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Relatorio TCU Votoimpresso

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GRUPO I – CLASSE V – Plenário

TC 014.328/2021-6
Natureza: Relatório de Auditoria.
Órgão: Tribunal Superior Eleitoral.
Representação legal: não há.

SUMÁRIO: RELATÓRIO DE AUDITORIA INTEGRADA.


AVALIAÇÃO DA SISTEMÁTICA DE VOTAÇÃO
ELETRÔNICA. PRIMEIRA ETAPA. PROCEDIMENTOS DE
AUDITORIA EXECUTADOS EM TODAS AS FASES DO
PROCESSO ELEITORAL. RISCOS POTENCIAIS DA ADOÇÃO
DE MECANISMO DE VOTO IMPRESSO. FRAGILIDADE DA
SISTEMÁTICA DE VOTO IMPRESSO. RECOMENDAÇÕES
AO TSE. CIÊNCIA AO CONGRESSO NACIONAL.

RELATÓRIO

Por registrar as principais ocorrências no andamento dos autos até o momento, resumindo
os fundamentos das peças acostadas, adoto como relatório, com os ajustes necessários, a instrução da
secretaria responsável pela análise do processo (peça 51), que contou com a anuência do corpo diretivo
da unidade (peças 52 e 53):

“1. Introdução
1.1. Identificação simplificada do objeto
1. A auditoria tem como objeto a sistemática brasileira de votação eletrônica à cargo do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE). Foi autorizada por meio de despacho do Ministro Bruno Dantas (TC
014.052/2021-0), e motivada em decorrência de proposta do Ministro Raimundo Carreiro, levada à
consideração do plenário do TCU, em 31/3/2021, no sentido de que o TCU, com fundamento no
art. 71 da Constituição Federal, avaliasse o sistema eletrônico de votação brasileiro, sob a
responsabilidade do Tribunal Superior Eleitoral, no tocante à sua segurança, confiabilidade e
auditabilidade, devendo as conclusões deste Tribunal serem apresentadas ao Congresso Nacional.
1.2. Antecedentes da auditoria
2. A equipe não localizou, em pesquisa a jurisprudência, ação anterior de controle externo no
âmbito do TCU com o objeto em questão, podendo-se afirmar tratar-se de uma ação pioneira de
controle externo nesse sentido.
3. Entretanto, foi prolatado, no âmbito do processo de representação TC 017.958/2017-2, o
Acórdão 2.564/2017 – TCU – Plenário, de relatoria do Ministro José Múcio, que determinou ao
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que apresentasse plano de ação contendo detalhamento das
providências a serem tomadas com vistas a implementação do voto impresso, tendo em vista a
imposição legal de implementação dessa ferramenta, por meio da Lei 13.165/2015.
4. Na ocasião o plano de ação era no sentido de implementar o voto impresso em etapas, durante o
período de 2018 a 2028.
5. A mencionada determinação foi considerada cumprida pelo Acórdão 967/2018-TCU-Plenário,
que, também, deu ciência ao TSE, acerca da necessidade de adoção de medidas mitigadoras sobre o
risco de insucesso na produção e instalação tempestivas dos módulos de impressão de voto em
decorrência do pouco tempo disponível; e solicitou documentos e informações inerentes ao Pregão
16/2018, além de determinar o acompanhamento desse certame pelo TCU, que tratava de
contratações para cumprimento ao mencionado dispositivo legal.
6. Porém, a Lei 13.165/2015 foi considerada inconstitucional pelo STF, em decisão proferida na
ADIN 5889/DF, levando à interrupção das medidas de implantação do voto impresso; motivando o
arquivamento dos autos de acompanhamento, no âmbito do TCU, por meio do Acórdão
3.147/2019-TCU-Plenário, da relatoria do Ministro Raimundo Carreiro e interrupção do processo
licitatório, no âmbito do TSE.
1.3. Objetivo, escopo e questões de auditoria
7. O objetivo estabelecido foi avaliar a sistemática brasileira de votação eletrônica, em todas as
etapas da votação, desde a verificação das urnas eletrônicas até a totalização de votos, sob a
responsabilidade do TSE, no tocante à sua segurança, confiabilidade e auditabilidade, utilizando
como parâmetros as eleições gerais de 2018 e municipais de 2020. Tendo em vista que a segurança
e a transparência do processo eleitoral, com o uso de urnas eletrônicas, a cada dois anos têm sido
questionadas, inclusive por intermédio de frequentes fake news, sob a alegação de possível
ocorrência de fraudes, associada com a eventual ausência de mecanismos de auditabilidade do
resultado das eleições, em especial pela suposta carência de instrumentos que permitam a
recontagem dos votos.
8. Assim, a fim de avaliar a sistemática de votação eletrônica à cargo do TSE, foram elaboradas as
seguintes questões de auditoria, as quais possuem riscos e subquestões associados, conforme o
documento acostado à peça 13:
Questão 1: A atual sistemática de votação eletrônica, operacionalizada pelo Tribunal Superior
Eleitoral, é suficiente para garantir a auditabilidade dos votos/votação, na forma definida na Lei
9.504/1997?
Questão 2: Os procedimentos estabelecidos pelo TSE para implementação da votação eletrônica e
para verificação/auditoria/fiscalização dos sistemas/programas/softwares são adequados para
viabilizar e garantir a TRANSPARÊNCIA e a CONFIABILIDADE do processo em todas a suas
etapas?
Questão 3: Os regulamentos e procedimentos estabelecidos pelo TSE para as etapas de
desenvolvimento, compilação, assinatura digital, lacração, e verificação da integridade e
autenticidade dos sistemas eleitorais, geração de mídias, preparação e funcionamento das urnas
eletrônicas atendem aos requisitos de AUDITABILIDADE definidos em normas nacionais e
internacionais?
Questão 4: As diretrizes, as políticas e os controles implementados relativos à SEGURANÇA da
Informação atendem aos requisitos definidos na legislação e nas normas internas; estão de acordo
com as melhores práticas internacionais; e efetivamente asseguram um nível adequado de proteção
às informações, aos processos e recursos envolvidos no processo eleitoral?
Questão 5: As políticas, as estratégias, a gestão e as ações implementadas relativas à
CONTINUIDADE DE NEGÓCIO atendem aos requisitos definidos na legislação e nas normas
internas; estão de acordo com as melhores práticas internacionais e efetivamente asseguram um
nível adequado de proteção aos processos críticos da eleição de forma a não permitir a interrupção
das atividades, prevenir contra os efeitos de falhas ou desastres; e assegurar a sua retomada em
tempo hábil?
1.4. Critérios e suas fontes
9. Foram identificadas as principais normas que regem as eleições em nosso País, bem como as
normas e boas práticas de segurança da informação aplicáveis ao objeto de auditoria, sendo elas:
a) Lei 4.737, de 15/7/1965, Código Eleitoral;
b) Lei 6.996, de 7/6/1982, processamento eletrônico de dados nos serviços eleitorais;
c) Lei 9.504, de 30/9/1997, normas para as eleições;
d) Resolução-TSE 23.550, de 26/12/2018 (revogada pela Resolução-TSE 23.603, de 12/12/2019),
procedimentos de fiscalização e auditoria do sistema eletrônico de votação;
e) Resolução-TSE 23.603, de 12/12/2019, procedimentos de fiscalização e auditoria do sistema
eletrônico de votação;
f) Resolução-TSE 23.444, de 30/4/2015, Teste Público de Segurança (TPS) nos sistemas eleitorais;
g) Resolução-TSE 23.501, de 19/12/2016, Política de Segurança da Informação (PSI) no âmbito da
Justiça Eleitoral;
h) Resolução-TSE 23.508, de 14/2/2017, Política de Desenvolvimento Colaborativo de Software da
Justiça Eleitoral;
i) Portaria-TSE 784, de 20/10/2017, Política de Gestão de Riscos do TSE;
j) ABNT NBR ISO/IEC 27002:2013 – Código de prática para controles de segurança da
informação;
k) ABNT NBR ISO/IEC 22301:2020 – Sistema de Gestão de Continuidade de Negócios.
10. A partir dessas normas e outras fontes de informações, a exemplo de manuais e estudos
desenvolvidos por acadêmicos e pelo TSE, a equipe analisou os controles adotados pelo TSE
associados aos riscos previamente elencados, norteadores das questões de auditoria.
1.5. Métodos usados para coleta e análise dos dados
11. O trabalho foi conduzido em conformidade com as Normas de Auditoria do TCU (Portaria -
TCU 280/2010), com o Manual de Auditoria Operacional, edição de 2020, e com os Padrões de
Auditoria de Conformidade (Portaria-Segecex 26/2009). Também está alinhado aos princípios
fundamentais de auditorias do setor público das Normas Internacionais das Entidades
Fiscalizadoras Superiores (Issai 100).
12. Em decorrência da iminente aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 135/2019,
em tramitação no Congresso Nacional, que visa acrescentar o § 12 ao art. 14, da Constituição
Federal, dispondo, em suma, da implementação do voto impresso, a execução da presente
auditoria, excepcionalmente, será realizada em duas etapas, conforme autorização do Ministro
Relator (peça 18).
13. A primeira etapa, cujo resultado está materializado no presente relatório, trata dos riscos
inerentes aos possíveis impactos nas próximas eleições de 2022, em caso de aprovação da PEC
135/2019 (questão 1). A segunda etapa tratará das demais questões (2 a 5) e será objeto de um
segundo relatório.
14. Na fase de execução foram realizados os procedimentos elencados na Matriz de Planejamento
(peça 13) e elaborada a Matriz de Achados (peça 43), norteadoras do presente relatório.
1.6. Limitações inerentes à auditoria
15. Embora tenha sido realizada utilizando totalmente o modelo telepresencial, não foram
identificadas limitações, relevantes, à execução deste trabalho, em virtude dos meios
disponibilizados pelo TCU.
16. Entretanto é oportuno frisar que o prazo destinado à auditoria levou a equipe a delimitar o
escopo.
2. Visão Geral do Objeto
2.1. Objetivos
17. São objetivos do sistema de votação eletrônica brasileiro:
a) mitigar riscos de fraude no processo eleitoral (art. 59, § 6º, arts .61 e 62, da Lei 9.504/1997);
b) agilizar a votação, a apuração dos votos e a divulgação dos resultados (arts. 59, 61, 67 e 68 da
Lei 9.504/1997);
c) garantir a segurança, a transparência e confiabilidade do processo eleitoral (arts. 59, 60, 61, 67 e
68 da Lei 9.504/1997);
d) garantir a auditabilidade da votação (arts. 65 a 71, da Lei 9.504/1997);
e) reduzir os custos do processo eleitoral (princípio da eficiência, art. 37, caput, da CRFB/88).
2.2. Responsáveis
18. A Justiça Eleitoral, constituída pelos: Tribunal Superior Eleitoral, tribunais regionais eleitorais,
os juízes eleitorais e as juntas eleitorais; é um órgão de jurisdição especializada que integra o Poder
Judiciário (art. 92 da CRFB/88) e cuida da organização do processo eleitoral (alistamento eleitoral,
votação, apuração dos votos, diplomação dos eleitos, etc.), conforme arts. 22 e 23 do Código
Eleitoral (CE).
19. A justiça eleitoral exerce função administrativa (alistamento eleitoral, transferência de
domicílio eleitoral, medidas para impedir a prática de propaganda eleitoral irregular etc.),
jurisdicional (solução de conflitos sempre que provocada judicialmente para aplicar o Direito, a
exemplo de: ação de investigação judicial eleitoral – AIJE, ação de impugnação de mandato eletivo
– AIME, ação de impugnação de registro de candidatura – AIRC e nas representações por
propaganda eleitoral irregular), normativa (expedir nomas para assegurar a organização e o
exercício dos direitos políticos precipuamente os de votar e ser votado (art. 1º, caput, e parágrafo
único, e art. 23, inciso IX, da Lei 4.737/1965, recepcionada, parcialmente, com status de Lei
Complementar pela CRFB/88, a exemplo das Resoluções-TSE 23.603/2019, que estabelece
procedimentos de fiscalização e auditoria do sistema eletrônico de votação; e 23.501/2016, que
Institui a Política de Segurança da Informação – PSI no âmbito da Justiça Eleitoral) e consultiva
(manifestar-se a respeito de questões que lhe são apresentadas em tese, sem caráter de decisão
judicial, conforme art. 23, inciso XII, e art. 30, inciso VIII, ambos do CE).
20. Portanto, cabe à Justiça Eleitoral organizar, fiscalizar e realizar as eleições, regulamentando o
processo eleitoral, examinando as contas de partidos e candidatos em campanhas, controlando o
cumprimento da legislação pertinente em período eleitoral e julgando os processos relacionados
com as eleições.
2.3. Relevância
21. O voto direto, secreto, universal e periódico, inserido como cláusula pétrea na Carta Magna
(art. 60, §4º, II), é o principal instrumento da democracia no Brasil. Em períodos pré-eleitoriais, é
crescente número de questionamentos na mídia acerca de possíveis vulnerabilidades do processo de
votação brasileiro que, atualmente, é 100% realizado eletronicamente, com a utilização de urnas
eletrônicas.
22. Desde a Constituição de 1988 o sufrágio universal (todo cidadão dentro das normas legais tem
direito ao voto) foi instituído para a escolha de diversos representantes políticos da população,
como vereadores, prefeitos, deputados estaduais e federais, senadores, além de governadores e
presidentes da República.
23. A partir das eleições de 2000, praticamente, 100% dos votos são registrados, contabilizados e
totalizados de forma eletrônica, sem a intervenção humana, com a utilização da urna eletrônica.
Como consequência, existe a necessidade de constante fiscalização e aperfeiçoamento dos
mecanismos inerentes para conferir a máxima transparência, segurança e confiabilidade do
processo eleitoral.
2.4. Histórico do objeto
24. O voto esteve presente em todos os períodos da história do Brasil (colonial, imperial e
republicano), variando a forma de sufrágio representativo de acordo com o momento histórico e
com o regime de governo (democrático, autoritário ou totalitário).
25. No período republicano, o marco divisor foi a CRFB/88, consolidando a democracia cidadã e
universalizando o direito do voto. E, a partir das eleições de 2000, o voto deixou de ser registrado,
pelo eleitor, em cédulas, com conferência humana, para ser registrado em urnas eletrônicas.
26. O sistema eletrônico de votação foi utilizado pela primeira vez nas eleições de 1996 e com a
Lei 9.504/1997 (art. 59), foi ampliado para 75% da população, em 1998, e 100%, em 2000. São 21
anos de utilização, pelo país, de votação totalmente eletrônica.
27. Logo após a universalização do voto eletrônico (2001), começaram as alterações legislativas
visando a implementação de um mecanismo, na urna eletrônica, capaz de permitir a impressão do
voto (Lei 10.408/2001). O método foi testado nas eleições de 2002, com 7.128.233 eleitores em
150 municípios (peça 26). Porém, foi substituído pelo registro digital de cada voto, por meio da Lei
10.740/2003.
28. Após, nos anos de 2009 e 2015, surgiram duas novas leis (Lei 12.034/2009 e 13.165/2015),
também com o mesmo propósito (recriar a obrigação de impressão do voto). Porém, ambas foram
consideradas inconstitucionais pelo STF (Adin 4543 e 5889, respectivamente).
29. Dessa forma, após a universalização da utilização da urna eletrônica, foram aprovadas as Leis
10.408/2001, 10.740/2003, 12.034/2009 e 13.165/2015, acerca do voto impresso. A primeira,
terceira e quarta com objetivo de recriar a obrigação do impressão do voto, sendo a terceira e quarta
consideradas inconstitucionais pelo STF e a primeira alterada pela segunda, no sentido de substituir
a impressão do voto, criado pela primeira, pelo Registro Digital do Voto (RDV). O RDV é um dos
instrumentos de auditabilidade do voto consoante com a modernização do processo eleitoral e das
tecnologias de informação.
30. Conforme consta no item 3 do Apêndice I deste relatório, a experiência de impressão do voto,
em virtude do advento da Lei 10.408/2001, não foi bem-sucedida, com a constatação de vários
inconvenientes e problemas, e de poucos benefícios, detalhados em relatório elaborado pelo TSE à
época (peça 26), motivando a substituição desse instrumento por meio da Lei 10.740/2003.
31. Agora a matéria encontra-se, novamente, em discussão no Congresso Nacional, desta feita por
meio da PEC 135/2019 (peça 27), que poderá tornar obrigatória a expedição de cédulas físicas,
conferíveis pelo eleitor, a serem depositadas em urnas indevassáveis, para fins de auditoria. A
análise do impacto dessa medida consta no item 4 do presente relatório. Bem como, a análise do
substitutivo ao texto orignal da referida PEC, constante no parecer do relator da Comissão Especial
(peça 49), consta no item 5 do presente relatório.
32. Ante ao exposto, sintetizando o disposto no Apêndice I deste relatório, a seguir estão ilustrados,
por meio de linhas do tempo, os princiapis pontos marcantes da história do voto no Brasil; do
sistema eletrônico e das questões relacionadas ao voto impresso após a universalização do sistema
eletrônico, ocorrido no ano de 2000:

