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Treinamento de Presbíteros

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PresbÌteros e Di·conos:

Servos de Deus no Corpo de Cristo

ìOs crist„os n„o sÛ professam crer no


EspÌrito Santo, mas s„o tambÈm os re-
ceptores de Seus donsî ñ Charles Hod-
1
ge.

ìA comunidade de Jesus vive sob a


inspiraÁ„o do EspÌrito Santo; este È o se-
gredo de sua vida, de sua comunh„o e
2
de seu poderî ñ Emil Brunner.

INTRODU«,O:

A Igreja È a comunidade de pecadores regenerados, que pelo dom da fÈ, conce-


dido pelo EspÌrito Santo, foram justificados, respondendo positivamente ao chamado
divino, o qual fora decretado na eternidade e efetuado no tempo, e agora vivem em
santificaÁ„o, proclamando, quer com sua vida, quer com suas palavras, o Evangelho
da GraÁa de Deus, atÈ que Cristo venha.

A Igreja È obra de Deus; sem o EspÌrito ela n„o existiria; isto, porque n„o haveria
crente em Cristo. A Igreja È composta por pessoas que confessam o Senhorio de
Cristo e, isto sÛ È possÌvel pela aÁ„o poderosa do EspÌrito (Cf. 1Co 12.3/Rm 10.9-
10).

A Igreja È uma comunidade de pecadores regenerados. A regeneraÁ„o È efetuada


pelo EspÌrito (Cf. Jo 3.3,5; Tt 3.5). Logo, sem a aÁ„o regeneradora do EspÌrito, n„o
existiriam crist„os nem Igreja.

O EspÌrito Santo È a alma da Igreja, Quem lhe d· ‚nimo e vitalidade. … o EspÌrito


Quem guia os homens ‡ porta de salvaÁ„o que È Cristo (Jo 10.9). AtravÈs da HistÛ-
ria o EspÌrito tem estabelecido a Igreja, chamando por meio da Palavra os
homens para constituÌrem a Igreja de Deus. ìDo mesmo modo que o EspÌrito Santo
for- mou o corpo fÌsico de Jesus Cristo na encarnaÁ„o, assim tambÈm forma o
3
corpo mÌstico de Jesus Cristo, ou seja, a igrejaî.
1
Charles Hodge, Teologia Sistem·tica, S„o Paulo: Editora Hagnos, 2001, p. 391.
2
H. Emil Brunner, O EquÌvoco da Igreja, S„o Paulo: Novo SÈculo, 2000, p. 53.
3
Edwin H. Palmer, El Espiritu Santo, Edinburgh: El Estandarte de la Verdade, (s.d.), EdiÁ„o Revista,
p. 198.
PresbÌteros e Di·conos: Servos de Deus no Corpo de Cristo ñ Rev. Hermisten ñ 12/05/08 ñ 2

Boanerges Ribeiro (1919-2003) acentua a especificidade e especialidade da Igre-


ja:

ìA Igreja resulta de uma aÁ„o especial, n„o ërotineiraí, de Deus entre os homens. O
que organiza a Igreja, o que faz dos indivÌduos de outra forma dispersos uma
comunidade È a presenÁa permanente de uma pessoa certa e determinada, o Santo
4
EspÌrito Divinoî.

A Igreja È uma comunidade daqueles que foram chamados do mundo para


Deus pela operaÁ„o do EspÌrito, daqueles ìque tÍm a mesma fonte genÈtica, o san-
5
gue de Cristo, o novo nascimentoî.

A Igreja È uma comunidade carism·tica porque todos os seus membros recebe-


ram dons (xa/risma) para o serviÁo de Deus na Igreja. Os dons concedidos
pelo EspÌrito, longe de servirem para confus„o ou vanglÛria, devem ser utilizados com
6
humildade (1Co 4.7), para a edificaÁ„o e aperfeiÁoamento dos santos (1Co 12.1-
7
31/Ef 4.11-14/Rm 12.3-8). Calvino (1509-1564) acertadamente diz que ìse a igre-
ja È edificada por Cristo, prescrever o modo como ela deve ser edificada È tambÈm
8
prerrogativa dEleî. Do mesmo modo acentua Kuyper (1837-1920): ìOs
carismata ou dons espirituais s„o os meios e o poder divinamente ordenados pelos quais o
9
Rei habilita a Sua Igreja a realizar sua tarefa na terraî. O Caris- ma tem sempre um fim
10
social: a Igreja; a comunh„o dos santos. E tambÈm, como elemento de ajuda na
11
proclamaÁ„o do Evangelho (Hb 2.3-4).
4
Boanerges Ribeiro, O Senhor que Se Fez Servo, S„o Paulo: O Semeador, 1989, p. 36.
5
Boanerges Ribeiro, O Senhor que Se Fez Servo, p. 46.
6 ìNinguÈm possui coisa alguma, em seus prÛprios recursos, que o faÁa superior; portanto, quem quer
que se ponha num nÌvel mais elevado n„o passa de imbecil e impertinente. A genuÌna base da humildade
crist„ consiste, de um lado, em n„o ser presumido, porque sa- bemos que nada possuÌmos de bom em nÛs
mesmos; e, de outro, se Deus implantou algum bem em nÛs, que o mesmo seja, por esta raz„o, totalmente
debitado ‡ conta da divina graÁaî [Jo„o Calvino, ExposiÁ„o de 1 CorÌntios, S„o Paulo: Paracletos, 1996,
(1Co 4.7), p. 134-135].
7 Obviamente, n„o estamos trabalhando aqui com as categorias de Max Weber, que define Carisma
como ì.... uma qualidade pessoal considerada extracotidiana (...) e em virtude da qual se atribuem a
uma pessoa poderes ou qualidades sobrenaturais, sobre-humanos ou, pelo me- nos, extracotidianos
especÌficos ou ent„o se a toma como enviada por Deus, como exem- plar e, portanto, como ëlÌderí.î [Max
Weber, Economia e Sociedade: Fundamentos da Sociologia Compreensiva, BrasÌlia, DF.: Editora
Universidade de BrasÌlia, 1991, Vol. 1, p. 158-159]. Como o prÛprio Weber explica, ìO conceito
de ëcarismaí (ëgraÁaí) foi tomado da terminologia do cris- tianismo primitivoî (Ibidem., p. 141). Weber
tomou a palavra emprestada em Rudolph Sohm, da sua obra Direito Eclesi·stico para a Antiga
Comunidade Crist„ (Cf. Ibidem., p. 141). A an·lise das ques- tıes relativas ao domÌnio
carism·tico, ìest„o no centro das reflexıes de Weberî (Julien Freund, A Sociologia de Max Weber,
Rio de Janeiro: Forense, 1980, p. 184).
8
Jo„o Calvino, EfÈsios, S„o Paulo: Paracletos, 1998, (Ef 4.12), p. 125. ìA Deus pertence com ex-
clusividade o governo de sua Igrejaî [Jo„o Calvino, G·latas, S„o Paulo: Paracletos, 1998, (Gl
1.1), p. 22].
9
Abraham Kuyper, The Work of the Holy Spirit, Chattanooga: AMG Publishers, 1995, p.
10
196. Vd. Frederick D. Bruner, Teologia do EspÌrito Santo, S„o Paulo: Vida Nova, 1983, p.
11
229. Vd. Jo„o Calvino, ExposiÁ„o de Hebreus, S„o Paulo: Paracletos, 1997, (Hb 2.4), p.
56.
Calvino trabalha insistentemente com este princÌpio:

ìAs Escrituras exigem de nÛs e nos advertem a considerarmos que qual- quer favor que
obtenhamos do Senhor, o temos recebido com a condi- Á„o de que o apliquemos em
benefÌcio comum da Igreja.
ìTemos de compartilhar liberalmente e agradavelmente todos e cada um dos favores do
Senhor com os demais, pois isto È a ˙nica coisa que os legitima.
ìTodas as bÍnÁ„os de que gozamos s„o depÛsitos divinos que temos recebido
12
com a condiÁ„o de distribuÌ-los aos demaisî.

O EspÌrito È soberano na distribuiÁ„o dos dons; eles n„o podem ser reivindicados
(1Co 12.11,18), antes, devem ser recebidos como manifestaÁ„o da graÁa de Deus e
utilizados para a glÛria de Deus.

A Igreja È a comunidade formada pelo prÛprio Deus, sendo constituÌda por pesso-
as que tiveram e tÍm, pela graÁa de Deus, a fÈ salvadora depositada unicamente em
Jesus Cristo.

ìNo Novo Testamento, ninguÈm vinha ‡ Igreja simplesmente para ser salvo e feliz, mas
para ter o privilÈgio de servir ao Senhor. E nÛs deverÌamos ter di- ante de nÛs, o benefÌcio
13
que recebemos de servir e trabalhar na Igrejaî, a- centua Karl Barth (1886-1968).
Todos nÛs crist„os, recebemos do Senhor, talentos para servir nessa igreja; e os
dons recebidos tÍm muito a ver com as habilidades
com as quais nascemos, mas que na realidade, foram dadas tambÈm por Deus. ì....
sejam quais forem os dons que possuamos, n„o devemos ensoberbecer-nos por causa deles,
14
visto que eles nos pıem sob as mais profundas obrigaÁıes para com Deusî.

O que quero enfatizar, È que a raiz da palavra graÁa, È a mesma da palavra


dom, no grego xa/rij, daÌ podermos falar da Igreja, como uma comunidade
carism·tica, visto ser ela constituÌda daqueles que receberam a graÁa da fÈ e o
dom para servir.

Mas, o que significa graÁa? Bem, podemos defini-la, operacionalmente, como um


favor imerecido, manifestado livre e continuamente por Deus aos pecadores que se
encontravam num estado de depravaÁ„o e misÈria espirituais, merecendo justo cas-
15
tigo pelos seus pecados (Rm 4.4/Rm 11.6; Ef 2.8,9).
12
Jo„o Calvino, A Verdadeira Vida Crist„, S„o Paulo, Novo SÈculo, 2000, p. 36. ìQualquer habili-
dade que um fiel crist„o tenha, deve dedic·-la ao serviÁo de seus companheiros crentes, como tambÈm
submeter, com toda sinceridade, seus prÛprios interesses ao bem-estar co- mum da Igrejaî (Jo„o Calvino, A
Verdadeira Vida Crist„, p. 36).
13
Karl Barth, The Faith of the Church: A commentary on the Apostleís Creed according to Calvinís Ca-
techism, Great Britain: Fontana Books, 1960, p. 116.
14 Jo„o Calvino, EfÈsios, (Ef 4.7), p. 113.
15 Vejam-se outras definiÁıes em: A.W. Pink, Os Atributos de Deus, p. 69; Idem., Deus È Soberano,
S„o Paulo: Fiel, 1977, p. 24; A. Booth, Somente pela GraÁa, S„o Paulo: PES., 1986, p. 31; Jo„o Cal-
vino, ExposiÁ„o de Romanos, (Rm 5.15), p. 193; R.P. Shedd, Andai Nele, S„o Paulo: ABU., 1979, p.
15; W. Hendriksen, 1 y 2 Timoteo/Tito, Grand Rapids, Michigan: S.L.C., 1979, (Tt 2.11), p. 419; L.
No capÌtulo 4 da EpÌstola aos EfÈsios, Paulo est· tratando de modo especial da
unidade da Igreja dentro da variedade de funÁıes. Assim, est· implÌcita a figura t„o
cara a Paulo, a da Igreja como Corpo de Cristo, mostrando que o segredo do bom
funcionamento do corpo È a utilizaÁ„o de todas as suas partes. Organicamente, ca-
da membro, por mais insignificante que nos possa parecer, tem um papel
importante a desempenhar dentro do equilÌbrio do todo. Certamente, existem
diferenÁas de be- leza e eleg‚ncia entre nossos Ûrg„os, todavia, todos s„o
essenciais. Do mesmo mo- do, na Igreja de Cristo, ainda que haja diferenÁas entre
nÛs, e n„o sejamos conside- rados pelos homens como dignos de algum valor, o
fato È que todos somos essenci- ais no serviÁo do Reino: Devemos frisar no
entanto, que n„o somos ontologicamente essenciais; antes, Deus, por graÁa nos
tornou essenciais no Seu Reino e, por isso, agora o somos.

Assim, È Deus mesmo e n„o outro, Quem nos concede talentos para servi-Lo
(Ef 4.7,11/1Co 12.11,18), portanto a nossa atitude de consciente e real humildade
(1Co 4.7; 1Co 15.10), visto que Deus nos concedeu os talentos para o serviÁo do
Reino: ìA manifestaÁ„o do EspÌrito È concedida a cada um, visando a um fim
proveitosoî (1Co 12.7). Paulo continua: ìPara que n„o haja divis„o no corpo; pelo
contr·rio, co-
16
operem os membros, com igual cuidado (merimnaw/ = ìpreocupaÁ„oî), em
favor

Berkhof, Teologia Sistem·tica, p. 74; W. Barclay, El Pensamiento de San Pablo, Buenos Aires: La Au-
rora, 1978, p. 154; L. Boettner, PredestinaciÛn, Grand Rapids, Michigan: S.L.C., [s.d.], p. 258; D.M.
Lloyd-Jones, Por que Prosperam os Õmpios, S„o Paulo: PES., 1983, p. 103; J.I. Packer, O Conheci-
mento de Deus, S„o Paulo: Mundo Crist„o, 1980, p. 120; Tom Wells, FÈ: Dom de Deus, S„o Paulo:
PES., 1985, p. 101; Samuel Falc„o, PredestinaÁ„o, S„o Paulo: Casa Editora Presbiteriana,
1981, p.100-101; James Moffatt, Grace in the New Testament, New York: Ray Long & Richard R.
Smith. Ind., 1932, p. 5; Wayne A. Grudem, Teologia Sistem·tica, p. 146, 147; John Gill, ìA Complete
Body of Doctrinal and Practical Divinity,î The Collected Writings of: John Gill, [CD-ROM], (Albany, OR:
Ages Software, 2000), I.13. p. 195-196.
16 A palavra tem o sentido de solicitude, preocupaÁ„o e inquietaÁ„o. Ela ocorre 18 vezes no NT. O
seu uso no Novo Testamento n„o tem um sentido apenas negativo; Paulo a emprega
positivamente, como por exemplo, no texto citado (1Co 12.25). Do mesmo modo, quando se
refere a TimÛteo: ìPor- que a ninguÈm tenho de igual sentimento, que sinceramente cuide
(Merimnh/sei) dos vossos interes- sesî (Fp 2.20) e, tambÈm quando descreve as suas lutas em
favor da Igreja: ìAlÈm das cousas exte- riores, h· o que pesa sobre mim diariamente, a
preocupaÁ„o (Me/rimna) com todas as Igrejasî (2Co 11.28).
O termo tambÈm È usado negativamente: Jesus, o emprega duas vezes neste sentido : ìN„o an-
deis ansiosos (merimna=te) pela vossa vida...î (Mt 6.25). A Marta, inquieta com os seus afazeres e di-
ante da aparente inÈrcia de Maria, diz: ìMarta! Marta! andas inquieta (Merima=j) e te preocupas com
muitas coisasî (Lc 10.41).
Paulo, tambÈm trata dessa quest„o, dizendo aos filipenses: ìN„o andeis ansiosos (Merimna/w) de
cousa alguma....î (Fp 4.6). No entanto, esta exortaÁ„o pode parecer inÛcua sem a indicaÁ„o de um
caminho eficaz para a canalizaÁ„o de nossas ansiedades existentes... Paulo ent„o, propıe a soluÁ„o
para o problema: ì.... Em tudo, porÈm, sejam conhecidas diante de Deus as vossas petiÁıes, pela o-
raÁ„o e pela s˙plica, com aÁıes de graÁaî (Fp 4.6). A oraÁ„o oferece-nos um abrigo onde podemos
nos ocultar das preocupaÁıes mundanas, um lugar onde ficamos a sÛs com Deus, um ref˙gio onde
renovamos a esperanÁa, onde nossos cuidados com as coisas deste sÈculo ficam amortecidas. A o-
raÁ„o È o caminho pelo qual iniciamos a caminhada indicada por Pedro; È o meio fornecido por Deus
para que possamos combater a ansiedade: ìLanÁando sobre ele toda a vossa ansiedade
(Me/rimnan), porque Ele tem cuidado de vÛsî (1Pe 5.7) (Ver: John MacArthur Jr., Abaixo a Ansieda-
de, S„o Paulo: Editora Cultura Crist„, 2001, especialmente, p. 27-38).
Quando assim procedemos, experimentamos o resultado indicado por Paulo no texto de Filipen-
ses: ìE a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardar· os vossos coraÁıes e as vossas
mentes em Cristo Jesusî (Fp 4.7). A paz È de Deus porque dEle procede e, tambÈm, porque o mode-
uns dos outrosî (1Co 12.25). ìO Senhor nos colocou juntos na Igreja, e destinou cada um
ao seu posto, de tal maneira que, sob a ˙nica CabeÁa, venhamos a nos auxiliar uns aos
outros. Lembremo-nos tambÈm de que t„o diferentes dons nos tÍm sido concedidos
para podermos servir ao Senhor humilde e despretensiosamente, e aplicar-nos ao
avanÁo da glÛria daquele que nos
17
tem dado tudo quanto temosî. Deste modo, os talentos recebidos, foram-nos
concedidos para que os us·ssemos para a edificaÁ„o da Igreja, n„o para a dissemi-
naÁ„o de discÛrdias, ou para usar de nossa influÍncia para dividir, denegrir, solapar
ou mesmo para a nossa projeÁ„o pessoal: Deus n„o desperdiÁa os dons ìpor nada e
18
nem os destina para que sirvam de espet·culoî. Mas, para a edificaÁ„o. O objetivo È
19
claro: ìCom vistas ao aperfeiÁoamento (katartismo/j = ìprepararî, ìe- quipar
para o serviÁoî) dos santosî (Ef 4.12). Ainda que de passagem, deve ser a-
centuado que, ìsempre que os homens s„o chamados por Deus, os dons s„o
necessariamente conectados com os ofÌcios. Pois Deus n„o veste homens com m·scara
ao design·-los apÛstolos ou pastores, e, sim, os supre com dons, sem os quais n„o
20
tÍm eles como desincumbir-se adequadamente de seu ofÌcioî.

Observemos que estes ofÌcios (Ef 4.11), foram instituÌdos para o


aperfeiÁoamento dos santos a fim de que estes cumpram o seu serviÁo na Igreja;
ou seja: o trabalho n„o È apenas pastoral ou dos PresbÌteros Regentes e Di·conos,
È tambÈm e fun- damentalmente comunit·rio. Toda a Igreja È respons·vel: Lutero
falou do Sacer- dÛcio Universal dos Crentes; pois bem, este texto nos fala do
ministÈrio universal dos crentes. O carisma traz implicaÁıes de responsabilidade
com a edificaÁ„o de nossos irm„os. Na Igreja de Cristo n„o pode haver a divis„o
entre aqueles que tra- balham e os que apenas ouvem comodamente... Todos
somos chamados e capaci-
21
tados ao trabalho crist„o.

lo da paz temos em Deus, Aquele que n„o vive em ansiedade. [Vd. F.F. Bruce, Filipenses, Florida:
Editora Vida, 1992, (Fp 4.7), p. 154].
17 Jo„o Calvino, ExposiÁ„o de 1 CorÌntios, (1Co 4.7), p. 134.
18 Jo„o Calvino, ExposiÁ„o de 1 CorÌntios, (1Co 12.7), p. 376.
19 O termo grego utilizado por Paulo, no campo cir˙rgico, era usado para ìconsertar um osso
quebra- doî. ìAjustar em conjunto num sÛ corpoî (D.M. Lloyd-Jones, A Unidade Crist„, S„o Paulo:
PES., 1994, p. 172). ìA idÈia fundamental do termo È de pÙr nas condiÁıes em que devem estar j· uma
coisa ou uma pessoaî (William Barclay, EfÈsios, Buenos Aires: La Aurora, 1973, p.156). Cal- vino diz
que o termo grego ìsignifica literalmente a m˙tua adaptaÁ„o [= coaptitionem] de coi- sas que devem ter
simetria e proporÁ„o; assim como, no corpo humano, h· uma combina- Á„o apropriada e regular dos
membros; de modo que o termo È tambÈm usado para ëper- feiÁ„oí. Mas como a intenÁ„o de Paulo aqui
È expressar um arranjo simÈtrico e metÛdico, prefiro o termo constituiÁ„o [= constitutio]. Pois,
estritamente falando, o latim indica uma comunidade, ou reino, ou provÌncia, como constituÌda, quando a
confus„o d· lugar ao es- tado regular e legÌtimoî [J. Calvino, EfÈsios, (Ef 4.12), p. 124].
20
Jo„o Calvino, EfÈsios, (Ef 4.11), p. 119. Em outro contexto, falando sobre o chamado de Davi para
ser rei de Israel, faz coment·rio semelhante: ìOra, Deus geralmente supre aqueles a quem im- puta a
dignidade de possuir esta honra a eles conferida com os dons indispens·veis para o exercÌcio de seu ofÌcio, a fim
de que n„o sejam como Ìdolos sem vidaî [Jo„o Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 1, (Sl 4.3), p, 96].
21 ìN„o h· crescimento em igrejas que dependem de algumas poucas pessoas e os demais
membros s„o espectadores. Sempre existe progresso e multiplicaÁ„o em igrejas cujos mem-
Notemos tambÈm, que Paulo est· dizendo que todos os membros da Igreja s„o
santos. Isso aponta para o nosso privilÈgio (somos santificados em Cristo Jesus) e
nossa responsabilidade (devemos progredir em santidade). Neste ponto, a Igreja
so- fre tremendamente, porque ela abandonou a sua realidade e a sua meta de
santida- de (separaÁ„o) e cada vez mais intensamente se parece com o mundo: na
sua for- ma de pensar, de falar, de sentir, de vestir e de fazer... Ao invÈs desse
comporta- mento aprendido por osmose sugerir maturidade, È, na verdade, um
sintoma de in- fantilidade crÙnica: temos com demasiada freq¸Íncia, falado,
sentido e pensado como meninos; enquanto que o propÛsito de Deus para o Seu
povo È o inverso: que pensemos, sintamos e falemos como pessoas maduras na
fÈ (1Co 13.11/1Co 3.1-2; Hb 5.11-14; 2Pe 3.18). Paulo contrasta aqui os ìmeninosî
(nh/pioj = ìbebÍî, ìimatu-
roî, ìcrianÁa pequenaî) (Ef 4.14) com a ìperfeiÁ„oî (te/leioj ìmaduroî) (Ef
4.13). Calvino comenta: ìCrianÁas s„o aqueles que ainda n„o deram um passo no
caminho do Senhor, sen„o que hesitam, que n„o determinaram ainda que rumo devem
tomar, mas que se movem ‡s vezes numa direÁ„o e ‡s vezes
22
noutra, sempre duvidosos, sempre ziguezagueandoî.

As crianÁas devido a sua ingenuidade s„o mais influenci·veis, dadas ‡ instabili-


dade. Os pag„os apresentam este comportamento, sendo conduzidos por qualquer
23
nova doutrina. Em Listra, conduzidos por suas lendas, pensaram que Paulo e
BarnabÈ fossem J˙piter e Merc˙rio, querendo a todo custo oferecer-lhes sacrifÌcios.
Pouco depois, influenciados pelos judaizantes, apedrejaram a Paulo, deixando-o
quase morto (At 14.8-20). Por sua vez, ìo progresso da igreja È marcado por um
crescimento da inf‚ncia atÈ a maturidade, na medida que ela assume o ca-
24
r·ter de sua cabeÁa, Cristoî.

Paulo para descrever esta inconst‚ncia infantil, usa um termo n·utico que se refe-
re a uma pequena embarcaÁ„o que, em mar aberto n„o consegue manter o curso
certo (Kludwni/zomai = ìser arrastado, levado pelas ondasî)(Ef 4.14). Metaforica-
mente tem o sentido de ìser agitado mentalmenteî. A idÈia È a de andar em cÌrcu-
los, diante da variedade de ensinamentos. ìEle os compara com as palhas ou
outros elementos leves, os quais s„o rodopiados pela forÁa do vento a soprar
25
em cÌrculo ou em direÁıes opostasî.

Tomando as figuras usadas por Paulo, podemos observar que a crianÁa gosta
de entretenimento, novidade e indisciplina; se n„o tivermos firmeza doutrin·ria, se
n„o estivermos ancorados na Palavra, seremos conduzidos de forma constante e
sem di- reÁ„o. Este exemplo negativo, temos nos g·latas, aos quais, Paulo
escreve: ìAdmi- ra-me que estejais passando t„o depressa daquele que vos
chamou na graÁa de Cristo, para outro evangelhoî (Gl 1.6). ìVÛs corrÌeis bem;
quem vos impediu de con-

bros s„o vibrantes e intentam servir a Cristoî (Iain Murray, A Igreja: Crescimento e Sucesso: In: FÈ para
Hoje, S„o JosÈ dos Campos, SP.: Fiel, nw 6, 2000, p. 20).
22 Jo„o Calvino, EfÈsios, (Ef 4.14), p. 127.
23 Vd. Hermisten M.P. Costa, Eu Creio, S„o Paulo: Parakletos, 2002, p. 250-251.
24
Ralph P. Martin, EfÈsios: In: Coment·rio BÌblico Broadman, Rio de Janeiro: JUERP., 1985, Vol. 11,
p. 190.
25 Jo„o Calvino, EfÈsios, (Ef 4.14), p. 128.
tinuardes a obedecer ‡ verdade?î (Gl 5.7).

