978 85 397 0507 8
978 85 397 0507 8
978 85 397 0507 8
e um Museu Interativo:
contribuições à cultura e educação científica e tecnológica
Chanceler
Dom Jaime Spengler
Reitor
Joaquim Clotet
Vice-Reitor
Evilázio Teixeira
Conselho Editorial
Jorge Lui s Nicolas Audy | Presidente
Jorge Campos da Costa | Editor-Chefe
Jeronimo Carlos Santos Braga | Diretor
Agemir Bavaresco
Ana Maria Mello
Augusto Buchweitz
Augusto Mussi
Bettina S. dos Santos
Carlos Gerbase
Carlos Graeff Teixeira
Clarice Beatriz da Costa Sohngen
Cláudio Luís C. Frankenberg
Érico João Hammes
Gilberto Keller de Andrade
Lauro Kopper Filho
João Bernardes da Rocha Filho | Regina Maria Rabello Borges
Rosana Maria Gessinger | Isabel Cristina Machado de Lara
(Organizadores)
CDD 372.35
Ficha catalográfica elaborada pelo Setor de Tratamento da Informação da BC-PUCRS.
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo,
especialmente por sistemas gráficos, microfílmicos, fotográficos, reprográficos, fonográficos, videográficos.
Vedada a memorização e/ou a recuperação total ou parcial, bem como a inclusão de qualquer parte desta
obra em qualquer sistema de processamento de dados. Essas proibições aplicam-se também às características
gráficas da obra e à sua editoração. A violação dos direitos autorais é punível como crime (art. 184 e parágrafos,
do Código Penal), com pena de prisão e multa, conjuntamente com busca e apreensão e indenizações diversas
(arts. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais).
Sobre
os Autores
5
Ana Laura Bertelli Grams
Graduada em Matemática pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná
(2009), especialista em Tecnologias no Ensino da Matemática pela Pontifícia
Universidade Católica do Paraná (PUCPR) (2010), mestranda no Programa
de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Docente no curso
de Pedagogia da Faculdade de Pato Branco (FADEP). Tem experiência na
área de Educação, com ênfase em Educação Matemática, desde junho/2007.
E-mail: ana.grams@acad.pucrs.br
Bianca Ogliari
Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Luterana do Brasil
(ULBRA) (2007) e mestre em Educação em Ciências e Matemática pela
PUCRS. Docente de ensino básico, níveis fundamental e médio.
E-mail: bianca.ogliari@acad.pucrs.br
6 Sobre os Autores
Celso Pessanha Machado
Graduado em Matemática pela Universidade Luterana do Brasil
(ULBRA) (2008), mestre em Educação em Ciências e Matemática pela
PUCRS (2011) e doutorando em Educação em Ciências e Matemática
pela PUCRS.
E-mail: celso.machado.rs@bol.com.br
Claudia Drese
Graduada em Ciências e Matemática pela PUCRS e especialista em
Psicopedagogia Institucional pela Universidade Castelo Branco.
Professora de Ciências da Escola Municipal de Ensino Fundamental
Zeferino Lopes de Castro, em Águas Claras, Viamão-RS.
E-mail: cdg.sant@hotmail.com
Daniel Klug
Graduado em Matemática (2002), pós-graduado lato sensu em
Informação Científica e Tecnológica em Saúde (2009), em Gestão de
Pessoas em Saúde (2009) e em Gestão de Recursos Físicos eTecnológicos
em Saúde (2010) e mestre em Educação em Ciências e Matemática pela
PUCRS, com bolsa CAPES-PROSUP. Técnico em Educação do Grupo
Hospitalar Conceição, na gerência de ensino e pesquisa. Foi coordena-
dor do curso Técnico em Registros e Informação em Saúde e atualmen-
te é coordenador do curso de especialização em Informação Científica
e Tecnológica em Saúde.
E-mail: daniel.k@ig.com.br
8 Sobre os Autores
Eliane Maria Hoffmann Velho
Graduada em Matemática pelas Faculdades Integradas de Taquara (2008)
e mestranda em Educação em Ciências e Matemática pela PUCRS
(2012). Tem experiência na área de Matemática.
E-mail: eliane.hoffmann@acad.pucrs.br
10 Sobre os Autores
João Francisco Staffa da Costa
Graduado em Matemática pela UFRGS (2011) e mestrando em Educação
em Ciências e Matemática pela PUCRS. Docente do Colégio Maria
Imaculada (Praia de Belas – Porto Alegre, RS), atua como professor con-
cursado do governo do estado do Rio Grande do Sul e como professor de
Matemática Financeira na Escola Técnica Universitário.
E-mail: joão.staffa@acad.pucrs.br
12 Sobre os Autores
programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Membro do conse-
lho editorial da Revista de Divulgação Técnica e Científica da Faculdade
Regional Palmitos (REFAP).
E-mail: marivanevieira@yahoo.com.br
14 Sobre os Autores
da Escola Estadual de Ensino Fundamental São José, professora na
Faculdade da Serra Gaúcha (FSG) e acadêmica do curso de Engenharia
Civil da UNISINOS.
E-mail: renate.sebastiani@acad.pucrs.br
Roberta Giglio
Possui Ensino Fundamental pelo Colégio Cenecista Frederico
Michaelsen (2001) e Ensino Médio pelo Colégio Cenecista Frederico
Michaelsen (2005). Trabalha com Ações Educacionais nos Laboratórios
Especiais da PUCRS.
E-mail: roberta.giglio@pucrs.br
16 Sobre os Autores
Vargas. Durante a graduação participou do programa PIBID. Dedica-se
ao ensino de Física, estudos sobre ideias prévias dos alunos e abordagem
da Teoria das inteligências Múltiplas no ensino de Física.
E-mail: talissa.trodrigues@hotmail.com
Tirzá Prodes
Graduada em Ciências Biológicas e mestranda em Educação em Ciências
e Matemática pela PUCRS. Fez parte dos Clubes de Ciências nos co-
légios Maristas Champagnat e Ipanema, participou de um projeto na
Escola de Educação Infantil Sonho de Criança e fez estágio voluntário em
uma turma de 7°ano do Ensino Fundamental na Escola Estadual GEMA.
E-mail: tirza.prodes@acad.pucrs.br
Veridiana Rabaioli
Graduada em Matemática pela UNISINOS (2004) e mestre em Educação
em Ciências e Matemática pela PUCRS (2012). Atua na rede municipal
de ensino (desde 2007) e é professora universitária (desde 2009). Tem
experiência na área de Matemática, atuando como docente nos Ensinos
Fundamental, Médio e Superior.
E-mail: vrabaioli@gmail.com
18 Sobre os Autores
Sumário
23 Apresentação
João Bernardes da Rocha Filho
Rosana Maria Gessinger
Isabel Cristina Machado de Lara
Regina Maria Rabello Borges
19
51 Museu Interativo: uma possibilidade de
alfabetização científica
Marlúbia Corrêa de Paula
Isabel Cristina Machado de Lara
20
119 Estudo do Teorema de Pitágoras por meio da
integração museu-escola
Celso Pessanha Machado
Felipe Oneda Polese
Lorena Molon Basso
Marivane Menuncin Viêra
Renate Grings Sebastiani
Rosana Maria Gessinger
21
173 Educação ambiental na escola e visita ao Museu
Leila Fátima Corrêa Job
Diane Wolosky Muchusky
Valderez Marina do Rosário Lima
181 Probabilidades genéticas:
uma prática interdisciplinar
Leandro Millis da Silva
Talita Sganderla Chesini
Clair Teresinha de Souza
Regina Maria Rabello Borges
22
Apresentação
23
Divulgar trabalhos que integram escolas e o MCT/PUCRS, com-
partilhando os conhecimentos produzidos, é o objetivo desta obra, in-
tegrada ao projeto interinstitucional Ciência, História, Educação e Cultura
(Programa Pró-Cultura – CAPES/MinC). Sua publicação teve o apoio
da Central de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES),
entidade do governo brasileiro voltada à formação de recursos humanos.
Este livro reúne a produção científica de mestrandos da disciplina
Museu Interativo. Em pequenos grupos ou individualmente, acompanha-
dos de perto pelos seus professores, eles fizeram visitas exploratórias
iniciais à área de exposições do MCT/PUCRS e escolheram um tema
a ser desenvolvido, sempre com abordagem interativa e atitude trans-
disciplinar. A área de exposições do Museu, bem como laboratórios e
outros espaços da Universidade, continuou disponível aos participantes
no horário das aulas, ao longo do semestre em que cursaram a disciplina.
Sendo um “museu universitário, o MCT/PUCRS busca agir como
instrumento dinâmico de mudança social no sentido de difundir o co-
nhecimento científico [...], criando espaços de diálogo e integração com
a comunidade e contribuindo para uma educação integral com o foco
no desenvolvimento sustentável”. Assim, no capítulo 1, “Aproximação de
professores com o espaço museal – contribuição para o ensino formal de
Ciências”, informações e orientações atuais sobre a visitação de alunos e
professores foram disponibilizadas por Melissa Pires, Diana Bertoglio,
André Ayala, Roberta Giglio, Simone Monteiro e Emilio Jeckel Neto.
Todos os demais capítulos apresentam atividades escolares inspiradas nos
experimentos interativos do Museu, conforme as sínteses a seguir.
No capítulo 2 “Organizando uma unidade de aprendizagem in-
terdisciplinar sobre o estudo das abelhas”, com base nas concepções
prévias de estudantes do Ensino Médio, Adriana Schier, Elise Cordeiro
e Raimundo Nonato fundamentaram e realizaram uma pesquisa sobre
o tema, com apoio de Regina Maria Rabello Borges e colaboração de
Tatiana de Camargo. No contexto de uma unidade de aprendizagem
interdisciplinar, a integração de conteúdos de biologia, matemática,
física e química tornou o estudo das abelhas mais significativo para os
alunos envolvidos.
24 Apresentação
No capítulo 3, “Museu Interativo: uma possibilidade de alfabeti-
zação científica”, Marlúbia de Paula apresentou um histórico sobre mu-
seus e refletiu sobre alfabetização científica, fundamentada, sobretudo,
em Attico Chassot, em leitura acompanhada por Maria Rabello Borges
e Isabel Lara.
Um estudo sobre como ocorre a alfabetização científica em um
museu interativo foi apresentado no capítulo 4, “Compreensão dos fusos
horários na perspectiva da Educação Matemática”, por Ana Laura Grams,
João Staffa da Costa, Reinaldo Feio Lima e Silvia Milão. A proposta rela-
cionou coordenadas geográficas, plano cartesiano e operações com nú-
meros inteiros, tendo em vista a necessidade de somar ou subtrair de-
terminado número de horas ao calcular o deslocamento de um ponto a
outro na superfície da Terra. Por meio da análise das respostas dos alunos
ao roteiro dirigido, em visita orientada à área de exposições, foi consta-
tada a compreensão que eles obtiveram sobre o tema.
Na continuidade, temos o capítulo 5, “Uma proposta para ensinar
a natureza da luz a partir das ideias prévias dos alunos”, desenvolvido por
Talissa Rodrigues, Maria Emília Bernasiuk e Ana Maria Marques da Silva.
A proposta consistiu em uma unidade didática elaborada a partir das
ideias prévias dos alunos sobre a natureza da luz. As expressões artísticas
dos alunos foram utilizadas para identificar suas ideias, e as atividades
desenvolvidas buscaram uma transformação de tal modo que os signifi-
cados se aproximassem do modelo científico atual, constatando-se uma
evolução conceitual sobre a natureza da luz, havendo, em alguns casos, a
integração da concepção inicial às novas ideias.
No capítulo 6, “Museu Interativo e a sala de aula: interligando
aprendizagens”, Eliane Hoffmann, Magnus Ody e Isabel Lara apresenta-
ram o projeto intitulado Sistema solar e Matemática, envolvendo conteúdos
de matemática, geografia, física e química. Aplicando-o a uma turma do
2º ano do Ensino Médio de uma escola pública, analisaram como o Museu
Interativo pode contribuir para a concretização de um trabalho interdis-
ciplinar que alcançasse a integração de conteúdos de disciplinas escolares.
Alessandra Corrêa, Kely Cemin Faria e Veridiana Rabaioli, orien-
tadas por Regina Maria Rabello Borges, elaboraram e aplicaram em es-
26 Apresentação
da identificação e evolução das concepções prévias dos alunos, de modo
dinâmico e interativo, no contexto de Sociedade, Energia e Ciência (SEC).
No capítulo 12, denominado “Estudo de micro-organismos
por meio da interatividade”, Cleise Koeppe, Bianca Ogliari e Clarissa
Lindenmeyer, orientadas por Regina Maria Rabello Borges, descreveram
práticas desenvolvidas com uma turma de Educação de Jovens e Adultos
(EJA) para identificar micro-organismos quanto a sua importância eco-
lógica e social, reconhecendo a necessidade da higiene como medida
profilática. As atividades foram desenvolvidas com 21 alunos de EJA, da
segunda etapa, matriculados em uma escola de Ensino Fundamental do
município de Gravataí/RS, após a identificação de dificuldades do grupo
em trabalhar com micro-organismos sob a perspectiva teórica.
No capítulo 13, “Energia, prevenção e tecnologia: uma proposta
interativa de ensino de física para Educação de Jovens e Adultos”, Renata
Matos da Luz e Rosângela Pastorini, com apoio de João Bernardes da
Rocha Filho, propuseram um método de ensino para o tema energia, vol-
tado para o ensino da EJA. A partir da análise prévia das concepções dos
alunos e de suas pesquisas, o estudo foi desenvolvido no MCT/PUCRS,
um ambiente não formal, a fim de associar o conteúdo próprio da física
com as diferentes realidades do cotidiano dos estudantes, por meio de
experimentos interativos.
No capítulo 14, “Educação ambiental na escola e visita ao Museu”,
Leila Job e Diane Muchusky, com orientação de Valderez Lima, apresen-
taram um trabalho interativo de educação ambiental com enfoque em
botânica, realizado com alunos do Ensino Médio em uma escola pública.
Após os alunos escreverem suas curiosidades sobre o tema, foi elaborado
um roteiro de estudos que incluiu saída de campo, na praça da cidade,
consulta bibliográfica sobre a importância dos vegetais e visita ao MCT/
PUCRS e aos jardins da mesma universidade. Na volta à escola, houve
exposição sobre exemplares de plantas, e os alunos socializaram seus co-
nhecimentos com outras turmas da escola.
A seguir, no capítulo 15, temos “Probabilidades genéticas: uma prá-
tica interdisciplinar”, em que Clair Souza, Leandro Millis da Silva e Talita
Chesini buscaram desenvolver o conteúdo de genética aliado ao estudo
28 Apresentação
1
Aproximação de Professores com
o Espaço Museal – Contribuição
para o Ensino Formal de Ciências
29
mento científico por meio da interdisciplinaridade e estímulo à reflexão
crítica da realidade nas diversas atividades, criando espaços de diálogo e
integração com a comunidade e contribuindo para uma educação inte-
gral com o foco no desenvolvimento sustentável.
