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Avaliação Do Funcionamento Familiar No Contexto Da Saúde Mental Avaliação Do Funcionamento Familiar No Contexto Da Saúde Mental

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Brasil

 Tabla de contenido
Archives of Clinical Psychiatry (São Paulo) 
Resumen Texto
(PT) 
PDF
Revisões da Literatura • Arch. Clin. Psychiatry (São Paulo) 38 (6)
• 2011 •
https://doi.org/10.1590/S0101-60832011000600007
 

COPIAR
Avaliação do funcionamento familiar no contexto da
saúde mental

Family functioning assessment in the context of mental health

Joseane de Souza

Flávia Abade

Pâmela Migliorini Claudino da Silva

Erikson Felipe Furtado

Resumos
OBJETIVO: Verificar quais instrumentos têm sido utilizados na avaliação do funcionamento
familiar no âmbito da saúde mental. MÉTODO: Revisão sistemática da literatura de acordo com
as normas Cochrane nas bases de dados Medline, PubMed e PsycInfo, no período de janeiro
de 1990 a julho de 2009. Foram considerados artigos nos idiomas inglês, português e espanhol
que apresentassem a utilização de escalas, questionários e entrevistas na avaliação da relação
familiar no contexto da saúde mental. Os resumos deveriam especificar o nome do instrumento
utilizado, com aplicação em pelo menos dois membros da família, e apresentar objetivo,
metodologia e resultados. As palavras-chave utilizadas foram: "family functioning" e
"assessment" e "psychiatry". RESULTADOS: A partir de 1.162 artigos, foram selecionados 20.
Os instrumentos encontrados foram: Family Assessment Device (FAD), Family Environment
Scale (FES), Family Assessment Measure (FAM) e Family Adaptability Cohesion Evaluation
Scale III (FACES III). Os aspectos mais relacionados com disfunção familiar foram:
desempenho de papéis, valores e normas, comunicação, envolvimento afetivo e resolução de
problemas. A melhora do funcionamento familiar foi associada à recuperação do paciente com
transtorno mental. CONCLUSÃO: A utilização de instrumentos de avaliação familiar pode
contribuir para o planejamento de intervenções terapêuticas e na reabilitação em saúde mental.

Avaliação; relações familiares; saúde mental; instrumentos; psiquiatria

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OBJECTIVE: To determine which instruments have been used in the assessment of family
functioning in the context of mental health. METHOD: Systematic review according to Cochrane
Brasil
standards in databases: Medline, PubMed and PsycInfo from January 1990 to July 2009. We
considered articles in English, Portuguese and Spanish who presented the use of scales,
questionnaires and interviews in theofassessment
Archives of family
Clinical Psychiatry relationship
(São Paulo)in the context of mental
health. The abstract should specify the name of the instrument, applying at least two family
members, to present objective, methodology and results. The keywords used were: family
functioning and assessment and psychiatry. RESULTS: This study found 1,162 articles and 20
were selected. The instruments cited were: Family Assessment Device (FAD), Family
Environment Scale (FES), Family Assessment Measure (FAM) Family Adaptability and
Cohesion Evaluation Scale III (FACES III). The most families dysfunctions were related to: the
performance of roles, norms and values, communication, affective involvement and problem
resolution. The improvement of family functioning was associated with recovery of patients with
mental disorders. DISCUSSION: The use of family assessment instruments can contribute to
the planning of therapeutic interventions and rehabilitation in mental health.

Assessment; family relations; mental health; tools; psychiatry

REVISÃO DA LITERATURA

Avaliação do funcionamento familiar no contexto da saúde mental

Family functioning assessment in the context of mental health

Joseane de Souza; Flávia Abade; Pâmela Migliorini Claudino da Silva; Erikson Felipe
Furtado

Núcleo de pesquisa em Psiquiatria Clínica e Psicopatologia do Hospital das Clínicas da


Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo (USP), Ribeirão Preto,
SP, Brasil

Endereço para correspondência

RESUMO

OBJETIVO: Verificar quais instrumentos têm sido utilizados na avaliação do funcionamento


familiar no âmbito da saúde mental.

