Faça Como Steve Jobs - Carmine Gallo
Faça Como Steve Jobs - Carmine Gallo
Faça Como Steve Jobs - Carmine Gallo
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Dedicatória
Para meu pai, Franco, um homem incrível que levou uma vida fora do
comum.
Agradecimentos
Uma pessoa pode ter a melhor ideia do mundo – totalmente original e in-
ovadora – mas, se ela não for capaz de convencer as outras pessoas, a ideia não
terá nenhuma importância.
GREGORY BERNS
Considere Faça como Steve Jobs um roteiro para o sucesso de suas ap-
resentações. É tão próximo quanto ter Jobs soprando a apresentação em seus
ouvidos, enquanto você expõe as qualidades de seu serviço, produto, empresa ou
causa. Quer você seja um presidente de empresa lançando um produto, um
empreendedor abordando investidores, um profissional de vendas fechando um
negócio ou um educador tentando motivar uma classe, Jobs tem algo a ensinar a
você. A maioria dos executivos realiza apresentações para divulgar informações.
Jobs não. Uma apresentação de Steve Jobs é planejada para criar uma experiên-
cia – “um campo de distorção da realidade” –, deixando sua plateia admirada,
inspirada e muito estimulada.
Assim que você sobe um degrau, sua eficácia depende da sua capacidade de
alcançar outros degraus por meio da palavra falada e escrita.
PETER DRUCKER
Algumas das palavras mais comuns utilizadas para descrever Steve Jobs
são “sedutor”,“atraente”,“cativante” e “carismático”. Já outras palavras, relacion-
adas geralmente com suas características interpessoais, são menos lisonjeiras.
Jobs é uma pessoa complicada, que cria produtos excepcionais, cultiva a
lealdade máxima e amedronta muito as pessoas. Ele é um perfeccionista ex-
tremado e um visionário; duas qualidades que criam uma combinação in-
flamável se as coisas não são feitas da maneira imaginada por Jobs. Este livro
não pretende abordar todas as características de Steve Jobs. Não é nem uma bio-
grafia dele, nem uma história da Apple. Aqui, não tratarei de Jobs, o chefe, mas,
sim, de Jobs, o comunicador. Além disso, embora o livro o ajude a criar ap-
resentações muito mais eficazes, ele deixa a arte do design das apresentações a
cargo de autores mais qualificados, cuja vida profissional é dedicada ao campo
do design. (Para mais referências, dicas e vídeos a respeito das apresentações
citadas ao longo deste livro, consulte carminegallo.com.) Esta obra oferece a
mais completa análise de como realmente Jobs produz e comunica o conceito
por trás da marca Apple. Você saberá como ele realiza todas as ações mencion-
adas a seguir:
• Produzir mensagens.
• Apresentar ideias.
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Quando fui ao programa The Big Idea with Donny Deutsch, do canal
CNBC, fiquei impressionado com a energia contagiante do apresentador.
Deutsch ofereceu aos telespectadores o seguinte conselho:“Quando você conhece
alguém que converteu uma paixão em lucro, pergunte-se:‘Por que não eu?’”.
Encorajo você a fazer o mesmo. Quando ler sobre Jobs nas páginas a seguir,
pergunte-se:“Por que não eu? Por que não posso empolgar minha plateia como
Jobs?”. A resposta é: “Você pode”. Como você descobrirá, Jobs não possui um
dom natural. Ele trabalha para isso. Embora sempre tenha tido talento
dramático, seu estilo evoluiu e melhorou ao longo dos anos. Jobs foca in-
cansavelmente o aprimoramento, trabalhando cada slide, cada demonstração,
enfim, todos os detalhes. Cada apresentação narra uma história, e cada slide rev-
ela uma cena. Jobs é um showman e, assim como todos os grandes atores, ele
ensaia até incorporar o personagem. “Estabeleça você mesmo seu padrão de
qualidade”, Jobs afirmou certa vez. “Algumas pessoas não estão acostumadas a
um ambiente em que se espera a excelência.” Não há atalhos para a excelência.
Uma apresentação como a de Jobs exige planejamento e prática, e, se você está
disposto a alcançar o topo, não há melhor professor que o showman da Apple
(Figura 1.1).
FIGURA 1.1
O showman da Apple converte apresentações em experiências teatrais.
Os atos são separados por curtos intervalos, que trazem informações sele-
cionadas das últimas descobertas da pesquisa cognitiva e do design de ap-
resentação. Essas novidades o ajudarão a elevar suas apresentações a novo
patamar.
Jobs é “o mestre de pegar algo que pode ser considerado muito desin-
teressante – um hardware eletrônico, por exemplo – e envolvê-lo em uma
história convincentemente dramática”, esclarece Alan Deutschman, em A se-
gunda vinda de Steve Jobs.4 Apenas poucos líderes que tive o prazer de con-
hecer possuem essa habilidade: transformar coisas aparentemente desinteress-
antes em histórias emocionantes referentes a uma marca. John Chambers, pres-
idente da Cisco, também tem essa capacidade. Chambers não vende roteadores e
comutadores que constituem a backbone (espinha dorsal) da internet, mas sim
conexões humanas, que mudam o modo como vivemos, trabalhamos, divertimo-
nos e aprendemos.
Os comunicadores mais inspiradores compartilham essa qualidade, uma
capacidade de criar algo significativo a partir de produtos esotéricos ou cotidi-
anos. Howard Schultz, presidente da Starbucks, não vende café. Ele vende um
terceiro lugar entre o trabalho e o lar. Suze Orman, guru financeira, não vende
fundos fiduciários e mútuos. Ela vende o sonho da liberdade financeira. Da
mesma forma, Jobs não vende computadores. Ele vende ferramentas para des-
pertar o potencial humano. Ao longo deste livro, pergunte-se: “O que estou
vendendo de verdade?”. Lembre-se: seu produto ou serviço por si só não é in-
spirador. Mas mostre-me como seu produto ou serviço melhora minha vida, e
você me conquista. Faça de uma maneira que me entretenha, e você terá criado
um verdadeiro disseminador.
No decorrer da leitura, você também descobrirá que Steve Jobs é motivado
por um fervor messiânico de mudar o mundo; ele quer causar um impacto no
universo. Para que essas técnicas funcionem, você deve cultivar um profundo
senso de missão. Se você se sentir entusiasmado a respeito de seu tema, estará
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Criar a história, o enredo, é o primeiro passo para vender suas ideias com
competência, convicção e carisma. O sucesso nessa etapa separa os comunic-
adores medíocres dos fora de série. A maioria das pessoas não consegue pensar
muito bem a respeito da sua história. Os comunicadores eficazes planejam
efetivamente, elaboram mensagens e títulos cativantes, possibilitam que os ou-
vintes sigam a narrativa com facilidade e introduzem um antagonista para con-
struir o drama. Os sete capítulos – ou cenas – do primeiro ato ajudarão a es-
tabelecer as bases para o sucesso da apresentação. Cada cena terminará com um
resumo de lições específicas e reais, que você pode aplicar facilmente hoje. Anal-
isemos as cenas aqui:
Steve Jobs construiu uma reputação no mundo digital de bits e bytes, mas
cria histórias na antiga tradição da caneta e do papel. Suas apresentações são
eventos teatrais, visando a geração de máxima publicidade, agitação e assombro.
Elas contêm todos os elementos das grandes peças ou filmes: conflito, desenlace,
vilões e heróis. Além disso, em sincronia com todos os grandes diretores de
cinema, Jobs elabora o enredo antes de pegar uma câmera, isto é, abrir o soft-
ware de apresentação. Isso é teatro com marketing, diferente de qualquer outra
coisa que você já tenha visto.
Jobs se envolve diretamente com cada detalhe da apresentação: redação
dos slogans descritivos, criação dos slides, ensaio das demonstrações e obtenção
da iluminação correta. Ele não aceita nada como ponto pacífico. Além disso, faz
da maneira que a maioria dos principais designers de apresentação recomenda:
começar no papel. “Nas etapas iniciais, o papel, a caneta e o esboço das ideias
brutas do mundo analógico parecem trazer mais clareza e resultados melhores e
mais criativos; depois disso, podemos representar nossas ideias de modo digit-
al”, escreve Garr Reynolds, em Presentation Zen.
Os especialistas em design, incluindo aqueles que criam apresentações
para a Apple, recomendam que os apresentadores dediquem a maior parte do
seu tempo para pensar, esboçar e escrever um roteiro. Nancy Duarte é o talento
por trás de Uma verdade inconveniente, de Al Gore. Para Duarte, o apresenta-
dor deve gastar 90 horas para criar uma apresentação de uma hora de duração,
que tenha 30 slides. No entanto, apenas um terço desse tempo deve ser dedicado
a construir os slides, afirma Duarte. As primeiras 27 horas são dedicadas a
pesquisar o tema, coletar dados com especialistas, organizar as ideias, colaborar
com os colegas e esboçar a estrutura da história.
Os marcadores5 matam
O teste do guardanapo
SLOGAN
Qual é a grande ideia que você quer transmitir para sua plateia? Ela deve
ser curta (140 caracteres ou menos), inesquecível e redigida na sequência
sujeito-verbo-objeto. Quando Steve Jobs apresentou o iPhone, ele exclamou:
“Hoje a Apple reinventa o telefone!”. Esse é um slogan. Os slogans chamam a
atenção da sua plateia e motivam as pessoas a escutá-lo. Leia o USA Today (ou
outro bom jornal de seu país) em busca de ideias. Aqui estão alguns exemplos de
chamadas do jornal diário mais popular dos Estados Unidos:
DECLARAÇÃO DE AMOR
Aristóteles, o pai da oratória, acreditava que os oradores de sucesso devem
ter pathos, ou seja, paixão por seu assunto. Poucos comunicadores manifestam
entusiasmo a respeito do seu tema. Steve Jobs exibe um entusiasmo quase eu-
fórico toda vez que faz uma apresentação. Ex-funcionários e mesmo alguns jor-
nalistas afirmaram que consideram a energia e a empolgação de Jobs totalmente
hipnóticas. Dedique alguns minutos desenvolvendo uma declaração de amor,
completando a seguinte frase: “Estou apaixonado por esse produto [empresa,
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METÁFORAS E ANALOGIAS
Enquanto você cria mensagens básicas e pontos de apoio, decida a respeito
dos recursos retóricos que tornarão sua narrativa mais atraente. De acordo com
Aristóteles, a metáfora é “de longe, a coisa mais importante”. Uma metáfora –
uma palavra ou frase que denota uma coisa e é utilizada para designar outra
para fins de comparação – é uma ferramenta persuasiva nas melhores campan-
has de marketing, propaganda e relações públicas. Jobs utiliza metáforas em
conversas e apresentações. Em uma entrevista famosa, ele afirmou: “O computa-
dor é, para mim, a ferramenta mais notável que já inventamos. É como uma bi-
cicleta para nossa mente”.
Os profissionais de venda, geralmente, são adeptos das metáforas esport-
ivas. “Estamos todos jogando no mesmo time”;“isso não é uma partida amistosa,
é um jogo de verdade”; ou “estamos batendo um bolão, vamos continuar assim”.
Embora as metáforas esportivas funcionem bem, desafie-se a se desprender do
que a plateia espera. Deparei-me com uma metáfora interessante para um novo
software antivírus da Kaspersky. A empresa veiculou um anúncio de página in-
teira (o que eu vi estava no USA Today) que mostrava um desanimado cavaleiro
medieval, trajando armadura completa, afastando-se, com suas costas voltadas
para o leitor. O título era:“Não fique tão triste. Você já foi muito bom!”. A metá-
fora comparava as atuais tecnologias de segurança da internet (os concorrentes
da Kaspersky) com armaduras medievais pesadas e desajeitadas, que, natural-
mente, não se comparam com a atual tecnologia militar. A empresa usou a metá-
fora em seu site, com uma imagem de uma armadura e o mesmo título. A metá-
fora era constante em todo o material de marketing da empresa.
As analogias são primas-irmãs das metáforas e também são muito eficazes.
Uma analogia é uma comparação entre duas coisas diferentes, a fim de realçar
algum ponto de semelhança. As analogias nos ajudam a compreender conceitos
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que podem ser estranhos para nós. “O microprocessador é o cérebro do seu com-
putador” é uma analogia que funciona bem para empresas como a Intel. Sob
vários aspectos, o microprocessador cumpre a mesma função no computador
que o cérebro cumpre no ser humano. O microprocessador e o cérebro são duas
coisas diferentes com recursos semelhantes. Essa analogia específica é tão útil
que é amplamente utilizada pela mídia. Se você encontrar uma analogia forte
que funcione, persista nela e a torne coerente em suas apresentações, site e ma-
terial de marketing.
Jobs gosta de se divertir com analogias, principalmente se puderem ser ap-
licadas à Microsoft. Em entrevista para Walt Mossberg, do Wall Street Journal,
Jobs assinalou que muitas pessoas dizem que o iTunes é seu aplicativo favorito
para o Windows. “É como dar um copo-d’água congelada para alguém no
inferno!”
DEMONSTRAÇÕES
Jobs divide os holofotes com funcionários, parceiros e produtos. As
demonstrações constituem grande parte de suas apresentações. Quando Jobs
tornou pública uma nova versão do sistema operacional OS X, conhecida por
Leopard, na Worldwide Developers Conference (WWDC) – a conferência anual
da Apple para exibir novos softwares e tecnologias –, em junho de 2007, ele rev-
elou que o Leopard tinha 300 recursos novos. Ele selecionou dez recursos para
discutir e demonstrar, incluindo o Time Machine (backup automático), o Boot
Camp (executa o Windows XP e o Vista no Mac) e o Stacks (organização de ar-
quivos). Em vez de simplesmente listar os recursos em um slide e explicá-los, ele
se sentou e mostrou para a plateia como eles funcionavam. Ele também escolheu
os recursos que queria que a imprensa destacasse. Por que deixar que a mídia
decidisse quais recursos entre os 300 novos eram os mais cativantes? Ele contar-
ia para os jornalistas.
Então, reflita: seu produto presta-se a uma demonstração? Sendo assim,
crie um roteiro para ele na apresentação. Sua plateia quer ver, tocar e sentir seu
produto ou serviço. Dê vida a ele.
Trabalhei com um pessoal da Goldman Sachs para preparar o presidente
de uma nova empresa de circuitos integrados do Vale do Silício, que estava
prestes a abrir capital. A empresa desenvolve circuitos que criam efeitos de áu-
dio para mobile computer. Enquanto planejávamos a apresentação para os in-
vestidores, o presidente da empresa exibiu um chip do tamanho de uma unha e
disse:“Você não vão acreditar no som que isso produz. Escutem”. Ele aumentou
o volume do seu notebook e a reprodução da música impressionou os que
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PARCEIROS
Jobs divide o palco com parceiros importantes e também com seus
produtos. Em setembro de 2005, ele anunciou que todos os discos de Madonna
estariam disponíveis no iTunes. A própria pop star surgiu repentinamente via
webcam e brincou com Jobs, revelando que tinha resistido o quanto pôde mas
havia se cansado de não poder fazer o download das suas próprias músicas.
