FREITAS FILHO, Almir Pita Et Al. Pequenas Usinas Hidrelétricas. História e Economia, V. 9, N. 2, P. 19-32, 2011.
FREITAS FILHO, Almir Pita Et Al. Pequenas Usinas Hidrelétricas. História e Economia, V. 9, N. 2, P. 19-32, 2011.
FREITAS FILHO, Almir Pita Et Al. Pequenas Usinas Hidrelétricas. História e Economia, V. 9, N. 2, P. 19-32, 2011.
Resumo
Este artigo relembra a história da primeira usina hidrelétrica da América Latina, a Usina Hidrelétrica de Marmelos, hoje conhecida
como Marmelos Zero, da pioneira Companhia Mineira de Eletricidade. Embora a usina seja hoje um museu, ela e outras pequenas
geradoras formam o complexo de Marmelos ainda em operação (Marmelos 2), na categoria definida pela legislação atual como
“Pequenas Centrais Hidrelétricas” (PCHs). Este modelo de aproveitamento hidrelétrico tem sido defendido por vários argumen-
tos, dentre os quais, ser potencialmente menos agressivo ao ambiente e ter custo reduzido; é considerado um investimento de
pequena monta. A questão da sustentabilidade econômica e ambiental de tais empreendimentos, à luz dos estudos de caso sobre
esta experiência pioneira, foi o objeto de nossas reflexões. Os autores são membros de uma equipe multidisciplinar (historiadores
e engenheiros) que atua no Laboratório de Novas Tecnologias para o Ensino de Engenharia – LANTEG/DEE e no Instituto de
Economia, ambos da UFRJ, e que está reunida no Grupo de Pesquisa do CNPq, “A Eletricidade na Belle Époque (1870-1914)”.
.
Abstract
This article deals with the history of the first Hydroelectric Power Plant in Latin America, The “Marmelos Hydroelectric Power
Station”, also known as “Marmelo Zero”, which belonged to a pioneer Brazilian electrical company, the “Companhia Mineira de
Eletricidade”. Although “Marmelo Zero” today is in fact a museum, it is part of the Marmelos hydroelectric power stations com-
plex, in which one (Marmelos 2) is still operational and connected to the Brazilian Electrical Power Plants System as a “PCH”
(Small Electrical Station). The “PCH” is a category of electrical power plants encouraged by the Brazilian government’s policies
and legislation. Those who are in favor of this energy supply model argue that the “PCHs” are less aggressive to the natural
environment and less expensive to build. Wether or not this model is, in fact, economically and environmentally self-sustainable,
is a main concern in our analysis of this pioneer experience in Brazil. The authors are all members of a multidisciplinary research
team (historians and engineers) working at the Laboratory for New Technologies in Teaching Engineering (Laboratório de Novas
Tecnologias para o Ensino de Engenharia – LANTEG/DEE) and in the Institute of Economics, both within the Federal University
of Rio de Janeiro (UFRJ). This team is also a research group, registered at the National Research Council (CNPq), specialized in
studying electricity during the “Belle Époque” (1870-1914).
E
ste artigo é o resultado da reflexão de tretanto, afirmam que elas são menos confiáveis,
uma equipe multidisciplinar, que atua devido aos seus reservatórios serem pequenos
no Laboratório de Novas Tecnologias e ao seu porte, não têm acesso ao mercado de
para o Ensino de Engenharia – LANTEG/DEE capitais, possuem dificuldades para manter uma
e no Instituto de Economia, ambos na UFRJ e estrutura de comercialização e de manutenção,
estão reunidos no Grupo de Pesquisa CNPq, além disso, são ameaçadas por clientes sensíveis
“A Eletricidade na Belle Époque (1870-1914)”, à segurança de fornecimento e às variações de
que possui duas linhas de pesquisa (História da preços, sofrem com a imprevisibilidade das chu-
Eletricidade e História da Iluminação Pública), vas, além de não possuírem marcos regulatórios
baseadas na perspectiva da história econômica claros e, portanto, poderem ser atingidas por al-
conjugada com a história da engenharia elétrica. terações na legislação (BRDE, 2002 ).
