Prática Da Oração
Prática Da Oração
Prática Da Oração
A oração é essecialmente encontro com Deus. Quanto mais constante e profundo esse encontro, maior e mais
perfeita é a união com Deus, tão desejada pela alma humana, como recorda Santo Agostinho: “Fizeste-nos
para Ti e inquieto está nosso coração, enquanto não repousa em Ti” (Cf. Confissões I).
A definição de Santa Teresa de Jesus pode nortear a vida do orante: “Para mim, a oração mental não é
senão tratar de amizade - estar muitas vezes tratando a sós - com quem sabemos que nos ama.” (Cf. Livro
da Vida 8,5). Nesta definição tão feliz encontramos os elementos constituintes da oração, a saber, o orante
que busca a Deus; Deus que se deixa encontrar, através da feliz chave do amor: ato de vontade maior que
meros sentimentos. A prova desse amor é exposta na frase “estar muitas vezes tratando a sós” porquanto
trata-se aqui de buscar a solitude (mais conhecida como solidão cristã), que é inicialmente um sacrifício para
o homem. Esse “estar a sós” não se refere apenas ao afastamento da companhia humana mas sim a um
silêncio profundo quanto a tudo que é exterior e até mesmo quanto às próprias ideias e sentimentos. 1
Embora Santa Teresa não tenha deixado um passo-a-passo de oração absolutamente claro e objetivo, ela
sugere sim um método baseado sobretudo no dito encontro pessoal com a segunda Pessoa da Santíssima
Trindade, Jesus Cristo Nosso Senhor, pelo qual vamos ao Pai (cf. Jo 14,6).
Vale dizer que não podemos restringir o Espírito Santo (que ora em nós), de modo que pode acontecer de o
orante se ver mais facilmente na companhia do Pai ou do mesmo Espírito Santo, ou das Três Pessoas, ou
ainda em diálogo filial com a Santíssima Virgem Maria que nos foi dada como Mãe. No entanto, isto não é
tão comum na prática da oração mental. Serve como recordação de que “o Espírito sopra onde quer” e por
isso deve-se caminhar na oração com muita confiança em Deus, desejo de amá-Lo, humildade e santa
liberdade.
Outro aspecto importante frequentemente repetido por Santa Teresa em seus escritos é que o orante não deve
se apoucar nem andar a “passo de galinha”, isto é, a passos curtos (Livro da Vida 13,5), e sim aspirar ao
“voo das águias”, não desejando êxtases ou regalos espirituais, mas cultivando um profundo e sincero
desejo de amar a Deus com toda a perfeição possível.
Essa magnanimidade (desejo generoso das coisas Eternas) sugere uma total conformação da vida do orante
com esse objetivo principal de unir-se a Deus. Desse modo o orante deve trilhar o caminho seguro da fé na
Santa Igreja Católica - em seus pilares: Tradição, Sagrada Escritura e Magistério; deve se dispor para a
oração como para uma aventura interior rumo ao Céu, conformando, portanto, o exterior com tal disposição
interior através do cumprimento dos Santos Mandamentos, ações virtuosas, ou seja, aquisição de hábitos
moralmente bons e uma disciplina mínima para a oração, tudo por amor a Deus e não por mero proveito e
vaidade pessoal.
Convém estabelecer um ou dois horários por dia somente para a oração mental e esforçar-se por cumpri-lo.
Inicialmente, pode-se fazer 15 ou 30 min. de oração mental (duas vezes ao dia se for possível), e ir
aumentando de 15 em 15 min. até que atinja 1 hora, que seria o ideal normal.
O caminho de oração é íntimo e progressivo, logo, somente a perseverança pode fazer notório o progresso e
resultar numa vida virtuosa “luz do mundo e sal da Terra” (Mt 5, 13s). Os principais frutos da oração
1
Os pensamentos e sentimentos nem sempre devem ser ignorados, mas sim se tornarem objeto da mesma oração, num
diálogo filial e amigável com Nosso Senhor Jesus Cristo, expondo a Ele o que o aflige. Mas mesmo essa atitude implica
um afastamento de si mesmo, porque então “tiramos do coração” e colocamos nas Mãos de Deus o que nos ocorre, com
confiança de que Ele dará o remédio conveniente.
mental bem feita serão a humildade e caridade. O primeiro através de um autoconhecimento cada vez maior
unido a um conhecimento de Deus cada vez mais profundo. E o segundo porque este conhecimento resulta
no amor a Deus que é a caridade.
