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Educação e Nacionalismo - Nkrumah

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Nkrumah – Education In Nationalism

A história humana foi dominada por duas buscas: “o pão e os direitos humanos”. Na África
hoje, se ouve “poderosas vozes exigindo os direitos humanos”. A África não é mais “terra dos
mistérios”. A Segunda Guerra Mundial aproximou toda a humanidade. No entanto ainda
persiste o preconceito da África como terra de “selvagens e gente incivilizada”.

“O que é a África?”, “Qual a importância do continente na enorme batalha entre as potências


mundiais?” “E depois de tudo, quais são as tendências políticas e educacionais, quais as
potencialidades do continente?” São perguntas que os americanos foram obrigados a se fazer
agora. Os povos da África adquirem “consciência e solidariedade”, lutando para um
“desenvolvimento econômico, politico, social e educacional” com base nas necessidades das
populações africanas. (Página 32)

“Todos os povos procuram preservar a existência transmitindo aquilo que imagina necessário
para a auto sobrevivência.” Na educação da África ocidental, as sociedades secretas cumpriam
esse papel. A natureza das cerimonias e rituais secretos, como formas de educação,
conferiram uma aura de mistério para esse modo de educação.

“As primeiras tentativas de introduzir a educação cristã na África foi há mais de 400 anos”.
Primeiro com os jesuítas, católicos romanos, na África Ocidental, a serviço do Rei de Portugal,
no século XV. Missão que durou até meados do século XVIII. Depois vieram outras
denominações, protestantes, durante o século XVIII. Serra Leoa se tornou um refúgio seguro
para esses religiosos. No interior da Costa do Ouro, no entanto, havia grande resistência dos
“aboríngenas”. A primeira missão religiosa de uma igreja americana na África foi em 1822. Na
segunda metade do século XIX já havia cinco denominações religiosas americanas atuando no
continente. (Página 33)

“Atualmente, pode se estimar que, fora a influencia muçulmana, 90% da escola estão sob
controle missionário ou do governo colonial.” As escolas primárias das missões religiosas são
financiadas pelos governos, contando com professores certificados. Nas escolas secundárias, o
diretor é europeu, os professores são europeus e africanos. Nessas instituições os padrões se
aproximam das “high schools” dos EUA.

“Para os governos europeus na África educação é parte do plano de colonização.”

“Há dois tipos de escolas secundárias na África: para os rapazes, que são a maioria, e para as
meninas que são menos.” A maioria dessas escolas combinam características dos EUA com as
tradições europeias. Nos territórios colonizados pelos ingleses a forte presença do modelo
escolar britânico, que treina para o domínio da língua inglesa. Nos colonizados pela França no
Oeste da África, a influência são dos Liceus. (Página 34) “O currículo é de natureza acadêmica”
“Os patrões dessas escolas podem ser comparados ao melhor dos EUA e do Reino Unido”. No
entanto, essas escolas estão acessíveis apenas para uma “pequena porcentagem da
população”. Apenas os pais mais abastados mandam os filhos para as escolas. A escola não é
compulsória na África. A massificação da educação ocorrida na China e na Índia não tem
paralelo na África. “A educação de adultos é completamente negligenciada”.

As metas e organizações das escolas africanas se dividem em três categorias. Uma é treinar
funcionários religiosos e professores. A segunda são as escoals gramaticais de Serra Leoa e
Nigéria, que tem como foco o ensino dos clássicos. A terceira são escolas profissionalizantes,
como a de ensino técnico em Acra e a escola de negócios da Nigéria. Essas escolas técnicas não
se comparam as dos EUA e da Europa.

As escolas elementares são preparatórias para o ensino secundário. O ensino primário dura
sete anos, o ensino secundário dura quatro. Há um período de treino entre um ensino e outro.
Os anos gastos não tem a ver com os anos cronológicos. Ao total são quatorze anos de escola.
(página 35)

As matérias dessas escolas primária são as seguintes: “moral e religião, língua materna,
aritimética, leitura e escrita, trabalho manual, estudo natural, desenho, contação de histórias,
canto, educação física”. Em média o tempo dos alunos nas escolas são 30 horas por semana.
No secundário se soma as matérias história, geografia e jardinagem, o tempo médio por
semana são 34 horas.

