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Instrumentos Do Diagnóstico Psicopedagógico: A Aplicação Da Entrevista de Anamnese.

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GRUPO EDUCACIONAL FAVENI

VERA LÚCIA RICARDO DA SILVA

INSTRUMENTOS DO DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICO:


A APLICAÇÃO DA ENTREVISTA DE ANAMNESE

ARACAJU-SE
2020
GRUPO EDUCACIONAL FAVENI

VERA LÚCIA RICARDO DA SILVA

INSTRUMENTOS DO DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICO:


A APLICAÇÃO DA ENTREVISTA DE ANAMNESE

Trabalho de conclusão de
curso apresentado como requisito
parcial à obtenção do título
especialista em Psicopedagogia
Institucional e Clínica.

ARACAJU-SE
2020
INSTRUMENTOS DO DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICO:
A APLICAÇÃO DA ENTREVISTA DE ANAMNESE

Vera Lúcia Ricardo da Silva 1

Declaro que sou autora deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o
mesmo foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja
parcial ou integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e
corretamente referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de
investigações empíricas por mim realizadas para fins de produção deste trabalho.
Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e
administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de plágio ou violação
aos direitos autorais. (Consulte a 3ª Cláusula, § 4º, do Contrato de Prestação de Serviços).

RESUMO - A entrevista de anamnese é um instrumento importante para o diagnóstico


psicopedagógico e é a partir dela que é possível resgatar a história de vida atual e pregressa do
sujeito com problemas de aprendizagem. A anamnese, desde que embasada por critérios e objetivos
bem definidos, pode ser aplicada em momentos diferentes da avaliação psicopedagógica. A partir de
uma revisão bibliográfica sobre o assunto, comparou-se os diferentes meios e ocasiões de aplicação
anamnese, buscando informações no âmbito da escola (psicopedagogia institucional) e do consultório
(psicopedagogia clínica). É na psicopedagogia clínica que encontram-se as maiores discussões
quanto ao modo e a ocasião de sua aplicação, o que pode ser definitivo para a obtenção de um bom
trabalho psicopedagógico. Conclui-se que a aplicação da anamnese em sessões finais da avaliação,
conforme sugere a Epistemologia Convergente, mostra-se bastante favorável para os iniciantes na
psicopedagogia clínica, pois colabora com a redução do risco de interferências sobre a confirmação
das hipóteses levantadas para o diagnóstico. No entanto, a sua aplicação conforme o modelo
tradicional, ou seja, no início da avaliação, revela-se estratégica para casos específicos relatados na
literatura, sobretudo quando aplicada pelos profissionais mais experientes. Em todas as situações é
importante aplicar a anamnese adaptando o seu roteiro a cada caso e incluindo as informações
adequadas.

Palavras-chave: Psicopedagogia Clínica. Avaliação Psicopedagógica. Epistemologia


Convergente.

1
Veraricardo73@gmail.com
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A psicopedagogia busca compreender a forma de apreender e os aspectos


