Filosofia 11 Ano
Filosofia 11 Ano
Filosofia 11 Ano
Impressões e ideias
A teoria do conhecimento de Descartes baseia-se inteiramente na razão. Descartes
pensa que as crenças básicas, nas quais se funda todo o conhecimento, em nada dependem
dos sentidos. Na verdade, sem as crenças básicas racionais, Descartes pensa que não pode
haver justificação para aceitar as impressões dos sentidos. Hume, contudo, tem uma
perspetiva inteiramente oposta.
Hume defende que tudo o que ocorre na nossa mente mais não é do que perceções.
No entanto, todos compreendemos a diferença entre sentir e pensar. Essa diferença é
explicada porque, segundo Hume, há duas classes de perceções: as impressões e as ideias.
No que toca às ideias, Hume considera que as da memória são mais fortes do que as da
imaginação.
Não é possível termos uma ideia de algo sem antes termos impressão da mesma.
Ex.: uma impressão é a cor da flor que os olhos veem; uma ideia é a memória dessa cor.
Uma impressão é a dor de dentes enquanto vivida; uma ideia é a lembrança dessa dor.
Aas impressões e as ideias podem ser classificadas como simples ou complexas. As simples
são aquelas que não admitem qualquer tipo de divisão, as complexas são aquelas que
podem ser divididas em várias ideias ou impressões simples.
Deus é uma ideia complexa que tem origem nas ideias simples de bondade, sabedoria,
perfeição, inteligência,...
As ideias simples derivam de impressões simples, mas muitas ideias complexas não resultam
de impressões complexas. o critério usado para distinguir uma ideia verdadeira de uma ficção
passa a ser a existência ou não de uma impressão que lhes corresponda, embora também as
ficções tenham por base, em última instância, as impressões uma vez que são ideias
construídas a partir delas.
Todo o conteúdo da nossa mente é constituído por ideias e impressões, derivando todo ele,
num primeiro momento, da experiência. É uma perspetiva contrária à de Descartes,
relembremos a propósito que o filósofo francês defendia a existência de ideias inatas
(racionalismo inatista).
Para Hume todo o nosso conhecimento está limitado à experiência. Desta forma, quando
ousamos ir além dos dados empíricos, estamos sempre sujeitos a cair no erro; David Hume
revela assim a sua faceta cética, nomeadamente um ceticismo metafísico.
Assim, Hume conclui que todas as nossas ideias são uma espécie de imagens
mentais, cuja origem está nas nossas impressões e que mesmo as ideias mais complexas têm
origem na experiência
Hume diz, por exemplo, que nenhuma pessoa conseguiria descobrir as propriedades explosivas
da pólvora apenas através do pensamento. Mas o que dizer de afirmações como «o dobro de
dois é igual à metade de oito»? Não podemos saber isso apenas através do pensamento? Sim,
concede Hume, só que isso nada nos diz sobre o mundo. Vejamos porquê.
Hume defende que todo o nosso conhecimento, tudo o que podemos afirmar, se
refere a questões de facto ou a relações de ideias. O que distingue o conhecimento ou as
afirmações sobre questões de facto do conhecimento ou das afirmações sobre relações de
ideias? A resposta é a seguinte:
- Negar uma afirmação sobre questões de facto não implica uma contradição.
Por exemplo, apesar de ser muitíssimo provável que o sol irá nascer amanhã ou que a
escola estará no mesmo sítio, é logicamente possível que isso não aconteça. Portanto, afirmar
que o sol não irá nascer amanhã ou que a escola não estará no mesmo sítio em que a
deixámos na véspera, não implica qualquer contradição da nossa parte.
O mesmo não acontece se afirmarmos que cinco vezes três não é igual à metade de trinta.
Isto sim, é algo logicamente impossível. Podemos conceber sem contradição que as paredes
exteriores do bloco A da escola não são brancas, mas não podemos conceber sem contradição
que num triângulo retângulo o quadrado da hipotenusa não é igual à soma do quadrado dos
catetos.
Uma verdade é contingente se sendo assim, poderia não o ser. Ou seja, se sendo verdadeira
poderia ser falsa. Uma verdade é necessária se não poderia ser diferente do que é. Se sendo
verdadeira não poderia ser falsa.
É uma verdade contingente que Aristóteles foi o fundador da Lógica, pois poderia ter sido
outro em vez dele. Mas é uma verdade necessária que um triângulo tem três lados, pois a ideia
de um triângulo com outro número de lados é inconcebível.
Relações de ideias e questões de facto distinguem-se ainda pelo seguinte:
- As verdades sobre relações de ideias são conhecidas de um modo a priori, basta-nos usar o
pensamento para conhecê-las ou usar o raciocínio dedutivo para demonstrá-las. Disso são
exemplo as verdades matemáticas.
Ex: 3x5= 15
Uma casa amarela é colorida
Nenhum casado é solteiro
Em conclusão e sintetizando
Eis alguns exemplos: O sol vai nascer amanhã; Todos os corvos são negros; Esta barra de metal
dilatou por causa do calor.
