Livro - Estrutura e Funcionamento Da Educacao Basica
Livro - Estrutura e Funcionamento Da Educacao Basica
Livro - Estrutura e Funcionamento Da Educacao Basica
F
iel a sua missão de interiorizar o ensino superior no estado Ceará, a UECE,
como uma instituição que participa do Sistema Universidade Aberta do
Brasil, vem ampliando a oferta de cursos de graduação e pós-graduação
na modalidade de educação a distância, e gerando experiências e possibili-
dades inovadoras com uso das novas plataformas tecnológicas decorrentes
Estrutura e
da popularização da internet, funcionamento do cinturão digital e massi-
ficação dos computadores pessoais.
Comprometida com a formação de professores em todos os níveis e
a qualificação dos servidores públicos para bem servir ao Estado,
os cursos da UAB/UECE atendem aos padrões de qualidade
estabelecidos pelos normativos legais do Governo Fede-
Funcionamento da
ral e se articulam com as demandas de desenvolvi-
mento das regiões do Ceará. Educação Básica
12
História
Educação
Física
ISBN 978-85-78262-81-5
Ciências Artes
9 78 8578 26 2815
Química Biológicas Plásticas Computação Física Matemática Pedagogia
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados desta edição à UAB/UECE. Nenhuma parte deste material poderá
ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autori-
zação, por escrito, dos autores.
Editora Filiada à
Inclui bibliografia.
ISBN: 978-85-7826-281-5.
Tabela 1
Parte 1
Ideias & Concepções
Capítulo 1
Definindo conceitos
Objetivos
l Compreender o significado dos termos estrutura e funcionamento da edu-
cação básica.
l Entender a polissemia do termo política educacional no contexto brasileiro.
l Identificar as diferenças entre os termos gestão educacional e gestão escolar.
Introdução
A disciplina Estrutura e Funcionamento do Ensino envolve conhecimentos
de diversos campos. Neste capítulo faremos um exercício de esclarecer al-
gumas noções imprescindíveis ao conhecimento daqueles que irão atuar no
magistério da Educação Básica. Discutiremos os conceitos de estrutura e
funcionamento da educação, assim como ideias sobre política educacional e
gestão da educação.
2. Política Educacional
A expressão Política Educacional pode assumir significados diversos. Quan-
do usada com letras maiúsculas, refere-se ao setor da Ciência Política que
estuda as iniciativas do Poder Público em educação. Estas, por sua vez, de-
nominam-se políticas educacionais.
As ações governamentais costumam ser denominadas de políticas pú-
blicas. Assim, há políticas públicas de saúde, de educação e outras. As políti-
cas públicas no âmbito social são chamadas de políticas sociais. As políticas
educacionais (com minúsculas), portanto, são uma dimensão das políticas
sociais. Sobre a diferença entre o sentido das palavras em maiúsculas ou
minúsculas, vejamos uma passagem esclarecedora:
A Política Educacional (assim, em maiúsculas) é uma, é a Ciência Política em
sua aplicação ao caso concreto da educação, porém as políticas educacio-
nais (agora no plural e em minúsculas) são múltiplas, diversas e alternati-
vas. A Política Educacional é, portanto, a reflexão teórica sobre as políticas
educacionais (…) se há de considerar a Política Educacional como uma apli-
cação da Ciência Política ao estudo do setor educacional e, por sua parte, as
políticas educacionais como políticas públicas que se dirigem a resolver
questões educacionais (PEDRÓ & PUIG, 1998. Grifos nossos).
3. Gestão da Educação
As intenções do Poder Público traduzidas em políticas, ao serem transfor-
madas em práticas materializam-se na gestão. A gestão pública é integra-
da por três dimensões: o valor público, as condições de implementação e
as condições políticas.
O valor público, como a própria expressão revela, dá conta da intencio-
nalidade das políticas. Quando a Constituição afirma a educação como um
“direito de todos e dever do Estado e da família” (Art. 205) está professando
um valor público que, para ganhar materialidade, precisa se traduzir em políti-
cas. Estas, uma vez concebidas, são operacionalizadas através de ações que
concretizam a gestão.
Parte da dificuldade da gestão diz respeito ao fato de ela se situar na
esfera das coisas que têm que ser feitas, o que nem sempre agrada a todos.
As mudanças, por menores que sejam, atingem pessoas. Por isso mesmo
mudar nunca é simples – das coisas mais elementares, como a cor de uma
parede ou a inclusão e retirada de uma disciplina.
Gestão se faz em interação com o outro. Por isso mesmo, o trabalho de
qualquer gestor ou gestora implica sempre em conversar e dialogar muito. Do
contrário, as melhores ideias também se inviabilizam.
A negociação é outro componente importante desse processo porque
gestão é arena de interesses contraditórios e conflituosos. Nesse sentido, o
gestor que não é um líder em sua área de atuação, por certo, enfrenta dificul-
dades adicionais no desenvolvimento de seu trabalho.
Há ainda coisas que precisam ser feitas e independem de negociação.
Desagradam, mas são necessárias. Fazer bem feito o que tem que ser feito
costuma ser tarefa pouco fácil e impopular. A gestão, portanto, requer humil-
dade e aceitação. Administrar a escassez, gerir conflitos, tomar decisões em
situações complexas. E nada disso aparece nos manuais. A gestão, demanda
um exercício de tolerância para mover-se nas zonas de sombra da impopula-
ridade quando o desafio da prática assim exige.
Essas são apenas algumas considerações relativas ao terreno concre-
to da gestão, sobre as quais a literatura tende a silenciar. Depois desse breve
olhar em torno delas, é oportuno retomar aspectos mais teóricos, elucidando
o significado de termos que fazem parte do vocabulário comum sobre este
campo da tarefa educativa. Para fins da presente discussão, exploraremos
adjetivos que lhe agregam significado e valor. Trataremos, assim, da gestão
educacional e da gestão escolar.
16
SOFIA LERSHE VIEIRA
Síntese do capítulo
Neste capítulo estudamos alguns conceitos necessários ao conhecimento da
Estrutura e do Funcionamento do Ensino na educação brasileira. Esclarece-
mos o significado de ''estrutura'' e ''funcionamento'', discutindo sua aplicação
ao campo educacional.
Mencionamos a existência de uma articulação recíproca entre uma e
outra, destacando que quando uma escola tem boa estrutura e funcionamento
apresenta as condições necessárias à oferta de um ensino de qualidade.
Foram também discutidos os termos Política Educacional, política(s)
educacional(is), gestão da educação, gestão educacional e gestão escolar,
introduzindo-se ideias relativas à gestão educacional e à gestão escolar. No
Capítulo 2, retomaremos a discussão ao detalhar aspectos relativos à base
legal da educação brasileira.
Atividades de avaliação
1. Identifique se as alternativas a seguir são falsas ou verdadeiras:
a) O Ministério da Educação é o órgão encarregado das diferentes políticas
educacionais desenvolvidas pelo governo federal neste campo.
b) A política educacional é um setor de estudos da Ciência Política.
c) A Política Educacional é desenvolvida através de um conjunto de iniciativas
da União, dos Estados e dos Municípios.
2. Para os estudiosos da estrutura e do funcionamento do ensino, os portais
dos órgãos federais, estaduais e municipais ligados à educação costumam
ser uma preciosa fonte de informações. Como este livro trata de questões
nacionais, iremos recorrer, sobretudo, ao portal do Ministério da Educação
(MEC) e, nele, particularmente, os links da Secretaria da Educação Bási-
ca (SEB), do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e
do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
18
SOFIA LERSHE VIEIRA
Sites
http://portal.mec.gov.br - níveis e modalidades de ensino
http://www.planalto.gov.br – legislação
http://www.undime.org.br
Capítulo 2
Base Legal
Objetivos
l Compreender o percurso histórico da legislação educacional brasileira até
os dias atuais.
l Conhecer a base legal que orienta a educação brasileira.
Introdução
Neste capítulo trataremos da legislação educacional, tema indispensável ao
conhecimento sobre a estrutura e o funcionamento do ensino. A reflexão co-
meça por uma introdução histórica, fazendo-se uma breve reconstituição do
percurso das leis de reforma da educação no país.
Num segundo momento, são aprofundadas orientações da Constituição
Federal (CF) de 1988 e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB – Lei n° 9.394/96). Os assuntos focalizados são: o direito à educação e
o dever do Estado, os fins e os princípios da educação, os níveis e as modali-
dades de ensino, e os profissionais da educação.
2
As considerações
abordadas neste tópico
Também são abordados aspectos da base legal relativos à gestão edu- foram extraídas do estudo:
cacional, gestão escolar e gestão democrática. Para finalizar, são apresenta- VIEIRA, S. L. Leis de
das rápidas considerações sobre alguns desafios que permanecem, depois Reforma da Educação no
Brasil: Império e República
de vinte e quatro anos de promulgação da “Constituição Cidadã” e de dezes-
publicado pelo Inep, em
seis anos da aprovação da LDB. Passemos, pois, ao estudo dessas questões. 2008, como parte da
coleção Documentos
da Educação Brasileira.
1. Um pouco de história2 Conferir também a síntese
elaborada pela autora
A legislação é importante referência para aqueles que, de uma forma ou em: Desejos de reforma:
de outra, lidam com a educação no âmbito acadêmico ou nas diferentes esferas legislação educacional no
do Poder Público. Tanto por seu valor em si como pelo seu significado histórico, Brasil Império e República
as leis oferecem um registro ímpar de ideias e valores que circulam em deter- (2008b).
minada época. Por isso mesmo são objeto de permanente atenção e análise,
sobretudo por parte dos pesquisadores no campo da política educacional.
O estudo da História da Educação no Brasil evidencia que nosso país
sempre foi pródigo na elaboração de leis. Desde as origens da educação co-
20
SOFIA LERSHE VIEIRA
lonial fomos marcados pelo signo das reformas. Os primeiros jesuítas, quando
aqui chegaram, estavam orientados pelo espírito da Contra Reforma e o proje-
to educacional que buscaram implantar era fortemente influenciado pela Ratio
Studiorum, que expressava um rígido código de conduta, ideias e princípios
que deveriam orientar o ensino.
Até a proclamação da Independência, todas as orientações relativas
à educação do Brasil eram oriundas de Portugal. Foi somente a partir de
então que o país passou a conviver com uma legislação concebida pelos
dirigentes do nascente Império.
