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Agravo Interno No Processo de Paulo Henrique Amed X BMW I

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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) MINISTRO (A)

PRESIDENTE DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PROCESSO Nº 0003469-26.2016.8.7.0001

ARESP Nº: 1713285/DF

RECORRENTE: PAULO HENRIQUE AMED DE OLIVEIRA BASTOS

1ª RECORRIDA: BMW DO BRASIL LTDA

2ª RECORRIDA: BCLV COMÉRCIO DE VEÍCULOS S/A

PAULO HENRIQUE AMED DE OLIVEIRA BASTOS, já qualificado


nos autos do processo em epígrafe, inconformado, data venia, com a decisão (fls.
1039/1043), publicada no DJE em 04/08/2020, que conheceu e negou
monocraticamente provimento ao Agravo de Instrumento que visa destrancar o
Recurso Especial interposto contra o acórdão da Egrégia Sexta Turma Cível do
Egrégio Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, vem, por intermédio de
seus advogados ao final assinados, com fulcro no artigo 1.021 do Código de Processo

Civil e do artigo 259 do Regimento Interno do STJ, interpor o presente AGRAVO

INTERNO, visando seja exercido o juízo de retratação quanto a decisão prolatada e


em não sendo este exercido, sejam os presentes autos encaminhados a uma das
turmas cíveis deste Egrégio Tribunal, o que o faz em tempo hábil, consubstanciado nas
razões de fato e de direito em anexo.

Dessa forma, por estarem as razões do presente recurso


pautadas em fundamentos de direito, roga, após intimação dos agravados para
apresentar contrarrazões que se digne Vossa Excelência em exercer o juízo de
retratação e/ou em não exercendo, determinar a imediata remessa dos autos a uma

SIG Quadra 01 Lotes 495/505/515 Sala 207 – Ed. Barão do Rio Branco – CEP 70.610-410 – Brasília – DF – Tel./Fax (61) 3344-7847
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das turmas cíveis do Egrégio Superior Tribunal de Justiça, tudo em consonância com
os ditames legais.

P. Deferimento.

Brasília, 26 de agosto de 2020.

José Alberto Pires Gabriel de Sousa Pires


Advogado Advogado
OAB/DF nº 2474 OAB/DF nº 38313

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EXCELENTÍSSIMOS SENHORES MINISTROS

EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

COLENDA TURMA

EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) MINISTRO (A) RELATOR (A)

AGRAVO INTERNO CONTRA DECISÃO MONOCRÁTICA DO PRESIDENTE

DO STJ QUE CONHECEU DO AGRAVO DE INSTRUMENTO PARA NO

MÉRITO MANTER O ÓBICE AO CONHECIMENTO DO RECURSO

ESPECIAL

AGRAVANTE: PAULO HENRIQUE AMED DE OLIVEIRA BASTOS

AGRAVADOS: BMW DO BRASIL LTDA E BCLV COMÉRCIO DE VEÍCULOS S/A

ORIGEM: RECURSO ESPECIAL EM APELAÇÃO CÍVEL

PROCESSO Nº: 0003469-26.2016.8.7.0001 - TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO

DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS (ARESP Nº 1713285/DF)

EMINENTES JULGADORES,

I – PRELIMINARMENTE

A) DA TEMPESTIVIDADE

O presente Agravo Interno é tempestivo, pois conforme se infere


da certidão de publicação (doc. 01), o despacho que conheceu para no mérito negar
provimento ao Agravo de Instrumento (págs. 1039/1043), foi disponibilizado no Diário

Eletrônico de Justiça no dia 03/AGO/2020 (segunda-feira) (doc. 01). De conformidade


com as prescrições contidas nos §§3º e 4º, do art. 4º (1) da Lei nº 11.419/2006
(1)(1)
Art. 4º da Lei nº 11.419/2006:
§3º. Considera-se como data da publicação o primeiro dia útil seguinte ao da disponibilização da
informação no Diário da Justiça Eletrônico.

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considera-se como data da publicação o primeiro dia útil seguinte ao da

disponibilização da informação no Diário da Justiça Eletrônico, ou seja, 04/AGO/2020


(terça-feira). Fluindo o prazo a partir do primeiro dia útil que seguir ao considerado

como data da publicação (quarta-feira 05/AGO/2020), com seu término no décimo


quinto dia útil (art. 219 do Código de Processo Civil), para a interposição do Agravo

Interno, 26/AGO/2020 (quarta-feira) -- em razão do feriado forense na terça-feira, dia

11/AGO/2020 (art. 81, §2º, IV, do RISTJ) --, o que configura ter sido interposto o
presente Agravo Interno no prazo legal.

B) DOS FATOS

O Agravante é autor na presente ação, que possui por objeto a


rescisão do contrato de compra e venda com as Agravadas, em razão da existência de
vícios ocultos no bem, que não foram sanados no prazo disposto no artigo 18 do
Código de Defesa do Consumidor pátrio, após o juízo de primeiro grau julgar
improcedente os pedidos formulados na exordial de fls. 02/23. Manejou o ora agravante
com o Recurso de Apelação, que fora distribuído por prevenção a Sexta Turma Cível
do c. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, que assim decidiu às fls.
883/892:

“EMENTA:
APELAÇÃO. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO DE CONHECIMENTO.
PEDIDO DE RESTITUIÇÃO DO VALOR DE UM VEÍCULO EQUIVALENTE
AO ADQUIRIDO OU DO VALOR PAGO CORRIGIDO EM RAZÃO DA FALTA
DE SOLUÇÃO DO PROBLEMA APRESENTADO NO VEÍCULO NO PRAZO
LEGAL. POSSIBILIDADE DE PRORROGAÇÃO DO TRINTÍDIO LEGAL. §2º
DO ARTIGO 18 DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.
CONSENTIMENTO DA PARTE. DANOS MATERIAIS E MORAIS NÃO
CONFIGURADOS.
1.  Nos termos do artigo 18, § 1º, do Código de Defesa do Consumidor, o
consumidor pode, quando não solucionado o defeito existe no prazo de 30
dias, requerer a substituição do produto por outro da mesma espécie ou a
restituição imediata da quantia paga ou o abatimento proporcional do preço.
Todavia, por convenção das partes, há a possibilidade de prorrogação desse
prazo até o limite de 180 dias.
2.  Havendo acordo entre as partes prevendo a dilação do prazo de conserto do
veículo até 180 dias, o retorno à concessionária para a continuidade da
solução do mesmo problema dentro do prazo firmado se encontra abarcado
pelo acordo de extensão.

§4º. Os prazos processuais terão início no primeiro dia útil que seguir ao considerado como data da
publicação.

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3.  A permanência do consumidor com automóvel emprestado pela


concessionária pelo período de conserto do veículo que extrapola em alguns
dias do prazo de 30 dias denota o aceite e concordância com a prorrogação e
a continuidade do conserto.
4.  A configuração do dano moral ocorre quando há lesão a direito da
personalidade, consistente em gravame à imagem, à intimidade ou à honra da
pessoa, sendo certo que dissabores do cotidiano sem potencialidade lesiva aos
direitos apontados não permitem a indenização requerida. O instituto não pode
ser banalizado de forma que sua aplicação possa ensejar indevido
locupletamento do indivíduo que se diz ofendido.
5.  Negou-se provimento ao apelo. Honorários recursais fixados.
ACÓRDÃO
Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 6ª Turma Cível do Tribunal de
Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, ARQUIBALDO CARNEIRO -
Relator, JOSÉ DIVINO - 1º Vogal e VERA ANDRIGHI - 2º Vogal, sob a
Presidência do  Senhor  Desembargador JOSÉ DIVINO, em proferir a seguinte
decisão: CONHECIDO. DESPROVIDO. UNÂNIME., de acordo com a ata do
julgamento e notas taquigráficas.
Brasília (DF), 30 de Outubro de 2019
Desembargador ARQUIBALDO CARNEIRO
Relator
RELATÓRIO
Cuida-se, na inicial, de ação de conhecimento  ajuizada por PAULO
HENRIQUE AMED DE OLIVEIRA BASTOS em desfavor de BMW DO BRASIL
LTDA e BCLV COMÉRCIO DE VEÍCULOS S.A. (EUROBIKE).
Na peça exordial (ID 10777290 - Pág. 1/23), o Autor narrou que em agosto de
2014 teria adquirido da EUROBIKE, revendedora e concessionária da primeira
requerida, BMW DO BRASIL, um veículo BMW 328i Sport GP, ano/modelo
2014/2015, placa OZW-1412, com garantia de fábrica de dois anos, pelo valor
de R$ 200.000,00.
Ressaltou que após a aquisição do bem haveria enfrentado verdadeira  via
crucis em decorrência diversos problemas, sendo eles, problema no
acionamento da buzina, ocorrido no segundo dia de uso do veículo e
consertado nos dias seguintes; tremor na direção do veículo, ocorrido no
primeiro mês e solucionado em alguns meses, após idas e vindas à
concessionária; estalo constante na caixa de direção do automóvel,
supostamente não solucionado até o ajuizamento da ação; elevado ruído ao
acionamento dos freios em baixa velocidade, supostamente não solucionado
até o início da demanda; o carro estaria puxando para a direita, problema
solucionado; ocorrência de barulhos no motor quando em baixa rotação ou em
retomadas de velocidade, supostamente não solucionado; odor quanto ao
funcionamento do ar-condicionado; e, por fim, problema no câmbio automático,
razão pela qual o veículo encontrar-se-ia há quase cinquenta dias na oficina da
EUROBIKE.
Alegou que em 16.01.2016 teria notificado as demandadas ressaltando o
interesse de não mais permanecer com o veículo. Nesse sentido, noticiou que
gostaria de receber o valor de mercado de um veículo novo compatível com o
seu ou outro veículo com idênticas configurações. Como resposta, teria obtido
da segunda requerida a proposta de revisões gratuitas por três anos ou o valor
de R$160.000,00 pelo veículo ou a troca de seu veículo por outro de
ano/modelo 2014/2014.
Diante da ausência de composição entre as partes, o Autor requereu a
condenação das Rés na restituição do valor de mercado de um veículo novo
semelhante ao seu. Subsidiariamente, requereu a restituição do valor de
aquisição do veículo corrigido até o efetivo pagamento.
Requereu, ainda, a condenação das Rés em danos materiais no importe de R$
9.000,00 em razão dos gastos realizados com a contratação de seguro para o