MÉTODO: Revisão sistemática da literatura de acordo com as normas Cochrane nas bases de
dados Medline, PubMed e PsycInfo, no período de janeiro de 1990 a julho de 2009. Foram
considerados artigos nos idiomas inglês, português e espanhol que apresentassem a utilização
de escalas, questionários e entrevistas na avaliação da relação familiar no contexto da saúde
mental. Os resumos deveriam especificar o nome do instrumento utilizado, com aplicação em
pelo menos dois membros da família, e apresentar objetivo, metodologia e resultados. As
palavras-chave utilizadas foram: "family functioning" e "assessment" e "psychiatry".

RESULTADOS: A partir de 1.162 artigos, foram selecionados 20. Os instrumentos encontrados


foram: Family Assessment Device (FAD), Family Environment Scale (FES), Family Assessment
Measure (FAM) e Family Adaptability Cohesion Evaluation Scale III (FACES III). Os aspectos

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mais relacionados com disfunção familiar foram: desempenho de papéis, valores e normas,
comunicação, envolvimento afetivo e resolução de problemas. A melhora do funcionamento
Brasil
familiar foi associada à recuperação do paciente com transtorno mental.

CONCLUSÃO: A utilização de instrumentos de avaliação familiar pode contribuir para o


Archives of Clinical Psychiatry (São Paulo)
planejamento de intervenções terapêuticas e na reabilitação em saúde mental.

Palavras-chave: Avaliação, relações familiares, saúde mental, instrumentos, psiquiatria.

ABSTRACT

OBJECTIVE: To determine which instruments have been used in the assessment of family
functioning in the context of mental health.

METHOD: Systematic review according to Cochrane standards in databases: Medline, PubMed


and PsycInfo from January 1990 to July 2009. We considered articles in English, Portuguese
and Spanish who presented the use of scales, questionnaires and interviews in the assessment
of family relationship in the context of mental health. The abstract should specify the name of
the instrument, applying at least two family members, to present objective, methodology and
results. The keywords used were: family functioning and assessment and psychiatry.

RESULTS: This study found 1,162 articles and 20 were selected. The instruments cited were:
Family Assessment Device (FAD), Family Environment Scale (FES), Family Assessment
Measure (FAM) Family Adaptability and Cohesion Evaluation Scale III (FACES III). The most
families dysfunctions were related to: the performance of roles, norms and values,
communication, affective involvement and problem resolution. The improvement of family
functioning was associated with recovery of patients with mental disorders.

DISCUSSION: The use of family assessment instruments can contribute to the planning of
therapeutic interventions and rehabilitation in mental health.

Keywords: Assessment, family relations, mental health, tools, psychiatry.

Introdução

A avaliação das relações familiares tem sido foco de vários estudos que procuram identificar
quais fatores estão relacionados ao surgimento e à intensificação dos transtornos mentais1-3.

Vários estudiosos concordam que as relações familiares são modificadas quando um membro
da família apresenta algum problema de saúde, por exemplo, alcoolismo, anorexia nervosa,
depressão e outros1,4. Logo, a inclusão da família no tratamento de pacientes psiquiátricos
também tem sido associada à melhora do paciente e das relações familiares4.

Cada vez mais, profissionais têm procurado desenvolver ações direcionadas ao atendimento de
famílias com pacientes psiquiátricos. Uma das tarefas dos profissionais de saúde que prestam
atendimento nessa área é realizar um adequado diagnóstico para planejar, executar e avaliar
os resultados de uma intervenção familiar5.

Atualmente, o profissional de saúde mental pode contar com vários tipos de instrumentos para
o planejamento da avaliação familiar: escalas de autorrelato da interação e relação familiar feito
pelos seus membros, inventários, entrevistas, métodos observacionais e avaliações clínicas6.

