Morar 60 Mais 2021
Morar 60 Mais 2021
Morar 60 Mais 2021
Revolucionando a moradia
em face da longevidade
1ª Edição
A4 Editora
São Paulo, 2021
Organizadores
Inês Andrade Rioto
Áurea Soares Barroso
Edgard Borsoi Viana
ESCLARECIMENTO:
Este livro será publicado em eBook no site Amazon. A venda será revertida para
Instituição Assistencial Nosso Lar na cidade de Santo André (SP). A prestação de contas
será feita a cada seis meses no site: https://www.morar60mais.com.br/livro-morar60mais.
A Instituição Assistencial Nosso Lar, desde 10 de novembro de 1953, tem como missão
acolher e cuidar de 120 pessoas idosas em situação de risco social ou abandono.
Nosso Lar possui o título de Utilidade Pública Municipal e Estadual e é detentor do
Certificado de Filantropia Federal (CEBAS). Também está legalizado junto à Vigilância
Sanitária, Secretaria de Cidadania e Inclusão Social do Município, Conselho Municipal de
Assistência Social – CMAS e Conselho Municipal da Pessoa Idosa – CMPI.
Em 2001, recebeu o Prêmio Bem Eficiente, oferecido pelo site HYPERLINK
“http://filantropia.org.br”
filantropia.org.br
https://nossolaridosos.org.br/
MORAR 60 MAIS
Revolucionando a moradia em face da longevidade
São Paulo: A4 Editora, 2021.
520 p.
ISBN: 978-65-00-26054-0
Quando anos atrás percebi que o olhar sobre moradia para pessoas ido-
sas se restringia a própria casa ou Instituições de Longa Permanência para
Pessoas Idosas -ILPI, iniciei minha busca por alternativas e foram tantas en-
contradas que idealizei o livro Morar 60 Mais.
Agradeço minha filha Thaís Riotto pela parceria ao acompanhar nas
visitas aos condomínios, instituições, fotos, execução do site www.morar-
60mais.com.br e capa deste livro.
Meus agradecimentos por todo ensinamento, incentivo e o prefácio do
Prof. Kalache. Era imensa minha alegria a cada autor, autora que aceitava o
convite para escrever um tema relacionado à moradia.
Quero deixar aqui meu tributo aos que se dedicam a orientar, cuidar das
pessoas idosas em vulnerabilidade nos seus domicílios, a Pastoral da Pessoa
Idosa e ao Programa Acompanhante de Idosos-PAI.
Percebi que para organizar o livro seria interessante buscar outros olha-
res sobre o assunto, um olhar acadêmico e outro empresarial.
Convidei Áurea Soares Barroso e Edgard Borsoi Viana, que gentilmente
aceitaram. Minha imensa gratidão por terem dedicado parte de seu precio-
so tempo para juntos organizarmos o “Morar 60 Mais - Revolucionando a
moradia em face da longevidade”.
Morar em condomínio
Morar com a
família
Maria Odila Borsoi, 93 anos,
nascida em 1928, superativa, lú-
cida e totalmente independen-
te, decidiu morar com a família,
muito mais pela interação do
dia a dia. Tendo com esta opção
o privilégio de interagir diaria-
mente com a filha, netos e algu-
mas vezes na semana com a linda
bisneta de 7 anos. Uma vibran-
te interação entre 4 gerações.
Esta matriarca, filha de italianos,
adora a casa cheia.
Muito obrigado a ela por este
exemplo de vida.
Apresentação
Programa Aconchego. “Quem estuda tem casa. Quem tem casa tem
companhia” ....................................................................................................56
• Marta Filipa Gomes Pinto da Costa, Susana Maria da Silva Ferreira
Matias dos Santos, Hugo Filipe Varela Correia Tavares
“SEM CASA”
Tem gente que não tem casa,
mora ao léu, debaixo da ponte.
No céu a lua espia
Esse monte de gente na rua,
Como se fosse papel
Gente tem que ter onde morar,
Um canto, um quarto, uma cama
Para no fim do dia guardar o corpo
Cansado, com carinho, com cuidado,
Porque o corpo é a casa dos pensamentos.
PS:
Como a gente aprende com os idosos, minha avó dizia sempre: _ Casa que
não entra o sol, entra o médico.
Alexandre Kalache
beneficia – se a cidade for mais amiga dos idosos termina sendo amiga para
toda as idades. Afinal, o que almejamos é envelhecer. Sempre repetindo o
meu mantra “Envelhecer é bom, morrer cedo que não presta.”
Passamos dois anos preparando o protocolo, fazendo estudos em Copa-
cabana, lançando a ideia no Congresso Internacional de Gerontologia em
2005, no Rio, em que tive o privilégio de ser o conferencista da sessão de
abertura. Consegui atrair interesse de muitos participantes internacionais,
e, em seguida, recebi o apoio do governo canadense. Fomos, então para
Vancouver onde realizamos uma reunião com expertos em envelhecimento
e planejamento urbano – consolidando o que tínhamos feito de maneira in-
formal e improvisada em Copacabana.
Nasce então o protocolo de Vancouver, com suas pétalas, como eu chamo,
desde o acesso a serviços, participação na sociedade, inclusão social, cida-
dania, acesso a trabalho, educação, enfim, todas as dimensões que impor-
tam para bem se viver - inclusive a questão da moradia.
Realizamos estudos qualitativos (grupos focais e fóruns públicos) em pa-
ralelos em trinta e cinco cidades mundo afora. Os dados coletados foram
enviados para a OMS e, em Genebra, os analisamos. Finalmente, em ou-
tubro de 2007, lançamos o Guia da Cidade Amiga do Idoso. Para tal contei
com a colaboração indispensável de Louise Plouffe, que havia coordenado
as políticas para o envelhecimento do Ministério da Saúde do Canada. Mi-
nha expectativa era de que outras cidades se inspirassem nesse modelo.
Hoje tenho a satisfação de dizer que assim foi. São milhares de cidades e
comunidades de tamanhos diversos que de uma forma ou outra adotaram
o projeto. Fomos além, contamos agora não só com cidades e comunidades
rurais, mas também com estados e até países.
Quando saí da OMS fui para New York para implantar o Age Friendly NY,
que é, ainda hoje, um programa-vitrine, com visibilidade internacional.
Logo em seguida, vim para o Brasil para implementar o primeiro Estado
Amigo do Idoso, no Rio Grande do Sul que, por problemas de governo, aca-
bou não sendo implementado, foi uma tentativa frustrada.
Em seguida rumamos para o Estado de São Paulo. Junto à Secretaria da
Saúde, trabalhando lado a lado com Marília Louvison, então coordenadora
de políticas para saúde do idoso, fizemos o trabalho de formiguinha, indo
para várias cidades, conquistando cada vez mais adesão, prefeitos, socieda-
de civil, conselhos, instituições acadêmicas, até da iniciativa privada. Final-
mente surgiu a oportunidade de desafiar o governador, estabelecer, criar o
primeiro Estado Amigo do Idoso. Ele acatou a ideia e foi criado um grupo
Inter secretarial, eu atuando como consultor. Foi um ano e meio de muita
satisfação e alegria. Mas por questões políticas houve uma troca de Secre-
tário, minha consultoria foi encerrada, e pouco a pouco, o grupo Inter se-
cretarial desfeito. O programa acabou por ter ficado muito aquém do que
tínhamos sonhado. Da ideia inicial (que ano após ano, os municípios rece-
beriam estrelas de acordo com atividades que realizavam, algumas obriga-
tórias, outras eletivas, de acordo com a voz do idoso, sempre envolvendo os
DIÁLOGOS COM ALEXANDRE KALACHE 25
O Prof. Kalache agradece aos autores Anita Liberalesso Neri, Áurea Soa-
res Barroso, Henrique Salmazo da Silva, Ina Voelcker, Inês Rioto, João Nas-
sif, Lycia Tramujas Vasconcellos Neumann, Maria Luiza Bestelli, Marisa Ac-
cioly, Milton Roberto Furst Crenitte, Mônica Perracini, Rachel Vainzoff Katz
e Rosamaria Rodrigues Garcia, por enviarem as questões.