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veículo e, por fim, a condenação das Rés em indenização por supostos danos
morais experimentados no valor de R$ 100.000,00. Atribuiu a causa o valor de
R$ 309.000,00.
Em contestação, a segunda Ré, EUROBIKE, destacou, em sede preliminar, a
ciência do Autor quanto à possibilidade superação do prazo de 30 dias para
reparo do veículo, nos termos do artigo 18, §2°, do Código de Defesa do
Consumidor. No mérito, sustentou a ausência de dano material ou moral (ID
10777307 - Pág. 1/8).
Por seu turno, a primeira Ré, BMW DO BRASIL, em contestação, afirmou que
todos os reparos teriam sido realizados no veículo do Autor, que estaria a
disposição dele desde 13.01.2016. Sustentou que a regra prevista no artigo 18
do CDC não poderia ser aplicada de forma absoluta, especialmente em
situações como a dos autos, que envolve a complexidade de um veículo e
peças importadas de outro país.
Ressaltou que em todos os outros serviços realizados no veículo não teria
havido atraso, somente na última vez e em poucos dias. Afirmou que durante
todo o período do reparo teria fornecido, sem custos, um veículo similar ao de
propriedade do Autor para minimizar-lhe os transtornos, tendo o Autor
acompanhando o reparo. No tópico seguinte, ressaltou que o veículo estaria
em perfeitas condições, o que afastaria alegações de que o bem poderia estar
impróprio ou inadequado ao uso. Defendeu que não se poderia admitir a troca
do veículo por um novo, uma vez que o veículo do Autor contaria com mais de
vinte e cinco mil quilômetros rodados. Nesse contexto, ressaltou que admitir a
tese do Autor ensejaria enriquecimento indevido. Por fim, defendeu a ausência
de dano moral e material (ID 10777314 - Pág. 1/21).
No curso da instrução processual foi deferida a realização de perícia, cujo
laudo e esclarecimentos do expert  foram juntados nos IDs 10777445,
10777488, 10777520 e 10777546.
Ao analisar a questão, o douto juiz de primeiro grau  julgou improcedentes os
pedidos formulados na inicial e condenou o Autor nos ônus
sucumbenciais, fixando honorários sucumbenciais em 10% do valor
atualizado da causa.
Os embargos de declaração opostos contra a r. sentença foram rejeitados (ID
10777582 - Pág. 1).
Em suas razões recursais (ID 10777585 - Pág. 1/28), com preparo registrado
no ID 10777590, o Autor reprisa os fatos narrados na inicial para em seguida
ressaltar que a causa de pedir da ação não guardaria correlação com o estado
do veículo no momento da realização da perícia, mas tão somente com o
descumprimento, pelas Recorridas, do trintídio legal previsto no artigo 18 do
CDC para a execução dos reparos. Em seguida, ressalta que a anuência no
prazo para prorrogação dada na ordem de serviço n. 5136 não configuraria
aceitação da prorrogação do prazo de reparo para as ordens de serviços
subsequentes (OSs n. 7318 e 258). Nesse tema, alega abusividade na cláusula
de extensão do prazo de reparo, uma vez que não poderia o consumidor
autorizar o conserto sem anuir com a automática prorrogação do prazo e
também porque a previsão de prorrogação do prazo estaria presente em todas
as ordens de serviço da concessionária, independentemente da complexidade
do serviço a ser realizado.
Ainda quanto às ordens de serviço, sustenta que as OSs 5136, 7318 e 258 não
teriam relação entre si, tendo os reparos da OS 5136 sido realizados e o
veículo entregue ao proprietário.
Em seguida, alega que o seu assistente técnico teria destacado e comprovado
que o problema de vazamento de óleo do câmbio do veículo seria um problema
crônico dos veículos da BMW, o que demonstraria que a engenharia da marca
não teria o conhecimento técnico necessário para a solução do problema do
seu veículo.

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Nesse contexto, reafirma a tese de que no reparo dos serviços da ordem n.


7318, complementada pela n. 258, teria havido a superação do prazo legal de
trinta dias previsto na lei consumerista.
Assevera que não se poderia deixar de observar que o veículo haveria
apresentado elevado número de vícios com enorme demora na consecução
dos devidos reparos, tendo alguns permanecidos até o momento.
Passa a discorrer sobre o princípio da confiança e ressalta que a solução seria
a restituição de valor equivalente a um veículo novo para que pudesse buscar
no mercado um carro equivalente, mas de outra montadora.
Volta a defender a condenação das Recorridas em indenização por danos
morais, no valor de R$ 100.000,00, e danos materiais, esse último no valor de
R$ 9.000,00, correspondente ao seguro do veículo.
Por fim, requer o provimento do recurso, a reforma da sentença e a majoração
dos honorários de sucumbência para 20% do valor da causa.
Em contrarrazões, a segunda Ré, repisa os argumentos apresentados em
contestação, ressaltando a possibilidade de ampliação do prazo para o
conserto e a ausência de danos materiais ou morais.
No mesmo sentido, a primeira Ré reafirma seus argumentos da contestação
para, ao fim, pugnar pelo não provimento do recurso.
Todavia, acrescenta que a alegação de que a causa de pedir não guardaria
relação com o estado atual do veículo não se mostraria verdadeira, uma vez
que, em sua inicial, o Autor teria alegado, entre outros argumentos, que o seus
pedidos estariam relacionados com a ausência de reparos em diversos defeitos
por ele apontados.
É o relatório.
VOTOS

Inconformado, com referida decisão, o agravante manejou


Recurso Especial (fls. 895/913), objetivando que essa colenda Corte, reforme a r.
decisão a quo pela inobservância quanto aos ditames estabelecidos no Código de
Defesa do Consumidor.

No entanto, a Presidência do E. TJDFT, obstaculizou a subida do


Recurso Especial, manejado pelo Agravante, com o óbice da Súmula 7, dessa colenda
Corte, ao entender, que o recurso em questão, detém por escopo exclusivamente a
rediscussão de provas, o que no entender do Agravante, não ocorreu, visto que seu
recurso, versa exclusivamente sobre questão de direito, qual seja, a correta aplicação
dos artigos 18, 51 e 54 do Código de Defesa do Consumidor ao caso em tela.

Assim, sendo, o ora Agravante interpôs Agravo de Instrumento de


fls. 982/1001, onde consignou em suas razões, dentre outras, que o acórdão recorrido
desafiou em seu bojo, expressamente a disciplina dos artigos 18, 51 e 54 do Código de
Defesa do Consumidor, bem como demonstrou que o Recurso Especial manejado

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encontra-se perfeitamente adequado às disposições contidas no artigo 105, inciso III,


alínea “a” da Carta Maior.

O Recurso supracitado foi distribuído por competência exclusiva


ao Excelentíssimo Ministro Presidente desse E. Superior Tribunal de Justiça, que ao
conhecer das razões do Agravo de Instrumento, assim decidiu às fls. 1039/1043:

“AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.713.285 - DF (2020/0138522-7)


RELATOR : MINISTRO PRESIDENTE DO STJ AGRAVANTE : PAULO
HENRIQUE AMED DE OLIVEIRA BASTOS ADVOGADOS : GABRIEL DE
SOUSA PIRES - DF038313A JOSE ALBERTO PIRES - DF002474A
AGRAVADO : BCLV COMÉRCIO DE VEÍCULOS S.A ADVOGADOS : AIRES
VIGO - SP084934A VANESSA TREVILATO RIVOIRO - SP321577A
AGRAVADO : BMW DO BRASIL LTDA ADVOGADO : CELSO DE FARIA
MONTEIRO - DF031550 DECISÃO Trata-se de agravo apresentado por
PAULO HENRIQUE AMED DE OLIVEIRA BASTOS contra a decisão que não
admitiu seu recurso especial. O apelo nobre, fundamentado no artigo 105 da
CF/88, visa reformar acórdão proferido pelo TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO
DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS, assim ementado:
APELAÇÃO. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO DE CONHECIMENTO.
PEDIDO DE RESTITUIÇÃO DO VALOR DE UM VEÍCULO EQUIVALENTE AO
ADQUIRIDO OU DO VALOR PAGO CORRIGIDO EM RAZÃO DA FALTA DE
SOLUÇÃO DO PROBLEMA APRESENTADO NO VEÍCULO NO PRAZO
LEGAL. POSSIBILIDADE DE PRORROGAÇÃO DO TRINTÍDIO LEGAL. §2º
DO ARTIGO 18 DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.
CONSENTIMENTO DA PARTE. DANOS MATERIAIS E MORAIS NÃO
CONFIGURADOS. 1. Nos termos do artigo 18, § 1º, do Código de Defesa do
Consumidor, o consumidor pode, quando não solucionado o defeito existe no
prazo de 30 dias, requerer a substituição do produto por outro da mesma
espécie ou a restituição imediata da quantia paga ou o abatimento proporcional
do preço. Todavia, por convenção das partes, há a possibilidade de
prorrogação desse prazo até o limite de 180 dias. 2. Havendo acordo entre as
partes prevendo a dilação do prazo de conserto do veículo até 180 dias, o
retorno à concessionária para a continuidade da solução do mesmo problema
dentro do prazo firmado se encontra abarcado pelo acordo de extensão. 3. A
permanência do consumidor com automóvel emprestado pela concessionária
pelo período de conserto do veículo que extrapola em alguns dias do prazo de
30 dias denota o aceite e concordância com a prorrogação e a continuidade do
conserto. 4. A configuração do dano moral ocorre quando há lesão a direito da
personalidade, consistente em gravame à imagem, à intimidade ou à honra da
pessoa, sendo certo que dissabores do cotidiano sem potencialidade lesiva aos
direitos apontados não permitem a indenização requerida. O instituto não pode
ser banalizado de forma que sua aplicação possa ensejar indevido
locupletamento do Documento: 112395323 - Despacho / Decisão - Site
certificado - DJe: 04/08/2020 Página 1 de 5 Superior Tribunal de Justiça
indivíduo que se diz ofendido. 5. Negou-se provimento ao apelo. Honorários
recursais fixados. Quanto à primeira controvérsia, alega violação dos arts. 18,
51 e 54, todos do CDC, trazendo os seguintes argumentos: Imperioso
primeiramente se faz destacar, que a causa de pedir do presente processo, em
nada guarda correlação com o estado do veículo no momento da realização do
procedimento pericial, e sim e tão somente no descumprimento por partes das
requeridas, ora recorridas com o trintídio legal previsto no artigo 18 do Código
de Defesa do Consumidor. Ora, resta evidente, portanto, que a causa de pedir
do presente processo não tem qualquer correlação com o estado do veículo
quando da realização do procedimento pericial, e sim e tão somente como já
fora citado, com o descumprimento por parte das requeridas, ora recorridas,

