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Avaliação Psicológica, 2008, 7(3), pp.

359-370 359

O TESTE DE PFISTER E O TRANSTORNO DISSOCIATIVO


DE IDENTIDADE
Marcello de A. Faria1 - Universidade Católica de Brasília

RESUMO
O Transtorno Dissociativo de Identidade, anteriormente denominado Personalidade Múltipla, é um transtorno mental de
difícil diagnóstico, de sintomatologia diversificada e forte comorbidade. Neste estudo de caso objetivamos contribuir com
a divulgação deste transtorno e relatar a riqueza da utilização do Teste das Pirâmides Coloridas de Pfister em casos desta
natureza. A amostra foi composta por uma paciente múltipla, que apresentou dez personalidades em atuação no seu
psiquismo. Os dados foram analisados segundo os princípios de interpretação do teste tendo sido considerados o modo de
colocação dos quadrículos, o processo de execução, as síndromes cromáticas, o aspecto formal, a fórmula cromática, as
variações cromáticas e de matizes, as cores por dupla, o tempo de execução, o tempo psíquico de reação, a análise das
pirâmides em função dos planos da personalidade e os valores posicionais. Verificaram-se indicadores sintomatológicos e
dissociativos significativos caracterizados por amnésia, traumas e emersões espontâneas entre personalidades.
Palavras-chave: avaliação psicológica; Pirâmides Coloridas de Pfister; transtorno dissociativo de identidade; trauma.

THE PFISTER TEST AND THE DISSOCIATIVE IDENTITY DISORDER

ABSTRACT
The Dissociative Identity Disorder, formerly called Multiple Personality, is a mental disorder of difficult diagnosis,
diversified symptomatology and strong comorbidity. The purpose of this case study was to contribute to the divulgation of
this disorder and to report the richness in the use of Pfister’s Color Pyramid Test in cases of this nature. The sample was
composed by a multiple patient who presented ten active personalities in her psychic life. The data were analyzed
according to the test’s interpretation principles, considering the position of the small squares, the execution process, the
color syndromes, the formal aspect, the sequence formula, the chromatic and matrix variations, the colors by pairs, the
execution period, the psychic time of reaction, the analysis of the pyramids in terms of the personality plans and the
positional values. Significant dissociative and symptomatological indicators, characterized by amnesia, traumas and
spontaneous emersions among personalities were verified.
Keywords: psychological assessment; pfister’s color pyramid test; dissociative identity disorder; trauma.

