Acidez
Acidez
Acidez
1. REAÇÃO DO SOLO
A reação do solo é uma das características que mais informa acerca do estado
geral e do comportamento do solo. Tal fato decorre da relação que existe entre a
reação do solo e várias de suas outras características químicas, físicas, físico-químicas
e biológicas. Esta relação de causa e efeito, com aspectos relacionados à gênese,
mineralogia e fertilidade do solo, entre outros, tem, em última análise, implicações no
seu manejo. Assim, a reação do solo constitui um dos tópicos mais importantes a ser
considerado em química e fertilidade do solo.
A reação do solo permite distinguir, a grosso modo, três grupos principais de
solos: ácidos, neutros e alcalinos. A maioria dos solos brasileiros, como os que
ocorrem nas áreas de Cerrado e da Zona da Mata em Minas Gerais, são ácidos e
pobres em nutrientes.
Os solos ácidos se caracterizam por apresentar, na sua maioria, elevados teores
de Al e Mn, chegando a afetar o desenvolvimento das plantas, com redução da sua
produtividade.
Para corrigir os efeitos negativos da acidez é necessária a calagem, prática que
tem dois objetivos fundamentais: correção da acidez do solo para diminuir ou até anular
os efeitos tóxicos das altas concentrações ou saturações por Al, Mn e, correção das
deficiências de Ca e Mg. Portanto, o uso de calcário é um dos pilares para se obter
maiores e melhores produções.
1
Do mesmo modo, define-se base como substância que em solução aquosa
inoniza-se liberando como único tipo de ânion o íon OH−, ou como a substância que é
capaz de receber prótons da água dando origem a oxídrila (hidroxila).
2
(H+) = antilog - (4)
(H+) = 10−4 mol/ L de H+
Para pH = 5,5
(H+) = antilog - (5,5)
(H+) = 10−5,5 = 3,16 × 10−6 mol/ L de H+
(H+) = 3,16 × 10−6 mol/ L de H+
3
Esta fonte de acidez é neutralizada a pH menor que 4,0, portanto sua efetiva
contribuição se faz em solos extremamente ácidos.
(b) íons Al3+ adsorvidos que estão em equilíbrio dinâmico com à solução do solo.. O
caráter ácido deve-se às reações de hidrólise do Al3+ hidratado em solução, conforme
mostra, de forma reduzumida, a reação:
Observa-se que para cada mol de Al3+ hidrolizado são produzidos três mols de
H3O+. Esta hidrólise processa-se, de fato em três etapas1, sendo que o Al3+
neutralizado em valores de pH entre 4,25 e 5,5. Observa-se então, que a contribuição
desta fonte de acidez expressa-se em uma maior faixa de pH. Além disso, ele se
constitui em uma importante fonte devido a sua abundância no compelxo sortivo dos
solos mais imtemperizados.
Entre pH 5,0 e 7,0 precipita Al(OH)3 que permanece estável até pH 9,0, quando
então se produz a dissociação e formação do ânion aluminato (Al(OH)4−), mas já a
partir do pH 5,5 não há mais atividade de Al3+, como demonstrado na Figura 1.
1
Etapas em que ocorre a hidrólise do Al3+
4
Figura 1. Distribuição relativa das espécies de alumínio em função do pH.
2
Ligação covalente resulta do compartilhamento de elétrons dos átomos envolvidos na
ligação. É, por conseguinte, uma ligação de maior estabilidade do que as ligações
iônicas.
5
Estas moléculas orgânicas compõem a matéria ogânica do solo mais estável,
constituida pelas frações ácidos fúlvicos, ácidos humicos e huminas. Ácidos orgânicos de
baixo peso molecular e outros compostos orgânicos também apresentam tais radicais.
Estes grupos dissociam o H desde pH 3,5 até valores de pH bastante elevado.
Esta fonte de acidez é de grande importância, devido intensa participação dos
colóides orgânicos na composição da fração argila dos solos, e devido a ampla faixa de pH
em que esta acidez é neutralizada.
Espécies químicas resultantes da hidrólise de Al3+ sofrem polimerização3
formando complexos.
[ ]
6 Al(H2O )4 (OH)2 +
Ácidos Solúveis
Em decorrência da atividade microbiológica vários ácidos solúveis podem ser
produzidos no solo. A decomposição microbiana da matéria orgânica, por exemplo,
pode conduzir à formação de ácidos orgânicos solúveis que geralmente são ácidos
fracos e contribuem para a acidificação do solo.
Além disso, a mineralização de compostos orgânicos libera compostos de N e S
reduzidos que, ao sofrerem oxidação, podem liberar prótons na solução do solo, de
acordo com as reações:
3
É o processo químico por meio do qual moléculas, denominadas de monômeros, são
reunidas por meio de ligações covalentes, formando-se moléculas maiores e mais
complexas.
6
A oxidação do amônio também é responsável pela acidez gerada quando da
aplicação de fertilizantes como (NH4)2SO4 e NH4NO3, acidez que é tanto maior quanto
as doses são cada vez mais elevadas.
Vale salientar, ainda, que a oxidação biológica de compostos orgânicos produz
CO2, o qual reage com água para formar ácido carbônico, que se dissocia liberando
prótons (H+), de acordo com as reações:
7
Assim sendo, pode-se considerar que a fração coloidal do solo, negativamente
carregada, comporta-se como o ânion de um ácido fraco.
Vale salientar que no processo natural de evolução do solo, os metais alcalinos
e alcalino-terrosos fazem parte dos minerais primários, cujo intemperismo consome
prótons do meio liberando esses cátions (bases trocáveis) na solução, os quais podem,
então, ser adsorvidos pela fase sólida.