Sem conhecer a Deus é impossível amá-LO. E aquele que busca conhecê-LO conhecerá primeiro a si
mesmo, pois o próprio Deus favorece esse autoconhecimento. É para adquirir esta humildade que Deus
permite ao orante dificuldades e sofrimentos nessa aventura e assim este se vê cada vez mais fraco enquanto
se faz cada vez mais forte em espírito e verdade. Por isso exclarmou São Paulo “quando me sinto fraco,
então é que sou forte” porque Cristo lhe disse “Basta-te a minha graça, porque é na fraqueza que se
revela a minha força.” (Cf 2Cor 12,9s.). Se o orante permanece fiel e perseverante no desejo santo de
somente amar e servir a Deus e com essa determinação se coloca em oração, carregará jugo suave e fardo
leve e encontrará a fonte de água viva.
A aparente inutilidade da oração é, na verdade, um reconhecimento humilde de que “sem Deus nada
podemos fazer”, muito menos qualquer obra boa. A oração com horário definido é um primeiro passo para
que essa amizade profunda e íntima com o Senhor permeie toda a vida do cristão, tornando mais fácil e
frequente a simples elevação do coração a Deus e o hábito de estar em Sua Presença. Porque quem O serve
sem estar em oração é um servo, mas Ele disse “Já não vos chamo servos[...] mas amigos. Porque vos dei a
conhecer tudo quanto ouvi do Pai” (cf Jo 15,15). Embora possamos conhecer o que Deus disse através da
Doutrina Cristã, não podemos nos considerar verdaderiamente amigos de alguém sobre quem apenas
ouvimos falar, mas com quem nunca ou muito pouco tratamos. Destarte a verdadeira sustentação da vida
santa é a virtude da oração.
O “MÉTODO TERESIANO”
Em Santa Teresa encontramos o método dos métodos, porque admite diversos modos de rezar desde que o
orante alcance esse encontro com Deus, frequentemente reconhecido num afeto amoroso muito suave que
alma encontra enquanto medita.
Se este ato de fé na Presença de Jesus já alimentar a alma e trazer o suave afeto amoroso a alma
deve permanecer ali, pois essa é a água da qual fala Santa Teresa em seus escritos. Enquanto
durar esse afeto, a alma deve repousar, podendo até dizer algo a Jesus, mas sem se perder em
pensamentos.
Caso o afeto ainda não tenha acontecido ou já tenha terminado havendo ainda tempo de oração,
o orante continua os passos seguintes.
Convém lembrar também que a oração não é extática. Pelo contrário, a meditação é um pontapé inicial para
uma aventura interior enquanto durar aquele momento de oração mental. Conforme vai meditando,
recordando os ensinamentos recebidos daquela palavra, a tendência é que mais coisas se revelem ao orante,
chamando-lhe a atenção. Para exemplificar:
No 5º passo um orante qualquer medita no encontro de Cristo com a Samaritana. Ele leu o trecho
determinado, o seguinte versículo lhe chamou atenção: "Veio uma mulher da Samaria tirar água. Pediu-
lhe Jesus: “Dá-me de beber”. Então ele retorna ali e medita naquilo: “Senhor, como pode o Senhor
sendo Deus ter sede? O Senhor se fez humano como nós, abaixando-se à nossa condição, tomando para
si nossa fraqueza! Quanto amor. Obrigada, Jesus, pelo seu amor por nós, pelo seu amor por mim. E me
perdoe por eu ainda não te amar. E só de pensar que o Senhor também pede a mim que te dê de beber...
