Parecer Impeachment Moraes - Bolsonaro
Parecer Impeachment Moraes - Bolsonaro
Parecer Impeachment Moraes - Bolsonaro
1) RELATÓRIO
1- alterar, por qualquer forma, exceto por via de recurso, a decisão ou voto já
proferido em sessão do Tribunal;
2 - proferir julgamento, quando, por lei, seja suspeito na causa;
3 - exercer atividade político-partidária;
4 - ser patentemente desidioso no cumprimento dos deveres do cargo;
5 - proceder de modo incompatível com a honra, dignidade e decoro de
suas funções.
entendimento jurídico nesses casos diverso do esperado pelo denunciante, afirma ter
havido procedimento incompatível com a honra, dignidade e decoro nas suas funções.
É o relatório.
2) FUNDAMENTAÇÃO
Como se sabe, o impeachment é medida que tem por fito obstar, impedir
que a pessoa investida de relevantes funções públicas continue a exercê-las.1 É um
mecanismo de accountability político, pelo qual se viabiliza a retirada forçada (removal
from office) de altas autoridades da República que tenham se conduzido de maneira
incompatível com a envergadura do cargo que ocupam, incorrendo em crime de
responsabilidade.
A responsabilização dos agentes políticos, por crime de responsabilidade,
é um meio de a sociedade se defender do exercício irresponsável do poder e de
comportamentos nefastos ao Estado Democrático de Direito.
Logo, é ínsito à noção de Estado de Direito, ou seja, do império da Lei,
que haja controle do bom exercício das funções de Ministros do Supremo Tribunal
Federal e de outras autoridades. Afinal, nenhuma autoridade está imune à
responsabilização e nenhuma função estatal é soberana, devendo todos se submeter às
normas estatais e aos mecanismos de freios e contrapesos (checks and balances).
Por outro lado, é preciso lembrar que a simples instauração de processo
contra as autoridades já traz instabilidade para a atuação dessas altas autoridades da
1
MIRANDA, Pontes de. Comentários à Constituição de 1946. T. III. 3ª ed., rev. e aumentada. Rio de
Janeiro: Borsoi, 1960, p. 127.
atribuições que se insere neste caso é a de verificar se há os elementos mínimos para que
qualquer proposição possa tramitar.
No caso das denúncias por crimes de responsabilidade, o juízo de
prelibação feito pelo Presidente da Casa restringe-se a verificar se a denúncia é
patentemente inepta ou destituída de justa causa, não reunindo condições mínimas para
seu processamento pela Mesa do Senado. Neste caso, o Presidente poderá determinar o
arquivamento da proposição, evitando que se encaminhe à Mesa e à comissão especial
denúncia que não apresente os pressupostos mínimos de conhecimento. É uma medida
para dar economicidade e eficiência aos trabalhos da Casa Legislativa, evitando
deliberações fadadas à inutilidade.
E o próprio Supremo Tribunal Federal já reconheceu tal possibilidade
como legítima e constitucional. Veja-se, por exemplo, decisão no MS 34.592, de
relatoria do Ministro Edson Fachin:
1.079/50 (art. 44) e com o próprio regimento interno do Senado (arts. 377
e ss).
As regras apontadas pelos impetrantes como fundamento da competência
da Mesa do Senado são correlatas a um procedimento diverso, realizado
em face do Chefe do Poder Executivo e em que já houve um juízo prévio
na Câmara dos Deputados de admissibilidade.
[...]
Isso porque, reitero, não há indicação, na inicial, de onde seja na
Constituição Federal, seja na Lei dos Crimes de Responsabilidade (Lei
1.079/50) ou, ainda, no próprio Regimento Interno retira-se a previsão de
que os arquivamentos de pedidos de impeachment, por ausência de justa
causa, podem (ou devem) ser exercidos pela Mesa do Senado.
Sem a base normativa adequada, os impetrantes recorrem à regra que trata do
recebimento da denúncia por crime de responsabilidade do Chefe do
Executivo, não aplicável tout court à hipótese. [...]
(STF - MS: 34592 DF - DISTRITO FEDERAL 0000237-52.2017.1.00.0000,
Relator: Min. EDSON FACHIN, Data de Julgamento: 09/05/2017, Data de
Publicação: DJe-099 12/05/2017)
2
“Art. 48. [...] XXXIV-presidir as reuniões da Mesa e da Comissão Diretora, podendo discutir e votar;
[...]”
3
BROSSARD, Paulo. O Impeachment. São Paulo: Saraiva, 1992, p. 180-1.
4
MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal. Rio de Janeiro: Forense, 1965, p.
166. TOURINHO FILHO, Fernando da C. Manual de processo penal. São Paulo: Saraiva, 2001, p. 137.
Se não houver justa causa para a propositura da ação penal, faltará legítimo
interesse ao Estado, e então a denúncia se caracterizará como inepta por que
inexistirá “condição exigida pela lei para o exercício da ação penal”.
(...)
É preciso que haja fumus boni iuris para que a ação penal contenha condições
de viabilidade. Do contrário, inepta se apresentará a denúncia, por faltar
legítimo interesse e consequentemente, justa causa.
(...)
O processo penal atinge o status dignitatis do acusado. Em vários casos, este
sacrifício é exigido (como acontece sempre que o réu é absolvido) no
interesse do bem comum. Todavia, se nem fumus boni iuris pode descobrir-se,
para alicerçar a peça acusatória, seria iníquo que o juiz permanecesse
impassível e, como simples autômato, fosse recebendo a denúncia ou queixa.6
5
JARDIM, Afrânio Silva. Direito processual penal. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 54.
6
MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal, vol. II. Campinas: Bookseller,
1997, p. 162 e 164.
7
Disponível em http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=754371407,
consultado em 10/12/2020.
(ADPF 572. Órgão julgador: Tribunal Pleno. Relator: Min. EDSON FACHIN.
Julgamento: 18/06/2020, Publicação: 13/11/2020)
3) CONCLUSÃO
De acordo. Ao Advogado-Geral.