Figura 1 - História do voto no Brasil

Figura 2 - Evolução do sistema eletrônico de votação

33. A seguir estão sintetizadas as alterações legislativas ocorridas após universalização da urna
eletrônica:

34. Portanto, a forma de sufrágio representativo no Brasil variou na história, assim como o sistema
de votação, que passou a ser totalmente eletrônico nas eleições de 2000 e vem sofrendo alterações
no decorrer no tempo, sejam legislativas ou regulamentares, visando garantir a segurança,
transparência e auditabilidade do processo eleitoral, reforçando a confiabilidade do sistema e a
mitigação de riscos de fraudes nas eleições.
2.5. Governança do objeto de auditoria
35. No mapa estratégico do TSE, para o período de 2018 a 2021, consta como uma de suas
missões, garantir a legitimidade do processo eleitoral, definindo com um dos seus objetivos
estratégicos assegurar essa legitimidade (peça 44, p.77).
36. Conforme reconhecido pelo próprio TSE em seu Relatório de Gestão relativo ao exercício de
2020 (peça 44), a estrutura de governança do Tribunal encontra-se em processo de formalização,
por meio de projeto de resolução que tratará do seu Sistema de Governança.
37. No entanto, em que pese não haver formalização, o TSE destaca a atuação das instâncias
internas de governança, como a Alta Administração da Corte (representada pela Presidência do
Tribunal, pela Secretaria-Geral da Presidência e pela Secretaria do Tribunal), que atua no
direcionamento da instituição; assim como a Secretaria de Auditoria e a Ouvidoria do Tribunal, que
atuam na realização de auditorias e fiscalizações e no atendimento aos cidadãos, respectivamente
(peça 44, p.14).
2.6. Recursos do objeto
38. A sistemática de votação será tratada como o macroprocesso cujo ciclo se completa mediante a
conjugação de outros processos/atividades interligados, que ocorrem em três fases: antes da
votação, no dia da votação e após a votação, conforme Resolução-TSE 23.603/2019, sintetizadas a
seguir (peça 28, p.56-66).
38.1. Antes da votação
i) Ciclo de desenvolvimento dos sistemas de votação e apuração - antes de cada eleição ordinária,
preferencialmente no segundo semestre dos anos que antecedem os pleitos eleitorais, é realizado
Teste Público de Segurança (TPS), que tem como objetivo fortalecer a confiabilidade, a
transparência e a segurança da captação e da apuração dos votos e propiciar melhorias no processo
eleitoral. Os TPS podem testar os sistemas utilizados para a geração de mídias, votação, apuração,
transmissão e recebimento de arquivos, lacrados em cerimônia pública, conforme definido no § 2º
do art. 66 da Lei 9.504/1997, incluindo o hardware da urna e seus softwares embarcados;
ii) Desenvolvimento, compilação e assinatura digital, e lacração dos sistemas eleitorais - está
prevista realização de auditoria/fiscalização e acompanhamento dessas atividades pelas entidades
fiscalizadoras autorizadas, mediante o acompanhamento da especificação e do desenvolvimento
dos sistemas eleitorais, com acesso ao código-fonte dos programas, a partir de sete meses antes do
primeiro turno das eleições; verificação de integridade e autenticidade dos sistemas eleitorais,
utilizando programas próprios ou fornecidos pelo TSE; acompanhamento da assinatura digital e
lacração dos sistemas eleitorais, após concluídos e, até vinte dias antes das eleições, os
representantes das entidades fiscalizadoras também poderão assinar digitalmente os sistemas
eleitorais.
iii) Geração de mídias e preparação das urnas eletrônicas em cerimônias públicas - está prevista
auditoria/fiscalização e acompanhamento das atividades, mediante a verificação de integridade e
autenticidade dos sistemas eleitorais, Gerenciador de Dados, Aplicativos e Interface com a Urna
Eletrônica (GEDAI-EU), Subsistema de Instalação e Segurança (SIS) e HotSwapFlash (HSF) pelas
entidades fiscalizadoras autorizadas, utilizando programas próprios ou fornecidos pelo TSE;
verificação dos dados da urna por meio de demonstração em amostragem (até 3%) das urnas
preparadas para cada zona eleitoral, e no mínimo de 1 urna por município, escolhidas pelos
representantes das entidades fiscalizadoras, aleatoriamente entre as urnas de votação e as de
contingência, nos locais de preparação das urnas mediante acompanhamento e verificação da
afixação do lacre físico nas urnas nas interfaces de conexão dos dispositivos externos de acesso da
urna e seu gabinete;
iv) Verificação da integridade e autenticidade dos sistemas eleitorais em cerimônia no TSE, na
véspera da eleição - gerenciamento da totalização, receptor de arquivos de urnas, infoarquivos e
transportador web;
v) Verificação dos sistemas destinados à transmissão de boletins de urna (Transportador e
JE-Connect) - em audiência nos TREs, no período entre a antevéspera do dia das eleições até às
17hs do dia da eleição, utilizando programa de verificação fornecido pelo TSE ou desenvolvido
pela entidade fiscalizadora;
38.2. No dia da votação
i) Verificação da regularidade dos procedimentos preparatórios para auditoria de funcionamento
das urnas eletrônicas em condições normais de uso e no dia da votação – mediante a verificação
da regularidade da designação da Comissão de Auditoria da Votação Eletrônica; verificação da
conformidade do preenchimento das cédulas utilizadas na auditoria; verificação da conformidade
da remessa das urnas eletrônicas sorteadas;
ii) Auditoria de funcionamento das urnas eletrônicas em condições normais de uso (no dia da
eleição em local designado pelo TRE, para onde são levadas todas urnas sorteadas para a votação
paralela, com preenchimento e depósito dos votos de forma física e concomitante de forma
eletrônica) – mediante a verificação da regularidade dos procedimentos de votação e encerramento;
conferência do resultado apresentado, frente aos votos realizados na urna eletrônica; verificação da
conformidade da conclusão dos trabalhos;
iii) Auditoria de funcionamento das urnas eletrônicas, no dia da votação, por meio da verificação
dos sistemas (no local onde as urnas sorteadas estão instaladas, no dia da votação, antes do início
da votação) – mediante a verificação da regularidade dos relatórios de controle; exame da
conformidade dos procedimentos de verificação, antes da emissão do relatório Zerésima pela urna
(exame do Comprovante de Carga, para verificar que se trata da urna da seção eleitoral sorteada;
rompimento do lacre do compartimento da Mídia de Resultado; retirada da Mídia de Resultado nela
inserida; e verificação das assinaturas e dos resumos digitais pelo programa do Tribunal Superior
Eleitoral ou pelo programa de verificação apresentado pelo interessado, ou ambos); verificação da
integridade dos programas instalados na urna eletrônica; verificação da integridade dos sistemas,
após a verificação da assinatura e impressão do relatório (retirada das mídias de acionamento dos
sistemas de verificação; reinserção da Mídia de Resultado da urna eletrônica, retirada no início da
auditoria; lacração da tampa do compartimento da Mídia de Resultado com novo lacre, o qual será
assinado pelo juiz eleitoral ou por pessoa por ele designada; lavratura da ata circunstanciada de
encerramento dos trabalhos);
iv) Realização das eleições gerais e municipais (identificação dos eleitores, liberação da votação
pelo mesário, encerramento do voto automaticamente; encerramento da votação no horário definido
pelo TSE);
v) Emissão do Boletim de Urna – BU e gravação do resultado em mídia móvel - disponibilização
do BU para os fiscais de partidos ou coligações; custódia da mídia gravada pelo presidente da seção
eleitoral até a entrega no local de transmissão dos dados (TREs);
38.3. Após a votação (Nas Eleições Municipais de 2020, os votos passaram a ser totalizados no
TSE e, não mais nos Tribunais Regionais Eleitorais - TREs).
i) Transmissão dos dados dos TREs e recepção no computador central do TSE por meio de rede
privada - a assinatura digital dos arquivos a serem transmitidos é verificada, só são transmitidos se
estiverem íntegros e autênticos; ao serem recebidos no TSE a assinatura é verificada novamente; o
BU é decifrado; verificação se a seção eleitoral do BU corresponde a urna preparada
(correspondência); após a decifração, um checklist é executado sobre o conteúdo do BU;
ii) Totalização dos votos - são somados de acordo com a legislação eleitoral; o BU na web é gerado
normalmente em até 24hs (prazo legal é de 3 dias);
iii) Divulgação do resultado;
iv) Preservação e custódia dos dados - os meios de armazenamento de dados utilizados pelos
sistemas eleitorais, bem como as cópias de segurança dos dados, são identificados e mantidos em
condições apropriadas, até a data estabelecida no calendário eleitoral.
v) Tribunais Eleitorais devem disponibilizar para as entidades fiscalizadoras, por até 100 dias
corridos, contados a partir do dia do primeiro turno das eleições, os arquivos de log do Gerenciador
de Dados, Aplicativos e Interface com a Urna Eletrônica (GEDAI-UE); os arquivos de dados
alimentadores do Sistema de Gerenciamento da Totalização, referentes a candidatos, partidos
políticos, coligações, municípios, zonas e seções; arquivos de log do Transportador, do Receptor de
Arquivos de Urna e do banco de dados da totalização; arquivos de imagens dos boletins de urna
(BU); arquivos de Registro Digital do Voto (RDV); arquivos de log das urnas; relatório de
boletins de urna que estiveram em pendência, sua motivação e respectiva decisão; relatório de
urnas substituídas; arquivos de dados de votação por seção; relatório com dados sobre o
comparecimento e a abstenção em cada seção eleitoral.
vi) As entidades fiscalizadoras poderão solicitar verificação extraordinária após o pleito, desde
que sejam relatados fatos e apresentados indícios e circunstâncias que a justifique, sob pena de
indeferimento liminar;
vii) Após as eleições, é possível verificar os sistemas instalados nos microcomputadores,
aplicando-se, no que couber, o disposto nas seções II e V do capítulo III da Resolução-TSE
23.603/2019; e os sistemas instalados nas urnas eletrônicas, adicionadas a exibição de logs da urna
eletrônica e a reimpressão do boletim de urna, por meio do sistema de Verificação Pré/Pós-Eleição
(VPP); os sistemas instalados nos equipamentos servidores do Tribunal Superior Eleitoral,
aplicando-se, no que couber, o disposto na seção IV do mesmo capítulo.
39. Os produtos gerados no processo eleitoral de cada ciclo, são:
a) Sistemas de votação, transmissão e apuração;
b) Programas/mídias instalados nas urnas eletrônicas;
c) Programas de verificação desenvolvidos pelo TSE ou pelas entidades fiscalizadoras;
d) Atas/relatórios de todas as fases de verificação/auditoria/fiscalização;
e) Boletim de Urna – BU (físico e em mídia móvel);
f) Logs de urna e de outros sistemas; e
g) Resultado das eleições.
40. Cada uma das etapas de desenvolvimento de software/sistemas/programas/mídias, e respectivas
metodologias de verificação/auditoria/fiscalização, é composta de instrumentos que viabilizam a
avaliação quanto a segurança, confiabilidade e auditabilidade do sistema de votação.
41. Os principais insumos para a sistemática de votação eletrônica são os seguintes:
a) Rede privada de comunicação de dados no âmbito da Justiça Eleitoral;
b) Super computador central do TSE e respectivos recursos de backup;
c) Computadores e demais equipamentos de informática dos TREs e juntas eleitorais;
d) Urnas eletrônicas;
e) Estrutura física de guarda e segurança de pessoas e equipamentos;
f) Salas e equipamentos para realização das cerimônias públicas;
g) Sistemas/programas/mídias desenvolvidos pela Justiça Eleitoral;
h) Recursos humanos especializados no desenvolvimento de sistemas informatizados e segurança
da informação;
i) Instituição pública conveniada ou empresa de auditoria contratada para acompanhamento das
atividades de auditoria e fiscalização dos sistemas; e
j) Entidades fiscalizadoras e seus programas de verificação.
2.7. Gastos com as eleições
42. O gasto total com às eleições gerais de 2018 foi de R$ 903.343.596,00 (Anexo I) e com as
eleições municipais de 2020 foi de R$ 1.346.807.85,00 (Anexo II), sintetizados no gráfico a seguir,
para fins comparativos. Para as eleições de 2022 a estimativa é de R$ 1.334.833.932,00 (Anexo
III). Nesses montantes estão incluídas despesas de custeio e investimento, como por exemplo
aquisição de novas urnas eletrônicas.

Fonte: TSE (Anexos I eII)


43. Como pode ser observado o gasto com urnas eletrônicas subiu de 2018 para 2020.
44. Por oportuno, cabe esclarecer que a estimativa de gastos só com a implementação do voto
impresso, caso seja aprovada a PEC 135/2019, cujos os impactos são demonstrados no item 4 deste
relatório, gira em torno de R$ 2 bilhões
(https://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2021/Junho/voto-impresso-e-menos-seguro-que-o-ele
tronico-e-significara-201cusina-de-problemas201d-avalia-barroso. Consulta realizada em
20/7/2021). Isso representa quase o gasto total das eleições de 2018 e 2020, somadas. Os custos e
outros recursos necessários para a implementação dessa medida estão detalhados nos Anexos V e
VI.
2.8. Contagem dos votos no sistema eletrônico atual
45. Antes do início da votação, o presidente da seção eleitoral, na presença dos mesários que
atuarão na seção e de fiscais de partidos políticos, realiza a impressão de uma listagem de todos os
candidatos, chamada de ‘Zeresíma’ com o objetivo de demonstrar a inexistência de votos nas urnas
eletrônicas.
46. A urna eletrônica só permite a habilitação dos eleitores e registro de votos após a hora marcada
para o início da eleição.
47. No final da votação o presidente da seção eleitoral digita uma senha e encerra a votação, e,
automaticamente, a urna faz a apuração dos votos e emite o Boletim de Urna (BU), inicialmente,
em cinco vias, com a possibilidade de mais impressões, caso necessário. Dessas, a primeira é
afixada na porta da respectiva seção, onde é possível saber o resultado daquela seção; três são
juntadas à ata da seção e encaminhadas ao respectivo cartório eleitoral; e a última via é entregue
aos representantes ou fiscais dos partidos. Assim, o resultado já é de conhecimento público no
momento do encerramento da votação, sem que tenha havido qualquer possibilidade de
interferência humana.
48. O BU é um extrato onde constam o total de votos recebidos por cada candidato, partido
político, votos brancos, votos nulos, número da seção eleitoral, identificação da urna e a quantidade
de eleitores que compareceram e votaram na respectiva seção eleitoral.
49. As mesmas informações que constam no extrato do BU impresso são codificadas em mídias de
memória, como flash cards. Essa mídia digital passa por um processo de criptografia por um
algoritmo de alta complexidade, depois a própria urna assina o resultado com seu certificado
digital, a mídia é retirada da urna e é levada até um ponto de transmissão (a urna não tem conexão
com nenhum dispositivo de rede). O ponto de transmissão está ligado na rede privativa de
comunicação, que é criptografada. No momento da transmissão, a mídia digital já é verificada
quanto à integridade da informação contida nela, ou seja, se é uma informação oficial originada de
uma urna oficial, e só depois é transmitida num canal criptografado até chegar ao datacenter do
TSE, que faz a totalização. O totalizador faz um checklist (se procede de uma urna oficial; se a
chave de criptografia que só ele tem para decifrar, funciona; abre o conteúdo e verifica as
informações internas; e depois publica as informações. Após todos esses passos, faz o processo de
soma propriamente dito e a divulgação dos resultados.
50. O TSE informa que ‘esses dados só conseguem ser lidos nos equipamentos da Justiça Eleitoral
que possuem as chaves para as diversas camadas de segurança, integrantes do sistema eletrônico de
votação. Assim, depois de ser verificada na zona eleitoral, a autenticidade dos votos da urna
eletrônica é checada mais uma vez no TSE, antes de serem incluídos na totalização’.
51. O resultado da eleição é obtido com a totalização dos votos de cada BU, ocorrida no TSE.
52. A figura a seguir ilustra esse fluxo:

Fonte: TSE

3. Auditabilidade dos votos, na atual sistemática de votação eletrônica


53. Os normativos legais e regulamentares que regem o processo eleitoral, com destaque para a Lei
9.504/1997 e as Resoluções 26.603/2019, 23.444/2015 e 23.501/2016, preveem diversos
mecanismos ou ferramentas de auditabilidade da votação. A saber:
a) Auditoria pré-eleição;
b) Auditoria pós-eleição;
c) Inspeção de códigos-fontes pelas entidades fiscalizadoras;
d) Teste de Integridade (também conhecido como Votação Paralela);
e) Registro Digital do Voto;
f) Logs das urnas eletrônicas;
g) Testes Públicos de Segurança;
h) Auditoria no dia das eleições por meio de sorteio de urnas eletrônicas;
i) Logs do sistema GEDAI, responsável pela geração de mídias para as urnas eletrônicas;
j) Disponibilização às entidades fiscalizadoras dos dados alimentadores do Sistema de
Gerenciamento da Totalização;
k) Logs da transmissão de dados ao centro de processamento de dados do TSE;
l) Disponibilização às entidades fiscalizadoras das imagens dos boletins de urna;
m) Disponibilização dos relatórios do Sistema de Gerenciamento da Totalização, que incluem,
porém não se limitam a: urnas substituídas, seções consideradas pendentes e justificativas para seus
tratamentos, dados de comparecimento e abstenção, logs de utilização do sistema, etc; e
n) Disponibilização de dados de votação, seção a seção, aos candidatos interessados.
3.1. Achado 1 – A complexidade tecnológica inerente à votação eletrônica, para permitir
auditabilidade e segurança do voto, e a ausência de uma política de informação mais abrangente
geram desconfiança em parte do eleitorado, oportunizando o surgimento de notícias não
condizentes com a realidade e a elaboração de propostas de alterações legislativas, com impacto
no processo eleitoral como um todo.
3.1.1. Situação encontrada
54. Pesquisa realizada no mês de julho de 2021, encomendada pela Confederação Nacional do
Transporte (CNT), revelou que 63,7% da população possui confiança elevada ou moderada nas
urnas eletrônicas utilizadas no Brasil.
(https://cnt.org.br/agencia-cnt/cnt-divulga-nova-rodada-da-pesquisa-de-opinio-2021. Consulta
realizada em 23/7/2021).
55. Embora elevado percentual de cidadãos confie nas urnas eletrônicas (63,7%), uma parte
significativa da sociedade (34,5%) ainda tem dúvidas acerca da confiabilidade das urnas
eletrônicas. O fato se torna significativo pois esse terço da população ainda tem baixa (15,8%) ou
nenhuma (18,7%) confiança, apesar da realização de doze pleitos eleitorais (de 1998 a 2020) com
uso intenso das urnas eletrônicas sem que haja denúncias consistentes de fraude.
56. Tal fato pode ser imputado à complexidade tecnológica do sistema de votação que ainda deixa
parte da população desconfiada. Por outro lado, é de conhecimento público que existem
movimentos que manifestam desconfiança no processo eleitoral, questionando a confiabilidade do
sistema brasileiro de votação eletrônica, especialmente em razão da ausência de um mecanismo de
validação/auditagem do voto pelo próprio eleitor no momento da escolha dos seus candidatos. A
solução, na ótica desses movimentos, seria a implementação do voto impresso, auditável e
conferível pelo eleitor, em meio físico, antes da sua confirmação. Esse mecanismo possibilitaria,
ainda, a conferência dos votos impressos, depositados em urnas indevassáveis, com os votos
registrados na urna eletrônica.
57. A alegada ausência de um mecanismo de validação/auditagem do voto seria decorrente da
complexidade tecnológica que envolve todo processo de votação, em especial com relação à urna
eletrônica. Essa complexidade inviabilizaria a atuação do cidadão comum, ficando restrita às
pessoas com conhecimentos na área de tecnologia da informação.
58. Neste sentido, deve ser observado, desde já, que o sistema atual de votação eletrônica foi
implementado a partir da identificação de vulnerabilidades históricas que maculavam os resultados
das eleições, especialmente em razão das intervenções humanas nas diferentes etapas do processo
eleitoral, desde a votação, com voto em papel depositado na urna pelo próprio eleitor, até a
apuração e totalização dos votos.
59. Houve um inegável avanço nos quesitos segurança e confiabilidade das eleições a partir da
implementação da votação eletrônica, que minimizou riscos da intervenção humana. Existem
mecanismos de auditagem em todo o processo de votação, desde a etapa do desenvolvimento dos
sistemas, passando pela realização de testes públicos de segurança, teste de integridade (votação
paralela), até a totalização e a divulgação do resultado, contemplando medidas de verificação
mesmo após a conclusão do processo eleitoral.
60. Com o objetivo de oferecer uma visão mais ampla dos mecanismos de validação/auditagem do
voto, apresenta-se a seguir, de forma resumida, em uma linguagem de fácil compreensão, as
diferentes fases de verificação/fiscalização do processo de votação eletrônica, instituídas pelo TSE
por meio da Resolução 23.603/2019.
61. Inicialmente, cabe esclarecer que os principais sistemas submetidos à fiscalização são os
seguintes, conforme definido no art. 2º da mencionada Resolução:
I. Gerenciador de Dados, Aplicativos e Interface com a Urna Eletrônica (GEDAI-UE): sistema
responsável por gerar as mídias de carga, de votação, de resultado e de ativação de aplicativos da
urna, além de receber e enviar as correspondências para o Sistema de Gerenciamento da
Totalização;
II. Sistema de Gerenciamento da Totalização: conjunto de programas que tem como objetivo
principal acompanhar os recebimentos e gerenciar as totalizações dos resultados das eleições a
partir dos arquivos processados pelo Receptor de Arquivos de Urna;
III. Transportador de Arquivos: sistema responsável pela transmissão dos arquivos da urna
eletrônica para a base de dados da Justiça Eleitoral;
IV. Informação de Arquivos de Urna (InfoArquivos): sistema responsável por fornecer ao
Transportador de Arquivos a situação dos arquivos enviados e recebidos na base de dados da
Justiça Eleitoral;
V. JE-Connect: ferramenta que viabiliza a transmissão do boletim de urna diretamente de alguns
locais de votação, por meio de um canal privado, garantindo agilidade na totalização dos votos,
sem comprometimento da segurança;
VI. Receptor de Arquivos de Urna (RecArquivos): sistema responsável por receber os pacotes
gerados pelo Transportador de Arquivos e colocá-los à disposição para serem consumidos pelo
Sistema de Gerenciamento da Totalização;
VII. Votação, Justificativa Eleitoral, Apuração da Urna Eletrônica e demais aplicativos da urna
eletrônica: conjunto de programas executados na urna eletrônica que permite a escolha do voto
pelos eleitores, a justificativa de não comparecimento, a apuração de resultados da seção eleitoral,
entre outras funcionalidades; e
VIII. Sistema operacional e de segurança da urna (Uenux): distribuição Linux desenvolvida por
equipe técnica do Tribunal Superior Eleitoral para uso nas urnas eletrônicas; é composto por
bootloader, kernel do Linux, drivers, bibliotecas e aplicativos.
62. A Resolução prevê, também, que serão fiscalizados, auditados, assinados digitalmente, lacrados
e verificados os seguintes programas:
I. Subsistema de Instalação e Segurança (SIS): sistema que promove a segurança na instalação e na
utilização dos sistemas eleitorais;
II. Bibliotecas-padrão e especiais: bibliotecas-padrão das linguagens C e C++, bibliotecas de
código aberto, utilizadas para criptografia e interface gráfica, entre outras funcionalidades;
III. HotSwapFlash (HSF): serviço utilizado pelo Sistema Gerenciador de Dados, Aplicativos e
Interface com a Urna Eletrônica (GEDAI-UE) para particionamento, formatação, leitura e escrita
das mídias da urna;
IV. Programas de criptografia utilizados nos sistemas de coleta, totalização e transmissão dos
votos; e
V. Compiladores dos códigos-fonte de todos os sistemas desenvolvidos e utilizados no processo
eleitoral.
63. Já o em seu art. 5º, a Resolução estabelece que são consideradas entidades fiscalizadoras,
legitimadas a participar das etapas do processo de fiscalização as seguintes instituições:
I. Partidos políticos e coligações;
II. Ordem dos Advogados do Brasil;
III. Ministério Público;
IV. Congresso Nacional;
V. Supremo Tribunal Federal;
VI. Controladoria-Geral da União;
VII. Polícia Federal;
VIII. Sociedade Brasileira de Computação;
IX. Conselho Federal de Engenharia e Agronomia;
X. Conselho Nacional de Justiça;
XI. Conselho Nacional do Ministério Público;
XII. Tribunal de Contas da União;
XIII. Forças Armadas;
XIV. Entidades privadas brasileiras, sem fins lucrativos, com notória atuação em fiscalização e
transparência da gestão pública, credenciadas junto ao Tribunal Superior Eleitoral; e
XV. Departamentos de tecnologia da informação de universidades credenciadas junto ao Tribunal
Superior Eleitoral.
64. O TSE faculta às entidades fiscalizadoras a ampla participação em todo processo que envolve a
votação eletrônica, desde o desenvolvimento dos sistemas e mesmo após as eleições.
65. A fiscalização pode ser exercida nos seguintes momentos, conforme definido no art. 4º da
Resolução TSE 23.603/2019, havendo detalhamento dos mecanismos de fiscalização para cada
etapa:
a) Durante o desenvolvimento, compilação e assinatura digital, bem como lacração dos sistemas
eleitorais, no âmbito do Tribunal Superior Eleitoral;
b) Durante as cerimônias destinadas à geração de mídias e preparação das urnas eletrônicas, no
âmbito dos Tribunais Regionais Eleitorais ou Cartórios/Juntas Eleitorais;
c) Durante a cerimônia destinada à verificação da integridade e autenticidade dos sistemas
eleitorais instalados no Tribunal Superior Eleitoral;
d) Na audiência com propósito de verificação dos sistemas destinados à transmissão de boletins de
urna, no âmbito dos Tribunais Regionais Eleitorais ou Cartórios/Juntas Eleitorais;
e) Durante os procedimentos preparatórios para realização de auditoria de funcionamento das urnas
eletrônicas em condições normais de uso e no dia da votação, no âmbito dos Tribunais Regionais
Eleitorais;
f) Durante a auditoria de funcionamento das urnas eletrônicas em condições normais de uso, no
âmbito dos Tribunais Regionais Eleitorais;
g) Durante a auditoria de funcionamento das urnas eletrônicas, no dia da votação, por meio da
verificação dos sistemas, no âmbito dos Cartórios/Juntas Eleitorais;
h) Após os procedimentos de totalização das eleições.
66. Durante o desenvolvimento dos sistemas, as entidades fiscalizadoras podem acompanhar a
especificação e o desenvolvimento dos sistemas eleitorais, com acesso ao código-fonte dos
programas. Para isso, o TSE expede convite às entidades fiscalizadoras, estendido aos participantes
do último Teste Público de Segurança (TPS), para que, 6 meses antes do primeiro turno das
eleições, tenham acesso antecipado aos sistemas eleitorais desenvolvidos e podendo acompanhar os
trabalhos para sua especificação e desenvolvimento, para fins de fiscalização e auditoria, em
ambiente específico e sob a supervisão do TSE.
67. As entidades fiscalizadoras podem, também, acompanhar a criação dos programas de
verificação de integridade e autenticidade dos sistemas eleitorais, ou desenvolver programas
próprios de verificação, nas condições definidas pelo TSE. Por fim, os sistemas eleitorais e os
programas de verificação, desenvolvidos pelas entidades fiscalizadoras, são compilados e assinados
digitalmente pelos servidores do TSE, fazendo uso de certificados emitidos por autoridade
certificadora credenciada pelo Comitê Gestor da Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira
(ICP-Brasil), sendo facultado, também, aos representantes das entidades fiscalizadoras promover a
assinatura digital. A etapa se encerra com lavratura de ata da Cerimônia de Assinatura Digital e
Lacração dos Sistemas assinada pelos presentes, na qual deverão constar, obrigatoriamente:
a) nomes, versões e datas dos sistemas compilados e lacrados;
b) relação das consultas e dos pedidos apresentados pelas entidades, bem como datas em que as
respostas foram apresentadas; e
c) relação de todas as pessoas que assinaram digitalmente os sistemas, na qual se discriminam os
programas utilizados e os respectivos fornecedores.
68. Ainda no âmbito do TSE, as entidades fiscalizadoras podem verificar, na véspera da eleição, a
integridade e autenticidade dos sistemas eleitorais de Gerenciamento da Totalização, Receptor de
Arquivos de Urnas, InfoArquivos, e Transportador Web.
69. Além disso, durante a etapa de geração de mídias e preparação das urnas eletrônicas em
cerimônias públicas realizadas nos Tribunais Regionais Eleitorais ou Cartórios/Juntas Eleitorais, as
entidades fiscalizadoras podem verificar a integridade e autenticidade do Gerenciador de Dados,
Aplicativos e Interface com a Urna Eletrônica (GEDAI-UE), Subsistema de Instalação e Segurança
(SIS) e HotSwapFlash (HSF).
70. Podem, também, verificar a integridade e autenticidade dos sistemas eleitorais instalados em
urnas eletrônicas, por meio de amostragem (até 3%) das urnas preparadas para cada zona eleitoral,
e no mínimo de uma urna por município, escolhidas pelos representantes das entidades
fiscalizadoras, aleatoriamente entre as urnas de votação e as de contingência, nos locais de
preparação das urnas mediante. Podem ainda acompanhar a lacração física das urnas, que é feita
mediante a afixação de lacre nas interfaces de conexão dos dispositivos externos de acesso da urna
e seu gabinete.
71. No âmbito dos Tribunais Regionais Eleitorais, as entidades fiscalizadoras podem solicitar
audiência destinada à verificação da integridade e autenticidade dos sistemas Transportador e
JE-Connect, instalados nos microcomputadores, no período entre a antevéspera do dia das eleições
até as 17hs do dia da eleição, utilizando programa de verificação fornecido pelo TSE ou
desenvolvido pela entidade fiscalizadora, sendo lavrada ata circunstanciada dessa verificação,
especificando a identificação e versão dos sistemas verificados, data, local e horário de início e
término das atividades; e indicação do nome e a qualificação dos presentes.
72. A fase de fiscalização que pode ser considerada a mais representativa e acessível, uma vez que
não exige conhecimentos específicos de tecnologia, é aquela relativa ao funcionamento das urnas
eletrônicas em condições normais de uso. A Auditoria de Funcionamento das Urnas Eletrônicas é
realizada por todos os tribunais regionais eleitorais por meio de amostragem com a finalidade de
demonstrar o correto funcionamento da urna eletrônica sob condições normais de uso.
73. Essa auditoria é realizada no dia da eleição em local designado pelo respectivo TRE, para onde
são levadas as urnas sorteadas segundo os critérios definidos no art. 56 da Resolução TSE
23.603/2019. Importante destacar que, no momento do sorteio, as urnas já se encontram carregadas,
lacradas e disponíveis para uso nas respectivas seções eleitorais. Essas urnas são retiradas, levadas
para o local definido pelo TRE e substituídas por novas urnas devidamente preparadas para uso no
dia da eleição.
74. As urnas sorteadas são utilizadas para a simulação da eleição, também denominada de ‘votação
paralela’, por meio da qual a uma Comissão de Auditoria da Votação Eletrônica promove a votação
na urna eletrônica e, simultaneamente, a votação em cédula física depositada em urna física. Ao
final é verificada a coincidência entre os resultados obtidos nos boletins de urna e os dos relatórios
emitidos pelo sistema de apoio à votação, sendo lavrada ata circunstanciada de encerramento dos
trabalhos.
75. Anteriormente à votação paralela é facultado às entidades fiscalizadoras verificar a regularidade
dos procedimentos preparatórios para auditoria de funcionamento das urnas eletrônicas em
condições normais de uso e no dia da votação, entre os quais: regularidade da designação da
Comissão de Auditoria da Votação Eletrônica; conformidade do sorteio das seções eleitorais para
auditoria; conformidade do preenchimento das cédulas utilizadas na auditoria; conformidade da
remessa das urnas eletrônicas sorteadas.
76. Adicionalmente, o TSE promove a contratação de empresa especializada em auditoria para
fiscalizar os trabalhos da auditoria de funcionamento das urnas eletrônicas, conforme previsto no
art. 63 da Resolução TSE 23.603/2019. A empresa contratada elabora relatório detalhado da
realização dessa etapa, que é publicado do site do TSE.
77. O ambiente em que se realiza a votação paralela é aberto a qualquer interessado, mas a
circulação na área onde as urnas e os computadores estiverem instalados fica restrita aos membros
da Comissão, aos auxiliares por ela designados e aos auditores credenciados, ficando assegurada a
fiscalização de todas as fases do processo por pessoas previamente autorizadas. Para conferir ainda
maior transparência a todo processo, a auditoria de funcionamento das urnas eletrônicas é filmada
pela Justiça Eleitoral ou por empresa contratada.
78. Ainda com relação ao funcionamento das urnas eletrônicas, é facultado às entidades
fiscalizadoras a realização de auditoria de funcionamento das urnas eletrônicas, no dia da votação,
por meio da verificação dos sistemas, no local onde as urnas sorteadas estão instaladas, antes do
início da votação. Para isso, o juiz cuja zona eleitoral realizará auditoria na urna no dia da votação
convocará os partidos políticos e os representantes da Ordem dos Advogados do Brasil e do
Ministério Público para que compareçam ao local de votação às 7 horas do dia da votação, de modo
a acompanhar a auditoria da urna eletrônica na seção eleitoral sorteada. Nesta etapa pode ser
verificada a regularidade dos relatórios de controle e a integridade dos programas instalados na
urna eletrônica.
79. Por fim, após as eleições, as entidades fiscalizadoras podem solicitar aos tribunais eleitorais os
arquivos de log do Gerenciador de Dados, Aplicativos e Interface com a Urna Eletrônica
(GEDAI-UE); e os arquivos de dados alimentadores do Sistema de Gerenciamento da Totalização,
referentes a candidatos, partidos políticos, coligações, municípios, zonas e seções; arquivos de log
do Transportador, do Receptor de Arquivos de Urna e do banco de dados da totalização; arquivos
de imagens dos boletins de urna; arquivos de Registro Digital do Voto (RDV); arquivos de log
das urnas; relatório de boletins de urna que estiveram em pendência, sua motivação e respectiva
