1257 509 PB
1257 509 PB
1257 509 PB
ISSN 1984-7556
21
UFRJ
FACULDADE DE LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS VERNÁCULAS
SETOR DE LITERATURA BRASILEIRA
MARIO CESAR NEWMAN DE QUEIROZ
ARTIGOS
ANDRÉIA DELMASCHIO
ENTREVISTAS
TCHELLO D’BARROS
por Renata Barcellos
ALEXANDRE BRAGA
RESENHAS
ISSN 1984-7556
21
FACULDADE DE LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS VERNÁCULAS
SETOR DE LITERATURA BRASILEIRA
Fórum de Literatura Brasileira Contemporânea
www.forumdeliteratura.com
Publicação do Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da UFRJ
CATALOGAÇÃO NA FONTE
Biblioteca da Faculdade de Letras da UFRJ
F745 Fórum de Literatura Brasileira Contemporânea ‒ Rio de Janeiro : UFRJ,
Faculdade de Letras, 2009-
Semestral
ISSN 1984-7556
1. Literatura brasileira ‒ Séc. XX-XXI ‒ História e crítica. 2. Escritores brasileiros ‒
Séc. XX-XXI ‒ Crítica e interpretação. 3. Escritores brasileiros ‒ Séc. XX-XXI ‒
Entrevistas. 4. Poetas brasileiros ‒ Séc. XX-XXI ‒ Crítica e interpretação. 5. Poetas
brasileiros ‒ Séc. XX-XXI ‒ Entrevistas. I. Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Faculdade de Letras
ICDDB 869.09005
SUMÁRIO
Apresentação
7
Artigos
De onde vem tanta vagina? Xibunguismo e
perversão na poesia vaginal de Glauco Mattoso
Mario Cesar Newman de Queiroz
15
Roberto Correa dos Santos: a traça, o traçado da obra
Mauricio Chamarelli Gutierrez
31
Contornos de A palavra nunca:
o gênero conto em Eric Nepomuceno
Morgana Chagas Ferreira
49
Mira Schendel: personagem e propositora de
reflexões na ficção de Rodrigo Naves
Thais Kuperman Lancman
69
Ensaios
Resenhas
Ruínas da diáspora
Outro lugar, de Luís S. Krausz
Alexandre Braga
225
O poeta e seus deltas: onde nasce a poesia?
O retorno de Bennu, de Majela Colares
Maria Inês Pinheiro Cardoso
229
Contos para Caio F.
O que resta das coisas, organizado por Ricardo Barberena
Marina Ruivo
241
Arquitetura para escombros
Migalha, de André Luiz Pinto
Paulo Ferraz
259
Lirismo amoroso hoje
O amor curvo, de Daniel Gil
Wladimir Saldanha
267
APRESENTAÇÃO
Anélia Pietrani*
Artigos
No primeiro artigo, Mario Cesar Newman de Queiroz
discute Poesia vaginal (2015), de Glauco Mattoso, famoso pelas
tiradas transgressivas e pornográficas, autointitulado podólatra e
praticante do que chama de estética xibunguista. Segundo a leitura
empreendida por Newman, esse livro de cem sonetos aponta para
questões relevantes, como a formulação de Lacan de que “a relação
sexual não existe” e acerca das angústias da incompletude. Assim,
o termo “vaginal” assume sentido mais amplo que o vocábulo
“vagina”, referindo-se, em última instância, a todas as faltas da
sexualidade humana.
*
Professora associada de Literatura Brasileira na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 7-12, jan.-jun. 2019.
8 Apresentação
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 7-12, jan.-jun. 2019.
Apresentação 9
Ensaios
Julio Cortázar torna a aparecer nesta edição, agora como
autor do conto “O perseguidor”, publicado em 1959. Clarice Gou-
lart Pedrosa destaca que, desde o início do século XX, a produção
literária latino-americana vem se abrindo aos espaços periféricos
e os sujeitos que os habitam, construindo uma ficção povoada por
diferentes representações dos subalternos e marginalizados. A par-
tir daí, analisa a figura do perseguidor criada pelo autor argentino
para além do sentido de personagem que problematiza o papel do
artista e, ao estabelecer correlação com as formas de ver e ser visto
do sujeito marginalizado, traça paralelo com o protagonista de “Es-
piral”, conto de O sol na cabeça (2018), livro de estreia do brasileiro
Geovani Martins.
A reflexão sobre a figura do subalterno – como criador e
criatura – enseja outro ensaio, no qual se pergunta que lugar a
literatura indígena ocupa na atualidade. Marina Beatrice Ferreira
Farias e Izabela Guimarães Guerra Leal investigam as contribuições
literárias e culturais da publicação de Metade cara, metade máscara
(2004), de Eliane Potiguara, para a literatura contemporânea. Sob a
luz do conceito de entre-lugar, de Silviano Santiago, as pesquisadoras
traçam um panorama do que constitui a poesia indígena brasileira e
ressaltam a necessidade de se olhar para a trajetória construída por
Potiguara e sua poesia.
“Ruminadouro”, de Ruminações (1999), e “Os olhos de
Charlotte Rampling”, de Pelo corpo (2002), dois poemas de Donizete
Galvão, são o objeto de estudo de Maura Voltarelli Roque em ensaio
que pretende pensar as figurações da Ninfa como “forma feminina em
movimento”, tal como vista por Aby Warburg e Georges Didi-Huber-
man. Autor de uma poesia atravessada pela tensão entre delicadeza e
profundidade, corpo e cosmo, morte e vida, construção e inspiração,
Galvão entrevê essas imagens como poética do desejo e, ao mesmo
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 7-12, jan.-jun. 2019.
10 Apresentação
Entrevistas
A primeira entrevista desta edição foi feita por Vitor Cei
com a ensaísta e ficcionista Andréia Delmaschio, professora de lite-
ratura do Instituto Federal do Espírito Santo, cuja obra se compõe
de vários volumes de crítica, conto, crônica e prosa infanto-juvenil.
Nessa conversa, ocorrida em março de 2017, no âmbito do projeto
“Notícia da atual literatura brasileira: entrevistas”, coordenado pelo
entrevistador, Andréia reflete sobre seu processo criativo, discute o
problema do machismo, alerta para o sucateamento da educação,
comenta as dificuldades na formação de leitores e compartilha re-
flexões sobre o quadro político da atualidade.
O olhar crítico sobre a arte contemporânea, o acesso à edu-
cação e à leitura, as questões políticas envolvidas nesse processo e as
leis de incentivo à cultura ganham relevo na entrevista concedida a
Renata Barcellos pelo multiartista Tchello d’Barros. Sua obra transita
por várias linguagens das artes visuais (desenho, pintura, gravura,
fotografia, vídeo, instalação), constituindo-se ainda de uma produção
literária bastante diversificada, que inclui prosa (contos, crônicas,
artigos) e poesia (versos livres, sonetos, haicais, poesia visual, cor-
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 7-12, jan.-jun. 2019.
Apresentação 11
Resenhas
Em Outro lugar (2017), de Luís Sérgio Krausz, o caráter
dialógico da memória individual e coletiva comparece por meio de
flashes do processo de democratização do Brasil. Eis o ponto de
partida de Alexandre Braga em seu esquadrinhamento do romance
do autor paulista, em que tempo e lugar se definem por camadas que
se sobrepõem reciprocamente e conduzem o narrador a uma viagem
catabática, paradoxalmente, de ruínas e pertencimentos.