Assim como as exposições dos museus são discursos criados com
intenção de comunicar ideias, conceitos e informações ao visitante, a
ação educativa em museus visa ampliar as possibilidades de aproveita-
mento pedagógico dos acervos, para que o visitante acentue seu espíri-
to crítico em relação a sua realidade e a daqueles que estão à sua volta
(ALMEIDA, 1997). Nesse âmbito, estabelecer relação de parceria entre
a equipe do setor educativo dos museus e os professores/educadores das
escolas se torna imprescindível.
Alguns trabalhos demonstram que nem sempre a relação entre essas
instituições é profícua. Cazelli (1992) relata em seu trabalho que “durante a
visita, o professor geralmente ficava passivo (observando a atuação de mo-
nitores) e não buscava estabelecer relações dos conteúdos vistos no MAST
com aqueles trabalhados em sala de aula”. Já o trabalho de Beatriz Freire
discute mais diretamente o problema da dificuldade de diálogo entre edu-
cadores de museus e professores, enfatizando que os educadores de museus
ainda não dialogam com os professores. Para essa comunicação ser efetiva,
seria preciso o museu mostrar claramente sua proposta de ação educativa
ao professor/educador: o que é o museu, como se forma o acervo, que tipo
de parceria propõe à escola, entre outras coisas (FREIRE, 1992).
Com o objetivo de qualificar a função social do museu, o MCT/
PUCRS, a partir de 2008, estruturou a Coordenação Educacional (CE),
seguindo a recomendação da Mesa-Redonda de Santiago do Chile de or-
ganizar um serviço educativo comprometido com a comunidade em que
está inserido, que nesse caso é muito procurado pelo público escolar. A
CE fornece apoio pedagógico àquele que tem um papel relevante na difu-
são e construção do conhecimento e na popularização da ciência: o profes-
sor. Nesse sentido, foi criada em 2009 a Atividade de Pré-Visita (APV).1
1
Em 2001, em pesquisa realizada com professores e alunos em visita ao museu, foi constatado
que a maioria dos professores visitantes não passou pela preparação prévia oferecida pelo museu (BORGES
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, A. M. Desafios da relação museu-escola. Comunicação e Educação, São
Paulo: Moderna: USP, n. 10, p. 50-56, set./dez. 1997.
CAZELLI, S. Alfabetização científica e os museus interativos de ciências. Rio de Janeiro:
PUC Rio, 1992. Dissertação (Mestrado em Educação), Departamento de Educação,
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 1992.
35
Este texto propõe uma formulação, com base nessas ideias prévias
dos estudantes, sugerindo uma unidade de aprendizagem a ser aplica-
da envolvendo as disciplinas de biologia, física e matemática do Ensino
Médio acerca do estudo das abelhas.
A seguir, são apresentados o desenvolvimento, a fundamentação
teórica, bem como a metodologia, os resultados e as discussões das ideias
prévias dos estudantes que motivaram a elaboração desse texto, e por
fim, as considerações finais, contendo sugestões de conteúdos que podem
ser abordados dentro de uma unidade de aprendizagem interdisciplinar.
Fundamentação teórica
Para fundamentar as ideias ao longo deste estudo, utilizaremos
alguns teóricos da área da educação que embasaram a proposta de de-
senvolvimento de uma unidade de aprendizagem interdisciplinar so-
bre o estudo das abelhas. Os principais autores que destacamos são:
Moraes e Galiazzi (2007), Galiazzi (2004), Freschi e Ramos (2009),
Fazenda (2005), Ausubel (1982), Moreira e Buchvyertz (1987) e
Demo (2007), entre outros.
Unidades de Aprendizagem
A Unidade de Aprendizagem, segundo Galiazzi (2004) e Gonzáles
(1999), supera o planejamento sequencial de conceitos, contribui para
o desenvolvimento de propostas interdisciplinares, envolve atividades
estrategicamente selecionadas, valoriza o conhecimento dos estudan-
tes e possibilita a compreensão mais complexa do fenômeno estudado.
Segundo Freschi e Ramos (2009), possibilita a reconstrução de conheci-
mentos e promove a capacidade de solucionar problemas, desenvolvendo
a autonomia e a autoria. Para isso, professor e estudantes são parceiros de
trabalho, pesquisando e organizando materiais que permitam a recons-
trução do seu conhecimento.
Segundo Galiazzi et al. (2002), ao planejar as aulas por meio de
Unidades de Aprendizagem, potencializa-se a participação e integração
Interdisciplinaridade
Segundo Fazenda (2005a, p. 17):
Metodologia
A metodologia utilizada para analisar os conhecimentos prévios
dos estudantes do 1º ano do Ensino Médio de uma escola da rede pública
de ensino de Porto Alegre foi a Análise Textual Discursiva (MORAES;
GALIAZZI, 2007). Essa metodologia consiste na desconstrução dos dis-
cursos produzidos, a unitarização e posterior categorização das unidades
de significado e, por fim, a montagem de um metatexto. O metatexto é
produto dos discursos apoiados em conhecimentos empíricos que refor-
çam o novo conhecimento criado ou reconstruído.
Resultados e discussões
A partir da análise das respostas dos educandos, surgiram três ca-
tegorias gerais que nortearam este estudo. Essas categorias foram esta-
belecidas de acordo com os conhecimentos prévios que os estudantes
externalizaram e o conhecimento científico existente na literatura. As
categorias que emergiram foram: I) O formato das colmeias; II) A or-
ganização social das abelhas; III) O voo das abelhas. Essas categorias são
analisadas e comentadas a seguir.
Figura 2: Formato dos alvéolos na colmeia fabricada pelas abelhas. Esses alvéolos,
para maior economia de material, são fechados por três losangos iguais
Fonte: TAHAN, Malba. As maravilhas da matemática.
1
Espaços construídos pelas abelhas, também chamados de favos, de forma hexagonal, onde as
abelhas depositam o mel por elas produzido.
2
As falas dos estudantes estão destacadas em itálico ao longo do texto.
Considerações finais
Como proposta inicial, a turma poderia ser dividida em grupos, e
cada grupo realizaria uma entrevista com um apicultor. A partir dessa en-
trevista e das perguntas que surgissem das próprias dúvidas dos estudan-
tes, poderiam ser trabalhadas as respostas da entrevista por meio de uma
Unidade de Aprendizagem sobre o estudo das abelhas. Algumas questões
sugeridas para essa entrevista poderiam ser as seguintes:
1. Qual o comportamento mais importante que você obser-
va(ou), nas abelhas em relação a sua organização e funções
das castas dentro do apiário?
2. Quantos favos existem em seu apiário e como estão dispos-
tos? Descreva com o maior grau possível de detalhamento
como é a estrutura de um favo internamente.
3. Qual a quantidade de abelhas existentes em seu apiário, con-
siderando o período de um ano?
4. Qual a taxa de natalidade e mortalidade das abelhas no perí-
odo de um ano?
5. Como é feita a produção do mel pelas abelhas?
6. Qual período do ano em que existe maior produção do mel?
Qual a quantidade de mel produzida por ano?
7. Qual período do ano existe menor produção do mel? Por quê?
8. Quais equipamentos de proteção são utilizados durante a re-
tirada de mel dos favos?
9. De quais plantas as abelhas buscam o pólen e o néctar? Quais
suas preferências?
10. Qual a distância do apiário até a florada que provê alimento
para as abelhas?
11. Quantos voos as abelhas fazem durante o período de um dia?
Qual o significado desses voos?
REFERÊNCIAS
AUSUBEL, D. P. A aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel. São Paulo:
Moraes, 1982.
BBC – British Broadcasting Corporation, 2010. Disponível em: http://www.bbc.
co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/01/070131_abelhas.html. Acesso
em: 15 nov. 2010.
51
que simula um dos biomas da Floresta Amazônica, com cenários da vida
dentro da floresta e, inclusive, sons de animais. Aquele espaço envolve os
visitantes no clima do ambiente amazônico. Nesse contexto, ouvindo os
sons e vendo as cores que refazem o ambiente da floresta, é possível que
o visitante seja envolvido por aquele recorte de situação da vida.
O museu abre novos momentos de observação e interação. A cada
olhar visualizam-se novas cores, novas situações e se desperta para novas
possibilidades, novas trajetórias de aprendizagens. A impressão obtida é
de despertar em meio à forma como são propostas algumas atividades.
Diante dessas sensações surgem curiosidades sobre como tiveram
origem os museus e como ocorreu a passagem de local de guardar coi-
sas antigas para um lugar que acorda para novas compreensões. Dentro
do museu interativo ocorrem possibilidades de pensar e compreender
algumas ideias expostas nas mais diversas mídias, e que muitas vezes não
passam de informações. Mas, de que forma o museu passa a oferecer mais
do que informação e possibilidade de conhecimento aos seus visitantes?
Como é possível a Alfabetização Científica no museu (AC)?
Se antes a aprendizagem nos museus ocorria envolta em reflexões
sobre o passado, hoje é possível antever o futuro, tempo ainda não vivido,
mas suposto, nos diversos experimentos que lá se encontram.
Como surgiram e se
desenvolveram os museus?
A ideia de museu, como se entende hoje, surgiu no contexto do
Renascimento e está associada à formação das coleções, ou seja, ao ato
de acumular objetos, o que se considera um comportamento humano
universal. Após a Primeira Guerra Mundial, surgiram museus de ciências
com papéis educativos e progressivamente mais dinâmicos, sendo procu-
rados por públicos cada vez maiores (PIEDADE FILHO, 2009).
As coleções encontradas em museus cederam espaço a elementos
que despertassem em seus visitantes uma reorganização de ideias. Diante
disso, o museu constitui-se numa possibilidade de educar que ultrapas-
sa as fronteiras do conhecer e catalogar historicamente, pois conforme
Considerações finais
Acreditar, então, que há um potencial em nossa atitude, quando po-
demos responder a uma questão e passamos à outra, ainda em maior con-
texto, sugerindo uma nova interrogação, surge: Como podem os museus,
REFERÊNCIAS
CHASSOT, Attico. Educação conSciência. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2003.
______. Alfabetização Científica: uma possibilidade para a inclusão social. Revista
Brasileira de Educação: III Cumbre Iberoamericana de Rectores de Universidades
Públicas, SP, n. 21, p. 157-158, 25 abr. 2002. Quadrimestral. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n22/n22a09.pdf>. Acesso em: 27 abr. 2012.
DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. 8. ed. Campinas: Autores Associados, 2007.
PIEDADE FILHO, Lúcio de Franciscis dos Reis. Museu, ciência, tecnologia e sociedade:
o museu enquanto espaço de difusão e divulgação científica. Foro Ibero-Americano de
Comunicação e Divulgação Científica, Campinas, UNICAMP, 2009. Anais... Disponível
em: http://www.oei.es/forocampinas/PDF_ACTAS/COMUNICACIONES/gru-
po3/070.pdf. Acesso em: maio de 2012.
SASSERON, L. H; CARVALHO, A. M. P. de. Alfabetização científica: uma revisão bi-
bliográfica. Investigações em Ensino de Ciências, v. 16, n. 1, p. 59-77, 2011. Disponível em:
http://www.if.ufrgs.br/ienci/artigos/Artigo_ID254/v16_n1_a2011.pdf Acesso em:
10 maio 2014.
1
Neste trabalho nos referimos ao MCT/PUCRS somente como museu.
2
O estudo de como ocorre a Alfabetização Científica em um museu de ciências consta em outro
capítulo deste livro.
59
realização deste trabalho o fato de que situar-se no espaço geográfico
sempre foi uma necessidade dos seres humanos. Desde as primeiras re-
presentações cartográficas feitas em papel, até os atuais GPS (Sistemas
de Posicionamento Global), precisamos de referências para nos orientar
ao redor do globo.
Sendo assim, se fez necessário ao longo da evolução da humani-
dade a criação de um sistema internacional de marcação de tempo de-
nominado de fusos horários. Esse sistema foi adotado como convenção
em função do movimento de rotação da Terra, já que em um mesmo
momento, diferentes pontos longitudinais da superfície do planeta têm
horários diferentes.
Dentro de uma perspectiva interdisciplinar, procuramos relacio-
nar os conceitos de coordenadas geográficas e do plano cartesiano, pro-
posto por René Descartes3, bem como operações com os números in-
teiros, que possibilita a visualização da necessidade de somar ou subtrair
determinado número de horas quando nos locomovemos de um ponto a
outro na superfície do planeta.
Inicialmente o grupo, composto por quatro professores de ma-
temática, realizou visitas ao museu, com o objetivo de conhecer e/ou
rever os experimentos interativos da área de geografia e matemática
que melhor se adequavam ao propósito do trabalho. Foram selecionados
para o roteiro de visita os experimentos Fuso Horário (número 2.344),
a movimentação dos continentes através do tempo (número 2.301) e o
Geoplano (número 1.169), que possibilitam a abordagem de temas e
conceitos da geografia e da matemática.
Com o roteiro estabelecido, agendamos a visita ao museu que
ocorreu em junho de 2012, com um grupo de alunos oriundos de uma
escola estadual localizada na região metropolitana de Porto Alegre, que
estavam cursando a 8ª série do Ensino Fundamental. Salientamos aqui
que o nosso objetivo foi introduzir o estudo das coordenadas cartesianas
3
René Descartes (1596-1650) foi o filósofo, físico e matemático francês que, entre outras coi-
sas, desenvolveu uma síntese da álgebra com a geometria euclidiana. Os seus trabalhos permitiram
o desenvolvimento de áreas científicas como a geometria analítica, o cálculo e a cartografia.
Metodologia
A visita exploratória foi dividida em dois momentos, por se tra-
tar de um grupo grande de alunos. Parte dos estudantes recebeu um
roteiro com instruções sobre os experimentos interativos supracitados,
cujos assuntos não foram previamente apresentados em sala de aula, pro-
positalmente, com o intuito de compreender até que ponto é possível a
Alfabetização Científica por meio do museu.
Nesse roteiro tínhamos como objetivo conhecer, explorar e re-
fletir sobre os instrumentos escolhidos e, em seguida, realizar atividades
práticas do fuso horário que foram, na sua maioria, questões adaptadas
de concursos de vestibular. Simultaneamente, o outro grupo de alunos
teve a oportunidade de explorar o museu livremente, com a tarefa de
escolher o instrumento que mais lhe interessou e produzir um relatório
individual sobre o mesmo, especificando conceitos e descrevendo as sen-
sações proporcionadas. Num segundo momento, os papéis foram inver-
tidos, oportunizando que todos realizassem as duas atividades.
Fundamentação teórica
Na busca por uma definição que nos desse um entendimento te-
órico dos fundamentos que norteiam a interdisciplinaridade, apresen-
tamos os saberes de alguns autores sobre esse tema. Para debater essa
temática, trouxemos as ideias de Luck (1994), Machado (2000), Denker
(2002), Fazenda (2002), Hammes (2008) e Miquelin (2008).
Na visão de Denker (2002, p. 19), a interdisciplinaridade bus-
ca uma aproximação dos conhecimentos que se encontram desligados
da realidade, ou seja, “abordagem mais integradora da realidade”. Nesse
sentido interpretamos que para essa aproximação ocorrer é necessário
superar as barreiras ideológicas, históricas e culturais existentes entre as
Apresentação e análise
das respostas dos alunos
Os resultados das questões do roteiro dessa visita foram organiza-
dos e analisados de acordo com o gênero dos alunos e das respostas apre-
sentadas por eles. Iremos apresentar aqui as que foram mais relevantes,
Figura 1: Questão 7
Fonte: PUCCAMP.
