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Cipolatti 2019

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SUPLEMENTO

DO

CÁLCULO AVANÇADO

— Exercı́cios Resolvidos —
Primeira Edição

Rolci Cipolatti

Instituto de Matemática - UFRJ

Rio de Janeiro - RJ - Brasil

2019
Cipolatti, Rolci -
C577c Suplemento de Cálculo Avançado/ Rolci Cipolatti. - 1 ed. 184p.
Rio de Janeiro: UFRJ/IM, 2019.
ISBN: 978-85-87674-32-6

1. Cálculo I. Universidade Federal do Rio de


Janeiro. Instituto de Matemática. II. Tı́tulo

CDD 515
Quero hoje cantar a beleza.
Não a beleza feminina
Da menina que andava na praça.
Não a beleza da rosa
Cheirosa que reguei no jardim.
Nem a beleza emblemática
Da matemática que vejo no livro.
Quero cantar a beleza do azul
Do céu profundo na tarde de hoje.
Azul imponente, que lentamente se fez breu.
Azul dolorido de dor de parto
Que a noite o dia de hoje pariu.
Beleza indescritı́vel!
O dia se foi, a noite surgiu, feliz.
Feliz de quem viu!
Exórdio
O presente texto contém as soluções de todos os exercı́cios da primeira edição do livro
Cálculo Avançado, editado pela Sociedade Brasileira de Matemática. Como vários
desses exercı́cios complementam o conteúdo do livro, recomendamos aos alunos que
tentem resolvê-los e, se necessário, que estudem as soluções apresentadas (se possı́vel,
melhorando-as).

Não posso deixar de agradecer a alunos e colegas pelas correções e observações que
possibilitaram a presente edição. Sendo eles tantos, certamente cometeria a indeli-
cadeza da omissão, caso pretendesse listá-los. Meu muito obrigado a todos. Como
nada substitui o olhar atento de leitores perspicazes para apontar erros — grandes
ou pequenos — que se me passaram invisı́veis, continuarei sempre contando com as
correções e sugestões do leitor, pelo que, desde já, agradeço calorosamente.

Rio de Janeiro, janeiro de 2019.

Rolci Cipolatti
Sumário
Conjuntos e Funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
Métricas e Normas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Abertos, Fechados, Compactos . . . . . . . . . . . . . . 19
Limite e Continuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Funções Diferenciáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
Curvas em Rn . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
Derivadas de Ordem Superior . . . . . . . . . . . . . . . 87
O Teorema da Função Inversa . . . . . . . . . . . . . . . 99
O Teorema da Função Implı́cita . . . . . . . . . . . . . . 105
Sequências de Funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
O Espaço C(K;Rm ) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127
A integral de Riemann em Rn . . . . . . . . . . . . . . . 145
Gauss, Green e Stokes . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167
1
Conjuntos e Funções

Exercı́cio 1.1: Mostre que o cojunto vazio é único.


Solução: Sejam A e B dois conjuntos quaisquer satisfazendo A 6= B. Então uma das
seguintes possibilidades sempre ocorre: existe x0 ∈ A tal que x0 ∈ / B ou existe x0 ∈ B
tal que x0 ∈ / A. No primeiro caso, A não é vazio, pois contém x0 . No segundo caso, B
não é vazio. Portanto, se A 6= B então não podem ser ambos vazios. Logo o conjunto
vazio é único.

Exercı́cio 1.2: Seja Λ = ]0, 1[ e Aλ = [λ − 2, λ + 2], ∀λ ∈ Λ. Determine


[ \
Aλ e Aλ .
λ∈Λ λ∈Λ

Solução: (a) Provemos que


[
Aλ = (−2, 3).
λ
S
Se x ∈ λ Aλ , então x ∈ Aλ0 para algum λ0 ∈ (0, 1). Como −2 < λ0 − 2 ≤ x ≤
λ0 + 2 < 3, temos x ∈ (−2, 3).
S
Reciprocamente, se x ∈ / λ Aλ , então x ∈
/ Aλ , qualquer que seja λ ∈ (0, 1). Logo, ou
x > λ + 2 ou x < λ − 2 qualquer que seja λ ∈ (0, 1). No primeiro caso, necessariamente
temos x ≥ 3. No segundo, x ≤ −2. Portanto, x ∈ / (−2, 3).
(b) Provemos que
\
Aλ = [−1, 2].
λ

Se x ∈ [−1, 2], então, para todo λ ∈ (0, 1) temos λ − 2 < −1 ≤ x ≤ 2 < λ + 2. Logo
x ∈ (λ − 2, λ + 2), ∀λ ∈ (0, 1).
Reciprocamente, se x ∈ / [−1, 2], então x < −1 ou x > 2. No primeiro caso, podemos
escolher λ0 ∈ (0, 1) tal que x < λ0 − 2 < −1 para conluir que x ∈ / [λ0 − 2, λ0 + 2].
No segundo caso, escolhemos λ1 ∈ (0, 1) tal que 2 < T λ1 + 2 < x para concluir que
x∈/ [λ1 − 2, λ1 + 2]. Portanto, se x ∈
/ [−1, 2] então x ∈
/ λ Aλ .
2 Cálculo Avançado

Exercı́cio 1.3: Considere os conjuntos


[ [
A= Aλ e B= Bλ ,
λ∈Λ λ∈Λ

onde Λ = [0, 1[ e

Aλ = (x, y) ∈ R2 ; (x − λ)2 + y 2 ≤ λ2 /2 ,

Bλ = (x, y) ∈ R2 ; (x − λ)2 + y 2 = λ2 /2 .
Mostre que A = B. Faça um esboço gráfico de A.
Solução: Sejam

Aλ = (x, y) ∈ R2 ; (x − λ)2 + y 2 ≤ λ2 /2 ,

Bλ = (x, y) ∈ R2 ; (x − λ)2 + y 2 = λ2 /2 .
Então, para cada λ ∈ [0, 1), Bλ é a fronteira de Aλ . Sejam
[ [
A= Aλ e B = Bλ .
λ λ

Como Bλ ⊂ Aλ para todo λ ∈ [0, 1), temos B ⊂ A. Por outro lado, se (x0 , y0 ) ∈ A,
então (x0 , y0 ) ∈ Aλ0 para algum λ0 ∈ [0, 1).
Se λ0 = 0, então (x0 , y0 ) = (0, 0) ∈ B. Se λ0 > 0 e (x0 − λ0 )2 + y02 = λ20 /2, então
(x0 , y0 ) ∈ B.
Suponhamos a terceira alternativa:
(x0 − λ0 )2 + y02 < λ20 /2. (1.1)

Como Bλ0 é a circunferência de centro em λ0 e raio λ0 / 2, que é tangente às retas
y = x e y = −x, temos necessariamente 0 ≤ |y0 | < x0 .
p
Consideremos t = 2x0 − 2x20 − 2y02 . Então é fácil ver que (x0 − t)2 + y02 = t2 /2, o
que implica que (x0 , y0 ) ∈ Bt desde que provemos que 0 < t < 1.
p √
Mas observe que t = 2x0 − 2x20 − 2y02 > 2x0 − 2x0 > 0. Além disso, decorre de
(1.1) que q q
t = 2x0 − 2x20 − 2y02 < λ0 < 2x0 + 2x20 − 2y02
e concluı́mos, pois λ0 < 1.
Exercı́cio 1.4: Uma função f : A → B é invertı́vel se e somente se é bijetora.
Solução: Se f : A → B é uma função, então por definição, f ⊂ A × B é tal que:
∀x ∈ A, ∃!y ∈ B tal que (x, y) ∈ f.
Se f é invertı́vel, então

f −1 = (y, x) ∈ B × A ; (x, y) ∈ f é função.
Logo, para todo y ∈ B, existe um único x ∈ A tal que (y, x) ∈ f −1 . Isto é, ∀y ∈ B,
∃!x ∈ A tal que (x, y) ∈ f , o que significa dizer que f é bijetora.
Reciprocamente, se f é função bijetora, então para todo y ∈ B, existe um único x ∈ A
tal que (x, y) ∈ f , o que equivale a dizer que ∀y ∈ B, ∃!x ∈ A tal que (y, x) ∈ f −1 e,
portanto, f −1 é função.
Conjuntos e Funções 3

Exercı́cio 1.5: Dados A, B e C conjuntos, {Aα } e {Bβ } duas famı́lias de conjuntos,


mostre que:
[  [  [
a) Aα ∩ Bβ = (Aα ∩ Bβ ).
α β α,β
\  \  \
b) Aα ∪ Bβ = (Aα ∪ Bβ ).
α β α,β
c
c) A \ B = A ∩ B .
d) se A ⊂ B então B c ⊂ Ac .
[ c \ \ c [
c
e) Aα = Aα , e Aα = Acα .
α α α α
f) A ∩ (B \ C) = (A ∩ B) \ (A ∩ C).
g) (A ∩ B) \ C = (A \ C) ∩ (B \ C).
h) Valem as duas últimas identidades acima substituindo-se ∩ por ∪?
i) A × (B ∪ C) = (A × B) ∪ (A × C).
j) A × (B ∩ C) = (A × B) ∩ (A × C).
k) A × (B \ C) = (A × B) \ (A × C).
S S
Solução: (a) Sejam A = α Aα e B = β Bβ .
Se x ∈ A ∩ B então x ∈ A e x ∈ B. Logo existe α0 tal que x ∈ Aα0 e existe β0 tal que
x ∈ Bβ0 . Portanto, x ∈ Aα0 ∩ Bβ0 e consequentemente
[
x∈ (Aα ∩ Bβ ).
α,β

S
Reciprocamente, se x ∈ α,β (Aα ∩ Bβ ), então existe um par (α0 , β0 ) tal que

x ∈ Aα0 ∩ Bβ0 .

Logo x ∈ Aα0 e x ∈ Bβ0 , o que implica x ∈ A e x ∈ B, isto é, x ∈ A ∩ B.


T T
(b) Sejam A = α Aα e B = β Bβ .
Se x ∈ A ∪ B, então x ∈ A ou x ∈ B. No primeiro caso, x ∈ Aα para todo α. Como
Aα ⊂ Aα ∪ Bβ para todo β, temos x ∈ Aα ∪ Bβ para todo (α, β). Logo
\
x∈ (Aα ∪ Bβ ). (1.2)
α,β

Da mesma forma, se x ∈ B, então x ∈ Bβ para todo β. Como Bβ ⊂ Bβ ∪ Aα para


todo α, concluı́mos (1.2).
Reciprocamente, se x ∈ / A ∪ B então x ∈/Aex∈ / B. Logo, existe α0 tal que x ∈
/ Aα0
e existe β0 tal que x ∈
/ Bβ0 . Portanto, x ∈
/ Aα0 ∪ Bβ0 . Como
\
Aα0 ∪ Bβ0 ⊃ (Aα ∪ Bβ ),
α,β
4 Cálculo Avançado

concluı́mos que \
x∈
/ (Aα ∪ Bβ ).
α,β

(c) x ∈ A \ B ⇐⇒ x ∈ A e x ∈ / B ⇐⇒ x ∈ A ∩ B c .
(d) Se x ∈ B c então x ∈ / A, o que equivale a x ∈ Ac .
/ B. Como B ⊃ A, x ∈
S
(e) xT ∈
/ α Aα ⇐⇒ x ∈ / Aα para nenhum α ⇐⇒ x ∈ Acα para todo α ⇐⇒
x ∈ α Acα .
T
Analogamente
S c x ∈/ α Aα ⇐⇒ x ∈ / Aα0 para algum α0 ⇐⇒ x ∈ Acα0 ⇐⇒
x ∈ α Aα .
(f) Pelo item (c) temos
(
A ∩ (B \ C) = A ∩ B ∩ C c
(A ∩ B) \ (A ∩ C) = (A ∩ B) ∩ (A ∩ C)c

Pelos items (c) e (a), temos


 
(A ∩ B) ∩ (Ac ∪ C c ) = (A ∩ B) ∩ Ac ∪ (A ∩ B) ∩ C c .

Como A ∩ B ∩ Ac = ∅, temos a conclusão.


(g) Pelo item (c), temos:

(A ∩ B) \ C = A ∩ B ∩ C c
(A \ C) ∩ (B \ C) = (A ∩ C c ) ∩ (B ∩ C c ) = A ∩ B ∩ C c

(h) Vale uma das identidades, a saber: (A ∪ B) \ C = (A \ C) ∪ (B \ C). De fato, pelo


item (c)

(A ∪ B) \ C = (A ∪ B) ∩ C c = (A ∩ C c ) ∪ (B ∩ C c ) = (A \ C) ∪ (B \ C).

Por outro lado, é fácil verificar que

A ∪ (B \ C) ⊃ (A ∪ B) \ (A ∪ C).

Para verificar que a inclusão contrária não é verdadeira, considere A = {1, 2, 3}, B =
{3, 4, 5} e C = {5}. Então,
(
A ∪ (B \ C) = {1, 2, 3, 4},
(A ∪ B) \ (A ∪ C) = {4}.

(i) (x, y) ∈ A × (B ∪ C) ⇐⇒ x ∈ A e y ∈ B ∪ C
⇐⇒ (x ∈ A e y ∈ B) ou (x ∈ A e y ∈ C)
⇐⇒ (x, y) ∈ A × B ou (x, y) ∈ A × C
⇐⇒ (x, y) ∈ (A × B) ∪ (A × C).
Conjuntos e Funções 5

(j) (x, y) ∈ A × (B ∩ C) ⇐⇒ x ∈ A e y ∈ B ∩ C
⇐⇒ (x ∈ A e y ∈ B) e (x ∈ A e y ∈ C)
⇐⇒ (x, y) ∈ (A × B) ∩ (A × C).

(k) (x, y) ∈ A × (B \ C) ⇐⇒ x ∈ A e y ∈B\C


⇐⇒ x ∈ A e y ∈ B ∩ Cc
⇐⇒ (x, y) ∈ A × B mas (x, y) ∈ / A×C
⇐⇒ (x, y) ∈ (A × B) \ (A × C).

Exercı́cio 1.6: Sejam f : X −→ Y uma função, A ⊂ X, B ⊂ Y , {Aα }α famı́lia de


subconjuntos de X e {Bβ }β famı́lia de subconjuntos de Y . Mostre que:
S  S
a) f −1 Bβ = f −1 (Bβ ).
T  T
−1
b) f Bβ = f −1 (Bβ ).
c
c) f −1 (B c ) = f −1 (B) .
S  S
d) f Aα = f (Aα ).
T  T
e) f Aα ⊂ f (Aα ).
f) Dê um exemplo para o qual não vale a igualdade no item (e).
c
g) Verifique que em geral não há nenhuma relação entre f (Ac ) e f (A) .
 
h) f f −1 (B) ⊂ B e f −1 f (A) ⊃ A, não valendo, em geral, as igualdades nos  dois
−1
casos. Dê condições
 sobre f para que sejam válidas as igualdades f f (B) = B
−1
ef f (A) = A.
S  S
Solução: (a) Se x ∈ f −1 β Bβ , então f (x) ∈ β Bβ . Logo, f (x) ∈ Bβ0 para
S
algum β0 , o que implica x ∈ f −1 (Bβ0 ) ⊂ β f −1 (Bβ ).
S
Reciprocamente, se x ∈ β f −1 (Bβ ), então x ∈ f −1 (Bβ0 ) para algum β0 , o que implica
S S 
f (x) ∈ Bβ0 ⊂ β Bβ . Portanto x ∈ f −1 β Bβ .
T  T
−1
(b) x ∈ f β B β ⇐⇒ f (x) ∈ β Bβ ⇐⇒ f (x) ∈ Bβ para todo β ⇐⇒
−1
T −1
x ∈ f (Bβ ) para todo β ⇐⇒ x ∈ β f (Bβ ).

(c) x ∈ f −1 (B c ) ⇐⇒ f (x) ∈ B c ⇐⇒ f (x) ∈ / B ⇐⇒ x ∈ / f −1 (B) ⇐⇒


x ∈ f −1 (B)c .
S  S
(d) Se y ∈ f α A α , então existe x ∈ α Aα tal que y = f (x). Portanto, existe α0
S
tal que x ∈ Aα0 e consequentemente y ∈ f (Aα0 ) ⊂ α f (Aα ).
S
Reciprocamente, se y ∈ α f (Aα ), então y ∈ f (Aα0 ) para S algum α0 . Isso quer
S dizer
que existe x ∈ Aα0 tal que y = f (x). Como  A α0 ⊂ A
α α , então x ∈ α Aα e
S
y = f (x), o que implica que y ∈ f α Aα .
6 Cálculo Avançado
T  T
(e) Se y ∈ f α A α , então existe x ∈ α Aα tal que y = f (x). Portanto, y = f (x)
com x ∈TAα para todo α. Consequentemente y ∈ f (Aα ) para todo α, o que significa
que y ∈ α f (Aα )
(f) A reciproca não é verdadeira. De fato, considere, por exemplo, A = {0, 1}, B =
{0, −1} e f (x) = x2 . Então f (A) = {0, 1} = f (B). Mas

f (A ∩ B) = {0} =
6 f (A) ∩ f (B) = {0, 1}.

(g) Seja X = (0, +∞) e considere f : X → X dada pelo gráfico da Figura 1.1. Seja
A = [0, 1), de modo que Ac = [1, +∞). Então f (Ac ) = [0, 1) e f (A)c = ∅. Portanto,

f (Ac ) 6= f (A)c .

y 2

0 1 2 3 4
x

Figura 1.1
Considere agora g: X → X dada pelo gráfico da Figura 1.2. Seja A = [0, 1) de modo
que Ac = [1, +∞). Então f (Ac ) = [1, b), para algum b > 0 e f (A)c = [1, +∞).
Portanto,
f (Ac ) 6= f (A)c .

1.2

0.8

0.6

0.4

0.2

0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 1.6 1.8 2 2.2 2.4 2.6 2.8 3
x

Figura 1.2
(h) f : X → Y , A ⊂ X e B ⊂ Y . Vamos provar que

f f −1 (B) ⊂ B. (∗)

f −1 f (A) ⊃ A. (∗∗)
Conjuntos e Funções 7

Se y ∈ f f −1 (B) , então existe x ∈ f −1 (B) tal que f (x) = y. Mas se x ∈ f −1 (B),
então y = f (x) ∈ B e temos (*).
Embora a inclusão em (*) seja verdadeira, a igualdade, em geral, não se verifica. Por
exemplo, considere f (x) = sen x e B = R. Então

f f −1 (B) = [−1, 1] 6= B.

Para provar (**), seja x ∈ A. Então  f (x) ∈ f (A). Assim, se y = f (x), então
{y} ⊂ f (A) e f −1 ({y}) ⊂ f −1 f (A) . Como x ∈ f −1 ({y}), temos a conclusão.
Para provar que a igualdade em (**) não é verdaderia, considere novamente f (x) =
sen x e A = [−π/4, π/4]. Então
 [  (4n − 1)π (4n + 1)π 
−1
f f (A) = , 6= A.
4 4
n∈Z

Por outro lado, se f é sobrejetora, então vale a igualdade em (*). De fato, se y ∈ B e


f é sobre, existe ao menos um x do domı́nio tal que y = f (x). Logo, x ∈ f −1 (B), o
que implica y ∈ f f −1 (B) .
Analogamente,
 se f é injetora, então vale a igualdade em (**). De fato, se x1 ∈
f −1 f (A) , então existe y1 ∈ f (A) tal que y1 = f (x1 ). Mas y1 ∈ f (A) significa que
existe x2 ∈ A tal que y1 = f (x2 ). Como estamos supondo f injetora, temos x2 = x1 .
Logo x1 ∈ A.

Exercı́cio 1.7: Seja A = {0, 1, 2, . . . , 9}. Considere a função Φ assim definida


X∞
an
Φ : AN → [0, 1], Φ(a1 , a2 , a3 , . . .): = n
.
n=1
10

Mostre que Φ não é injetiva e que se Φ(a) = Φ(b) para a 6= b, então Φ(a) ∈ Q ∩ [0, 1].
Solução: Observe que Φ(0, 0, . . .) = 0 e Φ(9, 9, . . .) = 1. É claro que Φ é sobrejetiva,
mas não é injetiva, pois
9 9 1
Φ(0, 9, 9, 9, . . .) = 2 + 3 +··· = = Φ(1, 0, 0, 0, . . .).
10 10 10
Sejam a = (a1 , a2 , . . .) e b = (b1 , b2 , . . .) duas sequências de AN tais que
X∞ X∞
an bn
n = n.
n=1
10 n=1
10

Seja n0 menor número natural para o qual an 6= bn , isto é,

n0 = min{n ∈ N ; an 6= bn }.

Então a1 = b1 , a2 = b2 , . . . , an0 −1 = bn0 −1 e an0 6= bn0 e temos



X ∞
X
an bn
n
= .
n=n
10 n=n
10n
0 0
8 Cálculo Avançado

Podemos supor sem perda de generalidade que an0 > bn0 , de modo que

X ∞
X
an 0 +k
bn 0 +k
an0 + k
= bn0 +
k=1
10 k=1
10k

Como an ≥ 0 para todo n, concluı́mos que



X bn 0 +k
≥ an0 − bn0 ≥ 1. (1)
k=1
10k

Por outro lado, como bn ≤ 9 para todo n, temos



X X∞
bn 0 +k
9
≤ = 1. (2)
k=1
10k k=1
10k

Assim, segue de (1) e (2),



X bn 0 +k
=1 ⇒ bn0 +1 = bn0 +2 = · · · = 9
k=1
10k

e, portanto, b = (b1 , b2 , . . . , bn0 , 9, 9, 9, . . .) e ϕ(b) é um número racional.


Observação: Como estamos supondo an0 > bn0 e Φ(a) = Φ(b), então 0 ≤ bn0 ≤ 8 e
an0 = bn0 + 1, de modo que

b = (b1 , b2 , . . . , bn0 , 9, 9, 9, . . .),


a = (b1 , b2 , . . . , bn0 + 1, 0, 0, 0, . . .).
2
Métricas e Normas

Exercı́cio 2.1: Seja x = (x1 , · · · , xn ) ∈ Rn . Mostre que cada uma das expressões
abaixo define uma norma em Rn .

n
X
kxk1 = |xi |, kxk∞ = max{|x1 |, · · · , |xn |}.
i=1

Solução: (a) Para x ∈ Rn , definimos kxk1 = |x1 | + |x2 | + · · · + |xn |.


É claro que kxk1 ≥ 0 e que kxk1 = 0 se e somente se x = 0. Além disso,

kλxk1 = |λx1 | + |λx2 | + · · · + |λxn | = |λ| |x1 | + |x2 | + · · · + |xn | = |λ|kxk1 .

Lembrando que |a + b| ≤ |a| + |b| para todo a, b ∈ R, obtemos

n
X n
X 
kx + yk1 = |xj + yj | ≤ |xj | + |yj | = kxk1 + kyk1 .
j=1 j=1


(b) Para x ∈ Rn , definimos kxk∞ = max |x1 |, . . . , |xn | .
É claro que kxk∞ ≥ 0 e que kxk∞ = 0 se e somente se x = 0. Além disso,
 
kλxk∞ = max |λx1 |, . . . , |λxn | = |λ| max |x1 |, . . . , |xn | = |λ|kxk∞ .

kx + yk∞ = max{|x1 + y1 |, . . . , |xn + yn |}


≤ max{|x1 | + |y1 |, . . . , |xn | + |yn |}
≤ max{|x1 |, . . . , |xn |} + max{|y1 |, . . . , |yn |}
= kxk∞ + kyk∞
10 Cálculo Avançado

Exercı́cio 2.2: Faça os detalhes da prova do Corolário 2.2 (pag. 16 do Cálculo


Avançado).
Solução: Os detalhes omitidos na prova do Corolário 2.2 se referem à minimização
da função
λp−1 1
ϕ(λ) = kxkpp + kykqq , λ > 0 (p > 1). (2.1)
p qλ
É claro que
lim ϕ(λ) = lim ϕ(λ) = +∞.
λ→0+ λ→+∞

Como ϕ é função contı́nua e positiva, existe um λ0 > 0 ponto de mı́nimo de ϕ no


intervalo (0, +∞). Como

p − 1 p−2 1
ϕ′ (λ) = λ kxkpp − 2 kykqq ,
p qλ

temos ϕ′ (λ) = 0 se e somente se

p kykqq
λp = .
q(p − 1) kxkpp

Observando que 1/p + 1/q = 1, verificamos facilmente que p/q(p − 1) = 1. Portanto,


q/p
kykq
λ0 = (2.2)
kxkp

é o único ponto de mı́nimo de ϕ no intervalo (0, +∞). Substituindo λ0 dado em (2.2)


em (2.1), obtemos
ϕ(λ0 ) = kxkp kykq .
Como |hx, yi| ≤ ϕ(λ0 ), conclui-se a prova.

Exercı́cio 2.3: Seja x ∈ Rn . Mostre que lim kxkp = kxk∞ .


p→∞

Solução: É claro que kxkpp = |x1 | + · · · |xn |p ≤ nkxkp∞ . Portanto


p

kxkp ≤ n1/p kxk∞ . (2.3)

Por outro lado, kxk∞ = |xi0 | para algum i0 ∈ {1, 2, . . . , n}, o que implica

kxkp∞ ≤ |x1 |p + · · · + |xn |p = kxkpp . (2.4)

De (2.3) e (2.4) obtemos


kxk∞ ≤ kxkp ≤ n1/p kxk∞ . (2.5)
Como
lim n1/p = 1,
p→+∞

a conclusão segue do Teorema do Sanduı́che.


Métricas e Normas 11

Exercı́cio 2.4: Sejam k kα , k kβ e k kγ normas num espaço vetorial V . Se k kα


e k kβ são equivalentes e k kβ e k kγ são equivalentes, mostre que k kα e k kγ são
equivalentes.
Solução: Por hipótese temos

m1 kxkα ≤ kxkβ ≤ M1 kxkα , ∀x ∈ V ;


m2 kxkβ ≤ kxkγ ≤ M2 kxkβ , ∀x ∈ V.

Portanto,
m1 m2 kxkα ≤ kxkγ ≤ M2 M1 kxkα , ∀x ∈ V.

Exercı́cio 2.5: Sejam p1 , p2 ∈ [1, ∞]. Mostre que as normas k kp1 e k kp2 de
Rn são equivalentes.
Solução: Vimos no Exercı́cio 2.3 que, qualquer que seja p ∈ [1, +∞), as normas k kp
e k k∞ são equivalentes (veja (2.5)). Portanto,

k kp1 ∼ k k∞ e k k∞ ∼ k kp2 .

Pelo Exercı́cio 2.4 concluı́mos que

k kp1 ∼ k kp2 .

Exercı́cio 2.6: Demonstre o Teorema 2.2 (pag. 19 do Cálculo Avançado).


Solução: Seja T : V → W isomorfismo (linear e bijetora). Seja k kW uma norma de
W e definimos kvkV = kT (v)kW para todo v ∈ V . Mostremos que k kV é uma norma
em V . Obviamente kvkV ≥ 0. Além disso, kvkV = 0 se e somete se T (v) = 0, isto
é, v ∈ Ker(T ). Como T é invertı́vel, Ker(T ) = {0}. Logo, kvkV = 0 se e somente se
v = 0. Além disso,

kλvkV = kT (λv)kW = kλT (v)kW = |λ|kvkV .

A desigualdade triangular segue por argumento análogo:

ku + vkV = kT (u + v)kW = kT (u) + T (v)kW ≤ kukV + kvkV .

Sejam k kα e k kβ duas normas equivalentes de W . Então existem m, M > 0 tais que

mkwkα ≤ kwkβ ≤ M kwkα , ∀w ∈ W.

Definimos kvka = kT (v)kα e kvkb = kT (v)kβ . Então

kvkb = kT (v)kβ ≥ mkT (v)kα = mkvka ,


kvkb = kT (v)kβ ≤ M kT (v)kα = M kvka .

Portanto, mkvka ≤ kvkb ≤ M kvkb e temos a conclusão.


12 Cálculo Avançado

Exercı́cio 2.7: Mostre que as normas definidas em C [0, 1]; R por
Z 1 
kf k1 = |f (x)| dx, kf k∞ = max |f (x)| ; x ∈ [0, 1]
0

não são equivalentes.



Solução: Seja f ∈ C [0, 1]; R . Como toda função contı́nua é integrável num intervalo
limitado e atinge o valor máximo num intervalo limitado e fechado, as normas k k1 e
k k∞ estão bem definidas.
É claro que |f (x)| ≤ kf k∞ para todo x ∈ [0, 1]. Portanto,
Z 1
kf k1 = |f (x)| dx ≤ kf k∞ .
0

Se as normas fossem equivalentes, existiria M > 0 tal que



kf k∞ ≤ M kf k1 , ∀f ∈ C [0, 1]; R . (2.6)

Consideremos fk (x) = xk , k ∈ N. É fácil ver que kfk k∞ = 1 e kfk k1 = 1/(k + 1) para


todo k. Portanto a desigualdade em (2.6) daria
M
1≤ , ∀k ∈ N,
k+1
o que é impossı́vel. Portanto, não existe tal M > 0 e consequentemente, as normas
não são equivalentes.

Exercı́cio 2.8:
a) Seja A matriz n × n positiva-definida (isto é, hAx : xi > 0, ∀x ∈ Rn , x 6= 0) e
n
simétrica (isto é, hAx : yi = hx : Ayi, ∀x,
py ∈ R ), onde h:i denota onproduto
n
escalar usual de R . Mostre que kxkA = hAx : xi é uma norma em R .
b) Seja B matriz p n × n positiva-definida (nãon necessariamente simétrica). Mostre
que kxkB = hBx : xi é uma norma em R .
c) Sejam p A e B matrizes simétricas e positivas tais que AB = BA. Mostre que
kxk = hAx : Bxi é uma norma em Rn .
Solução: (a) Temos, por hipótese, A simétrica e hAx : xi > 0 para todo x ∈ Rn ,
x 6= 0. Portanto, kxkA > 0 para todo x 6= 0 e, obviamente, k0kA = 0. Além disso,
kλxk2A = hλAx : λxi = λ2 hAx : xi2 , o que implica

kλxkA = |λ|kxkA .

Para verificar a desigualdade triangular, observe que |hAx : yi| ≤ kxkA kykA (desigual-
dade de Cauchy-Schwarz). De fato,

0 ≤ kx + τ yk2A = kxk2A + 2τ hAx : yi + τ 2 kyk2A , ∀τ ∈ R,

o que implica que o discriminante do trinômio do segundo grau

τ 7→ τ 2 kyk2A + 2τ hAx : yi + kxk2A


Métricas e Normas 13

é negativo ou nulo, isto é,

4hAx : yi2 − 4kyk2A kxk2A ≤ 0. (2.7)

A desigualdade de Cauchy-Schwarz se obtém após extrair a raı́z em (2.7).


Assim,
kx + yk2A = kxk2A + 2hAx : yi + kyk2A
≤ kxk2A + 2kxkA kykA + kyk2A
2
≤ (kxkA + kykA )
e temos a conclusão.
Observação (para o estudante menos atento): a aplicação (x, y) 7→ hAx : yi define um
produto interno em Rn e o argumento acima é o usual na demonstração de que todo
produto interno gera uma norma.
(b) Temos, por hipótese, hBx : xi > 0 para todo x ∈ Rn , x 6= 0. Considere a matriz
simétrica
1
A = (B + B T )
2
Afirmativa: hBx : xi = hAx : xi para todo x ∈ Rn .
Observe que se for verdadeira a afirmativa, a prova de que k kB é uma norma se reduz
ao caso anterior. Para provar a afirmativa, sejam bij , i, j = 1, . . . , N , os coeficientes
da matriz B, isto é,
 
b11 b12 · · · b1n
 b21 b22 · · · B2n 
B=  ... .. .. .. 
. . . 
bn1 bn2 ··· bnn
Os coeficientes da matriz A são da forma

bii se i = j,
aij =
(bij + bji )/2 senão.

Então
X X X bij + bji
hBx : xi = bij xj xi = bii x2i + xi xj = hAx : xi.
i,j i
2
i6=j

Observação (ao estudante menos atento): Para que a afirmativa acima não pareça à
primeira vista mais artificiosa do que realmente é, considere o seguinte exemplo em
R2 :  
6 3
B=
1 5
A forma quadrática associada a B é hBx : xi = 6x21 + 4x1 x2 + 5x22 , que podemos
escrever na forma
  
6 2 x1 1
(x1 , x2 ) · = h (B + B T )x : xi.
2 5 x2 2
14 Cálculo Avançado

(c) É claro que kxk2 = hAx : Bxi = hB T Ax : xi = hABx : xi.


Como A e B são simétricas e comutam, então AB é simétrica. De fato,

(AB)T = B T AT = BA = AB.

Portanto, este caso se reduz ao caso (a) se tivermos a garantia de que AB é positiva.
Sabemos que A e B são simétricas e positivas. Portanto, são diagonalizáveis e todos os
autovalores são positivos. Sejam λ1 , . . . , λn os autovalores de A e µ1 . . . , µn os autova-
lores de B. Como A e B comutam, são simultaneamente diagonalizáveis, isto é, existe
uma base ortonormal de Rn formada por autovetores de A e B. Mais precisamente,
existe uma base ortonormal {~u1 , ~u2 , . . . , ~un } tal que

A~ui = λi ~ui , B~ui = µi~ui .

Se x = α1 ~u1 + · · · + αn~un é um vetor não nulo, então

kxk2 = hAx : Bxi = λ1 µ1 α21 + · · · + λn µn α2n > 0.

Observação (para o estudante mais atento): Dê um exemplo que mostre que a hipótese
AB = BA é essencial.

Exercı́cio 2.9: Considere V = Mm×n o espaço vetorial das matrizes de ordem


m × n. Para A, B ∈ V , seja


A : B := tr(AT B),

onde AT é a matriz transposta de A e tr(AT B) denota o traço da matriz quadrada


AT B, isto é, a soma dos elementos da diagonal principal.


a) Mostre que : define um produto interno em V .
q

b) Verifique que A : A = kAk2 , onde k k2 é a norma definida por (2.6) para
p = 2.
c) Se m = n, mostre que kABk2 ≤ kAk2 kBk2
Solução: (a) Vamos introduzir a seguinte notação: para A ∈ Mm×n , definimos

Li (A) := (ai1 , ai2 , . . . , ain ), vetor linha i de A;


(2.8)
Cj (A) := (a1j , a2j , . . . , amj ), vetor coluna j de A;

Observando que Li (AT ) = Ci (A), podemos escrever

[AT B]ij = hLi (AT ) : Cj (B)iRm = hCi (A) : Cj (B)iRm ,

onde h:iRm denota o produto interno usual de Rm . Portanto,

n
X n
X
T
hA : Bi = [A B]ii = hCi (A) : Ci (B)iRm ,
i=1 i=1
Métricas e Normas 15

Como Ci : Mm×n → Rm é linear, as propriedades (i) e (ii) da Definição 2.4 (pag.13 do


livro) são herdadas diretamente do produto interno usual de Rm . Por outro lado, se
A 6= 0, então Ci (A) 6= 0 para algum 1 ≤ i ≤ n e
n
X
hA : Ai = kCi (A)k22 > 0.
i=1

(b) Pela notação introduzida em (2.8), temos


n
X n X
X m
kCi (A)k22 = a2ki = kAk22 .
i=1 i=1 k=1

(c) Pela notação introduzida acima e a desigualdade de Cauchy-Schwarz em Rn , temos

[AB]ij = hLi (A) : Cj (B)iRn ≤ kLi (A)k2 kCj (B)k2 .

Pela definição da norma k k2 de Mm×n , temos


n
X n
X
kABk22 = [AB]2ij ≤ kLi (A)k22 kCj (B)k22 = kAk22 kBk22
i,j=1 i,j=1

n
Exercı́cio 2.10 k ∈ N seja fk : [0, 1] → R, fk (x) := x . Mostre que o
 : Para cada
conjunto X := f1 , f2 , f3 , . . . é linearmente independente e conclua que C [0, 1]; R
tem dimensão infinita.
Solução: Consideremos uma combinação linear (finita) nula de elementos de X , isto
é, α1 fk1 + · · · + αm fkm = 0. Sem perda de generalidade, podemos supor que k1 <
k2 < · · · < km . Então

f (x) := α1 xk1 + · · · + αm xkm = 0, ∀x ∈ [0, 1].

Calculando a derivada de ordem km de f , obtém-se 0 = f (km ) (x) = αkm . Repetindo o


argumento para as derivadas de ordem km−1 , km−2 , . . . , k1 , concluı́mos que α1 = α2 =
· · · = αm = 0. Portanto, X é linearmente independente e, em particular, C [1, 2]; R)
tem dimensão infinita.

Exercı́cio 2.11: Seja X um conjunto e f : X → Rn uma função. Mostre que


n 
X 
sup kf (x)k2 − inf kf (x)k2 ≤ sup fi (x) − inf fi (x) ,
x∈X x∈X x∈X
i=1 x∈X

onde k · k2 denota a norma 2 de Rn .


Solução: f : X → Rn , uma função vetorial definida em um conjunto arbitrário X 6= ∅.
Queremos provar que
n 
X 
sup kf (x)k2 − inf kf (x)k2 ≤ sup fi (x) − inf fi (x) .
x∈X x∈X x∈X x∈X
i=1
16 Cálculo Avançado

Vamos supor por um momento que, para qualquer que seja g: X → R, vale a desigual-
dade
sup |g(x)| − inf |g(x)| ≤ sup g(x) − inf g(x). (2.9)
x∈X x∈X x∈X x∈X

Então, basta provar que


n 
X 
sup kf (x)k2 − inf kf (x)k2 ≤ sup |fi (x)| − inf |fi (x)| .
x∈X x∈X x∈X x∈X
i=1

Para simplificar a notação, consideremos

α = sup kf (x)k2 , β = inf kf (x)k2 ,


x∈X x∈X

ai = sup |fi (x)|, bi = inf |fi (x)|.


x∈X x∈X

Então

α2 = (sup kf (x)k2 )2 = sup kf (x)k22 = sup(|f1 (x)|2 + · · · + |fn (x)|2 )


≤ a21 + · · · + a2n
(2.10)
β 2 = (inf kf (x)k2 )2 = inf kf (x)k22 = inf(|f1 (x)|2 + · · · + |fn (x)|2 )
≥ b21 + · · · + b2n

De (2.10) temos
α2 − β 2 ≤ (a21 − b21 ) + · · · + (a2n − b2n ).
Dividindo a desigualdade acima por α + β, temos

a 1 + b1 a n + bn
α − β ≤ (a1 − b1 ) + · · · + (an − bn ) .
α+β α+β

Como ai ≤ α e bi ≤ β, segue que (ai + bi )/(α + β) ≤ 1. Além disso, como ai − bi ≥ 0,


podemos concluir que

α − β ≤ (a1 − b1 ) + · · · + (an − bn ),

que é a desigualdade desejada.


Vamos então provar (2.9). Suponhamos que, para alguma função g: X → R, a desigual-
dade (2.9) não se verifique, isto é (omitindo a variável x para simplificar a notação),

sup |g| − inf |g| > sup g − inf g.

Então existe ε0 > 0 tal que sup g − inf g + ε0 < sup |g| − inf |g|. Em particular,

g(x) ≤ sup g < sup |g| − inf |g| + inf g − ε0 , ∀x ∈ X.

Fixemos x ∈ X arbitrário. Então inf g > g(x) + ε0 + inf |g| − sup |g|, de modo que

g(y) ≥ inf g > g(x) + ε0 + inf |g| − sup |g|, ∀y ∈ X.


Métricas e Normas 17

Como x e y foram fixados arbitrariamente, temos

g(x) − g(y) < sup |g| − inf |g| − ε0 , ∀x, y ∈ X. (2.11)

Trocando x por y em (2.11), obtemos

|g(x) − g(y)| < sup |g| − inf |g| − ε0 , ∀x, y ∈ X.

Como |g(x)| − |g(y)| ≤ |g(x) − g(y)|, temos

|g(x)| − |g(y)| < sup |g| − inf |g| − ε0 , ∀x, y ∈ X. (2.12)

Fixando y e passando ao sup em x na desigualdade (2.12), obtemos

|g(y)| ≥ inf |g| + ε0 , ∀y ∈ X,

o que é impossı́vel com ε0 > 0.


3
Abertos, Fechados, Compactos
Exercı́cio 3.1: Sejam A e B subconjuntos de um espaço vetorial normado V .
Demonstre as afirmativas abaixo.
a) A é fechado ⇐⇒ A ⊃ A′ . Dê exemplo de A fechado tal que A′ 6= A.
b) A′ é conjunto fechado.
c) A ⊂ B =⇒ A′ ⊂ B ′ .
d) (A ∪ B)′ = A′ ∪ B ′ .
e) A é conjunto fechado.
f) A é fechado ⇐⇒ A = A.
Solução: (a) Suponhamos que A é fechado.
Se A′ 6⊂ A, existe x0 ∈ A′ com x0 ∈ Ac . Como Ac é aberto, existe r > 0 tal
Br (x0 ) ⊂ Ac . Mas isso implica em particular que Br (x0 ) \ {x0 } ∩ A = ∅, isto é,
x0 ∈/ A′ . Contradição!
Reciprocamente, suponhamos que A′ ⊂ A. Se x0 ∈ Ac , então x0 ∈ / A′ . Logo existe
r > 0 tal que 
Br (x0 ) \ {x0 } ∩ A = ∅. (3.1)
Como x0 ∈ / A, a condição (3.1) pode ser expressa como Br (x0 ) ∩ A = ∅, o que equivale
a Br (x0 ) ⊂ Ac . Log Ac é aberto e, consequentemente, A é fechado.
Exemplo: A = [0, 1] ∪ {2} ⇒ A′ = [0, 1]
(b) Para provar que A′ é fechado, vamos usar o item (a), isto é, provemos que (A′ )′ ⊂
A′ .

Seja r > 0. Se x ∈ (A′ )′ , então Br/2 (x) \ {x} ∩ A′ 6= ∅. Logo, existe y ∈ A′ tal que
0 < ky − xk < r/2. Fixemos tal y e consideremos a = ky − xk. Por definição, qualquer
que seja δ > 0 
Bδ (y) \ {y} ∩ A 6= ∅.

Consideremos, então, δ = min{a/2, r/4} e z ∈ Bδ (y) \ {y} ∩ A. Então z ∈ A e

kz − xk ≤ kz − yk + ky − xk < r/4 + r/2 = 3r/4 < r ⇒ z ∈ Br (x);


kz − xk ≥ ky − xk − kz − yk > a − a/2 = a/2 > 0 ⇒ z 6= x.

Portanto, z ∈ Br (x) \ {x} ∩ A. Como r > 0 é arbitrário, concluı́mos que x ∈ A′
20 Cálculo Avançado

(c) É claro que se A ⊂ B, então


 
Br (x0 ) \ {x0 } ∩ A ⊂ Br (x0 ) \ {x0 } ∩ B, ∀r > 0.

Em particular, se x0 ∈ A′ ⇒ x0 ∈ B ′ .
(d) Seja x0 ∈ (A ∪ B)′ e r > 0. Pela propriedade distributiva de “∩”em relação a “∪”,
      
∅=
6 Br (x0 ) \ {x0 } ∩ (A ∪ B) = Br (x0 ) \ {x0 } ∩ A ∪ Br (x0 ) \ {x0 } ∩ B .
| {z } | {z }
E F

Temos duas possibilidades:

E 6= ∅ ⇒ x0 ∈ A′ ⊂ A′ ∪ B ′ ;
F 6= ∅ ⇒ x0 ∈ B ′ ⊂ A′ ∪ B ′ .

Em qualquer dos dois casos, temos x0 ∈ A′ ∪ B ′ .


Reciprocamente, seja x0 ∈ A′ ∪ B ′ . Então, ou x0 ∈ A′ ou x0 ∈ B ′ . Na primeira
possibilidade (a outra é idêntica), qualquer que seja r > 0,
 
∅=
6 Br (x0 ) \ {x0 } ∩ A ⊂ Br (x0 ) \ {x0 } ∩ (A ∪ B).

Portanto, x0 ∈ (A ∪ B)′ .
(e) Seja x0 ∈ (A)′ . Então

Br (x0 ) \ {x0 } ∩ (A ∪ A′ ) 6= ∅, ∀r > 0

e assim,
     
Br (x0 ) \ {x0 } ∩ A ∪ Br (x0 ) \ {x0 } ∩ A′ 6= ∅.
| {z } | {z }
E F

Como

E 6= ∅ =⇒ x0 ∈ A′ ⊂ A,
F 6= ∅ =⇒ x0 ∈ (A′ )′ item (b) A′ ⊂ A,

concluı́mos que (A)′ ⊂ A. Pelo item (b), A é fechado.


(f) Se A é fechado, então A′ ⊂ A. Portanto,

A = A′ ∪ A ⊂ A ∪ A = A.

Como A = A ∪ A′ ⊃ A, concluı́mos que A = A. Reciprocamente, se A = A então


A′ ⊂ A e A é fechado.
Abertos, Fechados, Compactos 21

Exercı́cio 3.2: Sejam k k∗ e k k∗∗ duas normas equivalentes de um espaço vetorial


V.
a) Mostre que x0 é ponto de acumulação de A com relação a uma das normas se e
somente se é ponto de acumulação com relação à outra.
b) Mostre que se A é um conjunto aberto em V em relação a k k∗ , se e somente se
A é aberto em relação a k k∗∗ . Mostre que o mesmo vale para conjuntos fechados
e compactos.
Solução: Por hipótese, existem m, M > 0 tais que

mkxk∗ ≤ kxk∗∗ ≤ M kxk∗ , ∀x ∈ V.

Consideremos as bolas

Br∗ (x0 ) = x ∈ Rn ; kx − x0 k∗ < r ,

Br∗∗ (x0 ) = x ∈ Rn ; kx − x0 k∗∗ < r .

Observe que, para qualquer r > 0, valem as inclusões

Br∗ (x0 ) ⊂ BM
∗∗
r (x0 ) (∗)
Br∗∗ (x0 ) ⊂ ∗
Br/m (x0 ) (∗∗)

Se x0 é ponto de acumulação de A em relação a k k∗ , então



Br∗ (x0 ) \ {x0 } ∩ A 6= ∅, ∀r > 0.

Segue da inclusão (∗) que Br∗∗ (x0 ) \ {x0 } ∩ A 6= ∅ para todo r > 0, o que implica
que x0 é ponto de acumulação de A em relação a k k∗∗ .
O argumento análogo e a utilização de (∗∗) nos leva à conclusão de que se x0 é ponto
de acumulação de A em relação a k k∗∗ , então também é em relação a k k∗ .
(b) Suponhamos A aberto em relação a k k∗ e x0 ∈ A. Então existe r > 0 tal que
Br∗ (x0 ) ⊂ A. Da inclusão (∗∗) vemos que Bmr∗∗
(x0 ) ⊂ A, e concluı́mos que x0 é ponto
interior de A em relação a k k∗∗ .
A recı́proca é análoga.
Por outro lado, A é fechado em relação à norma k k∗ se, e somente se, Ac é aberto
em relação a essa norma, se e somente se Ac é aberto em relação à norma k k∗∗ , se e
somente se A é fechado em relação a essa norma.
O mesmo vale para a compacidade, pois se {Aλ }λ é cobertura aberta de A em relação
a k k∗ , também o é em relação a k k∗∗ .

Exercı́cio 3.3: Sejam A e B subconjuntos de um espaço vetorial normado V .


◦ ◦
a) Se A ⊂ B, mostre que A⊂B e A ⊂ B.
◦ ◦
b) Defina α(A) =A e β(B) = B. Mostre
i. A aberto ⇒ A ⊂ α(A).
ii. B fechado ⇒ B ⊃ β(B).
22 Cálculo Avançado

iii. Dê exemplo de conjunto A tal que A, A, A, α(A) e β(A) sejam todos distintos.
◦ ◦ ◦
Solução: (a) Por hipótese A ⊂ B. A inclusão A ⊂ B é imediata, pois se x ∈ A, existe
r > 0 tal que Br (x) ⊂ A ⊂ B.
Para mostrar que A ⊂ B, lembremos que (veja Exercı́cio 3.1(c)) A ⊂ B ⇒ A′ ⊂ B ′ .
Logo
A = A′ ∪ A ⊂ B ′ ∪ A ⊂ B ′ ∪ B = B.
◦ ◦
(b) α(A) = A e β(B) = B.
◦ ◦
É claro que A ⊂ A e, consequentemente (pelo item (a)) A ⊂ A = α(A). Se A é
conjunto aberto, então

A = A ⊂ α(A).
◦ ◦
Por outro lado, B ⊃ B e consequentemente B ⊃ B = β(B). Se B é um conjunto
fechado, então
B = B ⊃ β(B).

Como exemplo, considere A = (0, 1) ∪ (1, 2) ∪ {3} Então


A= (0, 1) ∪ (1, 2), A = [0, 2] ∪ {3}, α(A) = (0, 2), β(A) = [0, 2].

Exercı́cio 3.4: Seja K subconjunto compacto de um espaço vetorial normado V .


Mostre que existe A = {x1 , x2 , . . .} ⊂ K tal que A = K.
Solução: Para cada k ∈ N, {B1/k (x)}x∈K é cobertura aberta de K. Então, para
k = 1, existem x1 , x2 , . . . , xn1 ∈ K tais que

n1
[
K⊂ B1 (xj ).
j=1

Da mesma forma, existem xn1 +1 , xn1 +2 , . . . , xn2 tais que

n2
[
K⊂ B1/2 (xj ).
j=n1 +1

E assim por diante, construı́mos a sequência



A = x1 , x2 , . . . , xn1 , . . . , xn2 , . . . , xn3 , . . .

Sejam x ∈ K, ε > 0 e k ∈ N tal que 1/k < ε. Pela definição de A, existe xj ∈ A tal
que kx − xj k < 1/k < ε.
Abertos, Fechados, Compactos 23
 
Exercı́cio 3.5: Seja A = f ∈ C [0, 1]; R ; kf k∞ < 1 e f0 ≡ 0. Mostre que f0
é ponto interior de A relativamente à norma k k∞ mas não é ponto interior de A
relativamente à norma k k1 .
Solução: Observe que A é a bola aberta de centro em zero e raio 1 em relação à
norma k k∞ no espaço V = C([0, 1]; R). Logo A é aberto em relação a essa norma e
f0 é ponto interior.
Suponhamos que f0 é ponto interior de A com relação à norma k k1 . Então deve
existir R > 0 tal que se kf − f0 k1 < R, então f ∈ A.
Seja k ∈ N satisfazendo 2/(k + 1) < R e considere f (x) = 2xk . Como kf k1 < R,
deverı́amos ter f ∈ A. Mas é fácil ver que kf k∞ = 2, isto é, f ∈/ A. Logo tal R não
existe, o que significa que f0 não é ponto interior de A (em relação a k k1 ).