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com o prazo legal para consecução dos reparos no veículo. [...] Em primeiro
lugar, deve-se considerar, que a estrutura da Ordem de Serviço da já referida
2a Requerida, ora recorrida, é típica de um documento de adesão, não
permitindo que o cliente, no caso o ora recorrente, se manifestasse de forma
contrária quanto ao elastecimento de prazo de um determinado reparo, visto
que ao assinar a autorização para a execução do serviço o cliente aceitava
automaticamente a majoração do período legal de reparo, podendo-se supor,
portanto, que em caso de discordância com o aumento desse período não
realizaria a recorrida com os serviços necessários nos veículos, em flagrante
descumprimento com o preceituado no artigo 51 do CDC. [...] Por este motivo,
reforça-se mais uma vez que se fez inconteste pelas Requeridas, bem como
que fora reconhecido pelo ilustre Perito do Juízo, de que o bem quando da
entrada na concessionária para consecução dos serviços constantes da Ordem
de Serviço de n° 7318, complementada pela Ordem de Serviço de n° 258,
permaneceu em posse da 2a Requerida, sem que fossem executados os
reparos necessários no prazo de 30 (trinta) dias, não tendo havido nenhuma
anuência tácita ou expressa por parte do Requerente, para que o prazo dos
serviços de reparo ali dispostos fossem executados em prazo diferente daquele
que preceitua o artigo 18 do Código de Defesa do Consumidor, diploma que
regulamenta e disciplina a relação entre o Requerente e as Requeridas. [...]
Sendo o princípio da confiança, portanto, de ordem pública, deve a violação
deste princípio por parte das recorridas, garantir ao requerente o retorno ao
status quo ante a aquisição do veículo, o que no presente caso se dará
mediante a condenação das recorridas a restituição da quantia referente a um
carro novo compatível com o adquirido, possibilitando que o recorrente possa
buscar um bem equivalente ao seu em outra montadora de renome. (fls.
903/912). É o relatório. Decido. Documento: 112395323 - Despacho / Decisão -
Site certificado - DJe: 04/08/2020 Página 2 de 5 Superior Tribunal de Justiça
Na espécie, incide o óbice da Súmula n. 284/STF, uma vez que não houve a
indicação do permissivo constitucional autorizador do recurso especial,
aplicando-se, por conseguinte, a referida súmula: “É inadmissível o recurso
extraordinário, quando a deficiência na sua fundamentação não permitir a
exata compreensão da controvérsia”.
Isso porque, conforme disposto no art. 1.029, II, do CPC/2015, a petição do
recurso especial deve conter a “demonstração do cabimento do recurso
interposto”. Sendo assim, o recorrente, na petição de interposição, deve
evidenciar de forma explícita e específica em qual ou quais dos permissivos
constitucionais está fundado o seu recurso especial, com a expressa indicação
da alínea do dispositivo autorizador. Esse entendimento possui respaldo em
jurisprudência desta Corte Superior de Justiça, que no julgamento do AgInt no
AREsp 1.479.509/SP, relator Ministro Francisco Falcão, Segunda Turma, DJe
22/11/2019, assim definiu: PROCESSO CIVIL. ADMINISTRATIVO.
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INCIDÊNCIA POR ANALOGIA DO
ENUNCIADO N. 284 DA SÚMULA DO STF. DEFICIÊNCIA RECURSAL. ART.
1.029 DO CPC/2015. AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DE DISPOSITIVO
VIOLADO. PRETENSÃO DE REEXAME FÁTICO-PROBATÓRIO. INCIDÊNCIA
DO ENUNCIADO N. 7 DA SÚMULA DO STJ. [...] II - Na espécie, incide o óbice
da Súmula n. 284/STF, uma vez que não houve a correta indicação do
permissivo constitucional autorizador do recurso especial, aplicando-se, por
conseguinte, a referida Súmula: "É inadmissível o recurso extraordinário,
quando a deficiência na sua fundamentação não permitir a exata compreensão
da controvérsia". III - Conforme disposto no art. 1.029, II, do CPC/2015, a
petição do recurso especial deve conter a "demonstração do cabimento do
recurso interposto". Sendo assim, o recorrente, na petição de interposição,
deve evidenciar de forma explícita e específica em qual ou quais dos
permissivos constitucionais está fundado o seu recurso especial, com a
expressa indicação da alínea do dispositivo autorizador. Este entendimento
possui respaldo em antiga jurisprudência desta Corte Superior de Justiça, que
assim definiu: "O recurso, para ter acesso à sua apreciação neste Tribunal,
deve indicar, quando da sua interposição, expressamente, o dispositivo e
alínea que autoriza sua admissão." [...] V - Agravo interno improvido. Confiram-

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se ainda os seguintes julgados: AgInt no AgInt no AREsp n. 1.015.487/RJ,


relator Ministro Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, DJe de 2/8/2017; AgRg
nos EDcl no AREsp n. 604.337/RJ, relator Ministro Ericson Maranho
(desembargador convocado do TJ/SP), Sexta Turma, DJe de 11/5/2015; e
AgRg no AREsp n. 165.022/SP, relator Ministro Marco Documento: 112395323
- Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 04/08/2020 Página 3 de 5
Superior Tribunal de Justiça Aurélio Bellizze, Quinta Turma, DJe de 3/9/2013;
AgRg no Ag 205.379/SP, relator Ministro José Delgado, Primeira Turma, DJ de
29/3/1999, p. 135. Ademais, incide o óbice da Súmula n. 283/STF, uma vez
que a parte deixou de atacar fundamento autônomo e suficiente para manter o
julgado, qual seja, o de que "o caso dos autos se enquadra na regra do §2° do
artigo 18 do CDC que permite às partes, por convenção, estender o prazo do
conserto para período não superior a 180 dias" (fl. 888). Nesse sentido: “A
subsistência de fundamento inatacado apto a manter a conclusão do aresto
impugnado impõe o não-conhecimento da pretensão recursal, a teor do
entendimento disposto na Súmula n. 283/STF: 'É inadmissível o recurso
extraordinário quando a decisão recorrida assenta em mais de um fundamento
suficiente e o recurso não abrange todos eles'” (AgInt nos EDcl no AREsp n.
1.317.285/MG, relator Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, DJe de
19/12/2018). Confiram-se ainda os seguintes precedentes: AgInt nos EREsp n.
1.698.730/SP, relator Ministro Raul Araújo, Segunda Seção, DJe de
18/12/2018; AgRg nos EAREsp n. 447.251/SP, relator Ministro João Otávio de
Noronha, Corte Especial, DJe de 20/5/2016; AgInt no REsp n. 1.842.047/RS,
relator Ministro Gurgel de Faria, Primeira Turma, DJe 26/6/2020; e AgInt no
AREsp n. 1.557.062/PE, relator Ministro Marco Aurélio Bellizze, Terceira
Turma, DJe 25/6/2020. Além disso, em relação aos arts. 51 e 54, ambos do
CDC, incide o óbice das Súmulas n. 282/STF e 356/STF, uma vez que a
questão não foi examinada pela Corte de origem, tampouco foram opostos
embargos de declaração para tal fim. Dessa forma, ausente o indispensável
requisito do prequestionamento. Nesse sentido: REsp n. 1.160.435/PE, relator
Ministro Benedito Gonçalves, Corte Especial, DJe de 28/4/2011; AgInt no
AREsp n. 1.339.926/PR, relator Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, DJe de
15/2/2019; e REsp n. 1.730.826/MG, relator Ministro Herman Benjamin,
Segunda Turma, DJe de 12/2/2019. Ante o exposto, com base no art. 21-E, V,
do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça, conheço do agravo para
não conhecer do recurso especial. Documento: 112395323 - Despacho /
Decisão - Site certificado - DJe: 04/08/2020 Página 4 de 5 Superior Tribunal de
Justiça Nos termos do art. 85, § 11, do Código de Processo Civil, majoro os
honorários de advogado em desfavor da parte recorrente em 15% sobre o valor
já arbitrado nas instâncias de origem, observados, se aplicáveis, os limites
percentuais previstos nos §§ 2º e 3º do referido dispositivo legal, bem como
eventual concessão de justiça gratuita. Publique-se. Intimem-se. Brasília, 13 de
julho de 2020. MINISTRO JOÃO OTÁVIO DE NORONHA Presidente

Embora a r. decisão acima transcrita seja de Ilustríssima lavra, o


Agravante, data maxima venia, não concorda com os termos nela dispostos, visto que
em seu entendimento o Recurso Especial (fls. 895/913), encontra-se com todos os
requisitos legais para conhecimento, processamento e provimento, conforme adiante
se demonstrará.

III- FUNDAMENTOS DO AGRAVO

A) DO ÓBICE DA SÚMULA 284/STF

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A ilustre decisão monocrática do M.M., Ministro Presidente,


considerou que o Recurso Especial (fls. 895/913), não pode ser processado em razão
do óbice previsto na Súmula 284 do STF que assim dispõe:

“É inadmissível o recurso extraordinário, quando a deficiência na sua


fundamentação não permitir a exata compreensão da controvérsia.”

Permissa venia, o entendimento do Ministro Presidente, não pode


prevalecer, em sua decisão às fls. 1040/1041, considera o douto julgador, haver a
incidência do já referido óbice disposto na Súmula 284 do STF, por não ter havido a
indicação por parte do ora Agravante do permissivo Constitucional autorizador do
Recurso Especial, associando ainda sua argumentação nas disposições do artigo
1029, II, do vigente Código de Processo Civil, que dispõe em seu bojo, que o Recurso
Especial, deverá conter a demonstração do cabimento do recurso interposto, para mais
adiante em sua decisão assim delinear:

“(...) Sendo assim, o recorrente, na petição de interposição, deve evidenciar de


forma explícita e específica em qual ou quais dos permissivos constitucionais
está fundado o seu recurso especial, com a expressa indicação da alínea do
dispositivo autorizador.(...)”

Ora, com o respeito e a cautela quanto ao inegável saber jurídico


do Presidente dessa colenda Corte, não pode a tese por ele defendida, ser mantida por
esta Egrégia Turma, em virtude de o Recurso manejado ter cumprido todos os
requisitos legais para o seu conhecimento, conforme se demonstrará.

Cumpre, portanto, inicialmente destacar, que ao contrário do que


fora alegado na r. decisão monocrática de fls. 1039/1043, o Agravante em seu Recurso
Especial (fls. 895/913), cumpriu com todas as disposições legais que poderiam vir a
obstaculizar o conhecimento de sua peça recursal.

Data maxima venia, o óbice apontado pelo Meritíssimo Ministro


Presidente, no que pertine a indicação do permissivo constitucional para a interposição
do Recurso Especial por parte do Agravante é cumprido já no primeiro parágrafo de
sua petição, onde se aponta que o recurso obstaculizado é manejado com base na
inteligência dos artigos 105 da Carta Maior e do Artigo 1029 do vigente Código de
Processo Civil.

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No que pertine a fundamentação da controvérsia, o simples


compulsar do Recurso Especial é capaz de demonstrar o limite da matéria devolvida
para apreciação dessa colenda Corte, sendo ainda pertinente destacar, que à fl. 896,
delimita claramente o Agravante a exata extensão da controvérsia apontada, conforme
se pode denotar, pela leitura do seguinte trecho:

“Data maxima venia, merece o acórdão proferido pelo douto juízo a quo, ser
integralmente reformado pela inobservância expressa do preceituado nos
Artigos 18, 51 e 54 do Código de Defesa do Consumidor.” (grifo nosso)

Ora, basta o simples compulsar do Recurso Especial (fls.


895/913), para que se depreenda com clareza solar, ter indicado o Agravante quais os
dispositivos legais que foram, data maxima venia, inobservados pelo r. Acórdão (fls.
883/892).

Assim, dispõe o artigo 1029, inciso II, do vigente Código de


Processo Civil:
Art. 1.029. O recurso extraordinário e o recurso especial, nos casos previstos
na Constituição Federal, serão interpostos perante o presidente ou o vice-
presidente do tribunal recorrido, em petições distintas que conterão:
(...).
II - a demonstração do cabimento do recurso interposto;

Ora, ao indicar que o objeto do Recurso Especial (fls. 895/913), é


o descumprimento de lei federal, indicando expressamente os artigos inobservados no
caso, os artigos 18, 51 e 54 do Código de Defesa do Consumidor, consigna claramente
o Agravante a hipótese de cabimento do seu pleito recursal, que no caso é o da alínea
“a”, do inciso III, do artigo 105 da Constituição Federal.

Sobre o tema em questão assim já decidiu essa colenda Corte:

“PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DECLARATÓRIOS. ART. 535 DO CPC.


1. A falta de indicação do permissivo constitucional em que se baseia o
recurso especial não impede sua apreciação se ficaram claramente
apontados, nas razões recursais, os artigos da lei federal que se têm por
contrariados. Precedentes.
2. Embargos de declaração rejeitados.”