Quer seja um artista ou um parceiro do setor, como os presidentes da Intel, Fox
ou Sony, Jobs frequentemente divide o palco com pessoas que contribuem para
o sucesso da Apple.
VIDEOCLIPES
Poucos apresentadores incluem vídeos em suas apresentações. Jobs utiliza
videoclipes com muita frequência. Às vezes, ele mostra vídeos de funcionários
falando a respeito do quanto gostaram de trabalhar com certo produto. Jobs
também gosta de apresentar os anúncios de TV da Apple mais recentes. Ele faz
isso em quase toda apresentação de um novo e importante produto, e tem feito
desde a veiculação do famoso comercial do Macintosh no intervalo da final do
Super Bowl,6 em 1984. Jobs gosta tanto de alguns anúncios que os apresenta
duas vezes. Perto do final da apresentação, na WWDC da Apple, em junho de
2008, Jobs apresentou o novo iPhone 3G, que se conecta a uma rede de dados
com maior velocidade e custava menos que o iPhone comercializado na época.
Ele mostrou um anúncio deTV com o slogan: “Até que enfim saiu. O primeiro
telefone que supera o iPhone”. Quando o anúncio de 30 segundos terminou, um
radiante Jobs disse:“Não é incrível? Querem ver de novo? Vamos passar outra
vez. Eu adoro esse anúncio”. A utilização de videoclipes em sua apresentação o
ajudará a se destacar. Você pode mostrar anúncios, testemunhos de funcionári-
os, cenas do produto, ou de pessoas usando o produto, e até avais dos clientes. O
que pode ser mais persuasivo que o testemunho direto de um cliente satisfeito,
se não pessoalmente, então por meio de um videoclipe incluído em sua ap-
resentação?Você pode facilmente converter vídeos para formatos digitais, como
MPEG-1, Windows Media ou Quicktime que funcionarão todos para a maioria
das apresentações. Lembre-se de que, noYouTube, o tempo médio de duração de
um videoclipe é de 2,5 minutos. Nossos intervalos de atenção estão encolhendo,
e os videoclipes, embora proporcionando um modo excelente de manter a
plateia mobilizada, se forem muito longos, podem ser considerados exagerados.
Utilize videoclipes em suas apresentações, mas evite clipes que durem mais que
dois ou três minutos.
O vídeo é uma ferramenta ótima até mesmo para apresentações que não
são técnicas. Eu estava ajudando a California Strawberry Commission a se pre-
parar para uma série de apresentações que seriam realizadas na Costa Leste dos
Estados Unidos. Os membros da comissão me mostraram um vídeo dos
produtores de morango expressando seu amor pela terra e pelo fruto. As im-
agens dos campos de morango eram maravilhosas, e sugeri que eles con-
vertessem o vídeo em um arquivo digital, incorporando-o à apresentação. No
evento, eles iniciaram a exibição do vídeo dizendo: “Achamos que você provavel-
mente nunca visitou um campo de morangos da Califórnia. Então, decidimos
trazer os produtores até você”. O videoclipe foi a parte mais inesquecível da ap-
resentação, e os jornalistas da Costa Leste adoraram.
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Notas do editor
ele. Sobretudo, as pessoas querem saber a resposta para uma única per-
gunta:“Por que eu devo me interessar?”. Vamos observar mais detalhadamente
aquele trecho sobre o iMac. Jobs relata para a plateia “o que isso significa...” e
assim liga os pontos para seus ouvintes. Embora ele possa deixar o setor na in-
certeza a respeito dos futuros lançamentos da Apple, nunca deixa sua plateia
conjecturando depois que o produto é finalmente apresentado. Por que você de-
ve se interessar a respeito do novo computador, tocador de MP3, telefone ou dis-
positivo da Apple? Não se preocupe, Job contará para você.
Por anos, a Apple manteve uma rivalidade com a Intel. Chegou até a atear
fogo a um bunnyman (homem-coelho), boneco de propaganda da Intel, em um
comercial de TV, em 1996. Uma década depois, a Apple pôs de lado sua rivalid-
ade e anunciou que os processadores Intel equipariam seus novos sistemas
Macintosh, substituindo os processadores PowerPc da IBM. Jobs revelou a
mudança em 6 de junho de 2005, na Worldwide Developers Conference, em São
Francisco.
Os boatos sobre a troca se multiplicaram durante meses, e diversos analis-
tas manifestaram preocupação a respeito da transição. Os jornalistas da revista
eWeek acharam difícil de acreditar que a Apple trocaria o processador PowerPC
pelo Intel, já que o PowerPC tinha funcionado tão bem para a marca. Os desen-
volvedores estavam resmungando. Jobs tinha de convencer a plateia de que a
mudança era a coisa certa a fazer. Sua apresentação foi muito convincente e
mudou a opinião da plateia, pois, mediante uma linguagem simples e direta, ele
respondeu à única pergunta realmente importante: “Por que os clientes e desen-
volvedores da Apple deviam se interessar?”.
Situação 1
Situação 2
DATA/PRODUTO BENEFÍCIO
Ninguém tem tempo para ouvir uma apresentação que não lhe oferece
nenhum benefício. Se prestar bem atenção a Jobs, verá que ele não vende
produtos, mas o sonho de um futuro melhor. Quando a Apple lançou o iPhone,
no começo de 2007, Jim Goldman, repórter do canal CNBC, perguntou a
Jobs:“Por que o iPhone é tão importante para a Apple?”. Jobs não entrou em
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Notas do editor
• Pergunte-se: “Por que meu ouvinte deve se interessar por essa/esse ideia/
informação/produto/serviço?” Se existir uma única coisa que você quer que seu
ouvinte absorva da conversa, qual é ela? Concentre-se na venda do benefício por
trás do produto.
• Transmita essa informação principal da maneira mais clara possível,
repetindo-a, no mínimo, duas vezes na conversa ou na apresentação. Elimine
lugares-comuns e jargões, melhorando o entendimento de sua mensagem.
• Assegure que essa informação principal esteja presente de forma consist-
ente em todo o material de marketing, incluindo press releases, páginas do site
da internet e apresentações.
Cena 3 - Elabore um propósito ideológico
não conseguem resistir a essa atração magnética e estão dispostas a seguir Jobs
até a Terra Prometida – ou, no mínimo, até o próximo iPod.
Poucas pessoas são capazes de escapar do carisma de Jobs, um magnet-
ismo impregnado de paixão por seus produtos. Segundo os analistas, ele fala de
um jeito especial, transmitindo um entusiasmo que atrai a atenção de todos no
recinto e que não cede. Mesmo jornalistas, que deveriam ter desenvolvido
imunidade contra essa força atrativa, não conseguem escapar da sua influência.
Leander Kahney, editor da Wired.com, entrevistou Alan Deutschman, biógrafo
de Jobs, que descreveu um encontro que teve com ele:“Jobs se dirige a você
chamando-o pelo nome10 com muita frequência. Ele olha diretamente nos seus
olhos, penetrando-os como um laser. Ele tem aqueles olhos de estrela de cinema,
que são muito hipnóticos. Porém, o que realmente o envolve é o jeito que ele
fala: tem algo a ver com o ritmo e com o incrível entusiasmo que ele transmite.
Tudo o que ele fala é contagiante”.
Para Deutschman, o ponto crucial é o jeito que Steve Jobs fala. Mas o que
exatamente nos atrai em relação ao jeito que ele fala? Jobs fala com paixão:
entusiasmo e energia. O próprio Jobs nos revela a origem de sua paixão:“Você
tem de encontrar o que gosta. Seu trabalho vai preencher uma grande parte da
sua vida. A única maneira de se sentir verdadeiramente satisfeito é fazer aquilo
em que você acredita se transformar em um grande trabalho. E a única forma de
fazer um grande trabalho é gostar do que você faz. Se você ainda não encontrou
isso, continue procurando. Não desista.
Todos nós temos um único propósito. Algumas pessoas, como Jobs, identi-
ficam esse propósito ainda muito jovens; outras nunca conseguem identificá-lo,
pois se concentram em tentar se equiparar a seus concorrentes. Certamente você
perderá seu propósito inicial se perseguir o dinheiro só por amor ao dinheiro.
Jobs é um bilionário e um comunicador excepcional provavelmente porque
seguiu seu coração, sua paixão. O dinheiro, ele sem dúvida sabia, viria.
Acho que você sempre tem que ser um pouco diferente para comprar um
computador Apple. Acho que as pessoas que o compram são os espíritos criat-
ivos desse mundo. São as pessoas que querem não só realizar um trabalho, mas
também querem mudar o mundo. Fazemos ferramentas para esse tipo de pess-
oas... Atendemos as pessoas que estão comprando nossos produtos desde o iní-
cio. Muitas vezes, os outros acham que essas pessoas são malucas. Mas, nessa
maluquice, vislumbramos a genialidade. São essas pessoas que desenvolvemos
ferramentas.
STEVE JOBS
Deseje isso
estava fazendo sua apresentação diante do público. Agitado, Jobs revelou para
Markoff: “Serei o primeiro na fila a comprar um. Estava querendo muito isso”.
Sabe, sem dúvida Bill era como eu. Isto é, eu cresci em uma
família de classe média, de classe média-baixa, e nunca real-
mente me importei muito com dinheiro. Além disso, tive
muita sorte, pois a Apple logo fez sucesso e não tive mais de
me preocupar com dinheiro. E, assim, pude me concentrar no
trabalho e, depois, na minha família. E, até certo ponto, olho
para nós como dois dos sujeitos mais sortudos do mundo, pois
descobrimos o que gostaríamos de fazer, estávamos no lugar
certo na hora certa e conseguimos trabalhar todos os dias com
pessoas superbrilhantes durante 30 anos, fazendo o que
gostamos de fazer. Portanto, é difícil ser mais feliz que isso.
Então, não penso muito sobre legado. Penso somente em ser
capaz de levantar todos os dias, passar o tempo com essas
pessoas incríveis e, com esperança, criar algo de que as outras
pessoas gostarão tanto quanto nós. Se conseguirmos fazer
isso, será ótimo.
“Se você não tem paixão, não tem energia, e, se não tem energia, você não
tem nada”, Donald Trump afirmou certa vez. Tudo começa com a paixão. A
paixão desperta as emoções de seus ouvintes quando você a utiliza para descre-
ver a imagem de um mundo melhor, um mundo que seus clientes, ou funcionári-
os, podem ajudar a criar.
Siga sua paixão. Faça o que você gosta, e o dinheiro virá. A maioria das
pessoas não acredita nisso, mas é verdade.
OPRAH WINFREY
A Apple era essa jornada incrível. Ou seja, fizemos algumas coisas sur-
preendentes ali. O que nos mantinha juntos na Apple era a capacidade de fazer
coisas que iriam mudar o mundo. Isso era muito importante. Éramos todos
muito jovens. Na empresa, a faixa etária média era de 25 a 30 anos. No início,
quase ninguém tinha família; todos trabalhávamos como loucos, e a maior
alegria era que sentíamos que estávamos criando obras de arte coletivas, muito
como a física do século XX. Algo importante, que iria perdurar, que aquelas
pessoas ali estavam contribuindo e, depois, poderiam dar para mais pessoas. O
fator de disseminação era muito importante.
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STEVE JOBS
Jobs me faz lembrar de outro líder empresarial que tive o prazer de con-
hecer, o presidente da Starbucks, Howard Schultz. Antes de nossa entrevista, li
seu livro Dedique-se de coração.14 Schultz é apaixonado pelo que faz – de fato, a
palavra paixão aparece em quase todas as páginas de seu livro. No entanto, logo
fica claro que ele não é tão apaixonado por café como é pelas pessoas, pelas
baristas que tornam a experiência proporcionada pela Starbucks o que ela é, por
exemplo. Entenda, o intuito de Schultz não era oferecer um café excelente aos
clientes, ia muito além disso. Schultz criaria uma nova experiência, um terceiro
lugar entre o trabalho e a casa, onde as pessoas se sentiriam à vontade para se
reunir. Ele desenvolveria uma empresa que trataria os funcionários com dignid-
ade e respeito. Por sua vez, esses funcionários satisfeitos prestariam um serviço
ao cliente que seria considerado de excelente padrão no setor. Quando revisei a
gravação da minha entrevista com Schultz, fiquei impressionado com o fato de
que a palavra “café” raramente apareceu. A visão de Schultz tinha pouco a ver
com café, mas tudo a ver com a experiência proporcionada pela Starbucks.
“Certos gerentes se sentem constrangidos por expressar a emoção que sen-
tem em relação a seus sonhos, mas são a paixão e a emoção que atrairão e mo-
tivarão os outros”, escrevem Collins e Porras. Os comunicadores como Steve
Jobs e Howard Schultz são apaixonados por como seus produtos melhoram as
vidas de seus clientes. Eles não têm medo de expressar isso. Café, computadores,
iPods, não importa. O que importa é que eles são motivados pela visão de mudar
o mundo, de causar impacto no universo.
Este livro apresenta muitas técnicas para ajudá-lo a vender suas ideias com
mais sucesso, mas nenhuma delas pode compensar a falta de paixão pelo seu
serviço, produto, empresa ou causa. O segredo é identificar sua verdadeira
paixão. Na maioria dos casos, não é o produto ou serviço em si, mas, sim, como
ele melhorará a vida de seus clientes.
Apresento aqui um trecho de uma entrevista que Jobs deu para a revista
Wired, em 1996:“O design é um mundo curioso. Algumas pessoas acham que
design se refere à aparência de um produto. Mas, claro, se você for mais fundo,
verá que se refere à funcionabilidade de um produto. O design do Mac não era
sua aparência, embora isso fizesse parte. Mas era, principalmente, como ele fun-
cionava. Para se obter um design realmente bom, você tem de entender sobre o
produto. De fato, você tem de entender perfeita e intuitivamente do que aquilo
se trata. É necessário um compromisso apaixonado para compreender de
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verdade e a fundo alguma coisa, refletir sobre o assunto, e não somente acreditar
prontamente. A maioria das pessoas não dedica o tempo necessário para fazer
isso”. Sim, entender intuitivamente é o termo empregado por Jobs. Da mesma
forma que Howard Schultz não é apaixonado pelo produto em si, o café, Jobs
não é apaixonado por hardware. Ele é apaixonado pela maneira como o design
possibilita que algo funcione com mais beleza.