INTRODUÇÃO1 encontram-se as chamadas personalidades


alternativas, múltiplas ou alters (Hacking, 1995).
A Personalidade Múltipla – um transtorno Explicações etiológicas focalizam questões
mental de difícil diagnóstico devido à traumáticas como sendo o principal fator
sintomatologia diversificada e à sua forte desencadeador da dissociação anormal da
comorbidade –, atualmente catalogada como consciência, um mecanismo de defesa resultante de
Transtorno Dissociativo de Identidade, só se tornou agressões e abusos físicos, sexuais ou psíquicos,
um diagnóstico oficial da Associação Americana de responsável pelo encadeamento das emersões-
Psiquiatria em 1980. Para este distúrbio dissociativo imersões das múltiplas personalidades (Putnam,
existem critérios específicos definidos no Manual 1989; Steinberg, 1994).
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais Para Freud (1923/1996), “(...) talvez o
(DSM-IV-TR, 2003), e registro na Classificação segredo dos casos daquilo que é descrito como
Estatística Internacional de Doenças (CID-10, ‘personalidade múltipla’ seja que as diferentes
1993). identificações apoderam-se sucessivamente da
No âmago das características da síndrome, consciência.” (pp. 43). Ele também, juntamente
que não é um artefato iatrogênico e cuja com Joseph Breuer, apresentou informações que
característica essencial é a existência dentro do estão em consonância com os critérios diagnósticos
indivíduo de duas ou mais personalidades distintas, atuais da Personalidade Múltipla:
cada qual dominante num momento específico,
(...) Num mesmo indivíduo são possíveis
1
Contato: vários agrupamentos mentais que podem
Telefones: (61) 3877-0763 e (61) 99087044. E-mail: ficar mais ou menos independentes entre si,
mafaria@hotmail.com
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sem que um ‘nada saiba’ do outro, e que natural expressando surpresa à mudança de estação
podem se alternar entre si em sua emersão à sem perceber que algo anormal havia ocorrido.
consciência. Casos destes, também Estas alterações de um estado para outro
ocasionalmente, aparecem de forma continuaram durante mais de uma década.
espontânea, sendo então descritos como Finalmente cessaram quando ela alcançou trinta e
exemplos de ‘double consciente’ (Freud, cinco anos, permanecendo em seu segundo estado
1910 [1909]/1996, p.35). sem mudança adicional até sua morte em 1854
(Ellenberger, 1970).
Outros autores (Haddock, 2001; Kluft & Genuinamente, o primeiro estudo objetivo
Fine, 1993; Ross, 1989) afirmam que a liberação de Personalidade Múltipla foi inaugurado na
dos aspectos traumáticos, objetivando processos de França, em 1836, por Antoine Despine, com a
integração, constitui a essência maior do tratamento publicação da história de Estelle L’Hardy, sob a
porque dissolve o impacto do trauma recalcado e, forma de monografia. Estelle tinha onze anos
conseqüentemente, diminui ou cessa a dissociação quando chamou a atenção de Despine. Ela era
da consciência. Tais processos, não poucas vezes, absorvida em devaneios, visões fantásticas e
vêm acompanhado do chamado Inner Self Helper, esquecia de um momento para outro tudo aquilo
ISH, uma personalidade auxiliar que contribui com que acontecia ao seu redor (Ellenberger, 1970;
o terapeuta no tratamento da paciente (Allison, Hacking, 1995).
1980). Em julho de 1885 Jules Voisin descreveu o
Historicamente, há diversos casos caso do paciente francês Louis Vivet que
considerados clássicos na literatura científica da apresentou oito estados de personalidade, além de
Personalidade Múltipla. O primeiro deles, um um grande número de estados fragmentários. Para
registro envolvendo dissociação e duplicidade, Faure, Kersten, Dinet e Onno (1997), várias fontes
ocorreu por volta do século XVI, quando Paracelso em Vivet indicam que ele foi exposto a experiências
apresentou uma mulher que se encontrava amnésica de vida extremamente opressivas, incluindo abuso
perante uma alter que havia roubado o dinheiro dela físico, negligência severa, abandono, desamparo e
(Hacking,1991; Putnam, 1989). prisão.
Um outro caso clássico foi registrado por Um outro clássico que tornou a
Eberhardt Gemelin no final do século XVIII. No Personalidade Múltipla mais conhecida, embora não
começo da Revolução Francesa, refugiados se trate de um caso clínico propriamente dito, foi o
aristocráticos chegaram em Stuttgart. conto intitulado The Strange Case of Dr Jekyll and
Impressionada com esta visão, uma jovem mulher Mr Hyde, escrito pelo escocês Robert Louis
alemã, de vinte anos de idade, mudou Stevenson, em 1886 (Ellenberger, 1970). Na
repentinamente a própria personalidade para os história narrada, o doutor Jekyll é um homem
modos e maneiras de uma senhora francesa, normal e respeitado, de conduta exemplar. Seu
imitando e falando o francês perfeitamente e o monstruoso alter ego, Sr. Hyde – condição segunda
alemão como se fosse uma francesa. Esses estados, –, é uma personalidade hedonista, cruel,
de francês, repetiram-se. Quando em sua irresponsável, que busca os prazeres carnais. O
personalidade francesa, a mulher tinha completa doutor Jekyll objetivava permitir a transmutação
memória de tudo aquilo que tinha dito e feito entre os dois estados ou condições para explicar a
durante o estado francês anterior. Quando em sua convivência do bem e do mal dentro do ser humano.
personalidade alemã, ela nada conhecia da sua Porém, dividido e perdendo de forma crescente o
personalidade francesa (Ellenberger, 1970). controle e o domínio do segundo estado, procura
O notável caso de Mary Reynolds, desesperadamente uma forma de resolver o
considerado um dos mais famosos de Personalidade impasse. Ao mesmo tempo, é cobaia das
Múltipla, foi publicado pela primeira vez em 1815, experiências – realizadas com drogas sintéticas
ampliado em 1860 e refinado em um novo livro – auto-aplicáveis – sem conhecer o alcance dos
intitulado Mary Reynolds: A Case of Double experimentos. Subjugado pela própria invenção,
Consciousness –, em 1889 (Putnam, 1989). Na sem poder refreá-la, escraviza-se e sucumbe.
primavera de 1811 Mary foi encontrada em sono Em 1887 Eugène Azam publicou um livro
profundo que durou muitas horas e do qual intitulado Hypnotisme, doubleconscience et
despertou tendo perdido toda a memória e o uso da altérations de la personnalité, prefaciado por
fala. Posteriormente, despertou em seu estado Charcot. Conforme Ellenberger (1970), de 1858 a

