1) O livro discute como a psicanálise pode explicar o impacto da música na vida emocional dos indivíduos e como as preferências musicais revelam aspectos da personalidade.
2) A música exerce papel importante nas relações sociais e na formação de grupos, mas a indústria cultural por vezes reduz a música a mero entretenimento.
3) As preferências musicais refletem experiências psíquicas armazenadas na memória inconsciente de cada pessoa.
1) O livro discute como a psicanálise pode explicar o impacto da música na vida emocional dos indivíduos e como as preferências musicais revelam aspectos da personalidade.
2) A música exerce papel importante nas relações sociais e na formação de grupos, mas a indústria cultural por vezes reduz a música a mero entretenimento.
3) As preferências musicais refletem experiências psíquicas armazenadas na memória inconsciente de cada pessoa.
1) O livro discute como a psicanálise pode explicar o impacto da música na vida emocional dos indivíduos e como as preferências musicais revelam aspectos da personalidade.
2) A música exerce papel importante nas relações sociais e na formação de grupos, mas a indústria cultural por vezes reduz a música a mero entretenimento.
3) As preferências musicais refletem experiências psíquicas armazenadas na memória inconsciente de cada pessoa.
1) O livro discute como a psicanálise pode explicar o impacto da música na vida emocional dos indivíduos e como as preferências musicais revelam aspectos da personalidade.
2) A música exerce papel importante nas relações sociais e na formação de grupos, mas a indústria cultural por vezes reduz a música a mero entretenimento.
3) As preferências musicais refletem experiências psíquicas armazenadas na memória inconsciente de cada pessoa.
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RESENHA
Por Kátia Gally Calabrez
LUIZ Leonardo; Música no Divã – Sonoridades Psicanalistas. Rio de Janeiro/RJ:
Casa do Psicólogo, 2013. ISBN 978-85-8040-219-3. O autor LUIZ, é psicólogo, psicanalista, docente universitário desde 2001, músico, consultor de recursos humanos, mestre e doutor em psicologia clínica pela PUC/SP. É docente convidado do CEP (Centro de Estudos Psicanalíticos de São Paulo); ex- coordenador do curso de psicologia na Universidade Paulista, professor de MBA (Escola Paulista de Negócios) e pós-graduação da Universidade Mogi das Cruzes. O livro fala sobre o que a psicanálise pode dizer sobre a música, explora o impacto das sonoridades sobre a vida emocional do sujeito. A história da música acompanha a própria história do desenvolvimento do intelecto e da cultura humana. Suas múltiplas dimensões e funções caracterizando-a com elevado grau de importância em épocas e culturas distintas. Nesse sentido, a música tornou-se um elemento cultural que atravessa a história, desembocando na esfera particular do seu uso. A música está tão presente que, quando nos damos conta, estamos cantando. É possível definir uma fronteira entre a música de entretenimento e a música artística. A música de entretenimento é aquela cuja função é basicamente passageira; pode distrair e proporcionar prazer num determinado momento; uma vez utilizada, cumpre sua função e é logo esquecida, dando lugar a outra. Já a música artística transcende à época, continua na memória como algo dotado de sentido, é carregada de valor poético e musical, e continua a interessar como forma de interpretação da realidade. Vale, então, repetir que a afetação musical incutida na vida psíquica de cada sujeito revela particularidades dele, ou seja, a relação afetiva dele com música propriamente, ou aspectos musicais (timbre, melodia, instrumento, gênero, intérpretes), é eficaz para a organização da economia psíquica, independentemente se a música serve para entreter ou satisfazer um gosto estético. O que o som produz e que efeito tem sobre nossos pacientes é outra questão importante. Quando o assunto é música, a memória é, inevitavelmente, evocada, ou mais particularmente, as afetações psíquicas se manifestam. Certamente, há proximidades entre a escuta analítica e a escuta musical. O analista, é fisgado por uma experiencia musical por meio da escuta na dimensão da experiencia psíquica. Novos afetos são experimentados pelo sujeito quando este entra em contato com a música. A música exerce um papel importante nas relações interpessoais em vários níveis; possui também a função de estabelecer, estreitar e manter laços sociais, formando grupos. A indústria cultural transforma tudo em negócios e exerce um papel específico, qual seja o de portadora da ideologia dominante. A indústria cultural, que tem como guia a racionalidade técnica esclarecida, prepara as mentes para um esquematismo, que aparece para seus usuários como um conselho de quem entende. O consumidor é tão bem manipulado que não tem o trabalho de pensar, é só escolher; a lógica do clichê. Tem-se afirmado que, à medida que a assistência