Pense diferente
O líder carismático
Notas do editor
43/209
“Bem-vindos à Macworld 2008. Sem dúvida, hoje há algo no ar.” Com essa
fala de abertura, Steve Jobs definiu o tema do que, no fim, seria o grande anún-
cio de sua apresentação: o lançamento de um notebook ultrafino. Nenhum outro
computador portátil poderia se comparar a esse equipamento de 1,36 quilo e 4
milímetros de espessura, chamado de dreambook por alguns espectadores afi-
cionados Steve sabia que todos estariam procurando as palavras corretas para
descrevê-lo. Ele fez isso para eles: “MacBook Air. O notebook mais fino do
mundo”.
O MacBook Air é o notebook ultrafino da Apple. A melhor maneira de
descrevê-lo é assim:“O notebook mais fino do mundo”. Digite world’s thinnest
notebook no Google, e o buscador fornecerá cerca de 30 mil citações, a maioria
delas redigidas após o anúncio. Jobs eliminou a adivinhação a respeito do novo
produto, criando uma descrição em uma linha, um título que refletia muito bem
o produto. Os títulos funcionam bem, tanto que a mídia frequentemente os
veicula, palavra por palavra. Os jornalistas (e seu público) estão procurando uma
categoria para situar seu produto e também uma forma de descrevê-lo em uma
frase. Elimine esse trabalho deles e escreva você mesmo o título.
Jobs cria slogans que são específicos e memoráveis, e, melhor de tudo, que
cabem em um post do Twitter. O Twitter é uma rede social de rápido cresci-
mento, que pode ser mais bem descrito como sua vida exposta em um veículo
que é algo entre o e-mail e os blogs. Milhões de usuários “tuitam” acerca dos
acontecimentos diários de suas vidas e podem seguir os acontecimentos dos out-
ros. O Twitter está mudando a natureza da comunicação empresarial de um
modo fundamental: força as pessoas a escrever com concisão. A mensagem – ou
tweet – contém 140 caracteres, no máximo. Entre os caracteres, incluem-se le-
tras, espaços e pontuação. Por exemplo: a descrição de Jobs a respeito do
MacBook Air contém 30 caracteres, incluindo o ponto final: “O notebook mais
fino do mundo”.
Jobs possui uma descrição de uma linha para quase todos os seus
produtos, que é cuidadosamente criada na fase de planejamento, muito antes da
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FRASE FONTE
“MacBook Air. O notebook mais fino Frase que acompanhava uma imagem
do mundo.” em tela inteira do novo produto, na
página inicial do site da Apple.
Apple para o Keynote descreve-o como “o aplicativo a ser usado quando sua ap-
resentação for realmente importante”. Esse slogan pode facilmente caber em um
post do Twitter e, sem revelar os detalhes, traz um conceito em uma frase. O cli-
ente que quiser mais detalhes pode ler o press release, assistir à demonstração
de Jobs ou ver a demonstração on-line no site da Apple. Mas o próprio anúncio
feito por Jobs já fornece muita informação. Ficamos sabendo que era um novo
aplicativo, específico para apresentações, e criado para aquelas vezes que as ap-
resentações podem promover ou arruinar sua carreira. Como bônus, foi criado
para Jobs. Para diversas pessoas que realizam muitas apresentações, aquele an-
úncio era suficiente para despertar seu interesse e dar uma chance ao software.
Os jornalistas aprendem a redigir chamadas no primeiro dia de aula da fac-
uldade de jornalismo. As chamadas são o que convencem você a ler artigos es-
pecíficos em jornais, revistas ou blogs. Os títulos, slogans, bordões ou chamadas
são importantes. À medida que os indivíduos viram os próprios redatores de
blogs, apresentações, posts no Twitter e material de marketing, aprender a redi-
gir slogans descritivos e interessantes torna-se ainda mais importante para o su-
cesso profissional.
Notas do editor
havia três pontos? Ouvi somente dois”. Um roteiro verbal com três marcos
ajudará seus ouvintes a prestar atenção (Figura 5.1).
FIGURA 5.1
Jobs adota a regra de três em suas apresentações.
uma estrutura em três atos. Existiram três mosqueteiros, e não cinco. Cachinhos
Dourados encontrou três ursos, e não quatro. Existiram três patetas, e não dois.
Vince Lombardi, famoso técnico da Liga Nacional de Futebol Americano (NFL),
revelou aos seus jogadores que existiam três coisas importantes na vida: a
família, a religião e o Green Bay Packers (time de futebol americano). E a De-
claração de Independência dos Estados Unidos afirma que os norte-americanos
têm o direito “à vida, à liberdade e à busca da felicidade”, e não somente à vida e
à liberdade. A regra de três é um princípio fundamental na literatura, no humor
e na apresentação de Steve Jobs.
O Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos realizou uma pesquisa
abrangente sobre esse assunto e concluiu que três é mais eficaz que dois ou
quatro. As divisões dentro dos fuzileiros navais são feitas em três: um cabo
comanda uma equipe de três soldados; um sargento comanda três batalhões em
um esquadrão; um capitão comanda três pelotões e assim por diante. Se os fuz-
ileiros navais fizeram a gentileza de estudar isso, por que devemos reinventar a
roda? Vá em frente e utilize isso. Poucos comunicadores adotam a regra de três
em suas apresentações. Assim, você se destacará só por fazer isso. A regra de três
funciona para os fuzileiros navais, funciona para Jobs e funcionará para você.
Na Apple Worldwide Developers Conference, em 6 de junho de 2005, Jobs
anunciou a mudança do processador PowerPC da IBM para o processador da In-
tel. “Vamos falar sobre transições”, ele disse.
Kessler prova que você pode pegar a tecnologia mais complexa – ou ideia –
e descrevê-la em três pontos concisos.
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Baig, Kessler e outros bons jornalistas redigem seu material em blocos in-
dependentes, facilitando a leitura. Jobs faz a mesma coisa. Ele escreve o con-
teúdo de sua apresentação da mesma forma que um jornalista do USA Today
analisaria um produto: título, introdução, três pontos e conclusão.
Após fazer essa apresentação prévia verbal dos quatro pontos que ele dis-
correria com mais detalhes posteriormente, Jobs voltou ao primeiro ponto. “De-
pois de chegarmos ao primeiro aniversário do iPhone, vamos elevá-lo ao próx-
imo nível, e hoje estamos lançando o iPhone 3G.” Essa é uma técnica muito con-
stante nas apresentações de Jobs. Ele esquematiza três ou quatro pontos, re-
gressa ao primeiro ponto, explica cada um com mais detalhes, e, então, resume
cada ponto. Essa é uma fórmula simples para assegurar que sua plateia guardará
a informação que você está compartilhando.
Ballmer utilizou os grupos de três não menos que cinco vezes em uma ún-
ica apresentação, tornando sua palestra muito mais fácil de seguir do que as de
Gates. Mesmo Apple e Microsoft se detestando – apesar de manterem a cordial-
idade –, tanto Ballmer como Jobs concordam que explicar tecnologia complexa
em linguagem simples é o primeiro passo para despertar empolgação entre seus
clientes atuais e futuros.
pedia-se aos funcionários que identificassem três coisas que poderiam fazer de
imediato para poupar dinheiro e reduzir os custos. A empresa decidiu que, se os
funcionários se sentissem assoberbados, eles não agiriam. Três, no entanto, era
um número manejável e significativo, que os estimularia a agir.
Como ilustrado nesse trecho, Obama não somente divide seus discursos
em parágrafos de três frases, mas também muitas vezes comunica três pontos
dentro das frases.
Quando Obama prestou juramento para se converter no 44o presidente
dos Estados Unidos da América, em 20 de janeiro de 2009, ele fez um discurso
histórico para cerca de dois milhões de pessoas, que se reuniram para acompan-
har sua posse pessoalmente, e para milhões de outras que assistiam pela TV em
todo o mundo. Obama fez uso frequente do três no discurso:
Quando Jobs anunciava um algarismo, seu slide continha uma única im-
agem: o próprio número (1, 2, 3 e 4). Analisaremos a simplicidade do design do
slide de Jobs com mais detalhes na Cena 8; por enquanto, lembre-se de que seus
slides devem espelhar sua narrativa. Não há necessidade de complicar.
Jobs não somente divide suas apresentações em grupos, mas também
descreve os recursos em listas de três ou quatro itens. “Há três inovações im-
portantes no iPod”, ele revelou, em 2005. “A primeira: ele é ultraportátil” – 5
GB, mil músicas em seu bolso. “A segunda: embutimos um Firewire”; Jobs ex-
plicou como o Firewire permitia um download de um CD completo em cinco a
dez segundos, versus cinco a dez minutos via uma conexão USB. “A terceira:
possui uma bateria com muito mais autonomia”, afirmou Jobs. Então, ele con-
tou que o iPod tinha uma bateria com autonomia de dez horas, ou seja, dez horas
de música contínua.
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Este capítulo poderia facilmente virar o mais longo do livro, pois cada ap-
resentação de Steve Jobs contém roteiros orais com a regra de três desempen-
hando um papel de destaque. Mesmo quando Jobs não está usando slides em
uma apresentação tradicional, ele está falando de três. Ele iniciou seu agora
famoso discurso de paraninfo na Universidade Stanford afirmando:“Hoje quero
contar três histórias da minha vida”. Seu discurso seguiu a fórmula. Ele contou
três histórias da sua vida, explicou o que elas lhe ensinaram e transformou essas
histórias em lições para os formandos.
Para mim, há três coisas que todos nós devemos fazer diaria-
mente. Devemos fazer todos os dias de nossas vidas. Número
um: rir. Devemos rir todos os dias. Número dois: refletir.
Devemos dedicar algum tempo à reflexão. E número três: de-
vemos levar nossas emoções às lágrimas – podem ser de
emoção ou excitamento. Pensem sobre isso. Se você rir, se vo-
cê refletir e se você chorar será um dia completo... O câncer
pode tirar toda minha capacidade física, mas não pode tocar
minha mente, não pode tocar meu coração e não pode tocar
minha alma. E essas três coisas ficam para sempre. Obrigado e
Deus abençoe todos vocês.
Notas do editor
• Crie uma lista de todos os pontos-chave que você quer que sua plateia
saiba sobre seu produto, serviço, empresa ou iniciativa.
• Classifique a lista até ficar com somente três mensagens importantes.
Esse grupo de três proporcionará o roteiro oral para sua abordagem de vendas
ou apresentação.
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setor: a Apple. Será que a Big Blue dominará todo o setor de informática? Toda a
era da informação? George Orwell tinha razão?”
Depois dessa introdução, Jobs retirou-se, enquanto a equipe de vendas
reunida tornou-se a primeira plateia a ver o comercial. Eles irromperam em
aplausos entusiasmados. Por mais 60 segundos, Jobs permaneceu no palco,
deleitando-se com os elogios, com um grande sorriso estampado no rosto. Sua
postura, linguagem corporal e expressão facial diziam tudo:“Acertei na mosca!”.
“Por que precisamos de uma interface [Não há texto. Imagem dos quatro
de usuário revolucionária? Aqui estão smartphones existentes: Motorola Q,
quatro smartphones: o Motorola Q, o Blackberry, Palm Treo e Nokia E62.]
Blackberry, o Palm Treo e o Nokia
E62 – os suspeitos habituais.”
Multitoque.
“Não [risos]. Quem quer uma caneta? [Uma frase aparece perto da
Você tem de se livrar dela, colocá-la imagem.] Quem quer uma caneta?
de lado – você perdeu a caneta. Eca!
Ninguém quer uma caneta.”
“Então, não vamos usar uma caneta. [Não há texto. A imagem da caneta
Vamos usar o melhor dispositivo de desaparece gradualmente, enquanto
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Patenteado
Note como Jobs formula perguntas para a história avançar. “Por que pre-
cisamos de uma interface de usuário revolucionária?”, perguntou antes de in-
troduzir o problema. Ele até suscita problemas para sua própria solução.
Quando introduziu o conceito de substituir o teclado por uma tela sensível ao
toque, retoricamemte perguntou: “Como vamos nos comunicar com isso?”. Sua
resposta já estava preparada:“Vamos usar o melhor dispositivo de indicação do
mundo... Nossos dedos”.
Na realidade, ninguém se interessa a respeito do seu produto ou dos
produtos da Apple, da Microsoft ou de outra empresa. As pessoas se interessam
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por solucionar problemas e por tornar suas vidas um pouco melhor. Como no
exemplo do smartphone, no Quadro 6.1, Jobs descreve a dor que as pessoas es-
tão sentindo, oferece-lhes um motivo para sua dor (em geral, causada pelos con-
correntes), e, como você aprenderá na Cena 7, apresenta uma cura.
“Por que a Apple quer entrar no mercado tão competitivo dos aparelhos ce-
lulares?”, perguntou Jim Goldman, do canal CNBC, em uma das poucas entrev-
istas que Jobs concedeu logo após o lançamento do iPhone. Jobs respondeu à
pergunta formulando um problema com necessidade de solução. “Experi-
mentamos todos os aparelhos e eles são frustrantes. É uma categoria que precisa
ser reinventada. Os telefones celulares precisam ser mais eficientes e mais fáceis
de usar. Achamos que podemos contribuir. Não nos importamos se há outras
empresas fabricando telefones. O fato é que, em 2006, foram vendidos 1 bilhão
de aparelhos. Se conseguirmos apenas 1% do mercado, são 10 milhões de unid-
ades. Reinventamos o telefone e mudamos completamente a expectativa a re-
speito do que você pode carregar no seu bolso.”
“Com isso, que mensagem está sendo enviada aos seus concorrentes?”, in-
dagou Goldman.
“Somos uma empresa. Amamos grandes produtos. Para explicar o que é o
nosso produto, temos de compará-lo com os produtos que existem e que as pess-
oas usam”, respondeu Jobs. Essa última frase revela a abordagem de Jobs para
elaborar uma história persuasiva. As explicações sobre novos produtos ou ser-
viços requerem um contexto, uma associação com um problema da vida do seu
cliente, que está causando “dor” nessa pessoa. Assim que a dor é estabelecida,
seu ouvinte será muito mais receptivo ao produto ou serviço que a aliviará.
A religião Apple
café”. Os cérebros dos seus ouvintes possuem somente um tanto de espaço para
absorver novas informações. É como se a maioria dos apresentadores tentasse
comprimir 2 MB de dados em um tubo que transporta 128 KB. É muita coisa.
No DEMO 2008, uma empresa chamada TravelMuse realizou uma abord-
agem de venda excepcional. Kevin Fleiss, o fundador, abriu sua apresentação do
seguinte modo: “O maior e mais desenvolvido segmento de varejo on-line é o de
viagens, totalizando mais de 90 bilhões de dólares somente nos Estados Unidos
[determina a categoria]. Todos nós sabemos como reservar uma passagem on-
line. No entanto, a reserva da passagem representa os últimos 5% do processo
[começa a introduzir o problema]. Nos 95% anteriores à reserva – decidir aonde
ir, desenvolver um roteiro de viagem – é quando acontece todo o trabalho difícil.
