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Monografia 3

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Declaração de Honra

Eu, Do Céu Bonita Chiria, com identidade nr 050101590640A, nascida a 04 de Abril de 1972,
filha de Saneiro Chiria e Maria Bonita Falacomigo, natural de Marara-Changara, Província de
Tete, estudante do programa académico de Licenciatura em Direito do Instituto de Ciências de
Educação a Distância, declaro que o conteúdo do trabalho com o tema: A Inconstituicionalidade
dos Direitos Humanos em Casamento Tradicionais- Prematuros no Ordenamento Jurídico
Moçambicano: Estudo de Caso da População do Distrito de Macanga, é reflexo de meu trabalho
pessoal e manifesto que perante qualquer notificação de plágio, cópia ou falta em relação á fonte
original, sou directamente o responsável legal, económica e administrativamente, isentando a
orientadora, a Universidade e as instituições que colaboram com o desenvolvimento deste
trabalho, assumindo as consequências derivadas de tais práticas.

Assinatura:_______________________________________

I
RESUMO
A Inconstituicionalidade dos Direitos Humanos em Casamento Tradicionais- Prematuros no
Ordenamento Jurídico Moçambicano constitui o tema de abordagem neste trabalho. A escolha deste
tema, parte da consideração de que o casamento tradicional-prematuro são ambos endémicos em
Moçambique, o que quer dizer que, o casamento prematuro é revelador da discriminação existente e,
acima de tudo, da discriminação na maneira como as famílias e as sociedades tratam as meninas e os
meninos, sabendo que a prematuridade dos casamentos tem maior e forte influência, a tradição, e é aí, que
esta abordagem não se limita nos casamentos prematuros, mas também tradicional, pelo seu forte braço
influenciador.As meninas enfrentam normalmente mais privações e falta de oportunidades. Com essa
aboradgem, pretende-se rever o enquadramento legal aplicável a Moçambique em relação ao casamento
tradicional-prematuro e as suas incidências, e discutir uma tentativa de criminalizar os implicados. É neste
contexto que torna-se importante, que as referências elencadas no ordenamento jurídico moçambicano
sejam disseminadas na comunidade como referências para o exercício de direitos de cidadania e,
consequentemente, para protecção dos direitos das crianças/menores. Em suma, Moçambique assumiu o
compromisso de adequar as normas de direito interno às da Convenção, para salvaguardar e promover
eficazmente os direitos e liberdades nela consagrados. A partir deste vínculo jurídico ratifica a Convenção
dos Direitos da Criança, instrumento que enuncia um amplo conjunto de direitos os direitos civis e
políticos, sociais e culturais de todas as crianças, bem como as respectivas disposições para que sejam
aplicados. Por outro lado, ao considerar a dimensão que envolve o género, como indicador do carácter
social das diferenças baseadas no sexo, concluiu-se que associação do género à categoria criança e
infância permite perceber que, em Moçambique como em outras sociedades de ideologia patriarcal, as
crianças são consideradas culturalmente inferiores e posicionam-se na base da hierarquia social. O
casamento prematuro é, por isso, justificado a partir do processo de socialização, assumindo o marco de
integração da rapariga ao grupo (família e comunidade a que pertence).

Palavras-chave: Inconstituicionalidade, direitos, violação, jurisdição, ordenamento.

II
Agradecimentos
Agradeço primeiramente a Deus, que me deu o dom da vida e me abençoa todos os dias com o
seu amor infinito. Sou grato a minha familia, que me apoiaram muito com a palavra de
incentivo. Aos amigos e colegas, meu muito obrigado por tornarem e vibrarem com a minha
conquista. Agradeço também de forma especial a Supervisora Claúdia Eunice Jone, pelo
aconpanhamento e orientação no progresso do trabalho, e aos meus Tutores, que serviram de
exemplo para que eu me tornasse um profissional melhor a cada dia.

III
Dedicatória
Dedico este trabalho a MINHA AMADA FAMILIA, por ser essencial na minha vida, que com
muito carinho e apoio , não mediram esforços para que eu chegasse a esta etapa da minha vida e
que com o muito contribuíram para a minha formação, dos quais tenho boas lembranças.

IV
Tabela
1. Análise das forças, fraquezas, oportunidades e Ameaças do casamento prematuro

V
Listas de Abreviaturas
IDS: Inquérito Demográfico de Saúde
ODM: Organização do Desenvolvimento Milenar
ENPECP: Estratégia Nacional de Prevenção e Combate dos Casamentos Prematuros
CRM: Constituição da República de Moçambique
DUDH: Declaração Universal dos Direitos Humanos
LF: Lei de Familia

VI
ÍNDICE
Declaração de Honra .............................................................................................................................I
RESUMO ............................................................................................................................................. II
Agradecimentos .................................................................................................................................. III
Dedicatória ..........................................................................................................................................IV
Tabela ................................................................................................................................................... V
Listas de Abreviaturas ........................................................................................................................VI
CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO........................................................................................................... 1
1.1.Tema/Titulo................................................................................................................................. 1
1.2.Contextualização do tema .......................................................................................................... 2
1.2.1.Contextualização do Quadro Jurídico ................................................................................ 4
1.3.Problema de Estudo ................................................................................................................... 5
1.4.Formulação do Problema ........................................................................................................... 6
1.5. Determinação de Objectivos ..................................................................................................... 8
1.5.1.Gerais .................................................................................................................................... 8
1.5.2.Específicos ........................................................................................................................... 8
1.6.Hipóteses ..................................................................................................................................... 9
1.6. Justificativa ou Motivação ........................................................................................................ 9
1.7.Delimitação do Tema ............................................................................................................... 10
1.8.Limitação do Trabalho ............................................................................................................. 12
CAPÍTULO II: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .......................................................................... 13
2.Conceito dos Direitos Humanos ..................................................................................................... 13
2.1.Natureza Jurídica dos Direitos Humanos ................................................................................ 13
2.2. Concepções Doutrinárias Acerca da Natureza Jurídica dos Direitos Humanos .................. 14
2.2.1. Concepção Jusnaturalista ................................................................................................. 14
2.2.2. Concepção Ética ............................................................................................................... 14
2.2.3. Direitos Humanos como Princípios ................................................................................. 14
2.2.4. Concepção Legalista ......................................................................................................... 14
2.3.Violação de Direitos Humanos por Meio de Casamento Tradiconal-Prematuro ................. 15
2.4.CASAMENTO E SEUS EFEITOS ......................................................................................... 17
2.4.2. A Natureza Jurídica do Casamento ..................................................................................... 18

VII
2.4.3. Pressuposto de Existência do Casamento ........................................................................... 19
2.4.4. Validade do Casamento ....................................................................................................... 19
2.5.Descrição, Comparação e Ánalise de Estudos Realizados sobre o Tema ............................. 23
2.6.1.Impacto Negativo do Casamento Prematuro ................................................................... 28
2.6.2.Os Direitos da Rapariga na Ordem Jurídica Moçambicana ............................................ 29
2.6.3.Porque razões sujeitam as raparigas aos “casamentos”? ................................................. 30
CAPÍTULO III: METÓDOLOGIAS DE ESTUDO ........................................................................ 31
3.1.Metodologias de Estudo na Pesquisa .................................................................................... 31
3.1.1. Quanto aos objectivos ...................................................................................................... 31
3.1.2. Quanto ao Tipo de Pesquisa ........................................................................................ 32
3.1.3. Quanto ao Método de Abordagem................................................................................... 33
3.1.1.Quanto ao Metodo de Procedimento ................................................................................ 33
3.2.Tecnica de Pesquisa .................................................................................................................. 34
3.3.1. Observação ........................................................................................................................ 34
CAPÍTULO IV: ANALISE, DISCUSSÃO E INTERPRETAÇÃO DE DADOS ......................... 37
4.1.Aspectos Jurídicos e Político Estratégicos Envolvidos no Casamento Prematuro ............... 38
4.1.1.Quadro Político Legal........................................................................................................ 39
4.2. O Casamento Prematuro no Ordenamento Jurídico Moçambicano ..................................... 40
4.3.Factores Que Influenciam O Casamento Prematuro .............................................................. 41
4.4.Abordagens Positivas Para Reduzir Os Casamentos Prematuros .......................................... 44
4.5.Análise das Forças, fraquezas, oportunidades e ameaças ...................................................... 45
CAPÍTULO V: CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES ............................................................... 46
5.2.RECOMENDAÇÕES .............................................................................................................. 48
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS .............................................................................................. 50

VIII
IX
CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO
O tema desta Monografia, é: A Inconstitucionalidade dos Direitos Humanos em
Casamento Tradicional-Prematuro no Ordenamento Jurídico Moçambicano. Com a abordagem
deste tema, pretende-se contribuir não só para a prevenção e irradicação dos casamentos de
raparigas prematuramente, mas ainda para a efectivação dos direitos das raparigas, previstos na
Constituição da República de Moçambique e nas covenções internacionais.

Porém, as questões ligadas aos direitos humanos da criança (neste caso da rapariga),
apesar da sua previsão, passam a ser omissas, limitando os espaços para a sua promoção. A
realidade moçambicana mostra que o casamento pode ser arranjado pela família e, nem sempre
os nubentes podem decidir sobre quando e com quem vão contrair matrimónio. O casamento
tradicional-prematuro é um dos problemas mais graves de desenvolvimento humano em
Moçambique mas que ainda é largamente ignorado no âmbito dos desafios de desenvolvimento
que o país persegue requerendo por isso uma maior atenção dos decisões políticas. Moçambique
é um dos países ao nível mundial com as taxas mais elevadas de prevalência de casamentos
prematuros, afectando cerca de uma em duas raparigas, representando uma grande violação dos
direitos humanos das raparigas.
Acredita-se que a pressão económica exercida sobre os agregados mais pobres e as
práticas socioculturais prevalecentes, continuam a conduzir as famílias a casarem as suas filhas
cada vez mais cedo, quando as raparigas ainda não atingiram maturidade suficiente para o
casamento e para a gravidez ou para assumirem a responsabilidade para serem esposas e mães.
As maiores partes das desistências escolares estão ligadas a gravidez precoce nas raparigas,
numa fase do seu desenvolvimento físico e emocional em que elas ainda não se encontram
preparadas para gerar uma criança, com consequências bastante sérias para a sua saúde e para a
sobrevivência dos seus filhos.

1.1.Tema/Titulo
O tema do presente trabalho é: A Inconstituicionalidade dos Direitos Humanos em Casamentos
Tradicionais-Prematuros no Ordenamento Juridico Moçambicano.

1
1.2.Contextualização do tema
Recentemente, a 24 de Agosto de 2018 embaixadora Marie Andersson De Frutos
participou na 5ª Conferência Nacional da Rapariga em Maputo para discutir o fim do casamento
prematuro como um passo para a inclusão das raparigas no desenvolvimento de Moçambique.
Tendo em conta que actualmente Moçambique tem uma das taxas mais elevadas de casamento
prematuro do mundo, afectando quase uma em cada duas raparigas, e tem a segunda maior taxa
na sub-região da África Oriental e Austral. Cerca de 48 por cento das mulheres em Moçambique
com idades entre os 20 e os 24 anos já foram casadas ou estiveram numa união antes dos 18 anos
e 14 por cento antes dos 15 anos, segundo dados (IDS, 2011).

O Casamento prematuro põe em perigo as raparigas. Raparigas casadas sofrem maiores


abusos, violência doméstica (incluindo abuso físico, sexual ou psicológica) e abandono.

Moçambique encontra-se em 10° lugar no mundo entre os países mais afectados pelos
casamentos prematuros, atendendo os dados relacionados com a proporção de raparigas com
idades entre os 20-24 anos que se casaram enquanto crianças, isto é, antes dos 18 anos de idade.
A maior parte destes casamentos são de facto uniões, mais do que casamentos legalmente
registados, mas são usualmente formalizados através de procedimentos costumeiros como o
pagamento do lobolo para a família da rapariga. De acordo com os dados do Inquérito
Demográfico e de Saúde (IDS) 2011, 48% de raparigas com a idade entre os 20-24 anos casou-se
antes dos 18 anos e 14% antes de atingir os 15 anos. Moçambique encontra-se ainda atrasado nos
esforços de prevenção e combate contra este fenómeno, apresentando um nível de prevalência de
casamentos prematuros acima dos restantes países da África Austral e Oriental, ficando apenas
atrás do Malawi. Isso mostra que a situação de casamentos prematuros é uma tremenda
realidade em Moçambique e que devemos tomar algumas atitudes de forma a levar essa pratica a
extinção.

Face às situações percebe-se que os casamentos prematuros constituem uma violação dos
direitos humanos e têm como consequências a:
Perpetuação da pobreza;
Violência contra o género;
Problemas de saúde reprodutiva;

2
Perda de oportunidades de empoderamento por parte das crianças do sexo
feminino e mulheres.

Os Países que apresentam uma taxa elevada de casamentos prematuros tendem a ter um
Produto Interno Bruto baixo. A pobreza é um determinante dos casamentos prematuros tal como
a violência e a discriminação baseada no género.
Actualmente emerge uma maior consciencialização de que os casamentos prematuros
comprometem a possibilidade de se atingir os objectivos quatro e cinco de Desenvolvimento do
Milénio (ODM) que apelam para uma redução de dois terços da taxa de mortalidade de crianças
de menos de cinco anos e para três quartos, nas mortes maternas, até 2015. Os casamentos
prematuros também comprometem o alcance da meta de educação para todos.