Leitora aplicada da poesia de Majela Colares, Maria Inês
Pinheiro Cardoso resenha O retorno de Bennu (2018), não sem antes
apresentar, em detalhes, o poeta e sua obra, que contam com uma
vasta fortuna crítica. Nesse novo livro, os poemas transitam entre o
lirismo e algumas incursões pelo humor; entre a artesania poética e
a simplicidade da linguagem; entre a suave melancolia de um sorriso
breve e uma viagem profunda ao infinito, no tempo e no espaço.
Marina Ruivo empreende um longo passeio pelos 28 contos
que compõem o livro O que resta das coisas (2018), organizado por
Ricardo Barberena em homenagem aos setenta anos de nascimento
de Caio Fernando Abreu. Ao realçar passagens de boa parte das nar-
rativas, a resenhista chama a atenção para a riqueza da coletânea,
constituída de textos de ficcionistas em atividade que tinham o autor
gaúcho em alta conta e o abordam de uma maneira sempre singular.
Paulo Ferraz realiza uma leitura atenta e minuciosa dos poe
mas de Migalha (2019), de André Luiz Pinto. O entulho da marca
gráfica de dois anos inesquecíveis lampejará nos olhos do leitor do
livro e da resenha: 2013 e 2016 marcam traumaticamente a história
de um Brasil que parecia haver recebido alguma migalha de melhoria
coletiva. Em resistência tonificada pelo talento, André Luiz Pinto
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 7-12, jan.-jun. 2019.
12 Apresentação
Convite
A pluralidade de temas, gêneros e formas críticas convida a
leitora e o leitor à palavra-chave dos escritos aqui reunidos: demo-
cracia. Nossa revista tem acesso gratuito e circulação ilimitada. Os
revisores, preparados criteriosamente, se afinam cada vez mais no
cuidado de cada volume. Os diagramadores se empenham na orga-
nização, alegria e beleza do site. Professoras e professores, alunas
e alunos de vários níveis de ensino e pesquisa – tanto de graduação
quanto de pós-graduação –, vinculados a universidades de diferentes
cantos do Brasil e do exterior, compõem o conjunto de articulistas,
ensaístas, resenhistas e entrevistadores das edições lançadas até
o momento. O corpo editorial está sempre aberto ao diálogo, de
modo que os próximos passos se beneficiem da aragem do caminho
já percorrido.
Sabemos quão fundamental é o espírito democrático para a
criação, a pesquisa e o ensino. Consoante essa necessidade, a litera-
tura brasileira contemporânea pode ter certeza de que tem aqui um
veículo afeito às suas múltiplas e mutantes faces.
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 7-12, jan.-jun. 2019.
ARTIGOS
ESCRITOS SOBRE ASPECTOS
DA LITERATURA
De onde vem tanta vagina? Xibunguismo e
perversão na poesia vaginal de Glauco Mattoso
*
Professor associado no Departamento de Letras e Comunicação da Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 15-30, jan.-jun. 2019.
16 Artigos
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 15-30, jan.-jun. 2019.
De onde vem tanta vagina? Xibunguismo e perversão na poesia vaginal de Glauco Mattoso 17
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 15-30, jan.-jun. 2019.
18 Artigos
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 15-30, jan.-jun. 2019.
De onde vem tanta vagina? Xibunguismo e perversão na poesia vaginal de Glauco Mattoso 19
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 15-30, jan.-jun. 2019.
20 Artigos
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 15-30, jan.-jun. 2019.
De onde vem tanta vagina? Xibunguismo e perversão na poesia vaginal de Glauco Mattoso 21
O gozo enfim?
Joel Birman lembra que, em Três ensaios sobre a teoria da se-
xualidade, Freud esboçou sua primeira teoria das pulsões e mergulhou
na questão da sexualidade. Com esses pensamentos e formulações,
Freud desconstruía as concepções de sexo e psiquê oriundas das ciên-
cias do século XIX e as movia do plano orgânico para o plano mental.
Ali ele se dava conta de que “a sexualidade seria essencialmente per-
verso-polimorfa”, formada por entrechoques de pulsões anárquicas
e parciais que buscavam o prazer e o gozo (Birman: 2014, 273-4).
“Eu, ouvindo o que ella conta, / no logar me vejo, prompta /
minha bocca à dura lida...” (Mattoso: 2015, 185). Se a relação sexual
não encaixa, o falante-ser é sempre solitário em seu ato sexual, em
seu prazer, pois nem mesmo o prazer se encaixa no gozo. Os poemas
de Poesia vaginal são cheios de perversões, transgressões, baixarias,
coprofilia, sodomia, podologia, estupros, violências, personagens
sádicos, masoquistas, cegos, aleijados, dominatrix, prostituição,
pedofilias realizadas ou tentadas, masoquista fantasiado de bebê,
masturbações, zoofilias... É preciso repetir, nos cem sonetos de Poesia
vaginal, nem todos eles tratam diretamente da vagina, mas de algo
mais amplo, que é o vaginal.
E como Glauco Mattoso constrói esse vaginal? Ele é
construído como espaço de transgressão, de perversão, que é o
resultado da distinção psíquica da sexualidade entre homem e
mulher, da “castração” e do ilimitado da castrada que com a cas-
tração advém. Com isso, Glauco Mattoso escava como nenhum
outro poeta brasileiro o espaço da transgressão, da perversão.
Rompendo com qualquer fronteira de discurso politicamente
correto, o discurso pornológico de Glauco Mattoso atua em prol
de uma política de corpos muito mais livres: entre outras coisas,
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 15-30, jan.-jun. 2019.
22 Artigos
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 15-30, jan.-jun. 2019.
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Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 15-30, jan.-jun. 2019.
24 Artigos
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 15-30, jan.-jun. 2019.
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26 Artigos
É o caralho na fatal
Melancia... é só fural-a!
Si no cu leva a cenoura
Uma bicha, que lhe estoura
Todo o recto, por que não...?
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De onde vem tanta vagina? Xibunguismo e perversão na poesia vaginal de Glauco Mattoso 27
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28 Artigos
Referências
Sites:
www.academia.edu/13638898/Entrevista com Glauco Mattoso,
acesso em 30/07/2018.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Glauco_Mattoso, acesso em
12/04/2019.
www.enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa4836/glauco-mattoso,
acesso em 12/04/2019.
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 15-30, jan.-jun. 2019.
De onde vem tanta vagina? Xibunguismo e perversão na poesia vaginal de Glauco Mattoso 29
Resumo
Abstract
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 15-30, jan.-jun. 2019.
30 Artigos
deals with something much wider than the term vagina, and ultimately
all the faults of human sexuality.
Keywords: Vaginal poetry; Brazilian Poetry; Glauco Mattoso;
poetry and psychoanalysis.
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 15-30, jan.-jun. 2019.
Roberto Correa dos Santos:
a traça, o traçado da obra
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 31-47, jan.-jun. 2019.
32 Artigos
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 31-47, jan.-jun. 2019.
Roberto Correa dos Santos: a traça, o traçado da obra 33
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 31-47, jan.-jun. 2019.
34 Artigos
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 31-47, jan.-jun. 2019.
Roberto Correa dos Santos: a traça, o traçado da obra 35
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 31-47, jan.-jun. 2019.
36 Artigos
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Roberto Correa dos Santos: a traça, o traçado da obra 37
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 31-47, jan.-jun. 2019.
