quem ainda não teve oportunidade de participar
dessa festa, vale a pena conhecer, pois são utilizadas roupas típicas de rei e rainha do Congado, bandeiras
festivas são levadas junto a uma procissão, os fiéis que acompanham muitas vezes vão de roupas brancas
e seguram fitas coloridas e instrumentos musicais, que tocam junto à cantoria que marca essa festa.
Também se celebra a vida de Chico Reis no dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, tendo em
vista que sua vida é uma verdadeira luta pela libertação do povo negro. Atualmente, sua história é
lembrada como símbolo de resistência e busca pela diversidade e representatividade.
O escravo que comprou a liberdade, Chico Rei, foi tema do enredo da escola de samba Acadêmicos do
Salgueiro no carnaval do Rio de Janeiro em 1964. Muito elogiado, considerado um dos samba-enredos
mais lindos da história da escola, contou sobre a vida do escravo e, no campeonato daquele ano foi vice-
campeã.

A história de Chico Rei também foi adaptada ao cinema no ano de 1985, sob direção de Walter Lima Jr.,
a partir de poemas de Cecília Meireles e de relatos do povoado mineiro local que repassou a história do
escravo de geração em geração. Nos festivais de cinema da época, foi premiado e obteve indicações a
prêmios nacionais e internacionais.

No fim do século XVIII, aos 72 anos e acometido por hepatite, Chico Rei veio a falecer em Ouro Preto e
seu filho foi considerado o novo “rei do Congado”.
Assim como a história de Xica da Silva, a escrava que enriqueceu, a de Chico Rei é muito importante
para Ouro Preto, para o estado de Minas Gerais e para o país.

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