TCC - Saúde Mental Sobre Dependência Química e Espiritualidade
TCC - Saúde Mental Sobre Dependência Química e Espiritualidade
TCC - Saúde Mental Sobre Dependência Química e Espiritualidade
RESUMO
1 INTRODUÇÃO
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Graduado em Psicologia, pela Faculdade Faculdade de Tecnologia e Ciências (UniFTC). Pós-
Graduando em Saúde Mental com ênfase em Dependência Química, Família e Comunidade e
Neuropsicologia, (UniFTC). E-mail: marcosadock@gmail.com
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Professora Orientadora. Mestra na Área Multidisciplinar de Ciências Humanas e Sociais, pela
Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Professora da pós-graduação da Faculdade de
Tecnologia e Ciências (UniFTC). E-mail: profa.manuelaac@gmail.com
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pensar que o problema não está necessariamente no uso, não existe um fator
determinante que viabilize ao indivíduo o uso e até mesmo o abuso de uma substância
psicoativa. Conforme a revisão bibliográfica revisada, alguns estudos apontam que
fatores biológicos, psicológicos e sociais contribuem para a adicção de determinada
substância psicoativa. Contudo, é na significação idiossincrásica de cada indivíduo
que podemos encontrar o sentido dado ao uso de dada substância e o papel que ela
representa na vida de cada um (MACRAE, 2001; MOTA, 2007).
Tendo em vista as variáveis condicionantes, sejam elas ambientais,
psicológicas ou fisiológicas, o indivíduo pode vir a fazer uso dessas substâncias de
forma compulsiva e consequentemente pode trazer riscos para o si próprio ou seus
próximos que vivenciam essa fase paralelamente, trazendo transtornos tanto
psíquicos como sociais, que por sua vez direciona a um condicionamento o qual
influência nos valores e condutas em prol da manutenção da utilização (desregulada)
da substância psicoativa, e por consequência desenvolver um quadro de dependência
física e psicológica do uso dessa substância. A dependência química pode se
manifestar através de padrões mal adaptativos do uso de substâncias em que há
repercussões psicológicas, físicas e sociais que resultam da interação entre o ser
humano e substância psicoativa a qual faz o uso (DALGALARRONDO, 2008).
Apesar das dificuldades enfrentadas pela dependência química, o indivíduo tem
a possibilidade de restaurar sua dignidade e sentido de vida direcionando-se a um
propósito a fim de viver em bem estar consigo mesmo e com o mundo a sua volta. O
indivíduo que reconhece e aceita a possibilidade e necessidade do tratamento para
sua condição de dependente químico, poderá buscar criar estratégias que possibilitem
enfrentar o desequilíbrio causado pelo processo da dependência, podendo ser
apoiado por demais pessoas que compõem sua rede social (familiares, profissionais
ou voluntários) que se interessam no tratamento, recuperação e ressocialização do
dependente químico. Dentre as estratégias que são formuladas para o enfrentamento
nesse tratamento está o desenvolvimento da espiritualidade e/ou religiosidade.
Embora esses dois termos estejam comumente relacionados, faz-se
necessário ressaltar que existe distinção entre eles dois e cada um influencia
individual ou simultaneamente o indivíduo no seu processo de recuperação e
tratamento assim como também no desenvolvimento pessoal e essas definições serão
explanadas ao longo do trabalho.
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2 METODOLOGIA
3 DISCUSSÃO
seus efeitos medicinais e psicoativos. No entanto, a visão neutra sobre o uso das
drogas foi impactada pela cristianização do Império Romano. Os sacerdotes
passaram a ver os praticantes de cultos como rivais e começaram a persegui-los na
tentativa de banir qualquer crença ou ritos que se utilizassem das substâncias
oriundas das farmacopeias utilizadas até então. A partir desse período, as drogas
passaram a ser concebidas de forma estigmatizada, não somente pela associação a
rituais religiosos, mas também pelos seus usos de fins terapêuticos no intuito de aliviar
o sofrimento visto que a dor e a morte da matéria eram fenômenos considerados pelos
cristãos como formas de se aproximar de Deus. Em consequência dessa perseguição,
o uso dessas substâncias passou a ser sinônimo de heresia. (MACRAE, 2001).
De acordo com Macrae (2001), a descoberta da América e o contato com
culturas indígenas favoreceram para ampliar as opções farmacológicas na Europa,
apesar das perseguições ainda presentes motivadas pelos colonizadores, porém foi
por volta do século XVIII, na era do racionalismo e do iluminismo, que houve uma
diminuição dessas perseguições e mais uma vez a utilização das drogas voltou à
evidência.
No início do século XX, cientistas passaram a modificar os princípios ativos de
uma variedade de plantas, visto que a facilidade do manejo era mais fácil que as das
plantas dos quais eram extraídos esses princípios ativos, uma vez que suas dosagens
poderiam ser calculadas com mais precisão. Ainda conforme nos aponta Macrae
(2001), nos Estados Unidos, o uso em massa dessas substâncias e consequente
implicações para a saúde, economia e política começou a ser associado a questões
raciais e sociais. Campanhas de cunho religioso foram articuladas com o propósito de
estigmatizar alguns grupos minoritários, que eram associados ao uso de determinadas
substâncias, como era o caso dos chineses e irlandeses, visto que eram considerados
expressivos consumidores de ópio e de bebidas alcóolicas.
Diante do que foi colocado até agora, pode se dizer que as substâncias
psicoativas e suas utilizações são fenômenos que estão presentes na história da
humanidade, assim como na sociedade contemporânea. Contudo, esses fenômenos
sofrem variações de acordo com cada época e contingências socioculturais. Em
termos de diferenciação ou comparação entre os contextos em que se fazem
presentes esses fenômenos, pode se dizer que no passado existiam propósitos e
padrões integradores, ao contrário do cenário atual onde o padrão do consumo de
substâncias psicoativas diversifica-se, chegando ao estágio da dependência química,
que se apresenta como um problema social de desintegração (PRATTA, et al., 2009).
