Monografia 3
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Eu, Do Céu Bonita Chiria, com identidade nr 050101590640A, nascida a 04 de Abril de 1972,
filha de Saneiro Chiria e Maria Bonita Falacomigo, natural de Marara-Changara, Província de
Tete, estudante do programa académico de Licenciatura em Direito do Instituto de Ciências de
Educação a Distância, declaro que o conteúdo do trabalho com o tema: A Inconstituicionalidade
dos Direitos Humanos em Casamento Tradicionais- Prematuros no Ordenamento Jurídico
Moçambicano: Estudo de Caso da População do Distrito de Macanga, é reflexo de meu trabalho
pessoal e manifesto que perante qualquer notificação de plágio, cópia ou falta em relação á fonte
original, sou directamente o responsável legal, económica e administrativamente, isentando a
orientadora, a Universidade e as instituições que colaboram com o desenvolvimento deste
trabalho, assumindo as consequências derivadas de tais práticas.
Assinatura:_______________________________________
I
RESUMO
A Inconstituicionalidade dos Direitos Humanos em Casamento Tradicionais- Prematuros no
Ordenamento Jurídico Moçambicano constitui o tema de abordagem neste trabalho. A escolha deste
tema, parte da consideração de que o casamento tradicional-prematuro são ambos endémicos em
Moçambique, o que quer dizer que, o casamento prematuro é revelador da discriminação existente e,
acima de tudo, da discriminação na maneira como as famílias e as sociedades tratam as meninas e os
meninos, sabendo que a prematuridade dos casamentos tem maior e forte influência, a tradição, e é aí, que
esta abordagem não se limita nos casamentos prematuros, mas também tradicional, pelo seu forte braço
influenciador.As meninas enfrentam normalmente mais privações e falta de oportunidades. Com essa
aboradgem, pretende-se rever o enquadramento legal aplicável a Moçambique em relação ao casamento
tradicional-prematuro e as suas incidências, e discutir uma tentativa de criminalizar os implicados. É neste
contexto que torna-se importante, que as referências elencadas no ordenamento jurídico moçambicano
sejam disseminadas na comunidade como referências para o exercício de direitos de cidadania e,
consequentemente, para protecção dos direitos das crianças/menores. Em suma, Moçambique assumiu o
compromisso de adequar as normas de direito interno às da Convenção, para salvaguardar e promover
eficazmente os direitos e liberdades nela consagrados. A partir deste vínculo jurídico ratifica a Convenção
dos Direitos da Criança, instrumento que enuncia um amplo conjunto de direitos os direitos civis e
políticos, sociais e culturais de todas as crianças, bem como as respectivas disposições para que sejam
aplicados. Por outro lado, ao considerar a dimensão que envolve o género, como indicador do carácter
social das diferenças baseadas no sexo, concluiu-se que associação do género à categoria criança e
infância permite perceber que, em Moçambique como em outras sociedades de ideologia patriarcal, as
crianças são consideradas culturalmente inferiores e posicionam-se na base da hierarquia social. O
casamento prematuro é, por isso, justificado a partir do processo de socialização, assumindo o marco de
integração da rapariga ao grupo (família e comunidade a que pertence).
II
Agradecimentos
Agradeço primeiramente a Deus, que me deu o dom da vida e me abençoa todos os dias com o
seu amor infinito. Sou grato a minha familia, que me apoiaram muito com a palavra de
incentivo. Aos amigos e colegas, meu muito obrigado por tornarem e vibrarem com a minha
conquista. Agradeço também de forma especial a Supervisora Claúdia Eunice Jone, pelo
aconpanhamento e orientação no progresso do trabalho, e aos meus Tutores, que serviram de
exemplo para que eu me tornasse um profissional melhor a cada dia.
III
Dedicatória
Dedico este trabalho a MINHA AMADA FAMILIA, por ser essencial na minha vida, que com
muito carinho e apoio , não mediram esforços para que eu chegasse a esta etapa da minha vida e
que com o muito contribuíram para a minha formação, dos quais tenho boas lembranças.
IV
Tabela
1. Análise das forças, fraquezas, oportunidades e Ameaças do casamento prematuro
V
Listas de Abreviaturas
IDS: Inquérito Demográfico de Saúde
ODM: Organização do Desenvolvimento Milenar
ENPECP: Estratégia Nacional de Prevenção e Combate dos Casamentos Prematuros
CRM: Constituição da República de Moçambique
DUDH: Declaração Universal dos Direitos Humanos
LF: Lei de Familia
VI
ÍNDICE
Declaração de Honra .............................................................................................................................I
RESUMO ............................................................................................................................................. II
Agradecimentos .................................................................................................................................. III
Dedicatória ..........................................................................................................................................IV
Tabela ................................................................................................................................................... V
Listas de Abreviaturas ........................................................................................................................VI
CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO........................................................................................................... 1
1.1.Tema/Titulo................................................................................................................................. 1
1.2.Contextualização do tema .......................................................................................................... 2
1.2.1.Contextualização do Quadro Jurídico ................................................................................ 4
1.3.Problema de Estudo ................................................................................................................... 5
1.4.Formulação do Problema ........................................................................................................... 6
1.5. Determinação de Objectivos ..................................................................................................... 8
1.5.1.Gerais .................................................................................................................................... 8
1.5.2.Específicos ........................................................................................................................... 8
1.6.Hipóteses ..................................................................................................................................... 9
1.6. Justificativa ou Motivação ........................................................................................................ 9
1.7.Delimitação do Tema ............................................................................................................... 10
1.8.Limitação do Trabalho ............................................................................................................. 12
CAPÍTULO II: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .......................................................................... 13
2.Conceito dos Direitos Humanos ..................................................................................................... 13
2.1.Natureza Jurídica dos Direitos Humanos ................................................................................ 13
2.2. Concepções Doutrinárias Acerca da Natureza Jurídica dos Direitos Humanos .................. 14
2.2.1. Concepção Jusnaturalista ................................................................................................. 14
2.2.2. Concepção Ética ............................................................................................................... 14
2.2.3. Direitos Humanos como Princípios ................................................................................. 14
2.2.4. Concepção Legalista ......................................................................................................... 14
2.3.Violação de Direitos Humanos por Meio de Casamento Tradiconal-Prematuro ................. 15
2.4.CASAMENTO E SEUS EFEITOS ......................................................................................... 17
2.4.2. A Natureza Jurídica do Casamento ..................................................................................... 18
VII
2.4.3. Pressuposto de Existência do Casamento ........................................................................... 19
2.4.4. Validade do Casamento ....................................................................................................... 19
2.5.Descrição, Comparação e Ánalise de Estudos Realizados sobre o Tema ............................. 23
2.6.1.Impacto Negativo do Casamento Prematuro ................................................................... 28
2.6.2.Os Direitos da Rapariga na Ordem Jurídica Moçambicana ............................................ 29
2.6.3.Porque razões sujeitam as raparigas aos “casamentos”? ................................................. 30
CAPÍTULO III: METÓDOLOGIAS DE ESTUDO ........................................................................ 31
3.1.Metodologias de Estudo na Pesquisa .................................................................................... 31
3.1.1. Quanto aos objectivos ...................................................................................................... 31
3.1.2. Quanto ao Tipo de Pesquisa ........................................................................................ 32
3.1.3. Quanto ao Método de Abordagem................................................................................... 33
3.1.1.Quanto ao Metodo de Procedimento ................................................................................ 33
3.2.Tecnica de Pesquisa .................................................................................................................. 34
3.3.1. Observação ........................................................................................................................ 34
CAPÍTULO IV: ANALISE, DISCUSSÃO E INTERPRETAÇÃO DE DADOS ......................... 37
4.1.Aspectos Jurídicos e Político Estratégicos Envolvidos no Casamento Prematuro ............... 38
4.1.1.Quadro Político Legal........................................................................................................ 39
4.2. O Casamento Prematuro no Ordenamento Jurídico Moçambicano ..................................... 40
4.3.Factores Que Influenciam O Casamento Prematuro .............................................................. 41
4.4.Abordagens Positivas Para Reduzir Os Casamentos Prematuros .......................................... 44
4.5.Análise das Forças, fraquezas, oportunidades e ameaças ...................................................... 45
CAPÍTULO V: CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES ............................................................... 46
5.2.RECOMENDAÇÕES .............................................................................................................. 48
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS .............................................................................................. 50
VIII
IX
CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO
O tema desta Monografia, é: A Inconstitucionalidade dos Direitos Humanos em
Casamento Tradicional-Prematuro no Ordenamento Jurídico Moçambicano. Com a abordagem
deste tema, pretende-se contribuir não só para a prevenção e irradicação dos casamentos de
raparigas prematuramente, mas ainda para a efectivação dos direitos das raparigas, previstos na
Constituição da República de Moçambique e nas covenções internacionais.
