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Níveis de Referência de Diagnóstico em Tomografia Computorizada para Exames Do Abdómen

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Acta Radiológica Portuguesa, Vol.XXIV, nº 93, pág. 59-65, Jan.-Mar.

, 2012

Nota Técnica / Technical Note

Níveis de Referência de Diagnóstico em Tomografia


Computorizada para Exames do Abdómen
Diagnostic Reference Levels in Computed Tomography for Abdominal
Examinations

A. Patrício1, N. Teixeira2,3, G. Cunha2, C. Silva1, J. Fatana4, A. P. Jesus1,5


1
Departamento de Física, Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNL
2
Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa - IPL
3
Faculdade de Ciência Médicas – UNL
4
Medical Consult S.A.
5
Centro de Física Nuclear – UL

Resumo
A Tomografia Computorizada (TC) é considerada uma das maiores fontes de exposição à radiação da população em diagnóstico
médico por raios – X. O Índice de Dose em Tomografia Computorizada ponderado (CTDIw) e o Produto Dose Comprimento
(DLP) foram propostos como as grandezas dosimétricas apropriadas para o estabelecimento dos Níveis de Referência de Diagnóstico
(NRD) de modo a optimizar a exposição à radiação em TC. Neste trabalho, os NRD para o exame de rotina de TC abdominal em
pacientes adultos padrão foram determinados a partir de medições do CTDI em 20 TC distribuídas a nível nacional e comparados
com os NRD Europeus e outros estudos semelhantes de forma a fornecer uma perspectiva geral da prática de TC abdominal em
Portugal. Todas as medições foram efectuadas com uma câmara de ionização e um fantoma de corpo de polimetil metacrilato
(PMMA) utilizando os parâmetros típicos de exposição à radiação. Os valores de CTDIw e DLP apresentam uma variação entre
4,8 – 30,3 mGy e 51 – 504 mGy.cm, respectivamente. Os resultados revelaram discrepâncias significativas nos valores de dose
entre os Tomógrafos, o que pode ser atribuído principalmente às diferenças entre os protocolos de exame. A dose efectiva foi
estimada por dois métodos, observando-se que os respectivos valores médios diferiam em 31%. A dose equivalente nos órgãos foi
também calculada, verificando-se que o estômago e o fígado recebem a maior percentagem de dose de radiação durante um
exame de rotina de TC abdominal.

Palavras–chave
Abdómen; Dosimetria; Níveis de Referência de Diagnóstico; Tomografia Computorizada.

Abstract
Computed Tomography (CT) is considered a major source of radiation exposure for the population in diagnostic medical X –
rays. The weighted Computed Tomography Dose Index (CTDIw) and Dose Length Product (DLP) were proposed as the appropriate
dose quantities for establishment of Diagnostic Reference Levels (DRL) for optimizing patient exposure in CT. In this essay, the
DRL for the abdominal routine CT examination in standard adult patients were determined from CTDI measurements on 20 TC
scanners distributed nationwide and compared with the European DRL and with other similar studies to provide an overview of
abdominal CT practice in Portugal. All measurements were performed with a pencil ionization chamber and a polymethyl
methacrylate (PMMA) body phantom using typical exposure parameters. Values of CTDIw and DLP had a range of 4,8 – 30,3
mGy and 51 – 504 mGy.cm, respectively. The results revealed significant discrepancies in dose values among the CT scanners,
which can be mainly attributed to variations in the examination protocols. The effective dose was estimated using two methods
and it was found that their mean values differed by 31%. Doses to organs were also calculated and it was found that the stomach
and liver receive the highest percentage of radiation dosage during an abdominal routine TC examination.

Key-words
Abdomen; Dosimetry; Diagnostic Reference Levels; Computed Tomography.

