2019-2020-1.º Teste Do 11.º ano-OUT2019
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Começando, pois, pelos vossos louvores, irmãos peixes, bem vos pudera
eu dizer, que entre todas as criaturas viventes, e sensitivas, vós fostes as
primeiras, que Deus criou. A vós criou primeiro que as aves do ar, a vós
primeiro que aos animais da terra, e a vós primeiro que ao mesmo homem.
5 [...]
Vindo pois, irmãos, às vossas virtudes, que são as que só podem dar o
verdadeiro louvor; a primeira, que se me oferece aos olhos hoje, é aquela
obediência, com que chamados acudistes todos pela honra de vosso Criador, e
Senhor, e aquela ordem, quietação, e atenção, com que ouvistes a palavra de
10 Deus da boca de Seu servo António. Oh grande louvor verdadeiramente para
os peixes, e grande afronta e confusão para os homens! Os homens
perseguindo a António, querendo-o lançar da terra, e ainda do mundo, se
pudessem, porque lhes repreendia seus vícios, porque lhes não queria falar à
vontade, e condescender com seus erros, e no mesmo tempo os peixes em
15 inumerável concurso acudindo à sua voz, atentos e suspensos às suas palavras,
escutando com silêncio, e com sinais de admiração, e assenso (como se
tiveram entendimento) o que não entendiam. Quem olhasse neste passo para
o mar, e para a terra, e visse na terra os homens tao furiosos e obstinados, e
no mar os peixes tão quietos, e tão devotos, que havia de dizer? Poderia
20 cuidar que os peixes irracionais se tinham convertido em homens, e os homens
não em peixes, mas em feras. Aos homens deu Deus uso de razão, e não aos
peixes; mas neste caso os homens tinham a razão sem o uso, e os peixes o uso
sem a razão.
Padre António Vieira, “Sermão de Santo António”, in Obra completa (Dir. José Eduardo Franco e Pedro Calafate),
tomo II, vol. X, Lisboa, Círculo de Leitores, 2014, pp. 140-141.
PARTE B
96 98
Nas naus estar se deixa1, vagaroso, Este rende munidas fortalezas;
Até ver o que o tempo lhe descobre; Faz trédoros7 e falsos os amigos;
Que não se fia já do cobiçoso Este a mais nobres faz fazer vilezas,
Regedor, corrompido e pouco nobre. E entrega Capitães aos inimigos;
Veja agora o juízo curioso Este corrompe virginais purezas,
Quanto no rico, assi como no pobre, Sem temer de honra ou fama alguns
Pode o vil interesse e sede imiga perigos;
Do dinheiro, que a tudo nos obriga. Este deprava às vezes as ciências,
Os juízos cegando e as consciências.
97
A Polidoro2 mata o Rei Treício,
Só por ficar senhor do grão tesouro;
Entra, pelo fortíssimo edifício,
Com a filha3 de Acriso4 a chuva d'ouro;
Pode tanto em Tarpeia5 avaro vício
Que, a troco do metal luzente e louro,
Entrega aos inimigos a alta torre,
Do qual quási6 afogada em pago morre. Luís Vaz de Camões, Os Lusíadas
(prefácio de Álvaro Júlio da Costa Pimpão),
Lisboa, Ministério dos Negócios Estrangeiros – Instituto
Camões, 2000, canto VIII.
Notas:
1
Referência a Vasco da Gama │ 2 Filho de Príamo, rei de Troia. Quando esta cidade estava prestes a cair
em poder grego, Polidoro é enviado, com ouro, ao Rei de Trácia. Este apodera-se do metal e mata
Polidoro. │ 3 Dánae. │ 4Soberano de Argos (Grécia) que tenta anular uma profecia (que um neto o
mataria), prendendo a filha numa torre; todavia, Júpiter introduz-se na torre (sob a forma de chuva de
ouro) e toma Dánae, mãe de Perseu, que veio a assassinar Acrísio. │ 5 Rapariga romana que, na
esperança de obter anéis de ouro dos Sabinos (que sitiaram Roma), lhes abre as portas da cidade;
contudo, os inimigos não a poupam, esmagando-a sob as joias e os escudos. │ 6 Como que │ 7 Traidores.
GRUPO II
Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.
Escreva, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a
opção escolhida, depois da leitura atenta do texto.
5. Nas orações «que a cada dia somos convidados a construir» (l. 8) e «que
a nossa língua nunca foi tão bela» (l. 13), as palavras sublinhadas são
(A) um pronome, no primeiro caso, e uma conjunção, no segundo caso.
(B) uma conjunção, no primeiro caso, e um pronome, no segundo caso.
(C) pronomes em ambos os casos.
(D) conjunções em ambos os casos.
GRUPO III
Escreva um texto expositivo, entre 150 e 200 palavras, sobre a sátira na
literatura portuguesa, fazendo apelo à sua experiência enquanto leitor.
Apresente um texto devidamente estruturado (introdução,
desenvolvimento e conclusão), com uma organização cronológica da exposição
e respetiva ilustração das obras e dos autores lidos. Apresente uma seleção
vocabular adequada, respeite os mecanismos de coerência e coesão.
Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco,
mesmo quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma
única palavra, independentemente do número de algarismos que o constituam (ex.: /2019/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – entre duzentas e trezentas e cinquenta palavras –, há
que atender ao seguinte:
– um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto
produzido;
– um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.
Grup Item
o Cotação (em pontos)
1. 2. 3. 4. 5.
I
20 20 20 20 20 100
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
II
8 8 8 8 8 8 8 56