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Resenha Crítica Feliz Aniversário, Clarisse Lispector

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Resenha Crítica do conto “Feliz Aniversário”, de Clarisse Lispector

Uma reflexão moderna sobre um costume antigo


Publicado em 1960 pela escritora ucraniana pós-modernista
Clarisse Lispector, o livro “Laços de Família” conta com uma série de
contos os quais refletem características evidentes do estilo literário da
autora: um estilo intimista, que apresenta histórias as quais se
assemelham ao cotidiano, e moderno, com presença de ironia, críticas e
exemplificações da própria realidade.
Dentro dessa obra literária, há o conto “Feliz Aniversário”, o qual
possui poucas páginas de duração e é inserido dentro do contexto
brasileiro da época em que foi lançado, mais especificamente o do Rio
de Janeiro, elemento mostrado pela linguagem a qual Lispector utiliza,
com marcas linguísticas referentes à época e recorrências à Guerra Fria,
e pela identificação de personagens através do bairro da capital carioca
onde vivem.
No cenário da década de 60, a história se passa inteiramente
dentro da residência de Zilda, única mulher entre os seis filhos de dona
Anita (a personagem principal), durante o aniversário de 89 anos desta.
Diversos integrantes da família comparecem à festa, aproveitando-se da
boa vontade da dona da casa ao usufruir da comida oferecida sem
oferecer a mínima ajuda para servi-la, sempre tentando explicitar
felicidade em estar naquela situação.
Encontrando-se em uma ocasião em que é praticamente ignorada
mesmo estando no posto de, teoricamente, maior recebimento de
atenção, a aniversariante tem uma epifania quando José, o filho mais
velho depois da morte do primogênito, diz: “Hoje é o dia da mãe!”,
referindo-se a ela como mãe de todos ali. A partir desse fato, ela inicia
uma reflexão a qual a permite perceber o quão está insatisfeita com a
maioria dos presentes, seus descendentes.
Tomando como objeto de análise esse conto, é possível perceber
a imensa crítica feita de maneira implícita e sagaz à enorme importância
dada a aparências dentro de nossa sociedade. Mesmo dentro de um
ambiente familiar, onde, supostamente, deveria haver sentimentos como
amor e companheirismo, são mostrados indivíduos os quais comparecem
a festas de aniversários (considerados oportunidades de celebração da
vida e interação social entre íntimos) apenas para “não deixar de ir”.
Ademais, a ideia do próprio título (“Feliz Aniversário”), mais
especificamente a da palavra “feliz”, é subvertida ao longo do texto,
sendo provocada uma reflexão sobre a forma com que aniversários são
lidados, visto que representam um ano a menos de vida, e não um a
mais. Concomitantemente, está presente a comparação e,
consequentemente, a mostra de similaridades entre a forma de pensar
de dona Anita e de uma de suas noras, a qual está dentro da lista de
pessoas consideradas pela personagem principal como “carne de seu
joelho”, algo irônico.

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