aumenta, o nível do gosto estético decai. É a deterioração do gosto estético e dos padrões culturais. Houve com o advento da massificação da cultura, um maior acesso à arte pela população, mas não acompanhado do refinamento do gosto pela arte, refinamento cultural. Quem é o sujeito psicologicamente falando, que consegue se desprender dessa massificação e descobre ou assume mais rapidamente a personalidade do seu gosto musical? A análise do eu é peça fundamental nessa organização que se dá quando o estar com o outro destitui o sujeito de seu lugar singularizado. Cada sujeito vai preferir, musicalmente, expressões que tenham um mínimo de afinidade com seu referencial (consciente ou inconscientemente). Identificamo-nos com ideias, assuntos e afirmações, por elas batem com algo que temos em nós. Esse algo é a memória dos sentidos que foram se constituindo em nossa relação com a linguagem, com a arte ou com a música. Essa perspectiva transportada à questão do gosto musical nos leva a vários tipos de manipulação/condução/sensibilização que o receptor receberá ao se deparar com determinada música – manipulação do compositor e de sua mensagem, da indústria fonográfica que produz artistas, ídolos e gêneros atrativos. Os autores, artistas e músicos, tem invariavelmente, a intenção de dar um recado, de levar o receptor a um lugar, a dada reflexão. Nesse processo, há intenção da manipulação, seja ela encomendada por determinada indústria cultural ou a manipulação do próprio autor. A obra em si, visa, de alguma forma, manipular (influenciar, tocar, sensibilizar, como queira) o receptor- expectador. E essa manipulação, que vem do autor/compositor da música, se modifica no intérprete e chega ao receptor. Contudo, tal manipulação depende do receptor, e de suas referências para acontecer. Toda obra é inacabada, até passar pelo filtro do receptor. A ideia de apropriação da obra/musica pelo receptor confere a ele um papel de agente do processo, com capacidade de diálogo, negociação e formulação de sentido. A presença do receptor, molda o que dizemos, cantamos e tocamos. As diferenças entre os estilos, ou até a maneira como uma canção é interpretada, nos causam distintas sensações de um instante para o outro ou de uma música (estilo) para outro. Sentimo-nos afetados pela música. Pode-se dizer que a música lida especialmente com a emoção e responde a diferentes necessidades dos sujeitos. Não se pode esperar compreender a influência de nenhuma música sem que se compreenda a estrutura total de caráter de um sujeito. A música é uma arte, entre outras, de expressão, dos sentimentos, de articulações, do discurso, de produção de sentido com possibilidades de interpretação das mais plurais. Existe um fenômeno de escolha musical que passa por referencias pessoais (filtros adquiridos durante a vida), pela cultura de massa, influencias de época (como acontece no caso da moda) e ainda por fatores regionais, sociais e econômicos. Relação entre personalidade e gostos musicais tem sido alvo de investigações cientificas e acadêmicas, não restritas à psicanálise. Estudos da neurociência e da psicologia comportamental revelam que as preferências musicais definem os traços de personalidade de cada um. A música que ouvimos é um reflexo de nós próprios, um jogo de espelhos. A música seria capaz de caracterizar (em parte) a constituição de cada sujeito. A experiência musical não é verbal, tampouco discursiva e, no entanto, ela acaba produzindo esse tipo de discurso a posteriori. Cria experiências que tanto podem passar rapidamente, como podem ser conservadas, criando marcas, também análogas, como experiências de artes literárias e plásticas. O pensamento musical poderia seguir a mesma linha que usamos para criar uma imagem de nós mesmo, do nosso mundo, de experiências e das relações entre ambos. Pela leitura psicanalítica, a música constitui-se, além de expressão artística, uma modalidade de linguagem que pode trazer algo do inconsciente humano. A música trás sempre uma lacuna que é preenchida pelo imaginário do ouvinte. A ação do artista na música é o processo inicial, que irá se complementar com os processos secundários – da percepção do público. O conjunto completo se dá quando da união da criatividade do artista e do público. Mesmo quando a música contém uma letra e é cantada, a interpretação do sentimento que ela transmite continua variável. Cada sujeito poderá escutar/entender de maneira muito singular o enredo poético. Isso nos remete à ligação da música à subjetividade. A música, em certos casos, pode fazer algum sentido para o ouvinte, quando há uma analogia entre determinados sentimentos e as impressões proporcionadas ao ouvi- la. A música é anterior à palavra e exprime uma linguagem universal. Trata-se da pulsão invocante, a mais próxima da experiencia do inconsciente, a qual permite emergir do sujeito do inconsciente e também causa que seja dito