Exercı́cio 3.6: Demonstre a Proposição 3.6 (pag. 31 do Cálculo Avançado).


Solução: (a) Suponhamos l1 = 6 l2 dois limites para a sequência {xk }k e considere
ε = 13 kl1 − l2 k. Então existem k1 , k2 ∈ N tais que

k ≥ k1 ⇒ kxk − l1 k < ε
k ≥ k2 ⇒ kxk − l2 k < ε

Se k0 = max{k1 , k2 } e k ≥ k0 , então

2
kl1 − l2 k ≤ kxk − l1 k + kl2 − xk k < 2ε = kl1 − l2 k,
3
um absurdo. Logo l1 = l2 .
(b) Se xk −→ l, então existe k0 ∈ N tal que kxk − lk < 1 ∀k ≥ n0 . Seja

R = max{kx1 k, kx2 k, . . . , kxk0 k + 1}.

Então verificamos facilmente que xk ∈ BR (0), ∀k ∈ N.



(c) Seja x0 ∈ A′ . Então, para todo r > 0, Br (x0 )\{x0 } ∩A 6= ∅. Em particular, para
r = 1, existe x1 ∈ A satisfazendo 0 < kx1 − x0 k < 1. Analogamente, para r = 1/2,
existe x2 ∈ A satisfazendo 0 < kx2 − x0 k < 1/2, para r = 1/3, etcetera. A sequência
assim construı́da tem todos os elementos em A e converge para x0 . Vemos também
que xk 6= x0 para todo k ∈ N.
Reciprocamente, se existe uma sequência {xk }k de elementos de A que converge para
x0 , com xk 6= x0 para todo k, então dado r > 0, existe k0 ∈ N tal que 0 < kxk0 −x0 k <
r, o que equivale dizer que xk0 ∈ A ∩ Br (x0 ) \ {x0 } . Logo x0 ∈ A′ .

Exercı́cio 3.7: Prove diretamente a equivalência dos itens (ii) e (iii) no Teorema 3.7
(pag. 35 do Cálculo Avançado).
Solução: Suponhamos K conjunto fechado e limitado de Rn e {xk }k uma sequência
de elementos de K. Consideremos o conjunto A = {x1 , x2 , x3 . . . , } ⊂ K que também
é limitado.
Se A for finito, alguns dos elementos da sequência se repetem infinitamente. Temos, as-
sim, uma subsequência constante xk1 = xk2 = · · ·, que é obviamente convergente, cujo
24 Cálculo Avançado

limite está em K. Por outro lado, se A for infinito, o Teorema de Bolzano-Weierstrass


(Teorema 3.1, pag. 21 do Cálculo Avançado) nos diz que existe uma sequência de el-
ementos de A (que será uma subsequência da sequência original de K) que converge.
Se denotarmos por x0 o limite desta sub, então x0 ∈ K ′ . Mas K sendo fechado, temos
K ′ ⊂ K.
Reciprocamente, se K não é limitado, posso construir uma sequência que não possui
sub convergente. De fato, escolho x1 ∈ K qualquer. Como B1 (x1 ) não cobre K,
posso tomar x2 ∈ K \ B1 (x1 ), de modo que kx1 − x2 k ≥ 1. Analogamente, como
B1 (x1 ) ∪ B1 (x2 ) não cobre K posso escolher x3 ∈ K \ (B1 (x1 ) ∪ B1 (x2 )). E assim
sucessivamente, construı́mos uma sequência de elementos de K tal que kxk − xk′ k ≥ 1
se k 6= k ′ . Tal sequência não admite sub convergente.
Se K não é fechado, existe x0 ∈ K ′ tal que x0 ∈ / K. Pela Proposição 3.6 (pag 21
do livro), existe uma sequência de elementos de K que converge para x0 . Portanto,
nenhuma subsequência poderá convergir para um elementos de K, visto que x0 ∈ / K.

Exercı́cio 3.8: Seja A ⊂ Rn . A fronteira de A é definida por:



∂A = x ∈ Rn ; ∀r > 0, Br (x) ∩ A 6= ∅, Br (x) ∩ (Rn \ A) 6= ∅ .


a) Mostre que ∂A = A \ A = A ∩ (Rn \ A). Em particular, ∂A é fechado.

b) Mostre que A = A ∪ ∂A e A = A \ ∂A.

c) Determine a fronteira de A = [0, 1] × [0, 1] ∩ Q2 .
Solução: (a) Condideremos as condições:
(
(1) Br (x) ∩ A 6= ∅,
∀r > 0.
(2) Br (x) ∩ (Rn \ A) 6= ∅,


/ A. Se x ∈ A nada temos a provar, pois A ⊂ A. Se
Seja x ∈ ∂A. De (2) segue que x ∈

/ A, a condição (1) significa que x ∈ A′ . Logo, ∂A ⊂ A \ A.
x∈
◦ ◦
Reciprovamente, seja x ∈ A \ A. Logo x ∈ / A, o que implica a condição (2). Como
′ ′
A = A ∪ A , temos x ∈ A ou x ∈ A , que, em qualquer dos casos, implica a condição
(1).
Além disso, a condição (1) é equivalente a x ∈ A e a condição (2) é equivalente a
x ∈ Ac . Portanto, x ∈ ∂A se, e somente se, x ∈ A ∩ (Rn \ A).
(b) x ∈ A se, e somente se, x ∈ A ∪ A′ . Se x ∈ A, é imediato que x ∈ A ∩ ∂A. Se
x∈/ A, então x ∈ Rn \ A e x ∈ A′ . Logo, qualquer que seja r > 0, temos

x ∈ Rn \ A ⇒ Br (x) ∩ Rn \ A 6= ∅
 ⇒ x ∈ ∂A
x ∈ A′ ⇒ Br (x) \ {x} ∩ A 6= ∅

Reciprocamente, seja x ∈ A ∪ ∂A. Se x ∈ A não há o que mostrar. Suponhamos então


x ∈ ∂A e x ∈
/ A. Então, para todo r > 0 temos

Br (x) ∩ Ac 6= ∅ e Br (x) ∩ A 6= ∅. (3.2)


Abertos, Fechados, Compactos 25

Das duas propriedades de (3.2), decorre que Br (x) \ {x} ∩ A 6= ∅ e concluı́mos que
x ∈ A′ .

Por outro lado, se x ∈ A, então x ∈ A e existe r0 > 0 tal que Br0 (x) ⊂ A, o que

implica que Br0 (x) ∩ Ac = ∅. Logo, x ∈
/ ∂A, isto é, A ⊂ A \ ∂A.
Reciprocamente, se x ∈ A \ ∂A, então existe r0 > 0 tal que

Br0 (x) ∩ Ac = ∅ ou Br0 (x) ∩ A = ∅. (3.3)

Como a segunda condição em (3.3) é evidentemente falsa, segue da primeira que


Br0 (x) ⊂ A, isto é, x ∈ A′ .

(c) Como consequência imediata da densidade de Q, temos A = ∅ e portanto segue do
item (a),
∂A = A = [0, 1] × [0, 1].
4
Limite e Continuidade
Exercı́cio 4.1: Sejam a, b, c, d números reais positivos. Mostre que o limite
|x|a |y|b
lim
x→0
y→0
|x|c + |y|d

existe (e vale zero) se, e somente se, (a/c) + (b/d) > 1.


|x|a |y|b
Solução: Seja f (x, y) = |x|c +|y|d
, (x, y) 6= (0, 0).
A condição (a/c) + (b/d) > 1 é necessária. De fato, se (a/c) + (b/d) ≤ 1 podemos
considear a curva x(t) = t1/c e y = t1/d , t > 0, de modo que

 t(a/c)+(b/d)−1 1/2 se (a/c) + (b/d) = 1
lim f x(t), y(t) = lim =
t↓0 t↓0 2 +∞ se (a/c) + (b/d) < 1.

Como o limite é zero com x ou y tendendo a zero sobre os respectivos eixos, concluı́mos
que o limite nesse caso não existe.
Para provar que a condição (a/c) + (b/d) > 1 é suficiente, vamos analisar dois casos:

Caso 1. (a/c) + (b/d) > 1 e max a/c, b/d > 1.
Podemos supor sem perda de generalidade que a/c > 1. Assim, se |x| ≤ 1, temos
 
b |x|c
f (x, y) ≤ |y| ≤ |y|b ,
|x|c + |y|d

de onde se conclui que o limite existe e vale zero.



Caso 2. (a/c) + (b/d) > 1 e max a/c, b/d ≤ 1.
Pela Desigualdade de Young (Lema 2.2, pag. 15), temos para p, q > 1 tais que 1/p +
1/q = 1,
1 1
|x|a |y|b ≤ |x|ap + |y|bq .
p q
Assim otemos
1 ap−c 1 bq−d
f (x, y) ≤ |x| + |y|
p q
28 Cálculo Avançado

e a conclusão segue caso seja possı́vel encontrar p, q nas condições acima tais que
ap − c > 0 e bq − d > 0.
Para isso, observemos que o ponto P = (a/c, b/d) pertence ao triângulo ABC (veja a
Figura 4.1).

y
C
B

b/d P

1/q
Q

x
1/p a/c A

Figura 4.1
Se considerarmos a projeção de P sobre a reta x+y = 1, obtemos o ponto Q = (x0 , y0 ),
onde    
1 a b 1 a b
x0 = 1+ − e y0 = 1− + .
2 c d 2 c d
Observe que 0 < x0 < 1, 0 < y0 < 1 e x0 + y0 = 1, de modo que podemos podemos
escolher p = 1/x0 e q = 1/y0
É claro que  
1 a b a a b
1+ − < ⇐⇒ 1 < + ;
2 c d c c d
 
1 a b b a b
1− + < ⇐⇒ 1 < + .
2 c d d c d
Portanto, temos as desigualdades

1 a 1 b
< ⇒ ap − c > 0 e < ⇒ bq − d > 0,
p c q d

como querı́amos provar.

Exercı́cio 4.2: Sejam f1 e f2 duas funções de Rn em R e considere g: Rn → R


definida por g(x) = max{f1 (x), f2 (x)}.
Prove se verdadeira ou dê contra-exemplo se falsa:
a) Se f1 e f2 são contı́nuas, então g é contı́nua.
b) Se g é contı́nua, então f1 e f2 são contı́nuas.
c) Sejam f1 , f2 , . . . , fk funções contı́nuas de Rn em R. Defina f por

f (x) = max{f1 (x), . . . , fk (x)}.


Limite e Continuidade 29

Então f é contı́nua.
Solução: (a) Primeiramente, observe que

a + b + |a − b|
max{a, b} = , ∀a, b ∈ R.
2
Portanto
f1 (x) + f2 (x) + |f1 (x) − f2 (x)|
g(x) = .
2
Como a aplicação s 7→ |s| é contı́nua, vale a afirmativa em (a).
(b) Falso. De fato, sejam
n n
1 se x ≥ 0 0 se x ≥ 0
f1 (x) = , f2 (x) = .
0 senão 1 senão
Então, g ≡ 1 é contı́nua, mas fi não é.
(c) Vamos provar por indução. O item (a) nos garante a validade para n = 2. Supo-
nhamos a afirmativa válida para k − 1, isto é, se f1 , . . . , fk−1 são contı́nuas, então
g = max{f1 , . . . , fk−1 } também é contı́nua.
Sejam f1 , . . . , fk−1 , fk funções contı́nuas e consideremos

f = max{f1 , . . . , fk }.

É fácil ver que f = max{g, fk }, onde estamos denotando por g a função

g = max{f1 , . . . , fk−1 }.

Por hipótese, g é contı́nua e, pelo item (a), concluı́mos que f é contı́nua.

Exercı́cio 4.3: Considere as afirmações:


a) X ⊂ Rn é conexo;
b) Se A ⊂ X tal que ∂A ∩ X = ∅, então A = ∅ ou A = X. Mostre que (a) implica
(b), mas a recı́proca é falsa.
Solução: Mostremos que (a)⇒(b). Lembremos a definição de ∂A:

∂A = x ∈ Rn ; ∀r > 0, Br (x) ∩ A 6= ∅, Br (x) ∩ (Rn \ A) 6= ∅ .

Mostemos (a)⇒(b) por redução absurdo. Sejam X ⊂ Rn conexo e A ⊂ X tais que

A 6= ∅, A 6= X, ∂A ∩ X = ∅.

Então A 6= ∅ e X \ A 6= ∅.
Se x ∈ A é um elemento qualquer, então x ∈ / ∂A, pois ∂A ∩ X = ∅. Logo, existe
rx > 0 tal que Brx (x) não intercepta X \ A, o que implica Brx (x) ⊂ A. Como x ∈ A
foi tomado arbitrariamente, concluı́mos que A é aberto.
Da mesma forma, se x ∈ X \A é um elemento qualquer, então x ∈/ ∂A, pois ∂A∩X = ∅.
n
Logo, pelo mesmo argumento acima, concluı́mos que R \ A é aberto.
30 Cálculo Avançado

Como por hipótese X é conexo e, pelos argumentos acima, X ⊂ A ∪ (Rn \ A), A ∩ X =


A 6= ∅ e (Rn \ A) ∩ X = X \ A 6= ∅, segue que A ∩ (Rn \ A) 6= ∅, o que é um absurdo.

Mostremos que (b)6⇒(a). Considere X = 1, 2 ⊂ R. É claro que X não é conexo. O

conjunto das partes de X é P(X) = ∅, {1}, {2}, X . É claro que

∂{1} = {1}, ∂{2} = {2}, ∂{1, 2} = {1, 2}

Logo, o único subconjunto A de X que satisfaz a condição ∂A ∩ X 6= ∅ é o conjunto


vazio. Assim, se (b) implica (a), X é conexo, o que é absurdo.
Observação: Vale observar que o argumento acima se aplica para qualquer conjunto

X ⊂ Rn fechado e desconexo. De fato, como ∂A = A \ A, segue que ∂A = ∅ ⇐⇒
A = ∅. Logo, se A 6= ∅ e X é fechado, temos ∂A ⊂ A ⊂ X = X. Portanto, o único
subconjunto de X que satisfaz a condição ∂A ∩ X = ∅ é o conjunto vazio.

Exercı́cio 4.4: Demonstre o Lema 4.2 (da pag. 45 do texto). Use o resultado para
mostrar que se 1 < p1 , p2 , . . . , pk < +∞ são tais que

1 1 1
+ +···+ = 1,
p1 p2 pk

então vale a seguinte generalização da desigualdade de Young.

|x1 |p1 |xk |pk


|x1 x2 · · · xk | ≤ +···+ . (4.1)
p1 pk

Solução: Vamos demonstrar o Lema 4.2. Por hipótese, se x, y ∈ A e λ ∈ (0, 1), então

f λx + (1 − λ)y ≤ λf (x) + (1 − λ)f (y).

Suponhamos verdadeiro para n = k, isto é, se x1 , . . . , xk ∈ A e λ1 , . . . , λk ∈ (0, 1) são


tais que λ1 + · · · + λk = 1 então

f (λ1 x1 + · · · + λk xk ) ≤ λ1 f (x1 ) + · · · + λk f (xk ).

Consideremos agora k + 1 pontos de A e k + 1 números no intervalo (0, 1) cuja soma


seja igual a 1. Então podemos escrever

f (λ1 x1 + · · · + λk xk + λk+1 xk+1 ) = f λ1 x1 + (1 − λ1 )y , (4.2)

onde estamos denotando


 
λ2 λk+1
y= x2 + · · · + xk+1 .
1 − λ1 1 − λ1

Como f é convexa, obtemos

f (λ1 x1 + · · · + λk xk + λk+1 xk+1 ) ≤ λ1 f (x1 ) + (1 − λ1 )f (y). (4.3)


Limite e Continuidade 31

Observando que
λ2 λk+1
+···+ =1
1 − λ1 1 − λ1
segue da hipótese de indução

λ2 λk+1
f (y) ≤ f (x2 ) + · · · + f (xk+1 ). (4.4)
1 − λ1 1 − λ1

De (4.2), (4.3) e (4.4), concluı́mos que

f (λ1 x1 + · · · + λk xk + λk+1 xk+1 ) ≤ λ1 f (x1 ) + · · · + λk f (xk ) + λk+1 f (xk+1 ).

A prova da desigualdade (4.1) segue diretamente da concavidade da função logaritmo


e dos argumentos usados na prova do Lema 2.2.

Exercı́cio 4.5: Diz-se que uma função f : Rn → Rm é aberta se f (U ) é aberto de


Rm para todo U ⊂ Rn aberto. Seja f : Rn → Rn uma função invertı́vel tal que f −1 é
contı́nua. Mostre que f é aberta.
Solução: f : Rn → Rn é bijetora e g = f −1 é contı́nua.
Pelo Teorema 4.5 (pag. 40), g −1 (V ) é aberto em Rn , qualquer que seja V aberto de
Rn . Mas g −1 (V ) = f (V ). Isto quer dizer que f é função aberta.

Exercı́cio 4.6:
a) Sejam A e B subconjuntos de Rn e f : A −→ B uma função bijetora. Se A é
compacto e f é contı́nua, mostre que f −1 : B −→ A é contı́nua.
b) Dê exemplo com A, B ⊂ R e f : A −→ B bijetora e contı́nua tal que f −1 : B −→ A
não é contı́nua. Faça o mesmo com A, B ⊂ R2 .
Solução: (a) Seja {yk }k sequência de B tal que yk → y. Queremos mostrar que
f −1 (yk ) → f −1 (y).
Primeiramente, observe que, sendo B fechado e yk ∈ B, temos y ∈ B. Como f é
bijetora, para cada k ∈ N, existe um único xk ∈ A tal que yk = f (xk ). Analogamente,
existe um único x ∈ A tal que y = f (x). Como A é compacto, existe uma subsequência
{xki } que converge para algum x e ∈ A. Pela continuidade de f ,

f (xki ) i→+∞ f (e
x).
−→

Entretanto, sabemos que f (xki ) = yki → y = f (x). Pela unicidade dos limites,
concluı́mos que f (e
x) = f (x) e pela injetividade de f obtemos x
e = x.
Além disso, é toda a sequência {xk } que converge para x. De fato, se tomarmos uma
outra subsequência qualquer de {xk } que converge para algum x b ∈ A, os mesmos
argumentos anteriores nos levarão à x b = x.
Logo, f −1 (yk ) = xk → x = f −1 (y). O Teorema 4.2 (pag. 38) nos garante que f −1 é
contı́nua.
(b) Exemplo de uma função f : A ⊂ R → B ⊂ R bijetora e contı́nua com inversa
descontı́nua.
32 Cálculo Avançado

Seja A = [0, 1] ∪ (2, 3], B = [0, 2] e f : A → B definida por



x se x ∈ [0, 1],
f (x) =
x − 1 se x ∈ (2, 3].
Então f é contı́nua e bijetora, mas

−1 y se y ∈ [0, 1],
f (y) =
y+1 se y ∈ (1, 2],
não é contı́nua.
Exemplo de uma função f : A ⊂ R2 → B ⊂ R2 bijetora e contı́nua com inversa des-
contı́nua.
Sejam A = (0, 1] × [0, 2π), B = {(x1 , x2 ) ; x21 + x22 ≤ 1} \ {(0, 0)} e f : A → B definida
por f (r, θ) = (r cos θ, r sen θ). É claro que f é contı́nua e bijetora.
Provemos que a inversa f −1 : B → A não é contı́nua nos pontos de B∩{(x1 , 0) ; x1 > 0}.
De fato, vamos mostrar que f −1 não é contı́nua no ponto (1/2, 0). Seja xk = (x1,k , x2,k )
uma sequência com as seguintes propriedades:
1
kxk k2 = , x2,k > 0, x2,k → 0+ .
2
Então, é claro que xk = 12 (cos θk , sen θk ), onde θk > 0 e θk → 0+ . Isto é
1 1 1
xk → ( , 0), mas f −1 (xk ) = ( , θk ) → ( , 0).
2 2 2
Por outro lado, se xk = (x1,n , x2,n ) é uma sequência com as seguintes propriedades:
1
kxk k2 = , x2,n < 0, x2,n → 0− ,
2
então fica claro que xk = 12 (cos θk , sen θk ), onde θk < 2π e θk → 2π − . Isto é
1 1 1
xk → ( , 0), mas f −1 (xk ) = ( , θk ) → ( , 2π).
2 2 2
Portanto, f −1 não é contı́nua.
Exercı́cio 4.7: Seja f : Rn → R uma função contı́nua tal que
lim f (x) = +∞. (4.5)
kxk→+∞

Mostre que existe x0 ∈ Rn tal que f (x0 ) ≤ f (x), ∀x ∈ Rn .


Solução: Considere M = |f (0)|. Por hipótese, existe R > 0 tal que se kxk > R então
f (x) > M . Como K = BR (0) é compacto, existe x0 ∈ K ponto de mı́nimo de f sobre
K, isto é,
f (x0 ) ≤ f (x), ∀x ∈ K.
Em particular, f (x0 ) ≤ f (0). Por outro lado, se x ∈
/ K, então
f (x) > M = |f (0)| ≥ f (0) ≥ f (x0 ).
Portanto, f (x0 ) ≤ f (x) para todo x ∈ Rn , como querı́amos demonstrar.
Limite e Continuidade 33

Exercı́cio 4.8: Mostre que a função f : [0 , ∞) → R definida por f (x) = xα , com


0 < α < 1 é Hölder contı́nua de ordem α.
Solução: Queremos provar que existe M ≥ 0 tal que a função f (x) = xα , 0 < α < 1,
satisfaz
|f (x) − f (y)| ≤ M |x − y|α , ∀x, y > 0.
Como f é uma função crescente, basta mostrar que

xα − y α ≤ M (x − y)α , ∀x ≥ y ≥ 0. (4.6)

Fixemos y ≥ 0 e consideremos a função

g(x) = (x − y)α − xα + y α ,

definida no intervalo [y, +∞). É claro que g(y) = 0 e


 
g ′ (x) = α (x − y)α−1 − xα−1 .

Como 0 ≤ x − y ≤ x e α − 1 < 0, temos

(x − y)α−1 > xα−1 , ∀x > y.

Portanto, a função g é estritamente crescente no intervalo [y, +∞) e concluı́mos que


g(x) > 0 = g(y). Isso quer dizer que (x − y)α > xα − y α e obtemos (4.6) com M = 1.

Exercı́cio 4.9: Considere f : [0, 1/e] → R definida por



0 √ se x = 0
f (x) =
1/ − ln x se 0 < x ≤ 1/e

Mostre que f é uniformemente contı́nua mas não é Hölder-contı́nua.


Solução: Queremos mostrar que f não é Hölder contı́nua em [0, 1/e], isto é, que não
existem 0 < α ≤ 1 e M > 0 tais que

|f (x) − f (y)| ≤ M |x − y|α , ∀x, y ∈ [0, 1/e].

Ou, o que é equivalente, queremos mostrar que, quaisquer que sejam M > 0 e 0 <
α ≤ 1, podemos encontrar x0 , y0 ∈ [0, 1/e] tais que |f (x0 ) − f (y0 )| ≥ M |x0 − y0 |α .
Consideremos a função g: [0, 1] → [0, 1/e] definida por

0 se y = 0
g(y) = 2
exp(−1/y ) se 0 < y ≤ 1

É fácil verificar que g é contı́nua, bijetora e g = f −1 . De fato, g é Lipschitz, posto


que |g ′ (y)| ≤ 2/e para todo y ∈ (0, 1). Pelo exercı́cio 4.6(a), f é contı́nua. Portanto,
o Teorema 4.11 (pag. 48) nos garante que f é uniformemente contı́nua.
Para mostrar que f não é Hölder, sejam M > 0, 0 < α ≤ 1 e n ∈ N tal que n ≥ 1/α e
considere o limite
ξn
lim = 0. (4.7)
ξ→+∞ exp(ξ 2 )
34 Cálculo Avançado

Se tomarmos ξ = 1/y, então podemos escrever (4.7) na forma

exp(−1/y 2 )
lim = 0.
y→0+ yn

Portanto, para ε = 1/M n , existe y0 ∈ (0, 1) tal que

exp(−1/y02 )
< ε,
y0n

que podemos escrever na forma

|g(y0 ) − g(0)| < ε|y0 − 0|n . (4.8)

Se tomarmos x0 = g(y0 ), então x0 ∈ (0, 1/e) e podemos escrever (4.8) na forma


 1/n
1
|f (x0 ) − f (0)| ≥ |x0 − 0|1/n = M |x0 − 0|1/n ≥ M |x0 − 0|α ,
ε

que é o que querı́amos demonstrar.

Exercı́cio 4.10: Seja F ⊂ Rn um conjunto fechado e não vazio. Para cada x ∈ Rn


defina 
dist(x, F ) = inf kx − yk ; y ∈ F .

a) Mostre que, para cada x ∈ Rn , existe yx ∈ F tal que dist(x, F ) = kx − yx k.


b) Mostre que a função x 7→ dist(x, F ) é Lipschitz contı́nua.
Solução: (a) Para cada k ∈ N, existe yk ∈ F tal que

1
dist(x, F ) ≤ kx − yk k < dist(x, F ) + .
k
Logo, a sequência {yk }k é limitada e podemos extrair uma seubsequência {yki } que
converge para algum yx ∈ F . O resultado segue da passagem ao limite com ki → +∞
nas desigualdades acima.
(b) Sejam x1 , x2 ∈ Rn . Pelo item anterior, existem y1 , y2 ∈ F tais que

dist(xi , F ) = kxi − yi k, i = 1, 2.

Então,
kx1 − x2 k ≥ kx2 − y1 k − ky1 − x1 k ≥ dist(x2 , F ) − dist(x1 , F ).
Analogamente,

kx1 − x2 k ≥ kx1 − y2 k − ky2 − x2 k ≥ dist(x1 , F ) − dist(x2 , F ).

Das desigualdades acima, obtemos

| dist(x1 , F ) − dist(x2 , F )| ≤ kx1 − x2 k.


Limite e Continuidade 35

Exercı́cio 4.11: Dados a, b ∈ R e A, B conjuntos fechados não vazios disjuntos,


mostre que existe uma função f : Rn → R contı́nua satisfazendo as seguintes pro-
priedades
f (x) = a, ∀x ∈ A, f (x) = b, ∀x ∈ B.
min{a, b} ≤ f (x) ≤ max{a, b}, ∀x ∈ Rn .
Solução: Basta considerar
dist(x, A) dist(x, B)
f (x) = b +a .
dist(x, A) + dist(x, B) dist(x, A) + dist(x, B)

Exercı́cio 4.12:
a) Mostre que se A ⊂ Rn é um conjunto aberto e convexo e f : A → R é uma função
convexa, então f é contı́nua. Mostre que o resultado é falso se A não for aberto.
b) Seja f : [a, b] → R função convexa. Mostre que f é semicontı́nua superiormente
em [a, b].
c) Dê um exemplo de uma função convexa definida na bola B = {x ∈ R2 ; kxk2 ≤ 1}
que não seja semicontı́nua superiormente em B.
Solução: (a) Seja x0 ∈ A. Como A é aberto, podemos escolher r > 0 tal que
Br (x0 ) ⊂ A. Seja g: B2 (0) → R a função definida por:
r
g(x) = f (x0 + x) − f (x0 ), ∀x ∈ B2 (0),
2
onde B2 (0) = {x ∈ Rn ; kxk2 ≤ 2}. Então é fácil verificar que g é convexa em B2 (0) e
g(0) = 0.
Os mesmos argumentos usados nas etapas 1 e 2 da prova do Teorema 4.10 nos levam
à conclusão de que g é contı́nua em 0 e, consequentemente, f é contı́nua em x0 .
O resultado é falso se A não for aberto. De fato, considere a função f : [0, 1] → R tal
que f (1) = 1 e f (x) = 0 para x ∈ [0, 1). Obviamente f não é contı́nua e é fácil verificar
que f é convexa.
(b) Se f : [a, b] → R é convexa, então f é contı́nua em (a, b). Provemos que f é s.c.s.
em a. Seja {xk }k uma sequência em [a, b] tal que x → a+ . Então podemos escrever
xk = λk b + (1 − λk )a, com λk → 0+ . Como f é convexa, temos
f (xk ) ≤ λk f (b) + (1 − λk )f (a).
Tomando o limite superior dois lados da desigualdade acima, temos
lim sup f (xk ) ≤ f (a)
n→+∞

e concluı́mos que f é scs em a. O mesmo argumento vale para a outra extremidade


do intervalo.
(c) Considere f: B → R a função assim definida.

0 se x2 + y 2 < 1
f (x, y) = θ se x = cos θ, y = sen θ, 0 < θ < 2π

π se x = 1, y = 0
36 Cálculo Avançado

Exercı́cio 4.13: Prove que o conjunto Nr = {x ∈ Rn | f (x) ≤ r} é convexo se f é


função convexa.
Solução: f é função convexa e Nr = {x ∈ Rn ; f (x) ≤ r}.
Se x, y ∈ Nr e λ ∈ [0, 1], então

f (λx + (1 − λ)y) ≤ λf (x) + (1 − λ)f (y) ≤ λr + (1 − λ)r = r.

Portanto λx + (1 − λ)y ∈ Nr .

Exercı́cio 4.14: Seja Ω ⊂ Rn um conjunto aberto


 e convexo. Uma função f : Ω →
]0, ∞[ é dita log-côncava em Ω se a função log f (x) é côncava em Ω.
a) Prove que toda função log-côncava é contı́nua.

b) Prove que f é log-côncava ⇔ f λx + (1 − λ)y ≥ f (x)λ f (y)(1−λ) , ∀x, y ∈ Rn ,
∀λ ∈ [0, 1].
c) Prove que o conjunto Nr = {x ∈ Rn | f (x) ≥ r} é convexo se f é log-côncava.
d) Toda função log-côncava é côncava? Toda função côncava é log-côncava?
Solução: (a) Seja f uma função log-côncava e g(x) = ln f (x). Então, por definição,
g é côncava e, consequentemente, contı́nua. Como f (x) = exp(g(x)), concluı́mos que
f é contı́nua.
(b) Suponhamos f função log-côncava. Então g(x) = ln f (x) é função côncava. Isto é,
g(λx + (1 − λ)y) ≥ λg(x) + (1 − λ)g(y), para todo x, y ∈ Ω e λ ∈ [0, 1]. Portanto

ln f (λx + (1 − λ)y) ≥ λ ln f (x) + (1 − λ) ln f (y)


= ln f (x)λ + ln f (y)1−λ (4.9)
= ln f (x)λ f (y)1−λ

Obtemos a conclusão após aplicar a exponencial em ambos os lados da desigualdade


(4.9).
Reciprocamente, se f (λx + (1 − λ)y) ≥ f (x)λ f (y)1−λ, então obtemos após aplicar o
logaritmo (que é uma função crescente) em ambos os lados,

ln f (λx + (1 − λ)y) ≥ λ ln f (x) + (1 − λ) ln f (y),

o que significa dizer que f é log-côncava.


(c) Sejam x, y ∈ Nr e λ ∈ [0, 1]. Então, pelo item (b),

f (λx + (1 − λ)y) ≥ f (x)λ f (y)1−λ ≥ r λ r 1−λ = r.

(d) Toda função côncava (e positiva) é log-côncava. De fato, lembrando a desigual-


dade de Young: se a, b > 0 e 1 ≤ p, q ≤ +∞ satisfazem 1/p + 1/q = 1, então
ap bq
ab ≤ + .
p q

Tomemos a = f (x)λ , b = f (y)1−λ , p = 1/λ e q = 1/(1 − λ). Então podemos escrever

f (x)λ f (y)1−λ ≤ λf (x) + (1 − λ)f (y).


Limite e Continuidade 37

portanto, se f é côncava, temos

f (λx + (1 − λ)y) ≥ λf (x) + (1 − λ)f (y) ≥ f (x)λ f (y)1−λ.

Mas nem toda função log-côncava


√ é côncava. Por exemplo,
√ considere f : [1, +∞) → R
definida por f (x) = exp( x). É claro que ln f (x) = x que é uma função côncava.
No entanto, f é convexa, pois f ′′ (x) > 0 para todo x ∈ (1, +∞).

Exercı́cio
 4.15: Seja f : Rn → R uma função estritamente convexa, isto é, f tx1 +
(1 − t)x2 < tf (x1 ) + (1 − t)f (x2 ), para todo x1 , x2 ∈ Rn e para todo t ∈ ]0, 1[. Mostre
que se f é coerciva (veja (4.5)), então existe um único x0 ∈ Rn tal que f (x0 ) ≤ f (x),
∀x ∈ Rn .
Solução: Sabemos que se f é convexa em Rn , então f é contı́nua. Sendo coerciva
(veja Exercı́cio 4.7), existe x0 ∈ Rn tal que f (x0 ) ≤ f (x), ∀x ∈ Rn .
Resta-nos mostrar que tal x0 é único. Suponhamos então que existem dois pontos x0
e x1 diferentes tais que

m = f (x0 ) = f (x1 ) = minn f (x).


x∈R

Como f é estritamente convexa, temos


 
1 1 1 1
f x0 + x1 < f (x0 ) + f (x1 ) = m.
2 2 2 2

Portanto x2 = (x0 + x1 )/2 ∈ Rn é tal que f (x2 ) < m, o que é impossı́vel.

Exercı́cio 4.16: Seja C ⊂ Rn conjunto convexo e fechado.


a) Mostre que ∀x ∈ Rn , existe um único y ∈ C tal que kx − yk2 ≤ kz − xk2 , ∀z ∈ C.
(y = PC (x) é denominado a projeção ortogonal de x sobre C. Temos assim
definida a aplicação
PC : R n → Rn
(4.10)
x 7→ PC (x)

b) Mostre que y = PC (x) ⇐⇒ hx − y : z − yi ≤ 0, ∀z ∈ C.


c) Use o item (b) para mostrar que PC satisfaz


kPC (x) − PC (y)k22 ≤ x − y : PC (x) − PC (y)

e conclua que PC é Lipschitz-contı́nua em Rn .


d) Verifique que os argumentos dos itens anteriores continuam válidos para qualquer
norma que provenha de um produto escalar.
e) Mostre que ∀x ∈ Rn , existe (não necessariamente único) y ∈ C tal que kx − yk1 ≤
kz − xk1 , ∀z ∈ C. Analogamente, existe (não necessariamente único) y ∈ C tal
que kx − yk∞ ≤ kz − xk∞ , ∀z ∈ C.
Solução: (a) Vamos mostrar que, para todo x ∈ Rn , existe um único y ∈ C tal que

kx − yk2 ≤ kz − xk2 , ∀z ∈ C. (4.11)


38 Cálculo Avançado

Seja x ∈ Rn . Se x ∈ C, então y = x satisfaz (4.11). Se x ∈ / C, seja x1 ∈ C e considere


r = kx − x1 k2 > 0. É claro que Cr := Br (x) ∩ C é compacto e não vazio. Como a
função z 7→ kx − zk2 é contı́nua, existe y ∈ Cr tal que kx − yk2 ≤ kx − zk2 , ∀z ∈ Cr .
Por outro lado, se z ∈ C \ Cr , então

kx − zk2 ≥ kx − x1 k2 ≥ kx − yk2

e obtemos a desigualdade (4.11).


(b) Fixado x ∈ Rn , seja y ∈ C satisfazendo (4.11). Vamos mostrar que

hx − y : z − yi ≤ 0, ∀z ∈ C. (4.12)

Seja z ∈ C. Então, para todo t ∈ (0, 1) temos (1 − t)y + tz ∈ C e, em particular,


kx − yk22 ≤ kx − (1 − t)y − tzk22 , o que implica
t
hx − y : z − yi ≤ ky − zk22 .
2
Fazendo t → 0+ , obtemos a desigualdade em (4.12).
Reciprocamente, seja y ∈ C satisfazendo (4.12) e considere z = tw + (1 − t)y ∈ C.
Então,

kx − zk22 = k(x − y) + t(y − w)k22 = kx − yk22 + 2thx − y, y − wi + t2 ky − wk22 ≥ kx − yk22

e obtemos (4.11).
Para provar que y é único, suponhamos y1 , y2 satisfazendo (4.11). Então

hx − y1 : z − y1 i ≤ 0
∀z ∈ C. (4.13)
hx − y2 : z − y2 i ≤ 0

Substituindo z = y2 na primeira desigualdade de (4.13), z = y1 na segunda e somando


as duas, obtemos ky1 − y2 k2 ≤ 0, ou y1 = y2 .
Para provar (c), consideremos x1 , x2 ∈ Rn . Então segue de (b) que

hx1 − PC (x1 ) : PC (x2 ) − PC (x1 )i ≤ 0,


hx2 − PC (x2 ) : PC (x1 ) − PC (x2 )i ≤ 0,

ou equivalentemente

hx1 − PC (x1 ) : PC (x2 ) − PC (x1 )i ≤ 0,


(4.14)
hPC (x2 ) − x2 : PC (x2 ) − PC (x1 )i ≤ 0,

Somando as desigualdade em (4.14), obtemos

hx1 − x2 + PC (x2 ) − PC (x1 ) : PC (x2 ) − PC (x1 )i ≤ 0

de onde concluı́mos a desigualdade

kPC (x2 ) − PC (x1 )k22 ≤ hx2 − x1 : PC (x2 ) − PC (x1 )i. (4.15)


Limite e Continuidade 39

Para mostrar que PC é Lipschitz-contı́nua, basta aplicar a desigualdade de Cauchy-


Schwarz no lado direito de (4.15).
(d) O argumento utilizado no item (a) se aplica a qualquer norma. Já os argumentos
utilizados
p nos itens (b) e (c) só valem para normas induzidas por um produto interno:
kxk = hx : xi.
(e) O caso da norma k k1 : Considere x0 = (1, 1) e C = {x ∈ R2 ; kxk1 ≤ 1}. Então os
pontos de C que estão mais próximos de x0 na norma k k1 são os pontos y = (t, 1 − t),
t ∈ [0, 1]. De fato,
kx0 − zk1 = |1 − t| + |t| = 1.

O caso da norma k k∞ : Considere x0 = (1, 0) e C = {x ∈ R2 ; kxk∞ ≤ 1}. Então os


pontos de C que estão mais próximos de x0 na norma k k∞ são os pontos y = (1, t),
t ∈ [−1, 1]. De fato,
kx0 − zk∞ = max {1, |t|} = 1.
−1≤t≤1

Exercı́cio 4.17: Considere Rn munido da norma k k∗ e Rm munido da norma


k k• . Seja f : (Rn , k k∗ ) → (Rm , k k• ) definida por f (x) = Ax, onde A é matriz (m×N ).
Defina (
MA = sup{kf (x)k• ; kxk∗ = 1},
mA = inf{C ≥ 0; kf (x)k• ≤ Ckxk∗ }.

1. Prove que MA = mA = kf (x0 )k• para algum vetor unitário x0 ∈ Rn ;


2. Prove as seguintes propriedades:
a) MA+B ≤ MA + MB ;
b) MλA = |λ|MA ;
c) MA ≥ 0 e MA = 0 ⇐⇒ A = 0.
d) Mostre que se m = N e k · k• = k · k∗ , então MAB ≤ MA MB . Em particular,
se A é invertı́vel, então MA−1 ≥ 1/MA .
3. Calcule MA nos seguintes casos:
a) A: (Rn , k k∞ ) → (Rm , k k∞ )
b) A: (Rn , k k1 ) → (Rm , k k1 )
c) A: (Rn , k k1 ) → (Rm , k k∞ )
Definição: Denotando
kAk = MA , (4.16)

temos definida uma norma no espaço vetorial das matrizes e vale a desigualdade
kAxk• ≤ kAkkxk∗ ∀x ∈ Rn . A norma definida por (4.16) é denominada norma
induzida pelas normas k k∗ e k k•
Solução: (1) Consideremos A matriz m × N e g: Rn → R a função definida por
g(x) = kAxk• . É claro que g é contı́nua. Como o conjunto K = x ∈ Rn ; kxk∗ = 1
é compacto, existe x0 ∈ K tal que g(x0 ) ≥ g(x), ∀x ∈ K. Portanto,

MA = g(x0 ) = kAx0 k• . (4.17)


40 Cálculo Avançado

Vamos provar que mA = MA . Se x ∈ Rn e x 6= 0, então x/kxk∗ ∈ K. Logo,


g(x/kxk∗ ) ≤ MA , isto é,
 
x
A ≤ MA ⇒ kAxk• ≤ MA kxk∗ .
kxk∗ •

Segue da definição de mA que mA ≤ MA .


Reciprocamente, pela definição de inf, dado ε > 0, existe C ≥ 0 tal que

mA ≤ C < mA + ε, e kAxk• ≤ Ckxk∗ , ∀x ∈ Rn . (4.18)

Tomando x = x0 definido em (4.17) em (4.18), obtemos

MA = kAx0 k• ≤ C < mA + ε.

Portanto, MA < mA + ε. Como ε > 0 é arbitrário, concluı́mos que MA ≤ mA .


(2) Provemos as propriedades (a) e (b). A propriedade (c) é trivial.

MA+B = sup k(A + B)xk• ; kxk∗ = 1

≤ sup kAxk• + kBxk• ; kxk∗ = 1
 
≤ sup kAxk• ; kxk∗ = 1 + sup kBxk• ; kxk∗ = 1
= MA + MB

MλA = sup kλAxk• ; kxk∗ = 1

= sup |λ|kAxk• ; kxk∗ = 1

= |λ| sup kAxk• ; kxk∗ = 1
= |λ|MA

Vamos mostrar (d). Se x e y são vetores unitários, então

kBxk ≤ MB e kAyk ≤ MA .

Consideremos, em particular, y = Bx/kBxk. Então


 
Bx
A ≤ MA ⇒ kABxk ≤ MA kBxk ≤ MA MB .
kBxk

Portanto, kABxk ≤ MA MB qualquer que seja x unitário, o que implica



MAB = sup kABxk ; kxk = 1 ≤ MA MB .

No caso em que A é matriz invertı́vel, temos A−1 A = I e, como consequência do


demonstrado acima,

1 = MI = MA−1 A ≤ MA−1 MA ⇒ MA−1 ≥ 1/MA .


Limite e Continuidade 41

(3) Seja A = (aij )i,j matriz m × N . Calculemos MA nos três casos seguintes:

(a) MA = sup kAxk∞ ; kxk∞ = 1 .

Nesta caso, vamos mostrar que


 
Xn
MA = max  |aij | .
i
j=1

Se y = (y1 , . . . , ym ) e x = (x1 , . . . , xn ) são tais que y = Ax, então


 
n
X n
X n
X
yi = aij xj ⇒ |yi | ≤ |aij ||xj | ≤  |aij | kxk∞ .
j=1 j=1 j=1

Portanto,  
Xn
kyk∞ ≤ max  |aij | kxk∞
i
j=1

e segue da definição de mA que


 
Xn
mA ≤ max  |aij | . (4.19)
i
j=1

Para provar a igualdade, seja i0 o ı́ndice sobre o qual o máximo em (4.19) é atingido,
isto é,  
Xn n
X
|ai0 j | = max  |aij |
i
j=1 j=1

e considere o vetor x0 = (x01 , x02 , . . . , x0N ), onde



ai0 j /|ai0 j | se ai0 j =
6 0
x0j =
0 se ai0 j = 0

Então é claro que kx0 k∞ = 1. Além disso, se y0 = Ax0 , então


n
X
ky0 k∞ = |yi0 | = |ai0 j |.
j=1

Portanto,  
Xn
max  |aij | ≤ MA = mA . (4.20)
i
j=1

De (4.19) e (4.20), temos a conclusão.


42 Cálculo Avançado

Observação: Posto que, neste caso, MA é a norma de A induzida pelas normas k k∞


de Rn e de Rm , podemos considerar a notação MA = kAk∞∞ .
Observe que se L1 , L2 , . . . , Lm são os vetores-linha que compõem a matriz A, isto é,
   
a11 a12 ··· a1n L1
 a21 a22 ··· a2n   L2 
A=
 ... .. .. .. 
 =
 .. 
. . . . 
am1 am2 · · · amn Lm

então  
n
X

kAk∞∞ = max kL1 k1 , kL2 k1 , . . . , kLm k1 = max  |aij | .
i
j=1


(b) MA = sup kAxk1 ; kxk1 = 1 .

Neste caso, vamos mostrar que


m
!
X
MA = max |aij | .
j
i=1

Se y = (y1 , . . . , ym ) e x = (x1 , . . . , xn ) são tais que y = Ax, então


     
y1 a11 a1n
 y2   a21   a2n 
 .  = x1  ..  + · · · + x n
 ..  . (4.21)
 .   .   . 
.
ym am1 amn

Se denotarmos por C1 , C2 , . . . , Cn os vetores-coluna que compõem a matriz A, então


podemos escrever (4.21) na forma

y = x1 C1 + x2 C2 + · · · + xn Cn .

Portanto,

kyk1 ≤ |x1 |kC1 k1 + · · · + |xn |kCn k1 ≤ max kC1 k1 , . . . , kCn k1 kxk1 ,

o que implica 
mA ≤ max kC1 k1 , . . . , kCn k1 . (4.22)
Para provar a igualdade, seja j0 o ı́ndice em (4.22) em que o máximo é atingido, isto
é, 
kCj0 k1 = max kC1 k1 , . . . , kCn k1 .
Tomando x = (0, 0, . . . , 1, 0, . . . , 0) o j0 -ésimo vetor da base canônica, é fácil ver que
kxk1 = 1 e Cj0 = Ax. Portanto

kCj0 k1 = max kC1 k1 , . . . , kCn k1 ≤ MA = mA ,
Limite e Continuidade 43

como querı́amos provar.


Observação: Com a notação introduzida na observação anterior, podemos escrever
m
!
 X
kAk1 1 = max kC1 k1 , . . . , kCn k1 = max |aij | .
j
i=1


(c) MA = sup kAxk∞ ; kxk1 = 1 .

Nesta caso, vamos mostrar que


 
MA = max max |aij | .
j i

Se y = (y1 , . . . , ym ) e x = (x1 , . . . , xn ) são tais que y = Ax, então


     
y1 a11 a1n
 y2   a21   a2n 
 .  = x1  ..  + · · · + x n
 ..  . (4.23)
 .   .   . 
.
ym am1 amn

Se denotarmos por C1 , C2 , . . . , Cn os vetores-coluna que compõem a matriz A, então


podemos escrever (4.23) na forma

y = x1 C1 + x2 C2 + · · · + xn Cn .

Portanto,

kyk∞ ≤ |x1 |kC1 k∞ + · · · + |xn |kCn k∞ ≤ max kC1 k∞ , . . . , kCn k∞ kxk1 ,

o que implica 
mA ≤ max kC1 k∞ , . . . , kCn k∞ . (4.24)
Para provar a igualdade, seja j0 o ı́ndice em (4.24) em que o máximo é atingido, isto
é, 
kCj0 k∞ = max kC1 k∞ , . . . , kCn k∞ .
Tomando x = (0, 0, . . . , 1, 0, . . . , 0) o j0 -ésimo vetor da base canônica, é fácil ver que
kxk1 = 1 e Cj0 = Ax. Portanto

kCj0 k∞ = max kC1 k∞ , . . . , kCn k∞ ≤ MA = mA ,

como querı́amos provar.


Observação: Com a notação introduzida nas observações anteriores, podemos escr-
erver   
kAk1∞ = max kC1 k∞ , . . . , kCn k∞ = max max |aij | .
j i
44 Cálculo Avançado

Exercı́cio 4.18: Se V é um espaço vetorial normado, o espaço das funções lineares


contı́nuas de V em R, é denominado espaço dual de V e denotado por V ′ .
Seja V = Rn munido da norma k kp , com p ∈ [1, +∞]. Mostre que V ′ pode ser
identificado a Rn e, para todo y ∈ Rn , kykV ′ = kykq , onde q ∈ [1, +∞] satisfaz
1/p + 1/q = 1 (q = 1 se p = +∞ e vice-versa).
Solução: T ∈ L(Rn ; R) se, e somente se, T é uma transformação linear de Rn em R.
Em particular, a matriz associada a T é uma matriz 1 × N , isto é, uma “matriz linha”.
Se munirmos Rn da norma k kp , então a norma induzida em L(Rn , R) é, conforme
definido no Exercı́cio 4.17,

kT k = sup |T (x)| ; kxkp = 1 .
Observe que o Teorema de Riez nos garante que, para cada T ∈ L(Rn , R), existe um
único y ∈ Rn (a tal matriz linha) tal que
T (x) = hy : xi, ∀x ∈ Rn .
Portanto, 
kT k = sup |hy : xi| ; kxkp = 1 .
Pela desigualdade de Hölder, temos
|hy : xi| ≤ kykp′ kxkp , ∀x ∈ Rn .
Logo, kT k ≤ kykp′ . Por outro lado, supondo que T 6= 0, considemos o vetor x0 =
(x01 , x02 , . . . , x0N ) tal que
1 ′
x0i = |y |p −2 yi ,
p′ /p i
kykp′
então podemos verificar que kx0 kp = 1 e que T (x0 ) = kykp′ . Portanto,
kT k = kykp′ .
Moral da História: Se V = (Rn , k kp ), então V ′ = L(Rn , R) = (Rn , k kp′ ).
Exercı́cio 4.19: Seja A matriz m×n e defina a função f : Rn → Rm por f (x) = Ax.
Mostre que
f é injetora ⇐⇒ ∃k > 0 tal que kf (x)k ≥ kkxk, ∀x ∈ Rn .