Revolução da Longevidade
Egidio Dórea
a +5,4, sendo que quanto maior o valor, melhor). A desigualdade salarial au-
mentou entre 2014 e 2019, com queda de 17,1% para a metade mais pobre da
população e aumento de 10,1% para a parcela mais rica. A pobreza no país
aumentou 33% nos últimos quatro anos, com acréscimo de 6,3 milhões de
brasileiros nessa categoria.
A falta de emprego para os mais jovens, outro aspecto debatido frequente-
mente, não decorre da presença do idoso no mercado de trabalho. A população
acima dos 50 anos é responsável por parcela significativa da produção. Dados
do Longevity Economic Outlook da American Association for Retired People (AARP)
(12) mostraram que pessoas acima dos 50 anos contribuem com mais de 8,3
trilhões de dólares por ano para a economia americana, ou seja, 40% do Pro-
duto Interno Bruto. Em 2030, quando os primeiros milênios tiverem 50 anos,
essa participação aumentará para 12,9 trilhões de dólares.
Em termos de gastos diretos, 56% de cada dólar foram dispendidos pelos
acima dos 50 anos, e em 2050 o valor aumentará para 61%, o que corres-
ponderá a 27,5 trilhões de dólares. Sobre trabalho voluntariado e cuidados,
a contribuição para a economia foi de 745 bilhões em 2018 (140 bilhões em
voluntariado, com aumento de 112% desde 2000, e 604 bilhões em cuidados,
com aumento de 76% desde 2000).
Contribuíram com 97 bilhões para entidades de caridade e 4 bilhões para
instituições educacionais. Cerca de 2,1 trilhões de dólares foram pagos em
impostos, e 88,6 milhões de empregos (44% de todos os empregos) foram
mantidos ou criados direta ou indiretamente pela população acima dos 50
anos. Os valores aumentarão para 102,8 milhões de empregos em 2050.
À medida que a população vive mais e envelhece de forma saudável,
mais empregos são criados em todas as áreas. As remunerações e salários
gerados pelos acima dos 50 anos foram de 5,7 trilhões em 2018, e aumenta-
rão para 19,2 trilhões em 2050.
Entretanto, dados do The Economic Impact of Age Discrimination mostra-
ram que a contribuição econômica potencial do grupo acima dos 50 anos
poderia aumentar de 3,9 trilhões de dólares anualmente em uma economia
sem preconceito de idade. Resultaria em contribuição média de 32,1 trilhões
de dólares para o Produto Interno Bruto norte-americano em 2050 (13).
Todos os dados evidenciam a contribuição dessa população para a eco-
nomia, e ajudam a refutar a teoria de que o aumento da longevidade acar-
retará ônus econômico e social mundial sem precedentes na história. Vá-
rios motivos que alimentam a tensão intergeracional não são respaldados
por dados reais.
As sociedades terão que se readaptar para se beneficiar do dividendo da
longevidade. Mudanças deverão ser efetuadas para oportunidades de saúde,
segurança, participação e aprendizado continuado serem oferecidas a todos
36 SEÇÃO 1
Referências bibliográficas
1. Achenbaum, W. A. Robert N. Butler (January 21,1927- July 4, 2010): Visionary
leader. The gerontologist, 2014; 54 (1): 6-12.
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gerontologist, 2016; 56 (S2): S167-S177.
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L.; Smith, J. P. Macroeconomic implications of population ageing and selected
policy responses. Lancet, 2015; 385 (9968): 649-657.
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https://www.ibge.gov.br
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The European Perspective. Policy Brief March, 2008.
8. Global Employment Trends 2011. The Challenge of job recovery. International
Labour Participation, 2011.
9. Employment Statistics for workers aged 50 and over, by 5- year age bands and
gender from 1984 to 2015. Department for works and pensions, 2015.
10. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população
brasileira 2016. Estudos e pesquisas-informação demográfica e socioeconômica.
IBGE, 2016.
11. Bloom DE, Canning D, Fink G. Implications of population aging for economic
growth. Oxf Rev Econ Policy. 2010; 26:583–612.
12. The Longevity Economy Outlook. How people age 50 and older are fueling
economic growth, stimulating jobs, and creating opportunities for all. AARP real
possibilities, 2019.
13. The Economic Impact of Age Discrimination. How discriminating against older
workers could cost the U.S. economy $ 850 billion. AARP real possibilities, 2019.
14. An Ageing Friendly Society. A Position Statement. National Council on ageing
and older people, 2005.
15. Global Age-friendly cities: a guide. World Health Organization, 2007.
16. He FJ, Pombo-Rodrigues S, MacGregor GA. Salt reduction in England from 2003
to 2011: its relationship to blood pressure, stroke and ischaemic heart disease
mortality. BMJ Open. 2014; 4:e004549.
Seção 2
Iniciativas internacionais
40 SEÇÃO 2
criaram três filhos na sua casa de três quartos, pequena, mas sempre bem
cuidada; uma filha vive na povoação vizinha mas os outros dois filhos estão
longe. Há alguns meses que Henrique vive só; a mulher sofreu um AVC e
os danos foram severos, pelo que, após a inevitável hospitalização, acabou
internada numa Unidade de Cuidados Continuados, onde ainda permanece.
Henrique já foi informado que em breve a mulher terá alta da Unidade, de
onde sairá com uma série de limitações funcionais que vão reduzir a sua
autonomia. Precisará de ajuda para a realização de algumas tarefas e dificil-
mente Henrique será capaz, sozinho, de responder adequadamente a todas
as necessidades que o futuro próximo vai trazer consigo. As de Marília e as
suas próprias, pois também ele já não tem o vigor de antigamente e nunca
teve muita habilidade para a vida de casa, sobretudo com a culinária. Os fi-
lhos já lhes falaram em várias possibilidades. Mudarem-se para um lar seria
o mais conveniente, sobretudo para a mãe, mas o casal resistiu à ideia, pelo
que deixarem aquela casa e arrendarem uma perto do local onde a filha vive
seria outra solução possível. Ainda assim Henrique e Marília estão relutan-
tes, em especial Henrique. Só em pensar em deixar a casa e o local onde vive
há décadas traz-lhe uma sensação de perda e de insegurança que não con-
segue explicar completamente. E sim, também é verdade que tem medo em
não conseguir habituar-se a uma nova casa e a uma nova vizinhança. Talvez
fosse mais fácil para o casal mudar-se para junto da filha, sobretudo agora
na condição em que Marília se encontra, mas é aqui que Henrique se sente
em casa e é grande o receio de trocar o que já se conhece e domina por algo
incerto e imprevisível – “e se eu não gostar de viver lá”?
O dilema de Henrique toca o aspeto central do conceito de ageing in pla-
ce: as pessoas não vivem e envelhecem em locais neutros; vivem e envelhe-
cem em locais significativos do ponto de vista emocional, onde se criaram e
se alimentaram relações – com outras pessoas, mas também com os espaços
físicos que nos rodeiam. Ao lermos o texto de Constança Paúl intitulado En-
velhecimento e ambiente, podemos compreender o problema de Henrique re-
correndo a uma perspetiva – psicologia ambiental – onde o comportamento
individual e a sua condição psicológica são interpretados por referência ao
local onde a pessoa vive.
“Face a mudanças aceleradas, intrínsecas ao próprio envelhecimento, e a mu-
danças profundas no meio ambiente físico e humano, o envelhecer torna-se,
com frequência, um processo doloroso e solitário. Às mudanças desenvolvi-
mentais normativas juntam-se, por vezes, mudanças residenciais impostas
pelas alterações das condições pessoais de vida autónoma, com resultados
mais ou menos positivos para o bem-estar dos idosos” (Paúl, 2005, p. 247).