Pôr termo à violência contra menores e o casamento prematuro é prioridade do UNICEF


assim como o contexto de importância no qual este trabalho se insere. Com isso, este trabalho
abarca uma grande necessidade de sensibilizar as comunidades sobre o tema em discussão e a
não prevalência do abuso e da violência, bem como adveritir o perigo aos membros da
comunidade, as famílias e as crianças para que denunciem actos de tais violações dos direitos.

Os sistemas de protecção da criança a todos os níveis, nas comunidades e em todo o País


devem ser apoiados para providenciar uma resposta efectiva e este trabalho, tambem insere neste
contexto.Uma das principais áreas de apoio é a colaboração multissectorial entre o governo e a
sociedade civil para prevenir e combater a violência contra as crianças, o casamento prematuro e
outras práticas prejudiciais.

Abordar a violência contra os direitos das crianças e transformar as normas e práticas


sociais que são potencialmente prejudiciais para as crianças requer o envolvimento e a
colaboração de uma ampla gama de actores diversos, incluindo ministérios, actores do sistema de
justiça, sociedade civil, líderes tradicionais e religiosos, órgãos de informação, juventude e
adolescentes.

A UNICEF tem vindo a apoiar o estabelecimento e/ou o fortalecimento de mecanismos


de coordenação multi-sectoriais a nível nacional e nas províncias alvo para implementar a
Estratégia Nacional de Prevenção e Eliminação do Casamento Prematuro e responder
efectivamente à violência dos direitos da criança/rapariga.

3
1.2.1.Contextualização do Quadro Jurídico

A Estratégia Nacional de Prevenção e Combate dos Casamentos Prematuros baseia-se na


Constituição da República de Moçambique de 2004, que destaca a igualdade de direitos entre
mulheres e homens em todos os domínios, e na Declaração Universal dos Direitos Humanos
(1948) a qual, no artigo 2º, reconhece que toda a pessoa tem todos os direitos e liberdades
proclamados na Declaração, sem distinção de raça, cor, sexo, língua ou religião.

Mas, em Moçambique, a idade núbil está fixada em 18 anos. Contudo, a Lei da Família
define que “a mulher ou homem com mais de dezasseis anos, a título excepcional, pode contrair
casamento, quando ocorram circunstâncias de reconhecido interesse público e familiar e houver
consentimento dos pais ou dos representantes legais”.

Porem, na base destes instrumentos acima citado, a actora deste trabalho têm vindo a orientar o
seu pensamento neste trabalho defendendo que tal excepcao constitui um acto inconstituicional,
visto que permite a violação dos direitos Humanos os quais as rapargas prematuramente casadas
devem gozar.

1.2.1.1. O Contexto das Penalizações no Quadro Jurídico Moçambique

Lei de Prevenção e Combate às Uniões Prematuras

Segundo JORNAL NOTICIA, O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, promulgou em


outubro de 2019, e mandou publicar a Lei de Prevenção e Combate às Uniões Prematuras,
aprovada em julho 2019 pelo parlamento. A lei elimina uniões maritais envolvendo pessoas com
menos de 18 anos, punindo com pena até 12 anos e multa até 2 anos o adulto que se casar com
uma menor.

"O adulto, independentemente do seu estado civil, que unir-se com uma Menor será punido com
pena de prisão de 8 a 12 anos e multa até dois anos" - Artigo 30, Lei de Prevenção e Combate às
Uniões Prematuras em Moçambique.

ՙՙA união entre duas pessoas formada com propósito imediato de constituir família, só é
permitida a quem tiver completado 18 anos de idade à data da união" - Artigo 7, Lei de
Prevenção e Combate às Uniões Prematuras em Moçambiqueˮ.

4
"O adulto que, por si ou por interposta pessoa, noivar uma menor conhecendo a idade desta, será
punido com pena de prisão até 2 anos" - Artigo 25, Lei de Prevenção e Combate às Uniões
Prematuras em Moçambiqueˮ.

"O servidor público que, no exercício das suas funções, de forma consciente, celebrar ou
autorizar a celebração de casamento no qual ambos ou um dos esposados é criança, será punido
com pena de prisão de 2 a 8 anos e multa até 2 anos" - Artigo 26, Lei de Prevenção e Combate às
Uniões Prematuras em Moçambiqueˮ.

"Aquele que colaborar para que a união com uma menor tenha lugar, ou que por qualquer
outra forma concorra para que produzam os seus efeitos, desde que tenha conhecimento de que a
união envolve menor, será punido com pena de prisão e multa até 1 ano" - Artigo 31, Lei de
Prevenção e Combate às Uniões Prematuras em Moçambique. Isso significa que, esta lei, anula
o consentimento de qualquer outras entidades.

"A pena de prisão de 8 a 12 será aplicada a quem entregar criança para união em troca de
algum bem ou valor, para pagamento de dívida, como cumprimento de promessa, como dádiva
ou para qualquer outra finalidade contrária à lei" - Artigo 32, Lei de Prevenção e Combate às
Uniões Prematuras em Moçambique.

"O pai, a mãe, o tutor, o padrasto, a madrasta, qualquer outro parente, encarregado de
guarda da criança ou da sua educação, ou a pessoa que exercer poder equiparável ao parental ou
de guarda, que autorizar ou obtiver autorização para união de criança, instigar, aliciar ou não
obstar a união, será punido com pena de prisão de 2 a 8 anos e multa até 2 anos, se pena mais
grave não couber" - Artigo 33, Lei de Prevenção e Combate às Uniões Prematuras em
Moçambique.

1.3.Problema de Estudo
A nível internacional, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o consentimento
“livre e pleno” não pode ser reconhecido se uma das partes envolvidas não tiver maturidade para
tomar uma decisão informada sobre o parceiro para a vida. Na mesma perspectiva, o nº2 do
artigo 16, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a
Mulher estabelece que “a promessa de casamento e o casamento de crianças não terão efeitos

5
jurídicos e, todas as medidas necessárias, incluindo disposições legislativas, serão tomadas com
o fim de fixar uma idade mínima para o casamento”.
A Carta Africana sobre os Direitos e Bem-Estar da Criança estabelece, no seu artigo 21,
que os estados signatários devem tomar medidas legais específicas para a eliminação do
Casamento Prematuro e da promessa de casamento de meninas e rapazes com menos de 18 anos
de idade.
Outros instrumentos internacionais relacionados com o casamento prematuro incluem a
Convenção sobre o Consentimento para Casamento, Idade Mínima para Casamento, Registo de
Casamentos e o Protocolo para a Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos sobre os
Direitos da Mulher em África.

No tocante a idade minima aceitável à contração de matrimónio, Moçambique determina


uma idade minima de 18 anos. Porém, esta idade deixa de ser minima prevista na Lei, na medida
em que se abre excessão de consentimentos (dos pais e encarregados de educação e do estado). E
na ocorrência deste fenómeno, de forma smultânea ocorre violação dos direitos humanos e
particularmente da criança ou da rapariga (a menor a ser dada em casamento). Dado a esta
situação, que de forma continua ocorre em Macanga-Tete, o problema de estudo neste trabalho
é: A Inconstituicionalidade/ violação dos Direitos Humanos (criança, rapariga) na realização
dos casamentos prematuros.

1.4.Formulação do Problema
No que concerne aos casamentos tradicionais-prematuros com aprovação da Lei da
Família, em 2004, a idade para o casamento da rapariga era de 14 anos, e ao longo dos anos, o
estado passou a considerar os 14 como mínimo, e que avançava para 18 anos. Porém, a própria
Lei abre espaço para que pessoas com menos de 18 anos e mais de 16 possam contrair casamento
(art. 30, nº 2), mais tarde, surge outra lei, a qual determinava que a idade minima seria de 21
anos para rapariga. Houve pois uma melhoria, mas ainda prevalecia a excessão de ՙՙcaso os Pais
da rapariga aceitem, ela poderia ser casada com uma idade inferior aos 21 anos, ate mesmo nas
Denominações Religiosas aconteceˮ, e isto continua até agora, e de forma especifica, no Distrito
de Macanga-Tete, é mais do que normal casar abaixo dos seus 17 anos. “o Estado tem o dever de
assegurar a protecção dos direitos da mulher e da criança, conforme estipulados nas Declarações

6
e Convenções Internacionais”, conjugado com artigo 47 daconstituição da República de
Moçambique.

Assim, vê-se que o casamento tradicional-prematuro constitui um factor de risco para


todas as raparigas do Distrito de Macanga, visto que, esta acto, implica quase inevitavelmente
relações sexuais. Nas sociedades como a do Distrito de Macanga em particular, no que concerne
aos casamentos prevalece mais o tradicionalismo do que o que a lei aprova sobre o assunto, e
onde tal tradição se consume, existe a forte pressão para se ter filhos logo após o casamento e a
taxa de concepção de mulheres jovens não casadas é muito baixa. Com isso, não só as actuais
raparigas de Macanga correm risco, de vidas sem o gozo dos seus mais preciosos direitos como
humana e rapariga/criança, mas também futuras gerações femeninas desta parcela de
Moçambique (distrito de Macanga-Tete).

E este assunto precisa/necessita de muita atenção e reflexão do governo da quele Distrito,


da sua sociedade e outras entidades que tenham competências de contribuir com a extinção deste
tradicionalismo inconstituicional dos Direitos Humanos das raparigas no Distrito de Macanga.

A outra vertente das consequências, é que existe uma correlação entre o casamento
tradicional-prematuro e a saída do sistema de educação, por se cuidar de outros afazeres, com
consequências para a privação do direito à educação e no desenvolvimento social e humano das
raparigas envolvidas. E esta situação também se faz sentir na quele Distrito. A aparente apatia do
sistema de educação e as normas permissivas como o Despacho nº 39/GM/2003 do Ministério da
Educação, que prescreve a mudança de turno para a rapariga grávida e apenas o processo
disciplinar para o protagonista engravidante.

Ora, a problematização apresentável neste trabalho, trata-se também de uma preocupação


para com as questões juridicas do nosso País que por sinal tambe devem ser aplicadas no Distrito
de Macanga, considerando que parte de Moçambique, assim como os direitos humanos (das
Criãnças) violados, denigridos na sociedade deste distrito, e isto com o suporto da lei.

Então, da problemática dos casamentos tradicionais-prematuros em Moçambique surge a


questão seguinte: até que ponto o casamento tradicional-prematuro viola os direitos humanos
reconhecidos às raparigas no Ordenamento Juridico Moçambicano no Distrito de Macanga-
Tete?

7
1.5. Determinação de Objectivos
Segundo PILLETE (2008:80), “ (….) objectivos consistem numa descrição clara dos resultados
que desejamos alcançar com a nossa actividade”. Para o presente projecto no qual esta em estudo
o tema: A Inconstituicionalidade dos Direitos Humanos em Casamentos Tradicionais-
Prematuros no Ordenamento Juridico Moçambicano, pretende-se alcançar ou concretizar dos
objectivos gerais da pesquisa para ainda desenvolver competências dos objectivos específicos ao
longo do estudo do caso identificado.

1.5.1.Gerais
Segundo BARETO e BONORATO (1987), "objectivos gerais indicam uma acção muito ampla.
Uma acção individual ou colectiva se materializa através de um verbo.” Neste contexto
apresenta-se o seguinte objectivos gerais:
 Analisar os a Inconstituicionalidade dos Direitos Humanos em Casamento tradicional-
Prematuro no Ordenamento Jurídico Moçambicano.

1.5.2.Específicos
Segundo BARRETO e HONORATO, (1998) “é um critério fundamental na delimitação dos
objetivos da pesquisa é a disponibilidade de recursos financeiros e humanos e de tempo para a
execução da pesquisa, de tal modo que não se corra o risco de torná-la inviável.” Assim sendo
apresenta-se os seguintes objectivos gerais:
 Descrever os efeitos resultantes dos casamentos precoces ou uniões forçadas nas
raparigas;
 Analisar a falta de cobertura legal, no âmbito penal, para proteger a rapariga em situação
de casamento tradicional-prematuro;
 Identificar os Direitos Humanos (da criança/rapariga) Violados na prática de casamentos
tradicionais-prematuros no orndenameto juridico Nacional.

8
1.6.Hipóteses
Das hipóteses que possam ser levantadas, são consideradas elas como algumas razões que podem
estar por de tráz do problema, que tenham originado as possíveis dificuldades anteriormente
identificadas que estejam por de traz do problema. Sendo assim são elas:
Pais aculturados com os hábitos e costumes da antiguidade das suas gerações em relação
aos casamentos (tempos em que era normal uma menina ser casada aos seus 12 anos);
Necessidade de progredir com os Hábitos e costumes culturais dos antepassados quanto a
casamentos (a tranferencia destes actos de geração a geração);
A pressão económica(pobreza) exercida sobre os agregados familiares (Pais da menina) e
as práticas socioculturais prevalecentes, que continuam a conduzir as famílias a casarem
as suas filhas cada vez mais cedo;
Gravidez indesejada (que obriga a adolescente a viver com a pessoa que o engravidou,
mesmo com uma idade inferior aos 17 e 18 anos);
Desconhecimento dos Direitos Humanos, particularmente os da criança/rapariga, isto por
parte dos Pais da menina;
Desconhecimento dos Direitos Humanos, particularmente os da criança/rapariga, isto por
parte da propia rapariga;
Influência negativa da tradição na tomada de decisões cruciais da vida humana/rapariga
na sociedade. E entre outros.

1.6. Justificativa ou Motivação


Para já pretende-se reflectir no porquê da escolha do tema e o seu enquadramento.
Sendo assim, o tema do presente trabalho, enquadra-se na área de estudo de Ordenamento
juridico dos Direitos Humaos em Moçambique. Pois, assim como antes se referiu, a escolha do
tema trata-se de uma preocupação para com as questões juridicas Moçambicanas, sua relevância
para a sociedade e seu impacto na salvaguarda de Direitos Humanos da Criança/rapariga.