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(EDcl no REsp 974.304/PR, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA


TURMA, julgado em 19/06/2008, DJe 05/08/2008) (grifo nosso)

E mais:

“TRIBUTÁRIO. PROCESSO CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. PETIÇÃO


RECURSAL QUE NÃO INDICA A ALÍNEA DO INCISO III, ARTIGO 105, CF.
FUNDAMENTOS BEM INDICADOS NA PETIÇÃO RECURSAL. INCIDÊNCIA
DA SÚMULA 284/STF AFASTADA. MATÉRIA PACIFICADA. EMPRÉSTIMO
COMPULSÓRIO SOBRE VEÍCULOS.
PRESCRIÇAO.
I - Apesar de não ter sido expressamente citada a alínea do inciso III, artigo
105, da Constituição Federal, na qual se funda o recurso especial, a
petição recursal indica claramente qual o dispositivo de legislação federal
que foi violado pela decisão recorrida, não sendo o caso de aplicação da
Súmula 284/STF, na hipótese, principalmente porque a matéria de mérito
(prazo prescricional para propositura de ação que visa a restituição de
empréstimo compulsório sobre veículos) encontra-se por demais
pacificada no âmbito deste eg. Superior Tribunal de Justiça.
II - Agravo improvido.”
(AgRg no REsp 845.134/SP, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 19/09/2006, DJ 23/10/2006, p. 275)

E mais:

“AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. SÚMULA 284 DO STF.


INAPLICABILIDADE. PREQUESTIONAMENTO IMPLÍCITO.
ADMISSIBILIDADE. 1. Tendo sido corretamente deduzidos os
fundamentos do inconformismo, inclusive com a explicitação dos
dispositivos legais vulnerados, não há que se aplicar o enunciado nº 284
da Súmula do Supremo Tribunal Federal. 2. Esta Corte já decidiu que a
configuração do prequestionamento não depende da menção expressa dos
dispositivos legais tidos por vulnerados, bastando que a matéria
correspondente tenha sido enfrentada pelo acórdão recorrido. 3. Agravo
regimental a que se nega provimento.”
(STJ - AgRg no REsp: 103035 SP 1996/0048799-5, Relator: Ministro JOÃO
OTÁVIO DE NORONHA, Data de Julgamento: 11/03/2003, T2 - SEGUNDA
TURMA, Data de Publicação: DJ 16.06.2003 p. 268) (grifo nosso)

Ora, pela inteligência dos julgados acima, resta cristalino que o


Superior Tribunal de Justiça, já decidiu que a incidência do disposto na Súmula 284 do

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STF, somente pode ser aplicada na hipótese de não indicação dos dispositivos de lei
considerados violados, o que no caso em tela conforme já demonstrado não é a
situação do Agravante, visto que este requisito foi estritamente cumprido pelo
Agravante à fl. 896 dos autos, bem como ao longo de toda a fundamentação do
recurso.

Assim sendo, resta no entender do Agravante, não ser possível


manter-se o óbice da Súmula 284 do STF, em virtude de ter sido devidamente
apontado no Recurso Especial (fls.895/913), os dispositivos de lei federal que entende
o Agravante não terem sido observados no Acórdão recorrido.
B) DO ÓBICE DA SÚMULA 283/STF

A Súmula 283 do STF dispõe sobre a seguinte matéria:


“É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida assenta
em mais de um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles.”

Em sua respeitável decisão o ilustre Ministro Presidente assim


dispôs à fl.1042:
“Ademais, incide o óbice da Súmula n. 283/STF, uma vez que a parte deixou
de atacar fundamento autônomo e suficiente para manter o julgado, qual seja,
o de que "o caso dos autos se enquadra na regra do §2° do artigo 18 do CDC
que permite às partes, por convenção, estender o prazo do conserto para
período não superior a 180 dias" (fl. 888).”

No que pertine a alegação de que o Agravante deixou de atacar


fundamento autônomo e suficiente para manter o julgado, cabe demonstrar que
referida alegação não merece prosperar visto que fora devidamente combatida nas
razões de seu Recurso Especial (fls. 895/913).

Em seu despacho monocrático o Ilustre Ministro Presidente,


dispõe que o Recurso Especial, interposto não merece ser conhecido e processado por
não ter em seu bojo enfrentado fundamento autônomo que seja suficiente para manter
o julgado, no entanto, o simples compulsar do Recurso Especial (fls. 895/913), verifica-
se que isso não ocorreu, consoante se verifica no Recurso Especial à fl. 903:

“Considerou ainda o douto juízo a quo, que a anuência do autor, ora


recorrente, oposta em ao menos uma ordem de serviço de nº 5136, teria

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acobertado qualquer problema no câmbio do veículo pelo prazo de 180


(cento e oitenta) dias.”

Mais adiante assim manifestou-se o Agravante às fls. 904/906:

“No que pertine ao entendimento emanado pelo douto juízo a quo, quanto ao
fato de a aposição do autor em determinada ordem de serviço, mais
especificamente a de fl. 686, ter prorrogado o prazo para a consecução
dos reparos de 30 (trinta) para 180 (cento e oitenta) dias, considerando
que neste caso o prazo haveria sido cumprido no que se refere as já
referidas ordens de serviço de nºs 7318 (fls. 257/258) e 258 (fls. 51/51-v).
Assim como já ilustrado, considerou a r. sentença de fls. 828/829, data maxima
venia, de forma equivocada, que ao apor o requerente, ora recorrente a sua
assinatura na Ordem de Serviço de nº 5136, no campo referente ao
elastecimento do prazo para consecução dos reparos, que essa anuência
expressa se estendeu para que qualquer outro problema que viesse a
surgir no câmbio do veículo do autor, se encontrasse acobertada,
também, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, ao conceder interpretação
a cláusula disposta pela 2ª Requerida (EUROBIKE) em suas ordens de
serviço, de forma totalmente extensiva, ignorou o juízo a quo as
disposições contidas no ordenamento consumerista pátrio.
Em primeiro lugar, deve-se considerar, que a estrutura da Ordem de Serviço
da já referida 2ª Requerida, ora recorrida, é típica de um documento de
adesão, não permitindo que o cliente, no caso o ora recorrente, se
manifestasse de forma contrária quanto ao elastecimento de prazo de um
determinado reparo, visto que ao assinar a autorização para a execução
do serviço o cliente aceitava automaticamente a majoração do período
legal de reparo, podendo-se supor, portanto, que em caso de
discordância com o aumento desse período não realizaria a recorrida com
os serviços necessários nos veículos, em flagrante descumprimento com
o preceituado no artigo 51 do CDC.
Por este motivo, eventual assinatura aposta em uma determinada ordem de
serviço, deve ser analisada de forma relativa e não absoluta, visto que não é
possível que o cliente autorize a execução de serviço sem anuir com o
automático elastecimento do prazo, referida alegação ganha ainda mais força
ao se analisar que o texto é padrão em todas as ordens de serviço da 2ª
Requerida, independentemente da complexidade e/ou extensão do serviço que
será executado no bem.
Diante de todo o contexto apresentado, se constitui cláusula leonina, a forma
como são dispostas as ordens de serviço da 2ª Requerida, no entanto, deve-
se frisar mais uma vez, que os serviços referentes as Ordens de Serviço

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de nº 7318 e de nº 258, foram realizados sem que o autor as tivesse


assinado com o propósito de anuir quanto ao elastecimento de prazo,
conforme já restou sobejamente comprovado ao longo de todo o processo.
Faz-se ainda imperioso elencar que o escopo dos serviços constantes na
ordem de serviço de nº 5136 e nas ordens de serviço de nº 7318 e nº 258, para
que se possa concluir que não guardam nenhuma correlação entre si.
Deve-se destacar, ainda, que a Ordem de Serviço de nº 5136, foi devidamente
encerrada com a restituição do veículo ao Requerente, tendo sido dado como
se os serviços ali elencados estivessem sido totalmente concluídos ficando
qualquer prazo ou anuência nela fixado, devidamente encerrado com a
conclusão dos serviços previstos na ordem de serviço nº 5136, portanto, se
constitui, permissa venia, absurda a tese de que haveria qualquer efeito
vinculativo entre a assinatura aposta pelo Autor na já referida ordem de serviço
de nº 5136, cujo serviço foi dado como concluído e as demais ordens de
serviço.
Portanto, ao ter sido entregue o veículo ao cliente após a realização dos
serviços de reparos, se pode concluir que os vícios então apontados foram
devidamente reparados encontrando-se o veículo em plena condição de uso.
Reforça, ainda, o argumento ora apontado pelo Requerente, o quadro
esquemático produzido pelo i. expert na primeira versão de seu laudo pericial,
acostado aos presentes autos, mais precisamente à fl. 554, onde o ilustre
Perito descreve expressamente que a Ordem de Serviço de nº 5136, entre
outros serviços a serem executados versava, também, sobre vazamento de
óleo do câmbio, e a Ordem de Serviço de nº 7318 versava sobre solicitação de
manutenção Standart, substituição das velas; filtro de ar condicionado; rangido
na caixa de direção; barulho nos freios; alto consumo de combustível; barulho
de castanhamento, veículo puxando para a direita (alinhamento) e a Ordem de
Serviço nº 258, além de outros serviços versava sobre a constatação de uma
trinca na carcaça do câmbio.”

Ora, com o máximo respeito ao notório saber jurídico do i.


Presidente, dessa colenda corte, o tema referente ao §2° do artigo 18 do CDC que
permite às partes, por convenção, estender o prazo do conserto para período não
superior a 180 dias, foi debatido a exaustão ao longo do Recurso Especial do
Agravante, não sendo razoável a suposição de que o tema não fora enfrentado.

Eventual manutenção do óbice constante da Súmula 283 do STF,


significará a materialização de uma verdadeira injustiça, bem como da instauração de
uma gritante insegurança jurídica, visto que um requisito legal expressamente cumprido

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pelo Agravante, seria sumamente ignorado por essa Egrégia Corte, o que não
coaduna, com a Excelência com a qual são costumeiramente analisadas as questões
postas ao conhecimento de tão respeitada Corte.

Em casos semelhantes ao do Agravante, onde fora demonstrado


o cumprimento das disposições sumulares, assim já decidiu essa Corte:

“ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. INAPLICABILIDADE DA SÚMULA


283 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.
EFEITOS MODIFICATIVOS. POSSIBILIDADE. PRECEDENTE DO PRETÓRIO
EXCELSO. SINDICATOS E ASSOCIAÇÕES. LEGITIMIDADE ATIVA.
PROPOSITURA DE AÇÃO PARA DEFESA DOS DIREITOS DOS FILIADOS.
AUTORIZAÇÃO DOS SUBSTITUÍDOS. DESNECESSIDADE. EXECUÇÃO
INDIVIDUAL. POSSIBILIDADE. OFENSA À COISA JULGADA.
INEXISTÊNCIA. 1. O Supremo Tribunal Federal já decidiu que, enquanto não
transitada em julgado a decisão, pode, sim, o magistrado mudar seu
posicionamento, ante a modificação do entendimento do tribunal acerca da
matéria deduzida em juízo, na medida em que tal ocorrência seja capaz de
alterar o direito da parte. 2. Os fundamentos contidos nas razões do agravo
regimental interposto são suficientes para afastar a incidência da Súmula
n.º 283 do Excelso Pretório. 3. Os sindicatos e as associações de classe, na
qualidade de substitutos processuais, estão legitimados para ajuizar ações
visando à defesa dos direitos de seus filiados, independentemente de
autorização, o que autoriza o filiado ou associado a ajuizar individualmente a
execução, não havendo ofensa aos limites da coisa julgada. 4. Embargos de
declaração acolhidos, com efeitos infringentes.”
(STJ - EDcl no AgRg no Ag: 1191457 GO 2009/0092894-8, Relator: Ministra
LAURITA VAZ, Data de Julgamento: 29/04/2010, T5 - QUINTA TURMA, Data
de Publicação: DJe 24/05/2010)” (grifo nosso)

E mais:

“AGRAVO INTERNO NO AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. 1. CONSTATAÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DO ARGUMENTO DO
ACÓRDÃO RECORRIDO. INAPLICABILIDADE DA SÚMULA 283/STF. 2.
AGENTE MARÍTIMO COMO MANDATÁRIO DE TRANSPORTADOR
ESTRANGEIRO EM TERRITÓRIO NACIONAL. PESSOAS JURÍDICAS
DISTINTAS QUE NÃO POSSUEM RELAÇÃO DE MANDATO.
PRECEDENTES DESTA CORTE. 3. A APRECIAÇÃO DA DEMANDA NÃO
COMPORTA A ANÁLISE DE PROVA DOS AUTOS POR SE TRATAR DE

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QUESTÃO MERAMENTE DE DIREITO. ALÉM DISSO, A DECISÃO


MONOCRÁTICA NÃO SERVE COMO PARADIGMA PARA FINS DE
DEMONSTRAÇÃO DO DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. 4. HONORÁRIOS
RECURSAIS. MAJORAÇÃO EM AGRAVO INTERNO. NÃO CABIMENTO. 5.
AGRAVO IMPROVIDO.
1. Mediante a análise mais detida dos argumentos apresentados pela
parte agravada e do que ficou asseverado pelas instâncias ordinárias,
verifica-se a inaplicabilidade da Súmula 283 do STF, tendo em vista que,
às fls. 288-295 (e-STJ), houve impugnação específica da fundamentação
exarada no acórdão recorrido em relação à ilegitimidade ativa da ora
agravante. 2. O acórdão recorrido julgou de forma contrária ao mais recente
entendimento jurisprudencial desta Corte Superior, o qual se consolidou no
sentido de que "o agente marítimo é mandatário, no território nacional, do
transportador estrangeiro. Logo, não são pessoas jurídicas idênticas. Ao
contrário, a relação de mandato pressupõe duas pessoas distintas: mandante e
mandatário. Se eles se confundem, não há mandato" (REsp n. 1.002.811/SP,
Rel. p/ acórdão Min. Ari Pargendler, Terceira Turma, DJe 8/10/2008).
2.1. No caso dos autos, sendo a ora agravante agente marítimo, ou seja,
mandatário mercantil, não possui legitimidade ativa, por ser tão somente a
empresa que efetuou o transporte.
3. Com efeito, a apreciação da demanda não comporta a análise de provas dos
autos, tratando-se de matéria de direito, o que afasta a incidência da Súmula 7
desta Corte. Além disso, a decisão monocrática não se presta como paradigma
para demonstrar dissídio jurisprudencial. Precedentes.
4. A jurisprudência do STJ se firmou no sentido de que não haverá majoração
de honorários no julgamento de agravo interno e de embargos de declaração
oferecidos pela parte que teve seu recurso não conhecido integralmente ou
improvido.
5. Agravo interno a que se nega provimento.
(AgInt no AgInt no AREsp 1155911/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO
BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 28/08/2018, DJe 31/08/2018)

Do aresto acima se colhe o seguinte trecho:

“Mediante a análise mais detida dos argumentos apresentados pela parte


agravada e do que ficou asseverado pelas instâncias ordinárias, verifica-se a
inaplicabilidade da Súmula 283 do STF, tendo em vista que, às fls. 288-295 (e-
STJ), houve impugnação específica da fundamentação exarada no acórdão
recorrido em relação à ilegitimidade ativa da ora agravante.”

E mais:

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“PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE


ADMINISTRATIVA. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. ART.
17, §8º, DA LEI 8.429/1992.
INDÍCIOS DE COMETIMENTO DE ATOS DE IMPROBIDADE. PREVALÊNCIA
DO PRINCÍPIO IN DUBIO PRO SOCIETATE. SÚMAS 7/STJ, 283 E 2ST.
INAPLICABILIDADE.
1. A jurisprudência desta Corte tem asseverado que "é suficiente a
demonstração de indícios razoáveis de prática de atos de improbidade e
autoria, para que se determine o processamento da ação, em obediência ao
princípio do in dubio pro societate, a fim de possibilitar o maior resguardo do
interesse público" (REsp 1.197.406/MS, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda
Turma, DJe 22/8/2013). 2. Como deflui da expressa dicção do § 8º do art. 17
da Lei nº 8.429/92, somente será possível a pronta rejeição da ação, pelo
magistrado, caso resulte convencido da inexistência do ato de improbidade, da
improcedência da ação ou da inadequação da via eleita.
3. A reversão do julgamento proferido pelo Tribunal a quo não depende do
reexame de provas, uma vez que os fatos que ensejaram a propositura da
ação de improbidade administrativa foram bem delimitados no voto proferido
pelo relator do acórdão recorrido.
Trata-se, portanto, de nova qualificação jurídica de elementos fáticos já
demonstrados no processo.
4. A petição do recurso especial cumpriu todos os requisitos necessários
à espécie, tendo sido cabalmente demonstrados os motivos pelo quais o
Tribunal de origem negou vigência ao art. 17, § 8º, da Lei 8.429/1992.
Assim, na espécie são inaplicáveis os óbices das Súmulas 283 e 284/STF.
5. Agravo regimental não provido.
(AgRg no REsp 1495755/PE, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 20/02/2018, DJe 05/03/2018)”(grifo nosso)

Do aresto acima se colhe o seguinte trecho:

“A petição do recurso especial cumpriu todos os requisitos necessários à


espécie, tendo sido cabalmente demonstrados os motivos pelo quais o Tribunal
de origem negou vigência ao art. 17, §8º, da Lei 8.429/1992. Assim, na espécie
são inaplicáveis os óbices das Súmulas 283 e 284/STF.”

Ora, resta cristalino, portanto, que no caso em tela, tendo sido


comprovado que o Agravante atacou os fundamentos referentes a uma suposta e
inexistente anuência com o elastecimento do prazo para consecução dos reparos, à

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medida que se impõe é o processamento e conhecimento do presente recurso, com o


seu consequente provimento.

C) DA AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO QUANTO AOS ARTIGOS 51 E


54 DO CDC (SÚMULAS 282 E 356 DO STF)

Assim decidiu o Ministro Presidente à fl. 1042:

“Além disso, em relação aos arts. 51 e 54, ambos do CDC, incide o óbice das
Súmulas n. 282/STF e 356/STF, uma vez que a questão não foi examinada
pela Corte de origem, tampouco foram opostos embargos de declaração para
tal fim. Dessa forma, ausente o indispensável requisito do prequestionamento.”

Assim versa a Súmula 282 do STF:

“É inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada, na decisão


recorrida, a questão federal suscitada.”

Assim versa a Súmula 356 do STF:

“O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos


declaratórios, não pode ser objeto de recurso extraordinário, por faltar o
requisito do prequestionamento.”

Sobre o óbice no que pertine ao prequestionamento, data maxima


venia, mais uma vez não assiste razão ao prolator da r. decisão monocrática, visto que
a matéria pertinente aos artigos 51 e 54 do Código de Defesa do Consumidor, foi
expressamente enfrentada pelo r. Acórdão (fls.883/892).

Antes de trazer aos autos o trecho do julgado, imperioso faz-se


rememorar às disposições contidas nos artigos 51 e 54 do Código de Defesa do
Consumidor:

“Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais
relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por
vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou
disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o

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consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações


justificáveis;
II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos
casos previstos neste código;
III - transfiram responsabilidades a terceiros;
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o
consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé
ou a eqüidade;
V - (Vetado);
VI - estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor;
VII - determinem a utilização compulsória de arbitragem;
VIII - imponham representante para concluir ou realizar outro negócio jurídico
pelo consumidor;
IX - deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato, embora
obrigando o consumidor;
X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de
maneira unilateral;
XI - autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem que
igual direito seja conferido ao consumidor;
XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua
obrigação, sem que igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor;
XIII - autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou a
qualidade do contrato, após sua celebração;
XIV - infrinjam ou possibilitem a violação de normas ambientais;
XV - estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor;
XVI - possibilitem a renúncia do direito de indenização por benfeitorias
necessárias.
§ 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a vantagem que:
I - ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence;
II - restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do
contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou equilíbrio contratual;
III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a
natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias
peculiares ao caso.
§ 2º A nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o contrato,
exceto quando de sua ausência, apesar dos esforços de integração, decorrer
ônus excessivo a qualquer das partes.
§ 3° (Vetado).
§ 4º É facultado a qualquer consumidor ou entidade que o represente requerer
ao Ministério Público que ajuíze a competente ação para ser declarada a
nulidade de cláusula contratual que contrarie o disposto neste código ou de

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qualquer forma não assegure o justo equilíbrio entre direitos e obrigações das
partes.”

Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas
pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor
de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar
substancialmente seu conteúdo.
§ 1º A inserção de cláusula no formulário não desfigura a natureza de adesão
do contrato.
§ 2º Nos contratos de adesão admite-se cláusula resolutória, desde que a
alternativa, cabendo a escolha ao consumidor, ressalvando-se o disposto no §
2º do artigo anterior.
§ 3o Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com
caracteres ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao
corpo doze, de modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor. (Redação
dada pela nº 11.785, de 2008)
§ 4º As cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor deverão
ser redigidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão.
§ 5º (Vetado)

Da leitura dos trechos abaixo destacados do v. Acórdão (fls.


883/892), se depreenderá com clareza solar, que a matéria regida pelos artigos 51 e 54
do CDC, foram devidamente enfrentadas na decisão combatida:

À fl. 887, assim dispôs o venerando Acórdão:

“Em suas razões recursais (ID 10777585 - Pág. 1/28), com preparo registrado
no ID 10777590, o Autor reprisa os fatos narrados na inicial para em seguida
ressaltar que a causa de pedir da ação não guardaria correlação com o estado
do veículo no momento da realização da perícia, mas tão somente com o
descumprimento, pelas Recorridas, do trintídio legal previsto no artigo 18 do
CDC para a execução dos reparos. Em seguida, ressalta que a anuência no
prazo para prorrogação dada na ordem de serviço n. 5136 não
configuraria aceitação da prorrogação do prazo de reparo para as ordens
de serviços subsequentes (OSs n. 7318 e 258). Nesse tema, alega
abusividade na cláusula de extensão do prazo de reparo, uma vez que
não poderia o consumidor autorizar o conserto sem anuir com a
automática prorrogação do prazo e também porque a previsão de
prorrogação do prazo estaria presente em todas as ordens de serviço da

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concessionária, independentemente da complexidade do serviço a ser


realizado.
Ainda quanto às ordens de serviço, sustenta que as OSs 5136, 7318 e 258 não
teriam relação entre si, tendo os reparos da OS 5136 sido realizados e o
veículo entregue ao proprietário.” (grifo nosso)

No trecho acima destacado, resta claro o enfrentamento da


matéria pertinente aos artigos 51 e 54 do Código de Defesa do Consumidor, ao
reconhecer que o Agravante insurge-se contra a anuência aposta em uma Ordem de
Serviço constante do processo, bem como a forma que o próprio documento é
constituído, tem-se temática pertinente ao artigo 51 do Estatuto Consumerista, bem
como ao considerar que o Agravante, manifesta-se quanto a exigência de oposição de
assinatura para consecução de reparos no veículo ser no mesmo campo em que se
anui com o elastecimento de prazo para consecução dos reparos, tem-se o bojo das
disposições contidas no artigo 54 do CDC.