Quanto maior a quantidade de bases trocáveis maior a saturação por bases (V)
e concomitantemente maior o valor do pH do solo, pois existe estreita correlação entre
pH e V.
Os solos com elevada alcalinidade incluem os solos salinos, solos sódicos e
salino-sodico. Nos solos salinos a elevada concentração de sais afeta o crescimento
das plantas. Apesar da alta concentração de sais, o Na ocupa menos que 15% da CTC
a pH 7,0, e têm pH entre 7 e 8,5. Os solos sódicos têm mais de 15% da CTC satruada
por Na. Além dos impedimentos ao crescimento das plantas, são solos com elevado
grau de dispersão. O pH desses solos é superior a 8,5. Os solos salino-sódico são
semehantes ao salinos, mas com teores de Na que saturam mais de 15% da CTC. O
pH destes solos é menor que 8,5.
8
A absorção de bases trocáveis pelas plantas é importante, particularmente
naqueles solos com utilização agrícola intensiva, sendo o mecanismo mais importante
de substituição das bases por ácidos no complexo de troca dos solos utilizados na
agricultura.
Nos solos também são produzidos ácidos como HNO3 e H2SO4 pelo uso de
certos sais como fertilizantes.
O conjunto desses fatores conduz, portanto, à acidificação progressiva dos
solos, particularmente em regiões tropicais com precipitações que favoreçem a
percolação e lixiviação.
9
Figura 2. Curvas de neutralização com CaCO3 de amostras de solos.
Fonte: Raij et al. (1979).
Acidez Ativa
A acidez ativa é determinada pelo pH do solo, que de fato corresponde ao pH da
soluça odo solo.
10
O pH do solo varia com a precipitação pluvial, com o manejo do solo, e
especialmente com as adubações, portanto é fortemente afetado pela época de
amostragem do solo e, ainda, pelo método de preparo das amostras.
Para determinar a acidez ativa existem métodos titulométricos e
potenciométricos. Os titulométricos utilizam soluções indicadoras ou fitas de papel
impregnadas por estes indicadores que mudam de cor de acordo com o pH da solução.
São úteis para determinações de campo porém são menos exatos do que os métodos
potenciométricos. Em laboratório utiliza-se a medição potenciométrica da atividade dos
íons H+ usando um eletrodo específico de hidrogênio. Os métodos potenciométricos
mais comuns são:
a) determinação do pH em suspensão do solo com água, sendo a relação solo:
água de 1:1 ou 1:2,5;
b) determinação do pH em suspensão do solo com KCl 1 mol/L, sendo a relação
solo: solução de 1:1 ou 1:2,5;
c) determinação do pH em suspensão do solo com CaCl2 10 mmol/L, sendo a
proporção solo: solução de 1:1 ou 1:2,5.
Os valores de pH em água geralmente apresentam maior variabilidade entre
repetições, devido a presença de sais solúveis. A adição de eletrólito (KCl ou CaCl2)
diminui essa variabilidade, por uniformizar a concentração salina.
A determinação do pH é influenciada por alguns fatores como:
a) Efeito de diluição - com a diminuição da relação solo: água, verifica-se em
solos ácidos um aumento no pH da suspensão. Isso tem sido atribuido ao menor
contato entre o eletrodo e as partículas do solo e à hidrólise crescente dos cátions
trocáveis pela diluição.
b) Efeito de suspensão - também em solos ácidos o pH de uma suspensão de
solo com água, após um certo período de repouso, geralmente diminui com a
profundidade em que é imerso o eletrodo. Isso deve-se a uma "diferenciação" das
suspensões com a profundidade, que permite distinguir, a grosso modo, três porções:
(1) líquido sobrenadante, (2) partículas finas em suspensão e (3) partículas de solo
sedimentado no fundo do recipiente. A diminuição do pH, com a profundidade, decorre
do maior contato entre o eletrodo e as partículas do solo. Esse efeito é minimizado pela
agitação das suspensões imediatamente antes da leitura de pH.
c) Efeito de sais solúveis - de modo geral, em solos eletronegativos, o pH
diminui com o aumento da concentração salina da solução, em razão da troca catiônica
que se verifica entre o cátion do sal e os íons H+ e Al3+ do complexo de troca:
11
Em solos eletropositivos, o efeito é contrário, em razão da troca entre o ânion do sal e
hidroxilas da superficie das argilas.
Para determinar se o solo é eletronegativo ou se é eletropositivo se estiva o valor ∆
pH:
∆pH = pHKCl - pHH2O
Se o valor ∆pH é negativo em solos eletronegativos, e é positivo em solos eletropositivos.
Em solos salinos, a presença de sais solúveis na determinação de pH,
provavelmente diminui a hidrólise dos cátions básicos; ou seja, limita a reação:
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- a quantidade de eletrólitos na solução de CaCl2 10 mmol/L é similar àquela da
solução do solo, de solos de CTC elevada, mas é elevada para solos de Cerrado.
Entretanto o pH em água reflete melhor a realidade para os solos ácidos e é
utilizado na maioria dos laboratórios de avaliação da fertilidade do solo no País.
As classes de interpretação para a acidez ativa do solo (pH em água, relação
1:2,5),são:
Muito baixo Baixo Bom Alto Muito alto
A qualificação bom indica acidez adequada para a maioria de culturas e muito baixo
,baix0, alto e muito alto, acidez inadequada.
A freqüencia de solos ácidos no Brasil é elevada, como se demonstra om uma
amostra de 500 solos analisdos no Laboratório de Fertilidade do Solo do Departamento
de Solos da UFV:
pH % pH %
≤ 5,0 48,0 ≤ 5,5 78
5,1 − 5,5 30,2 ≤ 6,0 97
5,5 − 6,0 19,2
> 6,0 2,6
Acidez Trocável
A acidez trocável é definida pelo H+ e o Al3+ adsorvidos às cargas negativas
permanentes e às dependentes de pH até pH do solo.