No TravelMuse, facilitamos o planejamento, integrando perfeitamente o con-
teúdo com as ferramentas de planejamento da viagem, e proporcionando uma
experiência completa [oferece a solução]”. Ao introduzir a categoria e o prob-
lema antes de introduzir a solução, Fleiss criou a xícara para pôr o café.
Os investidores estão comprando um risco em ideias. Dessa maneira, eles
querem saber o problema principal solucionado pelo produto da empresa. Uma
solução em busca de um problema possui muito menos apelo. Depois do es-
tabelecimento do problema e da solução, os investidores se sentem à vontade
para formular perguntas a respeito do tamanho do mercado, da concorrência e
do modelo de negócios.
O problema não deve demorar a ser definido. Em geral, Jobs leva poucos
minutos para introduzir o antagonista. Você pode fazer isso em 30 segundos
apenas. Crie simplesmente uma resposta concisa para as quatro perguntas a
seguir: (1) “O que você faz?”; (2) “Que problema você resolve?”; (3) “Qual é o seu
diferencial?”; e (4) “Por que devo me interessar?”.
Quando trabalhei com executivos da LanguageLine, em Monterey, na Cali-
fórnia, elaboramos uma breve visão baseada nas respostas das quatro perguntas.
Se realizarmos bem nosso trabalho, a visão a seguir diz muito sobre a
empresa:“A LanguageLine é a maior provedora mundial de serviços de intér-
prete por telefone para empresas que querem se conectar com seus clientes não
fluentes em inglês [o que a empresa faz]. A cada 23 minutos, alguém que não
fala inglês entra neste país [o problema]. Quando essa pessoa liga para um hos-
pital, um banco, uma seguradora ou o serviço de emergência, é provável que um
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no mínimo. Ele agora está na mesma altura do ponto no gráfico que representa
as emissões atuais de CO2. Isso arranca uma pequena risada da plateia. É en-
graçado, mas, ao mesmo tempo, revelador. “Nos próximos 50 anos ou menos”,
ele prossegue,“as emissões vão continuar crescendo. Quando algumas das cri-
anças que estão aqui tiverem a minha idade, eis onde o nível vai estar”. Nesse
momento, Gore volta a apertar o botão, e o elevador sobe por cerca de dez se-
gundos. No alto, enquanto ele está procurando o gráfico, Gore se vira para a
plateia e diz:“Você já ouviram a expressão ‘além das expectativas’? 22 Bem, eis
onde vamos estar em menos de 50 anos”. É engraçado, inesquecível e poderoso
ao mesmo tempo. Gore utiliza fatos, números e estatísticas, dando vida a eles.
Gore utiliza muito das mesmas técnicas de apresentação e retóricas que
vemos em uma apresentação de Steve Jobs. Entre elas, destaca-se a introdução
de um inimigo, ou o antagonista. Os dois introduzem o antagonista desde o iní-
cio, reunindo a plateia em torno de um propósito comum. Em uma apresentação
de Jobs, depois que o vilão é nitidamente definido, é hora de abrir a cortina para
revelar o personagem que salvará a situação: o herói vitorioso.
Notas do editor
A missão do herói
mais inovadora do herói (iPod), lembrando à plateia que isso nunca foi possível
até a Apple aparecer para salvar a situação.
Após a apresentação do iPod, Mike Langberg, colunista do grupo de mídia
Knight-Ridder, escreveu um artigo em que chamou a atenção para o fato de que
a Creative (a fabricante do primeiro Nomad Jukebox) enxergou a oportunidade
no setor dos tocadores de música portáteis antes da Apple, e lançou um tocador
com disco rígido de 6 GB, em setembro de 2000; a Apple apresentou seu
primeiro iPod um ano depois. “Mas”, ele assinalou,“a Creative carecia de uma
arma não tão secreta da Apple: o fundador, presidente e entusiasta-mor Steve
Jobs”.
MAC: Talvez fazer um filme caseiro, criar um site, testar minha câmera
embutida. Posso fazer tudo isso já. Está tudo pronto para uso. E você?
PC: Primeiro preciso fazer o download desses novos drivers, apagar a
edição experimental do software que veio no meu disco rígido e ler um monte de
manuais.
MAC: Parece que você tem muita coisa a fazer antes de realmente funcion-
ar. Vou começar porque estou um tanto empolgado. Avise-me quando estiver
pronto. [Salta para fora da caixa.]
PC: Na verdade, o resto de mim está em algumas outras caixas... Encontro
você mais tarde.
Com mais de 10 mil aplicativos disponíveis para o iPhone, a App Store foi
um sucesso inequívoco para a Apple. A empresa apresenta, em anúncios de TV,
alguns aplicativos para o iPhone e o iPod Touch. Os comerciais de TV são
eficazes porque, em 30 segundos, descrevem um problema e apresentam uma
solução.
Por exemplo, em um anúncio para um aplicativo chamado Shazam, um
narrador diz:“Sabe quando você fica louco porque não sabe que música está
tocando? [introduz o problema] Com o Shazam, basta você colocar seu iPhone
diante de uma caixa de som e, em segundos, você vai descobrir quem está cant-
ando e como pode conseguir a música”. O slogan é sempre o mesmo: “Esse é o
iPhone. Resolvendo problemas da vida com um aplicativo de cada vez”.
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Você pode achar ou não que uma webcam portátil é o paraíso, mas Jobs
conhece sua plateia e exprime o que é, para os espectadores, um problema sério
em busca de uma solução.
Essa habilidade e essa capacidade de criar um vilão e vender o benefício
subjacente à solução do herói é uma técnica de Jobs que aparece em quase todas
as suas apresentações e entrevistas. Quando ele concordou em ser entrevistado
para uma série audiovisual do Smithsonian Institution, afirmou que a persever-
ança separa os empreendedores bem-sucedidos dos malsucedidos. A persever-
ança, disse, resulta da paixão. “A menos que você tenha muita paixão, você não
vai sobreviver. Vai desistir. Então, tem de ter uma ideia, ou um problema, ou um
erro que quer resolver, pelo qual você está apaixonado. Caso contrário, não vai
conseguir perseverar. Acredito que corresponde metade da batalha.”
Jobs é o Indiana Jones dos negócios. Da mesma forma que os grandes per-
sonagens do cinema derrotam os vilões, Jobs identifica um inimigo comum,
derrota aquele inimigo e convence os corações e as mentes de sua plateia en-
quanto caminha na direção do pôr do sol, transformando o mundo em um lugar
melhor.
Notas do editor
Steve Jobs não realiza uma apresentação. Ele oferece uma experiência.
Imagine visitar NovaYork e assistir a uma peça premiada da Broadway. Você es-
pera ver uma infinidade de personagens, objetos cênicos elaborados, fundos
visuais estonteantes e um momento glorioso, em que você sabe que o dinheiro
que gastou no ingresso valeu a pena. No segundo ato, você descobrirá que uma
apresentação de Steve Jobs contém cada um desses elementos, ajudando-o a cri-
ar um forte vínculo emocional entre ele e a plateia.
Da mesma forma que no primeiro ato, cada cena será concluída com um
resumo de lições específicas e tangíveis, que você poderá aplicar facilmente. A
seguir, há uma breve descrição de cada cena deste ato:
Em 1982, a fotógrafa Diana Walker tirou uma foto de Jobs na sala de estar
da casa dele. A sala era ampla, com lareira e janelões. Jobs estava sentado em
um pequeno tapete sobre um piso de madeira. Uma luminária estava perto dele.
Atrás dele, havia um toca-disco e diversos LPs, alguns espalhados sobre o chão.
Sem dúvida, Jobs poderia ter comprado alguns móveis. Afinal, ele tinha mais de
100 milhões de dólares quando a foto foi tirada. Jobs traz a mesma estética min-
imalista para os produtos da Apple. “Uma das partes mais importantes do pro-
cesso de design da Apple é a simplificação”, escreve Leander Kahney, em A
cabeça de Steve Jobs.
Para Kahney, “Jobs nunca se interessa pela tecnologia por ela mesma. Ja-
mais exagera em acessórios desnecessários, sobrecarregando de funções um
produto simplesmente porque são fáceis de acrescentar. Ocorre exatamente o
contrário. Ele depura a complexidade dos seus produtos até que fiquem tão
simples e fáceis de usar quanto for possível”.
Quando a Apple foi criada, na década de 1970, os anúncios da empresa tin-
ham de estimular a demanda por computadores entre os consumidores comuns,
que não viam muita necessidade desses novos aparelhos. De acordo com
Kahney,“os anúncios eram escritos em uma linguagem simples, fácil de en-
tender, sem nada do jargão técnico que dominava os anúncios dos concorrentes,
que, afinal de contas, tentavam atrair um mercado completamente diferente: os
hobbistas (quem usa computadores por lazer). Jobs manteve suas mensagens
simples desde então.
Hans Hoffmann, influente pintor alemão, afirmou certa vez:“A capacidade
de simplificar significa eliminar o desnecessário para que o necessário possa
falar”. Ao remover os penduricalhos – informação irrelevante – dos produtos e
das apresentações, Jobs alcança seu desejo supremo: facilidade de uso e clareza.
Let’s rock28
Evidência empírica
“Bom dia. Obrigado por virem esta As notícias a respeito de minha morte
manhã. Temos coisas realmente são muito exageradas.
estimulantes para dividir com vocês.
Antes de começarmos, só quero
mencionar isso [gestos na direção da
tela].”
“E, não faz muito tempo, oferecemos 3.000 aplicativos para iPhone e iPod
mais de 3 mil aplicativos para iPhone Touch
e iPod Touch.”
A tarefa dos líderes é simplificar. Você deve ser capaz de explicar aonde
tem de ir em dois minutos.
JEROEN VAN DER VEER, PRESIDENTE DA ROYAL DUTCH SHELL.
PRINCÍPIO DA CONTIGUIDADE
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PRINCÍPIO DA COERÊNCIA
“Ao dar uma explanação multimídia”, escreve Mayer,“utilize poucas palav-
ras e imagens em vez de muitas e irrelevantes”. As apresentações mais curtas,
com informação mais relevante, são mais compatíveis com as teorias da aprend-
izagem cognitiva. Em resumo, acrescentar informação redundante ou irrelevante
impedirá a aprendizagem, em vez de ajudá-la.
Para Mayer, um slide ideal conteria uma imagem com uma simples linha
direcionando o olhar para onde você quer que o observador olhe. Isso se chama
sinalização e se baseia na premissa científica de que sua plateia não deve desper-
diçar recursos cognitivos tentando achar seu lugar na tela. Agora, lembre-se
disso enquanto voltamos para o evento Let’s Rock. Depois de seis minutos da ap-
resentação, Jobs descreveu um novo recurso disponível no iTunes: o Genius
(Quadro 8.3).
O que pode ser mais fácil de seguir do que simples setas apontando para
uma área relevante do slide? Desenhos de linhas, poucas palavras e uma rica
biblioteca de imagens e fotografias coloridas compõem os slides de Jobs. A sim-
plicidade – a eliminação dos adereços – é o tema que os interligam.
A McApresentação
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“Então, como tudo isso funciona? [Desenho de uma nuvem simples com
Bem, temos a loja iTunes na ‘nuvem’ e o logotipo do Genius dentro.]
adicionamos algoritmos Genius nela.”
Espaço em branco
De acordo com Garr Reynolds, há uma clara estética zen nas apresentações
de Jobs. “Nos slides dele, você pode perceber evidências de contenção, simpli-
cidade e uso poderoso, mas sutil, do espaço vazio.” Para designers de alto nível
como Reynolds, o maior erro que executivos cometem é preencher cada centí-
metro do slide.
Para Nancy Duarte, o espaço em branco dá aos slides um espaço visual
para respirar. “Muitas vezes, os elementos visíveis de um slide recebem o maior
foco. Mas você precisa prestar igual atenção à quantidade de espaço que deixa
aberto... Tudo bem ter espaço limpo; os penduricalhos são uma falha de pro-
jeto.” Duarte afirma que é comodismo do apresentador colocar tudo em um
único slide.
Muita informação e adereços exigem muito esforço da plateia. A simplicid-
ade é poderosa. O espaço vazio significa elegância, qualidade e clareza. Para ver
exemplos de como os designers utilizam o espaço, consulte alguns ganhadores
do concurso de design de slide, em Slideshare.net (slideshare.net/contest/
results-2008).
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A esta altura, espero que você tenha decidido juntar seus slides atuais,
principalmente aqueles com marcadores, e queimá-los. Ao menos, queimá-los
digitalmente, excluindo-os e esvaziando sua lixeira, para que você nunca mais
possa recuperar esses slides. O argumento para a representação visual das ideias
é um conceito tão poderoso que os psicólogos possuem uma expressão para isso:
efeito da superioridade da imagem (PSE, na sigla em inglês). Os pesquisadores
descobriram que as informações visual e verbal são processadas de modo difer-
ente ao longo de diversos canais do cérebro. O que isso significa para você e para
sua próxima apresentação é simples: suas ideias terão maior probabilidade de
ser lembradas se forem apresentadas como imagens em vez de palavras.
Os pesquisadores que apresentaram a teoria do PSE acreditam que ela rep-
resenta uma forma poderosa da aprendizagem da informação. De acordo com
John Medina, biólogo molecular da Escola de Medicina da Universidade de
Washington, “as apresentações textuais e orais não são somente menos efi-
cientes que as apresentações visuais para a retenção de certos tipos de inform-
ação; elas também são muito menos eficientes. Se a informação for apresentada
oralmente, as pessoas lembram cerca de 10%, testadas 72 horas depois da ex-
posição. A porcentagem cresce para até 65% se você acrescentar uma imagem”.
As imagens funcionam melhor que o texto porque o cérebro enxerga as pa-
lavras como inúmeras imagens em miniatura. Para Medina,“o texto sufoca não
porque é não suficientemente parecido com imagens, mas sim porque é muito
parecido com imagens. Para nosso córtex, inquietantemente, as palavras não
existem”.
acha mais inesquecível: os 11 slides de Jobs ou um slide com uma lista de re-
cursos com marcadores?
“Ei-lo! [Vira-se e faz gestos na direção [Visão lateral do iPhone; tão fino que
da tela; a plateia ri.] É ainda mais é difícil de ver no slide. E ocupa
fino. Realmente, é muito bonito.” pouco espaço – um exemplo de
utilização do espaço vazio para
comunicar uma ideia.]
Quando Steve Jobs apresentou o MacBook Air como “o notebook mais fino
do mundo”, um slide mostrou a fotografia do novo computador em cima de um
envelope, que era mais espesso que o próprio computador. É isso. Nenhuma pa-
lavra, nenhuma caixa de texto, nenhum gráfico, somente a foto. Poderia ser mais
eficiente? A foto já diz tudo. Para ilustrar, a Figura 8.3 é o exemplo de um slide
típico que um apresentador medíocre criaria para descrever um produto técnico.