REFERÊNCIAS
DENKER, Ada de Freitas Maneti. Pesquisa e interdisciplinaridade no ensino superior:
uma experiência no curso de turismo. São Paulo: Aleph, 2002.
FAZENDA, Ivani. Integração e interdisciplinaridade no ensino brasileiro: efetividade ou
ideologia. 5. ed. São Paulo: Loyola, 2002.
HAMMES, Ederson Halair. Inter e transdisciplinaridade: educar para o todo. In:
SESI Paraná. Diálogos com a prática: construções teóricas – Coletânea 1 – SESI,
Serviço Social da Indústria/ PR. Edição digital, 2008.
LÜCK, Heloísa. Pedagogia interdisciplinar: fundamentos teórico metodológicos. 8.
ed. Petrópolis: Vozes, 1994.
77
A abordagem escolar da natureza da luz
No Ensino Médio, ao tratar da temática óptica, a natureza da luz e
os fenômenos ondulatórios não costumam ser discutidos, sendo normal-
mente realizados estudos voltados somente para a óptica geométrica. A
apresentação da luz simplesmente como um conjunto de raios geométri-
cos torna difícil alcançar que os alunos expliquem fenômenos tais como,
por exemplo, a cor dos objetos, as sombras coloridas, o arco-íris, a cor
do céu e o brilho das estrelas. Dessa forma, as concepções construídas
pelos alunos sobre a luz costumam ser restritas a uma visão corpuscular.
Mas o que é a luz para as crianças? Partindo dessa indagação,
Guesne (1992) realizou um estudo com crianças entre 10 e 15 anos, as
quais, até aquele momento, não haviam estudado o tema em sua vida
escolar. O estudo foi realizado sobre as concepções prévias, explorando
o que a palavra “luz” significava para elas, quais propriedades eram atri-
buídas a essa palavra e como eram interpretados alguns fenômenos físicos
que envolviam a luz.
Guesne (1992) obteve, como resultado, duas concepções: (1) a
luz igualada à sua origem, seus efeitos ou como um estado, e; (2) como
corpo distinto, localizado no espaço entre a fonte e o efeito que ela pro-
duz. Esses resultados lhe permitiram concluir que as crianças admitem
que a luz possa ser refletida pelos objetos, mas podem ignorar essa ideia
quando a percepção do fenômeno proporciona outra chave para inter-
pretar a situação. Com isso, a autora sugere que o ensino estimule os
alunos a usar intensamente essa ideia de reflexão e que essa seja por eles
aplicada de uma forma mais geral para explicar os fenômenos que envol-
vem a luz. Para isso, propõe que o estudo da luz inicie pela abordagem
dos espelhos (óptica geométrica). Segundo Gircoreano e Pacca (2001
apud SILVA, 2009, p. 1), “[...] Essa maneira usual de estudar óptica não
deixa evidente que a luz se propaga num espaço tridimensional, em que
há uma fonte de luz e que existem obstáculos para a propagação; os as-
pectos concernentes à natureza da luz são, em geral, desconsiderados”.
Paulo et al. (1997 apud Silva, 2009) sugerem que se deve dar menor
ênfase ao ensino da óptica geométrica em favor de uma maior ênfase à
discussão sobre a natureza da luz.
Metodologia
A Unidade Didática (UD) foi desenvolvida com base nas ideias
prévias de alunos do segundo ano do Ensino Médio, com idades entre
14 e 16 anos, e dos argumentos apresentados por Paulo e colaboradores
(1997), Gircoreano e Pacca (2001 apud Silva, 2009), sobre o ensino da
natureza da luz, e por Giordan (1996).
Os sujeitos de pesquisa foram os alunos de uma escola pública
estadual que participaram da UD, cujas famílias podem ser enquadradas
dentro das classes médias baixas e baixas. Muitos deles relataram que,
devido às suas condições econômicas, eram obrigados a trabalhar no tur-
no inverso da escola. No dia a dia enfrentavam situações relacionadas
à exposição às drogas, à violência e ao desemprego nas famílias, o que
ocasionava altos índices de evasão e repetência.
Análise e resultados
As representações artísticas iniciais dos alunos mostraram que,
apesar de a luz fazer parte do seu dia a dia, existe uma dificuldade imensa
Considerações finais
Conforme afirma Giordan (1996), a cópia não propicia ao aluno a
construção do conhecimento. Com base nesse pensamento se construiu
a UD apresentada neste trabalho, procurando conhecer as ideias dos alu-
nos, dando-lhes autonomia para expressar suas ideias e, na medida do
possível, contribuir para que essas ideias se transformassem/evoluíssem,
atribuindo-lhes aspectos do conhecimento científico.
Investigar as ideias dos alunos fez com que o professor conhe-
cesse como eles explicam alguns fenômenos de seu cotidiano que estão
relacionados com a física. Os alunos que se envolveram na aplicação da
UD não só responderam muito bem às atividades – comuns ao estudo
de óptica – como a transformação de suas concepções prévias foi visi-
velmente notada: inicialmente havia uma ideia primitiva de que a luz se
tratava apenas de um tipo de energia que abastecia as casas, enquanto
após as atividades eles expressam a luz como caráter dual e conseguem
associá-la a fenômenos relacionados às cores dos objetos e sombras.
Outro fato marcante desse trabalho foi a identificação da primeira con-
cepção (a luz como fonte de energia) integrada às novas ideias (caráter
dual, coloração dos objetos etc.), formando uma concepção que, segun-
do Mortimer (1996), o aluno saberá distinguir quando usar o conheci-
mento científico – geralmente nas escolas ou em situações que exijam
o conhecimento científico – e quando usar a concepção informal que,
para o autor, é uma forma de compartilhar informações e se comunicar
nos diferentes grupos da sociedade.
O desenvolvimento do trabalho mostrou que explorar a natureza
da luz pode ser complexo, mas é viável para iniciar o estudo de ópti-
REFERÊNCIAS
ARRIBAS. Experiências de física na Escola. 4. ed. Passo Fundo: EdiUPF, Universidade
de Passo Fundo, 1996.
GASPAR, A. Física. V. 2. São Paulo: Ática, 2010.
Giordan; A. O lugar das confrontações. In: GIORDAN, A.;VECCHI, G. As origens do
saber: das concepções dos aprendentes aos conceitos científicos. 2. ed. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1996, p. 170-180.
GONÇALVES FILHO; TOSCANO. Física para o Ensino Médio. v. único. São Paulo:
Scipione, 2002.
GUESNE, E. La luz. In: DRIVER, R.; GUESNE, E.; TIBERGHIEN, A. Ideas científi-
cas en la infancia y la adolescencia. Madrid: Ediciones Morata, 1999, p. 31-61.
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MORTIMER, E. F. Construtivismo, mudança conceitual e ensino de Ciências: para
onde vamos? Investigações em Ensino de Ciências. V. 1. Porto Alegre, 1996, p. 20-39.
SILVA Jales de Aquino. Ênfase no modelo ondulatório como estratégia de promoção
da evolução conceitual em tópicos sobre a luz em nível médio. Brasília: Universidade
de Brasília, 2009. 146p. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências), Programa
de Pós-Graduação em Ensino de Ciências. Universidade de Brasília, Brasília, 2009.
VALADARES, E. de Campos. Física mais que divertida: inventos eletrizantes baseados
em materiais reciclados e de baixo custo. Belo Horizonte: UFMG, 2007.
87
tecnologia”, interligando conhecimentos práticos e teóricos, por meio da
exploração de um museu que auxilia na compreensão das relações que
podem ser estabelecidas entre ciências, tecnologia e sociedade.
Neste estudo trazemos um exemplo de museu interativo, o
Museu de Ciências e Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul (MCT/PUCRS). Com uma disposição que encanta,
esse museu atrai de modo instigador crianças e adultos que podem am-
pliar e aprofundar seus conhecimentos em diferentes áreas. No entanto,
é importante que o professor, ao propor uma visita, conheça o ambien-
te e todas as atividades disponibilizadas, estruturando previamente uma
proposta de estudo a ser executada antes, durante e depois da visita com
os estudantes, para que se obtenha melhor aproveitamento.
A fim de buscar, em conjunto, possibilidades didático-pedagógicas
renovadoras, com reflexões sobre a prática inter e transdisciplinar, a dis-
ciplina Museu Interativo, do Programa de Pós-Graduação em Educação em
Ciências e Matemática da PUCRS, propõe aos mestrandos envolvidos a
elaboração e o desenvolvimento de um projeto que integre escola e mu-
seu, podendo incluir uma visita ao MCT/PUCRS como desencadeadora
para realização de atividades interativas em sala de aula, com a participa-
ção de professores de diferentes áreas.
Nesse contexto, o projeto intitulado “Sistema solar e matemática”,
com conteúdos das disciplinas de matemática, geografia, física e química,
foi planejado e aplicado a uma turma do 2º ano do Ensino Médio de uma
escola pública, na cidade de Parobé-RS, buscando a concretização de um
trabalho interdisciplinar que fosse além da simples integração de conteú-
dos de disciplinas escolares.
Procedimentos metodológicos
O projeto interdisciplinar “Sistema solar e a matemática” envolveu
23 estudantes do Ensino Médio de uma escola estadual, num bairro de
classe média baixa da cidade de Parobé-RS. Objetivou que os estudantes
identificassem e se familiarizassem com o sistema solar, proporcionando
aprendizagens de conceitos matemáticos presentes na estrutura harmô-
Considerações finais
Neste estudo, que focalizou a interatividade de um museu de ciên-
cias e de tecnologia e suas possibilidades pedagógicas, é possível afirmar
que esta propicia diversos tipos de comunicação com o visitante. O vi-
sitante, além de ser estimulado por percepções visuais, táteis, olfativas e
auditivas, tem a oportunidade de interpretar o que percebe a partir dos
saberes e das crenças que desenvolveu. Ao entrar no museu, cada pessoa
traz seu conhecimento prévio sobre as ciências e os fenômenos que tem
presenciado na vida cotidiana, conforme sua cultura, que é relacionada e
articulada de modo diferente quando interage com os modelos expostos,
podendo receber significações individuais.
Vale ressaltar que as propostas interativas possibilitadas por este
estudo mobilizaram professores e estudantes, promovendo a prática do
trabalho interdisciplinar. Modificou-se assim a rotina escolar, favorecen-
do o vínculo e a comunicação entre professor, estudante e escola.
Os museus interativos apresentam modelos que encantam seus
visitantes. Portanto, levar essa experiência para a sala de aula permitiu
uma ressignificação do conhecimento a partir de múltiplas interpreta-
ções. Possibilitou que os estudantes, ao pesquisar diferentes conceitos
em diversas disciplinas, repensassem os modelos conhecidos e criassem
novos. Por meio da pesquisa, a elaboração do modelo propiciou a busca
REFERÊNCIAS
BIEMBENGUT, Maria Sallet. Modelagem matemática & implicações no ensino e na apren-
dizagem de matemática. 2. ed. Blumenau: Edfurb, 2004.
CURY, Marília Xavier. Exposição, uma linguagem densa, uma linguagem engenhosa.
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ções e ações dirigidas ao público. Rio de Janeiro: MAST, 2007.
DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. 7. ed. Campinas: Autores Associados, 2005.
99
a educação científica na escola básica seria mais produtiva se fosse mo-
bilizada de forma interdisciplinar e contextualizada. Dessa forma, ini-
cialmente, privilegiamos conteúdos prévios a serem trabalhados pelos
alunos e apenas fizemos alguns delineamentos temáticos.
Escolhemos elaborar um projeto que buscasse interseccionar o
conhecimento científico com a aprendizagem significativa (AUSUBEL,
1980; MOREIRA, 2009, 2010) e os pressupostos do educar pela pes-
quisa (DEMO, 1998; MORAES; GALIAZZI; RAMOS, 2004) ao estudar
a biodiversidade por meio de atividades interativas. O objetivo geral foi
compreender o significado global de biodiversidade para valorizar os or-
ganismos vivos das diversas origens e as relações que estabelecem entre si
e com o meio. Optamos por algumas escolhas metodológicas, sendo elas
de caráter qualitativo (BOAVENTURA, 2007; FLICK, 2008).
O projeto foi organizado em quatro partes. A primeira parte trata
sobre a importância de um tipo de aprendizagem que busca, na interação,
fortalecer o questionamento e a argumentação, sendo que esse processo
pode ocorrer sob perspectivas diferentes, tanto no que se refere ao edu-
car pela pesquisa (DEMO, 1998) quanto à concepção de aprendizagem
significativa (MOREIRA, 2009). Além disso, explicitaremos conceitos e
a relevância que o tema biodiversidade exerce na sociedade contemporâ-
nea. A segunda parte descreve sugestões de atividades a serem aplicadas
sobre o tema biodiversidade. Em etapa posterior, apresentamos o relato
sobre as atividades e as referentes considerações finais.
O que é biodiversidade?
Literalmente, biodiversidade se destina a toda e qualquer forma
de vida que habita o planeta Terra. Para definir em termos legais, o artigo
2 da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) considera biodiver-
sidade ou “diversidade biológica” como “a variabilidade de organismos vi-
vos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas
terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos eco-
lógicos de que fazem parte; compreendendo ainda a diversidade dentro
de espécies, entre espécies e de ecossistemas”.
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 101
freada da biodiversidade, e essa situação nos remete ao caos que precoce
e diretamente afeta a humanidade, eventualmente em um grau a partir
do qual não haverá retrocesso.
Biodiversidade urbana
O conceito de biodiversidade urbana tem ampliado a forma de
pensar os seres vivos. Quando descrevemos preservação ou conserva-
ção geralmente nos referimos às florestas, no entanto, existe uma série
de ecossistemas tão importante quanto ao de uma floresta tropical, por
exemplo. Esse conceito se deve ao fato de a espécie humana construir de
maneira desenfreada seu próprio ambiente, que de certa forma é apro-
veitado por outras espécies de seres vivos.
A concentração das atividades humanas com a ampliação das cons-
truções de bairros e vilas gera um desequilíbrio no ecossistema. O ciclo
de vida natural dos seres vivos, que se constitui de surgimento, clímax
e extinção, porém, leva milhões de anos para acontecer, é acelerado pe-
los efeitos da degradação da natureza. A perda da biodiversidade na área
urbana é devastadora, as cidades crescem em um ritmo que as espécies
não conseguem acompanhar. As espécies resistentes, podemos dizer pri-
vilegiadas, somente sobrevivem às concentrações urbanas devido a sua
adaptação biológica. Essas adaptações estão inter-relacionadas, em geral,
quanto ao alimento e local para reprodução, mas as cidades se tornam
ambiente decadente para muitas espécies. Exemplo disso são as plantas
que necessitam de um solo fértil e local para se desenvolver e de poli-
nizadores para perpetuar sua espécie. Pelo contrário, as gramíneas são
plantas de fácil adaptação, pois resistem à poluição e sobrevivem a solos
pobres em nutrientes. Similarmente às gramíneas, os pombos e ratos
possuem uma adaptação extraordinária aos centros urbanos, por serem
invasores e não possuírem predadores, além de alimentar-se de restos de
comida e lixo produzido pelo homem e terem capacidade de reprodução
muito alta. O mesmo acontece quanto ao crescimento populacional de
invertebrados, como baratas, mosquitos, piolhos, pulgas, cupins, traças
etc., de difícil controle.