Porém, as questões ligadas aos direitos humanos da criança (neste caso da rapariga),
apesar da sua previsão, passam a ser omissas, limitando os espaços para a sua promoção. A
realidade moçambicana mostra que o casamento pode ser arranjado pela família e, nem sempre
os nubentes podem decidir sobre quando e com quem vão contrair matrimónio. O casamento
tradicional-prematuro é um dos problemas mais graves de desenvolvimento humano em
Moçambique mas que ainda é largamente ignorado no âmbito dos desafios de desenvolvimento
que o país persegue requerendo por isso uma maior atenção dos decisões políticas. Moçambique
é um dos países ao nível mundial com as taxas mais elevadas de prevalência de casamentos
prematuros, afectando cerca de uma em duas raparigas, representando uma grande violação dos
direitos humanos das raparigas.
Acredita-se que a pressão económica exercida sobre os agregados mais pobres e as
práticas socioculturais prevalecentes, continuam a conduzir as famílias a casarem as suas filhas
cada vez mais cedo, quando as raparigas ainda não atingiram maturidade suficiente para o
casamento e para a gravidez ou para assumirem a responsabilidade para serem esposas e mães.
As maiores partes das desistências escolares estão ligadas a gravidez precoce nas raparigas,
numa fase do seu desenvolvimento físico e emocional em que elas ainda não se encontram
preparadas para gerar uma criança, com consequências bastante sérias para a sua saúde e para a
sobrevivência dos seus filhos.
1.1.Tema/Titulo
O tema do presente trabalho é: A Inconstituicionalidade dos Direitos Humanos em Casamentos
Tradicionais-Prematuros no Ordenamento Juridico Moçambicano.
1
1.2.Contextualização do tema
Recentemente, a 24 de Agosto de 2018 embaixadora Marie Andersson De Frutos
participou na 5ª Conferência Nacional da Rapariga em Maputo para discutir o fim do casamento
prematuro como um passo para a inclusão das raparigas no desenvolvimento de Moçambique.
Tendo em conta que actualmente Moçambique tem uma das taxas mais elevadas de casamento
prematuro do mundo, afectando quase uma em cada duas raparigas, e tem a segunda maior taxa
na sub-região da África Oriental e Austral. Cerca de 48 por cento das mulheres em Moçambique
com idades entre os 20 e os 24 anos já foram casadas ou estiveram numa união antes dos 18 anos
e 14 por cento antes dos 15 anos, segundo dados (IDS, 2011).
Moçambique encontra-se em 10° lugar no mundo entre os países mais afectados pelos
casamentos prematuros, atendendo os dados relacionados com a proporção de raparigas com
idades entre os 20-24 anos que se casaram enquanto crianças, isto é, antes dos 18 anos de idade.
A maior parte destes casamentos são de facto uniões, mais do que casamentos legalmente
registados, mas são usualmente formalizados através de procedimentos costumeiros como o
pagamento do lobolo para a família da rapariga. De acordo com os dados do Inquérito
Demográfico e de Saúde (IDS) 2011, 48% de raparigas com a idade entre os 20-24 anos casou-se
antes dos 18 anos e 14% antes de atingir os 15 anos. Moçambique encontra-se ainda atrasado nos
esforços de prevenção e combate contra este fenómeno, apresentando um nível de prevalência de
casamentos prematuros acima dos restantes países da África Austral e Oriental, ficando apenas
atrás do Malawi. Isso mostra que a situação de casamentos prematuros é uma tremenda
realidade em Moçambique e que devemos tomar algumas atitudes de forma a levar essa pratica a
extinção.
Face às situações percebe-se que os casamentos prematuros constituem uma violação dos
direitos humanos e têm como consequências a:
Perpetuação da pobreza;
Violência contra o género;
Problemas de saúde reprodutiva;
2
Perda de oportunidades de empoderamento por parte das crianças do sexo
feminino e mulheres.
Os Países que apresentam uma taxa elevada de casamentos prematuros tendem a ter um
Produto Interno Bruto baixo. A pobreza é um determinante dos casamentos prematuros tal como
a violência e a discriminação baseada no género.
Actualmente emerge uma maior consciencialização de que os casamentos prematuros
comprometem a possibilidade de se atingir os objectivos quatro e cinco de Desenvolvimento do
Milénio (ODM) que apelam para uma redução de dois terços da taxa de mortalidade de crianças
de menos de cinco anos e para três quartos, nas mortes maternas, até 2015. Os casamentos
prematuros também comprometem o alcance da meta de educação para todos.
3
1.2.1.Contextualização do Quadro Jurídico
Mas, em Moçambique, a idade núbil está fixada em 18 anos. Contudo, a Lei da Família
define que “a mulher ou homem com mais de dezasseis anos, a título excepcional, pode contrair
casamento, quando ocorram circunstâncias de reconhecido interesse público e familiar e houver
consentimento dos pais ou dos representantes legais”.
Porem, na base destes instrumentos acima citado, a actora deste trabalho têm vindo a orientar o
seu pensamento neste trabalho defendendo que tal excepcao constitui um acto inconstituicional,
visto que permite a violação dos direitos Humanos os quais as rapargas prematuramente casadas
devem gozar.
"O adulto, independentemente do seu estado civil, que unir-se com uma Menor será punido com
pena de prisão de 8 a 12 anos e multa até dois anos" - Artigo 30, Lei de Prevenção e Combate às
Uniões Prematuras em Moçambique.
ՙՙA união entre duas pessoas formada com propósito imediato de constituir família, só é
permitida a quem tiver completado 18 anos de idade à data da união" - Artigo 7, Lei de
Prevenção e Combate às Uniões Prematuras em Moçambiqueˮ.
4
"O adulto que, por si ou por interposta pessoa, noivar uma menor conhecendo a idade desta, será
punido com pena de prisão até 2 anos" - Artigo 25, Lei de Prevenção e Combate às Uniões
Prematuras em Moçambiqueˮ.
"O servidor público que, no exercício das suas funções, de forma consciente, celebrar ou
autorizar a celebração de casamento no qual ambos ou um dos esposados é criança, será punido
com pena de prisão de 2 a 8 anos e multa até 2 anos" - Artigo 26, Lei de Prevenção e Combate às
Uniões Prematuras em Moçambiqueˮ.
"Aquele que colaborar para que a união com uma menor tenha lugar, ou que por qualquer
outra forma concorra para que produzam os seus efeitos, desde que tenha conhecimento de que a
união envolve menor, será punido com pena de prisão e multa até 1 ano" - Artigo 31, Lei de
Prevenção e Combate às Uniões Prematuras em Moçambique. Isso significa que, esta lei, anula
o consentimento de qualquer outras entidades.
"A pena de prisão de 8 a 12 será aplicada a quem entregar criança para união em troca de
algum bem ou valor, para pagamento de dívida, como cumprimento de promessa, como dádiva
ou para qualquer outra finalidade contrária à lei" - Artigo 32, Lei de Prevenção e Combate às
Uniões Prematuras em Moçambique.
"O pai, a mãe, o tutor, o padrasto, a madrasta, qualquer outro parente, encarregado de
guarda da criança ou da sua educação, ou a pessoa que exercer poder equiparável ao parental ou
de guarda, que autorizar ou obtiver autorização para união de criança, instigar, aliciar ou não
obstar a união, será punido com pena de prisão de 2 a 8 anos e multa até 2 anos, se pena mais
grave não couber" - Artigo 33, Lei de Prevenção e Combate às Uniões Prematuras em
Moçambique.
1.3.Problema de Estudo
A nível internacional, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o consentimento
“livre e pleno” não pode ser reconhecido se uma das partes envolvidas não tiver maturidade para
tomar uma decisão informada sobre o parceiro para a vida. Na mesma perspectiva, o nº2 do
artigo 16, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a
Mulher estabelece que “a promessa de casamento e o casamento de crianças não terão efeitos
5
jurídicos e, todas as medidas necessárias, incluindo disposições legislativas, serão tomadas com
o fim de fixar uma idade mínima para o casamento”.