Por outras palavras, o problema do Henrique e a decisão que ele e a sua
mulher necessitam de tomar serão tanto melhor entendidos quanto mais
formos capazes de cruzar a avaliação do que será melhor, para ambos, com
42 SEÇÃO 2
governos podem ver nesta motivação uma desculpa perfeita para reduzir
drasticamente o seu investimento no sector da habitação, transferindo para
os indivíduos e respetivas famílias a responsabilidade de providenciarem os
melhores contextos habitacionais para o seu envelhecimento.
Na verdade, para algumas pessoas permanecer em casa poderá significar
isolamento e risco de solidão, ao passo que deslocarem-se para instituições
poderá ser vantajoso e possibilitar uma integração social mais satisfatória.
Outro argumento para não se permanecer em casa é o facto de muitos idosos
residirem em habitações degradadas ou que se foram degradando ao longo
do tempo, não tendo condições financeiras para efetuarem obras de melho-
ria e muito menos para se mudarem para outra habitação. Para Arlotti, Di
Rosa e Martinelli (2019), ageing in place requer algumas pré-condições es-
pecíficas, como por exemplo uma habitação adequada e uma rede de apoio
formal e informal ativa; caso contrário, podem surgir riscos substanciais
de isolamento social e físico para idosos frágeis. Os autores sintetizam uma
série de questões pertinentes a este respeito: Quais são os principais riscos
associados ao ageing in place? Que contextos de habitação favorecem ou di-
ficultam o ageing in place, pensando sobretudo nos idosos mais fragilizados
que ficam em situação de particular vulnerabilidade em termos psicológicos,
sociais e de cuidado material? Qual é o papel das políticas públicas no apoio
às práticas de ageing in place? Que inovações – sociais, tecnológicas e políticas
–podem ajudar a reduzir o risco de isolamento? Que regulação é necessária
entre habitação, configurações urbanas/territoriais, e políticas de atenção e
saúde, para tornar o ageing in place uma prática efetiva e generalizada para
todas as pessoas que pretendam envelhecer nos seus domicílios?
Para a Organização Mundial de Saúde (WHO, 2015b), as tecnologias
emergentes, especialmente aquelas usadas para promover a comunicação e
o envolvimento social, fornecem oportunidades que o ageing in place possa
ser melhorado através da criação de ambientes seguros e amigáveis para o
idoso. No entanto, tal como acontece com outras políticas de envelhecimen-
to, colocar uma ênfase muito rígida em soluções de tamanho único pode
não ser o mais adequado. Por exemplo, envelhecer em casa pode não ser
indicado para idosos que apresentem especiais necessidades de cuidados,
que vivam em moradias com falta de condições ou para aqueles que vivam
em bairros inseguros. Para que as políticas de ageing in place incluam jus-
tamente os mais vulneráveis, Means (2007) identifica três condições essen-
ciais: primeiro, é importante procurar melhorar as condições de habitação
de todos os idosos, especialmente daqueles com baixos rendimentos; em
segundo lugar, deve haver um compromisso de investimento numa gama
ampla de serviços de suporte e aconselhamento especializado; em terceiro
lugar, um ambiente apropriado para envelhecer deverá sempre incluir cui-
dados residenciais previstos para quem deles necessitar.
52 SEÇÃO 2
Para concluir
Em síntese, ageing in place é uma expressão comum no pensamento e
práticas atuais sobre políticas de envelhecimento, significando generica-
mente viver em casa e na comunidade com algum nível de independência,
mantendo a autonomia e fomentando uma vida socialmente participativa.
Envelhecer em casa também promove e facilita as ligações sociais com fa-
miliares e amigos. Apesar da maioria das discussões sobre ageing in place se
focar essencialmente na habitação, há reconhecimento crescente de que,
além da habitação, as comunidades são fatores cruciais na valorização que
as pessoas fazem do ageing in place. Embora as condições objetivas da comu-
nidade onde se vive e a capacidade funcional individual sejam importantes,
os sentimentos subjetivos sobre essa comunidade podem ser uma fonte sig-
nificativa de satisfação, independentemente de aspetos objetivos de adequa-
INICIATIVAS INTERNACIONAIS 53
Referências bibliográficas
1. ARLOTTI, M.; Di ROSA, M.; MARTINELLI, F. Challenges to ageing in place:
Potential risks of isolation and abandonment for frail older people
living at home. 4th Transforming Care Conference, Copenhagen, 24-26/6/2019
(http://www.transforming-care.net/thematic-panel-12-challenges-to-ageing-
in-place-potential-risks-of-isolation-and-abandonment-for-frail-older-people-
living-at-home/).
2. FERNÁNDEZ-CARRO, C. Ageing in place in Europe: A multidimensional
approach to independent living in later life. Barcelona: Department of
Geography/Autonomous University of Barcelona, 2013.
3. FONSECA, A.M. Desenvolvimento humano e envelhecimento. Lisboa:
Climepsi Editores, 2005.
54 SEÇÃO 2
20. SPINELLI, G.; WEAVER, P.; MARKS, M.; VICTOR, C. Making a case for creative living labs
for Aging-in-Place: Enabling socially innovative models for experimentation and
complementary economies. Frontiers in Sociology, v. 4, n. 19, p. 9-27, 2019.
21. VAN DIJK, H.; CRAMM, J.; VAN EXEL, J.; NIEBOER, A. The ideal neighbourhood
for ageing in place as perceived by frail and non-frail community-dwelling
older people. Ageing & Society, 2015. (doi: https://doi.org/10.1017/
S0144686X14000622)
22. VASUNILASHORN, S.; STEINMAN, B.; LIEBIG, P.; PYNOOS, J. Aging in Place:
Evolution of a research topic whose time has come. Journal of Aging
Research, 2012. (doi: 10.1155/2012/120952)
23. WHO - WORLD HEALTH ORGANIZATION. Report on the 2nd WHO Global
Forum on Innovation for Ageing Populations. Geneva: World Health
Organization Centre for Health Development, 2015a.
24. WHO - WORLD HEALTH ORGANIZATION. World Report on Ageing and
Health. Geneva: World Health Organization, 2015b.
56 SEÇÃO 2
Programa Aconchego
“Quem estuda tem casa. Quem tem casa tem companhia.”
Marta Filipa Gomes Pinto da Costa, Susana Maria da Silva
Ferreira Matias dos Santos, Hugo Filipe Varela Correia Tavares
Câmara do Porto - Portugal
Breves Testemunhos…
14.06.2019 (Jornal Porto)
“Sentia-me muito sozinho no primeiro semestre escolar e comentei com
os meus pais. E eles, no Brasil, descobriram este programa e disseram
para me candidatar”, contou ao “Porto.” João, de 21 anos, estudante da
Faculdade de Economia do Porto, durante o Encontro Aconchego que de-
correu na Fundação de Serralves, no passado dia 13.06.
João leva pelo braço Maria, de 88 anos, que o acolheu em casa ao abrigo
do programa municipal “Aconchego”. Já é o terceiro “neto” que lhe faz
companhia e as suas portas estão abertas para receber os jovens estudan-
tes. “O João fez há poucos dias 21 anos e eu festejei e dei-lhe uma prenda.
É muito educado. Eu trato todos na minha casa como se fossem meus
netos”, disse a sénior.
bava. “Quando chegava a casa, às oito da noite, a minha mãe ligava: “Ago-
ra estou sozinha”. E nós dizíamos: “Ó mãe agora também já é hora de
jantar.” “Não se entretinha com nada”.