Para determinar a acidez trocável se utiliza como extrator a solução de KCl 1 mol/L.
Solução não tamponada, pois é formada de um sal neutro, que pelo excesso de K+ extrae,
por troca, H+ e Al3+ retidos nas micelas por forças eletrovalentes.
Para sua determinação 10 cm3 de TFSA são agitados com 100 ml de KCl 1 mol/L
durante 5 min, deixa-se decantar por 16 h, retira-se alicuota do sobrenadante e se titula, na
presença de fenolftaleína, com solução de NaOH 50 mmol/L.
Como em muitos solos o teor de H+ trocável é muito pequeno se indica o
resultado de acidez trocável como sendo o teor de Al3+ trocável. Entretanto, em solos
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muito ácidos ou com altos teores de matéria orgânica o teor de H+ pode ser
importante, pode até ser maior que o teor de Al3+.
A toxidez causada por elevados teores de Al3+ depende não só de seu teor, mas
deste em relação a CTC efetiva do solo, que é a saturação por Al3+ (m).
As classes de interpretação para a acidez trocável (Al3+) e a saturação por Al3+
(m) são:
Al3+ (cmolc/dm3) ≤ 0,20 0,21 − 0,50 0,51 − 1,00 1,01 − 2,00 > 2,00
m (%) ≤ 20,0 20,1 − 40,0 40,1 − 60,0 60,1 − 80,0 > 80,01
A qualificação muito baixo e baixo indica para a maioria de culturas acidez adequada e
médio, alto e muito alto inadecuada.
Acidez Potencial
Existem varias denominações inadequadas para este tipo de acidez, tais como:
acidez titulável, não trocável, dependente do pH e residual.
Utiliza-se como extrator uma solução tamponada: Ca(OAc)2 0,5 mol/L, pH 7. Na
determinação da acidez potencial, extrae-se a acidez ativa, a acidez trocável e a acidez
não trocável, isto é: H dissociável de ligações covalentes até o pH 7, que é
tamponamento da solução Ca(OAc)2. Assim, ela se expressa pelos teores de (H+AL).
Para solos alcalinos determina-se acidez potencial a pH 8,5. As reações envolvidas na
determinação da acidez potencial são mostradas no equema a seguir:
Al 3/2 Ca
+ Al3+
X R-COO:H + (X+Y+3)/2 Ca(OAc)2 → X R-COO X/2 Ca + (X+Y+3) OAc−
+
+ (X+Y) H
Y R-O:H Y R-O Y/2 Ca
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variação dos valores de CTC, matéria orgânica e argila obteve a equação para estimar
H+Al em base ao valor de pHSMP:
ln y = 7,76 - 1,053** x R2 = 0,96
onde y é H+Al (em cmolc/dm3) e o x é o pHSMP.
Para solos de Minas Gerais, também de ampla variação na mineralogia e nos teores de
argila e matéria orgânica, Oliveira4 obteve a equação:
ln y = 8,01 - 1,102** x R2 = 0,99
4
Jairo A. Oliveira. Informação pessoal obtida com dados de análises realizadas no
Laboratório de Fertilidade do Solo do DPS/UFV.
15
superficial de 0 a 20 cm, 1,2 t/ha de CaCO3 5 para neutralizar a acidez trocável, e será
necessário adicionar 6,5 t/ha da CaCO3 para neutralizar a acidez não trocável o que
significa adicionar 7,7 t/ha de CaCO3 para neutralizar a acidez potencial:
5
Será demonstrado posteriormente que para uma camada de 0-20 cm de solo cada
cmolc/dm3 de acidez será neturalizada por uma tonelada de CaCO3, reagente puro
para análise, finamente moído e com poder de neutralização de 100%
16
CLORO
b) em solos alcalinos
c) Enxofre
17
O SO42− adsorvido pelos óxidos de Fe e de Al é liberado pela elevação do pH.
A decomposição da matéria orgânica, liberando S, é favorecida pela elevação
do pH.
d) Potássio, Cálcio e Magnésio.
a) Nenhum efeito direto do pH.
b) Efeito indireto, com a lixiviação ocorre diminuição das bases e o aumento da
acidez. Pelo contrário, o aumento da CTC dependente do pH faz com que a lixiviação
destes cátions diminua.
e) Ferro, Manganês, Cobre e Zinco
A disponibilidade destes micronutrientes catiônicos diminui pelo aumento de OH−
na solução do solo.
f) Boro
a) Abaixo de pH 7,0 há pouco efeito sobre a disponibilidade do B, em condições
do pH do solo o ácido bórico não se dissocia.
b) Há decréscimo na solubilidade acima de pH 7,0
g) Molibdênio e Cloro
O MoO42− é fortemente adsorvido pelos óxidos de Fe e de Al e é deslocado pelo
OH− ao elevar-se o pH do solo. A mesma tendência se observa para Cl−, mas o mesmo
é fracamente adsorvido no solo.
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altas concentrações no solo podem ser tóxico às plantas, constituindo uma das
principais limitações agrícolas em solos ácidos.
De acordo com os equilíbrios químicos já estudados nos capítulos precedentes,
a atividade do Al3+, e demais espécies de sua hidrólise, depende basicamente do tipo
de mineral presente na fase sólida e do pH do solo. Em solos ácidos, com predomínio
de argilas de 1:1 (caulinita) e óxidos (gibbisita) na fração argila, a atividade do Al3+ em
solução pode ser bastante elevada. A solubilidade do Al diminui com o aumento do pH,
conforme mostra a figura 1.