A Carta Africana sobre os Direitos e Bem-Estar da Criança estabelece, no seu artigo 21,
que os estados signatários devem tomar medidas legais específicas para a eliminação do
Casamento Prematuro e da promessa de casamento de meninas e rapazes com menos de 18 anos
de idade.
Outros instrumentos internacionais relacionados com o casamento prematuro incluem a
Convenção sobre o Consentimento para Casamento, Idade Mínima para Casamento, Registo de
Casamentos e o Protocolo para a Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos sobre os
Direitos da Mulher em África.
1.4.Formulação do Problema
No que concerne aos casamentos tradicionais-prematuros com aprovação da Lei da
Família, em 2004, a idade para o casamento da rapariga era de 14 anos, e ao longo dos anos, o
estado passou a considerar os 14 como mínimo, e que avançava para 18 anos. Porém, a própria
Lei abre espaço para que pessoas com menos de 18 anos e mais de 16 possam contrair casamento
(art. 30, nº 2), mais tarde, surge outra lei, a qual determinava que a idade minima seria de 21
anos para rapariga. Houve pois uma melhoria, mas ainda prevalecia a excessão de ՙՙcaso os Pais
da rapariga aceitem, ela poderia ser casada com uma idade inferior aos 21 anos, ate mesmo nas
Denominações Religiosas aconteceˮ, e isto continua até agora, e de forma especifica, no Distrito
de Macanga-Tete, é mais do que normal casar abaixo dos seus 17 anos. “o Estado tem o dever de
assegurar a protecção dos direitos da mulher e da criança, conforme estipulados nas Declarações
6
e Convenções Internacionais”, conjugado com artigo 47 daconstituição da República de
Moçambique.
A outra vertente das consequências, é que existe uma correlação entre o casamento
tradicional-prematuro e a saída do sistema de educação, por se cuidar de outros afazeres, com
consequências para a privação do direito à educação e no desenvolvimento social e humano das
raparigas envolvidas. E esta situação também se faz sentir na quele Distrito. A aparente apatia do
sistema de educação e as normas permissivas como o Despacho nº 39/GM/2003 do Ministério da
Educação, que prescreve a mudança de turno para a rapariga grávida e apenas o processo
disciplinar para o protagonista engravidante.
7
1.5. Determinação de Objectivos
Segundo PILLETE (2008:80), “ (….) objectivos consistem numa descrição clara dos resultados
que desejamos alcançar com a nossa actividade”. Para o presente projecto no qual esta em estudo
o tema: A Inconstituicionalidade dos Direitos Humanos em Casamentos Tradicionais-
Prematuros no Ordenamento Juridico Moçambicano, pretende-se alcançar ou concretizar dos
objectivos gerais da pesquisa para ainda desenvolver competências dos objectivos específicos ao
longo do estudo do caso identificado.
1.5.1.Gerais
Segundo BARETO e BONORATO (1987), "objectivos gerais indicam uma acção muito ampla.
Uma acção individual ou colectiva se materializa através de um verbo.” Neste contexto
apresenta-se o seguinte objectivos gerais:
Analisar os a Inconstituicionalidade dos Direitos Humanos em Casamento tradicional-
Prematuro no Ordenamento Jurídico Moçambicano.
1.5.2.Específicos
Segundo BARRETO e HONORATO, (1998) “é um critério fundamental na delimitação dos
objetivos da pesquisa é a disponibilidade de recursos financeiros e humanos e de tempo para a
execução da pesquisa, de tal modo que não se corra o risco de torná-la inviável.” Assim sendo
apresenta-se os seguintes objectivos gerais:
Descrever os efeitos resultantes dos casamentos precoces ou uniões forçadas nas
raparigas;
Analisar a falta de cobertura legal, no âmbito penal, para proteger a rapariga em situação
de casamento tradicional-prematuro;
Identificar os Direitos Humanos (da criança/rapariga) Violados na prática de casamentos
tradicionais-prematuros no orndenameto juridico Nacional.
8
1.6.Hipóteses
Das hipóteses que possam ser levantadas, são consideradas elas como algumas razões que podem
estar por de tráz do problema, que tenham originado as possíveis dificuldades anteriormente
identificadas que estejam por de traz do problema. Sendo assim são elas:
Pais aculturados com os hábitos e costumes da antiguidade das suas gerações em relação
aos casamentos (tempos em que era normal uma menina ser casada aos seus 12 anos);
Necessidade de progredir com os Hábitos e costumes culturais dos antepassados quanto a
casamentos (a tranferencia destes actos de geração a geração);
A pressão económica(pobreza) exercida sobre os agregados familiares (Pais da menina) e
as práticas socioculturais prevalecentes, que continuam a conduzir as famílias a casarem
as suas filhas cada vez mais cedo;
Gravidez indesejada (que obriga a adolescente a viver com a pessoa que o engravidou,
mesmo com uma idade inferior aos 17 e 18 anos);
Desconhecimento dos Direitos Humanos, particularmente os da criança/rapariga, isto por
parte dos Pais da menina;
Desconhecimento dos Direitos Humanos, particularmente os da criança/rapariga, isto por
parte da propia rapariga;
Influência negativa da tradição na tomada de decisões cruciais da vida humana/rapariga
na sociedade. E entre outros.
Este tema é importante no nível académico, com isso, a sua justificativa consiste também
numa exposição suscinta e completa, das razões de ordem teórica e dos motivos de ordem prática
que tornam importante a realização da pesquisa. A razão de fundo para a escolha desse tema dos
9
diversos é o interessante facto de, contribuir com a disseminação de informação contra a
violação dos Direitos Humanos em casamentos prematuros e como proceder quando se é
confrontado com um caso destes.
O fim prende-se, informar as raparigas e mulheres jovens, Pais e encarregados de
Educaçãoe a sociedade no geral sobre os seus direitos e sobre o que constitui o casamento dentro
do Ordenamento Jurídico Moçambicano. Isto pode ser feito usando estratégias de educação de
pares para transmitir informação dos direitos Humanos e ate que ponto as raparigas podem
contrair um matrimónio.
Na verdade, a cultura e a tradição faz parte daquilo que é a nossa personalidade humana,
social, visto que através desta, revela-se a nossa identidade. E culturalismo e tradicionalismo são
factos reconhecidos por lei e vivido pela sociedade. Mas, isso não significa que a cultura deve
estar acima da quilo que são os Direitos da pessoa humana e aculturada com os seus costumes de
vida social. Então, o povo de Macanga, identificam-se tambem como um povo aculturados e
tradicionalistas desde sempre, razão pela qual, no que tange aos casamentos, perpetuam com a
suas filosofias e ideologias tradicionais porém, apesar disto, nenhum direito humano deve ser
violado. E assim que os direitos da rapariga são violados diante desta situação, há necessidade
de reverter esta história humana. E com o desenvolvimento desta pesquisa acredito ter relevância
para o leitor, a sociedade deste Distrito e leva-los a reconhecer os direitos que tem e os deve
viver.
1.7.Delimitação do Tema
Os direitos humanos ou direitos do Homem, nascem essencialmente como direitos que
protegem a vida do ser humano na sociedade. O ser humano é livre, logo o Estado ou qualquer
pessoa deve abster-se de privar a liberdade; o ser humano tem direito a expressar-se livremente,
logo o Estado e qualquer outra pessoa deve abster-se de censurá-lo. A sistematização desses
direitos em uma determinada ordem constituicional ou em um tratado ou em uma proclamação
internacional constitui aquilo que a doutrina convenciona.
Conceituar então, a natureza jurídica dos direitos humanos se torna abrangente pela
diversidade de posicionamentos encontrados na doutrina. Onde para alguns, os direitos humanos
são simplesmente direitos subjetivos; onde para outros são direitos subjetivos, emanados
10
diretamente das normas positivas e somente adquirem valor jurídico ao serem reconhecidas pelo
Estado.
Do outro lado, temos a situação dos casamentos tradicionais-prematuros, estes que ate
algum tempo o Estado os aceitou, a sua realização. E isto foi a 24/08/2004 - 08h:24
Moçambique: Nova Lei da Família quando o Estado reconhece casamentos tradicional e
religioso, Maputo, 24 Ago (Lusa) – onde a Assembleia da República de Moçambique aprovou
uma nova Lei da Família, que, entre outras inovações, reconhece os casamentos monogâmico
religioso e tradicional. Mas, apesar de conferir dignidade jurídica aos casamentos religioso e
tradicional, tal nova Lei da Família impõe para os dois tipos de matrimónio os mesmos requisitos
para a celebração do casamento civil, nomeadamente a idade mínima para casar, de 14 anos para
a mulher e 16 anos para o homem.