Solução: Seja k = inf{kAxk ; kxk = 1}. É claro que k ≥ 0. Como a esfera unitária
{x ∈ Rn ; kxk = 1} é um conjunto compacto e a aplicação x 7→ kAxk é contı́nua,
existe x0 unitário tal que kAx0 k = k.
Se f (x) = Ax é injetora, então k é estritamente positivo. De fato,
k = 0 ⇒ Ax0 = 0 ⇒ x0 = 0,
o que é impossı́vel, pois kx0 k = 1.
Assim, se x ∈ Rn , x 6= 0, temos
 
x

k ≤ A = 1 kAxk ⇒ kAxk ≥ kkxk.
kxk kxk
A recı́proca é imediata, pois se x 6= y e kAx − Ayk ≥ kkx − yk > 0, temos Ax 6= Ay,
isto é, f injetora.
Limite e Continuidade 45

Exercı́cio 4.20: Seja M2 o espaço das matrizes quadradas 2 × 2 a coeficientes


reais, com alguma norma. Seja

det:  M2  −→ R
a11 a12
7→ a11 a22 − a21 a12
a21 a22

a) Mostre que det é contı́nua.


b) Mostre que S = {A ∈ M2 ; det A 6= 0} é aberto e não conexo.
c) Seja f : S → M2 a função definida por f (X) = X −1 . Mostre que f é contı́nua em
S. Sug.: X −1 − X0−1 = X −1 (X0 − X)X0−1 .
Solução: (a) Mostremos que a aplicação det: M2 → R definida por
 
a11 a12
det = a11 a22 − a12 a21
a21 a22

é uniformemente contı́nua. Para tal, vamos munir o espaço M2 com a norma


  q
a11 a12
= |a11 |2 + |a12 |2 + |a21 |2 + |a22 |2 .
a21 a22
2

Sejam A = (aij ) e B = (bij ) duas matrizes quaisquer de M2 . Então

| det(A − B)| = |(a11 − b11 )(a22 − b22 ) − (a12 − b12 )(a21 − b21 )|
≤ |a11 − b11 ||a22 − b22 | + |a12 − b12 ||a21 − b21 |
1 
≤ |a11 − b11 |2 + |a22 − b22 |2 + |a12 − b12 |2 + |a21 − b21 |2
2
1
= kA − Bk22
2

(b) Consideremos os conjuntos



S+ = A ∈ M2 ; det A > 0

S− = A ∈ M2 ; det A < 0

S0 = A ∈ M2 ; det A = 0

Como S+ é a imagem inversa do intervalo aberto (0, +∞) pela aplicação A 7→ det A,
isto é, S+ = det−1 (0, +∞), segue do item (a) que S+ é um conjunto aberto de M2 .
O mesmo vale para S− , de modo que S = S+ ∪ S− é aberto. Além disso, como
S+ ∩ S− = ∅, concluı́mos que S é desconexo.
(c) Consideremos a aplicação f : S → S, definida por f (X) = X −1 e fixemos X0 ∈ S.
Como M2 é espaço de dimensão 4, todas as normas são equivalentes. Podemos então
consideremos em M2 a norma induzida pela norma euclidiana (tal como definida no
Exercı́cio 4.17), isto é,
kAk = sup{kAxk2 ; kxk2 = 1}.

Então (veja Exercı́cio 4.17 (2d)), kABk ≤ kAkkBk.


46 Cálculo Avançado

Observando que podemos escrever X −1 − X0−1 = X −1 (X − X0 )X0−1 , temos


kf (X) − f (X0 )k = kX −1 (X − X0 )X0−1 k ≤ kX −1 kkX0−1 kkX − X0 k.
Para ε > 0 dado, consideremos
 
1 ε
δ = min −1 , .
2kX0 k 2kX0−1 k2
Vamos provar que se kX − X0 k < δ, então kX −1 − X0−1 k < ε.
Primeiramente observemos que, para qualquer x ∈ Rn , vale a desigualdade
kxk2 = kX0 X0−1 xk2 ≤ kX0−1 kkX0 xk2 ,
de modo que podemos escrever
1
kX0 xk2 ≥ kxk2 , ∀x ∈ Rn . (4.25)
kX0−1 k
Portanto, aplicando a desigualdade triangular e (4.25), temos
kXxk2 = kX0 x + (X − X0 )xk2
≥ kX0 xk2 − k(X − X0 )xk2
1
≥ kxk2 − kX − X0 kkxk2 (4.26)
kX0−1 k
1
≥ kxk2
2kX0−1 k
Como X é sobrejetora, denotando y = Xx, podemos escrever (4.26) na forma
1 −1
kyk2 ≥ −1 kX yk2 , ∀y ∈ Rn .
2kX0 k
Portanto, kX −1 yk2 ≤ 2kX0−1 kkyk2 para todo y ∈ Rn , o que implica
kX −1 k ≤ 2kX0−1 k se kX − X0 k < δ.
Portanto, se kX − X0 k < δ, temos
kX −1 − X0−1 k ≤ 2kX0−1 k2 kX − X0 k < ε
e a continuidade de f no ponto X0 fica demonstrada.
Exercı́cio 4.21: Seja f : Rn → Rm função contı́nua e defina

Z(f ) = x ∈ Rn ; f (x) = 0 .
Mostre que Z(f ) é fechado em Rn .
Solução: Seja x ∈ Z(f )′ . Então existe uma sequência xk ∈ Z(f ) tal que xk → x
quando k → +∞. Como f é contı́nua, f (xk ) → f (x). Mas f (xk ) = 0 para todo n.
Logo f (x) = 0, o que significa que x ∈ Z(f ). Portanto
Z(f )′ ⊂ Z(f )
como querı́amos demonstrar.
Limite e Continuidade 47

Exercı́cio 4.22: Seja f : Rn → R contı́nua em 0 e tal que


f (x + y) = f (x) + f (y), ∀x, y ∈ Rn .

Mostre que existe a ∈ Rn tal que f (x) = ha : xi, ∀x ∈ Rn .


Solução: f é aditiva e contı́nua em 0, então é fácil ver que f é uniformemente contı́nua.
De fato, da aditividade é imediato concluir que f (0) = 0 e f (−x) = −f (x). Sendo f
contı́nua em 0, para todo ε > 0 existe δ > 0 tal que se kzk < δ então kf (z)k < ε.
Logo, se ky − xk < δ, então

kf (x) − f (y)k = kf (x − y)k < ε

e concluı́mos que f é uniformemente contı́nua. Por indução, é fácil mostrar que, para
todo x ∈ Rn ,
f (nx) = nf (x), ∀n ∈ N. (4.27)
Além disso,
 x x x 1
f (x) = f n = nf ⇒ f = f (x). (4.28)
n n n n
De (4.27) e (4.28) obtemos facilmente f (rx) = rf (x) para todo r ∈ Q e para todo
x ∈ Rn . Seja x ∈ Rn e λ ∈ R. Por densidade, existe uma sequência (rk )k de números
racionais tal que rk → λ. Como f é contı́nua, temos

f (λx) = lim f (rk x) = lim rk f (x) = λf (x).


n→+∞ k→+∞

Portanto f é linear e concluı́mos a solução tomando a ∈ Rn definido por

a = (f (e1 ), f (e2 ), . . . , f (en )),

onde ei é o i-ésimo vetor da base canônica de Rn .

Exercı́cio 4.23: Seja f : Rn → R contı́nua tal que para todo x, y ∈ Rn ,


 
x+y f (x) + f (y)
f ≤ .
2 2

Mostre que f é convexa.


Solução: Temos por hipótese f função contı́nua satisfazendo a seguinte condição que
denominaremos “sub-aditividade”:
 
x+y f (x) + f (y)
f ≤
2 2
e queremos mostrar que

f λy + (1 − λ)x ≤ λf (y) + (1 − λ)f (x), ∀λ ∈ [0, 1].

Vamos denotar por [x, y] o segmento que liga os pontos x e y, isto é,

[x, y] = αy + (1 − α)x ; α ∈ [0, 1] .
48 Cálculo Avançado

A partição de [x, y] em 2m partes iguais, define o seguinte conjunto de pontos


 
(2m − 1)x + y (2m − 2)x + 2y x + (2m − 1)y
Pm = x, , ,..., ,y ,
2m 2m 2m
isto é,  
k 2m − k m
Pm = y+ x ; k ∈ {0, 1, 2, . . . , 2 } .
2m 2m
Observe que P1 ⊂ P2 ⊂ P3 ⊂ · · ·.
Afirmativa: Para todo m ∈ N e para todo k ∈ {0, 1, 2, . . . , 2m } vale a desigualdade:
 
k 2m − k k 2m − k
f y + x ≤ f (y) + f (x). (4.29)
2m 2m 2m 2m

Antes de demonstrar a afirmativa, vejamos como (4.29) permite concluir a demon-


stração da convexidade de f .
Se λ ∈ (0, 1) então podemos construir uma sequência de números racionais da forma
rm = km /2m tal que kn ∈ {0, 1, 2, . . . , 2m } e tal que rn → λ. De fato, escolhemos o
ponto de Pn que esteja mais próximo de λ, isto é, escolhemos kn tal que
 m 
km 1 2 2 −1

2m − λ = min |λ|, 2m − λ , 2m − λ , . . . , 2m − λ , |1 − λ| .

Observe que se λ ∈ Pn para algum n, então rn = rn+1 = rn+2 = · · ·. Caso contrário,



kn
− λ ≤ 1 n→+∞ 0.
2m 2m −−−−−−→

Então, como f é contı́nua, temos


 
f λy + (1 − λ)x = lim f rn y + (1 − rn )x
n→∞
≤ lim rn f (y) + lim (1 − rn )f (x)
n→∞ n→∞
= λf (y) + (1 − λ)f (x)

Só nos resta então demonstrar a desigualdade (4.29), o que faremos por indução.
A desigualdade é verdadeira para n = 1. Suponhamos verdadeira para n − 1, isto é,
 
k 2n−1 − k k 2n−1 − k
f y + x ≤ f (y) + f (x), ∀k ∈ {0, 1, 2, . . . , 2n−1 }.
2n−1 2n−1 2n−1 2n−1

Seja k ′ ∈ {0, 1, 2, . . . , 2m }. Se k ′ = 2k é par, então, por hipótese de indução,


 ′   
k 2m − k ′ k 2m−1 − k
f y+ x =f y+ x
2m 2m 2m−1 2m−1
k 2m−1 − k
≤ m−1 f (y) + f (x)
2 2m−1
k′ 2m − k ′
= m f (y) + f (x)
2 2m
Limite e Continuidade 49

Por outro lado, se k ′ = 2k + 1 é ı́mpar, então podemos escrever


 
2k + 1 2m − (2k + 1) 1 k 2m−1 − k
y+ x= y+ x
2m 2m 2 2m−1 2m−1
 
k+1 2m−1 − k − 1
+ y+ x
2m−1 2m−1

Pela sub-aditividade da f , obtemos


   
2k + 1 2m − (2k + 1) 1 k 2m−1 − k
f y + x ≤ f y+ x +
2m 2m 2 2m−1 2m−1
  (4.30)
1 k+1 2m−1 − k − 1
+ f y+ x
2 2m−1 2m−1

Agora observe que se k ′ = 2k + 1 pertence a {0, 1, . . . , 2m }, então 1 ≤ k ′ ≤ 2m − 1


e consequentemente 0 ≤ k ≤ 2n−1 − 1. Portanto, vale a hipótese de indução no lado
esquerdo de (4.30), o que nos leva a concluir
 
k′ 2m − k ′ k′ 2m − k ′
f y + x ≤ f (y) + f (x),
2m 2m 2m 2m

que era o que querı́amos demonstrar.

Exercı́cio 4.24: Seja f : Rn −→ Rm uma função e considere seu gráfico


G(f ) = {(x, y) ∈ Rn+m ; y = f (x), ∀x ∈ Rn }.

a) Mostre que se f é contı́nua, então G(f ) é fechado em Rn+m .


b) Mostre que se G(f ) é fechado e f é limitada, então f é contı́nua.
c) Considere G(f |K ) = {(x, y) ∈ Rn+m ; y = f (x), ∀x ∈ K}. Mostre que se f é
contı́nua e K é compacto em Rn , então G(f |K ) é compacto em Rn+m .
Solução: (a) Seja (x, y) ∈ G(f )′ . Então existe uma sequência (xk , yk ) ∈ G(f ) tal que
(xk , yk ) → (x, y) em Rn × Rm . Mas (xk , yk ) ∈ G(f ) significa que yk = f (xk ). Como
f é contı́nua, temos yk = f (xk ) → f (x). Portanto, segue da unicidade do limite que
y = f (x), isto é, (x, y) ∈ G(f ).
Resumindo, provamos que G(f )′ ⊂ G(f ) e, portanto, G(f ) é fechado.
(b) Seja xk → x em Rn e yk = f (xk ). Então, (xk , yk ) ∈ G(f ). Sendo f uma função
limitada, temos kf (x)k ≤ C para todo x ∈ Rn . Portanto a sequência (xk , yk ) é
limitada em Rn × Rm . Pelo Teorema de Bolzano-Weierstrass, existe uma subsequên-
cia (xki , yki ) convergente. Já sabemos que xk → x. Logo, existe y ∈ Rm tal que
yki → y.
Como estamos supondo G(f ) fechado, temos (x, y) ∈ G(f ), isto é, y = f (x). Além
disso, se a sequência (xk , yk ) admite outra subsequência (xkj , ykj ) convergindo para
(x, y), os mesmos argumentos mostram que (x, y) ∈ G(f ), isto é, y = f (x). Mas x = x,
de modo que y = f (x) = f (x) = y. Assim, é toda a sequência (xk , yk ) que converge
para (x, y).
50 Cálculo Avançado

Resumindo, provamos que xk → x e yk = f (xk ), então f (xk ) → f (x), o que mostra


que f é contı́nua.

(c) G(f |K ) = (x, y) ∈ Rn+m ; y = f (x), x ∈ K , onde K é compacto e f é contı́nua.
Seja (xk , yk ) ∈ G(f |K ). Então xk ∈ K e yk = f (xk ). Como K é compacto, existe
uma subsequência {xki }i tal que xki → x ∈ K quando i → ∞. Como f é contı́nua,
f (xki ) → f (x). Mas yki = f (xki ). Logo,
(xki , yki ) → (x, f (y)) ∈ G(f |K ).
Pelo Teorema 3.8 (pag. 35), G(f |K ) é compacto.
Exercı́cio 4.25: Seja f : Rn −→ Rn tal que f k = f ◦ f ◦ · · · ◦ f é uma contração.
| {z }
k vezes
Mostre que f possui um único ponto fixo.
Solução: f k : Rn → Rn é uma contração. Então, o Teorema 4.13 (pag. 51) garante
que f k possui um único ponto fixo x, isto é,
f k (x) = x. (4.31)
Aplicando f a ambos os lados de (4.31), temos
 
f f k (x) = f k f (x) = f (x).
Portanto, f (x) é ponto fixo de f k . Como este é único, temos necessariamente f (x) = x.
Assim x é ponto fixo de f .
Por outro lado, se x b é também ponto fixo de f , então
x x) = f 2 (b
b = f (b x) = · · · = f k (b
x).
Como f k tem um único ponto fixo, temos necessariamente x
b = x.
Exercı́cio 4.26: Verdadeiro ou falso?
1) f e g contrações ⇒ f ◦ g contração.
2) f ◦ f contração ⇒ f contração.
Solução: (1) Verdadeiro! De fato, se f e g são contrações, existem α1 , α2 no intervalo
[0, 1) tais que
kf (x) − f (y)k ≤ α1 kx − yk, kg(x) − g(y)k ≤ α2 kx − yk.
Portanto, como α1 α2 < 1 e
kf (g(x)) − f (g(y))k ≤ α1 α2 kx − yk,
conluı́mos que f ◦ g é contração.
(2) Falso! De fato, considere
n
2 se x ≤ 1 ou x ≥ 2,
f (x) =
1 se 1 < x < 2.
É fácil ver que f ◦ f é função constante, e portanto contração (com α = 0), mas f é
descontı́nua e portanto não pode ser uma contração.
Um segundo exemplo: 
1 se x ∈ Q,
f (x) =
0 se x ∈/ Q.
É fácil ver que (f ◦ f )(x) = 1 para todo x, sendo portanto contração (com α = 0), mas
f é descontı́nua.
Limite e Continuidade 51

Exercı́cio 4.27: Seja f (x, y) = ( x3 − y4 +3 , x2 + y2 −8). Mostre que f não é contração


na norma k k∞ mas é contração na norma k k1 . Portanto f possui um único ponto
fixo. Calcule-o.
Solução: f : R2 → R2 é definida por
x x2 x1 x2 
1
f (x1 , x2 ) = − + 3, + −8 .
3 4 2 2
Queremos mostrar que f não é contração na norma k k∞ , mas é na norma k k1 .
Sejam x = (x1 , x2 ) e y = (y1 , y2 ) dois pontos de R2 e denotemos por s = x1 − y1 e
t = x2 − y2 . Então,

kf (x) − f (y)k∞ = k(s/3 − t/4, s/2 + t/2)k∞ = max{|s/3 − t/4|, |s/2 + t/2|}.

Escolhendo s = t = 1, obtemos

kf (x) − f (y)k∞ = 1 = kx − yk∞ .

Por outro lado,


kf (x) − f (y)k1 = |s/3 − t/4| + |s/2 + t/2|
5 3
≤ |s| + |t|
6 4
5
≤ (|s| + |t|)
6
5
= kx − yk1
6
Logo, f é contração (com respeito a norma k k1 ) e, portanto, possui um único ponto
fixo.

Exercı́cio 4.28: Seja g: [a, b] → R função contı́nua e crescente e f : X → [a, b].


Mostre que  
sup g f (x) = g sup f (x) .
x x

Solução: Para simplificar a notação, vamos considerar

m = sup f (x), M = sup g(f (x)).


x∈X x∈X

Primeiramente observe que, sendo [a, b] um conjunto fechado, temos

f (x) ∈ [a, b], ∀x ∈ X ⇒ m ∈ [a, b].

Como f (x) ≤ m para todo x ∈ X e g é crescente, temos

g(f (x)) ≤ g(m), ∀x ∈ X. (4.32)

Passando ao sup no lado esquerdo da desigualdade (4.32) obtemos

M ≤ g(m). (4.33)
52 Cálculo Avançado

Suponhamos, por absurdo, que a desigualdade em (4.33) seja estrita, isto é, M <
g(m). Então podemos escolher ε0 > 0 (por exemplo ε0 = (g(m) − M )/2) tal que
M < g(m) − ε0 . Como m é o supremo, para cada n ∈ N, existe xn ∈ X tal que

1
m− < f (xn ).
n
Logo,
1
g(m − ) ≤ g(f (xn)) ≤ M < g(m) − ε0 . (4.34)
n
Fazendo n → ∞ e considerando que g é função contı́nua, obtemos de (4.34) g(m) ≤
M < g(m) − ε0 , o que é um absurdo. Logo, M = g(m) como querı́amos provar.
Observação ao aluno menos atento: o resultado continua válido se g é crescente e sci.

Exercı́cio 4.29: Seja f : R → R uma função monótona crescente e A ⊂ R conjunto


limitado.
a) Mostre que
sup f (x) ≤ f (sup A) e f (inf A) ≤ inf f (x).
x∈A x∈A

b) Mostre que se f é sci então

sup f (x) = f (sup A).


x∈A

Solução: (a) Para simplificar a notação, consideremos

M = sup f (x), m = inf f (x).


x∈A x∈A

Como A ⊂ R é limitado, inf A e sup A são números reais e

inf A ≤ x ≤ sup A, ∀x ∈ A.

Como f é crescente, f (inf A) ≤ f (x) ≤ f (sup A) para todo x ∈ A. Portanto,

f (inf A) ≤ m ≤ M ≤ f (sup A).

(b) Vamos supor por absurdo que M < f (sup A). Então, para ε0 > 0 suficientemente
pequeno,
M < f (sup A) − ε0 . (4.35)
Como f é s.c.i em R, para cada x0 ∈ R e para cada ε > 0, existe δ > 0 tal que se
|x − x0 | < δ, então f (x) > f (x0 ) − ε.
Consideremos então x0 = sup A e ε = ε0 escolhido acima. Então existe δ > 0 tal que

|x − sup A| < δ ⇒ f (x) > f (sup A) − ε0 ,

o que está em contradição com (4.35).


Limite e Continuidade 53

Exercı́cio 4.30: Seja {sk }k sequência de números reais e defina:


lim inf sk = lim inf{sk , sk+1 , sk+2 , . . .}.
k→+∞ k→+∞

Seja f : A ⊂ Rn → R, x0 ∈ A ∩ A′ . Mostre que f é semicontı́nua inferiormente em x0


se e somente se
f (x0 ) ≤ lim inf f (xk ) ∀ {xk }k ⊂ A tal que xk → x0 .
k→+∞

Solução: Vamos provar primeiramente a implicação “⇒”.


Consideremos a sequência de números reais {f (xk )}k , onde xk → x0 em Rn . Seja

Sk = f (xk ), f (xk+1 ), f (xk+2 ), . . . ,
de modo que valem as inclusões S1 ⊃ S2 ⊃ S3 ⊃ · · ·.
Primeiramente observemos que Sk é limitado inferiormente, qualquer que seja k ∈ N.
De fato, basta mostrar que S1 é limitado inferiormente.
Seja ε > 0. Como estamos supondo f sci, existe δ > 0 tal que se kx − x0 k < δ, então
f (x) > f (x0 ) − ε. Como {xk }k converge para x0 , existe k0 ∈ N tal que se k ≥ k0 ,
então kxk − x0 k < δ e consequentemente
f (xk ) > f (x0 ) − ε, ∀k ≥ k0 . (4.36)
Assim, f (x0 ) − ε é cota inferior para o conjunto Sk0 , o que significa dizer que Sk0 é
limitado inferiormente. Como

S1 = f (x1 ), f (x2), . . . , f (xk0 −1 ) ∪ Sk0 ,
concluı́mos que S1 também é limitado inferiormente.
Observemos agora que inf S1 ≤ inf S2 ≤ inf S3 ≤ · · · e

lim inf f (xk ) = lim inf Sk .
k→∞ k→∞

De (4.36) obtemos
f (x0 ) − ε ≤ inf Sk0 ≤ lim inf f (kk ),
k→∞
Como ε é arbitrário, concluı́mos que
f (x0 ) ≤ lim inf f (kk ).
k→∞

Provemos agora a implicação contrária “⇐”.


Se f não é sci, então para algum x0 ∈ Rn existe ε0 > 0 tal que qualquer que seja δ > 0
podemos encotrar xδ ∈ Rn satisfazendo
kxδ − x0 k < δ e f (xδ ) ≤ f (x0 ) − ε0 .
Tomemos δ = 1/k e consideremos a sequência {xk }k tal que kxk − x0 k < 1/k e
f (xk ) > f (x0 ) − ε0 .
É claro que xk → x0 e inf Sk ≤ f (xk ) ≤ f (x0 ) − ε0 , ∀k ∈ N o que implica
lim inf f (xk ) ≤ f (x0 ) − ε0 < f (x0 ).
n→∞
54 Cálculo Avançado

Exercı́cio 4.31: Prove usando argumento de sequências que se K ⊂ Rn é compacto


e f : Rn → R é função sci, então existe x0 ∈ K tal que f (x0 ) = min{f (x) ; x ∈ K}.
a) Prove que l = inf f (K) > −∞
b) Prove que se l = inf f (K) então l ∈ f (K).
Solução: Provemos primeiro que o conjunto f (K) é limitado inferiormente.
Se f (K) não é limitado inferiormente, podemos encontrar uma sequência {yk } ⊂ K
tal que f (yk ) → −∞. Em particular, lim inf f (yk ) = lim f (yk ) = −∞. Como K é
compacto, existe subsequência {yki } tal que yki → y0 ∈ K e como f é sci, temos
f (y0 ) ≤ lim inf f (yki ) = −∞, o que é um absurdo, pois f (y0 ) ∈ R. Logo, f (K) é um
conjunto limitado inferiormente e possui o ı́nfimo l. Vamos mostrar que l = f (x0 )
para algum x0 ∈ K.
Da definição de ı́nfimo, existe uma sequência {xk } ⊂ K tal que f (xk ) → l. Como K
é compacto, existe subsequência {xki } tal que xki → x0 ∈ K e f (xki ) → l. Como f é
sci,
f (x0 ) ≤ lim inf f (xki ) = lim f (xki ) = l.
i→∞ i→

é claro que f (x0 ) < l não pode ocorrer, pois x0 ∈ K. Logo f (x0 ) = l, que era o que
querı́amos provar.

Exercı́cio 4.32: Seja {fα }α uma famı́lia de funções s.c.i. de Rn em R. Defina


f : Ω → R por:

Ω = {x ∈ Rn ; sup fα (x) < ∞}


α
∀x ∈ Ω, f (x) = sup fα (x)
α

a) Mostre que f é semicontı́nua inferiormente em Ω.


b) Se fα é contı́nua ∀α, podemos concluir que f é contı́nua?
c) Se fα é função convexa ∀α, mostre que f é convexa.
d) Mostre que as afirmativas anteriores se verificam trocando-se acima: “sci, sup,
< ∞ e convexa” respctivamente por “scs, inf, > −∞ e côncava”.
Solução: (a) Seja x0 ∈ Ω. Vamos provar que f é sci em x0 .
Dado ε > 0 existe um ı́ndice α0 tal que f (x0 ) − ε/2 < fα0 (x0 ) ≤ f (x0 ). Sendo fα0 sci,
existe δ > 0 tal que

kx − x0 k < δ ⇒ fα0 (x) > fα0 (x0 ) − ε/2.

Portanto, se kx − x0 k < δ, temos

f (x0 ) − ε/2 < fα0 (x0 ) < fα0 (x) + ε/2 ≤ f (x) + ε/2

e consequentemente f (x) > f (x0 ) − ε.


(b) Não! Considere α = 1/k e fk : R → R definida por
(0 se x ≤ 0
fk (x) = kx se 0 < x < 1/k
1 se x ≥ 1/k
Limite e Continuidade 55

Neste caso Ω = R e f (x) = supn fk (x) é definida por


n
0 se x ≤ 0
f (x) =
1 se x > 0

Observe que f é sci em R.


(c) Consideremos {fα }α uma famı́lia de funções convexas. Provemos que Ω é conjunto
convexo e f definida sobre Ω é função convexa.
Seja x0 , x1 ∈ Ω e para λ ∈ [0, 1], denotemos xλ = λx1 + (1 − λ)x0 . Então, para todo
ı́ndice α
fα (xλ ) ≤ λfα (x1 ) + (1 − λ)fα (x0 )
(4.37)
≤ λf (x1 ) + (1 − λ)f (x0 ) < +∞.
Logo xλ ∈ Ω e concluı́mos que Ω é convexo. Além disso, passando ao sup em α no
lado esquerdo de (4.37), obtemos

f (xλ ) ≤ λf (x1 ) + (1 − λ)f (x0 )

o que quer dizer que f é convexa.


(d) Faça fα = −gα , com gα satisfazendo as condições anteriores.
5
Funções Diferenciáveis
Exercı́cio 5.1: Sejam ψ, ϕ: R → R satisfazendo
lim ϕ(s) = 0.
s→±∞

Considere f : R2 → R definida por



f (x, y) = ϕ(y/x2 )ψ(|x|) se x 6= 0 (5.1)
0 se x = 0

a) Considere ψ(s) = s. Mostre que f é Gateaux-derivável em (0, 0) com

∂f
(0, 0) = 0 ∀u ∈ R2 vetor unitário,
∂u
mas f não é diferenciável em (0, 0).
b) Verifique que a função f do Exemplo 6 deste capı́tulo é obtida de (5.1) com
ϕ(s) = 2s/(1 + s2 ) e ψ(s) = s.
c) Sejam ψ(s) = 1 ∀s ≥ 0 e ϕ = 1[1,2] a função caracterı́stica de [1, 2], isto é, ϕ(s) = 1
se s ∈ [1, 2] e ϕ(s) = 0 senão. Mostre que f definida por (5.1) satisfaz o item (a)
mas f não é contı́nua em (0, 0).
Solução: (a) Seja u = (u1 , u2 ) vetor unitário de R2 e consideremos

f (0 + λu) − f (0) ϕ(u2 /λu21 )|u1 | se u1 =
6 0
= .
λ 0 se u1 = 0

Como ϕ(s) → 0 se s → ±∞, obtemos

∂f
(0, 0) = 0.
∂u
Em particular, ∇f (0, 0) = (0, 0).
Suponhamos por absurdo que f é diferenciável em (0, 0). Então

f (h) = f (0) + hf ′ (0, 0) : hi + ε(h).


58 Cálculo Avançado

sendo necessaiamente f ′ (0, 0) = ∇f (0, 0) e

|ε(h)|
lim = 0.
h→0 khk1

Portanto, f (h) = ε(h) para todo h ∈ R2 . Se ϕ é não nula, existe α tal que ϕ(α) 6= 0.
Então, para h = (t, αt2 ) temos ε(h) = ϕ(α)|t| e

|ε(h)| |ϕ(α)|
lim = lim = |ϕ(α)| =
6 0,
t→0 khk1 t→0 1 + |α||t|

o que é uma contradição. Portanto, f não é diferenciável em (0, 0).


(b) Se ψ(s) = s e ϕ(s) = 2s/(1 + s2 ), então

2y/x2 2yx2 |x|


f (x, y) = |x| = .
1 + y 2 /x4 x4 + y 2

(c) Consideremos ψ(s) ≡ 1 e ϕ a função caracterı́stica do intervalo [1, 2], isto é,
n
1 se 1 ≤ s ≤ 2
ϕ(s) =
0 senão

Então f não é contı́nua em (0, 0). De fato, para todo t > 0

f (t, 3t2 /2) = ϕ(3/2) = 1


f (t, t2 /2) = ϕ(1/2) = 0

No entanto f possui derivada direcional nula em qualquer direção. De fato, considere


u = (u1 , u2 ) um vetor unitário. Então, para todo λ > 0,

f (λu) − f (0) ϕ(u2 /λu21 )/λ se u1 6= 0
= (5.2)
λ 0 senão

Suponhamos u1 6= 0 e u2 > 0. Então, para λ > 0 suficientemente pequeno, temos


u2 /λu21 > 2 e consequentemente ϕ(u2 /λu21 ) = 0. Analogamente, se u2 ≤ 0 então
u2 /λu21 ≤ 0 e ϕ(u2 /λu21 ) = 0. Em qualquer dos casos (5.2) é nulo se λ > 0 é suficien-
temente pequeno.

Exercı́cio 5.2:
a) Considere f : Rn → R dada por f (x) = 12 kxk22 . Mostre que f é diferenciável e que
f ′ : Rn → Rn é a matriz identidade I.
b) Seja f : Rn → R dada por f (x) = p1 kxkpp , com 1 < p < ∞. Mostre que f é
diferenciável. Mostre que kf ′ (x)kqq = kxkpp , ∀x ∈ Rn e 1/p + 1/q = 1.
Solução: (a) f (x) = 12 kxk22 . Então

1 1 1
f (x + h) = kx + hk22 = kxk22 + hx : hi + khk22 .
2 2 2
Funções Diferenciáveis 59

Como h 7→ hx : hi é linear e ε(h) = 12 khk22 satisfaz

|ε(h)| 1
≤ khk2 → 0 quando h → 0,
khk2 2

concluı́mos da definição que f é diferenciável em x e f ′ (x)h = hx : hi para todo


h ∈ Rn , isto é, f ′ (x) = x. Portanto, f ′ : Rn → Rn é a função identidade.
(b) f (x) = 1p kxkpp = 1
p (|x1 |p + · · · + |xn |p ), 1 < p < +∞.
Consideremos incialmente a função ϕ: R → R definida por ϕ(s) = |s|p /p. É claro que
ϕ é derivável em R e

 sp−1 se s > 0
′ p−2
ϕ (s) = |s| s = 0 se s = 0

−(−s)p−1 se s < 0

Além disso, ϕ′ é contı́nua em R visto que estamos considerando p > 1.


Com as considerações acima, vemos que

∂f
(x) = ϕ(xi ) = |xi |p−2 xi
∂xi

é contı́nua em Rn . Portanto, pelo Teorema 5.12 (pag. 73), f é diferenciável em Rn e



f ′ (x) = ∇f (x) = |x1 |p−2 x1 , . . . , |xn |p−2 xn .

Seja q o conjugado de p, isto é, 1/q + 1/p = 1. Então q(p − 1) = p e

k∇f (x)kqq = |x1 |q(p−1) + · · · + |xn |q(p−1) = |x1 |p + · · · + |xn |p = kxkpp .

Exercı́cio 5.3: Sejam f, g: Rn → Rn funções diferenciáveis e considere




F (x) = f (x) : g(x) ,

onde h : i denota o produto escalar usual em Rn . Mostre que F é diferenciável e calcule


F ′ (x).
Solução: F (x) = hf (x) : g(x)i. Por hipótese

f (x + h) = f (x) + f ′ (x)h + ε1 (h)


g(x + h) = g(x) + g ′ (x)h + ε2 (h)

Vamos denotar por L e M respectivamente as matrizes associadas a f ′ (x) e g ′ (x).


Então
F (x + h) = hf (x) + Lh + ε1 (h) : g(x) + M h + ε2 (h)i
= hf (x) : g(x)i + hf (x) : M hi + hg(x) : Lhi + ε(h)
= F (x) + hM T f (x) + LT g(x) : hi + ε(h)
60 Cálculo Avançado

onde
ε(h) = hf (x) : ε2 (h)i + hLh : ε2 (h)i + hg(x) : ε1 (h)i +
+ hM h : ε1 (h)i + hLh : M hi + hε1 (h) : ε2 (h)i

Como a aplicação h 7→ hM T f (x) + LT g(x) : hi é linear, se concluirmos que

ε(h)
→0 quando h → 0,
khk2

então F é diferenciável em Rn e

F ′ (x) = M T f (x) + LT g(x) = [g ′ (x)]T f (x) + [f ′ (x)]T g(x).

Pela desigualdade de Cauchy-Schwarz, temos

|ε(h)|   kε (h)k
2 2
  kε (h)k
1 2
≤ kf (x)k2 + kLhk2 + kg(x)k2 + kM hk2 +
khk2 khk2 khk2
kε2 (h)k2
+ kε1 (h)k2 + kLkkM kkhk2
khk2

e a conclusão segue direto das hipóteses sobre ε1 e ε2 .

Exercı́cio 5.4: Seja A matriz n × n, g: Rn → R função diferenciável e defina


F (x) = g(Ax). Mostre que F ′ (x) = AT g ′ (Ax), ∀x, onde AT é a transposta de A.
1 2
Observe que, em particular, se F (x) = 2 kAxk2 , então F ′ : Rn → Rn é dada por
F ′ = AT A.
Solução: Por hipótese g(y + k) = g(y) + hg ′ (y) : ki + ε(k), para todo y, k ∈ Rn .
Tomemos y = Ax e k = Ah. Então,

F (x + h) = g(Ax + Ah) = g(Ax) + hg ′ (Ax) : Ahi + ε(Ah)


= F (x) + hAT g ′ (Ax) : hi + ε(Ah)

A aplicação h 7→ hAT g ′ (Ax) : hi é linear. Além disso,

|ε(Ah)| |ε(Ah)| kAhk


= (5.3)
khk kAhk khk

Como kkk = kAhk ≤ Ckhk, fica claro que k → 0 quando h → 0. Portanto, decorre de
(5.3) que
|ε(Ah)|
lim =0
h→0 khk

e concluı́mos que F é diferenciável e F ′ (x) = AT g ′ (Ax).


Funções Diferenciáveis 61

Exercı́cio 5.5: Seja F (x) = hAx : xi, ∀x ∈ Rn . Mostre que F ′ = AT + A. Calcule


G′ para G(x) = hAx : Bxi, A e B matrizes n × n.
Solução: F (x) = hAx : xi. Então,

F (x + h) = hAx, xi + hAx : hi + hAh : xi + hAh : hi

isto é, para ε(h) = hAh : hi podemos escrever

F (x + h) = F (x) + h(A + AT )x : hi + ε(h).

A aplicação h 7→ h(A + AT )x : hi é linear e

|ε(h)| ≤ kAhkkhk ≤ Ckhk2 .

Portanto, F é diferenciável e F ′ (x) = (A + AT )x.

Exercı́cio 5.6: Uma função f : Rn → R é p-homogênea se f (λx) = λp f (x), ∀λ > 0


e ∀x ∈ Rn .
a) Dê exemplo de função p-homogênea. Existe função p-homogênea descontı́nua?
b) Mostre que uma função 1-homogênea é diferenciável em x = 0 se, e somente se, é
linar.
c) Mostre que toda função p-homogênea diferenciável satisfaz a relação


x : ∇f (x) = pf (x).


Reciprocamente, se x : ∇f (x) = pf (x), ∀x ∈ Rn , então f é p-homogênea.
Solução: (a) Um exemplo de função p-homogênea: f (x) = kxkp . Consideremos n = 1
e suponhamos f (λx) = λp f (x) para todo x ∈ R e para todo λ > 0. Seja a = f (1) e
b = f (−1). Então, como necessariamente f (0) = 0, podemos escrever, para x 6= 0,
    
x p x a|x|p se x > 0
f (x) = f |x| = |x| f =
|x| |x| b|x|p se x < 0

concluı́mos que f é contı́nua se p > 0.


Consideremos n = 2 e a função f : R2 → R definida por
n p p
f (x, y) = |x| + |y| se xy ≥ 0
0 senão
Então f é p-homogênea e descontı́nua nos pontos da forma (x, 0) com x 6= 0 e (0, y)
com y 6= 0.
Aproveite este momento para pensar num exemplo de função p-homogênea definida
em R2 que seja contı́nua somente na origem.
(b) Se f é linear, então f é obviamente diferenciável em x = 0. Por outro lado, se f
é 1-homogênea e diferenciável em x = 0, temos f (0) = tf (0) para todo t > 0, o que
implica que f (0) = 0. Além disso,

tf (h) = f (th) = hf ′ (0) : thi + ǫ(th), ∀t > 0, ∀h ∈ Rn .


62 Cálculo Avançado

Portanto,
ǫ(th)khk
tf (h) − thf ′ (0) : hi = ǫ(th) ⇒ f (h) − hf ′ (0) : hi = → 0 quando t → 0.
kthk
Logo, f é linear.
(c) Suponhamos f diferenciável e p-homogênea. Para cada x ∈ Rn fixado, considere-
mos a função real ϕ: (0, +∞) → R definida por ϕ(s) = sp f (x).
É claro que ϕ′ (s) = psp−1 f (x). Por hipótese, ϕ(s) = f (sx) e como f é diferenciável,
temos da regra da cadeia

ϕ′ (s) = h∇f (sx) : xi, ∀s > 0.

Assim, psp−1 f (x) = h∇f (sx) : xi para todo s > 0. Tomando s = 1 obtemos

pf (x) = h∇f (x) : xi

como querı́amos.
Reciprocamente, suponhamos f : Rn → R diferenciável satisfazendo a propriedade

pf (x) = h∇f (x) : xi, ∀x ∈ Rn .

Novamente, consideremos a função ϕ(s) = f (sx) definida para s > 0. Então, pela
regra da cadeia,
1 1 p
ϕ′ (s) = h∇f (sx) : xi = h∇f (sx) : sxi = pf (sx) = ϕ(s),
s s s
isto é,
sϕ′ (s) − pϕ(s) = 0, s>0 (5.4)
Multiplicando ambos os lados de (5.4) por s−p−1 , temos

p ′ p−1 d  −p 
s ϕ (s) − ps ϕ(s) = s ϕ(s) = 0.
ds
Portanto existe uma constante C tal que s−p ϕ(s) = C para todo s > 0, isto é,
f (sx) = ϕ(s) = Csp , para todo s > 0. Tomando s = 1, obtemos f (x) = C. Assim,
f (sx) = f (x)sp para todo s > 0, o que significa dizer que f é p-homogênea.
Observação: Se você acha que multiplicar a equação (5.4) por s−p−1 é artificioso
demais, escreva (5.4) na forma

ϕ′ (s) p d d
= ⇐⇒ ln |ϕ(s)| = p ln s.
ϕ(s) s ds ds

Portanto, existe a ∈ R tal que ln |ϕ(s)| = p ln s + a = ln sp + a. Calculando a expo-


nencial de ambos os lados da igualdade acima, obtemos

|ϕ(s)| = ea sp = Csp

e re-encontramos o caso anterior.


Funções Diferenciáveis 63

Exercı́cio 5.7: Sabemos que o TVM é válido para funções diferenciáveis de Rn em


R, isto é; se x1 , x0 ∈ Rn , então existe t ∈ ]0, 1[ tal que


f (x1 ) − f (x0 ) = f ′ (xt )(x1 − x0 ) = ∇f (xt ) : x1 − x0 ,
onde xt = x0 + t(x1 − x0 ).
a) Verifique que o TVM não vale para funções de Rn em Rm se m > 1.
b) Mostre que vale a Desigualdade do Valor Médio: se f : Rn → Rn , então
kf (x1 ) − f (x0 )k2 ≤ kf ′ (xt )(x1 − x0 )k2 .
Em particular, vale a desigualdade
kf (x1 ) − f (x0 )k2 ≤ kf ′ (xt )kk(x1 − x0 )k2 ,
onde estamos denotando
kf ′ (x)k = sup{kf ′ (x)hk2 ; khk2 = 1}.


Sug.: Considere h(t) = f (x0 + t(x1 − x0 )) : f (x1 ) − f (x0 ) .
Solução: (a) Seja f : R → R2 , f (t) = (t2 , t3 ). Supondo a validade do TVM para f ,
existiria t ∈ (0, 1) tal que f (1) − f (0) = f ′ (t), isto é,
   
1 2t
=
1 3t2
o que é impossı́vel.
Analogamente, se considerarmos g: R2 → R2 definida por g(x, y) = (x2 + y 2 , x3 + y 3 )
e supondo a validade do TVM, terı́amos que, para algum t ∈ (0, 1), g(1, 1) − g(0, 0) =
g(t, t)(1, 1), isto é     
2 2t 2t 1
=
2 3t2 3t2 1
o que é impossı́vel.
(b) Dados x0 , x1 ∈ Rn , consideremos
h(t) = hf (x0 + t(x1 − x0 )) : f (x1 ) − f (x0 )i.
Então é fácil ver que
h(1) = hf (x1 ) : f (x1 ) − f (x0 )i
h(0) = hf (x0 ) : f (x1 ) − f (x0 )i
de modo que h(1) − h(0) = kf (x1 ) − f (x0 )k22 .
Como h é função real diferenciável (como composta de funções diferenciáveis), existe
t ∈ (0, 1) tal que h(1) − h(0) = h′ (t), ist é,
kf (x1 ) − f (x0 )k22 = hf (xt )(x1 − x0 ) : f (x1 ) − f (x0 )i,
onde xt = x0 + t(x1 − x0 ) e f ′ (xt ) é a matriz jacobiana de f no ponto xt .
Da desigualdade de Cauchy-Schwarz, obtemos
kf (x1 ) − f (x0 )k22 ≤ kf (xt )(x1 − x0 )k2 kf (x1 ) − f (x0 )k2 ,
de modo que, após simplificação, obtemos a desigualdade do valor médio
kf (x1 ) − f (x0 )k2 ≤ kf (xt )(x1 − x0 )k2 .
64 Cálculo Avançado

Exercı́cio 5.8: Seja B = B1 (0) a bola unitária de Rn e f : B → B uma função de


classe C 1 . Suponha que existe α > 0 tal que kf ′ (x0 )hk2 ≤ αkhk2 , ∀h ∈ Rn . Prove
que
kf (x) − f (y)k2 ≤ αkx − yk2 , ∀x, y ∈ B.

Solução: Sejam x, y ∈ B. Então, pelo Exercı́cio 5.7,

kf (x1 ) − f (x0 )k2 ≤ kf ′ (xt )(x1 − x0 )k2 .

Como B é convexo, xt = x0 + t(x1 − x0 ) ∈ B. Logo, por hipótese,

kf (x1 ) − f (x0 )k2 ≤ kf ′ (xt )(x1 − x0 )k2 ≤ αkx1 − x0 k2

como querı́amos demonstrar.

Exercı́cio 5.9: Seja f : Rn → Rm função de classe C 1 . Mostre que:


Z 1
f (x0 + h) − f (x0 ) = f ′ (x0 + th)h dt.
0

Obs.: Se γ(t) = γ1 (t), . . . , γm (t) , define-se
Z b Z b Z b 
γ(t) dt = γ1 (t) dt, . . . , γm (t) dt (5.5)
a a a

Solução: f : Rn → Rm , f = (f1 , . . . , fm ). Como f é diferenciável, cada componente


fj é diferenciável. Vamos mostrar que, para todo j = 1, . . . , m, vale a igualdade
Z 1
fj (x + h) − fj (x) = h∇fj (x + th) : hi dt.
0

Seja γ(t) = fj (x + th). Então γ é função real diferenciável e, pela regra da cadeia,

γ ′ (t) = h∇fj (x + th) : hi.

Além disso, sendo f de classe C 1 , γ ′ (t) é função contı́nua e


Z 1 Z 1

fj (x + h) − fj (x) = γ(1) − γ(0) = γ (t) dt = h∇fj (x + th) : hi dt.
0 0

Lembrando que  
· · · ∇f1 (x + th) · · ·
[f ′ (x + th)] =  · · · ··· ···
· · · ∇fm (x + th) · · ·
a conclusão segue da definição (5.5).
Funções Diferenciáveis 65

Exercı́cio 5.10: Seja f : R2 \ {0} → R2 contı́nua satisfazendo:


(1) x e f (x) são linearmente dependentes para todo x ∈ R2 \ {0}.
(2) kxk2 kf (x)k2 = 1, ∀x ∈ R2 \ {0}.

a) Determine f (x). Mostre que f é diferenciável e determine f ′ (x).


b) Se C ⊂ R2 é uma circunferência que não passa pela origem, determine f (C).
Quem é f (C) se C passa pela origem?
Solução: (a) É claro que se x e f (x) são vetores linearmente dependentes de Rn ,
existe λ(x) ∈ R tal que f (x) = λ(x)x. Assim, kf (x)k = |λ(x)|kxk. Pela propriedade
(2), obtemos |λ(x)|kxk2 = 1, isto é,

1
|λ(x)| =
kxk2

e consequentemente
x
f (x) = ± . (5.6)
kxk2
Como f é contı́nua, então somente uma das possibilidades ocorre:
x x
f (x) = ou f (x) = −
kxk2 kxk2

Fixemo-nos no primeiro caso, o outro é idêntico. Para n = 2 e supondo a norma


euclidiana k k2 , temos
 
x1 x2
f (x1 , x2 ) = , .
x21 + x22 x21 + x22

Calculando as derivadas parciais de f , temos


 2 
x2 −x21 −2x1 x2
(x21 +x22 )2 (x21 +x22 )2
[f ′ (x1 , x2 )] =  x21 −x22

−2x1 x2
(x21 +x22 )2 (x21 +x22 )2

Como as derivadas parciais acima são funções contı́nuas em R2 \ {(0, 0)}, concluı́mos
que f é diferenciável em R2 \ {(0, 0)}.
(b) Seja inicialmente C uma circunferência de centro em x0 passando pela origem.
Então 
C = x ∈ R2 ; kx − x0 k = kx0 k .
Mas kx − x0 k2 = kx0 k2 se e somente se 2hx : x0 i = kxk2 ou equivalentemente
 
x 1
2
: x0 =
kxk 2

que podemos escrever na forma


 
x 1 x0
2
− : x0 = 0.
kxk 2 kx0 k2
66 Cálculo Avançado

Como y ∈ R2 ; hy − y0 : x0 i = 0 é a reta que passa por y0 e é ortogonal a x0 ,
podemos concluir que f (C) é a reta que passa por f (x0 )/2 e é ortogonal a x0 .
Observe que os argumentos utilizados acima não se restrigem a n = 2. De fato, se C
é a fronteira de uma bola de Rn que passa pela origem com centro em x0 , então f (C)
é um hiperplano que passa por f (x0 )/2 e é ortogonal a x0 .
Consideremos agora C uma circunferência que não passa pela orgem. Então

C = x ∈ R2 ; kx − x0 k = r ,
onde r 6= kx0 k.
Afirmativa: f (C) é uma circunferência.
Se x0 = 0 verificamos facilmente que

f (C) = x ∈ R2 ; kxk = 1/r ,
isto é, f (C) também é uma circunferência com centro em 0.
Vamos agora provar a afirmativa no caso x0 6= 0. Consideremos
r r
x1 = (1 + )x0 , x2 = (1 − )x0 .
kx0 k kx0 k
Então,
x0 x0
f (x1 ) = , f (x2 ) = .
kx0 k(kx0 k + r) kx0 k(kx0 k − r)
O ponto médio do segmento que liga f (x1 ) a f (x2 ) é
 
1
x= x0 .
kx0 k2 − r 2
Assim, para que F (C) seja uma circunferência, o centro deverá ser x e o raio
1 r
R= kf (x1 ) − f (x2 )k = .
2 kx0 k2 − r 2
Vamos então verificar que, de fato, f (C) é uma circurferência de raio R e centro em x
definidos acima.
2
x x0
2
kf (x) − xk = −
kxk2 kx0 k2 − r 2
(5.7)
1 2hx : x0 i kx0 k2
= − + .
kxk2 kxk2 (kx0 k2 − r 2 ) (kx0 k2 − r 2 )2
Como x ∈ C se e somete se 2hx : x0 i = kx0 k2 − r 2 + kxk2 , obtemos de (5.7)
 2
2 r
kf (x) − xk =
kx0 k2 − r 2
como querı́amos provar.
Nunca é demais observar que os argumentos usados não se restringem à dimensão
n = 2. De fato, se C é a fronteira da bola de Rn de centro em x0 e raio r 6= kx0 k,
então f (C) é a fronteira da bola de centro em x e raio R definidos acima.
Funções Diferenciáveis 67

Exercı́cio 5.11: Seja V = Mn×n o espaço das matrizes n × n munido da norma


induzida (veja (4.16)) por uma norma qualquer de Rn . Considere f : V → V a função
definida por f (X) = X 2 . Mostre que f é diferenciável em V e calcule f ′ (X)H para
toda H ∈ V . Cuidado! f ′ (X) 6= 2X. Faça o mesmo para f (X) = X 3 .
Solução: Consideremos em V a norma

kAk∗ = max{kAxk2 ; kxk2 = 1}.

Então (veja Exercı́cio 4.17 (2d)), kABk∗ ≤ kAk∗ kBk∗ , para quaisquer A, B ∈ V .
Consideremos f : V → V definida por f (X) = X 2 . Então podemos escrever

f (X0 + H) = (X0 + H)2 = X02 + X0 H + HX0 + H 2 .

Consideremos L(H) = X0 H + HX0 e ε(H) = H 2 . É claro que L(H) é linear e

kε(H)k∗ = kH 2 k∗ ≤ kHk2∗ ,

o que implica
kε(H)k∗
0≤ ≤ kHk∗
kHk∗
de onde concluı́mos que f é diferenciável em X0 e f ′ (X0 )H = X0 H + HX0 para todo
H ∈V.
Analogamente, se f (X) = X 3 , então

f (X0 + H) = X03 + X02 H + X0 HX0 + X0 H 2 + HX02 + HX0 H + H 2 X0 + H 3 .

Consideremos
L(H) = X02 H + X0 HX0 + HX02
ε(H) = X0 H 2 + HX0 H + H 2 X0 + H 3
É claro que L: V → V é linear e

kε(H)k∗ ≤ 3kX0 k∗ kHk2∗ + kHk3∗

e concluı́mos que f é diferenciável em X0 com f ′ (X0 ) = L.