Introdução
A Tomografia Computorizada (TC) é actualmente, dentro
Recebido a 05/01/2011
da prática clínica, uma técnica de imagem por raios – X
Aceite a 03/06/2011 altamente acessível. No entanto, o recurso cada vez mais

ARPq59
frequente a esta modalidade é acompanhado por crescentes 1 2
preocupações acerca dos riscos associados ao seu CTDIw = ⋅ CTDI100,c + ⋅ CTDI100, p [mGy] (3)
diagnóstico. Dados de 1991 a 1996 mostram que, 3 3
globalmente, a TC é responsável por 34% da dose colectiva
anual proveniente de exposições médicas, o que é onde o CTDI 100,p representa a média aritmética das
significativo em comparação com outras modalidades de medições efectuadas em quatro pontos localizados na
diagnóstico que envolvem radiação ionizante [1]. Em 2002, periferia do fantoma. O CTDIw é a primeira das duas
estimou-se que a TC contabilizava 3,3% do total dos quantidades dosimétricas propostas pela CE como Níveis
exames médicos com raios – X realizados no Reino Unido, de Referência de Diagnóstico em TC e expressa a dose de
contribuindo em 39,7% para a dose colectiva na população radiação absorvida ao nível do corte irradiado.
em relação aos 40,7% estimados para os exames de De modo a ter em conta variações na exposição à radiação
radiologia convencional [2]. A União Europeia, na ao longo do eixo de rotação (z) [6], o descritor de dose
Directiva 97/43/EURATOM relativa à protecção da saúde Índice de Dose em Tomografia Computorizada
dos indivíduos contra os perigos resultantes de radiações volumétrico (CTDIvol) foi definido de acordo com a
ionizantes apontou para a necessidade de uma exposição relação:
radiológica médica justificada e optimizada [3]. 1
Relativamente à optimização, o conceito de Níveis de CTDI vol = ⋅ CTDI w [mGy] (4)
passo
Referência de Diagnóstico (NRD) para pacientes foi
introduzido pelo International Commission for
Radiological Protection (ICRP) [4]. Este conceito foi onde o passo é definido pela relação entre o incremento
adoptado pela Comissão Europeia (CE) no documento da mesa por rotação (TF) e a espessura nominal de corte
European Guidelines for Quality Criteria in Computed (T).
Tomography como uma ferramenta operacional na A segunda quantidade dosimétrica estabelecida como Nível
identificação das práticas de TC que necessitam de uma de Referência de Diagnóstico em TC é denominada
redução mais urgente da dose de radiação administrada, Produto Dose Comprimento (DLP), sendo expressa pela
sem o comprometimento da qualidade da imagem para o seguinte relação:
diagnóstico [5].
A distribuição de dose em TC difere grandemente da que DLP = CTDI vol ⋅ L [mGy.cm] (5)
ocorre nos exames convencionais de diagnóstico com raios
– X, pelo que foram adoptadas grandezas dosimétricas
onde L é o comprimento da região do corpo irradiada. O
especiais que procuram caracterizar a dose de radiação
DLP reflecte a dose de radiação absorvida para um exame
em TC. Neste sentido, é necessário definir o conceito de
completo.
Índice de Dose em Tomografia Computorizada (CTDI) e
Os NRD Europeus estabelecidos para o exame de rotina
Produto Dose Comprimento (DLP).
de TC abdominal pela C.E. na EUR 16262 EN [5]
Teoricamente, o CTDI é definido como o integral do perfil
encontram-se na Tabela 1.
de dose (D(z)) ao longo de uma linha paralela ao eixo de
Para determinar o risco da exposição à radiação associada
rotação (z) para um só corte, dividido pela espessura
ao exame de TC abdominal, uma estimativa geral da dose
nominal de corte T:
efectiva (E) pode ser feita a partir do valor da grandeza
dosimétrica DLP utilizando coeficientes normalizados
+∞
1 apropriados:
T −∫∞
CTDI = ⋅ D ( z ) ⋅ dz [mGy] (1)
E = E DLP ⋅ DLP [mSv] (6)