Tomando em considerando o que acima esta exposto, verifica-se, porém, que estamos diante de
uma situação em que promove-se casamento à idades muinto inferiores. E isso, sem sombra de
dúvidas, leva a infrigência dos direito humanos (da criança,) na medida em que esta lhe é
incumbida o direito de adquirir um status fora do seu nível.
Foi desta observação e de outras que se levantou o seguinte tema: A
Inconstituicionalidade dos Direitos Humanos em Casamentos Tradicionais-Prematuros no
Ordenamento Juridico Moçambicano.
11
1.8.Limitação do Trabalho
A limitação deste trabalho, tem em consideracao os protagonistas principais do tema em
discussao. Ora, a limitação do estudo tem em vista o conceito de criança, casamento e direito a
luz da constituição, com isso temos:
1. Criança: Considera-se criança a todos os indivíduos com menos 18 anos de idade (Lei nº
7/ 2008, de 9 de Julho, Sobre a Promoção e Protecção dos Direitos da Criança).
Considerandso isso, este trabalho vem defender a posição contra a violação à
crianca/menos com uma idade abaixo de 18 anos e, esta não pode contrair matrimonio,
visto que é criança.
2. Casamento: É a união voluntária e singular entre um homem e uma mulher, com o
propósito de constituir família, mediante comunhão plena da vida. Nos termos da Lei da
Família, Lei nº 10/2004 de 10 de Agosto, a idade legal para casar sem consentimento
parental, passou dos 16 para os 18 anos. Entretanto, no interesse público e familiar e,
havendo consentimento dos pais ou dos representantes legais, o casamento pode ser
contraído aos 16 anos a título excepcional. Neste trabalho, rejeita-se a excessão
consimental para contrair matrimonio, mesmo se a tal menor queira se envolver. Somente
acima dos 18 anos qualquer cidadã esta livre de tomar suas decisões, e em caso de
casamento, esta pode livremente contrair matrimónio, isto, porque tem a idade minima
aceite na lei.
3. Casamento prematuro: O casamento prematuro é definido como a união marital,
envolvendo menores de 18 anos. Este constitui violação dos direitos sexuais e
reprodutivos. E os direitos que neste trabalho são defendidos são exactamento dos
menores de 18 anos, os quais envolvendo-se em casamentos prematuros, seus direitos são
inconstituicionalizados, ou seja, são lhes tirados, violados.
12
CAPÍTULO II: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Conceituar então, a natureza jurídica dos direitos humanos se torna abrangente pela
diversidade de posicionamentos encontrados na doutrina. Onde para alguns, os direitos humanos
são simplesmente direitos subjetivos; onde para outros são direitos subjetivos, emanados
diretamente das normas positivas e somente adquirem valor jurídico ao serem reconhecidas pelo
Estado. Segundo MORÁN (s/ano):
Outros ainda, que consideram os direitos humanos como valores; ou ainda como
princípios gerais de direito; enquanto para outros são faculdades de poderes nascidos de
normas objetivas previamente existentes nos ordenamentos estatais, que lhes são
impostas obrigando o seu reconhecimento, com sentido de direito natural clássico ou
simplesmente como direito objetivo numa concepção mais actual.
13
2.2. Concepções Doutrinárias Acerca da Natureza Jurídica dos Direitos Humanos
2.2.1. Concepção Jusnaturalista
A concepção jusnaturalista é aquela tradicionalmente adotada por aqueles que defendem
a plena validade jurídica dos direitos humanos como faculdades intrínsecas do homem,
independente de sua positivação. Direitos do homem como imperativos do Direito natural,
anteriores e superiores à vontade do Estado.
Segundo CANOTILHO (2003),Direitos do homem são direitos válidos para todos os povos e em
todos os tempos (dimensão jusnaturalista-universalista), ou seja, os direitos do homem
arrancariam da própria natureza humana e daí o seu caráter inviolável, intemporal e universal.
14
No pensamento de PECES-BARBA (1980), tentando explicar a concepção legalista dos
direitos humanos, faz a distinção destes com os direitos fundamentais. Para este doutrinador, os
direitos fundamentais se completam com sua recepção no Direito Positivo, pois, em sua opinião,
um direito fundamental não alcança sua plenitude se não for reconhecido no direito positivo.
Segundo (Bruce, 2002, citado por FNUAP, 2003), Que direitos estão a ser negados com o
casamento tradicional-prematuro? Em resposta a questão, se nos guiarmos pela vivencia
cultural e tradicionalista do povo de Macanga em oposicao às Convenções sobre os Direitos da
Criança/rapariga, são violados os seguintes direitos:
O direito à educação (artigo 28).
O direito a ser protegida contra todas as formas de violência física ou mental, dano ou
abuso, inclusive sexual (artigo 19) e de todas as formas de exploração (artigo 34).
O direito ao gozo do mais alto nível possível de saúde (artigo 24).
O direito à informação escolar e profissional e orientação (artigo 28).
O direito de procurar, receber e transmitir informações e ideias (artigo 13).
O direito ao descanso e lazer, e de participar livremente na vida cultural (artigo 31).
O direito de não ser separada de seus pais (obrigada a casar) contra a sua vontade (artigo
9).
15
O direito à protecção contra todas as formas que afectam de qualquer modo o bem estar
da rapariga (artigo 36).
16
2.4.CASAMENTO E SEUS EFEITOS
2.4.1. Breve Historial da Evolução do Casamento
Sob o ponto de vista sociológico o casamento é um fenómeno humano muito antigo que
se formalizava sem qualquer acto solene diz CHILAULE (2016:29).
No direito romano distinguia-se o casamento do simples concubinato pela affection
maritalis, elemento subjectivo que evidenciava o propósito comum de convivência duradoura
entre o homem e a mulher. Era pois um acto voluntário que começou com vontade dos 2 e
poderia terminar com o repúdio universal ou bilateral - é muito parecidocom a figura da união de
facto.
Na idade média e com a influência do cristianismo o casamento passou a ser encarado
como um sacramento em que intervinha a vontade divina, o casamento revestia-se de forma
canónica e era o ministro do culto que autorizava a celebração. Só a partir do Concilio de Trento
do século XVI em que o sacerdote passou a intervir na sua celebração.
Com a separação da igreja criou-se o advento do protestantismo e seu predomínio em
alguns países Europeus como a Inglaterra, retirou a igreja o controlo do casamento submetendo-o
ao Estado.
Foi só com a revolução francesa, no final do século XVIII que se passou a adoptar a
concepção do casamento como um acto meramente civil, como um contrato, baseado na vontade
dos nubentes e sem estar sujeito à intervenção obrigatória da Igreja, surgindo assim o casamento
de natureza laica de competência dos representantes do Estado e independente do casamento
religioso.
17
2.4.2. A Natureza Jurídica do Casamento
Segundo o art. 7º
O casamento é caracterizado como sendo um acto ou negócio jurídico, solene mediante o qual
um homem e uma mulher aceitam voluntária e reciprocamente estabelecerem convivência de
carácter duradouro.
Tem duas vertentes:
1. Casamento como acto, cerimónia que se celebra - como acto em si.
2. Casamento como estado familiar, em que os nubentes se vão encontrar a pois a cerimónia
é consequência da cerimónia como estado. O casamento como estado é um vínculo
jurídico composto por um conjunto complexo de direito e deveres.
3. Como um acto e na doutrina civilista predomina a concepção de casamento como um
contrato.
Geralmente, no Distrito em Causa, a realização do casamento, não tem dependido da voz
voluntaria dos sujeitos a se casarem.
Segundo VARELA (2004) diz que:
O casamento como um contrato solene em que intervem duas declaracoes de vontade que
são contraposta mas são harmonizadas, caracteriazado pela diversidade de sexo que tem
como conteúdo e como fim a plena comunhão de vida. Que tem uma outra visão do
casamento. Assim, este entende que “o casamento é a união voluntária e singular entre
um homem e uma mulher, com o propósito de constituir família, mediante comunhão
plena de vida.