Rosa tem 83 anos e Mariana tem 21 anos. Veio para o Porto fazer o curso
de Direito e o Programa Aconchego apareceu como uma resposta na in-
ternet. “Já cá tinha morado sozinha, mas não me agradou”. Para a jovem
é diferente chegar a casa e ter alguém com quem conversar”. É mais um
caso de empatia.
“Percebi em pouco tempo que Rosa era boa pessoa”, diz Mariana. Rosa
devolve: “Tinha todas as razões do mundo para embirrar com a Maria-
na, porque nem temos a mesma religião, nem o mesmo partido, mas
não aconteceu”.
Dão-se “lindamente”, como avó e neta. Tanto que, já disse a uma das téc-
nicas do programa “que gostava que ela ficasse até ao fim do curso e ar-
ranjasse um emprego no Porto”. Mariana, num sorriso, complementa: “E
eu gostava de cá ficar”.
09.08.2012 (Visão)
Alexandre, cabo-verdiano, finalista de uma licenciatura em Ciências Ae-
ronáuticas, entrou para o Programa em 2009, quatro anos após a sua cria-
ção. O estudante vive com uma idosa de 85 anos e explicaque a experiência
é boa e recomenda que os outros colegas sigam o mesmo caminho, pois, en-
tre as muitas vantagens, os “beneficiários ganham uma família e poupam
dinheiro”. “Se não fosse uma experiência boa, não estaria nos últimos três
anos na companhia de uma pessoa 60 anos mais velha. Tenho total con-
forto, um quarto e casa de banho individuais. A minha contribuição é de
25 euros e já ganhei uma nova família em Portugal”, conta o entrevistado.
Referências bibliográficas
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Pessoas Idosas. Lisboa: Guide Artes Gráficas, Lda.
2. Galego, C; Gomes, A. A. (2005). Emancipação, rutura e inovação: o “focus
group” como instrumento de investigação. Revista Lusófona de Educação,
n.º 5, pp 173-184.
3. Oliveira, P., Arco, H., Costa, A., Arriaga, M., Louro, O., Roque, S., Alves, J., Dionísio,
B., Martins, A., Panaças, L., Bravo, M. (2012). Cidade amiga das pessoas
idosas – Alguns dados exploratórios do Concelho de Portalegre.
Trabalho apresentado no III Seminário de I&DT, organizado pelo C3i – Centro
Interdisciplinar de Investigação e Inovação do Instituto Politécnico de Portalegre,
realizado nos dias 6 e 7 de Dezembro de 2012.
4. Uruguay. Consejo Consultivo del Instituto Nacional del Adulto Mayor –
INMAYORES. (2012). Plan Nacional de Envejecimiento y Vejez 2013-2015.
Montevideo: Ministerio de Desarrollo Social.
5. World Health Organization. (2015b). Ageing.
68 SEÇÃO 2
1. Introdução
“Nos Estados Unidos todo mundo quando envelhece vai para uma casa
de repouso. Lá não é como aqui (no Brasil), lá todo mundo tem apoio para
envelhecer bem”, me disse uma senhora quaando contei que estava estu-
dando no Estados Unidos e pesquisando sobre envelhecimento humano.
Mito. Apenas 3.1% da população de 65 anos ou mais (aproximadamente 1.5
milhões de pessoas) vive em instituições, e dentre esses, 1.2 milhões de pes-
soas vivem em uma nursing home (Lar de Idosos). Dentre os idosos que não
vivem em instituições, 28% (13.5 milhões) vivem sozinhos, e esta proporção
aumenta com a idade, indo de 1% entre aqueles com idade entre 65 e 74 anos
a 9% entre os que tem 85 anos ou mais (Administration on Aging, 2018).
Confesso que quando cheguei em 2015 para cursar doutorado em Saú-
de Pública na University of Pittsburgh também imaginava um cenário bem
diferente com relação aos idosos no país. Não imaginava que tantos idosos
vivessem em comunidades, mesmo aqueles que precisam de apoio para seu
cuidado pessoal diário. Segundo dados compilados pela Family Caregiver Al-
liance (2015), 80% dos idosos que recebem assistência não vive em institui-
ções, incluindo aqueles com limitações funcionais severas. São mais de 43
milhões de cuidadores informais ou familiares cuidando de um adulto com
mais de 50 anos, e quase 15 milhões cuidando de alguém com Alzheimer’s
ou algum outro tipo de demência.
Buscando combinar minha experiência acadêmica com uma atuação na
comunidade, trabalhei no verão de 2017 numa fundação local que atua há
mais de 25 anos com programas e ações voltados a melhor qualidade de vida
da população idosa. Um dos papéis principais dessa fundação é atuar como
community convener (convocador da comunidade), promovendo reuniões
e debates sobre temas que afetam a vida dos idosos. A próxima charrette,
como eles chamam essas reuniões em que trazem stakeholders para deba-
ter desafios e pensar coletivamente em soluções, seria sobre Moradia para
Idosos, e a mim foi dada a responsabilidade de mapear modelos adotados
nos Estados Unidos e em outros países para atender idosos com diferentes
condições de saúde e de renda.
Mergulhei na tarefa e me encantei com a diversidade de modelos que
encontrei. Li testemunhos de usuários, familiares, pesquisadores e profis-
sionais da área de saúde e de envelhecimento humano. Analisei tendências
e conheci modelos inovadores, e a cada descoberta pensava “seria esse um
modelo interessante para termos no Brasil?”. Assim, quando recebi o convite
INICIATIVAS INTERNACIONAIS 69
Fonte: Reproduzido de “Across the States: Profiles of Long-Term Services and Supports” de A. Houser,
W. Fox-Grage e K. Ujvari, 2018, Recuperado de https://www.aarp.org/content/dam/aarp/ppi/2018/08/
across-the-states-profiles-of-long-term-services-and-supports-full-report.pdf
A população idosa não só cresce em números nos Estados Unidos, como
também em diversidade racial e étnica. A proporção de idosos brancos não-
-hispânicos deve cair de 78% em 2015, para 61% em 2050, quando dos 88
milhões de idosos no país, 34 milhões serão de minorias raciais e étnicas.
Como demonstrado na tabela 1, os hispânicos é o grupo que vivenciará o
maior crescimento proporcional de idosos entre 2015 e 2050, estimado em
323% (Houser, Fox-Grage, & Ujvari, 2018).
Essas importantes mudanças no tamanho e diversidade da população ido-
sa no país impacta não apenas na demanda por serviços, mas na necessidade
INICIATIVAS INTERNACIONAIS 71
Nota. Fonte: Adaptado de ““Across the States: Profiles of Long-Term Services and Supports” de A.
Houser, W. Fox-Grage e K. Ujvari, 2018, Recuperado de https://www.aarp.org/content/dam/aarp/
ppi/2018/08/across-the-states-profiles-of-long-term-services-and-supports-full-report.pdf
* A categoria “Outros” inclui Asiáticos, originários das ilhas do Pacíficos, nativos americanos e pessoas
com várias raças.
** Os totais foram arrendondados.
Fonte: Adaptado de “Where You Live Matters: A Senior Living Resource” da Associação Americana de
Moradia para Idosos, 2019, Disponível em https://www.whereyoulivematters.org/
Fonte: Adaptado do conteúdo apresentado em “UBRCs: Goodbye Bingo, Hello Blue Books. The
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Apesar do conceito ter se espalhado pelo país, não existe uma definição
padrão de quando um local (edifício, condomínio ou comunidade) passa a
ser considerado uma NORC. Alguns o definem pela proporção de idosos (que
varia de 35% a 50% do total de moradores), outros pelo número de morado-
res com idades acima de 55 ou 60 anos, e há ainda quem estabeleça que o
local passa a ser uma NORC quando a proporção de moradores idosos é duas
vezes maior do que a de moradores de outras gerações. Ainda que as NOR-
Cs tenham sido formadas de maneira espontânea e não contem necessaria-
mente com um design adequado para idosos ou com serviços especializados
à esta população, com o crescente número de comunidades desta natureza
no país, governos e organizações não-governamentais passaram a reconhe-
cer que a concentração de idosos em um mesmo local é uma oportunidade
de se prestar serviços de cuidado de forma coordenada e mais eficiente. As
NORCs oferecem assim uma oportunidade de se implantar modelos susten-
táveis de apoio ao aging in place (Prosper, 2012b).