Calvino comentando a facilidade com que quase todos se curvaram diante do


de- creto idÛlatra de Nabucodonosor (Dn 3.2-7), sustenta que a base de nossa
firmeza doutrin·ria est· no apego irrestrito ‡ Palavra: ì.... nada È firme, nada È
est·vel entre os gentios; indivÌduos que n„o foram instruÌdos na escola de Deus o que
significa a verdadeira religi„o. Pois oscilam a todo instante ao sabor de qualquer brisa.
Assim como as folhas se movem quando o vento sopra por entre as ·rvores, assim tambÈm
todos os que n„o est„o enraizados na ver- dade de Deus oscilar„o e ser„o lanÁados para
frente e para tr·s quando al- gum vento comeÁa a soprar. O decreto rÈgio n„o constitui
uma brisa leve, e, sim, uma violenta tempestade. Pois ninguÈm pode opor-se impunemente
aos reis e a seus editos. Por isso, sucede que os que n„o se acham plantados na Palavra de
Deus, e n„o entendem absolutamente nada do que È verdadei-
26
ra piedade, s„o arrastados pela investida de tal pÈ-de-ventoî.

Em nossa imaturidade espiritual, j· n„o separamos as coisas; antes dizÌamos


que tudo era sagrado, agora vivemos como se tudo fosse profano... e o pior È
que esta- mos perfeitamente acomodados a isso, estamos bem ‡ vontade,
estamos em casa. A acomodaÁ„o no pecado n„o indica a paz de Deus, antes, a
morte de uma consci- Íncia supostamente crist„! A maturidade crist„ impede-nos
de cometer ìmacaqui- ces espirituaisî, de ficar pulando de um lado para o outro.

Retornando ao nosso objetivo, devemos enfatizar que a Igreja È uma comunidade


carism·tica porque È constituÌda pelo povo redimido pela graÁa de Deus e, tambÈm,
porque atua comunitariamente com os carismas concedidos por Deus para a edifica-
Á„o do Corpo de Cristo. (Vd. Ef. 4.13-16).
27
Nesta Igreja, os pastores, presbÌteros e di·conos, s„o constituÌdos por Deus
28
pa- ra a preservaÁ„o do rebanho. A eleiÁ„o feita pela igreja, deve ser vista como
um reconhecimento p˙blico de que os referidos oficiais foram escolhidos por Deus;
29
a e- leiÁ„o nos fala do processo n„o da fonte da autoridade dos eleitos. Desta
forma, a

26 Jo„o Calvino, O Profeta Daniel: 1-6, S„o Paulo: Parakletos, 2000, Vol. 1, (Dn 3.2-7), p. 190.
27
Quanto ‡ responsabilidade dos pastores, Vd. Jo„o Calvino, As Pastorais, S„o Paulo: Paracletos,
1998, (1Tm 3.15), p. 97-98; Jo„o Calvino, ExposiÁ„o de 1 CorÌntios, (1Co 3.5ss), p. 101ss.
28 Calvino, falando com a autoridade e a experiÍncia de um eficiente pastor, escreve em 1548: ìOs
pastores piedosos e probos ter„o sempre que manter esta luta de desconsiderar as ofensas daqueles que
querem desfrutar de vantagem em tudo. Pois a Igreja ter· sempre em seu seio pessoas hipÛcritas e perversas,
as quais preferem suas prÛprias cobiÁas ‡ Palavra de Deus. E mesmo as pessoas boas, quer por alguma
ignor‚ncia quer por alguma fraqueza, s„o ‡s ve- zes tentadas pelo diabo a ficar iradas com as fiÈis
advertÍncias de seu pastor. … nosso dever, pois, n„o ficar alarmados por quaisquer gÍneros de ofensas,
contanto, naturalmente, que n„o desviemos de Cristo nossas dÈbeis mentesî [Jo„o Calvino, G·latas, (Gl
1.10), p. 36-37]. ìA tarefa dos mestres consiste em preservar e propagar as s„s doutrinas para que a
pureza da religi„o permaneÁa na Igrejaî [Jo„o Calvino, ExposiÁ„o de 1 CorÌntios, (1Co 12.28), p. 390].
29 ìO EspÌrito tambÈm chama os homens para o ministÈrio na Igreja e os dota com as quali-
dades necess·rias para o exercÌcio eficaz de suas funÁıes. O ofÌcio da Igreja, neste assunto, È simplesmente o
de determinar e verificar o chamamento do EspÌrito. Assim, o EspÌrito Santo È o autor imediato de toda a
verdade, de toda a santidade, de toda a consolaÁ„o, de to-
30
autoridade deles È derivada de Deus, n„o do povo que os elegeu; por outro lado,
eles precisam ter em mente que prestar„o contas dos seus atos a Deus. O Novo
Testamento nos chama a atenÁ„o para o ministÈrio universal dos crentes: todos so-
mos respons·veis pelo desempenho do serviÁo de Deus em Sua Igreja (Ef 4.11-12).

A Segunda Confiss„o HelvÈtica (1562-1566), no capÌtulo XVIII, falando sobre os


ìministros da Igrejaî, declara:

ì… verdade que Deus poderia, pelo Seu poder, sem qualquer meio, congregar para
Si mesmo uma Igreja de entre os homens; mas Ele preferiu tratar com os homens pelo
ministÈrio de homens. Por isso os ministros de- vem ser considerados n„o como
ministros apenas por si mesmos, mas co- mo ministros de Deus, visto que por meio deles
Deus realiza a salvaÁ„o de homensî

A ConstituiÁ„o da IPB. caracteriza bem o que È o presbÌtero e a sua funÁ„o (Arts


50 e 51), o mesmo fazendo em relaÁ„o ao di·cono (Art 53).

Como sabemos, a Igreja Presbiteriana do Brasil comemora o seu anivers·rio na


data da chegada do Rev. Ashbel Green Simonton (1833-1867), em 12/08/1859. No
entanto, a Primeira Igreja Presbiteriana a ser organizada no Brasil, foi no dia 12 de
janeiro de 1862, na Capital do ImpÈrio, Rio de Janeiro, ‡ Rua Nova do Ouvidor nw
31, com as duas primeiras Profissıes de FÈ: Um comerciante, norte-
americano, Henry E. Milford (com cerca de 40 anos), natural de New York, que
veio para o Brasil como agente da Singer Sewing Machine Company e Camilo
Cardoso de Je-
31
sus (com cerca de 36 anos), que posteriormente mudou o seu nome para Camilo
32
JosÈ Cardoso. Ele era natural da cidade do Porto, Portugal, sendo padeiro e, ex-
33
foguista em barco de cabotagem. Ambos eram assÌduos desde o inÌcio dos tra-

da a autoridade e de toda a eficiÍncia nos filhos de Deus, individualmente, e na Igreja, cole- tivamenteî (Charles
Hodge, Teologia Sistem·tica, S„o Paulo: Editora Hagnos, 2001, p. 396).
30
Bavinck enfatiza: ìOs pastores e mestres, os presbÌteros e di·conos, tambÈm devem seu ofÌ-
cio e sua autoridade a Cristo, que instituiu esses ofÌcios e que continuamente os sustenta, que d· ‡s
pessoas os seus dons e que os apresenta para o ofÌcio atravÈs da Igreja (1Co 12.28; Ef 4.11). Mas esses
dons e essa autoridade lhes s„o dados para que sejam emprega- das para o benefÌcio da Igreja e para que
sejam ˙teis no aperfeiÁoamento dos santos (Ef 4.12)î (Herman Bavinck, Our Reasonable Faith, 4™ ed.
Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1984, p. 537-538). Louis Berkhof acentua que ìOs
oficiais da igreja recebem sua autoridade de Cristo, e n„o dos homens, mesmo que a congregaÁ„o sirva de
instrumento para instal·-los no ofÌcioî (L. Berkhof, Teologia Sistem·tica, Campinas, SP.: Luz para o
Caminho, 1990, p. 599). Ver tambÈm: Samuel Miller, O PresbÌtero Regente: Natureza, Deveres e
QualificaÁıes, S„o Paulo: Os Pu- ritanos, 2001, p. 15.
31
Ashbel G. Simonton, Di·rio, 1852-1867, S„o Paulo: CEP/O Semeador, 1982, 14/01/1862; Rev. An-
tonio Trajano, EsboÁo HistÛrico da Egreja Evangelica Presbyteriana: In: ¡lvaro Reis, ed. Almanak His-
torico do O Puritano, Rio de Janeiro: Casa Editora Presbyteriana, 1902, p. 7-8.
32
Rev. Antonio Trajano, EsboÁo HistÛrico da Egreja Evangelica Presbyteriana: In: ¡lvaro Reis,
ed.
Almanak Historico do O Puritano, p. 8.
33
Rev. Antonio Trajano, EsboÁo HistÛrico da Egreja Evangelica Presbyteriana: In: ¡lvaro Reis,
ed.
Almanak Historico do O Puritano, p. 7-9; Boanerges Ribeiro, Protestantismo e Cultura Brasileira,
S„o Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1981, p. 24; J˙lio A. Ferreira, HistÛria da Igreja Presbiteriana
do Brasil, 2™ ed. S„o Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1992, Vol. I, p. 28.
34
balhos promovidos por Simonton.
35
Nesta ocasi„o foi celebrada a Santa Ceia pela primeira vez, sendo ministrada pelo
36
Rev. F.J.C. Schneider (1832-1910) e pelo Rev. A. G. Simonton, em inglÍs e
37
portuguÍs.

No entanto, os primeiros oficiais da Igreja Presbiteriana no Brasil sÛ foram


eleitos em 1866: Os Di·conos em 02/04/1866; eram trÍs: Guilherme Ricardo Esher
(de ori- gem irlandesa), Camilo JosÈ Cardoso (de origem portuguesa) e Antonio
Pinto de Sousa (brasileiro). Os PresbÌteros em 07/07/1866; eram dois: Guilherme
R. Esher e Pedro Perestrello da C‚mara (primo do futuro Rev. Modesto Carvalhosa)
(de origem portuguesa). Todos foram ordenados no dia 09/07/1866,
permanecendo Guilherme
38
R. Esher como PresbÌtero. Assim, temos os primeiros PresbÌteros Regentes e Di·-
conos do Presbiterianismo nacional.

1. O DI¡CONO:

IntroduÁ„o:

A) TERMINONOGIA:

O termo ìdi·conoî e suas variantes, provÈm do grego dia/konoj, diakoni/a e


diakone/w, palavras que significam respectivamente, ìservoî, ìserviÁoî e ìservirî.

B) ìDI¡CONOî NA LITERATURA SECULAR:

1) NA LITERATURA GREGA:

Essas palavras apresentam trÍs sentidos especiais, com uma pesada cono-
taÁ„o depreciativa: a) Servir ‡ mesa; b) Cuidar da subsistÍncia; c) Servir: No sentido
de ìservir ao amoî.
34
Di·rio, 25/11/61; 31/12/61; Boanerges Ribeiro, Protestantismo e Cultura Brasileira, p. 24, Veja-se
nota 131.
35
RelatÛrio de Simonton apresentado ao PresbitÈrio do Rio de Janeiro no dia 10/07/1866, p. 4.
36
O Rev. Schneider chegou ao Brasil em 7/12/1861. Foi ele quem traduziu, entre outros, o livro de
Charles Hodge, O Caminho da Vida, New York: Sociedade Americana de Tractados (s.d.), 300p., e o
de seu filho, A.A. Hodge, EsboÁos de Theologia, Lisboa: Barata & Sanches, 1895, 620p.
37
Di·rio, 14/01/1862.
38
Vd. Atas da Igreja do Rio de Janeiro; RelatÛrio de Simonton apresentado ao PresbitÈrio do Rio de
Janeiro no dia 10/07/1866, p. 7-8; Vicente T. Lessa, Annaes da 1™ Egreja Presbyteriana de
S„o Paulo, EdiÁ„o da 1™ Egreja Presbyteriana Independente, 1938, p. 41; Rev. Antonio Trajano,
EsboÁo HistÛrico da Egreja Evangelica Presbyteriana: In: ¡lvaro Reis, ed. Almanak Historico do O
Puritano,
p. 8; J˙lio A. Ferreira, HistÛria da Igreja Presbiteriana do Brasil, Vol. I, 28-29.
PresbÌteros e Di·conos: Servos de Deus no Corpo de Cristo ñ Rev. Hermisten ñ 12/05/08 ñ 10

Para os gregos, servir era algo indigno. Os Sofistas chegavam a afirmar que o
homem reto sÛ deve servir aos seus prÛprios desejos, com coragem e prudÍncia.

Plat„o (427-347 a.C.) e DemÛstenes (384-322 a.C.), um pouco mais


moderados, admitiam que o serviÁo (diakoni/a) sÛ tinha algum valor quando
prestado ao Estado. Portanto, ìa idÈia de que existimos para servir a outrem n„o cabe,
em abso-
39
luto, na mente gregaî.

2) NA LITERATURA JUDAICA:

No judaÌsmo, encontramos a compreens„o mais profunda a respeito


daquele que serve. O pensamento oriental n„o considerava indigno o serviÁo. A
grandeza do senhor determinava a grandiosidade do serviÁo. Quanto maior o
senhor a quem se serve, mais o serviÁo È valorizado.

O historiador judeu Fl·vio Josefo, usou o termo em trÍs sentidos: a) Servir ‡ me-
sa; b) Servir no sentido de obedecer; c) Prestar serviÁos sacerdotais.

Posteriormente, a idÈia de serviÁo foi perdendo a conotaÁ„o de entrega de si em


favor de outrem, assumindo a idÈia de uma obra meritÛria perante Deus. Mais tarde,
deteriora-se ainda mais, passando a ser considerado indigno o serviÁo, especial-
mente no que se refere ao servir ‡ mesa.

C) ìDi·conoî no Novo Testamento:


40 41
Os substantivos ìDiaconiaî (33 vezes) e ìDi·conosî (30 vezes) e o verbo
42 43
ìDiaconarî (34 vezes) s„o traduzidos por serviÁo, ministÈrio, socorro, assistÍncia,
di·cono (neste caso, apenas transliterado), etc.

Jesus Cristo deu uma grande liÁ„o aos seus ouvintes, ao verbalizar a sua miss„o:
ì... O Filho do homem, que n„o veio para ser servido (diakone/w), mas para servir
(diakone/w)....î (Mt 20.28).

39
Hermann W. Beyer, Servir, ServiÁo: In: G. Kittel, ed. A Igreja do Novo Testamento, S„o Paulo: AS-
TE, 1965, p. 275.
40
Diakoni/a * Lc 10.40; At 1.17,25; 6.1,4; 11.29; 12.25; 20.24; 21.19; Rm 11.13; 12.7; 15.31; 1Co
12.5; 16.15; 2Co 3.7,8,9 (2 vezes); 4.1; 5.18; 6.3; 8.4; 9.1,12,13; 11.8; Ef 4.12; Cl 4.17; 1Tm 1.12;
2Tm 4.5,11; Hb 1.14; Ap 2.19.
41
Dia/konoj * Mt 20.26; 22.13; 23.11; Mc 9.35; 10.43; Jo 2.5,9; 12.26; Rm 13.4 (2 vezes); 15.8; 16.1;
1Co 3.5; 2Co 3.6; 6.4; 11.15,23; Gl 2.17; Ef 3.7; 6.21; Fp 1.1; Cl 1.7,23,25; 4.7; 1Ts 3.2; 1Tm 3.8,12;
4.6.
42
Na realidade n„o existe este verbo em nossa lÌngua; ele foi apenas transliterado do grego e apor-
tuguesado para dar o mesmo sentido fonÈtico...
43
Diakone/w *Mt 4.11; 8.15; 20.28; 25.44; 27.55; Mc 1.13,31; 10.45; 15.41; Lc 4.39; 8.3; 10.40;
12.37; 17.8; 22.26,27 (2 vezes); Jo 12.2,26 (2 vezes); At 6.2; 19.22; Rm 15.25; 2Co 3.3; 8.19,20; 1Tm
3.10,13; 2Tm 1.18; Fm 13; Hb 6.10; 1Pe 1.12; 4.10,11.
1. Origem do OfÌcio de ìDi·conoî

A origem deste ofÌcio eclesi·stico, deve ser buscada no texto de At 6.1-7.


44
Embora saibamos que nem todos concordem com isso e outros n„o se
45 46
decidam, ficamos com aqueles que identificam o diaconato com At 6.

No inÌcio da Igreja do Novo Testamento, competia aos apÛstolos a responsabili-


dade de gerenciar os donativos, distribuindo-os conforme a necessidade dos cren-
tes (At 2.45/At 4.37; 5.2). Com o crescimento da Igreja, esta atividade tornou-se
por demais pesada para eles. Nesse contexto È que se insere o di·cono. O ofÌcio
de di·cono teve a sua origem como resultado de uma necessidade: As vi˙vas dos
he- lenistas (judeus de fala grega, provenientes da Dispers„o), estavam sendo
habitual-
47
mente ìesquecidas na distribuiÁ„o di·riaî (At 6.1).
48
Ao contr·rio do que j· foi suposto, o ìesquecimentoî n„o foi deliberado. A
ques- t„o era mesmo de excesso de trabalho juntando a isso, a possÌvel situaÁ„o de
49
seve- ra pen˙ria das vi˙vas.

Os apÛstolos reconhecendo o problema e ao mesmo tempo n„o tendo como re-


solver tudo sozinho, encaminharam ‡ Comunidade, de forma direta, a eleiÁ„o de ìse-
te homens de boa reputaÁ„o, cheios do EspÌrito e de sabedoriaî, aos quais encarre-
gariam deste serviÁo (At 6.3). A eleiÁ„o foi feita. Os ApÛstolos, ent„o, se dedicaram
mais especificamente ì‡ oraÁ„o e ao ministÈrio da Palavraî (At 6.4), ofÌcio
para o qual foram especialmente chamados: Pregar a Palavra de Deus.

Os di·conos devem ser vistos como braÁos da misericÛrdia de Deus em


favor do Seu povo carente; eles exercem, em parte, o ìsocorroî de Deus para
com o Seu po- vo (1Co 12.28): ìOs di·conos representam a Cristo em seu ofÌcio de
misericÛr- dia, e o exercÌcio da misericÛrdia est· vinculado com o consolo dos afli-
50
tosî. ìNisto consiste o ofÌcio dos di·conos: Devem demonstrar solicitude
51
pelos pobres e atender ‡s suas necessidadesî.

Historicamente este ofÌcio permaneceu e se expandiu geograficamente, conforme


52
atestam os documentos histÛricos.

44
Kelly, T.C. Smith, Beyer, entre outros.
45
Stagg e Latourette.
46
Irineu, Calvino, Bavinck, Vincent, Berkhof, Hendriksen, Ladd, R.B. Kuiper, Grudem, entre outros.
47
O verbo paraqewre/w no imperfeito, sugere a idÈia de algo freq¸ente e habitual. Este verbo
sÛ ocorre aqui (At 6.1) no Novo Testamento.
48 Assim pensa Barclay. (William Barclay, El Nuevo Testamento Comentado, Buenos Aires: La Auro-
ra, 1974, Vol. VII, p. 60).
49 Vd. I.H. Marshall, Atos: IntroduÁ„o e Coment·rio, S„o Paulo: Mundo Crist„o/Vida Nova, 1982, p.
123.
50
R.B. Kuiper, El Cuerpo Glorioso de Cristo, Grand Rapids, Michigan: SLC., 1985, p. 141.
51
Jo„o Calvino, As Institutas, (1541), IV.13.
52
Vd. Clemente de Roma, 1CorÌntios, 42.4; 44.5; 47.6; 54.2; 57.1; In·cio, Cartas: Aos EfÈsios, 2.1;
Aos MagnÈsios, 2.1; 3.1; 6.1; 13.1; Aos Tralianos, 2.3; 3.1; 7.2; 12.2; Aos FiladÈlfios, 10.2; Aos Es-
2. DefiniÁ„o:

Os di·conos s„o homens ìconstituÌdos pela igreja para distribuir as esmolas


53
e cuidar dos pobres, como procuradores seusî. Analisando Atos 6, Calvino
diz na primeira ediÁ„o da InstituiÁ„o (1536): ìVede aqui o ministÈrio dos di·conos:
cui- dar dos pobres e ajudar-lhes. Daqui lhes vem o nome; e por isso s„o tidos
54
como ministrosî. O Art. 53 e alÌneas da CI/IPB., apresenta uma definiÁ„o que se-
gue a mesma linha bÌblica de Calvino; porÈm, amplia mais a sua funÁ„o, adaptando-
a ‡s necessidades da Igreja no Brasil.

3. Requisitos para o OfÌcio de Di·cono:

Devemos observar que os requisitos para o diaconato e para o presbiterato


s„o, em geral, exigÍncias comuns aos membros da Igreja. No entanto, devemos
estar a- tentos para o fato de que ìtodos esses requisitos s„o muito mais importantes e
exigidos num grau muito mais elevado daqueles a quem se confiou a inspe- Á„o e
supervis„o espirituais da igreja. Assim como ocupam lugar de maior honra e autoridade
que o dos outros membros da igreja, detÍm do mesmo
55
modo uma posiÁ„o de muito maior responsabilidadeî.

3.1. SER VOCACIONADO:

Na Igreja de Cristo ninguÈm tem autonomia para se autonomear.


Pastor, PresbÌteros e Di·conos, todos, sem exceÁ„o, precisam ser vocacionados
por Deus para estes ofÌcios (Hb 5.4). ìAs ˙nicas pessoas que tÍm o direito de ser
ouvidas s„o aquelas a quem Deus enviou e que falam a palavra de Sua boca. Por- tanto,
para qualquer homem exercer autoridade, duas coisas s„o requeri- das: o chamamento
[divino] e o desempenho fiel do ofÌcio por parte daque-
56
le que foi chamadoî.

A CI/IPB., Art 108, prescreve isto, com uma perfeita compreens„o bÌblica:

ìVocaÁ„o para ofÌcio na Igreja È a chamada de Deus, pelo EspÌrito San- to, mediante o
testemunho interno de uma boa consciÍncia e a aprova- Á„o do povo de Deus, por
intermÈdio de um concÌlioî. (Vd. tambÈm, Art 109 e ßß).

mirnenses, 8.1; ¿ Policarpo, 6.1; Irineu, Contra as Heresias, V.36.1; EusÈbio de CesarÈia, HistÛria
Eclesi·stica, III.39.3-5,7; VI.19.19; 43.2; 43.11; VII.28.1; 30.2.12.
53
J. Calvino, InstituciÛn, IV.3.9.
54 Jo„o Calvino, InstituciÛn de la Religion Cristiana, (1536), V.5. Vd. tambÈm, As Institutas, IV.3.9.
55 Samuel Miller, O PresbÌtero Regente: Natureza, Deveres e QualificaÁıes, p. 38.
56 Jo„o Calvino, ExposiÁ„o de 2 CorÌntios, S„o Paulo: Paracletos, 1995, (2Co 1.1), p. 15.
Calvino (1509-1564) comenta:

ìO que torna v·lido um ofÌcio È a vocaÁ„o, de modo que ninguÈm po- de exercÍ-lo
correta ou legitimamente sem antes ser eleito por Deus (...). Nenhuma forma de governo
deve ser estabelecida na Igreja segundo o juÌzo humano, sen„o que os homens devem
atender ‡ ordenaÁ„o divina; e, ainda mais, que devemos seguir um procedimento de
eleiÁ„o preesta- belecido, para que ninguÈm procure satisfazer seus prÛprios desejos.
(...) Segundo È a promessa de Deus de governar sua Igreja, assim ele reserva para si o
direito exclusivo de prescrever a ordem e forma de sua adminis-
57
traÁ„oî.
ìA Deus pertence com exclusividade o governo de sua Igreja. Portanto, a vocaÁ„o n„o
58
pode ser legÌtima a menos que proceda deleî.

O serviÁo que prestamos a Deus deve ser visto n„o como uma fonte de lucro ou
projeÁ„o, mas como resultado de um chamado irrevog·vel de Deus. Paulo em seu
ministÈrio tinha esta consciÍncia, de ser apÛstolo pela vontade de Deus (Vd. Rm 1.1;
1Co 1.1; 2Co 1.1; Ef 1.1; Cl 1.1, etc.).

O di·cono deve ser eleito pela Igreja (At 6.5). A eleiÁ„o È uma evidÍncia de que
Deus vocacionou aquele irm„o para o respectivo ofÌcio. Por isso, a Igreja deve bus- car
a orientaÁ„o de Deus com fÈ e submiss„o, certa de que Deus tambÈm manifesta a
Sua vontade por intermÈdio da assemblÈia.

O ato da ordenaÁ„o confirma isso; os apÛstolos, orando, impuseram as m„os so-


59
bre os di·conos eleitos, processando assim esta solenidade. (At 6.6).

3.2. SER DISCÕPULO DE CRISTO: (AT 6.1,3)

Os di·conos seriam escolhidos pela Igreja, entre os seus membros, entre os


discÌpulos de Cristo. O diaconato n„o pode ser terceirizado.

Os di·conos servem a Igreja como, na realidade s„o, servos de Cristo. No


segun- do sÈculo, In·cio (30-110 AD), bispo de Antioquia da SÌria, em carta
60
endereÁada ‡ Igreja de Trales, diz: ì.... os que s„o di·conos dos mistÈrios de Jesus
Cristo a- gradem a todos em tudo. Pois n„o È de comidas e bebidas que s„o di·co- nos,
61
mas s„o servos da Igreja de Deusî.

57 J. Calvino, ExposiÁ„o de Hebreus, (Hb 5.4), p. 127-128.


58
Jo„o Calvino, G·latas, (Gl 1.1), p. 22.
59 Vd. CI/IPB., Art 109 e ßß
60 Cidade que distava uns 50 km de …feso.
61 In·cio, Carta aos Tralianos, 2. In: Cartas de Santo In·cio de Antioquia, PetrÛpolis, RJ.: Vozes, ©
1970, p. 58.
3.3. TER BOA REPUTA«,O: (AT 6.3)

O di·cono precisava ter o reconhecimento p˙blico de uma vida digna. (Vd.


comparativamente: At 10.22; 1Tm 5.10; Hb 11.2,4).