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1893 Azam estudou e acompanhou psiquismo e cujo caso está registrado em Keyes
intermitentemente Félida. Ele declarou que em sua (1981).
condição normal ela era de inteligência comum, Importante enfatizar que, apesar desta
mas que se tornava brilhante na condição evolução histórica e científica, no Brasil – embora
secundária. Nesta última, era bem consciente não as últimas décadas tenham sido caracterizadas por
somente da condição secundária prévia, mas uma extraordinária expansão da psicologia, sendo
também sobre toda a sua vida. Em seu estado marcante a aplicação de princípios e técnicas em
normal nada conhecia de sua condição secundária áreas específicas (Cunha, Minella, Werlang &
exceto o que os outros lhe contavam. Carneiro, 1993) – a Personalidade Múltipla carece
O caso Hélène Smith, cujo verdadeiro nome de aprofundamentos. Não há congressos que
era Élise-Catherine Müller, foi publicado pela abordem a temática de forma específica, quase nada
primeira vez em 1899. Encontra-se registrado no em termos de pesquisadores dedicados ao assunto e
livro intitulado From India to the Planet Mars: A nenhuma literatura científica original.
Study of a Case of Somnambulism with Glossolalia, Diante dessa carência de investigações
escrito por Théodore Flournoy, prefaciado por C. G. relacionadas com o transtorno no âmbito nacional, o
Jung. Um conceito pioneiro que Flournoy fez uso Teste das Pirâmides Coloridas de Pfister – que
em seu estudo, diretamente ligado à problemática desde a sua criação em 1948 (Villemor Amaral,
da Personalidade Múltipla, foi o de criptomnésia ou 1978) tem sido considerado, sucessivamente, útil e
memória escondida (Flournoy, 1899/1994). confiável nos processos psicodiagnósticos
Christine L. Beauchamp representa mais (Villemor-Amaral, 2005) – apresenta-se como uma
um clássico de expressivo valor para a compreensão técnica valiosa para a compreensão da dinâmica
da Personalidade Múltipla. Conforme Prince emocional e das habilidades cognitivas dos
(1905/1957), cada uma de suas personalidades múltiplos, termo pelo qual são conhecidos os
secundárias era somente uma parte do ego normal e pacientes portadores de Personalidade Múltipla
inteiro. A paciente mudava de personalidade de vez (Hacking, 1995). Adicionalmente, há na técnica de
em quando, freqüentemente de hora em hora, e em Pfister uma intensa correlação entre a percepção da
cada mudança seu caráter era transformado e suas forma e da cor. A forma diz respeito ao aspecto
recordações alteradas. Além da realidade original, objetivo da percepção, constitui um dos elementos
Christine podia ser qualquer uma dentre três essenciais da análise e é importante por indicar as
pessoas diferentes. Embora fazendo uso de um possibilidades de controle racional que um
mesmo corpo, cada personalidade possuía indivíduo tem sobre os afetos e as emoções. A cor
características distintas. Uma diferença manifestada escapa à objetividade e reflete um mundo que
por diferentes traços de pensamento, por diferentes emerge da subjetividade, que se configura e se
pontos de vista, diferentes convicções, ideais e projeta através da forma (Brauer, 1998; Heiss &
temperamentos, e por diferentes aquisições, gostos, Halder, 1983; Justo & Kolck, 1976; Marques, 1988;
hábitos, experiências e recordações. Villemor Amaral, 1978; Villemor-Amaral, 2005).
Certamente, muitos outros casos Portanto, esta pesquisa, um estudo de caso
envolvendo a Personalidade Múltipla poderiam ser fruto da experiência profissional do autor, tem
descritos detalhadamente, tais como: Léonie, como objetivo contribuir com a divulgação do
paciente cujo caso está documentado em Janet Transtorno Dissociativo de Identidade no âmbito
(1889); Eva, história registrada em Sizemore científico nacional e relatar a riqueza da utilização
(1978), que se transformou num clássico do cinema do Teste das Pirâmides Coloridas de Pfister em uma
tendo Joanne Woodward desempenhado o papel paciente múltipla.
principal e ganhado o Oscar de melhor atriz de
Hollywood, em 1957; Sybil, paciente da MÉTODO
psicanalista Cornelia B. Wilbur, descrita em
Schreiber (1973), cujo quadro clínico apresentou Descrição
uma hierarquia contendo dezesseis personalidades; O método do estudo de caso é uma
Henry Hawksworth, paciente múltiplo inquirição empírica que pesquisa um fenômeno
documentado por Schwarz (1977); e Billy Milligan, contemporâneo dentro de um contexto da vida real,
serial killer que apresentou vinte e quatro quando a fronteira entre o fenômeno e o contexto
personalidades distintas identificadas em seu não é claramente evidente (Yin, 1989). Segundo
André (2005) os estudos de caso são valorizados

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pela sua capacidade de projetar luz sobre o da paciente na descrição dos critérios diagnósticos
fenômeno estudado, de modo que o leitor possa para o Transtorno Dissociativo de Identidade.
descobrir novos sentidos, expandir suas
experiências ou confirmar o que já sabia. Espera-se Instrumento
que o estudo de caso favoreça a compreensão da Teste das Pirâmides Coloridas de Pfister
situação investigada e possibilite a emersão de criado em 1948 (Villemor-Amaral, 2002) pelo suíço
novas relações e variáveis levando o leitor a ampliar Max Pfister como tese de doutorado em Psicologia
suas experiências. Espera-se ainda que desvele à Sociedade de Psicanálise de Zurique e introduzido
pistas para aprofundamentos ou para futuros no Brasil, em 1956, por Fernando de Villemor
estudos. Amaral. Consiste de um jogo de três cartelas
contendo o esquema de uma pirâmide, subdividida
Participante em 15 pequenos quadrados e um jogo de
Inicialmente, realçamos que em todos os quadrículos coloridos composto de 10 cores
momentos deste trabalho, princípios éticos relativos subdivididas em 24 tonalidades, havendo no
à pesquisa envolvendo seres humanos, inclusive mínimo 45 unidades de cada tom e a mesma
aqueles que dizem respeito ao sigilo da paciente, quantidade para todos os tons (Villemor-amaral,
foram obedecidos. 2005).
Para o presente estudo de caso tivemos um
sujeito único, Caroline, nome fictício. Brasileira, Procedimento
casada, quarenta e sete anos à época de nosso As aplicações do teste ocorreram no
primeiro contato, escolaridade média. Aceitou consultório particular do pesquisador, em condições
tomar parte desta pesquisa homologando a sua adequadas ao bom desempenho do sujeito, ou seja,
participação através do Termo de Consentimento ambiente calmo e tranqüilo, com privacidade, isento
Informado Livre e Esclarecido. Pela primeira vez de decorações repletas de cores, com iluminação
foi diagnosticada como múltipla. O diagnóstico foi natural apropriada e com uma mesa de cor neutra
feito à medida que os critérios contidos no DSM- em sua superfície (Villemor Amaral, 1978;
IV-TR (2003) foram sendo comprovados ao longo Villemor-Amaral, 2005).
do tratamento clínico. Tivemos colaborações à Somente duas personalidades – em atuação
distância de psiquiatras americanos renomados e de num mesmo psiquismo – estiveram envolvidas
colegas da ISSTD – International Society for the neste estudo de caso, Caroline e Dalva, uma das
Study of Trauma and Dissociation. Antes do início alters. A coleta de dados foi feita em duas sessões
do processo psicoterápico a paciente recebeu o clínicas conosco. A segunda sessão, ocorrida com
diagnóstico de depressão segundo os critérios da espaçamento de um mês, foi necessária para
Classificação Estatística Internacional de Doenças, retestagem devido ao processo dissociativo ocorrido
CID-10 (1993), nas várias consultas com diferentes durante a primeira aplicação. Os dados foram
psiquiatras. Alguns laudos médicos foram analisados globalmente, tendo sido considerados o
apresentados pela paciente. Exames cardiológicos e modo de colocação dos quadrículos, o processo de
neurológicos foram realizados ao longo da vida, execução, as síndromes cromáticas, o aspecto
com resultados negativos, caracterizando ausência formal, a fórmula cromática, as variações
de comprometimentos orgânicos. cromáticas e de matizes, as cores por dupla, o
Foram identificadas dez personalidades tempo de execução, o tempo psíquico de reação, a
encapsuladas no psiquismo de Caroline. análise das pirâmides em função dos diferentes
Salientamos que todas as alters foram registradas planos da personalidade e os valores de posição, de
conforme identificadas por elas mesmas quando de acordo com a interpretação de Justo e Kolck (1976),
suas emersões. O controle intermitente exercido por Villemor Amaral (1978) e Villemor-Amaral (2005).
cada uma das personalidades em relação ao
comportamento do sujeito, a incapacidade para RESULTADOS
recordações importantes relacionadas com eventos
de sua vida quando em processo dissociativo, a sua A seguir, registramos os resultados das
conduta de abstemia sem nunca ter feito uso de análises dos protocolos de Caroline e de Dalva,
drogas ilícitas, somadas a ineficácia de teste e re-teste respectivamente, obtidos nas duas
medicamentos antidepressivos e ansiolíticos sessões clínicas. Realçamos que durante a primeira
prescritos por psiquiatras, fundamentam a inclusão sessão, quando da aplicação do teste, após a

