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Tortura & Luta Antimanicomial 1BM

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Atividade Processual - Temas da Psicologia Brasileira


Janaina Moura
Laura Fandinho
Priscila Marchi 1BM - psicologia
Thamíris Hauk
Yasmin Salles

LUTA ANTIMANICOMIAL
No passado, as pessoas com transtornos mentais recebiam tratamentos considerados absurdos
dentro do próprio hospital, no qual homens e mulheres eram sujeitos a condições desumanas. Por
serem muitas vezes amontoados nos hospitais superlotados com tratamentos violentos que na
maioria das vezes, resultam em morte. Além disso, há casos em que pessoas sem transtornos
mentais foram internadas apenas para serem afastadas da sociedade.
O médico e psiquiatra Franco Basaglia foi o precursor do movimento de reforma psiquiátrica
italiano conhecido como Psiquiatria Democrática, suas ideias se constituíram em algumas das
principais influências para o movimento pela Reforma Psiquiátrica no Brasil, com o intuito de
acabar com os manicômios.
O Estado não poderia mais utilizar os serviços de hospitais psiquiátricos. Para substituir as
internações, os pacientes teriam acesso a atendimentos psicológicos, atividades alternativas de lazer,
e tratamentos menos invasivos do que aqueles que eram dados. O Movimento de Luta
Antimanicomial consiste em uma tentativa de conscientização com os hospitais e com os cidadãos
ao elaborar um discurso de que as pessoas com transtornos mentais não representam ameaça ou
risco à sociedade em que vivem.
A reforma antimanicomial surge a partir da reforma psiquiátrica que tem como objetivo dar voz
ao paciente que deixaria então de ser um objeto, para se tornar protagonista da busca pelo seu
próprio bem estar. Práticas antimanicomiais são todas aquelas que apontam para uma sociedade
capaz de garantir a equidade na convivência plural, valorizando a diversidade e promovendo a
igualdade.
O dia 18 de Maio é considerado um marco para a Saúde Mental quando é comemorado o Dia
Nacional da Luta Antimanicomial. O movimento da Luta visa o cuidado em liberdade, na
comunidade, lutando por um tratamento mais digno e humanizado para as pessoas em sofrimento
mental e usuários de álcool e outras drogas, no qual o usuário exerça sua cidadania.A Semana do 18
de Maio é uma data que representa a Luta diária dos profissionais, usuários e familiares para vencer
a exclusão, o sofrimento e proporcionar um cuidado em liberdade.
A luta antimanicomial se desenvolveu a partir da década de 1970. Práticas antimanicomiais são
todas aquelas que apontam para uma sociedade capaz de garantir a equidade na convivência plural,
valorizando a diversidade e promovendo a igualdade.
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A HISTÓRIA DOS MANICÔMIOS NO BRASIL
Em 1830 foi diagnosticada uma situação sobre os loucos, que começaram a ser considerados
como doentes mentais e merecedores de espaço próprio e tratamento, e em 1834 existiu uma
reforma na lei de assistência aos doentes mentais, mas o que dominava era o tratamento através de
execução.
Por conta do péssimo tratamento e péssimas condições que as pessoas viviam, em 1841, Dom Pedro
ll criou um decreto para o primeiro hospício do Brasil (Hospital psiquiátrico Pedro ll), conhecido
também como “Palácio dos Loucos”, localizado no Rio de Janeiro.
Após alguns anos, o hospício Pedro ll, já estava superlotado após muitos pacientes com todos os
tipos de doenças mentais, curáveis e incuráveis darem entrada lá. Em 1919, foi criado o manicômio
Judiciário, ele se encarregou dos doentes mentais que cometeram algum crime.
Na era Vargas, as instituições desse modelo não sofreram grandes mudanças, acontecendo apenas
a reforma e ampliação das instalações existentes. Houve criação de outros hospitais de modelo
colônia agrícola em larga escala sendo todos financiados pelo Governo Federal, ou seja, as políticas
públicas de Saúde Mental no Brasil tiveram como base, o modelo manicomial, que só veio a ser
contestado a partir do final da década de 1960.
Vale dizer que na década de 60 houve um fator que gerou consequências para a política de saúde
de nosso país, que foi a privatização dos hospitais psiquiátricos prestadores de serviço. Tais
hospitais privados recebiam subsídio do Estado e eram favorecidos por políticos, gerando renda aos
proprietários que mantinham as condições de tratamento muito piores que as dos hospitais públicos,
além de provocarem um inchaço do número de pacientes devido internações desnecessárias,
superlotando os manicômios de desempregados, indigentes, pobres, mendigos, já que quanto mais
pacientes internados, mais lucro para seus donos.