38 Artigos
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Roberto Correa dos Santos: a traça, o traçado da obra 39
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 31-47, jan.-jun. 2019.
40 Artigos
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Roberto Correa dos Santos: a traça, o traçado da obra 41
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 31-47, jan.-jun. 2019.
42 Artigos
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 31-47, jan.-jun. 2019.
Roberto Correa dos Santos: a traça, o traçado da obra 43
Roberto se cava, escava, revolve. Talvez não caiba falar aqui em verso
a tratar da escrita daquele que recusa o poema-forma e dessas linhas
inquietas que não se isolam à esquerda da página, mas dançam pela
sua superfície, se espaçam de um canto a outro, com vazios no meio,
saltando de um lado para o outro, como se quisessem esgarçar ou
rasgar seu suporte. Como se tecessem seu caminho em meio a uma
página cinza, acinzentada, sempre atravessada, rasurada por muitos
restos e outros ossos; como se mais do que escrever, se tratasse de
abrir a frase como um vão em meio a que – como uma galeria dessas
que cavam e habitam os cupins, as formigas e, mais uma vez, as tra-
ças. Roberto é um desses Animais de galeria de que fala um poema
de Clínica de artista (Dos Santos: 2011b, 81); e a metáfora insectoide
não pode ser deixada de lado para manter a ambiguidade do termo
‘galeria’ e ver nela a inversão do espaço interior (espaço privilegia-
do da arte, ao menos em sua exposição mercantil) em exterior, em
furo e vazio carcomendo toda interioridade – perscrutando o fora
de todo dentro. O jogo entre interior e exterior retoma, por sua
vez, outro poema de Clínica de artista, que leva o significativo título
de “obras anteriores” e encena a permeabilidade da escrita a esses
ossos de obras:
obras anteriores
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 31-47, jan.-jun. 2019.
44 Artigos
quer sair.
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 31-47, jan.-jun. 2019.
Roberto Correa dos Santos: a traça, o traçado da obra 45
Referências
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 31-47, jan.-jun. 2019.
46 Artigos
Resumo
Abstract
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 31-47, jan.-jun. 2019.
Roberto Correa dos Santos: a traça, o traçado da obra 47
poet Luiza Neto Jorge or even Antonin Artaud), blotting the classical
separation between the (allegedly) ‘original’ text – that is: literature; –
and the (allegedly) ‘secondary’ text – that is: its critical paraphrase or
analysis in theory. This paper seeks to understand this gesture of blotted
inscription of the other in resonance with the Derridian concept of ‘trace’,
in more than one sense. Foremost, we mean to understand ‘trace’ as the
‘originary trace’ or ‘archi-trace’ that deconstructs the classical separation
presence/representation – separation that literary criticism itself inherits
and emulates by means of the separation between original/paraphrase,
interpretation or critical analysis. But above all we seek to incorporate
a verbal incitement by Professor Luiz Fernando Medeiros, and think ‘la
trace’ as moth (in Portuguese: ‘traça’, in a perverted translation that,
supported on a phonetic similarity, preserves the feminine gender of
the original French and radically changes its meaning). The moth: the
insect of deconstruction – frequently figured, by the way, in the work of
dos Santos – that roams through books and texts of other authors in an
anthropophagic cross-cut, writing and eating away its own trajectory,
amid foreign works.
Keywords: literary criticism; trace; Derrida; Roberto Correa dos
Santos.
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 31-47, jan.-jun. 2019.
Contornos de A palavra nunca:
o gênero conto em Eric Nepomuceno
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 49-68, jan.-jun. 2019.
50 Artigos
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 49-68, jan.-jun. 2019.
Contornos de A palavra nunca 51
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 49-68, jan.-jun. 2019.
52 Artigos
2 Em prefácio da edição brasileira de Conversas com Cortázar, organizada por Ernesto González
Bermejo e com tradução de Luís Carlos Cabral (Zahar: 2002), Nepomuceno avalia positiva-
mente a construção da ficcionalidade de Cortázar: “Sua visão do conto, gênero em que ele
brilhou de forma especial, continua sendo uma das mais nítidas lições do ofício de escrever”.
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Contornos de A palavra nunca 53
3 Fundada em 1903, a Telefunken foi uma empresa alemã que fabricava diferentes tipos de
eletrônicos, entre eles, rádios e televisores.
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54 Artigos
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Contornos de A palavra nunca 55
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56 Artigos
4 Junto a Iser, outros nomes também foram importantes para a estruturação dos estudos sobre
a estética da recepção. São eles: Hans Robert Jauss, Karlheinz Stierle e Hans Ulrich Gumbrecht.
Em 1979, Luiz Costa Lima fez com que esses autores começassem a circular no Brasil, ao organizar
uma coletânea de ensaios intitulada A literatura e o leitor – textos de estética da recepção.
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Contornos de A palavra nunca 57
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58 Artigos
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Contornos de A palavra nunca 59
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60 Artigos
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Contornos de A palavra nunca 61
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62 Artigos
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64 Artigos
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Contornos de A palavra nunca 65
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66 Artigos
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Contornos de A palavra nunca 67
Referências
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68 Artigos
Resumo
Abstract
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Mira Schendel: personagem e propositora de
reflexões na ficção de Rodrigo Naves
∗
Doutoranda em Literatura Comparada na Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 69-78, jan.-jun. 2019.
70 Artigos
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 69-78, jan.-jun. 2019.
Mira Schendel: personagem e propositora de reflexões na ficção de Rodrigo Naves 71
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 69-78, jan.-jun. 2019.
72 Artigos
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 69-78, jan.-jun. 2019.
Mira Schendel: personagem e propositora de reflexões na ficção de Rodrigo Naves 73
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 69-78, jan.-jun. 2019.
74 Artigos
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 69-78, jan.-jun. 2019.
Mira Schendel: personagem e propositora de reflexões na ficção de Rodrigo Naves 75
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76 Artigos
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Mira Schendel: personagem e propositora de reflexões na ficção de Rodrigo Naves 77
Referências
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Resumo
Abstract
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ENSAIOS
REFLEXÕES DE FÔLEGO
O perseguidor na construção do sujeito
marginalizado: leitura de tensões sociais a partir
dos contos “O perseguidor”, de Julio Cortázar, e
“Espiral”, de Geovani Martins
∗
Mestranda em Letras Neolatinas na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
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1 Conceito desenvolvido por Jacques Derrida em que “o signo é caracterizado pelo diferimento
ou adiamento (da presença) e pela diferença (relativamente a outros signos)” (Silva: 2000, 79).
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quebrado qualquer regra, mas sim por se situarem fora dos grupos
que estão em posição de poder.
Sykes e Matza propõem a ideia de que “o delinquente se
aproxima de uma concepção de si como uma ‘bola de bilhar’, vê a
si mesmo como irremediavelmente impelido para novas situações”
(1957, 667-9 apud Becker: 2009, 39). Essa colocação dos autores
aponta para comportamentos que podem ser observados ao anali-
sarmos homicidas, stalkers2 e até mesmo artistas. Julio Cortázar,
conhecido por seu caráter desviante, afirma em um pequeno texto
nunca ter admitido “uma clara diferença entre viver e escrever”
(2008, 34), reforçando o que Becker diz ao apontar a incapacidade
de certos sujeitos de fugirem de seus instintos, estando, portanto,
em oposição – e frequentemente em embate – à “pessoa ‘normal’
[que], quando descobre em si um impulso desviante, é capaz de
controlá-lo pensando nas múltiplas consequências que ceder a ele
lhe produziria. [Que] já apostou demais em continuar a ser normal
para se permitir ser dominada por impulsos não convencionais”
(Becker: 2009, 38).