Na prática, o CTDI pode ser convenientemente medido onde EDLP é o coeficiente de dose efectiva normalizado
utilizando uma câmara de ionização tipo lápis com 100 especifico para a região do corpo fornecido na EUR 16262
mm de comprimento activo de modo a fornecer uma EN [5]. O valor geral de EDLP próprio para região anatómica
medição do CTDI100 expressa em termos de dose absorvida do abdómen é dado na Tabela 1.
no ar [5]: De acordo com a legislação Portuguesa em vigor [7], no
+50 mm âmbito das exposições radiológicas médicas, o titular da
1 instalação radiológica deve ser responsável pelo
T −50∫mm
CTDI 100 = ⋅ D ( z ) ⋅ dz [mGy ] (2)
ar
estabelecimento de recomendações no que respeita à
optimização das doses de radiação no paciente,
Tais medições podem ser executadas no ar paralelamente assegurando que o nível da exposição médica está de
ao eixo de rotação do Tomógrafo, CTDI livre no ar acordo com os NRD Europeus, quando estes existem. Na
(CTDI 100,ar), ou no centro (CTDI100,c) e na periferia pesquisa efectuada não foram encontrados, ou não existem
(CTDI100,p) de fantomas de dosimetria em TC. dados actualmente disponíveis relativamente à dose de
No pressuposto de que a dose de radiação decresce radiação administrada em TC e acerca do número de TC
linearmente desde a periferia até ao centro do fantoma, o operacionais a nível nacional. Deste modo, o objectivo do
Índice de Dose em Tomografia ponderado (CTDIw) foi presente trabalho é contribuir para o estabelecimento de
estimado através da expressão: NRD para o exame de TC do Abdómen em Portugal.

60q ARP
Tabela 1 – Níveis de referência e coeficiente de dose efectiva normalizado propostos pela C.E. na EUR 16262 EN para
o exame de rotina de TC abdominal.

Exame CTDI w (mGy) DLP (mGy.cm) EDLP (mGy.mSv -1.cm-1)


Abdómen TC 35 780 0,015

Materiais e Métodos rotação do Tomógrafo. Um fantoma de corpo cilíndrico


de polimetil metacrilato (PMMA) foi utilizado para medir
O estudo foi realizado em 20 TC distribuídos por 15 o CTDI100,c e o CTDI100,p de modo a calcular o CTDIw. O
Instituições Clínicas e Hospitalares localizadas em Portugal fantoma de corpo tinha 32 cm de diâmetro, possuindo 9
de norte a sul do país. Dos 20 Tomógrafos um é de um orifícios cilindros paralelos em profundidade ao eixo
único corte, sendo os restantes multicorte. Todas as longitudinal do fantoma: um no centro e os restantes
medições foram realizadas entre os meses de Abril e Agosto rodeando a periferia. Todos os orifícios podiam ser
de 2010. A Tabela 2 sumariza os TC da amostra de acordo preenchidos com inserções de PMMA. As medições de
com o fabricante, modelo, número máximo de cortes CTDI100 foram realizadas com a câmara de ionização
tomográficos simultaneamente adquiridos e ano de fabrico. posicionada no centro e em quatros pontos periféricos do
Protocolos para o exame de rotina clínica de TC abdominal fantoma, depois de remover a correspondente inserção de
foram seleccionados para este estudo. Para cada protocolo, PMMA. O CTDIw foi calculado de acordo com a equação
foi recolhido um conjunto de dados relativo aos parâmetros (3).
de exposição do exame em causa, tais como tensão nominal O Produto Dose Comprimento (DLP) foi calculado de
(kV), corrente (mA), tempo de rotação (s) e passo. acordo com a equação (5). O estudo tomográfico do
O método dosimétrico aplicado foi baseado no proposto abdómen compreende um varrimento longitudinal que se
pelo documento European Guidelines on Quality Criteria estende desde a cúpula do fígado até à bifurcação da artéria
for Computed Tomography [5]. Uma câmara de ionização aorta abdominal [5], pelo que o comprimento irradiado
tipo lápis com volume sensível de 3 cm3 e comprimento considerado na determinação do DLP para todos os
activo de 100 mm (modelo 10×5 – 3CT, Radcal protocolos foi de 21,5 cm, demarcado utilizando o fantoma
Corporation) ligada a um electrómetro (modelo 9010, matemático antropomórfico do programa CT Patient
Radcal Corporation) foi utilizada para medir a grandeza Dosimetry Calculator do grupo ImPACT [8].
CTDI. A incerteza associada à calibração do conjunto é Utilizando este comprimento, o valor de dose efectiva foi
de ± 2,8%. calculado segundo a equação (6). O valor de dose efectiva
Medições do CTDI 100 livre no ar (CTDI 100, ar) foram é ainda comparado com o estimado a partir de coeficientes
efectuadas com a câmara de ionização posicionada no normalizados obtidos através de cálculos de Monte Carlo
isocentro da gantry e alinhada paralelamente ao eixo de no relatório NRPB – SR250 presentes no programa CT