Acredite ou não, este slide é maravilhoso em comparação com muitos slides que
vi em apresentações técnicas realizadas por apresentadores medíocres. Mistura
de fontes, estilos e textos – nada memorável e tudo verdadeiramente horrível.
Em comparação, a Figura 8.4 mostra um dos slides de Jobs para a ap-
resentação do MacBook Air. Os slides para essa apresentação eram quase todos
muito parecidos, apresentando geralmente fotografias. Ele remeteu os clientes
ao site da Apple a fim de que obtivessem mais informação técnica. As imagens
dominaram a apresentação. Sem dúvida, apresentar um produto técnico dessa
maneira, como Jobs fez para o MacBook Air, é muito mais eficaz.
Você precisa ter confiança para expor suas ideias com fotografias em vez de
palavras. Como não pode se valer de nenhum texto nos slides como apoio, você
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FIGURA 8.4
Os slides de Jobs são muito simples e visualmente atraentes.
Simplifique tudo
Se você precisar de ajuda para escrever frases claras e diretas, a Plain Eng-
lish Campaign poderá ajudar. Desde 1979, essa organização estabelecida no
Reino Unido tem liderado a luta para que governos e empresas simplifiquem
suas comunicações. O site é atualizado semanalmente com exemplos das mais
complexas e ininteligíveis redações empresariais, que são apresentadas aos
leitores de todo o mundo. Os organizadores definem plain english (linguagem
simples) como a escrita que o público-alvo consegue ler, compreender e reagir a
respeito desde a primeira leitura (ou audição). O site possui guias gratuitos
sobre como escrever em linguagem simples e também exemplos maravilhosos do
tipo “antes e depois”, como os expostos no Quadro 8.7.
ANTES DEPOIS
Notas do editor
Ferreiros de números
que conseguiram efetuar com êxito o que Jobs realiza em cada apresentação:
tornar os números significativos.
DEFININDO UM QUATRILHÃO
Em 9 de junho de 2008, a IBM veiculou um press release divulgando um
supercomputador ultrarrápido. Como seu nome sugere, o Roadrunner
(“corredor de estradas”) é realmente um sistema veloz, processando um petaflop
por segundo. O que é um petaflop? Boa pergunta. É um quatrilhão de cálculos
por segundo. A IBM percebeu que o número não faria sentido para a grande
maioria dos leitores e, então, acrescentou a seguinte descrição:
Notas do editor
2007
2008
“Agora, quero falar algumas coisas “O processo pelo qual passamos esse
sobre o iTunes para vocês, que são ano – um beta 2 – abrangeu 2
muito estimulantes... Atualmente, milhões de pessoas. A suposta versão
estamos vendendo mais de 5 milhões que seria lançada, que era nossa
de músicas por dia. Não é última chance de feedback, abrangeu
inacreditável? São 58 músicas por 5 milhões de pessoas. Tínhamos
segundo, de cada minuto, de cada muitas coisas a detalhar. Fomos,
hora, de cada dia.” sentamos e entrevistamos pessoas
que usaram o Windows Vista em
situações familiares. Fizemos isso em
sete países. Realizamos simulações de
desempenho incríveis, obtendo o
equivalente a 60 anos de testes de
desempenho com todo o mix comum
de aplicativos que estavam
disponíveis.”
Você deve ter percebido que muitas das palavras favoritas de Jobs são pa-
lavras que a maioria das pessoas usa nas conversas diárias do cafezinho: demais,
incrível,“maravilhoso”. A maioria dos apresentadores muda sua linguagem para
uma abordagem de vendas ou apresentação. Jobs fala no palco da mesma forma
que fala fora dele. Ele confia na sua marca e se diverte com as palavras que
escolhe. Alguns críticos podem afirmar que a linguagem dele fica no limite da
hipérbole, mas Jobs ecoa os sentimentos partilhados por milhões dos seus
clientes.
Naturalmente, você deve utilizar palavras que representam autenticamente
seu serviço, marca ou produto. Um consultor financeiro recomendando um
fundo mútuo para um cliente pareceria falso (e provavelmente desonesto) se dis-
sesse:“Esse novo fundo mútuo revolucionará o setor financeiro como o con-
hecemos. É incrível, e você deve investir seu dinheiro nele agora mesmo”. Em
vez disso, o consultor poderia dizer:“Os fundos mútuos são produtos incríveis,
que ajudam seu dinheiro a crescer, enquanto reduzem seu risco. Há milhares de
fundos disponíveis, mas estou especialmente empolgado com um novo fundo.
Falarei mais dele para vocês...”. Na última afirmação, nosso consultor financeiro
escolheu palavras simples e emotivas, embora mantendo seu profissionalismo e
sua integridade.
Não fique com receio de utilizar palavras simples e adjetivos descritivos. Se
você considerar um produto verdadeiramente incrível, siga em frente e diga isso.
Afinal de contas, se você não ficar empolgado com ele, como espera que os out-
ros fiquem?
Evite o jargão
são sem sentido e vazios e, sem dúvida, deixarão você menos compreensível e,
portanto, menos persuasivo.
O texto que apresenta a missão de uma empresa é o maior culpado pela
disseminação dos jargões. Em geral, esse texto é longo, confuso, repleto de jar-
gões, com parágrafos criados em diversas reuniões de comitês e destinados a ser
esquecidos. A missão geralmente é expressa com uma linguagem viciada e ter-
mos nebulosos, que você raramente escutará Jobs dizer, como “sinergia”,
“centrado no princípio” e “melhor da espécie”. Essas expressões são absurdas.
No entanto, todos os dias, os funcionários de empresas de todo o mundo estão
sentados em reuniões de comitês para decidir exatamente quantas dessas palav-
ras podem ser utilizadas em uma única frase.
A missão da Apple, por outro lado, é simples, clara e impactante. Utiliza
muitas palavras emotivas e exemplos tangíveis. É a seguinte (grifos do autor):
As palavras que Jobs escolhe para divulgar um novo produto possuem três
características: são simples, concretas e emotivas.
Era difícil não ver Suze Orman, guru financeira, em 2008 e 2009, quando
os mercados financeiros globais estavam desmoronando. Além de aparecer em
seu próprio programa na CNBC, a autora de diversos best-sellers era convidada
118/209
Jack Welch fez a seguinte observação: “Os gerentes inseguros criam com-
plexidade”. Nos seus 20 anos como principal executivo da GE, o conglomerado
viu suas receitas crescerem de 13 bilhões de dólares para 500 bilhões de dólares.
Welch estava na missão de “desaglomerar” tudo na empresa, desde seus pro-
cessos de gerenciamento até sua comunicação. Ele desprezava as reuniões, as
apresentações e os memorandos longos e enrolados.
Em seu livro intitulado Jack definitivo, Welch descreve reuniões que o
deixavam muito aborrecido. Se você queria perturbar o novo presidente da GE,
tudo o que precisava fazer era falar difícil demais. Welch respondia: “Faz de con-
ta que estamos na escola, no Ensino Médio... Leve-me de volta para o Ensino
Fundamental”. Ele relata sua primeira reunião com um dos seus adminis-
tradores de seguros. Welch formulou algumas perguntas simples sobre termos
estranhos para ele. Ele escreve: “Então eu o interrompi e perguntei: ‘Qual é a
diferença entre seguro facultativo e seguro automático?’ Depois de balbuciar
uma longa explicação durante muitos minutos, uma resposta que eu não estava
obtendo, ele finalmente falou sem pensar, exasperado: ‘Como o senhor espera
que eu lhe ensine em cinco minutos o que eu levei 25 anos para aprender?’ Ob-
viamente, ele não durou muito tempo”.
Falar usando jargão acarreta em ônus em uma sociedade que valoriza o
discurso acessível e isento de besteiras incompreensíveis. Falar difícil demais
pode custar seu emprego ou impedi-lo de avançar até onde seu potencial poderia
levá-lo.
EVENTO FRASE
Discutindo o reinado de Gil Amelio na “Os produtos são uma droga! Eles não
Apple. têm mais sexo!”
Quando você encontrar uma analogia que funciona, persista nela. Quanto
mais repeti-la, maior a probabilidade de seus clientes se lembrarem dela. Se fizer
uma busca no Google dos artigos sobre os produtos que acabamos de mencionar,
encontrará milhares de links com as comparações exatas utilizadas por Jobs. A
seguir, apresento as três analogias que acabei de pesquisar (cruzando os termos
das frases) e a quantidade de links para artigos que utilizam essas frases:
Não venda soluções, crie histórias. David Pogue, colunista do New York
Times, gosta de uma boa abordagem de vendas. Ele revela que a maioria de suas
colunas resulta desse tipo de abordagem. O que ele não quer ouvir é jargão. De
maneira surpreendente, os profissionais de relações públicas estão entre os
piores vilões, superados apenas por burocratas, gerentes seniores e consultores
da IBM. Para Pogue, lugares-comuns – terminologias como “integrado”, melhor
do mercado, “B2B”31 e centrado no consumidor – são desnecessários. A abord-
agem de vendas ideal é um parágrafo curto, dizendo a Pogue exatamente o que o
produto é e o que faz. Por exemplo, uma empresa escreveu-lhe para contar que
tinha um novo notebook que poderia ser jogado de uma altura de 1,80 metro,
molhado, submetido a um calor de 150oC e ainda funcionaria. Essa descrição in-
teligente foi suficiente para chamar a atenção dele.
O blog Bad Pitch (“conversa chata”) é obrigatório para as relações públicas
e os profissionais de vendas. O site apresenta abordagens de vendas reais de
profissionais de relações públicas, que deveriam saber melhor do que ninguém
que não se deve utilizar jargões impenetráveis disfarçados de press releases.
123/209
Eis um exemplo: “Tudo bem com você? Espero que sim. Gostaria de
apresentar-lhe ..........................., uma rede digital nova situada fora do ambiente
doméstico que oferece mídia localizada e relevante, no ritmo dos rituais diários
dos consumidores, como o café vespertino ou os sanduíches do almoço”. Essa
abordagem de vendas específica é de uma empresa que coloca vídeos com anún-
cios em cafés, bares e lanchonetes. Por que ela não pode dizer só isso? É muito
simples, eis o porquê: as pessoas têm medo da simplicidade. Esse não é um ex-
emplo isolado. O site é atualizado diariamente com abordagens de vendas de
grandes e pequenas agências de relações públicas e outros tipos de empresas. As
abordagens de vendas da Apple raramente aparecem no site, pois os press re-
leases da empresa contam uma história na mesma linguagem coloquial que Jobs
emprega em suas apresentações.
Como o mantra do site explica: “Uma boa abordagem de vendas desa-
parece e se transforma em uma história, enquanto uma má se torna a história”.
Siga os posts do blog em http://badpitch.blogspot.com.
Seus clientes são seus entusiastas mais poderosos. Lembro uma conversa
com um dos meus clientes, Richard Tait, fundador da Cranium, que revelou que
vendeu um milhão de videogames sem fazer propaganda, só por meio da divul-
gação boca a boca. “Nunca esqueça que seus clientes são sua força de vendas”,
ele disse para mim.
Seus clientes – ele os chama de craniacs – querem se divertir. Como diver-
são é o xis da questão, por assim dizer, Tait decidiu que cada área da empresa
deveria ter algum humor estranho associado a ela. Ele começou com os nomes
dos cargos. Os funcionários da Cranium podem inventar seus próprios nomes de
cargos. Por exemplo, Tait não é o presidente da Cranium. Ele é o “Grand Poo-
bah”.32 Sem brincadeira. Está no seu cartão de visitas.
Você pode achar que isso é uma tolice. No entanto, quando visitei pela
primeira vez a sede da empresa, em Seattle, fui atingido por uma onda de diver-
são, entusiasmo e compromisso do tipo que nunca tinha visto antes e nunca
mais vi desde então.
Se você não criar, fará o cérebro deles trabalhar muito. De acordo com o doutor
Gregory Berns, professor de psicologia da Emory University, o cérebro quer con-
sumir a menor quantidade de energia possível. Isso significa que ele não quer
trabalhar muito para entender o que as pessoas estão tentando dizer. “O princí-
pio da eficiência possui ramificações importantes”, ele sustenta. “Significa que o
cérebro pega atalhos sempre que pode.” As analogias são atalhos.
Nada destruirá mais o poder de sua abordagem de vendas que o uso de
lugares-comuns e abstrações. Você não impressiona ninguém dizendo “melhor
do mercado”, “tecnologia de ponta”, “soluções ágeis”. Ao contrário, coloca as
pessoas para dormir, perde negócios e atrasa sua carreira. Uma linguagem clara,
concisa e empolgante ajudará a transformar seus prováveis compradores em cli-
entes, e clientes em entusiastas. Deleite seus clientes com as palavras que você
escolher. Acaricie os receptores de dopamina do cérebro deles com palavras que
os façam se sentir bem sempre que pensarem em você e em seu produto. Eles
não conseguirão acompanhar sua visão ou compartilhar seu entusiasmo caso se
percam no nevoeiro.
Notas do editor
convidado especial, ao vivo, via satélite. Quando Bill Gates apareceu, podiam-se
ouvir alguns aplausos, juntamente com muitas vaias. Gates falou por alguns
minutos e expressou gentilmente sua admiração pelas realizações da Apple.
FIGURA 11.1
Steve Jobs dividindo o palco com Paul Otellini, presidente da Intel.
Jobs voltou ao palco e, sabendo que muitas pessoas não estavam con-
tentes, pareceu um pai duro e severo, aconselhando a plateia a aceitar o relacio-
namento. “Se quisermos avançar e ver a Apple feliz e próspera, temos de desistir
da ideia de que, para a Apple ganhar, a Microsoft precisa perder”, Jobs disse. “Se
fomos incompetentes, a culpa não é de ninguém, é nossa... Se precisamos do Mi-
crosoft Office no Mac, é melhor tratar a empresa que o produz com um pouco
mais de gratidão.”
É sempre dito que os grandes atores “se entregam”, ajudam os outros
atores em cena a obter desempenhos melhores. Quando Jobs introduz outra
pessoa no palco – um funcionário, um parceiro ou um ex-inimigo como Gates –
ele é o mais generoso dos atores. Todos precisam brilhar para o bem do
espetáculo.
O cérebro não presta atenção a coisas chatas. Não que Jobs seja chato.
Longe disso. No entanto, nosso cérebro deseja variedade. Ninguém, não importa
quão fluente e refinado, pode capturar a atenção de uma plateia durante muito
tempo antes dos ouvintes começarem a olhar para o relógio. Os grandes red-
atores de discursos sabem disso há anos. Os discursos de John F. Kennedy,
127/209
Ronald Reagan e Barack Obama foram escritos para durar não mais do que 20
minutos. Uma apresentação de Jobs dura muito mais, é claro, perto de uma hora
e meia, mas ele a mantém interessante, incluindo demonstrações, videoclipes e
– muito importante – palestrantes convidados.
