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(F. LIMA) A Guilhotina de Hume (Libertarianismo)

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A Guilhotina de Hume ou Lei de Hume é

um conceito de metaética que demonstra o


problema da dicotomia entre dever/norma e
entre ser/descritivo que tem atormentado a
filosofia desde os escolásticos. Muitas pessoas
usam essa ferramenta de forma errada, não
entendem seu verdadeiro propósito, tanto as
pessoas que usam ela para "refutar" certos
argumentos éticos, como o argumento Hoppeano
por exemplo, quanto as pessoas que dizem que
ela é inútil.
O que diz a Guilhotina de Hume?
Guilhotina de Hume é uma ferramenta
lógica que diz que não se pode derivar um dever
ser (norma) de um fato (descritivo), o que Hume
quer dizer com "fato" (descritivo) é toda
proposição que advém dos sentidos, da
experiência, que portanto, são inválidos para
derivar a ética numa sociedade. Ex: "está
chovendo lá fora (descritivo/fato) logo você não
deve sair lá fora (normativo/dever)" percebe o
erro lógico? Ela diz apenas que só porque algo é
de um jeito, isso não quer dizer que algo deveria
ser desse jeito ou de outro. Ela estabelece que de
"fato" é impossível derivar normas. Proposições
de ser/é não são possíveis para derivar
proposições de dever ser.
Até aí, tudo bem.
O problema surge quando as pessoas ao se
depararem com palavras como "fato", "é",
"descritivo", "ser" dentro da Guilhotina de Hume,
pensam que isso define quaisquer proposições
verdadeiras, o que isso está ERRADO. Não é de
hoje que as pessoas se confundem sobre essa
questão e começam a dizer que qualquer coisa cai
na Guilhotina de Hume, simplesmente por serem
proposições verdadeiras. E fazem isso por não
entenderem o conceito que a ferramenta lógica
dá a palavras como: "descritivo", "fato", "ser" "é".
O que resulta numa confusão por causa da
semântica, já que essas palavras são muito usadas
no cotidiano para se referir a qualquer coisa.
Então, vamos deixar claro esses conceitos:
1 - O conceito descritivo/fato/ser/é na
Guilhotina de Hume está relacionado a
evidências empíricas, algo que se descobre
através dá indução. Ou seja, não tem NADA a ver
com proposições que são necessariamente
verdadeiras por definição, como: analíticos e
sintéticos a priori, por exemplo.
2 - O que a Guilhotina faz é uma distinção
metodológica entre o que é ontológico e o que é
epistêmico. Dizendo que a norma "epistêmica"
não pode ser derivada a posteriori, ou seja, por
aquilo que existe em terceira pessoa. É uma
distinção entre o reino do ser/é e o reino do
dever/norma.
3 - A Guilhotina de Hume também não tem nada
tem a fazer com a filosofia moral e
epistemológica de Hume, ele é um ceticista, ele
tem uma visão cética para o problema da moral
por exemplo, ele diz que a moral não pode ser
derivada da razão, a moral só pode ser derivada
de um sentido ou nas paixões, ele é um
sentimentalista. Além dele ser um empirista
radical epistemologicamente. Portanto, usar a
Guilhotina de Hume como ferramenta
metodológica nada tem a ver com concordar com
a filosofia moral dele, muito menos com sua
epistemologia. O termo Lei de Hume/Guilhotina
de Hume não é do próprio Hume.
4 - Ela vem do último parágrafo da parte I do
livro III da obra "Tratado da Natureza Humana".
E ai um outro filósofo que veio depois dele pegou
essa parte e partir daí criou o termo "Lei de
Hume". Mas o resto da obra Hume nada tem a
ver com ela, inclusive diz o oposto dela, quando
Hume soltou aquele parágrafo em sua obra foi
apenas um comentário sem intenção nenhuma de
criar a "ferramenta da Guilhotina".
5 - Não tem absolutamente nada ver misturar a
moral de Hume com a Guilhotina de Hume, ela
nem é do próprio Hume. Ela é de outro filósofo, e
a própria moral Humeana cai na Guilhotina de
Hume, pois é um argumento naturalista
semelhante ao de alguns escolásticos.