O nosso código de família quis deixar de reconhecer o casamento como um contrato para passar
a reconhecê-lo como uma união, embora reconheça nele um negócio jurídico em que a
declaração da vontade dos nubentes vai produzir unicamente os efeitos jurídicos previstos na lei
e que são de natureza imperativa. A sua autonomia da vontade circunscreve-se à dois pontos,
considerados como pertinentes aos direitos fundamentais da pessoa humana:
Cada pessoa é livre de casar ou não.
Cada pessoa é livre de escolher a pessoa de outro sexo com quer casar.O casamento deve
ser definido como um negócio jurídico familiar e bilateral, com a natureza de um pacto,
celebrado entre os nubentes. É o acto jurídico condição de aceitação do estado de casado,
que dele decorre, estado esse que se estabelece reciprocidade entre 2 nubentes.
Fica portanto, afastada, a hipótese do casamento como um contrato civil, pois a vontade do
Estado intervêm no acto do casamento, antes da sua celebração, através do conservador do
18
registo civil, cuja intervenção tem a natureza certificativa e a sua participação é indispensável à
própria existência do acto jurídico.
19
ՙՙa capacidade matrimonial, que não coincide com a capacidade de celebrar negócios
jurídicos de outros ramos de direito, obedece aos fins específicos do casamento e aptidão
para casar revela-se por condições de maturidade física e psíquica assim como por
restrições impostas a pessoas ligadas por vínculos familiares por razões de ordem moral e
até de eugeniaˮ.
2. Impedimentos Matrimoniais
São proibições de carácter excepcional art. 29 LF
A lei exige legalmente a circunstância negativa de que não se verifiquem em relação aos
nubentes quaisquer impedimento matrimonial, ou seja facto jurídico que obstam a realização do
casamento, e que podem ser classificados como impedimento dirimentes (absolutos e relativo)
que são aqueles que dirimem, destroem os efeitos do casamento e dos impedimento não
dirimentes ou meramente impedientes, são aqueles cuja existência obstam a realização do
casamento mas não afecta a sua validade.
a) Impedimento Dirimentes absoluto 30º LF: dizem-se absolutos porque impedem a
pessoa de se casar com quem quer que seja.
b) Impedimento Dirimentes Relativo art. 31º LF: embora designados de relativos
estes impedimentos impedem absoluto o casamento dando origem à sua anulabilidade
mas impede unicamente que duas pessoas casarem uma com a outra mas não
impedem que casem com outrem.
20
c) Impedimento Impedientes: o nosso código eliminou a referência a estes
impedimentos embora no entanto no seu artigo 32º LF ao referir - se à capacidade
matrimonial menciona não só os impedimentos previstos no código como ainda
aqueles que venham a constar de lei especial, deixando-se assim em aberto a
possibilidade de outras leis virem a condicionar o direito de contrair casamento.
3.Consentimento
Conforme CHILAULE (2016), este é o segundo elemento consubstancial que integra o acto do
casamento é o elemento psicológico e subjectivo: a vontade do nubente. O que significa que o
consentimento tem de ser dado pela pessoa do nubente, ninguém pode ser substituído, mesmo em
caso do nubente ser menor, apesar de para isso ter de estar autorizado. Aqui retira -se o
consentimento dos Pais.
No entanto é permitido que um dos nubentes esteja representado por um procurador, a lei
impõe que a procuração seja de natureza especial, válida tão-somente para o acto de casamento,
devendo mencionar expressamente o nome do outro nubente, art. 42º, n.º 2 LF e nunca se pode
fazer representar os dois nubentes no mesmo tempo. O nosso sistema não admite os casamentos
arranjados pela família pois, este tem de ser contraído com base na vontade dos nubentes. Não se
admitem no casamento condições ou termos pois o casamento tem natureza imperativa e
autonomia da vontade esgota-se com a escolha de casar ou não casar e com quem, casar. Para ser
válido tem de ser actual ou seja no momento da celebração.
2.4.6.Nulidade do Casamento
Aqui a regra é de que o casamento existe só que foi contraído com a violação de certas regras e
direitos e enquanto não for decretado nulo ele produz efeitos jurídicos.
Segundo o art. 59 LF - sem ser declarada ela não é invocável, vício da nulidade terá portanto de
ser declarado em acção judicial de natureza impugnativa. mA doutrina distingue consoante os
vícios do acto:
Nulidade absoluta: afecta aqueles casamentos celebrados com violação de impedimento
dirimentes absolutos ou relativo - este tipo de nulidade é invocável pelos cônjuges, por terceiro
cujo interesse esteja protegido por lei e o Ministério Público porque violou um princípio de
21
ordem pública. Exemplos casamentos incestuosos, de bigamia e de conjugicídio, e ainda dea para
acrescentar situações de que envolvem menores.
O critério de distinção dos dois tipos de nulidade é a de mais larga ou mais restrita a
legitimação para a propositura da acção de anulação assim como de uma maior ou menor
dilatação do prazo para a acção ser proposta.
2.4.7.1.Causas de Nulidade
Falta de Capacidade Matrimonial
Falta de idade núbil: art. 30 LF- fixa a ideia núbil aos 18 anos e embora haja excepções
estas têm de obedecer a lei. O casamento do menor não núbil está ferido de nulidade
absoluta.
Falta do vício da vontade: art. 61 LF são vícios que ferem um dos pressupostos de
casamento que é o do mútuo consentimento.
Prazos: o prazo de anulação revela também que a lei procura salvaguardar tanto quanto
possível a estabilidade do casamento mesmo ferido de nulidade. Os prazos de invocação
de nulidade são mais dilatados ou mais diminutos consoante a natureza e gravidade do
vício art.67º LF.
22
2.4.8. Validação do Casamento
É uma mão estendida da lei a favor de um casamento que foi celebrado com vícios com
vista a salvaguardar a estabilidade da família assente no casamento, art. 52 LF
23
trânsito para a fase adulta, por isso, confinadas ao espaço doméstico ou às instituições escolares
como defendem as teorias de socialização e do desenvolvimento social.
24
O ponto de partida para a delimitação da noção de casamento prematuro passa pela
harmonização do conceito criança. Sendo uma categoria social importante no processo de
produção e reprodução de valores, normas e práticas culturais; a criança, conceitualmente
apreendida e compreendida é vivenciada de maneira diversificada em função das representações
e lógicas de vida dos grupos nos quais ela se encontra inserida CHILAULE (2016:43).
Sabe-se que o casamento prematuro constitui um fenómeno caracterizado pelo
casamento tradicional entre indivíduos adultos do sexo masculino e raparigas na adolescência e
pré-adolescência, que vivem em contextos socioculturais específicos.
Na abordagem sobre casamento Prematuro e o reconhecimento das competências
culturais e da capacidade do indivíduo exercer papéis sociais prescritos pelo grupo a SAVE
CHILDREN, defende que:
Não se pode abordar o casamento prematuro como uma prática exterior às referências
socioculturais das comunidades porque ele acaba sendo um elemento estruturante das
relações que são estabelecidas na família e entre os diferentes grupos familiares que
constituem estas comunidades.
Entende-se por isso, que se deve ter em conta que, como prática cultural reiterada, o
casamento prematuro não é visto pela comunidade como uma forma de violação dos direitos da
criança emanados pelas convenções internacionais e pelas normas jurídicas internas instituídas
para o efeito.
As convenções internacionais sobre os direitos da criança e, especificamente, a Carta
Africana dos Direitos e Bem-estar da Criança ratificada por Moçambique através da Resolução n.º
20/98 de 26 de Maio do Conselho de Ministros refere que o conceito de criança é consentâneo com a
definição da Declaração Universal dos Direitos da Criança (DUDC) (Artigo 2) e, defende o princípio
de prioridade nas acções relacionadas com a criança (Artigo 4). Este documento exige a protecção da
privacidade da criança (artigo 10), a necessidade de protecção contra o abuso infantil (artigo 16), a
proibição de casamentos prematuros e a promessa de casamentos a menores (artigo 21 n. ° 2) e insta
os Estados a tomarem medidas contra todas as formas de exploração e abuso sexual artigo 27.
25
sexual contra mulher, permitem enquadrar o casamento prematuro como reflexo das relações
desiguais de poder e dominação entre homens e mulheres nas sociedades de ideologia patriarcal.
Foi referido, anteriormente, que a criança, categoria social, é considerada um ser subalterno que
ocupa um lugar específico na estrutura da família e da comunidade.