Tabela 2 – Distribuição das TC por fabricante, modelo, número de arrays e ano de fabrico.
Fabricante Modelo Nº de arrays Ano de Fabrico
Siemens SOMATON Emotion Duo 2 2003
SOMATON Emotion 6 6 2007
SOMATON Emotion 6 6 2004
SOMATON Emotion 6 6 2005
SOMATON Emotion 16 16 2006
SOMATON Emotion 16 16 2010
SOMATON Sensation 16 16 2005
SOMATON Sensation 16 16 2004
SOMATON Sensation Open 64 2006
SOMATON Sensation Cardiac 64 2005
General HiSpeed Nx/i 2 2001
Electrics HiSpeed Nx/i 2 2001
BrigthSpeed 16 2009
BrigthSpeed 16 2006
BrigthSpeed 4 2008
LightSpeed Plus 4 2007
Prospeed 1 1997
Philips Brilliance 64 64 2010
Brilliance 16 16 2009
Brilliance 6 6 2004

ARPq61
Patient Dosimetry Calculator do grupo ImPACT [8]. A O valor da dose efectiva, útil na comparação do risco
percentagem de dose de radiação nos órgãos foi calculada biológico com outros tipos de exames radiológicos, foi
utilizando o programa, segundo os factores teciduais da também determinado pelo programa ImPACT utilizando
publicação 103 do ICRP [9], através da média da dose cálculos de Monte Carlo e segundo a publicação 103 do
equivalente em cada órgão para todos os protocolos ICRP. Os resultados são apresentados na Tabela 6. O valor
adquiridos. médio derivado do método de Monte Carlo verifica ser
mais elevado em 31% do que do método proposto pela
Resultados EC.
A distribuição percentual da dose média absorvida nos
A Tabela 3 e 4 sumarizam os valores das grandezas órgãos é apresentada na Tabela 7.
dosimétricas CTDIw e DLP calculadas para o exame de É o estômago e o fígado que evidenciam uma maior
rotina de TC abdominal, assim como o valor do terceiro percentagem de dose absorvida durante um exame de TC
quartil (Q3/4) deduzido das correspondentes distribuições. abdominal com um comprimento irradiado de 21,5 cm.
Este foi definido para a determinação dos NRD de modo Com o objectivo de evidenciar algum tipo de relação entre
a representar a fronteira entre práticas potencialmente as marcas de TC e o número máximo de cortes
inadequadas em termos do valor da dose administrada ao simultaneamente efectuados por estas com os valores de
paciente. A dose efectiva, calculada utilizando o coeficiente CTDIw e DLP obtidos pelas mesmas, recorreu-se ao teste
de dose efectiva normalizado EDLP próprio para região do estatístico de análise de variância a 1 factor (One – Way
abdómen, é apresentada na Tabela 5, juntamente com o Anova) que permite verificar qual o efeito de uma variável
valor de dose efectiva correspondente ao nível de independente ou factor de natureza qualitativa, numa
referência de DLP proposto pela EUR 16262 EN, uma variável dependente ou de resposta quantitativa, a um nível
vez que pode ser derivado do mesmo. de significância p de 5% (esta significância quantifica que
O valor do terceiro quartil para o CTDIw e DLP verificam a probabilidade de se rejeitar a hipótese inicial sendo esta
ser inferiores aos níveis de referência da EC em 54,6% e verdadeira, é de 0,05). A hipótese inicial de igualdade de
53,8%, respectivamente. O mesmo se constata para o nível valores médios de CTDIw e DLP entre marcas de TC e
de dose efectiva obtido. Nenhum dos Tomógrafos verificou número de cortes é aceite caso o nível de significância
exceder os níveis de referência da EC. estatístico obtido p seja superior a 0,05. As Figura 1 e 2