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elaboração da segunda pirâmide, Caroline entrou se querer “representar algo mais”. Consentimos
em processo dissociativo espontâneo. Dalva, uma apesar desta última elaboração não entrar na
das alters, emergiu e desejou executar a mesma mensuração do teste.
atividade. Após o término do teste completo com Em relação ao protocolo de Caroline, como
Dalva, Caroline retornou e, nada percebendo – mostrado na Figura 1, as elaborações das quatro
amnésia –, deu continuidade a tarefa que estava pirâmides seqüenciais produzidas, com ausência de
executando. Fez, então, a terceira pirâmide e nos trocas, foram:
pediu para fazer uma quarta adicional, justificando-

1ª 2ª 3ª 4ª
Figura 1. Pirâmides seqüenciais elaboradas por Caroline.

Em continuidade, registramos informações traumático de muita dor e sofrimento. Eu estava na


complementares relacionadas com o inquérito escuridão. Ele, o meu passado, está sendo apagado.
realizado. Tais informações se justificam por O vermelho representa o meu coração, que era
demonstrar que a paciente mantém o senso de preso e sangrava. E, em relação à quarta pirâmide,
realidade quando ausente de processos você mencionou que queria “representar algo
dissociativos. mais” – intenção explícita e específica. O que ela
Qual das três pirâmides ficou mais bonita? significa? Significa que todo o meu sofrimento está
Qual você gostou mais? Por quê? A terceira, sendo transformado em esperança e equilíbrio.
porque tem um dégradé perfeito. Cores combinadas Podemos dizer que em relação às síndromes
e ordenadas. Qual das três pirâmides ficou menos cromáticas – contraste e fria –, Caroline apresentou
bonita? Qual você gostou menos? Por quê? A conflitos interiores. Ficou caracterizada como uma
segunda, porque dá idéia de prisão. Dá a pessoa internamente ansiosa, tensa, que se esquiva
impressão que esse amarelo jamais sairá daí. ao contato mantendo atitudes frias e distantes em
Geralmente, qual a cor que você mais gosta? Azul. relação ao mundo exterior. As cores azul e preta
Geralmente, qual a cor que você menos gosta? significativamente aumentadas, e a cor branca
Preta. Aqui no material do teste, qual a cor que aumentada discretamente, caracterizaram a paciente
você mais gostou, a sua cor preferida? Azul – Az2. como introvertida, que sofreu repressões e que
Aqui no material do teste, qual a cor que você possui tendência à perda do contato com a
menos gostou? Marrom. Esta aqui – Ma1. Logo realidade. A ausência da cor laranja pode indicar
após o inquérito, tivemos o seguinte diálogo com a enfraquecimento estrutural, dissociação. Em relação
paciente, que evidenciou aspectos traumáticos ao aspecto formal (ver a Figura 1), ela fez uso de
pretéritos e transformação de sentimentos estruturas em mosaico – primeira e quarta
negativos: pirâmides –, uma tendência a estrutura em manto –
O que você quis representar com a primeira segunda pirâmide – e formação em camadas
pirâmide construída quando disse Apesar de você monocromáticas – terceira pirâmide –, o que indica,
ter me pedido para fazer uma pirâmide bonita estou respectivamente, uma mistura de desenvolvida
com vontade de fazer uma que representou a minha inteligência e sensibilidade artística, perturbação
vida até antes da terapia. O que significa a cor proveniente de dissociações no curso do
vermelha no centro, rodeada pelos quadrículos pensamento e manejos defensivos, inibição e
pretos? Eu quis representar o meu passado retraimento. O modo de colocação – simétrico para