Verifica-se que a valores de pH acima de 5,5 – 6,0 (até 8,0), a solubilidade do
Al3+ é mínima. Esta é uma das razões pelas quais a correção de solos ácidos é feita de
modo a se atingir um pH de, pelo menos, 5,5.
Entre pH 5,5 e 6, em certos solos, pode ter-se ainda elevada disponibilidade de
Mn, exigindo que a correção da acidez chegue até pH 6, pelo menos.
Com relação à fertilidade dos solos, o Al em concentração elevada, além de
poder ser tóxico às plantas, pode interferir na disponibilidade de outros nutrientes. O
exemplo mais típico desse efeito refere-se à solubilidade do fosfato no solo. O fosfato
tende a reagir com o Al solúvel, formando fosfatos de alumínio de baixa solubilidade
em solos ácidos.
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demostra que acima de pH 5,4, os níveis de saturação de Al (m) foram inferiores a 10
% na camada de 0 - 15 cm.
A concentração de Al na solução do solo depende do pH do solo, da saturação
por Al, teor de matéria orgânica e presença de outros íons na solução do solo.
Considera-se que 2 mg/L de Al3+ na solução seja um nível tóxico para muitas plantas
cultividas, sendo que esta concentração pode ocorrer a pH 5,0. Entretanto, em pH 6,0
já não se observa Al3+ em solução.
A forma de Al presente na solução do solo depende do pH, como se pode
observar no esquema que se segue e na figura 1.
Em termos de efeitos negativos ao crescimento das plantas, o efeito primário da
toxicidade de Al se faz sentir no sistema radicular.
Os principais sintomas que podem ser observados no sistema radicular são:
- raízes caracteristicamente curtas ou grossas;
- inibição do crescimento das raízes, que se tornam castanhas;
- raízes laterais engrossadas e pequena formação de pêlos radiculares;
- observa-se também, predisposição da planta injuriada a infecções por fungos,
entretanto, também há casos em que o Al3+ controla certas doenças fungicas das
raízes.
Como efeitos citológicos, pode observar-se:
- inibição da divisão celular, com a conseqüente inibição do alongamento celular;
- ruptura das células do periciclo.
Também, como efeitos fisiológicos e bioquímicos, têm-se:
- aumento na viscosidade do protoplasma das células das raízes com
conseqüente decréscimo da permeabilidade à água, sais e corantes;
- redução na habilidade de uso de sacarose para a formação de polissacarídeos
nas paredes celulares;
- inibição de desidrogenase isocítrica, enzimas málicas, redução na fosforilase
de açúcares, respiração e síntese de DNA;
- efeito na absorção e utilização de nutrientes, principalmente Ca e P.
Tolerância ao Alumínio
Por meio da evolução natural, ou por meio de melhoramento genético controlado
algumas plantas carcterizam-se por apresentar tolerância ao alumínio. Os mecanismos
de tolerância ou resistência das plantas e elevadas concentraçõe de Al são:
20
- Não absorvem Al, pois apresentam capacidade de manter o Al fora do
metabolismo da planta, por processos de complexação do Al com ácidos orgânicos e
por precipitação de Al(OH) pela maior extrusão de OH- da rizosfera
3
21
quantidade de Al para a parte aérea e teve o seu conteúdo de P nesta parte e nas
raízes reduzido a valores mínimos para as maiores concentrações Al em solução. O
efeito da toxidez do Al no E. cloeziana parece estar ligado a absorção e, ou, transporte
de P.
Alterações de pH na Rizosfera6
As alterações na rizosfera, são de impotante para entender os mecanismos de
adaptação das plantas, entre eles à altos teores de alumínio. Algums aspectos sobre
tais alterações serão abordados a seguir.
Ao se avaliar o pH da rizosfera pode ser encontrado um valor diferente daquele
obtido para o solo. A diferença, que pode vir a ser superior a duas unidades (Hedley et
al., 1982), é determinada por fatores relativos à própria planta e,ou, ao solo.
Dentre os fatores, relativos à planta, responsáveis pela mudança de pH da
rizosfera, destacam-se a extrusão de H+ ou de HCO3-, respiração radicular e liberação
de exsudatos radiculares, como ácidos orgânicos, aminoácidos, açúcares, fenóis, etc.
Naturalmente, observa-se que as plantas raramente absorvem quantidades
equivalentes de cátions e de ânions, o que condiciona a duas situações: ou as raízes
absorvem, em dado tempo, um excesso de ânions em relação a cátions, ou vice-versa.
A necessidade de manutenção de um equilíbrio eletroquímico entre as raízes e a
rizosfera e uma constância de pH intracelular, conduz a mecanismos compensatórios.
Assim, o balanço na absorção iônica deve ser compensado pela simultânea extrusão
de H+, quando em situações de predomínio na absorção de cátions, ou de OH- ou
HCO3- ou RCOO-, quando existe predomínio na absorção de ânions (Sonn & Miller,
1977).
De maneira geral, para solos de boa porosidade, a liberação de CO2, via
respiração radicular ou de microrganismos, não provoca significativas alterações no pH
da rizosfera. A difusão de CO2 pelos poros do solo dá-se de maneira rápida (Nye,
1986). Da mesma forma, grandes mudanças de pH da rizosfera induzidas por
exsudatos de baixo peso molecular podem ser considerados mais como exceção do
que regra (Marschner, 1991).
6
Volume de solo em torno da raíz, que sofre influencia de sua atividade, pormeio da
absorção do nutrientes e excreções de vários produtos de seu metabolismo.