Tabela 3 – Mínimo, máximo, média e terceiro quartil (Q3/4) do CTDIw para o exame de rotina de TC abdominal.

CTDIw (mGy)
Min – Max Média Q3/4 16262 EN NRD
Abdómen TC 4,8 – 30,3 13,3 15,9 35

Tabela 4 – Mínimo, máximo, média e terceiro quartil (Q3/4) do DLP para o exame de rotina de TC abdominal.
DLP (mGy.cm)
Min – Max Média Q3/4 16262 EN NRD
Abdómen TC 51 – 504 268 360 780

Tabela 5 – Mínimo, máximo, média e terceiro quartil (Q3/4) da dose efectiva E para o exame de rotina de TC abdominal.
E (mSv)
Min – Max Média Q3/4 16262 EN
Abdómen TC 0,8 – 7,6 4,0 5,4 11,7

Tabela 6 – Comparação da dose efectiva pelo método proposto pela Comissão Europeia (CE) e pelos cálculos de
Monte Carlo (MC).
Dose efectiva, E (mSv)
EC método MC método % diferença
Min – Max Média Q3/4 Min – Max Média Q3/4 entre médias
Abdómen TC 0,8 – 7,6 4,0 5,4 1,3 – 11,0 5,8 7,9 31

62q ARP
Tabela 7 – Distribuição percentual (%) da média da dose absorvida nos órgãos discriminados segundo o ICRP 103.

Órgãos % Dose
Superfície Óssea 11,8
Bexiga 0,6
Mama 0,9
Cólon 10,2
Gónodas 1,2
Fígado 24,3
Pulmão 3,9
Esófago 0,3
Medula Óssea 4,8
Pele 4,1
Estômago 26,0
Tiróide 0,1
Cérebro 0,0
Glândulas Salivares 0,0
Restantes órgãos 11,7

Fig. 1 – Variação dos resultados de CTDIw distribuídos pelas marcas


(Siemens, GE e Philips) presentes neste estudo.

mostram, a título exemplificativo, a distribuição dos Fig. 2 – Variação dos resultados de CTDIw distribuídos pelo número de
resultados de CTDIw por marcas de TC e número de cortes, cortes (6, 16, 64, 2, e 1) presentes neste estudo.
enquanto a Tabela 8 apresenta o nível de significância p
encontrado para a estatística do teste em causa.
Os resultados sugerem que não é a marca de TC nem o máximo dos resultados é de 84,1% e 89,9%,
número máximo de cortes simultaneamente efectuados respectivamente e, pode ser atribuída aos diferentes
pelo Tomógrafo a exercer algum tipo de influência sobre protocolos de exame de TC abdominal aplicados ente os
os resultados dosimétricos obtidos, seja para o CTDIw ou Tomógrafos. Foi observado durante a aquisição do CTDI
para o DLP. discrepâncias entre os parâmetros de exposição aplicados;
por exemplo, a maioria das Instituições aplica tensões
Discussão similares (120 – 130kV), enquanto o produto corrente-
tempo (mAs) varia significativamente (84 – 316 mAs). A
Foram verificadas discrepâncias nos valores de CTDIw e Tabela 9 apresenta o valor do terceiro quartil dos NRD
DLP obtidos para o exame de TC abdominal entre os (CTDIw e DLP) obtido neste estudo (Portugal) e aqueles
diferentes Tomógrafos. A diferença entre o mínimo e o estabelecidos por outros autores no Reino Unido, Grécia,