A construção de conhecimentos:
caminhos alternativos
A interatividade é peça desencadeadora para a construção e re-
construção do conhecimento e, posteriormente, para que a educação
científica ocorra de forma significativa e expressiva. Partindo dessa con-
sideração, segundo Borges, Mancuso e Lima (2008), em um museu a
interatividade ocorre de forma criativa e contínua, e o conhecimento é
fundamentado na perspectiva da interação.
Questionamentos podem gerar investigações que contribuam na
formação do sujeito. Borges, Mancuso e Lima enfatizam que “trabalhos
interativos e participativos favorecem o desenvolvimento da inteligên-
cia, da autonomia, da criticidade” (p. 10). Dessa forma, experimentos
interativos podem constituírem-se como ferramentas importantes para
desenvolver competências que Borges, Lima e Imhoff (2009) consideram
necessárias para viver e compreender as mudanças de todas as ordens,
inclusive do ensino.
Seguindo por uma das muitas metodologias que buscam contri-
buir para a interação, optamos pelo ensino pela pesquisa, que visa in-
ter-relacionar conhecimentos e competências. Inicialmente motivados
pelos experimentos, os alunos devem construir e reconstruir argumen-
tos, ou seja, seus conhecimentos em bases consolidadas e científicas para
posteriormente apresentar análises relevantes sobre determinado assun-
to (BORGES; LIMA; IMHOFF, 2009).
Apresentando alguns argumentos sobre a importância do educar
pela pesquisa, partimos do entendimento, conforme Moraes (2004),
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 103
de que o educar pela pesquisa apresenta três momentos, sendo eles o
questionamento, a argumentação e a comunicação. Destacamos neste
momento o questionamento, uma vez que se apresenta como uma
forma de estimular a (re)construção do conhecimento, pois temos
valores e atitudes diante de todo e qualquer questionamento. Com
isso, enquanto professores, podemos sempre alcançar novos conheci-
mentos e nos tornarmos sujeitos participativos e críticos nos grupos
em que atuamos.
Para Galiazzi (2004), a pesquisa em sala de aula não está condi-
cionada a formalidades, metodologias ou formação do professor. O pro-
fessor deve apenas mediar as perguntas, as respostas e, principalmen-
te, estar consciente de que todo o processo deve basear-se no diálogo,
ou seja, deve mobilizar-se em um processo dialógico. Segundo Pacca e
Villani (1997, p. 5), tal processo apresenta-se como “a disponibilidade
para acompanhar de perto a atividade e o modo de pensar dos alunos,
avaliando e orientando a aprendizagem”.
O segundo momento da pesquisa é a argumentação, na qual os
sujeitos buscam as respostas para seus questionamentos e para os questio-
namentos dos demais que possuam ideias contrárias às suas. Isso envolve
leitura, releitura e escrita, registrando assim um processo de construção
de conhecimentos. Em articulação a esse argumento, Grillo (2006) des-
taca que a “pesquisa em sala de aula é a construção de argumentos, de no-
vas sínteses resultantes do envolvimento e de reflexões dos participantes
que, gradativamente, vão constituindo uma nova verdade” (p. 19).
Finalizando o processo da pesquisa, o terceiro momento é a comu-
nicação, espaço em que o movimento se consolida de forma construtiva,
pois, após as etapas anteriores, o sujeito possivelmente tenha adquirido
habilidades de questionar, argumentar, criticar, expressar e comunicar
suas ideias de maneira autônoma. Assim, a pesquisa em sala de aula é
fundamental para a aprendizagem autônoma e crítica (MORAES, 2004).
Podemos perceber esse processo de conhecimento e interativida-
de sob outra perspectiva: a aprendizagem significativa, processo no qual
os conceitos já existentes auxiliam e se relacionam na aprendizagem de
novos conceitos:
Metodologia de pesquisa
No primeiro momento, discutimos e justificamos a metodologia
adotada para o projeto baseando-nos em pesquisadores como Boaventura
(2004) e Flick (2008), que apresentam um amplo conjunto de conheci-
mentos sobre o tema. Para Boaventura (2004), a pesquisa qualitativa nas
ciências sociais e, principalmente, no campo da educação é uma meto-
dologia em que os pesquisadores examinam as informações coletadas de
maneira indutiva, os dados podem ser explorados nos seus pormenores,
extraindo significados que podem ser significativos para a pesquisa. Dessa
forma, a pesquisa descritiva1 auxilia para que o processo absorva todos os
significados possíveis.
Partindo desse enfoque, Flick (2008) também considera que a
pesquisa qualitativa é uma das fontes que buscam pluralizar uma deter-
1
Boaventura (2004) afirma que a pesquisa descritiva identifica as características existentes em
uma determinada população ou fenômeno.
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 105
minada situação dos seus diversos contextos, sejam eles culturais, eco-
nômicos, sociais, ambientais, dentre outros. Entretanto, o autor ressalta
que o pesquisador não deve se afastar dos princípios norteadores que
estabeleceu para a pesquisa. A partir dessas considerações, Flick (2008)
enfatiza que a pesquisa qualitativa “é orientada para a análise de casos
concretos em sua particularidade temporal e local, partindo das expres-
sões e atividades das pessoas em contextos locais” (p. 28).
Partindo desses pressupostos sobre a pesquisa qualitativa, em
um segundo momento, exploramos as informações coletadas que se
remetem aos conhecimentos dos sujeitos por meio da Análise Textual
Discursiva (MORAES; GALIAZZI, 2007). Essa configuração de análise
“corresponde a uma metodologia de dados e informações da natureza
qualitativa com a finalidade de produzir novas compreensões sobre os
fenômenos e discursos” (p. 7). Como pontos estruturais para essa análise,
situamo-nos nos quatro focos que Moraes e Galiazzi (2008) nomeiam
como a desmontagem dos textos, o estabelecimento de relações, a cap-
tura do novo emergente e o processo auto-organizado (p. 11-12).
O primeiro foco, desmontagem dos textos2, tem como princípio
fragmentar e examinar o material de análise, textos provenientes de
entrevistas e/ou observações, atribuindo significados para os mesmos
e, posteriormente, construir “unidades de sentidos” (p. 11), ou como
nomeiam os autores, unitarizar. Já no segundo foco, Moraes e Galiazzi
(2008) encaminham para o que chamam de “categorização” (p. 12), que
consiste em construir e classificar as unitarizações elaboradas anterior-
mente em uma classe mais ampla de categorias, o que irá resultar em
um “sistema de categorias” (p. 12). O foco que capta o novo emergente,
conforme Moraes e Galiazzi (2008), é responsável pela compreensão
dos passos anteriores, em que o resultado é a elaboração de metatex-
tos que “são constituídos de descrição e interpretação, representando
o conjunto um modo de teorização sobre os fenômenos investigados”
(p. 32). O último foco, processo auto-organizado, é caracterizado, con-
2
Unitarização (p. 11), segundo Moraes e Galiazzi (2008), apresenta-se como um sinônimo para
o termo “desmontagem dos textos”.
3
Por esses motivos, também solicitamos e obtivemos, por meio deste projeto, a isenção de
pagamento do ingresso pelos alunos da referida escola.
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 107
Atividades realizadas
1ª semana
Foi exibido um filme sobre biodiversidade com a intenção de des-
pertar o interesse dos alunos. Após, os alunos responderam a um questio-
nário para identificação de saberes prévios, conforme Quadro 1, a seguir.
ESCOLA:_________________________________________________________
DISCIPLINA:_________________________PROFESSOR:___________________
ALUNO:_________________________________________________________
TURMA:__________DATA:_____/_____/______
ESCOLA:___________________________________________________________
DISCIPLINA:_______________________PROFESSOR:______________________
ALUNOS (até 4 integrantes):_____________________________________________
TURMA:__________________________DATA:_____/_____/______
3ª semana
Na sequência do projeto, em sala de aula, ocorreu a socialização
sobre a experiência da visita ao museu e a interação entre os experi-
mentos sugeridos e observados. Cada grupo ficou responsável por uma
diferente técnica de comunicação da pesquisa. Como sugestões, citamos:
confecção de um jornal, painel de fotos, construção de maquete, apre-
sentação de slides em data show, apresentação de seminário e confecção e
distribuição na comunidade escolar de fôlderes. No momento seguinte,
realizou-se um passeio local onde os alunos observaram, anotaram e re-
gistraram imagens da biodiversidade.
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 109
4ª semana
No material elaborado pelos grupos, foi sugerido pelo professor
que constassem informações sobre a biodiversidade que foi observada:
1. Em relação a cada animal observado, descreva:
• Nome popular
• Nome científico
• Classe
• Filo
2. Em relação a cada planta observada, classifique:
• Briófitas
• Pteridófitas
• Gimnospermas
• Angiospermas
Cabe salientar que nesse material os alunos inseriram outras in-
formações sobre a biodiversidade observada, usando sua criatividade
para a elaboração do mesmo.
5ª semana
A finalização do projeto ocorreu com a apresentação dos grupos
e suas respectivas técnicas, primeiramente, em sala de aula, onde foram
discutidos e avaliados tanto a atividade como os conhecimentos cons-
truídos. Posteriormente, os grupos apresentaram sua investigação para a
comunidade escolar.
REFERÊNCIAS
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BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Ano Internacional do Meio Ambiente.
Disponível em: http://www.jornalismocientifico.com.br/jornalismocientifico/
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BOAVENTURA, Edivaldo M. Metodologia da pesquisa: monografia, dissertação, tese.
São Paulo: Atlas, 2007.
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PACCA, Jesuína Lopes de Almeida; VILLANI, Alberto. A competência dialógica do
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Anais... Disponível em: < http://www.anped.org.br/reuniões/31/gt07/> Acesso
em: 17 set. 2010.
SANTOS, Antônio Silveira Ribeiro. A biodiversidade: conceito e importância.
Disponível em: http://www.aultimaarcadenoe.com/artigo40.htm. Acesso em: 17
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WORLD WILDLIFE FUND. O que é biodiversidade: quantas espécies existem no
mundo. Disponível em: http://www.wwf.org.br/informacoes/questoes_ambien-
tais/biodiversidade/ Acesso em: 17 set. 2010.
113
Os professores das disciplinas de matemática, artes e ciências adap-
taram a ideia para construção de uma vila ecológica para trabalhar com as
crianças da 5ª série, pois a comunidade onde está inserida a escola é atra-
vessada pelo arroio Feijó. Esse curso d’água, quando chove, transborda e
alaga as casas de quase todos os moradores laterais ao arroio. Isso acontece
porque muitos moradores, com pequena consciência ecológica, colocam o
lixo produzido por eles dentro do arroio, então quando chove, esse tem seu
fluxo obstruído e devolve o lixo a seus antigos donos, causando transtornos
a toda a comunidade, pois em algumas ruas não é possível trafegar nem de
automóvel. Perante isso, como nós educadores podemos não trabalhar a
educação ambiental? Esse tema se faz necessário, conforme Effting, pois
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 115
3 – O lixo é um problema para uns e solução para outros, con-
forme o que fazemos com ele. Como é feita a separação do lixo? Como
podemos reutilizá-lo?
4 – Numa casa ecologicamente correta, quantos coletores de lixo
devem existir, no mínimo?
5 – Como podemos aproveitar a energia solar? Pesquise como
funcionam e quais são os equipamentos necessários para sua utilização?
6 – Sobre o aquecimento de água pelo sistema de energia solar,
qual a sua importância?
7 – Como funciona a energia eólica? Descreva alguns desses equi-
pamentos?
8 – Onde existe energia eólica que abastece cidades aqui no Rio
Grande do Sul?
9 – Qual a importância do abastecimento de energia elétrica pro-
veniente da energia eólica? Pesquise como funciona e o equipamento ne-
cessário para utilização?
1
Sites sobre temas ecológicos: http://www.bio-arquitectura.net/; http://www.ecocasa.
org; http://www.abcdaenergia.com; http://www.p3e-portugal.com; http://www.unep. org/;
http://tironenunes.pt/; http://www.casema.pt; http://www.usgbc.org; http://www.climate-
change.eu.com; http://www.rusticasa.com; http://ambientudo.no.sapo.pt; http://www.quer-
cus.pt/; http://www.greenpeace.org/portugal/; http://www.edprenovaveis.com/; http://
www.eco.edp. pt/; http://www.biohabitat.pt/.
1º passo: Montar a casinha unindo duas caixas de sabão em pó, com a cola quente.
Retalhos de papel colorido foram utilizados para encapar a caixa. Após, com o papelão
foi desenhado o telhado da casa e, em seguida, também encapado com a cola quente
e fixado sobre a casa, as portas e janelas foram feitas com retalhos de papéis fixados
também com cola quente.
2º Passo: A cisterna foi feita a partir de uma garrafa PET de 3l. Cortamos a parte superior
da garrafa e tiramos o bico, pintando-a com a cor de preferência dos alunos.
3º Passo: A caixa-d’água foi feita com garrafa PET de 600 ml, cortada pela metade,
aproximadamente. Pintamos com spray prata para dar a impressão de metal, bem como o
suporte da caixa, que foi feito com palitos de picolé.
4º Passo: O sistema de aquecimento, que foi colocado em cima do telhado, foi feito
com uma caixa de chá, pintada de preto. Com barbante (também preto) simulamos um
sistema de aquecimento de forma circular. Os barbantes pretos representam os canos
onde a água irá passar.
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 117
A terceira etapa do trabalho consistiu na montagem e exposição
da vila ecológica. Nessa parte, os alunos posicionaram suas casinhas uma
ao lado da outra, sobre mesas, e deram os últimos retoques, construíram
postes representando a luz elétrica, colocaram os cataventos, imitando
a energia eólica, e fizeram hortas comunitárias. Eles não esqueceram os
comércios locais, a escola, o hospital, as praças e até carros surgiram,
para incrementar seus trabalhos.
A professora Claudia Drese (de ciências) e a professora Clair (de
matemática e artes) concluíram com esse trabalho que nossos alunos
querem um mundo melhor para eles, pois sua vila ecológica era orga-
nizada, embelezada e respeitava o meio ambiente. Eles aplicaram o co-
nhecimento adquirido por meio da pesquisa para resolver os problemas
de sua vila ecológica. Para nós, nossos objetivos foram alcançados, pois
conseguimos orientar nossos alunos e conscientizar sobre o uso de re-
cursos naturais. Acreditamos que essa proposta pedagógica possa servir
como modelo de trabalho para professores que visitam a exposição sobre
energia e a casa genial no Museu de Ciências e Tecnologia da PUCRS.
REFERÊNCIAS
EFFTING, Tânia Regina. Educação ambiental nas escolas públicas: realidade e desa-
fios. Marechal Cândido Rondon, 2007. Monografia (Pós-Graduação Lato Sensu em
Planejamento para o Desenvolvimento Sustentável), Centro de Ciências Agrárias,
Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus de Marechal Cândido
Rondon, 2007.
PÁDUA, Elisabete Matallo Marchesini de. Metodologia da pesquisa: abordagem teóri-
ca-prática. Campinas: Papirus, 1996.
UNESCO. 2005. Unesco and sustainable development. Paris; Unesco.