22
Dentre as práticas de manejo cultural, a adubação nitrogenada talvez seja
aquela que pode conduzir a maiores alterações no pH da rizosfera. Considerando-se
que o nitrogênio seja preferencialmente absorvido como nitrato, a planta passa a
absorver mais ânions do que cátions, resultando em maior extrusão de OH- e em
valores de pH de rizosfera mais altos que o do solo não rizosférico. Assim, a absorção
de N-NH + promove o efluxo de H+, enquanto a absorção de N-NO - promove o efluxo
4 3
23
proporcionassem maior solubilidade do Mn, possivelmente, na rizosfera. Igualmente
curioso é o fato da soja, em sua fase inicial de crescimento, sensível à deficiência de
Mn em solos que receberam calagem excessiva, ter o problema visualmente corrigido
com o crescimento da planta (Novais et al., 1989).
E finalmente, uma dúvida comum àqueles que pesquisam e cultivam solos de
cerrado: por que a deficiência de Zn e tão mais comum e intensa em milho e arroz, por
exemplo, do que na soja, nas mesmas regiões de cultivo?
A solução destas questões certamente baseiam-se nas alterações no pH da
rizosfera de plantas fixadoras de N, como a soja. Estas parecem execer papel
fundamental na absorção de micronutrientes que têm sua disponibilidade altamente
dependente de alterações do pH do solo, particularmente daquele rizosférico.
24
relaciona-se diretamente com a proporção de argila e teor de matéria orgânica no solo,
assim como com o tipo de argila.
Os critérios de recomendação de calagem são variáveis segundo os objetivos e
princípios analíticos envolvidos, e o próprio conceito de necessidade de calagem (NC)
irá depender do objetivo dela. Assim, Raij (1981) diz que a necessidade de calagem é a
quantidade de corretivo de acidez necessária para neutralizar a acidez do solo, de uma
condição inicial até um nível desejado. Outra definição, seria a quantidade de corretivo
necessária para se obter a máxima eficiência econômica (MEE) de definida cultura, o
que significaria ter definida quantidade de Ca e, ou, Mg disponíveis no solo e condições
adequadas de pH para boa disponibilidade dos nutrientes em geral.
O corretivo usado como padrão de referência é o CaCO3, com um valor
atribuído de PN (poder de neutralização) igual a 100 %, portanto de PRNT (poder
relativo de neutralização total) igual a 100 %. Assim, qualquer corretivo terá seu valor
de PRNT estimado, em relação ao do CaCO3.
25
c) elemento essencial: M deve ser um nutriente. Assim além de efetuar a correção
do solo, se está fornecendo um nutriente às plantas
Exemplo de corretivo não desejável:
Calcários calcinados (CaO, MgO) são bons corretivos. Entretanto não são muito
usados, pois são mais caros e apresentam efeito corrosivo.
Outros materiais que possuem Ca, que trocam e precipitam Al, mas que não
funcionam como corretivo ideal são, por exemplo, superfosfato simples, gesso.
Além dos calcários, as escórias de alto forno e de siderurgia são materiais
eficientes na correção da acidez do solo.
Portanto, o calcário neutraliza a acidez representada por H+Al, deixando o solo
com Ca e Mg no lugar dos cátions de caráter ácido. O Al é precipitado como hidróxido
e o gás carbônico é desprendido (Raij, 1991).
26
• método para elevar os teores de Ca e de Mg trocáveis, e neutralizar a acidez
trocável;
• métodos baseados na correlação existente entre pH, saturação por bases.
27
de forma a não exceder a capacidade de campo. Após o período de incubação
procede-se a leitura do pH, obtendo-se curvas como as da figura 1.
28
Para seu uso, adicionam-se a 10 cm3 de TFSA 10 mL de água e agita-se, adiciona 5
mL de solução tampão SMP e agita-se. A solução SMP, constituída de p-nitrofenol,
trietanolamina, cromato de potássio, acetato de cálcio e cloreto de cálcio, é ajustada a pH
7,5. Após estabelecido o equilíbrio, lê-se o pH da suspensão, representado por pHSMP
(Tedesco et al., 1995). Quanto maior a acidez potencial do solo, maior será a
depressão de pH da solução tampão em contato com o solo.
A solução tampão SMP foi idealizada de tal forma que sua curva de
neutralização corresponde a uma reta em uma ampla faixa de pH.
A calibração do método é feita correlacionando o pHSMP de uma série de solos
com a necessidade de calagem para elevar o pH, em geral, a 6,0 ou 6,5. ou mesmo
5,5, sendo esta necessidade de calagem determinada por incubação com CaCO3. De
posse do valor do pHSMP do solo e definido o pH que se deseja alcançar e, utilizando
uma tabela, representada, resumidamente, no quadro 1, determina-se a necessidade
de calagem.
NC para pH
pHSMP 5,5 6,0 6,5
----------------------------- t/ha CaCO3 -----------------------------
Deve-se salientar que essas tabelas devem ser obtidas para cada região, pois
os dados obtidos em uma localidade podem subestimar ou superestimar a necessidade
real de calcário de outra (Souza et al., 1980).
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métodos de recomendação de calagem baseados unicamente no teor de acidez
trocável. Assim Kamprath (1967) sugeriu a fórmula:
NC = 2 × Al3+
onde Al3+ é acidez trocável (em cmolc/dm3).
Acontece, porém, que em solos altamente intemperizados, o que realmente
limita a produtividade é a deficiência generalizada em nutrientes (Ca, Mg, P, por
exemplo). Nesse aspecto, a deficiência de Ca é fator limitante para um bom
crescimento radicular. Por isso, surgiram métodos que levam em consideração não
somente a correção do Al trocável, mas, também, o fornecimento do Ca e de Mg.