ARPq63
Tabela 8 – Nível de significância p para o CTDIw e DLP entre marcas e número de cortes.
Marcas Nº de cortes

CTDIw p = 0,128 p = 0,516

DLP p = 0,053 p = 0,336

Tabela 9 – Comparação do terceiro quartil dos NRD (CTDIw e DLP) entre estudos para o exame de TC abdominal.
Estudo CTDI w (mGy) DLP (mGy.cm)
Portugal 15,9 360
Reino Unido[10] 19 472
Grécia[11] 26 561
Tanzânia[12] 18,4 1082,8
Itália[13] 25 632

Tanzânia e Itália para o exame de TC abdominal. De entre


os resultados, é o estudo em causa que apresenta os NRD
mais baixos. Os resultados sugerem mais uma vez
diferentes técnicas de protocolo para o mesmo exame entre
os estudos. Por exemplo, relativamente ao DLP, é
mencionado pelo autor [13] um comprimento irradiado
que se estende de 12 – 31,4 cm, comparativamente aos
21,5 cm considerados em todos os protocolos analisados
neste estudo, para o exame de TC abdominal.
À excepção do DLP para a Tanzânia, verifica-se
concordância entre os estudos em respeitar os NRD
Europeus, evidenciando uniformidade entre as Instituições
dos diferentes países em manter o nível de dose tão baixo
quanto razoavelmente possível.
Da Tabela 6 é sugestivo que quando é necessário o cálculo
da dose efectiva resultante de uma exposição à radiação, Fig. 3 – Correlação entre o CTDIw e a dose efectiva E obtida pelo método
esta deve ser feita em conjunto com cálculos de Monte de MC.
Carlo, quando existentes, uma vez que têm em conta as
especificações do tipo de modelo de TC e osparâmetros
de exposição utilizados, sugerindo ser mais precisos. Tem
sido relatado que o método da EC subestima o risco da
exposição radiológica para protocolos de TC abdominal
actuais, não reflectindo as recentes mudanças na
configuração dos TC [14]. Por fim, da Tabela 8, o facto de
parecer não haver dependência do CTDIw e DLP obtidos
em relação às marcas de TC e número máximo de cortes
simultaneamente conseguidos por estas, sugere também
que são as técnicas de exposição ao paciente que
determinam os valores de dose obtidos.
Com o propósito de verificar de que modo os NRD
influenciam a dose efectiva, a correlação entre os valores
de CTDIw e DLP com E obtida pelo método de Monte
Carlo foi efectuada através de uma regressão linear. Os
resultados da regressão linear entre o CTDIw e DLP com a Fig. 4 – Correlação entre o DLP e a dose efectiva E obtida pelo método
dose efectiva são apresentados na Figura 3 e 4, de MC.
respectivamente.