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a primeira e quarta pirâmides, ascendente e direto relação à média esperada, indicando limitação
para a terceira – refletiu uma busca de equilíbrio e tensa, sentimentos de insegurança, inibição e medo
de integração que pode ser conseqüência dos de se expor. O tempo de execução foi de 10’13”
sentimentos de insegurança da paciente. O processo para a primeira pirâmide, 4’29” para a segunda, 4’
de execução foi diversificado, ou seja, desordenado para a terceira e 2’ para a quarta e última pirâmide
no início e ordenado no restante do teste, indicando elaborada. Assim, considerando os resultados
uma mescla de ansiedade, insatisfação e apresentados, trata-se de pessoa com dificuldades
instabilidade, com certa vontade de alcançar psicológicas acentuadas e com indicadores
flexibilidade. A fórmula cromática obtida – 0 : 1 : 4 dissociativos.
: 5 – foi classificada como restrita e instável, A seguir, apresentamos as análises do
indicando sentimentos de instabilidade controlados protocolo obtido com a alter Dalva, quando
por mecanismos inibitórios. As cores por dupla – Caroline esteve em processo dissociativo
Az↑ Pr↑, Vd↓ Az↑ e La↓ Vi↓ – indicaram bloqueios espontâneo. As elaborações piramidais de Dalva,
e obstáculos ao desenvolvimento emocional, como mostrado na Figura 2, foram também obtidas
tendência ao estabelecimento de relacionamentos durante a primeira aplicação do Pfister, com
profundos e autênticos, atitude morosa e baixa ausência de trocas, logo após Caroline ter finalizado
produtividade. Em termos de variação cromática e a construção de sua segunda pirâmide.
de matizes, Caroline obteve resultado rebaixado em

1ª 2ª 3ª
Figura 2. Pirâmides seqüenciais elaboradas por Dalva.

A pirâmide que Dalva disse ter mais certa forma, quis representar a nossa proteção. O
gostado de fazer foi a primeira. A que gostou menos azul tendo significado em Rony – seu grande amor –
foi a terceira. As cores que disse mais e menos e o rosa tendo a mim representado. Dentro do
gostar no dia-a-dia são azul e marrom amparo de nossos pais, representado pela outra cor
respectivamente. Em relação ao material do teste, as envolta. Quero deixar claro que a proteção de
cores que mais e menos gostou foram Vi1 – ela nossos pais não nos enclausura. Temos as laterais
disse ser esta a cor da espiritualidade – e Vd1. para o nosso próprio esforço de crescimento.
A justificativa de Dalva para escolher a Dalva, demonstrando incongruência com a
primeira pirâmide como a mais bonita, atentando realidade de Caroline, ditou-nos as seguintes
para os aspectos cor e forma, foi: Porque as cores informações quando do preenchimento do
se combinaram e a formação ficou muito boa. Já protocolo: Nome: Dalva. Idade: 32. Sexo:
para a terceira pirâmide, escolhida como a menos Feminino. Estado Civil: Muito bem casada.
bonita, realçando necessidades de liberdade e Naturalidade: Escócia. Grau de Instrução: Meus
proteção familiar, ela verbalizou: Por causa da pais encontraram mestres para me instruir. Data:
formação. Dá impressão de falta de liberdade. Estamos no outono, entrando para o inverno, perto
Tanto o azul quanto o rosa parecem estar presos e da mudança de estação.
pressionados. Nas outras as cores estão juntas pela Em relação à síndrome cromática –
liberdade. Por outro lado, apesar da impressão de esbranquiçada –, Dalva apresentou enfraquecimento
falta de liberdade, eu quis representar três estrutural da personalidade. As cores azul,
personalidades – intenção explícita e específica. De vermelha, cinza e violeta estiveram aumentadas

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com prevalência significativa para esta última, o estabelecimento de relacionamentos profundos e
que indica perturbações na esfera emotiva. As autênticos. Em termos de variação cromática e de
demais cores mencionadas caracterizaram a matizes, Dalva obteve resultado rebaixado em
paciente como introvertida, sensível, carente relação à média esperada, indicando limitação
emocionalmente e reprimida afetivamente. A tensa, sentimentos de insegurança, inibição e medo
ausência da cor laranja pode indicar de se expor. O tempo de execução foi de 4’18” para
enfraquecimento estrutural, dissociação. Em relação a primeira pirâmide, 3’25” para a segunda e 2’50”
ao aspecto formal (ver a Figura 2), ela construiu as para a última pirâmide elaborada. Considerando os
pirâmides fazendo uso somente de estruturas – resultados apresentados, trata-se de pessoa com
simétrica para a primeira pirâmide, escada para a dificuldades emocionais e com indicadores
segunda e mosaico para a terceira –, o que indica, dissociativos.
respectivamente, capacidade cognitiva diferenciada, As elaborações de Caroline, bem como os
conflitos emocionais e desenvolvida inteligência. resultados apresentados quando da emersão de
Além disso, suas elaborações formais também Dalva indicam um contexto de multiplicidade e
assestam para contextos de divisão ou de reforçam características traumáticas da
dissociação da personalidade. O modo de colocação Personalidade Múltipla. Como enfatizado na
– simétrico para a primeira pirâmide, diagonal para discussão, o trauma, a divisão da personalidade, a
a segunda e direta para a terceira, todos ascendentes dissociação e a necessidade de integração,
– refletiu uma busca de equilíbrio, de integração, apresentaram-se plenos nas elaborações produzidas.
que pode ser conseqüência de sentimentos de Foram estes os resultados obtidos com a primeira
insegurança. O processo de execução foi ordenado aplicação do Teste das Pirâmides Coloridas de
durante todo o teste, indicando vontade de alcançar Pfister.
flexibilidade. A fórmula cromática obtida – 1 : 2 : 1 Nos mesmos moldes anteriores,
: 6 – foi classificada como restrita e flexível, apresentamos a seguir os resultados logrados com o
caracterizando uma pessoa cautelosa e inibida, re-teste de Caroline. Expomos ainda informações
capaz de se adaptar ao ambiente. As cores por dupla comparativas dos resultados alcançados no seu teste
– Az↑ Ci↑, Vm↑ Vi↑, Vd↓ Az↑, Vd↓ Vm↑ e Ci↑ e no re-teste. Como mostrado na Figura 3, as
Vm↑ – indicaram fechamento em si e introversão, elaborações piramidais obtidas no re-teste da
excitação e impulsividade, tendência ao paciente, também com ausência de trocas, foram:

1ª 2ª 3ª
Figura 3. Reprodução das pirâmides elaboradas por Caroline (re-teste).