Ao analisar o grau de aplicabilidade dos direitos humanos e das mulheres, considera as
dificuldades interpretação, aplicação e promoção dos direitos humanos das mulheres têm origem
no facto da Declaração Universal dos Direitos Humanos ter sido instituída com base em modelo
patriarcal como é o caso de todas as formas de violência exercidas no âmbito da família
explicadas do ponto de vista da tradição cultural e do respeito à privacidade.
Nesta perspectiva, o casamento prematuro é entendida como forma de violência da
rapariga com efeitos directos no exercício da sua saúde sexual e reprodutiva. Deste modo pode-
se abordar o casamento prematuro no âmbito da protecção dos direitos Humanos das mulheres
menores, ainda que este artigo lido verse sobre os direitos da mulher.
Na abordagem de OSÓRIO (2000) ՙՙdestaca-se o facto de esta considerar que na DUDH a
privacidade ser concebida como um campo de não intervenção do Estado, por isso, passível de
ser regulada por práticas e valores sociais em conflito com o públicoˮ.
Esta afirmação é crucial para entendermos até que ponto se podem desenvolver acções e
estratégias conducentes à inibição do Casamento Prematuro tendo como suporte o sistema
jurídico que, como foi anteriormente anotado, não reflecte as práticas costumeiras relacionadas
com a integração das crianças na estrutura familiar.
26
Segundo OSÓRIO (2000) “Como ocorre entre as mulheres adultas, as humilhações
públicas tendem a atingir as vítimas como reflexo das normas social e culturalmente
estabelecidas na sociedade”.
Neste âmbito, considera-se que as raparigas dispõem de espaço e instrumentos limitados
e aceites para se protegerem dos casamentos prematuros. Este facto é fundamentado pela
permanência da ideologia patriarcal que se matem nas estratégias de organização, distribuição,
representação e controlo do papel e da função social da mulher na estrutura familiar.
Sob o ponto de vista académico, é importante fazer o estudo sobre este tema, pois
apresenta um pouco ou quase inexplorada no contexto das discussões sociológicas e de
desenvolvimento sobre casamentos prematuros em Moçambique, que é a abordagem jurídica que
analisa as Implicações da Violação dos Direitos Fundamentais dos Menores.
Nesse sentido, a partir do que está exposto e analisado, lança-se importantes contributos
para as autoridades de administração da justiça, lançam-se novos horizontes de pesquisa que,
posteriormente ajudarão a compreender as subjectividades dos menores em situação forçada de
casamento.
27
A legislação moçambicana defende o princípio de eliminação de qualquer forma de
discriminação e exploração contra a criança pois, ao ratificar as convenções que protegem e
promovem os direitos da criança, o Estado moçambicano aderiu ao princípio de liberdade e
igualdade no tratamento dos direitos humanos das crianças. Considera-se assim, que as uniões de
caracter matrimonial envolvendo menores de idade, sendo promovidas por adultos não têm
enquadramento no ordenamento jurídico moçambicano (Ex: Código Civil, Lei da Família), é
pois, neste âmbito que torna-se importante ter em consideração que neste artigo o casamento
prematuro resume-se a relações de carácter matrimonial envolvendo indivíduo adulto de sexo
masculino e menor de sexo feminino.
28
Apesar do impacto que o casamento prematuro tem na vida das raparigas mais pobres do país
com idade inferior a 19 anos, estas continuam à margem das prioridades de intervenção das
instituições e organizações que militam em prol da promoção e protecção dos direitos da criança.
29
mulher que não tenha fontes de rendimento ou esteja impedida pela família ou pela sua condição
física ou de saúde de as ter; a criação de casas de abrigo para as vítimas.
30
CAPÍTULO III: METÓDOLOGIAS DE ESTUDO
Estudar. Descrever. Explicar. Interpretar. Compreender e Avaliar.
Depois de ter definido o seu problema digno de pesquisa e completada uma leitura
preliminar da literatura existente sobre o problema, você precisa colectar mais informações e
provavelmente também dados empíricos para escrever sua tese. Dependendo do problema que
você definiu, você terá que realizar uma revisão detalhada da literatura ou realizar pesquisa
baseada em campo - ou talvez uma combinação de ambos.
31
A pesquisa causal (explicativa) baseia-se, muitas vezes, em experimentos, envolvendo
hipóteses especulativas, definindo relações causais. Como os requisitos para a prova de
causalidade são muito exigentes, as questões de pesquisa e as hipóteses relevantes têm que ser
muito específicas (AAKER, KUMAR & DAY, 2004).
De acordo com Mattar (2001), na prática, as relações de causa e efeito não são simples
como a maioria das pessoas pensa. O senso comum acredita que uma única causa é responsável
pelo efeito, o que recebe o nome de causação determinística.
Tendo concebido a essência deste tipo de pesquisa, para a concretização do trabalho, a
autora do mesmo dedicou-se na pesquisa explicativa, em que a preocupação central é identificar
os factores que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenómenos no caso do
Distrito e Macanga. E pesquisa explicativa é o tipo que mais aprofunda o conhecimento da
realidade, porque explica a razão, o porquê das coisas.
32
planejamento da pesquisa necessita ser flexível o bastante para permitir a análise dos vários
aspectos relacionados com o fenômeno.
De forma semelhante, Gil (1999) considera que a pesquisa exploratória tem como
objectivo principal desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, tendo em vista a
formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores. E
esta foi o cunho levado a cabo no estudo do caso.
Segundo Malhotra (2001), a pesquisa exploratória é usada em casos nos quais é necessário
definir o problema com maior precisão.
33
Em suma, todo trabalho científico, toda pesquisa, deve ter o apoio e o embasamento na
pesquisa bibliográfica, para que não se desperdice tempo com um problema que já foi
solucionado e possa chegar a conclusões inovadoras (LAKATOS & MARCONI 2001).
Segundo Vergara (2000), a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já
elaborado, constituído, principalmente, de livros e artigos científicos e é importante para o
levantamento de informações básicas sobre os aspectos direta e indiretamente ligados à temática.
A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no facto de fornecer ao
investigador um instrumental analítico para qualquer outro tipo de pesquisa, mas também pode
esgotar-se em si mesma.
No que concerne o metodo de procedimento, o método utilizado foi, o método
bibliográfico que será desenvolvido com base em material já elaborado, constituído
principalmente de livros e artigos científicos. É através da pesquisa bibliográfica que efectuar-se-
á a leitura de algumas obras bibliográficas para a compreensão e posterior compilação dos dados
na revisão bibliográfica.
3.2.Tecnica de Pesquisa
3.3.1. Observação
Segundo Cervo & Bervian (2002, p. 27), “observar é aplicar atentamente os sentidos
físicos a um amplo objecto, para dele adquirir um conhecimento claro e preciso”. Para esses
autores, a observação é vital para o estudo da realidade e de suas leis. Sem ela, o estudo seria
reduzido a “[...] à simples conjetura e simples adivinhação”.
A observação também é considerada uma colecta de dados para conseguir informações
sob determinados aspectos da realidade. Ela ajuda o pesquisador a “[...] identificar e obter provas
a respeito de objectivos sobre os quais os indivíduos não têm consciência, mas que orientam seu
comportamento” (MARCONI & LAKATOS, 1996, p. 79). A observação também obriga o
pesquisador a ter um contato mais direto com a realidade.
Como a maioria das técnicas de pesquisa, a observação sempre deve ser utilizada
juntamente com outra técnica de pesquisa, pois, do ponto de vista científico, essa técnica possui
vantagens e limitações que podem ser administradas com o uso concorrente de outras técnicas de
pesquisa (MARCONI & LAKATOS, 1996).
34
Com base em Marconi & Lakatos (1996) e Selltiz et al. (1965), pode-se concluir que a técnica de
observação tem diversas modalidades, aplicáveis de acordo com as circunstâncias.
Em termos de tecnica de pesquisa, neste trabalho, foi a técnica da observação directa e
intensiva realizada através de duas técnicas, a saber: observação, que consiste em examinar os
factos ou fenómenos que se pretendem estudar, e também na utilização de sentidos para obtenção
de alguns aspectos da realidade.
35
outro resultado, beneficia-se do desenvolvimento prévio de proposições teóricas para conduzir a
coleta e a análise de dados” (YIN, 2001 p. 33-34).