No intervalo compreendido entre esta primeira tentativa de ruptura com as
deliberações lusitanas e o advento da Proclamação da República, em novembro
de 1889, muitas medidas legais foram propostas. As principais iniciativas relativas
ao Império foram: a Constituição de 1824, a Reforma Januário da Cunha Barbosa
(1827), a Reforma Couto Ferraz (1854) e a Reforma Leôncio de Carvalho (1878 -
79). Dada sua relevância para a compreensão do período, também é importante
mencionar o Ato Adicional de 1834 que, embora não seja uma lei específica da
educação, veio a ser um instrumento legal bastante conhecido nesse campo.
Também as primeiras décadas do regime republicano são pródigas na
formulação de propostas de reforma. Durante a Primeira República (Repúbli-
ca Velha), que compreende o intervalo entre a curta presidência de Deodoro
da Fonseca (1889 - 1891) e a Revolução de 1930, é possível identificar um
amplo conjunto de propostas deflagradas pelo poder central. As iniciativas da
primeira fase da República foram: a Reforma Benjamin Constant (1890-91),
a Constituição de 1891, a Reforma Epitácio Pessoa (1901), a Reforma Riva-
dávia Corrêa (1911), a Reforma Carlos Maximiliano (1915) e a Reforma João
Luis Alves (1925).
A organização do campo educacional e o aumento da demanda por
escola deram continuidade a proposições de reforma. Estas, entretanto, iriam
traduzir-se em um corpo mais substantivo de medidas, em sintonia com o
contexto em que são concebidas.
É o caso específico das iniciativas relativas à Reforma Francisco Cam-
pos, no início dos anos trinta, e das Leis Orgânicas do Ensino, na década
de quarenta. Entre esses dois marcos da política educacional, situam-se as
Constituições de 1934 e de 1937, ambas portadoras de significado do período
histórico do qual são originárias.
Com a Constituição de 1946, as expectativas de mudanças no campo
educacional seriam traduzidas na ideia de uma Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB), prevista pela referida Carta Magna. A trajetória do
projeto dessa lei, entretanto, foi tortuosa e passaram-se muitos anos até que a
primeira LDB fosse promulgada, o que ocorreria em 1961.
21
Estrutura e Funcionamento da Educação Básica
A LDB de 1961 não teve longa vigência. Poucos anos depois de sua
aprovação, novas mudanças políticas motivariam alterações de grande porte
no campo educacional. Com a ditadura militar, inaugurada em 1964, o país
teria uma nova Constituição, em 1967. A reorganização do ensino superior se-
ria proposta através de um conjunto de documentos que veio a configurar-se
como a Reforma Universitária (1968). Mais tarde também seria apresentada a
Reforma do Ensino de 1° e 2° Graus (1971), voltada para a reestruturação do
ensino primário, ginasial e secundário.
A legislação do regime militar foi de duração relativamente longa, pro-
jetando-se ao início da chamada “transição democrática”, ou seja, o período
compreendido entre o final da ditadura e a retomada da democracia plena.
Em 1988 seria aprovada uma nova Constituição e, com ela, surgiram expec-
tativas de uma nova LDB.
Somente em 1996, contudo, a educação iria passar a conviver com no-
vos dispositivos legais, com a aprovação da segunda Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional e de medidas que vieram a instituir o Fundo de Manuten-
ção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério
(Fundef), através da Lei n° 9.424/96. Posteriormente, em 2006, em substituição
ao Fundef foi aprovado o Fundeb, com vigência a partir de 1° de janeiro de
2007. Este livro trata das principais orientações dessa legislação.
Saiba mais
Senado aprova fim da DRU no orçamento da Educação
A Desvinculação das Receitas da União (DRU) deixou de incidir gradativamente no orça-
mento da Educação até não ser mais cobrada, a partir de 2011. A proposta de emenda à
Constituição que prevê o fim do mecanismo – que autoriza o governo a reter 20% de toda
a arrecadação – foi aprovada ontem por unanimidade pelo plenário do Senado, após seis
anos de tramitação no Congresso. O projeto precisa, agora, ser promulgado em sessão
conjunta da Câmara e do Senado para entrar em vigor.
O fim da DRU na Educação será gradativo: de 12,5% em 2009, de 5% em 2010 e não
tendo mais incidência a partir de 2011. A extinção da desvinculação resultará em verba
extra de R$ 4 bilhões no Orçamento deste ano, previsto em R$ 41 bilhões. Em 2010, o fim
da DRU representará R$ 8 bilhões a mais.
Pelo mecanismo da desvinculação, o governo não precisava justificar, no projeto do
Orçamento da União, a destinação dos recursos retidos. A Educação também era afetada
pela DRU, uma vez que a Constituição determina que 18% da arrecadação com tributos
federais devem ser destinados ao setor. A estimativa do Ministério da Educação é a de que
o setor perdeu cerca de R$ 100 bilhões desde 1996, quando a DRU foi instituída.
"Se pudéssemos contar com estes recursos, teríamos mais professores com nível su-
perior, mais crianças na pré-escola e mais jovens no ensino médio", disse a senadora Ideli
Salvatti (PT-SC), autora da proposta.
Tramitação
A PEC, de número 96/2003, já havia sido aprovada em dois turnos pelo Senado, quando
recebeu parecer favorável do então senador Jefferson Péres (PDT-AM). A proposta, po-
rém, foi aprovada pela Câmara dos Deputados em setembro deste ano com alterações e,
por isso, precisou passar por nova rodada de votação no Senado, onde foi relatada pela
senadora Lúcia Vânia (PSDB-GO).
O fim da incidência da DRU na Educação chegou a ser negociado durante a análise da
prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), extinta
em dezembro de 2007. Senadores do PDT ganharam apoio de outros colegas para que o
projeto que prorrogava a CPMF só fosse aprovado se o governo aceitasse acabar com a
DRU na Educação.
A proposta aprovada institui também a obrigatoriedade da educação básica e gratuita
para crianças e jovens de 4 a 17 anos. De acordo com o projeto, essa medida será colocada
em prática gradativamente até 2016. Hoje, a lei exige a oferta de educação básica para
crianças de 6 a 14 anos. (Carol Pires, Agência Estado. 29 de outubro de 2009)
Saiba mais
Autonomia escolar contribui para eficácia do sistema de ensino,
aponta estudo
Dar mais autonomia para as escolas, aproximar os pais do dia a dia dos alunos e recrutar
universitários para suprir a falta de professores foram algumas das medidas adotadas pela
cidade americana de Nova York na tentativa de elevar os resultados dos seus alunos na
rede pública de ensino. A implantação dessas medidas refletiu, por exemplo, na elevação
do desempenho dos estudantes em provas de matemática: em 2009, 82% dos estudantes
atingiram padrões considerados adequados, ante 57% em 2006.
As ações implementadas em Nova York para reformar o sistema educacional local
foram reunidas em um estudo, divulgado nesta segunda-feira (3), em São Paulo, com o
propósito de servir de inspiração para as diversas esferas governamentais do Brasil. “O
sistema de ensino brasileiro é muito disfuncional. É preciso que seja desburocratizado. As
diretorias de ensino, geralmente, pouco acompanham a vida das suas escolas. Quando
visitam a escola, vão tomar cafezinho com o diretor. Não entram na sala de aula para
acompanhar diretamente o trabalho do professor”, afirmou Norman Gall, diretor executi-
vo do Instituto Fernand Braudel e co-autor do estudo, intitulado “A Reforma Educacional
de Nova York: Possibilidades para o Brasil”.
“A reforma deve ser bastante abrangente para ter resultado”, concorda Chris Cerf, sub-
secretário de Educação de Nova York, presente ao evento de lançamento. “Se o argumento
moral de que a educação pública deve prover igualdade de oportunidades não for convincen-
te, os países devem levar em consideração que, se quiserem ser bem sucedidos, precisarão
32
SOFIA LERSHE VIEIRA
investir em capital humano, como fizeram Singapura e Finlândia. A economia atual é baseada
em conhecimento e tecnologia.”
O trabalho, que é resultado de uma pesquisa de campo realizada no período de dois
anos pelo instituto e pela Fundação Itaú Social, deixa algumas recomendações para obter
bons resultados nos bancos escolares. Algumas delas são a adoção de uma “auditoria”
externa do sistema para elaborar uma visão estratégica do que deve ser feito; maior auto-
nomia para as escolas; ampliação da permanência dos estudantes nas escolas; e a tomada
de ações que garantam a efetiva segurança nas escolas. (Fernanda Calgaro do Portal G1,
em São Paulo, 03/08/2009)
Síntese do capítulo
Neste capítulo discutimos a Estrutura e o Funcionamento do Ensino, a partir
de elementos de sua base legal. Fizemos uma breve retrospectiva das refor-
mas educacionais brasileiras, observando que ao longo do tempo, existiram
muitas iniciativas de mudança através de dispositivos constitucionais e de leis
ordinárias.
Estudamos alguns aspectos da Constituição de 1988 e da LDB de 1996,
aprofundando questões relativas ao direito à educação e o dever do Estado,
os fins e os princípios da educação, os níveis e modalidades de ensino e os
profissionais da educação.
Também foram vistas orientações da legislação relativas à gestão edu-
cacional, gestão escolar e gestão democrática. Para concluir foram apon-
tados alguns desafios que permanecem, passados vinte e quatro anos da
aprovação da Constituição de 1988 e dezesseis anos da LDB. Embora tendo
dado largos passos no sentido da ampliação da escolaridade para todos, o
“imperativo de crescer com qualidade” persiste.
34
SOFIA LERSHE VIEIRA
Atividades de avaliação
1. O filme A Missão retrata a ação dos jesuítas num país da América Latina.
Procure assisti-lo e faça anotações sobre o processo educativo desenvol-
vido por eles. Traga suas observações para o primeiro encontro presencial.
2. Estabeleça a diferença entre níveis e modalidades de ensino. Busque sub-
sídios no texto da LDB para fundamentar seu ponto de vista.
3. Explique o significado de “direito público subjetivo”. Como é possível asse-
gurar seu cumprimento?
4. Tomando por base as três dimensões da gestão, analise a situação fictícia
descrita a seguir, buscando oferecer respostas para o problema: É início
do ano escolar e as matrículas estão abertas. Um pai, cujo filho nunca foi
à escola e tem 9 anos, procura uma vaga. A secretaria da escola diz que a
criança está “fora de faixa” e se recusa a matriculá-la. O pai ameaça denun-
ciar a escola. Você é o(a) diretor(a). O que se propõe a fazer?