Em um artigo publicado em 2006, pesquisadores canadenses estimaram
que mais de 10 milhões de pessoas viviam nas mais de 5000 NORCs estabe-
lecidas em regiões urbanas dos Estados Unidos. Apenas na cidade de Nova
Iorque haviam na época 400,000 idosos vivendo em NORCs. Considerando
que o envelhecimento da população americana levaria ao aumento de co-
munidades desta natureza no país, os autores argumentam que as NORCs
precisam ser lugares onde as pessoas podem envelhecer de forma saudável.
O quadro apresentado na figura 5 resume alguns dos pontos identificados
pelos pesquisadores como importantes na criação e manutenção de NORCs
consideradas “saudáveis”, isso é que favorecem o envelhecimento saudável
de seus moradores (Masotti et al., 2006).
Figura 5. Como promover NORCs saudáveis
80 SEÇÃO 2
4 FO Center for Future of Aging foi criado pelo Milken Institute, um think tank apartidário e sem fins lucrativos, com
a missão de “melhorar vidas e fortalecer sociedades, promovendo um envelhecimento saudável, produtivo e com
propósito” (http://milkeninstitute.org/centers/center-for-the-future-of-aging)
86 SEÇÃO 2
O uso de universal design vem sendo considerado com um fator que favo-
rece o aging in place, por trazer benefícios como:
• facilitar a capacidade de pessoas idosas com fragilidade de viver com
maior independência, aumentando seu senso de confiança e compe-
tência, reduzindo a vulnerabilidade à depressão e postergando ou eli-
minando a necessidade de sua institucionalização;
• reduzir a carga do cuidador, facilitando o trabalho físico e o estresse
emocional envolvido no cuidado de um membro da família com defi-
ciência física ou mental;
• tornar o ambiente adequado à visita de pessoas que usam cadeiras de
rodas e outros meios de mobilidade, ajudando-os a se sentirem bem-
-vindos e reduzindo o isolamento social (Yearns, 2012).
Este último ítem está relacionado ao conceito de visit-ability (visitabili-
dade numa tradução literal), um conceito e movimento criado por Eleanor
Smith e que significa tornar o imóvel visitável, ou seja, acolhedor para visi-
tantes que têm limitações de mobilidade (Yearns, 2012). Baseado na convic-
ção de que adotar universal design em todas as moradias é um direito civil
e humano e melhora a vida de todos, o visit-ability movement propõe o uso
de recursos básicos de acessibilidade na construção de novos imóveis resi-
denciais. Para os profissionais do Rehabilitation Engineering Research Center
(RERC) on Universal Design, para ser considerada um moradia visit-able, os
imóveis precisam ter três coisas: uma entrada acessível e sem degraus, to-
das portas com vão de 32 polegadas (81.3 cm) e corredores com largura de 36
polegadas (91.44 cm), e pelo menos um lavabo no andar principal acessível
para usuários de cadeiras de roda (Truesdale, n.d.).
O uso de universal design em moradias também é chamado de inclusive de-
sign, life-cycle design, trans-generational design, and design for all (Yearns, 2012)
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92 SEÇÃO 2
Introducción
Uno de los principales cambios que está ocurriendo en las sociedades
modernas, que no tiene precedentes en la historia de la humanidad, es el
envejecimiento progresivo de la población. Aunque el fenómeno está más
avanzado en Europa, este envejecimiento de la población se está producien-
do a un ritmo creciente en todas las principales regiones del mundo.
El incremento de la proporción de personas mayores en la población
está a punto de convertirse en una de las transformaciones sociales más im-
portantes del siglo XXI, con implicaciones para casi todos los sectores de
la sociedad, incluidos los mercados laborales y financieros, la demanda de
bienes y servicios (como la vivienda, el transporte y la protección social), así
como las estructuras familiares y las relaciones intergeneracionales (Nacio-
nes Unidas: World Population Ageing, 2015). Para el año 2060 se estima que
la población mundial de 65 años y más se multiplique por tres, llegando a
alcanzar 1.844 millones de habitantes.
Esta situación demográfica insta a los organismos públicos y privados,
entidades del tejido empresarial, entidades del tercer sector y a la sociedad
en general a adoptar políticas públicas y habilitar medidas específicas que
aborden de una forma eficiente la atención a este grupo creciente de pobla-
ción. Se trata de crear las condiciones adecuadas que permitan a las mujeres
y hombres de 60 años y más vivir su proceso de envejecimiento con una ade-
cuada calidad de vida, contando con el respeto pleno a sus derechos como
ciudadanos.
Esta oferta pública también coexiste con una incipiente oferta promovi-
da por iniciativa privada, de viviendas colaborativas y autopromovidas por
sus propios residentes “Cohousing”, en la que son las propias personas mayo-
res las que asumen los costes y los riesgos financieros de la construcción y
mantenimiento de las viviendas y se encargan de la contratación de los ser-
vicios profesionales que precisan. Ejemplo de este modelo es la comunidad
Trabensol, en Torremocha del Jarama, Madrid (www. trabensol.org).
Sin embargo, la existencia de este tipo de recursos resulta escasa y
se percibe que, en la actualidad, no hay suficientes alternativas inter-
medias de vivienda para una persona mayor, teniendo ésta que optar, en
la mayoría de los casos, entre estar sola o solo en casa o ingresar en una
institución residencial.
Escenario 1
Una de las personas es titular de la casa y está dispuesta a acoger a otra
persona para compartirla.
Esta opción incluye a la persona que está dispuesta a trasladarse a la
vivienda de otro para compartirla.
Escenario 2
Varias personas alquilan juntas una vivienda para compartirla.
Entre las diferentes acciones que se llevan a cabo en esta iniciativa, está
la creación de una base de datos de personas mayores interesadas en com-
partir vivienda y la identificación previa de afinidades interpersonales que
faciliten una buena convivencia.
A lo largo de todo el proceso, se ofrece una relación profesional de aseso-
ramiento, apoyo y acompañamiento continuo a las personas participantes.
Se lleva a cabo un servicio personalizado y “a la carta”, partiendo de una va-
loración multidimensional de las personas que deciden compartir vivienda,
para llegar a comprender las singularidades e idiosincrasia de cada parti-
cipante (situación emocional, grado de soledad, valores, gustos, intereses,
preferencias en cuanto al perfil deseado de compañero/a de piso, zona a
residir deseada, etc.). Para ello, se utilizan diferentes instrumentos y téc-
nicas de evaluación tales como historia de vida, entrevista individualizada,
encuesta de satisfacción…
100 SEÇÃO 2
Por último, señalar que desde que tuvo lugar el primer acto de presenta-
ción de esta iniciativa en el mes de Abril, a finales del año 2019 se contaba
con un total de 147 personas mayores que han mostrado interés por conocer
en qué consiste esta propuesta de vivienda compartida, se han realizado, de
forma individualizada, valoraciones integrales a 59 participantes, se ha pro-
piciado que las personas puedan identificar afinidad previa antes de empezar
a convivir a través de la dinamización de 15 encuentros grupales y se han
llegado a formalizar 2 convivencias.
Consideraciones finales
Teniendo en cuenta que España es uno de los países con una mayor pro-
porción de población mayor del mundo, resulta imprescindible para afron-
tar este reto demográfico impulsar diferentes alternativas de vivienda, que
puedan dar respuesta al variado conjunto de necesidades de este colectivo
tan heterogéneo.