de um segundo sim, interior, em resposta ao chamado do outro. Poder c atar implica uma relação com a voz que é de outra ordem que não a da voz falada. O canto constitui uma manipulação psicológica do órgão doente e que é dessa manipulação que a cura é esperada. A música não tem palavras; é capaz de se libertar totalmente da linguagem: os sons propriamente musicais não seriam os utilizados pela língua, já o sentido mítico exigiria sempre a mediação de uma língua particular para se expressar. A música toca o não sentido de nossas perguntas. O “ouvir da música” é nossa procura de uma resposta circunscrita a algo pelo qual não é possível nem perguntarmos. Toda música alcança o território pré-verbal do ouvinte, compositor e executante, envolvendo sua vida emocional de algum modo em algum grau. A música atrai o sentido da forma à medida que esse sentido se tornou intrinsecamente ligado às tendências afetivas e perceptivas. O ritmo entra virtualmente em toda a música de uma maneira ou de outra. O prazer que sentimos com a música deriva em boa parte do seu poder de despertar em nós aquele mundo de experiencias arcaicas, cuja união persiste em nosso inconsciente. A música evoca, num nível crucial, uma corrente de afetos pré-verbais, inteiramente inconscientes, ligados aos derivativos dos impulsos e às internalizações fundamentais. O ritmo que acompanha a composição melódica corresponde ao aspecto da união, mesmice das rimas. A origem psicanalítica da rima está ligada ao prazer afetivo ou gratificação que obtemos a partir dela. A rima nos gratifica ou nos reassegura no nível mais profundo da resposta (inconsciente) ao atrair nosso prazer pela separação ao mesmo tempo em que atrai nosso prazer pela união simbólica. As músicas das quais gostamos nos representam. A música é a via régia ao mais recôndito de nossas emoções, a música em suas diferentes formas parece se comunicar diretamente com o inconsciente emocional. A música é tão nossa quanto de toda a humanidade, nos dissolvemos nela. Aspectos musicais estão relacionados com forças motivadoras associais, irracionais, emocionais ou instintivas. A música serve como uma forma especial de comunicar ao ouvinte as emoções do compositor por meio do interprete, e outro que tem como certa a qualidade da música e se restringe à descrição de gostos e desgostos em reação aos sons. A medida em que a música se desenvolve e se torna parte integrante de uma cultura, a importância desse ouvinte não criativo aumenta. Esse desenvolvimento por sua vez influencia a composição musical, pois o artista criativo, ainda que esteja seguindo necessidades internas de expressão, sabe que está compondo para uma audiência, por mais que possa negá-lo. Prazer proporcionado pela música ligados à identificação com o compositor. A música como experiencia de grupo implica no alívio desse medo de estar sozinho. O propósito de certas formas musicais parece ser o de abrandar angustias específicas. Desfrute regressivo, desfrute do ritmo, gratificação sublimada, identificação com o interprete ou compositor, são fatores, por si só, ou ainda combinados com outros, que representam um papel importante onde quer que a música seja desfrutada, mas, não explicam qual é o elemento especificamente musical no prazer de ouvir música. A música é inteligível, tem formas e leis que o eu pode aprender e transformar em parte sua organização. A música pura não pode ser traduzida em palavras. A faculdade de desfrutar da música reside na capacidade de defrontar-se com o mundo dos sons sem auxílio de processos de verbalização e sem uma lógica em termos de imagens virtuais. A composição musical repete o trabalho original e sua solução se dá por meio da criação de uma tensão secundária no ouvinte. Na música isso é efetuado pela passagem da consonância para a dissonância e daí volta à consonância. Quando o ouvinte reconhece que as emoções expressas na música são as suas próprias, ele atinge a união com os sons musicais capazes de ampliar sua identidade, englobando todo um universo primitivo e não-verbal de sons organizados. O pré-requisito para desfrutar do prazer de ouvir uma música é a capacidade de regredir ao estágio primitivo do eu, preservando, ao mesmo tempo, as complexas funções do eu necessárias para o reconhecimento e o domínio do influxo de sons organizados. Reconhecendo que a música é uma arte extremamente desenvolvida, implicado a personalidade do músico, seja ele compositor, interprete, ou ouvinte. É preciso observar que a música está predominantemente ligada a uma experiencia catártica, ou então, metapsicologicamente, como experiência transferencial, a uma formação de compromisso ou sublimação. No que se refere ao eu, a atividade musical se oferece como uma agradável forma de controle, como a divertida superação da ameaça de um estado traumático. Música se relaciona com o supereu quando nossa participação é avaliada em relação ao