5. Quais são as principais diferenças entre gestão educacional e gestão esco-
lar no que se refere à base legal?
6. Comente os desafios que permanecem na agenda das políticas educacio-
nais brasileiras. Que outros desafios você poderia apontar?
Sites
http://www2.camara.gov.br/legislacao
http://www.presidencia.gov.br/legislacao/
http://www.histedbr.fae.unicamp.br/
Capítulo 3
Financiamento da
Educação
Objetivos
l Compreender os mecanismos legais que orientam o financiamento da edu-
cação brasileira.
l Conhecer as diversas fontes de financiamento da educação brasileira.
l Entender o sistema de distribuição das responsabilidades e recursos na ofer-
Introdução
Para a grande maioria das pessoas as finanças públicas tendem a ser matéria
árida, desconhecida e desinteressante. Com o aumento de exigências legais
e do controle social em relação à transparência na gestão pública, contudo,
começam a haver melhores instrumentos de acompanhamento de gastos
neste setor. Ainda assim, por tratar-se de conteúdo técnico, é raro o cidadão
comum apropriar-se desses conhecimentos.
O financiamento é um dos fatores determinantes para a operacionali-
zação da política e da gestão da educação. Representa, pois, uma área de
conhecimento importante para todos aqueles que, de uma maneira ou de
outra, lidam com os problemas relativos à estrutura e ao funcionamento da
Educação Básica.
Este capítulo trata das receitas ordinárias da educação focalizando as
receitas previstas em lei e suas fontes orçamentárias; o Fundo de Manuten-
ção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissio-
nais da Educação (Fundeb); o Salário Educação; e os programas federais de
financiamento à educação.
Dando continuidade ao tema, apresentam-se outras receitas, incluindo
o investimento familiar, o investimento social privado e o investimento interna-
cional através de empréstimos. São referidas também as ações de voluntaria-
do que, embora não sejam recursos no sentido financeiro e estrito do termo,
representam uma nova forma de intervenção na escola pública.
36
SOFIA LERSHE VIEIRA
1. Fontes do Financiamento
Os recursos para a educação provêm de fontes diversas do setor público e do
setor privado. No primeiro caso, são movimentados através dos diversos órgãos
da administração direta e indireta no âmbito federal, estadual e municipal.
No segundo caso, originam-se de mensalidades pagas pelas famílias às
escolas privadas e de outras fontes de arrecadação e aplicação. Importante des-
tacar que, nos últimos anos, o setor privado vem aportando recursos financeiros
na educação pública, especialmente através de iniciativas desenvolvidas sob o
manto da responsabilidade social que tem no terceiro setor, constituído por funda-
ções, institutos e organizações não governamentais, seu grande baluarte.
O Quadro 1 permite visualizar a distribuição das fontes de recursos fi-
nanceiros da educação.
Quadro 1
Fontes da Educação
Governo Federal
Administração Direta Governos Estaduais
Setor Público Governos Municipais
Administração Indireta Fundações e Autarquias
Empresas Estatais
Famílias e Indivíduos
SENAI, SENAC,
Setor Privado Associações
Igrejas, clubes, etc.
Empresas Privadas
Fonte: VIEIRA, ALBUQUERQUE, 2002, p. 70.
As principais fontes de recursos da educação pública provêm das três
esferas governamentais: a União, o Distrito Federal e os Estados, e os Muni-
cípios. A educação é uma receita vinculada. Isto quer dizer que os recursos
a ela destinados estão previstos na própria Constituição Federal e na LDB,
como se pode ver em seu texto:
A União aplicará anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo da
receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de trans-
ferências na manutenção e desenvolvimento do ensino (CF Art. 212 e
LDB Art. 69).
2. Distribuição de responsabilidades
Em princípio, o governo federal exerce ação supletiva no financiamento da
Educação Básica, com vistas à garantia de uma distribuição mais equitativa
de recursos e um padrão mínimo de qualidade, considerando, para tanto, o
esforço fiscal e a capacidade de atendimento de cada instância administrativa
(LDB, Art. 75, §1° e 2°).
Esta ação supletiva e redistributiva é também condicionada à aplicação,
pelos demais níveis de governo, dos mínimos definidos constitucionalmente
(LDB, Art. 76), sem prejuízo do disposto em outras leis que tratam da inter-
venção no Estado (CF, Art. 34) e no Município (CF, Art. 35), além do crime de
responsabilidade (VERAS & VIEIRA, 1997).
A partir do que se viu em relação aos temas abordados até aqui, pode-
-se afirmar que o financiamento da educação pública é uma tarefa de respon-
sabilidade das três esferas do Poder Público. O Quadro 2 permite visualizar
como estas fontes são distribuídas.
38
SOFIA LERSHE VIEIRA
Quadro 2
Quadro 3
5. Salário-Educação
O Salário-Educação (SE) é outra importante fonte de recursos da educação
pública. Até 2006, o Fundef era fonte exclusiva do Ensino Fundamental po-
dendo ser aplicado em Educação Especial vinculada à referida etapa de en-
sino. Com a aprovação da Emenda Constitucional n° 53, de 19 de dezembro
de 2006, sua destinação é ampliada para a Educação Básica, como se vê
através da nova redação do Artigo 212 da Carta Magna:
ção especial públicas e das instituições privadas definidas pelo Censo Escolar
como comunitárias e filantrópicas.
Para os alunos de Ensino Fundamental são destinados livros de língua por-
tuguesa, matemática, ciências, história e geografia, que serão estudados durante
o ano letivo, sendo que os estudantes de primeira série recebem uma cartilha de
alfabetização. Para os alunos de Ensino Médio, são destinados livros de portu-
guês, matemática, história, biologia e química. Em 2008, foram escolhidos os li-
vros de geografia e de física que passaram a ser utilizados pelos alunos em 2009,
atendendo a pleito antigo dos professores que atuam nesta etapa de ensino.
O quantitativo de exemplares a ser adquirido é definido com base no
Censo Escolar, realizado anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), cujos dados orientam as ações
de aquisição do FNDE.
Os programas de livros didáticos gerenciados pelo FNDE são mantidos
com recursos financeiros do Orçamento Geral da União, a maior parte dos
quais oriundos da arrecadação do Salário-Educação.
Em 2009, o Governo Federal investiu R$ 577,6 milhões na compra de
livros didáticos para a educação básica. Em 2010, só para os livros a serem
usados por alunos do 1º ao 5º ano foram R$ 427,6 milhões de investimento em
aquisição e R$ 85,8 milhões em distribuição. Além disso, livros de reposição
foram comprados e distribuídos para estudantes do 6º ao 9º ano do ensino fun-
damental (R$ 80 milhões) e das três séries do ensino médio (R$ 97 milhões).
O Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) foi criado em 1997,
com o objetivo de incentivar o hábito da leitura na escola. Seu foco é a aquisi-
ção e distribuição de obras de literatura brasileira e estrangeira, infanto-juvenis,
de pesquisa, de referência, além de outros materiais de apoio a professores e
alunos, como atlas, globos e mapas.
Desde 2005, sua ação tem se concentrado na ampliação de acervos
de bibliotecas escolares. Em 2006, foram investidos R$ 46,3 milhões para
atender 46.700 escolas com aproximadamente 14 milhões de alunos do En-
sino Fundamental.
Em 2010, acervos compostos por títulos de poemas, contos, crônicas,
teatro, textos de tradição popular, romances, memórias, biografias, ensaios,
histórias em quadrinhos e obras clássicas, contemplaram cerca de 24 milhões
de alunos. A distribuição envolve 10,7 milhões de livros a todas as escolas pú-
blicas da educação infantil (86.379 escolas), do ensino fundamental (122.742
escolas do 1º ao 5º ano) e da educação de jovens e adultos (39.696 escolas).
Ainda em 2010, o PNBE atendeu através de um programa inovador, os
professores da rede pública que receberam livros direcionados à orientação
do ensino em cada disciplina da educação básica. Tal ação tem como obje-
46
SOFIA LERSHE VIEIRA
7. Outras receitas
Neste tópico focalizaremos recursos da educação obtidos através de recei-
tas de natureza diversa daquelas previstas na Constituição e na LDB. Iremos
nos deter sobre algumas dessas fontes: os gastos feitos pelas famílias com
educação; o investimento social privado desenvolvido através de fundações,
institutos e outras organizações.
48
SOFIA LERSHE VIEIRA
8. Investimento familiar
Uma fonte de recursos do financiamento da educação são as despesas feitas
pelas famílias em diferentes níveis e modalidades de ensino. Aqui o uso da pa-
lavra “investimento” é proposital. Embora na classificação de despesas a edu-
cação seja um bem de consumo, em verdade, representam “investimentos”,
ainda que simbólicos, em educação. Com efeito, a educação é um bem imate-
rial de valor indiscutível na sociedade contemporânea e no mundo do trabalho.
É óbvio que os gastos com educação dependem da condição econô-
mica das famílias e são proporcionais às suas receitas. Quanto mais pobres
as famílias, menores os gastos com educação traduzidos em mensalidades,
livros, materiais escolares e fardamento.
Assim, essas despesas são proporcionais às matrículas no âmbito das
redes pública e particular. Como a maioria dos estudantes da Educação Bási-
ca está matriculada em escolas públicas, o percentual total de despesas com
educação privada tende a ser baixo.
Os estudos sobre essa matéria são escassos e, em geral, resultam de
pesquisas demográficas sobre distribuição de renda familiar. O relatório de
um Grupo de Trabalho sobre Financiamento da Educação, constituído pelo
Ministério da Educação, em 2003, mostra que, de maneira geral, o gasto das
famílias com educação é muito reduzido, situando-se abaixo dos itens alimen-
tação, habitação, transporte e outros.
49
Estrutura e Funcionamento da Educação Básica
Projeto Nordeste II, na década seguinte, acordo que envolveu os nove esta-
dos da região com a intermediação do governo federal. Depois disso, no final
dos anos noventa surgiu o Fundo de Desenvolvimento da Escola (Fundesco-
la), que será analisado em maior detalhe.