Porém, se o objetivo é avaliar a interação familiar, autores sugerem que um mínimo de


subsistemas seja incluído para que se tenha um maior grau de certeza acerca do conhecimento
produzido a respeito do segmento da realidade, isto é, que sejam coletadas informações de
díades (relação entre duas pessoas, por exemplo, pai e filho) e tríades (relação entre três

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pessoas, por exemplo, pai, mãe e filho)7. Percepções sobre o relacionamento familiar advindas
de dois ou mais indivíduos podem indicar que os membros estão compartilhando os mesmos
Brasil
significados8.

Algumas questões têm dificultado o processo de avaliação do sistema familiar, como: a


Archives of Clinical Psychiatry (São Paulo)
existência de vários constructos (funcionamento familiar, dinâmica familiar, satisfação familiar,
5
prática e estilos parentais, suporte familiar) ; a indefinição da melhor forma de avaliar e o que
deve ser avaliado e a falta de consenso sobre a definição de relações familiares disfuncionais e
saudáveis6. Sendo assim, as principais dúvidas dos profissionais são em relação ao que deve
ser avaliado e como avaliar.

Este estudo de revisão da literatura pretende auxiliar os profissionais de saúde mental na


avaliação do funcionamento familiar de pacientes com transtornos mentais, a partir da
discussão de quais instrumentos têm sido utilizados e quais aspectos têm sido analisados
nesse processo.

Diante disso, o presente estudo tem por objetivo responder às seguintes questões:

1. Quais instrumentos têm sido utilizados para avaliar o funcionamento da família no contexto
da saúde mental?

2. No processo de avaliação familiar, quais os principais aspectos que têm sido analisados?

3. Quais as contribuições da avaliação familiar para a identificação de variáveis familiares


associadas aos transtornos mentais?

Método

Este estudo constitui-se em uma pesquisa realizada nas bases de dados da literatura científica:
Medline, PubMed e PsycInfo, no período de janeiro de 1990 a julho de 2009.

Os seguintes critérios de inclusão foram utilizados para seleção dos resumos: artigos nos
idiomas inglês, português e espanhol que descrevessem a utilização de escalas, entrevistas e
questionários na avaliação da relação familiar no âmbito da saúde mental/psiquiatria,
especificando o nome do instrumento utilizado, com aplicação em pelo menos um membro da
família e no paciente. Os resumos também deveriam especificar os objetivos, a metodologia e
os resultados.

Durante a realização do levantamento bibliográfico, observou-se que, utilizando somente as


palavras-chave "family" e "psychiatry", a pesquisa tornou-se muito ampla. A fim de tornar a
busca mais específica, foram realizadas várias combinações de palavras com o objetivo de
verificar a mais adequada para este estudo. Após várias combinações, foram encontradas as
seguintes palavras que atendiam aos objetivos do estudo: "family functioning" e "assessment" e
"psychiatry".

Resultados

Em pesquisa realizada nas bases de dados citadas, utilizando a combinação de palavras


escolhida para o estudo, foram encontrados 69 artigos na base Medline, 392 na PubMed e 711
na PsycInfo.

Após análise desse material, foram selecionados 38 artigos que preenchiam os critérios de
inclusão, sendo 7 da base de dados Med-line, 20 da PubMed e 11 da PsycInfo. Desses, 18
eram repetidos, restando uma amostra de 20 artigos.

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Os resultados serão apresentados em três tópicos: 1. Apresentação dos artigos; 2.


Características dos instrumentos; e 3. Fatores familiares associados ao transtorno mental.
Brasil
1. Apresentação dos artigos

Archives
Os principais dados dos artigos of Clinical Psychiatry
selecionados (São Paulo)
foram organizados em uma tabela, descrita
abaixo, em que constam os nomes dos autores, títulos, revistas, anos de publicação e
instrumentos. Cumpre destacar que, neste estudo, serão apresentados somente os
instrumentos que foram aplicados para avaliar o funcionamento familiar.