Quantas vezes o Senhor deve ter pedido e eu não soube dar... Lembro daquela ocasião na qual o Senhor
me pediu uma mortificação e eu não quis fazer; das vezes que o Senhor me convidava para visitá-lo na
Capela mas eu não fui, preferi fazer outras coisas, etc...”. OU ENTÃO medita de uma outra forma:
“Vejo que Você se fez fraco porque queria, na verdade, encontrar com aquela samaritana e restaurar a
esperança dela... E que ali Você pedia não água mas a própria alma dela... Vejo que Você muitas vezes
me pede isso também. Ajude-me a corresponder, Jesus. Porque vejo que tenho sido infiel em x e x coisas,
mas não quero ser assim...”
Nesse diálogo muitas vezes o orante vai tendo seu olhar ampliado, recordando as homilias já ouvidas, e
descobrindo também novos significados, contrapondo com a Palavra a sua própria vida. E assim sai
fortificado para a batalha cotidiana. Contudo, se voltar a cair, não deve desanimar. Deve humildemente
voltar a pedir perdão na oração e refazer o santo propósito.
GRAUS DE ORAÇÃO
Baseado em Santa Teresa de Jesus
“COM A AJUDA DE DEUS, TEMOS DE PROCURAR, COMO BONS JARDINEIROS, QUE ESSAS
PLANTAS CRESÇAM, TENDO O CUIDADO DE REGÁ-LAS PARA QUE NÃO SE PERCAM E
VENHAM A DAR FLORES.”
Neste início da vida de oração o jardineiro principiante deve “buscar a água num poço, com a ajuda de um
balde” para regar o jardim do Senhor. Aqui o trabalho é árduo e cansativo, podendo ocorrer diversas vezes
que ao puxar o balde o jardineiro perceba que o poço está seco. O desânimo pode ser uma grande arma do
inimigo para fazer com que o ele desista de seu ofício.
O primeiro passo para quem deseja ter vida de oração é colocar-se diante de Deus com humildade,
reconhecendo as próprias fraquezas e limitações. Deixar-se enamorar pela humanidade de Cristo, falando
com ele, chorando na dor, sorrindo na alegria e usando palavras que expressem os próprios desejos e
necessidades.
Teresa indica para esse ponto do caminho a meditação da flagelação do Senhor. Diante do Cristo chagado e
atado a uma coluna podemos nos perguntar: quem é este que sofre, porque sofre e com qual amor sofre. É
necessário ter a determinação de não deixar Jesus cair sozinho com a cruz, lembrando-se que Ele a carregou
até o fim por nossos pecados.
O balde é pequeno e exigirá muitas “idas e vindas” para cumprir o serviço de cada dia e assim alegrar
Àquele que é Dono de tal terra. No início da vida de oração todos nós estamos sujeitos ao desânimo e à
distração que nos fazem pensar nos inúmeros problemas da vida. Temos duas opções: desistir na primeira
vez que retirarmos do poço um balde sem água, abandonando o terreno; ou persistir, voltando ao poço
diversas vezes até que a divina providência me faça encontrar, enfim, água para cultivar a terra.
É preciso estabelecer um momento de oração, considerando o local, a disposição do nosso corpo, a agitação
dos nossos pensamentos. Porém, existem outras práticas exteriores, como fazer uma obra de caridade ocupar-
se de uma boa leitura. É importante que ninguém se atormente por aridez espiritual, inquietação e distração
de pensamentos.
Santa Teresa alerta nesse grau para a tentação de nos preocuparmos com os pecados e as culpas que vemos
nas outras pessoas. Na verdade, devemos apreciar as virtudes e boas obras que encontramos nos outros e
cobrir os seus defeitos pensando nos nossos grandes pecados.
Santa Teresa diz que o conhecimento pessoal e a consciência dos nossos próprios pecados, deve ser neste
caminho de oração o pão que acompanha todas as nossas refeições. Conhecer a si mesmo é importante
porque não existe, no caminho espiritual, alma que seja tão gigante que não tenha necessidade de retornar a
ser criança várias vezes.
“O CONHECIMENTO PRÓPRIO NUNCA DEVE SER ABANDONADO, NEM HAJA ALMA NESSE
CAMINHO, TÃO FORTE, QUE NÃO PRECISE MUITAS VEZES VOLTAR A SER CRIANÇA”.