A partir dessa colocação de Becker, podemos perceber que
o que parece diferenciar outsiders de pessoas tidas como comuns é
a incapacidade de negar impulsos em prol do que foi estabelecido
como norma pela sociedade. Levando em consideração os dados
sociológicos e antropológicos levantados até aqui, propomos em
seguida um diálogo com as figuras ficcionais que protagonizam os
dois contos escolhidos como objetos de pesquisa, a fim de analisar
como eles correspondem a esse grupo social dos outsiders, como se
2 Aqui a palavra stalker é utilizada com o intuito de marcar apenas a perseguição literal, visto que
a palavra em português está sendo usada por nós tanto de modo denotativo como conotativo.
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sua música era uma confirmação e não uma fuga. [...] Esse
estilo que merece nomes absurdos sem necessitar de ne-
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A partir daí, seu insight o atinge de tal forma que pela pri-
meira vez no conto é ele, e não Johnny, a perder de certa forma o
controle de suas ações. De início, é alcançado por “uma vontade de
vomitar, como se isso [o] pudesse [...] livrar dele, de tudo que nele
vai contra [Bruno] [...] e contra todos” (p. 59), como se o próprio
Johnny finalmente tivesse conseguido chegar até ele em sua eterna
perseguição de quem não sabe exatamente o que quer, nem o que
persegue. Em seguida, são os outros personagens que passam a
incomodá-lo, talvez por invejar sua ignorância por não enxergarem
a verdadeira faceta de Johnny, que ele agora vê claramente.
Entendemos, portanto, quais são as características do per-
sonagem de Johnny Parker que o tornam um potente outsider, um
sujeito subversivo e habilitado como perseguidor nato. Sua veia
artística é estabelecida no conto como a ponte que lhe entrega um
olhar diferenciado, capaz, por consequência, de o levar a ocupar um
outro lugar, “sem ocupar nenhum lugar” (p. 85). O caminho traçado
por ele, tal como o “lugar” que pretende atingir mostram-se por fim
como uma mancha borrada, que não consegue ser vista claramente
pelos leitores, por Bruno nem pelo próprio Johnny, que evidencia
isso ao falar que o que toca “é Bee morta, sabe, enquanto o que eu
quero, o que eu quero...E por isso às vezes piso em cima do sax e as
pessoas pensam que passei um pouco da conta na bebida” (pp. 82-3),
e, posteriormente, chegar a conclusão de que vai “morrer sem ter
encontrado...sem...” (p. 83).
Essa dedução exposta pelo músico põe uma lente de aumento
sobre um sujeito que até então parecia agir apenas por impulso. O
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O jogo da perseguição
Em “Espiral” (2018), de Geovani Martins, nos deparamos
com uma estrutura que de começo já se apresenta diferente daqui-
lo que havíamos observado em “O perseguidor”. O primeiro dado
relativo a isso, e talvez o menos relevante, diz respeito à extensão
do conto: enquanto o texto de Cortázar é particularmente longo,
pensando-se na média para esse formato de textos, o de Martins é o
contrário, um texto sucinto. É importante salientar que tal questão
não influencia a qualidade de nenhum dos dois textos, apenas pode
gerar experiências de leitura diferentes.
A segunda questão que distancia os dois contos refere-se ao
modo de narração. Apesar de notar-se a presença de um narrador-
personagem em ambos os casos, os tipos de sujeitos representados
por cada um deles são diferentes. Em “O perseguidor”, assistíamos
a todas as ações do tipo perseguidor a partir do “filtro” de alguém
considerado um cidadão comum. Já, em “Espiral”, é o próprio per-
seguidor que fala ao leitor, fato que nos apresenta uma outra pers-
pectiva e permite a percepção de que o personagem que persegue
nesse conto tem consciência de seus atos – afinal, ele afirma: “nunca
esquecerei da minha primeira perseguição” (Martins: 2018, 18) –,
o que não se pode deduzir no conto de Cortázar, mas o narrador
supõe não acontecer.
Pode-se dizer, ainda, que o conto de Geovani Martins nos
fornece outra representação da figura do perseguidor. Isso ocorre,
pois o outsider que coordena a perseguição nesse texto parte de um
outro lugar de marginalidade. Enquanto Johnny diferenciava-se dos
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demais por sua veia artística que era seu único foco, o personagem
de Martins – que não possui nome – opõe-se aos outros personagens
com quem interage por questões de classe: ele é o homem pobre e
morador de comunidade que desperta o medo nos habitantes da área
nobre da cidade; quando era avistado, “uma velha segurava a bolsa
e atravessava a rua” (p. 17).
Esse incômodo que o personagem causa em figuras com
poder aquisitivo superior ao seu, a princípio, o diverte. Isso se dá,
talvez, por perceber-se em certa posição de poder pela primeira vez,
já que não possuía os privilégios daquela elite que agora o temia e,
no colégio, ele e seu “bonde” não metiam “medo em ninguém” (p.
17). Essa visão positiva frente à posição ocupada por si na socieda-
de, porém, logo se transfigura em outra, causada pela percepção do
“abismo que marca a fronteira entre o morro e o asfalto” (p. 18).
Talvez seja essa nova perspectiva adotada pelo personagem
que o faça tomar ações que mais uma vez o afastarão do personagem
de Johnny Parker. Como mencionado anteriormente, Johnny pode
ser entendido como um perseguidor metafórico. Apesar de gerar a
sensação de perseguição para certos sujeitos dominantes e até mesmo
para a “instituição” sociedade, não persegue nada literalmente, ao
contrário do jovem de “Espiral”, que atuará como stalker de sujeitos
que representam tudo aquilo que o oprime, que o coloca na posição
de marginalizado.
Pensando na evolução do personagem de Geovani Martins,
observamos o amadurecimento de um jovem que busca, através da
perseguição, uma forma de alterar o sistema no qual está inserido.
Inicialmente, percebe-se esse narrador como o sujeito que é perse-
guido de alguma forma. Ele afirma que “tudo começou do jeito que
[...] mais detestava: quando eu, de tão distraído, me assustava com
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Conclusão
Após analisarmos os personagens dos contos de Julio Cor-
tázar e Geovani Martins, conseguimos estabelecer algumas questões
que nos parecem caracterizar a figura que chamamos de perseguidor,
por mais que tenhamos apontado diferenças entre os textos e os dois
personagens responsáveis por algum tipo de perseguição.
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Referências
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Resumo
Abstract
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are marginal subjects. In this context, Julio Cortázar stands out for
presenting, in 1959, the persecutor character in one of his short stories
called “O perseguidor”. In this tale, the character subverts his image,
being seen, at the end, as a persecutor, instead of a persecuted, due to his
ability to change the normative way of life. However, we notice that what
the persecutor’s image represents is not only what this tale shows, but
can also be seen as a status of the marginal. Therefore, the present article
proposes an analysis of the persecutor as a status of the subordinate
subject. In order to achieve our purpose we analyse Cortázar’s tale
together with “Espiral”, a Brazilian tale published in Geovani Martins’s
book called O sol na cabeça (2018). The debate between the tales allows us
to get closer to the borders of the city and the society, understanding this
place where the characters remain unseen, but at the same time enhance
their ability to see social relations in a different way.