Todas estas afirmações referem-se a questões de facto, pelo que Hume considera que são
verdades contingentes, conhecidas a posteriori e que têm por base uma inferência causal.
Ora, dizer que o sol vai nascer amanhã é afirmar algo que não foi observado. E também não
podemos observar os corvos todos. Finalmente, com base apenas nos sentidos, só podemos
ver que a barra de metal dilatou e que está quente – mas não que dilatou por causa do calor.
Em qualquer destes casos, estamos a ir além da experiência. Isso só é possível através do
raciocínio indutivo (que nos permite generalizar e prever a partir de casos semelhantes no
passado e presente) e da utilização da ideia de causalidade (que julgamos refletir uma relação
de conexão necessária entre acontecimentos, como por exemplo entre o calor – causa – e a
dilatação da barra de metal – efeito).
O que significa isto? Não só que B acontece depois de A. A relação causal aqui exemplificada
quer dizer que sempre que aconteça A acontecerá B.
Isto é aquilo que chamamos de causalidade, não conseguimos ver utilizando os nosso
sentidos.
O barulho feito pela caneta é nos dado recorrendo aos sentidos mas a relação entre os 2
acontecimentos não.
A ideia de causalidade não é a priori já que o efeito não pode ser encontrado na causa por
examinarmos apenas o conceito de causa, uma causa produz vários efeitos.
Os factos apresentados como efeito e causa são diferentes, logo não podemos deduzir um do
outro (Do conceito de água não se traduz apenas molhar).
Hume conclui que a ideia de relação causal é formada com base na experiência.
Entre a causa e o efeito estabelece -se uma conexão necessária que não tem origem nem
a priori nem a posteriori já que o seu fundamento é o hábito, devido ao facto de a
natureza ser uniforme.
Hábito:
Não há conhecimento certo aqui
Dá-nos uma crença apenas de que algo que aconteceu no passado acontece no
futuro. Estamos habituados que depois de A vem B (conhecimento provável)
É um fundamento psicológico (forma-se na mente através do fundamento
indutível)
Não é justificado a priori nem a posteriori, apenas está na nossa mente.
Assim, em jeito de conclusão, a posição de Hume sobre a ideia de causalidade é a
seguinte:
O princípio da uniformidade da natureza não pode ser justificado à posteriori por intermédio
da experiência. Afirmar que a natureza é uniforme significa dizer que se até aqui a natureza se
comportou assim então no futuro irá ter o mesmo comportamento, contudo podemos
observar a natureza no passado e presente mas não no futuro.
Queremos justificar a indução mas a única resposta que encontramos é que a indução justifica
a indução. Se não conseguimos justificar esta crença, não conseguiremos justificar que o
conhecimento do mundo é possível.
Descartes considera que a experiência, dados os erros dos sentidos, não pode ser
fonte credível de conhecimentos, melhor dizendo, as suas informações não podem constituir
(dado que muitas vezes são enganadoras) crenças básicas que possam conduzir a outros
conhecimentos. O saber constrói-se com base em ideias inatas e, desde que siga um método
correto e Deus garanta o normal funcionamento da nossa razão, podemos alcançar verdades
objetivas (claras e distintas) sobre o mundo. Esta rejeição dos sentidos é uma convicção
fundamental de Descartes e marca a sua orientação claramente racionalista inspirada no
modelo dedutivo das matemáticas.
Para Hume, todas as ideias têm uma origem empírica. Todos os nossos conteúdos
mentais são perceções. Estas são de dois tipos: impressões e ideias. As nossas ideias são cópias
das nossas impressões e por isso não há ideias inatas.
2 —A possibilidade do conhecimento.
Quanto à objetividade das leis naturais defendida por pensadores não racionalistas como
Locke e Newton, o filósofo escocês argumenta que qualquer generalização, baseando-se em
factos passados e pretendendo valer para o que ainda não foi objeto de experiência, é incerta.
Nada podemos saber acerca do futuro porque nada nos garante que o futuro seja semelhante
ao passado. Não há conhecimento, propriamente falando, do que ultrapassa a nossa
experiência atual ou passada: o que aconteceu não serve como fundamento seguro da
previsão do que ainda não aconteceu.
Ceticismo? Sim, no sentido em que o nosso conhecimento não é certo e seguro. Mas uma
coisa é o valor científico dos nossos conhecimentos e outra a sua utilidade prática e vital:
sabemos que os nossos «conhecimentos científicos» são mais pretensão e desejo de segurança
do que saber, mas não podemos viver sem essas sábias ilusões.
3 — Os limites do conhecimento.
Descartes afirma que a razão apoiada na veracidade divina e nas ideias inatas pode
conhecer a realidade na sua totalidade ou, melhor dizendo, os princípios gerais de toda a
realidade: Deus, alma (cogito) e mundo são realidades que podem ser conhecidas.
4— Ciência e metafísica
Em Descartes, temos uma fundamentação metafísica da ciência, isto é, uma fundação
baseada em realidades metafísicas tais como Deus e cogito (mas sobretudo Deus, que é o
verdadeiro pilar do sistema científico que Descartes se propôs construir).