Exercı́cio 5.12: Seja Ω aberto de Rn e f : Ω → Rm uma função de classe C 1 em


Ω. Mostre que ε: Ω × Rn → Rm definida por

ε(x, h) := f (x + h) − f (x) − f ′ (x)h

é contı́nua em Ω × Rn . Mostre também que


kε(x, h)k
lim =0
h→0 khk
uniformemente nos compactos de Ω. Mais precisamente, mostre que se K ⊂ Ω é um
conjunto compacto e ε > 0, então existe δ > 0 (independente de x ∈ K) tal que
kε(x, h)k
khk < δ =⇒ < ε, ∀x ∈ K. (5.8)
khk
68 Cálculo Avançado

Solução: Sejam x0 ∈ Ω e h0 ∈ Rn tal que x0 +h0 ∈ Ω. Consideremos {xk }k sequência


de pontos de Ω e {hk }k sequência em Rn tais que

xk → x0 e hk → h0 .

Como f é de clase C 1 , f ′ é contı́nua em x0 . Portanto,

f ′ (xk ) n→+∞ f ′ (x0 ).


−→

Além disso, como f é contı́nua, f (xk ) → f (x0 ). Assim

ε(xk , hk ) n→+∞ ε(x0 , h0 ).


−→


Seja K ⊂ Ω um conjunto compacto com interior não vazio e x ∈K. Para h suficiente-
mente pequeno, temos
Z 1
f (x + h) − f (x) = f ′ (x + sh)h ds,
0

de modo que
Z 1
ε(x, h) = [f ′ (x + sh) − f ′ (x)]h ds.
0

Assim,
Z 1 
′ ′
kε(x, h)k2 ≤ kf (x + sh) − f (x)k ds khk2 .
0

Dividindo ambos os lados da desigualdade acima por khk2 , obtemos


Z 1
kε(x, h)k2
≤ kf ′ (x + sh) − f ′ (x)k ds. (5.9)
khk2 0

Como f ′ é uniformemente contı́nua em K, dado ε > 0 existe δ > 0 (independente de


x ∈ K) tal que

khk2 < δ ⇒ kf ′ (x + h) − f ′ (x)k < ε, ∀x ∈ K.

Como kshk2 ≤ khk2 para todo s ∈ [0, 1], temos de (5.9)

kε(x, h)k2
< ε se khk2 < δ, ∀x ∈ K.
khk2
Funções Diferenciáveis 69

Exercı́cio 5.13: Seja Ω aberto de R2 e f : Ω → R uma função de classe C 1 em Ω.


Seja R ⊂ Ω o retângulo R = [a, b] × [c, d]. Considere g: [a, b] → R definida por
Z d
g(x) = f (x, y) dy.
c

Mostre que g é diferenciável em ]a, b[ e que para todo x0 ∈ ]a, b[,


Z d
′ ∂f
g (x0 ) = (x0 , y) dy.
c ∂x

Solução: Seja
Z d Z d Z d
∂f
ε(h) = f (x0 + h, y) dy − f (x0 , y) dy − h (x0 , y) dy.
c c c ∂x

Para provar que g(x) é derivável em x0 , basta mostrar que |ε(h)|/h tende para zero
quando h tende para zero.
Como a aplicação t 7→ f (x0 + th, y) é de clase C 1 no intervalo [0, 1], temos
Z 1
∂f
f (x0 + h, y) − f (x0 , y) = h (x0 + th, y) dt.
0 ∂x

Portanto, Z 
Z d 1 ∂f ∂f
|ε(h)| = |h| (x + th, y) − (x , y) dt dy. (5.10)
∂x 0
∂x
0
c 0

Como f é de classe C 1 , a aplicação (x, y) 7→ ∂f ∂x


(x, y) é uniformemente contı́nua em
[a, b] × [c, d]. Portanto, dado ε > 0 existe δ > 0 (independente de y) tal que se |h| < δ
então
∂f ∂f
(x + th, y) − (x , y) < ε , ∀y ∈ [c, d]. (5.11)
∂x 0
∂x
0 d−c

Dividindo ambos os lados da desigualdade (5.10) por |h| e considerando (5.11), con-
cluı́mos
|ε(h)|
< ε se |h| < δ.
|h|

Exercı́cio 5.14: Calcule PC (x) e f (x) definida por (5.19) (pag. 91 do livro texto)
para cada um dos seguintes convexos:
(a) C = [0, +∞[;
(b) C = [0, 1];
(c) C = [0, +∞[ ×[0, +∞[
(d) C = BR (0) a bola de raio R e centro em zero de Rn .
Descreva o operador de projeção PC nos três primeiros casos acima usando a notação

x + |x|
x+ = max{x, 0} = .
2
70 Cálculo Avançado

Solução: (a) C = [0, +∞). Então


n
0 se x < 0
PC (x) =
x se x ≥ 0

e o potencial correspondente é

0 se x < 0
f (x) =
x2 /2 se x ≥ 0

(b) C = [0, 1]. Então


(
0 se x < 0
PC (x) = x se 0 ≤ x ≤ 1
1 se x > 1
e o potencial correspondente é

0 se x < 0
f (x) = x2 /2 se 0 ≤ x ≤ 1
x − 1 se x > 1
2

Considerando x+ = max{x, 0} = (x + |x|)/2, temos no caso (a)

x + |x| 1 + 2 (x + |x|)2
PC (x) = x+ = e f (x) = (x ) =
2 2 8

e no caso (b)

+ + 1 x + |x| x + |x| − 2
+
PC (x) = x − (x − 1) = + − .
2 4 4

(c) C = [0, +∞) × [0, +∞) (C é o primeiro quadrante de R2 ). Então,

1 
PC (x, y) = (x+ , y +) e f (x, y) = (x+ )2 + (y + )2 .
2

(d) C = BR (0) ( a bola de raio R e centro na origem em relação à norma euclidiana).


Então 
x se kxk2 ≤ R
PC (x) =
Rx/kxk2 se kxk2 > R

e o potencial correspondente é

kxk22 /2 se kxk2 ≤ R
f (x) = 2
Rkxk2 − R /2 se kxk2 > R
Funções Diferenciáveis 71

Exercı́cio 5.15: Seja f : U ⊂ Rn → R função Lipschitz, U aberto e x0 ∈ U .


Suponha que, para todo h ∈ Rn , existe o limite
f (x0 + λh) − f (x0 )
g(h) = lim (5.12)
λ→0+ λkhk
e que a aplicação g: Rn → R definida por (5.12) é linear em h. Mostre que f é
diferenciável em x0 .
Solução: Primeiramente observe que
∂f
g(h) = (x0 ), ν = h/khk.
∂ν
Por hipótese g é linear na variável h. Portanto, existem constantes α1 , . . . , αn tais que
n
X
g(h) = αj hj .
j=1

No caso particular em que h = ei , temos


∂f
(x0 ) = αi .
∂xi
Logo, as derivadas parciais de f em x0 existem e

g(h) = h∇f (x0 ) : hi, ∀h ∈ Rn

Para provarmos que f é diferenciável em x0 , basta mostrar que

ε(h) = f (x0 + h) − f (x0 ) − h∇f (x0 ) : hi

satisfaz a propriedade
ε(h)
lim = 0. (5.13)
h→0 khk

Suponhamos por absurdo que (5.13) é falso, isto é, existe ε0 > 0 e uma sequência {hk }
que tende a zero tal que
|ε(hk )|
≥ ε0 . (5.14)
khk k
Seja hk = λk νk , onde kνk k = 1. Então
ε(hk ) f (x0 + λk νk ) − f (x0 )
= − h∇f (x0 ) : νk i.
λk λk
Como a esfera unitária S = {ν ∈ Rn ; kνk = 1} é compacta, podemos supor sem perda
de generalidade que {νk }k converge para ν ∈ S. Logo,
ε(hk ) f (x0 + λk νk ) − f (x0 )
= − h∇f (x0 ) : νk i
λk λk
f (x0 + λk νk ) − f (x0 + λk ν) f (x0 + λk ν) − f (x0 )
= +
λk λk
− h∇f (x0 ) : νi − h∇f (x0 ) : νk − νi
72 Cálculo Avançado

Como estamos supondo f Lipschitz, existe C > 0 tal que |f (x0 +λk νk )−f (x0 +λk ν)| ≤
Cλk kνk − νk. Portanto

ε(hk ) f (x0 + λk ν) − f (x0 )
≤ Ckνk − νk + − h∇f (x ) : νi
λk λk
0 (5.15)
+ k∇f (x0 )kkνk − νk.
Como o lado direito de (5.15) tende a zero quando n tende a infinito, (5.15) entra
em contradição com (5.14). Consequentemente vale (5.13) e concluı́mos que f é difer-
enciável em x0 .
Exercı́cio 5.16: (a) Verifique diretamente a fórmula no caso n = 2, calculando a
derivada do determinante

det A(t) = a11 (t)a22 (t) − a12 (t)a21 (t).
(b) Seja A(t) matriz n × n. Calcule
!
d 1
 .
dt det A(t)

Solução: (a) Se g(A) = det(A) e A invertı́vel, então g ′ (A)H = tr(A−1 H) det(A), para
toda matriz H. Pela Regra da Cadeia, temos
d  
g A(t) = g ′ (A)A′ (t) = tr A(t)−1 A′ (t) det A(t).
dt
No caso particular n = 2, temos
d 
det A(t) = a′11 (t)a22 (t) + a11 (t)a′22 (t) − a′12 (t)a21 (t) − a12 (t)a′21 (t)
dt  ′  
a11 (t) a′12 (t) a22 (t) −a12 (t)
= tr
a′12 (t) a′21 (t) −a21 (t) a11 (t)

= tr A′ (t)A−1 (t) det(A(t)).
(b) Para simplificar a notação, não explicitaremos a variável t. Assim, pela regra da
cadeia,
d 1 g ′ (A)A′ tr(A−1 A′ ) det(A) tr(A−1 A′ )
=− =− =− . (5.16)
dt g(A) g(A)2 det(A)2 det(A)
Observação: Vale lembrar que det(A−1 ) = 1/ det(A). Assim, aplicando a regra da
cadeia na função t 7→ det A−1 (t) , obtemos
d 
det(A−1 ) = det(A−1 ) tr A(A−1 )′ . (5.17)
dt
Como veremos adiante (veja Exercı́cio 10.10(iii)), se A é invertı́vel, a função A 7→ A−1
é difereciável como função definida no espaço das matrizes, cuja diferencial em A é
dada por H 7→ −A−1 HA−1 . Portanto, aplicando a regra da cadeia em (5.17), temos
d  
det(A−1 ) = det(A−1 ) tr A(A−1 )′ = det(A−1 ) tr −AA−1 A′ A−1 )
dt
 tr A−1 A′ )
= − det(A−1 ) tr A′ A−1 ) = −
det(A)
Funções Diferenciáveis 73

Exercı́cio 5.17: Seja M2×2 (R) o espaço das matrizes quadradas de ordem 2 e
considere a função
g : M2×2 (R) → R, g(A) = det(A).
Seja f : M2×2 (R) → M2×2 (R) definida por
   
a b d −b
A= 7→ f (A) = . (5.18)
c d −c a

Mostre que 
g(A + H) = g(A) + tr f (A)H + det(H),
e conclua que g é diferenciável, com g ′ (A) = f (A)T . Observe que se det(A) 6= 0, então
f (A) = det(A)A−1 .
Solução: Seja H a matriz com coeficientes hij , i, j = 1, 2. Calculando diretamente,
obtemos

det(A + H) = (d + h22 )(a + h11 ) + (c + h21 )(−b − h12 )


= (ad − bc) + (h11 h22 − h12 h21 ) + (ah22 + dh11 − ch12 − bh21 )

= det(A) + det(H) + tr f (A)H .
 
Como det(A) = o kHk e a aplicação H 7→ tr f (A)H 
é linear, concluı́mos por
definição que g é diferenciável e g ′ (A)H = tr f (A)H = f (A)T : H .

Exercı́cio 5.18: Seja A0 ∈ M2×2 (R). Suponha que A0 admite dois autovalores
reais λ1 (A0 ) 6= λ2 (A0 ).
(a) Mostre que existe δ > 0 tal que se A ∈ M2×2 (R) e kA − A0 k < δ, então A admite
dois autovales λ1 (A) e λ2 (A) reais e distintos.
(b) Mostre que a aplicação A 7→ λi (A) é diferenciável na bola Bδ (A0 ) e calcule as
derivadas λ′i (A), i = 1, 2.
(c) Usando o item (b), mostre que
 ∂ ∂ 
  λi (A) λi (A)
a b ′  ∂a ∂b 
A= ⇒ λi (A) =  
c d ∂ ∂
λi (A) λi (A)
∂c ∂d

Solução: (a) Como estamos em dimensão 2, a equação caracterı́stica de A0 é

λ2 − tr(A0 )λ + det(A0 ) = 0,

cujas raı́zes são

1 p
2

λ1 (A0 ) = tr(A0 ) + tr(A0 ) − 4 det(A0 ) ,
2 (5.19)
1  p 
λ2 (A0 ) = 2
tr(A0 ) − tr(A0 ) − 4 det(A0 ) .
2
74 Cálculo Avançado

Como por hipótese A0 tem dois autovalores reais e distintos, tr(A0 )2 − 4 det(A0 ) > 0.
Da continuidade das funções determinante e traço, podemos garantir que existe δ
satisfazendo as condições do item (a).
(b) Consideremos a função λ1 (A) em (5.19) definida na bola Bδ (A0 ). Pela regra da
cadeia e o Exercı́cio 5.17, temos que λ1 (A) é diferenciável Bδ (A0 ) e
" #
1 2 tr(A) tr(H) − 4 tr(f (A)H)
λ′1 (A)H = tr(H) + p ,
2 2 tr(A)2 − 4 det(A)
ou equivalentemente,
  −1/2  
′ 1 2 T
λ1 (A) = I + tr(A) − 4 det(A) tr(A)I − 2f (A) , (5.20)
2
onde f (A) é definida em (5.18).
Pela semelhança das fórmulas, é imediato verificar que
  −1/2  
′ 1 2 T
λ2 (A) = I − tr(A) − 4 det(A) tr(A)I − 2f (A) .
2
(c) Vamos expressar a fórmula (5.20) em termos de coordenadas. Então
  (
a b tr(A) = a + d,
A= ⇒
c d det(A) = ad − bc
Então p
(a + d) + (a + d)2 − 4(ad − bc)
λ1 (A) = .
2
Reescrevendo a fórmula (5.20) em termos das coordenadas a, b, c e d, e lembrando que
   
a b T d −c
A= ⇒ f (A) = ,
c d −b a
obtemos    
′ 1 1 0  2
−1/2 a − d 2c
λ1 (A) = + (a + d) − 4(ad − bc) . (5.21)
2 0 1 2b d−a
Calculando diretamente as derivadas parciais de λ1 (A), temos
∂ 1h  −1/2 i
λ1 (A) = 1 + (a + d)2 − 4(ad − bc) (a − d)
∂a 2
∂ 1h  −1/2 i
λ1 (A) = 0 + (a + d)2 − 4(ad − bc) 2c
∂b 2 (5.22)
∂ 1h  2
−1/2 i
λ1 (A) = 0 + (a + d) − 4(ad − bc) 2b
∂c 2
∂ 1h  −1/2 i
λ1 (A) = 1 + (a + d)2 − 4(ad − bc) (d − a)
∂b 2
De (5.21) e (5.22), vemos que
 ∂ ∂ 
λ1 (A) λ1 (A)
 ∂a ∂b 
λ′1 (A) =  
∂ ∂
λ1 (A) λ1 (A)
∂c ∂d
É evidente que a mesma expressão acima vale para λ′2 (A), com uma única diferença
de sinal que antecede o fator que envolve a potência −1/2 em (5.21).
6
Curvas em Rn
Exercı́cio 6.1: Seja γ: [0, +∞[ → R3 definida por

γ(t) = (e−t cos t, e−t sen t, e−t ).

Mostre que γ é retificável e calcule seu comprimento.


Solução: γ é curva de classe C 1 em [0, +∞) e

γ ′ (t) = (−e−t cos t − e−t sen t, −e−t sen t + e−t cos t, −e−t ),

de modo que kγ ′ (t)k2 = 3e−t .
Pela Proposição 6.1 (pag. 61 do livro texto), γ é retificável no intervalo [0, T ], para
cada T > 0 e Z T

√ Z T −t √
kγ (t)k2 dt = 3 e dt = 3(1 − e−T ).
0 0

Como Z T √
lim kγ ′ (t)k2 dt = 3,
T →+∞ 0

concluı́mos que γ é retificável no intervalo [0, +∞) e seu comprimento é igual a 3.

Exercı́cio 6.2: Dê exemplo de uma curva γ: [0, 1] → R2 , ligando dois pontos de R2
que não seja retificável.
Solução: Consideremos a curva γ: [0, 1] → R2 definida por

γ(t) = (t, t sen( 1t )) se t 6= 0
0 se t = 0

Primeiramente observe
1 2
sen = 1 ⇐⇒ t = , k = 0, 1, 2, . . .
t (4k + 1)π
1 2
sen = −1 ⇐⇒ t = , k = 1, 2, 3, . . .
t (4k − 1)π
76 Cálculo Avançado

Para n ∈ N, consideremos a partição P de [0, 1] definida por


 
2 2 2 2 2
P = 0< < < < ··· < < 1 ,
(4n + 1)π (4n − 1)π (4n − 3)π (4n − 5)π π

que divide o intevalo [0, 1] em 2n + 2 partes. Para simplificar a notação, consideremos


2 2
t−
k = , t+
k = , k = 1, 2, . . . , n.
(4k − 1)π (4k + 1)π

Então γ(t+ + + − − −
k ) = (tk , tk ) e γ(tk ) = (tk , −tk ), de modo que
q p
4
kγ(tk ) − γ(tk )k2 = (t+
+ − − 2 + − 2
k − tk ) + (tk + tk ) = 1 + 16k 2 .
π(16k 2 − 1)

Xn n √
+ − 4 X 1 + 16k 2
kγ(tk ) − γ(tk )k2 = .
π 16k 2 − 1
k=1 k=1

Observando que 1 + 16k 2 ≥ 4k e 16k 2 − 1 ≤ 16k 2 para todo k ∈ N, concluı́mos que
n
X n
1X1
kγ(t+
k) − γ(t−
k )k2 ≥
π k
k=1 k=1
P
Como a série harmônica 1/k é divergente, a curva γ não é retificável.

Exercı́cio 6.3: Uma partı́cula se move no plano (resp. no espaço) e sua trajetória
é descrita por

γ(t) = (1 − t)2 x1 + 2t(1 − t)x2 + t2 x3 , t ∈ [0, 1], (6.1)

onde x1 , x2 e x3 são pontos dados de R2 (resp. R3 ).


a) Descreva o movimento da partı́cula, fazendo um esboço da trajetória.
b) Calcule γ ′ (0) e γ ′ (1).
c) Se x1 , x2 e x3 não são colineares, mostre que γ(t) está contido no triângulo com
vértices em x1 , x2 e x3 .
Solução: (a) Vamos definir x(t) = (1 − t)x1 + tx2 e y(t) = (1 − t)x2 + tx3 . x(t) e
y(t) parametrizam os segmentos de reta que ligam x1 a x2 e x2 a x3 respectivamente.
Para simplificar a notação, escreveremos

[x1 , x2 ] = {x(t) ; t ∈ [0, 1]}.

Fixemos t ∈ (0, 1) e consideremos z(s) = (1−s)x(t)+sy(t), s ∈ [0, 1]. z(s) parametriza


o segmento de reta [x(t), y(t)]. Observe agora que se tomarmos s = t, então z(t) = γ(t).
Portanto, γ(t) é o ponto de [x(t), y(t)] que está distante das extremidades na mesma
proporção com que x(t) está distante das extremidades de [x1 , x2 ] e y(t) está distante
das extremidades [x2 , x3 ]. Mais precisamente,

kγ(t) − x(t)k2 kx(t) − x1 k2 ky(t) − x2 k2


= = = t.
ky(t) − x(t)k2 kx2 − x1 k2 kx3 − x2 k2
n
Curvas em R 77

(b) γ ′ (0) = 2x2 −2x1 e γ ′ (1) = 2x3 −2x2 . Isso quer dizer que se uma partı́cula se move
no plano (ou no espaço) e seu movimento é descrito por γ(t), então sua velocidade no
instante t = 0 é 2(x2 − x1 ). em particular, a trajetória é tangente ao segmento [x1 , x2 ]
no ponto x1 . Analogamente, a velocidade no instante t = 1 é 2(x3 − x2 ) e a trajetória
é tantente ao segmento [x2 , x3 ] no ponto x3 .
(c) Se x1 , x2 e x3 não são colineares, podemos considerar o triângulo ∆ (no plano ou
o espaço) cujos vértices coincidem com esses pontos. Como ∆ é o cojunto de todas as
combinações convexas de x1 , x2 e x3 , temos

x ∈ ∆ ⇐⇒ x = λ1 x1 + λ2 x2 + λ3 x3 , λ1 + λ2 + λ3 = 1, λj ∈ [0, 1].

Como (1 − t)2 + 2t(1 − t) + t2 = 1, com cada uma das parcelas no intervalo [0, 1] se
t ∈ [0, 1], constatamos que γ(t) ∈ ∆, isto é, a curva está contida no triângulo ∆.

Exercı́cio 6.4: O mesmo do exercı́cio anterior para a partı́cula cuja trajetória é


descrita por

γ(t) = (1 − t)3 x1 + 3t(1 − t)2 x2 + 3t2 (1 − t)x3 + t3 x4 . (6.2)

Solução: Primeiramente observe que γ(t) = (1 − t)x(t) + ty(t), onde

x(t) = (1 − t)2 x1 + 2t(1 − t)x2 + t2 x3


y(t) = (1 − t)2 x2 + 2t(1 − t)x3 + t2 x4

Portanto, γ(t) é a combinação convexa de duas curvas de Bézier (de ordem 2). Observe
que, no caso R2 , x(t) está contida no triângulo de vértices x1 , x2 e x3 , enquanto que
y(t) está contida no triângulo de vértices x2 , x3 e x4 . Como o quadrilátero formado
pelos quatro pontos contém os dois triângulos, concluı́mos que γ(t) está contida neste
quadrilátero.

Exercı́cio 6.5: Seja Ω aberto e conexo de Rn . (a) Mostre que se x e y são dois
pontos quaisquer de Ω, existe uma curva ligando x a y totalmente contida em Ω.
(b) Mostre que existe uma curva poligonal ligando x a y totalmente contida em Ω.
Solução: (a) Seja x0 ∈ Ω e considere o conjunto

A = y ∈ Ω ; y não pode ser ligado a x0 por uma curva .

Queremos mostrar que A = ∅.


Suponhamos por absurdo que A 6= ∅. Se A e Ω \ A forem abertos, chegamos a uma
contradição, pois estamos supondo Ω é conexo.
Provemos primeiramente que Ω \ A é aberto. Se x1 ∈ Ω \ A, existe uma curva γ1
ligando x0 a x1 inteiramente contida em Ω, isto é, existe γ1 : [0, 1] → Ω contı́nua tal
que γ(0) = x0 e γ(1) = x1 . Como Ω é aberto, existe r > 0 tal que Br (x1 ) ⊂ Ω. É
claro que qualquer ponto x2 ∈ Br (x1 ) pode ser ligado a x1 por um segmento de reta

γ2 : [0, 1] → Br (x1 ), γ2 (s) = (1 − s)x1 + sx2 .


78 Cálculo Avançado

Consideremos a função γ: [0, 2] → Ω definida por



γ1 (t) se t ∈ [0, 1]
γ2 (t) =
(2 − t)x1 + (t − 1)x2 se t ∈ [1, 2]

Como γ2 é uma curva que liga x0 a x2 , concluı́mos que x2 ∈ / A. Portanto, Br (x1 ) não
contém nenhum ponto de A, isto é, Br (x1 ) ⊂ Ω \ A, o que prova que Ω \ A é conjunto
aberto.
Provemos agora que A é aberto. Seja y1 ∈ A. Por definição, y1 não pode ser ligado
a x0 por nunhuma curva. Mas y1 ⊂ Ω e Ω é aberto, de modo que podemos encontrar
r > 0 tal que Br (y1 ) ⊂ Ω. É claro que Br (y1 ) não contém pontos de Ω \ A. De fato,
se y2 ∈ Br (y1 ) ∩ (Ω \ A), existiria uma curva γ ligando x0 a y2 que poderı́amos colar
com um segmento de reta para formar uma curva ligando x0 a y1 .
Portanto Br (y1 ) ⊂ A, como querı́amos provar.
(b) Sejam x1 e x2 dois pontos de Ω. Pelo item (a) existe uma curva γ: [0, 1] → Ω tal
que γ(0) = x0 e γ(1) = x1 . Como γ é contı́nua e o intervalo [0, 1] é compacto, γ [0, 1]
é subconjunto compacto contido em Ω.
Para cada t ∈ [0, 1] seja rt > 0 tal que Brt (γ(t)) ⊂ Ω. É claro que a famı́lia de bolas

{Brt (γ(t))}t∈[0,1]

é uma cobertura aberta de γ([0, 1]). Assim, existem t0 = 0 < t1 < · · · < tm = 1 tais
que
[m
γ([0, 1]) ⊂ Brtj (γ(tj )).
j=1

A curva poligonal
m−1
[
[γ(tj ), γ(tj+1 )],
j=1

está contida em Ω e liga γ(t0 ) = x0 a γ(tm ) = x1 , como querı́amos provar.

e x3 de Rn .
Exercı́cio 6.6: Seja γ uma curva poligonal ligando os pontos x1 , x2 S
Para ε > 0 seja Oε a vizinhança de diâmetro ε de γ definida por Oε = x∈γ Bε (x).
Construa uma curva diferenciável ligando x1 a x3 inteiramente contida em Oε .
Solução: Podemos supor sem perda de generalidade que

ε < min 1, kx2 − x1 k, kx3 − x2 k .

Consideremos γ: [(ε − 1)/2ε, (ε + 1)/2ε] → Rn definida por



 (1 − ε)x2 + εx1 + 2tε(x2 − x1 ) se (ε − 1)/2ε ≤ t ≤ 0
2 2
γ(t) = x2 + εt (x3 − x2 ) + ε(1 − t) (x1 − x2 ) se 0 ≤ t ≤ 1 (6.3)

(1 + ε)x2 − εx3 + 2tε(x3 − x2 ) se 1 ≤ t ≤ (1 + ε)/2ε

Então podemos verificar que γ satisfaz às condições desejadas.


A construção de (6.3) é feita da seguinte maneira:
n
Curvas em R 79

Etapa 1: Considere a esfera de raio ε centrada em x2 :

∂Bε (x2 ) = {x ∈ Rn ; kx − x2 k = ε}.

Sejam x− +
2 e x2 os pontos da interseção de ∂Bε (x2 ) com os segmentos [x1 , x2 ] e [x2 , x3 ]
respectivamente. Então

x−
2 = (1 − ε)x2 + εx1 , x+
2 = (1 − ε)x2 + εx3 .

Etapa 2: A curva γ será definida de modo que: para t ≤ 0 coincida com o segmento
[x1 , x− +
2 ], para t ≥ 1 coincida com o segmento [x2 , x3 ] e para 0 ≤ t ≤ 1 seja a curva de
Bézier gerada pelos pontos x− +
2 , x2 e x2 .

Etapa 3: Para que esta construção defina uma função de classe C 1 , devemos ajustar
os parâmetros de modo que as derivadas laterais nos pontos t = 0 e t = 1 sejam
iguais. Sabemos do Exercı́cio 6.3 (b) que γ ′ (0+ ) = 2(x2 − x− ′ − +
2 ) e γ (1 ) = 2(x2 − x2 ).
Portanto, podemos considerar

γ(t) = x− −
2 + 2t(x2 − x2 ), t≤0
γ(t) = x+ +
2 + 2(t − 1)(x2 − x2 ), t≥1

que nos dá (6.1).

Exercı́cio 6.7: Prove o Lema 6.1 (pag. 104)


Solução: Sejam x, y ∈ Ω. Pelo Exercı́cio 6.5(b) podemos construir uma poligonal

[x, x1 ] ∪ [x1 , x2 ] ∪ · · · ∪ [xm , y] ⊂ Ω.

Para ε > 0 suficientemente pequeno, as esferas ∂Bε (xj ), j = 1, . . . , m, estão inteira-


mente contidas em Ω e interseptam os segmentos [xj−1 , xj ] e [xj , xj+1 ] respectivamente
nos pontos x− +
j e xj . Procedento como no Exercı́cio 6.6, podemos construir uma curva
γ de classe C 1 formada por segmentos de retas e curvas de Bézier. Observe que as
esferas têm o mesmo raio ε, o que permite fazer a colagem dos segmentos com as
curvas de Bézier mantendo contı́nua a derivada.

Exercı́cio 6.8: Sejam γ: [a, b] → Rn uma curva fechada (γ(a) = γ(b)) diferenciável
e K um convexo fechado do Rn tal que K ⊃ {γ ′ (t) ; t ∈ [a, b]}. Mostre que 0 ∈ K.
Solução: Vamos supor por absurdo que 0 ∈ / K e consideremos x0 = PK (0). Então é
claro que x0 6= 0. Seja H o hiperplano que passa por 0 e é ortogonal a x0 , isto é,

H = x ∈ Rn ; hx : x0 i = 0 .

Afirmativa: H ∩ K = ∅.
De fato, se y ∈ H ∩ K então (veja Exercı́cio 4.16(i) d pag. 61),

y ∈ H ⇒ hy : x0 i = 0
(6.4)
y ∈ K ⇒ h0 − x0 : y − x0 i ≤ 0
80 Cálculo Avançado

De (6.4) obtemos kx0 k22 − hx0 : yi ≤ 0 e consequentemente x0 = 0. Mas isso é


impossı́vel, porque estamos supondo 0 ∈ / K. Logo, vale a afirmativa.
Consideremos g: [a, b] → R definida por g(t) = hγ(t) : x0 i. Então g é função derivável
satisfazendo g(a) = g(b). Pelo Teorema de Role, existe t0 ∈ [a, b] tal que g ′ (t0 ) = 0,
isto é, hγ ′ (t0 ) : x0 i = 0. Portanto, γ ′ (t0 ) ∈ H e, como por hipótese γ ′ (t0 ) ∈ K,
concluı́mos que γ ′ (t0 ) ∈ H ∩ K, o que está em contradição com a afirmativa feita
acima.
Portanto, 0 ∈ K como querı́amos mostrar.

Exercı́cio 6.9: Seja γ uma curva retificável de comprimento L parametrizada por


γ: [a, b] → Rn . Seja s: [a, b] → [0, L] a função definida por
 
s(t) := comprimento de γ [a, t] se t > a
0 se t = a

a) Mostre que s é crescente.


b) Mostre que se γ é função Lipschitz contı́nua, então s(t) também é Lipschitz con-
tı́nua.
c) Suponha s(t) estritamente crescente e defina

γ̃: [0, L] → Rn , γ̃(s) = γ(t(s)),

onde t(s) denota  a inversa  de s(t). Mostre que γ̃ e γ descrevem a mesma curva,
isto é, γ [a, b] = γ̃ [0, L] .
d) Se γ: [a, b] → Rn é curva de classe C 1 em [a, b] tal que kγ ′ (t)k =
6 0 para todo
1 ′
t ∈]a, b[, mostre que γ̃ é curva de classe C em [0, L] tal que kγ̃ (s)k = 1 para
todo s.
(Moral da história: se uma curva pode ser percorrida por uma partı́cula com
velocidade escalar kγ ′ (t)k =6 0, então pode ser percorrida com velocidade escalar
constante).
Solução: Para simplificar a notação, diremos que P ∈ P([a, t]) se

P = {t0 = a < t1 < · · · < tm−1 < tm = t}

é uma partição de [a, t]. Denotaremos também


m
X
S(P, γ) = kγ(tj ) − γ(tj−1 )k.
j=1

(a) Dado ε > 0, existe P0 ∈ P([a, t]) tal que

s(t) − ε < S(P, γ) ≤ s(t), ∀P ∈ P([a, t]), P ⊃ P0 .

Se h > 0, então P ′ = P ∪ {t + h} ∈ P([a, t + h]) e

s(t) − ε < S(P, γ) ≤ S(P ′ , γ) ≤ s(t + h).


n
Curvas em R 81

Logo s(t + h) − s(t) ≥ −ε. Fazendo ε tender a zero, obtemos s(t + h) ≥ s(t).
(b) Se γ é função Lipschitz contı́nua, existe C > 0 tal que
kγ(t) − γ(t′ )k ≤ C|t − t′ |, ∀t, t′ ∈ [a, b].
Dados t0 , t1 ∈ (a, b) e ε > 0, existe P0 ∈ P([a, t0 ]) tal que
s(t0 ) − ε < S(P, γ) ≤ s(t0 ), ∀P ⊃ P0 . (6.5)
Analogamente, existe P1 ∈ P([a, t1 ]) tal que
s(t1 ) − ε < S(P, γ) ≤ s(t1 ), ∀P ⊃ P1 .
Podemos supor sem perda de generalidade que t1 > t0 . Então P2 := P0 ∪P1 ∈ P([a, t1 ])
e s(t1 ) − ε < S(P2 , γ) ≤ s(t1 ). Como P2 ∩ [a, t0 ] ∈ P([a, t0 ]), obtemos
s(t0 ) − ε < S(P2 ∩ [a, t0 ]) ≤ s(t0 )
Xm
(6.6)
s(t1 ) − ε < S(P2 ∩ [a, t0 ]) + kγ(tj ) − γ(tj−1 )k ≤ s(t1 )
j=k+1

Subtraindo a primeira desigualdade da segunda em (6.6), obtemos


m
X
s(t1 ) − s(t0 ) − ε < kγ(tj ) − γ(tj−1 )k ≤ C(t1 − t0 ).
j=k+1

Portanto, 0 ≤ s(t1 ) − s(t0 ) < C(t1 − t0 ) + ε e concluı́mos o que querı́amos provar após
fazer ε tender a zero.
(c) Sejam x0 ∈ Rn e s0 ∈ [0, L] tais que x0 = γ̃(s0 ). Como s: [a, b] → [0, L] é função
bijetora, existe um único t0 tal que s0 = s(t0 ). Portanto, x0 = γ(t0 ).
A recı́prova segue por argumento idêntico.
(d) Se γ é de classe C 1 , então
Z t
ds
s(t) = kγ ′ (ξ)k dξ ⇒ = kγ ′ (t)k.
a dt
Portanto,
d d dt γ ′ (t(s))
γ̃(s) = γ(t(s)) = γ ′ (t(s)) = ′
ds ds ds kγ (t(s))k
é contı́nua, como querı́amos provar.
Exercı́cio 6.10: Seja Ω ⊂ Rn aberto, limitado e conexo. Demostre a afirmativa
abaixo se verdadeira ou dê um contra-exemplo se falsa. “ Mostre que existe R > 0 tal
que ∀x, y ∈ Ω existe uma curva γ retificável ligando x a y tal que med(γ) ≤ R”.
Solução: A afirmativa é falsa. Considere o seguinte conjunto (em coordenadas po-
lares):
 1 2
Ω = (r cos θ, r sen θ) ; < r < , θ ∈ (1, +∞)
2θ θ
É fácil ver que Ω é aberto e limitado. Para provar que a afirmativa não se aplica neste
caso, basta verificar que a curva γ: (1, +∞) → Ω definida por
1
γ(t) = (cos t, sen t)
t
não é retificável. Assim, os pontos x1 = (0, 2/π) e xk = (0, 2/kπ) (k → +∞) não
podem ser ligados por uma curva contida em Ω cujo comprimento esteja limitado.
82 Cálculo Avançado

Exercı́cio 6.11: Seja Ω ⊂ R2 o disco unitário de centro na origem. Determine


f : Ω → R tal que q
Rθ [f ](x) = 2 1 − kxk22 , ∀x ∈ Ω.
Solução: Pela fórmula da√ inversa da Transformada Raio-X (veja (6.9)) e fazendo a
mudança de variável ξ := τ 2 − r 2 , temos:
Z 1  "Z √ #
1
1 d τ 1 d 2τ 1 − τ 2
f0 (r) = − √ g(τ ) dτ = − √ dτ
πr dr r τ 2 − r2 πr dr r τ 2 − r2
"Z √ 2 # Z √1−r2
1−r p
2 d 2 −r
=− 1 − r 2 − ξ 2 dξ = − p dξ
πr dr 0 πr 0 1 − r2 − ξ 2
Z √1−r2 Z
2 1 2 a 1
= p dξ = p dξ = 1
π 0 1 − r2 − ξ 2 π 0 a2 − ξ 2

Exercı́cio 6.12: O ângulo formado por duas curvas diferenciáveis que se cruzam
num ponto P é, por definição, o ângulo formado pelos vetores tangentes às curvas
em P . Mais precisamente, se γ1 , γ2 : I → Rn são duas curvas diferenciáveis tais que
P = γ1 (t0 ) = γ2 (t0 ) para algum t0 ∈ I, então definimos o ângulo θ entre γ1 e γ2 em
P por

γ1 (t0 ) : γ2′ (t0 )
cos θ = ′
kγ1 (t0 )kkγ2′ (t0 )k.
Uma função f : R2 → R2 é denominada transformação conforme se o ângulo entre duas
quaisquer curvas que se cruzam fica preservado por f .
a) Seja f (x) = Ax, ∀x ∈ R2 , onde A é matriz 2 × 2. Mostre que f é transformação
conforme se e somente se A é da forma:
   
a −c a c
ou
c a c −a

b) Seja f : R2 → R2 , f = (ϕ, ψ) função diferenciável. Determine condições necessá-


rias e suficientes sobre f ′ para que f seja uma transformação conforme.
c) Calcule Jf (x).
Solução: (a) Provemos a implicação “⇒”. Sejam u e v dois vetores unitários e
consideremos as retas

γ1 (t) = x0 + tu, γ2 (t) = x0 + tv.

γ1 e γ2 se cruzam em x0 formando neste ponto um ângulo θ tal que cos θ = hu : vi.


Sejam Γ1 (t) = f (γ1 (t)) e Γ2 (t) = f (γ2 (t)). Como f é linear, as retas

Γ1 (t) = Ax0 + tAu, Γ2 (t) = Ax0 + tAv

se cruzam no ponto Ax0 formando o ângulo φ tal que


hAu : Avi
cos φ = .
kAukkAvk
n
Curvas em R 83

Por hipótese θ = φ. Logo

hAu : Avi = kAukkAvkhu : vi. (6.7)

Se considerarmos u e v ortogonais, então Au e Av também são ortogonais. Consider-


emos a representação matricial de A em relação à base canônica {e1 , e2 }.
 
a b
[A] = .
c d

Como Ae1 e Ae2 são ortogonais, obtemos ab + cd = 0. Logo, existe λ ∈ R tal que
   
b −c
=λ ,
d a

isto é,  
a −λc
[A] =
c λa
Por outro lado, se u = (u1 , u2 ) e v = (v1 , v2 ), então

Au = (au1 − λcu2 , cu1 + λau2 )


Av = (av1 − λcv2 , cv1 + λav2 )

de onde se obtém que

hAu : Avi = (a2 + c2 )(u1 v1 + λ2 u2 v2 )


q
kAuk = (a2 + c2 )(u21 + λ2 u22 )
q
kAvk = (a2 + c2 )(v12 + λ2 v22 )

Voltando a (6.7), temos


q
2
u1 v1 + λ u2 v2 = (u21 + λ2 u22 )(v12 + λ2 v22 )(u1 v1 + u2 v2 ).
√ √ √ √
Escolhendo-se u = (1/ 2, 1/ 2) e v = (1/ 2, −1/ 2), obtemos λ2 = 1 como
querı́amos provar.
Provemos a implicação contrária “⇐”. Seja
 
a −c
A= .
c a

Sejam γ1 e γ2 duas curvas de classe C 1 . Podemos supor sem perda de generalidade


que kγ1′ (t)k = 1 e kγ2′ (τ )k = 1 para rodo t, τ (veja Exercı́cio 6.9(c)).
Supondo que elas se cruzam em P0 = γ1 (t0 ) = γ2 (τ0 ), seja θ tal que

cos θ = hγ1′ (t0 ) : γ2′ (τ0 )i.


84 Cálculo Avançado

Se φ é o ângulo entre Aγ1 (t0 ) e Aγ2 (τ0 ) no ponto AP0 , então


hAγ1′ (t0 ) : Aγ2′ (τ0 )i
cos φ = .
kAγ1′ (t0 )kkγ2′ (τ0 )k
Como
hAγ1′ (t0 ) : Aγ2′ (τ0 )i = (a2 + c2 )hγ1′ (t0 ) : γ2′ (τ0 )i = (a2 + c2 ) cos θ
p
kAγ1′ (t0 )k = a2 + c2 = kAγ2′ (τ0 )k
concluı́mos que cos φ = cos θ.
(b) Suponhamos f = (φ, ψ) função diferenciável. Então
 ∂φ ∂φ 
′ ∂x ∂y
[f (x, y)] = ∂ψ ∂ψ
∂x ∂y

Afirmativa: f é transformação conforme se e somente se


∂φ ∂ψ ∂φ ∂ψ
= =−
∂y ∂x ∂y ∂x
ou (6.8)
∂φ ∂ψ ∂φ ∂ψ
=− =
∂x ∂y ∂x ∂y
Consideremos duas curvas γ1 (t) e γ2 (τ ) que se cruzam no ponto x0 = γ(t0 ) = γ2 (τ0 ).
Podemos supor sem perda de generalidade que u = γ1′ (t0 ) e v = γ2 (τ0 ) são vetores
unitários. Definimos Γ1 (t) = f (γ1 (t)) e Γ2 (τ ) = f (γ2 (τ )). Então estas duas curvas se
cruzam no ponto f (x0 ) formando o ângulo θ tal que
hΓ′1 (t0 ) : Γ′2 (τ0 )i hAu : Avi
cos θ = ′ ′ = ,
kΓ1 (t0 )kkΓ2 (τ0 )k kAukkAvk
onde A = [f ′ (x0 )]. Pelo item anterior, cos θ = hu : vi se e somente se A satisfaz uma
das duas relações de (6.8).
(c) Por definição, temos
∂φ ∂ψ ∂φ ∂ψ
Jj (x) = −
∂x ∂y ∂y ∂x
Se f satisfaz uma das relações de (6.8), temos

Jj (x) = ±k∇φk22 = ±k∇ψk22 .

Exercı́cio 6.13: Mostre que a função f definida no Exercı́cio 5.10 é (no caso n = 2)
uma transformação conforme.
Solução: A função é f (x, y) = ±(φ(x, y), ψ(x, y)), onde
x y
φ(x, y) = , ψ(x, y) = .
x2 + y2 x2 + y2
Então  
′ 1 y 2 − x2 −2xy
[f (x, y)] = 2
(x + y 2 )2 −2xy x2 − y 2
Como φ e ψ satisfazem (6.8), concluı́mos que f é uma transformação conforme.
n
Curvas em R 85

Exercı́cio 6.14: Determine uma curva diferenciável γ: [−1, 1] → R2 tal que



γ [−1, 1] = {(x, y) ∈ R2 ; y = |x|, −1 ≤ x ≤ 1}.

Solução: Seja γ: [−1, 1] → R2 definida por γ(t) = (t3 , |t|3 ). Então é claro que γ
satisfaz as condições desejadas. De fato, γ é de classe C 1 pois γ ′ (t) = (3t2 , 3|t|t) é
contı́nua.

Exercı́cio 6.15: Seja g: Ω → R2 definido por


 
−y x
g(x, y) = , 2 ,
x + y x + y2
2 2


onde Ω = (x, y) ∈ R2 ; y > −x . Mostre que g é campo gradiente em Ω e determine
o potencial f : Ω → R tal que ∇f = g.
Solução: É claro que g ′ (x, y) é simétrica e contı́nua em Ω, pois
 
′ 1 2xy y 2 − x2
[g (x, y)] = 2
(x + y 2 )2 y 2 − x2 −2xy

Como Ω é aberto e convexo, temos do Teorema 6.10 que existe f : Ω → R tal que
∇f (x, y) = g(x, y) para todo (x, y) ∈ Ω.
Sabemos que f0 (x̃, ỹ) = arctan(ỹ/x̃) é gradiente de g(x̃, ỹ) em Ω0 = {(x̃, ỹ) ; x̃ > 0}.
Como Ω é a imagem de Ω0 pela rotação de π/4
√ √ 
√ 2/2 −√ 2/2
T = ,
2/2 2/2

podemos determinar o potencial de g em Ω considerando a mudança de variáveis


(x̃, ỹ) = T −1 (x, y), isto é, √ √
2x + 2y
x̃ =
√ 2√
2x − 2y
ỹ =
2
Portanto,  
x−y
f (x, y) = f0 (x̃, ỹ) = arctan .
x+y
7
Derivadas de Ordem Superior
Exercı́cio 7.1: Seja f : Rn → Rm linear. Mostre que f ′ (x) = f , ∀x ∈ Rn , isto é,
f ′ (x)h = f (h), ∀x, h ∈ Rn . Observe também que f ′ é constante e, portanto, f ′′ ≡ 0.
Solução: Como f é linear (matriz m × n), f é diferenciável e f ′ (x)h = f (h) para todo
h ∈ Rn , isto é, f ′ (x) = f . Portanto a aplicação derivada f ′ : Rn → Mm×n é constante.
Em particular, podemos escrever f ′ (x + h) = f ′ (x) + L(h) + ε(h) com L = ε ≡ 0.
Portanto (da unicidade da diferencial), concluı́mos que f é duas vezes diferenciável e
f ′′ (x) ≡ 0 para todo x ∈ Rn

Exercı́cio 7.2: Seja ϕ: Rn → Rn função diferenciável tal que

kϕ′ (x)kL(Rn ) ≤ α, ∀x ∈ Rn .

a) Se α < 1, mostre que ϕ é uma contração e demonstre que para cada y ∈ Rn ,


existe um único x ∈ Rn tal que y = x + ϕ(x).
b) Podemos afirmar que ϕ é uma contração se kϕ′ (x)kL(Rn ) < 1, ∀x ∈ Rn ?
c) Use o item (a) para mostrar que se A é uma matriz n × n tal que kAk < 1 então
(I + A) é invertı́vel.
d) Se ϕ é monótona positiva, mostre que para cada y ∈ Rn , existe um único x ∈ Rn
satisfazendo y = x + ϕ(x) (mesmo que α ≥ 1).
Solução: (a) Pela desigualdade do valor médio (veja Exercı́cio 5.7b, pag. 89), existe
t no intervalo (0, 1) tal que

kϕ(x1 ) − ϕ(x0 )k ≤ kϕ′ (xt )kkx1 − x0 k ≤ αkx1 − x0 k,

onde xt = tx1 + (1 − t)x0 . Como por hipótese α < 1, ϕ é uma contração.


Assim, dado y ∈ Rn (fixado), considere a aplicação g(x) = y − ϕ(x). Observe que g
também é uma contração, pois

kg(x1 ) − g(x0 )k = kϕ(x1 ) − ϕ(x0 )k ≤ αkx1 − x0 k.

Portanto, pelo Teorema do ponto fixo de Banach (Teorema 4.13, pag. 51), existe um
único x ∈ Rn tal que g(x) = x, isto é, x é a única solução de x + ϕ(x) = y.
88 Cálculo Avançado
√ 
(b) Não! Considere f : R → R definida por f (x) = x+ x2 + 1 /2. Então 0 < f ′ (x) <
1 para todo x ∈ R, mas f não é contração, pois não admite ponto fixo.
(c) Considere ϕ(x) = Ax. Então (veja Exercı́cio 4.17, pag. 60), kϕ(x1 ) − ϕ(x0 )k ≤
kAkkx1 − x0 k. Como estamos supondo kAk < 1, ϕ é uma contração. Pelo item (a),
a equação x + Ax = y admite uma única solução, para cada y ∈ Rn , isto é, a matriz
I + A é invertı́vel.
(d) Suponhamos ϕ monótona positiva e diferenciável tal que kϕ′ (x)k ≤ α, para todo
x ∈ Rn . Se α < 1 recaı́mos no caso (a). Suponhamos então α ≥ 1. Seja ε > 0 tal que
εα < 1. Pelo item (a), dado y ∈ Rn , existe um único x ∈ Rn tal que y = x + εϕ(x),
isto é, a função g(x) = x + εϕ(x) é bijetora e portanto, invertı́vel. Além disso, como
estamos supondo ϕ monótona positiva,

hg(x1 ) − g(x0 ) : x1 − x0 i = kx1 − x0 k2 + εhϕ(x1 ) − ϕ(x0 ) : x1 − x0 i ≥ kx1 − x0 k2 .

Aplicando a desiguladade de Cauchy-Schwarz no lado esquerdo da desigualdade acima,


obtemos
kg(x1 ) − g(x0 )k ≥ kx1 − x0 k. (7.1)
Como g é invertı́vel, podemos escrever (7.1) na forma

kg −1 (y1 ) − g −1 (y0 )k ≤ ky1 − y0 k, (7.2)

isto é, g −1 é Lipschitz contı́nua, com constante de Lipschitz 1.


Observe agora que, para y ∈ Rn dado, a equação x + ϕ(x) = y pode ser reescrita  na
−1
forma x + εϕ(x) = εy + (1 − ε)x, ou equivalentemente  x=g εy + (1 − ε)x . Basta,
−1
portanto, mostrar que F (x) = g εy + (1 − ε)x possui um único ponto fixo. De (7.2)
temos
kF (x1 ) − F (x0 )k ≤ |1 − ε|kx1 − x0 k.
Como escolhemos ε < 1/α ≤ 1, F é contração e, portanto, admite um único ponto
fixo, como querı́amos demonstrar.

Exercı́cio 7.3: Seja C ⊂ Rn convexo e fechado e PC : Rn → Rn a projeção ortogonal


sobre C (veja Exercı́cio

4.12). Mostre que PC é função monótona positiva. Conclua
que x 7→ f (x) = x − 12 PC (x) : PC (x) é função convexa.
Solução: Pelo Exercı́cio 4.16(iii),(pag. 59), temos

hPC (x) − PC (y) : x − yi ≥ kPC (x) − PC (y)k2 ≥ 0.

Logo, PC é monótona positiva. Pelo Teorema 5.6 (pag. 86), f (x) é diferenciável e
f ′ (x) = PC (x), para todo x ∈ Rn . Portanto, f ′ (x) é monótona positiva em Rn e o
Teorema 7.1 (pag. 115) nos permite concluir que f (x) é função convexa.

Exercı́cio 7.4: Calcule f ′′ (x) para cada uma das funções f : Rn → R. Observe que
em todos os casos f ′ é linear e portanto f ′′ : Rn → Mn×n é constante.

1 1
f (x) = kxk22 , f (x) = kAxk22 ,
2 2
f (x) = hAx : xi, f (x) = hAx : Bxi.
Derivadas de Ordem Superior 89

Solução: Primeiramente, lembre que se g é linear (veja Exemplo 5.3, pag. 68), g é
diferenciável e g ′ (x) = g para todo x, isto é,

g ′ (x)h = g(h), ∀h ∈ Rn .