envolvidos nas dificuldades de aprendizagem do indivíduo. Seja qual for o
referencial teórico ou a linha de trabalho do psicopedagogo, o diagnóstico das
dificuldades de aprendizagem é o objetivo inicial. No entanto, uma grande variedade
de informações são obtidas durante o processo de avaliação do sujeito.
Dois momentos podem ser consideradas no trabalho do psicopedagogo,
apesar de não estarem totalmente dissociados um do outro: a avaliação e a
intervenção. É na etapa da avaliação que são aplicados os instrumentos
considerados estratégicos para o diagnóstico psicopedagógico, entre eles a
entrevista de anamnese.
A anamnese consiste em uma entrevista sobre a vida do sujeito, geralmente
realizada com aqueles que conhecem sua vida pregressa e atual (os pais ou
responsáveis). Este instrumento psicopedagógico, focado nos aspectos da história
de vida do aprendente, revela-se crucial para o diagnóstico, cabendo ao
psicopedagogo aplicá-lo quando achar mais conveniente e adaptando-o a cada
caso. É importante que os questionamentos sejam aplicados de forma criteriosa e
isenta de interferências que possam mascarar ou alterar as hipóteses de diagnóstico
levantadas inicialmente.
Na instituição escolar a anamnese é aplicada livremente mas no caso dos
consultórios, os profissionais que iniciam a sua trajetória na psicopedagogia clínica
tem que lidar com um grande número de informações e a anamnese deve ser
aplicada de forma a não mascarar o diagnóstico. O profissional deve atentar para o
que é mais válido, uma vez que a ficha de anamnese deve ser idealizada por ele
mesmo para compor as informações que o psicopedagogo acha pertinente ao
evoluir na sua trajetória de avaliação. Os roteiros pré-definidos nem sempre
atendem ao propósito pois são elaborados para casos específicos. O momento da
aplicação (se no início ou final da avaliação) é também um fator importante e deve
ser considerado pelo profissional.
O objetivo geral deste trabalho é o de investigar o modo e as ocasiões de
aplicação da entrevista de anamnese, à luz da bibliografia sobre o assunto, uma vez
que a anamnese constitui a base para a obtenção de informações vitais do sujeito e
necessárias a boa condução do processo educacional e ao atingimento de um bom
diagnóstico dos problemas de aprendizagem.
A partir de uma revisão bibliográfica que tem como base os principais autores
no tema relacionado ao diagnóstico psicopedagógico e cujos trabalhos culminaram
com o desenvolvimento de estratégias que permitem aprimorar o processo de
investigação psicopedagógica, este artigo reúne as informações de forma a
sistematizar as considerações sobre o instrumento da anamnese, focando no modo
e nas ocasiões de sua aplicação na psicopedagogia clínica.
Inicialmente, contempla o tópico relacionado aos instrumentos destinados ao
diagnóstico psicopedagógico para em seguida discorrer sobre a entrevista de
anamnese, localizando-a na psicopedagogia institucional e clínica para, finalmente,
ater-se no aspecto dos consultórios uma vez que o momento e o modo de sua
aplicação neste ambiente revela-se corriqueiro, estratégico e definitivo para atingir
bons resultados diagnósticos.

2 OS INSTRUMENTOS DO DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICO

Considerando o problema de aprendizagem como um sintoma, pois trata-se


de um sinal de descompensação proveniente de comportamentos do sujeito, sendo
passível de resolução desde que suas causas sejam conhecidas, o diagnóstico
psicopedagógico é sempre uma hipótese que tem como base a investigação de
fatores orgânicos, específicos, psicógenos e ambientais (PAÍN, 1985),
O trabalho e os objetivos da psicopedagogia prevê os meios necessários para
diagnosticar os problemas de aprendizagem, tendo no artigo 1° do Código de Ética
da profissão, segundo a ABPp - Associação Brasileira de Psicopedagogia, a
descrição geral da existência dos meios para desenvolver esta função:

A Psicopedagogia é um campo de atuação em Educação e Saúde


que se ocupa do processo de aprendizagem considerando o sujeito, a
família, a escola, a sociedade e o contexto sócio histórico, utilizando
procedimentos próprios, fundamentados em diferentes referenciais teóricos.