Principalmente nos estados de Minas Gerais e Goiás, foi recomendada a
seguinte fórmula (CFSEMG, 1978):
NC = 2Al3+ + [ 2 - (Ca2+ + Mg2+)]
No Departamento de Solos da UFV, o valor usado como multiplicador
do Al3+ ou como "SBe" (soma de bases esperada) para os teores de Ca2+ e Mg2+ não
foi considerado como constante igual a 2. Assim, Freire et al. (1984) recomendaram
para a cultura do cafeeiro a fórmula:
NC = 2Al3+ + [3 - (Ca2+ + Mg2+)]
NC = Y × Al3+
30
Posteriormente, Alvarez V. et al. (1993) propuseram a utilização de P
remanescente como estimador do valor Y para determinar a necessidade de calagem
pelo método de Minas Gerais (Eq. 11).
Mais recentemente nova alteração foi proposta para o método da neutralização
do Al3+ e da elevação dos teores de Ca2+ + Mg2+ (Alvarez V. & Ribeiro, 1999), que é a
que esta em uso atual.
Neste método, consideram-se ao mesmo tempo características do solo e
exigências das culturas. Procura-se, por um lado, corrigir a acidez do solo e para isto
leva-se em conta a susceptibilidade, ou, a tolerância, da cultura à elevada acidez
trocável, considerando a máxima saturação por Al3+ tolerada pela cultura (mt) e a
capacidade tampão do solo (Y) e, por outro, se quer elevar a disponibilidade de Ca e
de Mg de acordo com as exigências da cultura (X).
Para solos de cerrado e em geral de Minas Gerais recomendam-se os valores
apresentados no quadro 8.1 da 5ª Aproximação de Recomendações para Uso de
Corretivos e Fertilizantes em Minas Gerais (Alvarez V. & Ribeiro, 1999) e resumidos no
quadro 2.
Quadro 2. Valores máximos de saturação por Al3+ tolerados pelas cultura (mt) e
valores de X para o método do Al e do Ca+Mg trocáveis para diversas
culturas e, valores de saturação por bases (Ve) que se procura atingir
pela calagem com o método de saturação por bases
Culturas mt X Ve
% cmolc/dm3 %
Cereais (milho, trigo, sorgo, arroz) 15 - 25 2,0 50
Leguminosas (feijão, soja, adubos verdes) 20 2,0 50
Hortaliças (tomate, repolho, alho, ervilha) 5 3,0 60 - 70
Café 25 3,5 60
Cana de açúcar 30 3,5 60
Fruteira tropicais (mamoeiro, citros, banana, 5 - 15 2,0 - 3,5 60 - 80
abacaxi)
Pastagens
Leguminosas 15 - 25 1,0 - 2,5 40 - 60
Gramínias 20 - 30 1,0 - 2,0 40 - 50
Eucalipto 45 1,0 30
31
A necessidade de calagem (NC, em t/ha) é calculada em base a dois
componentes, que atuam concomitantemente tanto na correção da acidez como na
correção da deficiência de Ca e Mg. O primeiro componente visa neturalizar o alumínio
e o segundo atender a necessidade de cálcio e magnésio da cultura
NC = Y [Al3+ - (mt × t/100)] + [X - (Ca2+ + Mg2+)]
em que: Al3+ = acidez trocável, em cmolc/dm³
mt = máxima saturação por Al3+ tolerada pela cultura
t = CTC efetiva, em cmolc/dm3
Ca2+ + Mg2+ = teores de Ca e de Mg trocáveis, em cmolc/dm3
Y é um valor variável em função da capacidade tampão da acidez do solo (CTH) e que
pode ser definido de acordo com a textura do solo (Quadro 3). Em lugar da tabela, que
fornece valores discretos o y pode ser estimado de forma contínua por meio da
equação:
Ŷ = 0,0302 + 0,06532 Arg - 0,000257 Arg2; R2 = 0,9996
32
CTH e o valor de Prem dependerem não somente do teor de argila, mas também da
sua mineralogia e do teor de matéria orgânica do solo e do manejo do mesmo.
Prem Y
mg/L
0 a 4 4,0 a 3,5
4 a 10 3,5 a 2,9
10 a 19 2,9 a 2,0
19 a 30 2,0 a 1,2
30 a 44 1,2 a 0,5
44 a 60 0,5 a 0,0
onde:
T = CTC a pH 7,0 = CTC pot. = SB + (H + Al) em cmolc/dm3
SB = soma de bases = Ca2+ + Mg2+ + K+ + Na+;
Va = saturação por bases atual do solo = 100 SB/T;
Ve = saturação por bases esperada ou desejada para a cultura a ser implantada.
NC = SBe - SBa
onde:
SBe = soma de base esperada ou desejada
33
SBa = soma de base atual do solo
34
2.4. Escolha do Corretivo a Aplicar
No mercado existe grande diversidade de calcários.
O calcário é comercializado com base no peso do material, portanto a escolha
do corretivo a aplicar deve levar em consideração o uso de critérios técnicos (qualidade
de calcário) e econômicos, procurando maximizar os benefícios e minimizar os custos.
Na qualidade de calcário se deve considerar a capacidade de neutralizar a
acidez do solo, poder de neutralização (PN), a reatividade do material (RE), que
considera sua natureza geológica e sua granulometria, e o conteúdo de nutrientes,
especialmente de Mg.
O poder neutralizante avalia o teor de materiais neutralizantes do calcário, ou
seja, a capacidade de reação dos ânions presentes, se expressa em %, considerando
o CaCO3 como padrão igual a 100 % e se determina por neutralização direta com
ácido cloridrico (Duarte et al., 1993).
g/molc
50
28
37
20,15
35
%). Como 1.000 g de CaCO3 equivalem a 20 molc (20 eq), se considera que toda
substância que em 1 kg de material apresenta 20 molc, tem VN = 100 %.