decisão; relatório de urnas substituídas; arquivos de dados de votação por seção; e relatório com
dados sobre o comparecimento e a abstenção em cada seção eleitoral. Esses arquivos e documentos
possibilitam a realização de uma contagem paralela dos votos para posterior comparação com os
resultados divulgados pelo TSE.
80. Podem, ainda, solicitar verificação extraordinária após o pleito, desde que sejam relatados fatos
e apresentados indícios e circunstâncias que a justifique, bem como verificar os seguintes sistemas,
mediante espelhamento, preservando-se os originais intactos (Resolução TSE 23.603/2019,
Capítulo III, art. 50):
a) Sistemas instalados nos microcomputadores, aplicando-se, no que couber, o disposto nas seções
II e V deste capítulo;
b) Sistemas instalados nas urnas eletrônicas, aplicando-se, no que couber, o disposto na seção III
deste capítulo, adicionadas a exibição de logs da urna eletrônica e a reimpressão do boletim de
urna, por meio do sistema de Verificação Pré/Pós-Eleição (VPP);
c) Sistemas instalados nos equipamentos servidores do Tribunal Superior Eleitoral, aplicando-se,
no que couber, o disposto na seção IV deste capítulo.
81. Além do amplo acesso das entidades fiscalizadoras às diferentes etapas que envolvem a votação
eletrônica, o TSE, na forma definida na Resolução 23.444/2015, organiza os Testes Públicos de
Segurança (TPS), que fazem parte do ciclo de desenvolvimento dos sistemas de votação e apuração
e são realizados antes de cada eleição ordinária, preferencialmente no segundo semestre dos anos
que antecedem os pleitos eleitorais.
82. A primeira edição do Teste Público de Segurança aconteceu em 2009 e, desde então, foram
realizadas outras quatro edições: 2012, 2016, 2017 e 2019. A próxima edição está prevista para o
mês de novembro de 2021. O TPS passou a ser obrigatório a partir da edição da Resolução TSE
23.444/2015.
83. O TPS tem por objetivo fortalecer a confiabilidade, a transparência e a segurança da captação e
da apuração dos votos e propiciar melhorias no processo eleitoral.
84. Os sistemas eleitorais que poderão ser objeto do TPS são aqueles utilizados para a geração de
mídias, votação, apuração, transmissão e recebimento de arquivos, lacrados em cerimônia pública,
conforme definido no § 2º do art. 66 da Lei nº 9.504/1997, incluindo o hardware da urna e seus
softwares embarcados.
85. O TPS envolve várias etapas, desde a apresentação dos planos de ataque, apresentação do
sistema aos investigadores, abertura do código e o período de ataque propriamente dito, finalizando
meses depois quando o TSE convida os envolvidos para testar novamente o sistema e verificar se
as falhas foram corrigidas.
86. Segundo dados do TSE, até o momento, 89 investigadores já participaram dos testes públicos
de segurança. Neste universo, alguns contribuíram individualmente e outros como parte de uma das
21 equipes nas quatro edições do TPS. A etapa mais recente, realizada em 2019, teve duração de 5
dias, nos quais os investigadores e as equipes tentaram quebrar as barreiras de segurança do
processo eletrônico de votação.
87. Torna-se de extrema importância destacar que as condições disponibilizadas aos investigadores
durante a realização dos TPS não são encontradas em condições normais de uso das urnas ou
sistemas, uma vez que nos TPS são abertos os códigos-fonte, liberado acesso aos sistemas e
disponibilizadas urnas em uso pelo TSE, para amplo ataque. Em condições reais, as urnas estão sob
rigorosa guarda exclusiva dos órgãos da Justiça Eleitoral, além de funcionarem de forma isolada,
pois não possuem nenhum mecanismo que possibilite sua conexão a redes de computadores, como
a Internet, e os sistemas estão garantidos pela utilização do sistema operacional específico, da
criptografia, de senha exclusiva e da VPN, que consiste em uma rede privada segura existente
dentro da rede pública da Internet.
88. Os relatórios técnicos apresentados pelos investigadores relatam, analiticamente, os planos de
testes executados e, consequentemente, os resultados provenientes deles. Sempre que apontadas
falhas, indicadas oportunidades de melhoria ou comprovado o sucesso em um plano de ataque, o
TSE procederá às correções e evoluções, bem como promoverá um novo teste – chamado de Teste
de Confirmação – em que os investigadores poderão aplicar um novo ataque nos mesmos moldes e
nas mesmas condições do teste inicial e, assim, confirmar a realização das melhorias. Constam nos
autos os dois últimos relatórios técnicos, elaborados em 2017 e 2019 (peças 33 e 34).
89. Consultado sobre a participação dos partidos políticos na fiscalização dos sistemas eleitorais, o
TSE esclareceu, inicialmente, que é preciso diferenciar a solicitação de credenciamento para
participar, o encaminhamento de um representante, que normalmente é um advogado sem
conhecimento técnico em TI e a participação efetiva na fiscalização. Feita essa diferenciação, o
TSE afirma que apenas um partido político efetivamente participou da fiscalização dos
códigos-fonte dos sistemas eleitorais, tendo feito isso apenas até as eleições de 2002 (peça 35). Nos
Testes Públicos de Segurança recentes, realizados em 2017 e 2019, não houve participação de
partidos políticos (peças 33 e 34).
90. Cabe repisar, por fim, que esta etapa do trabalho de auditoria realizado pelo TCU tem seu foco
nas questões relacionadas à auditabilidade da urna, na forma definida na Lei 9.540/1997 e à
possibilidade de implementação do voto impresso, na forma da PEC 135/2019 (peça 14). Outras
questões relacionadas à avaliação da auditabilidade em todo processo, transparência e segurança,
serão abordadas na segunda etapa da auditoria (peça 14), tendo em vista autorização do relator
(peça 18).
91. Diante do exposto, especificamente em relação à urna eletrônica, observa-se que existem
diferentes mecanismos de verificação e auditagem, para que o próprio eleitor ou as instituições
legitimadas possam verificar a segurança e o funcionamento do sistema de votação.
92. Como já mencionado, dentre os mecanismos/ferramentas de auditagem, merece destaque
especial a denominada ‘votação paralela’, conforme diagrama no Anexo IV.
93. Em suma, trata-se de um procedimento de segurança que pode ser acompanhado pelo próprio
eleitor, além de quaisquer outros interessados. Ela ocorre na véspera da eleição, em audiência
pública, onde as urnas sorteadas são submetidas à votação, nas mesmas condições em que ocorreria
na seção eleitoral, mas com o registro, em paralelo, dos votos que são registrados na urna
eletrônica. Cada voto é registrado numa cédula de papel e, em seguida, replicado na urna
eletrônica. Ao final do dia, no mesmo horário em que se encerra a votação, são feitas a apuração
das cédulas de papel e a comparação do resultado com o boletim da urna. Toda essa cerimônia é
gravada em vídeo e acompanhada por empresa de auditoria contratada para essa finalidade
específica.
94. Outro mecanismo de acompanhamento facultado a qualquer cidadão é o Boletim de Urna (BU),
que contém as seguintes informações extraídas da urna eletrônica: total de votos por partido; total
de votos por candidato; total de votos nulos e em branco; total de comparecimento em voto;
identificação da seção e da zona eleitoral; hora do encerramento da eleição; código interno da urna
eletrônica; e sequência de caracteres para a validação do boletim.
95. Ao final da votação, o BU, com a apuração dos votos de uma seção, torna-se um documento
público, que é entregue aos representantes dos partidos políticos e afixado nos locais de votação e,
posteriormente, divulgado no site do TSE. Uma cópia do boletim é gravada na mídia removível,
criptografada, que é utilizada para transmitir as informações para o TSE, para fins de apuração dos
resultados da urna. Além de ser verificado no momento da divulgação, o BU pode ser conferido por
ocasião da totalização dos votos.
96. Adicionalmente, a partir das Eleições 2016, o TSE acrescentou ao BU um Quick Response
Code (QR Code), que permite a rápida digitalização do resultado apurado em uma seção. Dessa
forma, um número maior de pessoas poderá obter cópias dos resultados apurados pelas urnas, mais
seções terão os seus resultados validados e a conferência da totalização será mais rápida e fácil.
Isso é feito por meio de um aplicativo desenvolvido pelo TSE para dispositivos móveis que permite
a digitalização e a conferência do BU. A urna eletrônica utiliza tecnologias de criptografia,
assinatura digital e resumo digital, que são utilizadas pelo seus hardware e software para criar uma
cadeia de confiança, garantindo que somente o software desenvolvido pelo TSE, gerado durante a
cerimônia de lacração dos sistemas eleitorais, possa ser executado. Qualquer tentativa de executar
software não autorizado na urna eletrônica resultará no bloqueio do seu funcionamento. Assim, não
é possível modificar os dados de candidatos e de eleitores presentes na urna, modificar o resultado
da votação contido no BU, o registro das operações feitas pelo software (log) e o arquivo de
Registro Digital do Voto (RDV), dentre outros arquivos produzidos pela urna, uma vez que todos
também estão protegidos pela assinatura digital.
97. Deve ser dado destaque, também, à impossibilidade de ataques externos à urna eletrônica, uma
vez que o equipamento funciona de forma isolada, ou seja, não apresenta nenhum mecanismo que
possibilite sua conexão a redes de computadores, como a Internet. Além disso, não possui o
hardware necessário para se conectar a uma rede ou mesmo a qualquer forma de conexão com ou
sem fio.
98. Outro arquivo produzido pela urna eletrônica é o Registro Digital do Voto (RDV), que contém
os votos dos eleitores registrados na urna. É a partir desse arquivo que é emitido o relatório
‘Zerésima’ – que indica que a urna não possui votos registrados. Também, com base no RDV, é
gerado o Boletim de Urna (BU) – relatório com a apuração dos votos da seção.
99. O RDV registra exatamente aquilo que foi digitado pelo eleitor na urna, sem nenhum
processamento ou informação adicional (não há como vincular um voto no RDV a um eleitor). O
RDV é utilizado somente no encerramento da votação para gerar o BU e, assim, realizar o
somatório dos votos de cada candidato ou legenda e o cômputo de votos nulos e brancos.
100. O sigilo do voto é garantido pelo registro de cada voto numa posição aleatória do arquivo,
inviabilizando qualquer tipo de associação entre votos.
101. O RDV é disponibilizado pela Justiça Eleitoral, aos partidos e às coligações, que podem
desenvolver aplicativos próprios para comparação da apuração oficial da urna eletrônica com
aquela produzida pelo seu próprio software.
102. Por fim, o sistema da urna eletrônica mantém registro cronológico de todas suas operações,
que se constitui no denominado ‘arquivo de log’, ou simplesmente log. Ficam registrados nesse
arquivo o início e o encerramento da votação; a emissão de relatórios; os aplicativos que foram
executados; os ajustes de data e hora; a realização de procedimentos de contingência; e os registros
que auxiliam na avaliação da dinâmica do voto; viabilizado, assim, a análise de toda a história da
urna eletrônica, desde a sua preparação até o encerramento da votação no segundo turno. Esse
arquivo igualmente é disponibilizado aos partidos políticos e às coligações, para que estes façam
sua própria análise dos eventos ocorridos na urna eletrônica.
103. Em suma, o sistema eleitoral brasileiro dispõe de mecanismos de fiscalização que viabilizam a
verificação/auditoria da votação eletrônica em todo processo, em diferentes etapas. Essa afirmação
é corroborada pela ausência de comprovação de fraudes na votação eletrônica desde a sua
instituição.
104. A eventual avaliação quanto à necessidade de criação de mecanismos adicionais de auditagem
do voto compete ao Congresso Nacional, a partir da ponderação das vantagens e desvantagens
advindas da sua implementação.
105. Para agregar importantes elementos para a discussão sobre a matéria, entende-se oportuno
reproduzir algumas ponderações apresentadas pelo TSE (peça 47, p.24-26), que ilustram de forma
bastante didática as preocupações com o voto impresso:
a) a impressão do voto é diferente da votação manual, mas ela retoma todas as fragilidades da
custódia da urna e dos votos;
b) a urna é parte de um processo amplo, que só funcionará em sua plenitude com a participação
ativa dos atores democráticos nas diversas etapas da eleição.
c) a impressão do voto não alcança o objetivo almejado, uma vez que, caso não haja vinculação do
registro impresso do voto com o registro eletrônico (o que fragilizaria o sigilo), o eleitor não tem
como ter a certeza de que o que ele viu na seção é o mesmo que vai ser contado;
d) o sistema atual reduz a intervenção manual em pontos críticos, e o software possui ferramentas
automatizadas de verificação e auditoria;
e) no sistema atual, o eleitor tem que acreditar em um técnico de TI. É falsa a premissa de que o
voto impresso garante ao eleitor que seu voto será recebido pelo candidato em quem ele votou, e
que o voto não pode ser alterado ou desconsiderado, uma vez que o histórico de eleições com voto
manual demonstra o contrário;
f) o único meio de votação que não exige qualquer nível de confiança em qualquer software é a
votação manual em cédula, com contagem manual. Em todos os outros cenários, há que se
confiar, em maior ou menor grau, e auditar o software que grava, imprime, verifica ou conta o voto.
106. Com o objetivo de conferir ainda maior transparência ao processo eleitoral, por ocasião das
eleições municipais de 2020, o TSE assinou o acordo com a Organização dos Estados Americanos
(OEA) relativo aos procedimentos da observação internacional. Para esse fim, a Missão de
Observação Eleitoral da OEA (MOE) foi composta por 14 observadores e especialistas de 9
nacionalidades, e foi alocada no Brasil no dia 7/11/2020. A Missão realizou uma análise
substantiva dos aspectos técnicos relacionados ao processo eleitoral, entre eles a organização e
tecnologia eleitoral (peça 48).
107. A MOE consignou, em seu relatório (peça 48, p.7), que o calendário eleitoral prevê diversos
mecanismos de provas e auditorias do sistema eletrônico de votação. Entre eles, destacou o Teste
Público de Segurança, no qual o TSE convida especialistas de tecnologia externos para testar as
barreiras de proteção do sistema e a votação paralela, para a comprovação do funcionamento das
urnas, que consiste na extração aleatória e teste de alguns dos equipamentos no dia da votação, em
cerimônia pública. Mediante este processo, a missão atestou que o público pode verificar o
funcionamento e o resultado impresso da votação no boletim de urna.
108. Apesar de entender que tais procedimentos conferem confiança e transparência ao processo, a
MOE observa que, como havia ocorrido em 2018, recebeu novamente, preocupações de alguns
atores que solicitavam a existência do voto impresso.
109. A Missão reconheceu, também, que recomendações do informe final da MOE/OEA 2018
sobre a ampliação das provas que fazem parte do Teste Público de Segurança, assim como a
votação paralela, foram implementadas. No entanto, a Missão recomendou promover maior difusão
das atividades realizadas na etapa de auditoria no dia das eleições (votação paralela), como
ferramenta valiosa para dar garantias à população, e ao mesmo tempo recomendou que fosse
garantida a presença dos partidos políticos, que até aquele momento era escassa, nas distintas
instâncias de auditoria e fiscalização das urnas. Com isso, a missão entende que o sistema eleitoral
se beneficiaria do incentivo a espaços de diálogo, nos quais as autoridades e representantes
partidários trabalhassem conjuntamente para aumentar as medidas que possam incrementar a
confiança de todos os atores. Extrai-se da manifestação da MOE, que as recomendações sugeridas
não são decorrentes de atos praticados pelo TSE, mas sim da omissão de importantes atores que
poderiam participar mais ativamente do processo de fiscalização (peça 48).
110. Noutra esteira, O TSE possui o Programa de Enfrentamento à Desinformação, com o objetivo
enfrentar os efeitos negativos provocados pela desinformação que atentam contra a integridade e a
credibilidade do processo eleitoral. A desinformação pode se dar por conteúdos falsos e
fraudulentos que afetam:
a) o processo eleitoral em suas diferentes fases, desde o registro de candidaturas até a diplomação
dos eleitos;
b) o funcionamento da urna eletrônica e os demais aspectos do processo eletrônico de votação;
c) a Justiça Eleitoral, seus membros, servidores e demais colaboradores;
d) a segurança sanitária do processo eleitoral no contexto da pandemia da Covid-19;
e) outros atos relativos à organização e à realização das eleições.
111. Diante de todo o exposto, resta caracterizado que o sistema eleitoral brasileiro dispõe de
mecanismos de fiscalização que viabilizam a verificação/auditoria da votação eletrônica em todo
processo, em diferentes etapas. Bem como, que até o momento inexiste comprovação de fraudes na
votação eletrônica desde a sua instituição.
3.1.2. Objeto
112. Urna eletrônica e respectivo software, além das diferentes fases de verificação/auditoria
definidas na regulamentação da matéria pelo TSE.
3.1.3. Critérios
a) Lei 9.504/1997, arts. 59 e 66;
b) Resolução TSE 23.603/2019:
Art. 2º: sistemas submetidos à fiscalização;
Art. 4º: momentos e mecanismos de fiscalização;
Art. 5º: instituições públicas e privadas consideradas entidades fiscalizadoras;
Arts 8º a 77: detalhamento das fases e mecanismos de fiscalização;
c) Resolução TSE 23.444/2015: regulamentação dos Testes Públicos de Segurança.
3.1.4. Evidências
a) Sistema de votação não prevê voto impresso;
b) Pesquisa de opinião – 63,7% confiam e 34,5% não confiam na urna
(https://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2021/Julho/pesquisa-cnt-revela-que-63-7-dos-brasilei
ros-confiam-na-urna-eletronica);
c) Reportagens na mídia;
d) Debates no Congresso Nacional;
e) Estudos técnicos de especialistas;
f) Fases de fiscalização da votação.
3.1.5. Causas
a) Legislação Eleitoral (Lei 9.504/1997) definiu que a sistemática brasileira de votação eletrônica
não contempla a impressão do voto (verificação física do voto);
b) Tentativas no legislativo federal de introduzir o voto impresso na sistemática de votação
eletrônica, restaram frustradas por intervenção do STF (que em duas oportunidades, ADI 4543/DF