3.4. SER CHEIO DO ESPÕRITO SANTO: (AT 6.3)


62
Eles precisavam ser cheios do EspÌrito ñ como todo o crist„o, Ef 5.18 ñ,
para poderem, de modo especial, desempenhar as suas atividades dignamente,
demonstrando amor, alegria, paz, longanimidade, mansid„o... que s„o subprodutos
do amor, que È o fruto do EspÌrito (Gl 5.22,23).

3.5. SER CHEIO DE SABEDORIA: (AT 6.3)

Esta sabedoria tem pouco ou nada a ver com conhecimento. Os


di·conos precisariam ter a sabedoria concedida pelo EspÌrito para saberem como
resolver os problemas que j· existiam e outros novos, que n„o tardariam a
aparecer. (Tg 1.5,6).

3.6. SER RESPEIT¡VEL: (1TM 3.8)

Semno/j (honestidade, dignidade, gravidade). (* Fp 4.8; 1Tm 3.8,11; Tt 2.2).


O di·cono deve ter um procedimento sÈrio; digno de todo respeito e admiraÁ„o, co-
mo resultado da submiss„o a Deus dos seus sentimentos e pensamentos. A
palavra grega confere o sentido de graÁa, dignidade e honradez. A
respeitabilidade aqui exi-
63
gida combina de forma bela e harmoniosa a simplicidade com a nobre honradez.

In·cio (30-110 AD), na referida carta aos Tralianos, diz que todos dever„o ìres-
64
peitar os di·conos como a Jesus Cristoî. Em outro lugar, ordena: ìAcatem os
65 66
di·conos, como ‡ lei de Deusî. No DidaquÍ (c. 120 AD), lemos: ìElegei, en- t„o,
para vÛs mesmos bispos e di·conos dignos do Senhor, varıes mansos e n„o amantes de
dinheiro, verdadeiros e aprovados, porque tambÈm eles vos ministram os serviÁos dos
profetas e mestres. N„o os desprezeis, pois, porque s„o dignos de igual honra, como os
67
profetas e mestresî.

62 Vd. Hermisten M.P. Costa, Uma FamÌlia Cheia do EspÌrito Santo, S„o Paulo: 2001.
63 Ver: Richard C. Trench, Synonyms of the New Testament, 7™ ed. rev. enlar. London: Macmillan
and Co. 1871, ß xcii, p. 325-329; William Barclay, Palavras Chaves do Novo Testamento, S„o Paulo:
Vida Nova, 1988 (reimpress„o), p. 178-181.
64
In·cio, Carta aos Tralianos, 3. In: Cartas de Santo In·cio de Antioquia, p. 58.
65
In·cio, Carta aos Esmirnenses, 8. In: Cartas de Santo In·cio de Antioquia, p. 81.
66
Obra pretensamente escrita pelos ApÛstolos. Amplamente aceita, devido a sua pretens„o de ter si-
do redigida pelos apÛstolos, daÌ o seu nome completo: DidaquÍ: Ensino do Senhor AtravÈs dos Doze
ApÛstolos.
67 DidaquÍ, XV. In: J.G. Salvador, ed. O DidaquÍ, S„o Paulo: Imprensa Metodista, 1957, p. 76.
PresbÌteros e Di·conos: Servos de Deus no Corpo de Cristo ñ Rev. Hermisten ñ 12/05/08 ñ 15

3.7. TER UMA S” PALAVRA: (1TM 3.8)

A construÁ„o È negativa mh\ di/logoj, sÛ ocorrendo aqui. A idÈia È de que


n„o deve ter ìduas palavrasî.

A express„o pode ser entendida de trÍs formas n„o excludentes:

a) O di·cono n„o deve ser um difamador, levando e trazendo casos dos lares on-
de visita (n„o deve ser mexeriqueiro);
b) N„o deve ser alguÈm que pense uma coisa e diga outra;
c) N„o deve ser alguÈm que diz uma coisa para uma pessoa e algo diferente
para outra, falando conforme o interesse do seu interlocutor.

3.8. N,O DEVE SER INCLINADO A MUITO VINHO: (1TM 3.8)

Aqui devem ser observadas algumas questıes: a) A quest„o cultural; b)


A provis„o inadequada de ·gua; c) A atenuaÁ„o do vinho com ·gua. (Cf.
68
2Mac 15.39); d) Essa orientaÁ„o de Paulo indica o perigo da embriaguez, ao que
pare- ce, existente mesmo entre os crentes (1Co 11.21).

Sobre o di·cono pesava grande responsabilidade. Ele teria acesso aos lares, to-
maria conhecimento de problemas Ìntimos e, tambÈm teria de administrar os bens
da Igreja dedicados aos necessitados. Como confiar num bÍbado?

Notemos que Paulo n„o exige total abstinÍncia; ele fala de moderaÁ„o (1Tm 3.3;
Tt 1.7); todavia, cremos que a abstinÍncia seja recomend·vel (Rm 14.21/1Ts 5.22).

A bebedice È uma das caracterÌsticas do modo gentio de viver (1Pe 4.3) como o-
bra da carne (Gl 5.21).

3.9. ìN,O COBI«OSOS DE S”RDIDA GAN¬NCIAî: (1TM 3.8)


69 70
Mh\ ai)sxrokerdh/j Tt 1.7/1Pe 5.2. ìCobiÁoso de lucro vergonhosoî; isto
È, alguÈm que lucra desonestamente, adaptando, modificando o ensinamento aos
interesses de seus ouvintes a fim de ganhar dinheiro deles. TambÈm pode se
referir ao envolvimento em negÛcios escusos. O lucro em si n„o È pecaminoso;
contudo, ele pode se tornar vergonhoso se a sua obtenÁ„o passar a ser o nosso
objetivo pri- m·rio, em detrimento da glÛria de Deus. Pedro contrapıe este
sentimento ‡ boa vontade (proqu/moj * 1Pe 5.2), que denota um zelo e entusiasmo
devotado.

N„o nos esqueÁamos do princÌpio bÌblico expresso em alguns textos, tais como
68 Como bem sabemos, os livros de Macabeus n„o s„o ìcanÙnicosî; isto È, n„o fazem parte dos
66 Livros considerados inspirados por Deus. No entanto, eles tÍm um valor histÛrico-informativo,
nos a- judando a entender melhor aspectos da histÛria dos judeus no segundo sÈculo a.C.
69
Ai)sxro/j = indecoroso, torpe, indecente. * Tt 1.11 & ke/rdoj = lucro, ganho. ìN„o tenha sÛrdida co-
biÁa por lucroî. *1Tm 3.8; Tt 1.7.
70 A palavra usada por Pedro, sÛ ocorre aqui: ai)sxrokerdw=j, que significa ìlucro vergonhosoî, ìam-
biciosamenteî. Ela È da mesma raiz de ai)sxrokerdh/j.
PresbÌteros e Di·conos: Servos de Deus no Corpo de Cristo ñ Rev. Hermisten ñ 12/05/08 ñ 16

1Tm 6.10; Sl 62.10; Ec 5.10 e, do exemplo negativo j· existente no tempo do


apÛs- tolo (Tt 1.10,11/Mq 3.5,11).

3.10. DEVE CONSERVAR O MIST…RIO DA F… COM A CONSCI NCIA LIMPA:


(1TM 3.9)

Calvino faz uma par·frase: ìConservando pura a doutrina de nossa reli- gi„o, e
isso de todo o nosso coraÁ„o e com sincero temor a Deus, os homens que s„o ricamente
instruÌdos na fÈ n„o devem ser ignorantes de nada que seja necess·rio a um crist„o
71
conhecerî.

O di·cono deve conservar-se firme na revelaÁ„o graciosa de Deus (Rm 16.25,26):


Jesus Cristo, ìmanifestado em carneî (1Tm 3.16; Cl 4.3) ñ, com a consciÍncia pura,
sem contaminaÁ„o intelectual, moral e espiritual.

Apenas a conservaÁ„o do ìmistÈrio da fÈî geraria um conhecimento ·rido, infrutÌ-


fero e, por outro lado, apenas a ìconsciÍncia limpaî, acarretaria uma superficialidade
doutrin·ria. ì[Paulo] quer que os di·conos sejam bem instruÌdos no ëmistÈrio da fÈí,
porque, embora n„o desempenhem o ofÌcio docente, seria completo absurdo que exercessem
um ofÌcio p˙blico na Igreja e fossem completamen- te ignorantes na fÈ crist„, especialmente
porque mui ami˙de ministram con- selhos e conforto a outros, caso n„o queiram
negligenciar seus deveres. Ele adiciona ainda: numa consciÍncia Ìntegra, a qual se estende
por toda a sua vida, mas tem especial referÍncia ao seu conhecimento de como servir a
72
Deusî.

3.11. SEJAM PRIMEIRAMENTE EXPERIMENTADOS: (1TM 3.10)

Dokima/zw = Provar, examinar, experimentar. Esta palavra que era aplica-


da para se referir ao teste dos metais preciosos para avaliar a sua qualidade,
ressal- ta o aspecto positivo de ìprovarî para ìaprovarî, indicando a genuinidade do
que foi testado (2Co 8.8; 1Ts 2.4).

Calvino (1509-1564) comenta:

ìNuma palavra, a designaÁ„o de di·conos n„o deve consistir de esco- lha


precipitada e fortuita de alguÈm que se encontra ‡ m„o, sen„o que a escolha deve ter
por base homens que se recomendem por sua anterior maneira de viver, de tal forma
que, depois de serem submetidos a um in- terrogatÛrio, sejam investigados
profundamente antes que sejam declara-
73
dos aptosî.

A conduta do di·cono deve ser t„o boa que ninguÈm tenha do que o acusar; seja

71 Jo„o Calvino, As Pastorais, (1Tm 3.9), p. 93.


72 Jo„o Calvino, As Pastorais, (1Tm 3.9), p. 93.
73 Jo„o Calvino, As Pastorais, (1Tm 3.10), p. 94.
74
irrepreensÌvel (a)ne/gklhtoj) (1Tm 3.10). Este reconhecimento deve ser por parte
da Igreja e tambÈm dos ìde foraî (Vd. 1Tm 3.7).

3.12. SEJA MARIDO DE UMA S” MULHER: (1TM 3.12)

Aqui n„o se estabelece uma regra dizendo que os di·conos devem ser ca-
sados; o que se diz È que eles, sendo casados, devem ser ìmaridos de uma sÛ
mu- lherî. Outra quest„o: Ent„o quer dizer que na Igreja Primitiva era possÌvel
haver um homem casado com duas mulheres?!

Lembremo-nos de que a poligamia ainda que n„o fosse comum, era


praticada no primeiro sÈculo, inclusive entre os judeus. AlÈm do mais, n„o
devemos nos esquecer de que os pecados sexuais eram comuns entre os
judeus e gentios (Rm 1.27; 7.3; 1Co 5.1,8; 6.9-11; 7.2; Gl 5.19; 1Tm 4.3-8). O
que Paulo est· dizendo, È que tanto o bispo (= presbÌtero) (1Tm 3.2) como o
di·cono (1Tm 3.12) ìdeve ser um homem de moralidade inquestion·vel, que È
inteiramente fiel e leal ‡ uma ˙nica e sÛ esposa; que sendo casado, n„o entre ‡ maneira
dos pag„os, em uma rela-
75
Á„o imoral com outra mulherî.

3.13. QUE GOVERNE BEM SEUS FILHOS E SUA PR”PRIA CASA: (1TM
3.12/3.4-5)

A maneira do presbÌtero ou do di·cono governar a sua casa È um sintoma


da sua capacitaÁ„o ou n„o para exercer o seu ofÌcio.

O di·cono juntamente com sua famÌlia, deve se constituir num exemplo de vida
crist„.

4. Recompensas de uma Diaconia Fiel:

1. A honra concedida por Deus: Jo 12.26.

Jesus ensina que aqueles que O servem sinceramente, O seguindo, o Pai


mesmo o honrar·. Ainda que aqui n„o esteja falando especificamente do ofÌcio de
di·cono, a verdade È que estes, como todos aqueles que servem ao Senhor ñ a
pa- lavra no Original È a mesma (diakone/w) ñ, ainda que nem sempre tenham o
reco- nhecimento devido da parte dos homens, ser„o honrados por Deus.
Obviamente, n„o devemos encontrar no texto nenhuma desculpa para a nossa
falta de reconhe- cimento do serviÁo prestado pelos servos de Deus, antes, um
consolo para aqueles que n„o tÍm sido honrados devidamente por nÛs.

74
*1Co 1.8; Cl 1.22; Tt 1.6,7.
75
G. Hendriksen, 1 y 2 Timoteo/Tito, Grand Rapids, Michigan: SLC., 1979, p. 140. Vd. Wayne A.
Grudem, Teologia Sistem·tica, S„o Paulo: Vida Nova, 1999, p. 769.
2. A lembranÁa graciosa de Deus: Hb 6.10.

Esta recompensa complementa a anterior. Deus n„o se esquece dos Seus


ser- vos, nem dos seus serviÁos. Deus, mesmo parecendo, em algumas
circunst‚ncias, ter se esquecido de nÛs, na realidade, Ele nos acompanha sempre
com a Sua gra- Áa. E, Aquele que nos capacitou a fazer boas obras, por graÁa,
nos recompensar·.

3. O reconhecimento da Igreja: 1Tm 3.13.

Paulo diz que aqueles que desempenharem bem o diaconato ter„o o justo re-
conhecimento da Igreja. De fato, È justo que assim seja. Ainda que os di·conos n„o
trabalhem simplesmente para agradar a Igreja, visto que servem ao Senhor na
Igre- ja, È desej·vel que honremos esses servos de Deus que dedicam parte
quantitativa e qualitativamente importante de seu tempo no serviÁo de Deus em
nossa Igreja. O reconhecimento da Igreja È um atestado da sua vocaÁ„o e do
desempenho eficiente do diaconato.

Calvino comenta: ìAo expressar-se assim, ele realÁa qu„o proveitoso È para a Igreja
que esse ofÌcio seja desempenhado por homens criteriosamente es- colhidos, pois o santo
desempenho desses deveres granjeia estima e reve-
76
rÍnciaî.

4. Maior firmeza na fÈ: 1Tm 3.13.

Paulo tambÈm diz, que aqueles que desempenham bem o diaconato


alcanÁam ìmuita intrepidez (parrhsi/a) na fÈ em Cristoî (1Tm 3.13). A palavra
tem o sentido de destemor, franqueza, ousadia, confianÁa e sinceridade. O termo
indica aquele que fala com ousadia e francamente, exercendo com
responsabilidade publicamente a sua funÁ„o. Os di·conos no exercÌcio de seu
ofÌcio adquirem uma maior ousadia em sua fÈ, amparado na graÁa de Deus. Isso
se manifesta na sua justa confianÁa em aproximar-se de Deus em oraÁ„o (Ef
3.12; Hb 4.16; 10.19; 1Jo 5.14) e, ao mesmo tempo, na sua intrepidez para falar
livre, confiada e ousadamente de Cristo (At 2.29; 4.13,29,31; 9.27,28; 13.46; 14.3;
18.26; 19.8; 28.31; 2Co 3.12; Ef 6.19; 1Ts
2.2). Lembremo-nos, no entanto, que essa intrepidez È obra do EspÌrito Santo
(At 4.13,29,31/1Ts 2.2). Calvino, por sua vez, analisa a contrapartida dessa
fidelidade, dizendo: ìDa mesma forma, aqueles que tÍm fracassado em seus deveres
tÍm tambÈm sua boca fechada e suas m„os atadas, e s„o incapazes de fa- zer tudo
satisfatoriamente, de modo a n„o ser possÌvel injetar-lhes qualquer
77
confianÁa, nem tampouco outorgar-lhes qualquer autoridadeî.

O di·cono, como n„o poderia deixar de ser, no fiel exercÌcio de seu ofÌcio,
amadu- rece em sua fÈ, tendo maior comunh„o com Deus e seguranÁa na
proclamaÁ„o do Evangelho. … praticamente impossÌvel desenvolver qualquer
trabalho da igreja de forma eficiente sem, ao mesmo tempo, amadurecer em nossa
fÈ.
76
Jo„o Calvino, As Pastorais, (1Tm 3.13), p. 95.
77
Jo„o Calvino, As Pastorais, (1Tm 3.13), p. 95.
2. O PRESBÕTERO:

IntroduÁ„o:

A) TERMINOLOGIA:

A palavra ìPresbÌteroî È uma transliteraÁ„o do grego Presbu/teroj que signifi-


ca ìmais velhoî (em relaÁ„o ao mais novo), ìanci„oî, indicando tambÈm um ofÌcio e-
78
clesi·stico. ìBispoî È a traduÁ„o da palavra grega e)pi/skopoj, passando pelo latim
(episcopus) que significa ìsupervisorî, ìguardi„oî, ìsuperintendenteî.

B) PRESBÕTERO NA LITERATURA CL¡SSICA:

Este voc·bulo, que j· era usado desde PÌndaro (c. 518- c. 445 a.C.),
79
parece ter passado por trÍs sentidos: ìmais velhoî, depois, o de ìmaior
import‚nciaî e, final- mente, o ìmais honradoî, n„o havendo nenhuma associaÁ„o
do ìmais velhoî como sendo, por exemplo, o ìmais fracoî. A idÈia presente È de
80
honra e respeito, daÌ o conceito de ìtomar o primeiro lugarî; e, aquilo que,
81
comparativamente, È mais im- portante ou ìimperativoî.

Partindo daÌ, concebe-se a idÈia de alguÈm que assume determinadas funÁıes o-


ficiais, como ìembaixadorî e comandante de um exÈrcito, estando, portanto, a
idÈia embutida de alguÈm que ìsustentaî, ìcuida deî e ìpreocupa-se comî os que
est„o sob a sua guarda; ou, ainda que n„o oficialmente constituÌdo, um
ìconselheiroî.

1) NO ANTIGO TESTAMENTO:

O Antigo Testamento emprega a palavra no sentido literal, de ìmais velhoî


(Gn 18.11; 19.4; 43.33; 1Sm 2.22; Sl 71.18; Is 20.4) e, tambÈm, referindo-se aos
ìanci„os do povoî e ìanci„os de Israelî ñ que algumas vezes representavam concÌ-
lios locais ñ, os quais tiveram grande relev‚ncia na vida de Israel, participando inclu-
sive da administraÁ„o p˙blica (Vd. Ex 3.16; 4.29; 12.21; Dt 16.18; 21.2ss; 22.15; Js
20.4; Rt 4.2; 1Sm 4.3; 8.4; 30.26; Ed 5.9ss; 6.7; 10.14; Jr 29.1; Ez 14.1; 20.1). Note-
mos tambÈm, que este costume n„o era exclusivo de Israel; outros povos
tambÈm tinham seus ìanci„osî [Gn 50.7 [ARA: ìprincipaisî (2 vezes) LXX:
presbu/teroi; Nm 22.7].

78
*At 20.28; Fp 1.1; 1Tm 3.2; Tt 1.7; 1Pe 2.25.
79
Plat„o, Defesa de SÛcrates, S„o Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, Vol. II), 1972, 31b. p. 22.
80
Vd. Guenter Bornkamm, PresbÌtero: In: G. Kittel, ed. A Igreja do Novo Testamento, S„o Paulo: AS-
TE, 1965, p. 219.
81 Vd. HerÛdoto, HistÛria, Rio de Janeiro: Editora Tecnoprint, (s.d.), V.63. p. 444; TucÌdides, HistÛria
da Guerra do Peloponeso, BrasÌlia: Editora da Universidade de BrasÌlia, 1982, IV.61. p. 208; Plat„o, O
Banquete, S„o Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, Vol. III), 1972, 218d, p. 55.
PresbÌteros e Di·conos: Servos de Deus no Corpo de Cristo ñ Rev. Hermisten ñ 12/05/08 ñ 20

Posteriormente, no perÌodo interbÌblico, conforme podemos ver os reflexos


ainda no Novo Testamento, o ìanci„oî era o membro do SinÈdrio que, segundo
compreen- s„o corrente, tinha suas origens ligadas aos setenta anci„os escolhidos
por MoisÈs (Nm 11.16ss).

O ìPresbÌteroî era certamente o ìmais velhoî em contraste com o ìjovemî. Quanto


‡ idade para ser considerado presbÌtero, n„o sabemos; tem sido sugerido entre 50 e
56 anos; no entanto, a comunidade de Qumran exigia a idade mÌnima de 30 anos
82
para exercer o ofÌcio de PresbÌtero. No Egito, documentos antigos indicam a exis-
83
tÍncia de presbÌtero de 45, 35 e 30 anos.

2) NO NOVO TESTAMENTO:

a) Conforme o uso corrente:

No Novo Testamento encontramos a associaÁ„o dos ìanci„osî como


a- queles que perseguiram a Jesus e aos apÛstolos (Mt 16.21; 27.1; At 6.12).
TambÈm s„o relacionados ‡s tradiÁıes recebidas dos rabinos, que eram
84
consideradas no mesmo nÌvel da Palavra de Deus: ìtradiÁ„o dos anci„osî (Mt
15.2; Mc 7.3,5).

O Novo Testamento emprega o termo ñ como j· era habitual ñ, referindo-se


ao mais velho em relaÁ„o ao mais moÁo (Lc 15.25/1Tm 5.1; 1Pe 5.5); ‡ geraÁ„o
mais velha em contraste com a mais nova (At 2.17) e, tambÈm, aos nossos
ancestrais (Hb 11.2).

Entre os judeus, atÈ o ano 70 AD ñ quando o Templo de JerusalÈm foi destruÌdo ñ


85
, os oficiais da sinagoga de JerusalÈm eram denominados de ìPresbÌterosî.

b) Na Incipiente Igreja:

A palavra aparece 66 vezes no Novo Testamento. A primeira vez que


o- corre referindo-se ‡ Igreja È em At 11.30, indicando a lideranÁa destes
irm„os. Os presbÌteros participam com os apÛstolos das decisıes conciliares
de JerusalÈm (At 15.2,4,22,23; 16.4); Paulo d· as ˙ltimas orientaÁıes aos
presbÌteros de …feso (At 20.17); os presbÌteros de JerusalÈm re˙nem-se com
Tiago, Paulo e Lucas (At 21.18).

1. O OfÌcio de PresbÌtero:

82 Vd. Ed. Glasscock, The Biblical Concept of Elder: In: Bibliotheca Sacra, Dallas: Dallas Theological
Seminary, jan/mar., 1987, p. 67.
83 Vd. Guenter Bornkamm, PresbÌtero: In: G. Kittel, ed. A Igreja do Novo Testamento, p. 221.
84 Ver: William Hendriksen, Mateus, S„o Paulo: Cultura Crist„, 2001, Vol. 2, (Mt 15-1-2), p. 150-
85
151. Cf. Presbu/teroj: In: William F. Arndt & F.W. Gingrich, A Greek-English Lexicon of the New
Tes- tament and Other Eearly Christian Literature, 2™ ed. Chicago: University Press, 1979, p. 706b.
N„o sabemos precisar quando surgiu o ofÌcio de PresbÌtero. Contudo, conforme
acentua Bavinck (1854-1921), ìquando nÛs nos lembramos que entre os judeus o
governo do anci„o, seja na vida cÌvica ou nas sinagogas, era uma pr·tica comum, n„o
devemos nos surpreender com o fato de que dentre os outros membros da igreja alguns
tenham sido escolhidos para assumir a responsabi-
86
lidade pela supervis„o e disciplinaî.