Para cumprir-se o objetivo desse trabalho, fez-se necessária a explanação da
fundamentação teórica da dependência química. Explicou-se como se processa nos
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direcionar ao objetivo desse trabalho, vale ressaltar que tais circunstâncias aqui
mencionadas referem-se às decorrentes da dependência química.
A forma de lidar com situações aversivas e/ou estressantes tem importância no
que se refere aos estilos de coping, consequentemente influenciando nas reações
perante novas situações adversas, assim como na escolha da estratégia selecionada.
Nesse sentido, as estratégias podem ser classificas com foco da atenção para solução
do problema (ou seja, no evento estressor) ou a regulação da emoção envolvida na
situação estressante. Formas de lidar com o estresse, resultam em estilos de coping
que podem influenciar reações nas situações de estresse (PANZINI; BANDEIRA,
2007).
Contudo, para cumprimento do objetivo desse trabalho, direcionaremos o foco
nas estratégias de enfrentamento voltados para a religiosidade/espiritualidade. O
coping religioso/espiritual (CRE) é caracterizado pelo uso de crenças e
comportamentos religiosos como estratégias para prevenir ou aliviar consequências
emocionais negativas oriundas de situações estressantes, para tanto utiliza-se de
mobilizações cognitivas e comportamentais de cunho religioso, seja através da fé,
crenças pessoais ou comportamentos ritualísticos oriundos de determinada religião.
(PANZINI; BANDEIRA, 2007 ; PAIVA, 2007).
A religião sugere uma variedade de estratégias com objetivos de conforto,
controle, busca de significado, intimidade com poder superior (Deus) assim como dar
manutenção a uma boa convivência com os demais membros adeptos. No entanto o
indivíduo pode manifestar sentimentos negativos relacionados ao evento estressor,
consequentemente não apresentando caráter adaptativo. Em decorrência dessas
ocorrências observadas na utilização do CRE, pode-se classificar essas estratégias
como positivas e negativas (PANZINI; BANDEIRA, 2007).
O CRE com caráter positivo expressa-se por estratégias que proporcionam
efeitos benéficos a quem pratica, como conforto nas orações e nas literaturas
religiosas, buscar perdoar, assim como a busca como algo transcendental ou conexão
com um poder divino. Já o CRE com caráter negativo envolve estratégias que podem
gerar consequências prejudiciais, tais como sentimento de culpa (pecado),
insatisfação com as diretrizes sugeridas ou impostas pela religião e intolerância com
crenças que diferem dos preceitos religiosos adeptos (PANZINI et al, 2007).
No entanto, como aponta Panzini (2007) “a religião/espiritualidade pode ser
fonte de alívio ou desconforto, de solução de problemas ou causa de estresse,
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A culpa é o estado de quem é culpado por haver cometido uma falta, que é
uma falha em relação a uma regra moral, sendo um estado de fata moral no
qual alguém se colocou pela ação ou pela intenção de cometê-la. Na culpa a
pessoa se refere a um olhar que julga que avalia segundo um critério tão
absoluto quanto à lei moral. (FUCHS; HENNING, 2011, p. 13)
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Como foi dito no início e decorrer do trabalho, o uso de substância que alteram
a consciência e percepção sempre ocorreu obedecendo critérios e objetivos, sejam
eles ritualísticos ou recreativos. As substâncias psicoativas têm o princípio de alterar
o sistema nervoso central, desencadeando reações particulares no corpo e no
psiquismo de quem as utiliza, tendo como fator colaborativo para essas reações, as
crenças, conhecimentos e significados atribuídos ao uso dessas substâncias.
No entanto, em contextos ritualísticos de cunhos religiosos ou espiritualistas,
esses significados podem ter uma conotação mais direcionadas para os princípios
preconizados por esses ambientes, geralmente orientados para o aspecto divinatório
mediante aos efeitos, sensações, aprendizados, dentre outras manifestações. Diante
desses critérios, as substâncias psicoativas utilizadas nos contextos mencionados são
consideradas substâncias enteógenas. Etimologicamente o termo enteógeno, surge
do termo grego entheos – “Deus dentro”, “gerar a experiência de Deus em si”, por sua
vez denominando a experiência subjetiva da divindade em si (BITTENCOURT, 2016).
A Ayahuasca pode ser citada como uma dessas variedades de substâncias.
Trata-se de uma bebida psicoativa, como os princípios ativos mais importantes sendo
as betacarbolinas, oriundas do cipó Banisteriopsiscaapi, e a dimetriltriptamina (DMT),
oriunda das folhas de Psychotriaviridis. Registros indicam a utilização da Ayahuasca
há milhares de anos em cultos xamânicos, cerimônias religiosas de cura, com forte
expressão de religiosidade. Na década de 1930, o uso expandiu-se pelo território
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
PANZINI, Raquel Gehrke et al. Qualidade de vida e espiritualidade. Rev. Psiq. Clin.
34, supl 1; 105-115, 2007 Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rpc/v34s1/a14v34s1.pdf> . Acesso em 3 de março de 2020.
VARJÃO, Lana Ailana Alves Silva et al, 2015. A religiosidade como estratégia de
enfrentamento em ex-dependentes químicos. Disponível em:
<https://psicologado.com/atuacao/psicologia-social/a-religiosidade-como-estrategia-
de-enfrentamento-em-ex-dependentes-quimicos >. Acesso em 7 de fevereiro de 2020