119
ações cotidianas. A visita ao MCT possibilitou o contato com materiais
concretos que auxiliaram na aprendizagem dos conceitos.
A presente proposta justifica-se na medida em que se têm en-
contrado com frequência discussões acadêmicas sobre o ensino de ma-
temática, oriundas muitas vezes dos resultados não satisfatórios dos es-
tudantes brasileiros em testes propostos para avaliação da aprendizagem,
como o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e as Olimpíadas de
Matemática, especialmente em geometria.
Fundamentação teórica
A geometria aparece como uma área na qual são encontradas
grandes dificuldades, refletindo posturas da sala de aula e uma ênfase
maior ao estudo da álgebra (DANTE, 1985, p. 35). “Os alunos de ge-
ometria deveriam aprender como os conceitos e ideias desta disciplina
aplicam-se em vasta gama e feitos humanos – na ciência, na arte, entre
outros” (NASCIMENTO, 2004). Contribui a essa abordagem o estudo
da história da matemática, para aproveitar o fascínio que esse ramo da
matemática exerce sobre o ser humano. Além disso, o contato com ex-
perimentos interativos aproxima os conceitos matemáticos abstratos da
realidade em que são aplicados.
Os triângulos retângulos de lados 3, 4 e 5 são alvo de interesse da
humanidade há muitos séculos. “Um terno de números inteiros como (3,
4, 5), cujos termos são lados de um triângulo retângulo, é chamado terno
pitagórico” (EVES, 2004, p. 86). Se os números que compõem o terno
são primos entre si, então os ternos são chamados de primitivos, como
é o caso do terno 3, 4, 5. Eves (2004) nos mostra como vários desses
ternos primitivos foram descritos em uma tábula matemática babilônica
denominada Plimpton 322, que se encontra na coleção G.A. Plimpton,
da Universidade de Colúmbia. Outra indicação da antiguidade desse co-
nhecimento aparece em documentos antigos da Índia: “bem antes da era
Cristã, sabia-se que os triângulos 3, 4, 5 ou 5, 12, 13, ou 12, 35, 37
são retângulos” (ROSA, 2004, p. 164). O povo que utilizava sistemati-
camente tais conhecimentos era o egípcio, cujo sistema de demarcação
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 121
que a aprendizagem seja significativa, torna-se necessário relacionar o
conteúdo a ser ensinado com a realidade na qual está inserido o alu-
no. Assim, evita-se o ensino tradicional caracterizado por aprendizagens
repetitivas e memorizações, muito presente ainda atualmente. Para
Ausubel, o fator mais influente para uma aprendizagem significativa é
aquilo que o aprendiz já sabe, aconselhando que os professores criem
situações didáticas com a finalidade de descobrir esses conhecimentos.
Esses conhecimentos referem-se a um dos conceitos ausubelianos mais
conhecidos, os organizadores prévios, os quais servem de âncora para a
nova aprendizagem e desenvolvem conceitos subsunçores que facilitam a
aprendizagem subsequente (MOREIRA; MASINI, 1982).
Para ampliar o conhecimento sobre o Teorema de Pitágoras, é in-
teressante a metodologia do educar pela pesquisa. A pesquisa na sala de
aula envolve os sujeitos, professor e alunos, num processo de “questio-
namento do discurso, das verdades implícitas e explícitas nas formações
discursivas, propiciando a partir disso a construção de argumentos que
levem a novas verdades” (MORAES et al., 2004a, p. 10). Essa concepção
está vinculada a uma visão de ciência como construção humana e em
permanente evolução. Assim, sendo a pesquisa uma forma de aprender,
ela precisa estar inserida na escola, ou melhor, a escola precisa se trans-
formar em um espaço de pesquisa (GALIAZZI, 2005, p. 19).
Essas proposições teóricas estavam presentes na fase preparatória
de visita ao museu, sendo apresentadas em sala de aula com o objetivo de
ampliar a discussão e possibilitar o embasamento dos estudos que com-
põem o roteiro de visitação, na forma de uma gincana matemática.
Metodologia
A proposta foi aplicada em uma turma de terceiro ano do
Ensino Médio, com 15 alunos, de uma escola privada localizada no
interior do Rio Grande do Sul, acompanhados sistematicamente ao
longo do processo. As atividades propostas seguiram um roteiro de
estudos contendo vários passos, desde entrevistas com pessoas que
utilizam a geometria em seu trabalho, perpassando estudos em sala
Antes da visita
Como parte integrante da fase preparatória da visita ao MCT/
PUCRS, os alunos observaram, dentro de sua realidade, as aplicações
da geometria plana na construção civil. Foram orientados a observar
e trazer exemplos para a sala de aula, como: plantas baixas de imóveis,
aberturas (portas e janelas), diversos tipos de revestimento e piso (la-
jotas, tábuas, azulejos), o uso dos triângulos na produção de tesouras
e treliças e o esquadro de obra – oriundo do triângulo pitagórico de
proporção 3, 4 e 5.
Após uma breve explanação sobre o teorema de Pitágoras e as
relações da geometria plana com as construções, o professor solicitou
aos alunos que fizessem entrevistas com pedreiros, carpinteiros, enfim,
profissionais da construção civil, sobre onde eles utilizam a geometria
plana, se conhecem a proporção 3, 4 e 5, entre outras questões que os
alunos queiram saber em relação à construção e à geometria.
Uma das vantagens dessa atividade é a possibilidade de que todos
os alunos possam realizar o levantamento de dados no meio em que resi-
dem ou trabalham, tornando viável a discussão comparativa entre os di-
versos tipos de construção, que vão desde barracos e palafitas, nas locali-
dades marginalizadas, até os grandes condomínios e shoppings destinados
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 123
à residência e ao consumo das classes mais abastadas, abrindo espaço para
a comparação entre os serviços nas localidades e a discussão da cidadania
e direitos que lhe são inerentes.
Foi discutida a história da matemática, com abordagem da con-
tribuição dos gregos com ênfase nas viagens de Pitágoras ao Egito e o
contato do matemático com a forma de medição por meio do triângu-
lo retângulo composto de uma corda com 12 nós, de lados 3, 4 e 5.
Discutiram-se também as relações entre seus lados e a posterior gene-
ralização, realizada por Pitágoras e seus discípulos, dessas relações para
qualquer triângulo retângulo.
Após essa abordagem referente ao conteúdo, todos apresentaram
suas considerações sobre as entrevistas, o conteúdo, o que aprenderam,
para que o professor pudesse analisar quais foram os conhecimentos cons-
truídos pelos alunos nessa primeira caminhada. A seguir foi encaminhado
o roteiro de visita ao museu, em forma de gincana, na qual cada tarefa
desempenhada valia pontos, sendo ao final conhecida a equipe campeã.
Tarefas da gincana
a realizar em sala de aula
Cada grupo teve os desafios especificados, sendo corrigidos por
outro grupo no museu. Quanto à pontuação, cada resposta certa valeu
100 pontos.
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 125
do professor nessas aulas é fundamental para que a atividade seja realiza-
da conforme foi solicitada, como também para, posteriormente, avaliar a
participação dos alunos nas atividades propostas.
O objetivo do relatório escrito e da apresentação, que poderá ser
feita utilizando recursos computacionais ou cartazes, é comunicar e vali-
dar os resultados que os grupos encontraram para as questões propostas
na gincana. Por meio da apresentação, o professor e os demais grupos po-
derão dar sugestões e fazer críticas construtivas para eventuais dificulda-
des encontradas na resolução das atividades. Durante essa apresentação, é
importante que o professor provoque questionamentos que possibilitem
a conexão entre as três etapas dessa proposta de trabalho. O objetivo
é que o novo conhecimento se conecte aos conhecimentos prévios dos
alunos, propiciando sua ampliação.
O relatório deverá ser entregue ao professor para avaliação. Se
algum grupo confeccionar cartazes, estes serão expostos em murais
da escola. Numa aula posterior às apresentações, será realizada uma
avaliação individual sobre o conteúdo que foi trabalhado durante a pro-
posta de integração entre o museu e a escola. Portanto, a avaliação do
conteúdo envolve a participação, criatividade, escrita e capacidade de
resolver problemas.
Resultados parciais
Os conhecimentos prévios foram identificados a partir da pergun-
ta: “Para que utilizamos o Teorema de Pitágoras?” A seguir, as respostas a
essa questão foram reunidas em três categorias: conhecimentos sobre a
história do Teorema de Pitágoras, suas aplicações e sua definição.
A partir da discussão das respostas sobre a história do Teorema
de Pitágoras, o conhecimento pode ser ampliado, propondo aos alunos
como Pitágoras generalizou esse caso particular da corda de 12 nós e
encontrou a fórmula hoje tão conhecida. As orientações curriculares para
o Ensino Médio propõem que sejam retomados conteúdos do Ensino
Fundamental, pois “é o momento de consolidar certos conceitos e ideias
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 127
Considerações finais
Os objetivos propostos para a primeira etapa desse trabalho foram
atingidos. Os conhecimentos prévios dos alunos foram identificados e
eles buscaram informações relacionadas ao Teorema de Pitágoras e suas
aplicações por meio de entrevistas. Os alunos empenharam-se para ela-
borar questões e consideraram que a atividade foi prazerosa, pois intera-
giram com pessoas fora do ambiente escolar.
Na visita ao MCT, as atividades propostas na gincana possibilita-
ram a construção do conhecimento, por meio da interação dos alunos
com os experimentos. Para finalizar, a atividade após a visita vem ao en-
contro do que é proposto na última etapa do educar pela pesquisa, a
comunicação e validação do conhecimento.
REFERÊNCIAS
ÁVILA, G. Alexandria e a biblioteca. Revista do professor de matemática. São Paulo, n.
62, 2007, p. 1-7.
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 129
10
Abordagem Interdisciplinar
de Matemática e Física em
Visita ao MCT/PUCRS
131
A integração entre disciplinas na escola também tem por objetivo me-
lhorar o ensino e promover uma visão do conhecimento científico que
favoreça o exercício da cidadania.
O objetivo principal da visita foi promover uma aprendizagem
significativa. Para isso foram identificados os conhecimentos prévios dos
estudantes, mediante o uso de um questionário com questões abertas
sobre saberes relacionados com artefatos presentes no museu. Nas ativi-
dades das aulas de matemática e de física que aconteceram na escola com
os períodos de aula unificados, as respostas sobre as questões foram utili-
zadas para construir argumentos para melhor compreensão da realidade.
Fundamentação teórica
Ao longo do trabalho foram seguidos os princípios do educar pela
pesquisa (DEMO, 2007), que abrangem três fases: questionamento, re-
construção de argumentos e comunicação. Durante a visita no museu,
os estudantes tiveram por objetivo, além da visitação, a interatividade
com alguns artefatos que auxiliam a compreensão dos saberes questiona-
dos, integrando conteúdos de matemática e física, bem como uma tarefa
imediata de registro. Essas experiências serviram para a construção dos
trabalhos na sala de aula.
A falta de contextualização das disciplinas é um problema que
ainda se enfrenta na educação. Os Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs) (BRASIL, 1999) orientam as escolas quanto à elaboração de seus
planos de estudo e dos objetivos que deverão ser atingidos com a sua
aplicação e sugerem alternativas para que se possa mudar a rotina de sala
de aula, tornando o aluno sujeito ativo de sua aprendizagem. Para isso, é
importante considerar os conhecimentos prévios dos alunos, utilizando a
contextualização para tornar a aprendizagem significativa.
Moreira (2006) refere-se à aprendizagem significativa teorizada
por Ausubel, ao afirmar que é um processo por meio do qual uma nova
informação relaciona-se com um aspecto relevante da estrutura do co-
nhecimento do aluno. Sendo assim, o processo envolve a interação dessa
nova informação com uma estrutura específica de conhecimento, defi-
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 133
realidade e trabalha todas as linguagens necessárias para a consti-
tuição de conhecimento, comunicação e negociação de significa-
dos e registro sistemático de resultados (BRASIL, 1998, p. 89).
Metodologia
Foi envolvida uma turma de 31 alunos do 2º ano do Ensino Médio
de uma escola pública estadual nesse trabalho interdisciplinar entre os
componentes curriculares de física e matemática. Num primeiro mo-
mento, para identificação dos seus conhecimentos prévios, os alunos res-
ponderam um questionário com cinco questões abertas. Após a análise
das respostas, foi realizada uma visita ao MCT/PUCRS.
Todos os alunos compareceram e estavam ansiosos pela visita. A
turma foi dividida em seis grupos de cinco alunos, sendo que um grupo
precisou ficar com seis integrantes. Estavam presentes também o profes-
sor de física e a professora de matemática que, juntos, elaboraram um
roteiro de visitação, após visita prévia ao museu. O roteiro apresentava
algumas questões que deveriam ser respondidas pelos grupos, mediante
análise detalhada dos experimentos.
Os alunos teriam que visitar alguns experimentos escolhidos em
função do currículo de física, pois se relacionavam com os conteúdos
que já haviam sido, estavam sendo ou ainda seriam desenvolvidos nas
aulas de física. Cada grupo teria que visitar todos os experimentos do
roteiro e, depois disso, escolher apenas um deles. Com o experimento
já escolhido, deveriam colher dados para responderem às questões soli-
citadas pelos professores.
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 135
Considerações finais
Ações pedagógicas que consideram a representação de como os
estudantes compreendem o mundo são potentes, porque com a riqueza
de informações registradas o professor pode construir argumentos que
reorientem entendimentos inadequados. Esse trabalho analisou questões
abertas de um questionário que aborda questões práticas do dia a dia e
que possuem explicações científicas em que a escola em seus currícu-
los costuma estudar, procurando analisar a relação entre o interesse e a
aprendizagem dos estudantes de 2º ano do Ensino Médio quanto aos con-
teúdos de matemática e física, com experimentos expostos num museu
de ciências e tecnologia.
Mediante a análise dos dados dos conhecimentos prévios, pode-se
afirmar inicialmente que os alunos questionados relacionam conceitos
científicos com pouca apropriação, pois seus significados são colocados
em contextos diferentes dos que eles representam.
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 137
11
Sociedade,
Energia e Ciência
Histórico do MCT/PUCRS
O museu teve origem, desenvolvimento e continuidade no traba-
lho de Jeter Jorge Bertoletti, que foi seu diretor até 2007, por 40 anos:
em 04 de julho de 1967, a partir de coleções organizadas por ele, foi
inaugurado o primeiro Museu de Ciências da PUCRS (BORGES, 2008;
MANCUSO, 2008; LIMA, 2008).
O atual Museu de Ciências e Tecnologia (MCT/PUCRS) foi inau-
gurado em 14 de dezembro de 1998 e apresenta como principais objeti-
vos disseminar conhecimentos sobre ciência e tecnologia, participar ati-
139
vamente no processo de educação em todos os níveis e atuar na pesquisa
científica sobre biodiversidade, paleontologia, arqueologia e conserva-
ção. Com uma área de exposição pública permanente de mais de dez mil
metros quadrados, onde cerca de setecentos equipamentos interativos
estão expostos para visitação diária, o museu apresenta ainda exposições
temáticas de nosso cotidiano, abordando questões atuais da sociedade.