Este tema é importante no nível académico, com isso, a sua justificativa consiste também
numa exposição suscinta e completa, das razões de ordem teórica e dos motivos de ordem prática
que tornam importante a realização da pesquisa. A razão de fundo para a escolha desse tema dos

9
diversos é o interessante facto de, contribuir com a disseminação de informação contra a
violação dos Direitos Humanos em casamentos prematuros e como proceder quando se é
confrontado com um caso destes.
O fim prende-se, informar as raparigas e mulheres jovens, Pais e encarregados de
Educaçãoe a sociedade no geral sobre os seus direitos e sobre o que constitui o casamento dentro
do Ordenamento Jurídico Moçambicano. Isto pode ser feito usando estratégias de educação de
pares para transmitir informação dos direitos Humanos e ate que ponto as raparigas podem
contrair um matrimónio.
Na verdade, a cultura e a tradição faz parte daquilo que é a nossa personalidade humana,
social, visto que através desta, revela-se a nossa identidade. E culturalismo e tradicionalismo são
factos reconhecidos por lei e vivido pela sociedade. Mas, isso não significa que a cultura deve
estar acima da quilo que são os Direitos da pessoa humana e aculturada com os seus costumes de
vida social. Então, o povo de Macanga, identificam-se tambem como um povo aculturados e
tradicionalistas desde sempre, razão pela qual, no que tange aos casamentos, perpetuam com a
suas filosofias e ideologias tradicionais porém, apesar disto, nenhum direito humano deve ser
violado. E assim que os direitos da rapariga são violados diante desta situação, há necessidade
de reverter esta história humana. E com o desenvolvimento desta pesquisa acredito ter relevância
para o leitor, a sociedade deste Distrito e leva-los a reconhecer os direitos que tem e os deve
viver.

1.7.Delimitação do Tema
Os direitos humanos ou direitos do Homem, nascem essencialmente como direitos que
protegem a vida do ser humano na sociedade. O ser humano é livre, logo o Estado ou qualquer
pessoa deve abster-se de privar a liberdade; o ser humano tem direito a expressar-se livremente,
logo o Estado e qualquer outra pessoa deve abster-se de censurá-lo. A sistematização desses
direitos em uma determinada ordem constituicional ou em um tratado ou em uma proclamação
internacional constitui aquilo que a doutrina convenciona.
Conceituar então, a natureza jurídica dos direitos humanos se torna abrangente pela
diversidade de posicionamentos encontrados na doutrina. Onde para alguns, os direitos humanos
são simplesmente direitos subjetivos; onde para outros são direitos subjetivos, emanados

10
diretamente das normas positivas e somente adquirem valor jurídico ao serem reconhecidas pelo
Estado.
Do outro lado, temos a situação dos casamentos tradicionais-prematuros, estes que ate
algum tempo o Estado os aceitou, a sua realização. E isto foi a 24/08/2004 - 08h:24
Moçambique: Nova Lei da Família quando o Estado reconhece casamentos tradicional e
religioso, Maputo, 24 Ago (Lusa) – onde a Assembleia da República de Moçambique aprovou
uma nova Lei da Família, que, entre outras inovações, reconhece os casamentos monogâmico
religioso e tradicional. Mas, apesar de conferir dignidade jurídica aos casamentos religioso e
tradicional, tal nova Lei da Família impõe para os dois tipos de matrimónio os mesmos requisitos
para a celebração do casamento civil, nomeadamente a idade mínima para casar, de 14 anos para
a mulher e 16 anos para o homem.
Tomando em considerando o que acima esta exposto, verifica-se, porém, que estamos diante de
uma situação em que promove-se casamento à idades muinto inferiores. E isso, sem sombra de
dúvidas, leva a infrigência dos direito humanos (da criança,) na medida em que esta lhe é
incumbida o direito de adquirir um status fora do seu nível.
Foi desta observação e de outras que se levantou o seguinte tema: A
Inconstituicionalidade dos Direitos Humanos em Casamentos Tradicionais-Prematuros no
Ordenamento Juridico Moçambicano.

De salientar ainda que, a observação em referência, na qual se constatou diferentes


situações evidentes do fenómeno em estudo, ocorreu durante o período em que a pesquisadora, a
autora deste projecto (Do Céu Bonita Chiria), residia e trabalhava na conservatória do Distrito de
Macanga, desde 2004 ate 2007. Em tais épocas, o contacto com população do Distrito de
Macanga era directo. Porem, como se não bastasse, o fenómeno contínua, ou seja, perpetuou ate
a actualidade, e isto foi verificável em 2019, quando em alguma viagem familiar rumo ao
Distrito de Maganca, a autora observou a prevalência de realização dos casamentos tradicionais-
prematuros por parte daquele povo. E durante este tempo, em relação aos acontecimentos, este
assunto despertou alguma sensibilidade e interesse de poder levar este assunto a uma abordagem
cientifica do ramo de Direito. E assim, o ambiente possibilitou com que se pudesse verificar,
estudar e, balançar os acontecimentos por parte da autora, levando-a a delimitação do tema
supracitado.

11
1.8.Limitação do Trabalho
A limitação deste trabalho, tem em consideracao os protagonistas principais do tema em
discussao. Ora, a limitação do estudo tem em vista o conceito de criança, casamento e direito a
luz da constituição, com isso temos:
1. Criança: Considera-se criança a todos os indivíduos com menos 18 anos de idade (Lei nº
7/ 2008, de 9 de Julho, Sobre a Promoção e Protecção dos Direitos da Criança).
Considerandso isso, este trabalho vem defender a posição contra a violação à
crianca/menos com uma idade abaixo de 18 anos e, esta não pode contrair matrimonio,
visto que é criança.
2. Casamento: É a união voluntária e singular entre um homem e uma mulher, com o
propósito de constituir família, mediante comunhão plena da vida. Nos termos da Lei da
Família, Lei nº 10/2004 de 10 de Agosto, a idade legal para casar sem consentimento
parental, passou dos 16 para os 18 anos. Entretanto, no interesse público e familiar e,
havendo consentimento dos pais ou dos representantes legais, o casamento pode ser
contraído aos 16 anos a título excepcional. Neste trabalho, rejeita-se a excessão
consimental para contrair matrimonio, mesmo se a tal menor queira se envolver. Somente
acima dos 18 anos qualquer cidadã esta livre de tomar suas decisões, e em caso de
casamento, esta pode livremente contrair matrimónio, isto, porque tem a idade minima
aceite na lei.
3. Casamento prematuro: O casamento prematuro é definido como a união marital,
envolvendo menores de 18 anos. Este constitui violação dos direitos sexuais e
reprodutivos. E os direitos que neste trabalho são defendidos são exactamento dos
menores de 18 anos, os quais envolvendo-se em casamentos prematuros, seus direitos são
inconstituicionalizados, ou seja, são lhes tirados, violados.

12
CAPÍTULO II: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.Conceito dos Direitos Humanos


Salienta PIOVESAN (2004) que:
Direitos Humanos são os direitos básicos de todos os seres humanos. São direitos civis e
políticos, direitos econômicos, sociais e culturais (exemplos: direitos ao trabalho, à
educação, à saúde, à previdência social, à moradia, à distribuição de renda, entre outros,
fundamentados no valor igualdade de oportunidades); direitos difusos e colectivos
(exemplos: direito à paz, direito ao progresso, auto determinação dos povos, direito
ambiental, direitos do consumidor, inclusão digital, entre outros, fundamentados no valor
fraternidade).

2.1.Natureza Jurídica dos Direitos Humanos


Na filosofia de ALEXANDRINHO (2001): diz-se que os direitos humanos ou direitos do
homem, nascem essencialmente como direitos negativos, ou seja, como obrigação de omissão ou
abstenção por parte de Estado em face de certas condutas dos cidadãos.
O ser humano é livre, logo o Estado deve abster-se de privar a liberdade; o ser humano
tem direito a expressar-se livremente, logo o Estado deve abster-se de censurá-lo. A
sistematização desses direitos negativos em uma determinada ordem constituicional ou em um
tratado ou em uma proclamação internacional constitui aquilo que a doutrina convenciona.

Conceituar então, a natureza jurídica dos direitos humanos se torna abrangente pela
diversidade de posicionamentos encontrados na doutrina. Onde para alguns, os direitos humanos
são simplesmente direitos subjetivos; onde para outros são direitos subjetivos, emanados
diretamente das normas positivas e somente adquirem valor jurídico ao serem reconhecidas pelo
Estado. Segundo MORÁN (s/ano):
Outros ainda, que consideram os direitos humanos como valores; ou ainda como
princípios gerais de direito; enquanto para outros são faculdades de poderes nascidos de
normas objetivas previamente existentes nos ordenamentos estatais, que lhes são
impostas obrigando o seu reconhecimento, com sentido de direito natural clássico ou
simplesmente como direito objetivo numa concepção mais actual.

13
2.2. Concepções Doutrinárias Acerca da Natureza Jurídica dos Direitos Humanos
2.2.1. Concepção Jusnaturalista
A concepção jusnaturalista é aquela tradicionalmente adotada por aqueles que defendem
a plena validade jurídica dos direitos humanos como faculdades intrínsecas do homem,
independente de sua positivação. Direitos do homem como imperativos do Direito natural,
anteriores e superiores à vontade do Estado.
Segundo CANOTILHO (2003),Direitos do homem são direitos válidos para todos os povos e em
todos os tempos (dimensão jusnaturalista-universalista), ou seja, os direitos do homem
arrancariam da própria natureza humana e daí o seu caráter inviolável, intemporal e universal.

2.2.2. Concepção Ética


Esta concepção trata os direitos humanos como direitos morais, à vista disso entendem que toda
norma jurídica pressupõe uma série de valores. NUNO um dos defensores da teoria dos direitos
morais, entende que os direitos humanos são a parte mais substancial dos direitos morais
oriundos dos princípios da inviolabilidade, da autonomia e da dignidade da pessoa humana.

2.2.3. Direitos Humanos como Princípios


Esta concepção entende que os direitos humanos são princípios externos ao ordenamento
jurídico. Não faltando quem assegure que os direitos humanos formam parte de um ordenamento
jurídico, como princípios não formulados em normas positivas expressas. Se trata de uma teoria
muito próxima a teoria dos direitos morais, que entendem os direitos humanos como valores
morais, sendo que esta entende como princípios.
Para MORÁN (s/ano)“indaga ser óbvio que os direitos fundamentais incorporados nos
preâmbulos são considerados como princípios superiores do ordenamento jurídico.

2.2.4. Concepção Legalista


A concepção legalista afirma que não existe direitos fundamentais se estes não estiverem
reconhecidos no ordenamento jurídico estatal. De facto, há quem entenda que os direitos
humanos carecem de uma entidade jurídica de verdadeiros direitos humanos antes de sua
incorporação à lei positiva, pois não existem direitos humanos que não estejam positivados pela
legislação estatal, é uma atitude legalista (pelo Estado).

14
No pensamento de PECES-BARBA (1980), tentando explicar a concepção legalista dos
direitos humanos, faz a distinção destes com os direitos fundamentais. Para este doutrinador, os
direitos fundamentais se completam com sua recepção no Direito Positivo, pois, em sua opinião,
um direito fundamental não alcança sua plenitude se não for reconhecido no direito positivo.

2.3.Violação de Direitos Humanos por Meio de Casamento Tradiconal-Prematuro


A negação do direito à educação interfere com o direito das crianças à educação, mas
também com o desenvolvimento da sua personalidade, a sua preparação para a idade adulta e as
possibilidades e oportunidades de emprego. Perderá igualmente importantes espaços de
socialização e de fazer amizades, pelo que provavelmente será uma adulta que viverá em maior
isolamento do que as outras. E em sociedades como a do Distrito de Macanga, faz senir situações
de desistência a escola e entre outras.
Por isso, quando em presença de um casamento prematuro, há matéria legal para intervir no
sentido de proteger a criança e criminalizar todos os responsáveis envolvidos:
1. Os pais ou responsável legal que entregou a criança;
2. O adulto que recebeu a criança e a mantém para fins de exploração laboral e sexual.

Segundo (Bruce, 2002, citado por FNUAP, 2003), Que direitos estão a ser negados com o
casamento tradicional-prematuro? Em resposta a questão, se nos guiarmos pela vivencia
cultural e tradicionalista do povo de Macanga em oposicao às Convenções sobre os Direitos da
Criança/rapariga, são violados os seguintes direitos:
 O direito à educação (artigo 28).
 O direito a ser protegida contra todas as formas de violência física ou mental, dano ou
abuso, inclusive sexual (artigo 19) e de todas as formas de exploração (artigo 34).
 O direito ao gozo do mais alto nível possível de saúde (artigo 24).
 O direito à informação escolar e profissional e orientação (artigo 28).
 O direito de procurar, receber e transmitir informações e ideias (artigo 13).
 O direito ao descanso e lazer, e de participar livremente na vida cultural (artigo 31).
 O direito de não ser separada de seus pais (obrigada a casar) contra a sua vontade (artigo
9).

15
 O direito à protecção contra todas as formas que afectam de qualquer modo o bem estar
da rapariga (artigo 36).

Quanto mais as menores/crianças ou raparigas se encontram em situações desfavorecidas


(zonas rurais como em algumas as do Distrito de Macanga-Tete, com pouco acesso à escola e
com menores níveis de rendimento, com menor investimento tanto na esfera económica como
sociocultural), menos oportunidades têm de gozar dos seus direitos. Portanto, falar em casamento
prematuro é falar em discriminação. Discriminação das raparigas em relação aos rapazes e
discriminação entre as crianças de sexo feminino, consoante, entre outros, o nível de rendimentos
da sua família e a sua escolarização.