e ADI 5889 MC/DF, deliberou pela inconstitucionalidade das respectivas leis [12.034/2009 e Lei
13.165/2015], em razão do entendimento de que colocariam em risco o sigilo do voto;
c) complexidade tecnológica; e
d) Embora o TSE tenha desenvolvido uma política de comunicação e informação à sociedade
acerca do processo eleitoral e seus mecanismos de auditabilidade, transparência e segurança,
inclusive com a criação de Programa de Enfrentamento à Desinformação, especialmente com
informações divulgadas no seu site, verifica-se, na prática, que as medidas implementadas não têm
o alcance desejável para evitar que se propaguem nas redes sociais e veículos de comunicação um
conjunto de informações que objetivam atacar a credibilidade da votação eletrônica. É evidente que
a solução para isso não é simples, mas o problema pode ser mitigado mediante a adoção de uma
política contínua de informação e esclarecimento à sociedade.
3.1.6. Efeitos
a) Comprometimento da confiabilidade, auditabilidade e transparência do processo de votação
eletrônica;
b) Questionamentos da sociedade, dos políticos e da imprensa acerca da credibilidade da
sistemática brasileira de votação;
3.1.7. Conclusão
113. Verifica-se que existem diversos mecanismos na sistemática de eleição brasileira que
permitem a auditoria do processo de votação e apuração dos votos com o uso das urnas eletrônicas.
Alguns desses mecanismos exigem conhecimentos técnicos aprofundados na área de TI como é o
caso das auditorias nos sistemas utilizados em todo o processo de eleição, os Testes Públicos de
Segurança (TPS), a totalização de votos por meio do Registro Digital de Votos (RDV) e as
auditorias extraordinárias após o final do pleito.
114. Outros mecanismos de verificação e auditoria permitem acompanhar a geração dos softwares
e a preparação das urnas eletrônicas a serem utilizados na eleição por meio de cerimônias públicas.
Neste caso são exigidos conhecimentos da legislação eleitoral e das regras da sistemática da eleição
para compreender o que está sendo feito e aferir a correta execução dos procedimentos
determinados pelas normas.
115. Por fim, existem mecanismos de verificação e auditoria que permitem a qualquer eleitor
verificar a correção da sistemática e fidedignidade dos votos registrados. Do ponto de vista da
sistemática, ocorrem em todo o País a chamada ‘votação paralela’ que é fiscalizada por
representantes de diversas entidades fiscalizadoras e pode ser acompanhada por qualquer cidadão.
No aspecto da fidedignidade dos resultados da eleição, o eleitor pode conferir os Boletins de Urna
(BU), cuja cópia é afixada em todos os locais de votação, logo após as eleições , tornando público o
resultado de cada sessão eleitoral, podendo fazer uso, inclusive, de aplicativo disponível para
smartphones. Para aferição do seu voto, enfim, o eleitor tem a solicitação da confirmação visual
antes da finalização do voto. Nessa confirmação, o eleitor tem a chance de conferir o nome, o
partido, o número e a fotografia do candidato, antes de confirmar o voto.
116. Em resumo, observou-se que a inexistência de voto impresso no regramento eleitoral
brasileiro não permite afirmar que a votação eletrônica inviabiliza a validação/auditagem do voto.
Existem outros mecanismos de verificação que atendem às exigências estabelecidas na Lei
9.504/1997.
117. Reitera-se que estes mecanismos elencados estão à disposição de diversas instituições, dentre
as quais destaca-se os partidos políticos, principais interessados no processo eleitoral. O que se
verifica na prática, porém, é que não tem havido interesse dos partidos em atuar nas diferentes
etapas de fiscalização/auditoria da sistemática brasileira de votação, restando suprimidas
importantes contribuições que poderiam ser agregadas ao processo eleitoral.
118. A não participação ativa dos partidos políticos e de outras entidades organizadas da sociedade
na fiscalização de todas as etapas do processo eleitoral, associada à complexidade tecnológica dos
softwares e equipamentos utilizados na eleição, suscitam falsa realidade de que não existem
mecanismos de auditoria e verificação eficientes nas eleições brasileiras.
3.1.8. Proposta de encaminhamento
119. Recomendar ao TSE que promova estudos com vistas a identificar formas alternativas de
estimular a efetiva participação das instituições qualificadas como entidades fiscalizadoras,
conforme art. 5º da Resolução TSE 23.603/2019, em especial dos partidos políticos, principais
atores interessados no fortalecimento auditabilidade, transparência e segurança do processo
eleitoral, nas diferentes etapas de fiscalização da sistemática brasileira de votação;
120. Recomendar ao TSE que promova/aprimore uma política contínua de comunicação e
informação à sociedade acerca dos mecanismos de auditabilidade, transparência e segurança da
sistemática brasileira de votação, com o objetivo de estimular uma maior participação popular e
elevar o nível de conhecimento e confiança em todo processo;
121. Recomendar ao TSE que busque alternativas para incrementar e dar maior visibilidade à
votação paralela, com vistas consolidá-la, perante a sociedade, como mecanismo de fiscalização,
validação e confiabilidade da urna eletrônica.
4. Proposta de Emenda Constitucional 135/2019 (texto original)
122. Encontra-se em discussão no Congresso Nacional, a PEC 135/2019, que acrescenta o § 12 ao
art. 14, da Constituição Federal, dispondo que, na ‘votação e apuração de eleições, dos plebiscitos e
dos referendos, seja obrigatória a expedição de cédulas físicas, conferíveis pelo eleitor, a serem
depositadas, de forma automática e sem contato manual, em urnas indevassáveis, para fins de
auditoria’ (peça 27).
123. Cabe repisar que, logo após a universalização do voto eletrônico (2001), começaram as
alterações legislativas visando a implementação de mecanismo, na urna eletrônica, capaz de
permitir a impressão do voto (Lei 10.408/2001). Método este, testado nas eleições de 2002, com
7.128.233 eleitores, em 150 municípios, e, posteriormente, substituído pelo registro digital de cada
voto, por meio da Lei 10.740/2003, em decorrência dos apontamentos constantes no relatório de
avaliação das eleições, elaborado pelo TSE (peça 26).
124. Depois, nos anos de 2009 e 2015, surgiram duas novas leis (Lei 12.034/2009 e 13.165/2015),
também com o mesmo propósito (recriar a obrigação de impressão do voto). Porém, ambas foram
consideradas inconstitucionais pelo STF (Adin 4543 e 5889, respectivamente).
125. Diante da discussão no Congresso Nacional, e das possíveis implicações no processo eleitoral,
em caso de aprovação, são pertinentes as considerações exaradas nos Achados 2 e 3, a seguir
expostos
4.1. Achado 2 – necessidade de recursos orçamentários, humanos e materiais adicionais em
decorrência da implementação de inovações a serem introduzidas na sistemática de votação, em
caso de aprovação da PEC 135/2019, não previstos na proposta orçamentária do TSE, acarretando
elevação dos custos das eleições para a 2022.
4.1.1. Situação encontrada
126. Importante destacar, inicialmente, que o TSE já enfrenta atualmente, restrições orçamentárias
para o cumprimento da sua missão institucional em razão das limitações impostas pela EC 95 (Teto
dos Gastos Públicos). Neste sentido, qualquer acréscimo de despesas demandaria a adoção de
medidas pelo Governo Federal e pelo Congresso Nacional com vistas a contornar essas limitações
para alocar ao orçamento do TSE os recursos extraordinários necessários para suportar as
despesas correspondentes às inovações introduzidas no processo eleitoral.
127. Segundo demonstrativos detalhados de despesas realizadas com a votação eletrônica, na forma
definida na Lei 9.504/1997, os montantes dispendidos foram R$ 903.343.596,00 e R$
1.346.807.852,00, nas eleições gerais de 2018 e nas eleições municipais de 2020, respectivamente
(Anexos I e II),:
128. O impacto da eventual aprovação da PEC 135/2019 é considerável, tanto do ponto de vista
financeiro, quanto operacional, em termos de equipamentos que necessitarão ser projetados,
produzidos, licitados, testados e distribuídos aos tribunais regionais eleitorais.
129. As despesas mais representativas correspondem à aquisição de módulos impressores a serem
acoplado às urnas eletrônicas, estimadas em R$ 1.569.269.821,50 (Anexo V). O total das despesas
estimadas para implementação são R$ 1.798.088.014,00 (Anexo V), e cada eleição tera gasto
adicional estimado de R$ 418.915.755,26 (Anexo VI).
130. O quantitativo de urnas eletrônicas atualmente disponível no TSE é de 194.661 urnas modelo
2009 (UE2009), 117.817 UE2010, 34.998 UE2011, 30.142 UE2013, 95.885 UE2015, totalizando
473.503. As urnas do modelo 2009, segundo o TSE, são submetidas a manutenção corretiva e
preventiva regularmente, e poderão ser utilizadas para contingência nas Eleições 2022. Para as
Eleições 2022, foram adquiridas mais 224.999 urnas eletrônicas modelo 2020 (UE2020), e foi
aberta licitação para aquisição de cerca de 73.284 unidades de urnas eletrônicas modelo 2022
(UE2022). Considerados esses números, o total de urnas disponível em 2022 será de 577.125. As
urnas do modelo 2009 não estão computadas nesse total, pois estão incluídas no plano de
contingência (peças 37, p.1 e 38, p.1, Relatório Técnico SEI-TSE 2021.00.000004777-5 e Relatório
Técnico SEI–TSE 2021.00.000005036-9).
131. O TSE esclarece que há possibilidade de ajustes nesse quantitativo, sobretudo em decorrência
da avaliação final do número de seções eleitorais, que será realizada após o fechamento do cadastro
de eleitores, que ocorre no primeiro semestre de 2022, momento em que será conhecido o
crescimento vegetativo real do eleitorado. Além disso, o quantitativo final de seções eleitorais e,
logo, de urnas a serem utilizadas, poderá ser impactado por outros fatores, a exemplo de eventual
necessidade de redução do número de eleitores por seção eleitoral para prevenir aglomerações na
hipótese de persistência da pandemia da Covid-19. Em relação às urnas reservas, o TSE destaca
que o percentual histórico médio de urnas de contingência é de 15% a 20% em relação ao total de
urnas utilizadas em seções eleitorais. Referido percentual varia nas diferentes unidades da
federação, em função da logística local e da distribuição geográfica dos diferentes locais de
votação. A título exemplificativo, locais de votação de difícil acesso, tais como aldeias indígenas,
podem ter percentual de urnas de contingência de até 100% do quantitativo de urnas preparadas
(peça 38, p.2).
132. Todos os modelos de urna, segundo o TSE, são compatíveis com o acoplamento de módulo
impressor. Contudo, haveria a necessidade de aquisição de dois modelos distintos de módulos
impressores: um para as urnas eletrônicas modelos 2009 a 2015, e outro para as urnas eletrônicas
modelos 2020 e 2022, que estão em processo de aquisição ou licitação e possuem design
diferenciado, com acoplamento lateral melhorado de modo a permitir a conexão elétrica e lógica
para a impressora de votos (peça 37, p.1).
133. Extrai-se da afirmação acima que a eventual aquisição de módulo impressor para as urnas
2009 a 2015 poderá resultar em um ciclo curto de utilização, ante a tendência de que essas urnas
sejam substituídas no curto e médio prazo, em razão da natural obsolescência dos equipamentos e a
busca pela padronização dos equipamentos a serem utilizados em eleições futuras. Essa hipótese é
corroborada pela informação do TSE de que, a partir do projeto de urnas eletrônicas modelo
UE2020, foi padronizado o acoplamento mecânico, lógico e elétrico para uso eventual de uma
impressora de votos. Tais requisitos, inclusive, estão descritos no item 38.4 e subitens do Anexo II
ao Edital TSE 01/2021 – Modalidade Concorrência (peça 38, p.1).
134. Consultado sobre a estimativa de despesas extraordinárias e uma avaliação sobre o quadro de
pessoal vinculado ao processo de votação eletrônica, e eventual necessidade para atender a
demanda extraordinária, em decorrência da eventual aprovação PEC 135/2019, o TSE ponderou
que seriam necessárias maiores informações sobre como seria implementada a mudança, pois a
implementação dependerá de variáveis tais como quantitativo de impressoras a serem adquiridas e
do tempo para que os equipamentos estejam em funcionamento na totalidade definida pelo
Congresso (peça 39).
135. Neste contexto, quanto maior o quantitativo e menor o tempo, maior será o dispêndio anual e
maior quantitativo de servidores envolvidos. Quanto ao custo estimado, o TSE observou que
poderia ser utilizado como referência o valor do contrato firmado em 2018, após o Pregão
Eletrônico 16/2018 (peças 39 e 40), que teve o valor unitário de cada Módulo Impressor de Votos
(MIV) definido em R$ 1.546,00, sem considerar o frete, seguro e demais insumos. A projeção com
esses dados consta noAnexo V.
136. O TSE esclarece que não se trata de impressora comum, mas de equipamento específico,
tendo em vista as exigências de que o voto seja impresso, confirmado, tracionado, cortado e então
ejetado em uma urna indevassável, sem contato manual do eleitor. Além disso, a utilização nas
seções eleitorais requer que haja um gabinete próprio (para acoplamento à urna eletrônica), além de
cifração (criptografia) de canal entre a urna eletrônica e a impressora de votos, de modo a impedir
que a comunicação possa ser capturada e, assim, haver a quebra de sigilo dos voto (peça 40, p.1).
137. Em projeção elaborada, acerca da proposta de implementação de comprovante impresso do
voto, nos moldes da Proposta de Emenda à Constituição 135/2019, o TSE observou que,
considerando a cotação do dólar na data de assinatura do contrato (R$ 3,50), o valor unitário de
cada módulo impressor seria de aproximadamente US$ 441.00 ou R$1.546,00, sem considerar o
frete, seguro e demais insumos (peça 40, p.1). Se utilizarmos a cotação do dolar oficial em
3/12/2021 (R$ 5,12, conforme cotação do Banco Central - https://www.bcb.gov.br/, consulta em
31/7/2021), esse valor passaria para algo em torno de R$ 2.257,97.
138. Acrescentou, ainda, ser provável que tal valor seja superior, considerando que o custo de cada
impressora a ser adquirida depende de diversos fatores, tais como: custos dos materiais, contexto
do mercado interno e externo de componentes, visto que, atualmente, há escassez de componentes
eletrônicos no mercado mundial, quantitativo e tempo de projeto e produção, variação da cotação
de dólar, entre outros fatores (peça 40, p.1).
139. Por fim, ressaltou que, para a implementação da impressão do voto, além da aquisição do
módulo impressor, é necessária a aquisição de urnas plásticas descartáveis, bobinas de papel, lacres
de segurança, bem como a contratação de serviços de transporte, armazenamento e custódia das
urnas plásticas descartáveis contendo as impressões de voto (peça 40, p.2).
140. Em relação aos custos da logística envolvida (armazenamento, transporte, adequação das
urnas etc.), o TSE observa que possui apenas uma estimativa preliminar, que será demonstrada
adiante, a qual levou em consideração o valor referente às eleições de 2018. Aliado a isso, ressalta
que é impossível precisar os custos atuais dos serviços descritos, inclusive tendo em vista que os
Tribunais Regionais Eleitorais apresentariam necessidades distintas de logística e armazenamento.
Assim, os valores podem sofrer alterações significativas (peça 40, p.2).
141. Os custos demonstrados no Anexo V, são estimados em R$ 1.798.088,014,00, para a
aquisição de impressoras, sem considerar o percentual de contingência entre 15% e 20%, de
repositórios de votos e outros insumos. Montante a ser gasto imediatamente, considerado o cenário
em que seja aprovada a implantação da impressão do voto em 100% das urnas eletrônicas.
142. Além do investimento necessário, o TSE alerta que a impressão dos votos requer outros
gastos, os quais passariam a fazer parte do custo de cada eleição e seriam renovados a cada pleito,
por exemplo (peça 40):
a) aumento nos gastos com mesários, caso a sistemática de votação a ser adotada com a impressão
do voto, venha a exigir mais mesários por seção eleitoral ou maior número de seções eleitorais
(decorrente do maior tempo de votação por eleitor com voto impresso);
b) aumento do número de urnas eletrônicas (caso necessário o aumento do quantitativo de seções
eleitorais); aumento nos gastos de armazenamento e transporte de equipamentos (com o acréscimo
das impressoras e dos repositórios de votos);
c) manutenção das impressoras de votos;
d) aumento no quantitativo de lacres a serem adquiridos (considerando a necessidade de lacres para
as impressoras e repositório de votos);
e) aumento na quantidade de bobinas de papel a serem adquiridas (considerando as necessárias para
a impressão de votos);
f) gastos como transporte e a custódia dos repositórios com votos após as eleições, pelo prazo legal
a ser estipulado; e,. g) gastos com escrutinadores para possíveis auditorias e recontagem de votos
impressos.
143. O custo de cada eleição, estimado em R$ 418.915.755,26 (base 2018). está detalhado no
Anexo VI, divulgada pelo TSE por ocasião do veto aposto ao artigo 12 da Lei 13.165/2015, para
implementação do comprovante impresso de voto, ou seja, os valores atuais seriam ainda mais
expressivos.
144. O TSE alerta ainda, que a possível implantação do voto impresso impacta diretamente no
treinamento dos mesários, sendo necessária a ampliação e reformulação do conteúdo existente, e no
custo de treinamento para escrutinadores em possíveis auditorias e recontagens de votos (peça 40,
p.4).
145. Quanto ao pessoal efetivo, da mesma forma o TSE esclarece que a velocidade de
implementação da mudança e o quantitativo que venha a compor a mudança legislativa impactará
de modo diverso os esforços do corpo de pessoal (peça 39).
146. Considerando-se a Justiça Eleitoral como um todo, poderá haver carência de profissionais de
tecnologia no quadro de servidores, que pode ser observada de forma ainda mais contundente em
tribunais regionais eleitorais de porte pequeno, onde os servidores com foco em TI acabam tendo
que acumular inúmeras funções.
147. Importante observar que por ocasião da última tentativa de implementação do voto impresso,
por meio da Lei 13.165/2015, o TSE havia elaborado um mapeamento dos riscos, dentre os quais
constou o seguinte, que se amolda perfeitamente à nova perspectiva decorrente da PEC 135/2019,
conforme consta no relatório do Acórdão 967/2018-TCU-Plenário:
Risco 14: Disponibilidade da equipe técnica do TSE e TREs com a perspectiva de não aumento do
número de servidores: o advento do voto impresso por meio da lei TSE 13.165/2015 agregará uma
série de controles e procedimentos adicionais à equipe da Justiça Eleitoral. Tais controles e
procedimentos incluem, mas não se limitam a: especificação do módulo de impressão,
gerenciamento, armazenamento, conservação e manutenção do parque de módulos impressores,
aquisição de suprimentos, análise e evolução dos procedimentos relativos ao voto impresso, dentre
outros. A força de trabalho da JE, contudo, permanecerá limitada, tendendo a diminuir em função
da Portaria TSE nº 6719, de 13 de setembro de 2017, que suspendeu novas nomeações no âmbito
da Justiça Eleitoral em decorrência da Emenda Constitucional nº 95, de 15 de dezembro de 2016,
que instituiu o Novo Regime Fiscal.
148. Esse mapeamento de riscos é abordado com maior profundidade no item 4.2 do presente
relatório.
4.1.2. Objeto
149. Estimativa de recursos financeiros, humanos e materiais necessários para implementar as
mudanças eventualmente introduzidas pela PEC 135.
4.1.3. Critério
a) Lei 9.504/1997, art. 59;
b) PEC 135/2019: Acrescenta o § 12 ao art. 14, da. /88.
4.1.4. Evidência
a) Comparativo entre as despesas incorridas com as últimas eleições gerais de 2018 e eleições
municipais de 2020, comparativamente com as despesas estimadas para as eleições 2022, com e
sem a eventuais mudanças introduzidas pela PEC 135.
4.1.5. Causas
a) Mobilização de grupos favoráveis à implementação do voto impresso na sistemática brasileira de
votação;
b) Apresentação da PEC 135/2019.
4.1.6. Efeitos
a) Elevação substancial dos custos das eleições, especialmente em investimentos necessários para
adequação dos equipamentos para impressão do voto;
b) Necessidade do recrutamento de mais mesários;
c) Falhas nos equipamentos e incidentes nos locais de votação, com o aumento de votação em
cédulas de papel.
4.1.7. Conclusão
150. Ante ao exposto, o impacto da eventual aprovação da PEC 135/2019 é significativo, tanto no
que diz respeito aos investimentos iniciais inecessários, quanto ao acréscimo de despesas em cada
eleição, além da necessidade adicional de recursos humanos, especialmente diante das limitações
impostas pela EC 95 (teto de gastos públicos).
151. Esses impactos, aliados aos riscos decorrentes da implementação do voto impresso, devem ser
ponderados em contraponto com eventuais benefícios advindos da incorporação de mais um
mecanismo de auditagem do voto, em acréscimo aqueles já consolidados no âmbito da sistemática
brasileira de votação, e que vêm, ao longo do tempo, assegurando a lisura das eleições, uma vez
que não há registros de ocorrências que tenham comprometido ou afetado o resultado das votações
eletrônicas.
4.1.8. Proposta de encaminhamento
152. Considerando que a solução de dificuldades advindas da eventual aprovação da PEC 135/2019
depende de ações subsequentes a serem promovidas para garantir nova dotação orçamentária
específica para o TSE, em articulação entre o Congresso Nacional e o Governo Federal, entende-se
que as informações presentes neste Relatório devem ser levadas ao conhecimento das autoridades
competentes com vistas a subsidiar a tomada de decisões.
4.2. Achado 3 – A indefinição quanto à aprovação da PEC 135/2019, que incorpora ao sistema de
votação a impressão de cédulas físicas conferíveis pelo eleitor, dificulta o planejamento tempestivo
das ações de competência do TSE, podendo impactar nas eleições de 2022, mediante a elevação
dos riscos decorrentes do incremento da intervenção humana, e possíveis questionamentos quanto à
quebra do sigilo do voto;
4.2.1. Situação encontrada
153. Como é de conhecimento público, está em discussão no Congresso Nacional a Proposta de
Emenda Constitucional 135/2019, dispondo que na votação e apuração de eleições, plebiscitos e
referendos, seja obrigatória a expedição de cédulas físicas, conferíveis pelo eleitor, a serem
depositadas em urnas indevassáveis, para fins de auditoria.
154. Neste sentido, torna-se importante observar que a Constituição Federal (CRFB/88), em seu
art. 16, estabelece que ‘lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua
publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência’.
155. Assim, as discussões estão mais aceleradas com o objetivo de aprovação das alterações até o
início de outubro/2021, com vistas a viabilizar a sua implementação já nas eleições gerais de 2022.
156. Neste contexto, ressalta-se que a eventual aprovação da PEC 135, se ocorrer, se dará muito
próximo do prazo limite estabelecido na CRFB/88, implicando na disponibilização de prazo
reduzido para sua implementação, notadamente em razão da necessidade de adaptação do TSE às
inovações introduzidas, em especial quanto ao desenvolvimento de novo software para adaptar o
módulo impressor nas urnas; à preparação e treinamento de pessoal; à aquisição de módulos
impressores, com todas intercorrências pertinentes aos processos licitatórios de grande vulto; ao
planejamento para o enfrentamento de possíveis falhas de funcionamento dos novos equipamentos;
à guarda e segurança das urnas com os votos impressos; além da previsão de todos impactos
possíveis das inovações nos processos inerentes à votação eletrônica.
157. Neste sentido, cabe relembrar que, por ocasião da edição da Lei 13.165/2015, e antes da
declaração da sua inconstitucionalidade pelo STF, o TSE havia deliberado no sentido de escalonar
a implementação do voto impresso em dez anos (2018 a 2028), diante do silêncio da lei com
relação à maneira como essa mudança ocorreria, ou seja, se seria gradualmente ou de forma ampla,
para todo o território nacional.
158. Na ocasião, foi instaurado no âmbito desta Corte de Contas, processo originado de
representação do MP/TCU com o objetivo de avaliar as providências adotadas pela Justiça Eleitoral
para implementação da referida lei (TC-017.958/2017-2). Ao apreciar a matéria, por meio do
Acórdão 2.564/2017-TCU-Plenário, esta Corte deliberou por expedir a seguinte determinação ao
TSE:
8.2. determinar ao Tribunal Superior Eleitoral que apresente a este Tribunal, no prazo de 60
(sessenta) dias, plano de ação que contenha detalhamento das providências a serem tomadas com
vistas a atender às disposições do art. 12 da Lei 13.165/2015, incluindo o cronograma, as etapas e
os setores responsáveis por sua implementação, utilizando-se, para tanto, de padrões e critérios
definidos para identificação, análise e avaliação de riscos que poderão impactar na gestão desse
processo;
159. Em cumprimento à determinação expedida, o TSE elaborou o Plano de Ação do Voto
Impresso, que se encontra juntado à peça 20 daqueles autos (peça 41). Nesse plano foram
identificados riscos técnicos da impressão do voto, riscos de negócio (processo eleitoral) e riscos
institucionais, apresentados a seguir.
Riscos Técnicos de Impressão do Voto:
Risco 1 - Atolamento no tracionamento e ejeção automática do voto. Não há dispositivos
tracionadores no mercado que tenham as características necessárias para apresentação e
tracionamento do papel após o corte, sendo necessário seu desenvolvimento (não há disponível
pronto no mercado). O desenvolvimento desse tracionador implica a maior probabilidade de falhas
intrínseca a qualquer desenvolvimento.
Risco 2 - Integridade do repositório de votos. Em diferentes momentos poderia haver inserção
ou retirada de votos por mesários mal-intencionados, caso não houvesse fiscais de partido ou
houvesse algum conluio entre eles, com o objetivo de provocar a anulação da seção em caso de
auditoria. Nesse cenário, a parte eletrônica permaneceria íntegra, com os votos realmente indicados
pelo eleitor.
Risco 3 - Armazenamento/transporte dos votos impressos após as eleições. Não há como
garantir que o que o eleitor vê é o mesmo que será utilizado, no caso do voto impresso, para
auditoria. Isso acontece porque não é possível, por força do dispositivo constitucional do sigilo do
voto, colocar qualquer marca ou código que possa associar, mesmo que indiretamente, o voto ao
eleitor. É inerente ao voto impresso que haja a necessidade de custódia física dos registros
impressos, sendo que esse tempo de custódia é diretamente proporcional aos riscos dessa custódia e
aos custos para mantê-la. Existe, também, a vulnerabilidade intrínseca relacionada à custódia que
permite que haja a chamada falsa fraude, onde determinado grupo de pessoas poderia retirar alguns
votos de urnas onde o candidato opositor tem naturalmente mais votos, com o objetivo de solicitar
auditoria e anular os votos que beneficiam o opositor.
Risco 4 - Utilização de uma ou duas impressoras para votos impressos e relatórios. Durante as
discussões no TSE para a implementação da nova lei, foi estudada a possibilidade de utilização de
impressora única para a impressão dos votos e dos relatórios (Zerésima e Boletins de Urna). No
entanto, conforme exposto nos riscos 2 e 3, o acesso do mesário ao repositório de votos pode
permitir a inserção ou retirada indevida. A utilização de impressora única implicaria,
necessariamente, que o mesário acoplasse o repositório de votos após a impressão da Zerésima e
desacoplasse antes da emissão dos BUs, permitindo o acesso indevido ao repositório de votos.
Risco 5 - Ergonomia do voto e preparação da urna pelos mesários. A visualização do voto
impresso deve ter ergonomia universal. Nas Eleições de 2002 foi utilizada uma lente que ampliava
o voto. Essa lente não foi bem-sucedida, pois a visualização era dificultada, mesmo com uma luz
que iluminava o voto. Além disso, a janela de visualização do voto era desalinhada com a tela do
terminal do eleitor da urna eletrônica. Assim, a conferência do voto não era facilitada. O tamanho
da fonte impressa e as informações dispostas no voto desprivilegiavam os eleitores com baixa visão
e analfabetos. Para os eleitores com dificuldades de visão, as fontes eram pequenas. Para os
analfabetos, não havia informações destacadas para permitir a comparação fácil com as
informações da tela da urna eletrônica. Por fim, a lei foi silente quanto ao direito dos deficientes
visuais sobre o mecanismo de conferência de seu voto.
Risco 6 - Acoplamento à urna eletrônica e proteção do sigilo do voto. Há maior complexidade e
maior a necessidade de treinamento para mitigar os riscos relativos à preparação das urnas. Nas
eleições 2002, a solução apresentada pela fabricante mostrou-se ineficaz, dificultando, até mesmo
para técnicos treinados, o acoplamento e desacoplamento mecânico. A partir de 2009, as urnas
foram fabricadas com um encaixe melhorado, mas ainda necessitam que haja a conexão elétrica e
de dados à parte, na traseira da urna eletrônica. Tais conexões podem provocar maior taxa de falhas
e instabilidades, principalmente na desconexão do cabo USB. Além disso, a conexão de dados
externa poderia permitir que algum dispositivo fosse acoplado para copiar os dados trafegados e,
com isso, quebrar o sigilo do voto.
Risco 7 - Questionamento quanto à idoneidade da impressora de votos. O voto impresso foi
implementado para que sirva de meio de conferência dos votos computados. Nesse sentido, poderia
ser levantada a hipótese de que a impressora estaria programada para realizar impressões distintas
dos dados enviados pela urna eletrônica. Os elementos computacionais da impressora de votos
devem permitir auditoria
Risco 8 - Utilização de impressoras de voto antigas. As mais de 23.000 impressoras adquiridas
em 2002 para implementar o voto impresso naquele ano estão próximas de serem descartadas. Tais
impressoras, além de possuírem características de ergonomia e estabilidade notadamente
insuficientes para os padrões atuais, não possuem criptografia do canal de dados, o que pode
permitir ataques ao sigilo do voto. Além disso, tais impressoras foram desenvolvidas para uso nas
urnas modelo 2002, e funcionavam somente com o sistema operacional Windows CE 4.0, já
descontinuado nas urnas eletrônicas. As urnas modelo 2002 já foram descartadas e o TSE não
possui código-fonte dos firmwares de tais módulos impressores.
Riscos de Negócio (Processo Eleitoral):
Risco 9 - Necessidade de alteração no equipamento por motivos técnicos, operacionais ou de
legislação. Na adoção de um novo processo de votação naturalmente haverá evoluções tanto na
parte do equipamento, para promover sua estabilidade e segurança, quanto nos procedimentos.
Nesse contexto, os próprios partidos políticos podem demandar alterações legais no processo de
verificação do voto impresso. Independentemente da alteração do processo de verificação do voto
em si, é possível que haja alterações legais que impactem no equipamento de votação e de
impressão do voto. Como exemplo, há as discussões relativas à unificação das eleições municipais
e gerais em um único pleito. Também há discussões pelo voto distrital ou em lista. Além da
eventual alteração nas eleições, pode haver ainda a alteração da própria forma de votação para
substituir a conferência do eleitor por meio do voto impresso. A Lei 10.740/2003 revogou os
artigos relativos ao voto impresso da Lei 10.408/2002. Tal situação pode ser possível também com
a Lei 13.165, tanto para eliminar o voto impresso, quanto para alterá-lo para outra abordagem que
promova a confiabilidade da votação por parte do eleitor.
Risco 10 - Implementação obrigatória a partir das Eleições 2018. Embora a Lei 13.165/2015
não tenha feito menção expressa quanto à necessidade de implementação integral do voto impresso
já nas Eleições 2018, a obrigatoriedade já no próximo pleito implica riscos importantes para a
primeira etapa. O tempo para planejamento, especificação e aquisição não é adequado às melhores
práticas de gestão, pois restringe as ações que poderiam mitigar falhas e garantir a maior
economicidade. Uma dessas ações é o uso de simulados locais e nacionais, além de testes em
eleições oficiais. Com tais testes, seria possível avaliar se as soluções são efetivas e,
consequentemente, obter uma especificação mais adequada do equipamento, além de
procedimentos mais apurados no pleito nacional. Outra ação importante é a viabilidade do mercado
de atendimento a tais especificações, visando obter a melhor competitividade e proposta mais
adequada à Administração Pública.
Risco 11 - Primeira etapa nas Eleições Gerais. O dispositivo legal impõe a implementação a
partir de 2018 implica a adoção da nova prática de votação em uma eleição de seis cargos
(Presidente, Governador, dois Senadores, Deputados Federais, Deputados Estaduais ou Distritais).
Com seis cargos, o tempo médio de votação é naturalmente maior. Assim, qualquer problema no
voto impresso que resulte em atrasos na votação, incluindo o próprio tempo de verificação do voto,
converte-se em mais filas e transtornos ao eleitor.
Risco 12 - Vida útil dos Módulos Impressores de Voto (MIV) em relação às urnas existentes.
Durante o projeto da nova urna eletrônica, um novo conceito de design foi elaborado privilegiando
a ergonomia do eleitor por meio de novo posicionamento da tela da urna, teclado e da janela de
visualização do voto impresso. A eventual adoção dos MIV para todas as urnas eletrônicas a partir
do modelo 2009 (que possuem encaixe, conexão de dados e conexão elétrica) implica que os
respectivos MIV para cada modelo de urna teriam vida útil limitada ao próprio modelo. Cada
modelo de urna é utilizado em condições normais por 10 anos, ou seis eleições. Embora seja
complexa a definição prévia de vida útil de equipamentos eletrônicos que são utilizados de dois em
dois anos, a utilização de MIV para cada modelo existente seria restrito, por exemplo a seis
eleições (ou 10 anos) para o modelo UE2015, mas somente para mais duas eleições para o modelo
UE2009. A adoção plena de MIV para todas as UE2015 também resulta no risco de que, qualquer
problema relacionado ao novo paradigma de votação, ao equipamento, ou aos procedimentos,
seriam proporcionais às 95 mil urnas modelo 2015.
Riscos Institucionais
Risco 13 - Alterações do planejamento em decorrência da mudança de gestão do TSE. A
mudança de gestão do TSE pode implicar a alteração de estratégia de implantação, principalmente
por pressão da sociedade e de partidos políticos.
Risco 14 - Disponibilidade da equipe técnica do TSE e TREs com a perspectiva de não
aumento do número de servidores. O advento do voto impresso por meio da Lei 13.165/2015
agregará uma série de controles e procedimentos adicionais à equipe da Justiça Eleitoral. Tais
controles e procedimentos incluem, mas não se limitam a: especificação do módulo de impressão,
gerenciamento, armazenamento, conservação e manutenção do parque de módulos impressores,
aquisição de suprimentos, análise e evolução dos procedimentos relativos ao voto impresso, dentre
outros. A força de trabalho da JE, contudo, permanecerá limitada, tendendo a diminuir em função
da Portaria TSE 6719, de 13 de setembro de 2017, que suspendeu novas nomeações no âmbito da
Justiça Eleitoral em decorrência da Emenda Constitucional 95, de 15 de dezembro de 2016, que
instituiu o Novo Regime Fiscal.
Risco 15 - Disponibilidade orçamentária para suprir a necessidade planejada pelo TSE. O
cenário atual de crise econômica e corte de gastos pode influenciar, sobremaneira, o planejamento
da implantação do voto impresso. A Lei 13.165/2015 foi silente em relação aos recursos
orçamentários necessários para a sua implementação. Nesse cenário, o planejamento mínimo de
implementação gradual concomitante à substituição do parque de urnas pode ser impactado pela
restrição de recursos orçamentários. Deve-se destacar que o equipamento de impressão de votos
possui características específicas que requerem um projeto específico. Disso resulta que não há
equipamentos prontos no mercado e, consequentemente o tempo de aquisição é longo.
Risco 16 - Ataques à imagem da Justiça Eleitoral em decorrência de vulnerabilidades do voto
impresso. O TSE sempre ponderou sobre as vulnerabilidades e outros problemas relacionados ao
voto impresso, principalmente por ser um meio de auditoria mais frágil que o próprio meio
auditado (urna eletrônica). Tais considerações baseiam-se principalmente na relação de
compromisso entre sigilo e prova da integridade do voto, onde os elementos necessários para
garantir a autenticidade dos registros impressos são, na verdade, eletrônicos, resultando em um
paradoxo desta implementação. Tais elementos de autenticidade, contudo, limitam-se àqueles que