Uma equipe especializada fornece apoio pedagógico para profes-
sores de todos os níveis de ensino, a fim de que a visitação ao museu seja
um momento rico e intenso de aprendizagem. Ao mesmo tempo, a in-
teratividade dos experimentos torna as atividades lúdicas e estimulantes,
despertando o interesse pelo conhecimento.
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 141
cas capazes de possibilitar-lhe uma vida mais plena em um mun-
do dominado pela ciência e tecnologia (MORAES, 1999, p. 1).
Proposta da atividade
Este roteiro propõe uma atividade para ser realizada primeira-
mente na escola. O objetivo é abordar a temática Energia de forma con-
textualizada, divertida, interativa e que desperte curiosidade no aluno.
Sugerem-se diferentes alternativas para iniciar o trabalho, a fim de inves-
tigar as concepções prévias dos alunos nessa temática:
• O professor pode iniciar uma atividade na aula de educação
física com a proposta de um circuito de exercícios físicos,
com a finalidade de interligar energia e atividade física. Após
as atividades físicas, o professor deve discutir com os alunos
as concepções sobre o tema e propor que eles construam
cartazes, desenhos, textos curtos (entre 10 e 15 linhas), ex-
pressando essas concepções.
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 143
• O professor pode iniciar a atividade apresentando o vídeo Energia
Fundamental – Geografia – Aula 17 (Novo Telecurso). Após o vídeo,
o professor pode discutir com os alunos as concepções sobre o
tema, propondo que eles construam cartazes, desenhos, textos
curtos (entre 10 e 15 linhas), expressando essas concepções.
• Outra proposta seria iniciar a atividade usando as duas op-
ções anteriores (vídeo e atividades físicas).
A próxima atividade pode ser realizada dentro do Museu de
Ciências e Tecnologia (MCT/PUCRS). É importante que antes de vi-
sitar o local o professor faça uma preparação dos seus alunos quanto às
regras de conduta dentro do MCT. No projeto aqui apresentado, a ati-
vidade no MCT consiste na proposta de uma missão, sobre a qual os alu-
nos receberão pistas/tarefas (Apêndice A) a serem cumpridas em etapas.
Inicialmente, o representante receberá a primeira pista do professor, a
qual levará ao grupo. Após a execução da atividade orientada pela pista, o
representante retornará ao professor, entregando as respostas elaboradas
e recebendo a segunda pista, e assim por diante, até o desafio final. O
professor deverá entregar um roteiro para cada grupo (Quadro 1).
Você foi o escolhido para fazer parte da missão Redescobrindo a Energia, Ciência e Sociedade.
Siga as pistas e encontre suas respostas. Lembre-se: você ainda tem o Mezanino da
Comunicação, cujos computadores podem lhe auxiliar numa pesquisa mais aprofundada.
Mãos à obra!
Parabéns! Vocês concluíram a missão com sucesso e conheceram um pouco mais sobre
a energia e a sua influência na nossa vida. Agora, desenvolvam em conjunto o trabalho a
seguir, baseando-se numa pesquisa extraclasse e na atividade desenvolvida no Museu.
A cidade de Bagé/RS precisa reestruturar seu sistema energético porque está se
expandindo. A companhia elétrica não consegue suprir a demanda energética. Seu grupo
foi convocado para criar um projeto de sustentabilidade energética para a cidade. Como
seu grupo conhece sobre energia, escolha a fonte mais viável para sanar a dificuldade dessa
cidade. Argumente a escolha do grupo considerando vantagens e desvantagens.
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 145
Considerações finais
No retorno às aulas, haverá discussão dos questionamentos pro-
postos no roteiro e espaço para que sejam feitas perguntas e emitidas
opiniões. Deverá também ser apresentado o desafio final, cujo objetivo é
pesquisar uma fonte de energia para reestruturar o sistema energético da
cidade de Bagé/RS. O grupo deve argumentar a escolha considerando as
vantagens e desvantagens.
Portanto, a proposta da visita é que os alunos busquem, investi-
guem, estejam em contato com experimentos e atividades para que pos-
sam construir e reconstruir conhecimentos, constituindo essa uma forma
de desenvolver a construção argumentativa individual e coletiva, além de
formular e elaborar textos próprios, desenvolvendo autonomia crítica e
criativa na linha do educar pela pesquisa (DEMO, 2007).
REFERÊNCIAS
BORGES, R. M. R. et al. (Org.) Museu interativo: fonte de inspiração para escola, 2.
ed. rev. ampl. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Parte III: Ciências
da natureza, matemática e suas tecnologias. Brasília: Ministério da Educação e
Cultura, 2000.
DEMO, P. Educar pela pesquisa. 8. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2007.
______. Ensino e aprendizagem: enfoques teóricos. 3. ed. São Paulo: Moraes, 1983.
http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/fisica/article/viewFile/7812/7189.
Acesso em: 06 abr. 2009.
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 147
12
Estudo de
Micro-Organismos por
meio da Interatividade
149
Hóspedes Invisíveis, que representa alguns cômodos de uma casa e, com
um efeito de luzes ultravioleta e imagens, indica os lugares usualmente
contaminados por micro-organismos nesses cômodos. Os dioramas de
ecossistemas também despertam interesse, todavia, a representação de
biomas possui apenas identificação de seres vivos visíveis a olho nu. Uma
comparação entre os dois experimentos permite discussões a respeito
da importância de cultivar hábitos de higiene e limpeza com os alunos
e, principalmente, estabelecer paralelos sobre os nichos ecológicos dos
micro-organismos nos ecossistemas.
Uma visita ao MCT/PUCRS pode levar a aprendizagens consis-
tentes por meio da interatividade, que desperta o interesse dos alunos,
mas diversos fatores podem torná-la inviável. Dessa forma, a proposição
de atividades pedagógicas que tragam as exposições até a escola é uma
alternativa pedagógica a ser considerada. O trabalho concentrou-se nos
temas relacionados à limpeza, higiene e saúde. Para a abordagem ecológi-
ca, foram propostas atividades lúdicas relacionadas ao conceito de cadeia
alimentar. As atividades didáticas foram acompanhadas por discussões
sobre ambos os temas, debatendo sobre a função dos micro-organismos
nos ecossistemas, o reconhecimento de que os cômodos de nossas casas
são microecossistemas onde ocorre a decomposição de matéria orgânica
e o estabelecimento de relações entre essa característica científica e as
práticas e hábitos desenvolvidos na sociedade sobre limpeza, odores e
utilidade dos seres vivos.
Interatividade,
aprendizagem significativa e EJA
A proposta de uma aula de ciências interativa, apoiada em ex-
perimentações, tem surgido nos meios educacionais em contraponto ao
ensino liberal-tradicional no qual os alunos desenvolvem uma aprendi-
zagem mecanizada, cujo objetivo é a reprodução de conceitos idênticos
aos que lhes deram origem. Tavares (2008) critica essa forma de ensino
ao afirmar: “Nesse caso não existiu um entendimento da estrutura da
informação que lhe foi apresentada, e o aluno não conseguirá transferir o
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 151
educação regular nos Ensinos Fundamental e Médio. Na EJA geralmen-
te os alunos participam efetivamente do mercado de trabalho, trazendo
para a sala de aula experiências enriquecedoras e dúvidas cotidianas que
surgem ao longo do exercício da cidadania.
Para Fraga (2010), cabe ao professor, conhecendo essa realidade,
promover a integração entre as experiências de vida dos alunos e seus
conhecimentos prévios, tornando o conteúdo mais flexível, contemplan-
do os interesses de todas as faixas etárias. Assim, é possível abordar dife-
rentes temas auxiliando os alunos na compreensão da realidade na qual
estão inseridos.
Quando o conteúdo abordado relaciona-se à realidade do aluno
de EJA, oportuniza-se o aprendizado e o processo deixa de ser algo in-
compreensível e distante do aluno. Aproximar o jovem e o adulto do
conteúdo, conferindo sentido e significação ao aprendizado, faz com que
esse se torne mais aplicável e interessante para a vida de cada educando.
Segundo Moraes (1997):
Modo de preparo
Dissolver a gelatina incolor na água, conforme instruções do pa-
cote. Misturar ao caldo de carne. O meio preparado foi distribuído em
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 153
pequenos copos descartáveis, cobertos com filme plástico para transpor-
te e entregue aos alunos para que colocassem em locais específicos de
suas casas e trouxessem de volta em uma semana.
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 155
de casa descontaminada? Sobre esse tema, Sa sintetiza as conclusões do
grupo a respeito de cheiro agradável, limpeza e descontaminação do am-
biente ao escrever que uma casa limpa com cheiro bom não quer dizer que está
livre de contaminação, pois está cheia de micro-organismos. E que os produtos
que são mais caros nem sempre são os melhores. Por outro lado, Si relaciona o
odor desagradável ao processo de decomposição, outro aspecto discutido
durante as aulas:
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 157
Sétima aula – Confecção, análise
e utilização das cartas de ecossistemas
Devido ao pouco tempo disponível, a elaboração inicial do baralho
foi executada pelas professoras, e três folhas contendo as ilustrações de
seres vivos que participam de diferentes ecossistemas foram entregues aos
educandos para que identificassem os níveis tróficos de cada elemento.
Quando se propôs que jogassem como um supertrunfo, não con-
cordaram, alegando que esse jogo é para crianças, e preferiam jogar Uno.
O grupo concordou com a solicitação e foi proposta, como segunda va-
riável, a classificação taxonômica dos indivíduos representados, uma vez
que esse jogo considera duas variáveis para a execução. Dessa forma, dois
tipos diferentes de categorização foram desenvolvidos: o nível trófico,
em que o elemento mais poderoso é o decompositor e o menos valioso é
o produtor; e o nível taxonômico, cuja complexidade morfofisiológica
define quais os mais fortes.
Enquanto jogavam, dispostos em pequenos grupos, chamavam a
professora para esclarecer dúvidas que surgiam:
Si: Professora, não vai me dizer que esse sirizinho aqui vai ganhar do meu
tubarão!
Br: Se todos são decompositores, quem ganha?
Professora: Qual o mais complexo?
Le: o fungo...
As: Ganhei!
As palavras de Mc, quando terminou o período, descrevem a efi-
cácia dessa atividade: Professora, essas cartinhas são ótimas, entendi um monte
de coisa das aulas.
Considerações finais
O trabalho interativo e lúdico proposto em aula permitiu o en-
volvimento efetivo dos educandos e a consequente aprendizagem. Ao se
considerar suas vivências individuais, propondo que discutissem expe-
riências e concepções a respeito do tema, se tornou possível aprimorar
as relações educacionais, promovendo uma aprendizagem que levasse a
reconsiderações de suas práticas cotidianas quanto à higiene, saúde e co-
nhecimentos ambientais/ecológicos sustentáveis.
Em qualquer disciplina, em qualquer série e em qualquer nível
pedagógico é importante incentivar o aluno a assumir a construção do
seu conhecimento, não somente pela aprendizagem do conteúdo, mas
também pela interação com seus colegas. Na interatividade, pode-se per-
ceber a colaboração e a ajuda interpessoal, o que contribui para a cons-
trução de si mesmo e a socialização.
Uma visita ao museu é fascinante e muito educativa, entretanto,
por vezes, torna-se inviável pelas características desse grupo específico
de estudantes. Os frequentadores da EJA trabalham e administram casas,
além de estudarem, apresentando alguns empecilhos, como falta de tem-
po, cansaço e indisponibilidade financeira recorrente quando se propõe
uma saída de campo. Além disso, as classes são noturnas e o museu não
está aberto ao público à noite.
Por outro lado, esse grupo não pode ficar restrito a aulas expo-
sitivas e desmotivadoras. Por esses mesmos empecilhos, constata-se a
necessidade de um planejamento cuidadoso visando proporcionar ativi-
dades que lhes despertem o interesse e a vontade de irem até a escola,
o que pode ser um fator importante para reduzir os índices de evasão
escolar na EJA.
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 159
REFERÊNCIAS
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escola. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004.
FRAGA, Roberta Fontoura. Avaliação da (RE)construção do conceito de ética animal entre
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município de Sorriso – MT. Revista Iberoamericana de Educación nº 48/6 – 10 de mar-
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MOREIRA, M. A. Aprendizagem significativa crítica. Disponível em: http://moreira.
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PIAGET, J. Abstração reflexionante: relações lógico-aritméticas e ordem das relações
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TORTORA, Gerard J; FUNKE, Berdell R; CASE, Christine L. Microbiologia. 8. ed.
Porto Alegre: Artmed, 2005.
161
senvolvido em um ambiente não formal, no Museu de Ciências e Tecnologia
da PUCRS, o que permitirá aos alunos associar o conteúdo com as diferentes
realidades do seu cotidiano por meio de experimentos interativos.
Fundamentação teórica
Em geral, a disciplina de física é vista pelos alunos como de muita
complexidade (VIERA; SANTOS, 2002), sendo que essa complexidade
deve ser entendida não pela sua interpretação contemporânea (por exem-
plo, de Morin e Nicolescu), mas como sinônimo de dificuldade. Uma das
contribuições para a melhoria da aprendizagem deve estar relacionada à
associação do conteúdo com a realidade na qual o aluno está inserido no
seu cotidiano. Na maioria das vezes, os alunos não discutem a origem e
as causas dos fenômenos, mas apenas reproduzem cópias daquilo que é
transmitido nas aulas por meio de aplicações de fórmulas matemáticas
que reproduzam resultados para sua aprovação, sem preocupação com
a compreensão teórica do conteúdo. Mas culpar os estudantes por isso
seria ingenuidade, pois gerações de estudantes vêm fazendo o mesmo,
donde se conclui que eles estão sendo levados a esse comportamento por
certas características do sistema escolar.
Segundo Krummenauer, Costa e Silveira (2010), o ensino de física
na EJA requer estratégias diferenciadas das utilizadas no ensino regular.
Isso porque a EJA possui alunos oriundos de culturas e inserções sociais
diversificadas, sendo alunos de idades diferentes, na faixa etária de 18 a
60 anos (COSTA; HOSOUME, 2008). Além disso, os alunos possuem
objetivos diferentes: alguns buscam continuidade nos estudos, que pode-
rá permitir a busca de outros conhecimentos, como o ingresso no ensino
técnico profissionalizante e avanço no mercado de trabalho, enquanto
outros buscam ampliação dos estudos por não terem tido possibilidade
de concluírem seus estudos no período normal. Tais características fazem
com que os alunos da EJA enfrentem dificuldades na aprendizagem, visto
que grande parte deles são trabalhadores que reduzem seus horários de
lazer ou de convívio com a família na perspectiva de melhoria das suas
vidas (VIEIRA; VERDEGAY, 2005), fato também evidenciado pela pri-
meira autora deste artigo, que leciona no ensino da EJA.
Metodologia
Como conteúdo central do ensino de física, consideramos que
o tema energia, pela quantidade de interligações que tem com outros
conteúdos, nos permitiria atingir outras áreas de conhecimento, pro-
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 163
porcionando um ensino interdisciplinar. Inicialmente, os alunos foram
convidados a se dirigirem a algumas dependências da escola onde pu-
dessem encontrar elementos demonstrativos do tópico em questão, ana-
logamente ao cotidiano de suas vidas. Para isso foram nomeadas salas
que possuíam grande quantidade de lâmpadas e equipamentos. Então, os
alunos receberam um questionário com perguntas que nos permitiram
avaliar qualitativamente suas concepções sobre o conteúdo. Uma das de-
pendências escolhidas foi a sala do laboratório de informática – uma sala
com muitas lâmpadas e equipamentos. Foi solicitado aos educandos que
ligassem os computadores e acendessem as luzes.