A pirâmide que Caroline disse ter mais conflito nas cores. Não existem conflitos. A
gostado de fazer foi a terceira e a que gostou menos pirâmide está inteira. Já em relação a segunda
foi a segunda. As cores que disse mais e menos pirâmide, escolhida como a menos bonita,
gostar no dia-a-dia são azul e preta respectivamente. realçando novamente a questão da liberdade, ela
Em relação ao material do teste, as cores que mais e verbalizou: O branco e o azul estão impedindo a
menos gostou foram Az3 e Ma1. liberdade do verde.
A justificativa dela para escolher a terceira Enfatizamos que antes de iniciar a
pirâmide como a mais bonita, salientando elaboração da primeira pirâmide, após ficar
necessidade integrativa, foi: Porque não sinto mexendo nos quadrículos como que estudando as

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cores num tempo de latência igual a 2 minutos, monocromáticas – terceira pirâmide da primeira
Caroline verbalizou: Vou repetir a primeira aplicação –, na estrutura em mosaico – quarta
pirâmide que fiz da vez passada – referindo-se à pirâmide da primeira aplicação (ver a Figura 1) –, e
primeira testagem –, acrescentando um pouco mais na formação em camadas monotonais – terceira
do vermelho. Será um coração sangrando dentro pirâmide do re-teste (ver a Figura 3). A primeira
da escuridão. mencionada reflete busca de integração. A segunda,
Os indicadores obtidos por Caroline no re- um desejo de equilíbrio. A terceira, uma integração
teste demonstraram similaridade com os da primeira plena. Todas, entretanto, assestam para o desejo da
aplicação. Ou seja, cores mais significativas cura, para as reversões traumáticas e dissociativas
perfeitamente equivalentes, inclusive, com idênticos identificadas nas elaborações das pirâmides
valores obtidos para as cores azul e branca. anteriores.
Percentuais zerados para as cores violeta, laranja,
marrom e cinza. Além disso, síndromes cromáticas DISCUSSÃO
– fria e de contraste – análogas. Idêntico processo
de execução, ordenado, exceção para a parte inicial Para que a Personalidade Múltipla seja
na primeira aplicação, idêntica classificação para a desenvolvida num indivíduo é essencial que esta
fórmula cromática – restrita e instável – e idênticas pessoa tenha sido acometida por traumas reais e
cores por dupla – Az↑ Pr↑, Vd↓ Az↑ e La↓ Vi↓. severos, reincidentes e intermitentes, que tiveram
Ambas as variações cromáticas e de matizes foram papel fundamental no desencadeamento da
classificadas como rebaixada. dissociação consciencial e, conseqüentemente, na
Por outro lado, os aspectos formais fragmentação do psiquismo. Tais traumas, que
elaborados estiveram um tanto discrepantes. podem ser de natureza diversificada nos variados
Enquanto que na primeira aplicação (ver a Figura 1) quadros clínicos, não necessariamente irá gerar uma
Caroline fez uso de mosaicos – primeira e quarta mesma síndrome. Existem fatores outros, como a
pirâmides – e camadas monocromáticas – terceira capacidade de absorção ou de elaboração de
pirâmide –, no re-teste (ver a Figura 3) ela fez uso conteúdos traumáticos, que diferem de pessoa para
de estrutura em manto fechado – primeira pirâmide pessoa, explicando satisfatoriamente as razões de
– e formação em camadas monotonais – terceira uma mesma causa não gerar quadros clínicos
pirâmide. Apesar disso, as duas pirâmides idênticos (Kluft & Fine, 1993; Ross, 1989).
interpostas, segunda pirâmide de cada aplicação, Segundo alguns autores da área (Allison,
foram classificadas de maneira idêntica, ou seja, 1980; Kluft & Fine, 1993; Putnam, 1989; Ross,
como tendência à estrutura em manto. O modo de 1989; Steinberg, 1994), eventos traumáticos podem
colocação apresentou diferença somente em relação ocorrer em qualquer fase da vida, desde o
as primeiras pirâmides elaboradas: enquanto que a nascimento ou desde a mais tenra infância.
classificação foi simétrica no teste, no re-teste, foi Entretanto, o desenvolvimento da Personalidade
em manto. Nas demais, o modo de colocação foi Múltipla está diretamente vinculado a traumas
idêntico, ou seja, não evidenciado para as segundas ocorridos antes dos sete anos de idade. A gravidade,
pirâmides e ascendente e direto para as terceiras duração e proximidade da exposição de um
elaborações. O tempo de execução foi indivíduo ao evento traumático são fatores
significativamente menor no re-teste, isto é, 4’42” determinantes na probabilidade do transtorno. Tais
para a primeira pirâmide, 3’51” para a segunda e indivíduos apresentam pontuações significativas em
3’13” para a última pirâmide elaborada, medições da suscetibilidade à capacidade
demonstrando execução da tarefa de forma mais dissociativa e experimentam amnésia para a história
adaptada. pessoal tanto remota quanto recente. Em síntese, a
A principal observação, no nosso entender, seqüência obrigatória para o desenvolvimento da
que sugere convergência de necessidades da Personalidade Múltipla é:
paciente, está registrada na formação em camadas