Keywords: persecutor; marginal; Cortázar; Martins.
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O canto de Eliane Potiguara em
Metade cara, metade máscara
∗
Graduanda no Curso de Licenciatura em Letras da Universidade Federal do Pará (UFPA).
∗∗
Professora adjunta de Literatura Portuguesa da Universidade Federal do Pará (UFPA).
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Há, por fim, um outro aspecto que não pode ser deixado à
margem. Embora Magalhães diga, no Discurso, que os índios
“foram e são” poetas, o caso é que, no fim das contas, ele e
Norberto acabaram encarando a prática textual ameríndia
como algo pertencente, em definitivo, ao passado. Represa-
ram para consumo próprio, na imperfeita fantasia mental
que foram tecendo, um segmento – mais imaginado do que
conhecido – do fluxo da vida indígena (p. 65).
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as lentes pelas quais nos foi dado a ler o índio brasileiro ope-
raram via de regra de modo desfocado e lacunar, promoven-
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1 O Grumin, Grupo Mulher – Educação Indígena surgiu em 1987 no Rio de Janeiro e, pos-
teriormente, foi ampliado na Paraíba, com o objetivo de promover cursos, seminários sobre
cidadania e projetos de desenvolvimento em aldeias indígenas de vários lugares do Brasil.
Atualmente, faz parte de modo integrado da Rede de Comunicação Indígena.
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que têm sua origem ancestral nos povos tradicionais, que perderam
seu território e que lutam para resgatá-lo. Trata-se do lugar da margi-
nalidade, relegado muitas vezes aos indígenas desaldeados que vivem
nas cidades, e seus descendentes. Quando criança, Eliane Potiguara
e a avó Maria de Lourdes, vivendo em um bairro tomado pela pros-
tituição, ocupavam esse lugar descrito no poema “Pankararu”, nos
versos “Nós somos marginais das famílias / Somos marginais das
cidades / Marginais das palhoças /... e da história?” (2018, 62). Como
poeta, Potiguara ocupa o silencioso espaço em branco da literatura
brasileira que nunca se pôs à escuta da voz indígena, sobretudo das
mulheres.
Partindo da visão de Santiago, pode-se perceber que os
poemas de Eliane Potiguara trabalham a serviço da “contamina-
ção” literária, visto que não seguem o padrão da poesia clássica. O
próprio livro Metade cara, metade máscara atende a uma estrutura
pluralizada, ao unir poemas e relatos de vida. O poema “Na trilha
da mata”, que diz “Não me importo / Se o que escrevo / São ilusões
/ Não me importo / Se o que escrevo / Não são versos, / Rimas /
Redondilhas...” revela uma postura própria do “entre-lugar”, que
desobedece ao modelo clássico de poesia e destrói sistematicamente
a norma instituída pela tradição literária.
Considerações finais
Metade cara, metade máscara constitui a primeira obra de
poesia publicada por uma mulher indígena, portanto, é enorme a
contribuição literária de Eliane Potiguara para a literatura brasileira
contemporânea, tendo em vista que as publicações de autoria indí-
gena ainda são recentes. Por muito tempo, a poética indígena não
teve visibilidade nos registros feitos pelos colonizadores, por serem
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Referências
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Resumo
Abstract
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inacabadas de Donizete Galvão
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Tal regime duplo que desde logo nos sugere uma instabilida-
de, uma recusa em simplesmente se deixar fixar, nos lança ainda uma
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vez no lugar de onde parece partir a poesia de Donizete, ou, para lem-
brar novamente Eduardo Sterzi, na fidelidade do poeta “ao que desde
o início já estava perdido, ao que nunca se teve realmente, àqueles
objetos e situações que só se dão a ver, outrora e para sempre, como
perda: devoradora, devastadora – no limite, aniquiladora” (2015).
O espaço da morte, contido nessa dimensão da perda, se
mostra essencial a Donizete, que, de forma muito próxima a Ban-
deira, também surge assombrado pela morte na sua melancolia
funda, no seu apego à noite, no seu homem desintegrado, cindido,
inacabado, na sua “obra insone” rodeada por aparições e fantasmas.
Poderíamos então nos perguntar: o que seriam esses objetos
e situações que, como disse Eduardo Sterzi, “só se dão a ver, outrora
e para sempre, como perda?”. E poderíamos talvez esboçar uma
resposta: seriam objetos e situações que já estão, a rigor, mortos.
Dessa forma, diante de uma poética na qual a dimensão da perda e da
ausência é fundamental, a experiência amorosa só poderia também
se dar a partir da experiência da perda, e a imagem feminina que
habitaria os versos deveria ser, assim como foi Eurídice para Orfeu,
e mesmo Beatriz para Dante, uma que já estivesse morta, uma mu-
lher desde sempre perdida, fugidia e provisória, em cuja passagem
efêmera se imprimisse também a passagem de todas as coisas e do
próprio tempo a agir sobre a carne, cuja experiência de desejo fosse
também uma experiência de morte.
Em “Ruminadouro”, poema publicado no livro Ruminações
(1999), o jogo duplo de desejo e morte e a figuração de um “corpo
em convulsão” se encenam de modo particular, invocando uma
imaginação plástica, repleta de detalhes e sutilezas. O próprio
poema em sua estrutura formal se abre em dois, feito “duas vozes
que eroticamente se cruzam no corpo da página” (Rabello: 2003,
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Pela porta aberta, eis que corre, não, voa, não, paira, o objeto
dos meus sonhos, que, pouco a pouco, começa a adquirir as
proporções de um delicioso pesadelo. Irrompe no quarto,
com o véu adejando, uma figura fantástica, não, uma criada,
não, uma ninfa clássica, trazendo na sua cabeça um tabulei-
ro com magníficos frutos meridionais (Warburg: 2012, 3).
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Ninfa volátil: as meninas escorregadias e inacabadas de Donizete Galvão 151
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152 Ensaios
Referências
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 131-56, jan.-jun. 2019.
Ninfa volátil: as meninas escorregadias e inacabadas de Donizete Galvão 153
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 131-56, jan.-jun. 2019.
154 Ensaios
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Ninfa volátil: as meninas escorregadias e inacabadas de Donizete Galvão 155
Resumo
Abstract
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156 Ensaios
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Memória e imaginação em
O risco do bordado, de Autran Dourado
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158 Ensaios
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Memória e imaginação em O risco do bordado, de Autran Dourado 159
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160 Ensaios
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Memória e imaginação em O risco do bordado, de Autran Dourado 161
das recordações daquele que narra: ora o neto, ora o avô, ora a voz
do neto pela boca do avô, as personagens se embrenham no tempo
e anseiam resgatar o passado. Além disso, o vaivém da memória,
num percurso temporal não identificável, confunde o olhar menos
acostumado à escrita de Dourado.
Destacando esses movimentos como articuladores no con-
junto da estrutura em O risco do bordado, o presente estudo se dedica
ao reconhecimento da memória e da imaginação enquanto elementos
norteadores da leitura do romance.
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170 Ensaios
Da imaginação na memória
Revisados os desdobramentos da memória em O risco do bor-
dado, dizemos que João procura registrar o que recorda da infância
e da adolescência vividas entre Duas Pontes e o Colégio São Mateus
por meio da palavra escrita: “ele comparava, ele ouvia, ele sem saber
anotava para depois, quando mais tarde” (Dourado: 1999, 185).