“Se a educação é para a vida, fica evidente a fraqueza do sistema educacional na África.” As
atividades e matérias escolares deveriam ser relacionar diretamente com a vida das pessoas,
as preparando para responder ao desafios da vida. “A velha concepção exclusivamente
acadêmica” ainda domina as escolas coloniais em África. “Esse anacronismo deve dar lugar a
um novo processo de treino e educação para a vida contemporânea e as ideias sociais,
politicas, econômicas e técnicas, agora em voga nas escolas progressivas dos EUA, na Rússia e
na China.”

Para um observador estrangeiro se torna óbvio que o currículo escolar é tristemente devotado
para a ciência natural, física e social. Qualquer sistema de educação deveria estar de acordo
com as necessidades da comunidade onde a personalidade individual se expressa. Sobre esse
sistema de educação nenhum jovem africano está preparado para nenhuma situação da
própria comunidade, apenas estarão aptos para a “atividade religiosa, ocupação comercial
estrangeira ou preocupações mercantilistas.” Senão fosse por esse “lapso educacional”, os
esforços africanos poderiam ser muito maiores na Segunda Guerra. Essses problemas da
educação colonial são tão sérios na África quanto nas índias orientais, Malasia, Mynamar,
Indonésia e Singapura, lugares onde o descaso com a educação trouxe resultados desastrosos
para os Aliados. Todo programa educacional que falha em fornecer critérios para um
julgamento político, econômico e técnico por parte das pessoas falhou em seu próposito, se
tornando uma fraude educacional. (Página 36)

*história, moral e religião eram europeias e cristã, nunca as da África

A política educacional colonial da Grã-Bretanha buscou essa adaptação. O pressuposto incial


era construir cultura, artes e civilização africana. Essa polítca foi testado primeiro na Índia,
onde várias escolas praticaram esse modelo de educação britânico. No entanto, essa política
de adaptação foi criticada por que “inevitavelmente conduzia ao descontentamento e sedição
– isto é, desejo por independência e auto-determinação”. O temor era que se o governo
britânico adotasse o mesmo sistema na África teria o mesmo resultado. “Em outra palavras, a
educação superior é incompatível com o status colonial.”

Depois da primeira guerra mundial, uma nova política foi inaugurada, impulsionada por
comissões dos EUA. Esta política foi formulada pelo governo da Grã Bretanha. “Essa filosofia
educacional era baseada no assim chamado do princípio da ‘tutela’ “. “A educação deveria se
adaptar a tradição e ‘mentalidade’ dos africanos”, conservando e melhorando das instituições
da África enquanto, ao mesmo tempo, introduz ideias progressiva sobre agricultura, riqueza,
indústrias nacionais. Uma educação para preparar os africanos para cuidar dos próprios
assuntos. Nos objetivos, essa educação deveria estimular os africanos a ser orgulhar da sua
ração, que pode contribuir para o progresso do mundo. A educação por tutela pressupõe,
portanto, que os chefes africanos deveriam ser educados para ter responsabilidades para com
as comunidades, ensinando os métodos para administrar o próprio país. No entanto, essa
aspiração educacional “aumenta as posições de influência sobre os africanos em muitas
esferas da vida.” Ainda que essas relações políticas e interesses nacionais sejam preocupantes,
a principal questão da educação por tutela é quando os africanos serão considerados
suficientemente educados para gerir os próprios assuntos. Conhecendo os governos europeus
na África, sabemos que jamais deixarão os africanos controlem o próprio destino. (Página 37)

O problema agora é como educar os africanos sem afastar de sua casa e de sua vida tribal. O
principal problema da educação africana atual é a educação que promove a aculturação. Isto
exige uma correlação entre a cultura da África e a do mundo ocidental. O problema é ainda
maior e mais complexo quanto as pessoas saem de uma cultura mergulhando em outra que é
ao mesmo tempo a assimilação é complexa e o povo recusa a autodeterminação, para gerir o
próprio país. Quando duas culturas se encontram há uma crise, que “resulta na síntese
dialética das duas.” Esse desenvolvimento obedece fatores internos e externos em cada
cultura. “A luta entre opostos provoca um processo que conduz, até um certo ponto, a uma
ruptura revolucionária, na qual emerge uma coisa nova – uma nova cultura, uma nova
educação ou uma nova vida nacional.”