%.
36
Considerando a granulometria se pode avaliar a eficiência relativa no período de
aproximadamente três meses, de acordo com os seguintes valores.
Assim:
37
PRNT = 96 × 77,5 / 100 = 74,4 %
Quadro 11. Valores mínimos de PN e da soma dos teores de CaO e MgO de corretivos da
acidez do solo
Material PN CaO + MgO
% %
Calcários 67 38
Cal virgem agrícola 125 68
Cal hidratada agrícola 94 50
Escórias 60 30
Calcário calcinado agrícola 80 43
Outros 67 38
Assim, pela legislação ficou estabelecido que um calcário deve apresentar para
comercialização os valores mínimos de 67 % para PN e de 45 % para PRNT.
Um dos fatores limitantes de um solo ácido é, geralmente, o seu baixo conteúdo
de Ca e, ou de, Mg disponíveis. Assim, a aplicação de um calcário que contenha Mg
terá, aliada ao seu efeito neutralizante da acidez, a adição de quantidade adequada de
Mg, o que evidentemente não acontece quando se utiliza calcário calcítico, pobre em
Mg.
A relação Ca:Mg do corretivo é muitas vezes mais importante do que a
quantidade do corretivo. A relação ideal sofre alteração de acordo com o solo e
segundo as culturas, sendo algumas espécies mais exigentes em relações estreitas e
outras tolerando o corretivo com muito mais Ca do que Mg. Uma relação comumente
recomendada é a de 3:1 ou 4:1 mols de Ca:Mg. Não se deve descartar o uso de
calcários extremamente calcíticos, pois, pode-se fazer seu uso como corretivo e
complementar a adubação com fertilizantes que contenha Mg, como o sulfato de
magnésio ou carbonato e mesmo o óxido de magnésio. Algumas vezes o calcário rico
em Mg chega ao agricultor duas ou mais vezes mais caro do que o calcário calcítico.
38
c) Dolomíticos - maior de 12 % MgO
Por ser material de baixa solubilidade, de reação lenta, o calcário deve ser
aplicado dois a três meses antes do plantio para que as reações esperadas se
processem. O calcário é uniformemente distribuído sobre a superfície do solo,
manualmente ou por meio de máquinas próprias e é, então, incorporado com arado e
grade até a profundidade de 15 a 20 cm (camada arável), profundidade (p) considerada
no cálculo da quantidade de calcário a ser usada (QC). Esse período, entre calagem e
plantio, considera presença de umidade no solo, para que existam as reações do solo
com o calcário, caso contrário é preferível realizar calagem e plantio numa sequência
única de operações.
A análise do solo dois ou três anos depois da calagem poderá indicar sobre a
necessidade ou não de nova aplicação.
Com intúito de diminuir o custo da calagem (pricipalmente quantidade e modo de
aplicação) alguns agricultores têm usado no sulco de plantio, doses menores de um
calcário de alto PRNT, prática denominada de "Filler". Para fornecer os nutrientes Ca e
Mg em solos deficitários nestes nutrientes, ainda se poderia usar o "Filler"; entretanto,
como corretivo de acidez a pesquisa tem demonstrado a ineficiência deste modo de
aplicação, inclusive se corre o risco de a planta desenvolver seus sistema radicular
naquele pequeno volume de solo corrigido, favorecendo o tombamento e aumentando
o prejuízo da seca devido ao pouco desenvolvimento radicular.
3.2. Supercalagem
39
A quantidade de calcário a aplicar deve ser definida pela análise de solo para
evitar uma aplicação de quantidade superior a necessária. A calagem em excesso é
tão prejudicial quanto a acidez elevada, com o agravante que aquela é de muito mais
difícil correção. Com a supercalagem há a precipitação de diversos nutrientes do solo,
como o P, Zn, Fe, Cu, Mn, além de maior prédisposição à danos físicos.
Supercalagem se realiza quando em covas para transplantio de mudas de café,
40 × 40 × 40 cm, se adiciona 500 g de calcário.
Para NC = 6,0 t/ha e calcário PRNT = 74,4 % se deve adicionar:
40
O gesso agrícola é um sal pouco solúvel em soluções aquosas (2,5 g/L), mas
que pode atuar sobre a força iônica da solução do solo, de maneira que haja contínua
liberação do sal para a solução por longos períodos de tempo. Essa característica,
aliada aos teores de Ca (17 a 20 dag/kg), de S (14 a 17 dag/kg), de P2O5 (0,6 a
0,75 dag/kg), de F (0,6 a 0,7 dag/kg), de Mg (0,12 dag/kg), à presença de
micronutrientes (Fe, Mn, Zn, Cu, Ni, B, Mo) e de outros elementos (Co, Na, Al, As, Ti,
Sb, Cd), permite que o gesso agrícola possa ser utilizado na agricultura:
a) Como fonte de Ca e de S
b) Na correção de camadas subsuperficiais com baixos teores de Ca2+ e, ou, com altos
teores Al3+ com o objetivo de melhorar o ambiente radicular das plantas.
A recomendação do uso de gesso agrícola com esta última finalidade pode
implicar a utilização de doses elevadas, devendo ser feita com base no conhecimento
das características físicas e químicas dos solos, não apenas da camada arável, mas
também das camadas subsuperficiais.
Para decidir sobre a recomendação de aplicação de gesso agrícola, deve-se
observar que as camadas subsuperficiais do solo por exemplo, (20 a 40 cm ou 30 a
60 cm) apresentem as seguintes características7: ≤ 0,4 cmolc/dm3 de Ca2+ e, ou,
> 0,5 cmolc/dm3 de Al3+ e, ou, > 30 % de saturação por Al3+.