(a) f (x) = kxk22 /2. Então, f ′ (x) = x para todo x ∈ Rn e f ′′ (x) = I para todo x ∈ Rn .
(b) f (x) = kAxk22 /2. Então, f ′ (x) = AT Ax e f ′′ (x) = AT A para todo x ∈ Rn .
(c) f (x) = hAx : xi. Então, f ′ (x) = (A + AT )x e f ′′ (x) = A + AT para todo x ∈ Rn .
(d) f (x) = hAx : Bxi = hB T Ax : xi. Então, f ′ (x) = (B T A + AT B)x e f ′′ (x) =
B T A + AT B.

Exercı́cio 7.5: Considere f : Rn → R função duas vezes diferenciável e A uma


matriz n × n. Defina g(x) = f (Ax). Mostre que g é duas vezes diferenciável em Rn e

g ′ (x) = AT f ′ (Ax)
g ′′ (x) = AT f ′′ (Ax)A

Solução: f : Rn → R é diferenciável e ϕ(x) = Ax é linear e, portanto, diferenciável.


Logo, pela regra da cadeia, g é diferenciável e

hg ′ (x) : hi = hf ′ (Ax) : Ahi = hAT f ′ (Ax) : hi, ∀h ∈ Rn .

Portanto, g ′ (x) = AT f ′ (Ax), para todo x ∈ Rn .


Analogamente, pela regra da cadeia, g ′ : Rn → Rn é diferenciável e

[g ′′ (x)]h = AT f ′′ (Ax)Ah, ∀h ∈ Rn .

Assim, g ′′ (x) = AT f ′′ (Ax)A, para todo x ∈ Rn .

Exercı́cio 7.6: Considere a matriz simétrica


 
a b
A= , a, b, c ∈ R.
b c

Mostre que A é positiva definida se e somente se det A > 0 e a > 0. Mostre que se A
é semipositiva definida, então det A ≥ 0 e a ≥ 0 mas a recı́proca é falsa.
Solução: Seja x = (x1 , x2 ) um vetor qualquer de R2 . Então

hAx : xi = ax21 + 2bx1 x2 + cx22 .

Suponhamos incialmente a 6= 0. Então podemos escrever


 
2 2b c 2
hAx : xi = a x1 + x1 x2 + x2
a a
" 2 # (7.3)
b ac − b2 2
= a x1 + x2 + x2
a a2
90 Cálculo Avançado

Se a > 0 e det A = ac − b2 > 0, concluı́mos de (7.3) que hAx : xi > 0 para todo x 6= 0.
Reciprocamente, se hAx : xi > 0 para todo x 6= 0, escolhemos x = (1, 0) para concluir
de (7.3) que a > 0. Escolhendo em seguida x = (b/a, −1), obtemos det A > 0.
Suponhamos A semipositiva definida. Então hAx : xi ≥ 0 para todo x ∈ Rn . Se a 6= 0,
as mesmas escolhas nos levam à conclusão que a ≥ 0 e det A ≥ 0. Por outro lado, se
a = 0, então hAx : xi = x2 (2bx1 + cx2 ) ≥ 0 para todo x1 , x2 ∈ R. Fixando x2 = 1,
concluı́mos que b = 0, isto é, det A = 0.
A recı́proca é falsa. Escolha a = b = 0 e c = −1.

Exercı́cio 7.7: Seja f : Rn → R função duas vezes diferenciável em x0 = 0 tal que


f (tx) = t2 f (x) para todo x ∈ Rn e todo t ∈ R. Mostre que

1
′′
f (x) = f (0)x : x , ∀x ∈ Rn .
2

Solução: Considere ϕ(t) = f (tx). Então

ϕ′ (t) = hf ′ (tx) : xi = 2tf (x) e ϕ′′ (t) = hf ′′ (tx)x : xi = 2f (x).

Para t = 0 a segunda identidade acima nos dá

1 ′′
f (x) = hf (0)x : xi.
2

Exercı́cio 7.8: Seja D = {x ∈ R2 ; kxk22 ≤ 1}. Considere f : R2 → R2 de classe C 1


tal que
1
Jf (x) 6= 0 ∀x ∈ D e kf (x) − xk2 ≤ ∀x ∈ D.
3
Mostre que existe x0 ∈ D tal que f (x0 ) = 0.
Solução: Seja ϕ: D → R definida por ϕ(x) = kf (x)k2 . Como ϕ é contı́nua e D é
compacto, existe x0 ∈ D tal que

ϕ(x0 ) ≤ ϕ(x), ∀x ∈ D.

Observe que ϕ(x0 ) ≤ 1/3. De fato,

ϕ(x0 ) ≤ ϕ(0) = kf (0)k2 = kf (0) − 0k2 ≤ 1/3. (7.4)

Além disso, x0 não pertence à fronteira ∂D de D. De fato, se x0 ∈ ∂D, então kx0 k2 =


1. Como
1/3 ≥ kx0 − f (x0 )k2 ≥ 1 − kf (x0 )k2 = 1 − ϕ(x0 ),
terı́amos ϕ(x0 ) ≥ 2/3, o que está em contradição com (7.4). Portanto, x0 está no
interior de D.
Observe que x0 também é ponto de mı́nimo de ψ(x) = ϕ(x)2 . Como ψ é diferenciável
◦ ◦
em D e x0 ∈ D, temos ψ ′ (x0 ) = 0. Isto é, hψ ′ (x0 ) : hi = 0 para todo h ∈ R2 .
Derivadas de Ordem Superior 91

Aplicando a Regra da Cadeia, temos



hψ ′ (x) : hi = 2hf ′ (x)T f (x) : hi, ∀x ∈D .

Portanto,
hf ′ (x0 )T f (x0 ) : hi = 0, ∀h ∈ Rn ,
o que implica que f ′ (x0 )T f (x0 ) = 0.
Observe que, por hipótese,

det[f ′ (x0 )T ] = det[f ′ (x0 )] = Jf (x0 ) 6= 0.

Portanto, f (x0 ) = 0 como querı́amos provar.

Exercı́cio 7.9:
a) Seja A matriz n × n semipositiva definida, isto é hA : xi ≥ 0 ∀x ∈ Rn e defina a
função g(x) = Ax. Mostre que g é monótona positiva. Seja Fλ (x) = x + λAx,
com λ > 0. Mostre que Fλ é bijetora em Rn .
b) Seja f monótona positiva e considere Fλ (x) = x + λf (x), com λ > 0. Mostre que
Fλ é injetora. Se Fλ0 é sobrejetora para algum λ0 , mostre que Fλ é sobrejetora
para todo λ > 0.
Solução: (a) Provemos que Fλ é função injetora. Como A é semipositiva definida,
temos

kFλ (x1 ) − Fλ (x2 )k22 = kx1 − x2 k22 + 2λhx1 − x2 : Ax1 − Ax2 i + λ2 kAx1 − Ax2 k22
≥ kx1 − x2 k22 ,

de modo que se Fλ (x1 ) = Fλ (x2 ), então x1 = x2 . Como Fλ é linear de Rn em Rn , é


injetora se e somente se é sobrejetora.
(b) f monótona positiva e Fλ (x) = x + λf (x). Provemos que Fλ é injetiva.

kFλ (x1 ) − Fλ (x2 )k22 = kx1 − x2 k22 + 2λhx1 − x2 ; f (x1 ) − f (x2 )i


(7.5)
+ λ2 kAx1 − Ax2 k22 ≥ kx1 − x2 k22

de modo que se Fλ (x1 ) = Fλ (x2 ), então x1 = x2 .


Suponhamos Fλ0 sobrejetora. Então existe a inversa Fλ−1 0
. De (7.5) concluı́mos que
−1
Fλ0 é Lipschitz contı́nua, com constante de Lipschitz igual a 1.
Seja λ > 0. Para mostrar que Fλ é sobrejetora, seja y ∈ Rn . Então x é solução de
Fλ (x) = y se e somente se f (x) = (y − x)/λ, que podemos escrever na forma
 
λ0 λ0
x + λ0 f (x) = y+ 1− x ,
λ λ

isto é,   
λ0 λ0
x= Fλ−1 y+ 1− x . (7.6)
0
λ λ
92 Cálculo Avançado

Se denotarmos   
λ0 λ0
Φ(x) = Fλ−1 y+ 1− x ,
0
λ λ
então Fλ é sobrejetora se e somente se Φ possui ponto fixo.
Observe que
λ0

kΦ(x1 ) − Φ(x2 )k2 ≤ 1 − kx1 − x2 k2 ,
λ
de modo que Φ é contração se λ > λ0 /2. Portanto, Fλ é sobrejetora para todo
λ > λ0 /2.
Seja λ1 = 2λ0 /3. Então Fλ1 é sobrejetora e os mesmos argumentos anteriores nos
permitem concluir que Fλ é sobrejetora para todo λ > λ1 /2. Repetindo esse processo
sucessivamente, construı́mos a sequência (λ0 , λ1 , λ2 , . . . , λk , . . .), onde λk = 2k λ0 /3k
tal que, a cada etapa, concluı́mos que Fλ é sobrejetora para todo λ > λk /2.
Como λn → 0, Fλ é sobrejetora para todo λ > 0, como querı́amos demosntrar.

Exercı́cio 7.10: Seja f : Rn → Rn função de classe C 1 tal que Jf (x) 6= 0, ∀x ∈ Rn .


Considere a sequência:

x 0 ∈ Rn e xk+1 = xk − f ′ (xk )−1 f (xk ), k≥0 (∗)

a) Mostre que se xk −→ x̄, então f (x̄) = 0.


b) Reciprocamente, se f (x) = 0 para algum x, mostre que a sequência definida por
(∗) converge para x̄ se x0 for tomado suficientemente próximo de x.
Solução: f : Rn → Rn função de classe C 1 tal que det[f ′ (x)] 6= 0 para todo x ∈ Rn e

xk+1 = xk − [f ′ (xk )]−1 f (xk ). (7.7)

(a) Suponhamos xk → x. Como f é de classe C 1 , temos

f (xk ) → f (x) e Ak := f ′ (xk ) → A := f ′ (x).

Como a aplicação A 7→ A−1 é contı́nua (veja Exercı́cio 4.20(iii). pag. 61), temos

A−1
k
n→∞ A−1 .
−→

Portanto, fazendo n tender a infinito em (7.7) obtemos

A−1 f (x) = 0,

de onde se permite concluir que f (x) = 0 pois det A 6= 0


(b) Supondo f (x) = 0, podemos escrever (7.7) na forma

xk+1 − x = xk − x − [f ′ (xk )]−1 f (xk ) − f (x)
 
= [f ′ (xk )]−1 f ′ (xk )(xk − x) + f (xk ) − f (x) ,
  
= [f ′ (xk )]−1 f ′ (xk ) − f ′ (x) (xk − x) + ε(xk − x)
Derivadas de Ordem Superior 93

onde kε(ξ)k/kξk → 0 quando kξk → 0. Seja α = kf ′ (x)−1 k. Como as aplicações


x 7→ f ′ (x) e X 7→ X −1 são contı́nuas, existe δ1 > 0 tal que

kx − xk < δ1 ⇒ kf ′ (x)−1 k < 2α,

de modo que se xk ∈ Bδ1 (x), então

kxk+1 − xk ≤ 2α (kf ′ (xk ) − f ′ (x)kkxk − xk + kε(xk − x)k) .

Além disso, como f ′ é contı́nua em x, existe δ2 > 0 tal que

1
kx − xk < δ2 ⇒ kf ′ (x) − f ′ (x)k < .

Como f é diferenciável em x, existe δ3 > 0 tal que

1
kx − xk < δ3 ⇒ kε(x − x)k < kx − xk.

Seja δ = min{δ1 , δ2 , δ3 }. Então se kxk − xk < δ, temos

1
kxk+1 − xk ≤ kxk − xk.
2
Portanto, se x0 pertence à bola Bδ (x), temos

1
kxk − xk ≤ kx0 − xk
2k
e concluı́mos que xk → x.

Exercı́cio 7.11: Seja g : Rn → R função estritamente convexa e fortemente coer-


civa, isto é,
g(x)
lim = +∞.
kxk2 →+∞ kxk2

(a) Mostre que existe ϕ : Rn → Rn tal que g ∗ definida por




g ∗ (x) := x : ϕ(x) − g ϕ(x)

é convexa e fortemente coerciva. Sug.: considere



sup hx : yi − g(y) ; y ∈ Rn .

(b) Suponha g de classe C 1 . Mostre que g ′ é invertı́vel com ϕ sua inversa Sug.: aplique
o Teorema 7.1 (pag, 115).
(c) Suponha que g é de classe C 2 . Mostre que g ∗ é estritamente convexa, de classe
C 2 e ∇g ∗ (x) = ϕ(x), para todo x ∈ Rn . Sug.: aplique o Teorema 5.5 (pag. 115).
(c’) A condição g de classe C 2 no item anterior não é necessária. Mostre que se g é de
classe C 1 , o mesmo vale para g ∗ e seguem-se as mesmas conclusões do item (c).
94 Cálculo Avançado

(d) Nas condições acima, mostre que




g ∗∗ (x) := sup x : y − g ∗ (y) = g(x).
y∈Rn

Solução: (a) Seja G(x, y) = hx : yi − g(y). Então, a aplicação y 7→ G(x, y) é


estritamente côncava, qualquer que seja x ∈ Rn . Segue da coercividade de g que,
para cada x ∈ Rn , existe um único yx ∈ Rn ponto de máximo absoluto de G(x, y).
Desta unicidade, podemos definir a função ϕ : Rn → Rn tal que ϕ(x) = yx . Assim g ∗
está bem definida. Para mostrar que ela é convexa, observe que, dados x1 , x2 ∈ Rn e
0 < λ < 1, tem-se

G λx1 + (1 − λ)x2 , y = λG(x1 , y) + (1 − λ)G(x2 , y), ∀y ∈ Rn ,

de onde se conclui que g ∗ é convexa, tomando-se o supremos em y nos dois lados da


identidade acima.
Para mostrar que g ∗ é fortemente coerciva, suponha por absurdo que existe C > 0 e
uma sequência {xn } tal que

kxn k2 → +∞ e g ∗ (xn ) ≤ Ckxn k2 .

Então, para todo y ∈ Rn , tem-se


 
xn g(y)
y: ≤C+ .
kxn k2 kxn k2

Como a esfera unitária é compacta, existe u vetor unitário e uma subsequência {xnk }
tal que xnk /kxnk k2 → u quando k → ∞. Portanto, hy, ui ≤ C para todo y ∈ Rn , o
que é um absurdo.
(b) Como g é estritamente convexa e de classe C 1 , o Teorema 7.1 nos garante que g ′
é estritamente monótona positiva, isto é, se x1 6= x2 , então,


g (x1 ) − g ′ (x2 ) : x1 − x2 > 0.

Em particular, g ′ é injetiva e, consequentemente, invertı́vel sobre seu contradomı́nio.


Além disso, como
∂G 
(x, ϕ(x)) = x − g ′ ϕ(x) = 0, ∀x ∈ Rn , (7.8)
∂y
vemos que ϕ é a inversa de g ′ , que é, consequentemente, uma função contı́nua.
(c) Pelo Teorema 5.5, basta mostrar que g ∗ possui derivadas parciais em todo ponto
x ∈ Rn , para se concluir que g ∗ é diferenciável. Seja ei o i-ésimo vetor da base canônica
de Rn . Denotando εx (s) = ϕ(x + sei ) − ϕ(x), segue de (7.8)


g ∗ (x + sei ) = x + sei : ϕ(x + sei ) − g ϕ(x + sei )


= x + sei : ϕ(x) + εx (s) − g ϕ(x) + εx (s)


 
= x + sei : ϕ(x) + εx (s) − g ϕ(x) − g ′ ϕ(x) : εf (s) − ǫg εf (s)

= g ∗ (x) + shei : ϕ(x)i + shei : εf (s)i − ǫg εf (s) ,
Derivadas de Ordem Superior 95

onde ǫg (h) = o(h). Logo,



g ∗ (x + sei ) − g ∗ (x) ǫg εf (s)
= hei : ϕ(x)i + hei : εf (s)i − . (7.9)
s s

Sendo g ′ de classe C 1 e ϕ a sua inversa, ϕ é também de classe C 1 , de modo que


 
lim εf (s) = lim ϕ(x + sei ) − ϕ(x) = 0,
s→0 s→0
εf (s) ϕ(x + sei ) − ϕ(x) ∂ϕ
lim = lim = (x).
s→0 s s→0 s ∂xi

Logo,
 

ǫg εf (s) ǫg εf (s) εf (s)
lim ei : εf (s) = 0 e lim = lim = 0. (7.10)
s→0 s→0 s s→0 εf (s) s

Passando ao limite com s → 0 em (7.9) e considerando (7.10), obtemos

∂g ∗
(x) = hei : ϕ(x)i.
∂xi

Portanto, g ∗ é diferenciável e (g ∗ )′ (x) = ϕ(x) = g −1 (x) para todo x ∈ Rn . Além disso,


como ϕ é estritamente monótona positiva, o Teorema 7.1 (pag. 115) nos garante que
g ∗ é estritamente convexa.
(c’) Suponhamos g de classe C 1 . Então, com a notação do item (c), temos


g ∗ (x + sei ) = x + sei : ϕ(x + sei ) − g ϕ(x + sei )


= x + sei : ϕ(x) + εx (s) − g ϕ(x) + εx (s)

Pela convexidade de g temos, para s > 0 (verifique),


 

g ϕ(x) + εx (s) ≥ g ϕ(x) + g ′ ϕ(x) : εx (s) .

Assim, segue de (7.8),





g ∗ (x + sei ) ≤ x + sei : ϕ(x) + εx (s) − g ϕ(x) − g ′ (ϕ(x)) : εx (s)



= g ∗ (x) + s ei : ϕ(x) + s ei : εx (s)

Logo,
g ∗ (x + sei ) − g ∗ (x)

lim sup ≤ ei : ϕ(x) . (7.11)
s→0+ s
Analogamente, para s > 0,



g ∗ (x − sei ) ≤ x − sei : ϕ(x) + εx (s) − g ϕ(x) − g ′ (ϕ(x)) : εx (s)



= g ∗ (x) − s ei : ϕ(x) − s ei : εx (s) ,
96 Cálculo Avançado

de onde concluı́mos que

g ∗ (x − sei ) − g ∗ (x)


≥ ei : ϕ(x) + ei : εx (s) .
−s

Logo,

g ∗ (x − sei ) − g ∗ (x) g ∗ (x + sei ) − g ∗ (x)



lim inf = lim inf ≥ ei : ϕ(x) . (7.12)
s→0+ −s s→0− s

Sendo g ∗ convexa, temos

g ∗ (x + sei ) − g ∗ (x) g ∗ (x + sei ) − g ∗ (x)


lim sup ≤ lim sup
s→0− s s→0+ s
(7.13)
g ∗ (x + sei ) − g ∗ (x) g ∗ (x + sei ) − g ∗ (x)
lim inf ≤ lim inf
s→0− s s→0+ s

Segue de (7.11), (7.12) e (7.13),

∂g ∗ g ∗ (x + sei ) − g ∗ (x)

(x) = lim = ei : ϕ(x) , ∀x ∈ Rn .
∂xi s→0 s

(d) Sabemos que g ∗ (x) ≥ hx : yi − g(y) para todo x, y ∈ Rn . Assim, fixado y,



g(y) ≥ hy : xi − g ∗ (x), ∀x ∈ Rn ⇒ g(y) ≥ sup hy : xi − g ∗ (x) = g ∗∗ (y).
x

Por outro lado, para todo x ∈ Rn , tem-se




g ϕ(x) = x : ϕ(x) − g ∗ (x) ≤ g ∗∗ ϕ(x) .

Do exposto acima, concluı́mos que


 
g ϕ(x) = g ∗∗ ϕ(x) , ∀x ∈ Rn .

Para y ∈ Rn qualquer, seja x = g ′ (y). Como ϕ : Rn → Rn é a inversa de g ′ , temos

x = g ′ (y) ⇐⇒ y = ϕ(x).

Logo, g(y) = g ∗∗ (y), ∀y ∈ Rn .

Exercı́cio 7.12: Seja µ > 0. Dê exemplo de uma função ρ : R → R de classe C ∞


tal que 0 < ρ(s) < 1 para todo 0 < s < µ e

0 se s ≤ 0,
ρ(s) =
1 se s ≥ µ.
Derivadas de Ordem Superior 97

Solução: Considere a função ϕ : R → R de classe C ∞ (R) definida por


  
 1
exp − se |s| < 1,
ϕ(s) := 1 − s2

0 se |s| ≥ 1.

Para cada µ > 0, seja ϕµ (s) := ϕ(2s/µ), i.e.,


  
 µ2
exp − se |s| < µ/2,
ϕµ (s) := µ2 − 4s2

0 se |s| ≥ µ/2.
 
É claro que ϕµ ∈ C ∞ (R) e supp ϕµ = −µ/2, µ/2 . Seja φ : R → R definida por
 Z
1 µ ∞
φ(s) := ϕµ s − , C := ϕ(t) dt.
C 2 −∞

É claro que φ ∈ C ∞ (R) e supp φ = [0, µ]. Para concluir, seja ρ : R → R a função
definida por Z s
ρ(s) := φ(t) dt.
−∞

Então ρ satisfaz as condições desejadas.


8
O Teorema da Função Inversa

Exercı́cio 8.1: Seja f : R2 → R2 definida por

f (x, y) = (ex cos y, ex sen y).

Qual a imagem de f ? Mostre que o Jacobiano de f não é nulo em nenhum ponto de


R2 . Pelo teorema da função inversa, todo ponto de R2 tem uma vizinhança onde f é
biunı́voca. Entretanto f não é injetora em R2 . Quais são as imagens por f das retas
paralelas aos eixos coordenados?
Solução: Para cada x ∈ R a aplicação y 7→ ex (cos y, sen y), y ∈ R, parametriza uma
circunferência de raio ex > 0. Portanto,
i) a imagem de f é R2 \ {(0, 0)};
ii) f não é injetora, pois f (0, 0) = f (0, 2π) = (1, 0);
iii) det[f ′ (x, y)] = ex > 0, ∀(x, y) ∈ R2 ;
iv) se R é uma reta paralela ao eixo y, então existe c ∈ R tal que R = {(c, t) ; t ∈ R},
de modo que f (R) = {ec (cos t, sen t) ; t ∈ R} é uma circunferência de raio ec ;
v) se R é uma reta paralela ao eixo x, então existe c ∈ R tal que R = {(t, c) ; t ∈ R},
de modo que f (R) = {et (cos c, sen c) ; t ∈ R} é uma semi-reta que passa por
(cos c, sen c).

Exercı́cio 8.2: Para cada uma das funções abaixo determinar: (1) quais são so-
brejetivas; (2) quais são injetivas; (3) o Jacobiano; (4) os pontos de R2 onde não se
aplica o Teorema da Função Inversa.
a) f : R2 → R2 dada por f (x, y) = (ax + by, cx + dy)
p
b) f : ]0, ∞[×R → R2 dada por f (x, y) = ( x2 + y 2 , arc tan y/x);
c) f : R2 → R2 dada por f (x, y) = (xy 2 , x2 y);
d) f : R2 → R2 dada por f (x, y) = (x3 − y, y 3 + x).
Solução: (a) f é a transformação linear associada à matriz
 
a b
.
c d
100 Cálculo Avançado

É claro que f é bijetora se e somente se ad − bc 6= 0. Como det[f ′ (x, y)] = ad − bc,


∀(x, y) ∈ R2 , o Teorema da Função Inversa não se aplica em nenhum ponto (x, y) se
ad − bc = 0.
(b) f não é sobre pois (0, t) ∈ / Im f , ∀t ∈ R. No entanto, f é injetora, pois f (x1 , y1 ) =
f (x2 , y2 ) se e somente se
y1 y2
=
x1 x2
x1 + y1 = x22 + y22
2 2

p
Se denotarmos c = y1 /x1 e r = x21 + y12 , o sistema acima nos indica que os pontos
(x1 , y1 ) e (x2 , y2 ) estão na intersecção da reta y = cx com a circunferência x21 +y12 = r 2 .
Como x1 e x2 são positivos, concluı́mos que x1 = x2 e consequentemente y1 = y2 .
Como f é de classe C 1 e
 p p 
′ x/ x2 + y 2 y/ x2 + y 2
det[f (x, y)] = det = (x2 + y 2 )−1/2 > 0,
−y/(x2 + y 2 ) x/(x2 + y 2 )
o Teorema da Função Inversa (Teorema 8.1, pag. 139) se aplica em qualquer ponto do
domı́nio de f .
(c) f não é injetora, pois f (1, 0) = f (0, 1) = (0, 0). f também não é sobrejetora, pois
qualquer que seja t ∈ R, (0, t) ∈ / Im f e (t, 0) ∈/ Im f . Como
 2 
′ y 2xy
det[f (x, y)] = det = 3x2 y 2 ,
2xy x2
o Teorema da Função Inversa não se aplica nos pontos da forma (0, y) e (x, 0).
É claro que f é de classe C 1 e det[f ′ (x, y)] = 9x2 y2 + 1 > 0. Logo, o Teorema da
Função Inversa se aplica em qualquer ponto de R2 . De fato, f é bijetora, como se pode
observar facilmente. Considere a famı́lia de curvas γs parametrizadas por γs : R → R2 ,
γs (x) = (x3 − s, x + s3 ). É fácil ver que, para cada s ∈ R, γs é uma função injetora (a
curva γs não se intersepta sobre si mesma). Com efeito, γs é obtida transladando-se
γ0 para o ponto (−s, s3 ). Como a função Γ(s) = (−s, s3 ) também é injetora, podemos
concluir que f . Com raciocı́nio análogo podemos concluirque f é sobre.
Exercı́cio 8.3: Seja f : R3 \ P → R3 , f = (f1 , f2 , f3) definida por fi (x1 , x2 , x3 ) =
xi /(1 + x1 + x2 + x3 ), onde
P = {(x1 , x2 , x3 ) | 1 + x1 + x2 + x3 = 0}.
Calcule o Jacobiano Jf ((x1 , x2 , x3 ). Mostre que f é injetora e calcule f −1 .
Solução: Calculando diretamente, temos

1 + x2 + x3 −x1 −x1
1

det[f (x1 , x2 , x3 )] = −x 1 + x + x −x =1
1 + x1 + x2 + x3
2 1 3 2
−x3 −x3 1 + x1 + x2
Para mostrar que f é injetora, suponhamos
xi x̃i
= , i = 1, 2, 3.
1 + x1 + x2 + x3 1 + x̃1 + x̃2 + x̃3
O Teorema da Função Inversa 101

Então é claro que


xi 1 + x1 + x2 + x3
= = p, i = 1, 2, 3. (8.1)
x̃i 1 + x̃1 + x̃2 + x̃3
De (8.1) obtém-se xi = px̃i , i = 1, 2, 3 e
1 + x1 + x2 + x3 = 1 + p(x̃1 + x̃2 + x̃3 ) (8.2)
Dividindo-se ambos os lados de (8.2) por 1 + x̃1 + x̃2 + x̃3 , obtém-se p = 1 e, conse-
quentemente, xi = x̃i , i = 1, 2, 3.
Mostremos que Im f = R3 \ Q, onde
Q = {(y1 , y2 , y3 ) ∈ R3 ; y1 + y2 + y3 = 1}.
Seja (x1 , x2 , x3 ) ∈ R3 \ P e consideremos yi = fi (x1 , x2 , x3 ), r = x1 + x2 + x3 e
s = y1 + y2 + y3 . Então r 6= −1 e r/(1 + r) = s, de onde conclui-se facilmente que
s 6= 1, o que mostra que (y1 , y2 , y3 ) ∈ / Q.
Reciprocamente, seja (y1 , y2 , y3 ) ∈/ Q e s = y1 + y2 + y3 . Então existe um único r 6= −1
tal que r/(1 + r) = s. Definimos xi = (1 + r)yi . Então é claro que yi = fi (x1 , x2 , x3 ).
Consideremos g: R3 \ Q → R3 \ P definido por
yi
gi (y1 , y2 , y3 ) = .
1 − (y1 + y2 + y3 )
É fácil verficar que g = f −1 .
Exercı́cio 8.4: Considere as funções
eξ + e−ξ eξ − e−ξ
cosh ξ = , senh ξ = .
2 2
a) Determine uma solução (x0 , y0 ) para o sistema
(
ex cos y − ex sen y = 1
ex cosh y + ex senh y = 1

b) É possı́vel resolver o sistema


(
ex cos y − ex sen y = 1 + µ
(8.3)
ex cosh y + ex senh y = 1 + ν
para µ e ν pequenos?
Solução: (a) Basta verificar que x0 = 0 e y0 = 0 satisfazem o sistema.
(b) Consideremos a função f : R2 → R2 definida por
f (x, y) = (ex cos y − ex sen y, ex cosh y + ex senh y).
É claro que f (0, 0) = (1, 1), f é de classe C 1 e
 x 
′ e cos y − ex sen y ex cosh y + ex senh y
[f (x, y)] =
−ex sen y − ex cos y ex senh y + ex cosh y
de modo que det[f ′ (0, 0)] = 2. Pelo Teorema da Função Inversa, existe uma vizinhança
U de (0, 0) e uma vizinhança V de (1, 1) tais que f : U → V é invertı́vel. Portanto,
para µ e ν suficientemente pequenos o sistema (8.3) tem uma única solução.
102 Cálculo Avançado

Exercı́cio 8.5: Sabendo-se que o polinômio f (x) = x3 − 6x2 + 11x − 6 possui as


raı́zes λ1 = 1, λ2 = 2 e λ3 = 3, mostre que existe δ > 0 tal que se |a + 6| < δ,
|b − 11| < δ e |c + 6| < δ, então o polinômio g(x) = x3 + ax2 + bx + c possui três raı́zes
reais e distintas λ1 , λ2 e λ3 .
Solução: Se λ1 , λ2 e λ3 são raı́zes do polinômio x3 + ax2 + bx + c, então vale a fórmula
de Viète
λ1 + λ2 + λ3 = −a
λ1 λ2 + λ1 λ3 + λ2 λ3 = b
λ1 λ2 λ3 = −c

Seja F : R3 → R3 a função definida por

F (λ1 , λ2 , λ3 ) = (λ1 + λ2 + λ3 , λ1 λ2 + λ1 λ3 + λ2 λ3 , λ1 λ2 λ3 ).

F é de classe C 1 , F (1, 2, 3) = (6, 11, 6) e



1 λ2 + λ3 λ2 λ3

det[F (λ1 , λ2 , λ3 )] = 1

λ1 + λ3 λ1 λ3
1 λ1 + λ2 λ1 λ2

Como det[F ′ (1, 2, 3)] = −2, existe uma vizinhança U do ponto (1, 2, 3) e uma viz-
inhança V do ponto (6, 11, 6) tal que F : U → F (U ) é difeomorfismo de classe C 1 .
Em particular, sendo F −1 contı́nua no ponto (6, 11, 6), para δ > 0 suficientemente
pequena, temos
1 1 1
|λ1 − 1| < , |λ2 − 2| < , |λ3 − 3| <
2 2 2
como querı́amos provar.

Exercı́cio 8.6: Seja k k uma norma qualquer de Rn e considere em V = Mn×n


munido da norma induzida, definida por (4.16).

a) Seja I = X ∈ V ; X é invertı́vel . Mostre que I é aberto e desconexo em V .
b) Sejam A, B ∈ V . Dizemos que B é raiz quadrada de A se B 2 = A. Mostre que
existe δ > 0 tal que se kA − Ik < δ então A possui uma raiz quadrada.
c) “Quantas” raı́zes quadradas possui a identidade I ∈ M2×2 ,
 
1 0
I= ?
0 1

Solução: O item (a) segue dos mesmos argumentos usados na solução dos itens (a) e
(b) do exercı́cio 4.20 (pag. 61).
(b) Considere f : V → V definida por f (X) = X 2 . Então f é de classe C 1 e f ′ (I) = 2I
(veja Exercı́cio 5.11). Como f ′ (I) é invertı́vel, existe uma vizinhança U da matriz
identidade I tal que f (U ) é vizinhança aberta de I e f : U → f (U ) é difeomorfismo de
classe C 1 . Em particular, existe δ > 0 tal que se kX − Ik < δ, então f −1 (X) está bem
definida e, por definição, Y = f −1 (X) é raiz quadrada de X, como querı́amos provar.
O Teorema da Função Inversa 103

(c) É claro que I e −I são raı́zes da identidade I. Além disso, se


 
1 0
R0 =
0 −1

então R0 e −R0 são também raı́zes da identidade. Mais geralmente, para cada m ∈ R
consideremos Rm a reflexão em relação à reta y = mx, isto é,
 
1 1 − m2 2m
Rm =
1 + m2 2m m2 − 1

Então é claro que Rm e −Rm são raı́zes da identidade.


Observe que a aplicação m 7→ Rm define uma curva diferenciável em V (uma curva
de matrizes simétricas e raı́zes da identidade) tal que

lim Rm = lim Rm = R0 .
m→+∞ m→−∞

1
Como kRm − Ik ∼ max{1, 2m, 2m2 }, a matriz identidade I é ponto isolado de
1 + m2
curva Rm .
Observe que se a, b ∈ R, b 6= 0, então a matriz
 
a b
Ra,b =
(1 − a2 )/b −a

é raiz da identidade. Observe também que Ra,b se reduz a Rm se a = (1−m2 )/(1+m2 )


e b = 2m/(1 + m2 ) e que Ra,b é simétrica se e somente se a2 + b2 = 1, isto é,
a = (1 − m2 )/(1 + m2 ) e b = 2m/(1 + m2 ) para algum m ∈ R.

Exercı́cio 8.7: Seja f : Rn−1 → Rn , n ≥ 2, função de clase C 1 tal que [f ′ (x0 )] tem
posto igual a n − 1. Mostre que existe δ > 0 tal que f (x) é injetiva na bola Bδ (x0 ).
Solução: Como as normas são equivalentes, vamos considerar

Bδ (x0 ) = x ∈ Rn−1 ; kx − x0 k1 < δ .

Podemos supor sem perda de generalidade que


 
∂f1 ∂f1
(x0 ) ··· (x0 )
 ∂x1 ∂xn−1 
 
 ∂f2 ∂f1 
 (x0 ) ··· (x0 ) 

det  ∂x1 ∂xn−1  6= 0.

 .. .. .. 
 . . . 
 ∂fn−1 ∂fn−1 
(x0 ) · · · (x0 )
∂x1 ∂xn−1

Seja g : Rn → Rn definida por

g(x, xn ) = (f1 (x), f2 (x), . . . , fn (x) + xn ), (x, xn ) = (x1 , x2 , . . . , xn−1 , xn ).


104 Cálculo Avançado

Então, é claro que g é diferenciável em Rn e


 
∂f1 ∂f1
(x ) ··· (x0 ) 0
 ∂x1 0 ∂xn−1 
 
 ∂f2 ∂f1 
 ′   (x0 ) ··· (x0 ) 0
g (x0 , 0) = 
 ∂x1 ∂xn−1 

 .. .. .. 
 . 0
 ∂fn. ∂fn
. 
(x0 ) ··· (x0 ) 1
∂x1 ∂xn−1

Como
∂f1 ∂f1
(x ) ··· (x0 )
∂x1 0 ∂xn−1

∂f2 ∂f1
 ′  (x0 ) ··· (x0 )
det g (x0 , 0) = ∂x1 ∂xn−1 6= 0

.. .. ..
. . .
∂fn−1 ∂fn−1
(x0 ) · · · (x0 )

∂x1 ∂xn−1
(veja (A.5) no Apêndice, pag. 346), segue do Teorema da Função Inversa a existência

eδ (x0 , 0) → f B
de δ > 0 tal que g : B eδ (x0 , 0) é bijetiva, onde aqui estamos denotando

eδ (x0 , 0) = {(x, xn ) ; kx − x0 k1 + |xn | < δ}.


B

eδ (x0 , 0), então


Em particular, se x 6= x̃ são tais que (x, 0), (x̃, 0) ∈ B

f (x) − f (x̃) = g(x, 0) − g(x̃, 0) 6= 0.

Assim, a prova está concluı́da, considerando-se

eδ (x0 , 0) ∩ {(x, 0) ; x ∈ Rn−1 }.


Bδ (x0 ) = B
9
O Teorema da Função Implı́cita

Exercı́cio 9.1: Considere a superfı́cie xy − z log y + eyz − e = 0. É possı́vel repre-


sentá-la na forma z = f (x, y) nas proximidades do ponto (0, 1, 1)?
Solução: Sim. Considere f : R × (0, +∞) × R → R definida por f (x, y, z) = xy −
x ln y + eyz − e. Então f (0, 1, 1) = 0, f é de classe C 1 e ∂f
∂z (0, 1, 1) = e 6= 0. Pelo
teorema da função implı́cita, z pode ser expresso como função das variáveis x e y uma
vizinhança do ponto (0, 1).

Exercı́cio 9.2: O ponto P = (1, −1, 2) pertence às superfı́cies x2 (y 2 +z 2 ) = 5 e (x−


z)2 + y 2 = 2. Mostre que a curva interseção dessas superfı́cies pode ser parametrizada
na forma z = f (x) e y = g(x) numa vizinhança de P .
Solução: Considere a função F : R2 × R → R2 definida por F (x, y, z) = (x2 y 2 + x2 z 2 −
5, (x − z)2 + y 2 − 2). É claro que F (1, −1, 2) = (0, 0), F é de classe C 1 e
 
∂F 2x2 y 2x2 z
= .
∂(y, z) 2y 2(z − x)

Como  
∂F
det (1, −1, 2) = 4,
∂(y, z)
existe δ > 0 e ϕ: (1 − δ, 1 + δ) → R2 , ϕ = (f, g) satisfazendo as condições desejadas.

Exercı́cio 9.3: Seja f : R → R função de classe C 1 tal que f (1) = 1 e defina



S = (x, y) ∈ R2 ; 2f (xy) = f (x)2 + f (y) .

a) Mostre que se f ′ (1) 6= 0, existe r > 0 tal que S ∩ Br (1, 1) é gráfico de uma função
y = ϕ(x) de classe C 1 .
b) Nas condições do item (a), se f é de classe C 2 , mostre que x = 1 é ponto de
máximo ou mı́nimo local para ϕ (o que implica, em particular, que S não é
gráfico de nenhuma função x = ψ(y) na vizinhança de (1, 1)).
c) Mostre que se S é gráfico de uma função x = ψ(y) em alguma vizinhança de (1, 1),
então f ′ (1) = 0.
106 Cálculo Avançado

Solução: (a) Considere F (x, y) = 2f (xy) − f (x)2 − f (y). Então F é de classe C 1 e


∂F
= 2xf ′ (xy) − f ′ (y)
∂y
∂F
Como ∂y
(1, 1) = f ′ (1) 6= 0, a conclusão segue do teorema da função implı́cita.
(b) Pelo item (a) temos, para algum δ > 0
2f (xϕ(x)) − f (x)2 − f (ϕ(x)) = 0, ∀x ∈ (1 − δ, 1 + δ). (9.1)
Derivando (9.1) implicitamente em relação a x, temos
2f ′ (xϕ(x))[ϕ(x) + xϕ′ (x)] − 2f ′ (x)f (x) − f ′ (ϕ(x))ϕ′ (x) = 0, ∀x ∈ (1 − δ, 1 + δ).
Em particular, para x = 1, obtemos ϕ′ (1) = 0. Derivando (9.1) duas vezes em relação
a x, obtemos
 2  
2f ′′ (xϕ(x)) ϕ(x) + xϕ′ (x) + 2f ′ (xϕ(x)) 2ϕ′ (x) + xϕ′′ (x)
− 2f ′ (x)2 − 2f ′′ (x)f (x) − f ′′ (ϕ(x))ϕ′ (x)2 − f ′ (ϕ(x))ϕ′′ (x) = 0
Em particular, para x = 1, obtemos f ′ (1)ϕ′ (1) = 2f ′ (1) e a conclusão segue da
hipótese f ′ (1) 6= 0.
(c) Se x = ψ(y) numa vizinhança de y0 = 1, temos
2f (yψ(y)) − f (ψ(y))2 − f (y) = 0, ∀y ∈ (1 − δ, 1 + δ). (9.2)
Derivando (9.2) em relação a y, obtemos
 
2f ′ (yψ(y)) ψ(y) + yψ ′ (y) − 2f (ψ(y))f ′(ψ(y))ψ ′ (y) − f ′ (y) = 0, ∀y ∈ (1 − δ, 1 + δ).
Para y = 1 temos necessariamente f ′ (1) = 0, como querı́amos mostrar.
Exercı́cio 9.4: Seja f : R2 → R tal que f(0, 0) = 0. Encontre uma condição para f
que permita resolver a equação f f (x, y), y = 0 com y função de x numa vizinhança
de (0, 0).
Solução: Seja F (x, y) = f (f (x, y), y), (x, y) ∈ R2 . Suponhamos f de classe C 1 .
Então F é de classe C 1 , F (0, 0) = 0 e
∂F ∂f ∂f ∂f
= + .
∂y ∂y ∂y ∂y
∂f ∂f
Pelo teorema da função implı́cita, basta que ∂x (0, 0) 6= −1 e ∂y (0, 0) 6= 0. e

Exercı́cio 9.5: Mostre que o sistema abaixo pode ser resolvido com:
1) x, y, u em função de z;
2) x, z, u em função de y;
3) y, z, u em função de x;
mas não é possı́vel exprimir x, y, z em função de u.

 3x + y − z + u2 = 0
x − y + 2z + u = 0

2x + 2y − 3z + 2u = 0
O Teorema da Função Implı́cita 107

Solução: Primeiramente, observe que podemos escrever o sistema na forma


    
3 1 −1 x −u2
 1 −1 2   y  =  −u  , (9.3)
2 2 −3 z −2u

Como o determinate da matriz em (9.3) é nulo, não podemos determinar (x, y, z) em


função de u.
(1) Consideremos F : R4 → R3 definida por

F (x, y, z, u) = (3x + y − z + u2 , x − y + 2z + u, 2x + 2y − 3z + 2u).

Observe que  
 3 1 2u
∂F 
= 1 −1 1 
∂(x, y, u)
2 2 2
h i
∂F
Como det ∂(x,y,u) (0, 0, 0) = −12, segue do teorema da função implı́cita que o sistema
pode ser resolvido com x, y, u em função de z.
(2) Como no intem anterior, temos
 
 3 −1 2u
∂F
= 1 2 1 
∂(x, z, u)
2 −3 2
h i
∂F
e det ∂(x,z,u)
(0, 0, 0) = 21.
(3) Analogamente  
  1 −1 2u
∂F 
= −1 2 1 
∂(y, z, u)
2 −3 2
h i
∂F
e det ∂(y,z,u)
(0, 0, 0) = 3.

Exercı́cio 9.6: Seja f : Rn × Rn → Rn uma função de classe C 1 tal que f (0, 0) = 0.


Sejam B e C respectivamente as matrizes (relativamente à base canônica)
   
∂f ∂f
(0, 0) e (0, 0)
∂x ∂y

a) B e C são matrizes de que ordem?


b) Escreva [f ′ (0, 0)] em termos dos blocos B e C.

c) Seja φ: Rn × Rn → Rn definida por φ(x, y) = f f (x, y), f (x, y) . Calcule
   
∂φ ∂φ
(0, 0) , (0, 0) e [φ′ (0, 0)]
∂x ∂y
108 Cálculo Avançado

em termos de B e C.
d) Se B é invertı́vel e kCk < 1/kB −1 k, mostre que a equação φ(x, y) = 0 pode ser
resolvida com x em função de y numa vizinhança de 0 ∈ Rn .
Solução: É claro que B e C são matrizes de ordem n × n e a matriz (de ordem n × 2n)
[f ′ (0, 0)] = [B C].
(c) Pela regra da cadeia, temos
∂φ ∂f ∂f ∂f ∂f
= +
∂x ∂x ∂x ∂y ∂x
∂φ ∂f ∂f ∂f ∂f
= +
∂y ∂x ∂y ∂y ∂y
de modo que
   
∂φ ∂φ
(0, 0) = B 2 + CB, (0, 0) = BC + C 2 , .
∂x ∂y
(d) Observe que B 2 + CB = B(I + B −1 C)B. Para mostrar que [ ∂φ ∂x
(0, 0)] é invertı́vel,
basta mostrar que I + B −1 C é invertı́vel. Como estamos supondo kCk < 1/kB −1 k, a
conclusão segue do Corolário 8.4 (veja também o Exercı́cio 7.2(c)).
Exercı́cio 9.7: Seja f : R → R contı́nua tal que f (x) > 0 se x > 0, satisfazendo
Z 1
f (t) dt = 2.
0

Mostre que existe δ > 0 e uma única função ϕ: [0, δ] → R de classe C 1 em ]0, δ[ tal que
Z ϕ(x)
f (t) dt = 1.
x

Determine ϕ (x).
Solução: Considere a equação F (x, y) = 1 onde F : [0, 1] × [0, 1] → R é definida por
Z y
F (x, y) = f (t) dt.
x

Como f é contı́nua, temos F de classe C 1 . Como F (0, 0) = 0 e F (0, 1) = 2, existe


y0 ∈ (0, 1) tal que F (0, y0 ) = 1. Além disso, como
∂F
(0, y0 ) = f (y0 ) > 0
∂y
segue do teorema da função implı́cita que existe δ > 0 e ϕ: [0, δ] → R função continu-
amente diferenciável em (0, δ) tal que
Z ϕ(x)
f (t) dt = 1, ∀x ∈ [0, δ] (9.4)
x
como querı́amos provar.
Rx
Seja G(x) = 0 f (t) dt, de modo que G(ϕ(x)) − G(x) = 1. Como f é positiva, temos
G estritamente crescente e, consequentemente, invertı́vel. Portanto,

ϕ(x) = G−1 1 + G(x) .
O Teorema da Função Implı́cita 109

Exercı́cio 9.8: Considere ai , i = 1, . . . , n, números reais distintos e o polinômio de


grau n ı́mpar,
n
Y
p(x) = (x − ai ).
i=1
Defina 
A = b ∈ R ; p(x) = b possui n raı́zes distintas .
(a) Mostre que 0 ∈ A.
(b) Mostre que A é limitado se |b| é suficientemente grande,
(c) Use o Teorema da Função Implı́cita para mostrar que A é aberto.
Solução: (a) É claro que 0 ∈ A pois a1 , a2 , . . . , an são raı́zes distintas de p(x) = 0.
(b) A função p(x) é um polinômio. Logo, |p(x)| → ∞ quando |x| → ∞, isto é, dado
M > 0, existe R > 0 tal que se |x| ≥ R, então |p(x)| ≥ M . Portanto, A ⊂ [−R, R].
(c) Consideremos a função F : Rn+1 → Rn , tal que
F (x , b) = (p(x1 ) − b, . . . , p(xn ) − b), ∀(x , b) = (x1 , x2 , . . . , xn , b).
Seja b0 um elemento de A. Então existe x 0 = (x1 , x2 , . . . , xn ) ∈ Rn , xi 6= xj se i 6= j,
tal que F (x 0 , b0 ) = 0 . É claro que F é de classe C 1 e
∂F
(x 0 , b0 ) = (0, 0, . . . , p′ (xi ), . . . , 0),
∂xi
de modo que  

..
 p (x 1 ) 0 . 0 
∂F  . 

(x 0 , b0 ) =  0 p′ (x2 ) .. 0 

∂x  . .. .. 
 .. . . 0 
0 0 0 p′ (xn )
Observe que a matriz acima é diagonal com determinante diferente de zero. De tato,
se x1 , . . . , xn são raı́zes distintas do polinômio p(x) − b, então (demonstre!) p′ (xi ) 6= 0
para todo i = 1, . . . , n.
Pelo Teorema da Função Implı́cita, existe δ0 > 0 e funções ϕ1 , . . . , ϕn de classe C 1
definidas no intervalo (b0 − δ, b0 + δ) tais que ϕi (b0 ) = xi e tais que

F ϕ1 (b), . . . , ϕn (b), b = 0, ∀b ∈ (b0 − δ, b0 + δ).
Para concluir a demostração, basta mostrar que o intervalo (b0 − δ, b0 + δ) ⊂ A para
algum δ ≤ δ0 , isto é, as raı́zes ϕi (b) com b ∈ (b0 − δ, b0 + δ) são todas distintas.

Seja ε = 13 min |xi − xj | ; i 6= j . É claro que ε > 0 pois as raı́zes xi são, por hipótese,
todas distintas. Por continuidade, para cada i = 1, . . . , n existe δi > 0 tal que
|b − b0 | < δi ⇒ |ϕi (b) − xi | < ε/3.
Assim, para i 6= j e δ = min{δ1 , . . . , δn , δ0 }, se b ∈ (b0 − δ, b0 + δ),
 ε
|ϕi (b) − ϕj (b)| ≥ |xi − xj | − |ϕi (b) − xi | + |ϕj (b) − xj | ≥ > 0.
3
110 Cálculo Avançado

Exercı́cio 9.9: Calcular o valor máximo de

f (x1 , . . . , xn ) = (x1 x2 · · · xn )2

sob a restrição x21 + x22 + · · · + x2n = 1. Utilizar o resultado para calcular a seguinte
desigualdade, válida para números reais positivos a1 , . . . , an :

a1 + · · · + an
(a1 a2 · · · an )1/n ≤
n

Solução: Para cada x = (x1 , . . . , xn ) ∈ Rn , consideremos g(x) = kxk22 − 1 e S = {x ∈


Rn ; g(x) = 0}. f e g são funções de classe C 1 e g ′ (x) = 2x 6= 0, ∀x ∈ S.
Como S é compacto, existe x ∈ S tal que f (x) = maxS f . Em particular,

f (x) > 0 = min f,


S

o que implica xi 6= 0, ∀i = 1, . . . , n. Pelo Teorema de Lagrange, existe λ ∈ R tal que


f ′ (x) = λg ′ (x), isto é,


 2x1 x22 · · · x2n = 2λx1



 2x21 x2 · · · x2n = 2λx2
 .. ..

 . .


 2 2
2x1 x2 · · · xn = 2λxn

Como cada xi 6= 0, temos

λ = x22 x23 · · · x2n = . . . = x21 x32 · · · x2n−1

de onde se deduz que x21 = x22 = · · · = x2n = 1/n e f (x) = (1/n)n .