Segundo o relatorio de UNICEF:


ՙՙAs raparigas que vivem nestas uniões forçadas, para além de se verem impossibilitadas de
gozarem dos seus direitos, sofrem severas consequências no que diz respeito ao seu bem-estar
psicológico e emocional, à sua saúde reprodutiva e às suas oportunidades educativas e na vida
como adultasˮ.
Portanto, vale dizer que a idéia de educação para a cidadania não pode partir de uma visão da
sociedade homogênea, como uma grande comunidade, nem permanecer no nível do civismo
nacionalista. Torna-se necessário entender educação para a cidadania como formação do cidadão
participativo e solidário, consciente de seus deveres e direitos – e, então, associá-la à educação
em direitos humanos. Só assim teremos uma base para uma visão mais global do que seja uma
educação democrática, que é, afinal, o que desejamos com a educação em direitos humanos,
entendendo “democracia” no sentido mais radical – radical no sentido de raízes – ou seja, como
o regime da soberania popular com pleno respeito aos direitos humanos.
Não existe democracia sem direitos humanos, assim como não existe direitos humanos
sem a prática da democracia. Em decorrência, podemos afirmar o que já vem sendo discutido em
certos meios jurídicos como a quarta geração, ou dimensão, dos direitos humanos: o direito da
humanidade à democracia. Esta educação formal na escola, resultará mais viável se contar com o
apoio dos órgãos oficiais, tanto ligados diretamente à educação como ligados à cultura, à justiça
e defesa da cidadania.

16
2.4.CASAMENTO E SEUS EFEITOS
2.4.1. Breve Historial da Evolução do Casamento
Sob o ponto de vista sociológico o casamento é um fenómeno humano muito antigo que
se formalizava sem qualquer acto solene diz CHILAULE (2016:29).
No direito romano distinguia-se o casamento do simples concubinato pela affection
maritalis, elemento subjectivo que evidenciava o propósito comum de convivência duradoura
entre o homem e a mulher. Era pois um acto voluntário que começou com vontade dos 2 e
poderia terminar com o repúdio universal ou bilateral - é muito parecidocom a figura da união de
facto.
Na idade média e com a influência do cristianismo o casamento passou a ser encarado
como um sacramento em que intervinha a vontade divina, o casamento revestia-se de forma
canónica e era o ministro do culto que autorizava a celebração. Só a partir do Concilio de Trento
do século XVI em que o sacerdote passou a intervir na sua celebração.
Com a separação da igreja criou-se o advento do protestantismo e seu predomínio em
alguns países Europeus como a Inglaterra, retirou a igreja o controlo do casamento submetendo-o
ao Estado.
Foi só com a revolução francesa, no final do século XVIII que se passou a adoptar a
concepção do casamento como um acto meramente civil, como um contrato, baseado na vontade
dos nubentes e sem estar sujeito à intervenção obrigatória da Igreja, surgindo assim o casamento
de natureza laica de competência dos representantes do Estado e independente do casamento
religioso.

Ora, Nos termos do artigo 7.º LF


O casamento é “a união voluntária entre um homem e uma mulher, formalizada nos termos da
lei, com o objectivo de estabelecerem uma plena comunhão de vida”. E importa notar que
existem vários elementos essenciais, a saber:
 O elemento subjectivo da voluntariedade por parte, dos nubentes, homem e mulher.

 A necessidade da sua formalização, segundo a forma estabelecida na lei, que é o que


distingue da união de facto.

 A finalidade legal do casamento que é o estabelecimento da plena comunhão de vida.

17
2.4.2. A Natureza Jurídica do Casamento
Segundo o art. 7º
O casamento é caracterizado como sendo um acto ou negócio jurídico, solene mediante o qual
um homem e uma mulher aceitam voluntária e reciprocamente estabelecerem convivência de
carácter duradouro.
Tem duas vertentes:
1. Casamento como acto, cerimónia que se celebra - como acto em si.
2. Casamento como estado familiar, em que os nubentes se vão encontrar a pois a cerimónia
é consequência da cerimónia como estado. O casamento como estado é um vínculo
jurídico composto por um conjunto complexo de direito e deveres.
3. Como um acto e na doutrina civilista predomina a concepção de casamento como um
contrato.
Geralmente, no Distrito em Causa, a realização do casamento, não tem dependido da voz
voluntaria dos sujeitos a se casarem.
Segundo VARELA (2004) diz que:
O casamento como um contrato solene em que intervem duas declaracoes de vontade que
são contraposta mas são harmonizadas, caracteriazado pela diversidade de sexo que tem
como conteúdo e como fim a plena comunhão de vida. Que tem uma outra visão do
casamento. Assim, este entende que “o casamento é a união voluntária e singular entre
um homem e uma mulher, com o propósito de constituir família, mediante comunhão
plena de vida.

O nosso código de família quis deixar de reconhecer o casamento como um contrato para passar
a reconhecê-lo como uma união, embora reconheça nele um negócio jurídico em que a
declaração da vontade dos nubentes vai produzir unicamente os efeitos jurídicos previstos na lei
e que são de natureza imperativa. A sua autonomia da vontade circunscreve-se à dois pontos,
considerados como pertinentes aos direitos fundamentais da pessoa humana:
 Cada pessoa é livre de casar ou não.
 Cada pessoa é livre de escolher a pessoa de outro sexo com quer casar.O casamento deve
ser definido como um negócio jurídico familiar e bilateral, com a natureza de um pacto,
celebrado entre os nubentes. É o acto jurídico condição de aceitação do estado de casado,
que dele decorre, estado esse que se estabelece reciprocidade entre 2 nubentes.
Fica portanto, afastada, a hipótese do casamento como um contrato civil, pois a vontade do
Estado intervêm no acto do casamento, antes da sua celebração, através do conservador do

18
registo civil, cuja intervenção tem a natureza certificativa e a sua participação é indispensável à
própria existência do acto jurídico.

2.4.3. Pressuposto de Existência do Casamento


O casamento é um acto jurídico cujo a celebração e validade exigem que se verifique
previamente a existência de certos pressupostos e ainda certas condições legais. O casamento
para ter existência jurídica necessita de três pressupostos sem os quais a sanção é de inexistência
ou a de anulabilidade do casamento. Mas estes presuostos não tem sido observados em várias
cerimónias de Casamento do nivel tradicional em Macanga.

2.4.4. Validade do Casamento


O casamento como negócio jurídico bilateral e solene é constituído por elementos de natureza
substancial e de natureza formal.São condições de fundo:
 Aptidão natural para contrair o casamento, diferença de sexo. Idade púbel, saúde física,
inexistência de impedimento previstos na lei, vontade de contrair o casamento,
capacidade das partes.
 Capacidade matrimonial (idade núbil e ausência de impedimento).
 Mútuo consentimento.
 Condições que reportam o processo preliminar que antecede o casamento e a forma
solene e públicada celebração. O direito da família está ligado ao direito constituicional, a
norma constante do n.º 2 do art. 119 CRM, protege de foma constitucional a familia, e a
protege atraves das normas existentes - é fundamental no que se refere á regulação do
casamento mas carece de normas da família que a ampliem e limitem.

2.4.5. Rquisitos Necessarios para Contrair Matrimónio


Historicamente a capacidade matrimonial varia de época para época e de cultura para
cultura e tem havido medidas discriminatória, como por ex. o apartheid, a igreja católica que
proibia o casamento com outras religiões. Modernamente estas prescrições opõem-se a direitos
fundamentais do homem que são hoje nulas.
Segundo CHILAULE (2016: 33) advoga que:

19
ՙՙa capacidade matrimonial, que não coincide com a capacidade de celebrar negócios
jurídicos de outros ramos de direito, obedece aos fins específicos do casamento e aptidão
para casar revela-se por condições de maturidade física e psíquica assim como por
restrições impostas a pessoas ligadas por vínculos familiares por razões de ordem moral e
até de eugeniaˮ.

Na perspectiva de Chilaule (2016), são portanto necessários os seguintes requisitos:


1. Idade Núbil: a maturidade sexual é a condição biológica para celebração do casamento
assim como há ainda que ter em conta a maturidade psíquica. A idade núbil atinge-se aos
18 anos, sendo excepcionalmente permitido o casamento com a idade inferior quando tal
se mostrar preferível, sendo necessário autorização do representante ou representante
legais do menor, e quando o homem tenha pelo menos 16 anos e a mulher no mínimo 15
anos, sendo assim a menoridade de 18 anos uma incapacidade relativa.

No entanto a lei, por uma questão de preservação do casamento, e em caso de incapacidade


matrimonial, não se fere de nulidade absoluta estes casamentos, permitindo mais tarde a sua
convalidação. Quanto ao estado de saúde dos nubentes, o nosso código não faz referência a esse
assunto pelo que não dá que fazer prova de aptidão física para o casamento.

2. Impedimentos Matrimoniais
São proibições de carácter excepcional art. 29 LF
A lei exige legalmente a circunstância negativa de que não se verifiquem em relação aos
nubentes quaisquer impedimento matrimonial, ou seja facto jurídico que obstam a realização do
casamento, e que podem ser classificados como impedimento dirimentes (absolutos e relativo)
que são aqueles que dirimem, destroem os efeitos do casamento e dos impedimento não
dirimentes ou meramente impedientes, são aqueles cuja existência obstam a realização do
casamento mas não afecta a sua validade.
a) Impedimento Dirimentes absoluto 30º LF: dizem-se absolutos porque impedem a
pessoa de se casar com quem quer que seja.
b) Impedimento Dirimentes Relativo art. 31º LF: embora designados de relativos
estes impedimentos impedem absoluto o casamento dando origem à sua anulabilidade
mas impede unicamente que duas pessoas casarem uma com a outra mas não
impedem que casem com outrem.

20
c) Impedimento Impedientes: o nosso código eliminou a referência a estes
impedimentos embora no entanto no seu artigo 32º LF ao referir - se à capacidade
matrimonial menciona não só os impedimentos previstos no código como ainda
aqueles que venham a constar de lei especial, deixando-se assim em aberto a
possibilidade de outras leis virem a condicionar o direito de contrair casamento.

3.Consentimento
Conforme CHILAULE (2016), este é o segundo elemento consubstancial que integra o acto do
casamento é o elemento psicológico e subjectivo: a vontade do nubente. O que significa que o
consentimento tem de ser dado pela pessoa do nubente, ninguém pode ser substituído, mesmo em
caso do nubente ser menor, apesar de para isso ter de estar autorizado. Aqui retira -se o
consentimento dos Pais.
No entanto é permitido que um dos nubentes esteja representado por um procurador, a lei
impõe que a procuração seja de natureza especial, válida tão-somente para o acto de casamento,
devendo mencionar expressamente o nome do outro nubente, art. 42º, n.º 2 LF e nunca se pode
fazer representar os dois nubentes no mesmo tempo. O nosso sistema não admite os casamentos
arranjados pela família pois, este tem de ser contraído com base na vontade dos nubentes. Não se
admitem no casamento condições ou termos pois o casamento tem natureza imperativa e
autonomia da vontade esgota-se com a escolha de casar ou não casar e com quem, casar. Para ser
válido tem de ser actual ou seja no momento da celebração.

2.4.6.Nulidade do Casamento
Aqui a regra é de que o casamento existe só que foi contraído com a violação de certas regras e
direitos e enquanto não for decretado nulo ele produz efeitos jurídicos.
Segundo o art. 59 LF - sem ser declarada ela não é invocável, vício da nulidade terá portanto de
ser declarado em acção judicial de natureza impugnativa. mA doutrina distingue consoante os
vícios do acto:
Nulidade absoluta: afecta aqueles casamentos celebrados com violação de impedimento
dirimentes absolutos ou relativo - este tipo de nulidade é invocável pelos cônjuges, por terceiro
cujo interesse esteja protegido por lei e o Ministério Público porque violou um princípio de

21
ordem pública. Exemplos casamentos incestuosos, de bigamia e de conjugicídio, e ainda dea para
acrescentar situações de que envolvem menores.

Nulidade relativa ou mera anulabilidade: Os casamentos celebrados com violação de


disposição meramente proibitiva e ou com falta ou vicio de vontade - só os cônjuges e os
representantes do menor ou de interdito podem pedir a declaração de nulidade, embora o
casamento mesmo ferido de nulidade pode ser validado. São os casamentos que contenham o
vício de demência e de impuberdade.

O critério de distinção dos dois tipos de nulidade é a de mais larga ou mais restrita a
legitimação para a propositura da acção de anulação assim como de uma maior ou menor
dilatação do prazo para a acção ser proposta.

2.4.7.. Regime de Nulidade do Casamento


Art.71º- a sentença de nulidade poderá ter duas espécies de natureza:
1. Natureza constitutiva, porque apesar do casamento ser declarado nulo este produz ainda
alguns efeitos, art. 71 º LF - no caso de o casamento putativo.
2. Natureza meramente declarativa a sentença sem que se produza qualquer efeitos. Os
casos de anulabilidade vêm previstos no art. 60º LF.

2.4.7.1.Causas de Nulidade
 Falta de Capacidade Matrimonial
 Falta de idade núbil: art. 30 LF- fixa a ideia núbil aos 18 anos e embora haja excepções
estas têm de obedecer a lei. O casamento do menor não núbil está ferido de nulidade
absoluta.
 Falta do vício da vontade: art. 61 LF são vícios que ferem um dos pressupostos de
casamento que é o do mútuo consentimento.
 Prazos: o prazo de anulação revela também que a lei procura salvaguardar tanto quanto
possível a estabilidade do casamento mesmo ferido de nulidade. Os prazos de invocação
de nulidade são mais dilatados ou mais diminutos consoante a natureza e gravidade do
vício art.67º LF.