Por fim, preciso lembrar que a humildade é essencial no caminho da oração. Certamente todos nós queremos
progredir, mas, será Deus a nos dizer quando estamos prontos para dar o próximo passo. Não nos enganemos
de estar tão adiante enquanto ainda estamos no começo. Também, nenhum de nós, pense que estando num
grau elevado da oração não possa voltar ao ponto zero.
Agora conheceremos o terceiro modo: a terceira água usada para regar o jardim é vinda “de um rio ou
arroio”. Como no grau anterior, este também exige trabalho no começo, pois é necessário canalizar a água do
rio ou da fonte. Apesar de tanto esforço no início, o jardineiro poderá deleitar-se ao ver o jardim tão bem
irrigado; a suavidade e a consolação é bem maior nesta forma de cultivo e o próprio Deus, muitas vezes, se
encarrega do ofício da jardinagem.
A alma que atinge esse grau de oração é incapaz de explicá-lo, pois as graças são tão grandes que a
compreensão humana não as alcança. A incompreensão pode ser tamanha, a ponto da alma não desejar nem
seguir adiante nem retroceder.
Segundo Santa Teresa, o Senhor prepara, para quem chega a este ponto, cruz pesada e leve ao mesmo tempo.
Pesada porque mesmo com a suavidade, a alma nunca deseja descansar e em tudo pode achar que não serviu
a Deus o suficiente, desejando sempre carregar uma cruz maior. A humildade deve ser cultivada com maior
atenção.
Esse grau de oração “pré-extático” é também chamado de “sono das potências da alma”, pelo fato que
praticamente é Deus que realiza quase todo o trabalho. A alma prova descanso e aqui a alegria e doçura são
muito maiores que no grau anterior.
Santa Teresa usa o exemplo antigo da vela na mão do moribundo, porque esse grau é praticamente um
sentimento de quase morte para todas as coisas desse mundo e a alma deseja apenas estar na presença de
Deus.
Quando Teresa fala desse grau no capítulo 16 do livro da vida, diz ter experimentado esse modo de oração a
uns cinco ou seis anos atrás. Referia-se às suas experiências de oração no ano 1559, ou seja, já na idade de
44 anos. Até para ela foi difícil identificar a passagem do terceiro para o quarto grau, somente depois de
algum tempo, percebeu a diferença.
Quem chega a esse grau prova um amor tão grande que se sente fora do próprio corpo sem saber como
acontece. “É como estar louco por amor”, diz Santa Teresa, sabendo que não merece dom tão precioso. A
alma deseja estar livre das ocupações do mundo, comer, dormir, porque nesse ponto não deseja mais viver
em si mesmo, mas em Deus.
É um grau da oração onde o jardineiro pode descansar no Senhor, é um abandonar-se completamente nos
braços de Deus. Não importa onde este o levaria, seja para o céu ou para o inferno, o jardineiro estaria feliz.
Se chegasse a morte é justamente o que deseja, se pelo contrário deve viver, tudo bem, porque a alma não
pertence mais ao jardineiro, é toda de Deus.
Uma coisa muito interessante acontece com quem chega a esse grau da oração: percebe que tudo aquilo que
levou anos para construir, o dono do jardim realiza em poucos minutos. Somente aí o jardineiro poderá sentir
o perfume das flores e aproveitar as maravilhas daquele jardim. Aqui também a humildade deve ser grande,
para aceitar que não somos nada diante de Deus.
Quando falamos nesse grau sobre uma quase total união da alma com Deus, não é nada mais do que o fato de
conformar a nossa vontade com a vontade divina. Quando chegarmos a esse ponto, nada mais nesse mundo
nos decepcionará.
Uma das diferenças da oração de quietude, apresentada anteriormente, é que no terceiro grau a alma deseja
estar como no santo ócio de Maria, podemos dizer, em plena contemplação. Mas, aqui poderá também fazer
a parte de Marta, ou seja, entende que é possível conciliar vida ativa e contemplativa. Isso é uma das grades
características da espiritualidade carmelitana.
Apesar de muito bom, esse grau da oração não é ainda perfeito. Porque mesmo tendo elevado a vontade e o
intelecto, não desejando nada e não precisando raciocinar estando ocupado demais com as coisas de Deus,
permanecem em atividade a memória e a imaginação, essa última chamada de louca por Santa Teresa.