Como vimos, em At 11.30 j· registra a sua existÍncia nas Igrejas da JudÈia. Pou-
co antes do ano 50 AD. encontramos Paulo promovendo nas Igrejas da
Gal·cia, a eleiÁ„o de PresbÌteros; È relevante aqui o plural (At 14.23). Em 1
87
CorÌntios 12.28, e- les aparecem sob o nome de ìgovernosî, provavelmente,
88
referindo-se ‡queles que presidem (Rm 12.8/1Ts 5.12), que seguram bem o
89
leme da igreja mantendo-a na direÁ„o certa. Por volta do ano 62 AD. os
encontramos na Igreja de Filipos junta- mente com os di·conos, parecendo
indicar algo comum na estrutura da Igreja (Fp 1.1). Pouco mais tarde, lemos
Paulo orientando Tito a promover a eleiÁ„o de presbÌ- teros (Tt 1.5). A EpÌstola de
Tiago, escrita a diversas igrejas, aponta para a estrutura comum de v·rios
presbÌteros em cada igreja (Tg 1.1/5.14/1Pe 5.1-2). O Novo Tes- tamento nos
indica que as Igrejas eram governadas por presbÌteros, n„o apenas por um (At
14.23/Tt 1.5).
86
Herman Bavinck, Our Reasonable Faith, 4™ ed. Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1984,
p. 536.
87
Ver: Jo„o Calvino, ExposiÁ„o de 1 CorÌntios, S„o Paulo: Paracletos, 1996, (1Co 12.28), p.
391;
Herman Bavinck, Our Reasonable Faith, p. 536-537; Simon Kistemaker, 1 CorÌntios, S„o Paulo: Edi-
tora Cultura Crist„, 2004, (1Co 12.28), p. 615-616; Samuel Miller, O PresbÌtero Regente: Natureza,
Deveres e QualificaÁıes, S„o Paulo: Os Puritanos, 2001, p. 13.
88 Cf. Jo„o Calvino, ExposiÁ„o de Romanos, S„o Paulo: Paracletos, 1997, (Rm 12.8), p. 433-434.
[Vejam-se tambÈm: Charles Hodge, Commentary on the Epistle to the Romans, Grand Rapids,
Michi- gan: Eerdmans, 1994 (Reprinted), p. 392-393; William Hendriksen, Romanos, S„o Paulo:
Editora Cul- tura Crist„, 2001, (Rm 12.6-8), p. 541-542; John Murray, Romanos, S„o JosÈ dos
Campos, SP.: Edi- tora Fiel, 2003, (Rm 12.3-8), p. 489]. Em outro lugar Calvino demonstra a
amplitude do seu conceito sobre este assunto: ìO que Paulo demonstra claramente quando inclui os que
presidem entre os dons que Deus distribui diversamente aos homens e que devem ser empregados para a
edificaÁ„o da igreja. Conquanto na citada passagem o apÛstolo fale da assemblÈia dos anci„os ou
presbÌteros que eram ordenados na Igreja Primitiva para presidir ou administrar a disciplina p˙blica, ofÌcio
que na EpÌstola aos CorÌntios ele chama de governos, todavia, co- mo em nosso conceito o poder civil visa ao
mesmo fim, n„o h· nenhuma d˙vida de que ele nos recomenda que lhe atribuamos toda sorte de
preeminÍncia justaî [Jo„o Calvino, As Insti- tutas, (1541), III.16].
89 O substantivo usado em 1Co 12.28 para ìgovernarî, kube/rnhsij ñ do verbo kuberna/w (pilotar
um navio) (Usado desde Homero e HerÛdoto, porÈm ausente no NT) ñ tem o sentido figurado
de go- vernar, administrar, dirigir. Este sentido j· fora dado por Plat„o, aplicando a palavra ao
ìestadistaî (Fedro, 247c; Eutidemo, 291c) e ‡ arte de bem dirigir (governar) a ìnau do Estadoî
(Rep˙blica, 488a- b). Kubernh/thj (piloto) ocorre duas vezes no Novo Testamento (At 27.11; Ap
18.17) (LXX: Pv 23.34; Ez 27.8,27,28). O substantivo kube/rnhsij aparece trÍs vezes na LXX:
apresenta a idÈia de bem conduzir a nossa inteligÍncia no tomada de decisıes (Pv 1.5); s·bia
direÁ„o na conduÁ„o do povo (Pv 11.14) e, conduÁ„o prudente na execuÁ„o da guerra (Pv 24.6).
O verbo kuberna/w ocorre uma
˙nica vez na LXX com o sentido de pensamento justo e reto (Pv 12.5). (Vejam-se: Hermann W. Bey-
er, Kube/rnhsij: In: G. Kittel & G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament, Grand
Rapids, Michigan: Eerdmans, 1983 (Reprinted), Vol. III, p. 1035-1037; William F. Arndt & F.W. Gin-
grich, A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Eearly Christian Literature, p. 457; L.
Coenen, Bispo: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicion·rio Internacional de Teologia do Novo Tes-
tamento, S„o Paulo: Vida Nova, 1981-1983, Vol. I, p. 305; Simon Kistemaker, 1 CorÌntios, (1Co
12.28), p. 615-616.
O PresbÌtero È eleito pela Igreja, entre os crentes e com profundo senso de
90
reve- rÍncia (At 14.23). Calvino comenta que ìporque eles sabiam muito bem
que era coisa de suma import‚ncia, n„o se atreviam a intent·-la sen„o com
grande temor, considerando detidamente o que tinham em m„os. E cum- priam seu dever
91
principalmente pedindo a Deus que lhes desse espÌrito de conselho e discernimentoî.

No Livro de Atos, vemos que os PresbÌteros dirigiam a Igreja junto com os


92
apÛsto- los (At 15.2,4,6,22,23; 16.4), sendo inclusive as suas sugestıes
acatadas, como foi o caso particular de Paulo (At 21.18-26); competindo tambÈm
93
a eles ìalimentarî (poimai/nw = pastorear, cuidar, apascentar) o rebanho (At
20.28). PresbÌtero e Bispo descrevem o mesmo ofÌcio nas p·ginas do Novo
94
Testamento (At 20.17,28).
… o EspÌrito Quem constitui os Bispos, contudo, È natural que aqueles que s„o
voca- cionados por Deus se sintam chamados para este ofÌcio (1Tm 3.1). No
entanto, co- mo comenta Calvino, ì.... visto ser o mesmo um ofÌcio laborioso e
difÌcil; e os que o aspiram devem ponderar prudentemente se s„o capazes de suportar
95
uma responsabilidade t„o pesadaî.

Este ofÌcio È excelente (1Tm 3.1)(kalo/j = bom, ˙til). A palavra grega indica algo
90
A eleiÁ„o aqui descrita parece ter sido feita pelo levantar das m„os (Xeirotone/w = xei/r = ìm„oî &
tei/nw = ìestenderî), ainda que n„o necessariamente (* At 14.23; 2Co 8.19). Ali·s, este costume n„o
era estranho na Antig¸idade. A votaÁ„o era normalmente feita pelo ato de levantar as m„os; em Ate-
nas por aclamaÁ„o, ou por folhas de votantes ou pedras; em caso de desterro, o voto era secreto.
(Veja-se o enriquecedor artigo de Sir Ernest Barker, EleiÁıes no Mundo Antigo. In: DiÛgenes (Antolo-
gia), BrasÌlia, DF.: Editora Universidade de BrasÌlia, 1982, nÉ 2, p. 27-36).
A express„o usada por Paulo em Tt 1.5 recomendando a Tito que em cada cidade constituÌsse
presbÌteros, n„o indica o modo de escolha, mas, sim, a necessidade de, seguindo a pr·tica da Igreja,
ìconstituirî homens para este ofÌcio. O termo usado por Paulo (kaqi/sthmi) ocorre algumas vezes no
NT. com os seguintes sentidos: Mt 24:45,47; Lc 12:42,44 (confiar); Mt 25:21, 23/At 17.15 (colocar so-
bre, no sentido de responsabilidade); At 6:3 (encarregar); Rm 5.19 (2 vezes) (tornar-se, no sentido de
ser constituÌdo); Lc 12:14; At 7.10,27,35; Tt 1.5; Hb 5.1; Hb 5.1; 7.28; 8.3; Tg 4.4 (constituir); Tg 3.6
(situada, com o sentido de constituÌda); 2Pe 1.8.
91
Juan Calvino, InstituciÛn de la ReligiÛn Cristiana, Nueva ediciÛn revisada. Rijswijk (PaÌses Bajos):
FundaciÛn Editorial de Literatura Reformada, 1967, IV.3.12.
92
ìEm Atos 15 e 16.4 os apÛstolos e presbÌteros funcionam claramente como suprema ins-
t‚ncia judici·ria e inst‚ncia doutrinal normativa para toda a Igreja, e como tais tomam uma decis„o a respeito
das exigÍncias mÌnimas da Lei que devem ser impostas aos gentiosî (Guenter Bornkamm,
PresbÌtero: In: G. Kittel, ed. A Igreja do Novo Testamento, p. 237).
93
* Mt 2.6; Lc 17.7; Jo 21.16; At 20.28; 1Co 9.7; 1Pe 5.2; Jd 12; Ap 2.27; 7.17; 12.5; 19.15.
94
ìTenhamos em mente, portanto, que esta palavra [bispo] significa o mesmo que ministro, pastor ou
presbÌteroî [Jo„o Calvino, As Pastorais, S„o Paulo: Paracletos, 1998, (1Tm 3.1), p. 83]. Ver
tambÈm: Francis Turretin, Institutes of Elenctic Theology, Phillipsburg, New Jersey: P & R Publi-
shing, 1997, Vol. III, p. 201ss (apresenta ampla comprovaÁ„o histÛrica); Louis Berkhof, Teologia Sis-
tem·tica, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1990, p. 590; Morton Smith, Systematic
Theology, Greenville: Greenville Seminary Press, 1994, Vol. II, p. 572; R.C.H. Lenski,
Commentary on the New Testament, Peabody, Mass.: Hendrickson Publishers, 1998, Vol. 9,
(1Tm 3.1), p. 577.
95
Jo„o Calvino, As Pastorais, (1Tm 3.1), p. 81. Calvino acrescenta: ì.... os homens piedosos o de-
sejam [o presbiterato], n„o porque tenham alguma confianÁa em sua prÛpria iniciativa e vir- tude, mas porque
confiam no auxÌlio divino, o qual È a nossa suficiÍncia, no dizer de Paulo (2Co 3.5)î (Jo„o Calvino, As
Pastorais, (1Tm 3.1), p. 83).
que È essencialmente bom, formoso, gentil ñ a idÈia de beleza estÈtica est· classi-
camente presente nesta palavra ñ, ˙til e honroso. Portanto, quem se sente
chamado para o episcopado, deseja algo que È em si mesmo de grande beleza,
96
utilidade e honradez. Deve ser observado, contudo, que esta vocaÁ„o, como os
talentos em
geral, n„o visa auferir lucro ou benefÌcios pessoais, antes, como vimos, edificar a I-
greja. Deus Se digna em utilizar-se de Seus servos neste honroso serviÁo.

Entre os presbÌteros, h· aqueles que presidem e outros que, alÈm disso, se


dedi- cam ‡ pregaÁ„o e ao ensino; todos devem ser honrados com justiÁa (1Tm
5.17/1Pe 5.5). A esfera do trabalho do PresbÌtero n„o se limitava a estas
atividades, estando embutida tambÈm, a visita solid·ria aos enfermos (Tg
5.14).

Certamente devido a responsabilidade e honra do presbiterato, no caso de disci-


plina, esta deve ser exemplar, a comeÁar do processo em si (1Tm 5.19-20).

Para falar do cuidado com o rebanho, Pedro emprega duas palavras


antagÙnicas para estabelecer o contraste, dizendo que o pastorado deve ser
espontaneamente (e(kousi/wj = intencionalmente, deliberadamente. *1Pe 5.2; Hb
10.26), n„o por cons- trangimento (a)nagkastw=j = forÁadamente,
compulsoriamente. *1Pe 5.2), como se
97
fosse um fardo, algo aflitivo. Em outro contexto, Calvino comenta: ìO Senhor es-
pera que seus servos sejam solÌcitos e prazerosos em obedecÍ-lo, em de- monstrar
alegria, agindo sem qualquer hesitaÁ„o. Resumindo, Paulo quer di- zer que a ˙nica
maneira para se fazer justiÁa ‡ sua vocaÁ„o seria desempe-
98
nhando sua funÁ„o com um coraÁ„o volunt·rio e de forma solÌcitaî. Con-
tudo, isto n„o indica ausÍncia de responsabilidade, nem negligÍncia; pelo contr·rio,
nÛs, conscientes do nosso chamado, devemos aceitar com alegria o Ùnus do
99
nosso ofÌcio (Vd. 1Co 9.16,17; Jd 3), sem contudo querer exercer um domÌnio
senhorial
(katakurieu/w = subjugar *Mt 20.25; Mc 10.42; At 19.16; 1Pe 5.3) que seria preju-
dicial ‡ Igreja (1Pe 5.3), mas nos tornando modelo (tu/poj = padr„o)(1Pe
5.3/Fp 3.17; 1Ts 1.7; 2Ts 3.9; 1Tm 4.12; Tt 2.7). Devemos ter sempre consciÍncia
de que estamos servindo a Deus por meio do rebanho que pertence a Ele ñ
comprado com o Seu prÛprio sangue (At 20.28) ñ, e, foi Ele mesmo Quem nos
confiou (At 20.28;
1Pe 5.2-4). O nosso Supremo Pastor È Quem por Sua graÁa nos recompensar·
(1Pe
5.4).

2. Requisitos para o OfÌcio de ìPresbÌteroî:

96
ìPor demais freq¸entemente um cargo na Igreja È caracterizado pela crÌtica, pela obs- truÁ„o, pela
justiÁa prÛpria e pela presunÁ„o; deve ser caracterizado pelo encanto do ser- viÁo, do encorajamento, do
apoio e do amorî [William Barclay, Palavras Chaves do Novo Tes- tamento, S„o Paulo: Vida Nova,
1988 (reimpress„o), p. 111].
97
ìGrande prudÍncia È requerida daqueles que tÍm a incumbÍncia da seguranÁa de to-
dos; e grande diligÍncia, daqueles que tÍm o dever de manter vigil‚ncia, dia e noite, para a preservaÁ„o de
toda a comunidadeî [Jo„o Calvino, ExposiÁ„o de Romanos, (Rm 12.8), p. 434].
98
Jo„o Calvino, ExposiÁ„o de 1 CorÌntios, (1Co 9.17), p. 278.
99 Nestes textos, aparecem a palavra a)na/gkh que È da mesma raiz de a)nagkastw=j
2.1. NEGATIVAMENTE CONSIDERANDO:

Encontramos no Novo Testamento, especialmente em Paulo, as


caracterÌsti- cas que os PresbÌteros devem ter e, tambÈm, aquelas que n„o devem
fazer parte da sua vida. Comecemos pelas caracterÌsticas que devem estar
ausentes no seu car·- ter e distantes de seu comportamento.

1) N„o arrogante: (mh\ au)qa/dhj) Tt 1.7. Obstinado em sua prÛpria opini„o, tei-
moso, arrogante, pretensioso. Descreve o homem que se recusa a ouvir os outros,
mantendo-se irredutÌvel nas suas ìverdadesî que privilegiam os seus interesses,
em detrimento dos direitos, sentimentos e necessidades dos outros (*2Pe 2.10;
LXX: Pv
100
21.24). Ele, como seu mestre, se basta a si mesmo. Calvino (1509-1564)
comenta que os presbÌteros que agem deste modo, afastam as pessoas de si,
sendo eles
prÛprios cism·ticos, ìporque o companheirismo e a amizade n„o podem ser cultivados
quando cada um busca agradar-se a si mesmo e se recusa a ce- der ou a acomodar-se aos
outros. E de fato todos os au)qa/dhj (obstinados), quando se lhes divisa alguma
oportunidade, imediatamente se transformam
101
em cism·ticosî. … lament·vel constatar historicamente, que os cismas promovi-
dos dentro das igrejas ñ quer pela parte que supostamente permanece fiel, quer
pela parte que sai, julgando-se fiel ñ, s„o, em geral, iniciados pelos lÌderes locais.
Muitas vezes isso ocorre pela presunÁ„o de entender que a sua percepÁ„o È de
todo sufici- ente. N„o tarda acontecer de outros assim pensarem dentro deste novo
grupo por mim formado. O presbÌtero, de fato, n„o pode se arrogar como
propriet·rio ˙nico e absoluto da verdade.

2) N„o dado ao vinho: (mh\ ta/poinoj). *1Tm 3.3; Tt 1.7. A afirmativa indica al-
guÈm que se detÈm freq¸ente e continuamente com a bebida: bÍbado, viciado em
vinho. A orientaÁ„o de Paulo È para que o presbÌtero n„o seja assim. A embriaguez
traz consigo uma sÈrie de conseq¸Íncias danosas para a vida de qualquer pessoa,
ainda mais para aquelas que precisam de toda sensatez e firmeza para conduzir o
povo de Deus. ìBeber com excesso n„o È sÛ indecoroso num pastor, mas ge- ralmente
resulta em muitas coisas ainda piores, tais como rixas, atitudes nÈs-
102
cias, ausÍncia de castidade e outras que n„o carecem de menÁ„o.î Em outro
contexto, Calvino enfatiza: ì[Paulo] quer dizer, pois, que os beberrıes logo
perdem a modÈstia e n„o mais conseguem conter-se pelo pudor: que onde o vinho reina,
o desregramento prevalecer·: e, conseq¸entemente, que to- dos aqueles que cultivam algum
103
respeito pela moderaÁ„o ou decÍncia, de- vem fugir e abominar a bebedice.î

3) N„o violento: (mh\ plh/kthj). *1Tm 3.3; Tt 1.7. ìN„o dado ‡ violÍnciaî,
ìbri- guentoî, ìespancadorî. A palavra pode ser literal: ìn„o pronto a bater em
seu opo- nenteî.

100 Ver: Richard C. Trench, Synonyms of the New Testament, 7™ ed. London: Macmillan and Co.
1871, ß xciii, p. 329-332.
101 Jo„o Calvino, As Pastorais, (Tt 1.7), p. 312.
102 Jo„o Calvino, As Pastorais, (1Tm 3.3), p. 88.
103 Jo„o Calvino, EfÈsios, (Ef 5.18), p. 164.
PresbÌteros e Di·conos: Servos de Deus no Corpo de Cristo ñ Rev. Hermisten ñ 12/05/08 ñ 25
104
4) N„o irascÌvel: (mh\ o)rgi/lon). *Tt 1.7. Inclinado ‡ ira, de temperamento
ìquenteî e ìexplosivoî. Esta palavra indica algo habitual. O presbÌtero n„o deve ser
ìfamosoî pela sua disposiÁ„o ‡ ira; esta predisposiÁ„o tende a aumentar o problema
ao invÈs de contribuir para resolvÍ-lo. Quando vamos tratar com pessoas assim, a
possÌvel ang˙stia da reuni„o, justamente por sua densidade, È antecipada e
agrava- da em muito, justamente pela perspectiva de que a ìcoisa vai esquentarî.

5) Inimigo de contendas: (a)/maxoj) 1Tm 3.3. ìN„o lutadorî, ìn„o contenciosoî,


ìn„o altercadorî. (*Tt 3.2). O presbÌtero n„o deve briguento, mas sim, pacÌfico. O
tex- to n„o quer sugerir uma atitude de passividade pecaminosa que se acovarda
diante dos desafios prÛprios de seu ofÌcio; antes, ele combate ‡queles que amam
a con- tenda pelo simples fato de contender. … curioso que a palavra que
descreve a atitu- de que Paulo combate, sempre È empregada negativamente no
Novo Testamento, tanto o substantivo (ma/xomai = lutar, contender, brigar,
disputar. *2Co 7.5; 2Tm
2.23; Tt 3.9; Tg 4.1) como o verbo (ma/xh = batalha, luta , briga, contenda, disputa. *
Jo 6.52; At 7.26; 2Tm 2.24; Tg 4.2).

6) N„o avarento: (a)fila/rguroj) 1Tm 3.3. N„o amante do dinheiro (*Hb 13.5). O
amor ao dinheiro (avareza) torna o homem egoÌsta e tremendamente
suscetÌvel a manipulaÁıes, cabalas e interesses pessoais; subordinando as
necessidades da i- greja ‡s suas aspiraÁıes pecaminosas. O desejo
incontrolado de possuir torna o homem possuÌdo pelo seu desejo e, sob esse
domÌnio, passa a dirigir todas as coi- sas sob esta perspectiva, alienando-se de
Deus e do seu prÛximo, olhando a reali- dade apenas sob o prisma de cifras e
lucros. DaÌ Paulo dizer que ìo amor do dinhei- ro (filarguri/a) È raiz de todos os
malesî (1Tm 6.10).

Curiosamente, Plat„o (427-347 a.C.), com discernimento correto, entendia que


um dos males de sua Època era a corros„o da religi„o praticada por supostos
sacer- dotes e profetas ñ que ele chama de mendigos e adivinhos ñ, os quais
exploravam a credulidade das pessoas, especialmente das ricas. Dentro do
quadro descrito, uma das fÛrmulas usadas por esses lÌderes religiosos, era fazer
as pessoas crerem que poderiam mudar a vontade dos deuses mediante a oferta
de sacrifÌcios ou, por in- termÈdio de determinados encantamentos; os deuses
seriam, portanto, limitados e aÈticos, sem padr„o de moral, sendo guiados pelas
seduÁıes humanas:

ìMendigos e adivinhos v„o ‡s portas dos ricos tentar persuadi-los de que tÍm o
poder, outorgado pelos deuses devido a sacrifÌcios e encanta- mentos, de curar por meio
de prazeres e festas, com sacrifÌcios, qualquer crime cometido pelo prÛprio ou pelos
seus antepassados, e, por outro la- do, se se quiser fazer mal a um inimigo, mediante
pequena despesa, pre- judicar„o com igual facilidade justo e injusto, persuadindo os
deuses a se- rem seus servidores ñ dizem eles ñ graÁas a tais ou quais inovaÁıes e feiti-
Áarias. Para todas estas pretensıes, invocam os deuses como testemu- nhas, uns
sobre o vÌcio, garantindo facilidades (...). Outros, para mostrar como os deuses s„o
influenciados pelos homens, invocam o testemunho de Homero, pois tambÈm ele
disse: ëFlexÌveis atÈ os deuses o s„o. Com as suas preces, por meio de sacrifÌcios,
votos aprazÌveis, libaÁıes, gordura de
104
Vd. Pv 21.19; 22.24; 29.22.
vÌtimas, os homens tornam-nos propÌcios, quando algum saiu do seu cami- nho e errouí
105
(IlÌada IX.497-501)î.

Paulo mostra que È possÌvel forjar uma aparente piedade ñ conforme os falsos
mestres que, privados da verdade, o faziam pensando em obter lucro (1Tm 6.5) ñ;
contudo, esta carece de poder e da alegria resultantes da convicÁ„o de que Deus
supre as nossas necessidades. Logo, esses falsos mestres n„o conhecem o ìlucroî
da piedade: ìDe fato, grande fonte
106 de lucro (porismo/j) È a piedade (e)use/beia) com
o contentamento ( = ìsuficiÍnciaî, ìsatisfaÁ„oî). Porque nada temos
au)ta/rkeia
trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele. Tendo sustento e com
que nos vestir, estejamos contentesî (1Tm 6.6-8/2Tm 3.5).

Em outro contexto, porÈm perfeitamente aplic·vel aqui, Calvino nos adverte


quan- to ao perigo de transformarmos o nosso trabalho em objeto de avareza
justamente pela falta de fÈ na provis„o do Senhor: ìO que nos torna mais avarentos do
que deverÌamos em relaÁ„o ao nosso dinheiro È o fato de sermos t„o precavidos e
enxergarmos t„o longe quanto possÌvel os supostos perigos que nos podem sobrevir, e
assim nos tornamos demasiadamente cautelosos e ansiosos, e passamos a trabalhar t„o
freneticamente como se devÍssemos suprir de vez as necessidades de todo o curso de
nossa vida, e afigura-se-nos como gran- de perda quando uma mÌnima parcela nos È
tirada. Mas aquele que de- pende da bÍnÁ„o do Senhor tem o seu espÌrito livre dessas
preocupaÁıes ri- dÌculas, enquanto que, ao mesmo tempo, tem suas m„os livres para a
pr·ti-
107
ca da beneficÍnciaî.

108
7) N„o cobiÁoso de torpe gan‚ncia: (mh\ ai)sxrokerdh/j) Tt 1.7/1Pe 5.2.
(*1Tm 3.8). Conforme j· comentamos quando falamos dos di·conos: ìCobiÁoso
de lucro vergonhosoî; isto È, alguÈm que lucra desonestamente, adaptando,
modifican- do o ensinamento aos interesses de seus ouvintes a fim de ganhar
dinheiro deles. TambÈm pode se referir ao envolvimento em negÛcios escusos. A
torpe gan‚ncia È uma decorrÍncia natural da avareza. O lucro em si n„o È
pecaminoso; contudo, ele pode se tornar vergonhoso se a sua obtenÁ„o passar a
ser o nosso objetivo prim·- rio, em detrimento da glÛria de Deus. Pedro contrapıe
este sentimento ‡ boa vonta- de (proqu/mwj *1Pe 5.2), que denota um zelo e
entusiasmo devotado.

8) N„o ser neÛfito: (ne/ofutoj) *1Tm 3.6. O sentido literal È de ìrecÈm-plantadoî


(JÛ 14.9; Sl 128.3; 144.12; Is 5.7). A palavra era usada para as ·rvores recÈm
plan- tadas. No Novo Testamento tem o sentido figurado de ìnovo plantado na
Igreja de Cristoî, ìnovo convertidoî, ìneÛfitoî. A idÈia nos parece a mesma de 1Tm
3.10, quando fala que o di·cono deve ser ìprimeiramente experimentadoî. …
preciso matu- ridade para n„o se deixar levar pelo orgulho que È prÛprio de
Satan·s. … necess·rio que o presbÌtero antes de ser eleito, tenha demonstrado ao
longo dos anos a sua firmeza e temperanÁa; n„o devemos nos precipitar no
processo.
105
Plat„o, A Rep˙blica, 364c-e.
106
* 2Co 9.8; 1Tm 6.6.
107
Jo„o Calvino, ExposiÁ„o de 2 CorÌntios, S„o Paulo: Paracletos, 1995, (2Co 8.2), p. 167-168.
108
A palavra usada por Pedro, sÛ ocorre aqui: ai)sxrokerdw=j, que significa ìlucro vergonhosoî,
ìambiciosamenteî. Ela È da mesma raiz de ai)sxrokerdh/j
2.2. POSITIVAMENTE CONSIDERANDO:

1) IrrepreensÌvel (a)nepi/lhmptoj) 1Tm 3.2. ReputaÁ„o inatac·vel (*1Tm


5.7; 6.14). ìA doutrina ser· de pouca autoridade, a menos que sua forÁa e majestade
resplandeÁam na vida do bispo como o reflexo de um espelho. Por isso ele diz que o
109
mestre seja um padr„o ao qual os discÌpulos possam seguir.î

2) IrrepreensÌvel como despenseiro de Deus: (a)ne/gklhtoj) Tt 1.6,7. Irrepro-


ch·vel, irrepreensÌvel. Esta exigÍncia È para todos os crentes, tendo um sentido es-
catolÛgico (*1Co 1.8; Cl 1.22; 1Tm 3.10). No entanto, Paulo acrescenta a cl·usula,
110
ìcomo despenseiro (o(ikono/moj) de Deusî (Tt 1.7). A palavra traduzida por ´des-
penseiroª, tinha o sentido de ´mordomoª (Lc 12.42); ´administradorª (Lc 16.1); ´te-
soureiroª (Rm 16.23) e ´curadorª (Gl 4.2).

