Vírgula - Manual de Redação - FUNAG
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Vírgula
De Manual de Redação - FUNAG
(CUNHA, Celso e CINTRA, Luís F. Lindlay. Nova gramática do português contemporâneo. 3ª ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2003, p. 644-650)
A vírgula marca uma pausa de pequena duração. Emprega-se não só para separar elementos de uma oração, mas também
orações de um só período.
1°) Para separar elementos que exercem a mesma função sintática (sujeito composto, complementos, adjuntos), quando
não vêm unidos pelas conjuções e, ou e nem. Exemplos:
A sua fronte, a sua boca, o seu riso, as suas lágrimas, enchem-lhe a voz de formas e de cores... (Teixeira de Pascoaes,
OC, VII, 83.)
Os homens em geral são escravos; vivem presos às suas profissões, aos seus interesses, aos seus preconceitos. (Gilberto
Amado, TL, 12.)
Achava os homens declamadores, grosseiros, cansativos, pesados, frívolos, chulos, triviais. (Machado de Assis, OC, I,
660-661.)
Observação: Quando as conjunções e, ou e nem vêm repetidas numa enumeração, costuma-se separar por vírgula os
elementos coordenados, como nestes exemplos:
Vai o fero Itajuba perseguir-vos Por água ou terra, ou campos, ou florestas; Tremei!... (Gonçalves Dias, PCPE, 523.)
Nem eu, nem tu, nem ela, nem qualquer outra pessoa desta história poderiam responder mais. (Machado de Assis, OC, I,
805.)
2°) Para separar elementos que exercem funções sintáticas diversas, geralmente com a finalidade de realçá-los. Em
particular, a vírgula é usada:
A meu pai, com efeito, ninguém fazia falta. (O. Lara Resende, RG, 93.)
— Que ideias tétricas, minha senhora! (J. Paço dArcos, CVL, 366.)
— D. Glória, a senhora persiste na idéia de meter o nosso Bentinho no seminário? (Machado de Assis, OC, I, 731.)
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— Nada, nada — dizia Vilaça todo amável — cá o nosso solzinho português sempre é melhor. (Eça de Queirós, O, II,
89.)
Contigo, contigo, Antônio Machado, Fora bom passear. (C. Meireles, OP, 344.)
Observação:
Quando os adjuntos adverbiais são de pequeno corpo (um advérbio, por exemplo), costuma-se dispensar a vírgula . A
vírgula é, porém, de regra quando se pretende realçá-los. Comparem-se estes passos:
Depois levaram Ricardo para a casa da mãe Avelina. (J. Lins do Rego, U, 320.)
Depois, o engraçado são as passagens de nível, os aparelhos de sinalização, os vagões-cisternas... (A. Abelaira, D, 30.)
A tarde, de ouro pálido, e o mar, tranquilo como o céu. (G. Amado, TL, 33.)
Chuva, névoa, desconforto, A imagem da minha vida! (A. Botto, AO, 236.)
Acendeu um cigarro, cruzou as pernas, estalou as unhas, demorou o olhar em Mana Maria. (A. de Alcântara Machado,
NP, 136.)
Veio a hora do almoço, o céu cobriu-se de negro, a chuva desabou, contínua e pesada. (A. Abelaira, D, 178.)
2°) Para separar as orações coordenadas sindéticas, salvo as introduzidas pela conjunção e.
Ou elas tocavam, ou jogávamos os três, ou então lia-se alguma cousa. (Machado de Assis, OC, II, 497.)
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Observações:
a) Separam-se geralmente por vírgula as orações coordenadas unidas pela conjunção e, quando têm sujeito diferente:
A mulher morreu, e cada um dos filhos procurou o seu destino (F. Namora, TJ, 23.)
Costuma-se também separar por vírgula as orações introduzidas por essa conjunção quando ela vem reiterada:
Comigo, o mundo canta, e cisma, e chora, e reza, E sonha o que eu sonhar. (Teixeira de Pascoaes, OC, III, 27.)