O melhor da África e o melhor do Ocidente deveriam ser combinador no processo educacional


do continente. Para realizar isso, se deve utilizar os melhores educadores, antropólogos,
sociólogos, assim garantindo o respeito aos valores e cultura indígena da África. “Nenhum
sistema de educação é possível sem respeito pelo educando”

São muitas as potencialidades, a educação na África poderá produzir uma nova classe de
africanos educados com o melhor da cultura ocidental, utilizada para o próprio
desenvolvimento. Essa nova classe exigirá poderes, independência e auto determinação para
as suas nações, o caminho do progresso. Eles combinarão o melhor da cultura ocidental com a
cultura da África. (Página 38) “Nesse processo de avanço mundial, somente no solo da África
pode florescer uma nova e distinta uma civilização.” Isto por que o básico necessário para a
regeneração social está por todo lugar na África hoje: os movimentos de jovens que se
espalham e organizam pelo continente. “Os jovens querem elevar a voz, se fazerem ouvir, se
juntar aos povos do mundo que destroem o fascismo e construir o mundo do pós-Guerra,
baseados nos princípios expressos da Carta do Atlântico.” Os líderes africanos sabem que
precisam da energia e força para a independência, e para isso contam com a estamina da
juventude. O futuro da África livre depende dos jovens.

Hoje a participação da África está completa. Com exceção da Abissínia e da Libéria, não há
lugar que os africanos definem a própria vida politica e econômica. O Egito não é
verdadeiramente independente, é controlado pela Grã Bretenha. Mas a juventude da África
desafiará todas as forças imperialistas. “Você pode algemar as mãos dos homens, pode
algemar os pés dos homens, pode aprisionar o corpo dos homens, mas tem algo que nem as
diabólicas forças do fascismo e do imperialismo podem fazer, eles não podem escravizar,
algemar ou aprisionar as mentes dos homens determinados.” (Citando Marcus Garvey)

Muitos de nós não podemos entender como uma guerra pela democracia pode trazer de volta
o imperialismo. Se isso acontecer, não haverá uma nova guerra e sim a maior revolução que
esse mundo já viu. “A juventude africana está de prontidão”. Não se pode colocar para dormir
um povo desperto. “nós vivemos na época mais poderosa da humanidade.” O progresso do
mundo nos impele a avançar. (Página 39)

Os debates teóricos atuais são fascinantes. Argumentam alguns que os povos colonizados
podem ser beneficiar com um progresso da metrópole, as “chamadas nações poderosas”. Mas
eles esquecem que paz é uma palavra vazia sem os direitos naturais de um povo a
autoderminação sejam reconhecidos. A maior revolução está por vim – quando os africanos e
povos colonizados levantarem por seus direitos e liberdades. “A Primeira Guerra despertou os
povos da Ásia. Esta Guerra está despertando os povos da África e todos os negros do mundo.
Há um novo africano nos cinco continentes e nos sete mares. Esse africano não é novo nem
velho, é simplesmente novo.”

As guerras futuras não serão impedidas com debates e escritos, mas com a liberdade dos
povos. Assim se organizarão para “deter o fascismo, o imperialismo e todas as forças de
exploração que se coloquem contra a paz mundial.” “Por que falar de comunidade britânica ou
comunidade americana, e não uma comunidade mundial, na qual todos os povos podem
reivindicar seus direitos, independência e liberdade?” “Como primeiro passo, vamos criar uma
federação de Estados na África Ocidental, onde os africanos podem governar a si mesmo sem
interferência externa”

“Quando o reconhecimento prático do caráter devidamente limitado da soberania nacional


vier, podemos esperar que o último se veja o fim da exploração egoísta das nações
subdesenvolvidas, que até agora provocou tantas injustiças internas e guerras externas” -
william heard kilpatrick (pedagogo britânico)

(Página 40)

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