Neste sentido, a psicopedagogia possui mecanismos para desenvolver a


autonomia do sujeito visando a aprendizagem, utilizando-se da investigação e da
intervenção para que o significado, a causa e a modalidade de aprendizagem sejam
compreendidos, tanto em nível de consultório (psicopedagogia clínica) como na
escola (psicopedagogia institucional) (BOSSA, 2007).
As dificuldades de aprendizagem ocorrem em maior frequência na idade
infanto-juvenil. Segundo Paín (1985), a aprendizagem está incluída dentro de um
conceito maior de Educação que envolve a propagação da cultura, cumprindo
funções mantenedora, socializadora e repressora. Estas constatações justificam
investigar as dificuldades de aprendizagem de cada sujeito, melhorando sua
qualidade de vida. Para atingir o objetivo de diagnosticar o problema de
aprendizagem e para intervir em seguida, o profissional tem ao seu dispor um
instrumental especializado por meio do qual pode avaliar e definir estratégias,
viabilizando o atendimento psicopedagógico eficiente e com isso melhorar seu
desenvolvimento escolar (BOSSA, 2007).
Para atingir um bom diagnóstico dos sintomas dos problemas da
aprendizagem, as técnicas de investigação empregadas possuem seus meios de
análise e interpretação (PAÍN, 1985). Não há como dispensar a aplicação de
entrevistas prévias que objetivam delinear o motivo da consulta, a partir das quais se
pode obter informações sobre a “queixa”, além de outras pistas comportamentais
relatadas pelos responsáveis pelo aprendente. Os instrumentos consistem em
atividades lúdicas como a “Hora do Jogo”, provas psicométricas, projetivas e outros
testes específicos (PAÍN, 1985).
Existem casos que as entrevistas são realizadas por meio do serviço social no
âmbito escolar. Weiss (2016) relata experiências de observação em escolas em que
o instrumental de entrevista é aplicado pela assistente social havendo o
encaminhamento posterior para outros especialistas, quando o problema de
aprendizagem é observado. Bossa (2007) cita que no âmbito institucional da escola,
a avaliação geralmente é realizada por equipes multidisciplinares que incluem
psicopedagogos, fonoaudiólogos e psicólogos escolares.
Outros instrumentos de diagnóstico bem conhecidos pelos profissionais da
psicopedagogia também são mencionados por Weiss (2016): EOCA-Entrevista
Operatória Centrada na Aprendizagem, cujo propósito é o de investigar o modelo de
aprendizagem do sujeito, bem como aproximar o profissional do aprendente
(SAMPAIO, 2018). A EFES- Entrevista Familiar Exploratória Situacional, pela qual se
pode conhecer a situação do sujeito na família, mas que não substitui a anamnese,
que tem a função de obter informações sobre a história vital da criança, atual e
pregressa também são aplicadas. A junção de informações destas duas entrevistas
é considerada estratégica na ocasião da avaliação (WEISS, 2016), apesar da
anamnese ser mais discutida na bibliografia sobre o assunto (ANDRADE, 1998; PAÍN,
1985; CHAMAT, 2004; CARLSBERG, 2012; WEISS,2016).