INICIATIVAS INTERNACIONAIS 109
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110 SEÇÃO 2
1. Introducción
En Chile, existe un aumento progresivo del número y proporción de per-
sonas mayores de 60 años en relación a la población total, ya que en los
últimos 20 años las personas sobre 60 años se han duplicado, alcanzando
el 16,2% de la población total (2.850.171), según CENSO 2017. De estos, el
55,7% son mujeres y 44,3% son hombres.
En cuanto a las condiciones económicas, el 4,5% de las personas mayo-
res vive bajo la línea de la pobreza y el 22,1% de la población mayor vive en
pobreza multidimensional, lo que se encuentra referido a las condiciones
de vida que experimentan las personas y el acceso que tienen a educación,
salud, vivienda, empleo, empoderamiento, discriminación, seguridad per-
sonal, entre otras (CASEN, 2017).
La misma fuente indica que un 85,8% del total de personas de 60 o más
años es autovalente, y no requiere apoyo o ayuda para la realización de acti-
vidades básicas o instrumentales de la vida diaria. Relacionado a lo anterior,
en el ámbito de hogares, el 13,4% de personas mayores viven solas. El 73,9%
de las personas mayores tienen su casa propia pagada y el 5,7% una casa pro-
pia pagándose, el 88,8% habita una vivienda aceptable en términos de ma-
terialidad y un 86.6% habita una vivienda cuya calidad global es aceptable.
Las personas mayores que presentan dificultad con las viviendas son las
que residen en precarias condiciones, mediaguas (0,4%), viviendas preca-
rias (0,1%), ranchos o chozas (0,1%), o cuya ocupación es arrendamiento y
no les alcanza para cubrir este monto (7,1%) o los que ocupan vivienda en
forma irregular (0,5%). Por otra parte, el 5,4% de personas mayores se en-
cuentra en situación de allegamiento externo, entendiéndose esto, como el
número de personas mayores que comparten vivienda y/o sitio con un hogar
receptor o anfitrión. Y un 21,4% en allegamiento interno, que se entiende
como la situación donde se constata la presencia de más de un núcleo fami-
liar dentro de la vivienda (CASEN, 2017).
Como se señaló entonces, sobre el 80% de los jefes de hogar adultos ma-
yores habitan una vivienda propia, situación muy distinta a la presentada
a hogares con jefaturas menores de 60 años, donde el 54,5% manifiesta ser
propietario. (CASEN, 2017). Sin embargo, cabe señalar que quienes cuentan
INICIATIVAS INTERNACIONAIS 113
con vivienda, muchas veces habitan espacios deteriorados y/o que requie-
ren adecuación para los requerimientos funcionales y espaciales propios de
esta la etapa de vida (PULSO; 2007). En esta población la “vivienda es un bien
material altamente relevante, incluso como un logro material importante en
sus vidas. Tiene un rol gravitante en el tiempo vital de estas personas, pues
se recrean menos fuera de la vivienda, realizan menos actividad social y en
general pasan mucho tiempo en ella en comparación con las personas de
otras edades” (PULSO; 2007).
Desde el inicio de la década de los 80´ los distintos gobiernos chilenos
han explorado diversas fórmulas de focalización de dichas Políticas de Vi-
vienda en los adultos mayores; como el otorgamiento de soluciones conven-
cionales en modalidad de comodatos o hasta arriendos a programas espe-
ciales como centros de larga estadía y viviendas tuteladas.
Como parte de una política habitacional chilena, en 1984, el Ministerio
de Vivienda y Urbanismo (MINVU) creó un innovador Programa de Vivien-
da Básica, dirigido a adultos mayores de escasos recursos. El requisito de
postulación era estar allegado o ser arrendatario y estar interesado en ac-
ceder a una vivienda básica en comodato o arrendamiento de bajo monto
(Moreno L., 1999). El programa entregaba al beneficiario una vivienda social
que podía ser de dos tipos: 1) vivienda básica en edificio o 2) vivienda en
condominio. Ambos tipos estaban insertos en conjuntos habitacionales de
sectores urbanos de pobreza, y fueron diseñadas para ser ocupadas por un
máximo de dos personas (Decreto Supremo N° 62, 1984). En 1998 se inició el
subprograma de vivienda en condominio. Esto se realizaba en las regiones
más grandes del país, las viviendas destinadas a las personas mayores se
agrupaban al interior de los conjuntos habitacionales en pequeñas zonas
con equipamiento especial.
Por su parte, el actual Programa de Viviendas Protegidas tiene como
antecedente el Convenio suscrito entre MINVU y Servicio Nacional del
Adulto mayor (SENAMA) con fecha 27 de junio de 2007 (Res. Exenta N°
3.419 del MINVU), a través del cual se establecieron las bases para el forta-
lecimiento de la política de vivienda dirigida para el adulto mayor. En este
marco y de acuerdo a lo establecido en el Decreto N° 227 (publicado en el
D.O. el 17 de abril de 2008), se modifica el Decreto Supremo N° 62 de Vi-
vienda y Urbanismo de 1984, este decreto en su Título VI, establecía, que el
2% de las Viviendas Sociales SERVIU construidas por el Estado serían des-
tinadas a viviendas individuales que el SERVIU asignaba a adultos mayores
en situación de vulnerabilidad, en calidad de comodato o arrendamiento,
pero el mayor cambio fue que las viviendas dirigidas al adulto mayor cons-
truidas por MINVU, fueran traspasadas en comodato a SENAMA, para su
administración, mantención y ejecución de un programa de atención a los
residentes de las viviendas.
114 SEÇÃO 2
b) Objetivos
Según el Decreto Supremo N° 49 de 2011 del Ministerio de Planificación,
el Condominio de Vivienda Tutelada (CVT) se define como el conjunto ha-
bitacional de viviendas individuales destinadas a adultos mayores en si-
tuación de vulnerabilidad entregadas a esas personas en comodato y que
contemplan espacios comunes, una sede comunitaria, estacionamientos y
áreas verdes. Dichos CVT son traspasados a SENAMA en comodato por los
Servicios Regionales de Vivienda y Urbanización (SERVIU1) respectivos.
El objetivo general del programa es “Contribuir a que las personas ma-
yores accedan a una solución habitacional y además reciban apoyo, en
función de promover su autonomía, pertenencia e identidad”. Sus objeti-
vos específicos son:
• Otorgar a personas mayores vulnerables, una solución habitacional
adecuada a sus necesidades.
• Proporcionar apoyo psicosocial y comunitario con la finalidad de pro-
mover la vinculación con la red social y comunitaria.
• Y finalmente, contribuir a su integración y autonomía.
c) Población atendida
La población objetivo del programa son adultos mayores de 60 años y
más, autovalentes, que requieran solución habitacional y apoyo psicosocial,
priorizando además a aquellos que carezcan de redes de apoyo socio – fa-
miliares. Esta población es priorizada por parte de SENAMA en base a los
cupos disponibles, considerando una condición de mayor vulnerabilidad,
en relación al puntaje obtenido en la evaluación que se realice durante el
proceso de postulación (puntaje evaluación social, vulnerabilidad habita-
cional y evaluación cognitiva/funcional). En igualdad de puntajes prima la
postulación más antigua, y aquellos adultos mayores que presentan caren-
cia de redes socio familiares.
Así mismo, se considera una vía de ingreso especial y directa al progra-
ma a personas mayores víctimas de violencia intrafamiliar, la que es evalua-
da en función de los cupos disponibles en la región de postulación.
d) Coberturas
La cobertura del programa se ha ido incrementando paulatinamente du-
rante los años, esto debido a que anualmente los SERVIU entregan a SENA-
MA entre 3 a 5 CVT, con un promedio de 20 casas cada uno.