não fragilizam o sigilo do voto. Essa situação ainda resulta em algumas fragilidades, mas o maior
impacto está na impossibilidade de realizar a reconciliação dos votos, ou seja, realmente provar
onde houve a falha ou fraude. Essa característica intrínseca ao voto impresso aplicado ao contexto
brasileiro (com sigilo absoluto do voto) deixa vulnerável a imagem da Justiça Eleitoral. Isso
porque, conforme abordado nos riscos 2 e 3, a diferença entre os votos eletrônicos e impressos
pode ser resultante de ataques à custódia dos votos impressos, com inserção de votos falsos ou
retirada de votos verdadeiros.
160. Muitos dos riscos presentes naquela oportunidade, eleições de 2018, ainda persistem conforme
a análise empreendida à frente.
161. No âmbito do Programa Eleições Informatizadas 2022, elaborado pelo TSE (peça 42), foram
elencados os seguintes riscos decorrentes do atraso nas definições sobre a utilização do voto
impresso nas eleições 2022, e a eventual aprovação tardia da proposta de emenda à Constituição
(PEC) que institui o voto impresso:
a) atraso ou impossibilidade na realização de contratações e na produção de equipamentos que
viabilizem o voto impresso;
b) prazo exíguo para realizar a logística de armazenamento e transporte das urnas e impressoras;
c) atraso no desenvolvimento dos sistemas eleitorais;
d) prazo limitado para realização de testes; e
e) tempo reduzido para realização de treinamentos.
162. Aliado aos riscos já identificados pelo TSE, torna-se relevante observar que o próximo Teste
Público de Segurança, que se constituí na oportunidade ímpar para que especialistas elaborem e
executem planos de ataque aos sistemas eleitorais e à urna eletrônica, está previsto para ser
realizado entre os dias 22 e 26/11/2021, na forma prevista na Resolução TSE 23.444/2015, tendo
como parâmetro a configuração dos sistemas e software da urna utilizados atualmente, sem
previsão do voto impresso. Com isso, as alterações necessárias para eventual implementação do
voto impresso, tanto nos sistemas quanto no software das urnas, não poderão ser submetidas aos
testes de especialistas, resultando na fragilização da segurança da votação eletrônica nas eleições de
2022.
163. Existem outras preocupações já externadas pelo TSE decorrentes da possível aprovação da
PEC 135/2019 (peça 47, p.17-18 e peça 28, p.13-14), e que trazem importantes elementos para
enriquecer o debate sobre a matéria:
a) o tempo médio de votação aumenta com a impressão e verificação do voto pelo eleitor;
b) aumento no número de seções eleitorais;
c) necessidade de mais urnas, mais mesários e mais gastos com transporte, alimentação e
suprimentos;
d) guarda e transporte dos votos impressos. Atualmente os eleitores do país estão distribuídos em
cerca de 402 mil seções ou seja, é necessário programar a guarda e transporte de 402 mil urnas
contendo votos impressos, com definição do tempo de guarda, preocupação com a segurança com
vistas a evitar ataques às urnas, seja no transporte, seja no local de guarda, com todos os custos
decorrentes;
e) treinamentos e campanhas de mídia para eleitores com baixa escolaridade;
f) abandono da cabina de votação antes da confirmação do voto;
g) possíveis recontagem dos votos impressos, implicando na designação de juntas apuradoras
(custos: local, transporte e alimentação dos participantes);
h) necessidade de comunicação cifrada entre urna e impressora, gabinete específico, usabilidade na
seção eleitoral;
i) possibilidade travamento do voto na impressora diante da necessidade de ejeção automática do
voto sem nenhuma intervenção;
j) possibilidade de cancelamento do voto pelo eleitor após a visualização da impressão, estando
indefinida a quantidade de vezes que cada eleitor pode rejeitar seu voto.
164. Importante destacar, ainda, que o TSE alertou que, para a materialização do voto, diversos
procedimentos operacionais precisam ser estabelecidos e regulamentados, incluindo (peça 28,
p.13-14):
a) tamanho da bobina de papel, que depende de quantas vezes o eleitor pode refazer a votação. O
papel é limitado e pode requerer substituição durante a votação, causando demora e filas;
b) quantidade de técnicos de manutenção para as urnas eletrônicas. O papel pode atolar por
umidade ou poeira, ou mesmo acabar. Em todos os locais de votação, serão necessários um ou mais
técnicos para atendimento imediato;
c) aumento no número de seções eleitorais. Atualmente, são estimados 400 eleitores por seção.
Considerando que o tempo médio de votação aumenta com a impressão e verificação do voto pelo
eleitor, pode ser necessária a redução da quantidade de eleitores por seção eleitoral e a aquisição de
mais urnas eletrônicas. Por exemplo, em 2002, na experiência com o voto impresso, algumas
seções eleitorais tiveram votação até às 3h da madrugada (DF);
d) guarda e transporte das urnas de lona. Para que seja possível a auditoria posterior, deve-se
garantir a integridade física e a inviolabilidade da urna de lona. Logo, é necessário garantir
segurança 24hs, transporte e local de armazenamento seguro após a votação e durante todo o tempo
de custódia dos registros impressos do voto. Para viabilizar esse processo, deve-se prever a
contratação de escolta, segurança e guarda das urnas com as impressões de voto;
e) necessidade de treinamento e campanhas massivas nas mídias, principalmente para eleitores com
baixa ou nenhuma escolaridade, para evitar que eleitores abandonem a cabina de votação antes da
confirmação do voto, principalmente para eleitores que não sabem ler;
f) possível recontagem de voto implica formação de juntas apuradoras, com todos os custos
envolvidos (local, transporte, alimentação) e os riscos de subtração ou acréscimo de votos.
165. Do ponto de vista técnico, o TSE entende que tem o dever de explicitar as razões pelas quais o
modelo previsto na PEC 135/2019, além de não ampliar a segurança do processo eleitoral, possui
riscos significativos a serem considerados. Tais riscos foram abordados pelo Ministro Luís Roberto
Barroso, Presidente do TSE, em sua exposição, realizada no dia 9/6/2021, na Sessão da Câmara dos
Deputados, transformada em Comissão Geral (peça 36), e reiterados no Relatório Técnico contendo
esclarecimentos requeridos pelos parlamentares Senador Alessandro Vieira, Deputado Federal
Felipe Rigoni e Deputada Federal Tabata Amaral por meio do Ofício 31/2021(peça 28, p.5-6) . Em
síntese, foram apontados:
a) Risco de fraude, tendo em vista que o processo eletrônico eliminou as fraudes ao suprimir a
interferência humana em etapas críticas do processo eleitoral, como a contagem dos votos. O voto
impresso iria reintroduzir essa prática, que nos trouxe problemas desde o início da República.
Além de agregar os riscos de fraude durante o transporte e armazenamento das urnas plásticas com
votos impressos, que também nos assombraram antes da implantação da urna eletrônica.
b) Risco de judicialização, já que é provável que quantitativo relevante de candidatos formulem
pedidos de recontagem, o que levará à contagem manual dos votos impressos. A ocorrência de
divergências é inevitável em qualquer contagem (vide quebra de caixa no sistema bancário) e
produzirá inexoravelmente a judicialização dos próprios resultados.
c) Risco de quebra de sigilo. Esse foi um dos fundamentos pelos quais o STF, ao julgar a ADI
5889, declarou inconstitucional o art. 59-A da Lei 13.165/2015, que previa a impressão do registro
de voto. Com a materialização do voto em papel, há aumento da possibilidade de mecanismos de
quebra de sigilo pelo voto impresso, com reforço à compra de votos e ao voto de cabresto
d) Risco de problemas no dia das eleições. Como demonstrou a experiência de voto impresso em
2002, quando todo o Distrito Federal e 150 municípios usaram módulos impressores externos nas
urnas, o voto impresso criou uma série de problemas no dia das eleições, incluindo:
(i) maiores filas,
(ii) maior percentual de urnas com defeito;
(iii) maior necessidade de votação integral por cédula,
(iv) falhas na impressora.
e) Custo. Haveria um gasto de mais de R$ 2 bilhões.
f) Dificuldades administrativas para implantação. As licitações de urnas e, no caso, de seus
acessórios são procedimentos complexos, relativamente demorados, que envolvem estudos técnicos
prévios. Além disso, há os problemas ligados a possíveis recursos administrativos e judiciais que
retardam o processo.
166. O TSE alerta, ainda, para os paradoxos do voto impresso (peça 47, p.12-16, peça 36, p.5-6)),
que podem ser assim sintetizados:
a) Para confiar no voto impresso, é preciso confiar na urna eletrônica: se há desconfiança
atualmente na urna eletrônica, deveria haver desconfiança no voto impresso, porque ele se origina
da própria urna e de seu software;
b) A impressão do voto diminui a segurança da eleição: pode haver a clonagem do voto impresso; o
voto pode ser subtraído da urna durante a abertura para recontagem; a urna pode ser rasgada,
extraviada ou sequestrada (neste caso uma seção eleitoral que funcionou perfeitamente será
considerada suspeita? Esse tipo de acontecimento levará fatalmente à judicialização das eleições);
para promover uma dessas fraudes não é preciso dominar nenhum dos vários e sofisticados
mecanismos de segurança hoje existentes, como assinaturas e criptografias.
c) Desafio da reconciliação: caso um voto impresso seja subtraído ou clonado, haveria um impasse
para definir como seria solucionada a diferença entre os votos impressos e os computados pela urna
eletrônica.
167. Além disso, caso a PEC 135/2019 seja aprovada, deve ser observado que os riscos inerentes
ao funcionamento do Módulo de Impressão de Voto (MIV) continuam presentes, especialmente se
a nova sistemática for implantada sem o devido tempo para a realização de testes mais consistentes:
a) atolamento no tracionamento e ejeção automática do voto;
b) maior probabilidade da ocorrência de falhas e necessidade de substituição dos equipamentos; e
c) maior tempo necessário para realizar a votação já que o procedimento de votar contará com mais
um passo.
168. Os controles implementados para resolverem os novos riscos relacionados à segurança,
também impactarão diretamente os custos da eleição. Nesse quesito, os riscos estão relacionados à
necessade de custódia dos votos impressos pelo período necessário para se esgotarem as
possibilidades de recurso:
a) integridade do repositório de votos; e
b) armazenamento/transporte/guarda dos votos impressos após as eleições.
169. Do ponto de vista da confiabilidade de todo o processo eleitoral, foram identificados os
seguintes riscos :
a) desafio da reconciliação, ou seja, como serão resolvidos as possívelis discrepâncias entre os
votos impressos e os votos eletrônicos?
b) regras a serem adotadas em caso de divergências talvez sejam complexas ou insuficientes ou,
ainda, inadequadas para atender todos os casos que poderão surgir;
c) reintrodução de antigos riscos relacionados à interferência humana no processo de apuração dos
votos, facilitando a ocorrência de fraudes (inserção de votos falsos, retirada de votos verdadeiros,
ataques a custodia dos votos impressos, dentre outros);
d) se casos de divergências se multiplicarem, os questionamentos acerca dos resultados
aumentarão, bem como a judicialização das eleições.
170. Será necessário a aquisição de novos equipamentos, contratação de recursos humanos
especializados em TI e, portanto, dotação orçamentária extraordinária para a Justiça Eleitoral:
a) os custos estimados para a implantação dos MIVs são cerca de R$ 2 bilhões;
b) se a implantação não for escalonada, devido às urnas eletrônicas pertecerem a gerações
diferentes e algumas estarem chegando ao momento de troca, a vida útil de parte signficativa dos
MIVs será reduzida;
c) disponibiliade orçamentária para suprir as necessidades identificadas pelo TSE;
d) necessidade de recursos humanos especializados em TI para implantação das mudanças
determinadas.
171. Os dados e informações apresentados nos autos evidenciam que existem riscos na alteração da
sistemática de votação eletrônica, os quais são potencializados se isso ocorrer muito próximo do
prazo limite estabelecido no art. 16 da CRFB/88. É necessária ampla e consciente reflexão acerca
de decisão de implementação, já nas eleições de 2022, de nova sistemática de voto impresso, a
qual, se aprovada, por prudência e para resguradar o caráter democrático do processo eleitoral,
deveria ter implementação escalonada.
4.2.2. Objeto
172. Planejamento do TSE para possível implementação da PEC 135, ou ausência deste,
evidenciando a exiguidade de tempo para adequação da estrutura atual com as novas definições
legislativas.
4.2.3. Critério
a) Lei 9.504/1997, art.59;
b) PEC 135/2019: Acrescenta o § 12 ao art. 14, da CRFB/88;
c) CRFB/88, art.14 e art. 60, § 4º, inciso II.
4.2.4. Evidência
a) Estudos TSE para implantação do voto impresso;
b) Mudanças propostas na PEC 135/2019.
4.2.5. Causas
a) Pouco tempo disponível para implementação das mudanças;
b) Insuficiência de recursos humanos capacitados para implementar as mudanças;
c) Insuficiência de recursos financeiros para atender às mudanças;
d) Pouco tempo hábil para projetar, fabricar, adquirir, testar e implementar os equipamentos
necessários para atender às mudanças.
4.2.6. Efeitos
a) Impossibilidade de implementação do voto impresso em todas as seções eleitorais já nas eleições
de 2022;
b) Falhas nos equipamentos por falta de tempo hábil para testes, aumento do tempo necessário para
votação, prorrogação do horário de votação e dificuldades na conclusão da apuração dos votos;
c) Reintrodução de riscos relacionados ao incremento da intervenção humana, que haviam sido
superados com a implementação da urna eletrônica, em razão de possíveis recontagens de votos,
impactando diretamente a apuração e divulgação do resultado, provocando, ainda, a judicialização
das eleições;
d) Impacto negativo nas eleições gerais de 2022, ampliando o risco de fraude e a possibilidade de
quebra do sigilo do voto;
e) Possibilidade de nova declaração de inconstitucionalidade da introdução do voto impresso na
sistemática brasileira de votação, em razão das disposições do art. 60, § 4º, inciso II da CRFB/88,
que determina que não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir o voto
secreto.
4.2.7. Conclusão
173. Inicialmente, observa-se que o objetivo PEC 135/2019 (‘no processo de votação e apuração
das eleições, dos plebiscitos e dos referendos, independentemente do meio empregado para o
registro do voto, é obrigatória a expedição de cédulas físicas conferíveis pelo eleitor, a serem
depositadas, de forma automática e sem contato manual, em urnas indevassáveis, para fins de
auditoria.’) já é perfeitamente possível e viável do ponto de vista tecnológico.
174. Não há nenhuma restrição quanto à fabricação dos equipamentos necessários à implementação
dessa proposta, nem quanto ao desenvolvimento de software que controle essa nova
funcionalidade. Entretanto, deve ser destacado que ainda não existe nenhum equipamento no
mercado que atenda às necessidades de impressão capaz de realizar as tarefas definidas na PEC.
Assim, o TSE teria que definir as necessidades e os fabricantes teriam que projetar, construir
protótipos, testar e fabricar o equipamento adequado às necessidades determinadas.
175. Já quanto ao software necessário, existe uma versão desenvolvida pelo TSE que atendia às
determinações contidas na Lei 13.165/2015, considerada inconstitucional pelo STF. Assim, seria
necessário fazer uma adequação às novas regras eventualmente aprovadas, testar os novos
programas, fazer simulações e, após homologação, acoplá-los ao sistema existente para, então,
gravá-los nas urnas eletrônicas.
176. Todo o processo descrito para desenvolvimento do hardware e software necessários ao
atendimento dos ditames da PEC exige um tempo razoável para concretização. Para sua
implantação com a segurança exigida em atividades críticas como processo eleitoral são
necessárias diversas baterias de testes e simulações. E todos esses procedimentos são
indispensáveis para se conseguir um padrão de qualidade mínimo razoável que, eventualmente,
ainda poderá deixar espaço para falhas de funcionamento que somente com o uso e o tempo serão
identificadas e corrigidas. Como é do conhecimento de todos, falhas nas primeiras unidades
produzidas de equipamentos eletrônicos e no uso inicial de software são situações corriqueiras em
todos os países, fabricantes/desenvolvedores e ramos da indústria. São riscos inerentes à inovação.
177. A análise dos problemas verificados e relatados na experiência de implementação do voto
impresso nas eleições de 2002 (peça 26, p.20-22), associados aos estudos elaborados pelo TSE em
face da possibilidade de aprovação da PEC 135/2019 (peça 36), indicam que a implementação
integral (em todas as urnas eletrônicas) das alterações necessárias num único ciclo eleitoral é
praticamente impossível. Devido às carências materiais (equipamentos, recursos financeiros e
humanos não disponíveis) e temporais (menos de quatorze meses até a próxima eleição), mesmo
que se mostre, ao final de enorme esforço, materialmente possível, a implementação integral das
alterações não se mostra conveniente. Será grande a probabilidade de concretizaçãode diversos
riscos identificados e em magnitude tal que poderá comprometer de maneira praticamente
irreversível as eleições de 2022.
178. A questão dos custos também deve ser considerada. Será necessário a aquisição de novos
equipamentos, contratação de recursos humanos especializados em TI e, portanto, a
complementação do orçamento estimado pela Justiça Eleitoral para a realização das eleições de
2022. Os custos para a implantação dos MIVs são estimados em cerca de R$ 2 bilhões (Anexo Ve
VI). Se a implantação não for escalonada, devido às urnas eletrônicas pertecerem a gerações
diferentes e algumas estarem chegando ao momento de troca, a vida útil de parte signficativa dos
MIVs será reduzida.
179. Deve ser considerado, também, a provável reintrodução dos riscos inerentes à intervenção
humana na dinâmica de votação e de apuração dos votos, tais como inserção de votos falsos,
retirada de votos verdadeiros, ataques a custodia dos votos impressos, dentre outros. Esses riscos
foram sendo eliminados do processo eleitoral à medida que o processo se tornava cada vez mais
digital. Com a possibilidade de recontagem dos votos impressos, além da reintrodução dessas