Mais adiante, assim dispõe o v. Acórdão às fls. 887/888:

“Como se verifica do apelo, o Recorrente pretende, com base na regra


consumerista, a restituição do valor de mercado de um veículo novo
semelhante ao seu ou a restituição do valor de aquisição do veículo corrigido
até o efetivo pagamento.
O conjunto probatório demonstra, no que importa para a solução do presente
caso, que no dia 19.08.2015, sob a ordem de serviço n. 5136, o veículo foi
deixado na concessionária com as seguintes reclamações: vazamento de
óleo no câmbio, odor no uso do ar condicionado, som do tipo assovio no
uso da marcha ré, barulho nos freios e barulho próximo ao display central
do veículo. Nessa ocasião, a ordem de serviço foi assinada com a ciência
do Autor quanto as informações sobre a possibilidade de o conserto
ultrapassar o prazo de 30 dias para reparo, havendo autorização de
continuidade do serviço até o limite de 180 dias (ID 10777501 - Pág. 5).
Posteriormente, no dia 23.11.2015, sob a ordem de serviço n. 7318, o
veículo foi deixado na concessionária para serviço de manutenção com
troca de óleo, ocasião em que o Autor alegou rangido na caixa de direção,
barulho nas colunas centrais do veículo, barulho no acabamento do
tampão traseiro e no banco do passageiro, rangido ao acionar os freios,
alto consumo de combustível, barulho do tipo “castanhado” na troca de
marchas em retomadas e que o veículo estaria puxando para a direita (ID
10777501 - Pág. 7).

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Por fim, no dia 03.12.2015, sob a ordem de serviço n. 258, nova solicitação de
manutenção com as mesmas observações apontadas na ordem de serviço
anterior (ID 10777501 - Pág. 10).
Quanto a esse último serviço, o Apelante alega superação do prazo legal
de 30 dias para o conserto e, com base nesse evento, sustenta o seu
direito indenizatório.
Conquanto reste claro e seja incontroversa a superação do prazo de 30 dias,
uma vez que o veículo foi deixado para conserto em 03.12.2015 e somente
estava pronto para retirada em 12.01.2016, o caso dos autos se enquadra na
regra do §2° do artigo 18 do CDC que permite às partes, por convenção,
estender o prazo do conserto para período não superior a 180 dias.
Com efeito, dois elementos nos conduz a tal ilação.
Primeiro, quanto ao defeito no câmbio, que apresentava vazamento de óleo, se
permitiu a extensão do prazo de conserto pela ordem de serviço n.5136. Ora,
assim como há o entendimento expresso, demonstrado pelo próprio
Apelante, de que o prazo de 30 dias para solução do vício não se conta de
cada ida à oficina, quando essa se faz pelo mesmo defeito, ID 10777585 -
Pág. 19/20, também se pode concluir que a extensão do prazo para
conserto acordado entre as partes não pode deixar de ser considerado
quando, após a primeira tentativa de conserto, se retorna a oficia para a
solução do mesmo problema. Assim, se houve ciência e autorização na
ordem de serviço n. 5136 de que o conserto poderia ultrapassar o prazo
de 30 dias e que, se ultrapassasse, a concessionária poderia dar
continuidade no serviço até o prazo limite de 180 dias, se pode concluir
que o retorno do veículo para a solução do mesmo problema no prazo
acordado se fez em continuidade para a solução do defeito que em um
primeiro momento não foi solucionado.
Sobre esse acordo de extensão de prazo, vale ressaltar que a simples
existência de texto padrão nas ordens de serviços sobre a possibilidade
de superação do prazo de conserto não retira do consumidor o direito e a
possibilidade de expressamente rejeitar a dilação do prazo.
Segundo, conquanto o Apelante sustente que o prazo para conserto do veículo
seja considerado isoladamente em relação a ordem de serviço n.258, e
defenda que para essa ordem não tenha assinado documento autorizando a
prorrogação do prazo de reparo, sua conduta, ao permanecer com o veículo
que a segunda Ré forneceu para sua comodidade e sem custo, enquanto
aguardava importação e troca da caixa de câmbio de seu veículo, demonstra
concordância na dilação do prazo do conserto. De acordo com os documentos
colacionados, o veículo emprestado pela Eurobike ao seu cliente, uma BMW
modelo X3, ficou em comodato entre os dias 26.11.2015 e 13.01.2016, dia

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seguinte ao que fora notificado sobre a conclusão do conserto de seu veículo


(ID 10777308 - Pág. 3/6).”

Ora, ao se discutir sobre a eficácia e extensão, validade ou não


sobre a forma em que uma Ordem de Serviço é disposta, o v. Acórdão tratou
explicitamente sobre conteúdo disposto nos artigos 51 e 54 do Código de Defesa do
Consumidor, não havendo hipótese de se falar em ausência de prequestionamento da
matéria.

No que pertine ao prequestionamento, imperioso faz-se acostar


aos presentes autos, entendimento emanado por essa colenda Corte:

"Para que se configure prequestionamento implícito, é necessário que o


Tribunal a quo emita juízo de valor a respeito da matéria debatida (REsp.
1.615.958/MG, Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, DJe 29.11.2016), ainda que
deixe de apontar o dispositivo legal em que baseou o seu
pronunciamento"(AgInt nos EDcl no AREsp 44.980/SP, Rel. Ministro
NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, DJe 22/02/2017).

Ora, com base no julgado acima, podemos entender que no


presente caso, realmente ocorreu de não virem a serem citados pelo v. Acórdão
(883/892), explicitamente os artigos 51 e 54 do CDC, no entanto, apenas é necessário
que o Tribunal emita juízo de valor a respeito da matéria debatida, o que como já
restou demonstrado, aconteceu no caso em tela o prequestionamento implícito da
matéria.

Sobre o prequestionamento implícito, este E. Tribunal sempre


considerou como configurado o prequestionamento quando no acórdão recorrido,
houve enfrentamento da tese jurídica, mesmo que não tenha sido mencionado o
dispositivo de lei tido por violado. Como se vê, o STJ sempre aceitou o
prequestionamento implícito e, consequentemente, não exige a configuração do
prequestionamento numérico para enfrentar a violação legal sustentada.

Soma-se ainda a argumentação defendida pelo Agravante, as


notáveis mudanças normativas advindas com a promulgação do Código de Processo
Civil de 2015, que corporifica o entendimento, acerca da viabilidade do

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prequestionamento implícito. A própria análise jurisprudencial, corrobora com o


entendimento de que esta Corte, em nenhum momento deixou de aceitar o
prequestionamento implícito como forma de viabilizar o conhecimento dos Recursos
Especiais, conforme se passa a demonstrar:

“O prequestionamento não exige que haja menção expressa dos


dispositivos infraconstitucionais tidos como violados, entretanto, é
imprescindível que no aresto recorrido a questão tenha sido discutida e
decidida fundamentadamente, sob pena de não preenchimento do requisito
do prequestionamento, indispensável para o conhecimento do recurso.”
(BRASIL. Superior Tribunal de Justiça, AgInt no Resp nº 1637989/RO, Rel.
Ministro Luis Felipe Salomão, DJe de 27.09.2017)

Sobre o tema em questão, oportuno juntar aos autos, julgamento


da ilustre lavra do Ministro Marco Aurélio Belizze, que assim entendeu sobre o tema em
comento:

“AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE


ARBITRAMENTO DE HONORÁRIOS. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA. PREQUESTIONAMENTO IMPLÍCITO.
TRANSAÇÃO. INOVAÇÃO EM APELAÇÃO. MATÉRIA NÃO APRECIÁVEL DE
OFÍCIO. PRECLUSÃO DA MATÉRIA. ILEGITIMIDADE PASSIVA. REVISÃO.
NECESSIDADE DE REVOLVIMENTO FÁTICO-PROBATÓRIO. SÚMULA
7/STJ. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS ADVOCATÍCIOS.
RESCISÃO UNILATERAL ANTECIPADA. DIREITO A ARBITRAMENTO
JUDICIAL. SÚMULA 83/STJ. VALOR DOS HONORÁRIOS.
DESPROPORCIONALIDADE. NÃO OCORRÊNCIA. REVISÃO. SÚMULA
7/STJ. AGRAVO DESPROVIDO.
1. O acórdão recorrido resolveu satisfatoriamente as questões deduzidas no
processo, sem incorrer nos vícios de obscuridade, contradição ou omissão com
relação a ponto controvertido relevante, cujo exame pudesse levar a um
diferente resultado na prestação de tutela jurisdicional.
2. Ainda que o Tribunal de origem não tenha feito menção expressa aos
dispositivos legais em que se baseou o seu pronunciamento, ele emitiu
juízo de valor acerca da matéria debatida, configurando-se o
prequestionamento implícito, plenamente admitido por esta instância
superior.
3. A tese de transação só foi suscitada nas razões de apelação, configurando-
se em inovação recursal, o que, à exceção de temas de ordem pública e de
fatos supervenientes, é vedado pela jurisprudência desta Corte Superior.

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4. Não se tratando de matéria de ordem pública, caberia ao réu apontar, na


contestação, a ocorrência de transação, sob pena de preclusão.
5. Para derruir a convicção formada, reconhecendo a ilegitimidade passiva,
seria indispensável o revolvimento do acervo fático-probatório colacionado aos
autos, providência vedada na via especial, ante a incidência do Enunciado n. 7
desta Corte Superior.
6. Nos termos da jurisprudência deste Sodalício, é cabível o ajuizamento da
ação de arbitramento para cobrança de honorários, de forma proporcional aos
serviços até então prestados, quando revogado imotivadamente o mandato
judicial que previa a remuneração pela sucumbência da parte contrária.
Incidência do Enunciado n. 83/STJ.
7. As instâncias ordinárias entenderam que seria adequada a fixação da verba
honorária em 15% (quinze por cento), percentual que não se mostra
desproporcional, sendo certo que a sua modificação exigiria a reapreciação do
grau de diligência do profissional, da natureza e da importância da causa e do
trabalho e do tempo exigido para o serviço, o que encontra óbice na via eleita,
ante a incidência do Enunciado n. 7/STJ.
8. Agravo interno desprovido.”
(AgInt no AREsp 1167313/RS, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE,
TERCEIRA TURMA, julgado em 19/06/2018, DJe 29/06/2018)

Do Aresto acima se colhe o seguinte trecho:

“Ainda que o Tribunal de origem não tenha feito menção expressa aos
dispositivos legais em que se baseou o seu pronunciamento, ele emitiu juízo de
valor acerca da matéria debatida, configurando-se o prequestionamento
implícito, plenamente admitido por esta instância superior.”

Ainda sobre o tema:

“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CRIME CONTRA A


ORDEM TRIBUTÁRIA. GARANTIA DE DÉBITO EM EXECUÇÃO FISCAL.
TRANCAMENTO DO PROCESSO POR AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA.
IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. O recurso especial não pode ser caracterizado como deficiente se é possível
verificar a regularidade formal de sua interposição, a exposição do fato e do
direito, a demonstração do seu cabimento, as razões e o pedido.
2. Se o insurgente transcreve trechos do aresto recorrido, a demonstrar
que a instância ordinária analisou previamente a matéria debatida, não há
que se falar em ausência de demonstração do prequestionamento. O
cabimento do recurso especial, alicerçado na hipótese do art. 105, III, "a",

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da CF, está evidenciado pela alegação de contrariedade à lei federal. 3.