22
2.4.8. Validação do Casamento
É uma mão estendida da lei a favor de um casamento que foi celebrado com vícios com
vista a salvaguardar a estabilidade da família assente no casamento, art. 52 LF

2.5.Descrição, Comparação e Ánalise de Estudos Realizados sobre o Tema


Nesta fase deste capitulo, todos os institutos são relevantes para apreciação do problema
da nossa pesquisa, com isso, trar-se-á a definição, motivações e influências do Casamento
Prematuro, Casamento prematuro, infância, Género e relações de poder, casamento Prematuro no
Ordenamento juridico Moçambicano, tendo refrencia a Convenção Internacional dos Direitos da
Criança, lei da família aprovada lei 10/2004 de 25 de Agosto, e o Código Civil e as visão de
alguns autores.
Autores que abordam o casamento prematuro na perspectiva da pedagogia de
desenvolvimento, da psicologia e feminista concordam em afirmar que no contexto
moçambicano a prevalência desta prática é legitimada por valores de ordem cultural.
Segundo WILSA: “ Os mesmos são usados para justificar tal prática com motivações intra-
familiar que evocam a dimensão material (por parte dos promotores) e a dimensão simbólico
moral (por parte da vítima) ”.

FALEIROS considera que:


Perspectivar o casamento prematuro como uma prática que viola os direitos da mulher
menor de idade enquadrada-se num contexto histórico, sociocultural, económico e ético -
moral. Considera-se, porém, que a perspectiva feminista apresenta limitações ao não
abordar o casamento prematuro como um fenómeno autónomo que reflecte a violência
estrutural característica das sociedades marcadas pela distribuição desigual de riqueza e
pela relação assimétrica de poder.

Os autores que representam os estudos feminista exprimem-se em abordar a


complexidade das relações de subordinação que caracterizam as relações estabelecidas entre a
criança/menor e o adulto e; a infância e o mundo do adulto que em contexto de casamento
prematuro são severamente influenciadas pelas dimensões de género, classe social, etnia, geração
e, até, raça.
Assim, a estratégia recomendável para analisar o casamento prematuro como prática que
atenta contra os direitos humanos é abordar a criança como actor social e a infância como
construção social com características específicas e não como objectos submissos, invisíveis e em

23
trânsito para a fase adulta, por isso, confinadas ao espaço doméstico ou às instituições escolares
como defendem as teorias de socialização e do desenvolvimento social.

2.5.1.Definição, Motivações e Influências do Casamento Prematuro


Na análise de bibliografia e documentação de referência foram identificadas duas grandes
abordagens teórico-metodológica consideradas úteis para o entendimento do casamento
prematuro. A primeira analisa o grau de implementação das recomendações da Convenção
Internacional dos Direitos da Criança a partir da análise culturalista e estrutural funcionalista da
criança como categoria social.
Ora, ao analisar o grau de implementação das convenções internacionais e do
estabelecido no ordenamento jurídico-legal, atinente à promoção dos direitos da criança, estes
autores fazem referência a factores socioculturais para explicar os constrangimentos enfrentados
pelos actores que militam na área da protecção e promoção dos direitos da criança.
BARROS e TAJÚ sustentam que:
A ideia de que a condição da criança, em termos do exercício dos seus direitos,
obrigações e direitos reflecte os papéis funcionais ou competências culturais prescritas e
esperadas pela sociedade refere-se a um ser imaturo que precisa ser preparado para a vida
adulta, prevalece criando condições para a exploração da noção do casamento prematuro.

Verdadeiramente, esta perspectiva permite afirmar que o casamento prematuro é


fundamentado pelo processo de socialização, na perspectiva durkheimiana, que aborda a infância
como espaço social de preparação do indivíduo para a vida adulta. Neste espaço, estão sempre
presentes interesses políticos estratégicos das estruturas familiares que asseguram a organização
das mesmas e sua relação com o meio exterior.
Por isso, a partir da compreensão das lógicas que determinam o lugar que a criança ocupa
na estrutura familiar e o seu espaço de actuação torna-se, a nosso ver, fácil compreender os
factores que tornam o casamento prematuro um fenómeno que ocorre em regiões específicas do
país com impacto severo na qualidade de vida da população feminina das zonas rurais.
Estes autores, afirmam que os papéis e espaços sociais de actuação das crianças são
determinados em função das referências culturais do grupo no qual estas se encontram inseridas.
Esse posicionamento remete-nos à discussão sobre a capacidade que as crianças têm para
negociar seus interessese direitos nos espaços que lhes são socialmente prescritos.

24
O ponto de partida para a delimitação da noção de casamento prematuro passa pela
harmonização do conceito criança. Sendo uma categoria social importante no processo de
produção e reprodução de valores, normas e práticas culturais; a criança, conceitualmente
apreendida e compreendida é vivenciada de maneira diversificada em função das representações
e lógicas de vida dos grupos nos quais ela se encontra inserida CHILAULE (2016:43).
Sabe-se que o casamento prematuro constitui um fenómeno caracterizado pelo
casamento tradicional entre indivíduos adultos do sexo masculino e raparigas na adolescência e
pré-adolescência, que vivem em contextos socioculturais específicos.
Na abordagem sobre casamento Prematuro e o reconhecimento das competências
culturais e da capacidade do indivíduo exercer papéis sociais prescritos pelo grupo a SAVE
CHILDREN, defende que:
Não se pode abordar o casamento prematuro como uma prática exterior às referências
socioculturais das comunidades porque ele acaba sendo um elemento estruturante das
relações que são estabelecidas na família e entre os diferentes grupos familiares que
constituem estas comunidades.
Entende-se por isso, que se deve ter em conta que, como prática cultural reiterada, o
casamento prematuro não é visto pela comunidade como uma forma de violação dos direitos da
criança emanados pelas convenções internacionais e pelas normas jurídicas internas instituídas
para o efeito.
As convenções internacionais sobre os direitos da criança e, especificamente, a Carta
Africana dos Direitos e Bem-estar da Criança ratificada por Moçambique através da Resolução n.º
20/98 de 26 de Maio do Conselho de Ministros refere que o conceito de criança é consentâneo com a
definição da Declaração Universal dos Direitos da Criança (DUDC) (Artigo 2) e, defende o princípio
de prioridade nas acções relacionadas com a criança (Artigo 4). Este documento exige a protecção da
privacidade da criança (artigo 10), a necessidade de protecção contra o abuso infantil (artigo 16), a
proibição de casamentos prematuros e a promessa de casamentos a menores (artigo 21 n. ° 2) e insta
os Estados a tomarem medidas contra todas as formas de exploração e abuso sexual artigo 27.

2.5.2.Casamento Prematuro, Infância, Género e Relações de Poder


O casamento prematuro ainda não constitui objecto de estudo de pesquisas feministas em
Moçambique, ele é abordado integrado pesquisas sobre relações de género e poder de forma
abrangente onde este é apresentado como uma dos factores que limitam os direitos humanos da
mulher. As contribuições trazidas pelos “estudos feministas”, ao analisarem a violência e abuso

25
sexual contra mulher, permitem enquadrar o casamento prematuro como reflexo das relações
desiguais de poder e dominação entre homens e mulheres nas sociedades de ideologia patriarcal.
Foi referido, anteriormente, que a criança, categoria social, é considerada um ser subalterno que
ocupa um lugar específico na estrutura da família e da comunidade.
Ao analisar o grau de aplicabilidade dos direitos humanos e das mulheres, considera as
dificuldades interpretação, aplicação e promoção dos direitos humanos das mulheres têm origem
no facto da Declaração Universal dos Direitos Humanos ter sido instituída com base em modelo
patriarcal como é o caso de todas as formas de violência exercidas no âmbito da família
explicadas do ponto de vista da tradição cultural e do respeito à privacidade.
Nesta perspectiva, o casamento prematuro é entendida como forma de violência da
rapariga com efeitos directos no exercício da sua saúde sexual e reprodutiva. Deste modo pode-
se abordar o casamento prematuro no âmbito da protecção dos direitos Humanos das mulheres
menores, ainda que este artigo lido verse sobre os direitos da mulher.
Na abordagem de OSÓRIO (2000) ՙՙdestaca-se o facto de esta considerar que na DUDH a
privacidade ser concebida como um campo de não intervenção do Estado, por isso, passível de
ser regulada por práticas e valores sociais em conflito com o públicoˮ.
Esta afirmação é crucial para entendermos até que ponto se podem desenvolver acções e
estratégias conducentes à inibição do Casamento Prematuro tendo como suporte o sistema
jurídico que, como foi anteriormente anotado, não reflecte as práticas costumeiras relacionadas
com a integração das crianças na estrutura familiar.

Em suma, a rapariga, como mulher e criança é duplamente discriminada. Como criança,


ela não existe socialmente e, como mulher ocupa uma posição subalterna na estrutura familiar.
Por isso, considera-se que o casamento prematuro é reflexo da sua dupla subalternidade (Criança
/rapariga).
Por outro lado, sendo o casamento prematuro o marco de ingresso na vida adulta que
legitima os laços de pertença ao grupo familiar e comunidade, torna-se possível apoiarmo-nos
nos autores dos estudos feministas para afirmar que o casamento prematuro constitui fenómeno
que se desenvolve directamente ligado ao processo de construção da identidade feminina que
salienta a subalternização da mulher. Isto pelo facto de esta ser mulher, e da rapariga pelo facto
de ser “criança”.

26
Segundo OSÓRIO (2000) “Como ocorre entre as mulheres adultas, as humilhações
públicas tendem a atingir as vítimas como reflexo das normas social e culturalmente
estabelecidas na sociedade”.
Neste âmbito, considera-se que as raparigas dispõem de espaço e instrumentos limitados
e aceites para se protegerem dos casamentos prematuros. Este facto é fundamentado pela
permanência da ideologia patriarcal que se matem nas estratégias de organização, distribuição,
representação e controlo do papel e da função social da mulher na estrutura familiar.

2.6.O Casamento Prematuro no Ordenamento Jurídico Moçambicano

O casamento prematuro no ordenamento jurídico moçambicano é como uma das


expressões pouco percebida de abuso sexual e da violação dos direitos sexuais e reprodutivos da
rapariga. Contudo, percorrendo os dispositivos legais (Lei da Família) podemos constatar uma
“almofada” que acomoda essa pratica, ao conceber no seu art. 30, n.º 2, da caso a esta pratica ao
consentir que pessoas com menos de 18 anos e mais de 16 possam contrair casamento.

Moçambique é parte de determinados tratados internacionais, ondem podem encontrar


por meio do art 18, n. º 3 da CRM, o qual preceitua que “o Estado tem o dever de assegurar a
protecção dos direitos da mulher e da criança, conforme estipulados nas Declarações e
Convenções Internacionais”.

Sob o ponto de vista académico, é importante fazer o estudo sobre este tema, pois
apresenta um pouco ou quase inexplorada no contexto das discussões sociológicas e de
desenvolvimento sobre casamentos prematuros em Moçambique, que é a abordagem jurídica que
analisa as Implicações da Violação dos Direitos Fundamentais dos Menores.
Nesse sentido, a partir do que está exposto e analisado, lança-se importantes contributos
para as autoridades de administração da justiça, lançam-se novos horizontes de pesquisa que,
posteriormente ajudarão a compreender as subjectividades dos menores em situação forçada de
casamento.

27
A legislação moçambicana defende o princípio de eliminação de qualquer forma de
discriminação e exploração contra a criança pois, ao ratificar as convenções que protegem e
promovem os direitos da criança, o Estado moçambicano aderiu ao princípio de liberdade e
igualdade no tratamento dos direitos humanos das crianças. Considera-se assim, que as uniões de
caracter matrimonial envolvendo menores de idade, sendo promovidas por adultos não têm
enquadramento no ordenamento jurídico moçambicano (Ex: Código Civil, Lei da Família), é
pois, neste âmbito que torna-se importante ter em consideração que neste artigo o casamento
prematuro resume-se a relações de carácter matrimonial envolvendo indivíduo adulto de sexo
masculino e menor de sexo feminino.

2.6.1.Impacto Negativo do Casamento Prematuro


Conforme CHILAULE (2016) a magnitude dos efeitos do casamento prematuro não é conhecida
no país, porém, reconhece-se que o seu impacto está directamente relacionado com aumento:

1. Da incidência da gravidez precoce e consequente aumento das taxas de morte materna


(antes, durante ou nos 42 dias subsequentes ao parto);
2. Dos índices de abandono escolar entre as raparigas;
3. Dos índices de pobreza entre a população feminina; e
4. O casamento prematuro é definido como sendo uma união de carácter matrimonial que
envolve pelo menos um indivíduo menor de idade.
Em Moçambique, o casamento prematuro envolve, maioritariamente, raparigas com idades
inferiores a 18 anos e indivíduos adultos de sexo masculino. Este facto realça as relações de
dominação e subordinação que, no contexto moçambicano, orientam as relações entre adultos e
crianças e entre indivíduos do sexo masculino e do sexo feminino. Contudo, por se tratar de
casamento que envolve indivíduo menor de idade, o casamento prematuro não tem cobertura
legal no âmbito do ordenamento jurídico moçambicano.