Trauma Personalidade
Real Dissociação Alters Múltipla Integração
Figura 4. Esquema de desenvolvimento da Personalidade Múltipla

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O Teste de Pfister e o Transtorno Dissociativo de Identidade 367
Este esquema estabelece que fatores pirâmides segundo Villemor Amaral (1978). Como
traumáticos reais geram processos dissociativos. não existem outras pesquisas para comparações, à
Estes, por sua vez, fazem emergir alters, partir deste estudo, sugerimos cautelosamente que
característica maior da Personalidade Múltipla. Esta os valores de posição – ápice, centro e base dos
seqüência ou encadeamento resulta na busca, pela esquemas das pirâmides – pelo menos nos casos de
terapia, de um processo reverso, ou seja, num Personalidade Múltipla, estejam associados à
tratamento curativo para o transtorno, alcançado presença do ISH.
com a integração da fragmentação do eu, pela fusão Voltando à situação do teste, interrompido
das personalidades dissociadas (Hacking, 1995; naturalmente o processo dissociativo e espontâneo
Haddock, 2001; Kluft & Fine, 1993; Putnam, 1989; com Dalva, fato que fez com que Caroline
Ross, 1989). retornasse do seu processo de imersão sem ter
Os dados obtidos com a técnica de Pfister consciência do ocorrido, ela elaborou a terceira
sugerem uma homologação do esquema pirâmide conforme já registrado. Avaliamos que
apresentado. Na primeira aplicação (ver a Figura 1), sua construção assesta para a necessidade de
logo na pirâmide inicial, Caroline enfatizou a sua integração, objetivo maior do tratamento da
questão traumática numa estrutura em mosaico. Ela Personalidade Múltipla. Constatamos nesta
manifestou contextos inconscientes, projetando-se pirâmide – formação em camadas, ou estratificada –
na escuridão, na dor e no sofrimento. A estrutura a busca de uma fusão, que está representada pela
elaborada, bem como as cores selecionadas integração monocromática, cor azul em dégradé
retrataram integralmente o que hipotetizamos ser os (ver a Figura 1).
choques violentos vivenciados ao longo de sua vida. Aproveitando a elaboração da quarta
Em seguida, na segunda pirâmide – uma forte pirâmide de Caroline – estrutura em mosaico –
tendência à estrutura em manto –, hipotetizamos acentuamos o que hipotetizamos ser a busca do
que Caroline enfatizou a questão dissociativa. Da equilíbrio, o desejo das reversões traumáticas e
mesma forma, interpretamos que a base da pirâmide dissociativas. Enfim, a ênfase para a continuidade
representada, numa linguagem simbólica, pelo do processo de restabelecimento psíquico já
cerne do seu psiquismo, rompeu-se. Nitidamente, o vislumbrado na terceira pirâmide. Conforme
alicerce de sua estrutura consciencial está desfocado Villemor Amaral (1978) podemos dizer que,
do conjunto. A pirâmide está decepada ou mutilada geralmente, a presença do verde nas pirâmides tem
indicando, conforme Villemor-Amaral (2005), uma conotação positiva desde que situado dentro
implicações de fragilidade estrutural e prováveis dos padrões de normalidade, isto é, entre 18% e
alterações de pensamento. Neste momento da 20% aproximadamente, incidindo tais percentuais
execução do teste, primeira aplicação, ou seja, após com uma utilização mais expressiva das tonalidades
a construção da segunda pirâmide, ocorreu um Vd2 e Vd3, esta última caracterizada como
processo dissociativo espontâneo. Caroline imergiu tonalidade padrão. Realçamos que oito quadrículos
e Dalva emergiu. preenchidos com a cor Vd3, conforme identificado
Nas pirâmides elaboradas por Dalva (ver a na quarta pirâmide de Caroline (ver a Figura 1),
Figura 2) hipotetizamos as divisões inconscientes equivale à 18%. E, tal resultado representa valores
elaboradas. A primeira pirâmide, em seu aspecto normais, dentro da média, consoante registrado em
formal, é uma estrutura simétrica; a segunda é uma Villemor-Amaral (2005).
estrutura em escada; e a terceira é uma estrutura em Também não devemos deixar de referenciar
mosaico. Importante enfatizarmos que todas as o que Villemor Amaral (1978) chama de análise
elaborações da alter, no nosso entender, retrataram das pirâmides, em função dos diferentes planos da
divisão ou fragmentação. O resultado obtido por personalidade. Segundo este autor, supõe-se que o
esta personalidade demonstra a pertinência da indivíduo ao executar o teste apresente na primeira
seqüência do nosso esquema relativo ao trauma, elaboração um aspecto mais externo de sua
realçando a questão fragmentária da personalidade. personalidade. A segunda elaboração, ligada a uma
Adicionalmente, vale destacar o que associamos ser camada intermediária, corresponde a uma parte
a presença do ISH – Inner Self Helper – na primeira mais ou menos acessível do indivíduo e cujo
pirâmide de Dalva. Esta personalidade está controle é parcial. Finalmente, a terceira elaboração
representada no eixo central, vertical, pela cor cinza corresponde à parte mais profunda da sua
e sinaliza uma ênfase aos valores de posição, personalidade. Em síntese, a primeira elaboração
considerados pontos-chaves na execução das corresponde a características da personalidade que