FaÁamos uma pequena digress„o para analisar alguns aspectos da palavra


ìdes- penseiroî. A graÁa de Deus È responsabilizadora. Paulo trabalha com esse
princÌpio para demonstrar a loucura da arrog‚ncia de determinados mestres
corÌntios. Nos capÌtulos 1 e 3 da Primeira Carta aos CorÌntios, Paulo indica o
partidarismo existente na Igreja insuflado por falsos mestres. Agora, ele utiliza
essa palavra para descrever o seu ministÈrio, mostrando que pode ser aplicada ao
trabalho de todos os que ser- vem ao Senhor. Diz ele: somos despenseiros de
Deus (1Co 4.1-2).

A palavra empregada por Paulo (oi)kono/moj) fora empregada por Cristopara se


referir ao ´mordomo fielª ()(Lc 12.42). Em outra par·bola, o
contraste È estabelecido por meio da referÍncia que Cristo fez ao ´administrador in-
fielª ()(Lc 16.8), que tem o sentido de ´injustoª, ´inÌ-
111
quoª, ´perversoª.

O ´despenseiroª era em geral um escravo colocado ‡ frente dos negÛcios do


seu senhor (mordomo, gerente das terras, cozinheiros chefe, contador, etc). Deste
modo, o senhor ficava livre de maiores encargos administrativos. Por sua vez, o
mordomo usufruÌa de consider·vel autoridade no gerenciamento do que lhe fora
confiado. No entanto, apesar de toda a sua relev‚ncia para o dia-a-dia do seu
senhor, a verdade È que o despenseiro n„o passava de um escravo. ´Em relaÁ„o ao
seu senhor, ele
112
era um escravo; em relaÁ„o aos escravos, era um superintendenteª.

Para este ofÌcio, alÈm da competÍncia, um ingrediente fundamental era a honesti-


dade; daÌ Paulo falar que ´o que se requer dos despenseiros (oi)kono/moj) È que ca-
da um deles seja encontrado fiel ()ª (1Co 4.2).

Como vimos, Paulo aplica a express„o ´despenseiroª aos presbÌteros, dizendo


109
Jo„o Calvino, As Pastorais, (Tt 2.7), p. 331.
110
o(ikono/moj *Lc 12.42; 16.1,3,8; Rm 16.23; 1Co 4.1,2; Gl 4.2; Tt 1.7; 1Pe 4.10.
111
a)diki/a (Lc 13.27; 18.6; Rm 1.18,29, etc)
112
Canon Leon Morris, 1 CorÌntios: introduÁ„o e coment·rio, S„o Paulo: Vida Nova/Mundo Crist„o,
1981, (1Co 4.1), p. 59.
que o bispo deve ser ´irrepreensÌvel como despenseiro (oi)kono/moj) de Deusª (Tt
1.7). Do mesmo modo, Pedro falando ‡ Igreja em geral, diz que devemos servir
uns aos outros ´cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros
( da multiforme graÁa de Deusî (1Pe 4.10).

Portanto, o presbÌtero deve ser inatac·vel como administrador dos bens de Deus
que lhe foram confiados; ali·s, as caracterÌsticas fundamentais do mordomo (= ad-
ministrador, despenseiro, tesoureiro) s„o: fidelidade e prudÍncia (Lc 12.42; 1Co 4.1-
2; 1Pe 4.10).

3) Esposo de uma sÛ mulher: 1Tm 3.2; Tt 1.6. Conforme vimos quando


tratamos desta mesma prescriÁ„o feita aos di·conos, a poligamia era praticada entre
os orien- tais, inclusive entre os judeus (At 15.29; Rm 1.27; 7.3; 1Co 5.1,8; 6.9-11;
7.2; Gl 5.19; 1Tm 4.3-8). Paulo ent„o, proÌbe aos presbÌteros a pr·tica da
poligamia ìpor ser ela o estigma de um homem impudico que n„o observa a fidelidade
113
conjugalî.

Pensemos tambÈm em outra quest„o. Muitos dos que se converteram tinham


an- teriormente uma vida depravada, com v·rias mulheres e filhos com algumas
delas. Pois bem: suponhamos que um homem destes tenha sido convertido ao
Senhor. Agora, transformado pela graÁa de Deus vÍ que n„o pode continuar com o
seu mo- do anterior de vida. Como resolver a quest„o? Parece-nos simples no
sentido de que ele deve permanecer com a sua primeira esposa de fato. Mas, e
as outras mu- lheres e filhos? E aquelas que nem sequer sabiam que o seu
pretenso ìmaridoî era bÌgamo? Certamente ele teria que ajudar a cuidar de seus
filhos; no entanto, sem d˙vida a sua vida estaria para sempre marcada por este
estigma, ainda que sem d˙- vida, fosse perdoado por Deus. SÛ que tal homem
estaria impossibilitado para o dia- conato e o presbiterato. Ele seria um crente,
como todos os outros, alcanÁado pela graÁa de Deus, mas, n„o poderia exercer
estes ofÌcios. Devemos estar atentos tam- bÈm ao fato de que o critÈrio para a
escolha de presbÌteros e di·conos envolvia, ne- cessariamente, um exemplo de
vida tanto seu como de sua famÌlia.

4) Temperante: (nhfa/lioj) 1Tm 3.2. ìSÛbrioî, ìde mente limpaî, ìequilibradoî. A


palavra indicava na sua origem alguÈm que se abstinha do ·lcool ou que era
tempe- rante no uso do vinho; no entanto, aqui parece indicar um sentido mais
114
genÈrico. (*1Tm 3.2,11; Tt 2.2). Analisando a palavra nh/fw, (sÛbrio), de onde
provÈm nh-
fa/lioj, podemos ampliar a nossa compreens„o bÌblica. O presbÌtero deve ter uma
temperanÁa espiritual que o permita avaliar todas as coisas sem se deixar
influenciar simplesmente pela beleza ou agradabilidade do que foi dito. N„o deve
estar pronto a abraÁar novidades pelo simples fato de ser aparentemente nova,
antes deve ter cau- tela para avaliar todas as coisas. N„o deve se intoxicar
praticando uma glutonaria espiritual sem saber digerir o que est· sendo-lhe
transmitido. Deste modo, deve es- tar desperto, vigilante, para n„o ser iludido com
todo e qualquer ensinamento, tendo o seu entendimento ìcingidoî com a Palavra e
com a ìcouraÁa da fÈî, permanecendo vigilante contra as artimanhas de satan·s
que tenha induzir a igreja ao erro.

113
Jo„o Calvino, As Pastorais, (1Tm 3.2), p. 84.
114
Nh/fw: * 1Ts 5.6,8; 2Tm 4.5; 1Pe 1.13; 4.7; 5.8.
5) SÛbrio: (sw/frwn) 1Tm 3.2; Tt 1.8. ìAuto-controladoî, ìmoderadoî,
ìsensatoî, ìprudenteî, ìsolÌcitoî. (*Tt 2.2,5). Esta que era uma das virtudes
115
cardinais para a filo- sofia grega desde o 6w sÈculo a.C. Ela se contrapunha ‡
116
ignor‚ncia e ‡ frivolida- de. Em Plat„o (427-347 a.C.) temos uma
caracterizaÁ„o curiosa: ìA palavra temperanÁa [swfrosu/nh] È a salvadora
117
[swthri/a] da sabedoria [fro/nhsij]î. Em outro lugar, identificando esta
virtude como sendo divina, diz: ìAquele que È temperante ser· caro ao deus, j· que È
118
semelhante a ele.î

No entanto, o que nos interessa de fato, È o que nos ensinam as Escrituras. O


presbÌtero n„o deve ser dado ‡ frivolidade intelectual e moral, antes deve ser pru-
dente e sensato em sua forma de pensar e agir. … interessante observar que nas
ve- zes que Paulo emprega esta palavra, sempre a associa ‡ pessoas
maduras. ìO homem de mente dÈbil e infantil, apesar da sua fervorosa piedade, n„o se
119
ajusta jamais ‡ posiÁ„o de governante, conselheiro e guia eclesi·sticoî.

Como tratar de questıes t„o difÌceis na Igreja sem o bom senso necess·rio? Co-
mo confiar nas decisıes, orientaÁıes e governo de uma pessoa insensata e infantil
que age ao saber de suas inclinaÁıes impensadas?

6) Modesto: (ko/smioj) 1Tm 3.2. ìOrdeiroî, ìrespeit·velî, ìhonrosoî Aquele


que, como um reflexo do que È interiormente ñ tendo uma mente bem
organizada, n„o disparatada ñ, tem h·bitos ordeiros, cumpre ordeira, simples e
honestamente as su- as obrigaÁıes. (ARC.; ACR.: ìhonestoî). (*1Tm 2.9 ìataviarî).
Acrescentaria: aquele que cumpre as suas funÁıes sem maiores preocupaÁıes
at·vicas; faz com honesti- dade e discriÁ„o. Quando o presbÌtero cumpre
ordeiramente as suas atribuiÁıes, em geral, ele n„o aparece, n„o chama atenÁ„o
para si; as coisas funcionam bem, den- tro dos conformes: h· ordem e
modÈstia.

7) Hospitaleiro: (filo/cenoj) *1Tm 3.2; Tt 1.8; 1Pe 4.9). A palavra quer dizer ìa-
migo do estrangeiroî (fi/loj & ce/noj). A hospitalidade fazia parte do ensino de Je-
sus (Lc 10.34-35; 11.5-8) e, os discÌpulos em sua miss„o deveriam contar,
ainda que n„o essencialmente, com a hospitalidade das cidades e aldeias que
visitariam (Mt 10.11; Lc 10.5-9). O prÛprio Jesus usufruÌa da hospitalidade (Mc
1.29; 2.15). Vemos
que os mission·rios dependeram in˙meras vezes da acolhida de irm„os fiÈis, sendo
inclusive Gaio elogiado por Jo„o por tal pr·tica (At 10.6, 23; 16.15; 28.7; Rm
16.23/3Jo 1,5; Fm 22). A pr·tica da hospitalidade È recomendada a toda Igreja
(Rm 12.13; 1Tm 5.10; Hb 13.2; 1Pe 4.9).

Creio que podemos dar um sentido mais amplo ‡ palavra. Deixe-me contar
uma experiÍncia: Ontem, apÛs o culto em uma igreja de outra denominaÁ„o ñ j·
fazia uns
115
Cf. U. Luck, Sw/frw: In: G. Kittel & G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testa-
ment, Vol. VII, p. 1099.
116
Cf. S. Wibbing, DomÌnio PrÛprio: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicion·rio Internacional de Teo-
logia do Novo Testamento, Vol. I, p. 684.
117
Plat„o, GÛrgias, 44e: In: Plat„o, Teeteto-Cr·tilo, BelÈm: Universidade Federal do Par·, 1988, p.
139.
118 Plat„o, As Leis, Bauru, SP.: EDIPRO., 1999, IV.716d. p. 190.
119 Samuel Miller, O PresbÌtero Regente: Natureza, Deveres e QualificaÁıes, p. 41.
PresbÌteros e Di·conos: Servos de Deus no Corpo de Cristo ñ Rev. Hermisten ñ 12/05/08 ñ 30

6 meses que havia pregado ali ñ, uma senhora aproximou-se de mim e agradeceu
a exposiÁ„o bÌblica que fizera; sorri e lhe disse: ìore por mimî, ao que ela me
abraÁou e disse mais ou menos o seguinte: ìtenho feito isso desde a outra vez que
o senhor me pediuî. Esta senhora me hospedou em seu coraÁ„o. A hospitalidade
comeÁa pe- la recepÁ„o das pessoas em nossos coraÁıes. O presbÌtero deve
estar disposto a abrir a sua casa para o estrangeiro, mas, necessita tambÈm ter um
grande coraÁ„o para abrigar em sua atenÁ„o e oraÁ„o todos os membros da Igreja.

8) Apto para ensinar: (didaktiko/j) 1Tm 3.2/2Tm 2.24; Tt 1.9. ìH·bil para ensi-
narî, ìtenha did·ticaî. (*2Tm 2.24). N„o se exige do presbÌtero um profundo conhe-
cimento de teologia; no entanto, ele deve estar habilitado a sustentar as principais
120
doutrinas bÌblicas; tenha conhecimento da Palavra e seja h·bil para transmitir o
ensino visando ‡ edificaÁ„o do povo de Deus. ìN„o È suficiente que uma pessoa seja
eminente no conhecimento profundo, se n„o È acompanhada do ta- lento para ensinar.
H· muitos, seja por causa da pron˙ncia defeituosa, ou devido ‡ habilidade mental
insuficiente, ou porque n„o estejam suficiente- mente em contato com as pessoas
comuns, o fato È que guardam seu co-
121
nhecimento fechado em seu Ìntimoî. De passagem, pelo enunciado de Paulo
como critÈrio para o presbiterato, podemos observar a relev‚ncia da pregaÁ„o na e-
dificaÁ„o da igreja. O princÌpio de Paulo nos parece simples: se um membro da igre-
ja n„o tivesse evidenciado habilidade no manuseio da Palavra n„o estaria apto para
o presbiterato.

A igreja sempre necessitou de lÌderes que soubessem manusear bem as


Escritu- ras. Sabemos, contudo, que È Deus mesmo quem os chama e os
122
capacita. Os falsos mestres, privados da verdade, procuram desviar-nos da
verdade pervertendo os ensinamentos da Palavra. Paulo cita dois de seu tempo,
123
Himeneu e Fileto, que, seguindo ensinamentos gnÛsticos, com uma linguagem
corrosiva, eliminavam a es- peranÁa na ressurreiÁ„o futura, pervertendo a fÈ de
124
alguns: ìAlÈm disso, a lingua- gem deles corrÛi como c‚ncer (ȖȐ„„Ò·ÈÌ·); entre
os quais se incluem Himeneu e
Fileto. Estes se desviaram da verdade (a)lh/qeia), asseverando que a ressurreiÁ„o
j· se realizou, e est„o pervertendo a fÈ a algunsî (2Tm 2.17-18). Por causa dos
fal- sos mestres o caminho da verdade ser· infamado. Pedro, alertando a igreja
quanto aos falsos ensinamentos os quais deveriam ser verificados ‡ luz da
Palavra, de- monstra que assim como houve falsos profetas, surgiriam na
igreja, seus sucesso- res, uma vers„o atualizada: os falsos mestres que
introduziriam heresias, arrastando apÛs si muitos crentes: ìAssim como, no
meio do povo, surgiram falsos profetas
125
(yeudoprofh/thj), assim tambÈm haver· entre vÛs falsos mestres
(yeudodi- da/skaloj), os quais introduzir„o, dissimuladamente, heresias
destruidoras, atÈ ao
120
Ver: Samuel Miller, O PresbÌtero Regente: Natureza, Deveres e QualificaÁıes, p. 42-43.
121
Jo„o Calvino, Jo„o. As Pastorais, (1Tm 3.2), p. 87.
122 ìAltercaÁıes sem fim, por homens cuja mente È pervertida e privados da verdade (a)lh/qeia), su-
pondo que a piedade È fonte de lucroî (1Tm 6.5).
123 Paulo se referira a este como que alguÈm que naufragou na fÈ (1Tm 1.19-20).
124
Esta palavra sÛ ocorre aqui em todo o Novo Testamento. … deste termo que provÈm palavra gan-
grena.
125 Jesus Cristo j· nos alertara sobre eles. Vejam-se: Mt 7.15; 24.11,24; Lc 6.26. O apÛstolo Jo„o
fa-
PresbÌteros e Di·conos: Servos de Deus no Corpo de Cristo ñ Rev. Hermisten ñ 12/05/08 ñ 31
laria mais tarde de sua realidade presente (1Jo 4.1).
ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si
mesmos repentina destruiÁ„o. E muitos seguir„o as suas pr·ticas libertinas
(a)se/lgeia), e,
126
por causa deles, ser· infamado (blasfhme/w) o caminho da verdadeî (2Pe 2.1-
2). O presbÌtero como pastor do rebanho deve estar em condiÁıes de alimentar
o
seu rebanho com a Palavra e, tambÈm, saber combater aqueles que tentar„o
sedu- zir os fiÈis com ìpalavras fictÌcias (plasto/j)î (2Pe 2.3).

Contudo, o ponto b·sico da quest„o est· no conte˙do. Mas do que conhecer


teo- ricamente bem a Palavra, o que difere aquele que È ìapto para ensinarî
(didakti- ko/j) dos ìfalsos mestresî (yeudodida/skaloj) n„o È a tÈcnica de
ensino em si, mas o conte˙do do que È ensinado. O falso mestre È aquele que
ensina a mentira, o engano, com ìpalavras fictÌcias (plasto/j)î (2Pe 2.3), ou
seja: cria imagens que nada s„o para corromper seus ouvintes, conduzindo-os
a negar o prÛprio Senhor Jesus Cristo e, tambÈm, a viverem libertinamente
(a)se/lgeia), ou seja, de modo
127
dissoluto e lascivo. Por causa disso, o caminho do Evangelho seria caluniado,
reprovado, ìblasfemadoî. A mensagem desses falsos mestres consiste numa cor-
rupÁ„o do Evangelho. Plasto/j parece ter o sentido aqui de palavras artisticamente
elaboradas, moldadas, sugestivas, porÈm falsas, forjadas em seu prÛprio proveito,
e, que por isso mesmo est„o em oposiÁ„o ‡ verdade. Curiosamente esta È a
palavra
128
de onde vem a nossa ìpl·sticoî. O ensino crist„o envolve arte, mas n„o ìarte
pl·sticaî para com a verdade. Insistimos: o que distingue o verdadeiro do falso
ìmestreî È o conte˙do da mensagem. Na igreja sÛ È apto para ensinar aquele que
ensina a verdade. Esta ìaptid„oí est· associada ao conhecimento das Escrituras e ‡
pr·tica das demais exigÍncias enumeradas por Paulo.

Fazendo uma digress„o acentuamos que o biÛgrafo de Calvino, William


Wileman (Ü 1944), escreveu: ìComo expositor da Escritura, a Palavra de Deus era t„o
129
sagrada para ele como se a tivesse ouvido dos l·bios de seu Autorî.

Na introduÁ„o das Institutas (1541), referindo-se ‡s Escrituras e aos que a ensi-


nam, Calvino escreveu: ìPortanto, o ofÌcio dos que receberam mais ampla
126
ilumina- O verbo Blasfhme/w, que tem o sentido de ìinjuriarî, ìdifamarî, îinsultarî, ìcaluniarî,
ìmaldizerî,
ìfalar malî, ìfalar para danificarî, etc., È formado de duas palavras, Bla/yij derivada de Bla/ptw =
ìinjuriarî, ìprejudicarî (* Mc 16.18; Lc 4.35) e Fhmi/ = ìfalarî, ìafirmarî, ìanunciarî, ìcontarî, ìdar a en-
tenderî. A BlasfÍmia tem sempre uma conotaÁ„o negativa, de ìmaldizerî, ìcaluniarî, ìcausar m· repu-
taÁ„oî, etc., contrastando com Eu)fhmi/a (ìboa famaî * 2Co 6.8) e Eu)/fhmoj (ìboa famaî * Fp
4.8) (Eu)/ & fh/mh). No Fragmento 177 de DemÛcrito, lemos: ìNem a nobre palavra encobre a m· a-
Á„o, nem È a boa aÁ„o prejudicada pela m· palavra (Blasfhmi/a)î. Paulo diz que o mal tes- temunho
dos judeus contribuÌa para que os gentios blasfemassem o nome de Deus (Rm 2.24, citando Is
52.5). Compare este fato com a orientaÁ„o de Paulo, 1Tm 6.1; Tt 2.5.
A falsa doutrina propicia a pr·tica da blasfÍmia (1Tm 6.3,4), bem como os falsos mestres (2Pe 2.1-
2,10-12).
127
A) se/lgeia ocorre nos seguintes textos do Novo Testamento: Mt 7.22; Rm 13.23; 2Co
12.21; Gl
5.19; Ef 4.19; 1Pe 4.3; 2Pe 2.2,7,18; Jd 4.
128
A palavra grega plastiko/j È derivada do verbo pla/ssw, cujo advÈrbio utilizado por Pedro
È
plasto/j. A nossa palavra pl·stico vem do grego (plastiko/j) passando pelo latim
(plasticuj), sempre de forma transliterada, significando aquilo ìque tem propriedade de adquirir
determinadas formas sensÌveis, por efeito de uma aÁ„o exteriorî.
129
William Wileam, ìJohn Calvin. His Life, His Teaching & Influence,î John Calvin Collection, [CD-
ROM], (Albany, OR: Ages Software, 1998), p. 100.
Á„o de Deus que os outros consiste em dar aos simples o que lhes È
necess·rio neste assunto e em saber estender-lhes a m„o para os conduzir e os
ajudar a en- contrar a essÍncia do que Deus nos quer ensinar em Sua
Palavra. Ora, a melhor maneira de fazer isso È com as passagens que tratam dos
130
assuntos principais e, por conseguinte, as que est„o contidas na filosofia crist„î.

Os ministros devem ter consciÍncia da graÁa de Deus em seu ministÈrio; eles s„o
servos como os demais, tendo, contudo, uma tarefa especial: ìMinistros s„o aque-
les que colocam seus serviÁos ‡ disposiÁ„o de Cristo, para que alguÈm possa crer nele.
AlÈm do mais, eles n„o possuem nada propriamente seu do quÍ se orgulhar, visto que
tambÈm n„o realizam nada propriamente seu, e n„o possuem virtude para excelÍncia
alguma exceto pelo dom de Deus, e cada um segundo sua prÛpria medida; o que revela
que tudo quanto um indivÌ- duo venha a possuir, sua fonte se acha em outrem.
Finalmente, ele os man- tÈm todos juntos como por um vÌnculo comum, visto que
tinham necessida-
131
de do auxÌlio m˙tuoî.

O ensino da Palavra È um privilÈgio responsabilizador; consiste em partilhar


com o nosso prÛximo as riquezas que o EspÌrito tem nos concedido: ìQuando o
Senhor nos abenÁoa, tambÈm nos convida a seguirmos seu exemplo e a sermos ge- nerosos
para com o nosso prÛximo. As riquezas do EspÌrito n„o s„o para se- rem guardadas para
nÛs mesmos, mas sempre que alguÈm as recebe deve tambÈm pass·-las a outrem. Isto
deve ter uma aplicaÁ„o especial aos minis- tros da Palavra, mas tambÈm tem uma
aplicaÁ„o geral a todos os homens,
132
a cada um em sua prÛpria esferaî.

Mesmo a igreja tendo a oportunidade de ler as Escrituras individualmente, aos


presbÌteros compete a tarefa de ensinar a Palavra com sistematicidade,
simplicidade e profundidade, adequando o ensino ao nÌvel de seu p˙blico. Calvino
133
traduz a met·- fora usada por Paulo, ìmaneja bemî (o)rqotome/w) (2Tm 2.15) por
ìdividindo bemî,
130
Jo„o Calvino, As Institutas da Religi„o Crist„: ediÁ„o especial com notas para estudo e pesquisa,
S„o Paulo: Cultura Crist„, 2006, Vol. I, p. 33.
131
Jo„o Calvino, ExposiÁ„o de 1 CorÌntios, (1Co 3.5), p. 102-103. ìN„o lograremos progresso a
menos que o Senhor faÁa prÛspera a nossa obra, os nossos empenhos e a nossa perseve- ranÁa, de modo a
confiarmos ‡ sua graÁa a nÛs mesmos e tudo o que fazemosî [Jo„o Calvi- no, ExposiÁ„o de 1 CorÌntios,
(1Co 3.7), p. 106].
132
Jo„o Calvino, ExposiÁ„o de 2 CorÌntios, S„o Paulo: EdiÁıes Paracletos, 1995, (2Co 1.4), p. 17.
133
O verbo o)rqotome/w ñ ìcortar em linha retaî, ìendireitarî ñ, que sÛ ocorre neste texto, È formado
por o)rqo/j (ìdireitoî, ìretoî, ìcertoî, ìcorretoî) (* At 14.10; Hb 12.13) e te/mnw (ìcortarî), verbo que n„o
aparece no Novo Testamento. Na LXX o)rqotome/w È empregado em Pv 3.6 e 11.5 com o sentido de
endireitar o caminho. Analogias e aplicaÁıes variadas s„o possÌveis, tais como: a idÈia de lavrar a ter-
ra fazendo os sulcos em linha reta; construir uma estrada em linha reta a fim de que o viajante alcan-
ce com facilidade o seu objetivo sem se desviar por atalhos; o alfaiate que corta o tecido de forma
correta a fim de fazer a roupa (Paulo como fabricante de tendas estava acostumado a este serviÁo
no que se refere ao corte dos tecidos de pelo de cabra); o pedreiro que corta a pedra de forma
correta para o seu perfeito encaixe, etc. A partir de 2Tm 2.15 v·rias analogias s„o feitas, tais como: a
idÈia de conduzir a Palavra pelo caminho correto para atingir de modo eficaz seu objetivo, manuse·-
la bem, ministr·-la conforme o seu propÛsito, expÙ-la de maneira correta, ensinar correta e
diretamente a Palavra, etc. [Vejam-se, entre outros: Helmut Kˆster, o)rqotome/w: In: G. Friedrich &
Gerhard Kittel, eds. Theological Dictionary of the New Testament, 8™ ed. Grand Rapids, Michigan:
WM. B. Eerdmans
fazendo a seguinte aplicaÁ„o: ìPaulo (...) designa aos mestres o dever de gra- var ou
ministrar a Palavra, como um pai divide um p„o em pequenos peda- Áos para alimentar
seus filhos. Ele aconselha TimÛteo a ëdividir bemí, para n„o suceder que, como fazem os
homens inexperientes que, cortando a su- perfÌcie, deixam o miolo e a medula intactos.
Tomo, porÈm, o que est· ex- presso aqui como uma aplicaÁ„o geral e como uma
referÍncia ‡ judiciosa ministraÁ„o da Palavra, a qual È adaptada para o proveito daqueles
que a
134
ouvem. H· quem a mutile, h· quem a desmembre, h· quem a distorce,
h· quem a quebre em mil pedaÁos, e h· quem, como observei, se mantÈm na superfÌcie,
jamais penetrando o ‚mago da doutrina. Ele contrasta todos esses erros com a boa
ministraÁ„o, ou seja, um mÈtodo de exposiÁ„o ade- quado ‡ edificaÁ„o. Aqui est· uma
regra pela qual devemos julgar cada in-
135
terpretaÁ„o da Escrituraî.