Na sociedade moçambicana, o adulto tem o domínio sobre a criança e o homem sobre a


mulher, afectando as relações conjugais e familiares decorrentes do casamento prematuro.Assim,
em Moçambique, o casamento prematuro constitui prática comum legitimada por factores
culturais, sociais, económicos, religiosos, psicológicos e morais que violam os direitos da criança
consagrados na Convenção Internacional dos Direitos da Criança.

28
Apesar do impacto que o casamento prematuro tem na vida das raparigas mais pobres do país
com idade inferior a 19 anos, estas continuam à margem das prioridades de intervenção das
instituições e organizações que militam em prol da promoção e protecção dos direitos da criança.

No actual contexto sociopolítico, o investimento na análise de factores socioculturais que


determinam a maneira como os direitos, deveres e obrigações da criança são abordados na
família e na comunidade pode resultar na identificação de boas práticas aplicáveis à inibição do
casamento prematuro e promoção dos direitos da rapariga previstos na Constituição da República
e nos instrumentos internacionais de que Moçambique é parte.

2.6.2.Os Direitos da Rapariga na Ordem Jurídica Moçambicana


Reconhecendo a urgência de tudo o que se refere aos direitos da criança. Segundo art°. 7 da Lei
de Promoção e Protecção dos Direitos da Criança:

É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Estado assegurar à


criança, com absoluta prioridade, a efectivação dos direitos à vida, à saúde, à segurança
alimentar, à educação, ao desporto, ao lazer, ao trabalho, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

A efectivação desses direitos compreende:

1. A primazia de receber protecção e socorro em quaisquer circunstâncias;


2. Precedência de atendimento nos serviços públicos;
3. Preferência na formulação e na execução de políticas públicas na área social e
económica;
4. Afectação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a protecção à
infância e à juventude.
As medidas legislativas não se mostram suficientes para prevenir e reprimir as situações de
violação dos direitos da mulher e rapariga, pois terão de ser acompanhadas de outras medidas de
promoção e protecção das mulheres e raparigas vítimas de violação dos seus direitos, como a
mudança de mentalidade das mulheres e dos homens sobre o papel, os direitos e deveres da
mulher e sobre o reconhecimento dos direitos da rapariga e o seu respeito; a intervenção
atempada dos serviços sociais sempre que ocorram casos de violação dos direitos das crianças,
particularmente, quando é vítima dos seus familiares; a criação de condições para o emprego da

29
mulher que não tenha fontes de rendimento ou esteja impedida pela família ou pela sua condição
física ou de saúde de as ter; a criação de casas de abrigo para as vítimas.

2.6.3.Porque razões sujeitam as raparigas aos “casamentos”?


As relações equiparadas ao casamento entre raparigas e adultos têm como base questões
culturais e relações de poder entre homens e mulheres, adultos e crianças, onde as raparigas não
gozam dos mesmo direitos que os rapazes e que o seu papel de mulher começa a ser
desempenhado quando é entregue a um homem como sua “esposa”, logo que atinge a puberdade,
ou seja, logo depois que aparece a primeira menstruação. Culturalmente, a rapariga nessa fase se
torna uma mulher.

30
CAPÍTULO III: METÓDOLOGIAS DE ESTUDO
Estudar. Descrever. Explicar. Interpretar. Compreender e Avaliar.

Segundo NUVUNGA et al (2017), ՙՙmetodologia é o caminho, a direção para o rigor


científicoˮ. Oferece trilhas, normas, regras e hábitos que orientam no caminho da pesquisa
científica.

Quando aplicada, consiste em um conjunto de procedimentos utilizados que examina,


estuda e avalia métodos e técnicas de pesquisa. E também gerar ou verificar vários métodos
disponíveis, que conduzam à captação e/ ou processamento de informações relacionados a
problemas de investigação.

Depois de ter definido o seu problema digno de pesquisa e completada uma leitura
preliminar da literatura existente sobre o problema, você precisa colectar mais informações e
provavelmente também dados empíricos para escrever sua tese. Dependendo do problema que
você definiu, você terá que realizar uma revisão detalhada da literatura ou realizar pesquisa
baseada em campo - ou talvez uma combinação de ambos.

Para PINTO (2013), ՙՙmetodologia é entendida como um conjunto de procedimentos que


possibilitam o alcance de objectivos previamente traçadasˮ.

3.1.Metodologias de Estudo na Pesquisa


3.1.1. Quanto aos objectivos
3.1.1.1.Pesquisa Explicativa
Segundo Gil (1999), ՙՙa pesquisa explicativa tem como objetivo básico a identificação dos
factores que determinam ou que contribuem para a ocorrência de um fenômenoˮ. É o tipo de
pesquisa que mais aprofunda o conhecimento da realidade, pois tenta explicar a razão e as
relações de causa e efeito dos fenômenos.
Para Lakatos & Marconi (2001), este tipo de pesquisa visa estabelecer relações de causa-
efeito por meio da manipulação directa das variáveis relativas ao objecto de estudo, buscando
identificar as causas do fenômeno. Normalmente, é mais realizada em laboratório do que em
campo.

31
A pesquisa causal (explicativa) baseia-se, muitas vezes, em experimentos, envolvendo
hipóteses especulativas, definindo relações causais. Como os requisitos para a prova de
causalidade são muito exigentes, as questões de pesquisa e as hipóteses relevantes têm que ser
muito específicas (AAKER, KUMAR & DAY, 2004).
De acordo com Mattar (2001), na prática, as relações de causa e efeito não são simples
como a maioria das pessoas pensa. O senso comum acredita que uma única causa é responsável
pelo efeito, o que recebe o nome de causação determinística.
Tendo concebido a essência deste tipo de pesquisa, para a concretização do trabalho, a
autora do mesmo dedicou-se na pesquisa explicativa, em que a preocupação central é identificar
os factores que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenómenos no caso do
Distrito e Macanga. E pesquisa explicativa é o tipo que mais aprofunda o conhecimento da
realidade, porque explica a razão, o porquê das coisas.

3.1.2. Quanto ao Tipo de Pesquisa


3.1.2.1. Pesquisa Exploratória
Quanto ao tipo de pesquisa, segundo BARBOSA: O tipo de pesquisa adoptado neste
estudo é a pesquisa exploratório porque tem como objectivo em examinar um tema pouco
estudado, como se enquadra o tema da pesquisa transcrito, no caso de Moçambique
especificamente no Distrito de Macanga em Tete, que ainda continua estacionária ou
perpetuante. Ressaltar que este tipo de pesquisa, teve como objectivo proporcionar maior
familaridade com problema de modo a torná-lo mais explícito, envolvendo o levantamento
bibliográfico, do problema pesquisado, etc. Geralmente, assume a forma de pesquisa
bibliográfica e estudo de caso.
Segundo Selltiz et al. (1965), enquadram-se na categoria dos estudos exploratórios todos
aqueles que buscam descobrir idéias e intuições, na tentativa de adquirir maior familiaridade com
o fenômeno pesquisado.

Ora, neste esudo adoptou-se a pesquisa exploratoria, a qual possibilitou o aumento do


conhecimento do pesquisador sobre os factos, e que permitio, alem da formulação mais precisa
do problema, adquiriu-se uma visao mais extendida e profunda do caso. Nesta situação, o

32
planejamento da pesquisa necessita ser flexível o bastante para permitir a análise dos vários
aspectos relacionados com o fenômeno.

De forma semelhante, Gil (1999) considera que a pesquisa exploratória tem como
objectivo principal desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, tendo em vista a
formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores. E
esta foi o cunho levado a cabo no estudo do caso.

Segundo Malhotra (2001), a pesquisa exploratória é usada em casos nos quais é necessário
definir o problema com maior precisão.

3.1.3. Quanto ao Método de Abordagem


Quanto ao metodo de abordagem, o método utilizado na pesquisa foi o hipotético -
dedutivo, pois segundo LAKATO E MARCONI (1999), que iniciou com um problema ou uma
lacuna no conhecimento científico, passando pela formulação de hipóteses e por um processo de
inferência dedutiva, o qual testa a predição da ocorrência de fenômenos abrangidos pela referida
hipótese.
Na verdade, considerasse essa fase como, a fase de teste do modelo simplificado. É uma
fase meticulosa em que é observado determinado aspecto do universo, objeto da pesquisa.

3.1.1.Quanto ao Metodo de Procedimento


3.1.1.1.Metodo de Revisão Bibliografica
A pesquisa bibliográfica, considerada uma fonte de colecta de dados secundária, pode ser
definida como: contribuições culturais ou científicas realizadas no passado sobre um
determinado assunto, tema ou problema que possa ser estudado (LAKATOS & MARCONI,
2001; CERVO & BERVIAN, 2002).
Para Lakatos e Marconi (2001, p. 183), a pesquisa bibliográfica, “[...] abrange toda
bibliografia já tornada pública em relação ao tema estudado, desde publicações avulsas, boletins,
jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, materiais cartográficos, etc. [...] e sua
finalidade é colocar o pesquisador em contacto directo com tudo o que foi escrito, dito ou
filmado sobre determinado assunto [...]”.

33
Em suma, todo trabalho científico, toda pesquisa, deve ter o apoio e o embasamento na
pesquisa bibliográfica, para que não se desperdice tempo com um problema que já foi
solucionado e possa chegar a conclusões inovadoras (LAKATOS & MARCONI 2001).
Segundo Vergara (2000), a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já
elaborado, constituído, principalmente, de livros e artigos científicos e é importante para o
levantamento de informações básicas sobre os aspectos direta e indiretamente ligados à temática.
A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no facto de fornecer ao
investigador um instrumental analítico para qualquer outro tipo de pesquisa, mas também pode
esgotar-se em si mesma.
No que concerne o metodo de procedimento, o método utilizado foi, o método
bibliográfico que será desenvolvido com base em material já elaborado, constituído
principalmente de livros e artigos científicos. É através da pesquisa bibliográfica que efectuar-se-
á a leitura de algumas obras bibliográficas para a compreensão e posterior compilação dos dados
na revisão bibliográfica.

3.2.Tecnica de Pesquisa
3.3.1. Observação
Segundo Cervo & Bervian (2002, p. 27), “observar é aplicar atentamente os sentidos
físicos a um amplo objecto, para dele adquirir um conhecimento claro e preciso”. Para esses
autores, a observação é vital para o estudo da realidade e de suas leis. Sem ela, o estudo seria
reduzido a “[...] à simples conjetura e simples adivinhação”.
A observação também é considerada uma colecta de dados para conseguir informações
sob determinados aspectos da realidade. Ela ajuda o pesquisador a “[...] identificar e obter provas
a respeito de objectivos sobre os quais os indivíduos não têm consciência, mas que orientam seu
comportamento” (MARCONI & LAKATOS, 1996, p. 79). A observação também obriga o
pesquisador a ter um contato mais direto com a realidade.
Como a maioria das técnicas de pesquisa, a observação sempre deve ser utilizada
juntamente com outra técnica de pesquisa, pois, do ponto de vista científico, essa técnica possui
vantagens e limitações que podem ser administradas com o uso concorrente de outras técnicas de
pesquisa (MARCONI & LAKATOS, 1996).

34
Com base em Marconi & Lakatos (1996) e Selltiz et al. (1965), pode-se concluir que a técnica de
observação tem diversas modalidades, aplicáveis de acordo com as circunstâncias.
Em termos de tecnica de pesquisa, neste trabalho, foi a técnica da observação directa e
intensiva realizada através de duas técnicas, a saber: observação, que consiste em examinar os
factos ou fenómenos que se pretendem estudar, e também na utilização de sentidos para obtenção
de alguns aspectos da realidade.

3.3. Quanto à Escolha do Objecto de Estudo


Quanto à escolha do objecto de estudo, as pesquisa podem ser classificadas em: estudo de
caso único, estudo de casos múltiplos, estudos censitários ou estudos por amostragem. Mas
neste trabalho, escolheu-se o estudo de caso unico, e em uma região especifica geograficamete.

3.3.1 Estudo de caso único


Segundo Yin (2001), o estudo de caso é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo
dos factos objectos de investigação, permitindo um amplo e pormenorizado conhecimento da
realidade e dos fenômenos pesquisados.
“Um estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno
contemporâneo dentro do seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o
fenômeno e o contexto não estão claramente definidos” (YIN, 2001 p. 33).
Para Triviños (1987), o estudo de caso é uma categoria de pesquisa cujo objecto é uma
unidade que se analisa profundamente. Nesse sentido, Schramn, apud Yin (2001, p. 31),
complementa afirmando que essa estratégia “[...] tenta esclarecer uma decisão ou um conjunto de
decisões: o motivo pelo qual foram tomadas, como foram implementadas e com quais
resultados”.
Yin (2001, p.28) considera o estudo de caso como uma estratégia de pesquisa que possui
uma vantagem específica quando: “faz-se uma questão tipo ‘como’ ou ‘por que’ sobre um
conjunto contemporâneo de acontecimentos sobre o qual o pesquisador tem pouco ou nenhum
controle”.
“A investigação de estudo de caso enfrenta uma situação tecnicamente única em que haverá
muito mais variáveis de interesse do que pontos de dados, e, como resultado, baseia-se em várias
fontes de evidências, com os dados precisando convergir em um formato de triângulo, e, como

35
outro resultado, beneficia-se do desenvolvimento prévio de proposições teóricas para conduzir a
coleta e a análise de dados” (YIN, 2001 p. 33-34).
“A vantagem mais marcante dessa estratégia de pesquisa repousa, é claro, na
possibilidade de aprofundamento que oferece, pois os recursos se vêem concentrados no caso
visado, não estando o estudo submetido às restrições ligadas à comparação do caso com outros
casos” (LAVILLE & DIONNE, 1999, p. 156).
O ponto forte dos estudos de casos, segundo Hartley (1994) apud Roesch (1999, p.197),
“[...] reside em sua capacidade de explorar processos sociais à medida que eles se desenrolam
nas organizações”, permitindo uma análise processual, contextual e longitudinal das várias ações
e significados que se manifestam e são construídas dentro delas.