“A vantagem mais marcante dessa estratégia de pesquisa repousa, é claro, na
possibilidade de aprofundamento que oferece, pois os recursos se vêem concentrados no caso
visado, não estando o estudo submetido às restrições ligadas à comparação do caso com outros
casos” (LAVILLE & DIONNE, 1999, p. 156).
O ponto forte dos estudos de casos, segundo Hartley (1994) apud Roesch (1999, p.197),
“[...] reside em sua capacidade de explorar processos sociais à medida que eles se desenrolam
nas organizações”, permitindo uma análise processual, contextual e longitudinal das várias ações
e significados que se manifestam e são construídas dentro delas.
36
CAPÍTULO IV: ANALISE, DISCUSSÃO E INTERPRETAÇÃO DE DADOS
Nesta fase analisaremos o grau de implementação das convenções internacionais e do
estabelecido no ordenamento jurídico-legal, atinente à promoção dos direitos humanos, da
criança/rapariga face a situações de casamentos prematuros, nos quais os direitos são violados.
E em relação a isso, alguns autores fazem referência a factores socioculturais para explicar os
constrangimentos que militam na área da protecção e promoção dos direitos da criança.
BARROS e TAJÚ sustentam que:
A ideia de que a condição da criança, em termos do exercício dos seus direitos,
obrigações e direitos reflecte os papéis funcionais ou competências culturais
prescritas e esperadas pela sociedade refere-se a um ser imaturo que precisa ser
preparado para a vida adulta, prevalece criando condições para a exploração da
noção do casamento prematuro.1
1
De Barros, J. & Tajú, G. Prostituição, Abuso Sexual e Trabalho Infantil em Moçambique, pág.31.
2
Mucavele et al,Pesquisa sobre crianças e mulheres chefes de família, 2002.
37
O ponto de partida para a delimitação da noção de casamento prematuro passa pela
harmonização do conceito criança. Sendo uma categoria social importante no processo de
produção e reprodução de valores, normas e práticas culturais; a criança, conceitualmente
apreendida e compreendida é vivenciada de maneira diversificada em função das representações
e lógicas de vida dos grupos nos quais ela se encontra inserida. Sendo que o casamento
prematuro constitui um fenómeno caracterizado pelo casamento tradicional entre indivíduos
adultos do sexo masculino e raparigas na adolescência e pré-adolescência, que vivem em
contextos socioculturais específicos.
Por exemplo, enquanto no contexto das normas costumeiras são eventos fisiológicos, e
culturais e não a idade cronológica que determinam da idade núbil da rapariga, na ordem jurídica
moçambicana 18 anos é o marco do início da idade adulta onde, por exemplo, o casamento é
reconhecido (Artigo 30, nº. 1, alínea a) da Lei de Família, a maioridade do indivíduo só ocorre
aos 21 anos. Este facto torna o casamento que envolva indivíduos com idade inferior a 18,
legalmente inválido.
38
Entretanto, sendo uma prática reconhecida e promovida por diferentes grupos sócios
culturais, identificada pelas autoridades político-administrativas como atentatória dos direitos
humanos da rapariga, os documentos políticos estratégicos que orientam as intervenções do
Governo não tratam o casamento prematuro como uma das formas de violação dos direitos da
criança e/ou da rapariga (mulher).
O casamento prematuro não é elencado, de forma clara, na Lei contra a violência doméstica,
como uma das formas de violência praticadas pelos membros adultos da família contra a criança.
A idade núbil em Moçambique está fixada nos 18 anos, por força da Lei da Família
vigente (Lei nº 10/2004, de 25 de Agosto) a qual também estipula que “a mulher ou o homem
com mais de dezasseis anos, a título excepcional, pode contrair casamento, quando ocorram
circunstâncias de reconhecido interesse público e familiar e houver consentimento dos pais ou
dos legais representantes”. Esta excessão trazida na lei, é de facto comprometedora aos direitos e
vida da criança/menor a ser forçada a casar com o consetimentos dos demais.
39
De acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o consentimento “livre e
pleno” não pode ser reconhecido se uma das partes envolvidas não tiver maturidade para tomar
uma decisão informada sobre o parceiro para a vida. A Carta Africana sobre os Direitos e Bem-
Estar da Crianças estabelece no seu artigo 21 que os estados signatários devem tomar medidas
legais específicas para a eliminação do casamento de crianças e a promessa de casamento de
meninas e rapazes com menos de 18 anos de idade.
Assim, a legislação Moçambicana deve ser revista para se adequar aos compromissos
internacionais assumidos a fim de salvaguardar os direitos humanos, da criança/rapariga que tem
sido violados com a celebração de casamentos prematuros.
1. Linha estratégica: Realizar uma reforma jurídica, adoptando abordagens baseadas nos
direitos humanos e implementando os compromissos assumidos a níveis nacional e
internacional, no âmbito da promoção dos direitos da criança.
2. Objectivo estratégico: Sensibilizar os líderes religiosos, médicos tradicionais, madrinhas
e líderes comunitários em matérias jurídicas e em matérias relacionadas com os
casamentos prematuros, para criar zonas livres de casamentos prematuros.
40
Sob o ponto de vista académico, é importante fazer o estudo sobre este tema, pois
apresenta um pouco ou quase inexplorada no contexto das discussões sociológicas e de
desenvolvimento sobre casamentos prematuros em Moçambique, que é a abordagem jurídica que
analisa as Implicações da Violação dos Direitos Fundamentais dos Menores.
Nesse sentido, a partir do que está exposto e analisado, lança-se importantes contributos
para as autoridades de administração da justiça, lançam-se novos horizontes de pesquisa que,
posteriormente ajudarão a compreender as subjectividades dos menores em situação forçada de
casamento. A nível do universo e do nosso ordenamento jurídico em particular, o casamento é
uma instituição consagrada para instituição familiar.
41
4.3.1.Factores culturais relacionados a prática dos casamentos prematuros
Exixte uma disparidade que existe entre o que a legislação define como criança, em termos de
idade e as concepções das pessoas, especificamente nas zonas rurais é apontada como uma
dificuldade. Constitui também um desafio à aplicação da legislação vigente, a conformação das
normas consuetudinárias com o sistema normativo vigente.
Face a situações como estas, é crucial para entendermos até que ponto se podem
desenvolver acções e estratégias conducentes à inibição do Casamento Prematuro tendo como
suporte o sistema jurídico que, como foi anteriormente anotado, não reflecte as práticas
costumeiras relacionadas com a integração das crianças na estrutura familiar.
3
ARNALDO, C, Fecundidade e seus determinantes próximos em Moçambique: Uma análise dos níveis,
tendências, diferencias e variação regional, pág.154.
42
Para MARCHI:
Acrescido à discriminação da mulher, está o facto de a criança ocupar um lugar
paralelo na estrutura familiar justificado pelo facto de não ser ainda
considerada membro efectivo do grupo familiar a que pertence. 4
Em suma, a rapariga, como mulher e criança é duplamente discriminada. Como criança,
ela não existe socialmente e, como mulher ocupa uma posição subalterna na estrutura familiar.
Por isso, considera-se que o casamento prematuro é reflexo da sua dupla subalternidade
(Criança /rapariga). Por outro lado, sendo o casamento prematuro o marco de ingresso na vida
adulta que legitima os laços de pertença ao grupo familiar e comunidade, torna-se possível
apoiarmo-nos nos autores dos estudos feministas para afirmar que o casamento prematuro
constitui fenómeno que se desenvolve directamente ligado ao processo de construção da
identidade feminina que salienta a subalternização da mulher. Isto pelo facto de esta ser mulher,
e da rapariga pelo facto de ser “criança”.
Segundo OSÓRIO “Como ocorre entre as mulheres adultas, as humilhações públicas tendem a
atingir as vítimas como reflexo das normas social e culturalmente estabelecidas na sociedade”.
Neste âmbito, considera-se que as raparigas dispõem de espaço e instrumentos limitados e
aceites para se protegerem dos casamentos prematuros.
Este facto é fundamentado pela permanência da ideologia patriarcal que se matem nas
estratégias de organização, distribuição, representação e controlo do papel e da função social da
mulher na estrutura familiar.
4
Marchi, R, Infância, género e relações de poder: interpretações epistemológicas, pág.11.