E eles riem, e eles cantam, e eles dançam. (Ó. Ribas, EM T, 75.) porém, todavia, contudo, entretanto e no entanto,
podem vir ora no início da oração, ora após um de seus termos. No primeiro caso, põe-se uma vírgula antes da
conjunção; no segundo, vem ela isolada por vírgulas. Compare-se este período de Machado de Assis:
aos seguintes:
Em virtude da acentuada pausa que existe entre as orações acima, podem ser ditas separadas, na escrita, por ponto-
e-vírgula. Ao último período é mesmo a pontuação que melhor lhe convém:
b) Quando conjunção conclusiva, pois vem sempre posposto a um termo da oração a que pertence e, portanto, isolado
por vírgulas:
Não pacteia com a ordem; é, pois, uma rebelde. (J. Ribeiro, PE, 95.)
As demais conjunções conclusivas (logo, portanto, por conseguinte, etc.) podem encabeçar a oração, ou pospor-se a um
dos seus termos. À semelhança das adversativas, escrevem-se, conforme o caso, com uma vírgula anteposta, ou entre
vírgulas. Veja-se a Observação 2. ao ponto-e-vírgula.
— Se o alienista tem razão, disse eu comigo, não haverá muito que lastimar o Quincas Borba. (Machado de Assis, OC, I,
546.)
— Amanhã mesmo vou encerrá-lo, assegurei, um tanto espanliiild com a facilidade com que assumia aquele
compromisso. (C. dos Anjos, DR, 356.)
“Lá vem ele com as raízes”, resmungou Paulino, baixando a c ,ilirt,it (Castro Soromenho, C, 137.)
O Loas, que tinha relações sobrenaturais, diagnosticara um espírito. (F. Namora, TJ, 24.)
Eu, que tinha ido ensinar, agora me via diante de trinta examinadoras. (Genolino Amado, RP, 24.)
D. Apolônia, que se habituara ao desdém das senhoras do Quinaxixe, não amolecia no entanto como patroa. (A. Santos,
P, 66.)
Observação:
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As restritivas, necessárias ao sentido da frase, ligam-se a um substantivo (ou pronome) antecedente sem pausa, razão
porque dele não se separam, na escrita, por vírgula. Já as explicativas, denotadoras de uma qualidade acessória do
antecedente — e, portanto, dispensáveis ao sentido essencial da frase —, separam-se dele por uma pausa, indicada na
escrita por vírgula.
Não se lembraria do beijo que me jogara de longe, dos cravos que me atirara... (Ribeiro Couto, C, 85.)
Os dois espanhóis e meu tio, que o ouviam, olharam para mim. (J. de Sena, SF, 175.)
No primeiro, há duas orações adjetivas restritivas: que me jogara de longe e que me atirara; no segundo, uma oração
adjetiva explicativa: que o ouviam. Daí a diversidade de pontuação.
5°) Para separar as orações subordinadas adverbiais, principalmente quando antepostas à principal:
Quando se levantou, os seus olhos tinham uma fria determinação. (F. Namora, NM, 243.)
Se eu o tivesse amado, talvez o odiasse agora. (C. dos Anjos, M, 146.) De tudo se lembrara nesse momento, porque de
tudo queria esquecer depois... (A. de Assis Júnior, SM, 140.)
6°) Para separar as orações reduzidas de infinitivo, de gerúndio e de particípio, quando equivalentes a orações
adverbiais:
Sendo tantos os mortos, enterram-nos onde calha. (J. Saramago, MC, 221.)
Conclusão
a) toda oração ou todo termo de oração de valor meramente explicativo pronunciam-se entre pausas; por isso são
isolados por vírgulas, na escrita;
b) os termos essenciais e integrantes da oração ligam-se uns com os outros sem pausa; não podem, assim, ser separados
por vírgula. Esta a razão porque não é admissível o uso da vírgula entre uma oração subordinada substantiva e a sua
principal;
c) há uns poucos casos em que o emprego da vírgula não corresponde a uma pausa real na fala; é o que se observa, por
exemplo, em respostas rápidas do tipo: Sim, senhor. Não, senhor.
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