A recuperação integral das lembranças não se realiza nem
pela memória, nem pela narrativa. Nessa perspectiva, Ricœur inves-
tiga as ligações entre o que é lembrado e a projeção imagética das
lembranças na memória, de onde conclui que as lembranças não
fogem à ficcionalização porque um de seus constituintes é a imagem e
esta, por sua vez, é ficção. Transplantada para o âmbito da literatura,
a imagem do passado, seja projetada pela memória, seja transcrita
para o papel, tende a ser puramente ficcional.
A trajetória de João rumo ao pretérito revela, no risco do
bordado–texto, o ofício da escrita executado por ele mesmo: “o dr.
Alcebíades tinha umas três estantes de livros de literatura e foi ali
que João fez a sua iniciação, quando lhe despertou o desejo de ler”
(p. 189). A maneira livre, despreocupada, íntima e alimentada pela
imaginação como o protagonista se afeiçoou à biblioteca do médico
contrasta com a forma clássica, vernácula e recrudescida como lhe
ensinaram a escrever, concomitantemente, no internato:
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176 Ensaios
Olha, João, aquilo foi tiro. Um dia seu tio sapecou um tiro
no ouvido. O tiro explodiu no ouvido do menino, ficou zu-
nindo no ar, sem fim. Ele tonto, aquele som redondo feito
o chocar de dois mundos, o ribombar de um trovão quando
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Referências
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Resumo
Abstract
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184 Ensaios
in the childhood of the boy who returns to the hometown Duas Pontes.
The character’s itinerary reveals a fabric of dreams, past events crossed by
family composition and by other characters revived either by memory or
by the narrator’s imagination.
Keywords: O risco do bordado; Autran Dourado; memory;
imagination.
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ENTREVISTAS
CONVERSAS DO CAMPUS COM A CIDADE
Andréia Delmaschio
*
Professor adjunto do Departamento de Línguas e Letras da Universidade Federal do Espírito Santo
(UFES).
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 187-206, jan.-jun. 2019.
188 Entrevistas
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Andréia Delmaschio 189
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196 Entrevistas
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198 Entrevistas
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Andréia Delmaschio 199
uns versos que dão até vergonha. Amo a poesia, mas é um território
em que a ilusão, melhor dizendo, o delírio de simplicidade que o
formato verso oferece faz com que algumas pessoas se enganem
muito. Nada tenho contra cada um escrever o que quiser, como
quiser, onde quiser... Mas aí também vou reafirmar meu direito
de leitora: não gosto de perder tempo com pós-neo-parnasianos,
a pieguice romântica me entedia e a autoajuda em versos me irrita
do mesmo modo que poetas natimortos, incensados nas fraldas, e
egos maiores que as obras. Tenho, por outro lado, conhecido muita
coisa boa, principalmente poetas mulheres apresentadas a mim
por amigos e por meus jovens alunos através da internet. Algumas
dessas poetas são letristas de bandas que fazem um belo trabalho
com o verso, acompanhado ou não de instrumentos musicais.
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 187-206, jan.-jun. 2019.
200 Entrevistas
Vitor – Você percebe de imediato aqueles alunos que têm talento para
escrever e podem se tornar escritores?
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Andréia Delmaschio 201
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202 Entrevistas
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Andréia Delmaschio 203
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 187-206, jan.-jun. 2019.
204 Entrevistas
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Andréia Delmaschio 205
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206 Entrevistas
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 187-206, jan.-jun. 2019.
Tchello d’Barros
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 207-22, jan.-jun. 2019.
208 Entrevistas
∗
Professora do Centro Universitário Carioca (UniCarioca), faz pós-doutorado em Literatura
Brasileira na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
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Tchello d’Barros 209
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 207-22, jan.-jun. 2019.
210 Entrevistas
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Tchello d’Barros 211
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 207-22, jan.-jun. 2019.
212 Entrevistas
Renata – Você iniciou sua carreira pelo Teatro do Absurdo, cujo prin-
cipal autor, Eugène Ionesco, afirmou que “pensar contra nosso tempo é
um ato de heroísmo. Mas dizê-lo é um ato de loucura”. Também propôs
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 207-22, jan.-jun. 2019.
Tchello d’Barros 213
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 207-22, jan.-jun. 2019.
214 Entrevistas
porte espacial ativo, como a tela de uma pintura”. O que você tem a dizer
sobre essa visão?
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 207-22, jan.-jun. 2019.
Tchello d’Barros 215
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216 Entrevistas
por vezes bizarro que ora se rende ao mercado, ora aos interesses
políticos via aparelhos de Estado, tem se submetido a essa forma de
arte antes considerada tão marginal, tão alternativa e até mesmo
subversiva – “quanto mais à margem hoje, mais canônico amanhã”.
Não falo apenas de galerias privadas que vêm contemplando seus
públicos com individuais e coletivas de Poesia Visual, ou da presença
de poemas visuais nas consagradas feiras Art Rio ou na SP-Arte; falo
de grandes mostras como Obranome, no Museu Nacional de Brasília
e que passou pelo Parque Lage; da grande retrospectiva de Wlademir
Dias-Pino no MAR e sua sala especial na Bienal de 2016; da mostra
internacional Imagética no CCBB do Rio, entre outras, e do crescente
colecionismo de poemas visuais. O fato é que é muito difícil que as
pessoas bem informadas e de comprovado senso estético fiquem
imunes à beleza e à contundência daqueles poemas visuais que têm
o que dizer. E tudo vai se ampliar muito, anotem aí!
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 207-22, jan.-jun. 2019.
Tchello d’Barros 217
tem havido um deslocamento dos textos das páginas e das telas para
os corpos das pessoas, mormente poemas e sentenças filosóficas. É
a pele como página, como tela, como veículo emissor de mensagens.
Com essas duas manifestações, há muitas outras certamente, nosso
inconsciente coletivo está tentando nos dizer algo. Talvez o turbilhão
de imagens a que somos expostos diuturnamente já não dê conta
de nossas demandas mais subjetivas, assim temos mergulhado aos
poucos numa dimensão mais simbólica, onde a escrita, a palavra, a
mensagem textual, estabelece uma dimensão mais poética junto ao
nosso imaginário. Uma obra literária pode ser assim considerada
quando um romance, um conto, uma crônica, um poema etc. nos
causa estesia, enlevo e alumbramento. O mesmo se dá no campo
das Artes Visuais e de qualquer linguagem artística. Já no âmbito
da Poesia Visual, é importante considerar que esta é uma categoria
situada no âmbito da Literatura e não das Artes Visuais. No gênero
da Poesia, temos aí o subgênero da Poesia Experimental, que tem na
Poesia Visual uma de suas vertentes. É um tipo de obra criado por
poetas em sua imensa e quase total maioria. Esse lugar de fala per-
tence aos poetas, principalmente aos assim chamados poetas visuais.
Não será demais lembrar que a maioria dos poetas visuais exerceu
ou exerce também a escrita de poemas em linguagem convencional.
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 207-22, jan.-jun. 2019.
218 Entrevistas
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 207-22, jan.-jun. 2019.
Tchello d’Barros 219
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 207-22, jan.-jun. 2019.
220 Entrevistas
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 207-22, jan.-jun. 2019.