Calvino acentuou a responsabilidade do PresbÌtero: Deus Se dignou em nos


con- sagrar a Si mesmo ìas bocas e lÌnguas dos homens, para que neles faÁa res- soar
136
Sua prÛpria voz.î. (Grifos meus). Portanto, os pastores n„o est„o a seu
prÛprio serviÁo, mas de Cristo; eles n„o buscam discÌpulos para si mesmos, mas
pa- ra Jesus Cristo: ìA fÈ n„o admite glorificaÁ„o sen„o exclusivamente em Cris- to.
Segue-se que aqueles que exaltam excessivamente a homens, os privam de sua genuÌna
grandeza. Pois a coisa mais importante de todas È que eles s„o ministros da fÈ, ou seja:
conquistam seguidores, sim, mas n„o para eles
137
mesmos, e, sim, para Cristoî.

Publishing Co., (reprinted) 1982, Vol. VIII, p. 111-112; Joseph H. Thayer, ìThayerís Greek-English
Lexicon of the NT,î The Master Christian Library, Verson 8.0 [CD-ROM], (Albany, OR: Ages Sofware,
2000, Vol. 2, p. 270; A. Barnes, ìNotes on the Bible,î The Master Christian Library, Verson 8.0 [CD-
ROM], (Albany, OR: Ages Sofware, 2000, Vol. 15, p. 795; Adam Clark, ìCommentary the New Testa-
ment,î Master Christian Library, Verson 8.0 [CD-ROM], (Albany, OR: Ages Sofware, 2000, Vol. 8, p.
222-223; R. Klˆber, Retid„o: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicion·rio Internacional de Teologia do
Novo Testamento, S„o Paulo: Vida Nova, 1983, Vol. IV, 217-219; William F. Arndt & F.W. Gingrich, A
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University of Chicago Press, 1957, p. 584; Russel N. Champlin, O Novo Testamento Interpretado,
Guaratingue- t·, SP.: A Voz BÌblica, (s.d.), Vol. 5, p. 379; John R.W. Stott, Tu, PorÈm, A mensgem de
2 TimÛteo, S„o Paulo: ABU Editora, 1982, p. 59-60; J.N.D. Kelly, I e II TimÛteo e Tito: introduÁ„o e
coment·rio, S„o Paulo: Vida Nova/Mundo Crist„o, 1983, p. 170; William Hendriksen, 1 TimÛteo, 2
TimÛteo e Tito, S„o Paulo: Editora Cultura Crist„, 2001, p. 323-324; Newport J.D. White, Second
Epistle to Timothy: In: W. Robertson Nicoll, ed., The Expositorís Greek Testament, Grand Rapids,
Michigan: Eerdmans, 1983 (Reprinted), Vol. 4, p. 165; p. 798-799; R.C.H. Lenski, Commentary on the
New Testament, Pe- abody, Massachusetts: Hendrickson Publishers, 1998, Vol. 10, p. 425; W.C.
Taylor, Dicion·rio do Novo Testamento Grego, 5™ ed. Rio de Janeiro: JUERP., 1978, p. 152-153;
A.T. Robertson, ìWord Pictures in the New Testament,î The Master Christian Library, Verson 8.0
[CD-ROM], (Albany, OR: Ages Sofware, 2000, Vol. 4, p. 703; William Barclay, El Nuevo Testamento
Comentado, Buenos Aires: La Aurora, 1974, Vol. 12, (2Tm 2.15-18), p. 183].
134 Este era o seu princÌpio pedagÛgico: ìUm s·bio mestre tem a responsabilidade de acomo- dar-se ao
poder de compreens„o daqueles a quem ele administra o ensino, de modo a ini- ciar-se com os princÌpios
rudimentares quando instrui os dÈbeis e ignorantes, n„o lhes dando algo que porventura seja mais forte do
que podem suportarî [Jo„o Calvino, ExposiÁ„o de 1 CorÌntios, S„o Paulo: Paracletos, 1996, (1Co
3.1), p. 98-99].
135
Jo„o Calvino, As Pastorais, (2Tm 2.15), p. 235.
136
Jo„o Calvino, As Institutas, IV.1.5.
137
Jo„o Calvino, ExposiÁ„o de 1 CorÌntios, (1Co 3.5), p. 101-102.
A esfera da autoridade do presbÌtero È derivada da Palavra: ìA primeira regra
do ministro È n„o tentar fazer coisa alguma sem estar baseado nalgum
138
mandamen- toî. ìA Escritura È a fonte de toda a sabedoria, e os pastores ter„o
139
de extrair dela tudo o que eles expıem diante do seu rebanhoî.

Todo o ofÌcio do PresbÌtero gira em torno da Palavra: ìPorque devemos ter


como coisa resolvida que todo o ofÌcio deles se limita ‡ administraÁ„o da Palavra de
Deus, toda a sua sabedoria consiste somente no conhecimento dessa Palavra, e toda a sua
eloq¸Íncia ou oratÛria se restringe ‡ pregaÁ„o da mesma. Se se afastarem dessa norma,
ser„o tolos em seus sentidos, gagos em seu falar, traiÁoeiros e infiÈis em seu ofÌcio,
sejam eles profetas, ou bispos,
.140
ou mestres, ou pessoas estabelecidas em dignidade mais altaî

Deste modo, aquele que prega deve ter consciÍncia de que o p˙lpito n„o È o lu-
gar para se exercitar as opiniıes pessoais e subjetivas, mas sim, para pregar a Pa-
lavra, anunciando todo o desÌgnio de Deus, sob a iluminaÁ„o do EspÌrito. O EspÌrito
honra exclusivamente a Sua Palavra, n„o a nossa. Lloyd-Jones (1899-1981), numa
sÈrie de sermıes pregados (1963) sobre IsaÌas 1.1-18, declarou corretamente:
ìN„o estou aqui para ventilar minhas prÛprias idÈias e teorias, porÈm para
141
expor a Palavra de Deusî. Sem a Palavra, o p˙lpito torna-se um lugar que no
m·ximo serve como terapia para aliviar as tensıes de um auditÛrio cansado e ansio-
so em busca de refrigÈrio para as suas necessidades mais imediatamente percebi-
das. Ele pode conseguir o alÌvio do sintoma, mas n„o a cura para as suas reais ne-
cessidades.

Os presbÌteros foram chamados por Deus n„o para pregarem suas opiniıes, mas,
o Evangelho de Cristo. E mais, o Evangelho deve ser anunciado em sua inteireza,
sem misturas, adiÁıes e cortes: Isso nos distingue essencialmente dos falsos mes-
tres: ìëA verdade do evangelhoí deve ser considerada como sendo sua ge- nuÌna pureza ou,
o que vem a ser a mesma coisa, sua pura e sÛlida doutrina. Pois os falsos apÛstolos n„o
aboliam totalmente o evangelho, mas o adulte- ravam com suas noÁıes pessoais, de modo
que ele logo passava a ser falso e mascarado. Isso È sempre assim quando nos apartamos,
mesmo em grau mÌnimo, da simplicidade de Cristo. Qu„o impudentes, pois, s„o os papistas
ao se vangloriarem de que possuem o evangelho, pois ele n„o sÛ È corrom- pido por uma
infinidade de invenÁıes, mas tambÈm È mais que adulterado
142
por dogmas infind·veis e pervertidosî.

9) Cordato: (e)pieikh/j) 1Tm 3.3. ìEqu‚nimeî, ìpacienteî, ìgentilî, ìam·velî. (*Fp


4.5; Tt 3.2; Tg 3.17 ìindulgenteî; 1Pe 2.18). Esta caracterÌstica È uma das marcas da
138
Jo„o Calvino, As Institutas da Religi„o Crist„: ediÁ„o especial com notas para estudo e pesquisa,
S„o Paulo: Cultura Crist„, 2006, Vol. IV.13, p. 52.
139
Jo„o Calvino, As Pastorais, (1Tm 4.13), p. 123.
140
Jo„o Calvino, As Institutas da Religi„o Crist„: ediÁ„o especial com notas para estudo e pesquisa,
S„o Paulo: Cultura Crist„, 2006, Vol. IV.15, p. 125.
141 D.M. Lloyd-Jones, O Caminho de Deus n„o o nosso, S„o Paulo: PublicaÁıes EvangÈlicas Sele-
cionadas, 2003, p. 67.
142 Jo„o Calvino, G·latas, (Gl 2.5), p. 52.
sabedoria concedida por Deus (Cf. Tg 3.17). Esta palavra quando aplicada ‡
autori- dade constituÌda, denota eq¸idade, magnanimidade. Na literatura
cl·ssica este ter- mo era empregado para representar ìo car·ter daqueles que tÍm
mente nobre, do s·bio que permanece meigo diante dos insultos, do juiz que È clemente no
julgamento, e do rei que È bondoso no seu reino. Desta forma, aparecem
freq¸entemente em retratos do soberano ideal, e em elogios acerca de ho-
143
mens de alta posiÁ„oî.

… a palavra que reconhece que h· ocasiıes nas quais a aplicaÁ„o pura e simples
da lei seria injusta; feriria o prÛprio princÌpio da lei. Os gregos diziam que ìa epiei-
keia devia ter lugar naqueles casos em que a estrita justiÁa se tornava injusti-
144
Áa por sua generalizaÁ„oî. îEpieikeia È a qualidade do homem que sabe que as leis e
prescriÁıes n„o s„o a ˙ltima palavra; do homem que sabe
145
quando n„o se deve aplicar a letra da Lei.î Aquele que tem a consciÍncia de
que legalidade n„o È necessariamente sinÙnimo de legitimidade. O que est· certo
146
do ponto de vista legal pode estar equivocado do ponto de vista moral.

10) Governe bem a sua prÛpria casa: A palavra para governar È


proi/sthmi, que significa tambÈm, ìadministrarî, ìregerî, ìliderarî, ìpresidirî. 1Tm
3.4,5,12; Tt
147
1.6. A palavra era empregada no grego cl·ssico no sentido de ìprotegerî, ìguar-
darî e ajudarî (EurÌpides, DemÛstenes, PolÌbio).

Os presbÌteros que ìpresidem bemî a Igreja devem ser honrados proporcional-


148
mente (1Tm 5.17). O governar bem est· associado ao que Paulo escreveu aos
Romanos: ìo que preside, com diligÍncia (spoudh/)î (Rm 12.8).

A palavra traduzida por diligÍncia (spoudh/), indica um comportamento que se es-


forÁa por fazer todo o possÌvel para alcanÁar o seu objetivo. Ela esta relacionada
no Novo Testamento ‡ solicitude fraterna: Paulo, preso em Roma pede a TimÛteo
esta urgÍncia em encontr·-lo (2Tm 4.9,21). Depois, em outro contexto, solicita o
mesmo a Tito (Tt 3.12). Paulo descreve a amizade benfazeja de OnesÌforo, quem o
procurou solicitamente quando muitos de seus amigos o haviam abandonado:
ìEst·s ciente de que todos os da ¡sia me abandonaram; dentre eles cito FÌgelo e
HermÛgenes. Conceda o Senhor misericÛrdia ‡ casa de OnesÌforo, porque, muitas
vezes, me deu
‚nimo e nunca se envergonhou das minhas algemas; antes, tendo ele
chegado a Roma, me procurou solicitamente (spoudai/wj) atÈ me encontrar. O
Senhor lhe conceda, naquele Dia, achar misericÛrdia da parte do Senhor. E tu
sabes, melhor do que eu, quantos serviÁos me prestou ele em …fesoî (2Tm 1.15-
18). Paulo pede a Ti- to que encaminhe a Zenas e a Apolo, orientando-o para
que nada falte ‡queles ir-
143
W. Bauder, Humildade: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicion·rio Internacional de Teologia do
Novo Testamento, Vol. II, p. 383-386.
144
William Barclay, El Nuevo Testamento Comentado, Buenos Aires: La Aurora, 1973, Vol. 11, (Fp.
4.4-5), p. 85.
145
William Barclay, El Nuevo Testamento Comentado, Vol. 11, (Fp. 4.4-5), p. 85-86.
146
Ver: Richard C. Trecnh, Synonyms of the New Testament, London: Macmillan and Co., 1871, ß
43, p. 146.
147
* Rm 12.8; 1Ts 5.12; 1Tm 3.4,5,12; 5.17;Tt 3.8,14.
148 Ver: Jo„o Calvino, As Pastorais, (1Tm 5.17), p. 147-149; Jo„o Calvino, As Institutas, II.8.35.
m„os: ìEncaminha com diligÍncia (spoudai/wj) Zenas, o intÈrprete da lei, e Apolo, a
fim de que n„o lhes falte coisa algumaî (Tt 3.13). Ainda falando sobre diversos
deve- res da vida crist„ e, em especial descrevendo a fraternidade, Paulo
recomenda: ìNo zelo (spoudh/), n„o sejais remissos; sede fervorosos de
espÌrito, servindo ao Se- nhorî (Rm 12.11).(2Co 8.7-8).

Essa palavra tem implicaÁıes Èticas, visto que est· associada, por exemplo, ao
esforÁo que os crentes devem despender em manter a unidade do EspÌrito (Ef
4.3), ao zelo em socorrer a outros irm„os (Gl 2.9-10; 2Co 8.7,8,16) e, em corrigir
uma in- justiÁa (2Co 7.11-12). Ela tambÈm est· relacionada ao crescimento
espiritual com um fim escatolÛgico. O escritor de Hebreus referindo-se a alguns
herÛis da fÈ que vi- veram na esperanÁa da promessa de Deus quanto ao
descanso futuro, e de outros homens que foram incrÈdulos, escreve: ìEsforcemo-
nos (Spouda/zw), pois, por en- trar naquele descanso....î (Hb 4.11). Quanto ‡
esperanÁa da vinda de Cristo e ‡ nos- sa maneira de viver hoje, Pedro escreve:
ìEsperando e apressando (speu/dw) a vin- da do dia de Deus, por causa do qual os
cÈus incendiados ser„o desfeitos e os ele- mentos abrasados se derreter„oî (2Pe
3.12). A idÈia aqui expressa, n„o È a de que possamos modificar o dia do
regresso de Cristo. A palavra traduzida por ìapressarî (speu/dw), indica um desejo
intenso pelo que vir·, envolvendo a idÈia de diligenciar com zelo, solicitude,
urgenciar, etc. Ela revela uma pressa prazerosa daquilo que te- r· de ocorrer.
Falando sobre a necessidade que os crentes tÍm de usar dos meios de graÁa,
Pedro orienta: ìPor isso mesmo, vÛs, reunindo toda a vossa diligÍncia
(spoudh/), associai com a vossa fÈ a virtude; com a virtude, o conhecimento; (...) Por
isso, irm„os, procurai, com diligÍncia (Spouda/zw) cada vez maior, confirmar a vossa
vocaÁ„o e eleiÁ„o; porquanto, procedendo assim, n„o tropeÁareis em tempo algumî
(2Pe 1.5,10). O Cristianismo È essencialmente um caminho de vida,
fundamentado na pr·tica do Evangelho, conforme ensinado por Jesus Cristo. A
santificaÁ„o È, por- tanto, um desafio a perseguirmos este caminho, nos
empenhando por fazer a vonta- de de Deus. Por isso, a santificaÁ„o nos fala de
caminharmos sempre em direÁ„o ao alvo proposto por Deus, com os nossos
coraÁıes humildes, desejosos de agradar a Deus, de fazer a Sua vontade com o
sentimento adequado. DaÌ a exortaÁ„o de Pe- dro de que nos esforcemos por ser
achados pelo Senhor ìsem m·culaî: ìPor essa raz„o, pois, amados, esperando
estas coisas, empenhai-vos (spouda/zw) por serdes achados por ele em paz, sem
m·cula e irrepreensÌveisî (2Pe 3.14).

Paulo diz aos tessalonicenses do seu esforÁo para poder visit·-los (1Ts 2.17).
Pedro demonstrou esta mesma diligÍncia em ensinar o Evangelho ‡s Igrejas (2Pe
1.15). Judas revela o mesmo ao escrever a sua EpÌstola (Jd 3). Paulo roga a
TimÛ- teo que procure, esforce-se por apresentar-se a Deus como obreiro
aprovado (2Tm 3.15).

Deste modo, Paulo est· nos dizendo que o presbÌtero deve ter empenho seme-
lhante na administraÁ„o dos negÛcios da igreja.

11) Criando seus filhos com disciplina e respeito: 1Tm 3.4. Disciplina, obedi-
Íncia (u(potagh/) (*2Co 9.13; Gl 2.5; 1Tm 2.11) tem o sentido de ìsubmiss„oî e res-
peito (semno/thj = respeito, reverÍncia, dignidade). (*1Tm 2.2; 3.4; Tt 2.7). Esta pa-
lavra indica uma atitude correta, nobre e honrada, acompanhada de ordem e decÍn-
PresbÌteros e Di·conos: Servos de Deus no Corpo de Cristo ñ Rev. Hermisten ñ 12/05/08 ñ 37
149
cia. Deste modo, a educaÁ„o com disciplina e obediÍncia, envolve uma combina-
Á„o harmoniosa entre dignidade e cortesia, independÍncia e humildade, disciplina e
amor.

Recordemos um pouco: No Antigo Testamento vemos a educaÁ„o sendo ampla-


mente praticada dentro do lar, sendo os mestres os prÛprios pais (Ex 10.2; 12.26;
13.8). A famÌlia sempre desempenhou um papel fundamental dentro da
educaÁ„o judaica, sendo extremamente preventiva e orientadora. Mesmo dentro de
um pro- cesso evolutivo, a educaÁ„o familiar jamais foi substituÌda ou preterida. A
educaÁ„o dos filhos era algo priorit·rio e constante, considerando em seu currÌculo os
grandes feitos de Deus na HistÛria. Na instituiÁ„o da P·scoa, Deus j· os instrui a
respeito do que aconteceria e como os pais deveriam ensinar seus filhos: ìGuardai,
pois, isto por estatuto para vÛs outros e para vossos filhos, para sempre. E, uma vez
dentro na terra que o SENHOR vos dar·, como tem dito, observai este rito. Quando
vossos fi- lhos vos perguntarem: Que rito È este? Respondereis: … o sacrifÌcio da
P·scoa ao SENHOR, que passou por cima das casas dos filhos de Israel no Egito,
quando feriu os egÌpcios e livrou as nossas casas. Ent„o, o povo se inclinou e adorouî
(Ex 12.24- 27).

Notemos que a educaÁ„o judaica tinha como elemento de extrema relev‚ncia as


perguntas, as quais certamente eram estimuladas, feitas pelos filhos aos pais ou
aos sacerdotes: ìQuando vossos filhos vos perguntarem: Que rito È este?
Responde- reis....î (Ex 12.26); ìNaquele mesmo dia, contar·s a teu filho,
dizendo....î (Ex 13.8); ìQuando teu filho amanh„ te perguntar: Que È isso?
Responder-lhe-·s....î (Ex 13.14); ìQuando teu filho, no futuro, te perguntar,
dizendo: Que significam os teste- munhos, e estatutos, e juÌzos que o SENHOR,
nosso Deus, vos ordenou? Ent„o, di- r·s a teu filho....î (Dt 6.20,21); ìPassai adiante
da arca do SENHOR, vosso Deus, ao meio do Jord„o; e cada um levante sobre o
ombro uma pedra, segundo o n˙mero das tribos dos filhos de Israel, para que isto
seja por sinal entre vÛs; e, quando vos- sos filhos, no futuro, perguntarem,
dizendo: Que vos significam estas pedras?, en- t„o, lhes direis....î (Js 4.5-6). ìAs
doze pedras que tiraram do Jord„o, levantou-as JosuÈ em coluna em Gilgal. E
disse aos filhos de Israel: Quando, no futuro, vossos filhos perguntarem a seus
pais, dizendo: Que significam estas pedras?, fareis saber a vossos filhos,
dizendo....î (Js 4.20-21).

Antes de o povo entrar na Terra Prometida, Deus, por intermÈdio de MoisÈs,


exor- ta a Israel: ìT„o-somente guarda-te a ti mesmo e guarda bem a tua alma, que
te n„o esqueÁas daquelas coisas que os teus olhos tÍm visto, e se n„o apartem do
teu co- raÁ„o todos os dias da tua vida, e as far·s saber a teus filhos e aos filhos de
teus fi- lhos. N„o te esqueÁas do dia em que estiveste perante o SENHOR, teu
Deus, em Horebe, quando o SENHOR me disse: Re˙ne este povo, e os farei ouvir
as minhas palavras, a fim de que aprenda a temer-me todos os dias que na terra
viver e as en- sinar· a seus filhosî (Dt 4.9-10).

Deus orienta aos pais a usarem de v·rios meios para ensinar seus filhos a Lei a
fim de que n„o se esquecem de Deus, nem de Seus atos soberanos na histÛria:
ìOuve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, È o ˙nico SENHOR. Amar·s, pois, o SE-
NHOR, teu Deus, de todo o teu coraÁ„o, de toda a tua alma e de toda a tua forÁa.
149 Ver: Richard C. Trecnh, Synonyms of the New Testament, London: Macmillan and Co., 1871, ß
xcii, p. 325-329.
Estas palavras que, hoje, te ordeno estar„o no teu coraÁ„o; tu as inculcar·s a teus
filhos, e delas falar·s assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-
te, e ao levantar-te. TambÈm as atar·s como sinal na tua m„o, e te ser„o por frontal
entre os olhos. E as escrever·s nos umbrais de tua casa e nas tuas portas. Haven- do-
te, pois, o SENHOR, teu Deus, introduzido na terra que, sob juramento, prometeu a
teus pais, Abra„o, Isaque e JacÛ, te daria, grandes e boas cidades, que tu n„o edi-
ficaste; e casas cheias de tudo o que È bom, casas que n„o encheste; e poÁos aber-
tos, que n„o abriste; vinhais e olivais, que n„o plantaste; e, quando comeres e te far-
tares, guarda-te, para que n„o esqueÁas o SENHOR, que te tirou da terra do Egito,
da casa da servid„oî (Dt 6.4.12). (Do mesmo modo: Dt 11.18-20).

Cada cultura tem o seu modelo de homem ideal e portanto, a educaÁ„o


visa formar esse homem, a fim de atender ‡s expectativas sociais. Paulo sabia
muito bem disso; ele mesmo declarara durante a sua defesa em JerusalÈm que
fora instruÌdo por Gamaliel, o grande mestre da Lei. "Eu sou judeu, nasci em Tarso
da CilÌcia, mas criei-me nesta cidade e aqui fui instruÌdo (paideu/w) aos pÈs de
Gama- liel, segundo a exatid„o da lei de nossos antepassados....î (At 22.3).

De igual modo, Estev„o, descrevendo a vida de MoisÈs, fala de sua formaÁ„o,


declarando: "E MoisÈs foi educado (paideu/w) em toda a ciÍncia dos egÌpcios, e
era poderoso em palavras e obrasî (At 7.22).

Cito um fato elucidativo. Quando VirgÌnia e Maryland assinaram um tratado de


paz com os Õndios das Seis NaÁıes, como demonstraÁ„o da generosidade do ho-
mem branco, seus governantes mandaram cartas aos Ìndios solicitando que
envias- sem alguns de seus jovens para estudarem em seus colÈgios. Seguem
abaixo extra- tos da resposta dos chefes indÌgenas:

ì.... NÛs estamos convencidos, portanto, que os senhores desejam o bem para nÛs
e agradecemos de todo o coraÁ„o.
ìMas aqueles que s„o s·bios reconhecem que diferentes naÁıes tÍm concepÁıes
diferentes das coisas e, sendo assim, os senhores n„o ficar„o ofendidos ao saber que a
vossa idÈia de educaÁ„o n„o È a mesma que a nossa.
ì.... Muitos dos nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do Norte e
aprenderam toda a vossa ciÍncia. Mas, quando eles voltavam pa- ra nÛs, eles eram maus
corredores, ignorantes da vida da floresta e inca- pazes de suportarem o frio e a
fome. N„o sabiam como caÁar o veado, matar o inimigo e construir uma cabana, e
falavam nossa lÌngua muito mal. Eles eram, portanto, totalmente in˙teis. N„o serviam
como guerreiros, como caÁadores ou como conselheiros.
ìFicamos extremamente agradecidos pela vossa oferta e, embora n„o possamos
aceit·-la, para mostrar a nossa gratid„o oferecemos aos nobres senhores de VirgÌnia que
nos enviem alguns dos seus jovens, que lhes ensi- naremos tudo o que sabemos e faremos,
150
deles, homensî.

Se olharmos ainda que de relance o tipo de formaÁ„o desde a Antig¸idade, pode-


remos constatar que o seu ideal variava de povo para povo e, atÈ mesmo, de
150
cidade Apud BRANDãO, Carlos R. O Que È EducaÁ„o, 6™ ed. S„o Paulo: Brasiliense, 1982, p.
8-9.
para cidade, daÌ a diferenÁa entre os "currÌculos", visto que este È o caminho, a "cor-
151
rida" para se atingir o objetivo proposto. Assim, temos, ainda que, grosso modo,
152
diversas perspectivas educacionais:

 CHINA: A educaÁ„o visava conservar intactas as tradiÁıes. Portanto o currÌculo


est· voltado apenas para o conhecimento e preservaÁ„o das tradiÁıes, seguindo
sempre o seu modelo. A originalidade era proibida.