Não incide o óbice da Súmula n. 126 do STJ se o fundamento
constitucional não é bastante para manter o julgado. O Tribunal trancou
prematuramente processo que apurava crime contra a ordem tributária,
ante a previsão do §2° do art. 9° da Lei n. 10.864/2003 e por considerar
que o pagamento era inevitável pela garantia da execução fiscal. Eventual
controvérsia sobre o princípio da inafastabilidade da jurisdição,
mencionado no aresto estadual, em nada alteraria o resultado do
julgamento.
4. Prevalece nesta Corte a compreensão de que não é possível atestar a falta
de justa causa para a persecução penal se existe prova acerca da
materialidade do crime de sonegação fiscal e indícios de sua autoria. O
lançamento definitivo não é desconstituído pela garantia aceita na execução
fiscal, que, ademais, não equivale à causa de extinção de punibilidade prevista
no art. 9°, § 2°, da Lei n. 10.684/2013.
5. Agravo regimental não provido.
(AgRg no REsp 1772004/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ,
SEXTA TURMA, julgado em 26/03/2019, DJe 04/04/2019)”

Ora é vasto o número de precedentes judiciais dessa colenda Corte


que consubstancia o entendimento do Agravante, acerca da viabilidade do
prequestionamento implícito.

Ademais, deve se ressaltar que os princípios da economia e da


celeridade processual, devem ser observados pela parte ao longo do trâmite
processual, podendo inclusive condutas incompatíveis com esses princípios virem a ser
sancionados com a cominação de multa.

Ora, em respeito aos supracitados princípios da celeridade e da


economia processual, foi que ao deparar-se com a matéria implicitamente enfrentada
pelo v. Acórdão (883/892), que não manejou o Agravante Embargos Declaratórios,
visto que referia medida não se demonstrava necessária e iria tão somente devolver a
apreciação do Judiciário, matéria já enfrentada, sendo a irresignação do Agravante,
discutível por meio do remédio judicial eficaz, in casu, o Recurso Especial.

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Por todo o demonstrando não pode, conforme acima exposto,


prevalecer o óbice por ausência de prequestionamento, visto que a matéria atinente
aos artigos 51 e 54 do Código de Defesa do Consumidor, foi devidamente enfrentada.

D) DA SÚMULA 07 DO STJ

A presidência do E. TJDFT, denegou a subida do Recurso


Especial (fls. 895/913), por considerar que a matéria debatida em seu bojo, encontra-se
afetada pelo óbice constante na Súmula 07 do STJ, que assim dispõe:

”A PRETENSÃO DE SIMPLES REEXAME DE PROVA NÃO ENSEJA


RECURSO ESPECIAL.”

No que pertine, a eventual alegação do óbice constante na


Súmula 07, do E. STJ, imperioso primeiramente destacar, que o r. despacho
monocrático de fls. 1039/1043, não faz qualquer menção a existência de algum óbice
referente a matéria relativa a já citada Súmula 07.

No tocante a disposição contida na referida Súmula, todos os


fatos discutidos no Recurso Especial (fls. 895/913), encontram-se registrados no
acórdão recorrido, devendo os mesmos apenas receber a correta qualificação jurídica.

Salienta-se que a jurisprudência deste E. STJ é pacífica no


sentido de que a requalificação jurídica dos fatos narrados no acórdão recorrido não
encontra óbice disposto na Súmula 7, veja-se:

“A situação descrita desafia o óbice da Súmula 07 desta Corte. Isto porque,


não se trata de reexame do contexto fático-probatório dos autos,
circunstância que redundaria na formação de nova convicção acerca dos
fatos, mas sim de valoração dos critérios jurídicos concernentes à
utilização da prova e à formação da convicção, ante a distorcida aplicação
pelo Tribunal de origem de tese consubstanciada na caracterização da
responsabilidade civil do Estado.” – (grifo nosso)
(REsp 888.420/MG, 1ª Turma, Rel. Ministro Luiz Fux, DJe 27/5/2009)”

E mais:

“Recurso especial.

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Não ofende o princípio da Súmula 7 emprestar-se, no julgamento do


especial, significado diverso aos fatos estabelecidos pelo acórdão
recorrido. Inviável é ter como ocorridos fatos cuja existência o acórdão negou
ou negar fatos que se tiveram como verificados.” - negritei
(AgRg nos EREsp 134108/DF, Corte Especial, Min Rel. Eduardo Ribeiro, DJ
16/08/1999, p. 36) (grifo nosso)

E mais:

“2. O reenquadramento legal dos fatos assentados pelo acórdão


recorrido não encontra óbice na Súmula 7/STJ.
(...)
9. Ambos os embargos de declaração acolhidos para, suprindo as omissões,
conhecer e dar parcial provimento ao recurso especial.” – negritei
(EDcl no AgRg nos EDcl no REsp 790903/RJ; 4ª Turma; Min. Rel. Maria Isabel
Gallotti; DJe de 10/02/2014) (grifo nosso)

Da leitura das razões do Recurso Especial, percebe-se que o


Agravante estabelece como premissa para sustentar todas as violações legais
apontadas, argumentos que refutam a interpretação do Tribunal, bem como os fixa em
decisões do E. STJ.

Não se pretendeu em momento algum nas razões do Recurso


Especial, se negar fatos tidos como existentes ou sustentar a existência de fatos tidos
como inexistentes ou não apreciados pelo Tribunal a quo. O que se pretende de fato é
questionar, a partir da demonstração da violação dos artigos 18, 51 e 54 todos do CDC,
os critérios jurídicos concernentes à utilização da prova e à formação da convicção do
eg. TJDFT quanto ao presente caso.

Dessa forma, conforme se extrai da leitura atenta do v. acórdão


impugnado, a análise de violação dos artigos 18, 51 e 54, todos do CDC, não necessita
de reexame de provas uma vez que o cenário fático utilizado nas razões recursais é
exatamente o cenário fático registrado no acórdão impugnado.

IV – RAZÕES DO RECURSO ESPECIAL

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Diante da demonstração de que o Recurso Especial, encontra-se


perfeito para conhecimento, processamento e provimento, reforça-se adiante as
Razões do Recurso Especial.

No que pertine ao objeto do Recurso Especial (fls. 895/913),


obstaculizado, já restou demonstrado nos presentes autos, que o bojo do recurso
aviado, trata exclusivamente do descumprimento por parte das agravadas com o
preceituado em dispositivo de lei federal.

Ora, do simples compulsar da exordial (fls. 02/24), se denota com


clareza solar, que o pedido do agravante, em nada guarda correlação com o estado do
veículo no momento do procedimento pericial, e sim e tão somente por conta do
descumprimento por parte das agravadas com o prazo para consecução dos reparos
previsto no artigo 18 do Código de Defesa do Consumidor.

Ademais, houve por parte do juízo a quo, a inobservância quanto


ao preceituado nos artigo 51 e 54 do Código de Defesa do Consumidor, visto que a
estrutura da Ordem de Serviço da já referida 2ª Requerida, ora recorrida, é típica de
um documento de adesão, não permitindo que o cliente, no caso o ora
recorrente, se manifestasse de forma contrária quanto ao elastecimento de prazo
de um determinado reparo, visto que ao assinar a autorização para a execução
do serviço o cliente aceitava automaticamente a majoração do período legal de
reparo, podendo-se supor, portanto, que em caso de discordância com o
aumento desse período não realizaria a recorrida com os serviços necessários
nos veículos, em flagrante descumprimento com o preceituado no artigo 51 do
CDC. Cumpre-se destacar ainda que a OS 5136, considerada como ensejadora de
uma eventual anuência (inexistente) do Agravante para com o elastecimento do
prazo, trazia em seu bojo expressamente que os serviços ali descritos seriam
executados em 04 (quatro) dias, e não em 180 (cento e oitenta) dias, conforme se
vê à fl. 901 dos autos.

Por este motivo, eventual assinatura aposta em uma determinada


ordem de serviço, deve ser analisada de forma relativa e não absoluta, visto que não é
possível que o cliente autorize a execução de serviço sem anuir com o automático

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elastecimento do prazo, referida alegação ganha ainda mais força ao se analisar que o
texto é padrão em todas as ordens de serviço da 2ª Requerida, independentemente da
complexidade e/ou extensão do serviço que será executado no bem, em completa e
total inobservância as disposições do contido no §2º do artigo 18 do CDC, sendo
oportuno destacar ainda, que o campo para assinatura da anuência com o
elastecimento do prazo, não vinha em separado no corpo da Ordem de Serviço, ferindo
de morte com as disposições mais comezinhas do direito consumerista pátrio,
conforme demonstrado no Recurso Especial à fl. 902.

Diante de todo o contexto apresentado, se constitui como


verdadeira cláusula leonina, a forma como são dispostas as ordens de serviço da 2ª
Requerida, no entanto, deve-se frisar mais uma vez, que os serviços referentes as
Ordens de Serviço de nº 7318 e de nº 258, foram realizados sem que o autor as
tivesse assinado com o propósito de anuir quanto ao elastecimento de prazo,
conforme já restou sobejamente comprovado ao longo de todo o processo, em
completa inobservância ao disposto no artigo 54 do CDC, bem como imperioso se faz
destacar que a Ordem de Serviço nº 5136, foi devidamente encerrada com a restituição
do veículo ao Agravante, não sendo possível vincular a assinatura ali disposta com os
consequentes reparos posteriores.

As alegações, acima dispostas, não implicam em revolvimento de


provas, mas, sim, e tão somente, na luta pela correta aplicação dos dispositivos
consumeristas elencados, visto que não foram devidamente observados no caso em
tela.

Sobre o tema em questão, assim já se manifestou a Egrégia 3ª


Turma Cível do C. STJ no julgamento do RESP 1684132:

“DIREITO DO CONSUMIDOR E PROCESSUAL CIVIL. RECURSOS


ESPECIAIS. AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL C/C PEDIDO DE PERDAS
E DANOS. AQUISIÇÃO DE VEÍCULO NOVO ("ZERO QUILÔMETRO")
DEFEITUOSO. CERCEAMENTO DE DEFESA NÃO CARACTERIZADO.
REPARO DO VÍCIO. PRAZO MÁXIMO DE TRINTA DIAS. LEGITIMIDADE DA
PRETENSÃO DE DEVOLUÇÃO DA QUANTIA PAGA PELO PRODUTO.
DANO MORAL. AUSÊNCIA DE PEDIDO. VALOR ATUAL DE MERCADO DO
VEÍCULO. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. SÚMULA 282/STF. 1. Ação

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ajuizada em 17/06/2009. Recursos especiais interpostos em 29/06 e