36
CAPÍTULO IV: ANALISE, DISCUSSÃO E INTERPRETAÇÃO DE DADOS
Nesta fase analisaremos o grau de implementação das convenções internacionais e do
estabelecido no ordenamento jurídico-legal, atinente à promoção dos direitos humanos, da
criança/rapariga face a situações de casamentos prematuros, nos quais os direitos são violados.
E em relação a isso, alguns autores fazem referência a factores socioculturais para explicar os
constrangimentos que militam na área da protecção e promoção dos direitos da criança.
BARROS e TAJÚ sustentam que:
A ideia de que a condição da criança, em termos do exercício dos seus direitos,
obrigações e direitos reflecte os papéis funcionais ou competências culturais
prescritas e esperadas pela sociedade refere-se a um ser imaturo que precisa ser
preparado para a vida adulta, prevalece criando condições para a exploração da
noção do casamento prematuro.1

Esta perspectiva permite afirmar que o casamento prematuro é fundamentado pelo


processo de socialização, que aborda a infância como espaço social de preparação do indivíduo
para a vida adulta. Neste espaço, estão sempre presentes interesses políticos estratégicos das
estruturas familiares que asseguram a organização das mesmas e sua relação com o meio
exterior.
Por isso, a partir da compreensão das lógicas que determinam o lugar que a criança
ocupa na estrutura familiar e o seu espaço de actuação torna-se, a nosso ver, fácil compreender
os factores que tornam o casamento prematuro um fenómeno que ocorre em regiões específicas
do país com impacto severo na qualidade de vida da população feminina das zonas rurais,
exemplo do distrito de Macanga-Tete.
Os autores consultados que abordam a infância como uma das áreas de estudos sociais
não consideram existir uma infância/criança universal. Por isso, tendo consciência da não
existência de um conceito Universal de criança/infância. Estes autores, afirmam que os papéis e
espaços sociais de actuação das crianças são determinados em função das referências culturais
do grupo no qual estas se encontram inseridas. Esse posicionamento remete-nos à discussão
sobre a capacidade que as crianças têm para negociar seus interesses nos espaços que lhes são
socialmente prescritos. 2

1
De Barros, J. & Tajú, G. Prostituição, Abuso Sexual e Trabalho Infantil em Moçambique, pág.31.
2
Mucavele et al,Pesquisa sobre crianças e mulheres chefes de família, 2002.

37
O ponto de partida para a delimitação da noção de casamento prematuro passa pela
harmonização do conceito criança. Sendo uma categoria social importante no processo de
produção e reprodução de valores, normas e práticas culturais; a criança, conceitualmente
apreendida e compreendida é vivenciada de maneira diversificada em função das representações
e lógicas de vida dos grupos nos quais ela se encontra inserida. Sendo que o casamento
prematuro constitui um fenómeno caracterizado pelo casamento tradicional entre indivíduos
adultos do sexo masculino e raparigas na adolescência e pré-adolescência, que vivem em
contextos socioculturais específicos.

4.1.Aspectos Jurídicos e Político Estratégicos Envolvidos no Casamento Prematuro


A análise jurídica do casamento prematuro remete-nos não só à relação paradoxal, a ser
explorada na vertente sócio cultural que influenciam e promovem o casamento prematuro como
prática culturalmente reiterada, que existe entre o ordenamento moçambicano e as normas
costumeiras que orientam as relações estabelecidas dentro da estrutura familiar nos diferentes
grupos sociolinguísticos que compõem a matriz sócio cultural moçambicana como também à
discussão sobre as implicações decorrentes da adesão do Estado de Moçambique às convenções
internacionais que protegem e promovem os direitos das crianças.

Tendo em conta o carácter específico no qual o casamento prematuro ocorre


(relacionamento de carácter matrimonial entre homens adultos e raparigas menores de idade), a
análise cruzada das políticas e estratégias do Governo que versam sobre a promoção e protecção
dos direitos da criança e daquelas referentes a protecção e promoção dos direitos da mulher são
cruciais para a identificação de elementos úteis para a inibição desta prática.

Por exemplo, enquanto no contexto das normas costumeiras são eventos fisiológicos, e
culturais e não a idade cronológica que determinam da idade núbil da rapariga, na ordem jurídica
moçambicana 18 anos é o marco do início da idade adulta onde, por exemplo, o casamento é
reconhecido (Artigo 30, nº. 1, alínea a) da Lei de Família, a maioridade do indivíduo só ocorre
aos 21 anos. Este facto torna o casamento que envolva indivíduos com idade inferior a 18,
legalmente inválido.

38
Entretanto, sendo uma prática reconhecida e promovida por diferentes grupos sócios
culturais, identificada pelas autoridades político-administrativas como atentatória dos direitos
humanos da rapariga, os documentos políticos estratégicos que orientam as intervenções do
Governo não tratam o casamento prematuro como uma das formas de violação dos direitos da
criança e/ou da rapariga (mulher).

O casamento prematuro não é elencado, de forma clara, na Lei contra a violência doméstica,
como uma das formas de violência praticadas pelos membros adultos da família contra a criança.

Conclui-se deste modo que o casamento prematuro fundamenta-se no processo de


distribuição desigual de poder entre homens e mulheres. Para além dos factores considerados
evidentes como motivadores como sejam referem-se aos altos índices de pobreza entre a
população onde o fenómeno tende a ocorrer com mais frequência, baixo indicies de
escolarização entre a população feminina das zonas rurais, dificuldades de acesso a serviços
socais básicos, a atenção recai para aqueles que têm impacto nas estratégias de abordagem do
fenómeno quadrados na promoção dos direitos da criança e da rapariga.

4.1.1.Quadro Político Legal


A Constituição da República defende os direitos das crianças à protecção da família, da
sociedade e do Estado, tendo em vista o seu desenvolvimento integral e acesso aos cuidados
necessários ao seu bem-estar, à opinião e à participação nos assuntos que lhes dizem respeito, em
função da sua idade e maturidade. Outras medidas que têm sido adoptadas pelo Governo são a
criação do Conselho Nacional dos Direitos da Criança (CNAC) e da Comissão de Direitos
Humanos e do Parlamento Infantil, bem como a sensibilização para as questões dos direitos da
Criança nos meios de comunicação social.

A idade núbil em Moçambique está fixada nos 18 anos, por força da Lei da Família
vigente (Lei nº 10/2004, de 25 de Agosto) a qual também estipula que “a mulher ou o homem
com mais de dezasseis anos, a título excepcional, pode contrair casamento, quando ocorram
circunstâncias de reconhecido interesse público e familiar e houver consentimento dos pais ou
dos legais representantes”. Esta excessão trazida na lei, é de facto comprometedora aos direitos e
vida da criança/menor a ser forçada a casar com o consetimentos dos demais.

39
De acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o consentimento “livre e
pleno” não pode ser reconhecido se uma das partes envolvidas não tiver maturidade para tomar
uma decisão informada sobre o parceiro para a vida. A Carta Africana sobre os Direitos e Bem-
Estar da Crianças estabelece no seu artigo 21 que os estados signatários devem tomar medidas
legais específicas para a eliminação do casamento de crianças e a promessa de casamento de
meninas e rapazes com menos de 18 anos de idade.

Assim, a legislação Moçambicana deve ser revista para se adequar aos compromissos
internacionais assumidos a fim de salvaguardar os direitos humanos, da criança/rapariga que tem
sido violados com a celebração de casamentos prematuros.

Além de mais, a capacidade de implementação da lei é limitada e os casamentos


prematuros continuam a ser frequentes ao abrigo do direito, impondo-se a sensibilização dos
líderes tradicionais e religiosos, das mestres e das matronas sobre este assunto. Ora, a legislação
Moçambicana deve ser revista sim, e definindo os seguintes pontos:

1. Linha estratégica: Realizar uma reforma jurídica, adoptando abordagens baseadas nos
direitos humanos e implementando os compromissos assumidos a níveis nacional e
internacional, no âmbito da promoção dos direitos da criança.
2. Objectivo estratégico: Sensibilizar os líderes religiosos, médicos tradicionais, madrinhas
e líderes comunitários em matérias jurídicas e em matérias relacionadas com os
casamentos prematuros, para criar zonas livres de casamentos prematuros.

4.2. O Casamento Prematuro no Ordenamento Jurídico Moçambicano


Socorrendo-se dos dispositivos legais (Lei da Família) podemos constatar uma
“almofada” que acomoda essa pratica, ao conceber no seu art. 30, n.º 2, da aso a esta pratica ao
consentir que pessoas com menos de 18 anos e mais de 16 possam contrair casamento.
Moçambique e parte de determinados tratados internacionais, aliáspodem encontrar por meio do
art 18, n. º 3 da CRM, o qual preceitua que “o Estado tem o dever de assegurar a protecção dos
direitos da mulher e da criança, conforme estipulados nas Declarações e Convenções
Internacionais”.

40
Sob o ponto de vista académico, é importante fazer o estudo sobre este tema, pois
apresenta um pouco ou quase inexplorada no contexto das discussões sociológicas e de
desenvolvimento sobre casamentos prematuros em Moçambique, que é a abordagem jurídica que
analisa as Implicações da Violação dos Direitos Fundamentais dos Menores.

Nesse sentido, a partir do que está exposto e analisado, lança-se importantes contributos
para as autoridades de administração da justiça, lançam-se novos horizontes de pesquisa que,
posteriormente ajudarão a compreender as subjectividades dos menores em situação forçada de
casamento. A nível do universo e do nosso ordenamento jurídico em particular, o casamento é
uma instituição consagrada para instituição familiar.

4.3.Factores Que Influenciam O Casamento Prematuro


As informações incluídas foram seleccionadas com base na literatura existente e nas sugestões da
Secção de Protecção da Criança do UNICEF Moçambique. Além da educação das mulheres,
outros factores que podem estar associados ao casamento prematuro e considerados no âmbito do
estudo são:

Idade do chefe da família: O membro sénior geralmente tem poder de decisão na


família, incluindo decisões sobre o casamento.
Sexo do chefe da família: Este factor é medido para testar se o sexo do chefe de família
tem qualquer influência sobre o casamento prematuro.
A educação das raparigas: Este factor pelo menos duas hipóteses plausíveis sobre a
relação entre a educação das raparigas e a idade do casamento: (1) as raparigas educadas
casam-se mais tarde uma vez que são mais capacitadas; (2) As raparigas casadas são
forçadas a abandonar a escola mais cedo.
Educação do chefe de família: Acredita-se geralmente que as famílias mais
escolarizadas estão mais conscientes dos riscos associados ao casamento prematuro e
podem portanto, ser menos inclinadas a casarem as suas filhas em tenra idade.
Riqueza: Riqueza significa o estatuto económico da família –quanto maior é a riqueza.
De qualquer modo, consideram-se como indicadores da situação económica do agregado
familiar, a propriedade de animais e a posse de terras cultiváveis (em hectares).

41
4.3.1.Factores culturais relacionados a prática dos casamentos prematuros

Factores culturais relacionados com as concepções sobre as crianças, com a realização de


ritos de iniciação, influenciam a prática dos casamentos prematuros e marcam a passagem para a
idade adulta e o início da actividade sexual aceite pela comunidade, pois depois dos ritos de
iniciação, um número significativo de crianças do sexo feminino é sujeito ao casamento. Este
fenómeno pode ser observado em muitas provincias assim como no distrito de Macanga-Tete.

Factores específicos associados à zona de residência, idade, sexo do chefe do agregado


familiar onde vive a criança do sexo feminino e o nível de escolarização da criança, influenciam
a probabilidade desta casar cedo. Há mais casamentos prematuros nas zonas rurais do distrito de
Macanga diferentemente da cidade de Tete. As jovens que casam cedo tendem a ter um nível de
educação inferior ao das jovens que casam mais tarde geralmente.

Exixte uma disparidade que existe entre o que a legislação define como criança, em termos de
idade e as concepções das pessoas, especificamente nas zonas rurais é apontada como uma
dificuldade. Constitui também um desafio à aplicação da legislação vigente, a conformação das
normas consuetudinárias com o sistema normativo vigente.

Face a situações como estas, é crucial para entendermos até que ponto se podem
desenvolver acções e estratégias conducentes à inibição do Casamento Prematuro tendo como
suporte o sistema jurídico que, como foi anteriormente anotado, não reflecte as práticas
costumeiras relacionadas com a integração das crianças na estrutura familiar.

Em Moçambique, o âmbito do privado constitui-se em torno de uma rede de parentesco


alargada e complexa que fixa cada um dos seus membros a normas e posições rígidas (no
sentido de não permeabilidade à mobilidade social) assumindo-se a privacidade como valor
quase estruturante da organização social.
Segundo ARNALDO:
A privacidade, passa a ser um valor referente ao grupo que é orientado por
padrões masculinos que determinam e legitimam a discriminação das mulheres
nas relações sociais que estabelecem. 3

3
ARNALDO, C, Fecundidade e seus determinantes próximos em Moçambique: Uma análise dos níveis,
tendências, diferencias e variação regional, pág.154.