Se x ∈ Rn , x 6= 0, então x/kxk2 ∈ S e f (x/kxk2 ) ≤ (1/n)n , isto é,

kxk2n
2
x21 x22 · · · x2n ≤ . (9.5)
nn

Extraindo a raı́z n-ésima de ambos os lados de (9.5), obtemos

q
x2 + x22 + · · · + x2n
n
x21 x22 · · · x2n ≤ 1 .
n

Dados a1 , . . . , an números reais positivos, escolhemos x1 , . . . , xn tais que x2i = ai para


concluir que
a1 + · · · + an
(a1 a2 · · · an )1/n ≤ .
n
O Teorema da Função Implı́cita 111

Exercı́cio 9.10: Seja f : Rn → R definida por

f (x1 , . . . , xn ) = x21 x22 · · · x2n .

Sejam p1 , p2 , . . . , pn números reais estritamente positivos e defina

n
X
 n

G= x∈R ; pi x2i = 1 .
i=1


a) Mostre que existe x ∈ G tal que f (x) = max f (x) ; x ∈ G ;
b) Calcule x.
Solução: (a) Para cada x = (x1 , . . . , xn ) ∈ Rn , consideremos

g(x) = p1 x21 + p2 x22 + · · · + pn x2n − 1,

de modo que G = {x ∈ Rn ; g(x) = 0}. f e g são funções de classe C 1 e g ′ (x) =


2(p1 x1 , . . . , pn xn ) 6= 0, ∀x ∈ G. Como G é compacto, existe x ∈ G tal que f (x) =
maxG f .
(b) Visto que f (x) > 0 = minG f , temos xi 6= 0, ∀i = 1, . . . , n. Pelo Teorema de
Lagrange, existe λ ∈ R tal que f ′ (x) = λg ′ (x), isto é,


 2x1 x22 · · · x2n = 2λp1 x1



 2x21 x2 · · · x2n = 2λp2 x2
 .. ..

 . .


 2 2
2x1 x2 · · · xn = 2λpn xn

Como cada xi 6= 0, temos

x22 x23 · · · x2n x2 x3 · · · x2n−1


λ= = ... = 1 2
p1 pn

de onde se deduz que

p1 p1
x21 = µ, x22 = µ, · · · , x2n = µ
p2 pn

para algum µ > 0. Como g(x) = 1, concluı́mos que µ = (np1 )−1 e


 
1 1 1 1
x= √ √ , √ ,..., √ .
n p1 p2 pn
112 Cálculo Avançado

Exercı́cio 9.11: Seja k kL(Rn ;Rm ) a norma induzida pelas normas euclidianas
k k2 de Rn e Rm (veja (4.11)√ no enunciado do Exercı́cio 4.13). Se A é matriz m × n,
mostre que kAkL(Rn ;Rm ) = λ, onde λ é o maior autovalor da matriz simétrica e
positiva definida AT A.
 
2 1
Use o resultado para concluir que se A = , então
0 1
q

kAkL(R2 ;R2 ) = 3+ 5.

Solução: Para simplificar a notação, consideremos kAk = kAkL(Rn Rm ) . Por definição,

kAk = sup{kAxk2 ; kxk2 = 1}.

Observando que kAk2 = sup{kAxk22 ; kxk22 = 1}, podemos considerar f (x) = kAk22 e
g(x) = kxk22 − 1, que são funções de classe C 1 e tais que

f ′ (x) = 2AT Ax, g ′ (x) = 2x, ∀x ∈ Rn .

Seja S = {x ∈ Rn ; g(x) = 0}. Então kAk2 = supS f . Como S é compacto, existe


x ∈ S sobre o qual f atinge o máximo e, como g ′ (x) 6= 0, o Teorema de Lagrange nos
garante a existência de λ ∈ R tal que f ′ (x) = λg ′ (x), isto é,

AT Ax = λx.

Portanto λ é autovalor da matriz (simétrica e positiva) AT A e x autovetor correspon-


dente.
Por outro lado, se µ é autovalor de AT A, então existe x ∈ S tal que

AT Ax = µx. (9.6)

Multiplicando escalarmente ambos os lados de (9.6) por x, obtemos

µ = µkxk22 = hAT Ax; xi = kAxk22 ≤ kAxk22 = λ.



Portanto, λ é o maior autovalor de AT A e, consequentemente kAk = λ, como querı́-
amos provar.
   
2 1 4 2
Se A = , então AT A = , cujos autovalores são respectivamente
0 1 2 2
√ √
λ1 = 3 − 5, λ2 = 3 + 5.
p √
Portanto, kAk = 3 + 5.
O Teorema da Função Implı́cita 113

Exercı́cio 9.12: Seja A > 0 e TA o conjunto de todos os triângulos de área A. Seja


T ∈ TA com lados medindo a, b e c. Mostre que

ab + ac + bc ≥ 4A 3. (9.1)

Solução: Denotemos Tabc ∈ TA um triângulo com lados a, b√e c. É claro que o


triângulo equilátero Tlll pertence a TA se, e somente se, l2 = 4A 3/3.
Consideremos as funções f, p : [0, ∞)3 → R assim definidas:

f (a, b, c) = ab + ac + bc e p(a, b, c) = a + b + c.

Então, f (l, l, l) = 3l2 = 4A 3 e p(l, l, l) = 3l. Portanto, para mostrar a desigualdade
(9.1), é suficiente mostrar que
 √
max f (a, b, c) ; p(a, b, c) = 3l, a, b, c ≥ 0 = 4A 3. (9.2)

De fato, se u = (u1 , u2 , u3 ), ui > 0 (i = 1, 2, 3), temos ∇f (a, b, c) · u ≥ 0 i.e., f cresce


nas direções positivas dos eixos cartasianos. Se mostrarmos que

f (a, b, c) ≤ f (l, l, l) = 4A 3 sempre que p(a, b, c) = 3l ,

teremos concluı́do a desigualdade (9.1).


Como f e p são funções de classe C 1 , podemo calcular o máximo de (9.1) pelo método
de Lagrange:
∇f (a, b, c) = λ∇p(a, b, c), p(a, b, c) = 3l. (9.3)
Resolvendo o sistema (9.3), obtemos

b+c=a+c=a+b =λ ⇒ a = b = c = λ/2.

Portanto,
a + b + c = 3λ/2 = 3l ⇒ l = λ/2
e  √
max f (a, b, c) ; p(a, b, c) = 3l, a, b, c ≥ 0 = f (l, l, l) = 3l2 = 4A 3
como querı́mos provar.

Exercı́cio 9.13: Seja A uma matriz simétrica n × n. Para todo α ∈ R, seja


Aα = A + αI, sendo I a matriz unitária. Considere λ1 (α) ≤ λ2 (α) ≤ · · · ≤ λn (α) os
autovalores de Aα .
(a) Mostre que 
λ1 (α) = min hAα x : xi ; kxk22 = 1 ,
onde h : i denota o produto escalar usual de Rn .
(b) Supondo x1 , x2 , . . . , xk , (1 < k ≤ n) os autovetores correspondentes aos primeiros
k autovalores, mostre que

λk (α) = min hAα x : xi ; kxk22 = 1, e hx : x1 i = · · · = hx : xk−1 i = 0 ,
114 Cálculo Avançado

(c) Mostre que as aplicações α 7→ λi (α), i = 1, . . . , n são funções côncavas definidas


em R (e consequentemente contı́nuas).
Solução: Sendo Aα simétrica, o Teorema Espectral nos garante que Aα possui n
autovalores reais.
(a) Consideremos a função quadrática x 7→ Fα (x) = hAα x : xi. Observe que Fα é de
classe C 1 e Fα′ (x) = 2Aα x. Como a esfera unitária de Rn é compacta, existe x1 tal
que kx1 k22 = 1 satisfazendo

Fα (x1 ) = min Fα (x) ; kxk22 = 1 .

Pelo Teorema de Lagrange, existe λ1 ∈ R tal que 2Aα x1 = 2λ1 x1 . Portanto x1 é


autovetor associado ao autovalor λ1 . Multiplicando escalarmente esta última equação
por x1 , obtemos

λ1 = hAα x1 : x1 i = Fα (x1 ) = min hAα x : xi ; kxk22 = 1 ,

isto é, λ1 = λ( α).


(b) Vamos demonstrar este item considerando k = 2. A prova do caso geral é idêntica.
Pelo Teorema de Lagrange, existe x2 satisfazendo as restrições kx2 k2 = 1, hx1 : x2 i = 0
e constantes reais λ2 e µ tais que

2Aα x2 = 2λ2 x2 + µx1 .

Multiplicando escalarmente esta equação por x2 , obtemos hAα x2 : x2 i = λ2 . Por outro


lado, multiplicando a mesma equação por x1 , obtemos

µ = hAα x2 : x1 i = hx2 : Aα x1 i = λ1 (α)hx2 : x1 i = 0.

Portanto, Aα x2 = λ2 x2 . Como x2 6= 0, x2 é autovetor associado ao autovalor λ2 , e


concluı́mos como na etapa (a) que λ2 = λ2 (α).
Observe também que

{x ∈ Rn ; kxk22 = 1 e hx : x1 i = 0} ⊂ {x ∈ Rn ; kxk22 = 1} ⇒ λ1 (α) ≤ λ2 (α).

(c) Para cada x ∈ Rn vetor unitário, a aplicação α 7→ hAα x : xi = hAx : xi + α é uma


função afim. Logo, pelo Exercı́cio 4.32 (pag. 63), temos que cada um dos autovalores
λi (α) é função côncava na variável α ∈ R. Em particular, como consequência do
Teorema 4.22 (pag. 45), essas função são contı́nuas.
10
Sequências de Funções

Exercı́cio 10.1: Seja fk : [0, 1] → R a função definida por

fk (x) = lim (cos k!πx)2j .


j→∞

Mostre que
n
fk (x) = 1 se x ∈ {1/k!, 2/k!, . . . , 1},
0 senão
e que fk converge pontualmente em [0, 1] para a função
n
1 se x é racional,
f (x) =
0 se x é irracional.

Solução: Seja Ak = 1/k!, 2/k!, . . . , (k − 1)/k, 1 . Então A1 ⊂ A2 ⊂ · · ·. Se x ∈ Ak ,
então x = m/k! para algum m ∈ N, m ≤ k!. Assim

cos(k!πx) = cos(mπ) = ±1

e consequentemente fk (x) = 1. Por outro lado, se x ∈


/ Ak , k!πx não é múltiplo inteiro
de π, de modo que | cos(k!πx)| < 1. Como
2j
lim cos(k!πx) = 0,
j→+∞

concluı́mos que
n
1 se x ∈ Ak
fk (x) =
0 senão.
Fixemos x ∈ Q, x = m/n. Se k ≥ n, então k!/n ∈ N, de modo que k!πx = m(k!/n)π é
múltiplo inteiro de π e consequentemente fk (x) = 1 para todo k ≥ n. Por outro lado,
se x ∈
/ Q, então x ∈/ Ak para nenhum k ∈ N, de modo que fk (x) = 0, ∀k ∈ N.
Portanto, fk p f em [0, 1], onde f (x) = 1 se x ∈ Q e f (x) = 0 senão.
−→
116 Cálculo Avançado

Exercı́cio 10.2: Dê exemplo de sequência de funções sci que converge pontual-
mente para uma função que não é sci.
Solução: Seja fn : [0, 1] → R definida por

1 − nx se 0 ≤ x ≤ 1/n
fn (x) =
0 se 1/n ≤ x ≤ 1

É fácil ver que fn é contı́nua (e portanto sci) em [0, 1] para todo n ∈ N. Mas fn p f
−→
em [0, 1] onde
n
1 se x = 0
f (x) =
0 se 0 < x ≤ 1
que não é sci em [0, 1].

Exercı́cio 10.3: Sejam {fk }k∈N e {gk }k∈N sequências de funções definidas em A ⊂
Rn com valores em Rm . Se {fk }k∈N e {gk }k∈N convergem uniformemente em A,
prove que {fk + gk }k∈N converge uniformemente em A. Se, além disso, {fk }k∈N e
{gk }k∈N são sequências de funções uniformemente limitadas (isto é, kfk (x)k ≤ α e
kgk (x)k ≤ β ∀x ∈ A, ∀k), mostre que {ϕk }k∈N definida por ϕk (x) = hfk (x); gk (x)i
converge uniformemente em A.
Solução: Dado ε > 0 existe k0 ∈ N tal que se k, l ≥ k0 , então

kfk (x) − fl (x)k < ε/2, ∀x ∈ A.

Analogamente, existe k1 ∈ N tal que se k, l ≥ k1 , então

kgk (x) − gl (x)k < ε/2, ∀x ∈ A.

Seja k2 = max{k1 , k0 } e φk (x) = fk (x) + gk (x). Se k, l ≥ k2 , então

kφk (x) − φl (x)k < ε, ∀x ∈ A.

Assim {φk }k≥1 é uniformemente de Cauchy em A.


Seja ϕk (x) = hfk (x); gk (x)i, x ∈ A. Então

|ϕk (x) − ϕl (x)| ≤ |hfk (x) − fl (x); gl (x)i| + |hfk (x); gk (x) − gl (x)i|
≤ kfk (x) − fl (x)kkgl (x)k + kfk (x)kkgk (x) − gl (x)k

Para ε > 0 dado, existe k0 ∈ N tal que se k, l ≥ k0 então

ε ε
kfk (x) − fl (x)k < , kgk (x) − gl (x)k < , ∀x ∈ A.
2β 2α

de onde se conclui que {ϕ}k é uniformemente de Cauchy em A.


Sequências de Funções 117

Exercı́cio 10.4: Verdadeiro ou falso?


u
(a) Se fk −→ f em A, então {fk }k∈N é sequência de funções limitadas.
u
(b) Se fk −→ f em A, com A compacto e fk contı́nua para todo k, então {fk }k∈N é
sequência de funções uniformemente limitadas.
Solução: (a) Falso! Considere fk (x) = exp(x) + (1/k). É claro que fk p f em R,
−→
onde f (x) = exp(x), mas nenhuma das funções fk é limitada em R.
(b) Verdadeiro! Primeiramente, observe que f é contı́nua, pois é limite uniforme de
funções contı́nuas. Como estamos supondo A compacto, f é limitada em A, isto é,
existe M0 > 0 tal que
kf (x)k ≤ M0 , ∀x ∈ A.
Dado ε = 1, existe k0 ∈ N tal que se k ≥ k0

kfk (x) − f (x)k < 1, ∀x ∈ A.

Portanto,
kfk (x)k < 1 + M, ∀x ∈ A, ∀k ≥ k0 .
Como as funções f1 , f2 , . . . , fk0 −1 são limitas em A, existem constantes M1 , . . . , Mk0 −1
tais que
kfj (x)k ≤ Mj , ∀x ∈ A, ∀j = 1, . . . , k0 − 1.
Logo,
kfk (x)k ≤ max{M0 , M1 , . . . , Mk0 −1 }, ∀x ∈ A, ∀k ∈ N.

Exercı́cio 10.5: Seja g: R → R função de classe C 1 e fk : A ⊂ Rn → R sequência


de funções uniformemente limitadas (isto é, |fk (x)| ≤ α ∀k e ∀x ∈ A), tal que fk −→ f
uniformemente em A. Mostre que g ◦ fk −→ g ◦ f uniformemente em A.
Solução: Para x e k fixados arbitrariamente, temos do Teorema do Valor Médio:
   
g fk (x) − g f (x) = g ′ (1 − λk (x))fk (x) + λk (x)f (x) fk (x) − f (x) , (10.1)

onde 0 < λk (x) < 1. Observe que, para todo x ∈ A e para todo k ∈ N temos

(1 − λk (x))fk (x) + λk (x)f (x) ∈ [−2α, 2α].

De fato,
|(1 − λk (x))fk (x) + λk (x)f (x)| ≤ |fk (x)| + |f (x)| ≤ 2α.
Como g é função de classe C 1 , seja

M = max{|g ′ (ξ)| ; ξ ∈ [−2α, 2α]}.

Então temos de (10.1)


 
g fk (x) − g f (x) ≤ M |fk (x) − f (x)|

e concluı́mos a prova.
118 Cálculo Avançado

Exercı́cio 10.6: Considere



X 1
f (x) =
1 + k2 x
k=1

Para que valores de x esta série é absolutamente (pontualmente) convergente? Em


que intervalos ela é uniformemente convergente? f é contı́nua nos pontos em que a
série converge? f é limitada?
Solução: Para cada n ∈ N, seja
n
X 1
fn (x) = .
1 + k2 x
k=1

É claro que fn está bem definida para x ∈ R \ {−1, −1/4, . . . , −1/n2 }. Além disso, é
claro também que fn (0) = n para todo n. Consideremos então o conjunto

A = R \ {0, −1, −1/4, −1/9, . . .}

Afirmativa 1: fn p f em A.
−→
De fato, |1 + k 2 x| ≥ k 2 |x| − 1 para todo x ∈ R. Logo, para k suficientemente grande

1 1

1 + k 2 x ≤ k 2 |x| − 1 .
P 2
Como a série numérica (x está fixado) (k |x| − 1)−1 é convergente, concluı́mos que
{fn }n converge pontualmente em A.
É claro que {fn }n não é uniformemente convergente em A. De fato, {fn }n não é
uniformemente de Cauchy em (0, +∞) pois

fn (1/n2 ) − fn−1 (1/n2 ) = 1/2, ∀n ∈ N.

Analogamente, {fn }n não é uniformemente de Cauchy em (−∞, 0) ∩ A pois



−2/n2 ∈ A e fn (−2/n2 ) − fn−1 (−2/n2 ) = 1, ∀n ∈ N.

Afirmativa 2: fn u f em [α, +∞), ∀α > 0.


−→
De fato, seja Mk = 1/αk 2 . Como

1
0≤ ≤ Mk , ∀x ∈ [α, +∞)
1 + αk 2 x
P
e como a série Mk é convergente, o Teorema 10.12 nos garante a convergência
uniforme de {fn }n em [α, +∞). Como já sabemos que fn converge pontualmente para
f em A, provamos a afirmativa.
Afirmativa 3: fn u f em (−∞, −β] ∩ A, ∀β > 0.
−→
Sequências de Funções 119

Suponhamos inicialmente β > 1. É claro que

|1 + k 2 x| ≥ k 2 |x| − 1 ≥ k 2 β − 1 ≥ 0, ∀x ∈ (−∞, −β], ∀n ∈ N.

Como a série

X 1
βk 2 −1
k=1

é convergente, os argumentos na prova da Afirmativa 2 se aplicam.


Suponhamos β > 1/4. É claro que

|1 + k 2 x| ≥ k 2 |x| − 1 ≥ k 2 β − 1 ≥ 0, ∀x ∈ (−∞, −β], ∀n ≥ 2.

Como a série

X 1
βk 2 −1
k=2

é convergente, concluı́mos que {fn }n≥2 converge para

1
fe(x) = f (x) −
1+x

uniformemente em (−∞, β]. Logo, {fn }n≥1 converge para

1
f (x) = fe(x) +
1+x

uniformemente em (−∞, −β] \ {−1}.


Podemos repetir o argumento para β > 1/9, β > 1/16, . . . para concluir a prova da
afirmativa.
Afirmativa 4: f é função contı́nua mas não é limitada em A.
Cada uma das funções fn é contı́nua em A e a sequência converge uniformemente para
f em (A ∩ (−∞, −β]) ∪ [α, +∞), ∀α, β > 0. Portanto f é contı́nua em A.
Para mostrar que f não é limitada em A, observe que se x < −1, então k 2 x + 1 < 0
para todo k ∈ N. Logo
1
fn (x) ≤ , ∀n ≥ 1.
x+1
Fazendo n → +∞ obtemos
1
f (x) ≤
1+x
e a conclusão, visto que
1
lim = −∞.
x→1− 1+x
120 Cálculo Avançado
P∞ k x2 +k
Exercı́cio 10.7: Prove que a série k=1 (−1)converge uniformemente em
k2
todo intervalo limitado, mas não converge absolutamente em nenhum x.
Solução: É claro que
x2 + k x2 1 1
αk = 2
= 2
+ ≥ , ∀x ∈ R, ∀k ∈ N.
k k k k
Portanto, para x fixado, a série (de termos positivos)
X∞
x2 + k
k2
k=1
é divergente. Por outro lado, como α1 ≥ α2 ≥ α3 ≥ · · · e αk → 0 quando k → +∞, a
série alternada

X x2 + k
(−1)k
k2
k=1
é convergente. Assim, se definirmos fn : R → R por
Xn
x2 + k
fn (x) = (−1)k ,
k2
k=1
então {fn }n converge pontualmente em R para a função

X x2 + k
f (x) = (−1)k .
k2
k=1
Seja A ⊂ R um conjunto limitado. Então existe R > 0 tal que A ⊂ [−R, R]. Para
provar que {fn }n converge uniformemente para f em A, considere fn (x) = gn (x) + βn ,
onde
n
X 2 Xn
k x 1
gn (x) = (−1) 2 e βn = (−1)k .
k k
k=1 k=1
convergente (de fato, βn → ln(1/2)). Como x2 /k 2 ≤
Sabemos que a sequência {βn }n é P
2 2
R /k para todo x ∈ A e a série 1/k 2 é convergente, o Teorema 10.12 nos garante
que {gn }n converge uniformemente em A. Logo, {fn }n converge uniformemente em
A.
Exercı́cio 10.8: Mostre que
   
0 −1 cos θ − sen θ
X= ⇒ exp(θX) = .
1 0 sen θ cos θ
Solução: Primeiramente observe que X 2 = −I, de modo que
X 3 = −X, X 4 = I, X 5 = X, . . . .
Portanto,

X θk θ2 2 θ3 3
exp(θX) = X k = I + θX +
X + X +···
k! 2 3!
k=0
   
θ2 θ4 θ3 θ5
= 1− + −··· I + θ − + −··· X
2 4! 3! 5!
= (cos θ)I + (sen θ)X
Sequências de Funções 121

Exercı́cio 10.9: Sejam M o espaço das matrizes de ordem n × n, f : M → M


a função f (X) = exp(X). Mostre que, para todo X0 ∈ M, existe δ > 0 tal que
U = f Bδ (X0 ) é aberto em M e f é invertı́vel em Bδ (X0 ). Assim, podemos definir a
função X 7→ ln(X) para X ∈ U . Mostre que g(X) = ln(X) é diferenciável em U com
g ′ (X) = X −1 .
Solução: Pelo Teorema 10.11 (pag. 182), a função f (X) = exp(X) é diferenciável
(e portanto necessariamente contı́nua) em M e f ′ (X) = exp(X) = f (X), para todo
X ∈ M. Logo, f é de classe C 1 (M) (é de fato de classe C ∞ (M)) e fixado X0 ∈ M,
f ′ (X0 ) : M → M é tal que f ′ (X0 )H = exp(X0 )H, para todo H ∈ M.
Pela Observação 10.3 (pag. 182 do texto), f ′ (X0 ) é invertı́vel. De fato,

Y = f ′ (X0 )H = exp(X0 )H ⇐⇒ H = exp(−X0 )Y = f ′ (X0 )−1 Y.

Portanto, estamos nas condições de aplicar o Teorema da Função Inversa; segue do


Teorema 8.4 (pag. 145 do texto):

(a) Existe δ > 0 tal que U = f Bδ (X0 ) é aberto;
(b) f : Bδ (X0 ) → U é difeomorfismo de classe C ∞ (M).

Se g denota a inversa de f , g é de classe C ∞ (M) e g f (X) = X para todo X ∈ M.
Temos X = g(Y ) ∈ Bδ (X0 ) se, e somente se, Y = exp(X). Logo, pela regra da cadeia,
 
g f (X) = X ⇒ g ′ f (X) f ′ (X) = g ′ (Y )f ′ (X) = I,
⇔ g ′ (Y ) = f ′ (X)−1 = exp(X)−1 = Y −1 .

Exercı́cio 10.10: Seja M = Mn×n e considere X ∈ M tal que kXk < 1.


a) Mostre que I + X é invertı́vel.
P∞
b) Mostre que a série de potências k=0 (−1)k X k converge pontualmente para (I +
X)−1 em B1 (0).

c) Seja I = X ∈ M ; X é invertı́vel e f : I → M a função f (X) = X −1 . Mostre
que f é diferenciável em I e calcule f ′ (X).
Solução: (a) Veja Exercı́cio 7.2(iii) (pag. 128 do texto).
(b) Seja
Xk
Yk = (−1)j X j = I − X + X 2 − · · · + (−1)k X k .
j=0

Então, é fácil ver que


(I + X)Yk = I + (−1)k X k+1 .
Como (I + X) é invertı́vel, obtemos

Yk = (I + X)−1 + (−1)k (I + X)−1 X k+1 .

Portanto,
kYk − (I + X)−1 k ≤ k(I + X)−1 kkXkk+1 .
Como estamos supondo kXk < 1, então

lim kXkk+1 = 0
k→+∞
122 Cálculo Avançado

e concluı́mos que
lim Yk = (I + X)−1 ,
k→+∞

isto é,

X
−1
(I + X) = (−1)j X j .
j=0

(Observe a semelhança com a soma dos termos de uma Progressão Geométrica de


números reais 1 − x + x2 − x3 + · · · = (1 + x)−1 , válido para |x| < 1).
(c) Seja X ∈ I. Para H ∈ M, podemos escrever X + H = X(I + X −1 H). Pelo item
(a), se kX −1 Hk < 1, então I + X −1 H é invertı́vel e

(X + H)−1 = (I + X −1 H)−1 X −1 .

Pelo item (b),



X
−1 −1
(I + X H) = (−1)j (X −1 H)j .
j=0

Logo,

X
−1
(X + H) = (−1)j (X −1 H)j X −1
j=0

(10.2)
X
−1 −1 −1 j −1 j −1
=X −X HX + (−1) (X H) X .
j=2

Como a aplicação H 7→ X −1 HX −1 é linear em H, podemos escrever (10.2) na forma

f (X + H) = f (X) − X −1 HX −1 + ε(H),

onde

X
ε(H) = (−1)j (X −1 H)j X −1 .
j=2

A função f (X) = X −1 será diferenciável com derivada f ′ (X)H = −X −1 HX −1 se


ε(H) definido acima for o(H).
De fato,
kX −1 k3
kε(H)k ≤ −1
kHk2 .
1 − kX kkHk
Portanto, considerando H ∈ M tal que
 
1 1
kHk < min , ,
2 2kX −1 k

temos
kε(H)k
≤ 2kX −1 k3 kHk.
kHk
Sequências de Funções 123

Exercı́cio 10.11: Seja A ∈ Mn×n (R) e considere a matriz exponencial exp(θA).


Mostre que:
d
(a) exp(θA) = A exp(θA) = exp(θA)A.
dθ  
(b) det exp(A) = etr A .
Solução: (a) Fixemos A ∈ Mn×n e consideremos Φn : R → Mn×n definido por
n
X θk
Φn (θ) = Ak .
k!
k=0

Observe que Φn define uma curva diferenciável no espaço das matrizes Mn×n e
n−1
X θk k
Φ′n (θ) =A A = AΦn−1 (θ) = Φn−1 (θ)A.
k!
k=0

Para m, n ∈ N tais que m > n, temos:


m
X |θ|k
kΦm (θ) − Φn (θ)kMn×n ≤ kAkkMn×n ,
k!
k=n+1
m−1
X |θ|k
kΦ′m (θ) − Φ′n (θ)kMn×n ≤ kAkMn×n kAkkMn×n ,
k!
k=n

Logo, {Φn } e {Φ′n } são sequências de Cauchy em Mn×n . Sabemos que Φn → Φ


uniformemente nos compactos de R, com Φ(θ) = exp(θA). Logo, Φ′n → Ψ uniforme-
mente nos compactos de R, com Ψ(θ) = AΦ(θ). Pelo Teorema 10.6 (pag. 173), Φ é
diferenciável e Φ′ (θ) = Ψ(θ). Assim, concluı́mos a prova de (a).
(b) Lembrando que se g(A) = det(A) e A é invertı́vel, então g ′ (A)H = tr(A−1 H)g(A).
Então, se ϕ(θ) = det Φ(θ) , temos pela Regra da Cadeia e do item anterior,
 
ϕ′ (θ) = g ′ Φ(θ) Φ′ (θ) = tr Φ(θ)−1 Φ′ (θ) ϕ(θ)

= tr exp(−θA)A exp(θA) ϕ(θ) = tr(A)ϕ(θ).

Portanto,
ϕ′ (θ) = tr(A)ϕ(θ) ⇒ ϕ(θ) = Cetr(A)

Como ϕ(0) = det exp(O) = det(I) = 1, concluı́mos que C = 1.

Exercı́cio 10.12: Mostre que


lim kxkp = kxk∞
p→+∞

uniformemente nos compactos de Rn .


Solução: Para cada p ∈ [1, +∞) seja fp (x) = kxkp . Para cada x fixado em Rn , temos

kxk∞ ≤ fp (x) ≤ N 1/p kxk∞ .


124 Cálculo Avançado

Como n1/p → 1 quando p → +∞, concluı́mos que fp (x) converge pontualmente em


Rn para a função f (x) = kxk∞ .
Seja K ⊂ Rn um conjunto compacto. Vamos mostrar que {fp }p é uniformemente de
Cauchy em K. Sejam p, q ∈ [1, +∞) e suponhamos q > p. Então
 
|fp (x) − fq (x)| ≤ n1/p − 1 kxk∞ , ∀x ∈ K

Como K é limitado, existe R > 0 tal que kxk∞ ≤ R para todo x ∈ K, de modo que,
 
|fp (x) − fq (x)| ≤ n1/p − 1 R, ∀x ∈ K.

Sabemos que n1/p → 1 quando p → +∞. Logo, dado ε > 0, existe p0 > 1 tal que se
p > p0 então n1/p − 1 < ε/2R. Portanto, se q > p > p0 , então |fp (x) − fq (x)| < ε para
todo x ∈ K, como querı́amos provar.

Exercı́cio 10.13: Seja f : Rn −→ Rn tal que f (0) = 0 e considere {fk }k a sequência


definida por fk : B → Rn ,
x
fk (x) = kf ( ) ∀x ∈ B,
k
onde B = {x ∈ Rn ; 12 ≤ kxk ≤ 1}. Mostre que se {fk }k converge uniformemente em
B para uma transformação linear L: Rn −→ Rn , então f é diferenciável em 0.
Solução: Por hipótese, dado ε > 0 existe k0 ∈ N tal que se k ≥ k0 então

kfk (x) − L(x)k < ε/2, ∀x ∈ A.

Pela definição de fk , temos, para k ≥ k0 ,


x x
kf ( ) − L( )k < ε/2k, ∀x ∈ A.
k k

Seja ǫ(h) = f (h) − L(h) e, para ε > 0, δ < 1/k0 . Então, se khk < δ, podemos escolher
k ≥ k0 de modo que 1/2k ≤ khk < 1/k, de forma que x = kh ∈ A e, consequentemente,

kǫ(h)k kf (h) − L(h)k


= < ε.
khk khk

Como f (0) = 0, podemos escrever f (h) = L(h)+ǫ(h) e concluı́mos que f é diferenciável


em 0.

Exercı́cio 10.14: Seja K ⊂ Rn compacto e {fk }k∈N sequência de funções reais


contı́nuas convergindo pontualmente em K para uma função contı́nua f . Se

fk (x) ≤ fk+1 (x), ∀x ∈ K, k = 1, 2, . . .

mostre que a convergência é uniforme. Mostre que o resultado é falso se K não é


compacto.
Sequências de Funções 125

Solução: Seja ε > 0. Para cada x ∈ K existe kx ∈ N tal que se k ≥ kx , então


f (x) − fk (x) < ε/3. Além disso, da continuidade de f e fkx , podemos escolher δx > 0
tal que se ky − xk < δx , então
|f (y) − f (x)| < ε/3
|fkx (y) − fkx (x)| < ε/3
Pela desigualdade triangular, se ky − xk < δx , então
|f (y) − fkx (y)| < ε.
Como K é compacto, existe uma famı́lia finita {x1 , x2 , . . . xn } de pontos de K tal que
K ⊂ ∪ni=1 Bδxi (xi ). Seja k0 = max{kx1 , kx2 , . . . , kxn }. Se y ∈ K então y ∈ Bδxi (xi )
para algum i = 1, . . . , n e se k ≥ k0 , temos
0 ≤ f (y) − fk (y) ≤ f (y) − fk0 (y) ≤ f (y) − fnxi (y) < ε.

O resultado é falso se K não é compacto. Por exemplo, considere K = [0, +∞) e


fk : K → R a função definida por
(
1 se 0 ≤ x < k
fk (x) = k + 1 − x se k ≤ x < k + 1
0 se k ≥ k + 1
Então fk converge pontualmente para a função constante f (x) = 1, f1 ≤ f2 ≤ · · ·. No
entanto, fk não converge uniformemente para f , pois
sup |fk (x) − f (x)| = 1.
x∈K

Exercı́cio 10.15: Seja {pk }k∈N a sequência de polinômios definida recursivamente


por
(a) p1 (x) = x/2;

(b) pk+1 (x) = pk (x) + 12 x − pk (x)2 , k ∈ N.

Mostre que p1 (x) ≤ p2 (x) ≤ · · · ≤ x para todo x ∈ [0, 1] e conclua
√ que a sequência
{pk }k∈N converge uniformemente em [0, 1] para a função f (x) = x.

Solução: Provemos por indução. É claro que 0 ≤ p1 (x) ≤ x, para todo x ∈ [0, 1].
Suponhamos então

pk−1 (x) ≤ pk (x) e pk−1 (x) ≤ x, ∀x ∈ [0, 1].
Da segunda desigualdade acima, obtemos
√ 1 
pk (x) ≤ x ⇒ x − pk (x)2 ≥ 0 ⇒ pk+1 (x) = pk (x) + x − pk (x)2 ≥ pk (x).
2
Por outro lado,
√ √ 2 √ 2
pk (x) ≤ x ≤ 1 ⇒ 1 − pk (x) ≥ 1 − x ⇒ 1 − pk (x) ≥ 1 − x

⇒ 1 − 2pk (x) + pk (x)2 ≥ 1 − 2 x + x
√ 1 
⇒ x ≥ pk (x) + x − pk (x)2 = pk+1 (x).
2
11
O Espaço C(K;Rm )

Exercı́cio 11.1: Sejam g: R → R e ψ: [a, b] → R funções contı́nuas. Mostre que o


funcional Z
 b 
J: C [a, b]; R → R, J(f ) := ψ(x)g f (x) dx
a

é contı́nuo em C [a, b]; R
Rb
Solução: Se ψ ≡ 0, nada temos a provar. Para ψ não nula, seja M = a |ψ(x)| dx.

Sejam f0 ∈ C [a, b]; R e ε > 0. Definimos R = kf0 k∞ + 1. Como g é uniformemente
contı́nua no compacto [−R, R], existe δ1 > 0 tal que
ε
|g(s1 ) − g(s2 )| <
M

para todo s1 , s2 ∈ [−R, R] satisfazendo |s1 − s2 | < δ1 .



Consideremos δ = min{δ1 , 1}. Então, se h ∈ C [a, b]; R é tal que khk∞ < δ, temos
Z b  
|J(f0 + h) − J(f0 )| ≤ |ψ(x)| g f0 (x) + h(x) − g f0 (x) dx < ε
a

e concluı́mos que J é contı́nuo em f0 .



Exercı́cio 11.2: Sejam Ji : C [a, b]; R → R, i = 1, 2, 3 os funcionais definidos
abaixo.
Z b Z b
f (x)
J1 (f ) := cos f (x) dx, J2 (f ) := p dx,
a a 1 + f (x)2
Z b
J3 (f ) := |f (x)|p dx, (p > 0).
a

Mostre que J1 e J2 são funcionais uniformemente contı́nuos e que J3 é uniformemente


contı́nuo se e somente se p = 1.
Solução: É claro que os funcionais J1 , J2 e J3 são contı́nuos, pois g1 (s) = cos s,
g2 (s) = s/(1 + s2 ) e g3 (s) = |s|p , (p > 0) são funções contı́nuas.
128 Cálculo Avançado

Provemos que J1 e J2 são uniformemente contı́nuos. Primeiramente observemos que,


para i = 1, 2, |gi′ (s)| ≤ 1 para todo s ∈ R. Logo, pelo Teorema do Valor Médio,
|gi (s1 ) − gi (s2 )| ≤ |s1 − s2 |, quaisquer
 que sejam s1 , s2 ∈ R, de modo que, quaisquer
que sejam f1 , f2 ∈ C [a, b]; R , temos
 
gi f1 (x) − gi f2 (x) ≤ |f1 (x) − f2 (x)| ≤ kf1 − f2 k∞ , ∀x ∈ [a, b].

Portanto, dado ε > 0, basta tomar δ ≤ ε/(b − a) para se concluir que

|J(f1 ) − J(f2 )| ≤ (b − a)kf1 − f2 k∞ < ε

se kf1 − f2 k∞ < δ.
Provemos que J3 é uniformemente contı́nuo se p = 1. Como vimos no Capı́tulo 2,
J3 (f ) = kf k1 é uma norma em C [a, b]; R . Portanto, da desigualdade triangular
temos

|J3 (f1 ) − J3 (f2 )| = |kf1 k1 − kf2 k1 | ≤ kf1 − f2 k1 ≤ (b − a)kf1 − f2 k∞ .

Provemos agora que J3 não é uniformemente contı́nuo se p 6= 1.


Suponhamos por absurdo que J3 seja uniformemente contı́nuo. Então, para ε = 1,
existe δ > 0 tal que
|J3 (f1 ) − J3 (f2 )| < 1 (11.1)

para todo f1 , f2 ∈ C [a, b]; R satisfazendo kf1 − f2 k∞ < δ.
Para cada c > 0, consideremos fc a função constante fc (x) = c. Então, |J3 (fc1 ) −
J3 (fc2 )| < 1 quaisquer que sejam c1 , c2 tais que |c1 − c2 | < δ. Em particular, se
0 < µ < δ então
|J3 (fc+µ ) − J3 (fc )| < 1, ∀c > 0.

Por outro lado, J(fc+µ ) − J(fc ) = (b − a) (c + µ)p − cp e temos, em particular

(b − a)|(c + µ)p − cp | < 1 se ∀c > 0. (11.2)

Pelo Teorema do Valor Médio, existe ξ ∈ (c, c + µ) tal que

(c + µ)p − cp = pξ p−1 ≥ p min{cp−1 , (c + µ)p−1 }. (11.3)

De (11.1), (11.2) e (11.3), obtemos


1
min{cp−1 , (c + µ)p−1 } < , ∀c > 0
(b − a)p
ou equivalentemente
 1/p−1
1
c< ∀c > 0 se p > 1,
(b − a)p
 1/p−1
1
(c + µ) > ∀c > µ > 0 se p < 1,
(b − a)p
o que é um absurdo.
m
O Espaço C(K;R ) 129

Exercı́cio 11.3: Seja K ⊂ Rn compacto e J: C K; R → R um funcional. Mostre
que J é contı́nuo em f0 ⇐⇒ para toda sequência {fk } em C K; R tal que fk −→ f
uniformemente em K então J(fk ) −→ J(f ).
Solução: Suponhamos J contı́nuo em f0 . Dado ε > 0, existe δ > 0 tal que se
kf − f0 k∞ < δ tem-se |J(f ) − J(f0 )| < ε.
Seja {fk }k sequência convergindo uniformemente para f0 em K. Então existe k0 ∈ N
tal que se k ≥ k0 , kfk − f0 k∞ < δ e consequentemente |J(fk ) − J(f0 )| < ε.
Reciprocamente, suponhamos que J não seja contı́nua em f0 . Então existe ε0 > 0 tal
que, para todo δ > 0, existe fδ ∈ C(K, R) satisfazendo

kfδ − f0 k∞ < δ e |J(fδ ) − J(f0 )| ≥ ε0 .

Para cada k ∈ N, seja δ = 1/k. Então existe fk ∈ C(K, R) satisfazendo

1
kfk − f0 k∞ < e |J(fk ) − J(f0 )| ≥ ε0
k
o que significa que fk converge uniformemente para f0 em K mas J(fk ) não converge
para J(f0 ).

Exercı́cio 11.4: Seja V = C [a, b]; R e considere os conjuntos definidos abaixo:
Rx
(a) F1 = {φ ∈ V ; |φ(x)| ≤ 1 + a |φ(s)| ds}.
(b) F2 = {φ ∈ V ; φ derivável, φ(a) = 1, 0 ≤ φ′ (x) < φ+ (x)}.
(c) F3 = {φ ∈ V ; φ derivável, φ′ ∈ F1 }.
Quais são fechados? Quais são limitados? Quais são compactos?
Solução: (a) F1 é fechado e limitado em V , mas não é compacto. Para provar que F1
é fechado, seja φ ∈ F1′ e φn ∈ F1 tal que φn u φ em [a, b]. Então φn (x) → φ(x) para

todo x ∈ [a, b]. Além disso, pelo Teorema 10.8,
Z x Z x
|φn (s)| ds → |φ(s)| ds ∀x ∈ [a, b].
a a

Logo, Z x
|φ(x)| ≤ 1 + |φ(s)| ds
a

e concluı́mos que φ ∈ F1 .
Para provar que F1 é limitado, observemos que a desigualdade de Gronwall (veja
Lema 11.14) nos garante que

φ ∈ F1 ⇒ |φ(x)| ≤ ex ≤ eb , ∀x ∈ [a, b].

Portanto, se φ ∈ F1 então kφk∞ ≤ eb e concluı́mos que F1 é limitado em V .


Para mostrar que F1 não é compacto, considere
n
φn (x) = n(x − a) se a ≤ x ≤ a + 1/n (11.4)
1 senão
130 Cálculo Avançado

É claro que φn ∈ F1 para todo n ∈ N. Com efeito,


Z x 
n(x − a)2 /2 se a ≤ x ≤ a + 1/n
|φn (s)| ds = (11.5)
a x − a − 1/2n senão

Observe que se x ∈ [a, a + 1/n] então 0 ≤ n(x − a) ≤ 1, de modo que


n
n(x − a) ≤ 1 + (x − a)2 . (11.6)
2

Por outro lado, se x ∈ [a + 1/n, b], então x − a ≥ 1/n e x − a − 1/2n ≥ 1/2n > 0, de
modo que
1 ≤ 1 + (x − a − 1/2n). (11.7)
Comparando (11.6) e (11.7) com (11.4) e (11.5), concluı́mos que φn ∈ F1 .
Suponhamos por absurdo que F1 seja compacto. Então a sequência definida por
(11.4) possui subsequência convergindo uniformemente para alguma função φ ∈ F1 (φ
necessariamente contı́nua). Como a convergência uniforme implica na convergência
pontual, temos tambem φn p φ em [a, b].

Podemos verificar diretamente que φn converge pontualmente para a função

0 se x = a
φ(x) =
1 se x ∈ (a, b]

que é descontı́nua em x = a, o que é uma contradição.


Observe também que a sequência {φn }n nos permite mostrar que F1 não é equicontı́
nuo. De fato, se F1 fosse equicontı́nuo, terı́amos para ε = 1/2 a existência de δ > 0
tal que
|φn (x) − φn (y)| < 1/2 se |x − y| < δ, ∀n ∈ N.
Mas para n > 1/δ, x = a e y = a + 1/n temos |x − y| < δ e no entanto

|φn (x) − φn (y)| = 1 > ε0 .

(b) F2 é limitado e equicontı́nuo, mas não é fechado em V .


Provemos que F2 é limitado. Se φ ∈ F2 , então φ é função crescente pois φ′ (x) ≥ 0.
Em particular φ(x) ≥ 1 para todo x ∈ [a, b]. Logo,

φ ∈ F2 ⇒ φ′ (x) − φ(x) < 0, ∀x ∈ (a, b). (11.8)

Integrando (11.8) de a a x, obtemos

φ ∈ F2 ⇒ 1 ≤ φ(x) < ex−a ≤ eb−a , ∀x ∈ [a, b],

e concluı́mos que F2 é limitado (pois kφk∞ ≤ eb−a ).


Para provar que F2 é equicontı́nuo, observamos de (11.8) que se φ ∈ F2 então 0 ≤
φ′ (x) ≤ eb−a e a conclusão segue do Teorema do Valor Médio.
m
O Espaço C(K;R ) 131

Para verificar que F2 não é fechado, considere a sequência

φn (x) = en(x−a)/(n+1) , x ∈ [a, b].

é fácil ver que φn ∈ F2 para todo n ∈ N e que φn converge uniformemente para


φ(x) = ex−a que não pertence a F2 .
Observe que, pelo Teorema de Arzelà-Ascoli, podemos afirmar que F2 é compacto.
Observe também que, contrariamente ao que se poderia pensar

F2 6= φ ∈ V ; φ derivável, φ(a) = 1, 0 ≤ φ′ (x) ≤ φ(x) .

Por quê ? Quem é então F2 ?


(c) F3 é equicontı́nuo, mas não é fechado nem limitado.

Provemos que F3 é equicontı́nuo. Se φ ∈ F3 , então φ ∈ C 1 [a, b], R e, da desigualdade
de Gronwall, |φ′ (x)| ≤ ex ≤ eb , ∀x ∈ [a, b]. Pelo Teorema do Valor Médio,

|φ(x) − φ(y)| ≤ eb |x − y|, ∀x, y ∈ [a, b]

e concluı́mos que F3 é equicontı́nuo.


Provemos que F3 não é limitado. Podemos supor sem perda de generalidade que a = 0
e b = 1. Considere φn (x) = ex + n. É claro que
Z x Z x
′ x s
φn (x) = e = 1 + e ds = 1 + φ′n (s) ds,
0 a

que mostra que φn ∈ F3 . Como kφn k∞ ≥ n para todo n ∈ N, concluı́mos que F3 não
é limitado.
Provemos que F3 não é fechado. Podemos supor sem perda de generalidade que a = −1
e b = 1. Considerremos a sequência

0 se x ∈ [−1, −1/n]
fn (x) = (nx + 1)2 /4n se x ∈ [−1/n, 1/n]

x se x ∈ [1/n, 1]
u
Então podemos verificar que fn ∈ F3 e que fn −→ f em [−1, 1], onde f (x) = x+ que
não pertence a F3 pois não é derivável.
Vale observar que as funções fn foram obtidas colando curvas de Bézier da forma
(1 − t)2 A + 2t(1 − t)B + t2 C, onde A = (−1/n, 0), B(0, 0) e C = (1/n, 1/n).

Exercı́cio 11.5: Seja X = {fk }k∈N , onde fk : [0, +∞[→ R é definida por
p
fk (x) = sen x + 4k 2 π 2 .

a) Prove que X é equicontı́nuo e uniformemente limitado.


b) Prove que fk → 0 pontualmente, mas não converge uniformemente em [0, +∞[.
(Qual a incoerência com o Teorema de Arzelà-Ascoli?)
132 Cálculo Avançado

Solução: Provemos que X é equicontı́nuo. Se fk ∈ X , temos do TVM



cos pξ + 4π 2 k 2 1

|fk (y) − fk (x)| = p |x − y| ≤ |x − y|
2 ξ + 4π k
2 2 4π

para todo k ∈ N e para todo x, y ∈ [0, +∞). Logo, para ε > 0 dado, basta escolher
δ ≤ 4πε para concluir que X é equicontı́nuo.
Provemos que fk converge pontualmente para zero em [0, +∞). Para x qualquer
fixado, podemos escrever
p r
x
x + 4π 2 k 2 = 2kπ 1 + 2 2 , ∀k ∈ N.
4π k

Como 1 + h ≤ 1 + h/2 para todo h ≥ 0, temos
p  x 
2kπ ≤ x + 4π 2 k 2 ≤ 2kπ 1 + 2 2 , ∀k ∈ N.
8k π
Para k suficientemente grande (dependendo do valor de x), temos x/4kπ < π/2 e como
a função s 7→ sen s é crescente no intervalo [2kπ, 2kπ + π/2], temos
p  x 
sen 2kπ ≤ sen x + 4k 2 π 2 ≤ sen , ∀k ∈ N,
4kπ
isto é,  x 
0 ≤ fk (x) ≤ sen , ∀k ∈ N.
4kπ
Fazendo k → +∞ obtemos fk (x) → 0.
A convergência não é uniforme, pois para xk = 2kπ 2 + π 2 /4 temos fk (xk ) = 1.
Portanto, kfk k∞ = 1 para todo k.
Observe que não há incoerência com o Teorema de Arzela-Ascoli, pois [0, +∞) não é
compacto.
Exercı́cio 11.6: Mostre que se f : [0, 1] → R é função contı́nua tal que
Z 1
f (x)xn dx = 0, n = 0, 1, 2, . . . ,
0

então f (x) = 0 em [0, 1].


Solução: Pela linearidade da integral, temos
Z 1
f (x)p(x) dx = 0
0

para todo polinômio p(x). Pelo Teorema de Weierstrass, existe uma sequência de
polinômios {pk }k que converge uniformemente para f em [0, 1].
Como f pk converge uniformemente para f 2 em [0, 1] temos do Teorema 10.8,
Z 1 Z 1
2
f (x) dx = lim f (x)pk (x)dx = 0.
0 k→+∞ 0

Portanto, f (x) = 0 para todo x ∈ [0, 1], como querı́amos provar.


m
O Espaço C(K;R ) 133

Exercı́cio 11.7: Seja fk : [0, 1] → R a solução do problema de valor inicial:


y
y′ = , y(0) = ak .
1 + y2
Se ak → a, mostre que fk → f uniformemente em [0, 1], onde f : [0, 1] → R é a solução
do problema de valor inicial:
y
y′ = , y(0) = a. (11.9)
1 + y2
Solução: Como ak → a, existe R > 0 tal que |ak | ≤ R para todo k ∈ N (toda
sequência convergente é limitada). Seja X = {f1 , f2 , . . .}.

Afirmativa 1: X é limitado em C [a, b]; R .
De fato, fk ∈ X se, e somente se,
Z x
fk (s)
fk (x) = ak + 2
ds, ∀x ∈ [0, 1]. (11.10)
0 1 + fk (s)
Logo, Z x Z x
|fk (s)|
|fk (x)| ≤ |ak | + 2
ds ≤ |ak | + |fk (s)| ds.
0 1 + fk (s) 0
Aplicando a desigualdade de Gronwall (veja Lema 11.14), temos
|fk (x)| ≤ |ak |ex ≤ Re, ∀x ∈ [0, 1], ∀k ∈ N.
Portanto, kfk k∞ ≤ Re para todo k ∈ N e demonstramos a afirmativa.
Afirmativa 2: X é equicontı́nuo.
De fato, (supondo y > x)
Z y Z y
fk (s)

|fk (y) − fk (x)| = ds ≤ |fk (s)| ds ≤ Re|y − x|.
2
x 1 + fk (s) x

Portanto, pelo Teorema de Arzelà-Ascoli, X é compacto em C [0, 1]; R e podemos
extrair uma subsequência {fkj }j de X tal que
fkj u f em [0, 1], f ∈ X.