Além desses acordos firmados com a interveniência direta da União,
outros foram desenvolvidos diretamente com estados. Recorreram a emprés- 10
Para maiores
timos do Banco Mundial os governos de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, esclarecimentos sobre tais
Bahia, Ceará e Pernambuco10. iniciativas, acessar o site do
O Fundescola é “um programa do Fundo Nacional de Desenvolvimento Banco Mundial (http://web.
worldbank.org - Link: Perfis
da Educação (FNDE), executado em parceria com a Secretaria de Educa-
dos Projetos Educação,
ção Básica do Ministério da Educação (SEB/MEC) e desenvolvido com as Saúde e Proteção Social)
secretarias estaduais e municipais de Educação das regiões Norte, Nordeste e das secretarias de
e Centro-Oeste” (Disponível em: <http://www.fnde.gov.br> Acesso em: 22 jan educação dos referidos
2008). Financiado com recursos do governo federal e de empréstimos da or- estados.
dem de 320 milhões de dólares por parte do Banco Mundial (Disponível em:
<http://web.worldbank.org> Acesso em: 22 jan. 2008), orienta-se para a melho-
ria da qualidade das escolas de Ensino Fundamental, ampliando a permanên-
cia na escola e escolaridade dos alunos das regiões atendidas.
Este programa visa assegurar o alinhamento do sistema e o fortaleci-
mento da escola, atuando em três níveis: o primeiro envolve a comunicação,
mobilização e o controle social; o segundo privilegia o apoio institucional ao
desenvolvimento da escola mediante ações voltadas para o fortalecimento do
sistema educacional; o terceiro enfatiza o desenvolvimento baseado na esco-
la com ações descentralizadoras voltadas para sua autonomia.
Instituído em 1998, a iniciativa localiza seus investimentos em municí-
pios das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
A carteira de projetos do Fundescola está distribuída em doze diferentes
ações: Planejamento Estratégico da Secretaria (PES), Plano de Desenvolvi-
mento da Escola (PDE), Projeto de Melhoria da Escola (PME), Escola Ativa,
Programa de gestão e aprendizagem escolar (Gestar), Programa de apoio à
leitura e à escrita (Praler), Padrões Mínimos de Funcionamento das Escolas
(PMFE), Microplanejamento Educacional, Levantamento da Situação Escolar
(LSE), Projeto de Adequação do Prédio Escolar (Pape), Espaço Educativo –
Construção de Escolas, Programa de Melhoria da Qualidade do Mobiliário e
Equipamento Escolar (PMQE).
Conforme esclarece o portal do FNDE,
Síntese do capítulo
Neste capítulo discutimos aspectos relativos ao financiamento da Educação
Básica, de modo particular as receitas ordinárias, ou seja, aquelas previstas
pela Constituição e pela LDB.
Foram detalhados aspectos relativos aos dispositivos legais, explicitan-
do as fontes do orçamento deste nível de ensino, o Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da
Educação (Fundeb); o Salário Educação; e os programas federais de financia-
mento à educação.
A reflexão buscou oferecer um entendimento dos principais assuntos
desta matéria que, embora seja muito importante para a estrutura e o funciona-
mento do ensino, nem sempre é suficientemente conhecida pelos professores.
Também estudamos as receitas não ordinárias da educação, por isso
mesmo chamadas de “outras receitas”, as quais representam um aporte con-
siderável de recursos investidos na área. Ao examinar os investimentos fa-
miliares em educação, foi possível notar que o percentual do orçamento das
famílias investido nesse segmento é bastante reduzido.
O investimento social privado foi outro tema focalizado no capítulo,
quando se discutiu a atuação de algumas fundações e institutos através de
projetos de apoio à educação pública.
53
Estrutura e Funcionamento da Educação Básica
Atividades de avaliação
1. Acesse o site do FNDE: http://www.fnde.gov.br. Localize o link relativo ao
Salário-Educação – Perguntas Frequentes e enriqueça seus conheci-
mentos sobre a matéria. Caso tenha dúvidas, traga suas questões para
serem debatidas em sala de aula.
2. Comente a observação a seguir: “as finanças públicas são imensas caixas
pretas controladas por duas ou três pessoas” (CAMPOS, 2007- a, b). Apon-
te exemplos que justifiquem seu ponto de vista.
3. Qual a importância dos programas federais (PNAE, PNLD e PDE) para a
qualidade do ensino público? Você concorda com o princípio da transfe-
rência de recursos através de procedimentos dessa natureza? Justifique
seu ponto de vista.
4. Como você vê a contribuição do financiamento internacional no campo da
Educação Básica? Justifique seu ponto de vista.
5. Escolha uma das fundações ou institutos referidos no capítulo e procure
aprofundar uma de suas iniciativas no campo da educação. Compartilhe
suas opiniões com os colegas de turma.
6. Considerando sua própria história de vida, discuta a contribuição dos inves-
timentos familiares em educação.
54
SOFIA LERSHE VIEIRA
Brinquedos,
Reserva
Casa Lazer Saúde Educação computadores Vestuário Total
financeira
e tel. celular
Quanto custa Festas de
Berçário
ter um filho do aniversario
Escola
nascimento Babá Academia
Médicos Faculdade
até o 23º Empregada Clube
particulares Cursos
aniversario Alimentação Cinema
Plano de extracurriculares
Luz Teatro
saúde Material didático
Telefone Shows
Farmácia Transporte
TV a cabo Férias
Lanche
Viagens
Mesada
Passeios
1,6
Gastos em R$ 233.400 325.600 123.000 601.400 119.600 119.600 86.400
milhão
55
Estrutura e Funcionamento da Educação Básica
Sites
portal.mec.gov.br/seb
www.fnde.gov.br
http://www.redefinanciamento.ufpr.br
Fundação Banco do Brasil – http://www.fbb.org.br
Fundação Bradesco – http://www.fb.org.br
Fundação Itaú Social – http://www.fundacaoitausocial.org.br
Grupo de Institutos Fundações e Empresas (GIFE) – http://site.gife.org.br
Instituto Ayrton Senna – http://senna.globo.com
Instituto Unibanco – http://www.unibanco.com.br
Instituto Faça Parte – http://www.facaparte.org.br
Amigos da Escola – http://amigosdaescola.globo.com
Banco Mundial – www.bancomundial.org.br
57
Estrutura e Funcionamento da Educação Básica
Parte 2
Números & Práticas
Capítulo 4
Indicadores
da Educação Básica
Objetivos
l Entender a importância dos indicadores educacionais para definição e pla-
nejamento das políticas públicas.
l Conhecer o perfil da população brasileira no que tange a alguns indicadores
educacionais.
l Analisar indicadores de acesso da população brasileira à educação básica
ao longo dos últimos vinte anos.
Gráfico 1
12
Os dados apresentados Taxa de analfabetismo da população de 15 ou mais anos
nesta seção fazem parte de idade segundo categorias selecionadas, 1992 - 2009
de estudo mais amplo
sobre o tema: Dimensão
4 – Dinâmica Social
– Educação Básica
(Infantil, Fundamental e
Médio), de VIEIRA, VIDAL
& HOLANDA, 2006. Ver
também: VIEIRA & VIDAL,
2007a e VIEIRA & VIDAL,
Gráfico 2
Média de anos de estudos da população de 15 anos ou mais anos
de idade por categorias selecionadas, 1992 – 2009
educar adultos. Esse é um analfabetismo que é triste e sobre o qual a gente tem pouco poder
de ação", acrescenta. Medeiros acredita que o próprio movimento demográfico vai ajudar a
reduzir as taxas no futuro. "Os adultos analfabetos que foram produzidos no passado são em
número muito maior do que a produção de analfabetos de hoje. Atualmente as crianças vão
para a escola muito mais do que no passado, então naturalmente vai ocorrer uma queda siste-
mática da taxa de analfabetismo", analisa. (Amanda Cieglinski, Da Agência Brasil)
Gráfico 5
Ensino Fundamental – Evolução de matrículas 1995-2011
desta discussão, conferir: ção expressa a combinação de dois fatores mutuamente articulados: de um
Vieira, Vidal e Costa (2007). lado, a redução do crescimento da população na faixa etária corresponden-
te a esta etapa da Educação Básica; e, de outro, uma relativa diminuição na
distorção idade-série15.
Os dados do Ensino Fundamental mostram que o maior número de
matrículas ocorreu em 1999, quando se chega a 36.059.724 alunos, sendo
90,9% na rede pública e 9,1% na rede privada. Considerando o período
1999-2011, observa-se um decréscimo de matrículas nesta etapa de ensino
de 19,9%, fato associado ao comportamento da estrutura etária brasileira, e
aos esforços de correção da distorção idade-série desenvolvidos nas duas
últimas décadas.
Dados do IBGE confirmam que, nos últimos 15 anos (1992 – 2007), o
país está vivendo uma transição demográfica que implica numa significativa
diminuição do peso relativo das crianças e jovens de 0 a 19 anos sobre o
total da população (de 44,6% em 1992 para 36,2% em 2005).
Este movimento na estrutura etária explica, em parte, a redução da
frequência escolar no Ensino Fundamental, uma vez que a população de 5
a 14 anos diminui em 19,8%, passando de 23,2% em 1992, para 18,6% em
2005 (VIEIRA, VIDAL & COSTA, 2007).
67
Estrutura e Funcionamento da Educação Básica
Gráfico 6
Ensino Médio – Evolução de matrículas 1995 - 2011
Síntese do capítulo
Neste capítulo foram estudados alguns indicadores de acesso, sendo exami-
nados dados sobre o perfil da população brasileira e sobre a oferta de matrí-
culas nas diferentes etapas da Educação Básica.
Constatou-se através do analfabetismo de jovens e adultos e do núme-
ro de anos de estudo da população adulta que o perfil educacional da popula-
ção brasileira ainda está muito aquém do desejável para um país que almeja
atingir patamares de desenvolvimento compatíveis com nações consideradas
de primeiro mundo.
No que se refere à distribuição de matrículas na Educação Básica,
observou-se um notável crescimento em termos absolutos, assim como o au-
mento significativo da oferta de educação pública, embora a Educação Infantil
e o Ensino Médio não estejam universalizados.
Embora o ciclo de crescimento do Ensino Fundamental tenha se con-
cluído com a quase completa universalização desta etapa de ensino, no que
tange à oferta de educação infantil ainda permanece o desafio de ampliação
de vagas, especialmente para as crianças de 0 - 3 anos (creche).
O Ensino Médio, por sua vez, não confirmou o crescimento previsto
no início da década, embora tenha registrado significativo aumento nas ma-
trículas até 2005. A partir de então, observa-se um pequeno decréscimo em
relação a 2005, seguido de certa estabilidade.
70
SOFIA LERSHE VIEIRA
Atividades de avaliação
1. Examine as definições de indicadores apresentadas a seguir. Discuta a
relevância desse conhecimento para a Educação Básica.