13/07/2016 e distribuídos em 25/07/2017. 2. Ação de rescisão contratual c/c
pedido de perdas e danos, ajuizada por consumidora em razão da aquisição de
veículo novo ("zero quilômetro") que apresentou repetidos defeitos que não
foram solucionados pelas fornecedoras no prazo legal. 3. Os propósitos
recursais consistem em definir: (i) se houve cerceamento de defesa em razão
do indeferimento de prova pericial; (ii) se tem a consumidora direito a pleitear a
devolução integral da quantia paga pelo veículo, em razão dos vícios
apresentados no bem; (iii) se é devida compensação por danos morais e se é
excessivo o quantum fixado pelo Tribunal de origem; (iv) se a concessionária
responde pelo defeito de fabricação do automóvel; (v) se os juros moratórios
sobre os danos morais devem incidir desde a data da citação. 4. Não implica
cerceamento de defesa o indeferimento de produção de perícia técnica quando
os documentos apresentados pelas partes são suficientes para a resolução da
lide. Precedentes. 5. A teor do disposto no art. 18, § 1º, do CDC, tem o
fornecedor, regra geral, o prazo de 30 (trinta) dias para reparar o vício no
produto colocado no mercado, após o que surge para o consumidor o direito
potestativo de exigir, conforme sua conveniência, a substituição do produto, a
restituição imediata da quantia paga ou o abatimento proporcional do preço. 6.
Em havendo sucessiva manifestação do mesmo vício no produto, o trintídio
legal é computado de forma corrida, isto é, sem que haja o reinício do prazo
toda vez que o bem for entregue ao fornecedor para a resolução de idêntico
problema, nem a suspensão quando devolvido o produto ao consumidor sem o
devido reparo. 7. Hipótese em que o aludido prazo foi excedido pelas
fornecedoras, circunstância que legitima a pretensão de devolução da quantia
paga pelo veículo. 8. Consoante a pacífica jurisprudência deste Tribunal, há
responsabilidade solidária de todos os integrantes da cadeia de fornecimento
por vício no produto adquirido pelo consumidor, aí incluindo-se o fornecedor
direto (in casu, a concessionária) e o fornecedor indireto (a fabricante do
veículo). Precedentes. 9. Na ausência de pedido na exordial, é incabível a
condenação das fornecedoras ao pagamento de compensação por dano moral.
10. É inviável o conhecimento da insurgência recursal relativa à utilização do
valor de mercado do veículo como referência para a condenação, ante a
ausência de prequestionamento do tema. Incidência da Súmula 282/STF. 11.
Recursos especiais parcialmente conhecidos e, nessa extensão, providos em
parte, para a exclusão da condenação ao pagamento de compensação por
danos morais.
Acórdão Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da
Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e
das notas taquigráficas constantes dos autos, por unanimidade, conhecer em
parte dos recursos especiais e, nesta parte, dar-lhes parcial provimento, a fim

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de excluir a condenação das recorrentes ao pagamento de compensação por


danos morais, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros
Paulo de Tarso Sanseverino, Ricardo Villas Bôas Cueva, Marco Aurélio
Bellizze e Moura Ribeiro votaram com a Sra. Ministra Relatora. Dr. LÍCIO
JUSTINO VINHAS DA SILVA, pela parte RECORRIDA: ANA MARIA
MEDEIROS DE LACERDA E MELO.)

Ora, resta patente, portanto, que o c. STJ, reconheceu neste


julgado, que trata de problema semelhante ao direito vindicado na presente lide pelo
requerente, ora agravante, que deve ser aplicada a estes casos a norma consumerista,
para garantir ao consumidor, a justa reparação pela aquisição do bem viciado, uma vez
que não é possível negar que o recorrente, adquiriu um carro com um elevado número
de vícios, bem como é inconteste o descumprimento por parte das agravadas, com o
prazo para consecução de reparos disposto no artigo 18 do CDC e ainda pela forma
com que as Ordens de Serviço da 2ª Requerida eram dispostas, em completa
desobediência ao preceituado nos artigos 51 e 54 do CDC.

No mesmo sentido, do ora alegado, encontra-se julgado da


eminente lavra do Ministro Fernando Gonçalves, nos seguintes termos:

“Adquirido veículo novo com defeito não sanado no prazo de 30 (trinta)


dias, pode o consumidor exigir a restituição da quantia paga, acrescida de
eventuais perdas e danos. Inteligência do art. 18 do CDC.”
(STJ – 4ª T. – Resp 567.333/RN – Rel. Fernando Gonçalves – j. 02.02.2010 –
Bol. AASP 2706, 15 a 21.11.2010, p. 5.793) (grifo nosso)

Assim ainda se manifestou o c. STJ, em casos semelhantes ao


presente:

“RECURSOS ESPECIAIS. DIREITO DO CONSUMIDOR. VEÍCULO ZERO.


VÍCIOS DE QUALIDADE. NÃO SANADOS NO PRAZO. OPÇÕES
ASSEGURADAS AO CONSUMIDOR. SUBSTITUIÇÃO DO PRODUTO POR
OUTRO DA MESMA ESPÉCIE. ESCOLHA QUE CABE AO CONSUMIDOR.
REEXAME DE PROVAS. IMPOSSIBILIDADE. DANO MORAL.
RECONHECIMENTO. PRECEDENTES. 1. Ação ajuizada em 07/12/2009.
Recursos especiais interpostos em 05/02/2014 e atribuídos a este gabinete em
25/08/2016. 2. Não é possível alterar a conclusão assentada pelo Tribunal local
com base na análise das provas nos autos, ante o óbice da Súmula 7 do STJ.
3. Na hipótese dos autos, o Tribunal de origem afirmou de forma

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categórica a existência de vício no produto, tendo sido o veículo


encaminhado diversas vezes para conserto e não sanado o defeito no
prazo de 30 (trinta) dias. Rever essa conclusão esbarra no óbice
supramencionado. 4. Configura dano moral, suscetível de indenização,
quando o consumidor de veículo zero quilômetro necessita retornar à
concessionária por diversas vezes para reparo de defeitos apresentados
no veículo adquirido. 5. O valor fixado a título de danos morais, quando
razoável e proporcional, não enseja a possibilidade de revisão, no âmbito do
recurso especial, ante o óbice da Súmula 7 do STJ. 6. Recursos especiais
parcialmente conhecidos e, nessa parte, não providos. RECURSO ESPECIAL
Nº 1.632.762. RELATORA: MINISTRA NANCY ANDRIGHI. “

E mais:

“RECURSO ESPECIAL. DIREITO DO CONSUMIDOR. VEÍCULO ZERO.


VÍCIO DE QUALIDADE. JULGAMENTO ULTRA PETITA. INEXISTÊNCIA.
INTELIGÊNCIA DO ART. 18 DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR -
CDC. OPÇÕES ASSEGURADAS AO CONSUMIDOR. SUBSTITUIÇÃO DO
PRODUTO POR OUTRO DA MESMA ESPÉCIE EM PERFEITAS
CONDIÇÕES DE USO. ESCOLHA QUE CABE AO CONSUMIDOR. (...) 2.
Nos termos do § 1º do art. 18 do Código de Defesa do Consumidor - CDC,
caso o vício de qualidade do produto não seja sanado no prazo de 30
dias, o consumidor poderá, sem apresentar nenhuma justificativa, optar
entre as alternativas ali contidas, ou seja: (I) a substituição do produto
por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso; (II) a
restituição imediata da quantia paga; ou (III) o abatimento proporcional do
preço. 3. Assim, a faculdade assegurada no § 1º do art. 18 do Estatuto
Consumerista permite que o consumidor opte pela substituição do
produto no caso de um dos vícios de qualidade previstos no caput do
mesmo dispositivo, entre eles o que diminui o valor do bem, não exigindo
que o vício apresentado impeça o uso do produto. (...)” RECURSO
ESPECIAL Nº 1016519/PR. RELATOR: MINISTRO RAUL ARAÚJO, QUARTA
TURMA, julgado em 11/10/2011, DJe 25/05/2012)”

E mais:

“RECURSOS ESPECIAIS. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS. VEÍCULO


DE LUXO. ZERO KM. VÍCIO DE QUALIDADE. PINTURA. VARIAÇÃO
INDEVIDA DE CORES. REPARO. PRAZO DO ART. 18, § 1º, DO CDC. (...) 1.
O acórdão recorrido está em perfeita consonância com o entendimento desta
Corte Superior, firmado no sentido de que, caso o vício de qualidade do

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produto não seja sanado no prazo de 30 (trinta) dias, previsto no § 1º do


art. 18 do CDC, o consumidor poderá, independentemente de justificativa,
optar entre as alternativas indicadas nos incisos do mesmo dispositivo
legal, quais sejam: (I) a substituição do produto por outro da mesma
espécie, em perfeitas condições de uso; (II) a restituição imediata da
quantia paga; ou (III) o abatimento proporcional do preço. (...)” (REsp
1591217/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA
TURMA, julgado em 14/06/2016, DJe 20/06/2016).”

E mais:

“É cabível dano moral quando o consumidor de veículo automotor zero


quilômetro necessita retornar à concessionária por diversas vezes para
reparar defeitos apresentados no veículo adquirido.”
STJ. 3ª Turma. REsp 1443268-DF, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em
3/6/2014 (Info 544).”

Outro não é, o entendimento emanado por diversos Tribunais


pátrios, conforme se colaciona a seguir:

‘Tratando-se de aquisição de veículo automotor novo e importado, uma


vez constatado vício de qualidade no produto, que não foi devidamente
sanado no prazo do artigo 18, §1º, do CDC, o seu comprador pode
reivindicar a substituição por outro, da mesma espécie, em perfeitas
condições de uso, conforme lhe faculta o inc. I. da citada norma, sob
pena de ver frustrada sua opção de adquirir bem de excelsa qualidade.’
(TJRS – 1ª C – Ap. 70001577154 – Rel. Voltaire de Lima Moraes – j.
22.11.2000 – RT 730/391)

E mais:

“Na compra e venda de veículo importado, se a substituição das peças


defeituosas acarretar a diminuição do valor do bem, tem o consumidor o
direito à restituição da quantia paga, monetariamente atualizada, nos termos
do §3º do artigo 18 da Lei 8.078/90.”
(TJRN – 2ª C. Civil – Ap. 98.000492-6 – Rel. Judite Nunes – j. 12.06.98 – RT
758/339.)

E mais:

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“O consumidor que adquire um veículo automotor que apresenta, desde


logo, defeito de fabricação, mostrando-se inadequado para o fim ao qual
serve, tem o direito de ser reembolsado do valor despendido para a
aquisição do bem, nos termos do art. 18, §1º, II, da Lei nº 8078/90”
(1º TACSP - 8ª C. – Ap. 835.564-4- Rel. Carlos Bondioli – j. 04.09.20002 – RT
811/250). (grifo nosso)

Se denota, portanto, que o pleito do Agravante em todo o


processo, se pautou em dispositivos de lei federal, bem como encontra-se em
consonância com entendimento jurisprudencial do c. STJ, bem como de diversos
Tribunais de Justiça Pátrios.

Ora diante de todo o alegado, entende o Agravante, não existirem


dúvidas quanto a plausibilidade do Recurso Especial interposto (fls. 895/913), na
medida em que o acórdão proferido pela E. 6ª Turma Cível do TJDFT (fls. 883/892),
merece ser totalmente reformado por essa Egrégia Corte, garantindo assim a correta
aplicação da legislação federal vigente ao caso em tela.

V- DOS PEDIDOS

Isto posto, comprovada a inobservância de decisão monocrática


da Presidência do STJ, que conheceu e negou provimento a Agravo de Instrumento
que buscava o prosseguimento do Recurso Especial interposto pelo Recorrente (fls.
895/913), em face do acórdão proferido pela 6ª Turma Cível do E. TJDFT (883/892), no
julgamento da Apelação Cível, requer o Agravante, fundado nos princípios
constitucionais que legitimam a interveniência do Poder Judiciário para afastar lesão ou
ameaça de direito, pelo exercício do Juízo de Retratação para que seja distribuído o
RESP a uma das Turmas Cíveis dessa colenda Corte e/ou em não sendo exercido este
juízo, que seja o presente Agravo Interno encaminhado a umas das Turmas do STJ,
para que apreciado seja integralmente PROVIDO, possibilitando a admissibilidade,
seguimento e provimento do Recurso Especial (fls. 895/913), conforme os pleitos nele
encartados.
P. Deferimento.

Brasília, 25 de agosto de 2020.

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José Alberto Pires Gabriel de Sousa Pires


Advogado Advogado
OAB/DF nº 2474 OAB/DF nº 38313

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