42
Para MARCHI:
Acrescido à discriminação da mulher, está o facto de a criança ocupar um lugar
paralelo na estrutura familiar justificado pelo facto de não ser ainda
considerada membro efectivo do grupo familiar a que pertence. 4
Em suma, a rapariga, como mulher e criança é duplamente discriminada. Como criança,
ela não existe socialmente e, como mulher ocupa uma posição subalterna na estrutura familiar.
Por isso, considera-se que o casamento prematuro é reflexo da sua dupla subalternidade
(Criança /rapariga). Por outro lado, sendo o casamento prematuro o marco de ingresso na vida
adulta que legitima os laços de pertença ao grupo familiar e comunidade, torna-se possível
apoiarmo-nos nos autores dos estudos feministas para afirmar que o casamento prematuro
constitui fenómeno que se desenvolve directamente ligado ao processo de construção da
identidade feminina que salienta a subalternização da mulher. Isto pelo facto de esta ser mulher,
e da rapariga pelo facto de ser “criança”.
Segundo OSÓRIO “Como ocorre entre as mulheres adultas, as humilhações públicas tendem a
atingir as vítimas como reflexo das normas social e culturalmente estabelecidas na sociedade”.
Neste âmbito, considera-se que as raparigas dispõem de espaço e instrumentos limitados e
aceites para se protegerem dos casamentos prematuros.
Este facto é fundamentado pela permanência da ideologia patriarcal que se matem nas
estratégias de organização, distribuição, representação e controlo do papel e da função social da
mulher na estrutura familiar.

O casamento prematuro não é elencado, de forma clara, na Lei contra a violência


doméstica, como uma das formas de violência praticadas pelos membros adultos da família
contra a criança. Conclui-se deste modo que o casamento prematuro fundamenta-se no processo
de distribuição desigual de poder entre homens e mulheres. Para além dos factores considerados
evidentes como motivadores como sejam referem-se aos altos índices de pobreza entre a
população onde o fenómeno tende a ocorrer com mais frequência, baixo indicies de
escolarização entre a população feminina das zonas rurais, dificuldades de acesso a serviços
socais básicos, a atenção recai para aqueles que têm impacto nas estratégias de abordagem do
fenómeno quadrados na promoção dos direitos da criança e da rapariga.

4
Marchi, R, Infância, género e relações de poder: interpretações epistemológicas, pág.11.

43
Deste modo, MARCHI (p.15) diz que:
A infância e o género apresentam-se como categorias sociais que espelham a
dinâmica das relações assimétricas de poder e acção (consubstanciada na
relação de dependência adulto/criança e homem/mulher) que estruturam e
aproximam os seus universos sociais.5

O casamento prematuro pode constituir-se veículo de análise da posição que a mulher


(rapariga) ocupa na estrutura familiar e as suas implicações, partindo do princípio que a família,
como agente primário de socialização, produz e reproduz os elementos que integram o sistema
sexo/género que fundamentam as sociedades tradicionais.
O entendimento do casamento prematuro como mecanismo de representação da mulher
(rapariga) (papéis e funções) na estrutura familiar permitirá palmilhar o caminho que se espera
que culmine na identificação de estratégias e acções conducentes à inibição e; em última
análise, erradicação do casamento sem que se ponham em causa os elementos fundamentais
dessa mesma estrutura familiar.

4.4.Abordagens Positivas Para Reduzir Os Casamentos Prematuros


Os desafios relacionados com a pobreza, a desigualdade de género, a violência contra a
mulher, o fraco acesso à escola por parte das raparigas, a prevalência de práticas sociais e
tradicionais prejudiciais são determinantes do casamento prematuro e requerem uma abordagem
integrada, que inclua programas comunitários dirigidos às raparigas, pais e líderes comunitários
campanhas dos órgãos de informação e liderança e engajamento activos de Parlamentares que se
consubstanciam no seguinte:

Abordagem 1: Empoderamento das raparigas com informação, habilidades e redes de


apoio para aumentar os conhecimentos sobre si próprias, o mundo que as rodeia e que sejam
capazes de tomar decisões sobre as suas vidas e seus direitos.

Abordagem 2: Sensibilizar pais e mobilizar os membros da comunidade, incluindo os


líderes tradicionais e praticantes de medicina tradicional. Sendo as normas sociais a força motora
da prática dos casamentos prematuros, as intervenções são dirigidas à mudança das suas atitudes
em relação a esta prática.

5
MARCHI, R. Infância, género e relações de poder: interpretações epistemológicas, p.15.

44
Abordagem 3: Melhorar o acesso e a qualidade de educação das crianças em especial
das raparigas. Fornecer incentivos económicos, bolsas de estudo, uniformes e alimentos para
incentivar as raparigas a matricular-se ou a permanecer nas escolas.

Abordagem 4: Oferecer apoio económico e incentivos para as raparigas e suas famílias,


através de transferências sociais monetárias e em espécie, para as raparigas ou suas famílias.

Abordagem 5: Desenvolver um quadro politico-legal que estabeleça a idade mínima


legal para o casamento e capacitar os funcionários públicos para a sua implementação.

4.5.Análise das Forças, fraquezas, oportunidades e ameaças


FORÇAS FRAQUEZAS
 Existência de um quadro legal que
protege os Direitos Humanos, da  Fraqueza de legislação sobre os
criança/rapariga; casamentos prematuros (excessão
 Existência de mecanismos de aberta que permte a sua realização);
coordenação dos assuntos da  Falta de dados desagregados sobre
criança. os casamentos prematuros
 Existência do Plano Nacional de
Acção para a Criança e de planos  Fraca coordenação das acções
sectoriais com acções que implementadas pelos vários
protegem os direitos da criança intervenientes.
em várias áreas.

OPORTUNIDADES AMEAÇAS
 Ambiente político-legal favorável.  Prevalência de práticas sociais nocivas
 Existência de várias instituições e
que favoreçam os casamentos
organizações envolvidas na
prevenção e combate aos prematuros.
casamentos prematuros.
 Vulnerabilidade das famílias e as
 Existência de programas de
assistência e de fortalecimento da raparigas.
capacidade das famílias, vivendo
 Desconhecimento dos direitos e
em situação de vulnerabilidade.
prioridades na e da vida da rapariga.
Tabela1: Fonte Autora

45
CAPÍTULO V: CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES
5.1. CONCLUSÃO

Com a prática que enfatiza o papel subalterno da rapariga (criança e mulher) na estrutura
familiar, o casamento é abordado como um fenómeno com motivações intra e extra-familiares
que reflecte o papel da família como agente socializador com a função de definir regras de
conduta, dependentes do sexo /género e idade. Entretanto, conclui-se que o casamento
prematuro é um fenómeno que, ao ser definido apenas com base nos princípios e referências
formais (políticas e estratégias sobre criança, normas jurídicas), não produz eco entre as
comunidades que o praticam sob a capa de casamento tradicional ou costumeiro.
Os factores transversais como os altos índices de pobreza entre a população das zonas
rurais; os baixos índices de escolarização; as representações culturais, constituem os principais
motivadores do casamento prematuro como prática culturalmente reiterada, e estes não bastam
para a análise como fenómeno com influências sociais e económicas micro intra familiar e extra
familiar. Os constrangimentos enfrentados pelos actores envolvidos na promoção dos direitos
da criança e da rapariga em elaborar estratégias e políticas sensíveis à harmonização dos
casamentos tradicionais e, a conivência dos líderes comunitários no processo que culmina com
os casamentos, envolvendo raparigas menores de idade e, o mais grave, o interesse das
raparigas em se tornarem económica e socialmente independentes, são alguns dos factores
identificados como motivadores do casamento prematuro.
E a falta de muito conhecimento juridico e legislativa sobre os direitos Humanos, em
parte, faz com que a sociedade viva uma Inconstituicionalidade dos Direitos Humanos, nos ceios
familiares, isto é, nas cerimonias de casamaneto tradicional-prematuro e a reprodução de valores
e comportamentos construídos com base no direito costumeiro tende a atentar contra os direitos
humanos convencionados pelas normas jurídicas instituídas pelos Estado Moçambicano.
Os autores consultados que abordam a infância como uma das áreas de estudos sociais
não consideram existir uma infância/criança universal. Por isso, tendo em mente a não
existência de um conceito Universal de criança/infância apoiamo-nos nas asserções feitas. Os
autores, ao afirmarem que os papéis e espaços sociais de actuação das crianças são
determinados em função das referências culturais do grupo no qual estas se encontram inseridas
remetem-nos à discussão sobre a capacidade que as crianças têm para negociar seus interesses
nos espaços que lhes são socialmente.

46
Ora, no ordenamento jurídico moçambicano a categoria criança refere-se a indivíduos
com idade não superior a 18 anos e a maioridade atinge-se aos 21 anos de Idade. Em termos
práticos, os indivíduos até aos 18 anos dependem de um indivíduo adulto para negociar os seus
interesses e espaços de actuação cabendo a estes proteger os seus direitos. Entretanto, no
contexto sócio-antroplógico esta dependência torna-se mais visível uma vez que a idade
cronológica do indivíduo é menos relevante que os eventos vividos como parte do grupo a que
pertence (nascimento, ritos de iniciação, casamento, viuvez, catástrofes, etc.) e que marcam os
estágios cronológicos da sua vida.
O casamento prematuro acaba sendo definido como uma estratégia de emancipação
económica e social da rapariga e o mecanismo de estabelecimento de redes de solidariedade
intra e interfamiliar. Doravante, surge a questão da identificação de estratégias que inibam o
casamento prematuro.
A primeira motivação apontada, quer na bibliografia consultada como na documentação
e relatórios, está relacionada com a prática de ritos de iniciação. A segunda motivação tem a ver
com interesses económicos da família da rapariga que pode optar pela troca da rapariga pelo
dote lobolo. Este pode ser pago previamente em gado, bens ou em dinheiro, uma vez que esta
tem valor económico como mão-de-obra e reprodutora. Torna-se muito importante referir que
devido ao alto índice de pobreza nas zonas rurais, algumas raparigas aceitam o casamento
prematuro como estratégia para adquirir estabilidade e status social uma vez que a mulher
casada é protegida pela família do marido. A terceira motivação está relacionada com o baixo
índice de escolarização da população feminina jovem residente nas zonas rurais que limita as
alternativas de sobrevivência na idade adulta, sendo, por isso, o casamento - uma das únicas
saídas, aparentemente, viáveis legitimadas pela família e comunidade.

Por outro lado, o facto de no ordenamento jurídico moçambicano o casamento prematuro


não ser apresentado de forma clara torna difícil sanciona-lo não permitindo enquadralo como
infracção. Por outro lado, dificulta a harmonização de intervenções atinentes ao seu controle e
inibição e a consequente penalização dos danos decorrentes da prática relações sexuais com
menor de idade quando ocorram no âmbito da união do tipo matrimonial.

47
5.2.RECOMENDAÇÕES
Reconhecendo os efeitos negativos do casamento prematuro para a rapariga e na qualidade de
sua vida, isto é, no gozo livre dos seus direitos, são apresentadas as seguintes recomendações:
Envolvimento dos conselhos comunitários nas Intervenções para a promoção dos direitos
da criança visando inibir e mitigar o casamento prematuro: Promover a participação das
madrinhas (ritos de iniciação) dos representantes da medicina tradicionais, líderes em
acções de promoção dos direitos da rapariga visando o adiamento da primeira relação
sexual e assegurando a sua permanência na escola;
Efectuar um estudo sobre incidência, áreas de ocorrência e perfil das comunidades e
famílias que praticam o Casamento prematuro, de modo a identificar estratégia para a
sua inclusão na Lei sobre violência doméstica de modo a penaliza-lo: Uma estratégia que
pode contribuir para a inibição do casamento prematuro é a integração de possíveis
eventos relacionados com a promoção do casamento prematuro como forma de violência
doméstica punível por lei;
Para permitir que a família se transforme num agente de protecção e promoção dos
direitos da criança (rapariga), harmonizar conceitos, estratégias de intervenção:O
governo e sociedade civil devem harmonizar conceitos e estratégias de intervenção de
modo a identificar áreas prioritárias de intervenção que permitam o reconhecimento de
referências socioculturais que determinam a evolução comportamental e cronológica dos
indivíduos;
Estimular a sociedade civil para fazer advocacia para aprovação de instrumentos
jurídicos que desencorajam o casamento prematuro;
Desenvolver programas que atribuam incentivos às famílias que assegurem a
permanência da rapariga na escola, pelo menos até a conclusão do Ensino Secundário
Básico: Permitir que, através da alocação de recursos com impacto directo no rendimento
familiar, a presença da rapariga na escola signifique status e acesso às fontes alternativas
de rendimento;
Alargar os serviços de assistência aos adolescentes e jovens para a assegurar que a
rapariga tenha acesso a informação sobre saúde sexual e reprodutiva.

48
Ora, quanto a legislação Moçambicana, esta deve ser revista para se adequar aos compromissos
internacionais assumidos a fim de salvaguardar os direitos humanos, da criança/rapariga que tem
sido violados com a celebração de casamentos prematuros.

Além de mais, a capacidade de implementação da lei é limitada e os casamentos


prematuros continuam a ser frequentes ao abrigo do direito, impondo-se a sensibilização dos
líderes tradicionais e religiosos, das mestres e das matronas sobre este assunto. Ora, a legislação
Moçambicana deve ser revista sim, e definindo os seguintes pontos:

3. Linha estratégica: Realizar uma reforma jurídica, adoptando abordagens baseadas nos
direitos humanos e implementando os compromissos assumidos a níveis nacional e
internacional, no âmbito da promoção dos direitos da criança.
4. Objectivo estratégico: Sensibilizar os líderes religiosos, médicos tradicionais, madrinhas
e líderes comunitários em matérias jurídicas e em matérias relacionadas com os
casamentos prematuros, para criar zonas livres de casamentos prematuros.

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