Tabela 1 - Clique para ampliar
As escalas mais utilizadas foram: Family Assessment Device (FAD), Family Adaptability and
Cohesion Evaluation Scales (FACES III), Family Environment Scale (FES), Family Assessment
Measure (FAM) e McMaster Clinical Rating Scale (MCRS). Duas entrevistas estruturadas
também foram identificadas, sendo utilizadas conjuntamente com o FAD: a McMaster's
Structured Interview of Family Functioning (McSIFF) e o Family Relation Test (FRT).

O FAD, a FACES III, a FES e a FAM são instrumentos de autorrelato, ou seja, os membros
respondem de acordo com sua percepção sobre o funcionamento familiar. Já a MCRS e a
McSIFF são administradas pelo profissional para realizar um diagnóstico familiar, a partir da sua
percepção.

Notou-se que o Family Assessment Device (FAD) foi citado em 13 estudos; a Family
Assessment Measure (FAM), em três; a Family Environment Scale (FES) e a Family
Adaptability and Cohesion Evaluation Scale (FACES III), em dois trabalhos. Eles serão

apresentados na tabela 2 para melhor detalhamento de suas características.

2. Características dos instrumentos

A tabela 2 apresenta ano de publicação, teoria de base, número de itens, domínios avaliados
e propriedades psicométricas de cada um dos instrumentos mais citados.

Todos os instrumentos foram elaborados na década de 1980 e cada um deles está


fundamentado em uma teoria que busca compreender o funcionamento familiar. O FAD utiliza o
modelo McMaster do Funcionamento Familiar, no qual tal funcionamento está relacionado ao
cumprimento das funções e tarefas essenciais da família. A FES tem como base duas teorias -
a socioecológica e psicológica e a teoria sistêmica familiar, que avaliam, também, os aspectos
sociais que podem influenciar o funcionamento familiar. O Modelo Circumplexo Sistêmico
Familiar e Marital é utilizado na FACES III para avaliar o sistema familiar a partir de duas
dimensões: coesão e adaptabilidade. Ambas as dimensões têm uma relação curvelinear com o
funcionamento saudável da família. Portanto, a família saudável teria escores equilibrados nas
categorias coesão e adaptabilidade. Já a família com funcionamento patológico seria,
inversamente, associada a altos ou baixos escores em ambas as dimensões. A FAM tem como
base o Modelo do Processo do Funcionamento Familiar, elaborado a partir de duas teorias: o
Esquema das Categorias da Família e o Modelo McMaster do Funcionamento Familiar, que
enfatiza a dinâmica familiar e as interações entre os processos individuais e familiares.

Os principais domínios avaliados nos quatro instrumentos foram: envolvimento afetivo,


comunicação, desempenho de papéis, adaptação, resolução de problemas e controle do
comportamento. Embora apresentem alguns domínios em comum, o número de itens
analisados varia de 20 (FACES III) a 134 (FAM). A unidade de estudo de todos os instrumentos
foi a família como um todo, a partir da percepção de cada membro. Somente a FAM
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proporciona a avaliação do processo individual na família e a FACES III avalia casais sem
filhos. As propriedades psicométricas, segundo o manual de cada instrumento, apresentaram
Brasil
bons resultados. A maioria dos instrumentos avaliou a dinâmica ou estrutura familiar, porém a
FAM tem como objetivo avaliar os resultados de pesquisas e do processo terapêutico. Quanto à
faixa etária dos respondentes, nenhum
Archives dos instrumentos
of Clinical citados
Psychiatry (São foi construído para avaliar a
Paulo) 
percepção de crianças abaixo de 11 anos.

3. Fatores familiares associados ao transtorno mental

As principais contribuições para a identificação de variáveis do ambiente familiar, associadas


aos transtornos mentais, também foram investigadas nos estudos. Dessa forma, serão
apresentadas as principais características da população avaliada, os objetivos dos estudos e os
resultados encontrados.