Indicadores são, resumidamente, atributos que facilitam a compreensão
de determinada situação. Bons “indicadores são aqueles aplicados na prá-
tica, que geram informações, são confiáveis e suscitam reflexões” (http://
www.gife.org.br)
Indicadores “são modos de representação – tanto quantitativa quanto qua-
litativa – de características e propriedades de uma dada realidade: proces-
sos, produtos, organizações, serviços” (http://www.sustentabilidade.org.br
– Acesso em: 08/02/2008).
Indicadores “são ferramentas para acompanhamento e avaliação dos pro-
cessos” (http://quali-blog.wordpress.com – Acesso em: 08/02/2008).
2. Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio foram definidos em 2000 e es-
tabelecem metas de longo prazo a serem atingidas pelos países membros
das Nações Unidas. A situação do Brasil, conforme descrita pelo Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) assim se encontra:
“No Brasil, os dados são de 2005: 92,5% das crianças e jovens entre 7 e 17
anos estão matriculados no ensino fundamental. Nas cidades, o percen-
tual chega a 95%. O objetivo de universalizar o ensino básico de meninas
e meninos foi praticamente alcançado, mas as taxas de frequência ainda
são mais baixas entre os mais pobres e as crianças das regiões Norte e
Nordeste. Outro desafio é com relação à qualidade do ensino recebida”.
Qual a sua opinião sobre a situação do Brasil em relação a esse objetivo?
3. Comente a frase a seguir, expressando seu ponto de vista sobre as implica-
ções para a educação brasileira: Os dados indicam que ainda é elevado o
analfabetismo entre jovens e adultos no Brasil. Ao mesmo tempo, a média
de anos de estudo é baixa. Constata-se ainda que há grande descompasso
entre a oferta de Ensino Fundamental e outras etapas da Educação Básica.
4. O Gráfico 5 a seguir refere-se à distribuição de matrículas na Educação
Superior presencial. Examine atentamente a tendência de expansão por
rede neste nível de ensino e compare com os dados relativos à Educação
Básica. Expresse sua opinião sobre as tendências observadas:
71
Estrutura e Funcionamento da Educação Básica
Gráfico 7
Ensino Superior – Evolução de matrículas 1995-2011
Sites
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – http://www.ibge.gov.br
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) – http://www.
pnud.org.br
UNESCO Institute for Statistics (UIS) – http://www.uis.unesco.org
Capítulo 5
Indicadores de sucesso:
a construção da qualidade
Objetivos
l Conhecer os mecanismos de funcionamento do Censo Escolar e a forma
como são elaborados alguns indicadores educacionais.
l Compreender a situação de desempenho escolar do Brasil no contexto in-
ternacional.
l Entender o que é e como funciona o Saeb e o Enem, discutindo alguns
resultados históricos.
l Descrever o Ideb e refletir sobre sua importância na criação de uma política
de accountability.
Introdução
Vimos no capítulo anterior que o Brasil foi capaz de ampliar significativamente
a oferta escolar, representando uma importante conquista para amplos seg-
mentos sociais antes excluídos do acesso à escola. Tais circunstâncias trou-
xeram novos desafios à política educacional e à gestão dos sistemas, cujas
respostas nem sempre foram compatíveis às demandas de uma educação de
qualidade para todos. A escola, por sua vez, teve dificuldades em ajustar-se
a uma clientela advinda de famílias para quem a cultura letrada nem sempre
esteve incorporada ao seu cotidiano.
Embora o Brasil venha investindo em educação um percentual seme-
lhante ao Produto Interno Bruto (PIB) de outros países, a comparação entre
os indicadores educacionais deixa claro que não estamos logrando êxito
em equacionar questões que há muito deveríamos ter superado (VIEIRA
& VIDAL, 2007a). Iniciamos o novo milênio com uma agenda que acumula
problemas do passado e do presente, anunciando outros, dos tempos que
começamos a enfrentar.
Apesar do incomensurável volume de recursos investidos em políticas
de expansão e aprimoramento da Educação Básica, como vimos em capitulo
anterior, ainda se convive com sérios déficits de atendimento nesse nível de
ensino, em particular na Educação Infantil e no Ensino Médio. A infraestrutura
74
SOFIA LERSHE VIEIRA
Gráfico 8
Ensino Fundamental – Taxas de reprovação Brasil e regiões 1999 - 2011
Gráfico 9
Ensino Médio – Taxas de reprovação Brasil e regiões 1999 - 2011
78
SOFIA LERSHE VIEIRA
Gráfico 10
Ensino Médio – Taxas de abandono Brasil e regiões 1999-2011
trata-se de uma questão cultural no Brasil. "A falha está nos governos de nosso país que
nunca reconheceram a necessidade de educar bem sua população. Há uma sucessão de
governos que abandonam os pobres em setores como saúde, transporte e também edu-
cação. Como educação não dá voto, os políticos não se sentem obrigados a dar a atenção
necessária", observa o professor da Universidade de Brasília (UnB). (Alessandra Moura
Bizoni, Folha Dirigida, 23/06/2009 – Rio de Janeiro RJ)
Gráfico 11
Lingua Portuguesa 4ª série EF – Médias de desempenho Saeb
Brasil, Nordeste e Ceará 1995 - 2011
82
SOFIA LERSHE VIEIRA
Gráfico 12
Matemática 4ª série EF – Médias de desempenho Saeb
Brasil, Nordeste e Ceará 1995 - 2011
Gráfico 13
Matemática 4ª série EF – Médias de desempenho Saeb
Brasil, Nordeste e Ceará 1995 - 2011
Gráfico 14
Gráfico 16
le. Em Matemática, ocupou o 3º lugar nas duas séries, perdendo para Cuba e
Argentina. Há que se salientar que Cuba ocupa a 7ª posição entre os países
no que se refere ao IDH e a 9ª posição no PIB per capita.
O Segundo Estudo Regional Comparativo e Explicativo (SERCE) foi
aplicado em 2006 e avaliou o desempenho dos estudantes da 3ª e 6ª séries
do Ensino Fundamental, nas disciplinas de Matemática, Linguagem (Leitura e
Escrita) e Ciências, na América Latina e o Caribe, indagando também sobre
os fatores associados a esses desempenhos.
Quadro 6
Textos complementares
Evasão escolar: um drama a ser combatido
Depois da universalização das oportunidades de educação, o Brasil tem pela frente o de-
safio de garantir a permanência de crianças e jovens na escola e de aprimorar a qualidade
do ensino. Dados do relatório da Unicef, intitulado "Situação da infância e adolescência
brasileira – 2009 – O Direito de Aprender", divulgados no dia 9 deste mês, revelam alguns
avanços no setor educacional conquistados nos últimos 15 anos e também a deficiência
dos sistemas, que espelham as desigualdades sociais e econômicas do país.
Segundo o estudo, pouco mais da metade dos alunos (53,7%) conseguem completar o
ensino fundamental e os dados são ainda piores no ensino médio (50,9%). Além disso, há
problemas de aprendizagem: apesar de passarem em média aproximadamente dez anos
na escola, os estudantes brasileiros completam com sucesso pouco mais de sete séries,
portanto, menos do que a escolaridade obrigatória. Os altos índices de evasão também
preocupam. Atualmente, há 680 mil crianças em idade escolar fora do ensino fundamen-
93
Estrutura e Funcionamento da Educação Básica
Síntese do capítulo
Neste capítulo foi discutido o conceito de qualidade do sistema educacional
e apresentado um conjunto de indicadores considerados relevantes para
aferir se um sistema educacional apresenta atributos que apontam para a
qualidade ou não.
As taxas de rendimento escolar (aprovação, reprovação e abandono)
e os sistemas de avaliação de desempenho escolar – internacionais e nacio-
nais – Pisa, LLECE, Saeb e Enem mostram as dificuldades que o sistema de
educação pública do Brasil vem enfrentando no que tange aos indicadores
de qualidade.
Contextualiza também a criação do Ideb e as evidências que apon-
tam para a criação de uma política de accountability educacional que está
em andamento no país, discutindo sobre os resultados obtidos na série
histórica 2005-2011.
95
Estrutura e Funcionamento da Educação Básica
Atividades de avaliação
1. Com base nas informações apresentadas neste capítulo, leia a passagem
de texto a seguir e expresse seu ponto de vista sobre o assunto.
“Um sistema educacional que reprova sistematicamente seus estudantes, fazendo que
grande parte deles abandone a escola antes de completar a educação básica, não é de-
sejável, mesmo que aqueles que concluam essa etapa atinjam elevadas pontuações nos
exames padronizados. Por seu lado, um sistema em que os alunos concluem o ensino
médio no período correto não é de interesse caso eles aprendam muito pouco. Em suma,
um sistema ideal seria aquele no qual todas as crianças e adolescentes tivessem acesso à
escola, não desperdiçassem tempo com repetências, não abandonassem os estudos pre-
cocemente e, ao final de tudo, aprendessem. No Brasil, a questão do acesso está pratica-
mente resolvida, uma vez que quase a totalidade das crianças ingressa no sistema educa-
cional. Nosso problema ainda reside nas altas taxas de repetência, na elevada proporção
de adolescentes que abandonam a escola sem concluir a educação básica e na baixa pro-
ficiência obtida por nossos estudantes em exames padronizados”. (FERNANDES, 2007, p.
7. Disponível em: <http://www.publicacoes.inep.gov.br> Acesso em: 08/fev. 2008)
Sites
Os interessados em ter acesso às bases de dados educacionais, bem como
às publicações que envolvem o assunto, precisam visitar constantemente os
seguintes endereços eletrônicos.
www.mec.gov.br
www.inep.gov.br
http://portal.unesco.org/es
www.deolhonaeducacao.org.br
Capítulo 6
Professores e Gestão
da Escola
Objetivos
l Reconhecer a importância dos professores nos processos educativos.
l Aprofundar o entendimento sobre pesquisas internacionais e nacionais que
evidenciam a relevância do papel docente nos resultados de desempenho.
l Compreender o contexto em que emerge as discussões sobre um novo per-
Introdução
Neste livro tratamos de temas diversos da estrutura e do funcionamento do
ensino. Estudamos conceitos, legislação e financiamento da educação; apro-
fundamos informações sobre diversos indicadores da Educação Básica, con-
siderando aspectos quantitativos e qualitativos.