Nosso objetivo é criar recursos para a compreen-
Não obstante, consideramos oportuno
são dos aspectos técnicos, econômicos e sociais
relembrar a história da Usina de Marmelos Zero,
das aplicações da engenharia elétrica desde os
Figura 1, que embora atualmente seja patrimô-
seus primórdios.
nio de um museu, foi importante, como marco
O debate atual sobre a obtenção de ener- inicial do aproveitamento hidrelétrico do Bra-
gia elétrica considera viável o uso de Pequenas sil, notadamente, do Rio Paraibuna, onde várias
Centrais Hidrelétricas (PCHs), que, por defi- experiências de pequenas hidrelétricas foram
nição se caracterizam pela pequena potência e desenvolvidas.
reservatórios de pequeno porte. A Legislação
vigente define as PCHs como empreendimentos
hidrelétricos com potência entre 1.000 e 30.000
kW, área de reservatório delimitada pela cota
d’água associada à vazão de 100 anos e extensão
total igual ou inferior a 3,0 km² (ANEEL, 1998).
cias dos céticos quanto ao novo padrão ener- Mascarenhas, maior acionista da empresa, e sua
gético, por meio de cartas e artigos de jornais família controlavam a maioria das ações (GIRO-
(MAGALHÃES, 2000) e, desta forma, obteve LETTI, 1988). Uma vez obtido o capital, foi fá-
o capital necessário para formar a Companhia cil para Mascarenhas iniciar o empreendimento,
Mineira de Eletricidade cuja fachada da sede é pois conseguiu da Câmara Municipal de Juiz de
reproduzida na Figura 3. Fora a transformação de sua antiga concessão de
iluminação pública e particular a gás. A referida
modificação incluiu a geração e a transmissão
de energia elétrica para os mesmos fins e para
fornecer força motriz para sua fábrica e outras
indústrias da região (IEPHA-MG).
livres eram certamente empregados pela CME, ra central da América do Norte (VIANA, s.d.)
pois, como mostra a mesma carta enviada pela e transformou-se na primeira de toda a América
companhia aos seus consumidores em 1893, o Latina, Figura 4.
aumento no preço dos serviços prestados pela
empresa também se devia ao aumento nos salá-
rios dos funcionários brasileiros”, que supõe-se,
ao menos no início fossem “empregados princi-
palmente nos trabalhos menos especializados”
(BIRCHAL, 2004).
Henrique Hargreeves, autor do estudo O ano de 1896 foi marcado pela cons-
trução à jusante da Usina Marmelos Zero, dando
pioneiro sobre a CME, classifica como “passado
origem à Usina Marmelos 1, o que levou à desa-
histórico” o período que vai da sua fundação até
tivação da usina pioneira no ano seguinte, Figura
1937, uma vez que ao longo destes quarenta e
5 e Figura 6.
sete anos, foi implantado o conjunto de usinas
localizadas nas cachoeiras de Marmelos. Sendo
que a partir da Segunda Guerra Mundial, novas
possibilidades de expansão da Companhia Mi-
neira se apresentaram, caracterizada pelo apro-
veitamento da cachoeira de Joasal e pela substi-
tuição dos equipamentos da Westinghouse pelos
da General Electric (HARGREEVES, 1971). A
troca do equipamento deveu-se à obsolescência
das máquinas pioneiras. Por essa ocasião, a Ge- Figura 5 – Interior da Usina Marmelos 1,
neral Electric era uma concorrente à altura da 1889. (Foto: Museu Usina Marmelos Zero da Univer-
sidade Federal de Juiz de Fora).
Westinghouse.
por Mascarenhas porque possui volume hídrico e não era um fator considerado pelos gestores de
declividade adequados para a construção de pe- usinas hidrelétricas.
quenas usinas hidrelétricas. Além disso,
IV. O Conjunto de Edificações de
os efeitos combinados da geomorfo- Marmelos Zero
logia regional e das características sobre sua
A Usina de Marmelos Zero foi constru-
bacia hidrográfica explicam a formação da
várzea, cujo limite a jusante está na cachoei- ída um nível abaixo da antiga Estrada União e
ra de Marmelos. O perfil do rio apresenta-se Indústria, atual BR-267, aproveitando a caracte-
encachoeirado no alto curso e lento-divagante rística íngreme do terreno, Figura 7.
sobre as várzeas do platô em Juiz de Fora (ME-
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