Pelo Exercı́cio 10.5, temos
fkj f
u em [0, 1]
1 + fk2j −→ 1 + f2
e, como consequência do Teorema 10.8,
Z x Z x
fkj (s) f (s)
2
ds u 2
ds,
0 1 + fkj (s) −→ 0 1 + f (s)

de modo que, fazendo kj tender a infinito em (11.10), temos


Z x
f (s)
f (x) = a + 2
ds
0 1 + f (s)
e concluı́mos que f é solução do problema de valor incial (11.9)
Pelo Teorema de Picard (Teorema 11.2), o problema de valor incicial (11.9) possui
uma única solução. Logo, a sequência inteira {fk }k converge para, como querı́amos
provar.
134 Cálculo Avançado

Exercı́cio 11.8: Considere a sequência {αi }i=0,...,n−1 definida em . Mostre que


ψ(x) = α0 (x − x0 )+ + · · · + αn−1 (x − xn−1 )+

satisfaz ψ(xj ) = f (xj ), j = 0, 1, . . . , n.


Solução: Faremos a prova por indução. Primeiramente, observemos que ψ(x1 ) =
α0 (x1 −x0 ) = f (x1 ). Suponhamos a propriedade válida para k−1: ψ(xk−1 ) = f (xk−1 ).
Como
i−1
X i−1
X i−j
ψ(xi ) = αj (xi − xj ) = αj
j=0 j=0
n

para todo i = 1, 2, . . . , n, podemos escrever

k−1 k−1
kX 1X
ψ(xk ) = αj − jαj
n j=0 n j=0
k−2 k−2
k−1 X 1X
ψ(xk−1 ) = αj − jαj
n j=0 n j=0

Portanto,
 
k−2
X k−2
X
k k 1
ψ(xk ) = αj + αk−1 −  jαj + (k − 1)αk−1 
n j=0
n n j=0
(11.11)
k−1
X k−1
X
1 1
= ψ(xk−1 ) + αj = f (xk−1 ) + f (x1 ) + αj
n j=0
n j=1

Ovservando que f (x0 ) = f (0) = 0 e que

k−1 k−1 k−1


1X X X
αj = [f (xj+1 ) − f (xj )] − [f (xj ) − f (xj−1 )]
n j=1 j=1 j=1

= f (xk ) − f (x1 ) − f (xk−1 ) + f (x0 )

obtemos, após substituir em (11.11), ψ(xk ) = f (xk ), como querı́amos provar.



Exercı́cio 11.9: Seja V = C [0, 1]; R e J: V → R o funcional definido por
Z 1
1
J(f ) = dx, ∀f ∈ V.
0 1 + f (x)2

a) Mostre que J é contı́nuo em V .


b) Seja X = {f ∈ V ; f (0) = 0 e f é função Lipschitz contı́nua com constante L > 0}.
Mostre que existe f ∈ X tal que J(f ) = min{J(f ) ; f ∈ X }.
c) Calcule f .
m
O Espaço C(K;R ) 135

Solução: (a) J é funcional contı́nuo por consequência direta do Exercı́cio 11.1, visto
que g(s) = 1/(1 + s2 ) é contı́nua em R.
(b) X é equicontı́nuo, visto que, dado ε > 0, basta tomar δ ≤ ε.
X é limitado. De fato, se f ∈ X , então |f (x)| ≤ Lx ≤ L, para todo x ∈ [0, 1]. Logo,
kf k∞ ≤ L para toda f ∈ X .
X é fechado. De fato, se fn é sequência de X que converge uniformemente para f em
[0, 1], é fácil concluir que f ∈ X .
Pelo Teorema de Arzelà-Ascoli, X é compacto. Como J é contı́nuo, J atinge o mı́nimo
em algum f ∈ X .
(c) A função g(s) = 1/(1 + s2 ) é par, positiva, decrescente em [0, +∞) e tende a zero
quando |s| → +∞. Portanto, devemos escolher f ∈ X tal que f (x) seja máximo em
X (x) = [−Lx, Lx]. Como a função x 7→ Lx pertence a X , temos f (x) = Lx e
Z 1  
1 1 1
J(f ) = 2 2
dx = arctan .
0 1+L x L L

Exercı́cio 11.10: Seja V = C [a, b]; R e J: V → R o funcional definido por
Rb
J(f ) = a
|f (x)| dx se f 6≡ 0,
α se f ≡ 0,

onde α ∈ R. Para que valores de α J é funcional semicontı́nuo em V ?


Solução: Por argumentos análogos aos usados na solução do Exercı́cio 4.26, prova-se
que J é s.c.i. se, e somente se, para cada f ∈ V temos J(f ) ≤ lim inf n→+∞ J(fn ) para
toda sequência {fn }n de V que converge uniformemente para f em [a, b].
Vimos no Exercı́cio 1 deste Capı́tulo que o funcional
Z b
f 7→ |f (x)| dx
a

é contı́nuo em V . Logo, se fn u f em [a, b], então


Z b Z b
lim |fn (x)| dx = |f (x)| dx.
n→+∞ a a

Portanto, J é s.c.i. em V se, e somente se, α ≤ 0.

Exercı́cio 11.11: Sejam ψ: [a, b] → R função contı́nua e g: R → R função de classe


C 1 . Mostre que o funcional

J: C [a, b]; R → R
Z b

J(f ) = ψ(x)g f (x) dx
a

 Rb
é diferenciável em C [a, b]; R e que J ′ (f )h = a ψ(x)g ′ (f (x))h(x) dx.
136 Cálculo Avançado

Solução: Fixemos f ∈ V = C [a, b]; R . É claro que se h ∈ V , a aplicação
h    i

x 7→ ψ(x) g f (x) + h(x) − g f (x) − g f (x) h(x)

é contı́nua em [a, b]. Portanto, podemos definir o funcional ǫ: V → R


Z b h i
  
ǫ(h) = ψ(x) g f (x) + h(x) − g f (x) − g ′ f (x) h(x) dx (11.12)
a

Pelo TVM, temos


  
g f (x) + h(x) − g f (x) = g ′ f (x) + tx h(x) h(x),
para algum tx ∈ (0, 1). Portanto,
Z b h  i
ǫ(h) = ψ(x) g ′ f (x) + tx h(x) − g ′ f (x) h(x) dx.
a

Tomando o valor absoluto na igualdade acima, temos


Z b !
′  
|ǫ(h)| ≤ |ψ(x)| g f (x) + tx h(x) − g ′ f (x) dx khk∞ ,
a

e consequentemente
Z b
|ǫ(h)|  
≤ |ψ(x)| g ′ f (x) + tx h(x) − g ′ f (x) dx.
khk∞ a
Rb
Seja R = kf k∞ + 1, M = a |ψ(x)| dx e ε > 0. Como g ′ é uniformemente contı́nua
em [−R, R], existe δ1 > 0 tal que |g ′ (ξ) − g ′ (η)| < ε/M ∀ ξ, η ∈ [−R, R] satisfazendo
|ξ − η| < δ1 .
Se considerarmos δ = min{δ1 , 1} e h ∈ V tal que khk∞ < δ, então
|f (x) + tx h(x)| ≤ R e |h(x)| ≤ R, ∀x ∈ [a, b].
e consequentemente
′ 
g f (x) + tx h(x) − g ′ f (x) < ε/M, ∀x ∈ [a, b].
Assim, se khk∞ < δ, concluı́mos que
|ǫ(h)|
< ε. (11.13)
khk∞
Para f ∈ V fixado, o funcional
Z b 
h 7→ ψ(x)g ′ f (x) h(x) dx
a

é linear e contı́nuo. Portanto, de (11.12) e (11.13) concluı́mos que J é diferenciável e


Z b


J (f )h = ψ(x)g ′ f (x) h(x) dx.
a
m
O Espaço C(K;R ) 137

Exercı́cio 11.12: Seja V = C [0, 2]; R e considere o funcional J: V → R definido
por
Z 2
xf (x)
J(f ) = p dx.
0 1 + f (x)2

a) Mostre que J é funcional contı́nuo em V ;


b) Mostre que J é diferenciável em V e calcule J ′ (f )ϕ;

c) Seja X = f ∈ V ; f (0) = 0, |f (2)| ≤ 1 e |f (x) − f (y)| ≤ |x − y| ∀x, y ∈ [0, 2] .
Mostre que X é compacto em V .

d) Calcule f0 em X tal que J(f0 ) = max J(f ) ; f ∈ X .
Solução:
√ (a) A continuidade de J decorre diretamente do Exercı́cio 11.1, pois g(s) =
s/ 1 + s2 é contı́nua em R e ψ(x) = x é contı́nua em [0, 2].
Como g(s) é de classe C 1 em R e g ′ (s) = 1/(1 + s2 )3/2 , concluı́mos do Exercı́cio 11.11
que J é diferenciável e
Z 2
′ xh(x)
J (f )h = dx.
0 (1 + f (x)2 )3/2

A compacidade de X decorre do Teorema de Arzelà-Ascoli. De fato, X é equicontı́nuo,


pois para ε > 0 dado, basta tomar 0 < δ ≤ ε. Como X é fechado e limitado em V ,
temos a compacidade.
(c) Da compacidade de X e da continuidade de J, podemos garantir que existe f0 ∈ X
ponto de máximo global de J em X .

Para calcular f0 , devemos observar que g(s) = s/ 1 + s2 é crescente em [0, +∞).
Assim, f0 deve ser tal que, para cada x ∈ [0, 2], f0 (x) seja o maior valor possı́vel em
X (x). Portanto, devemos tomar

x se x ∈ [0, 32 ]
f0 (x) =
3 − x se x ∈ [ 32 , 2]

Exercı́cio 11.13: Seja V = C [a, b]; R munido da norma k k∞ e considere o
conjunto X ⊂ V das funções que satisfazem as seguintes priopriedades:
(a) f (a) = 0;
(b) para cada f ∈ X , existe αf ∈ [1/2, 1] tal que

|f (x) − f (y)| ≤ |x − y|αf , ∀x, y ∈ [a, b].

Mostre que X é compacto em V .


Solução: Provemos que X é lmitado. Se f ∈ X , existe αf ∈ [1/2, 1] tal que

|f (x)| = |f (x) − f (a)| ≤ |x − a|αf ≤ max{b − a, b − a}.

Provemos agora que X é equicontı́nuo. Dado ε > 0, seja δε > 0 solução de δ + δ = ε.
Se |x − y| < δε e f ∈ X , então
p p
|f (x) − f (y)| ≤ |x − y|αf ≤ |x − y| + |x − y| < δε + δε = ε.
138 Cálculo Avançado

Logo, X é relativamente compacto em V . Para provar que X é compacto, é sufi-


ciente mostrar que X é fechado. Seja {fn }n∈N uma sequência em X tal que fn → f
uniformemente em [a, b]. Por hipótese, existe αn ∈ [1/2, 1] tal que

|fn (x) − fn (y)| ≤ |x − y|αn , ∀x, y ∈ [a, b]. (∗)

Como {αn }n∈N é limitada, podemos extrair uma subsequência αnk que converge para
α0 ∈ [1/2, 1]. Então, passando ao limite em (∗) com k → +∞, temos

|f (x) − f (y)| ≤ |x − y|α0 , ∀x, y ∈ [a, b].

Logo, f ∈ X e assim concluı́mos a prova.



Exercı́cio 11.14: Seja x0 ∈ [a, b] e J: C [a, b]; R o funcional de Dirac definido por
J(f ) = f (x0 ). Mostre que J é linear e contı́nua. Em particular, J é diferenciável e
J ′ (f )h = J(h).

Solução: É claro que J(αf + βg) = αJ(f ) + βJ(g), para todo f, g ∈ C [a, b]; R e
para todo α, β ∈ R. Além disso,

|J(f ) − J(g)| = |f (x0 ) − g(x0 )| ≤ kf − gk∞

e concluı́mos que J é Lipschitz contı́nua. Portanto, J é diferenciável e



J ′ (f )h = h(x0 ), ∀h ∈ C [a, b]; R .

isto é, J ′ (f ) = J para todo f ∈ C [a, b]; R .

Exercı́cio 11.15: Seja f : R × Rn → Rn uma função contı́nua satisfazendo a


seguinte propriedade: para cada M ≥ 0, existe LM ≥ 0 tal que se kxk, kyk ≤ M ,
então
kf (t, x) − f (t, y)k ≤ LM kx − yk, ∀t ∈ R. (11.14)

a) Mostre que para todo x0 ∈ Rn existe T ∗ (x0 ) > 0 e uma única curva γ: [0, T ∗(x0 )[→
Rn diferenciável em ]0, T ∗ (x0 )[ satisfazendo
( 
γ ′ (t) = f t, γ(t) , ∀t ∈ ]0, T ∗ (x0 )[,
(11.15)
γ(0) = x0 .

b) Mostre que se T ∗ (x0 ) < +∞, então

lim kγ(t)k = +∞.


t→T ∗ (x0 )−

c) Mostre que a aplicação T ∗ : Rn → ]0, +∞] é semicontı́nua inferiormente.


Solução: Vamos denotar BM = {x ∈ Rn ; kxk ≤ M }. Por hipótese, para cada M ≥ 0
existe LM ≥ 0 tal que se x, y ∈ BM , então

kf (t, x) − f (t, y)k ≤ LM kx − yk, ∀t ∈ R.


m
O Espaço C(K;R ) 139

Vamos definir a função L: [0, +∞) → R por



L(M ) = inf LM ; kf (t, x) − f (t, y)k ≤ LM kx − yk, ∀x, y ∈ BM , ∀t ∈ R

É claro que L é crescente em [0, +∞), L(0) = 0 e

kf (t, x) − f (t, y)k ≤ L(M )kx − yk, ∀x, y ∈ BM , ∀t ∈ R.

Se a função L(M ) é limitada, então f é globalmente Lipschitz uniformemente em t


(veja Teorema 11.2).
(a) A prova deste item será feita em três etapas:
Etapa 1: Continuidade em relação aos dados inciais e unicidade de solução.

Seja x1 , x2 ∈ Rn e γ1 , γ2 ∈ C [0, T ]; Rn tais que
( 
γj′ (t) = f t, γj (t) , t ∈ (0, T ), j = 1, 2
γ(0) = xj

Denotemos Mj = max{kγj (t)k ; t ∈ [0, T ]} e M = max{M1 , M2 }. Então,


Z t
kγ1 (t) − γ2 (t)k ≤ kx1 − x2 k + kf (s, γ1 (s)) − f (s, γ2 (s))k ds
0
Z t
≤ kx1 − x2 k + L(M ) kγ1 (s) − γ2 (s)k ds.
0

Pela desigualdade de Gronwall (vela Lema 11.12), temos

kγ1 (t) − γ2 (t)k ≤ kx1 − x2 keL(M )t , ∀t ∈ [0, T ],

de onde conluı́mos que

kγ1 − γ2 k∞ ≤ kx1 − x2 keL(M )T

e a continuidade das soluções em relação aos dados iniciais. Em particular, se x1 = x2 ,


temos γ1 = γ2 e a unicidade.
Etapa 2: Existência de soluções locais.
Seja α = max{kf (s, 0)k ; s ∈ [0, 1]}. Para cada M > 1 definimos
 
1 1
τ (M ) = min 1, , .
α + M L(M ) 2L(M )

Afirmativa: ∀x0 ∈ BM −1 , existe uma única curva γ0 ∈ C [0, τ (M )]; Rn solução de
( 
γ0′ (t) = f t, γ0 (t) , t ∈ (0, τ (M ))
(11.16)
γ0 (0) = x0
140 Cálculo Avançado

Para provar a afirmativa, denotemos por V = C [0, τ (M )]; Rn e Φ: V → V o operador
definido por Z t
Φ(γ)(t) = x0 + f (s, γ(s)) ds, t ∈ [0, τ (M )].
0

Então Φ é uma contração em

BM = {γ ∈ V ; kγk∞ ≤ M }.

De fato, se γ ∈ BM , então
Z t Z t
kΦ(γ)(t)k ≤ kx0 k + kf (0, γ(s))k ds + kf (s, γ(s)) − f (s, 0)k ds
0 0
≤ M − 1 + (α + M L(M ))τ (M ) ≤ M

e verificamos que Φ(BM ) ⊂ BM . Além disso, se γ1 , γ2 ∈ BM , então

1
kΦ(γ1 (t)) − Φ(γ2 (t))k ≤ M τ (M )kγ1 − γ2 k∞ ≤ kγ1 − γ2 k∞ , ∀t ∈ [0, T ].
2

Pelo Teorema de Banach (veja Teorema 4.28), existe uma única γ0 ∈ C [0, τ (M )]; Rn
ponto fixo de Φ, que necessariamente é solução de (11.16).
Convém aqui observar que τ (M ) depende da constante M > 1 fixada acima, de modo
que o problema do valor inicial (11.16) admite solução única no intervalo [0, τ (M )],
qualquer que seja o dado inicial x0 ∈ BM −1 .
Etapa 3: Construção da solução maximal.
Seja x0 ∈ Rn . Tomemos M0 = kx0 k + 1. Como x0 ∈ BM0 −1 , segue da Etapa 2 a
existência de uma úncia γ0 ∈ C [0, τ0 ]; Rn solução de
( 
γ0′ (t) = f t, γ0 (t) , t ∈ (0, τ0 )
γ0 (0) = x0

onde  
1 1
τ0 = min 1, , .
α + M0 L(M0 ) 2L(M0 )

Seja x1 = γ0 (τ0 ) e M1 = kx1 k + 1. Pela Etapa 2 existe uma única γ1 ∈ C [0, τ1 ]; Rn
solução de ( 
γ1′ (t) = f t, γ1 (t) , t ∈ (0, τ1 )
γ1 (0) = x1
onde  
1 1
τ1 = min 1, , .
α + M1 L(M1 ) 2L(M1 )
E assim, sucessivamente, construı́mos uma sequência de números positivos {τk }k , onde
 
1 1
τk = min 1, , (11.17)
α + Kk L(Mk ) 2L(Mk )
m
O Espaço C(K;R ) 141

e uma famı́lia de funções γk ∈ C [0, τk ]; Rn soluções de
(
γk′ (t) = f (t, γk (t)), 0 < t < τk−1
(11.18)
γk (0) = xk = γk−1 (τk−1 )

Seja Tk = τ0 + τ1 + · · · + τk a sequência das somas parciais de {τk }k e consideremos



X
T ∗ (x0 ) = lim Tk = τj
k→+∞
j=0

(T ∗ (x0 ) é um número real positivo se a série converge e é infinito senão).


e: [0, T ∗ (x0 )) → Rn por
Definimos γ

 γ0 (t) se 0 ≤ t ≤ T0

 γ (t − T ) se T ≤ t ≤ T
1 0 0 1
γ
e(t) = γ (t − T ) se t ≤ t ≤ T (11.19)

 2 1 1 2
 .. ..
. .

e ∈ C 1 no intervalo (0, T ∗ (x0 )) e é a única solução de


Então é fácil ver que γ
(
e′ (t) = f (t, e
γ γ (t)), 0 < t < T ∗ (x0 )
(11.20)
γ
e(0) = x0

(b) A alternativa de explosão.


P
Suponhamos T ∗ (x0 ) finito. Então a série τk converge e, consequentemente,

lim τk = 0.
k→∞

É claro que existe k0 ∈ N tal que


 
1 1
τk = min ,
α + Kk L(Mk ) 2L(Mk )

para todo k ≥ k0 . Logo,

1
= max {α + Mk L(Mk ), 2L(Mk )} ≤ α + (2 + Mk )L(Mk )
τk

e concluı́mos que
lim (2 + Mk )L(Mk ) = +∞
k→+∞

Como L(M ) é função crescente, temos necessariamente Mk → +∞, de modo que

ke
γ (Tk )k = kxk k = Mk − 1 → +∞.
142 Cálculo Avançado

Seja ξk sequência de [0, T ∗ (x0 )) convergindo para T ∗ (x0 ). Então, para cada k ∈ N
existe jk ∈ N tal que Tjk ≤ ξk < Tjk +1 e
Z ξk
γ e(Tjk ) +
e(ξk ) = γ f (s, e
γ (s)) ds
Tjk
Z ξk −Tjk 

e(Tjk ) + f s, γjk (s) ds
0

de modo que

ke
γ (ξk )k ≥ ke
γ (Tjk )k − α + Mjk L(Mjk ) τjk ≥ ke
γ (Tjk )k − 1 → +∞

e concluı́mos que
lim kγ(t)k = +∞
t→T ∗ (x0 )−

como querı́amos provar.


A tı́tulo de observação, vamos mostrar que T ∗ (xP 0 ) não depende do método utilizado
na Etapa 3, isto é, T ∗ (x0 ) não depende da série τk . Seja

Te(x0 ) = sup T > 0 ; (11.20) admite solução em [0, T ] .
P
Seja {Tk }k a sequência (a série τk ) cujo limite é T ∗ (x0 ). Para ε > 0 dado, existe k0
tal que T ∗ (x0 ) − ε < Tk ≤ T ∗ (x0 ) para todo k ≥ k0 . A função γ e definida em (11.19)
é solução de (11.20) no intervalo [0, Tk ]. Logo

T ∗ (x0 ) − ε < Tk ≤ Te(x0 ), ∀k ≥ k0

Como ε é arbitrário, concluı́mos que T ∗ (x0 ) ≤ Te(x0 ).


Suponhamos T ∗ (x0 ) < Te(x0 ). Então T ∗ (x0 ) < ∞ e, por definição de Te(x0 ), o prob-
lema (11.20) admite uma solução γ b no intervalo [0, T ∗ (x0 )]. Em particular,

γ (t)k ; t ∈ [0, T ∗ (x0 )]} < ∞.


max{kb (11.21)

Pela unicidade de solução obtida na Etapa 1, temos

γ
b(t) = γ
e(t), ∀t ∈ [0, T ], ∀T < T ∗ (x0 ).

Portanto,
kb
γ (t)k = ke
γ (t)k t→T ∗ (x0 ) +∞
−→

o que está em contradição com (11.21).


(c) semicontinuidade de T ∗ (x0 ).
Seja {xm }m sequência de Rn convergindo para x0 . Seja γm , m = 1, 2, . . . as soluções
maximais de (11.20) com dados iniciais xm . Vamos mostrar que

T ∗ (x0 ) ≤ lim inf T ∗ (xm ).


m→+∞
m
O Espaço C(K;R ) 143

Consideremos T1 < T2 < · · ·, Tk → T ∗ (x0 ). Fixado k arbitrário, seja



M = max kγ0 (t)k ; t ∈ [0, Tk ] + 2,

onde γ0 é a solução maximal com dado inicial x0 . Como kx0 k ≤ M − 2 < M − 1 e


como estamos supondo que xm → x0 , existe m1 ∈ N tal que kxm k ≤ M − 1 para todo
m ≥ m1 . Pela Etapa 2 do item (a), se tomarmos
 
1 1
τ (M ) = min 1, , ,
α + M L(M ) 2L(M )

então γm está definida em [0, τ (M )], ∀m ≥ m1 . Se τ (M ) ≥ Tk concluı́mos que


T ∗ (xm ) > Tk para todo m ≥ mk . Senão, como γm converge uniformemente para γ0
em [0, τ (M )] (veja Etapa 1), existe m2 ∈ N tal que kγm (t)k ≤ M − 1, para todo
t ∈ [0, τ (M )] e para todo m ≥ m2 . Em particular, kγm (τ (M ))k ≤ M − 1 para todo
m ≥ m2 . Novamente, pela Etapa 2, podemos estender γm ao intervalo [0, 2τ (M )], para
todo m ≥ m2 . E assim, sucessivamente, encontramos mjk ∈ N tal que jτ (M ) > Tk e
γm pode ser estendida ao intervalo [0, jτ (M )] ⊃ [0, Tk ] para todo m ≥ mjk . Assim,

Tk ≤ jτ (M ) < T ∗ (xm ), ∀m ≥ mjk .

Em particular, Tk ≤ inf{T ∗ (xm ) ; m ≥ mjk }. Passando ao limite em k, obtemos

T ∗ (x0 ) ≤ lim inf{T ∗ (xm ) ; m ≥ mjk } = lim inf T ∗ (xm ).


k→+∞ k→+∞

Exercı́cio 11.16: Seja f : [0, +∞) × R → R definida por



 (1 − t)x3 se 0 ≤ t ≤ 1
f (t, x) = 0 se 1 ≤ t ≤ 2

(t − 2)x3 se t ≥ 2

Considere o problema de valor incial


( 
x′ (t) = f t, x(t) , 0 < t < T ∗ (x0 )
(11.22)
x(0) = x0 ∈ R

Determine a função T ∗ : R → R.
Solução: Resolvendo a equação por separação de varáveis para t no intervalo [0, 1],
temos
dx
3
= (1 − t)dt ⇒ x−2 = t2 − 2t + x−2 0 ,
x
de onde obtemos

|x0 |
x(t) = q , 0 ≤ t < T ∗ (x0 ). (11.23)
x20 (1 − t)2 + 1 − x20
144 Cálculo Avançado

Vemos diretamente de (11.23) que se |x0 | ≥ 1 então


s
1
T ∗ (x0 ) = 1 − 1− .
x20

Por outro lado, se |x0 | < 1, temos

|x0 |
x(t) = q  2 , 0≤t≤2
x0 (1 − t)+ + 1 − x20
2

é solução de (11.22) no intervalo (0, 2).


Resolvendo a equação por separação de varáveis para t ≥ 2,

dx 1 − x20
= (t − 2)dt ⇒ x−2 = − (t − 2)2 ,
x3 x20
de onde obtemos
|x0 |
x(t) = q , 2 ≤ t < T ∗ (x0 ). (11.24)
1 − x20 − x20 (t − 2)2

Portanto s
1
T ∗ (x0 ) = 2 + − 1.
x20
Concluindo, temos a função descontı́nua (s.c.i.) T ∗ : R \ {0} → R (veja Figura 11.1
abaixo),  q
 2 + 1 − x2 /|x0 | se |x0 | < 1,
0
T ∗ (x0 ) = q
 1 − x2 − 1/|x | se |x | ≥ 1.
0 0 0

T*(x_0)
5

–2 –1 0 1 2
x

Figura 11.1
12
A integral de Riemann em Rn

Exercı́cio 12.1:
(a) Dê um exemplo de um conjunto A ⊂ R2 limitado tal que c(∂A) > 0.
(b) Seja A ⊂ Rn um conjunto limitado e I um n-pavê tal que I ⊃ A. Considere uma
partição P ∈ P(II ). Mostre que

J(∂A, P ) = J(A, P ) − J(A, P ).

(c) Seja A ⊂ Rn limitado tal que A′ é finito. Mostre que A é J-mensurável e c(A) = 0.
2
Solução: (a) Considere A = [0, 1] \ Q . Então ∂A = [0, 1]2 e c(∂A) = 1.
(b) Afirmo: Cat2 (∂A, P ) = Cat2 (A, P ) \ Cat1 (A, P ).
Se j ∈ Cat2 (∂A, P ), então I j ∩ ∂A 6= ∅. Como ∂A ⊂ A, temos I j ∩ A 6= ∅ e

consequentemente j ∈ Cat2 (A, P ). Além disso, I j ∩ ∂A 6= ∅ implica I j 6⊂ A, de modo
que j ∈
/ Cat1 (A, P ).

Por outro lado, se j ∈ Cat2 (A, P ) \ Cat1 (A, P ), então I j ∩ A 6= ∅ e I j 6⊂ A. Logo,
◦ ◦ ◦ c
I j ∩ A \ A 6= ∅. De fato, observe que I j ∩ A 6= ∅ e I j 6⊂ A implicam I j ∩ A ∩ A 6= ∅
◦ c ◦
e como A ∩ A = A \ A= ∂A, concluı́mos a afirmativa.
Como consequência da afirmativa, temos a igualdade: J(∂A, P ) = J(A, P ) − J(A, P ).

(c) Suponhamos
 inicialmente A = ∅. Então, A possui um número finito de pontos:
A = x1 , . . . , xm . Seja r > 0. Então,

m
[
A⊂ Br (xj ),
j=1

onde Br denota a bola de raio r com respeito à norma k k∞ . Assim,

m
X 
0 ≤ c(A) ≤ c Br (xj ) = m(2r)n → 0 se r → 0.
j=1
146 Cálculo Avançado

Suponhamos agora A′ = x1 , . . . , xm . Seja r > 0 e
m
[
B =A\ Br (xj ).
j=1

Então B é vazio ou possui um número finito de elmentos e, pelo item anterior, c(B) = 0.
Como  
[m
A⊂B∪ Br (xj ) ,
j=1

temos
m
X 
c(A) ≤ c(B) + c Br (xj ) ≤ m(2r)n
j=1

e a conclusão segue.

Exercı́cio 12.2: Mostre que se A ⊂ Rn é J-mensurável, o mesmo vale para A. A


recı́proca é verdadeira?

Solução: Fixe um n-pavê tal que A ⊂ I e uma partição P de I . Seja I 1 , . . . , I m

a famı́lia gerada por P . Então, Cat2 (A, P ) = j ; I j ∩ A 6= ∅ = Cat2 (A, P ). Logo,
◦ ◦
J(A, P ) = J(A, P ). Além disso, como A ⊂ A, temos A⊂A, de modo que

 ◦  ◦
Cat1 (A, P ) = j ; I j ⊂A ⊂ j ; I j ⊂A = Cat1 (A, P ) ⇒ J(A, P ) ≥ J(A, P ).

Assim,
J(A, P ) − J(A, P ) ≤ J(A, P ) − J(A, P )
de onde concluimos que se A é J-mensurável, A também é.
A recı́proca é falsa, vide Exercı́cio 12.1(a).

Exercı́cio 12.3: Seja A ⊂ Rn conjunto J-mensurável. Mostre que:


(a) existe {Ak }k∈N sequência de conjuntos elementares tal que

A1 ⊂ A2 ⊂ . . . e lim c(Ak ) = c(A);


k→∞

(b) existe {Bk }k∈N sequência de conjuntos elementares tal que

B1 ⊃ B2 ⊃ . . . e lim c(Bk ) = c(A).


k→∞

Solução: (a) Seja I um n-pavê tal que I ⊃ A. Para todo ε > 0, existe Pε ∈ P(II ) tal
que
J(A, P ) − J(A, P ) < ε, ∀P ⊃ Pε .
Para ε = 1, 1/2, 1/3, . . ., podemos escolher P1 ⊂ P2 ⊂ P3 ⊂ · · · partições de I tais que

1
J(A, Pk ) − J(A, Pk ) < .
k
n
A integral de Riemann em R 147

Seja Ik = I k,1 , . . . , I k,nk a famı́lia de n-pavês gerada pela partição Pk e consideremos
[
Ak = I k,j .
j∈Cat1 (A,Pk )

Como Pk ⊂ Pk+1 , cada n-pavê de Ik+1 está contido em algum n-pavê de Ik . logo,
Ak ⊂ Ak+1 . Além disso, temos por definição, c(Ak ) = J(A, Pk ). Portanto

1
0 ≤ c(A) − c(Ak ) ≤ J(A, Pk ) − J(A, Pk ) <
k
e, consequentemente, temos
lim c(Ak ) = c(A).
k→∞

(b) Segue do mesmo argumento acima com


[
Bk = I k,j .
j∈Cat2 (A,Pk )

Exercı́cio 12.4: Seja C o conjunto de Cantor, isto é, aquele obtido pelo seguinte
processo recursivo:
     
1 2 1 2 7 8
C1 = [0, 1] \ , , C2 = C1 \ , ∪ , , etc...
3 3 9 9 9 9

Mostre que ∂ [0, 1] \ C = C e conclua que [0, 1] \ C é J-mensurável.
Solução: É claro que Cn ⊃ Cn+1 e Cn é compacto, qualquer que seja n ∈ N. Pelo
Teorema 3.19, temos
\∞
C= Ck 6= ∅.
k=1

Observe que
 2  3
1 2 2 2 2 4 4 2
c(C1 ) = 1 − = , c(C2 ) = − = , c(C3 ) = − = ,...
3 3 3 9 3 9 27 3

e assim por diante, obtemos


 k
2
c(Ck ) = , ∀k ∈ N.
3

Como C ⊂ Ck para todo k, temos


 k
2
0 ≤ c(C) ≤ c(Ck ) =
3

de onde se conclui que c(C) = 0.


148 Cálculo Avançado

Para mostrar que A = [0, 1] \ C é J-mensurável,


S∞ mostremos que ∂A ⊂ C. Observe
construção, C = [0, 1]\ i=1 Ii , onde Ii denota o i-ésimo intervalo
inicialmente que, porS

retirado. Logo, A = i=1 Ii .
Suponhamos x ∈ ∂A. Então, para todo r > 0 temos

(a) Br (x) ∩ A 6= ∅, (b) Br (x) ∩ Ac 6= ∅.

Mas se x ∈
/ C, então

!
[
x ∈ (−∞, 0) ∪ (1, ∞) ∪ Ii .
=1

Se x ∈ (−∞, 0) ∪ (1, ∞), então existe r0 > 0 tal que Br0 (x) ⊂ (−∞, 0) ∪ (1, ∞), o que
implica Br0 (x) ∩ A = ∅ e temos uma contradição com (a).
Logo, x ∈ Ii0 para algum i0 ∈ N e, consequentemente, existe r0 > 0 tal que Br0 (x) ⊂
Ii0 , o que implica Br0 (x) ⊂ A, assim temos também uma contradição com (b). Por-
tanto, x ∈ C e A é J-mensurável, pois c(∂A) ≤ c(C) = 0.

Exercı́cio 12.5: Prove o Corolário 12.1 (pag. 220 do texto)


Solução: Por hipótese, f ′ é contı́nua em Ω. Logo, existe M > 0 tal que

M
kf ′ (x)kL(Rn ) ≤ , ∀x ∈ K.
2

Se x ∈ Ω e h ∈ Rn é tal que x + h ∈ Ω, então

f (x + h) = f (x) + f ′ (x)h + ǫ(x, h),

onde f ′ : Ω → L(Rn ) é contı́nua e, para cada x ∈ Ω,

kǫ(x, h)k
lim = 0. (12.1)
h→0 khk

Se K ⊂ Ω é compacto, então o limite em (12.1) é uniforme em x ∈ K, isto é (veja


Exercı́cio 5.12), para todo ε > 0, existe δ > 0 independente de x tal que se khk < δ,

kǫ(x, h)k
< ε, ∀x ∈ K. (12.2)
khk

Assim, por (12.2) (com ε = M/2), existe δ0 > 0 tal que se x ∈ K e y ∈ Ω, com
ky − xk < δ0 , então kf (y) − f (x)k < M ky − xk e a conclusão segue do Teorema 12.2
(pag. 219).
n
A integral de Riemann em R 149

Exercı́cio 12.6: Mostre as seguintes propriedades sobre medida zero:


(a) Se m(A) = 0 e B ⊂ A, então m(B) = 0;
(b) Se c(A) = 0, então m(A) = 0;
(c) A união enumerável de conjuntos de medida zero tem medida zero;
(d) m(A) = 0 se, e somente se, existe uma famı́lia enumerável de n-paralelepı́pedos
satisfazendo as seguintes condições:

[ ∞
X
◦ ◦
A⊂ Ij e c I j < ε.
j=1 j=1

(e) Seja I = [a1 , b1 ]×· · ·×[an , bn ] um n-paralelepı́pedo tal que aj < bj e ∂II a fronteira
der I . Mostre que m(∂II ) = 0, mas que I não tem medida zero.

Solução: O item (a) é trivial.


(b) Dado ε > 0, existe {II1 , . . . , I m } famı́lia finita de n-paralelepı́pedos tal que
m
[ m
X
A⊂ Ij e c(IIj ) ≤ ε/2.
j=1 j=1

Considere então uma famı́lia enumerável qualquer {IIm+1 , I m+2 , . . .} tal que

X
(IIj ) ≤ ε/2.
j=m+1

Então é claro que a famı́lia {II1 , . . . , I m , I m+1 , . . .} satisfaz a propriedade:



[ ∞
X
A⊂ Ij e c(IIj ) ≤ ε.
j=1 j=1

(c) Seja {A1 , A2 , . . .} uma famı́lia enumerável de conjuntos de medida nula. Por hipó-
tese, dado ε > 0, existe para cada i ∈ N uma famı́lia enumerável de n-paralelepı́pedos
Ii = {II1i , I 2i . . .} tal que

[ ∞
X
A⊂ I ji e c(IIji ) ≤ ε/2i .
j=1 j=1

Então

[ ∞
[ ∞ [
[ ∞
Ai ⊂ Ij = I ji .
i=1 i=1 i=1 j=1
S∞
Como a união enumarável de conjuntos enumeáveis é enumerável, a famı́lia i=1 Ii é
enumerável e
X∞ X ∞ ∞
X
i ε
c(IIj ) < = ε.
2i
i=1 j=1 i=1
150 Cálculo Avançado
◦ ◦
(d) A condição é suficiente, pois c(I ) = c(II ) e I ⊂ I . Provemos então que a condição
é necessária. Seja ε > 0 e {II1 , I 2 , . . .} uma famı́lia enumerável de n-paralelepı́pedos
tal que

[ X∞
A⊂ Ij e c(IIj ) ≤ ε/2.
j=1 j=1

Se I k = [ak1 , bk1 ]×· · ·×[akn , bkn ], denotemos lik = bki −aki , de modo que c(IIk ) = l1k l2k · · · lnk .

É claro que c(IIk ) = c(I k ). Para cada s ≥ 0, consideremos o n-paralelepı́pedo aberto
 s s  k s k s  s s
I ks = ak1 − , bk1 + × a 2 − , b2 + × · · · × akn − , bkn + .
2 2 2 2 2 2

de modo que c(IIks ) = (l1k + s)(l2k + s) · · · (lnk + s).


A aplicação s 7→ c(IIks ) é um polinômio pk (s) de grau n e, pelo Teorema do Valor
Médio, existe 0 < ξ < s tal que

c(IIks ) − c(IIk ) = c(IIks ) − c(IIk0 ) = pk (s) − pk (0) = p′k (ξ)s.

k
Denotando lmax = max{l1k , . . . lnk }, temos
n Y
X
p′k (ξ)s = (ljk + ξ)s ≤ n(lmax
k
+ ξ)n−1 s ≤ n2n−1 lmax
n−1
s.
i=1 j6=i

Assim, para cada k ∈ N tomamos sk > 0 tal que n2n−1 lmax


n−1
sk < ε/2k+1 , de modo que

X ∞ 
X  ε X∞
ε
c(IIks ) < c(IIk ) + n2 n−1 n−1
lmax sk < + k+1
= ε.
2 2
k=1 k=1 k=1

Como os n-paralelepı́pedos I ks são abertos, concluı́mos a prova do item (d).


(d) Trivial! De fato, I é elementar e, consequenetmente, J-mensurável. Logo, pelo
Teorema 12.1 (pag. 218), c(∂II ) = 0. Pelo item (c) acima, concluı́mos que med(∂II ) = 0.
Se med(II ) = 0, existe para todo ε > 0 uma cobertura enumerável de n-paralelepı́pedos
com soma total dos conteúdos menor que ε. Em particular, se ε = c(II )/2 temos

[ ∞
X
I ⊂ Ii ⇒ c(II ) ≤ c(IIi ) < c(II )/2,
i=1 i=1

o que é impossı́vel se ai < bi para todo i = 1, . . . , n.

Exercı́cio 12.7: Seja I ⊂ Rn (n ≥ 1) um n-pavê e f : I → R função contı́nua.


Considere o gráfico de f :

Graf(f ) = x = (x′ , xn ) ∈ Rn+1 ; x′ ∈ I , xn = f (x′ ) .

Mostre que Graf(f ) tem conteúdo nulo em Rn+1 .


n
A integral de Riemann em R 151

Solução: Como f é uniformemente contı́nua em I , dado ε > 0, existe δ tal que


ε
kx − yk2 < δ ⇒ |f (x) − f (y)| < .
2µ(II )
Seja P ∈ P(II ) tal que |P | < δ e {II1 , . . . , I m } a famı́lia gerada por P . Se

f (xj ) = min{f (x) ; x ∈ I j }, f (yj ) = max{f (x) ; x ∈ I j }

então
m
X  ε
U (f, P ) − L(f, P ) = f (yj ) − f (xj ) µ(IIj ) < .
j=1
2

Sejam
m = min{f (x) ; x ∈ I }, M = max{f (x) ; x ∈ I }
e considere Ie = I × [n, M ]. Então Ie é um (n + 1)-pavê e Graf(f ) ⊂ Ie. Seja I =
{m = s0 < s1 < · · · < sl = M } uma partição de [m, M ] tal que ∆si < ε e denotemos
Pe = P × I. Então Pe é uma partição de Ie cuja famı́lia gerada é
n o
Iei,j = I i × [sj−1 , sj ] ; i = 1, . . . , m, j = 1, . . . l .

Observe que se Graf(f ) ∩ Iei,j 6= ∅, então Graf(f ) ∩ Iei,j−2 = Graf(f ) ∩ Iei,j+2 = ∅. De


fato, se  
x, f (x) ∈ Graf(f ) ∩ Iei,j , y, f (y) ∈ Graf(f ) ∩ Iei,j−2
então kx − yk < δ e |f (x) − f (y)| > ε, o que contradiz a continuidade uniforme de f .
Portanto, a quantidade de (n + 1)-pavês da famı́lia gerada por Pe que interceptam o
gráfico de f é, no máximo, 3m e como µ(Iei,j ) = εµ(IIi ), temos
 
J Graf(f ), Pe ≤ 3 U (f, P ) − L(f, P ) < 3ε.


Exercı́cio 12.8: Seja γ : [a, b] → Rn uma curva retificável e Γ = γ(t) ; t ∈ [a, b] .
Mostre que Γ tem conteúdo de Jordan nulo em Rn .
Solução: Seja med(Γ) o comprimento da curva Γ. Como a aplicação γ : [a, b] → Rn
é uniformemente contı́nua, dado 0 < ε < 1, existe δ > 0 tal que kγ(t) − γ(s)k2 < ε se
|t − s| < δ.
Seja Pε = {t0 = a < t1 < · · · < tm = b} uma partição de [a, b] tal que ti − ti−1 < δ
para todo i = 1, . . . , m. Seja Γε a poligonal com vértices nos pontos xi = γ(ti ). Então,
é claro que
kγ(t) − xi k2 < ε, ∀t ∈ [ti−1 , ti ] (∗)
e
m
X
kγ(ti ) − γ(ti−1 )k2 ≤ L.
i=1

Considere a seguinte visinhança tubular da poliginal Γε :


[
Vε = Bε (x).
x∈Γε
152 Cálculo Avançado

Afirmativa 1: Γ ⊂ Vε
|Sn−2 | |Sn−1 | n
Afirmativa 2: c(Vε ) ≤ med(Γ)εn−1 + ε . (∗∗)
n−1 n
A afirmariva 1 é consequência direta de (∗) e a desigualdade da afirmativa 2 implica
que, no caso ε < 1, c(Γ) ≤ Cε, onde C > 0 independe de ε. Assim, uma vez demostrada
a afirmativa 2, teremos concluı́da a prova, fazendo ε → 0.
Não faremos a prova da desiguladade (∗∗) no caso geral. Entretanto, as figuras e as ex-
plicações abaixo são suficientemente convincentes no caso n=3 (em vez de demonstrar o
óbvio complicado, eu aqui prefiro praticar com desenhos minhas aptidões artı́sticas).

Figura 1 Figura 2 Figura 3

A Figura 1 ilustra a visinhança Vε no caso m = 2 (i.e., com dois segmentos [γ(a), γ(t1)]∪
[γ(t1 ), γ(b)]), onde a linha pontilhada representa a poligonal Γε . Neste caso, observa-
mos (veja Figura 2) que as semiesferas das expremidades somam o volume 43 πε3 , que
correponde à parcela |Sn−1 |εn /n na desigualdade (∗∗), onde |Sn−1 | = 2π n/2 /Γ(n/2).
A Figura 3 mostra uma visinhança Wε que contém a poliginal Γε . Observe que Wε
é semelhante à Vε , exceto no entorno do ponto γ(t1 ) comum nos dois segmentos.
Nessa região, Wε é formada pela interseção dos cilindros. É fácil ver que o volume
de Wε é igual ao volume do cilindro circular reto cuja base é o cı́rculo de raio ε
e altura igual ao comprimento da poligonal, isto é, πε2 med(Γε ), que corresponde a
|Sn−2 |med(Γε )εn−1 /(n − 1) no caso geral. Como med(Γε ) ≤ med(Γ), obtemos a outra
parcela na desiguladade (∗∗).
Para concluir o argmento, basta constatar que Vε ⊂ Wε . A Figura 4 ilustra esta fato.

Figura 4

Exercı́cio 12.9: (a) Seja P uma partição de I = [0, 1] × [0, 1]. Mostre que existe
N ∈ N e uma partição Pf 2
N ⊃ P cuja famı́lia gerada contém N quadrados de lado
1/N .
n
A integral de Riemann em R 153

(b) Estenda o resultado de (a) para o retângulo I = [a, b] × [c, d].


Solução: (a) Se P é uma partição de I , então existem

P1 = 0 < t1 < t2 · · · < tk < 1 ,

P2 = 0 < s 1 < s 2 · · · < s l < 1 ,

partições de [0, 1] tais que P = P1 × P2 . Pela densidade de Q em R, podemos supor


sem perda de generalidade que ti , sj ∈ Q, para todo i = 1, . . . , k e j = 1, . . . , l. Então

pi p′j
ti = e sj = ′ ,
qi qj

com pi , qi , p′j , qj′ ∈ N e pi < qi , p′j < qj′ , para todo i ∈ {1, . . . , k} e j ∈ {1, . . . , l}.
Seja q := q1 q2 · · · qk q1′ q2′ · · · ql′ e considere o conjunto
 
1 2 q−1
Pq := 0 < < < · · · < <1 .
q q q

É claro que Pq é uma partição de [0, 1] e Pe = Pq ×Pq é uma partição der I cuja famı́lia
gerada é formada por N = q 2 quadrados de lado L = 1/q. Para concluir que Pe ⊃ P ,
consideremos os números racionais
q q
qbi = e qbj′ = ′ .
qi qj

Então é claro que


pi pi qei pi qei
ti = = =
qi qi qei q
Como pi < qi , i = 1, . . . , k, temos pi qei < qi qei = q, de modo que ti ∈ Pq .
Com o mesmo argumento, podemos mostrar que sj ∈ Pq . Logo, Pe = Pq × Pq ⊃ P .
(b) Se I = [a, b] × [c, d], consideremos as funções f1 , f2 : [0, 1] → R definidos por

f1 (t) = tb + (1 − t)a,
f2 (s) = sd + (1 − s)c.
 
É claro que f1 [0, 1] = [a, b], f2 [0, 1] = [c, d] e como são injetivas, admitem as
inversas f1−1 ; [a, b] → [0, 1] e f2−1 ; [c, d] → [0, 1], definidas por
x−a y−c
f1−1 (x) = e f2−1 (y) = .
b−a d−c

Seja P = P1 × P2 uma partição de [a, b] × [c, d] e considere o conjunto Q = Q1 × Q2 =


f1−1 (P1 ) × f2−1 (P2 ). Como f1 e f2 são funções estritamente crescentes, o conjunto
Q é uma partição do quadrado [0, 1] × [0, 1]. Pelo item (a), existe N ∈ N e um
refinamento Q′ de Q cuja famı́lia gerada é formada por N 2 quadrados de lado 1/N .
Então Q′ = QN × QN , onde QN é uma partição de [0, 1]. Para concluir, basta então
considerar o conjunto PN = f1 (QN ) × f2 (QN ).
154 Cálculo Avançado

Exercı́cio 12.10: Sejam A ⊂ Rn conjunto J-mensurável e f, g : A → R funções


Riemann-integráveis. Mostre que f g é Riemann-integrável em A.
Solução: Consequência imediata do Teorema 12.6, pag. 224.

Exercı́cio 12.11: Seja I = [0, 1] × [0, 1] e considere a função f : I → R assim


definida: 
1 se x ∈ Q,
f (x, y) =
2y se x ∈
/ Q.
f é Riemann integrável em I ? As integrais iteradas existem? Justifique suas repostas.
Solução: Fixemos x ∈ [0, 1] e consideremos a função, ψ : [0, 1] → R, ψ(y) = f (x, y).
R1
• se x ∈ Q, então ψ(y) ≡ 1 e 0 ψ(y) dy = 1;
R1
• se x ∈
/ Q, então ψ(y) = 2y e 0 ψ(y) dy = 1;
R1
Portanto, 0 f (x, y) dy = 1 para todo x ∈ [0, 1] e podemos calcular a integral iterada:
Z 1 Z 1 
f (x, y) dy dx = 1.
0 0

Por outro lado, se ficarmos y ∈ [0, 1] e considerarmos a função ϕ : [0, 1] → R, ϕ(x) =


f (x, y), ϕ não é Riemann-integrável, pois é descontı́nua em todos os pontos de seu
domı́nio (com exceção, é claro, se y = 1/2). Neste caso, não está definida a integral
iterada Z Z 
1 1
f (x, y) dx dy.
0 0

Exercı́cio 12.12: Seja A = Q ∩ [0, 1]. Para cada x ∈ A, x = p/q fração irredutı́vel,
considere o conjunto S(x) assim definido: S(0) = {(0, 0)} e se x 6= 0,
  
n m
S(x) = , ; n, m = 0, 1, . . . , p .
q q

Considere a função f : [0, 1] × [0, 1] → R definida por


n
f (x, y) = 0 se x ∈ A e (x, y) ∈ S(x),
1 senão.
Mostre que
Z 1 Z 1  Z 1 Z 1 
f (x, y) dy dx = f (x, y) dx dy = 1,
0 0 0 0

mas f não é Riemann-integrável em [0, 1] × [0, 1].