“AQUI VEJO O MAL QUE O PECADO NOS CAUSA, SUJEITANDO-NOS A NÃO FAZER O QUE
QUEREMOS: ESTAR SEMPRE OCUPADOS COM DEUS”.
Essa louca sentindo-se sozinha, às vezes pode tentar colocar tudo a perder impedindo a alma de dedicar-se
totalmente a Deus. O remédio encontrado por Santa Teresa depois de anos de luta é não escutar mais a
imaginação, como se faz com o discurso de um louco. Deixar a imaginação com sua teimosia e não lutar
contra ela porque apenas Deus pode tirá-la.
Por fim, uma recordação de Santa Teresa para esse grau: quando a alma recebe essas consolações e precioso
repouso, também o corpo participa dessas alegrias, nossas virtudes atingem um grau muito elevado. Ou seja,
é natural que reconheçamos quando uma pessoa tem vida de oração.
Falando da oração mental Teresa usa o exemplo de um passarinho. Deus ao ver a pequena criatura
esforçando-se com toda sua vontade, voando longe com o intelecto, toma em suas mãos o passarinho e o
coloca em seu ninho para que possa repousar. Quer dar um prêmio “e que prêmio!”, diz santa Teresa.
No capítulo 18, Teresa descreve o êxtase. Quem entra neste estado prova imensa alegria, faltam o ar e as
forças físicas. Não consegue mover as mãos sem grande esforço. Os olhos se fecham naturalmente e se
abertos não enxergam nada direito. A pessoa não pode ler porque as palavras se misturam, escuta, mas, não
entende o que houve. Nem ao menos uma palavra é capaz de pronunciar. Teresa voltará a descrever o estado
de êxtase durante praticamente todo o capítulo 20.
“ESTANDO À PROCURA DE DEUS DESSA MANEIRA, A ALMA SE SENTE, COM UM GRANDE E
SUAVE PRAZER, NUM DESFALECIMENTO QUASE COMPLETO, UMA ESPÉCIE DE DESMAIO”.
O estado dura pouco, ninguém permanece o tempo todo em êxtase, mas a alma que o experimenta se enche
de coragem e grande alegria. Santa Teresa conta que ao entrar nesse estado diante de outras monjas, as
proibiu de dizer o que havia acontecido. Em outra ocasião, referindo-se provavelmente ao que chamavam
“Festa da Vocação”, que seria o dia do padroeiro do mosteiro (entendemos que seja referindo-se ao mosteiro
de São José em Ávila, ou seja, 19 de março), Teresa conta que chegou a deitar no chão tentando disfarçar o
que estava acontecendo. Isso porque tinha medo que pensassem que ela fosse alguma pessoa importante
tendo seu corpo elevado da terra.
No grau anterior Santa Teresa chama a imaginação de louca, aqui a Santa diz que a imaginação é como uma
borboleta que tem as asas queimadas, ou seja, incapaz de se agitar. Depois dessa oração e união com Deus, a
alma se enche de coragem a ponto de sentir alegria mesmo que fosse reduzida a pedaços.
Nesse grau o jardineiro divide os frutos da terra com os outros, ou seja, comunica as graças recebidas. Não
quer guardar o tesouro somente para si. Mesmo que ele tente disfarçar, não consegue, porque o perfume das
flores será tão grande que todos desejarão estar ao seu lado. Não preciso dizer que alguém com vida de
oração tão elevada é uma pessoa de presença agradável na vida dos outros.
“ELA COMEÇA A SE MOSTRAR COMO ALMA QUE GUARDA TESOUROS DO CÉU E A TER
DESEJOS DE REPARTI-LOS COM OS OUTROS, SUPLICANDO A DEUS QUE NÃO SEJA ELA A
ÚNICA ABASTADA”.
Por fim, recordo do alerta que faz Santa Teresa: É IMPOSSÍVEL VIVER COMO UM ANJO NA TERRA.
“NÃO SOMOS ANJOS, POIS TEMOS UM CORPO; QUERER SER ANJO ESTANDO NA TERRA, É
UM DISPARATE”.