3 A ENTREVISTA DE ANAMNESE NA PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA E


INSTITUCIONAL

A entrevista de anamnese é um tipo de entrevista diferente das


convencionais, utilizadas para diagnósticos pois geralmente é direcionada aos pais
ou responsáveis do entrevistado e não ao sujeito avaliado. Na prática
psicopedagógica, a aplicação da anamnese incide sobre as pessoas que conhecem
a vida do sujeito, que são geralmente o pai e mãe (ANDRADE, 1998).
O objetivo da anamnese é o de resgatar a história de vida do aprendente, de
modo a colher dados importantes para o diagnóstico psicopedagógico, conhecendo
as oportunidades que foram vivenciadas, bem como os estímulos às novas
aprendizagens pelo sujeito (SAMPAIO,2018). É possível estender a anamnese para
outros membros da família do sujeito, como: os avós, tios ou irmãos mais velhos.
Fernández (1991) aplica a anamnese à família levando em conta o aprendente e sua
situação econômica, considerando também fatores que envolvem a escola e com
isso reduzindo o tempo de diagnóstico. O modelo desenvolvido por Fernández
(1991) é denominado por DIFAJ- Diagnóstico Interdisciplinar Familiar de
Aprendizagem em uma só Jornada, onde a anamnese é realizada em caráter
essencialmente clínico e tem a colaboração de outras especialidades, incluindo
médicos e outros profissionais, o que faz este tipo de aplicação ter um enfoque
multidisciplinar.
Várias denominações são atribuídas a anamnese, que também pode ser
chamada de “história vital” (PAÍN, 1985), “história do caso” (WEISS, 2016), “história
de vida” (CHAMAT,2004) ou ainda de “entrevista histórica”, enfatizando a diferença
em relação às anamneses aplicadas em especialidades médicas ou na psicologia
não relacionada à escolar, onde o próprio indivíduo entrevistado teria condições de
responder ao que se quer investigar (CARLBERG,2012).
A anamnese também é recurso utilizado nas escolas (SILVA,2020). Chamat
(2004, p.83) afirma que: “Na instituição, a anamnese do sujeito em estudo pode ser
mesclada: entrevista semiaberta e fechada, dependendo do objetivo do
examinador.”
Silva (2020), relata sua experiência com a anamnese em instituições
escolares, informando que nem todas elas utilizam-se da anamnese como
instrumento de acompanhamento e que, as que a adotam, ainda necessitam de
atualização periódica das informações. As anamneses da escola são desejáveis de
estarem separadas por turmas, respeitando as questões burocráticas de cada
instituição escolar, bem como aquelas ligadas ao sigilo das informações pessoais
dos alunos (SILVA,2020).
Outra importância da anamnese no ambiente escolar é o descrito por
pesquisadores da área da educação, pois a partir dela é possível aferir e discutir
diversos fatores educacionais envolvidos, sobretudo na rede pública de ensino. Em
um destes trabalhos por exemplo, Ribeiro (2019) ao levantar dados de fichas de
anamnese de escola da Rede Municipal de Belo Horizonte com o objetivo de
abordar a análise do perfil das famílias dos alunos matriculados, reforçou esta
importância da anamnese. Concluiu a autora que é um instrumento que permite que
a equipe pedagógica da escola trabalhe de forma a obter maiores avanços no
desenvolvimento das crianças.
Ambos os autores (SILVA, 2020 e RIBEIRO,2019) concordam que as
informações registradas na anamnese são de grande importância, sobretudo nos
casos de problemas de aprendizagem, pois permitem analisar os casos, levando em
consideração os principais aspectos da vida dos alunos. A psicopedagogia
institucional tem um caráter essencialmente preventivo o que significa que não é seu
objetivo principal diagnosticar o problema da aprendizagem (BOSSA, 2007), a
anamnese permite um melhor acompanhamento dos alunos, principalmente se estes
já ingressam na instituição escolar com um diagnóstico anterior ou laudo de
acompanhamento, atestando as dificuldades neste sentido, o qual deve ser anexado
à ficha de anamnese escolar (SILVA, 2020).
Algumas escolas encaminham os alunos com problemas de aprendizagem,
caso estes sejam identificados por meio da equipe psicopedagógica, geralmente
após uma triagem inicial que os leva ao atendimento psicológico na própria
instituição. Neste momento, a anamnese pode ser aplicada pelo psicólogo escolar e
neste caso a anamnese serve ao diagnóstico do problema de aprendizagem (CRUZ
e BORGES, 2013).
Apesar de relatos de utilidade e importância da anamnese na escola
subsidiando a prática psicopedagógica, ela tem maior peso no âmbito da
psicopedagogia clínica, uma vez que é neste campo de atuação que a aplicação
deste instrumental de diagnóstico é objeto de vários relatos e maiores discussões
entre os autores (ANDRADE, 1998; PAÍN, 1985; CHAMAT, 2004; CARLSBERG,
2012; WEISS,2016). A avaliação psicopedagógica no consultório assume um caráter
mais específico e remediativo, enquanto que na escola possui abordagem mais
abrangente e preventiva, onde deduz-se que a anamnese possa contribuir com os
alunos para, por exemplo, adequar conteúdos e métodos de modo a considerar as
características do grupo e traçar um plano de trabalho adequado, já que os alunos
serão atendidos pelos meios e os fins que melhor os atendam (BOSSA, 2007).

Na psicopedagogia clínica, o sujeito é observado individualmente e o olhar do


psicopedagogo deve ser bem direcionado para o diagnóstico, levantando hipóteses
e atentando aos “sintomas” dos problemas de aprendizagem. Dessa forma, as
discussões de como e quando deve ser aplicada a anamnese é mais direcionada, já
que os instrumentos para o diagnóstico podem variar quanto às suas aplicações e
permitir diversos arranjos, sendo aplicados de diferentes modos, indo de encontro ao
que informa Bossa (2007, p.94):

O processo diagnóstico, assim como o tratamento, requer


procedimentos específicos que constituem o que chamo de metodologia ou
modus operandis do trabalho clínico. Ao falar da forma de se operar na
clínica psicopedagógica, vale recordar que ela varia entre os profissionais, a
depender, por exemplo, da postura teórica adotada, além de haver o fato
que, como já haver dito, cada caso é um case – como se diria em inglês –
como suas variantes, suas nuances, que diferenciam o sujeito, seu histórico,
seu distúrbio.