Tchello d’Barros 221
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 207-22, jan.-jun. 2019.
222 Entrevistas
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 207-22, jan.-jun. 2019.
RESENHAS
ANÁLISES DE LIVROS
DE FICÇÃO E POESIA
Ruínas da diáspora
Alexandre Braga*
∗
Mestrando em Literatura Brasileira na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 225-8, jan.-jun. 2019.
226 Resenhas
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 225-8, jan.-jun. 2019.
Outro lugar, de Luís S. Krausz 227
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 225-8, jan.-jun. 2019.
228 Resenhas
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 225-8, jan.-jun. 2019.
O poeta e seus deltas: onde nasce a poesia?
*
Professora adjunta do Departamento de Letras Estrangeiras da Universidade Federal do
Ceará (UFC).
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 229-39, jan.-jun. 2019.
230 Resenhas
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 229-39, jan.-jun. 2019.
O retorno de Bennu, de Majela Colares 231
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 229-39, jan.-jun. 2019.
232 Resenhas
1 Texto original: “fluidez y ajustado ritmo en composiciones con estructura canónica (como el
soneto) al igual que en estructuras modernas y libres”.
2Texto original: “Por los tenebrosos rincones de mi cerebro, acurrucados y desnudos, duermen
los extravagantes hijos de mi fantasía, esperando en silencio que el arte los vista de las palabras
para poderse presentar decentes en la escena del mundo”.
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 229-39, jan.-jun. 2019.
O retorno de Bennu, de Majela Colares 233
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 229-39, jan.-jun. 2019.
234 Resenhas
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 229-39, jan.-jun. 2019.
O retorno de Bennu, de Majela Colares 235
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 229-39, jan.-jun. 2019.
236 Resenhas
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 229-39, jan.-jun. 2019.
O retorno de Bennu, de Majela Colares 237
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 229-39, jan.-jun. 2019.
238 Resenhas
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 229-39, jan.-jun. 2019.
O retorno de Bennu, de Majela Colares 239
Referências
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 229-39, jan.-jun. 2019.
Contos para Caio F.
Marina Ruivo*
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 241-58, jan.-jun. 2019.
242 Resenhas
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 241-58, jan.-jun. 2019.
O que resta das coisas, organizado por Ricardo Barberena 243
2 Ao longo deste texto, usa-se a indicação entre parênteses das páginas apenas para os trechos
extraídos do livro resenhado, cuja referência completa está ao final.
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 241-58, jan.-jun. 2019.
244 Resenhas
tre coletâneas de narrativas” (p. 12), O que resta das coisas propõe-se,
dentro da diversidade de caminhos que podem ser trilhados a partir
do arquivo de um escritor ou de uma escritora, e dos vários diálogos
dos estudos literários com outras áreas do conhecimento, a criar
“uma interface entre a escrita criativa e os Acervos do Delfos” (p.
15), especificamente o Acervo de Caio Fernando Abreu.
Uma interface que não costuma ser muito buscada, por
isso se apresenta com o frescor da novidade, em gatilhos poéticos
que nos fazem imergir em espaços-tempos variados e esbarram nos
mundos de Caio (ou não) das formas mais diversas possíveis. Temos
personagens que são grandes admiradores de Caio, como a jovem
estudante Débora em “A história ainda não acabou”, de Gustavo
Melo Czekster, ou personagens que acreditam ser o próprio Caio F.,
como o narrador de “Tá aqui, ó... nº 12 778 – UGES”, de Godofredo
de Oliveira Neto, que ostenta a carteira estudantil do autor para
comprovar, a todos que dela duvidem, sua identidade.
Há narradores que constroem seu texto como uma espé-
cie de diálogo com a figura de Caio, sabendo-o morto e por isso
sem qualquer possibilidade de lhes responder, mas que o fazem
porque é preciso “alguém que viveu sem julgar e, sobretudo,
preciso de alguém que teve a bravura de ser sensível em meio à
vida bruta”, sintetizando: “Se te escrevo é porque escrevo para
aquilo que de ti vive em mim” (p. 192), como diz a narradora
de “Sob a pele abissal das pedras rúnicas”, de Julia Dantas. Há
ainda personagens que imaginam Caio no mundo de hoje, e
imaginam-se dividindo um cigarro com ele, como a narradora
de “Imagino Caio”, de Natália Borges Polesso. Mas há também
personagens que não falam nem pensam sobre Caio F., como o
cachorro de Cristiano Baldi, ou como o narrador de “Castanhos”,
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 241-58, jan.-jun. 2019.
O que resta das coisas, organizado por Ricardo Barberena 245
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 241-58, jan.-jun. 2019.
246 Resenhas
depois, adulta, vou ler e achar legal, chato, engraçado, sei lá, vou
achar alguma coisa”.
Ao mesmo tempo, ao guardar as coisas em um arquivo
pessoal, selecionamos o que vale a pena ser mantido e o que não,
segundo critérios que não são facilmente determináveis e, ademais,
são fluidos, mutáveis. Coisas que em um primeiro momento pareciam
valer a pena ser guardadas, em outro podem parecer sem importância
e, por isso, dignas de serem jogadas fora, ou doadas, se alguém lhes
puder encontrar forma de uso.
Uma coisa, porém, parece ser fato: a conversa entre passados,
presentes e futuros é constituinte inexorável da prática que podemos,
com Philippe Artières, chamar de “arquivamento de si” (1998, 21),
e é este jogo de temporalidades que me parece ser o eixo central a
unir os contos reunidos em O que resta das coisas. Centralidade que
está manifesta desde o título do livro, com o verbo restar ecoando
seus sentidos de “ficar, existir depois da destruição, da repressão ou
da dispersão de pessoas ou coisas, sobrevir”, e ainda “ficar de sobra,
sobrar, sobejar” e “subsistir como resto ou remanescente”, como
indica o Houaiss (2009). O diálogo entre temporalidades faz-se ainda
mais nítido ao lermos a apresentação e compreendermos a proposta
que une os contos. Nas palavras de Ricardo Barberena, “cada escritor
retirou do seu objeto uma potência imaginária. Nesse reviver a Coisa,
percebemos uma infinita rede de fabulações e apropriações. Neste
ano o escritor gaúcho faria setenta anos. Esta visita aos seus objetos
configura também outra forma de viver-junto com o Caio: [...]” (p. 17).
Mas tal centralidade aparece também, muito intensamente,
nos próprios contos, sob a forma de conversas entre um tempo ido,
em que Caio Fernando Abreu ainda vivia, e o mundo que surgiu de-
pois dele. Muitas vezes, essa busca de aproximação se constrói por
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um tempo tinha parecido que o mundo não dava mais pé, mas
então houve o levante das mulheres negras, das brancas, das
lésbicas, das indígenas, junto das bichas, dos lgbt, de todas as
siglas, a revolta tomou as ruas e se espalhou para as escolas,
para as universidades, para dentro das empresas e para os
órgãos públicos. Em poucos anos, as instituições ruíram sob
seu próprio peso morto, e o povo tomou o poder. Isso é o que
eu gostaria de te dizer, mas ainda não posso. [...] Gostaria
que nós te deixássemos orgulhoso. Pelo menos, Caio, acho
que tu ficaria feliz de saber que faz alguns anos que Raul e
Saul poderiam se casar, se quisessem, quem sabe adotar uma
criança. Não é um levante, mas é revolucionário (p. 197).