A maioria dos trabalhos foi realizada com famílias de crianças e


adolescentes9,10,12,13,16,18,20,21,25-28 portadoras de transtornos alimentares12,15,18,19,22,24,25,27 e
transtornos do humor, principalmente episódios depressivos10,14,16,20,21,28.

Alguns estudos investigaram a associação entre funcionamento familiar e transtornos


psiquiátricos10,16,19,23,27. A análise do funcionamento familiar de crianças e adolescentes
pertencentes ao grupo de risco para desenvolvimento de depressão também foi objetivo de
alguns artigos20,21. Outros identificaram as diferenças na percepção do funcionamento familiar
entre seus membros24,25,29. Estudos comparativos entre famílias com pacientes psiquiátricos e
grupo controle também foram realizados9,12,13,16,17,19,26,28. Quatro trabalhos avaliaram os
resultados do tratamento relacionando-os com mudanças no funcionamento familiar14,15,18,22.

Os principais resultados mostraram que o filho com transtorno psiquiátrico tende a perceber o
funcionamento familiar de forma mais disfuncional do que seus pais19,22,25,26,28. Transtorno
mental presente na mãe foi associado à relação familiar mais disfuncional16,21.

Além disso, estudos apontaram que os aspectos mais relacionados à disfunção familiar são:
desempenho de papéis, valores e normas, comunicação, envolvimento afetivo e resolução de
problemas9,10,19,24,27. Foi possível perceber que a intervenção na família diminui o estresse e
encoraja a interação positiva entre seus membros23. A melhora do funcionamento familiar está
associada à recuperação do paciente com transtorno mental14,15.

Os estudos comparativos confirmaram que a percepção do funcionamento familiar é mais


comprometida nos grupos com pacientes psiquiátricos do que em grupos saudáveis, apontando
que as famílias de pacientes do primeiro grupo apresentam maior disfunção10,12,13,17,20,28 . Em
um trabalho realizado com pacientes portadores de diferentes diagnósticos psiquiátricos,
concluiu-se que o tipo de transtorno não está relacionado ao funcionamento familiar17.

Discussão

Avaliação da família no contexto da saúde mental

A maioria dos estudos foi realizada em famílias com crianças e adolescentes acometidos por
transtornos alimentares ou episódios de depressão. Esses achados também foram apontados
por Ponciano e Féres-Carneiro33, em um artigo de revisão sobre a terapia familiar no Brasil.

De acordo com a literatura científica, um bom relacionamento familiar constitui fator protetor no
desenvolvimento de transtornos psiquiátricos na infância e na adolescência34-36.

Problemas nas relações familiares vêm sendo pesquisados como fatores dificultadores no
tratamento dos transtornos mentais e agravamento deles, com grande variedade de trabalhos
direcionados para o aprofundamento dessa questão quando da ocorrência de depressão e
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transtornos alimentares. Por exemplo, Goodman e Scott37 afirmam que o bom relacionamento
entre pais e filhos está associado a um bom prognóstico no tratamento da anorexia nervosa. Os
Brasil
mesmos autores referem associação entre disfunção familiar e depressão na infância. Isso
evidencia que a avaliação do funcionamento familiar pode auxiliar na proposta de estratégias
de tratamento voltadas para melhorar o relacionamento familiar e, consequentemente, a
Archives of Clinical Psychiatry (São Paulo)
recuperação dessas crianças ou adolescentes.

Crianças cujos pais são portadores de algum transtorno mental, como depressão ou
alcoolismo, apresentam maiores riscos de prejuízos no desenvolvimento emocional e
comportamental1,37-39. Na análise dos resumos, foi possível observar que a presença de
transtorno psiquiátrico na mãe está associada a um funcionamento familiar mais
disfuncional16,21. Na organização familiar, os papéis dos pais são diferentes - a mãe tem a
função de oferecer suporte emocional, enquanto o pai, geralmente, é incumbido de prover o
sustento material dos membros40. Segundo Carter e McGoldrick41, as mulheres sempre tiveram
um papel central no funcionamento da família, pois cabe a elas assumir a responsabilidade
emocional por todos os relacionamentos. Esse dado desperta uma hipótese que merece ser
investigada - o de que o funcionamento familiar, nos aspectos afetivos, é mais prejudicado
quando a mãe apresenta algum transtorno psiquiátrico.