1 El Servicio de Vivienda y Urbanización (Serviu) es una institución autónoma del Estado en cada región de Chile,
que se relaciona con el Gobierno a través del Ministerio de Vivienda y Urbanismo, posee Personalidad Jurídica
de derecho público, con patrimonio distinto del Fisco y de duración indefinida.
No obstante, la autonomía con la que cuenta el Serviu en materias de índole presupuestario y de personal,
depende del Ministerio de Vivienda y Urbanismo.
116 SEÇÃO 2
Presupuesto asignado
El financiamiento del programa de Condominios de Viviendas Tutela-
das es público, proviene de la Ley de Presupuesto del sector Público de
Chile2. La glosa presupuestaria corresponde al Programa Fondo de Aten-
ción para el Adulto Mayor, subtítulo 21, ítem 03, asignación 716. Para el
próximo año el financiamiento será separado de la línea de Establecimien-
tos de Larga estadía y corresponderá sólo a Condominios de Viviendas Tu-
teladas (asignación 718).
Cada entidad operadora incorpora mayores recursos de acuerdo a sus po-
sibilidades, en general son prestaciones de salud a través de la red comunal y
centros de salud familiar, talleres y actividades recreativas culturales propor-
cionadas por los municipios, alumnos en práctica, voluntariado, entre otros.
A continuación, se detallan los presupuestos de la línea de Condomi-
nios de Viviendas Tuteladas desde 2015 hasta 2019 (Miles de millones de
pesos chilenos):
2 La Ley de Presupuesto del sector público consiste en una estimación financiera de los ingresos y una
autorización de los gastos para un año determinado. Existe porque es necesario compatibilizar los recursos
disponibles con el logro de metas y objetivos previamente determinados.
INICIATIVAS INTERNACIONAIS 117
adquiere, los que permitirán contribuir a una mejor calidad de vida al inte-
rior del condominio, en beneficio de su persona, pares, comunidad y vivien-
da que habita.
Los deberes de las personas mayores que deben cumplir de acuerdo al
comodato que firman son:
• Cancelar y mantener al día los consumos básicos de la vivienda,
como electricidad, agua potable, gas y otros servicios de uso que tu-
viese la vivienda.
• Mantener al día el pago de los gastos comunes de la sede o condominio
de viviendas tuteladas en el caso que corresponda.
• Mantener al día y en su poder los recibos de pago, en caso de que sean
solicitados por el Monitor/a y/o SENAMA.
• Cuidar y conservar la vivienda en perfecto estado de mantención
e higiene.
• Informar en caso de que exista la presencia de un nuevo habitante de
la vivienda no declarado con anterioridad, señalando los motivos de
ésta, junto con solicitar permanencia por escrito.
• Informar personalmente y por escrito a SENAMA, cualquier cambio
en los datos de la persona significativa (tutor responsable) y/o de fa-
miliares de directa relación: nombre, teléfono, correo electrónico,
dirección, que permitan su pronta localización ante situaciones de
fuerza mayor.
• Participar de las actividades planificadas y de las reuniones mensuales
con el Monitor/a y/o SENAMA.
• Completar los cuestionarios e instrumentos que el equipo coordinador
pueda aplicar durante el diagnóstico y/o plan de intervención.
• Participar de la planificación conjunta con SENAMA, del Plan de Inter-
vención Social.
• Respetar el reglamento interno y de convivencia que se genere al inte-
rior del Condominio.
• Pasar por el proceso de evaluación para verificar si se mantienen los
requisitos de ingreso al CVT y cumplimiento de deberes estipulados en
el contrato de comodato, el que se verá reflejado a través del Plan de
Intervención.
Finalmente en este proceso, el monitor/a de cada CVT deberá coordinar
en conjunto al encargado/a regional del programa, una reunión entre ambos
previo al ingreso de la persona mayor para definir las acciones que faciliten la
incorporación y su adaptación al funcionamiento del CVT, teniendo en consi-
deración la inclusión activa de todos aquellos actores claves que contribuyan
a esta acción, desde la misma persona mayor, hasta aquellos familiares, per-
sonas significativas, barrio o comunidad del que han sido o son parte.
124 SEÇÃO 2
h) Característica de la vivienda
SENAMA cuenta con una guía de diseño arquitectónico para construc-
ción de Condominios de Viviendas Tuteladas, en esta se señalan condicio-
nes de accesibilidad universal y emplazamiento de las viviendas, así como
características, ergonométricas, motrices y sociales del grupo al que esta-
mos atendiendo.
Cada vivienda cuenta con espacios para estar-comedor-cocina, un dor-
mitorio, un baño, un closet, con una superficie de 36 metros cuadrados
aproximadamente. Algunas características específicas son:
• Puertas de 90 cm, sin pestillos y manillas de palanca.
• Pavimento y pisos antideslizante.
• Pasamanos en vías de circulación.
• Baños con taza más alta que lo habitual. (exigencias para personas con
discapacidad)
• Sin tina sino receptáculo con pendiente.
• Barras de apoyo laterales (en ducha y al costado de WC).
Los condominios cuentan entre 8 a 46 viviendas individuales, en la ma-
yor parte de los casos pareadas y con equipamiento comunitario. Este últi-
mo consiste en una sede social, con espacio para oficina de administración,
5 SAMU: El Servicio de Atención Médico de Urgencias (SAMU) es una institución dependiente del Ministerio de
Salud, presente en todas las regiones de Chile, cuya labor es gestionar todas las llamadas realizadas al 131 de
manera regional
126 SEÇÃO 2
6 El termino “ghetto” viene del nombre del barrio judío de Venecia, establecido en 1516. Durante la Segunda
Guerra Mundial, los ghettos eran distritos urbanos (de menudo cerrados) en los cuales los alemanes forzaron a la
población judía a vivir en condiciones miserables.
INICIATIVAS INTERNACIONAIS 133
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Seção 3
Instituições de
longa permanência
para idosos - ILPI
INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS - ILPI 135
Desafios e perspectivas
No Brasil, há um caminho longo a percorrer, especialmente se se con-
siderar que a discussão sobre a humanização dos cuidados nas ILPIs é bas-
tante recente (duas décadas). Essa modalidade de cuidados solicita interven-
ções a curto, médio e longo prazos, com vistas a ampliar as oportunidades
de educação aos profissionais que atuam com os idosos, criar instrumentos
sensíveis à avaliação dos cuidados ofertados, sensibilizar a sociedade e os
representantes do poder público para a criação de políticas públicas, estu-
dos e pesquisas sobre o tema (Salmazo-Silva e Gutierrez, 2018). Destacam-
-se nesse âmbito os seguintes desafios: a) pouca articulação das políticas
de assistência social e de saúde no contexto dos idosos institucionalizados.
Trata-se de população com elevada complexidade de saúde e vulnerabilida-
de social, o que solicita a atuação de equipes multiprofissionais para redu-
zir a fragilidade e atuar na promoção da qualidade de vida; b) necessidade
de atualizações dos dispositivos técnicos e legais a respeito da assistên-
cia gerontológica nas instituições, de modo a considerar: 1) variabilidade
das instituições quanto ao modelo de trabalho, estrutura organizacional,
ambiência, recursos humanos e financeiros; 2) uso de indicadores de
144 SEÇÃO 3
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148 SEÇÃO 3
O gestor deve ter em sua equipe pessoas de diferentes áreas, para o estu-
do social e de saúde, que saibam elaborar plano de atendimento individual
com condutas e propostas discutidas com o idoso, efetivar encaminhamen-
tos para a rede de serviços socioassistenciais, de saúde e demais políticas pú-
blicas, ampliando o atendimento. Sempre pensando e estimulando a equipe
nas oficinas e atividades coletivas de convívio e socialização, proporcionan-
do espaços de reflexão e discussão. O mais importante, de orientação para
ampliar e favorecer um envelhecimento digno, autônomo e seguro dentro
da moradia escolhida, no incentivar ao convívio, fortalecimento de laços de
pertencimento, compartilhamento de experiências, construção de projetos
pessoais e valorização de histórias de vida.