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368 Marcello de A. Faria
podem estar sob o controle do indivíduo, porque extremamente cautelosas. São pessoas, via de regra,
conscientes; a segunda, está ligada ao pré- aparentemente sossegadas, calmas e que se
consciente, corresponde aos aspectos da desligam totalmente do mundo, quando se aplicam
personalidade cujo controle não está muito ao a um trabalho que as fascina.
alcance do indivíduo, mas que podem tornar-se Podemos dizer que Caroline apresenta
conscientes; por fim, a última elaboração está fora dificuldades para o controle das emoções e dos
do controle e do alcance do indivíduo e corresponde impulsos, demonstra capacidade adaptativa em
ao inconsciente. evolução, e capacidade relacional em processo de
Hipotetizamos que as pirâmides elaboradas estabilização aceitável. Os distúrbios dissociativos
por Caroline corroboraram a descrição acima. Na foram desencadeados por eventos traumáticos
primeira, ela retratou aspectos traumáticos de sua severos, ainda não totalmente elaborados
vida, sendo alguns, atualmente, conscientes e satisfatoriamente pela paciente. Adicionalmente, os
controlados. Trata-se do aspecto mais externo de dados trazidos pelos registros do tempo psíquico de
sua personalidade representado pela presença reação apontam para uma facilidade de
marcante de suas lembranças torturantes. A segunda desligamento total do mundo, fenômeno
pirâmide, a faixa pré-consciente do iceberg ou da característico da dissociação, comum no quadro
montanha de gelo flutuante (Hall & Lindzey, 1978), clínico da Personalidade Múltipla.
representada pela camada intermediária, a parte Por fim, os dados do re-teste, no nosso
mais ou menos acessível de Caroline, equivale às entender, corroboraram a primeira aplicação em
alters que emergem em processos dissociativos termos traumáticos, dissociativos e de integração. A
cada vez mais sob controle parcial dela. Na terceira primeira pirâmide ressaltou mais enfaticamente os
e última pirâmide, a camada mais profunda da fatores traumáticos. A segunda manteve a base
paciente – o seu inconsciente –, busca o bem-estar, dissociativa e a estrutura tendente a manto fechado.
a descarga das tensões e da ansiedade. Ou seja, O verde, Vd3, substituiu o amarelo, Am1, como se
busca o equilíbrio e a integração (ver a Figura 1). Caroline estivesse, inconscientemente, querendo
superar dificuldades de canalizar e expressar
Válido atentarmos para o desligar-se do emoções, passando a ter relacionamentos afetivos e
mundo e analisarmos mais detalhadamente o tempo sociais satisfatórios, além de uma esfera de contatos
de execução de Caroline para as suas elaborações sadios (Villemor-Amaral, 2005). Por fim, a terceira
piramidais. Lembramos que ela construiu a primeira pirâmide evidenciou mais fortemente a questão
pirâmide em 10’13”, a segunda em 4’29” e a fundamental do desejo de integração, representado
terceira em 4’. Para a quarta pirâmide levou apenas pela formação em camadas monotonais (ver a
2’. Esteve além para os valores medianos do teste, Figura 3).
mas, dentro dos parâmetros aceitáveis para o tempo
total de execução. Ênfase maior deve ser dada ao CONCLUSÃO
tempo da primeira pirâmide, fato que caracterizou
significativamente o chamado tempo psíquico de Os resultados logrados com este estudo de
reação. caso nos permitem considerar que o Teste das
Conforme Villemor Amaral (1978), em Pirâmides Coloridas de Pfister representa um
relação ao tempo de execução, os valores médios instrumento enriquecedor para a avaliação
variam entre 4 e 8 minutos para cada pirâmide e psicológica de pacientes múltiplos. Os aspectos
entre 15 e 20 minutos para o total das três amnésicos, as referências traumáticas e
pirâmides. Por ser nova, a execução da primeira dissociativas descritas na literatura para a
pirâmide, em geral, poderá exigir um pouco mais de Personalidade Múltipla foram identificados
tempo que as duas subseqüentes. O tempo psíquico significativamente: pela seqüência apresentada
de reação é fator que deve ser levado em segundo o esquema relativo ao trauma e à
consideração porque há indivíduos cujas reações dissociação; pelas análises interpretativas
normais são mais lentas e hesitantes, enquanto que pertinentes ao teste – modo de colocação, processo
outros executam habitualmente suas tarefas com de execução, síndromes cromáticas, fórmulas
maior precisão e rapidez. Por outro lado, há pessoas cromáticas, variação cromática e de matizes, cores
muito inseguras e com forte tendência à hesitação, por dupla e tempo de execução; pelo registro dos
que exigem longo tempo para executar suas valores de posição, bem como as divisões
pirâmides. São meticulosas, prudentes e elaboradas nas construções piramidais; pelo exame

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O Teste de Pfister e o Transtorno Dissociativo de Identidade 369
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Avaliação Psicológica, 2008, 7(3), pp. 359-370


370 Marcello de A. Faria
Recebido em Abril de 200
Reformulado em Julho de 2008
Aceito em Setembro de 2008

SOBRE O AUTOR:
Marcello de A. Faria: Marcello de Abreu Faria: Psicólogo, Mestre em Psicologia Clínica e Tecnólogo em
Informática. Adicionalmente, é Membro Regular da International Society for the Study of Trauma and
Dissociation (ISST-D), Sócio Efetivo da Associação Brasileira de Rorschach e Métodos Projetivos (ASBRo) e
Membro Titular do Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica (IBAP).

Avaliação Psicológica, 2008, 7(3), pp. 359-370

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