Seria uma loucura, diz Santa Teresa. Mesmo que a alma sinta-se fora de si, ou sem necessidade de coisa
alguma da terra, isso não acontece sempre. Porém, ao estar envolvida nos afazeres, perseguições,
sofrimentos, nunca se esqueça: “Cristo é um ótimo amigo!”. Por isso, não serve andar em busca de
consolações espirituais, mas devemos estar abraçados à cruz. Aconteça o que acontecer abraçados à cruz!
Se o Senhor quiser elevar a nossa alma a esses acontecimentos, ótimo, caso contrário, sirvamos com
humildade onde estamos. Outro alerta é que alguns que chegam a um grau elevado com mais facilidade quer
que todos os outros façam o mesmo. Recordemo-nos de um perigo já indicado em outros graus anteriores:
alguns apenas por ter chegado à oração de quietude querem já passar para o próximo passo sem aproveitar
aquele momento. Precisamos de experiência e discrição, diz Santa Teresa. Já a última frase da nossa Regra
ensina que a “discrição é moderadora das virtudes” (Utatur tamen discritione que virtutum est moderatrix!).
Fonte dos graus de oração: www.carmelitas.org.br - Província dos Carmelitas da Antiga observância.
São três as vias: Purgativa, Iluminativa e Unitiva. Em cada via o orante pode ser
uma subsequente passagem à próxima via, se Deus assim quiser. No caso da via
1 - VIA PURGATIVA
Está a primeira via. A alma sentiu um apelo de Deus em seu interior, então passa a ser fiel à Santa Igreja,
confessa-se de seus pecados graves e se resolve a ter vida de maior intimidade com Deus. A etapa purgativa,
significa limpeza, penitência, noites escuras, provações e chama-se também de ascese. Quer dizer, a subida
até Deus, requer o desapego criaturas, e a descoberta de quem somos nós e de quem é Deus. A via purgativa
se caracteriza pela dor, vergonha e profundo arrependimento pelos pecados. Há uma compreensão da
gravidade, do perigo, da crueldade do pecado, com o desejo de crescer, melhorar e santificar-se.
O início desta via é, em geral, caracterizado pelo descobrimento da Infinita Misericórdia de Deus, o que dá
grande consolo a alma, além de facilidade na oração, sentimentos de consolação e alegria em tudo que se
refere a Deus.
A perseverança na purificação vai tornando a consciência mais delicada, já se colocando mais distante de
pecados graves e de suas ocasiões, mas ainda exige grande cautela.
Uma grande tentação que o demônio faz aos adiantados nesta via é escandalizar-se com os pecados alheios,
ou desejar que todos sejam forçosamente servos de Deus, querendo corrigir um a um dos irmãos ao invés de
ter misericórdia e paciência como manda o Senhor.
No entanto, é característico haver uma “FASE ATIVA” e uma “FASE PASSIVA” que não são fixas e podem
ser concomitantes, porque o penitente continua realizando sua ascese, mas Deus em alguns momentos
permite-lhe sofrimentos, desilusões, dificuldades, etc. que são penitências passivas. A alma deve receber
como um dom de Deus aquelas dificuldades, porque por meio delas Deus poderá limpar a alma. É nesse
momento que muitos desistem do caminho interior, da vida de oração verdadeira. Mas deveriam antes
permanecer fiéis, confiando que Deus é Pai e que tudo concorre para o bem dos que amam a Deus.
Por isso convém ao principiante ter um diretor espiritual, alta frequência nos Sacramentos e aprendizado de
amar a Cruz.
2 - VIA ILUMINATIVA
A alma que está despojando-se do homem velho deve agora revestir-se do homem novo.O primeiro estágio
da via iluminativa consiste na luz que o Senhor concede à alma para compreender qual o real valor das coisas
exteriores (as coisas agradáveis e também as contrariedades, os obstáculos, os defeitos das pessoas, a
arbitrariedades, as tentações, etc). Se vê dependende da graça de Deus e que é por meio das contrariedades e
das tribulações que aprenderá a aderir totalmente a vontade de Deus e a descansar somente nEle. A alma
passa a aceitar estas situações de modo tão claro, que deixa de rebelar-se contra elas, considerando-as como
manifestações da Vontade Divina.