Esses assuntos são importantes e indispensáveis para compreender
o contexto mais geral da educação brasileira e da escola, em particular. Isto
porque é na escola que tudo acontece. E, como bem dizem os versos de Leci
Brandão, é “na sala de aula que se forma um cidadão” e que “se muda uma
nação”. Por isso mesmo, neste capítulo iremos nos deter sobre aspectos re-
lativos aos professores e à gestão da escola. Como ponto de partida é impor-
tante fazer algumas considerações introdutórias a respeito do tema.
Comecemos por lembrar que a especificidade da escola reside no fato
de constituir-se enquanto espaço para onde convergem estudantes e professo-
res, configurando-se como uma “comunidade de aprendizes” (VIEIRA, 2006).
Quando falamos da função social da escola (PENIN & VIEIRA, 2002), estamos
nos referindo ao fato de que esta é a instituição social que a humanidade reser-
vou para transmitir ideias e valores necessários à construção da cidadania.
Na sociedade do conhecimento, mais do que em qualquer momento
anterior da história, a escola reafirma-se como espaço de transmissão de sa-
98
SOFIA LERSHE VIEIRA
Saiba mais
Para Unesco, situação do professor é crítica
Num dos mais completos relatos já feitos sobre a situação do professor brasileiro, a UNESCO
aponta que a situação é bastante crítica, e não apenas por causa dos baixos salários. Além de
a carreira, que emprega 2,8 milhões de pessoas no país, não ser atrativa para os jovens de
maior nível socioeconômico, os alunos que ingressam em cursos de pedagogia e licenciaturas
recebem uma formação que enfatiza pouco a relação entre teoria e prática. Eles se formam
principalmente em instituições particulares, à noite, e poucos passam por atividades de está-
gio bem coordenadas antes de começarem a dar aulas. Para mostrar esse quadro complexo,
as pesquisadoras da Fundação Carlos Chagas Bernadette Gatti e Elba Barretto usaram várias
bases de dados sobre professores no país.
Escolaridade – Do questionário que é aplicado aos alunos que fazem o ENADE (exame
que avalia a educação superior), elas destacaram, entre outros fatos, que os universitários de
cursos de licenciatura e pedagogia vêm de famílias mais pobres, com menor bagagem cultural.
Quase metade (50,6%) tem pais sem nenhuma escolaridade ou que chegaram apenas à 4ª
série do ensino fundamental. Entre alunos dos cursos de medicina, por exemplo, esse percen-
tual é de 7,1%. Na carreira de enfermagem, a proporção é de 37,7%. "São jovens em ascensão
social, e é preciso aproveitar o potencial deles, que buscam na universidade enriquecer sua
bagagem sociocultural. Para isso, no entanto, é fundamental mexer nas grades curriculares dos
cursos que formam professores, que deixam muito a desejar", diz Bernadette Gatti.
Para chegar a essa conclusão, o relatório detalha uma pesquisa da Fundação Carlos
Chagas, feita com apoio da Fundação Victor Civita, que analisou a estrutura curricular e as
ementas de 165 cursos de pedagogia e licenciaturas. Num trecho do relatório, as autoras
destacam que as "ementas dos cursos frequentemente expressam preocupação com o por-
quê ensinar, o que pode contribuir para evitar que conteúdos se transformem em meros re-
ceituários, mas só de forma muito incipiente registram o quê e como ensinar." A proporção
de horas dedicadas à formação específica, por exemplo, não passa de 30% nesses cursos. "A
formação é precária, com pouca ênfase na relação entre teoria e prática. E não há acompa-
nhamento adequado dos estágios. Fazer isso de maneira benfeita tem um custo alto, pois
envolve um professor designado para acompanhar cada estudante em seu projeto. Muitas
faculdades privadas não estão dispostas a arcar com isso", critica a pesquisadora.
Salário – Célio da Cunha, assessor especial da UNESCO, afirma que o relatório deixa
muito evidente que a questão salarial é importante, mas que a valorização do trabalho do
professor não se restringe a isso. "Salários, apenas, não operam milagres. De que adianta
aumentar os rendimentos do professor, se ele continuar a ser formado da mesma manei-
ra?", indaga Cunha. Ele afirma que a dificuldade de valorizar a carreira do magistério não
é um desafio apenas do Brasil.
No entanto, na comparação com países desenvolvidos, os rendimentos dos professo-
res brasileiros ficam muito abaixo de seus colegas europeus, por exemplo. "E o que agrava
mais a situação dos professores brasileiros e de outros países menos desenvolvidos é que,
na Europa, os serviços públicos de saúde e educação são de alta qualidade, o que não
acontece no Brasil, onde parte da renda acaba sendo destinada a suprir essa deficiência."
(Da Sucursal do Rio, Folha de São Paulo, 04/10/2009 - São Paulo SP)
102
SOFIA LERSHE VIEIRA
Gráfico 19
Percentual de funções docentes com Nível Superior Completo
nas séries iniciais do Ensino Fundamental, no Brasil e Regiões,
no período de 1995 - 2009
Gráfico 20
Funções docentes com Nível Superior Completo nas Séries Finais
EF em % no Brasil e Regiões, no período de 1995 - 2011
ção superior, com as regiões Norte e Nordeste apresentando, mais uma vez
os mais baixos percentuais (61,1% x 59,2%).
Embora os valores relativos encontrem-se em patamares minimamente
satisfatórios, constata-se que muitos profissionais não atuam na sua área de
formação, sendo comum encontrar professores habilitados em Pedagogia en-
sinando disciplinas como Matemática, Geografia, Língua Portuguesa, Ciências,
contrariando as exigências estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação
(CNE) acerca da formação adequada para o exercício do magistério.
Tal situação aponta para a necessidade de manutenção de programas de
formação inicial em serviço por parte dos governos, como forma de caminhar
rumo ao atendimento das exigências legais quanto à qualificação profissional.
Visando equacionar tal problema, o governo federal tem concebido ini-
ciativas diversas de qualificação do magistério, a exemplo do Programa de
Formação de Professores em Exercício (Proformação), no âmbito do Fundes-
cola, ainda no governo Fernando Henrique Cardoso (1997).
Com o objetivo de promover a “habilitação de professores sem a titula-
ção mínima legalmente exigida”, desde sua origem já habilitou em nível médio
mais de 30 mil professores que atuam no Ensino Fundamental nos estados
do Norte e Nordeste (Disponível em: <http://proformacao.proinfo.mec.gov.br>
Acesso em: 31/01/2008).
Com o governo Lula outras iniciativas viriam, entre elas: o Programa de
Formação Continuada de Professores das séries iniciais do Ensino Fundamen-
tal (Pró-Letramento), o Programa de Formação Inicial para Professores em
exercício no Ensino Fundamental e no Ensino Médio (Pró-Licenciatura) e o Pro-
grama de Formação Inicial para Professores em Exercício na Educação Infantil
(Proinfantil). Esses programas têm em comum o objetivo de suprir deficiências
na formação dos profissionais das referidas etapas da Educação Básica.
Em janeiro de 2009, o MEC através do Decreto nº 6.755 institui a Políti-
ca Nacional de Formação dos Profissionais do Magistério da Educação Bási-
ca, com a finalidade de organizar os Planos Estratégicos da formação inicial e
continuada, com base em arranjos educacionais acordados nos Fóruns Esta-
duais Permanentes de Apoio à Formação Docente.
O Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica
(PARFOR) é resultado de um conjunto de ações do MEC, em colaboração
com as secretarias de educação dos estados e municípios e as instituições
públicas de educação superior neles sediadas, para ministrar cursos superio-
res gratuitos e de qualidade a professores em exercício das escolas públicas
sem formação adequada de acordo com a LDB, de 1996.
O MEC delegou à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ní-
vel Superior (Capes) a responsabilidade pela indução, fomento e avaliação dos
cursos no âmbito do PARFOR. Todas as licenciaturas das áreas de conheci-
105
Estrutura e Funcionamento da Educação Básica
Saiba mais
Nota zero em gestão
Está provado que a presença de um bom diretor não é apenas desejável – mas decisiva – para
um elevado nível de ensino numa escola, seja ela pública, seja particular. Por isso, merece
atenção uma nova pesquisa que traz à luz o mais completo perfil já feito sobre esses profis-
sionais no país. Antes do levantamento, que ouviu 400 diretores de colégios públicos no país
inteiro, o conhecimento que se tinha sobre eles era, basicamente, intuitivo. Agora, tratou-se
de mensurar a realidade – e dimensionar os problemas.
Logo de saída, a pesquisa, conduzida pelo Ibope em parceria com a Fundação Victor Civita,
mostra que 64% dos diretores reconhecem, sem rodeios, não estar suficientemente prepara-
dos para exercer o cargo que ocupam. Quando eles versam sobre o ofício, as fragilidades ficam
ainda mais evidentes. A pesquisa indica que os diretores não costumam basear suas decisões
em nenhuma meta acadêmica e chegam a ignorar a nota de sua escola nos rankings oficiais.
Talvez o mais preocupante de todos os dados, no entanto, diga respeito à visão que eles
têm da função: apenas 2% deles se sentem responsáveis pelos maus resultados de sua pró-
pria escola, ao passo que os outros 98% culpam pais, professores, alunos, o colégio e até o
governo. Conclui o especialista Francisco Soares, da Universidade Federal de Minas Gerais:
"É preciso mudar urgentemente esse cenário para começar a pensar em bom ensino".
Não é tarefa simples. Há, no Brasil, pelo menos dois grandes obstáculos. A começar pela
formação dos diretores – a maioria egressa da carreira de professor –, dos quais não se requer
nenhuma experiência como gestores nem a passagem por um curso em que desenvolvam
108
SOFIA LERSHE VIEIRA
habilidades como a liderança de equipe. A pesquisa mostra que 21% deles só estão no car-
go porque algum político os indicou, enquanto apenas 5% ascenderam por critérios técnicos.
"Não há no país um sistema eficiente para escolher e treinar profissionais de modo que se
tornem bons líderes nas escolas", avalia Mário Aquino, especialista em administração pública.
O segundo ponto que atrapalha no Brasil é o excesso de tarefas burocráticas delegadas aos
diretores, situação que leva a uma total inversão de prioridades. Para 90% deles, a supervisão
da merenda fornecida pelo governo é uma das atividades que mais consomem tempo, além
da limpeza do prédio e da fiscalização na entrega do material didático pelas secretarias de
ensino. São informações que escancaram a absoluta desconexão dos diretores brasileiros com
a sala de aula. "Só sobra tempo para a educação se eu deixar de lado as tarefas administrativas
pelas quais também sou cobrada", resume Maria de Fátima Borges, 55 anos, diretora da escola
Olavo Pezzotti, em São Paulo. "Estou sempre devendo relatórios à secretaria."