Simultaneamente, foram apresentados outros exemplos de dispo-
sitivos que funcionam por meio da energia elétrica. Para isso foram uti-
lizadas ilustrações, animações e dispositivos (eletrodomésticos, tubos de
raio X, chuveiro etc.). Após as observações, foi aplicado um instrumento
para que pudéssemos identificar dúvidas ou quaisquer curiosidades sobre
o conteúdo, ou seja, para avaliarmos as concepções dos alunos quanto
ao tema. Os instrumentos de coleta de dados continham seis perguntas
e um espaço em que o aluno podia escrever livremente. O modelo do
documento encontra-se no Apêndice A.
Posteriormente, as respostas e descrições foram avaliadas por meio
de categorização das mesmas, permitindo o conhecimento maior das dú-
vidas dos educandos sobre o tema. A próxima etapa consistiu em agendar
e realizar uma visita ao MCT, apresentando aos alunos os seguintes expe-
rimentos interativos, respectivamente: A usina hidrelétrica, A energia eólica,
O carro movido à energia solar e A câmara que demonstra a energia cósmica. Tal
etapa teve como objetivo apresentar diferentes formas de energia.
Após, foi apresentado aos alunos o experimento interativo A casa ge-
nial. Trata-se de uma residência completa, de 51 m², com dormitório, sala
de estar, cozinha, escritório, lavanderia e banheiro. O espaço possui ele-
trodomésticos, ar-condicionado, utensílios e móveis e tem como objetivo
incentivar os visitantes a utilizarem a energia elétrica de forma racional. O
experimento permite a coleta de dados de potência e consumo energético
de eletrodomésticos e eletrônicos, aliado à conscientização ecológica, visto
que o experimento propõe análises comparativas em situações diferentes
Resultados
A análise da aplicação dos instrumentos, antes da visita ao MCT,
foi organizada em categorias, mostradas abaixo.
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 165
Questão 3: Expresse com poucas palavras o que significa para você a
palavra “energia”?
• Categoria 1: É uma força.
• Categoria 2: É tudo.
• Categoria 3: É a melhor coisa que existe.
• Categoria 4: Significa potência.
• Categoria 5: Aquilo que alimenta um corpo.
• Categoria 6: Significa a vida do planeta.
• Categoria 7: É quase tudo.
• Categoria 8: É luz.
• Categoria 9: Não sei.
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 167
A análise da aplicação do instrumento, depois da visita ao MCT,
foi organizada em categorias, mostradas abaixo, seguidas de alguns exem-
plos de respostas dadas pelos alunos.
Exemplos: Por meio da água que passa por uma turbina fazendo girar
e gerando força para um gerador que converte a energia da água em energia elé-
trica (SUJEITO 13). Sim. Energia eólica que gera energia pela força do vento
(SUJEITO 4). Energia solar funciona captando a energia dos raios solares e arma-
zenamento por meio de placas (SUJEITO 14).
Questão 4: Você acha que a aula no MCT contribui para o seu aprendiza-
do sobre o tema Energia? Explique:
• Categoria 1: Economia.
• Categoria 2: Uso consciente de energia.
• Categoria 3: Prática e teoria.
• Categoria 4: Compreensão de formas de energia.
• Categoria 5: Conhecer formas diferentes de energia.
• Categoria 6: Produção de energia elétrica.
Exemplos: Sim, o ambiente muda, parece que aprendemos com mais fa-
cilidade sem angústia (SUJEITO 2). Sim, porque essa aula oferecida mostra exa-
tamente o que é o dia a dia, e da sala de aula não. Ex.: energia natural, na sala
de aula até podemos saber ou aprender, mas aqui no MCT podemos ver (SUJEITO
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 169
4). Na escola a aula é teoria e no museu é na prática, fica melhor de entender
(SUJEITO 3). Sim, com explicação e texto não gravamos muito, temos que sempre
voltar na matéria para relembrar, e a aula no MCT não olhamos, e sim tocamos e
vemos o exemplo no nosso dia a dia (SUJEITO 9).
Considerações finais
Ao analisarmos as concepções dos alunos antes e depois da aula
no MCT, percebeu-se na resposta da maioria destes um avanço nas
concepções sobre energia, prevenção e tecnologias. Podemos diminuir
certos preconceitos e até mesmo distanciamentos entre a física e seus
fenômenos, nesse caso o estudo de energia, com a realidade dos alu-
nos. Ao explicarmos suas dúvidas, não apenas lendo ou imaginando em
sala de aula, e sim mostrando as maquetes, os alunos podem presenciar
os fenômenos no MCT, obtendo melhor aproveitamento e interesse
nas aulas, pois contextualizamos a física com fenômenos que fazem
parte da sua realidade.
REFERÊNCIAS
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possíveis. Campinas: Mercado de Letras, 2004.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica.
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BUNGE, M. Energy: Between Physics and Metaphysics. Science & Education, v. 9, p.
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COSTA F. V.; HOSOUME, Y. O ensino da eletricidade no EJA: uma proposta. XI
ENCONTRO DE PESQUISA EM ENSINO DE FÍSICA, Anais... Curitiba, 2008.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São
Paulo: Paz e Terra, 1996.
GARCIA M. F. J.; LIMA C. C. E. M. A abordagem da linguagem no ensino de ci-
ências em teses e dissertações brasileiras. VII ENPEC, Anais... Florianópolis, 2009.
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 171
Apêndice A
Apêndice B
173
Conforme argumenta Dias:
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 175
trabalho. Baseados nisso, os educandos sugeriram fazer um painel, pareci-
do com o do museu, onde colocariam fotos dos exemplares existentes na
praça da cidade, onde haviam realizado uma saída de campo. Como afirma
Bachelard (1986), tal processo não é só cumulativo: envolve reorganiza-
ções sucessivas. Isso pode ser melhor compreendido por meio da inter-
disciplinaridade, ou, mais ainda, mediante a abordagem transdisciplinar,
desenvolvendo uma relação mais estreita entre prática e teoria.
Os educandos procuraram a professora de artes, a qual os orien-
tou sobre as fotos e o painel, e a professora de português, que trabalhou
com eles o tema de EA numa redação e também mediou o trabalho de
pesquisa sobre os nomes científicos e populares dos exemplares, junta-
mente com a professora de biologia. E assim realizaram o painel, sociali-
zando seus conhecimentos com a própria turma e, depois, com as turmas
de primeiro e terceiro ano do Ensino Médio e deixaram os trabalhos ex-
postos no laboratório de ciências. Também identificaram os nomes cien-
tíficos das gimnospermas e angiospermas existentes no pátio da escola e
colocaram nelas placas de identificação.
Assim, a interação entre educandos e educadores propicia a cons-
trução do conhecimento, conforme menciona Freire (2004, p. 68):
“Desta maneira, o educador já não é apenas o que educa, mas o que,
enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando que, ao ser
educado, também educa”.
Metodologia da pesquisa
A abordagem da pesquisa é qualitativa, descritiva e avaliativa, além
de naturalística, pois se deu no ambiente natural em que o mesmo ocorre,
que é a sala de aula e a escola. Nesse sentido, salientam Lüdke e André:
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 177
egípcia que renasce de suas próprias cinzas, o conhecimento do sujeito
precisa ser destruído, desorganizado ou desconstruído para que novos
conhecimentos possam emergir (MORAES, 2007, p. 193).
Insistimos que a escrita reconstrutiva implica que o pesquisador
assuma-se autor de seus textos. Essa autoria, entretanto, necessita ser
compreendida de uma perspectiva dialógica, com base em um enten-
dimento de que não se consegue produzir nada a não ser a partir de
algo já anteriormente criado. Isso significa que a autoria é sempre com-
partilhada, que, mesmo pretendendo expressar algo original, sempre as
produções se inserem numa polifonia de vozes que se manifestam em um
mesmo discurso coletivo (MORAES, 2007).
A análise dos dados foi realizada a partir dos entendimentos dos
alunos sobre EA e os vegetais. Tendo como base o que os alunos disseram
sobre educação ambiental, podemos captar como esse grupo de alunos
percebe a EA e o trabalho interativo realizado.
Ipê disse: consegui compreender a importância de preservar os vegetais,
pois eles são a base da alimentação dos seres vivos, e também a renovação do
oxigênio. Camboatá expressou que O trabalho foi muito bom, me fez ver que
temos que consumir menos, para não gastar os recursos não renováveis. Aroeira
exclamou: Os vegetais, são importantes para a manutenção na vida na terra.
Porangaba falou: Esse trabalho fez com que eu veja com outros olhos as questões
da natureza. Pinheiro bravo insistiu que A visita ao museu e as visitas aos
jardins fizeram com que me sentisse parte dessa natureza e com responsabilidade
de cuidá-la e conservá-la.
Nesses depoimentos, pode-se ver a expressão de compreensão
do meio ambiente a partir do estudo dos vegetais. Essa prática revela-se
como um recurso, utilizando o museu e o ambiente natural, que pode
servir para realizar trabalhos e discussões sobre educação ambiental.
Resultados e discussões
Os relatos indicam uma modificação na maneira de pensar dos
participantes. Uma disposição para mudança em suas práticas cotidianas
em relação ao consumo e uma visão mais ampla sobre meio ambiente.
REFERÊNCIAS
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BERGER, P. L.; LUCKMANN, T. A construção social da realidade. Tratado de Sociologia
do conhecimento. 11. ed. Petrópolis: Vozes, 1994.
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DIAS, Genebaldo Freire. Princípios e práticas. São Paulo: Gaia, 2001.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 39. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2004.
LUDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitati-
vas. São Paulo: EPU, 1986.
MORAES, Roque; GALIAZZI, Maria do Carmo. Análise textual discursiva. Ijuí:
Unijuí, 2007.
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 179
15
Probabilidades Genéticas:
uma Prática Interdisciplinar
181
pelas escolas, professores e alunos de explicar, compreender, inter-
vir, mudar, prever, algo que desafia uma disciplina isolada e atrai a
atenção de mais um olhar, talvez vários (BRASIL, 2000, p. 76).
Metodologia e descrição
das atividades na escola
A proposta aqui apresentada foi planejada por três mestrandos
que cursaram a disciplina Museu Interativo no Programa de Pós-Graduação
em Educação em Ciências e Matemática da PUCRS e aplicaram em uma
escola estadual de Ensino Médio localizada no município de Viamão/RS.
A atividade corresponde a um projeto interdisciplinar entre biologia e
matemática, visando integrar noções de genética e probabilidade, desen-
volvido por dois professores de matemática e uma professora de biolo-
gia, envolvendo: introdução à genética (conceitos, definições e 1ª Lei de
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 183
Mendel), características genéticas humanas observáveis e introdução à
probabilidade matemática (conceitos e definições) motivada pela gené-
tica, com duas turmas de 3º ano do Ensino Médio, uma com 26 alunos e
outra com 32 alunos, separadamente, na sala de multimeios (recursos da
Internet, áudio e vídeo).
Em cada turma, cada qual no seu horário de aula de matemática,
os alunos foram distribuídos em grupos de até quatro pessoas, na sala
de multimeios já preparada com os recursos a utilizar. Foram feitas as
apresentações, pois somente um dos professores era vinculado à escola, e
projetado um vídeo com uma breve introdução ao conteúdo de genética.
A seguir, os alunos puderam tirar suas dúvidas com a professora de bio-
logia, e logo após os professores projetaram lâminas com características
genéticas humanas facilmente observáveis, como, por exemplo, presença
ou não de sardas, covinhas na face e bico de viúva (implantação de cabelos
formando um V na testa), lóbulo da orelha preso na face ou solto, modo
de cruzar os braços ou os dedos das mãos. Então os alunos observaram a
presença ou ausência dessas características em si mesmos e nos colegas,
tabulando os dados para serem utilizados na continuidade do trabalho.
Os professores de matemática, baseados nas ideias que emergiram, in-
troduziram conceitos a serem trabalhados mais adiante, na atividade de
construção de gráficos. Buscaram construir, com os alunos, noções de
probabilidade e estatística, questionando quais as diferenças entre elas e
como podem ser aplicadas no cotidiano.
Na aula seguinte, em sala de aula, utilizando materiais como da-
dos, balas coloridas, bolinhas de isopor pintadas com duas cores distintas,
moedas com valores variados e baralho de cartas, os alunos, organizados
em grupos de quatro, realizaram as atividades descritas a seguir.
Primeiro os alunos trabalharam com os dados, após responderem
alguns questionamentos, como, por exemplo: quantas chances havia de
sair o número quatro, ou um número par, ou um número ímpar? Depois,
em uma caixa contendo cinco bolinhas azuis e quatro bolinhas vermelhas,
quais as chances de retirarem uma bolinha vermelha, em um total de nove
bolinhas? Foram realizados testes, continuando a intervenção dos profes-
sores por meio de perguntas. Em continuidade, um aluno voluntário, com
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 185
vídeo auxiliou a preparar as atividades propostas para a visita orientada
ao museu interativo e mostrou como fazer a coleta e a nomeação das
impressões digitais do dedo polegar dos alunos. Para isso utilizou-se uma
almofada de carimbo e folhas de papel em branco. As impressões foram
guardadas para uso posterior dos alunos no MCT/PUCRS.
Visita ao museu
Na área de exposições do MCT/PUCRS foi realizada uma ativi-
dade na exposição temporária CSI – Ciência contra o Crime, que indica a
importância da ciência para o desvendamento de crimes. Essa exposição
mostra os diferentes tipos de digitais existentes e curiosidades da área
forense, pois a ciência auxilia os peritos da área criminal a solucionar
crimes por meio de evidências, indícios e vestígios deixados na cena do
crime. Um simples fio de cabelo, uma gota de sangue ou uma digital
podem ser suficientes para o profissional resolver e solucionar um crime.
Por meio do estudo das bandas de DNA é possível saber qual a probabi-
lidade de determinada pessoa ser a criminosa ou não.
A visita permitiu a cada aluno do 3º ano do Ensino Médio identi-
ficar seu tipo de digital, diferenciar vestígios, evidências e indícios deixa-
dos na cena do crime e perceber a importância da ciência na investigação
criminal. Para isso houve atividades integradas, pois o mesmo assunto
pode ser abordado de diferentes formas e serviu de ponto de partida
para a reconstrução de conceitos, integrando teoria e prática. Mesmo
que sejam trabalhados diferentes conteúdos pelos professores em sala de
aula, eles se inter-relacionam, e uma prática interdisciplinar pode ajudar
os educandos a construírem uma visão mais sistêmica do conhecimento
científico, favorecendo a superação de uma visão fragmentada do saber.
Atividades interdisciplinares, como a proporcionada pela visita ao mu-
seu, oportunizam uma aprendizagem contextualizada e mais interessante
e significativa para os alunos. Após serem trabalhados conceitos de gené-
tica associados à probabilidade, com trabalhos práticos em sala de aula,
foi importante que os alunos vivenciassem situações de aplicabilidade
desse tema no mundo real e no mundo da ficção, em especial na exposi-
ção temporária CSI – Ciência contra o Crime.