A partir desta revisão, alguns estudos19,22,25,26,28 concluíram que pacientes com transtornos
psiquiátricos tendem a ter uma pior percepção do funcionamento familiar do que seus
familiares. Uma possível explicação para isso é a de que os sintomas decorrentes do
diagnóstico psiquiátrico desencadeiem, no paciente, a necessidade de receber mais apoio
afetivo dos familiares. Avaliar a percepção de pelo menos mais um familiar, além do paciente
portador de transtorno mental, pode ajudar a esclarecer essa questão. Conforme Fisher42, esse
método possibilita compreender se os significados sobre essas relações estão sendo ou não
compartilhados por todos os membros da família e proporcionando uma análise da interação
familiar. Esse conhecimento é fundamental para que o profissional planeje uma intervenção
centralizada nas relações familiares.

Somente quatro estudos, desta amostra, avaliaram os resultados do tratamento e suas relações
com as mudanças ocorridas no funcionamento familiar. Esses estudos trazem uma grande
contribuição para a atividade clínica dos profissionais de saúde mental, pois apontam a
importância do apoio familiar durante as intervenções terapêuticas oferecidas ao paciente.
Conforme aponta Ponciano et al.43, as famílias dos pacientes psiquiátricos também demandam
tratamento em virtude da alta carga de estresse presente, principalmente nos responsáveis
pelos cuidados. E um projeto de tratamento para a família pode auxiliá-la a lidar com esse
estresse evitando a sobrecarga.

Instrumentos utilizados para avaliar o funcionamento familiar

A maioria dos instrumentos encontrados, neste trabalho, foi publicada na década de 1980.
Nesse período, pesquisadores demonstraram interesse na elaboração de escalas para serem
utilizadas na área familiar6.

Grotevant e Carlson44 citam que o campo da avaliação familiar tem se desenvolvido


rapidamente, mas algumas questões têm sido deixadas de lado. Existem várias teorias e
diferentes perspectivas sobre o funcionamento familiar e tal fato tem dificultado o
desenvolvimento de medidas e conceitos confiáveis. Provavelmente, a não existência de uma
padronização da terminologia utilizada no campo da Ciência da Família dificulta a integração
dos conhecimentos produzidos nessa área. Autores6,44 citam que a falta de uma teoria geral
sobre o funcionamento familiar está comprometendo a sistematização da metodologia de
avaliação do ambiente familiar. Notou-se que a construção de cada instrumento foi baseada em

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uma determinada teoria, sendo as seguintes: modelo circumplexo sistêmico familiar e marital,
modelo McMaster do Funcionamento Familiar (MMFF), modelo do processo do funcionamento
Brasil
familiar, teoria socioecológica e psicológica e teoria sistêmica familiar.

Bray6 afirma que não existe consenso na definição do funcionamento familiar saudável e
Archives of Clinical Psychiatry (São Paulo)
patológica. Para a teoria sistêmica estrutural45, limites geracionais claros, definições de papéis
e estruturas e funções determinadas segundo o gênero são critérios importantes para
determinar se uma relação familiar é saudável, enquanto para a teoria do modelo circumplexo o
critério utilizado seriam os níveis de coesão e adaptabilidade46.

Embora existam métodos de avaliação da relação familiar, não há um consenso sobre qual
medida seria a mais adequada e sobre qual seria o foco da avaliação familiar - se a relação
conjugal ou a interação entre pais e filhos6. Bray6 afirma, ainda, que essas questões devem ser
definidas conforme o objetivo da avaliação. No presente estudo, percebeu-se um predomínio de
avaliação da interação entre pais e filhos. Provavelmente, tal predomínio está associado ao fato
de a maioria dos artigos se referir a crianças com distúrbios psiquiá-tricos, cujo objetivo foi
verificar a relação entre o desenvolvimento desse distúrbio com o relacionamento entre pais e
filhos.