• “Em minha opinião, o Leopard é melhor e mais rápido que o Vista.” (Walt
Mossber, Wall Street Journal.)
• “O Leopard é poderoso, refinado e cuidadosamente concebido.” (David
Pogue, New York Times.)
• “Com o Leopard, o sistema operacional da Apple amplia sua liderança,
estética e tecnologicamente.” (Ed Baig, USA Today.)
• “De longe, é o melhor sistema operacional já criado para a maioria dos
consumidores.” (Ed Mendelson, PC Magazine.)
ajudarão a conquistar novos clientes. Então, dê a eles motivos para que ofereçam
referências. Isso pode ser simples, como oferecer um relacionamento mais próx-
imo com sua empresa, proporcionando mais acesso a você ou à sua equipe
quando tiverem problemas. Entre outros benefícios, pode-se incluir acesso a
equipes do produto, informações sobre novos projetos ou produtos e
visibilidade.
Dê aos seus parceiros motivos para participar e, depois que isso acontecer,
inclua-os em suas apresentações. A maioria dos clientes não está disponível para
participar de sua apresentação, mas tente alternativas: produza um testemunho
em vídeo. Pode não causar o mesmo impacto da presença de Paul Otellini no
palco com Jobs, mas pode dar a você uma vantagem em relação aos seus
concorrentes.
obrigado. Também quero agradecer aos familiares. Eles não nos viram muito
nos últimos seis meses. Sem o apoio das nossas famílias, não conseguiríamos
fazer o que fazemos. Temos de fazer esse trabalho incrível. Elas compreendem
quando não estamos em casa para jantar na hora certa, pois temos de estar no
laboratório, trabalhando em algo porque a apresentação está chegando. Vocês
não têm ideia do quanto precisamos e gostamos de vocês. Então, muito
obrigado”.
É muito fácil fazer a apresentação sobre você e seu produto. Mas não se es-
queça de agradecer as pessoas que tornam isso possível. Revela aos seus clientes
que você é uma pessoa íntegra, e, ao elogiar seus funcionários ou colegas pub-
licamente, você os inspira a trabalhar mais duro para você.
Jobs divide o palco com sua plateia, seus clientes, muitas vezes
agradecendo-os muito. Ele iniciou a Macworld 2008 recapitulando o ano anteri-
or. “Preciso de apenas um instante para dizer a vocês: muito obrigado. Tivermos
um apoio enorme de todos os nossos clientes e realmente apreciamos isso.
Assim, muito obrigado por um excepcional 2007.” Jobs cria uma afinidade com
sua plateia, reconhecendo as pessoas que são importantes: as pessoas que desen-
volvem os produtos e as pessoas que os compram.
Steve Jobs é a única pessoa que pode chamar outro Steve Jobs ao palco.
Em 1999, Noah Wyle, estrela do seriado ER, trocou seu traje de médico por um
jeans, interpretando Jobs no filme televisivo Piratas do Vale do Silício. Em uma
pegadinha, na Macworld Expo de 1999, em Nova York, Wyle apareceu no palco
para iniciar a apresentação. À primeira vista, e para as pessoas sentadas mais
distante do palco, ele parecia Jobs: jeans, camiseta de manga comprida e tênis.
Wyle tinha os mesmos trejeitos e até usava algumas das famosas frases de Jobs.
“Essa vai ser uma Macworld incrível”, ele disse. “Alguma coisa vai acontecer
aqui. O ressurgimento da Apple. Hoje veremos alguns novos produtos. Novos,
incríveis e sensacionais. Alguns produtos realmente, totalmente, loucamente
novos!”A plateia ficou maluca quando o verdadeiro Jobs entrou em cena.
Jobs se divertiu muito com Wyle, dizendo ao ator que ele estava desper-
diçando uma oportunidade. Ele mostrou para Wyle como deveria atuar, falar e
andar se realmente quisesse imitá-lo à perfeição.
“Convido Noah a ver como realmente atuo, pois ele é um eu muito melhor
do que eu!”, Jobs disse para a plateia.
132/209
“Obrigado. Me alegra o fato de você não estar bravo por causa do filme”,
afirmou Wyle.
“O quê? Bravo eu? É só um filme”, revelou Jobs. “Mas, se você quiser ser
correto, seria bom você me arrumar um papel no ER.”
A troca de papéis gerou uma grande gargalhada e a cena mostrou que Jobs
era capaz de zombar de si próprio. Ainda não vi nenhum outro apresentador
capaz de dividir o palco consigo mesmo!
Notas do editor
Método Kawasaki
• Simples. O que pode ser mais simples do que exibir dois sites car-
regando em um smartphone? Essa foi a parte mais complexa.
• Gratificante. Jobs colocou a rede 3G em um confronto direto com sua
maior concorrente, a rede EDGE.
• Ágil. Jobs colocou a demonstração em prática, mas ficou em silêncio nos
momentos críticos para criar o drama.
• Substancial. A demonstração soluciona um problema do mundo real:
aguardar um tempo dolorosamente longo para o carregamento de sites com
muitos recursos visuais.
“Para que vocês querem o 3G? Bem, [Fotos de dois ícones: um representa
vocês querem para downloads mais a internet e o outro representa um
rápidos. E não há outro lugar em que e-mail.]
vocês desejem isso do que no
navegador e na hora de descarregar
anexos do e-mail.”
“Vamos ver o que aconteceu.” [Jobs [O site carrega as imagens nos dois
fica em silêncio, enquanto as duas iPhones.]
imagens mostram o carregamento na
tela. É um site com muitas imagens e
um layout complexo.]
136/209
Elemento surpresa
Claro que você não vai convencer John Mayer a tocar em seu próximo
evento, mas pense a respeito de formas criativas de falar com seu público-alvo.
Assisti a um empreendedor apresentando seu novo serviço de internet para in-
vestidores de capital de risco em São Francisco. O serviço destinava-se ao
público adolescente, de modo que não fazia sentido que um empreendedor de
cerca de 40 anos o demonstrasse. Em vez disso, ele fez as apresentações iniciais
e, em seguida, passou a palavra a dois adolescentes (um garoto e uma garota),
que falaram sobre sua experiência com o site e de que mais gostaram. A demon-
stração foi diferente, envolvente e, no final das contas, bem-sucedida.
objetos, como Jobs fez com a estrutura de alumínio; realize exercícios escritos;
ou para que eles participem das demonstrações.
O auxiliar do presidente
Notas do editor
As pessoas esquecerão o que você disse, esquecerão o que você fez, mas
nunca esquecerão o que você as fez sentir.
MAYA ANGELOU
FIGURA 13.1
Jobs segurando o MacBook Air depois de tirá-lo de forma teatral de um
envelope.
Um único tema
início. Ele elabora o drama. Jobs entra no palco e fala sobre o iPod; lentamente,
adiciona camadas à mensagem, até chegar a uma grande fala.
“O incrível a respeito do iPod é que ele armazena mil músicas”, Jobs
revelou.
“Ter toda a sua biblioteca musical sempre com você representa um grande
avanço no ato de ouvir música.” (Não era o único aparelho que armazenava mil
músicas na época; o que vinha a seguir era a grande novidade.) “Mas a coisa
mais legal a respeito do iPod é que toda a sua biblioteca musical cabe no seu
bolso. É ultraportátil. O iPod tem o tamanho de um baralho de cartas.” O slide
de Jobs mostrou a foto de um baralho. “Tem seis centímetros de largura, dez
centímetros de altura e não chega a dois centímetros de espessura. Ele é muito
pequeno. Também pesa somente 185 gramas, mais leve que a maioria dos celu-
lares que vocês carregam nos bolsos. Isso é o que é tão incrível em relação ao
iPod. Ele é ultraportátil. Vejam como ele é.” Jobs mostrou uma série de fotos.
Ele ainda não tinha mostrado o aparelho real. “De fato, tenho um aqui no meu
bolso!” Então ele tira o aparelho do bolso e o segura bem alto, enquanto a plateia
vibra e aplaude. Ele tinha a foto diante dele. “Esse aparelhinho incrível
armazena mil músicas e cabe no meu bolso.”
A manchete do New York Times dizia: “Mil músicas no seu bolso”. Jobs
não seria capaz de escrever um título melhor. Na realidade, ele tinha escrito! Ele
também criou um evento carregado de emoção, que fixou o título no córtex
frontal que despeja dopamina nos cérebros dos seus ouvintes.
O post-it mental
Um produto revolucionário
revolucionário? Ah, certo, Jobs vai anunciar três novos produtos dessa categoria.
Legal. Ei, espera. São três? Ah, meu Deus, ele está falando de um único produto!
Todos esses recursos em um único produto. Isso é o que quero ver!”.
“Em 2001, lançamos o primeiro iPod. [Foto em tela inteira do iPod original;
Ele não mudou apenas o modo como a data 2001 aparece na parte superior
ouvimos música, mas mudou toda a esquerda.]
indústria da música.”
“Então, três coisas: um iPod com tela [As três imagens aparecem no mesmo
widescreen e controles sensíveis ao slide, com as palavras: “iPod,
toque, um telefone celular telefone, internet”.]
revolucionário e um dispositivo
inovador de acesso à internet.”
Notas do editor
Até aqui aprendemos como Steve Jobs planeja suas apresentações. Falam-
os sobre como ele apoia a narrativa por meio de palavras e slides. Discutimos
como ele monta o elenco, cria demonstrações e impressiona a plateia com um
momento dinâmico que deixa todos admirados. Finalmente, estudaremos como
Jobs refina e ensaia suas apresentações para obter uma conexão emocional com
a plateia. Essa etapa final é essencial para alguém que quer falar, andar e parecer
um líder. Eis uma apresentação prévia das cenas deste ato:
• Cena 14 – Presença de palco primorosa. Como você diz é tão im-
portante quanto o que você diz, se não for mais. A linguagem corporal e a comu-
nicação verbal são responsáveis por 63% a 90% da impressão que você causa em
sua plateia, dependendo do estudo mencionado. O estilo de Jobs vem do poder
de suas palavras.
• Cena 15 – Faça parecer fácil. Poucos apresentadores ensaiam mais
do que Steve Jobs. Seu tempo de preparação é famoso entre as pessoas próximas
a ele. Os pesquisadores científicos descobriram exatamente quantas horas de
prática são necessárias para se alcançar a maestria em uma determinada habilid-
ade. Neste capítulo, saberemos como Jobs confirma essas teorias e como você
pode aplicá-las para melhorar suas próprias habilidades de apresentação.
• Cena 16 – Use roupas adequadas. Jobs possui a seleção de guarda-
roupa mais fácil do mundo: é a mesma para todas as suas apresentações. Seus
trajes são tão conhecidos que até os programas de humor da TV Saturday Night
Live e 30 Rock os ridicularizam. Aprenda por que os trajes que Jobs usa são ad-
equados para ele, mas podem representar o fim da sua carreira.
• Cena 17 – Ponha de lado o roteiro. Jobs fala para a plateia e não
para seus slides. Ele estabelece um contato visual intenso, pois ensaiou efetiva-
mente. Este capítulo ensinará a você como praticar de forma certa, e, assim, você
também poderá pôr de lado o roteiro.
• Cena 18 – Divirta-se. Apesar da ampla preparação por trás de uma ap-
resentação de Steve Jobs, as coisas nem sempre acontecem conforme o plane-
jado. Nada abala Jobs, pois seu primeiro objetivo é se divertir!
Cena 14 - Presença de palco primorosa
Steve Jobs possui uma presença de palco imponente. Sua voz, gestos e lin-
guagem corporal comunicam autoridade, confiança e energia. O entusiasmo de
Jobs se mostrou plenamente na Macworld 2003. O Quadro 14.1 expõe suas pa-
lavras e também seus gestos para apresentar o PowerBook Titanium. As palavras
que ele enfatizou em sua apresentação estão em itálico.
As palavras que Jobs emprega para descrever um produto são evidente-
mente importantes, assim como a maneira como ele as expressa. Destaca as
palavras-chave em cada parágrafo, enfatizando adicionalmente as mais import-
antes da frase. Faz gestos expansivos para complementar sua expressão vocal.
Neste capítulo, analisaremos posteriormente a linguagem corporal e a expressão
vocal com mais detalhes. Por ora, a melhor forma de avaliar a habilidade é recor-
rer a um palestrante convidado, que é ofuscado na comparação.
“Hoje quase todo analista diz que ele Corta o ar com a mão esquerda.
ainda é o melhor notebook do setor.
Nenhum outro chega perto.”
“Isso é importante para a Apple, pois Faz um gesto expansivo com as duas
acreditamos que algum dia os mãos.
notebooks vão vender mais que os
desktops... Queremos substituir ainda
mais desktops por notebooks.”
“É sensacional.” Pausa.
159/209
E o que Stan fará aposentado? O que se diz é que ele está pensando em ministrar
cursos de como falar em público para jovens carentes”.
Sigman passou 42 anos na AT&T, subindo dos escalões mais baixos da
empresa até dirigir sua divisão wireless. No entanto, para muitas pessoas não fa-
miliarizadas com sua liderança, a apresentação dele na Macworld será seu leg-
ado duradouro. Não foi culpa de Sigman. Ele tinha de seguir o mestre. Mas, infe-
lizmente, este livro ainda não tinha sido publicado para ajudá-lo a se preparar.
Em 1985, Steve Jobs demitiu-se da Apple após perder uma batalha na sala
da diretoria pelo controle da empresa, em uma luta intensa com o então presid-
ente John Sculley. Ele ficaria afastado por 11 anos, retornando de forma triun-
fante depois que Gil Amelio, presidente da Apple em 1996, anunciou que a Apple
estava adquirindo a empresa NeXT, de Jobs, por 427 milhões de dólares. “Fui
fisgado pela energia e entusiasmo de Steve”, Amelio escreveu em On the firing
line: my five hundred days at Apple. “Lembro a sua animação, a maneira como
suas habilidades mentais se materializam quando ele está em atividade, de como
ele fica mais expressivo.”
Jobs fica cheio de vida enquanto se movimenta pelo palco. Ele possui uma
energia aparentemente inesgotável. Quando está no clímax, faz três coisas que
qualquer um pode e deve fazer para aprimorar as habilidades oratórias e de ap-
resentação: ele estabelece contato visual, mantém uma postura aberta e faz ges-
tos frequentes com as mãos.