Aí surge a questão: como não cair na
Guilhotina de Hume? E ela mesma já propõe uma
solução. Ela diz:
1 - As ideias correspondem à lógica, ou seja,
um conhecimento seguro e assertivo de onde
surge a certeza.
2 - Os fatos, na Guilhotina de Hume, são
semeados no campo das experiências sensíveis
onde não existe uma certeza absoluta,
apontando, com essa alegação, para a crença. Os
fatos, seriam então, provenientes de objetos
alocados nos sentidos, ou ainda, de uma
conjunção habitual entre determinados objetos.
Nesse contexto, não existem garantias.
3 - Não se deve confundir o domínio das certezas
éticas (o que deve ser) com o das proposições
científicas por exemplo, (o que é). Não se pode
passar da descrição à prescrição, ou seja, a ciência
por exemplo, não é competente para
fundamentar os valores éticos da sociedade. Ou
então se eu digo “as rosas silvestres cheiram
bem”, não há nenhuma norma implícita aí ou “o
desenvolvimento econômico de uma sociedade
anarcocapitalista é o melhor possível”, tampouco
daí se pode derivar qualquer dever.
4 - Com essa fundamentação lógica e agressiva
nasce a Guilhotina de Hume.
5 - Conclusão: para não cair na Guilhotina é
preciso de um dever ser que se derive de outro
dever num silogismo, ou seja, dedução lógica. E
somente pressupondo uma norma anterior é que
fica possível derivar uma norma posterior. Mas
vamos ver alguns exemplos:
Exemplo 1:
Todas as minhas amantes são ruivas.
Lola é minha amante.
Lola é ruiva.
Aqui temos um silogismo, uma dedução
lógica. Apesar dela não ser indutiva, e portanto,
não cair na Guilhotina de Hume, temos outro
problema que já não tem mais a ver com a
Guilhotina de Hume, pois a Guilhotina apenas
diz que não se pode derivar dever daquilo
obtemos através do método empírico.
Mas temos um problema com esse silogismo, pois
ele não apresenta nenhuma norma implícita ou
explícita em sua composição, não podendo
derivar dever algum. Agora vejamos outro tipo de
silogismo:
Exemplo 2:
Todo aquele que pode ouvir deve ouvir rock
(Norma)
João pode ouvir. (Fato)
João deve ouvir rock. (Norma)
Aqui temos um exemplo de como não cair
na Guilhotina de Hume, e de como derivar um
dever ser, o que não significa necessariamente
que esse dever está correto, é apenas um
exemplo. Como isso a gente conclui duas coisas:
para não cair na Guilhotina de Hume nós não
podemos derivar um dever partindo de uma
afirmação que obtemos pelos sentidos, e que
somente pressupondo uma norma anterior é que
podemos derivar uma norma posterior. Algo
perfeitamente lógico.
Sobre a Ética Argumentativa Hoppeana:
A Ética Argumentativa Hoppeana não é
derivada nem de uma dedução, nem de uma
indução, ela é um argumento transcendental,
sintético a priori, ela não parte de um
pressuposto qualquer para chegar à conclusão do
direito de auto propriedade. Ela afirma que o
direito de auto propriedade é um pressuposto
último, ele já está dado lá no pensamento
oferecendo suporte a qualquer raciocínio, em vez
de ser derivado de algum raciocínio. A ética
argumentativa não prova dedutivamente que
devemos respeitar a propriedade, ela exclui todas
as outras possibilidades como teorias auto
refutáveis. A única forma de agir de modo que
sua ação não seja injustificável racionalmente é
seguindo o dever de respeitar o direito de
propriedade.
Conclusão: para nos mostrar como absoluta
a regra da propriedade privada, a Ética
Argumentativa Hoppeana
não empreende nenhum silogismo, como no do
Exemplo 1 que eu havia mostrado, onde não havia
nenhuma norma implícita ou explicíta, a Ética
Argumentativa de Hoppe não só deixa a norma
implícita como também exclui todas as outras
normas por contradição prática. E ela também
não é descoberta através da indução, portanto
fica impossível vê-la morta sob a Guilhotina de
Hume.

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