Considerações finais
O envolvimento dos alunos com as atividades propostas e a in-
tegração de duas disciplinas em uma aula diferenciada, que trabalhou
conteúdos distintos, mas complementares, evidenciam que realizar aulas
práticas e dinâmicas é algo possível tanto na disciplina de biologia como
na de matemática, em consonância com os PCN (BRASIL, 2000). De
acordo com Antunes (2000), o aluno participa ativamente de brincadei-
ras, e o lúdico pode ser um instrumento para alcançar a construção do
conhecimento, o que foi constatado nas turmas envolvidas. Os professo-
res responsáveis pela proposta aqui apresentada desafiaram os alunos a
realizarem trabalhos práticos e lúdicos sem se sentirem diminuídos em
sua condição de aprendizes. Fizeram intervenções quando solicitados e
auxiliaram a recordar conceitos já trabalhados em aula, que se fizeram
necessários para a realização das tarefas. Momentos como esses valori-
zam o ser professor e a descoberta por parte dos alunos.
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 187
REFERÊNCIAS
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Versão 3.0, 1999. CD-ROM.
Tirzá Prodes
Tatiana Souza de Camargo
Regina Maria Rabello Borges
189
O roteiro foi elaborado especialmente para alunos da Educação
Infantil, considerando que os alunos já tinham trabalhado a parte ex-
terna do corpo humano, tais como os membros e o movimento, a face
e suas expressões. Também foi necessário considerar os conhecimentos
procedimentais, como trabalhar em duplas, como se comportar em um
ambiente diferente da sala de aula, as normas (no caso do museu) etc.
No projeto anterior, os pequenos construíram conhecimentos do
outro e de si, que podemos observar em suas produções, principalmen-
te em seus desenhos. Foi importante, então, elaborar um projeto que
possibilitasse ampliar os conceitos construídos, procurando, por meio da
pesquisa, desvelar como somos por dentro, para que cada um descubra a
resposta para suas curiosidades acerca desse instrumento fascinante que
é o nosso corpo: “Para onde vai a comidinha profe?”, “Profe, soltei um
pum!”, “Profe, arrotei!”, “Tô com dor na barriguinha...”. De acordo com
Borges (2002, p.133), “Devemos conhecer o corpo, a sua composição, a
sua beleza e a sua postura, não apenas ter um corpo, mas, essencialmente,
ser um corpo, permitir que esse corpo se manifeste e se expresse”.
Assim, procuramos incentivar na criança a consciência de seu cor-
po, o conhecimento de suas partes, funções e cuidados, para que perceba
suas possibilidades e limitações, diferenças e semelhanças quanto às ra-
ças, etnias, indivíduos e a importância de cada pessoa, como ser único.
A proposta foi conhecer o corpo humano interna e externamente, pro-
porcionando à turma de Educação Infantil uma introdução aos termos
científicos, bem como a um ambiente diferente do habitual.
As crianças foram avaliadas ao longo do projeto por meio de ati-
vidades e vivências corporais coletivas e individuais, realizadas conforme
a descoberta de novos conhecimentos sobre o assunto. Essa avaliação foi
descritiva, observando o desempenho diante de diferentes momentos e
situações apresentadas a seguir.
Roteiro
1º) Preparação para sair da escola e deslocar-se em grupo.
Explicações sobre as normas do museu.
Relato
O relato dos melhores momentos dessa experiência é apresentado
aqui tal como foi registrado pela autora ao longo do trabalho, omitindo
nomes para preservar a identidade de cada uma das crianças, cujos pais
assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
A turma é composta por crianças muito ativas. Tudo é motivo de
festa. Comecei minhas observações no pátio e também foi lá que nos
apresentamos. Conheci o “Menino dos olhos expressivos”, ele me cum-
primentou e perguntou se eu era “profe”. Respondi que era, e ele argu-
mentou: “Mas tu não tá usando uniforme da escola?”. Eu disse que era
professora, mas não da escola dele. Em seguida, chegou o “Menino in-
dependente”. Então conheci “A menina pão de queijo”, muito simpática,
que já chegou se apresentando e dizendo seu nome e sobrenome e per-
guntando o meu. Até o momento, não havia dito o meu nome, para adiar
a confusão. Depois, “O menino batom de cacau” se apresentou também,
dizendo seu nome e sobrenome. Todos corriam e pulavam euforicamen-
te. Era lindo de ver. Pareciam pássaros depois que chove e aparece o sol.
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 191
Voltando para a sala de aula, estava na hora do lanche. Pude conhe-
cer “A princesa S”, “Juju, o invocado”, “O senhor beijoqueiro” e “A garota
meiguinha”. Então, revelei meu nome e passei a ser chamada por eles de
“profe Tirzá 2”. Tirzá 1, a professora titular, comentou com eles que eu
iria levá-los para um passeio no Museu da PUCRS, e todos me convida-
ram para suas festas de aniversário. Brincaram na sala de aula, uns com
blocos de montar, outros com quebra-cabeças, e outros com materiais de
médico. Perguntei para “O senhor beijoqueiro”, que estava com o este-
toscópio, para que servia aquele instrumento. Ele respondeu que o mé-
dico usava para pôr nas orelhas e para escutar a barriga. Complementei
dizendo a ele que servia para ouvir a batida do coração. Respondeu com
um “ah” e já saiu contando para seus colegas.
Após o lanche, Tirzá 1 começou a falar sobre a cabeça que estavam
construindo e pediu para que eles me contassem o que já haviam feito. A
turma me contou que na cabeça havia o lugar da boca, dos olhos, já havia
um nariz, as orelhas e as sobrancelhas. Perguntaram-me para que serviam
as sobrancelhas, disse que era para dar expressão e para proteger aquela
região do rosto bem sensível.
Para integrar a nossa confecção do boneco, juntaram-se a nós “A
princesa dos cachos de mel”, “O inventor de palavras” e “O menino dos
olhos brilhantes”. Nosso boneco já apresenta cabeça, e dentro dela fica
o cérebro, segundo a turminha. Começamos a construir os sistemas res-
piratório e circulatório. Para começar a falar de respiração, perguntei a
eles o que vinha depois da cabeça. Alguns disseram que vinham os pés,
as mãos e a barriga. Então, mostrei na professora Tirzá 1 a região do
pescoço. Disse que dentro do nosso pescoço havia dois caninhos dentro de
outro, maior. Em um passava o ar, e em outro, a comida, e por isso que
devíamos comer sem falar.
Dentro do boneco coloquei dois balões cor de laranja, pendurados
em canudos, representando os pulmões e a traqueia. Expliquei que, ao
respirar, enchemos os pulmões de ar, e eles ficam parecidos com os ba-
lões cheios, e quando expiramos os pulmões murcham, ficando parecidos
com os balões vazios. Havia outro balão vermelho grudado entre os dois
laranjas, mas posicionado um pouco para a esquerda.
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 193
mesmo tempo se encantaram com o som dos animais, em especial o da
onça. “Ai, profe, tô com medo!” Ao chegar ao ecossistema marinho, havia
o som dos oceanos, e Tirzá 1 perguntou quem estava fazendo aquele ba-
rulho. O “Inventor de palavras” disse, deslumbrado com o fundo do mar,
que era um golfinho.
Olhamos a chuva e nos divertimos no terremoto. A todo o mo-
mento apertavam os botões. Era difícil conter os pequenos em um só
experimento, era tudo novo e havia muita informação. Interagimos com
os órgãos dos sentidos, passamos pelo corpo humano feminino, onde a
mulher tem a metade do corpo com pele e outra sem, com os músculos
à mostra. “Menino batom de cacau” perguntou por que a moça estava
pelada. Respondi que era para nós vermos a pele e os músculos dela.
Ao falar “pele”, ele apertou as suas bochechinhas e eu fiz que sim com a
cabeça, afirmando que o que ele estava me mostrando era a pele. Vimos
os movimentos dos braços e das pernas e, finalmente, chegamos ao co-
ração. Era bem grande, possibilitando ver as cavidades por dentro e seu
tamanho normal dentro do corpo humano. No andar térreo, olhamos os
barcos, passamos pelos peixes (a vontade de tocar e pegar os peixinhos
era enorme), mas a turminha se comportou, pondo as mãozinhas para
trás. Passamos pela rã touro e pela colmeia. Vimos uma professora ficar
de cabeça para baixo no “Giroscópio Humano” e tiramos fotos no grande
sol da exposição Energia.
Voltamos ao nosso mundinho, e cada um dirigiu-se para o ex-
perimento que mais lhe chamou a atenção. Em seguida, fizemos uma
rodinha em torno do “boneco de pano para desmonte”. Disse que era
parecido com o nosso da escola, mas me responderam que não. “É o
Beleléu, profe!” Disse então que o nosso iria ficar parecido. Comecei a
relembrar o que tinha no nosso boneco e ia mostrando no boneco do mu-
seu. Mostrei os pulmões, e eles me mostraram como acontecia quando
nós respirávamos. Mostrei o coração e perguntei que som ele fazia. Em
coro, todos responderam: “Tum dum!”. Falei do estômago, onde fica a
comidinha, e do intestino, onde ela era absorvida e depois iria formar o
“cocô”. Encerramos com uma foto no colo do boneco e nos preparamos
para voltar para a escola.
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 195
Perguntei aos alunos o que estava faltando no boneco. O que ele já
possuía? O “Menino dos olhos expressivos” disse que havia “os pescoços”,
confirmei dizendo que havia um pescoço. O “Garoto dos olhos brilhan-
tes” disse que o boneco já tinha cabeça, olhos, boca, nariz e orelha. A
“Princesa dos cachos de mel” disse que havia os intestinos, e o “Menino
dos olhos expressivos” complementou dizendo que tinha o “estômaco”
(corrigi com carinho, dizendo estômago). Depois perguntei o que ainda
faltava no “Pinóquio”. “Juju, o invocado” disse que faltavam os braços e as
pernas. A “Princesa dos cachos de mel” notou que faltavam as mãos, e o
“Senhor beijoqueiro” disse que estavam faltando os pés.
Passamos para a montagem dos membros. Utilizamos 6 rolos de
papel higiênico para formar os braços, 2 rolos de papel toalha e 2 rolos
de papel higiênico para formar as pernas, e 2 meias-calças para repre-
sentar a pele. As mãos e os pés foram confeccionados por eles mesmos.
A turma estava mais agitada do que o normal. Como dito antes, eles são
muito intensos em tudo o que fazem. Confeccionando as mãos, dese-
nhei o contorno da mãozinha de cada um e após eles pintaram. Pronto,
nosso boneco passou a ter mãos. Grampeei todos os desenhos das mãos
direitas e fiz o mesmo com as esquerdas. Então, cada um ficou com um
rolo de papel para formar os braços e as pernas. Antes disso, fiz dois
furos nas laterais da caixa e passei um barbante em cada, e fiz dois furos
na parte de baixo da caixa. Esses furos serviam para passar um barbante
para fixar os rolos.
Envolvemos os membros com a meia-calça para dar melhor
formato. Fixei nos braços as mãos já coloridas pelas crianças. Para
desenhar os pés, utilizei o mesmo método das mãos, o que foi mui-
to divertido. Pedi para cada um escolher um dos pés e tirar a meia.
Foi muito divertido contornar os pés com a canetinha hidrocor. “Ai,
profe, faz cosquinha!” Grampeei os pés e o nosso mascote passou a
ter pernas e pés.
Finalmente “Pinóquio” ficou pronto, sendo muito carismático,
pois adorava um aperto de mãos. Despedi-me da turminha com muitos
beijos e me disseram que iriam sentir saudades. Afirmei que ainda iria
visitá-los, futuramente.
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 197
Precisamos resgatar a criança que temos dentro de nós, pois con-
forme vamos crescendo, ela vai ficando esquecida. As crianças são pes-
quisadoras, elas vão em busca do conhecimento, são curiosas e não têm
medo de perguntar e descobrir suas respostas. Não têm medo do erro,
de cair e levantar e de testar as mais variadas hipóteses.
REFERÊNCIAS
BORGES, Célio José. Educação Física para o pré-escolar. 5. ed. Rio de Janeiro: Sprint,
2002.
BORGES, Karine Rabello. Experimentos interativos: preferências dos alunos se-
gundo a faixa etária. In: BORGES, R. M. R; MANCUSO, R.; LIMA, V. M. R. Museu
Interativo – fonte de inspiração para a escola. 2. ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008.
______; ______; ______. À guisa de conclusão. In: ______; ______; ______.
Museu Interativo – fonte de inspiração para a escola. 2. ed. Porto Alegre: EDIPUCRS,
2008.
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aqui, pela distância ou outras dificuldades envolvidas nesse deslocamento
com um grupo de estudantes, os relatos trazidos neste livro podem ser
fontes de inspiração para o uso da experimentação no ensino das ciências.
Talvez, uma experimentação investigativa, lúdica, sem roteiros, na qual o
estudante se sinta como um detetive que se lança na busca de dados e, aos
poucos, amplia seus horizontes de entendimento, compreendendo mais e
mais o mundo, construindo-o a partir de uma ciência contextualizada.
Há também algo que permeia os relatos deste livro e que é condição
para a busca científica, para o qual talvez este último capítulo seja uma boa
oportunidade de chamar a atenção: a liberdade. Na raiz da descoberta cien-
tífica não há roteiros. A educação – não a simples erudição, mas aquela que,
esperamos, seja capaz de formar um indivíduo autêntico, bondoso, auto-
crítico, criativo e empenhado em descobrir seu papel no mundo – não é e
nunca foi resultado de repetição e de regramento. Não há velhos esquemas
capazes de produzir algo novo. A genialidade existe em potencial em cada
pessoa, mas ela só se manifesta plenamente na liberdade. É como a semente
que germina, floresce e dá frutos somente quando encontra um ambiente
adequado. Nos textos aqui apresentados os estudantes foram incentivados
a manifestarem amplamente suas liberdades, e isso fez com que, para eles,
essa fosse também uma experiência inesquecível de aprendizagem.
Escreve-se muito sobre a escola, e atualmente é consenso que a edu-
cação formal deve preparar o indivíduo para a sociedade – para ser um cida-
dão. Essa é uma ideia que aparece repetida nos documentos oficiais da educa-
ção de todos os níveis e se trata, evidentemente, de um desafio. Ocorre que
a sociedade está se tecnologizando rapidamente e que os professores talvez
não logrem acompanhar seus alunos no domínio da utilização das novas tec-
nologias, ou que seja difícil alcançar um convívio harmonioso entre as dife-
rentes gerações que se encontram nas escolas, num dado momento, perante
a evolução acelerada dos costumes. Por isso a preocupação das autoridades,
expressa nos documentos. Seria recomendável enfrentar um pouco mais
profundamente essa questão, talvez refletindo sobre a pluralidade de signifi-
cados que possui a ideia do que seja “preparar o indivíduo para a sociedade”.
Essa intenção, inclusive, pode ser compreendida como uma re-
ferência a um sistema produtivo industrial, cujo objetivo é tomar certo
Parcerias entre Escolas e um Museu Interativo: Contribuições à Cultura e Educação Científica 201
Diagramação Camila Provenzi
Formato 16 x 23 cm
Tipografia Perpetua
Papel Offset
Número de páginas 201
Impressão e Acabamento Gráfica EPECÊ