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faz impossível de ser abarcado, e por isso ficamos, cada vez mais,
com os fragmentos.
Nesse diálogo entre tempos, vemos Caio surpreso com o tan-
to de coisas que veio depois dele e nos pegamos pensando no tanto
que virá depois de nós, e que farão nossos smartphones parecerem
tão dinossauros quanto o notebook do Caio, ampliando a percepção
concreta da finitude, de nossa pequenez diante do mundo, conforme
acentuado na narrativa de Natália Borges Polesso:
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Referências
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Arquitetura para escombros
Paulo Ferraz*
*
Doutorando em Teoria Literária e Literatura Comparada na Universidade de São Paulo (USP).
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esperança são cada vez mais escassos, alguns dos quais não passam
de ingênuos apelos à resistência, pois a impressão geral é a de que
fomos derrotados em todas as instâncias. Para um poeta que desde
cedo compreendeu que poesia não tem muito a ver com esperança
ou consolo, os entulhos que se tornaram visíveis a partir de 2013 e
2016 não são obstáculos capazes de impor-lhe o silêncio, ainda que
lacerem suas palavras.
Em Migalha, em vez de uma aglomeração aleatória de ruínas,
avistamos uma espécie de arquitetura que as organiza com o propósito de
nos conduzir por um cenário de desolação, como os que se seguem a um
atentado ou a uma catástrofe, a despeito de não ir além da representação
de nosso cotidiano. A leitura de cada fragmento, uns bastante isolados,
quase estilhaços de algo maior que se perdeu, e outros justapostos em
um mesmo texto, como se tivessem colidido, nos permite identificar as
particularidades de cada poema, em especial o contexto de seu fracasso
como linguagem, tanto em seu aspecto comunicativo quanto no poéti-
co. Mensagem e empatia raramente chegam inteiras ao leitor, somente
espectros delas, pois, mal uma frase ou um verso se configuram como
ideia ou imagem, são de imediato atropelados pelos acontecimentos. De
algum modo, é como se a linguagem estivesse sempre correndo atrás
dos fatos, mas continuamente impedida por eles. A escrita de Migalha
tem relação direta com uma prostração generalizada, expressa por nos-
sa incapacidade de reagir, uma vez que uma perda sequer é assimilada
e já somos assolados por uma nova catástrofe ou por um novo crime.
Os riscos corridos por André Luiz Pinto não são pequenos, pois, apesar
de o fracasso ser parte integrante de sua poética, o livro não pode ele
próprio fracassar. É preciso que as ruínas estejam organizadas de tal
forma que preservem as marcas físicas do que existia antes e registrem
simultaneamente a violência do que as pôs no chão.
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pois, para quem aprendeu “a não esperar grande coisa” (p. 15),
nenhuma ilusão servirá de escape de uma realidade embrutecida e
viciada, nem mesmo a promessa de felicidade: “Querer sempre agir
/ corretamente não traz felicidade” (p. 13); “Se acabei acordando,
se fui acordado, foi por um comprimido, não pela felicidade” (p.
48); nem mesmo o conforto do amor: “Como explicar o amor / o
mal que ele faz” (p. 13); nem mesmo o cultuado encantamento da
poesia, que para André “rola de acontecer na hora do café” (p. 50). A
autodepreciação parece aqui se associar a um cansaço ou a um certo
esgotamento do poeta como agente político de relevância, visto que
sua voz não encontra eco algum fora do meio literário, ou ao me-
nos não encontra na forma como tradicionalmente é manifestada.
Antes mesmo desse estado de calamidade em que vivemos, o poeta
já estava reduzido a uma migalha social. Justamente no poema que
dá título ao livro, vemos alguém relatando que cortou “o poeta / em
versos” e os espalhou “em um prédio abandonado / numa caixa d’água
vazia / pra ninguém saber” (p. 34). A triste suposição que nos cabe
levantar é a de que praticamente todos os poetas/poemas caberiam
esmigalhados no vazio dessa caixa d’água e ninguém sentiria a falta.
Ao enfrentar esse esgotamento, André Luiz Pinto logra dar
a seus poemas um efeito contraideológico, na medida em que as
ilusões são desfeitas. Tomemos o caso das manifestações de rua (e
de gabinete) que trouxeram de volta o chauvinismo que achávamos
ter sido extinto com a redemocratização: André não poupa a compa-
ração, ao descrevê-las como “ESSA DOENÇA // Está verde e amarelo
/ como vômito e pus” (p. 24). É o bastante para nos reconhecermos
habitando, se não um cadáver, ao menos um moribundo, cuja falên-
cia se experimenta no dia a dia, nesse processo infeccioso que são
as relações sociais, nas quais os agentes rivalizam entre si por uma
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que dela se acercam. No meio de toda essa ruína que virou o Brasil,
Migalha é a ruína pensada como poesia. Nesse sentido, a seção mar-
cada pelo ano 2016 é exemplar, pois após atravessar os poemas de
2013, em vez de outra série de poemas há somente uma foto, indício
da permeabilidade entre os sujeitos, de André na companhia de
filho Tales – presente nominalmente também na dedicatória e num
poema em que ele tem sua experiência de reconhecimento desse
mundo dos sentidos interrompida por um morador que arranca uma
folha para lhe dar de presente, quando ele só queria tocá-la (p. 19),
descobrindo que a violência se exprime de muitas formas –, na qual
se veem os dois em uma viagem a Minas Gerais, mas em vez de arte
barroca encontram uma igreja fechada, um portão trancado e um
céu carregado de nuvens. Barrados, só lhes resta olhar para o nada.
Na sequência, um texto datado de 1º de janeiro de 2017 questiona
se aquela cena era um presságio de suas vidas (p. 39). Uma fotografia
do país tirada neste instante também nos registraria olhando para
o nada. Que ano. Que país. Que a poesia de André lhes seja dura.
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Lirismo amoroso hoje
Wladimir Saldanha*
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268 Resenhas
Morrem juntos
Nascem juntos.
(p. 13)
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O amor curvo, de Daniel Gil 269
1 Se você trabalha em um banco ou pilota um avião, sabe que, depois de adquirir uma quan-
tidade substancial de conhecimento especializado, tem mais ou menos garantido o lucro,
ou um pouso seguro. Já na profissão de escritor, o que se acumula não é um conhecimento
especializado, mas incertezas” (Brodsky: 1994, 20).
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270 Resenhas
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O amor curvo, de Daniel Gil 271
A lona incandescente
Caía como gotas de fogo
O bombeiro bradava “quem está vivo levanta a mão”
A elefanta esmagou crianças e adultos, em disparada
A elefanta salvou centenas ao
Abrir um rombo na lona incandescente
O país virou referência em cirurgia plástica
A mãe reclamou que os três chegaram
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272 Resenhas
Sujos de fuligem
A sobrevivente conta que recebeu a extrema-unção
Voluntários enterravam os mortos em um
Cemitério construído às pressas
Um pequeno empresário obteve uma revelação divina
Deixou a mulher, quatro filhos
Virou profeta.
(p. 36)
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O amor curvo, de Daniel Gil 273
2 “Vou dar-lhe um castigo / Meto-lhe o aço no abdômen / E tiro fora o seu umbigo”.
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274 Resenhas
Fórum Lit. Bras. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 11, nº 21, pp. 267-75, jan.-jun. 2019.
O amor curvo, de Daniel Gil 275
Referências
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