Ainda segundo Bossa (2007) é importante que as entrevistas destinadas à


investigação para o diagnóstico psicopedagógico devam acontecer em consultório,
uma vez que este é considerado o espaço ideal para a exposição dos problemas,
pois oferece privacidade e tranquilidade.
3.1 A APLICAÇÃO DA ANAMNESE NO CONSULTÓRIO
PSICOPEDAGÓGICO

Considerando que a anamnese trabalha com a hipótese de que o entrevistado


(o pai, a mãe ou a família) tem total sabedoria quanto a história de vida da criança,
mas que mesmo assim pode omitir informações, a entrevista deve contar com a
expertise do profissional. O psicopedagogo deve estar bem preparado para
aplicação da anamnese no consultório e o tempo de permanência do cliente em
atendimento deve ser aproveitado ao máximo, apesar de que em alguns casos,
pode a anamnese estender-se por mais de uma sessão. Esta necessidade visa a
qualidade das informações obtidas (WEISS,2016). Neste ponto, Weiss (2016) ainda
cita que o prolongamento da anamnese para outras sessões configura-se, na
prática, como uma intervenção psicopedagógica.
Por meio da anamnese, as informações do passado e do presente do sujeito
são reveladas, permitindo ao profissional diagnosticá-lo pois esclarecem muitas das
variáveis que atuam no meio em que vive, mas deve ser bem aplicada:

Com essa entrevista, tem-se por objetivo colher dados significativos


sobre a história de vida do paciente. Da análise do seu conteúdo, obtemos
dados para o levantamento de hipóteses sobre a possível etiologia do caso,
por isso é necessário que seja bem conduzida e registrada. (WEISS, 2016,
p.65).

Chamat (2004) sugere um roteiro e alerta para a importância de incentivo aos


entrevistados para que relatem de forma detalhada seus pontos de vista,
interrompendo-os somente no caso destes dispersarem quanto aos objetivos da
anamnese. É importante garantir que o apanhado de informações seja registrado, o
que indica ser estratégico a gravação das conversas, com anotações de palavras-
chave para facilitar os registros (CHAMAT,2004). Weiss (2016) recomenda, nestes
casos de registros por gravações solicitar a autorização prévia dos entrevistados.
A emoção e a forma dos relatos também interessam ao psicopedagogo, que
deve ter uma escuta acolhedora, atenta e cuidadosa, elementos que fazem dessa
entrevista uma situação passível de ser encarada com bastante zelo pelo
profissional que a aplica (CARLSBERG,2012). Dessa forma, haverá garantias de
que a história verdadeira seja construída sem vícios, sem deixar-se levar pelos
pontos de vista que possam destoá-la. Para obter-se resultados mais fidedignos é
recomendado adotar um modelo semiaberto de entrevista, que não dispense os
roteiros auxiliares, cujos modelos adotados permitem detectar as contradições,
omissões e também o conteúdo latente presente no discurso (CHAMAT, 2004).
A aplicação de formulário de anamnese de maneira automática revela-se uma
prática reprovada pois não é proveitosa e pode constranger o cliente com perguntas
não direcionadas ao caso, o que por outro lado não quer dizer que deve ser
totalmente livre, sendo recomendado um caráter semidiretivo (WEISS,2016). Os
formulários genéricos, na maioria das vezes, não trazem informações relevantes ao
processo de avaliação, ao contrário, tomam o tempo de atendimento do paciente
pois muitas das questões pré-definidas podem gerar erros de diagnóstico
(ANDRADE, 1998). Andrade (1998) recomenda uma maneira de aplicação da
entrevista de anamnese, onde o psicopedagogo deve estabelecer um roteiro geral,
porém flexível e que não exclua as individualidades e a subjetividade, sendo
preparado apara admitir as surpresas e o inesperado a ponto de permitir reflexões
posteriores. Oliveira (2018) pondera que a anamnese pode ser aplicada a partir de
roteiro fixo, mas que dependendo da habilidade do profissional e sua linha de
atuação, este recurso poderá ser mais livre e espontâneo, deixando os pais
contarem a história de vida do paciente, sem maiores imprevistos.
Sampaio (2018) explica o passo a passo a partir de um roteiro de aplicação
da anamnese, essencial para que o profissional deixe o entrevistado à vontade e
possa investigar o entendimento da família e se está realmente consciente quanto a
problemática de aprendizagem discutida. No escopo da entrevista de anamnese é
essencial o relato das doenças que possam ter prejudicado o desenvolvimento da
aprendizagem do sujeito; a relação da família com a autonomia da criança, possíveis
comportamentos autoritários; participação e incentivo, estímulos, afetividade, bem
como limites e as possíveis formas de punição (SAMPAIO,2018).
Quanto ao momento de aplicação da anamnese no consultório, este fica a
critério do profissional pois pode ser aplicada em qualquer fase avaliação
psicopedagógica, ficando dependente do arranjo de outros instrumentos de
diagnóstico disponíveis. Chamat (2004), ao considerar a anamnese como técnica de
diagnóstico, informa que a mesma é bem concebida após o recebimento da “queixa”
(entrevista inicial) ou após a execução da EOCA-Entrevista Operatória Centrada na
Aprendizagem ou “Hora do Jogo”. Neste momento, segundo a autora, é quando o
psicopedagogo tem a oportunidade do primeiro contato com o sujeito, mas que a
anamnese também pode ser objeto da primeira sessão psicopedagógica,
principalmente quando há relato de outros tratamentos pelos pais ou dúvidas de
diagnósticos anteriores já obtidos.
A idade cronológica da criança com distanciamento grande da série escolar,
problemas dos pais e a escola (discordâncias) e atritos entre o casal podem justificar
a aplicação inicial da anamnese (WEISS, 2016). A autora inicia a avaliação pela
EFES- Entrevista Familiar Exploratória Situacional, mas reconhece que é importante
que os dados da anamnese sejam correlacionados a esta entrevista mais simples.
Chamat (2004) cita quanto ao risco do discurso dos pais na anamnese estar
impregnado pela percepção destes e considerando que o psicopedagogo deve
assumir uma postura crítica quanto as suas observações, abre caminho para a
discussão não só do modo como a anamnese deve ser aplicada mas também o
momento da avaliação em que esta deve ocorrer. A anamnese, pelo modelo
tradicional é aplicada no início da avaliação psicopedagógica. No modelo de
avaliação proposto pela Epistemologia Convergente, do pesquisador argentino Jorge
Visca, que integra três linhas de pensamento: a Epistemologia Genética de Piaget, a
Psicanálise Freudiana e a psicologia Social de Enrique Pichon-Rivière, a anamnese
é feita no final (CARLBERG, 2012).
Carlberg (2012) defende que dessa forma, as hipóteses diagnósticas são
paulatinamente obtidas e assim, seguindo o modelo da Epistemologia Convergente,
há possibilidade de que as questões sejam eleitas para que sejam aplicadas ao final
da avaliação, ocasião em que a entrevista de anamnese é definitiva para o
atingimento dos objetivos do diagnóstico psicopedagógico. De fato, a realização da
entrevista de anamnese em sessões mais adiantadas pode colaborar afastando o
risco de conclusões precipitadas pelo profissional diante de “pistas” tendenciosas ao
diagnóstico, sendo consenso entre a maioria dos autores de que a aplicação da
anamnese deva ser pelo menos após uma sessão com o aprendente, pois é neste
momento que o profissional irá conhecer o sujeito.
Paín (1985, p.42) com relação à entrevista de anamnese cita que:

É conveniente realizá-la depois de conhecer um pouco o paciente,


por meio da hora do jogo e de algumas provas psicométricas, a fim de
orientar o interrogatório para aquelas áreas mais relevantes e de não abrir
margem à emergência de ansiedades e de deslocamentos.
A existência de diferenças básicas entre o modelo tradicional e o
desenvolvido pela Epistemologia Convergente de Jorge Visca com relação ao
momento de aplicação da anamnese são citadas abaixo:

A Teoria da Epistemologia Convergente concebe a anamnese de


uma maneira diferente da tradicional. A primeira diferença é que essa
proposta de avaliação psicopedagógica começa pela Eoca; já na maneira
tradicional de avaliação, começa-se pela anamnese.

Outra diferença é a forma de condução da entrevista, que oferecerá


informações acerca da história da pessoa avaliada. Parte-se de uma
consigna aberta que solicita que os pais e/ou responsáveis relatem para o
psicopedagogo aquilo que consideram importante que ele saiba a respeito
da aprendizagem do avaliado. (CARLBERG, 2012, p.111)

Neste ponto, deve ser considerado o melhor momento para aplicação da


anamnese no consultório psicopedagógico. A opção de postergar a aplicação da
anamnese para sessões mais adiantadas, conforme defende a Epistemologia
Convergente, rompe com o modelo tradicional, onde é prevista de acontecer nas
primeiras sessões da avaliação psicopedagógica (WEISS,2016).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