 EGITO: Preparar o educando para uma vida essencialmente pr·tica, que o


levas- se ao sucesso neste mundo e, por meio de determinados ritos,
alcanÁasse o favor dos deuses, e a felicidade no alÈm.

 ESPARTA: Homens guerreiros, mas que fossem totalmente submissos ao Esta-


do. Neste processo estimula-se atÈ mesmo a delaÁ„o como modo de evidenciar a
153
sua lealdade ao Estado. ìCertamente, essa Esparta dos sÈculos VIII-VI È,
antes de tudo, um Estado guerreiro (...). O lugar dominante ocupado em
sua cultura pelo ideal militar È atestado pelas elegias guerreiras de Tirteu, que
ilustram belas obras pl·sticas contempor‚neas, consagradas, como elas, ‡
154
glorificaÁ„o do herÛi combatenteî. ìAo atingir sete anos, o jo-
vem espartano È requisitado pelo Estado: atÈ ‡ morte, pertence-lhe intei- ramente. A
educaÁ„o propriamente dita vai dos sete aos vinte anos; ela È disposta sob a autoridade
direta de um magistrado especial, verdadeiro
155
comiss·rio da EducaÁ„o nacional, o paidono/mojî.

 ATENAS: Treinamento competitivo entre os homens a fim de formar cidad„os


maduros fÌsica e espiritualmente com capacidade de exercitarem a sua
liberdade.

 S”CRATES (469-399 a.C.)/PLAT,O (427-347 a.C.): Formar basicamente por in-


termÈdio da m˙sica e da gin·stica, homens capazes de vencer a injustiÁa
156
reinan- te. A educaÁ„o tinha um forte apelo moral por meio do conhecimento e
pr·tica das virtudes. A sabedoria est· associada ‡ vida virtuosa.

151 CurrÌculo" È uma transliteraÁ„o do latim "curriculum" que È empregado tardiamente, sendo deri-
vado do verbo "currere", "correr". "Curriculum" tem o sentido prÛprio de "corrida", "carreira"; um senti-
do particular de "luta de carros", "corrida de carros", "lugar onde se corre", "hipÛdromo" e um sentido
figurado de "campo", "atalho", "pequena carreira", "corte", "curso". A palavra currÌculo denota a com-
preens„o que ele n„o È um fim em si mesmo; È apenas um meio para atingir determinado fim [Vd.
Hermisten M.P. Costa, A PropÛsito da AlteraÁ„o do CurrÌculo dos Semin·rios Presbiterianos,
S„o Paulo: 1997, p. 8ss. (Trabalho n„o publicado)].
152 Veja-se um bom sum·rio disso em Thomas Ransom Giles, Filosofia da EducaÁ„o, S„o
Paulo:
EPU., 1983, p. 60-92.
153 Thomas Ransom Giles, Filosofia da EducaÁ„o, p. 64.
154
Henri-IrÈnÈe Marrou, HistÛria da EducaÁ„o na Antig¸idade, S„o Paulo: E.P.U. (5™ reimpr), 1990, p.
35.
155
Henri-IrÈnÈe Marrou, HistÛria da EducaÁ„o na Antig¸idade, p. 42.
156
Plat„o, A Rep˙blica, 376e ss. p. 86ss.
PresbÌteros e Di·conos: Servos de Deus no Corpo de Cristo ñ Rev. Hermisten ñ 12/05/08 ñ 40
157 158
 OS SOFISTAS: Pedagogia elitizada, propÌcia e adequada apenas a quem
159
pudesse pag·-los. Partindo do relativismo e subjetivismo, tinha como objetivo
160
convencer, persuadir o seu oponente independentemente da veracidade do
161
ar- gumento.

 ARIST”TELES (384-322 a.C.): Formar homens moderados, que tivessem zelo


162
pela Ètica e estÈtica.

 RENASCEN«A: Formar homens eruditos que soubessem ler e escrever em gre-


163
go, latim e, em alguns lugares o hebraico, tendo um estilo erudito, que pudes-
157
A palavra "sofista" provÈm do grego Sofisth/j, que È derivada de Sofo/j (= ìs·bioî). Originaria-
mente, ambas as palavras eram empregadas com uma conotaÁ„o positiva. … importante lembrar que
foram os prÛprios sofistas que se designaram assim.
158
"J· desde o comeÁo a finalidade do movimento educacional comandado pelos sofistas
n„o era a educaÁ„o do povo, mas a dos chefes. No fundo n„o era sen„o uma nova forma da educaÁ„o dos
nobres (...). Os sofistas dirigiam-se antes de mais nada a um escol, e sÛ a ele. Era a eles que acorriam os que
desejavam formar-se para a polÌtica e tornar-se um dia dirigentes do Estado" (Werner Jaeger, PaidÈia: A
FormaÁ„o do Homem Grego, 2™ ed. S„o Paulo: Martins Fontes, 1989, p. 236).
159
A RetÛrica SofÌstica, inventada por GÛrgias (c.483-c.375 a.C.), era famosa. GÛrgias dizia:
"A palavra È uma grande dominadora que, com pequenÌssimo e sumamente invisÌvel corpo, realiza
obras divinÌssimas, pois pode fazer cessar o medo e tirar as dores, infundir a a- legria e inspirar a piedade
(...) O discurso, persuadindo a alma, obriga-a, convencida, a ter fÈ nas palavras e a consentir nos fatos (...)
A persuas„o, unida ‡ palavra, impressiona a alma como quer (...) O poder do discurso com respeito ‡
disposiÁ„o da alma È idÍntico ao dos remÈdios em relaÁ„o ‡ natureza do corpo. Com efeito, assim como
os diferentes remÈdios expelem do corpo de cada um diferentes humores, e alguns fazem cessar o mal,
outros a vida, assim tambÈm entre os discursos alguns afligem e outros deleitam, outros espantam, outros
excitam atÈ o ardor os seus ouvintes, outros envenenam e fascinam a alma com per- suasıes malvadasî
(GÛrgias, Elogio de Helena, 8, 14).
"Quanto ‡ sabedoria e ao s·bio, eu dou o nome de s·bio ao indivÌduo capaz de mudar o aspecto das coisas,
fazendo ser e parecer bom para esta ou aquela pessoa o que era ou lhe parecia mau" (Palavras de Prot·goras,
conforme, Plat„o, Teeteto, 166d).
"Mas deixaremos de lado TÌsias e GÛrgias? Esses descobriram que o prov·vel deve ser mais
respeitado que o verdadeiro; chegariam atÈ a provar, pela forÁa da palavra, que as cousas mi˙das s„o
grandes e que as grandes s„o pequenas, que o novo È antigo e que o velho È novo" (Plat„o, Fedro, 267).
160 "A sofÌstica, que caracteriza os ˙ltimos cinq¸enta anos do sÈculo V, n„o designa uma
doutrina, mas uma maneira de ensinar. Os sofistas s„o professores que v„o de cidade em cidade em busca de
auditores e que, por preÁo convencionado, ensinam os alunos, seja por liÁıes pomposas, seja por uma sÈrie
de cursos, os mÈtodos adequados a fazer triunfar uma tese qualquer. ¿ pesquisa e ‡ manifestaÁ„o da verdade
substitui-se a preocupaÁ„o do Íxito, baseado na arte de convencer, de persuadir, de seduzirî (…mile BrÈhier,
HistÛria da Filo- sofia, S„o Paulo: Mestre Jou, 1977, I/1 p. 69-70).
161 Vd. Plat„o, Teeteto, 166c-167d; Sofista, 231d; MÍnon, 91c-92b; Fedro, 267; Prot·goras, 313c;
312a; Cr·tilo, 384b; GÛrgias, 337d; A Rep˙blica, 336b; 338c.
162 AristÛteles, …tica a NicÙmaco, S„o Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, Vol. IV), 1973, V.2,
1130b 26-27. p. 324
163
O hebraico, que era ent„o ainda mais ignorado do que o grego e o latim, foi tambÈm redescober-
to. Surgindo, ent„o, as famosas escolas que ensinavam os trÍs idiomas ñ em Lovaina (1517), Oxford
(1517 e 1525), Paris (1530) ñ, visando formar o ìhomo trilinguisî. (Vejam-se:. Jacob Burckhardt, A
Cultura do Renascimento na It·lia: Um Ensaio, S„o Paulo: Companhia das Letras, 1991, p. 154; Jean
Delumeau, A CivilizaÁ„o do Renascimento, Lisboa: Editorial Estampa, 1984, Vol. I, p. 97). Foi assim
sem contribuir para a criaÁ„o do novo, tendo o homem como "medida de todas as
coisas".

ATUALIDADE: Formar homens competitivos, que alcancem o sucesso a qualquer


preÁo. … claro que isto sofrer· alteraÁıes em cada ·rea de estudo e, tambÈm, ser·
diferente entre os paÌses, contudo, esta vis„o geral nos parece pertinente.

Todo currÌculo est· comprometido, consciente ou n„o, com determinada compre-


ens„o da realidade que, deste modo, determina metas a serem alcanÁadas.

Os pais crist„os devem educar os filhos dentro dos princÌpios bÌblicos: a BÌblia
tambÈm È a verdade no campo educacional; Ela deve ser a norma de todo o nosso
pensar e agir. Paulo fala especificamente aos pais: ìE vÛs, pais, n„o provoqueis
vossos filhos ‡ ira, mas criai-os na disciplina e na admoestaÁ„o do Senhorî (Ef .6.4).

Como pais, temos tambÈm a responsabilidade de n„o provocar a sua ira, com
um comportamento que reflita o eq¸Ìvoco de predileÁıes, falta de apoio,
164
menosprezo, provocaÁıes, ironias, excesso de proteÁ„o, etc. (Cl 3.21; Gn 25.28;
165
37.3,4; 2Sm 14.13,28; 1Rs 1.6; Hb 12.9-11). A palavra ìcriai-osî (e)ktre/fw) (Ef
6.4) em contra- posiÁ„o ‡ ìiraî, indica que devemos cri·-los ternamente, com
brandura e amor, sem contudo, excluir a disciplina (paidei/a) e admoestaÁ„o
166
(nouqesi/a) no Senhor. Calvino recomenda aos pais: ìTratem-nos com a brandura
167
e a bondade ade- quadas ‡ personalidade de cada um delesî Notemos que o car·ter
de toda a educaÁ„o e disciplina de nossos filhos ñ por meio de palavras e atos ñ,
È no Se- nhor. ìO que caracteriza a criaÁ„o crist„ n„o È o mÈtodo educacional, mas,
que foi elaborada a primeira gram·tica hebraica, escrita por um crist„o, Reuchlin (1455-1522) em
1506. N„o devemos nos esquecer tambÈm, que È deste perÌodo a publicaÁ„o da ìBÌblia
Poliglota Complutenseî ñ recebendo este nome por ter sido impressa em Complutum, forma latina da
atual Al- cal·, Espanha, onde Ximenes fundou uma Universidade ñ, que continha o Antigo
Testamento em 3 idiomas, formatado em trÍs colunas paralelas: Hebraico, latim (da vulgata) e
grego (da LXX), tendo, tambÈm, uma traduÁ„o latina interlinear. Na parte inferior da p·gina,
constava do Novo Testamento em grego e latim. Esta obra sendo promovida pelo Cardeal Francisco
Ximenes de Cisneros (1437- 1517), foi iniciada em 1502 sendo concluÌda em 1517 (O NT estava
concluÌdo desde 1514), sendo constituÌda por seis volumes. Todavia, o papa Le„o X sÛ deu
permiss„o para a sua circulaÁ„o em 22/03/1520. Ao que parece, esta obra n„o chegou a Alemanha
antes de 1522 e, Lutero n„o se utili- zou dela para a sua traduÁ„o do Novo Testamento (Vejam-se
mais detalhes em: W.G. K¸mmel, In- troduÁ„o ao Novo Testamento, S„o Paulo: Paulinas,
1982, p. 713-714; Wilson Paroschi, CrÌtica Textual do Novo Testamento, S„o Paulo: Vida Nova,
1993, p. 107-108; E. Lohse, IntroduÁ„o ao No- vo Testamento, S„o Leopoldo, RS.: Sinodal, ©
1972, p. 261; HipÛlito Escolar, Historia del Libro, 2™ ed. corregida y ampliada, Salamanca/Madrid:
FundaciÛn Germ·n S·nchez RuipÈrez/Pir·mide, 1988,
p. 416ss.). Quanto ‡ disposiÁ„o das trÍs colunas da obra: Hebraico, Latim e Grego, ìCisneros dizia
que adotara esta disposiÁ„o para recordar o lugar que a Igreja romana ocupava entre a si- nagoga e a Igreja
grega: posiÁ„o an·loga ‡ do Cristo entre os dois ladrıes!î (Jean Delume- au, A CivilizaÁ„o do
Renascimento, Vol. I, p. 98).
164 Hendriksen faz uma lista de erros comuns cometidos pelos pais. Vd. William Hendriksen, Exposi-
Á„o de EfÈsios, (Ef 6.4), p. 325-326.
165 Ocorre apenas duas vezes no NT., unicamente em EfÈsios: 5.29 e 6.4. A palavra apresenta a i-
dÈia de alimentar, sustentar, nutrir, educar. Calvino diz que este verbo ìinquestionavelmente co-
munica a idÈia de gentileza e afabilidadeî [J. Calvino, EfÈsios, (Ef 6.4), p. 181].
166 Ocorre trÍs vezes no NT.: 1Co 10.11; Ef 6.4; Tt 3.10.
167
Jo„o Calvino, As Institutas da Religi„o Crist„: ediÁ„o especial com notas para estudo e pesquisa,
S„o Paulo: Cultura Crist„, 2006, Vol. 1, (III.68), p. 207.
168
sim, o propÛsito que se visa com eleî. A educaÁ„o crist„ visa conduzir a crian- Áa ao
Senhor.

A admoestaÁ„o (nouqesi/a) apresenta a idÈia de educar por intermÈdio da pala-


vra, usando deste recurso para aconselh·-lo, estimul·-lo e encoraj·-lo quando for o
caso e, tambÈm, se necess·rio, fazer uso do mesmo meio para censurar, reprovar
e repreender com firmeza (Compare: 1Sm 2.24/1Sm 3.13). Paulo diz que passou
trÍs
169
anos em …feso n„o deixando incessantemente de ìadmoestar (nouqete/w), com
l·grimas, a cada umî (At 20.31). J· a disciplina (paidei/a) È uma palavra mais am-
pla, abrangendo a educaÁ„o n„o apenas verbal mas tambÈm, por meio de atos que
170
podem envolver rigidez com o objetivo de corrigir e ensinar. Notemos, que a dis-
ciplina sendo mais abrangente ñ envolvendo a instruÁ„o e correÁ„o ñ, vinha primei-
ro. J· a admoestaÁ„o parece ser apÛs a execuÁ„o da tarefa. Primeiro
instruÌmos; depois, se necess·rio, exortamos e repreendemos ou, encorajamos
conforme as cir- cunst‚ncias.

Em 1982, o ent„o secret·rio geral da INTERPOL (OrganizaÁ„o Internacional de


PolÌcia Criminal), declarou: ì.... quando os jovens n„o tÍm mais noÁ„o de dis- ciplina,
noÁ„o do que deve ou n„o ser feito, noÁ„o das regras a serem se-
171
guidas, a famÌlia desapareceî.

No Antigo Testamento, Eli foi repreendido por Deus porque os seus filhos
que transgrediam a Lei (1Sm 2.22-25), n„o foram admoestados por ele:
ìPorque j· lhe disse que julgarei a sua casa para sempre, pela iniq¸idade que
ele bem conhecia, porque seus filhos se fizeram execr·veis, e ele n„o os
repreendeu (nouqete/w)î (1Sm 3.13). Salom„o por sua vez, instrui: ìA estultÌcia est·
ligada ao coraÁ„o da cri- anÁa, mas a vara da disciplina (LXX: paidei/a) a afastar·
delaî (Pv 22.15).

Calvino (1509-1564) comenta:

ìO tratamento bondoso e liberal conserva a reverÍncia dos filhos para com seus
pais, e aumenta a prontid„o e a alegria de sua obediÍncia, en- quanto que uma
severidade austera e inclemente suscita sua obstinaÁ„o e destrÛi seu respeitoî. Mais ‡
frente continua: ì... Deus n„o quer que os pais sejam excessivamente brandos com seus
filhos, ao ponto de corrompÍ-los, poupando-os demais. Que sua bondade seja
temperada, a fim de con- serv·-los na disciplina do Senhor, e corrigi-los tambÈm
quando se desvia- rem. Essa idade requer freq¸ente admoestaÁ„o e firmeza com as
rÈdeas,

168 F. Selter, Exortar: In: NDITNT., Vol. II, p, 176.


169
* At 20.31; Rm 15.14; 1Co 4.14; Cl 1.28; 3.16; 1Ts 5.12,14; 2Ts 3.15. A pr·tica da admoestaÁ„o
deve ser natural entre os crentes visando a sua correÁ„o (Rm 15.4; 1Ts 5.14; 2Ts 3.15) e aperfeiÁo-
amento (Cl 1.28); no entanto ela deve ser feita com amor (1Co 4.14; 2Ts 3.15) e sabedoria (Cl 3.16).
Considerando que esta È tambÈm uma tarefa dos lÌderes da igreja, aqueles que se esforÁam neste
serviÁo devem ser estimados pela igreja (1Ts 5.12).
170
Plat„o (427-347 a.C.) faz tambÈm a combinaÁ„o de Paidei/a com Nouqesi/a, sendo traduzidas
por ìensinamento e admoestaÁ„oî (Plat„o, A Rep˙blica, 399b. p. 128). Vd. Richard C. Trench,
Synonyms of the New Testament, 7™ ed. London: Macmillan and Co. 1871, ß xxxii, p. 104-108.
171
Revista Veja, 17/02/82, nw 706, p. 6.
172
no caso de se soltaremî.

12) Bom testemunho dos de fora: 1Tm 3.7. ìDe foraî aqui, aplica-se aos que n„o
173
s„o da Igreja, os incrÈdulos (e)/cwqen = de fora, exterior). Os lÌderes da Igreja, em
especial numa sociedade pag„, estariam sempre sob os olhares inquisidores e
investigativos de seus contempor‚neos. Portanto, eles precisavam ter um bom tes-
temunho dentro da Igreja (a eleiÁ„o por si sÛ j· evidenciaria isso) e fora. NinguÈm
174
deveria ter do que acus·-los. … grande ingenuidade imaginar que o que importa
È
somente a nossa consciÍncia diante de Deus ou, no m·ximo, diante de nossos ir-
m„os. Sabemos que em ˙ltima inst‚ncia, ainda que sejamos injustiÁados e calunia-
dos, o que prevalece È a nossa convicÁ„o de uma boa consciÍncia diante de nosso
175
Deus. Contudo, isso n„o significa que n„o devamos ser cautelosos com a apa-
rÍncia no mal. Definitivamente, n„o devemos nos colocar em situaÁıes
suspeitas
simplesmente porque ìDeus conhece o nosso coraÁ„oî. … preciso que mantenhamos
diante de Deus e, quando possÌvel, diante dos homens, de fora e de dentro da
igre- ja, uma postura condizente com o que acreditamos. Tomando apenas um
exemplo, vemos que Paulo quando levou a oferta dos crist„os da MacedÙnia e
da Acaia para os pobres de JerusalÈm, ele n„o o fez sozinho (2Co 1Co 16.1-4;
8.16-24/Rm 15.22- 33). VocÍ teria d˙vida quanto ‡ honestidade de Paulo? Eu
tambÈm n„o. Contudo, n„o estou seguro quanto a poder dizer o mesmo a
respeito da opini„o dos judeus ou da totalidade dos crentes de Corinto. Paulo agiu
com sabedoria e prudÍncia. Ele nos instrui: ìPois, o que nos preocupa È
procedermos honestamente, n„o sÛ perante o Senhor, como tambÈm diante dos
homensî (2Co 8.21). Calvino comenta: ìA primei- ra preocupaÁ„o È sem d˙vida a de
ser uma boa pessoa, e isto È verificado n„o sÛ pelos feitos externos, mas tambÈm por uma
consciÍncia Ìntegra; po- rÈm, a segunda preocupaÁ„o consiste no fato de que as
pessoas no meio das quais vocÍ vive devem reconhecer que de fato vocÍ È uma boa
pesso-
a. (...) O crist„o deve sempre ter o cuidado de viver uma vida que produza a edificaÁ„o de
seu prÛximo e tomar cuidadosas precauÁıes para que os mi- nistros de Satan·s n„o
encontrem desculpas para caluni·-los, trazendo com
176
isso a desonra de Deus e a ofensa dos homens de bemî. … preciso que en-
tendamos, que a depravaÁ„o total È uma doutrina da qual n„o podemos nos esque-
cer em nossas relaÁıes: todos os homens s„o pecadores.

Deus deseja ser ouvido por intermÈdio dos pregadores. Portanto, a


necessidade de fidelidade na transmiss„o da mensagem e, ao mesmo tempo,
uma vida de santi- dade: o testemunho do mestre È fundamental: ìA doutrina ser·
de pouca auto- ridade, a menos que sua forÁa e majestade resplandeÁam na vida do bispo
como o reflexo de um espelho. Por isso ele diz que o mestre seja um padr„o

172
Jo„o Calvino, EfÈsios, (Ef 6.4), p. 181.
173
* Mt 23.25,27; 23.28; Mc 7.15,18; Lc 11.39,40; 2Co 7.5; 1Tm 3.7; 1Pe 3.3; Ap 11.2 (2 vezes);
14.20.
174 Ver: Samuel Miller, O PresbÌtero Regente: Natureza, Deveres e QualificaÁıes, p. 46-47.
175 ìA m· consciÍncia [È] a m„e de todas as heresiasî [Jo„o Calvino. As Pastorais, (1Tm 1.19), p. 50].
176
Jo„o Calvino, ExposiÁ„o de 2 CorÌntios, (2Co 8.21), p. 181,182.
177
ao qual os discÌpulos possam seguir.î A Palavra deve ser previamente grava- da
em nossos coraÁıes, visto que: ìPode acontecer que o homem desempe- nhe seus
deveres de acordo com suas melhores habilidades, porÈm, se seu coraÁ„o n„o est·
naquilo que faz, lhe falta muito para chegar ‡ sua me-
178
taî. Portanto, precisamos examinar-nos a nÛs mesmos: Aqueles que pregam
ìn„o devem balbuciar com o externo de sua lÌngua, nem fazer coment·rios ligeiros, nem
ainda falar por falar; sen„o que, de acordo ao que lhe h· sido ensinado por Deus isso
deveria comunicar aos que est„o a seu cargo, isto È o que h· sido gravado em seu interior.
Se quisermos servir a Deus com pureza em nosso ofÌcio, sobre tudo devemos controlar
nossa lÌngua, para que n„o fale nada sen„o o que est· gravado em nosso coraÁ„o. (...)
Sempre que fa- lamos Deus quer ser ouvido por meio de nÛs. Posto que nos concedeu
uma t„o grande honra, ao menos deverÌamos ter sua doutrina gravada em nÛs, e ali
deveria lanÁar raÌzes, e logo nossa boca deveria testificar de que a co- nhecemos. (...)
Especialmente quando pregamos, que n„o sÛ lhe preguemos a outros; sen„o que nos
incluamos entre eles. (....) Quando uma pessoa fala a Palavra de Deus sem que ela
mesma sinta o seu poder, que outra coisa es- t· fazendo sen„o mero palavreado? E, que
sacrÌlego È isso! Que corrupÁ„o da Palavra de Deus! Deste modo ent„o, pensemos
diligentemente em nÛs mesmos; e, cada vez que formos ao p˙lpito meditemos bem
na liÁ„o que aqui se nos d·, ou seja, que a retid„o de nosso coraÁ„o se manifeste
em
179
nossa lÌnguaî. Continua: ìAqueles que tÍm o ofÌcio de pregar a palavra de
Deus tÍm que praticar tanto melhor o que eu disse, ou seja, de ser instruÌdos eles mesmos
antes de expor algo, de maneira que seu coraÁ„o fale antes de suas bocas. Para fazer isso,
peÁam a Deus que se digne toc·-los de tal maneira no mais Ìntimo, que possam ter Sua
Palavra bem arraigada na alma, que possam ser capazes de servir a seus semelhantes e
perceber que n„o es- t„o avanÁando inadvertidamente por eles mesmos, sen„o que s„o
dirigidos
180
pelo EspÌrito Santoî.

Comecemos por pregar para nÛs mesmos. Pregando sobre o livro de JÛ,
Calvino disse: ìQuando eu subo ao p˙lpito n„o È para ensinar os outros somente.
Eu n„o me retiro aparte, visto que eu devo ser um estudante, e a Palavra que
procede da minha boca deve servir para mim assim como para vocÍ, ou ela ser· o
181
pior para mimî.
182
Como a pregaÁ„o pertence a Deus, que È o Seu autor, deverÌamos ter ìsido
183
ensinados por Deus antes que possamos ser senhores e mestresî. Somente
177
Jo„o Calvino, As Pastorais, (Tt 2.7), p. 331.
178
Jo„o Calvino, A Verdadeira Vida Crist„, p. 39.
179 Juan Calvino, Autoridad y Reverencia que Debemos a la Palabra de Dios: In: Sermones Sobre
Job, p. 205-206.
180
Juan Calvino, Autoridad y Reverencia que Debemos a la Palabra de Dios: In: Sermones Sobre
Job, p. 208.
181
Serm„o 95 Apud Bernard Cottret, Calvin: A Biography, Michigan/Cambridge, U.K./Edinburgh:
Eerdmans/T& T. Clark, 2000, p. 294.
182
ìDeus, o autor da pregaÁ„o!î (Jo„o Calvino As Institutas, IV.1.6).
183
Juan Calvino, Autoridad y Reverencia que Debemos a la Palabra de Dios: In: Sermones Sobre
assim poderemos ser genuÌnos mestres, j· que, como vimos, ìMestre È aquele
184
que forma e instrui a Igreja na Palavra da verdadeî. ìO alvo de um bom
mestre deve ser sempre converter os homens do mundo para que voltem seus olhos para o
185
cÈuî.