Solução: Fixe x ∈ [0, 1] e considere a função fx : [0, 1] → R definida por fx (y) =
/ A, então a aplicação y 7→ fx (y) = f (x, y) = 1 para todo y ∈ [0, 1]. Se
f (x, y). Se x ∈
x ∈ A, então x = p/q fração irredutı́vel e
n
fx (y) = 0 se y ∈ {0, 1/q, . . . , p/q}
1 senão.
n
A integral de Riemann em R 155

Em ambos os casos, a aplicação y 7→ fx (y) é Riemann integrável em A e


Z 1
F (x) = f (x, y) dy = 1, ∀x ∈ [0, 1]
0

e, consequentemente, Z 
Z 1 1
f (x, y) dy dx = 1.
0 0

O mesmo argumento vale para a aplicação x 7→ fy (x), com y ∈ [0, 1] fixado. Portanto,
valem as integrais iteradas.
Para mostrar que f não é integrável no quadrado [0, 1]2 , considere uma partição P de
[0, 1]2 e {II1 , . . . , I k } a famı́lia gerada. Podemos então escolher q ∈ N suficientemente
grande de modo que, para um qualquer pavê I j , existem n, m ≤ p tais que o par
(n/q, m/q) pertença a I j . Como em cada um desses pavês há pontos com coordenadas
irracionais, temos L(f, P ) = 0 e U (f, P ) = 1.
Exercı́cio 12.13: Demonstre o Lema 12.1 da página 245 .
Solução: Seja I = [a1 , b1 ]×· · ·×[an , bn ] um dado n-pavê e A ∈ Mn×n . Se det(A) = 0,
o resultado é mediato, visto que A(II ) ⊂ A(Rn ), cuja dimensão é menor que n. Vamos
então supor det(A) 6= 0. Observemos que se
   
I 0 = 0, b1 − a1 × · · · × 0, bn − an e u0 = (a1 , . . . , an ),
então
n
Y
c(II0 ) = (bi − ai ) = c(II ) e I = u0 + I 0 .
i=1

Como A(II ) = A(u0 ) + A(II0 ) e o conteúdo é invariante por translações, podemos nos
restringir ao caso dos n-pavês com vértice na origem.
Faremos a prova em duas etapas.
Etapa 1: Suponhamos A simétrica. Então, em consequência do Teorema Espectral,
existe uma matriz ortogonal U e uma matriz diagonal D = diag(λ1 , . . . , λn ) tais que
A = U T AU , onde λ1 , . . . , λn são os autovalores de A.
Observemos que
n n
X o
n
I0 = x ∈ R ; x = µi (bi − ai )e i , µi ∈ [0, 1] ,
i=1

onde {e 1 , . . . , e n } é a base canônica de Rn . Logo,


 n n
X o
JJ0 := U I 0 = x ∈ Rn ; x = µi (bi − ai )U (e i ), µi ∈ [0, 1] .
i=1

Sendo U ortogonal, o conjunto β := {U (e 1 ), . . . , U (e n )} define uma base ortonormal


de Rn , de modo que JJ0 é um n-pavê relativamente ao sistema de coordenadas na base
β. Assim,
n
 Y
c JJ0 = (bi − ai ) = c(II0 ),
i=1
156 Cálculo Avançado

isto é, matrizes ortogonais preservam o conteúdo de Jordan de n-pavês.


Temos, portanto, a seguinte relação:
  
c A(II0 ) = c U T D(JJ0 ) e c JJ0 = c(II0 ).

Por outro lado,


n n
X o
D(JJ0 ) = x ∈ Rn ; x = µi λi (bi − ai )U (e i ), µi ∈ [0, 1] ,
i=1

de modo que D(JJ0 ) é um n-pavê relativamente ao sistema de coordenadas β, cujo


conteúdo é
n
 Y
c D(JJ0 ) = |λi |(b1 − ai ) = | det(D)|c(II0 ) = | det(A)|c(II0 ).
i=1

Como U T = U −1 é matriz ortogonal, temos


   
T
c A(II0 ) = c U D(JJ0 ) = c D(JJ0 ) = | det(A)|c(II0 ).

Etapa 2: Suponhamos A invertı́vel mas não necessariamente simétrica. Então, em


consequência do Teorema da Decomposição Polar, existe uma matriz ortogonal V e
uma matriz simétrica e positiva definida B tais que A = V B. Como | det V | = 1,
segue dos argumentos da Etapa 1,
 
c A(II0 ) = c B(II0 ) = | det(B)|c(II0 ) = | det(A)|c(II0 ).

Exercı́cio 12.14: Seja f : [0, 1] → R contı́nua e T ⊂ R2 o tiângulo com vértices


em (0, 0), (1, 0) e (0, 1). Mostre que
Z Z 1
f (x + y) dxdy = uf (u) du.
T 0

Solução: Considere G : R2 → R2 definida por G(u, v) = (u − v, v) e os conjuntos



D = (u, v) ; 0 ≤ u ≤ 1, 0 ≤ v ≤ u ,

T = (x, y) ; 0 ≤ x ≤ 1, 0 ≤ y ≤ 1 − x ,

Observe que T é o triângulo com vértices em (0, 0), (1, 0) e (0, 1), D é o triângulo com
vértices em (0, 0), (1, 0) e (1, 1) e G(D) = T . Considere também a função F (x, y) =
f (x + y).
Pelo Teorema de Mudança de variáveis, temos
Z Z

F (x, y) dxdy = F G(u, v) |JG (u, v)| dudv.
T D

Como G é linear, JG (u, v) = det[G] = 1. Assim, aplicando a fórmula acima e o


Teorema de Fubini, temos
Z Z Z 1 Z u  Z 1
f (x, y) dxdy = f (u) dudv = f (u) dv du = uf (u) du.
T D 0 0 0
n
A integral de Riemann em R 157

Exercı́cio 12.15: Sejam B1 (0) a bola aberta de R2 (relativa à norma euclidiana),


de raio 1 e centro em zero, f : R2 → R uma função contı́nua e Rθ a matriz de rotação:
 
cos θ sen θ
Rθ = .
− sen θ cos θ
Considere a função g definida por
Z
g(θ) = f (Rθ x) dx.
B1 (0)

Mostre que g(θ) = g(0) para todo θ ∈ R.



Solução: A bola B1 (0) é invariante pelas rotações, isto é, Rθ B1 (0) = B1 (0), qual-
quer que seja θ ∈ R. Como det[Rθ ] = 1, a mudança de variável y = Rθ x nos dá
dy = dx e Z Z

g(θ) = f Rθ x dx = f (y) dy = g(0).
B1 (0) B1 (0)

Logo, g é constante.

Exercı́cio 12.16: Sejam α ∈ R, 0 < a < b < +∞ e



D = x ∈ Rn ; a < kxk2 < b .

Considere f : D → R a função definida por f (x) = kxkα2 . Mostre que


Z  n−1
|S |(n + α)−1 (bα+n − aα+n ) se α + n 6= 0,
f (x) dx =
D |S n−1 | ln(b/a) se α + n = 0.
Solução: Usando coordenadas esféricas, f (x) = kxkα α
2 = ρ . Logo,
Z Z b
n−1
f (x) dx = |S | ρα+n−1 dρ
D a

e o resutado segue por integração elementar.


1/p
Exercı́cio 12.17: Seja kxkp = |x1 |p + |x2 |p + · · · + |xn |p , p ≥ 1, a norma p de
n
R . Determine os valores de α ∈ R para os quais é finita a integral
Z
kxkαp dx, onde B1 = {x ∈ Rn ; kxk2 ≤ 1}.
B1

Solução: Como as normas em Rn são equivalentes, existem constantes positivas m


e M tais que mkxk2 ≤ kxkp ≤ M kxk2 , para todo x ∈ Rn .
Aplicando coordenadas esféricas, temos (veja (12.46):

Z π/2 Z 1  2π π/2

α
kxk2 dx = ρ α+n−1
dρ = (n + α)Γ(n/2) se n + α > 0
B1 (0) Γ(n/2) 0 
+∞ se n + α ≤ 0
Portanto, segue da equicalência das normas que a integral é finita, se, e somente se,
α > −n.
158 Cálculo Avançado

Exercı́cio 12.18: Seja BR (0) a bola fechada de centro em zero e raio R > 0 de
Rn , relativamente à norma k k1 , isto é,

BR (0) = {(x1 , x2 , . . . , xn ); |x1 | + |x2 | + · · · + |xn | ≤ R}.

Seja Vn (R) o volume de BR (0).


(a) Prove que Vn (R) = Rn Vn (1).
(b) Mostre que Vn (1) = 2n /n!.
Solução: (a) Se T : Rn → Rn é definida por T x = Rx, então T é linear (homotetia)
e det[T ] = Rn e
Z Z
Vn (R) = dx = Rn du = Rn Vn (1).
T (B1 (0)) B1 (0)

(b) Observe que Vn (1) = 2n Vn+ , onde Vn+ é o volume de



Bn+ = x ∈ Rn ; kxk1 = 1, xi ≥ 0, i = 1, . . . , n .

Então,
Z 1 Z 1−x1 Z 1−x1 −···−xn
Vn+ = dx1 dx2 · · · dxn
0 0 0
Z 1 Z 1−x1 Z 1−x1 −···−xn−1
= dx1 dx2 · · · (1 − x1 − x2 − · · · − xn ) dxn .
0 0 0

Repare que a última inegral, cuja variável de integração é xn , pode ser escrita da
seguinte forma, denotando α = 1 − x1 − · · · − xn−1 :
Z α
α2 (1 − x1 − x2 − · · · − xn−1 )2
(α − xn ) dxn = =
0 2 2

Assim, temos
Z 1 Z 1−x1 Z 1−x1 −···−xn−2
1
Vn+ = dx1 dx2 · · · (1 − x1 − x2 − · · · − xn−1 )2 dxn−1
2 0 0 0

e podemos repetir o processo considernado α = 1 − x1 − · · · − xn−2 na última integral:


Z 1−x1 −···−xn−2 Z α
2 α3
(1 − x1 − x2 − · · · − xn−1 ) dxn−1 = (α − xn−1 )2 dxn−1 = .
0 0 3

E assim, sucessivamente, obtemos a fórmula

2n
Vn (1) = 2n Vn+ = .
n!
n
A integral de Riemann em R 159

Exercı́cio 12.19: Sejam f : R × Rn função de classe C 1 e Ω ⊂ Rn aberto J-


mensurável. Considere a função M : R → R definida por
Z
M (t) = f (t, x) dx.

Mostre que M é de classe C 1 em R e


Z
′ ∂f
M (t) = (t, x) dx, ∀t ∈ R.
Ω ∂t

Solução: Seja Q = [0, T ] × Ω e denotemos X = (t, x) ∈ Q, ∆X = (h, ∆t) ∈ Rn × R.


Com f é de classe C 1 , temos

f (X + ∆X) = f (X) + f ′ (X)∆X + ǫ(X, ∆X),

com
|ǫ(X, ∆X)|
lim =0
∆X→0 k∆Xk
uniformemente nos compactos de Q. Em particular, se K ⊂ Q é compacto, dado
ε > 0, existe δ > 0 tal que

∂f
f (t + ∆t, x) = f (t, x) + (t, x)∆t + ǫ(t, x, ∆t)
∂t
com
ǫ(t, ∆t, x)
< ε, ∀(t, x) ∈ K.
∆t

Portanto, se |∆t| < δ,


Z Z
M (t + ∆t) − M (t) ∂f ǫ(t, ∆t, x)

(t, x) dx ≤
∆t < εc(Ω).
Ω ∂t Ω ∆t

Exercı́cio 12.20: Seja f : Rn → R de classe C 1 e γ : R → Rn curva de classe C 1


tal que γ(0) = 0. Considere a função F : (0, +∞) × R → R definida por
Z
F (t, r) = f (x) dx,
Br (γ(t))

onde Br γ(t) denota a bola de aberta de centro em γ(t) e raio r > 0. Mostre que F
é de classe C 1 e calcule
∂F ∂F
, .
∂t ∂r
Solução: (a) Seja g : R × Rn definida por x = g(t, y) = y + γ(t). Então, g é de classe
C 1 e |Jg (t, y)| = 1, o que implica dx = dy. Como g(t, Br (0)) = Br (γ(t)) para todo
t ∈ R, temos
Z Z
F (t, r) = f (g(t, y)) dy = f (y + γ(t)) dy.
Br (0) Br (0)
160 Cálculo Avançado

Pelo exercı́cio anterior, F é de classe C 1 e


Z
∂F ∂ 
= f y + γ(t) dy
∂t B (0) ∂t
Z r


= ∇f y + γ(t) : γ ′ (t) dy
B (0)
Z r


= ∇f (x) : γ ′ (t) dx
Br (γ(t))

(b) Seja g : (0, +∞) × Rn definida por x = g(r, y) = ry + γ(t). Então, g é de classe
C 1 e |Jg (r, y)| = r n , o que implica dx = r n dy. Como g(r, B1(0)) = Br (γ(t)) para todo
t ∈ R, temos
Z Z
n
F (t, r) = f (g(t, y))r dy = f (ry + γ(t))r n dy.
B1 (0) B1 (0)

Logo, F é de classe C 1 e
Z
∂F ∂   
= f ry + γ(t) r n dy
∂r B (0) ∂r
Z 1

 
= ∇f ry + γ(t) : r n y + nr n−1 f (ry + γ(t)) dy
B (0)
Z 1

 n 
= ∇f ry + γ(t) : y + f (ry + γ(t)) r n dy
B1 (0) r

Como ry + γ(t) = x ⇐⇒ y = 1r (x − γ(t), obtemos


Z
∂F 
1 n 
= ∇f (x) : (x − γ(t) + f (x) dx.
∂r Br (γ(t)) r r

Exercı́cio 12.21: Para cada R > 0 e n ∈ N, consideremos os conjuntos


 
BR (n) = x ∈ Rn ; kxk2 ≤ R , CR (n) = x ∈ Rn ; kxk∞ ≤ R .

(1) Use coordenadas polares para calcular


Z
2
IR (2) = e−kxk2 dx.
BR (2)

(2) Mostre que BR (2) ⊂ CR (2) ⊂ B√2R (2) e conclua que

p Z R q
2
IR (2) ≤ e−r dr ≤ I√2R (2).
−R

(3) Usando (2) e o Teorema de Fubini , mostre que


Z Z
−kxk22 2
e dx = lim e−kxk2 dx = π n/2 .
Rn R→+∞ CR (n)
n
A integral de Riemann em R 161

(4) Considere fR : (0, ∞) → R definida por


Z
2
fR (α) = e−αkxk2 dx.
CR (n)

Mostre que fR (α) é derivável em relação a α e calcule a derivada fR′ (α).


(5) Mostre que existe o limite

lim fR′ (α), ∀α > 0.


R→+∞

(6) Use os resultados anteriores para calcular


Z
2
kxk22 e−kxk2 dx.
Rn

(7) Com o resultado de (3), a fórmula pode ser obtida diretamente a partir da seguinte
astúcia: use coordenadas esféricas e o Teorema de Fubini para obter
Z ∞ Z  Z 
n/2 1 −s (n/2)−1 1
π = e s dρ dω = Γ(n/2) dω .
2 0 S n−1 2 S n−1

Solução: (1) Usando coordenadas polares,


Z R Z R2
2
−r2
IR (2) = 2π e r dr = π e−u du = π 1 − eR .
0 0

(2) Pelo Teorema de Fubini (em R2 ),

Z Z !2
R
−kxk22 2
e dx = e−r dr .
CR (2) −R

Como BR (2) ⊂ CR (2) ⊂ B√2R (2), temos a estimativa

 Z
R2
1/2 R
2
 
2  1/2
π 1− e ≤ e−r dr ≤ π 1 − e2R .
−R

(3) Novamente, pelo Teorema de Fubini (agora em Rn ),


 Z
R2
n/2 −kxk22

2R2
n/2
π 1− e ≤ e dx ≤ π 1 − e ,
CR (n)

de onde se conclui que


Z Z
−kxk22 2
lim e dx = ekxk2 dx = π n/2 .
R→∞ CR (n) Rn
162 Cálculo Avançado

Obs: Repetindo o mesmo argumento acima, obtemos


Z  π n/2
2
e−αkxk2 dx = .
Rn α

2
(4) Se definirmos g : (0, ∞) × Rn → R por g(α, x) = e−αkxk2 , então g é de classe C ∞
e segue do Exercı́cio 12.18,
Z Z
∂ 2
fR′ (α) = f (α, x) dx = − kxk22 e−αkxk2 dx.
CR (n) ∂α CR (n)

Observe que, formalmente, temos


Z
2
lim fR′ (α) =− kxk22 e−αkxk2 dx =: g(α).
R→∞ Rn

Se pudermos garantir que a convergência acima é uniforme em α, então, como fR (α)


converge pontualmente para f (α) = (π/α)n/2 , teremos

n  π n/2

g(α) = f (α) = − . (12.3)
2α α

Mas, em vez de estudar essa possı́vel convergência uniforme, vamos calcular (12.3)
diretamente.
É claro que
Z Z
2 2
kxk22 e−αkxk2 dx ≤ −fR′ (α) ≤ kxk22 e−αkxk2 dx (12.4)
BR (n) B√2R(n)

Usando coordenadas esféricas, temos


Z Z R Z R
2
n+1 −αρ2 2π n/2 2
kxk22 e−αkxk2 dx = |S n−1
| ρ e dρ = ρn+1 e−αρ dρ
BR (n) 0 Γ(n/2) 0

1  π n/2 Z αR 2

= un/2 e−u du
αΓ(n/2) α 0

Sabemos que
Z αR2 n  n n
lim un/2 e−u du = Γ +1 = Γ .
R→∞ 0 2 2 2
Portanto, da desigualdade (12.4), obtemos
Z
2 n  π n/2
lim fR′ (α) =− kxk22 e−αkxk2 dx = − .
R→∞ Rn 2α α
n
A integral de Riemann em R 163

Exercı́cio 12.22: Sejam f, g : Rn → R funções contı́nuas, A ⊂ Rn conjunto J-


mensurável, p, q ∈ (1, +∞) tais que 1/p + 1/q = 1. Mostre que
Z Z 1/p Z 1/q

f g ≤ |f | p
|g| p
. (12.5)

A A A

Estenda a desiguladade (12.5) para A = Rn supondo que as integrais impróprias de


|f |p e |g|q existam.
Solução: Repita o argumento da prova do Corolário 2.2, pag. 16.

Exercı́cio 12.23: Seja G+


n o subconjunto de Mn×n (R) das matrizes simétricas e
positivas.
a) Mostre que
Z  
1 −n/2 hAx : xi
p = (2π) exp − dx, ∀A ∈ G+
n.
det(A) Rn 2

b) Mostre que G+ n é convexo e que a aplicação A 7→ det(A) é log-côncava, isto é,


A 7→ ln det(A) é côncava.
Solução: (a) Como A é matriz simétrica e positiva, o Teorema Espectral nos garante
que A possui n autovalores positivos, λ1 , · · · , λn . Mais precisamente, existe uma matriz
unitária U tal que
 
λ1 0 · · · 0
 0 λ2 · · · 0 
U T AU = D =   ... .. . . ..  (12.6)
. . . 
0 0 · · · λn
Consideremos G : Rn → Rn definido por G(u) = U u. Então, para a substituição
x = G(u) temos dx = | det U |du = du e
n
X
T
hAx : xi = hAU u : U ui = hU AU u : ui = hDu : ui = λi u2i .
i−1

Observe que a bola BR (0) (relativamente à norma euclidiana) é invariante por U , de


modo que
Z   Z  
hAx : xi hDu : ui
exp − dx = exp − du.
BR (0) 2 BR (0) 2

Com argumentos análogos aos da solução do Exercı́cio 12.22, podemos mostrar que
Z   Yn Z
hDu : ui 2 (2π)n/2
exp − du = e−λi ui /2 dui = √ .
Rn 2 i=1 R λ 1 λ2 · · · λn

Lembrando que det[A] = det[D] = λ1 λ2 · · · λn , concluı́mos a solução.


Observação: Uma segunda solução é considerar que toda matriz simétrica e positiva
possui uma raiz quadrada, isto é, se A ∈ G+ + 2
n , então existe B ∈ Gn tal qe B = A.
164 Cálculo Avançado

Isso é consequência imediata do Teorema


√ Espectral. De fato, se A ∈ G+ n , então existe
U unitária satisfazendo (12.6). Seja D a matriz definida por
√ 
λ1 √0 ··· 0
√  0 λ1 · · · 0 
D=  .. .. .. ..  
. . .
√.
0 0 ··· λn

Então B = U T DU é raiz quadrada de A.
Voltando ao problema, se u = Bx, temos du = | det(B)| dx e
Z   Z   Z  
hAx : xi hB 2 x : xi hBx : Bxi
exp − dx = exp − dx = exp − dx
Rn 2 Rn 2 Rn 2
Z  
kuk22 1 (2π)n/2
= exp − det(B) du =
Rn 2 det(B)
p
e concluı́mos a solução, já que det(B) = det(A).
(b) Queremos mostrar que

det λA + (1 − λ)B ≥ (det A)λ (det B)1−λ , ∀λ ∈ [0, 1]. (12.7)

Seja C = λA + (1 − λ)B. Então C ∈ G+n e


Z  
1 −n/2 hCx : xi
p = (2π) exp − dx.
det(C) Rn 2

Para simplificar a notação, consideremos α = (2π)−n/2 e,


   
hAx : xi hBx : xi
f (x) = exp − , g(x) = exp − .
2 2
Então,  
hCx : xi
exp − = f (x)λ g(x)1−λ .
2
Pela deigualdade de Hölder (veja Exercı́cio 12.22
Z
1
p =α f (x)λ g(x)1−λ a, dx
det(C) Rn
Z λ Z 1−λ
≤α f (x) dx g(x) dx
Rn Rn
 Z λ  Z 1−λ
= α f (x) dx α g(x) dx
Rn Rn
!λ !1−λ
1 1
= p p ,
det(C) det(C)

e a temos a desigualdade (12.7).


n
A integral de Riemann em R 165

Exercı́cio 12.24: Seja u um vetor de Rn e considere a matriz A = [u ⊗ u ].


(a) Mostre que A é diagonalizável e seus autovalores são

λ1 = · · · = λn−1 = 0, λn = kuk22 .

(b) Use este fato para mostrar que det(A) = 1 + kuk22 .


Solução: Se u = (u1 , . . . , un ), a matrix A é, por definição,
 u2 u1 u2 · · · u1 un 
1
u
 2 1u u22 · · · u2 un 
A=
 .. .. .. .. 
. . . .
un u2 un u2 · · · u2n

Portanto, sendo A simétrica, ela é diagonalizável.


Observe que se w = (w1 , . . . , wn ),
 u2 u1 u2 · · · u1 un   w1   
1 u1
 u2 u1 u22 · · · u2 un   w2   u2 
 . ..     
 . .. ..
.   ...  = (u · w )  ...  .
. . .
un u2 un u2 · · · u2n wn un

Portanto, o produto tensorial u ⊗ u define uma transformação linear L : Rn → Rn


tal que L(w ) = hu : w iu. Em particular, podemos verificar diretamente que u é
autovetor de L associaldo ao autovalor kuk22 . Por outro lado, se w é ortogonal a u ,
então L(w ) = 0 = hu : w iu. Como existem n − 1 vetores ortogonais a u , concluı́mos
o item (a).
Seja β = {u, w 1 , . . . , w n−1 } uma base de autovetores de L. Então, a matriz de L em
relação a essa base é diagonal, tendo na diagonal seus autovalores, isto é,
 
kuk22 0 ··· 0
 0 0 ··· 0
[L]β = 
 ... .. . . .
. . .. 
0 0 ··· 0
e  
1 + kuk22 0 ··· 0
 0 1 ··· 0
[I + L]β = 
 .. .. . . .
. . . .. 
0 0 ··· 1
Como o determinante é invariante por mudança de bases, temos
 
det I + [u ⊗ u] = det [I + L]β = 1 + kuk22 .
13
Gauss, Green e Stokes
Exercı́cio 13.1: Demonstre a fórmula (13.11) (pag. 281) no caso n = 3.
Solução: O gráfico da função diferenciável (x, y) ∈ U ⊂ R2 7→ ϕ(x, y) ∈ R é uma
superfı́cie definida pelo mergulho F (x, y) = x, y, ϕ(x, y) . Sabemos do Cálculo Difer-
encial que a se K ⊂ U é compacto e ϕ é de classe C 1 , a integral
Z q
2
A= 1 + k∇ϕ(x, y)k dxdy
K

é a área de S = (x, y, z) ∈ R3 ; z = ϕ(x, y) .
Neste caso, para cada (x, y) ∈ U , F ′ (x, y) : U → R3 é uma transformação linear cuja
representação em coordenadas é
 
1 0
 
F (x, y) =  ∂ϕ 0

∂ϕ
1 
(x, y) (x, y)
∂x ∂y

Calculando diretamente, temos (omitindo as coordenadas para simplificar a notação)


  2 
∂ϕ ∂ϕ ∂ϕ
 1+
 ′  ∂x ∂x ∂y 
F (x, y)T F ′ (x, y) = 
 ∂ϕ ∂ϕ  2 
∂ϕ 
1+
∂x ∂y ∂y

de modo que   2
det F ′ (x, y)T F ′ (x, y) = 1 + k∇ϕ(x, y)k .

Exercı́cio 13.2: Mostre que todo aberto limitado de classe C 1 é J-mensurável.


Solução: Seja Ω um aberto de classe C 1 . Pela observação 13.5 (pag. 279), a fronteira
∂Ω é localmente o gráfico de uma função de classe C 1 . Logo, se I é um n-paralele-
pı́pedo que intersepta ∂Ω, então a fronteira do conjunto I ∩ ∂Ω é o gráfico de uma
função de classe C 1 . A conclusão segue do Exercı́cio 12.7.
168 Cálculo Avançado

Exercı́cio 13.3: Usando projeções estereográficas, construa um sistema completo


de cartas locais contendo exatamente dois megulhos para a esfera unitária de Rn :

Sn−1 = x ∈ Rn ; kxk2 = 1 .

Mostre que Sn−1 é uma superfı́cie orientável.


Solução: Para x ∈ Rn , denotemos x = (x′ , xn ), onde x′ = (x1 , . . . , xn−1 ). Vamos
considerar F+ e F− as inversas das projetções estereográficas com respeito aos polos e n
e −e n , respectivamente. Então, calculando diretamente obtemos F+ , F− : Rn−1 → Rn
definidos por
X  2xi 
n−1  ′ 2
kx k2 − 1


F+ (x ) = ei + e n,
i=1
kx′ k22 + 1 kx′ k22 + 1
(13.1)
X  2xi 
n−1  ′ 2
kx k − 1

2
F− (x′ ) = ′ k2 + 1
ei − ′ k2 + 1
e n,
i=1
kx 2 kx 2

onde {e 1 , e 2 , . . . , e n } é a base canônica de Rn .


É claro que as funções F+ e F− são de classe C ∞ e

F+ (Rn−1 ) ∪ F− (Rn−1 ) = Sn−1 .

Portanto, para concluir que {F+ , F− } é um sistema de cartas locais da esfera Sn−1 ,
basta mostrar que elas e suas derivadas são injetivas. Vamos mostrar isso para F+ ; o
outro caso é idêntico.
(a) F+ é injetiva. De fato, F+ é uma bijeção, pois, por um cálculo direto, obtemos
F+−1 : Sn−1 \ {e n } → Rn−1 , onde

1 1
F+−1 (x′ , xn ) = x′ = (x1 , . . . , xn−1 ). (13.2)
1 − xn 1 − xn

(b) F+′ (x′ ) é injetiva. Para mostrar isso, é suficiente mostrar que a matriz [F+′ (x′ )]
tem posto n − 1 para qualquer x′ ∈ Rn−1 .
Calculando diretamente, temos para 1 ≤ i ≤ n − 1:


 2 4x2i
∂F+,i ′  ′ k2 + 1
− ′ k2 + 1)2
se i = j,
(x ) = kx 2 (kx 2 (13.3)
∂xj 
 4xi xj
− se i 6
= j,
(kx′ k22 + 1)2
e
∂F+,n ′ 4xi
(x ) =
∂xj (kx k22 + 1)2

Portanto, a diferencial de F+ é a matriz de ordem n × (n − 1)


 
∂F+ ′
 ′
(x ) 
[F+′ ](x′ ) =  ∂x . (13.4)
∇F+,n (x′ )
Gauss, Green e Stokes 169

De acordo com (13.3), obtemos


   
∂F+ ′ 2 2 ′ ′
(x ) = ′ 2 I− ′ 2 (x ⊗ x ) .
∂x′ kx k2 + 1 kx k2 + 1

Portanto (veja Teorema e o Exemplo ou o Exercı́cio 12.23),


   n−1  
∂F+ ′ 2 2 ′ ′
det (x ) = det I − ′ 2 (x ⊗ x )
∂x′ kx′ k22 + 1 kx k2 + 1
 n−1  
2 2 ′ ′
= 1− ′ 2 tr(x ⊗ x )
kx′ k22 + 1 kx k2 + 1
 n−1   (13.5)
2 2 ′ 2
= 1− ′ 2 kx k2
kx′ k22 + 1 kx k2 + 1
 n−1  
2 ′ 2
= 1 − kx k2
kx′ k22 + 1

o que demonstra a afirmativa (b) no caso kx′ k2 6= 1. Se kx′ k2 = 1, a matriz (13.4)


toma a forma
 1 − x2 −x1 x2 ··· −x1 xn−2 −x1 xn−1 
1
 .. .. .. .. .. 
 . . . . . 

[f+ (x′ )] = 
 −xn−2 x1 −xn−2 x2 · · · 1 − xn−22
−xn−2 xn−1

 (13.6)
 
−xn−1 x1 −xn−1 x2 · · · −xn−1 xn−2 1 − x2n−1
x1 x2 ··· xn−2 xn−1

Podemos supor sem perder a generalidade que xn−1 6= 0. Então, multiplicando a


última linha da matriz (13.6) por xn−1 e somando com a penúltima linha, obtemos
 1 − x2 −x1 x2 ··· −x1 xn−2 −x1 xn−1 
1
 .. .. .. .. .. 
 . . . . . 
A=
 −xn−2 x1 −xn−2 x2 ··· 1 − x2n−2 −xn−2 xn−1


 
−xn−1 x1 −xn−1 x2 · · · −xn−1 xn−2 1 − x2n−1
0 0 ··· 0 1

Eliminando a penúltima linha de A, obtemos a matriz quadrada


 1 − x2 −x1 x2 · · · −x1 xn−2 −x1 xn−1 
1
 .. .. .. .. .. 
B= . . . . . 
 
−xn−2 x1 −xn−2 x2 · · · 1 − x2n−2 −xn−2 xn−1
0 0 ··· 0 1

Observe que

1 − x21 −x1 x2 · · · −x1 xn−2
 
.. .. .. ..
det(B) = . . . . = det I − (e
x ⊗ x
e ) xk22 ,
= 1 − ke

−xn−2 x1 −xn−2 x2 · · · 1 − x2n−2
170 Cálculo Avançado

xk22 > 1 − kx′ k22 = 0, det(B) > 0 e concluı́mos a


e = (x1 , . . . , xn−2 ). Como 1 − ke
onde x
prova de (b).
É claro que F+ (Rn−1 ) ∩ F− (Rn−1 ) = Sn−1 \ {e n , −e n } (que é conexo). Então, usando
as fórmulas (13.1) e (13.2) acima, obtemos T = F−−1 ◦ F+ : Rn−1 → Rn−1 , com

1
T (x′ ) = (F−−1 ◦ F+ )(x′ ) = x′ . (13.7)
kx′ k22

Para calcular o jacobiano de T , observemos que para x′ = (x1 , . . . , xn−1 ) 6= 0, temos




 1 2x2i
∂Ti ′  ′ 2
− se j = i,
(x ) = kx k2 kx′ k42
∂xj 
 −2xi xj
 se j 6= i,
kx′ k42

Assim, temos  
′ ′ 1 2
T (x ) = ′ 2 I− (x′ ⊗ x′ )
kx k2 kx′ k22
Logo,  
  1 2
det T ′ (x′ ) = ′ ′
det I − ′ 2 (x ⊗ x )
kx′ k2n−2
2
kx k2
 
1 2 ′ 2 1
= ′ 2n−2 1 − ′ 2 kx k2 = − ′ 2n−2 .
kx k2 kx k2 kx k2
Portanto, JT (x′ ) 6= 0 para todo x′ ∈ Rn−1 e a demostração está completa.

Exercı́cio 13.4: Considere a faixa de Möbius S definida pela parametrização F :


(−1, 1) × [0, 2π] → R3 ,
   
 θ

 x1 = F1 (r, θ) = cos(θ) 2 + r cos

 2

   
 θ
x2 = F2 (r, θ) = sen(θ) 2 + r cos (13.8)

 2

  

 θ

 z = F1 (r, θ) = r sen
2

Deduza a parametrização F considerando as seguintes três etapas: para cada θ ∈


[0, 2π],
(a) faça uma rotação de ângulo θ/2 do conjunto {(r, 0, 0), r ∈ (−1, 1)} em torno da
reta gerada por (0, 1, 0);
(b) faça uma translação do resultado de (a) com o vetor (2, 0, 0);
(c) faça uma rotação de ângulo θ em torno da reta gerada por (0, 0, 1) do resultado
de (b).
Então:
(1) verifique que F não é um mergulho;
Gauss, Green e Stokes 171

(2) determine um sistema completo de cartas locais para S contendo dois mergulhos;
(3) mostre que S não é orientável.
Solução: (1) F não é um mergulho pois F (0, 0) = F (0, 2π).
(b) Considere 
U1 = (r, θ) ; |r| < 1 , θ ∈ (0, 2π)

U2 = (r ′ , θ ′ ) ; |r ′ | < 1 , θ ′ ∈ (π, 3π)
e as seguintes aplicações: F1 : U1 → R3 e F2 : U2 → R3 , sendo F1 e F2 definidos como
em (13.8). Então F1 e F2 são dois mergulhos distintos tais que S = F1 (U1 ) ∪ F2 (U2 )
(verifique!). Seja W = F1 (U1 ) ∩ F2 (U2 ). Então, temos
D1 = F1−1 (W ) = (−1, 1) × [(0, π) ∪ (π, 2π)],
D2 = F2−1 (W ) = (−1, 1) × [(π, 2π) ∪ (2π, 3π)],
Seja T : D1 → D2 a aplicação  de conexão associada aos mergulhos F1 e F2 . Observe
que F1 (−1, 1) × (π, 2π) = F2 (−1, 1) × (π, 2π) . Se (r ′ , θ ′ ) ∈ (−1, 1) × (π, 2π) e
T (r, θ) = (r ′ , θ ′ ), vê-se que r = r ′ e θ = θ ′ . Por outro lado, se (r ′ , θ ′ ) ∈ (−1, 1) ×
(2π, 3π), então θ ′ = 2π + θ com θ ∈ (0, π). Observe agora que cos(θ ′ /2) = − cos(θ/2)
e sen(θ ′ /2) = − sen(θ/2). Portanto, temos

(r, θ) se (r, θ) ∈ (−1, 1) × (π, 2π);
T (r, θ) =
(−r, θ + 2π) se (r, θ) ∈ (−1, 1) × (0, π);
Portanto, 
1 se (r, θ) ∈ (−1, 1) × (π, 2π);
JT (r, θ) =
−1 se (r, θ) ∈ (−1, 1) × (0, π);
de onde se conclui que S não é orientável.
Exercı́cio 13.5: Seja Ω ⊂ R2 aberto limitado de classe C 1 e γ nas condições do
Teorema de Green. Mostre que
Z Z 2π Z 2π
1 2π  ′ ′


c(Ω) = γ1 (t)γ2 (t) − γ2 (t)γ1 (t) dt = γ1 (t)γ2 (t) dt = − γ2 (t)γ1′ (t) dt
2 0 0 0
(13.9)
Solução: Considere o campo f (x1 , x2 ) = 12 (−x2 , x1 ). Então
∂f2 ∂f1
− =1
∂x1 ∂x2
Pelo Teorema de Green Z   Z
∂f2 ∂f1 
c(Ω) = − dx1 dx2 = f γ(t) · γ ′ (t) dt
Ω ∂x1 ∂x2 ∂Ω
Z 2π  
1
= γ1 (t)γ2′ (t) − γ2 (t)γ1′ (t) dt
2 0
Considerando f (x1 , x2 ) = (0, x1 ), o mesmo argumento nos dá:
Z 2π
c(Ω) = γ1 (t)γ2′ (t) dt.
0
Integramos por partes, obtemos
Z 2π Z 2π

γ1 (t)γ2 (t) dt = − γ2 (t)γ1′ (t) dt.
0 0
172 Cálculo Avançado

Exercı́cio 13.6: Seja Ω ⊂ R2 um aberto de Jordan cuja fronteira ∂Ω é uma


poligonal fechada com vértices nos pontos P1 , P2 , . . . , Pm , onde Pi = (ai , bi ). Mostre
que  
1 a1 b1 a2 b2 a m bm
.
área(Ω) = + +···+
2 a 2 b2 a 3 b3 a 1 b1
Solução: Fazendo a identificação Pm+1 = P1 , podemos parametrizar cada segmento
Pi Pi+1 por
γi : [0, 1] → R2 , γi (t) = Pi + t(Pi+1 − Pi ).
 
Desta forma, ∂Ω = γ1 [0, 1] ∪ · · · ∪ γm [0, 1] e por (13.9), temos

m Z
1X 1
área(Ω) = xi dyi − yi dxi ,
2 i=1 0

onde (
xi = ai + t(ai+1 − ai )
yi = bi + t(bi+1 − bi )
Então,
m Z 1 
1X    
área(Ω) = ai + t(ai+1 − ai ) (bi+1 − bi ) − bi + t(bi+1 − bi ) (ai+1 − ai ) dt
2 i=1 0

1 X
m
1
= ai (bi+1 − bi ) + (ai+1 − ai )(bi+1 − bi )
2 i=1 2
1 
− bi (ai+1 − ai ) − (bi+1 − bi )(ai+1 − ai )
2
m
1X
= ai bi+1 − bi ai+1 .
2
i=1

Exercı́cio 13.7: Seja Ω ⊂ R2 um conjunto aberto limitado e convexo. Um seg-


mento rı́gido AB de comprimento 0 < L < diam(Ω) se desloca mantendo suas ex-
tremidades A e B sobre a fronteira ∂Ω. Após uma volta completa, um ponto M do
segmento descreve uma curva fechada Γ no interior de Ω. Mostre a área da região
compreendida entre as curvas ∂Ω e Γ é igual a πab, onde a e b são respectivamente os
comprimentos de AM e M B.
Solução: Sejam A, B : [0, 1] → R2 parametrizações das extremidades A e B do
segmento AB. Então, o ponto M pode ser parametrizado por M : [0, 1] → R2 ,

a  a b
M (t) = A(t) + B(t) − A(t) = B(t) + A(t).
a+b a+b a+b

Por (13.9), temos


Z 1 Z 1
c(Ω) = A1 (t)A′2 (t) dt = B1 (t)B2′ (t) dt.
0 0
Gauss, Green e Stokes 173

Seja ΩM o aberto contido no inteirior da curva M ([0, 1]). Então,


Z 1
c(ΩM ) = M1 (t)M2′ (t) dt
0
Z 1  
a b a ′ b ′
= B1 (t) + A1 (t) B (t) + A (t) dt
0 a+b a+b a+b 2 a+b 2
" 2  2 # Z 1
a b ab ′ ′

= + c(Ω) + B 1 (t)A 2 (t) + A 1 (t)B 2 (t) dt
a+b a+b (a + b)2 0
2ab
Somando e subtraindo a parcela (a+b) 2 c(Ω) no lado direito da igualdade acima, obte-

mos
Z 1
ab 
c(ΩM ) = c(Ω) + 2
B1 (t)A′2 (t) + A1 (t)B2′ (t) − A1 (t)A′2 (t) − B1 (t)B2′ (t) dt
(a + b) 0
Z 1
ab  ′
= c(Ω) − B 1 (t) − A 1 (t) B 2 (t) − A 2 (t) dt
(a + b)2 0
= c(Ω) − πab,

visto que a parametrização B(t) − A(t) descreve uma circunferência completa de raio
a + b. Logo, c(Ω) − (ΩM ) = πab.

Exercı́cio 13.8: Considere Ω = (x1 , x2 ) ; x21 + x22 < 1 o disco unitário de R2 e
f : Ω −→ R2 , f = (f1 , f2 ) tais que f ′ é contı́nua em Ω e é de classe C 2 em Ω.
(a) Com a parametrização de ∂Ω dada por γ(θ) = (cos θ, sen θ), mostre que:
Z I  
 ′  1 ∂f2 ∂f1
det f (x) dx = f1 − f2 ds
Ω 2 ∂Ω ∂θ ∂θ
onde ds denota o elemento comprimento de arco.
(b) Se f (x) = M x sobre ∂Ω (onde M é uma matriz 2 × 2 constante), use o item (a)
para mostrar que: Z
 
det f ′ (x) dx = π det(M ).

(c) Estenda os resultados dos itens (a) e (b) para Ω ⊂ R2 aberto limitado cuja
fronteira é uma curva de Jordan de classe C 1 e conclua que, neste caso,
Z
 
det f ′ (x) dx = det(M )área(Ω).

Solução: (a) Para i = 1, 2, considere a aplicação hi (θ) = fi (cos θ, sen θ). Então
dhi ∂fi ∂fi
(θ) = − (cos θ, sen θ) sen θ + (cos θ, sen θ) cos θ.
dθ ∂x1 ∂x2
Assim, o integrando na integral de linha do item (a) pode ser escrito na forma
   
dh2 dh1 ∂f2 ∂f1 ∂f2 ∂f1
f1 − f2 = f1 − f2 cos θ − f1 − f2 sen θ
dθ dθ ∂x2 ∂x2 ∂x1 ∂x1
174 Cálculo Avançado

Considerando o campo de vetores


 
∂f2 ∂f1 ∂f2 ∂f1
g= f1 − f2 , f1 − f2 (13.10)
∂x1 ∂x1 ∂x2 ∂x2

e denotando γ(θ) = (cos θ, sen θ), a integral de linha toma a forma


Z   Z 2π
dh2 dh1

f1 − f2 ds = g (γ(θ)) : γ ′ (θ) dθ.
∂Ω dθ dθ 0

pelo Teorema de Green


Z   Z   Z
dh2 dh1 ∂g2 ∂g1
f1 − f2 ds = − dx1 dx2 = 2 det[f ′ (x)]dx.
∂Ω dθ dθ Ω ∂x 1 ∂x 2 Ω

(b) Sejam aij , j = 1, 2, os coeficientes da matriz M e g = (g1 , g2 ) o campo definido


em (13.10). Então,
 

 g1 (cos θ sen θ) = a21 (a11 cos θ + a12 sen θ) − a11 (a21 cos θ + a22 sen θ)


 = − det M sen θ,


 g 2 (cos θ sen θ) = a 22 (a 11 cos θ + a 12 sen θ) − a 12 (a 21 cos θ + a 22 sen θ)



= det M cos θ.

Portanto g (cos θ, sen θ) = det M (− sen θ, cos θ). Como γ ′ (θ) = (− sen θ, cos θ), temos
Z Z 2π



2 det[f (x)]dx = g (γ(θ)) : γ ′ (θ) dθ = 2π det M.
Ω 0


(c) Seja γ : [0, 1] → R2 uma parametrização de ∂Ω. Defina hi (t) = fi γ(t) . Então,

∂fi ∂fi
h′i (t) = (γ(t))γ1′ (t) + (γ(t))γ2′ (t).
∂x1 ∂x2
e    
∂f2 ∂f1 ∂f2 ∂f1
f1 h′2 (t) − f2 h′1 (t) = f1 − f2 γ1′ (t) + f1 − f2 γ2′ (t)
∂x1 ∂x1 ∂x2 ∂x2
Como no item (b), consideramos
 
∂f2 ∂f1 ∂f2 ∂f1
g= f1 − f2 , f1 − f2 (13.11)
∂x1 ∂x1 ∂x2 ∂x2

de modo que
Z Z 1


f1 (t)h′2 (t) − f2 (t)h′1 (t) dt = g (γ(t)) : γ ′ (t) dt.
∂Ω 0
Gauss, Green e Stokes 175

pelo Teorema de Green

Z 1 Z   Z
 ∂g2 ∂g1
f1 (t)h′2 (t) − f2 (t)h′1 (t) dt = − dx1 dx2 = 2 det[f ′ (x)]dx.
0 Ω ∂x1 ∂x2 Ω

Sejam aij , j = 1, 2, os coeficientes da matriz M e g = (g1 , g2 ) o campo definido em


(13.11). Então,

   

 g 1 γ(t) = a 21 (a 11 γ 1 (t) + a 12 γ 2 (t) − a 11 a 21 γ 1 (t) + a 22 γ 2 (t)


 = − det M γ2 (t),
  

 g 2 γ(t) = a 22 (a 11 γ 1 (t) + a 12 γ 2 (t) − a 12 a 21 γ 1 (t) + a 22 γ 2 (t)



= det M γ1 (t).


Portanto, g γ(t) = det M γ ′ (t), de onde se conclui que

Z Z 1



2 det[f (x)]dx = g (γ(t)) : γ ′ (t) dt
Ω 0
Z 1 
= det M γ1 (t)γ2′ (t) − γ2 (t)γ1′ (t) dt = det M c(Ω)
0

Exercı́cio 13.9: Seja Ω ⊂ Rn um aberto de fronteira regualar S. Dados f : Ω → R


e g : S → R funções contı́nuas, considere o problema de Neumann que consiste em
determinar u: Ω → R de classe C 2 em Ω tal que


 −∆u = f em Ω,
(13.12)
 ∂u = g em S,
∂n

onde n é o vetor normal unitário definido sobre Ω e exterior a Ω.


Use o Teorema de Gauss para mostrar que nem sempre (13.12) possui solução.

Solução: Como ∆u(x) = div ∇u(x) , segue do Teorema de Gauss:

Z Z Z Z
∂u
f (x) dx = ∇u(σ) · n(σ) dσ = (σ) dσ = g(σ) dσ.
Ω ∂Ω ∂Ω ∂n ∂Ω

Portanto,
Z Z
f (x) dx = g(σ) dσ
Ω ∂Ω

é uma condição necessária.


176 Cálculo Avançado

Exercı́cio 13.10: Considere os números reais 0 < a < b e Ω ⊂ R3 o aberto definido


por

Ω = x ∈ R3 ; a < kxk2 < b .

Seja f : Ω → R3 o campo de vetores definido por

x
f (x) = .
kxk32

Verifique que f é um campo solenoidal, mas não é um campo rotacional em Ω.


Solução: Denotemos δij o delta de Kronecker:

1 se i = j,
δij =
0 6 j.
se i =

Um cálculo direto nos dá:


∂fi δij kxk22 − 3xi xj
= . (13.13)
∂xj kxk52

Se i = j, (13.13) nos dá:

∂fi kxk22 − 3x2i


= ⇒ div f = 0. (13.14)
∂xi kxk52

Se i 6= j, temos
∂fi ∂fj
− =0 ⇒ rot f = 0. (13.15)
∂xj ∂xi

Portanto, f é solenoidal e irrotacional em Ω. Como Ω é simplesmente conexo, segue


do Teorema 6.2 (pag. 106) veja as observações que seguem a Definição 6.6) e (13.15)
que f é campo gradiente (cujo potendial é ϕ(x) = −1/kxk2 ).
No entanto, f não é um campo rotacional, i.e., não existe g tal que rot g = f . De
fato, se a < r < b e S a esfera de raio r e centro em zero, então S ⊂ Ω. Assim, se
σ = rω, temos
dσ = r 2 dω, f (σ) = r −2 ω, n(σ) = ω

e Z Z
f (σ) · n(σ) dσ = ω · ω dω = 4π.
S S2

mas sendo S uma superfı́cie fechada,


Z
rot g (σ) · n(σ) dσ = 0,
S

quaquer que seja o campo g de classe C 1 em Ω.


Gauss, Green e Stokes 177

Exercı́cio 13.11: Seja B = BR (0) \ {0}, com BR (0) a bola aberta de Rn de raio
R > 0 e centro na origem. Considere a função K : Rn \ {0} → Rn \ {0} definida por
R2
K(x) = x.
kxk22
K é denominada fórmula de inversão de Kelvin. Mostre que
a) K(B) = Rn \ B;
b) K(∂B) = ∂B;
c) K é contı́nua e invertı́vel, com K −1 = K.
Seja f uma
 função harmônica em R2 \ {0} e g : R2 \ {0} → R definida por g(x) =
f K(x) . Mostre que g é harmônica. O resultado vale para n ≥ 3?
Solução: Observemos inicialmente da definição de K que
kK(x)kkxk = R2 , ∀x ∈ Rn \ {0}.
Portanto,
kxk > R ⇐⇒ kK(x)k < R e kxk = R ⇐⇒ kK(x)k = R.

(a) y ∈ K(B) se, e somente se, existe x ∈ B tal que y = R2 /kxk2 x. Logo, kykkxk =
R2 . Como kxk < R segue que kyk > R e consequentemente, y ∈ Rn \ {0}.
 
Reciprocamente, se y ∈ Rn \ B, seja x = R2 /kyk2 y. Então y = kyk2 /R2 x. Como
R4
kxkkyk = R2 ⇒ kyk2 = ,
kxk2
temos
kyk2 R4 R2
y= x = x = x = K(x) (13.16)
R2 R2 kxk2 kxk2
e concluı́mos que K(B) = Rn \ B.
Analogamente,
 com os mesmos argumentos, prova-se que K(∂B) = ∂B e também que
K Rn \ B = B.
(b) A continuidade de K é consequência imediata do Teorema 4.1 e 4.3 (pags. 37 e
38). Provemos que K é injetiva.
R2 R2
K(x1 ) = K(x2 ) ⇒ kx1 k = kx2 k ⇒ x 1 = x2 ⇒ x1 = x2 .
kx1 k2 kx1 k2
A sobrejetividade de K segue diretamente da prova do inte (a). Portanto, K é in-
vertı́vel e consequentemente K −1 = K segue de (13.16).
Denotemos y = K(x). Então, pela Regra da Cadeia,
" 2  2 # " 2  2 #
∂2f ∂y1 ∂y1 ∂ 2f ∂y2 ∂y2
∆g(x) = + + +
∂y12 ∂x1 ∂x2 ∂y22 ∂x1 ∂x2
 
∂ 2f ∂y1 ∂y2 ∂y1 ∂y2 (13.17)
+ +
∂y1 ∂y2 ∂x1 ∂x1 ∂x2 ∂x2
   
∂f ∂ 2 y1 ∂ 2 y1 ∂f ∂ 2 y2 ∂ 2 y2
+ + + + .
∂y1 ∂x21 ∂x21 ∂y2 ∂x21 ∂x21
178 Cálculo Avançado

Observando que yi = xi (R2 /|x|2 ), i = 1, 2, temos

∂y1 x22 − x21 ∂y2 ∂y1 2x1 x2 ∂y2


= 4
=− , =− 4
= . (13.18)
∂x1 |x| ∂x2 ∂x2 |x| ∂x1

Das identidades (13.17) e (13.18), obtemos


 2  2  2  2
∂y1 ∂y1 ∂y2 ∂y2 1
+ = + = ,
∂x1 ∂x2 ∂x1 ∂x2 |x|4
∂y1 ∂y2 ∂y1 ∂y2
+ = 0,
∂x1 ∂x1 ∂x2 ∂x2
∂ 2 y1 ∂ 2 y1 ∂ 2 y2 ∂ 2 y2
+ = + = 0.
∂x21 ∂x21 ∂x21 ∂x21

Portanto,  
1 ∂ 2f ∂ 2f 1
∆g(x) = + = ∆f (x) = 0
|x|4 ∂y12 ∂y22 |x|4

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