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Avaliação de Antropologia Jurídica

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Aluno: Luiz Otávio Vilanova de Oliveira

Turma: 1 U
TIA: 42146402

Avaliação de antropologia jurídica

Abordar a constituição do campo de análise e pesquisa da antropologia jurídica implica


examinar o contexto em que ela se forma e quais os condicionamentos históricos,
culturais e sociais de sua formação. Nesse sentido, um aspecto importante de sua
formação, é a ligação da antropologia política com o imperialismo europeu, que surgido
do colonialismo, caracterizado por seu caráter expansionista.

Existem diferentes tipos de imperialismo, mas esse em que o surgimento da


antropologia está inserido, diferencia-se dos demais, como ressalta Hanna Arendt
(1989), o expansionismo imperialista do século XIX difere significativamente das
formas de conquista precedentes que caracterizaram as políticas imperialistas típicas da
formação de impérios, ao estilo de Roma. Esse imperialismo é fundado na ideia de
expansão territorial de Estados nações soberanos, que buscavam estender sua soberania
para além de suas fronteiras. Nesse sentido, o Imperialismo, enquanto fenômeno
historicamente circunscrito, caracterizava-se essencialmente por aquilo que Ferro
(1996) denominou de “bulimia territorial”. Segundo Eric Hobsbawm (2002), entre os
anos 1880 e 1914, assiste-se á cristalização de um novo tipo de império, o colonial, que
se baseia na repartição do mundo em países “avançados” e “atrasados”.

O Estados nação que formavam esses impérios, necessitavam de justificativas para dar
legitimidade a suas expansões colonialistas, pois era de suma importância ter apoio das
grandes massas populares para concretizar suas ambições imperialistas. A ideia de
superioridade racial, nesse contexto, será uma das mais eficazes ferramentas de
legitimação da expansão imperial. Citação: [...] os não-europeus e suas sociedades eram
crescente e geralmente tratados como inferiores, indesejáveis, fracos e atrasados, ou
mesmo infantis. Eles eram objetos perfeitos de conquista, ou ao menos de conversão aos
valores da única e verdadeira civilização[...]. Nesse sentido o Estado nação opera como
uma máquina de produção de “outros”, fazendo que os povos colonizados apareçam
como contraponto negativo da identidade europeia, criando no imaginário europeu uma
imagem, do sujeito colonizado, de oposição à civilização. Dessa forma, segundo Hardt e
Negri (2001, p. 141), “[...] a construção negativa de outros não europeus é, finalmente, o
que funda a sustenta a própria identidade europeia.”

É nesse sentido que Hardt e Negri (2001, p. 142) enfatizam que “[...] entre as
disciplinas acadêmicas envolvidas nessa produção cultural de alteridade, a antropologia
foi, talvez a rubrica mais importante, sob a qual o outro nativo foi importante para a
Europa e dela exportado.”; a antropologia surgiu como uma espécie de instrumento para
o Estado-nação, com um discurso legitimador das suas práticas dominação, envolvendo
uma perspectiva evolucionista, porém não limitou apenas a essa dimensão, pois a
relação entre antropologia e dominação colonial é complexa e ambígua e, por isso, não
se reduz apenas á simples instrumentalização da primeira pela segunda. A antropologia
fornecia não apenas um instrumento de grande, valia para legitimar a expansão
imperialista, mas também uma ferramenta importante para o exercício da dominação
nos contextos coloniais. Em contra partida, a dominação imperial oferecia á
antropologia seu “objeto” de estudo, ou seja, o povo “primitivo”.

O campo de análise e pesquisa da antropologia nascente pode ser dividido em três


aspectos constitutivos

a) A ideia de um campo de análise e pesquisa limitado ao estudo das “sociedades


primitivas” ( sociedades sem Estado).

[...] na divisão do trabalho entre ciências sociais, antropologia especializou-se na


descrição e na classificação de grupos sociais frequentemente tidos como primitivos,
atrasados, marginais, tribais, subdesenvolvidos ou pré-modernos, definidos por sua
exterioridade em relação ao mundo dos antropólogos, ele próprio definido pela
civilização, pela ciência e pela técnica. (L´ESTOILE; NEIBURG; SIGAUD, p.9).
Essa definição ligada a expansão imperialista gerou, posteriormente, problemas de
definição do próprio campo de análise dessa disciplina, esse fato tornou-se mais
evidente com o fim do colonialismo, com isso os antropólogos começaram a voltar
sua atenção para o “patrimônio etnológico” das sociedades modernas. É nesse
sentido, que Jean Copans (1988, p.15) enfatiza “[...] a antropologia já é a ciência
provinciana das sociedades exóticas e folclóricas, tal como foi frequentemente
considerada.”
b) A perspectiva evolucionista, que era baseada no pressuposto etnocêntrico da
superioridade da sociedade ocidental sobre as demais.