41
culturas quanto à demanda de Ca, sendo que plantas como café e tomate são muito
responsivas ao elemento, ao passo que espécies florestais como os eucaliptos
apresentam baixas exigências. Também as características do solo que podem permitir
maior movimentação de Ca em profundidade no perfil do solo devem ser consideradas
igualmente, uma vez que excesso de movimentação pode arrastar o elemento para
camadas além daquelas onde se encontra o maior volume de raízes. A descida deste
cátion em profundidade modifica o perfil de distribuição das raízes das plantas,
aumentando o volume de solo a ser explorado em nutrientes e especialmente em água.
Uma vez na solução do solo, o íon Ca2+ pode reagir no complexo de troca do
solo, deslocando cátions como Al3+, K+, Mg2+ e (H+) para a solução do solo, que
podem, por sua vez, reagir com o SO42- formando AlSO4+ (que é menos tóxico às
plantas) e os pares iônicos neutros: K2SO4o, CaSO4o, MgSO4o. Em função da sua
neutralidade, os pares iônicos apresentam grande mobilidade ao longo do perfil,
ocasionando uma descida de cátions para as camadas mais profundas do solo.
Entretanto, sais muito solúveis, como os nitratos de sódio e de potássio, cujos ânions
7
Critérios estabelecidos por Lopes, Alfredo Scheeid e publicados na 4ª Aproximação das Recomendações de
Corretivos e Fertilizantes em Minas Gerais (CFSEMG, 1080).
42
têm pouca ou nenhuma interação com a fase sólida do solo, têm alta mobilidade no
perfil, sendo arrastados pela água. Assim, a solubilidade dos sais na solução do solo,
considerada a interação de seus íons com a fase sólida, é que define a mobilidade
destes. Por sua vez, os fosfatos são pouco móveis, em razão da adsorção aniônica.
De maneira geral, pode-se dizer que diferentes fatores condicionam maior ou
menor movimentação dos cátions pelo perfil do solo que recebeu gesso. Entre eles
destacam-se:
1) Quantidade de gesso aplicado ao solo;
2) Capacidade de troca catiônica do solo;
3) Condutividade elétrica da solução do solo;
4) Textura do solo e,
5) Volume de água que se aporta ao solo.
Desta forma, para um solo de textura arenosa, com baixa CTC e pequena
capacidade de adsorver sulfato, a movimentação de bases seria, potencialmente, maior
que aquela para um solo de textura argilosa com alta capacidade de adsorção de
sulfato e elevada CTC. Portanto, nestes solos, onde o potencial de movimentação de
bases é elevado, o cuidado com a quantidade de gesso aplicada ao solo deve ser
maior, a fim de evitar o risco de uma movimentação além das camadas exploradas pelo
sistema radicular da planta cultivada.
Normalmente, a aplicação de gesso agrícola não provoca alterações importantes
no pH do solo.
Contrariamente à reduzida capacidade de alteração do pH do solo, a aplicação
de gesso pode proporcionar importante redução no teor de Al trocável e em sua
saturação (m). Estudos de lixiviação têm demonstrado que o Al pode ser encontrado
nos lixiviados de perfis reconstituídos de Latossolos brasileiros. A neutralização do Al
trocável pela adição de gesso pode ocorrer, basicamente, a partir das seguintes
reações:
1) Precipitação na forma de Al(OH)3 e liberação de OH- para a solução, em decorrência
da adsorção de sulfato;
2) Formação do complexo AlSO4+, que é menos tóxico às plantas;
3) Formação do par iônico AlF2+ decorrente da presença de F- no gesso agrícola;
4) Precipitação de minerais de sulfato de Al, como alunita e basaluminita, por exemplo,
decorrente do aumento da concentração de sulfato na solução.
43
(m), que, para vários autores, tem papel mais importante no controle da toxidez do Al
para as plantas do que o teor de Al3+ ou a sua concentração em solução.
Quadro 12. Necessidade de gesso (NG) de acordo com o teor de argila de uma
camada subsuperficial de 20 cm de espessura
Argila NG
------% ----- ------t/ha ------
0 a 15 0,0 a 0,4
15 a 35 0,4 a 0,8
44
35 a 60 0,8 a 1,2
60 a 100 1,2 a 1,6
A necessidade de gesso (NG, em t/ha) pode ser apresentada, de forma contínua, como
função do teor de argila (x, em %) pela equação:
45
E a necessidade de gesso (NG, em t/ha) poderá ser calculada de acordo com a
recomendação de Ca, estimada com a equação anterior e o teor de Ca do gesso (TCa,
em dag/kg) a ser usado, utilizando a fórmula:
NG = Ca / (10 TCa)
Enfim, sempre que possível, o gesso deve ser aplicado juntamente com calcário
magnesiano ou dolomítico. Amostragens periódicas das camadas subsuperficiais
devem ser realizadas com a finalidade de acompanhar a movimentação de bases pelo
perfil. Esta movimentação pode provocar drástica remoção de bases do volume de solo
explorado pelo sistema radicular das plantas.
46
Para solos onde existe bom manejo de resíduos orgânicos e sem a presença de
camadas subsuperficiais com elevado teor de Al3+ e, ou, baixo teor de Ca2+, o potencial
de resposta ao gesso será muito pequeno. Para café quando cultivado em solos
declivosos e ácidos, a mistura gesso mais calcário pode ser utilizada com o objetivo de
carrear cátions para camadas mais profundas, uma vez que a incorporação de calcário
nestas lavouras é problemática.
47