Segundo Bray6, as teorias sobre o funcionamento familiar e conjugal sugerem quatro categorias
que devem ser avaliadas: composição familiar - descrição da estrutura da família e dos
membros -; processo familiar - inclui comportamentos e interações que caracterizam as
relações familiares, tais como conflito, diferenciação, comunicação, resolução de problemas e
controle -; fatores afetivos - emoções e expressão afetiva entre os membros - e organização
familiar - refere-se a papéis e regras, incluindo aspectos como fronteiras e hierarquia.

A discussão é sobre quais aspectos da relação familiar precisam ser avaliados. Em seu estudo,
Bray6 encontrou alguns fatores e processos-chave que são importantes para serem avaliados:
comunicação, emoções, papéis, conflito conjugal e parental, resolução de problemas, vínculos
e coesão, expressão de afeto, intimidade, estresse, diferenciação e individuação. Nos artigos
avaliados neste presente estudo, os fatores mais analisados foram: envolvimento e expressão
afetiva, comunicação, desempenho de papéis, adaptação, resolução de problemas e controle
do comportamento, demonstrando que parece existir uma concordância entre os autores na
questão dos fatores que podem ser analisados, na avaliação de famílias com pacientes
psiquiátricos.

Assim como Bray6, observou-se que os instrumentos mais utilizados têm sido a FACES III, a
FES e a FAD, com exceção da FAM, que, no presente estudo, foi citada entre os artigos
selecionados. Segundo Halvorsen47, essas escalas de autorrelato possuem boas propriedades
psicométricas e normas para coleta de dados que podem ser usadas pelos profissionais de
saúde, na identificação de famílias funcionais e disfuncionais47.

Foram encontrados artigos que descrevem a validação e a adaptação, para o Brasil da FES48 e
da FACES III49 .

Considerações finais

No contexto da saúde mental, a avaliação do funcionamento familiar utilizando escalas mostrou


ser uma metodologia adequada para a identificação dos fatores do ambiente familiar que
podem auxiliar no planejamento terapêutico e na reabilitação do paciente. Os instrumentos
descritos foram úteis na identificação das variáveis familiares associadas ao transtorno
psiquiátrico, tais como desempenho de papéis, valores e normas, envolvimento afetivo e
resolução de problemas.

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A utilização de escalas combinadas com entrevistas estruturadas pode ampliar a compreensão


do funcionamento familiar. Conciliar dois tipos de avaliação, como a percepção dos membros
Brasil
da família e a do profissional, constitui alternativa para facilitar o diagnóstico das relações
familiares.
Archives of Clinical Psychiatry (São Paulo)
A interpretação dos dados deve estar de acordo com o referencial teórico em que o instrumento
se baseia. É aconselhável, também, obter uma definição clara do constructo que será avaliado,
uma vez que não existe uma padronização dos termos que envolvem estudo com famílias.

Outras pesquisas são sugeridas para ampliar os resultados aqui encontrados: revisão da
literatura sobre estudos brasileiros que têm sido realizados na avaliação de famílias com
transtornos mentais, funcionamento familiar em adultos com transtornos psiquiátricos e estudos
que procuraram avaliar a associação entre conflito conjugal e funcionamento familiar, no
contexto da saúde mental.

Espera-se que este estudo desperte o interesse dos profissionais de saúde mental para a
importância da inclusão dos instrumentos de avaliação familiar na realização do diagnóstico de
pacientes com transtornos mentais.

Recebido: 23/12/2010

Aceito: 13/5/2011

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Datas de Publicação
»
Publicação nesta coleção

02 Jan 2012
»
Data do Fascículo

2011

Histórico
»
Aceito
13 Maio 2011
»
Recebido

23 Dez 2010

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