[...] a descoberta intelectual das sociedades ‘ não europeias’ coloca, pois, em foco a
diversidade das formas sociais de pensamento e de comportamento e a das
instituições correspondentes. Mas é difícil, a principio, separa a abordagem
cientifica da abordagem ideológica ou moral desse fenômeno. A reação instintiva do
Ocidente face aos povos exóticos é o etnocentrismo, que, implícita ou mesmo
explicitamente, ajuíza das sociedades ‘não europeias’ pelo modelo europeu. As
concepções evolucionistas limitaram a constituição do campo de analise e pesquisa
da antropologia geral, e da jurídica, pois as mantiveram presas a categorias
analíticas problemáticas, tais como as de “raça” e “evolução unilinear”.

c) O caráter instrumental da disciplina que, ao fornecer, ainda que indiretamente,


bases para a dominação colonial, constituiu-se num saber voltado “gestão de
populações”. A ligação da antropologia com a expressão colonial, que a tornou, em
última instancia, “[...] filha de uma era de violência [...]” (LÉVI-STRAUSS, 2003),
uma dimensão nitidamente instrumental que se expressava tanto na fundamentação
discursiva da dominação das nações europeias quanto no fornecimento de um
repositório de conhecimento sobre as sociedades coloniais que servia para tornar
mais eficaz a dominação.

Nesse período muitos autores, tentaram através da antropologia definir e encontrar


a origem do direito, e uns dos mais importantes foi e Henry James Sumner Maine,
que em sua obra Ancient Law definiu uma nova forma de abordagem entre direito e
sociedade. Sua obra seria divida em duas teses centrais, em primeiro lugar estaria a
teoria dos estágios de desenvolvimento do direito. Maine dividiu o direito em
algumas etapas, a pré-jurídica, onde a fonte do direito seria divina, o direito
costumeiro onde o costume seira a fonte e a legalidade do direito onde os códigos
leis como fonte, lei posta por uma autoridade. O que importa observar é que,
segundo Maine, no âmbito de seu processo de evolução, o direito teria passado “do
status ao contrato”. Na obra Ancient Law, os conceitos de status e de contrato não
são expressão de institutos jurídicos exclusivamente lógicos, mas sim de princípios
básicos da construção da ordem jurídica e da distribuição de direitos e deveres que
devem ser considerados à luz das estruturas sociais que lhes dão esteio. Nesse
sentido, segundo Maine, nas “sociedades primitivas”, os direitos e obrigações dos
indivíduos seriam fixados de forma rígida pelo seu status, ao passo que,
posteriormente, como decorrência do crescimento da mobilidade social dos diversos
grupos, os direitos e obrigações passariam a ser determinados pelo princípio do
contrato. Assim, para Maine, no direito das “sociedades primitivas”, os indivíduos
estariam submersos no grupo, ou seja, não seria possível afirmar a existência de
indivíduos isolados, como a unidade básica da vida social, previamente à
constituição do grupo ao qual integram. • Como decorrência dessa dissolução do
indivíduo no grupo, não haveria nas “sociedades primitivas” o correlato do que se
entende modernamente por direitos e obrigações individuais. O “direito primitivo”
se estruturava visando ajustar-se a um sistema de pequenas corporações
independentes de modo que as transações jurídicas seriam entabuladas a partir da
relação entre tais corporações e não mediante o intercurso entre indivíduos. O
próprio crime não consistiria numa ação individual e sim num evento coletivo.

A obra de Maine se insere no âmbito da perspectiva evolucionista, que dominou a


antropologia na segunda metade do século XIX. A perspectiva evolucionista,
sobretudo em sua concepção unilinear, assume um viés etnocêntrico, uma vez que
descreve o processo de evolução social em termos de transição do simples ao
complexo, do rudimentar ao aperfeiçoado, ou do “primitivo” ao “civilizado”.

Em segundo lugar, estaria a tentativa de estabelecer a anterioridade da


descendência patrilinear e da sociedade patriarcal. Para Maine, o homem não
poderia ser concebido como naturalmente racional e tomado a partir de sua
individualidade, uma vez que, no que concerne a esse segundo aspecto, ele já se
encontraria originalmente inserido em famílias. Ademais, ao contrário da concepção
hobbesiana, para Maine, o homem seria sociável e, mesmo antes da instituição do
poder civil, estaria colocado em formas concretas de organização tais como a
família. Assim, numa posição que o insere claramente no âmbito das teorias que
encontram nas relações de parentesco o fundamento da ordem social. Segundo
Maine, o homem “selvagem” não teria regras nem limitações ou capacidade de
acordo racional. Por essa razão, a figura do contrato somente surgiria na história
humana recente. Conforme sustenta o autor, na sociedade patriarcal, o indivíduo
estaria totalmente integrado à família e submetido ao poder paternal, motivo pelo
qual o direito se confundiria com o costume. Por isso, o advento do contrato como
forma de ordenação é por ele considerado como um ganho evolutivo. Desse modo, o
processo de organização das sociedades se iniciaria com o status, fundado no laço de
parentesco, e se concluiria com o contrato, concebido como expressão da
racionalidade e como fruto da evolução social.

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