Aos diretores brasileiros, faltam praticamente todos os pré-requisitos que os especialistas
definem como básicos para o desempenho da função. Além de boa formação e experiência em
gestão, já se sabe que o diretor deve conseguir manter sua atenção voltada para as salas de aula
e ser capaz de traçar objetivos acadêmicos claros, que servirão de norte para os professores.
Também se espera dele que envolva os pais na vida escolar, passo decisivo para o avanço dos
alunos. No mundo todo, é esse o tipo de diretor que alcança os melhores resultados no ensino
– inclusive no Brasil, segundo mostra uma recente pesquisa feita por especialistas da Fundação
Getulio Vargas (FGV), também em parceria com a Fundação Victor Civita.
O estudo, que comparou escolas de bom resultado nas avaliações oficiais às de ensino
mediano, concluiu que à frente dos melhores colégios estão justamente aqueles diretores
com visão de longo prazo. Diz o cientista político Fernando Abrucio, coordenador da pes-
quisa: "Os diretores mais eficazes entendem que um plano pedagógico ambicioso precisa
de tempo para ser concluído". Estes chegam a ficar até catorze anos numa mesma escola,
enquanto um típico diretor de escola pública no Brasil troca de emprego a cada cinco anos.
A experiência internacional chama atenção para um conjunto de práticas que tem con-
tribuído para formar e manter bons diretores à frente das escolas. Elas podem funcionar
também no Brasil. Uma medida eficaz é proporcionar aos aspirantes ao cargo uma experiên-
cia prévia, como um período em que atuam como assistentes de diretor.
Em alguns países, como Singapura, chega-se a exigir dos candidatos até estágio numa
grande empresa privada, período em que se espera que absorvam os conceitos básicos de
gestão. Ao assumirem o cargo, há meios para livrar os diretores do excesso de atribuições
burocráticas, tão maçantes no Brasil.
Quem faz boa parte dessas tarefas nos Estados Unidos, por exemplo, é uma espécie de
auxiliar administrativo, o que permite ao diretor mirar o ensino. Caso fracasse, ele pode até
ser demitido, o que já ocorreu com 80% dos diretores da cidade de Nova York desde 2002.
Tornar-se diretor de escola é, em geral, a maior ambição de um professor.
No Brasil, significa, em média, um aumento de 50% no salário – que, na nova função, pode
chegar a 7 000 reais. Foi uma das motivações para que Andréa Tavares, 39 anos, hoje no coman-
do de uma escola municipal de Taboão da Serra, em São Paulo, trilhasse esse caminho. Há ape-
nas dois anos no cargo, ela diz: "Com uma formação melhor, sei que eu e meus colegas teríamos
mais chances de acertar". (Cíntia Borsato, Revista Veja, Edição 2137)
109
Estrutura e Funcionamento da Educação Básica
Síntese do capítulo
Neste capítulo foram apresentadas considerações sobre os professores e a
gestão da escola, aprofundando-se questões relativas às políticas para o ma-
gistério. Discutiu-se o tema “professores em cenários de reforma”, com ênfase
no processo de globalização, assim como no papel das agências internacio-
nais na concepção de políticas de formação de docentes.
Foram também analisadas as contribuições de sistemas escolares efi-
cazes para o conhecimento da importância dos professores. Destacou-se que
o Brasil não tem desenvolvido estratégias inovadoras em relação ao tema,
sendo inadiável rever a agenda de suas políticas educacionais neste campo.
Atividades de avaliação
1. Expresse seu ponto de vista sobre a seguinte passagem: “A situação dos pro-
fessores perante a mudança social é comparável à de um grupo de atores,
vestidos com traje de determinada época, a quem sem prévio aviso se muda
o cenário, em metade do palco, desenrolando um novo pano de fundo, no
cenário anterior. Uma nova encenação pós-moderna, colorida e fluorescen-
te, oculta a anterior, clássica e severa. A primeira reação dos atores seria a
surpresa. Depois, tensão e desconcerto, com um forte sentimento de agres-
sividade, desejando acabar o trabalho para procurar os responsáveis, a fim
de, pelo menos, obter uma explicação. Que fazer?” (ESTEVE, 1992).
2. Você concorda com o argumento de que as agências internacionais exercem
influência sobre as políticas do magistério? Justifique seu ponto de vista.
3. Discuta a relação entre a escola, a gestão e os professores.
4. Apresente evidências de que professores são importantes.
5. Como a globalização afeta os professores?
6. Que lições é possível aprender com os sistemas educacionais com alto
nível de desempenho escolar?
110
SOFIA LERSHE VIEIRA
Sites
http://www.escoladegestores.inep.gov.br/artigos.htm – textos sobre gestão escolar
http://www.consed.org.br – textos sobre gestão escolar
http://www.cenpec.org.br – textos e artigos sobre educação
Capítulo 7
Escola: lugar onde tudo
acontece
Objetivos
l Discutir aspectos relacionados à infraestrutura escolar e seu impacto para a
Introdução
No capítulo anterior, iniciamos a discussão sobre a escola, a gestão e os pro-
fessores, aprofundando questões relativas ao magistério. Aqui, tomaremos a
escola como objeto de análise, compreendendo-a como espaço de materia-
lização das políticas educacionais e, portanto, de interesse para o conheci-
mento da estrutura e do funcionamento da Educação Básica.
A intenção é apreender aspectos que definem sua especificidade. Ao
mesmo tempo, responder a uma questão que tem desafiado os estudos sobre a
matéria: por que apresentando condições materiais relativamente semelhantes,
os resultados das escolas costumam ser diferentes? Este é um tema da gestão
que iremos aprofundar ao longo da reflexão desenvolvida no presente capítulo.
Bem sabemos que o Brasil é um país de dimensões continentais. Ainda
assim, não deixa de surpreender a existência de 203,9 mil unidades escolares
da Educação Básica registradas pelo Censo Escolar de 2006. Parece muito
e, de fato, é. Mas é preciso examinar este indicador com cuidado, uma vez
que em todo o país, e sobretudo, em suas zonas mais pobres, há um imenso
contingente de escolas muito pequenas, as quais em geral têm precárias con-
dições de funcionamento e infraestrutura.
Para se ter uma ideia, basta dizer que 54,8% destes estabelecimentos
estão localizados na área urbana e abrigam 48,4 milhões de matrículas. Os
estabelecimentos rurais, por sua vez, que representam 45,2% do total de uni-
dades têm 7,4 milhões de matrículas. Ou seja, a grande maioria das pequenas
escolas encontra-se nessas áreas.
112
SOFIA LERSHE VIEIRA
1. Infraestrutura escolar
O primeiro indicador a ser apreciado refere-se ao tamanho das escolas. É
oportuno observar que unidades muito pequenas costumam ter pouca ou ne-
nhuma infraestrutura para oferecer ensino de qualidade para seus alunos. Nas
regiões mais pobres, sobretudo nas áreas rurais, ainda há grande quantidade
de escolas de até cinco salas, o que mostra a precariedade das condições
de estrutura e funcionamento no país, em particular no Ensino Fundamental.
A Tabela 4 mostra a distribuição percentual das escolas por tamanho em rela-
ção ao Brasil e as regiões.
Tabela 4
administrativos, porém, perde de vista a alma de sua escola que, como antes
lembramos, é o projeto político-pedagógico. Assim, a gestão compartilhada
e a incorporação dos diversos sujeitos que fazem a escola são importantes
elementos de seu sucesso.
Vale lembrar ainda que escolas que fazem a diferença mostram-se em sin-
tonia com a realidade dos estudantes e empenham-se em manter sua autoestima
elevada, seja através do esporte, de atividades culturais, de atividades extracurri-
culares, como registram as considerações finais do estudo Aprova Brasil,
A aprendizagem dos meninos e meninas na escola é fruto de fatores
diversos, interligados e interdependentes, e é na combinação criativa
desses fatores que se produz o conhecimento. A energia, a força motriz
desse processo reside na vontade e no compromisso do poder público,
dos atores da escola e de seus parceiros em assegurar que a educação
de qualidade seja a base para a garantia do direito de aprender das
crianças e dos adolescentes brasileiros (MEC/UNICEF, Op.cit, p. 98).
Para além de tais fatores, é oportuno lembrar com o mesmo estudo que:
Textos complementares
Bons professores são o direito mais importante para assegurar
educação, aponta pesquisa
Na avaliação de um entre quatro brasileiros, o direito mais importante para assegurar a edu-
cação à população brasileira é ter professores competentes e motivados. O dado é da pes-
quisa A participação dos pais na Educação dos filhos, encomendada pelo movimento Todos
Pela Educação e Fundação SM, realizada pelo Ibope e divulgada nesta quarta-feira (11/11).
O estudo revela ainda que, para 20% dos entrevistados, o mais relevante é encontrar vaga
na creche, pré-escola, ensino fundamental ou ensino médio. A terceira posição ficou para o
reforço escolar ao longo do ano caso aluno tenha alguma dificuldade, com média de 13% das
119
Estrutura e Funcionamento da Educação Básica
respostas. Foram ouvidas 1.350 homens e mulheres entre 16 e 69 anos, das regiões metropo-
litanas da Bahia, Ceará, Pernambuco, Distrito Federal, Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais,
Rio de Janeiro e São Paulo. No interior, participam da amostra municípios com mais de 50 mil
habitantes das mesmas unidades da federação.
Segundo os pesquisadores, os resultados podem refletir anseio por algo que ainda não
foi conquistado. O aprendizado, porém, não é citado pelas pessoas que responderam ao
questionário.
A Meta 3 do movimento Todos Pela Educação revela que apenas 27,9% dos alunos da
4ª série do ensino fundamental têm conhecimentos adequados à sua série em língua portu-
guesa. Na 8ª série, a porcentagem é mais baixa: 20,5%. No 3º ano do ensino médio, a taxa é
de 24,5%. Em matemática, os percentuais são piores: 23,7%, 14,3% e 9,8%, respectivamente.
No ranking das instituições e pessoas capazes de melhorar a educação, o Ministério
da Educação aparece em primeiro lugar, com 40% das opiniões. Secretaria municipal de
educação, diretoria e a escola e pais dos alunos ficaram praticamente empatados na se-
gunda posição, com média de 12% dos votos. Posteriormente, aparecem os professores
da escola e a secretaria estadual de educação (média de 8%). Para 4% dos entrevistados,
os alunos podem mudar esse cenário. Organizações não-governamentais, igrejas e empre-
sas aparecem em último plano.