43
Deste modo, MARCHI (p.15) diz que:
A infância e o género apresentam-se como categorias sociais que espelham a
dinâmica das relações assimétricas de poder e acção (consubstanciada na
relação de dependência adulto/criança e homem/mulher) que estruturam e
aproximam os seus universos sociais.5
5
MARCHI, R. Infância, género e relações de poder: interpretações epistemológicas, p.15.
44
Abordagem 3: Melhorar o acesso e a qualidade de educação das crianças em especial
das raparigas. Fornecer incentivos económicos, bolsas de estudo, uniformes e alimentos para
incentivar as raparigas a matricular-se ou a permanecer nas escolas.
OPORTUNIDADES AMEAÇAS
Ambiente político-legal favorável. Prevalência de práticas sociais nocivas
Existência de várias instituições e
que favoreçam os casamentos
organizações envolvidas na
prevenção e combate aos prematuros.
casamentos prematuros.
Vulnerabilidade das famílias e as
Existência de programas de
assistência e de fortalecimento da raparigas.
capacidade das famílias, vivendo
Desconhecimento dos direitos e
em situação de vulnerabilidade.
prioridades na e da vida da rapariga.
Tabela1: Fonte Autora
45
CAPÍTULO V: CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES
5.1. CONCLUSÃO
Com a prática que enfatiza o papel subalterno da rapariga (criança e mulher) na estrutura
familiar, o casamento é abordado como um fenómeno com motivações intra e extra-familiares
que reflecte o papel da família como agente socializador com a função de definir regras de
conduta, dependentes do sexo /género e idade. Entretanto, conclui-se que o casamento
prematuro é um fenómeno que, ao ser definido apenas com base nos princípios e referências
formais (políticas e estratégias sobre criança, normas jurídicas), não produz eco entre as
comunidades que o praticam sob a capa de casamento tradicional ou costumeiro.
Os factores transversais como os altos índices de pobreza entre a população das zonas
rurais; os baixos índices de escolarização; as representações culturais, constituem os principais
motivadores do casamento prematuro como prática culturalmente reiterada, e estes não bastam
para a análise como fenómeno com influências sociais e económicas micro intra familiar e extra
familiar. Os constrangimentos enfrentados pelos actores envolvidos na promoção dos direitos
da criança e da rapariga em elaborar estratégias e políticas sensíveis à harmonização dos
casamentos tradicionais e, a conivência dos líderes comunitários no processo que culmina com
os casamentos, envolvendo raparigas menores de idade e, o mais grave, o interesse das
raparigas em se tornarem económica e socialmente independentes, são alguns dos factores
identificados como motivadores do casamento prematuro.
E a falta de muito conhecimento juridico e legislativa sobre os direitos Humanos, em
parte, faz com que a sociedade viva uma Inconstituicionalidade dos Direitos Humanos, nos ceios
familiares, isto é, nas cerimonias de casamaneto tradicional-prematuro e a reprodução de valores
e comportamentos construídos com base no direito costumeiro tende a atentar contra os direitos
humanos convencionados pelas normas jurídicas instituídas pelos Estado Moçambicano.
Os autores consultados que abordam a infância como uma das áreas de estudos sociais
não consideram existir uma infância/criança universal. Por isso, tendo em mente a não
existência de um conceito Universal de criança/infância apoiamo-nos nas asserções feitas. Os
autores, ao afirmarem que os papéis e espaços sociais de actuação das crianças são
determinados em função das referências culturais do grupo no qual estas se encontram inseridas
remetem-nos à discussão sobre a capacidade que as crianças têm para negociar seus interesses
nos espaços que lhes são socialmente.
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Ora, no ordenamento jurídico moçambicano a categoria criança refere-se a indivíduos
com idade não superior a 18 anos e a maioridade atinge-se aos 21 anos de Idade. Em termos
práticos, os indivíduos até aos 18 anos dependem de um indivíduo adulto para negociar os seus
interesses e espaços de actuação cabendo a estes proteger os seus direitos. Entretanto, no
contexto sócio-antroplógico esta dependência torna-se mais visível uma vez que a idade
cronológica do indivíduo é menos relevante que os eventos vividos como parte do grupo a que
pertence (nascimento, ritos de iniciação, casamento, viuvez, catástrofes, etc.) e que marcam os
estágios cronológicos da sua vida.
O casamento prematuro acaba sendo definido como uma estratégia de emancipação
económica e social da rapariga e o mecanismo de estabelecimento de redes de solidariedade
intra e interfamiliar. Doravante, surge a questão da identificação de estratégias que inibam o
casamento prematuro.
A primeira motivação apontada, quer na bibliografia consultada como na documentação
e relatórios, está relacionada com a prática de ritos de iniciação. A segunda motivação tem a ver
com interesses económicos da família da rapariga que pode optar pela troca da rapariga pelo
dote lobolo. Este pode ser pago previamente em gado, bens ou em dinheiro, uma vez que esta
tem valor económico como mão-de-obra e reprodutora. Torna-se muito importante referir que
devido ao alto índice de pobreza nas zonas rurais, algumas raparigas aceitam o casamento
prematuro como estratégia para adquirir estabilidade e status social uma vez que a mulher
casada é protegida pela família do marido. A terceira motivação está relacionada com o baixo
índice de escolarização da população feminina jovem residente nas zonas rurais que limita as
alternativas de sobrevivência na idade adulta, sendo, por isso, o casamento - uma das únicas
saídas, aparentemente, viáveis legitimadas pela família e comunidade.
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5.2.RECOMENDAÇÕES
Reconhecendo os efeitos negativos do casamento prematuro para a rapariga e na qualidade de
sua vida, isto é, no gozo livre dos seus direitos, são apresentadas as seguintes recomendações:
Envolvimento dos conselhos comunitários nas Intervenções para a promoção dos direitos
da criança visando inibir e mitigar o casamento prematuro: Promover a participação das
madrinhas (ritos de iniciação) dos representantes da medicina tradicionais, líderes em
acções de promoção dos direitos da rapariga visando o adiamento da primeira relação
sexual e assegurando a sua permanência na escola;
Efectuar um estudo sobre incidência, áreas de ocorrência e perfil das comunidades e
famílias que praticam o Casamento prematuro, de modo a identificar estratégia para a
sua inclusão na Lei sobre violência doméstica de modo a penaliza-lo: Uma estratégia que
pode contribuir para a inibição do casamento prematuro é a integração de possíveis
eventos relacionados com a promoção do casamento prematuro como forma de violência
doméstica punível por lei;
Para permitir que a família se transforme num agente de protecção e promoção dos
direitos da criança (rapariga), harmonizar conceitos, estratégias de intervenção:O
governo e sociedade civil devem harmonizar conceitos e estratégias de intervenção de
modo a identificar áreas prioritárias de intervenção que permitam o reconhecimento de
referências socioculturais que determinam a evolução comportamental e cronológica dos
indivíduos;
Estimular a sociedade civil para fazer advocacia para aprovação de instrumentos
jurídicos que desencorajam o casamento prematuro;
Desenvolver programas que atribuam incentivos às famílias que assegurem a
permanência da rapariga na escola, pelo menos até a conclusão do Ensino Secundário
Básico: Permitir que, através da alocação de recursos com impacto directo no rendimento
familiar, a presença da rapariga na escola signifique status e acesso às fontes alternativas
de rendimento;
Alargar os serviços de assistência aos adolescentes e jovens para a assegurar que a
rapariga tenha acesso a informação sobre saúde sexual e reprodutiva.
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Ora, quanto a legislação Moçambicana, esta deve ser revista para se adequar aos compromissos
internacionais assumidos a fim de salvaguardar os direitos humanos, da criança/rapariga que tem
sido violados com a celebração de casamentos prematuros.
3. Linha estratégica: Realizar uma reforma jurídica, adoptando abordagens baseadas nos
direitos humanos e implementando os compromissos assumidos a níveis nacional e
internacional, no âmbito da promoção dos direitos da criança.
4. Objectivo estratégico: Sensibilizar os líderes religiosos, médicos tradicionais, madrinhas
e líderes comunitários em matérias jurídicas e em matérias relacionadas com os
casamentos prematuros, para criar zonas livres de casamentos prematuros.
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REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
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mulheres em quatro tópicos, 2000a.
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BOGDAN, Robert & BIKLEN, Sari; Investigação Qualitativa em Educação; Portugal; Porto
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OLIVEIRA, Silvio Luiz de. Tratado de metodologia científica. 2.ed. São Paulo: Pioneira,
1999.
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