REMANICOMIALIZAÇÃO
Para o bom enfrentamento do problema é necessário agir nas Redes de Atenção Psicossocial
(estrutura da política de saúde mental brasileira que é composta por serviços do SUS, como os
CAPS). As redes de atenção Psicossocial têm colaborado para a violação dos direitos humanos,
especialmente no que diz respeito à política de drogas, pois as clínicas de reabilitação repetem o
modelo manicomial. Não é possível fazer clínica nos CAPS sem militância política. Não é possível
não militar contra a segregação, contra a violação dos direitos humanos, contra a criminalização da
pobreza e contra as instituições e pensamentos manicomialistas. Se faz necessário criar dispositivos
de acolhimento de crianças, adolescentes e adultos em uso abusivo de drogas, e isso implica o
movimento de ir para a rua. Não se trata exatamente de propor a criação de mais CAPS e mais
clínicas de reabilitação, pois eles precisam ser completamente reestruturados em sua proposta
principalmente no segmento infanto-juvenil e é preciso criar dispositivos de abordagem,
acolhimento e intervenção na rua.
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PROFISSIONAIS FRENTE A SITUAÇÕES DE TORTURA
O Brasil passou por mais de 300 anos de escrevidão, isto fica marcado em nossa
subjetividade, nas formas de perceber determinados segmentos subalternizados. A tortura sempre
existiu no Brasil, desde a sua descoberta: contra os índios, os negros, os ditos diferentes e os ditos
marginais. Na sociedade capitalista, ela é utilizada, e muito nos chamados “porões” diferentemente
do que acontecia na Idade Média, durante a Inquisição, época em que a tortura era pública. Com o
advento do capitalismo – Michel Foucault nos mostra isso muito bem - a tortura passa a ser somente
para alguns segmentos, escondida. Segundo Foucault, na chamada sociedade disciplinar, que advém
do capitalismo industrial, aparece um dispositivo que está presente em todos nós, no nosso
cotidiano e não percebemos, o que ele chamou de dispositivo da periculosidade. Ou seja, tão
importante quanto aquilo que o sujeito fez é aquilo que ele poderá vir a fazer. Dependendo da
“essência” da “alma” que lhe foi dada historicamente, na condição de negro, morador de periferia,
semi-alfabetizado, poderá vir a se tornar perigoso.
A prisão, a tortura, o assassinato e o desaparecimento forçado são formas de violência, de
humilhação e de barbárie que permanecem urdidas nas tramas da história da humanidade. A cultura,
a tecnologia, o avanço da ciência não deram e não darão conta do conflito sem medida entre os
homens. O mal-estar continua vigente, apesar da civilização.
A prática da tortura é secular; a história da escravidão e maus tratos contra prisioneiros caídos em
batalhas em todos os países do mundo a comprova. O açoite, a excisão de órgãos, os castigos cruéis
e desumanos revelam a assimetria entre o torturador e o torturado. Os motivos para a tortura podem
variar: religioso, racial, sexual, político, de classe, ou todos ao mesmo tempo. Apenas como
lembrança, como à escravidão, sobretudo dos negros no caso do nosso país; à Inquisição sustentada
pela Igreja Católica contra herejes, dissidentes e mulheres; aos campos de extermínio nazistas
construídos para eliminar judeus, também homossexuais, opositores e comunistas; e às
contemporâneas prisões de Kandahar e Bagram- no Afeganistão; Abu-Ghraib no Iraque e a
norte-americana de Guantânamo- todas expostas pelas mídias impressas, eletrônicas e televisivas,
acessáveis digitalmente através dos nossos próprios computadores. A imprensa divulga diariamente
a prática de maus tratos contra presos, adultos e menores, em cadeias públicas e casas abrigo, em
centros de recuperação de menores, de isolamento, em hospitais, principalmente psiquiátricos, além
de práticas isoladas, à luz do dia denunciadas pela população. Os documentários cinematográficos
apresentam depoimentos destas vítimas, apresentam filmes em circuito comercial com base em
fatos ocorridos e programas de TV são fartos em documentação. Enfim, todos sabemos cada dia a
mais da existência da tortura.
No artigo “As sequelas psicológicas da tortura”, segundo Vinar, a tortura é: "uma
experiência extrema que produz sempre marcas e transforma o destino (...) o torturado se apresenta
como a testemunha encarnada de uma ferida que concerne à humanidade inteira. Seu corpo ferido
se oferece como símbolo, como bandeira onde se inscreve o que nele foi atingido e que Robert
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Antelme chama de "o sentimento de pertença à espécie humana". Pode-se relacionar o tema
anterior, o qual se refere à luta antimanicomial, observando então, dois lados: o torturador e o
torturado. No livro “Holocausto Brasileiro”, de Daniela Arbex, é apresentado relatos de pacientes
que sobreviveram ao Hostpital “Colônia” de Barbacena, como era chamado. Alguns deles
precisavam auxiliar os médicos e enfermeiros nos tratamentos de choque terapia e Lobotomia,
procedimentos realizados sem nenhum cuidado, causando traumas psíquicos e físicos.
O quanto estes pacientes obrigados a auxiliar episódios de tortura como estes foram
afetados? O que estes procedimentos fizeram com as vítimas?
A tortura ainda é presente em penitenciárias, delegacias, hospitais, dentre outros. Cecília
Coimbra - psicóloga, historiadora, fundadora do Grupo Tortura Nunca Mais/RJ, afirma: “Quando
falamos da questão da impunidade, não estamos, em hipótese alguma, querendo penas duras e
cruéis. O que estamos querendo é que as pessoas se responsabilizem pelos crimes cometidos, em
especial, os que são agentes do Estado.”
A psicologia, portanto, sempre estará em frente a situações como estas, seja tortura física
e/ou psíquica, e tem um papel imprescindível na erradicação de práticas cruéis e na garantia dos
direitos humanos.

Referências bibliográficas

Amancio, V. R., & Elia, L. (2017). Panorama histórico-político da luta antimanicomial no Brasil: as
instabilidades do momento atual. Cadernos Brasileiros de Saúde Mental/Brazilian Journal of
Mental Health, 9(24), 22-49.

Martín, A. G. (2005). As seqüelas psicológicas da tortura. Psicologia: ciência e profissão, 25(3),


434-449.

Conselho Regional de Psicologia. (2016). Dia Nacional da Luta Antimanicomial. Recuperado de:
Notícia Dia Nacional da Luta Antimanicomial (crpsp.org)

Conselho Federal de Psicologia. (2012). O Ano da Luta Antimanicomial. Recuperado de: Histórico
- CFP | CFP

Conselho Regional de Psicologia Ed.2 (2007). Profissionais Frente a Situações de Tortura.


Recuperado de: Cadernos Temáticos do CRP/SP

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