É evidente que a anamnese seja considerada um instrumento de diagnóstico


psicopedagógico essencial para identificação dos problemas de aprendizagem,
mesmo porque é descrito na literatura como muito utilizado na psicopedagogia
clínica, havendo também relatos de sua utilização no campo institucional, em âmbito
escolar.
É no ambiente do consultório, que a utilização equivocada da anamnese, sem
considerar a escolha das perguntas e do conteúdo ideal dos roteiros, bem como o
momento inadequado de sua aplicação podem comprometer a obtenção de um bom
diagnóstico psicopedagógico.
Dessa forma, é recomendável que para os psicopedagogos iniciantes, que
não possuem a experiência suficiente para a aplicação da anamnese com
segurança logo no início da avaliação, seja adotada a estratégia da Epistemologia
Convergente. A conclusão tem como base o discutido na literatura, que aponta este
modelo como potencial para diminuir o risco de contaminação pelas interferências
causadas diante de informações apressadas que, no caso do profissional sem
experiência, permite o tempo necessário para que o profissional eleja questões
importantes no roteiro adotado, já que a anamnese é realizada somente no final do
processo de avaliação psicopedagógica.
Por outro lado, há relatos de que nos casos em que o cliente já chega ao
psicopedagogo com um distúrbio ou diagnóstico conhecido, encaminhado por outros
profissionais ou em casos específicos, a aplicação da anamnese no início da
avaliação psicopedagógica é uma alternativa tão viável quanto, uma vez que evita
esforços de investigação desnecessários, sendo por sua vez uma ótima opção para
os profissionais mais experientes.
Finalmente, pode-se afirmar que a aplicação da anamnese pelo modelo
tradicional ou pela epistemologia convergente são alternativas viáveis que devem
ser objeto de escolha pelo psicopedagogo antes de iniciar a avaliação
psicopedagógica. Apesar das nuances que envolvem a aplicação da anamnese,
seja no modelo tradicional e ou da epistemologia convergente, na parte clínica ou
institucional, a entrevista de anamnese é de fato um instrumento indispensável ao
trabalho psicopedagógico.

5 REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOPEDAGOGIA. Código de ética da


ABPp. Disponível em: https://www.abpp.com.br/Codigo-de-Etica-do-Psicopedagogo-
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ANDRADE, Márcia Siqueira de Andrade. Psicopedagogia clínica. Manual de
aplicação prática para diagnóstico de distúrbio do aprendizado. 1ª. ed. São Paulo:
Póluss Editorial, 1998.

BOSSA, Nádia. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da


prática. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2007. 3ª ed.

CARLBERG, Simone. Psicopedagogia: uma matriz de pensamento


diagnóstico no âmbito clínico. 1ª ed. Curitiba, Intersaberes,2012.

CHAMAT, Leila Sara José. Técnicas de diagnóstico psicopedagógico: o


diagnóstico clínico na abordagem interacionista. 1ª ed. São Paulo: Vetor, 2004.
CRUZ, Danilly Rafaelly Martins; BORGES, Lucivanda Cavalcante. A queixa
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Acesso em 12 nov.2020.

FERNANDES, Alícia. A inteligência Aprisionada. 1ª ed.Porto Alegre:


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OLIVEIRA, Gilmar. A investigação psicopedagógica inicial: a anamnese


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PAÍN, Sara. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem.


1ªed. Porto Alegre: Artmed, 1985.

RIBEIRO, Marion Patrícia. Perfil das famílias de uma Escola de Educação


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(Aperfeiçoamento/Especialização em Docência na Educação Básica (LASEB)) -
Universidade Federal de Minas Gerais. Disponível em
https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/33439. Acesso em 12 nov. 2020.

SAMPAIO, Simaia. Manual prático do diagnóstico psicopedagógico


clínico. Rio de Janeiro: Wak, 2018. 7ª ed.

SILVA, Carla. Anamnese - o primeiro passo para ajudar qualquer criança


a aprender. Rio de Janeiro: Alfabetizadores.com, 2020. Disponível em:
https://alfabetizadores.com.br/blog/anamnese-alfabetizacao. Acesso em: 18 out.
2020.

WEISS, Maria Lúcia Lemme. Psicopedagogia Clinica: uma visão


diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. Rio de Janeiro: Lamparina,
2016. 14ª ed.rev. e ampliada.

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