Consta de muita iluminação interior, abertura para a graça, gosto pela Palavra, pela oração. Deus concede à
alma profundo conhecimento sobre as coisas espirituais, e, principalmente, sobre as verdades da fé. Quando
acontece esta iluminação, ocorre uma mudança assombrosa. Não é mais como a alma que carrega a arca da
fé sem nunca abri-la, não é como a alma que adere às verdades da fé, vive seus efeitos e conseqüências mas
não consegue relacionar os fatos naturais corriqueiros com esta fé. Se, por graça divina, persevera nesta rota,
procurando aprofundar-se cada vez mais na boa doutrina, buscando as fontes seguras da Tradição da Igreja,
poderá chegar mesmo a experimentar as claras intuições própria dos Santos. É neste ponto que a amizade
divina se torna objeto de verdadeiro conhecimento e contemplação. A alma não somente goza dessa amizade,
mas também a percebe e compreende. É o que se chama de "contemplação ordinária", que consiste numa
forte consciência da presença de Deus. Cristo passa a ser a luz que irradia cada objeto de atenção da alma;
todas as coisas passam a ser vistas através dEle.
A alma atinge um alto grau de vida interior (o que não supõe nenhum tipo de alienação: na via da
purificação a alma aprendeu que a vida interior pressupõe o exercício de todas as virtudes humanas nas
atividades cotidianas - trabalho, estudo, relações familiares, vida política,etc... - cada um dentro de seu
estado e vocação específica). A alma goza da real intimidade com Deus.
O perigo deste estágio é o orgulho extremado e embriagante. A alma corre o risco de se julgar perfeita e
digna desta intimidade. Costuma acontecer que os bem formados e esclarecidos imaginem que a voz interior
deva sobrepor-se à exterior e considerem-se mais capazes de interpretar a Igreja do que a própria Igreja.
Paralelamente ao crescimento da vida interior é imprescindível que haja também um crescimento na devoção
e na submissão à voz exterior com que Cristo nos fala na sua Igreja. É muito difícil distinguir a diferença
entre as inspirações do Espírito Santo e as aspirações e imaginações pessoais. Quanto mais intensa for a vida
interior, quanto mais luzes receber, tanto mais deve sentir necessidade da mão forte da Igreja. A via
iluminativa se caracteriza pela fascinação por Deus, pelo gosto e descobertas místicas. A pessoa tem desejo
de entrega e doação de si, de amor à cruz, sensibilidade fraterna, de direção espiritual, de amor ao Espírito
Santo com seus dons e frutos. A paz e a serenidade interior, o amor a Maria e aos santos, o estímulo para a
oração e para serviço aos irmãos, especialmente aos pobres, são, em geral, frutos da via iluminativa.
3 - VIA UNITIVA
O silêncio, a solidão, a contemplação marcam a via unitiva, como também, experiência de luz e de obscuridade que
leva para mais luz. A união com Deus é transparente, irradiante e simples. A pessoa evita não só os pecados como
também as imperfeições, buscando sempre o mais perfeito e agradável a Deus. Abandona-se confiantemente em Deus
e desdobra-se em boas obras e cuidados pelo próximo. As virtudes teologais e morais são vividas com profundidade e
inefabilidade. A alma é uma só coisa com Deus.
Esta grande purificação ou transformação se apresenta sob diferentes formas nos puros contemplativos
como São Bruno, e nas almas dedicadas ao apostolado ou às obras de misericórdia, como São Vicente de
Paulo, mas o essencial é o mesmo: tanto nas primeiras como nas últimas, a humildade e as três virtudes
teologais são purificadas de toda mistura humana, manifestando-se cada vez mais seus motivos formais
livres de qualquer motivo secundário.
Os frutos desta terceira conversão são os mesmos de Pentecostes, quando os Apóstolos foram
esclarecidos e fortificados e, assim, transformados, por sua vez transformaram os primeiros cristãos com
suas pregações. Os frutos são, sobretudo, uma verdadeira e profunda humildade, uma fé viva e penetrante
que começa a gozar dos mistérios do lado de lá, são como um antegozo da vida eterna.
É também uma esperança muito firme, muito confiante na misericórdia divina, sempre compassiva.