CONTATO VISUAL
Os grandes comunicadores como Jobs estabelecem muito mais contato
visual com a plateia do que os apresentadores comuns. Eles raramente fazem
uma leitura a partir de slides ou anotações. Jobs não eliminou por completo as
anotações. Muitas vezes, ele consulta discretamente alguma anotação durante as
demonstrações. O Keynote, software de apresentação da Apple, também facilita
a visualização de anotações pelo apresentador, enquanto a plateia observa os
slides exibidos na tela. Se Jobs está lendo, ninguém pode dizer. Ele mantém con-
tato visual com sua plateia quase o tempo todo. Dá uma olhada no slide e, de
imediato, traz sua atenção de volta para quem interessa: a plateia.
A maioria dos apresentadores dedica muito tempo lendo cada palavra do
texto de um slide. Nas demonstrações, os apresentadores medíocres quebram
161/209
POSTURA ABERTA
Jobs raramente cruza os braços ou fica atrás de um púlpito. Sua postura é
aberta. Uma postura aberta significa simplesmente que Jobs não colocou nada
entre si e sua plateia. Nas demonstrações, ele senta em paralelo ao computador
e, assim, nada bloqueia sua visão da plateia, e vice-versa. Ele realiza uma ativid-
ade no computador e, imediatamente, volta-se para a plateia para explicar o que
acabou de fazer, raramente quebrando o contato visual por muito tempo. Nas
primeiras apresentações de Jobs, em especial, no lançamento do Macintosh, em
1984, ele ficou atrás de um púlpito. Ele abandonou o púlpito logo depois e nunca
mais usou um desde então – com exceção do discurso de paraninfo em Stanford,
em 2005 (Figura 14.1).
que os oradores normais, e não menos. Há até uma pesquisa para respaldar essa
observação.
O doutor David McNeill, da Universidade de Chicago, é conhecido por sua
pesquisa apurada na área de gestos de mãos. É sua paixão desde 1980. Sua
pesquisa revelou que os gestos e a linguagem estão intimamente ligados. De fato,
a gesticulação pode ajudar o apresentador a se expressar melhor, aclarando seu
processo de pensamento. De acordo com ele, o fato de não usar gestos, na realid-
ade, exige um esforço concentrado. McNeill descobriu que os pensadores muito
disciplinados, rigorosos e confiantes utilizam gestos de mãos que refletem a
clareza do seu pensamento; é como uma janela para seu processo intelectual.
Utilize gestos de mãos para enfatizar sua ideia; contudo, tenha cuidado
para que eles não se tornem robotizados ou ensaiados demais. Em outras palav-
ras, não copie Jobs e seus maneirismos. Seja espontâneo. Seja autêntico.
FIGURA 14.1
Steve Jobs envolve a plateia com contato visual firme, gestos de mãos e
postura aberta.
Poucos entre nós têm tanta confiança para falar em público como John
Chambers, presidente da Cisco. As pessoas costumam ficar surpresas quando as-
sistem a uma apresentação dele pela primeira vez. Como um pregador, Cham-
bers perambula entre a plateia. Ele passa apenas um minuto ou dois no palco, no
início da sua apresentação, antes de se misturar com os espectadores. Caminha
direto até as pessoas, mira em seus olhos, chama algumas pelo nome e até põe a
163/209
Steve Jobs utiliza sua voz tão efetivamente quanto seus gestos. O conteúdo
da apresentação, os slides e as demonstrações geram entusiasmo, e sua ex-
pressão verbal amarra o pacote. Quando ele lançou o iPhone, em janeiro de
2007, contou uma história tramada de forma magnífica, e sua expressão vocal
proporcionou exatamente a quantidade certa de drama. Nós já analisamos a ap-
resentação e seus slides nos capítulos anteriores. Agora, vamos nos concentrar
em como Jobs disse o que disse. Afinal de contas, é um conjunto de fatores.
Slides incríveis significam pouco sem uma grande expressão verbal. Uma
história incrível fracassará se for apresentada de modo medíocre.
O Quadro 14.2 ilustra a expressão verbal de Jobs. Envolve a mesma ap-
resentação do iPhone exposta na Cena 13, com foco na sua comunicação efetiva.
As palavras que Jobs decidiu enfatizar estão em itálico, na primeira coluna; a se-
gunda coluna lista observações sobre sua comunicação, incluindo o momento de
pausa logo após uma frase. Preste atenção especial ao ritmo, à pausa e ao
volume.
Jobs diversificou sua expressão verbal para criar suspense, entusiasmo e
emoção. Nada contribuirá mais para destruir todo o trabalho que você investiu
para produzir uma apresentação espetacular do que expressá-la de modo
monótono. E é o que Jobs com toda certeza não faz.
A voz de Jobs complementou a dramatização da trama. Ele utiliza recursos
semelhantes em todas as apresentações. Esta cena detalha quatro técnicas afins
que Jobs emprega para manter sua plateia envolvida: inflexões, pausas, volume
e ritmo.
INFLEXÃO
Jobs muda sua inflexão elevando ou abaixando o tom de voz. Pense como
teria soado monótono o lançamento do iPhone se todas as palavras fossem
164/209
PAUSAS
Nada é mais dramático que uma pausa bem colocada. “Hoje estamos
lançando um terceiro tipo de notebook”, Jobs disse à plateia da Macworld, em
janeiro de 2008. Então, fez uma pausa e, em seguida, afirmou: “Seu nome é
MacBook Air”. Fez uma nova pausa antes de transmitir o slogan:“É o notebook
mais fino do mundo”.
Jobs não apressa sua apresentação. Ele a deixa tomar fôlego. Muitas vezes,
ele fica em silêncio durante alguns segundos, enquanto espera o clímax chegar.
A maioria dos apresentadores parece como se estivesse tentando despejar rapi-
damente o conteúdo. Sob vários aspectos, eles fazem isso, pois roteirizaram mais
conteúdo do que o tempo disponível para a apresentação. Jobs nunca corre. Sua
apresentação é cuidadosamente ensaiada, dando-lhe muito tempo para falar
mais devagar, pausar e deixar a mensagem se consolidar.
VOLUME
Jobs abaixa ou eleva a voz para aumentar o drama. Em geral, ele faz isso
quando apresenta um novo produto especial. Frequentemente, ele abaixa a voz
enquanto constrói o anúncio e, depois, eleva o volume para dar a grande notícia.
Mas, às vezes, ele também faz o oposto. Quando apresentou o primeiro iPod, ele-
vou a voz e disse:“Ter toda sua biblioteca musical sempre com você representa
um grande avanço no ato de ouvir música”. Depois, ele abaixou a voz e deu o
golpe decisivo:“Mas a coisa mais legal a respeito do iPod é que toda sua bibli-
oteca musical cabe no seu bolso”. Assim como as inflexões e as pausas mantêm
sua plateia ligada em cada palavra que você diz, o volume da sua voz exerce o
mesmo poder.
RITMO
Jobs acelera o ritmo em algumas frases e desacelera em outras. Em geral,
as demonstrações são transmitidas em um ritmo normal de discurso, mas ele
fala bem mais devagar quando comunica um slogan ou uma mensagem-chave,
que ele deseja que todos lembrem. Quando lançou o iPod, ele abaixou a voz até
165/209
“E o terceiro...” Pausa.
“Um iPod, um telefone – vocês estão Fala mais rápido, a voz fica mais alta.
entendendo?”
Bueller? Bueller?
Notas do editor
conteúdo ganhar fôlego. Faça uma pausa. Nada é mais expressivo que uma
pausa bem colocada.
• Grave sua voz. Observe com atenção sua linguagem corporal e escute sua
expressão verbal. Observar-se em vídeo é a melhor forma de aprimorar suas ha-
bilidades de apresentação.
Cena 15 - Faça parecer fácil
A prática não é algo que você faz quando já está bom. É algo que você faz
para se tornar bom.
MALCOM GLADWELL
sabem o quê? Ele tinha razão. Os iMacs tinham uma aparência melhor quando a
iluminação entrava antes.” A cena que Krantz descreveu poderia ser interpretada
de duas maneiras diferentes: ou Jobs é um microdiretor ou, como um dos ami-
gos de Jobs observou no artigo, “ele é obstinado, quase maníaco, na sua busca de
qualidade e excelência”.
apresentação com mais vida requer prática. Se você aceitar esse princípio
simples, suas apresentações se sobressairão em um mar de mediocridade.
experiências temos com uma ação específica, mais fortes tornam-se essas
conexões.
Agora, façamos algumas contas. Dez mil horas equivalem a cerca de três
horas por dia, ou 20 horas por semana, em um período de dez anos. Para com-
provar essa teoria, Gladwell relata a história dos Beatles, que tocaram juntos em
Hamburgo durante muito tempo antes de se darem bem. De acordo com Glad-
well, antes de os Beatles conseguirem seu primeiro sucesso, em 1964, eles se ap-
resentaram ao vivo cerca de 1,2 mil vezes, algumas vezes por oito horas sem
parar. É uma façanha notável, pois os grupos, em sua maioria, não tocam com
essa frequência durante suas carreiras inteiras. Os integrantes da banda ficavam
melhores e mais confiantes quanto mais tocavam juntos. “Casualmente”, escreve
Gladwell,“o tempo transcorrido entre o surgimento dos Beatles e suas indiscutí-
veis maiores realizações artísticas – Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band e
The Beatles [Álbum Branco] – é dez anos”.
Com a teoria das 10 mil horas em mente, voltemos nossa atenção de novo
para Jobs. Embora a Apple tenha sido fundada em 1976, Jobs e Steve Wozniak,
amigo e cofundador, começaram a frequentar as reuniões do Homebrew Com-
puter Club, em 1974. O Homebrew foi um dos primeiros clubes de aficionados
por informática do Vale do Silício, na Califórnia. No Homebrew, Jobs começou a
mexer com computadores e a falar a respeito de como eles poderiam mudar o
mundo. Exatamente dez anos depois, Jobs fez uma apresentação espetacular: o
lançamento do Macintosh, em 1984. As pessoas que assistiram à apresentação a
consideram um feito magnífico, incluindo suspense, drama e emoção. Mas, no-
tavelmente, Jobs continuou a praticar, refinar e aprimorar seu estilo de
apresentação.
Na década seguinte, em 1997, retornou e estava no palco da Macworld de
Boston para discutir os passos que tinha de adotar para recuperar as boas con-
dições da empresa. Naquele dia, tudo a respeito de seu desempenho foi mais re-
finado e natural do que tinha sido nos anos anteriores. Ele abandonara o uso do
púlpito, caminhando à vontade pelo palco, e começara a criar slides visualmente
mais atraentes.
Outros dez anos se passaram e chegamos à Macworld 2007. Em minha
opinião, é a maior apresentação de Jobs até hoje, se levarmos em consideração
cada elemento da keynote, do início ao fim. Ele faz um gol de placa em cada ap-
resentação, mas, em 2007, foi o mais lindo deles. Tudo deu certo. Diversas
seções da apresentação foram discutidas ao longo deste livro. A apresentação
completa foi fluente e refinada, com nuances dramáticas, linguagem corporal
confiante, expressão verbal cativante e slides maravilhosos. A apresentação do
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iPhone inclusive ofuscou o lançamento de todos os produtos da, muito mais ex-
pressiva, Consumer Electronics Show, realizada em Las Vegas, na mesma
semana.
O mito principal a respeito de Jobs é que ele é um apresentador inato, que
nasceu com o carisma que exibe no palco. Não é verdade. Como a pesquisa
mostrou, ninguém tem um dom inato. Você poderá alcançar o mesmo nível de
proficiência dos maiores comunicadores do mundo se trabalhar infinitamente
mais duro do que as outras pessoas.
maioria dos palestrantes amadores, que nunca dedicam tempo suficiente para os
ensaios, teria ficado sem saber o que fazer, chamando ainda mais atenção para o
problema. Mas não ele. Ele estava tão bem preparado que, naturalmente, fez sin-
al para um assistente avançar os slides – nós ensaiamos planos de emergência.
Ele não gaguejou e continuou falando. Não acabou ali: algo estava errado com o
computador; ele tinha travado e teria de ser reinicializado para a apresentação
dos slides continuar. O assistente simplesmente balançou a cabeça negativa-
mente, mas o presidente da empresa não perdeu o prumo. Continuou a fazer sua
apresentação sem slides. E fez isso com facilidade e confiança.
Depois, ele me disse que, sem os ensaios (que insisti que ele fizesse), teria
perdido a confiança e se atrapalhado diante dos funcionários, analistas, invest-
idores, clientes e imprensa. Após a apresentação, quando perguntei aos fun-
cionários o que tinham achado, nenhum deles percebera que algo havia dado
errado.
CLIENTE: Por que você está cobrando 10% a mais pelo mesmo produto
que posso obter da empresa X?
VOCÊ: Você está perguntando sobre preço. [Nesse caso, “cobrando a
mais” é o gancho para a resposta que você elaborou a respeito de “preço”. Em-
bora a formulação adotada pelo cliente seja diferente da palavra escolhida por
você, ela é a deixa para sua resposta preparada sobre o assunto.] Acreditamos
que nosso produto tem um preço competitivo, principalmente para um produto
que melhora o lucro dos nossos clientes em 30%, em média. É importante lem-
brar que temos a melhor equipe de assistência técnica do setor. Isso significa
que, se você precisar de suporte, você o terá. Nossa equipe está disponível 24
horas por dia, 7 dias por semana. Nenhum dos nossos concorrentes pode dizer o
mesmo.
se Caroline Kennedy tivesse pedido um feedback honesto, alguém poderia ter lhe
dito: “Caroline, antes de tentar pleitear junto ao governador o cargo de senadora
pelo estado de Nova York, precisamos trabalhar a maneira como você respon-
derá às perguntas. Suas respostas terão de ser específicas, inspiradoras e isentas
dos cacoetes que você usa nas conversas cotidianas”.
• Dê uma pancadinha no copo. Descobri essa técnica totalmente por
acaso. Mas ela funcionou muito bem. Estava ajudando uma mulher a ensaiar
uma apresentação e percebi que uma palavra sim, outra não, era um “Né?” ou
um “O.k.?”. Aquilo estava irritando. Assim, disse a ela que daria uma pancad-
inha em um copo de água com uma pequena colher sempre que ela recorresse a
um cacoete verbal. Minhas pancadinhas ficaram frequentes – e também
irritantes –, estimulando-a a eliminar seus cacoetes quase de imediato. Desde
então, utilizei essa técnica algumas vezes, com igual sucesso. Naturalmente, essa
técnica requer uma segunda pessoa para observar você e dar uma pancadinha no
copo durante seu ensaio da apresentação.
• Grave seu ensaio e o reproduza na presença de outras pessoas.