Acompanhamento dos estudos – Em geral, o cuidado dos pais com a educação dos filhos
é significativo, de acordo com a pesquisa. O acompanhamento e rigor com estudos são itens
levados a sério pelos pais. Mais de 80% deles declaram sempre estar atentos para que não
haja faltas ou atrasos dos filhos. A maioria também diz acompanhar sempre as notas dos
herdeiros. O estudo mostra que é menos frequente a determinação de horários de estudos.
Pouco mais de 50% dos pais afirmam sempre estabelecer esses períodos e respeitá-los.
A incapacidade de entender o que os professores ensinam e o próprio interesse dos
filhos em aprender estão entre as dificuldades dos filhos com os estudos apontadas pelos
pais. No entanto, nenhuma delas recebe um percentual expressivo nos pontos mais críti-
cos da escala de recorrência. Muitos pais alegam dificuldade em acompanhar a educação
dos filhos por falta de tempo para ir à escola e despreparo para ajudar os filhos quando
surgem dúvidas sobre os conteúdos. Apesar disso, os pais não atribuem à escola nem aos
profissionais de educação as deficiências enfrentadas. Eles admitem que as dificuldades
partem mais de si mesmos e dos filhos do que dos docentes e da estrutura em geral. (Cor-
reio Braziliense, 11/11/2009 – Brasília DF)
Síntese do capítulo
se capítulo focalizou a escola reconhecendo-a como espaço de operaciona-
lização das políticas educacionais e, por isso mesmo, “lugar onde tudo acon-
tece”. Foram apresentados indicadores que mostram a heterogeneidade das
escolas no país, havendo imensas disparidades entre sistemas e redes, situa-
ção que se aprofunda na comparação entre as regiões.
Apesar das desigualdades nas condições de infraestrutura, é interes-
sante observar que em todo o país há unidades que têm evidenciado maior
poder de superação dos problemas existentes, contribuindo para a socializa-
ção e a melhoria do desempenho escolar de seus alunos.
120
SOFIA LERSHE VIEIRA
Atividades de avaliação
Gravação realizada em
19 1. O texto a seguir foi extraído de uma entrevista19 do educador Paulo Freire
São Paulo, no Instituto ao Programa Salto para o Futuro (http://www.tvebrasil.com.br), onde ele fala
Paulo Freire, para a série sobre a Escola Cidadã. Leia com atenção e reflita sobre o tema:
Projeto Político-Pedagógico
da escola, apresentada
“A escola cidadã, no meu entender, é aquela que se assume enquanto
no programa Salto para o um centro, um centro de direitos e um centro de deveres, a formação que se dá
Futuro/TV Escola/SEED/ dentro do espaço e do tempo que caracterizam a escola cidadã é uma forma-
MEC, de 20/04 a 30/04 ção para a cidadania (...) Você veja, seria uma contradição enorme que uma es-
de 1997. A série teve a
cola, se pensando uma escola cidadã, coagisse, veja bem, eu digo coagisse, e
consultoria de Moacyr
Gadotti e contou com a não disse limitar-se, mas eu digo restringisse a liberdade do educando em lugar
mediação de Gaudêncio de sugerir ao educando que a sua liberdade precisa ser limitada para poder ser.
Frigotto. Então a escola cidadã é uma escola coerente com a liberdade, é coe-
rente com o seu discurso formador, com o seu discurso libertador, em outras
palavras, a escola cidadã é aquela que, brigando para ser ela mesma, viabiliza
ou luta para que os educandos e educadores também sejam eles mesmos. E
como ninguém pode ser só, a escola cidadã é uma escola de comunidade. É
uma escola de companheirismo, é uma escola de produção comum do saber
e da liberdade. Mas é uma escola que não pode ser jamais licenciosa, nem
jamais autoritária. Quer dizer, é uma escola que vive a experiência tensa da
democracia que, em outras palavras, implica a experiência tensa, contraditória,
permanente entre autoridade e liberdade.
Uma escola cidadã seria a seguinte: é a escola que procura plenamente
viver a sua autonomia de ser. Só é escola cidadã na medida em que, optando
pelo exercício da cidadania, briga para constituir-se num espaço/tempo formador
de cidadania”.
2. Visite o site da revista Época e selecione uma das escolas focalizadas no
conjunto de reportagens referido no capítulo: http://revistaepoca.globo.com/
Revista/Epoca/1,EDG755795856,00.html. Traga suas reflexões para com-
partilhar com os colegas em sala de aula.
3. O Aprova Brasil destaca algumas ideias e práticas de escolas que fazem a
diferença. Comente as seguintes afirmações apresentadas nas considera-
ções finais do estudo:
121
Estrutura e Funcionamento da Educação Básica
Sites
http://portal.mec.gov.br/seb
http://www.fundescola.org.br
http://www.edudatabrasil/inep.gov.br
http://www.cenpec.org.br Acesso em: 31 jan. 2008.
http://www.inep.gov.br Acesso em: 31 jan. 2008.
122
SOFIA LERSHE VIEIRA
Referências
ABRAMOVAY, F. et alli. Escolas inovadoras: experiências bem-sucedidas em
escolas públicas. Brasília, UNESCO/MEC, 2003 (http://www.unesco.org.br).
ADRIÃO, T. & PERONI, V. (orgs.). O público e o privado na educação: inter-
faces entre Estado e Sociedade. São Paulo: Editora Xamã, 2005.
ALMANDOZ, M. R.; VITAR, A. (2006). “Caminhos da inovação: as políticas e
as escolas”. In VITAR, A.; ZIBAS, D.; FERRETTI, C.; TARTUCE, G. L. B. P.
(orgs.) Gestão de inovações no ensino médio: Argentina, Brasil, Espanha.
Brasília: Líber Livro Editora, 2006.
ALTMANN, H. “Influências do Banco Mundial no projeto educacional brasilei-
ro”. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 28, n.1, p. 77 - 89, jan./jun. 2002.
Disponível em: <http://www.scielo.br> Acesso em: 05 fev. 2008.
BECKER, F. R. “Avaliação educacional em larga escala: a experiência brasi-
leira”. Revista Ibero-Americana de Educação. n. 53/1.2010. Disponível em:
<http://www.rieoei.org/deloslectores/3684 Becker.pdf> Acesso em: 03 jul. 2010.
BEGHIN, N. A filantropia empresarial: nem caridade, nem direito. São Paulo:
Cortez, 2005. Coleção Questões da Nossa Época nº 122.
BRANDAO, L. “Anjos da guarda”. RGE. 1995.
BRASLAVSKY, Cecília. Dez fatores para uma educação de qualidade para
todos no século XXI. São Paulo: UNESCO/Moderna, 2005.
BRASIL. IBGE. Pesquisa de Orçamentos Familiares – Primeiros Resulta-
dos 2002-2003 – Brasil e Grandes Regiões. Rio de Janeiro, 2004. Disponível
em: <http://www.ibge.gov.br> Acesso em: 03 fev. 2008.
_____. Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) – Nota téc-
nica. Brasília, s.d. Disponível em: http://www.ideb.inep.gov.br Acesso em: 08
fev. 2008.BRASIL. MEC/UNICEF. Aprova Brasil – o direito de aprender –
boas práticas em escolas avaliadas pela Prova Brasil. Brasília: INEP, 2006.
Disponível em: <http://www.inep.gov.br> Acesso em: 31/jan/2008.
BROCK, C. & SCHWARTZMAN, S. Os desafios da educação no Brasil.
Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2005.
CALDERÓN, A. I. “Amigos da escola: ações e reações no cenário educacio-
nal”. Trabalho apresentado na 30ª. Reunião Anual da ANPEd. Disponível em:
<http://www.anped.org.br> Acesso em: 05 fev. 2008.
_____.; MARIM, V. “Participação Popular. A escola como alvo do terceiro se-
tor”. In: SOUZA, D. B.; Faria, L. C. M. (orgs.). Desafios da educação munici-
pal. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
123
Estrutura e Funcionamento da Educação Básica
Sobre a autora
Sofia Lerche Vieira – Doutora em Filosofia e História da Educação (PUC/
SP), com Pós-Doutorado pela Universidad Nacional de Educación a Distancia
(UNED). Exerceu o cargo de Secretária da Educação Básica do Estado do
Ceará (2003-2005). Professora aposentada da Universidade Estadual do
Ceará, onde coordena o Grupo de Pesquisa "Política Educacional, Gestão
e Aprendizagem". Professora titular aposentada da Universidade Federal do
Ceará. Pesquisadora do CNPq. Publicou, dentre outros: História da educação
no Ceará: sobre promessas, fatos e feitos (2002), Desejos de reforma: legis-
lação educacional no Brasil Império e República (2008), Política educacional
em tempos de transição (2008, 2. ed.), Educação Básica: política e gestão da
escola (2009, 2.ed.).
A não ser que indicado ao contrário a obra Estrutura e Funcionamento da Educação Básica, disponível em: http://
educapes.capes.gov.br, está licenciada com uma licença Creative Commons Atribuição-Compartilha Igual 4.0
Internacional (CC BY-SA 4.0). Mais informações em: <http://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0/deed.
pt_BR. Qualquer parte ou a totalidade do conteúdo desta publicação pode ser reproduzida ou compartilhada. Obra
sem fins lucrativos e com distribuição gratuita. O conteúdo do livro publicado é de inteira responsabilidade de seus
autores, não representando a posição oficial da EdUECE.
Estrutura e Funcionamento
F
iel a sua missão de interiorizar o ensino superior no estado Ceará, a UECE,
como uma instituição que participa do Sistema Universidade Aberta do
Brasil, vem ampliando a oferta de cursos de graduação e pós-graduação
na modalidade de educação a distância, e gerando experiências e possibili-
dades inovadoras com uso das novas plataformas tecnológicas decorrentes
Estrutura e
da popularização da internet, funcionamento do cinturão digital e massi-
ficação dos computadores pessoais.
Comprometida com a formação de professores em todos os níveis e
a qualificação dos servidores públicos para bem servir ao Estado,
os cursos da UAB/UECE atendem aos padrões de qualidade
estabelecidos pelos normativos legais do Governo Fede-
Funcionamento da
ral e se articulam com as demandas de desenvolvi-
mento das regiões do Ceará. Educação Básica
12
História
Educação
Física
ISBN 978-85-78262-81-5
Ciências Artes
9 78 8578 26 2815
Química Biológicas Plásticas Computação Física Matemática Pedagogia