possibilidades de fraude, verifica-se, também, que aumenta o risco de quebra do sigilo do voto.
180. Diante dos argumentos apresentados pelos defensores do voto impresso e as ponderações
realizadas pelo TSE pode-se concluir que apesar de possibilitar uma sensação de maior controle e
verificação, por parte do eleitor, sobre seu voto, diminuirá a segurança hoje existente com a
utilização de mecanismos tecnológicos e não trará aumento na confiabilidade do processo eleitoral.
4.2.8. Proposta de encaminhamento
181. Considerando que a solução de dificuldades advindas da eventual aprovação da PEC 135/2019
depende de ações subsequentes a serem promovidas pela Justiça Eleitoral, em articulação com o
Governo Federal e o Congresso Nacional, entende-se que as informações técnicas presentes neste
Relatório devem ser levadas ao conhecimento das autoridades competentes com vistas a subsidiar a
tomada de decisões.
182. Caso aprovada a PEC 135/2019, é conveniente e necessária que a implementação da nova
sistemática seja realizada por etapas ao longo de alguns ciclos eleitorais para garantir a
confiabilidade do processo eleitoral.
5. Do substitutivo apresentado no parecer do Relator da Comissão Especial da PEC 135/2019
183. Em 28/6/2021 foi submetido pelo relator, Deputado Filipe Barros, o parecer da Comissão
Especial da PEC 135/2019, com substitutivo ao texto original (peça 49), para aprovação, com
previsão de inclusão na pauta do dia 5/8/2021
(https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-temporarias/especiais/56a-l
egislatura/comissao-especial-pec-135-19-cedulas-fisicas-para-plebiscitos. Consulta realizada em
31/7/2021).
184. O texto original da mencionada PEC visa acrescentar o §12º ao art. 14, Constituição Federal
(peça 27). Já o substitutivo, ora em análise, visa acrescentar os §§ 12, 13 e 14, ao mesmo artigo da
Constituição (peça 49, p. 79-81). Sendo que o texto referene ao §12 é similar ao texto original da
referida PEC.
185. Portanto, o substitutivo, além da previsão contida no texto original da PEC, apresenta
acréscimos ao texto constitucional que, caso sejam aprovados da forma proposta, terão o condão de
alterar a sistemática de votação atual de maneira significativa.
186. Destacam-se as seguintes pontos do substitutivo:
a. O eleitor vota na urna eletrônica, que efetua o registro digital do voto, imprime o registro do voto
e o deposita em urna indevassável, após a conferência pelo eleitor. Deverá haver impressão e corte
de votos cargo a cargo, para conferência do eleitor, ou de outra forma, desde que se garanta o sigilo
do voto (art.3º, §§ 1º a 4º);
b. A contagem dos votos passará a ser exclusivamente pelo voto impresso, ou seja, a impressão do
voto se destina à apuração, e não para auditagem do voto como previsto na redação original da
PEC. Nas urnas em que houve impressão do voto, os votos registrados na urna eletrônica serão
desconsiderados, ou seja, não haverá conferência dos registros da urna com os votos impressos. Os
registros da urna eletrônica somente serão considerados na hipótese de ocorrência de falhas
insanáveis nos equipamentos ou de dano aos votos impressos (art.3º, §§ 5º a 9º);
c. A contagem dos votos impressos deverá ocorrer na própria seção eleitoral, logo após o
encerramento da votação e será realizada pelos próprios mesários que atuaram na respectiva seção
na eleição, mediante a utilização de ‘equipamentos de contagem dos votos que permitam a
verificação visual do conteúdo de cada voto’, que devem ter programas ‘independentes dos
programas carregados nos equipamentos de votação eletrônica’ (art.3º, §§ 5º e 6º);
d. O transporte e a custódia dos registros impressos de voto ficarão a cargo das forças de segurança
pública ou das Forças Armadas, após entrega nos TREs, a custódia passa a ser de responsabilidade
dos TREs (art.3º, §§ 10 e 11);
e. Os partidos políticos somente poderão requerer a recontagem de votos da respectiva seção
eleitoral se houver fundados indícios de irregularidade na apuração, assumindo os custos
envolvidos no processo (art. 3º, § 13);
f. O descarte dos votos será feito em 31 de janeiro, salvo situação excepcional (art.3º, § 12).
187. Acerca do mencionado parecer, o TSE apresentou cometários à proposta do substitutivo,
apontando que, em caso de aprovação, as inovações legislativas deverão ocasionar os seguintes
problemas (peça 50):
I. redução da confiança no resultado e a integridade eleitoral;
II. a higidez do resultado passa a depender quase que integralmente dos mesários;
III. facilitação de ocorrência de fraude;
IV. filas e atrasos significativos na votação;
V. favorece o abandono do voto pelo eleitor antes de concluir a votação;
VI. atraso na divulgação do resultado;
VII. problemas de acessibilidade;
VIII. aumento de custos e desafios logísticos;
IX. criação de ônus excessivo para as forças de segurança;
X. afetação da competência e da eficiência do trabalho dos juízes eleitorais
188. As preocupações externadas pelo TSE se mostram pertinentes, merecendo destaque aquelas
relacionadas à desconsideração dos registros eletrônicos da votação, a contagem dos votos por
parte dos mesários, ao transporte e custódia dos registros impressos de voto à cargo das forças de
segurança pública ou das Forças Armadas.
189. Essas alterações vão de encontro à atual sistemática que já está consolidada ao longo do tempo
de utilização da urna eletrônica, com rígidos mecanismos de controle dos sistemas, cuja
confiabilidade é atestada pela ausência de comprovação de fraudes, proporcionando a alternancia
de candidados e partidos no poder, facilmente identificada nas eleições pretéritas, privilegiando o
processo democrático de escolha dos representantes do povo; e reintroduz os riscos decorrentes do
incremento da intervenção humana, com seu histórico de fraudes do passado.
190. Ante ao exposto, as significativas mudanças incorporadas pelo substitutivo devem ser
avaliadas com muita cautela, em razão do retrocesso na sistemática de votação e apuração.
6. Conclusão
191. O objetivo desta auditoria foi avaliar a sistemática brasileira de votação eletrônica, em todas
as etapas da votação, desde a verificação das urnas eletrônicas até a totalização de votos, sob a
responsabilidade do TSE, no tocante à sua segurança, confiabilidade e auditabilidade, utilizando
como parâmetros as eleições gerais de 2018 e municipais de 2020, em especial com relação aos
seguintes aspectos:
a) gestão de riscos do processo de trabalho do TSE, envolvendo as fases preparatória das urnas
eletrônicas, votação e totalização dos votos e de integridade do TSE (pessoas, processos e
produtos);
b) gestão de riscos de segurança das urnas eletrônicas (física, software e hardware);
c) documentos e informações gerados pelas urnas eletrônicas; e
d) impactos caso a PEC 135/2019 seja aprovada.
192. Em decorrência da possível aprovação PEC 135/2019, em tramitação no Congresso Nacional,
a presente auditoria está sendo realizada em duas etapas, conforme autorização do Ministro Relator
(peça 18).
193. Os principais achados da primeira etapa foram:
193.1. A complexidade tecnológica inerente à votação eletrônica, para permitir auditabilidade e
segurança do voto, e a ausência de uma política de informação mais abrangente geram
desconfiança em parte do eleitorado, oportunizando o surgimento de notícias não condizentes com
a realidade e a elaboração de propostas de alterações legislativas, com impacto no processo
eleitoral como um todo;
193.2. Necessidade de recursos orçamentários, humanos e materiais adicionais em decorrência da
implementação de inovações a serem introduzidas na sistemática de votação, em caso de aprovação
da PEC 135/2019, não previstos na proposta orçamentária do TSE, acarretando elevação dos custos
das eleições para a 2022; e
193.3. A indefinição quanto à aprovação da PEC 135/2019, que incorpora ao sistema de votação a
impressão de cédulas físicas conferíveis pelo eleitor, dificulta o planejamento tempestivo das ações
de competência do TSE, podendo impactar nas eleições de 2022, mediante a elevação dos riscos
decorrentes do incremento da intervenção humana, e possíveis questionamentos quanto à quebra do
sigilo do voto.
194. Por oportuno, cabe trazer à baila as propostas do relator da Comissão Especal da PEC
135/2019, constantes em substitutivo anexo ao seu parecer (peça 49, p.79 e 80), submetido em
28/6/202, para apreciação da referida comissão (grifos nossos):
a) os resultados serão apurados a partir dos votos impressos e a urna eletrônica será utilizada
apenas para imprimir o voto, que deverá ser feito cargo a cargo;
b) a apuração seja realizada pelos mesários em cada uma das mais de 500 mil seções eleitorais
espalhadas pelo país;
c) os eleitores deverão escolher o candidato na urna, confirmar sua opção, verificar o voto impresso
e confirmar seu voto, cargo a cargo, salvo definição diversa do TSE;
d) Os registros impressos de voto deverão ser depositados na urna indevassável separadamente para
cada cargo, ou de outra forma, desde que se garanta o sigilo do voto
e) as forças de segurança pública ou as Forças Armadas deverão transportar as urnas com os votos
impressos apurados de todas as seções eleitorais do país, para a sede dos TREs.
195. Caso o substitutivo seja aprovado, cada seção eleitoral necessitará de urna eletrônica, uma
impressora de votos e um equipamento de leitura dos votos impressos, levando à necessidade de se
especificar e adquirir tanto a impressora quanto o novo equipamento para ler e apresentar o
conteúdo dos votos impressos.
196. Causa apreensão a proposta do substitutivo, pois mostra um evidente retrocesso, quando
disciplina que o sistema de votação passaria a priorizar o voto impresso, em detrimento do voto
eletrônico, e voltaria o sistema de contagem manual de votos em cada seção eleitoral. Além disso,
prevê que, em caso de divergência entre o quantitativo de votos impressos com os votos eletrônicos
prevalecerá o impresso.
197. A aprovação do substitutivo, na forma proposta, provocaria uma revolução ao atual sistema de
votação, alterando, drasticamente o paradigma defendido atualmente (menos intervenção humana
com mais automatização do processo, que tem demonstrado rapidez nos resultados, segurança nas
informações, inexistência de fraudes comprovadas e menores custos de registro, contabilização e
totalização de votos) para um sistema com maior intervenção humana (mais oneroso, mais moroso
e com mais riscos de fraudes), como acontecia antes da adoção da urna eletrônica.
198. Segundo o TSE (peça 50), essas alterações devem provocar: redução da confiança no
resultado e na integridade eleitoral; dependência da higidez do resultado quase que integralmente
nos mesários (aproximadamente 1,8 milhão de pessoas); facilitação da ocorrência de fraudes; filas
e atrasos significativos na votação; atrasos na divulgação do resultado; problemas de
acessibilidade, sobretudo para deficientes visuais; aumento de custos e desafios logísticos; e, ônus
excessivo e intenvenção das forças de segurança.
199. O debate acerca da matéria tratada nos presentes autos, e que está claramente delineado no
cenário nacional, tem de um lado o TSE que, apoiado por parcela dos membros do Congresso
Nacional, utiliza de todos os meios legais para defender a sistemática de votação atual e, de outro
lado, parcela dos membros do Parlamento que defende a incorporação de novo mecanismo de
auditagem do voto pelo próprio eleitor, seja por convicções pessoais, seja por acreditarem que o
sistema atual seria vulnerável a fraudes.
200. Neste contexto, cabe a esta Corte avaliar, tecnicamente, a situação real da sistemática de
votação eletrônica em busca de dar a sua contribuição ao debate a partir das conclusões
apresentadas nesta auditoria.
201. A eventual incorporação de novos mecanismos de auditagem do voto depende de decisão
soberana no Congresso Nacional, mediante a ponderação das eventuais vantagens advindas de uma
sistemática de votação eletrônica que funciona há 21 anos, sem registros comprovados de fraude e
dos riscos reais de retrocesso diante do reconhecido histórico de fraudes eleitorais de toda espécie
identificadas à época da votação em papel depositado em urna física.
202. Reitera-se que os mecanismos de verificação, auditoria e fiscalização já existentes estão à
disposição de diversas instituições públicas e privadas, dentre as quais destaca-se os partidos
políticos, principais interessados no processo eleitoral. No entanto, o que se verifica na prática, é
que não há interesse dos partidos políticos em atuar nas diferentes etapas de fiscalização/auditoria
da sistemática brasileira de votação, restando suprimidas importantes contribuições que poderiam
ser agregadas ao processo eleitoral, inclusive no sentido de infirmar convicções favoráveis à
necessidade de incorporação de novos mecanismos de auditagem, ou mesmo ratificar essas
convicções, a partir de experiências próprias de fiscalização.
203. Mesmo o cidadão comum tem acesso a mecanismos de fiscalização e auditoria, conforme
Resolução-TSE 23.603/2019, tais como o Boletim de Urna, que possibilita a apuração
independente dos votos, e a votação paralela, que é o principal mecanismo de aferição da
confiabilidade das urnas eletrônicas. Qualquer técnico ou grupo de técnicos especializados, no caso
do Teste Público de Segurança (TPS), ocasião em que o TSE oferece condições facilitadas de
acesso aos sistemas e às urnas eletrônicas, também tem condições de verificar a confiabilidade das
urnas. No TPS, conforme a Resolução-TSE 23.444/2015, são fornecidos os códigos-fonte para
testes e os especialistas têm acesso aberto aos sistemas e às urnas eletrônica, facilidades que não
seriam encontradas em condições reais para fins de tentativas de ataque, especialmente em razão da
utilização de rede privada de comunicação, no caso dos sistemas, e de funcionamento isolado, sem
qualquer conexão com redes, no caso das urnas eletrônicas.
204. Diante dos argumentos apresentados pelos defensores do voto impresso e as ponderações
realizadas pelo TSE, pode-se concluir que a implementação da sistemática de impressão de cédulas
físicas conferíveis pelo eleitor, o chamado ‘voto impresso’:
a) é viável do ponto de vista tecnológico;
b) exige um tempo razoável para implementação com segurança;
c) não é conveniente e, provavelmente, é impossível de ser implementada integralmente num único
ciclo eleitoral (requer a elaboração de um cronograma técnico, ponderando diversos fatores, para a
definição de quantos ciclos eleitorais serão necessários para a correta, segura e integral
implementação);
d) exige recursos humanos e financeiros hoje não disponíveis na Justiça Eleitoral, tanto no TSE,
quanto nos tribunais regionais;
e) tem um custo estimado em cerca de R$ 2 bilhões;
f) traz riscos inerentes à sua implantação que poderão impactar negativamente a dinâmica da
votação e da apuração as eleições de 2022;
g) reintroduz riscos inerentes à intervenção humana na dinâmica de votação e de apuração dos
votos que aumenta a insegurança do processo eleitoral; e
h) aumenta o risco de quebra do sigilo do voto.
205. Tendo em vista que as informações consolidadas neste trabalho são de interesse não apenas
do controle externo, mas, também, da sociedade brasileira, propor-se-á que este relatório, bem
como os dados que o fundamentam, sejam tornados públicos.
206. Será proposta, ainda, o envio do presente relatório, da deliberação que vier a ser proferida e
da ficha síntese da auditoria à Comissão Especial para Análise da PEC 135/2019 da Câmara dos
Deputados, bem como à Presidência da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, além das
mesas diretoras das duas casas.
207. Por fim, após deliberação do TCU, os autos deverão retornar à esta Unidade Técnica para
prosseguimento da auditoria, conforme autorização do relator (peça 18).
7. Proposta de Encaminhamento
208. Ante ao exposto, submete-se os autos à consideração superior, propondo:
208.1. Tornar público o presente relatório, a deliberação que vier a ser proferida, a ficha síntese da
auditoria e todas as peças dos autos não enquadradas como sigilosas por força de normativos
vigentes, tendo em vista os principios transparência e da publicidade, previstos no arts. no art. 5º,
XXXIII, e 37, da CRFB/88;
208.2. Recomendar, com fulcro no art. 250, III, do RI/TCU, c/c o art. 11, da Resolução TCU
315/2020, ao Tribunal Superior Eleitoral que:
a) promova e/ou aprimore política contínua de comunicação e informação à sociedade acerca dos
mecanismos de auditabilidade, transparência e segurança da sistemática brasileira de votação, com
o objetivo de estimular maior participação popular e elevar o nível de conhecimento e confiança no
processo eleitoral, tendo em vista o princípio da transparência, previsto no art. 5º, XXXIII, da
CRFB/88, regulamentado pela Lei 12.527/2011 (LAI);
b) adote providências no sentido de dar maior abrangência e visibilidade à auditoria de
funcionamento das urnas eletrônicas sob condições normais de uso, também chamada de votação
paralela, prevista no art. 51, I, da Resolução-TSE 23.603/2019, com vistas a consolidá-la, perante a
sociedade, como mecanismo de fiscalização, validação e confiabilidade da urna eletrônica, tendo
em vista o princípio da transparência, previsto no art. 5º, XXXIII, da CRFB/88, regulamentado pela
Lei 12.527/2011 (LAI);
c) promova estudos com vistas a identificar formas alternativas de estimular a efetiva participação
das instituições qualificadas como entidades fiscalizadoras, nos termos do art. 5º da Resolução TSE
23.603/2019, em especial dos partidos políticos, principais atores interessados no fortalecimento
auditabilidade, transparência e segurança do processo eleitoral, nas diferentes etapas de fiscalização
da sistemática brasileira de votação, tendo em vista o princípio da eficiência, previstos no art. 37,
da CRFB/88;
208.3. dar ciência do presente relatório, da deliberação que vier a ser proferida e da ficha síntese da
auditoria, ao Tribunal Superior Eleitoral, à Comissão Especial da PEC 135/2019, às mesas diretoras
da Câmara dos Deputados e do Senado Federal e aos presidentes do Senado Federal e da Câmara
dos Deputados;
208.4. retornar os presentes autos à SecexAdministração, após a deliberação que vier a ser
proferida, com vistas a dar continuidade à presente auditoria, nos termos propostos à peça 14 e
autorizados à peça 18.”
É o Relatório.

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