Se realmente quiser melhorar suas habilidades de apresentação, grave seu en-
saio em vídeo e o reproduza para uma outra pessoa. Não é necessário gravar
toda a apresentação, somente os primeiros cinco minutos. Esse vídeo deve lhe
dar todas as informações necessárias para a realização de alguns ajustes. Você
pode ficar surpreso com a quantidade de cacoetes verbais que empregou. Para a
maioria das pessoas, observar-se em sua própria apresentação é o suficiente
para superar certos problemas. O feedback de um vídeo é ainda mais eficaz na
presença de outras pessoas, que podem captar alguns maneirismos que você não
percebeu.
que a pessoa da terceira fila está pensando?”. Em outras palavras: o foco está em
você. Em vez disso, passe de “eu” para “nós”. Ponha sua atenção em o que seu
produto, ou serviço, significa para a vida dos ouvintes e confie em sua pre-
paração. Trabalhei com diversos executivos que valem milhões (em alguns casos,
bilhões) de dólares. Adivinhem só: eles ficam nervosos falando na frente de
grupos de pessoas. Uma coisa engraçada a respeito “dos nervos”: quanto mais
você pratica, menos nervoso ficará.
Conheço um líder empresarial famoso mundialmente que fica muito
nervoso em apresentações importantes. Ele supera isso se preparando à ex-
austão. Ele sabe o conteúdo de cada slide e exatamente o que vai dizer. Chega
cedo ao local da apresentação, para que possa testar o som, o projetor e os slides.
Esse executivo até sabe onde estão os refletores de luz do espaço, nunca ficando
na sombra. Isso é preparação. Ele pode ficar nervoso, mas a rotina o faz se sentir
mais confiante, e ele é considerado um dos melhores palestrantes dos Estados
Unidos corporativos.
Vijay Singh, jogador profissional de golfe, treina milhares de jogadas por
dia para se preparar para um torneio. Michael Phelps, ganhador de diversas
medalhas de ouro olímpicas, nada 80 quilômetros por semana para se preparar
para uma competição, e Steve Jobs dedica muitas horas de prática cansativa
antes de uma apresentação. Os melhores de todas as áreas não deixam nada ao
acaso. Se você quiser empolgar uma plateia, siga o manual de estratégias de
Steve Jobs e comece a praticar.
Notas do editor
• Pratique, pratique e pratique. Não dê ponto sem nó. Analise cada slide,
cada demonstração e cada mensagem-chave. Você deve saber exatamente o que
vai dizer, quando vai dizer e como vai dizer.
• Grave em vídeo sua apresentação. Arranje uma câmera de vídeo e grave
seu desempenho. Você não precisa gravar toda sua apresentação. Os primeiros
cinco minutos são capazes lhe dar muita informação. Preste atenção à linguagem
corporal e aos cacoetes verbais. Eles atrapalham e distraem. Se possível, analise
o vídeo com a ajuda de outra pessoa.
• Utilize o método do balde para se preparar para perguntas difíceis. Você
descobrirá que a maioria das perguntas recai sempre nas mesmas categorias.
Cena 16 - Use roupas adequadas
Steve Jobs é o antiCher.34 Em seu show de Las Vegas, Cher e seus dançari-
nos faziam 140 trocas de figurino; Jobs possui um único figurino para cada per-
formance. Para as apresentações, ele sempre usa camiseta preta de manga com-
prida, jeans desbotado e tênis branco. Se você quiser saber com mais detalhes,
ele usa camiseta St. Croix, jeans Levi’s 501 e tênis New Balance. Não que isso
tenha muita importância, pois você não vai se vestir como ele. Ele pode se dar a
esse luxo porque é Steve Jobs e você não. Sério. Se você é um mito empresarial,
que reinventou todo o setor de informática, pode usar quase tudo o que quiser.
Embora a maioria das pessoas esteja familiarizada com a camiseta preta e
o jeans de Jobs – até mesmo os criadores dos The Simpsons vestiram o person-
agem Jobs com jeans e camiseta preta para um episódio de 2008 –, ele nem
sempre se vestiu dessa maneira. Quando Jobs era jovem, tentando ser levado a
sério pelos investidores e pelo público, ele se vestia de forma muito mais conser-
vadora. O Jobs de 1984 parecia muito diferente do Jobs de 2009. A primeira
capa da revista Macworld, de janeiro de 1984, mostrava Jobs parado atrás de
uma mesa de escritório com três dos primeiros computadores Macintosh. Ele es-
tava usando um terno marrom listrado, gravata marrom e camisa social branca.
Sim, Jobs já vestiu listrado. Ele se vestiu de modo ainda mais conservador para
uma apresentação, quando lançou o Macintosh, aparecendo de camisa social
branca, calça cinza, blazer azul escuro com duas fileiras de botão e gravata bor-
boleta verde. Imaginem só! Jobs de gravata borboleta. É verdade!
Jobs é esperto. Seu guarda-roupa sempre refletiu o líder que ele queria se
tornar. Sempre teve consciência da impressão que as roupas podem causar nas
pessoas. Enquanto estava afastado da Apple, ele foi apresentar sua nova
empresa, a NeXT, para o Bank of America. Dan’l Lewin, executivo de marketing
da NeXT, apareceu na casa de Jobs de jeans para acompanhá-lo na reunião. Jobs
estava usando um caríssimo terno Brioni, da Wilkes Bashford, loja de artigos fi-
nos de São Francisco. “Ei”, disse Jobs,“estamos indo ao banco hoje”. Para Jobs,
jeans era adequado para o escritório, mas não para uma visita ao banco. Agora
você pode ter ficado confuso. Jobs usava um terno para ir ao banco e jeans no es-
critório. Que lição podemos tirar disso?
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Notas do editor
• Vista-se como o líder que você quer se tornar, e não de acordo com a
posição que você tem atualmente. Os grandes líderes se vestem um pouco mel-
hor que todos os demais do recinto. Lembre-se: quando Jobs foi procurar finan-
ciamento em um banco, ele usava um terno caríssimo.
• Use roupas apropriadas para a situação. Steve Jobs pode se dar ao luxo
de vestir camiseta preta, jeans e tênis porque tudo a respeito de sua marca é con-
struído sobre o conceito de abalar o status quo.
• Se você for se vestir como um rebelde, vista-se como um rebelde bem-su-
cedido. Jobs usa camisetas St. Croix. Pode parecer uma camiseta preta, mas, no
mínimo, ele gastou muito dinheiro nela.
Cena 17 - Deixe de lado o roteiro
Seja seu próprio padrão de qualidade. Algumas pessoas não estão acos-
tumadas com um ambiente em que se espera a excelência.
STEVE JOBS
Fecho magnético.
“A tela é maravilhosa. É
retroiluminada por LEDs. Economiza [Foto do computador com as palavras
energia, é brilhante e funciona no do lado esquerdo do slide.]
instante que você a abre.”
Apoio multitoque.
FIGURA 17.1
Jobs revela autêntico entusiasmo ao segurar o minúsculo processador Intel
do MacBook Air.
Agora vamos pôr em prática o método das cinco etapas. Deparei-me com
um anúncio do fundo mútuo Vanguard. Mostrava dois copos de água: o da es-
querda continha uma pequena quantidade de água e o da direita estava total-
mente cheio. O título dizia: “Quanto menor o custo, mais você ganha”. Anúncios
como esse proporcionam exemplos excelentes de como criar slides com visual
cativante. Suponhamos que o anúncio seja um slide: o Quadro 17.2 mostra o que
poderia ser um roteiro hipotético, redigido com as cinco etapas em mente. (Criei
o conteúdo com base nas informações do material de marketing daVanguard.)
3
Custos de investimento são importantes.
MAPS
• Moscone West
• Starbucks: pedir 4 mil lattes para viagem
• Monumento de Washington
• Mostrar satélite
• Torre Eiffel, Coliseu
É isso. Essas anotações eram todas as incitações que Jobs precisava para
encaminhar sua plateia para uma parte específica da demonstração.
Jobs começou dizendo à plateia que queria mostrar a ela algo “realmente
incrível”: o Google Maps no iPhone. Primeiro, ele abriu o aplicativo e deu um
zoom no mapa da cidade de São Francisco, mostrando a rua da Moscone West, o
local da Macworld.
A segunda coisa que Job fez foi digitar “Starbucks” para procurar a cafeter-
ia mais próxima. Em seguida, ele ligou para a loja Starbucks pelo iPhone e pas-
sou o trote apresentado na Cena 12, pedindo 4 mil lattes para viagem. (Eu não
fazia ideia de que a piada a respeito dos lattes estava no roteiro, até ver a foto
das anotações de Jobs no palco. Ele a representou como se fosse um momento
espontâneo, mostrando, de novo, que Jobs não dá ponto sem nó.)
A terceira coisa que ele fez foi visitar o Monumento de Washington, dandos
dois toques na tela para aproximar o mapa. Quarto: Jobs selecionou a opção
para substituir o mapa por fotos de satélite. Ele trouxe uma imagem do Monu-
mento de Washington. “Não é incrível, direto para o meu telefone?”, afirmou.
Finalmente, Jobs visitou a torre Eiffel e o Coliseu romano, mostrando ambos na
visão de satélite. Ele concluiu, afirmando:“Imagem de satélite direto para o
nosso telefone. Inacreditável. Não é incrível?”. Jobs valeu-se do seu roteiro para
a demonstração, mas o roteiro foi escrito e ensaiado amplamente, para que
poucas palavras-chave fossem necessárias para guiá-lo.
Sim, Steve Jobs parece coloquial, mas, a esta altura, sabemos que ser colo-
quial exige muita prática. Além disso, o modo como você pratica faz toda a difer-
ença. Utilize os slides como um teleprompter, abordando um único tema por
slide e se baseando em diversos pontos de apoio. Se esquecer alguns pontos de
apoio, você terá, no mínimo, atingido o tema principal. Sobretudo, deixe de lado
o roteiro. As anotações interferirão com a conexão emocional que você precisa
estabelecer com a plateia, prejudicando a experiência da apresentação. A atitude
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Notas do editor
seus slides não avançaram. “Meu controle remoto não está funcionando”, ele
disse. Quando Jobs caminhou para o lado direito do palco, para verificar o com-
putador, o slide pareceu avançar. “Ah, talvez esteja funcionando. Não, não está.”
Jobs pegou outro controle remoto, mas este também não funcionou. Sorrindo,
ele afirmou: “O controle não está funcionando. Eles estão se engalfinhando nos
bastidores neste momento”. A plateia riu, e, após alguns momentos tentando
consertar o controle remoto, Jobs fez uma pausa, sorriu e contou a seguinte
história:
FIGURA 18.1
Jobs demonstra uma peça que ele e Steve Wozniak, cofundador da Apple,
pregaram em colegas do colégio.
Richard, o brincalhão
Não tenho segredos. Não há regras a seguir nos negócios. Só trabalho duro
e, como sempre fiz, acredito que posso fazer. Mais que tudo, porém, tento me
divertir.
RICHARD BRANSON
Um analista, Shaw Wu, tinha uma visão diferente a respeito de tudo isso.
Para ele, a Apple sem Jobs prosperaria porque o espírito de Jobs tinha sido in-
stitucionalizado. Wu afirmou que a Apple tinha uma capacidade incomum de at-
rair empreendedores obstinados, que esperam mudar o mundo.
Para PC World, Jobs, um showman fora de série, tinha elevado as ap-
resentações de novos produtos a uma forma de arte; a revista esperava que ele
recuperasse a saúde rapidamente para que pudesse liderar a empresa de novo e
fosse capaz de voltar ao palco uma vez mais.
Por mais de três décadas, Jobs enfeitiçou o mundo. E, quer você seja um
Macmaníaco ou um PCmaníaco, todos nós temos uma dívida de gratidão com
Jobs, pela oportunidade de nos juntarmos a ele no seu “barco mágico e verti-
ginoso”, para citar Bob Dylan, seu músico favorito. Foi uma viagem magnífica, e
se você prestar bastante atenção, Jobs pode ajudá-lo a vender suas ideias com
mais sucesso do que você alguma vez achou possível.
Notas do editor
Aqui Jobs conta a primeira das três histórias pessoais. Essa primeira é
sobre sua saída do Reed College após seis meses. Para Jobs, foi assustador a
203/209
princípio, mas, no fim, deu certo, porque permitiu que ele continuasse a fazer
cursos que o interessavam, como caligrafia. Dez anos depois, ele incorporou as
fontes da caligrafia no Macintosh,“ligando os pontos”.
Jobs descobriu sua paixão pela simplicidade e pelo design na infância. Ele
descobriu seu objetivo básico, um fervor messiânico de mudar o mundo, e nunca
olhou para trás. Compartilhe sua paixão pelo seu objeto, e seu entusiasmo será
contagioso.
Nessa parte, Jobs fala sobre se apaixonar por computadores aos 20 anos e
dividir essa paixão com seu amigo Woz. Ele falou sobre construir uma empresa
de 2 bilhões de dólares em 10 anos e, depois, aos 30 anos, ser despedido pela
diretoria da Apple.
Essa frase inicia a parte mais comovente do discurso. Jobs lembra o dia em
que os médicos lhe contaram que ele sofria de câncer no pâncreas. Ele achou que
tinha de três a seis meses de vida. O câncer revelou-se uma forma muito rara
mas curável da doença, porém a experiência deixou uma marca indelével nele.
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Jobs sempre faz graça. Ele encontra um jeito de injetar humor em um as-
sunto mórbido.
Jobs termina o discurso com essa frase, seu tema e conselho básicos:
“Mantenha-se ávido, mas não se leve tão a sério”. Como discutimos, Jobs repetia
seu tema básico diversas vezes em uma apresentação. Nesse caso, ele repete
“Mantenha-se ávido, mas não se leve tão a sério” três vezes no parágrafo final.
O discurso de Jobs revela o segredo do seu sucesso como líder empresarial
e comunicador: faça o que você ama, enxergue os reveses como oportunidades e
se dedique à busca apaixonada pela excelência. Quer projetando um novo com-
putador, lançando invenções, comandando a Apple, supervisionando a Pixar ou
fazendo uma apresentação, Jobs acredita no seu trabalho. Essa é a última e mais
importante lição que Jobs pode dar: o poder de acreditar em si mesmo e na sua
história. Jobs seguiu o coração durante toda a vida. Siga o seu para cativar sua
plateia. Você estará um passo mais perto de fazer apresentações incríveis.
1Termo muito utilizado pela comunidade Mac. Em português, significa
“diretriz”,“ideia central”,“linha de ação”. (N.T.)
5 No original, Bullets Kill. Havia um trocadilho, que infelizmente não pôde ser
feito na língua portuguesa: bullets, além de “marcadores”, também significa
“balas”,“projeteis”. (N.T.)
22No original, off the charts. Traduzindo literalmente, significa “fora dos gráfi-
cos”. (N.T.)
26No original, Out of the box, expressão que também significa “pronto para uso”.
(N.T.)
34Conhecida cantora e atriz norte-americana, famosa pelo exagero dos seus fig-
urinos. (N.T.)
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