O ministro deve cuidar criteriosamente da doutrina e de sua vida pessoal:


ìUm bom pastor deve ser criterioso acerca de duas coisas: ser diligente em sua
doutrinaÁ„o e conservar sua integridade pessoal. N„o basta que ele amolde sua vida de
acordo com o que È recomend·vel e tome cuidado para n„o dar mau exemplo, se n„o
acrescentar ‡ vida santa uma diligÍncia contÌnua na doutrinaÁ„o. E a doutrinaÁ„o ser·
de pouco valor se n„o houver uma
186
correspondente retid„o e santidade de vidaî.

Ao ministro compete n„o apenas ensinar fielmente, mas, viver de modo


digno. Portanto os pastores devem ensinar com fidelidade sendo ele mesmo
187
um exemplo de vida para os fiÈis: ìA doutrina È a m„e pela qual Deus nos geraî.
ìEla [a
doutrina] sÛ ser· consistente com a piedade se nos estabelecer no temor e no culto divino,
se edificar nossa fÈ, se nos exercitar na paciÍncia e na hu- mildade e em todos os deveres
188
do amorî.

Deste modo, cabe ao Ministro, aprender na ìEscola de Deusî esta liÁ„o de vida: A
Palavra foi-nos concedida para que pratiquemos os mandamentos de Deus: as
es- peculaÁıes para nada servem: ì.... n„o h· na escola de Deus liÁ„o que deva ser
mais prudentemente aprendida do que o estudo de uma vida santa e perfeita. Em suma,
a instruÁ„o moral È muito mais importante do que as es- peculaÁıes ingÍnuas, as quais
s„o de nenhum uso Ûbvio ou pr·tico, ‡ luz do texto: ëToda Escritura È inspirada por Deus
È ˙til.... a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda
boa obraí [2Tm 3.16-
189
17]î.

13) Amigo do Bem: (fila/gaqoj) *Tt 1.8. Amigo do que È bom. Denota devoÁ„o
a tudo que È moralmente bom no sentido de resultado da sua atividade;
excelente. Neste sentido, o presbÌtero deve ser amigo daquilo cuja ìbelezaî
pode n„o ser a pri- oridade; no entanto, È algo essencialmente bom para a Igreja.
Na administraÁ„o da Igreja nem sempre tomamos atitudes que sejam
consideradas esteticamente ìbelasî. No entanto, devemos agir procurando o que
È essencialmente bom. O ìbomî nem sempre È imediatamente agrad·vel, mas È
o melhor. A educaÁ„o e a disciplina n„o tÍm, num primeiro momento, como
ingrediente fundamental a satisfaÁ„o de quem por elas È exercitado, no
entanto, o fruto disso È o bem individual e o da Igreja de Cristo (Hb 12.4-13).
Job, p. 206.
184 Jo„o Calvino, ExposiÁ„o de Romanos, (Rm 12.7), p. 432.
185 Jo„o Calvino, As Pastorais, (Tt 1.2), p. 301.
186 Jo„o Calvino, As Pastorais, S„o Paulo, Paracletos, 1998, (1Tm 4.16), p. 125.
187
Jo„o Calvino,. Galatas, (Gl 4.24), p. 141.
188
Jo„o Calvino, As Pastorais, (1Tm 6.3), p. 164-165.
189
Jo„o Calvino, As Pastorais, (1Tm 5.7), p. 136.
FaÁamos uma pequena digress„o. Paulo, escrevendo aos romanos, diz que a
vontade de Deus È ìboaî (Rm 12.2).

Falar que a vontade de Deus È boa pode sugerir-nos uma sÈrie de conceitos dife-
rentes e atÈ equivocados. O que Paulo est· querendo dizer quando declara que a
vontade de Deus È boa?

A idÈia de ìbemî pode estar circunscrita a uma sÈrie de circunst‚ncias que


nos fazem avaliar o seu significado de forma diferente. Por exemplo, quando digo que
uma faca È boa para cortar carne e, ao mesmo tempo, falo para o meu filho pequeno
n„o mexer nela porque ela È perigosa... neste caso, usei o mesmo objeto, todavia, fiz
declaraÁıes antagÙnicas, porque o classifiquei dentro de referenciais diferentes: a
faca È boa para cortar carne, todavia, por ser afiada (justamente o que a torna boa
para aquele propÛsito), traz perigo para uma crianÁa manuse·-la. Isto significa que o
que torna alguma coisa boa para determinada tarefa, pode ser justamente o que a
desqualifica para outra.

H· tambÈm a quest„o do bem individual e do bem coletivo. Quantas vezes esta-


mos dispostos a julgar ìbomî aquilo que È melhor para a coletividade e n„o para nÛs,
especificamente? H· tambÈm caminhos que seguimos que nos parecem ser os me-
lhores, contudo, depois descobrimos que eles tinham apenas uma aparÍncia ìboaî
mas que, de fato, n„o eram; as prÛprias circunst‚ncias nas quais est·vamos metidos
facultou um tipo de ilus„o, uma deficiÍncia na interpretaÁ„o do fenÙmeno... Agora,
depois de muitas dificuldades, podemos ent„o perceber o nosso erro e nos arrepen-
der do rumo que tomamos.

Sendo assim, o que Paulo estaria dizendo, ent„o?

A palavra usada por ele para descrever a vontade de Deus, denota o que È moral e
praticamente bom. A vontade de Deus È boa (a)gaqo/j) porque Ele È bom. (Lc
18.19). Deus È bom essencialmente; a Sua vontade tambÈm o È. Por Deus ser bom
È que Ele Se comunica com todas as Suas criaturas de modo terno, generoso e be-
nevolente.

A vontade de Deus È boa em si mesma, n„o estando dependente de Èpocas ou


circunst‚ncias; ela È proveniente de um Deus eterno e absolutamente bom. O que
muitas vezes ocorre conosco È que queremos ìensinarî a Deus o nosso ìbemî mo-
ment‚neo: assim, neste af„, a Igreja ora para que certo polÌtico seja eleito, sugere
determinadas soluÁıes para Deus nos dirigir em nossa vida pessoal, encaminha al-
guns procedimentos, solicitando o aval de Deus, etc. Temos, quando muito, uma
vi- s„o moment‚nea de ìbemî e, mesmo assim, bastante ofuscada pelos nossos
peca- dos e contingÍncias ñ interesses, predileÁıes, falta de discernimento,
entre outras coisas; no entanto, ainda assim, queremos que Deus faÁa a nossa
vontade... A res- posta de Deus sempre È boa e, ela È justamente o que
desejarÌamos, se tivÈssemos
190
um perfeito discernimento espiritual.

Quando oramos: ìseja feita a Tua vontadeî, estamos de fato, confiando na


vonta- de bondosa de Deus, sabendo que ela n„o È boa apenas naquele
190
momento, naque- Cf. Charles Hodge, Teologia Sistem·tica, S„o Paulo: Editora Hagnos, 2001,
p. 1540.
las circunst‚ncias, ou para os nossos interesses egoÌstas; mas È boa em sua prÛpria
natureza, sendo harmÙnica com o Ser de Deus, que È bom, santo, justo, amoroso,
fiel.

MoisÈs, consciente disso, diz ao povo: ìO Senhor nos ordenou cumprÌssemos


to- dos estes estatutos, e temÍssemos o Senhor nosso Deus, para o nosso
perpÈtuo bem, para nos guardar em vida, como tem feito atÈ hojeî (Dt 6.24).

Portanto, os presbÌteros devem ser amantes do que È bom. A vontade de Deus


que È boa em si mesma deve ser a sua paix„o em todas as suas decisıes.
191
14) Justo: (di/kaioj = reto) Tt 1.8. A justiÁa denota a conformidade com a Lei
192
de Deus e dos homens, vivendo em harmonia com elas, procurando vivenciar a
Lei de Deus entre os homens.

15) Piedoso: 193


(o)s/ ioj) Tt 1.8. ìDevotoî, ìsantoî. Enquanto que a justiÁa ressalta
a atitude do homem na sociedade, a ìpiedadeî destaca o seu relacionamento com
194
Deus.

16) DomÌnio prÛprio: (e)gkrath/j) *Tt 1.8. ìAuto controleî, ìdisciplinaî.


Significa um total autodomÌnio, controlando as suas paixıes, impulsos e apetites;
subordinan- do os seus pensamentos e emoÁıes ‡ vontade de Deus. A palavra È
empregada re- ferindo-se ao apetite sexual (1Co 7.9) e ao treinamento do atleta
que em tudo preci- sa se dominar a fim de preparar-se adequadamente para
a competiÁ„o (1Co
191
Mt 1.19; 5.45; 9.13; 10.41 (trÍs vezes); 13.17, 43,49; 20.4; 23.28,29,35 (duas vezes);
25.37,46;
27.19; Mc 2.17; 6.20; Lc 1.6,17; 2.25; 5.32; 12.57; 14.14; 15.7; 18.9; 20.20; 23.47,50; Jo 5.30; 7.24,
17.25; At 3.14; 4.19; 7.52; 10.22; 22.14,15; Rm 1.17; 2.13; 3.10,26; 5.7,19; 7.12; Gl 3.11; Ef. 6.1; Fp
1.7; 4.8; Cl 4.1; 2Ts 1.5,6; 1Tm 1.9; 2Tm 4.8; Tt 1.8; Hb 10.38; 11.4; 12.23; Tg 5.6,16; 1Pe 3.12,18;
4.18; 2Pe 1.13; 2.7,8 (2 vezes) ; 1Jo 1.9; 2.1; 2.29; 3.7 (duas vezes), 12; Ap 15.3; 16.5,7; 19.2; 22.11.
192
A palavra ìjustiÁaî tinha um amplo emprego na Literatura secular e nas Escrituras: A) Na Literatura
Secular: Analisando o substantivo dikaiosu/nh dentro do seu emprego secular, observamos que ele
significava, originalmente, uma atribuiÁ„o concedida por Zeus (deus grego) aos homens ñ aos quais,
diferentemente dos animais ñ, fora conferida a capacidade de agir justamente, a fim de poderem
viver em sociedade. A palavra evoluiu, tomando outros sentidos, tais como: (a) A estrutura do
Estado, que visa o acordo e a amizade. Para Plat„o (427-347 a.C.) a dikaiosu/nh È fundamental
ao Estado e ‡ alma humana. Ainda que nesta existÍncia a vida dos justos nem sempre seja
tranq¸ila, aqui e no a- lÈm os deuses se lembrar„o deles. (b) A principal das virtudes humanas, que
se manifesta, tambÈm, na obediÍncia ‡s leis do Estado. Esta virtude È ˙til na paz e na guerra.
A palavra tambÈm passou a significar a qualidade do homem justo, que se harmonizava com
os padrıes de sua sociedade, cumprindo suas obrigaÁıes para com os deuses e para com os
homens. Sendo este homem "di/kaioj", isto È: "justo", "reto". B) No Sentido BÌblico: A palavra
"justiÁa" adquire na BÌblia o sentido de "retid„o". Proceder justamente significa agir conforme o
car·ter de Deus, Aque- le que È justo absolutamente: "...Deus È fidelidade, e n„o h· nEle
injustiÁa: È reto e justo (LXX: di/kaioj)î (Dt 32.4).
O Antigo Testamento, indicando a justiÁa de Deus manifesta em Seu Reino, declara, numa
lingua- gem figurada, que: "JustiÁa (LXX: dikaiosu/nh) e direito s„o o fundamento do teu trono;
graÁa e ver- dade te precedemî (Sl 89.14). A justiÁa È o fundamento do Seu governo: "....JustiÁa
(dikaiosu/nh) e juÌzo s„o a base do seu trono" (Sl 97.2).
Deste modo, o homem justo È aquele que est· comprometido com os preceitos de Deus. (Ver:
Hermisten M.P. Costa, O Pai Nosso, S„o Paulo: Editora Cultura Crist„, 2001).
193
* At 2.27; 13.34,35; 1Tm 2.8; Tt 1.8; Hb 7.26; Ap 15.4; 16.5.
194 Vd. Jo„o Calvino, As Pastorais, (Tt 1.8), p. 312-313.
195
9.25). Pedro inter-relacionando algumas das virtudes crist„s, estabelece uma
co- nex„o imediata entre o conhecimento, o domÌnio prÛprio e a perseveranÁa
(2Pe 1.6). Sem d˙vida, o progresso no conhecimento de Deus (2Pe 1.8) ñ atravÈs
da utilizaÁ„o dos meios que Deus tem-nos fornecido para o nosso crescimento
196
espiritual (2Pe 1.3) ñ, associa-se ao domÌnio prÛprio e ‡ perseveranÁa
197
(u(pomonh/) em resistir
‡s tentaÁıes, fazendo a vontade de Deus. Lembremo-nos de que o domÌnio prÛprio
(e)gkra/teia) È um fruto do EspÌrito (Gl 5.23). Deste modo, o presbÌtero, como todo o
crente, deve estar humildemente consciente de que a modelagem de seu car·ter
depender· sempre de sua submiss„o ao EspÌrito Santo. Deus nos educa por meio
de Sua graÁa. Quem È educado por Deus sempre revela os frutos dessa divina
pe- dagogia (Tt 2.11-12).
198
17) Apegado ‡ Palavra: (a)nte/xomai) Tt 1.9. ìReterî, ìsusterî; servir, no senti-
do de lealdade (Mt 6.24 = Lc 16.13). Notemos que todas as qualificaÁıes exigidas
para o presbiterato e o diaconato sÛ poder„o ser cumpridas, mediante o apego
irre- vog·vel e devotado ‡ Palavra. ìEste È o principal dote do bispo que È eleito es-
pecialmente para o magistÈrio sagrado, porquanto a Igreja n„o pode ser
199
governada sen„o pela Palavraî.

18) Apto para exortar e convencer: Tt 1.9. Na Palavra encontramos os


recursos que nos tornam ìaptosî, ìpoderososî (dunato/j = ìpoderî, ìcapazî,
200
ìforÁaî) para

195 Em ambos os textos, a palavra utilizada È e)gkrateu/omai, a qual ocorre nesses textos com ex-
clusividade em todo o Novo Testamento.
196 Ver: Hermisten M.P. Costa, A Palavra e a OraÁ„o como Meios de GraÁa: In: Fides Reformata,
S„o Paulo: Centro Presbiteriano de PÛs-GraduaÁ„o Andrew Jumper, 5/2 (2000), 15-48.
197
O substantivo u(pomonh/ (perseveranÁa) e o verbo u(pome/nw [u(pome/nw (u(po/ = ìsobî & me/nw =
ìpermanecer, ficar, esperar, aguardarî)] (perseverar), tÍm o sentido de persistir, permanecer, firmeza,
const‚ncia, paciÍncia, resistÍncia, ìpermanecer debaixo deî; ìmanter-se firme debaixo deî. Os termos
descrevem n„o simplesmente uma atitude passiva de deixar os fatos acontecerem, mas, sim, um
comportamento ativo que enfrenta as dificuldades, tendo uma perspectiva que ultrapassa a simples
vis„o adversa do momento; È, portanto, uma perseveranÁa viril na prova: aceita os embates da vida
porÈm, ao aceit·-los, transforma-os em novas conquistas. A palavra quer dizer uma resistÍncia per-
sistente, a despeito das circunst‚ncias difÌceis. Uma fÈ que se fortalece ainda mais no meio das ad-
versidades [Vd. William Barclay, Palavras Chaves do Novo Testamento, p. 101].
Esta paciÍncia È uma perseveranÁa corajosa, que aceita os desafios de sua fÈ e permanece fiel ao
seu Senhor; ela È uma qualidade espiritual, o produto de um andar submisso e guiado pelo EspÌrito.
Por isso ela pode ser descrita como ìa graÁa para suportarî. Esta resistÍncia se alicerÁa sobre a fÈ. A
fÈ consiste na entrega da alma a Cristo, confiando inteiramente nos Seus cuidados. Tal consagraÁ„o
confere ao crente a disposiÁ„o e o poder de suportar dificuldades provenientes de sua lealdade irres-
trita a Cristo. A nossa fÈ, portanto, se evidencia em nossa paciÍncia em suportar as adversidades... E
assim, a vida crist„ vai sendo lapidada, aprimorada em seus contornos por meio das dificuldades co-
muns a todos aqueles que querem permanecer fiÈis ao Senhor: ìA tribulaÁ„o produz perseveran- Áaî
(u(pomonh/)(Rm 5.3); È a fÈ provada que produz a ìconst‚nciaî (Tg 1.3). ìCom efeito, tendes ne-
cessidade de perseveranÁa (u(pomonh/), para que havendo feito a vontade de Deus, alcanceis a pro-
messaî (Hb 10.36).
198
* Mt 6.24; Lc 16.13; 1Ts 5.14; Tt 1.9.
199
Jo„o Calvino, As Pastorais, (Tt 1.9), p. 313.
200
* Mt 19.26; 24.24; 26.39; Mc 9.23; 10.27; 13.32; 14.35,36; Lc 1.49; 14.31; 18.27; 24.19; At 2.24;
7.22; 11.17; 18.24; 20.16; 25.5; Rm 4.21; 9.22; 11.23; 12.18; 15.1; 1Co 1.26; 2Co 10.4; 12.10; 13.9;
Gl 4.15; 2Tm 1.12; Tt 1.9; Hb 11.19; Tg 3.2
201
ìexortarî (parakalei=n = ìexortarî, ìencorajarî, ìrogarî, ìadmoestarî) pelo ìreto
ensinoî (u(giai/nw = ìestar s„oî, ìestar com sa˙deî e didaskali/a = ìdoutrinaî) e
202
ìconvencerî (e)le/gxw = ìreprovarî, ìrepreenderî) aos que se opıem, gostam de
contradizer a Palavra. As Escrituras s„o adequadas para isso (2Tm 4.2): Ela edifica
os crentes, anima-os, exorta-os e rebate os ataques dos que se aprazem em
203
contra- dizer, em ser do contra. Notemos ent„o, que a fonte da autoridade do
presbÌtero para poder exortar e convencer, est· na Palavra. Uma advertÍncia para
todos nÛs È:
n„o tentemos realizar a nossa funÁ„o fora da Palavra; a autoridade e poder provÍm
da Palavra de Deus. N„o confundamos nossas opiniıes com as Escrituras; a fonte do
nosso pensar e agir deve ser a Escritura, n„o simplesmente a nossa experiÍncia de
homens amadurecidos e pr·ticos.

A Escritura È ˙til e suficiente para o ensino e, tambÈm para corrigir, para


refutar o erro e repreender o pecado (2Tm 3.16). O termo usado aqui para
204
"convencer" (Tt 1.9) j· possuÌa um rico emprego na literatura secular,
significando, de modo es- pecial:

a) A exposiÁ„o lÛgica e objetiva dos fatos de uma matÈria, com o objetivo de refu-
tar os argumentos de um oponente; daÌ a idÈia de refutar e convencer.

b) A correÁ„o do modo de viver dos homens, feita pela consciÍncia, pela verdade
ou por Deus.

Uma idÈia embutida na palavra grega È a de evidenciar o erro, expÙ-lo e trazÍ-lo ‡


201
O verbo parakale/w tem o sentido de: implorar (Mt 8.5; 18.29), suplicar (Mt 18.32); exortar (Lc
3.18; At 2.40; 11.23); conciliar (Lc 15.28); consolar (Lc 16.25; 15.32; 1Ts 5.11; 2Ts 2.17); confortar
(2Co 1.4; 7.6); contemplar (2Co 1.4); convidar (At 8.31); pedir (At 9.38; 1Co 4.13; 16.15); pedir des-
culpas (At 16.39); fortalecer (At 20.2,12); solicitar (At 25.2; Fm 9,10); chamar (At 28.20); admoestar
(1Co 4.16; Hb 10.25); recomendar (1Co 16.12; 2Co 8.6; 9.5; 1Tm 6.2).
O escritor de Hebreus orienta os irm„os a exortarem-se mutuamente, para que todos
perseverem firmes em sua fÈ: ì.... Exortai-vos (parakale/w) mutuamente cada dia, durante o
tempo que se cha- ma Hoje, a fim de que nenhum de vÛs seja endurecido pelo engano do
pecadoî (Hb 3.13); ìN„o dei- xemos de congregar-nos, como È costume de alguns; antes, faÁamos
admoestaÁıes (parakale/w) e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproximaî (Hb 10.25).
Notemos que todos nÛs, irmanados na mesma fÈ e propÛsito, devemos estar comprometidos com
o consolo, conforto, admoestaÁ„o e estÌ- mulo aos nossos irm„os. Como famÌlia de Deus (Ef 2.19)
estamos todos juntos e dependemos uns dos outros para permanecermos firmes, n„o
desanimando. A fraternidade crist„ revela-se nesta atitu- de cooperante. Hoje exercitamos com o
nosso irm„o o conforto; amanh„ somos alvo dessa palavra grandiosa e necess·ria em nossa
caminhada.
Judas escreveu com este propÛsito: ìAmados, quando empregava toda a diligÍncia em escrever-
vos acerca da nossa comum salvaÁ„o, foi que me senti obrigado a corresponder-me convosco, exor-
tando-vos (parakale/w) a batalhardes, diligentemente, pela fÈ que uma vez por todas foi entregue
aos santosî (Jd 3).
202
* Mt 18.15; Lc 3.19; Jo 3.20; 8.46; 16.8; 1Co 14.24; Ef 5.11,13; 1Tm 5.20; 2Tm 4.2; Tt 1.9,13;
2.15; Hb 12.5; Tg 2.9; Jd 15; Ap 3.19.
203
ì… um not·vel tributo ‡ Palavra de Deus, quando o apÛstolo diz que ela È adequada
n„o sÛ para governar os que se deixam instruir, mas tambÈm para quebrantar a oposiÁ„o obstinada de seus
inimigos. O poder da verdade divina È tal que facilmente prevalece con- tra todas as falsidadesî [Jo„o Calvino,
As Pastorais, (Tt 3.9), p. 314].
204
Vd. H.M.F. B¸chsel, E)le/gxw: In: G. Kittel & G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New
Testament, Vol. II, p. 475; H.-G. Link, Culpa: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicion·rio Internacional
de Teologia do Novo Testamento, Vol. I, p. 572.
PresbÌteros e Di·conos: Servos de Deus no Corpo de Cristo ñ Rev. Hermisten ñ 12/05/08 ñ 50

luz, objetivando corrigi-lo. H· na palavra o sentido de "disciplina educativa"; a


edu- caÁ„o e a correÁ„o devem caminhar juntas (Pv 3.11,12; Hb 12.5; Ap 3.19).

Por isso, Paulo recomenda a TimÛteo que pregue a Palavra, porque ela de fato È
˙til para a correÁ„o: "Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer n„o, corrige
(e)le/gxw), repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrinaî (2Tm 4.2).

Em outro lugar, Paulo insiste com Tito para que repreenda os falsos mestres a fim
de que eles tenham uma fÈ sadia: "Portanto, repreende-os (e)le/gxw) severamente
205
para que sejam sadios na fÈî (Tt 1.13).

CONSIDERA«’ES FINAIS:

Ao terminarmos estas anotaÁıes, È natural que nos perguntemos: quem pode ha-
bilitar-se para estes ofÌcios? Quem de nÛs se considera apto para fazÍ-lo?
Certa- mente, depois de verificarmos aspectos das exigÍncias bÌblicas, È possÌvel
que ne- nhum de nÛs, a comeÁar por mim, se sinta capacitado para o presbiterato
ou diaco- nato. No entanto, creio que esta sensaÁ„o, ainda que por si sÛ n„o
capacite alguÈm a exercer esses ofÌcios, È um sintoma que pode indicar a nossa
real consciÍncia da responsabilidade de servir ‡ Igreja de Deus como PresbÌtero e
Di·cono. Diria mais: acredito que a ausÍncia do sentimento de incompetÍncia e
pequenez diante desta miss„o aponta para a ausÍncia de compreens„o de sua
abrangÍncia e responsabili- dade. No entanto, tomo aqui a palavra de um teÛlogo
contempor‚neo que nos pare- ce de extrema pertinÍncia:

ìQuando Paulo alista as qualificaÁıes dos presbÌteros, È importante o fato de ele


ajuntar requisitos concernentes a traÁos do car·ter e atitudes Ìntimas com requisitos
que n„o podem ser preenchidos em curto espaÁo de tempo, sen„o em um perÌodo de
206
muitos anos de vida crist„ fielî.

Por outro lado, conforme enfatiza Samuel Miller (1769-1850):

ìQuanto mais profundo for o seu senso de inadequaÁ„o, muito mais


provavelmente se aplicar· incessante e insistentemente em buscar o auxÌ- lio do alto; e
quanto mais prÛximo viver do trono da graÁa, muito mais amplamente partilhar· da
sabedoria e do fortalecimento de que necessi-
207
taî.

S„o Paulo, 12 de maio de 2008. Rev.


Hermisten Maia Pereira da Costa

205
Para um estudo mais detalhado desta palavra, ver: Hermisten M.P. Costa, O Pai Nosso, S„o Pau-
lo: Editora Cultura Crist„, 2001.
206
Wayne A. Grudem, Teologia Sistem·tica, S„o Paulo: Vida Nova, 1999, p. 768.
207
Samuel Miller, O PresbÌtero Regente: Natureza, Deveres e QualificaÁıes, p. 42.

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