64q ARP
Da Figura 3 verifica-se que o CTDIw não parece estar 6. Tsapaki, V.; Rehani, M. - Dose management in CT facility. Biomel
correlacionado com a dose efectiva (R=0,533). Por outro Imaging Interv J, 2007, 3(2): e43.
lado, é observado na Figura 4 que a correlação entre o 7. Decreto – Lei nº 180/2002 de 8 de Agosto. Diário da República nº
DLP e a dose efectiva para o exame de TC abdominal é 182/2002 – I Série A. Ministério da Saúde. Lisboa, 2002.
positiva e muito significativa (R=0,978); de facto o DLP
consegue explicar 95,7% dos resultados de dose efectiva 8. ImPACT, Imaging Performance Assessment of CT Scanners. ImPACT’s
CT patient dosimetry calculator – version 1.0.2(2009) Disponível em
obtidos (R2=0,9566). A forte relação linear entre as http://www.impactscan.org/ctdosimetry.htm [acedido a 15 de Maio de
grandezas mostra que o nível de risco biológico associado 2010].
à exposição à radiação em TC abdominal é tanto maior ou
menor quanto maior ou menor o nível de DLP. Desta forma, 9. ICRP, International Commission on Radiological Protection.
pensa-se que é significativo a criação de critérios “padrão” Recommendations of the International Commission on Radiological
Protection. ICRP Publication 103, Annals of the ICRP, 2007.
de dosimetria em termos de DLP, uma vez que este pode
variar segundo diferentes comprimentos da região do corpo 10. Shrimpton, P.C.; Lewis M. A.; Dunn M. - Doses from Computed
irradiada para o mesmo exame (como referido acima), no Tomography examinations in the UK – 2003 review. Chilton, England,
sentido de minimizar o nível de risco associado a este tipo National Radiological Protection Board Document NRPB – W67, 2005.
de exposição. Finalmente, se a recta de regressão linear 11. Hatziioannou, K.; Papanastassiou, E.; Delichas, M.; Bousbouras, P.
da correlação entre o DLP e E fosse forçada a passar - A contribution to establishment of diagnostic reference levels in CT.
exactamente no ponto de origem, o coeficiente EDLP Br J of Radiol, 2003, 73:541–545.
estimado seria de 0,0219 mGy.mSv-1.cm-1, que difere em
cerca de 31% do proposto pela EC na Tabela 1, sendo 12. Ngaile, J. E.; Msaki, P.; Kazema, R. - Towards establishment of
national reference dose levels computed tomography examinations in
essa a diferença encontrada entre a dose efectiva obtida Tanzania. J. Radiol. Prot., 2006, 26:213–225.
pelos método da EC e MC.
Conclusões 13. Papadimitriou, D.; Perris, A.; Manetou, A.; Molfetas, M.;
Os NRD estabelecidos neste estudo para o exame de TC Panagiotakis, N.; Lyra-Georgosopoulou, M. - A survey of 14 computed
tomography scanners in Greece and 32 scanners in Italy: examination
abdominal estão de acordo com os NRD Europeus, frequency, dose reference values, effective doses and doses to organs.
mostrando-se ser bastante inferiores a estes e sugerido por Radiat. Prot. Dosimetry, 2003, 104(1):47–53.
isso, que os Tomógrafos estão a operar em condições de 14. Yoshizumi, Terry T.; Hurwitz, Lynne M.; Goodman, Philip C. -
optimização relativamente ao nível de dose de radiação Effective Dose and Dose – Length Product in CT. Radiology, 2009,
administrada ao paciente no exame de TC abdominal. No 250:604–605.
entanto, as discrepâncias observadas nos valores de CTDIw Correspondência
e DLP para o mesmo tipo de exame mostram que há uma
necessidade de explicar a não – padronização dos exames A. Patrício
de TC abdominal nas Instituições onde operam as TC. Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa
Av. D. João II, Lote 4.69.01
1990-096 Lisboa
Agradecimentos e-mail: anapatriciapatricio@gmail.com

A todos as Instituições e profissionais de saúde que


contribuíram para a realização deste estudo,
particularmente à MedicalConcult e seus colaboradores.

Referências
1. UNSCEAR, United Nations Scientific Committee on Effects of
Atomic Radiation. Sources and Effects of Ionizing Radiation. 2000
Report to the general assembly annex D: medical radiation exposures.
Volume I: Sources. United Nations, New York, 2000.

2. Hart, D.; Wall, B. F. - Radiation Exposure of the UK Population from


Medical and Dental X-ray Examinations. Chilton, England, National
Radiological Protection Board Document NRPB – W4, 2002.

3. Council Directive 97/43/EURATOM of 30 June 1997. Health


Protection of individuals against the dangerous of ionizing radiation
in relation to medical exposure and repealing Directive 84/466/
Euratom. European Union Council, 1997.

4. ICRP, International Commission on Radiological Protection.


Radiology Protection and Safety in Medicine. ICRP Publication 73.
Annals of the ICRP, Pergamon Press, Oxford, 1996.

5. E.C., European Commission, European Guidelines on Quality


Criteria for Computed Tomography EUR 16262 EN. Luxemburg, 1999.
Disponível em http://www.drs.dk/guidelines/ct/quality/htmlindex.htm
[acedido 29 de Março de 2010].

ARPq65

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