reconhecimento de regras e a obediências a essas regras. Em síntese, os três efeitos apontam para o sentido de que o primeiro a música permite a catarse de impulsos primitivos, sendo assim uma experiencia emocional. Segundo a atividade musical constitui um exercício de controle (substitutivo) em que a música é uma forma de jogo. E, finalmente, a música, como expressão de regras que a pessoa se submete tornando-se uma tarefa a cumprir. Uma especifidade psíquica da música, um agente que compõe a constituição do sujeito que encontra na música elementos capazes de alterar, criar e conduzir ideias. O significado e a função da música podem ser definido, não somente em termos de funções do processo primário e secundário, mas também pelo relacionamento com a profundidade da camada total que é ativada, ou seja, aquilo que parece objetivamente uma mesma peça musical afetará diferentemente pessoas distintas ou afetará de maneiras distintas a mesma pessoa em momentos diferentes. Muito mais que um simples conjunto de sons que se une em uma melodia, a música transmite mensagens, via seu sistema de regras. Sem pausas, suspensões e silêncios, a música seria ruído. A música é uma invenção em constituição. O som é o elemento material da música. A música se faz se desfazendo, de forma a ganhar uma realidade a cada instante, sempre lançada sobre o futuro. A música não repousa apenas no sonoro. A música possui sons e ritmos que efetuam recortes de tempo, inscrevendo recorrências e variações que dão singularidade a cada uma das composições musicais. Ritmo e melodia mesclam-se criando novas matizes a cada encontro, e quando se apresentam simultaneamente na música, uma porta ao outro se entrelaçando, dialogando entre si e conferindo autenticidade à música. A música tem o poder de mesclar a repetição e a diferença, o continuo e o descontinuo. O objeto musical é invisível e impalpável, escapando ao tangível e se identificando com o que é indizível. É objeto, portanto subjetivo porque propõe a harmonia entre o familiar e o estranho, o oculto e o aparente que nela se organizam. Temos linguagens e modos musicais relacionados a culturas e períodos específicos: a música modal, predominantemente ritualística, e a música tonal da civilização ocidental. A natureza psicológica da linguagem musical é extremamente rica. A qualidade de comunicação que a musica promove está ligada ao nosso sistema psicomotor e às emoções. Também por meio das sonoridades musicais é possível comunicar formas emocionais, estados afetivos, capazes de nos levar a associar, evocar e integrar experiencias. Na linguagem musical, em que a relação significado/significante é estrutural, sua construção, sua leitura e sua escuta são também alimentadas por emoções e pulsões que escapam à lógica-formal e, dessa maneira, confirma que apenas a superfície da mete é racional. A linguagem da música é abstrata e de difícil apreensão, expressa a si mesma através do som. O conteúdo da música só pode ser articulado por meio do som. A música relaciona-se a condição humana, porque é escrita e executada por seres humanos que expressam seus pensamentos íntimos, sentimentos, impressões e observações. A música produz reações cuja amplitude parece depender do conteúdo emocional. Deduz-se que a música não evoca emoções apenas de acordo com a história pessoal de cada um, mas que de faro as provoca. A emoção musical é um dialogo, uma comunicação não-verbal. O prazer que ela suscita regula os comportamentos afetivos. O que a linguagem musical pode exprimir é feito unicamente de sentimentos e impressões, desligada da nossa língua verbal. Escapa à composição musical e ultrapassa a intenção do compositor. O que permanece inexprimível para a língua musical absoluta é a descrição extra do objeto do sentimento e da impressão (objeto) que estes atingem com maior nitidez. A música está inserida num contexto social, cultual e ideológico; fundamenta-se em teorias que garantem sua identidade (forma, gênero, estilo). Desse modo, diversas relações sonoras ganham uma lógica intelectual e um significado psicológico, que determinam um efeito direto sobre o ouvinte. Essa experiencia musical é singular para cada ouvinte e deve também sofrer alterações de uma escuta para outra, estilos musicais diversos podem afetar as pessoas de formas distintas, razão do olhar da psicanalise sobre os manejos musicais. Grande parte das pessoas encontra na música uma espécie de organizadora de indizíveis. A música é um modo impar de dizer o que não pode ser falado, de ouvir o inaudível. A música é uma coisa de pele, visceral, toca e atravessa. A experiencia/estrutura musical pode ser pensada na dimensão da experiencia psíquica. Ligados à experiencia intima e singular do inconsciente, a música promove impactos deixando marcas que induzem a diferentes usos psíquicos. A inspiração, criação e escutas musicais envolvem também organização e desorganização.