Estimulam-se a criatividade e a manutenção da capacidade funcional
e atividades de vida diárias (AVDs) em novos conhecimentos e desenvolvi-
mento de habilidades. Auxiliam, portanto, o relacionamento interpessoal,
possibilitando aos idosos atitudes cooperativas, comunicativas e pró-ativas,
em busca de sua autonomia.
Para a equipe: com base em nossa experiência, percebeu-se que é de
extrema relevância o uso de incentivos financeiros e estruturas organiza-
cionais, alinhar governança, gestores e todos os profissionais na busca dos
objetivos e melhoria contínua do serviço.
Desafios
Os desafios são muitos, mas se destaca o significado do desenvolvimento
de atividades de convívio social, estimulando a participação em atividades
na rede pública e privada, quando possível, assegurando o direito à convi-
vência comunitária. Favorecer o surgimento e desenvolvimento de compe-
tências, aptidões, capacidades e oportunidades para a sua autonomia.
Desenvolvimento de condições para atividades de vida diária, indepen-
dência e autocuidado.
Desenvolvimento de atividades que estimulem o fortalecimento dos vín-
culos familiares (Prefeitura de São Paulo, 2010).
Em reuniões mensais com os idosos, semelhantes às reuniões de con-
domínios, ouvem-se propostas para grade de atividades e oficinas, além de
solicitação para discussões com temas específicos com familiares. A impor-
tância de dar voz e visibilidade aos idosos usuários do serviço. São elenca-
das questões de todos os tipos, pessoais e do grupo, para conflitos serem
mediados. A partir disso, percebe-se grande evolução nos serviços, no for-
talecimento dos laços de amizades, diminuição dos conflitos entre equipe e
idosos e empoderamento, tornando o idoso protagonista em seu processo
de envelhecimento.
As situações desafiadoras do trabalho aludem ao aspecto de gestão,
sistematização de ações, manutenção, convivência e mediação de conflitos
156 SEÇÃO 3
Conclusão
As disparidades no acesso aos serviços, as desigualdades socio territo-
riais e a longevidade fazem com que seja pensada uma cidadania plena em
todas as etapas da vida, tornando-se essencial garantir direitos, deveres e
equidade a essa faixa etária. E ainda que se mantenham qualidade de vida,
autonomia, independência e permanência em seu entorno ou inseridos na
família. Em suma, a cidade deve ser a todos acessível e inclusiva.
No Brasil observam-se, de modo geral, avanços na conquista e defesa de
direitos sociais. Mais especificamente da pessoa idosa, a Constituição Fede-
ral garante os direitos fundamentais baseada na dignidade. São Direitos So-
ciais, Políticos e Civis regulamentados nas políticas específicas aos idosos,
nas três esferas de governo, as quais devem ser efetivadas de maneira geral
e intersetorialmente.
A Rede Socioassistencial é política social formada por um conjunto de
serviços, programas, projetos e benefícios que compõem o Sistema Único
de Assistência Social (SUAS), prestados diretamente ao cidadão por meio de
convênios, em organizações sem fins lucrativos.
Os princípios e diretrizes devem assegurar garantias sociais como Segu-
rança de Acolhida; Segurança de Sobrevivência e Renda; Segurança de Con-
vívio e Convivência, voltados ao atendimento de todos. Pessoas de qualquer
idade ou famílias que se encontram em situação de privação, vitimização,
exploração, vulnerabilidade, exclusão pela pobreza, risco pessoal e social
(Prefeitura de São Paulo,2010).
Atualmente há serviços públicos e privados voltados à pessoa idosa no
tema da moradia.
A Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) possui
serviços de referência, responsáveis por assegurar a qualidade das ofertas
da rede parceira. São compostos por 54 Centros de Referência de Assistên-
cia Social (CRAS), 30 Centros de Referência Especializado de Assistência So-
cial (CREAS), seis Centros POP e uma Coordenação de Pronto Atendimento
Social (CPAS) (Romualdo, 2017).
Como consequência da ampliação do olhar para as pessoas e seus di-
ferentes graus de necessidade de proteção social, além da análise de aten-
dimento dos serviços ofertados à população, são apresentadas algumas in-
formações territorializadas angariadas sobre vulnerabilidade e risco sociais.
INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS - ILPI 157
Referentes a esse grupo etário para ser possível uma visão abrangente dos
diversos fatores antes de planejar novas ações.
Vagas para idosos na proteção social básica e proteção especial são ofer-
tadas por quatro tipologias: serviços de fortalecimento de vínculos na mo-
dalidade Centros de Convivência do Idoso (NCI), Serviço de Alimentação no
Domicílio e Centro de Referência do Idoso (Creci), específicos para pessoas
com 60 anos ou mais. E o Centro de Convivência Intergeracional (CCInter),
que atende às diversas faixas etárias. Há ainda, na proteção básica, o CRAS,
que oferece diretamente o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Fa-
mília (PAIF), e parceria com o Serviço de Assistência Social à Família e Pro-
teção Social Básica no Domicílio (SASF), para famílias. Os idosos são atendi-
dos no PAIF e no SASF, mas a ênfase do trabalho se dá no acompanhamento
integral da família.
Na proteção especial são três tipos de oferta de serviços: na proteção so-
cial especial de média complexidade existe o Centro-Dia, e na alta comple-
xidade as ILPIs e o Centro de Acolhida Especial para Idosos (CAE). E na pro-
teção especial o Centro de Referência Especializado de Assistência Social
(CREAS), que oferece o serviço de Proteção e Atendimento Especializado a
Famílias e Indivíduos (PAEFI). E estabeleceu-se parceria com o Núcleo de
Proteção Jurídico Social e Apoio Psicológico (NPJ), para famílias.
Os idosos são atendidos no PAEFI e no NPJ, mas a ênfase do trabalho se
dá no acompanhamento de toda a família.
A tabela abaixo refere-se à análise das ofertas de serviços socioassisten-
ciais para pessoas com 60 anos ou mais, existentes no âmbito da Secretaria
Municipal de Assistência Social – SMADS, na cidade de São Paulo, em 2018.
Essas variáveis permitem afirmar que a quase totalidade dos distritos da ci-
dade têm necessidade de ampliação da oferta de serviços para essa população.
A segurança de sobrevivência refere-se à garantia de uma renda mone-
tária mínima que assegure a sobrevivência de populações que encontram li-
mitações de rendimento ou autonomia. É o caso de pessoas com deficiência,
idosos, desempregados e famílias numerosas ou sem garantia de condições
básicas de vida. A segurança de acolhida diz respeito à garantia de provisões
básicas, em especial aquelas que se referem aos direitos de alimentação,
vestuário e abrigo. Alguns indivíduos, em razão de idade, deficiência, situa-
ções de violência familiar ou social, abandono, alcoolismo, entre outras, po-
dem demandar acolhida. A terceira segurança está relacionada à vivência
ou ao convívio familiar (IPEA, 2005, p. 32).
A gestão da política de assistência social deve promover ações que per-
mitam ao usuário apropriar-se, ou pôr em prática, a capacidade de iniciativa
pessoal e social. E tornar mais fortes as relações no âmbito da família, da vi-
zinhança e das associações coletivas de representação dos interesses, o que
o torna conhecido e (re)conhecido em seus lugares de vivência, circulação e
atuação pública (Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos).
Por que temos que lutar pelos velhos? São a fonte da qual jorra a essên-
cia da cultura, ponto em que o passado se conserva e o presente se prepara.
Deve haver espaços e projetos que visem à valorização da fala e da expressão
das pessoas idosas. Como dizia Ecléa Bosi, a conversa evocativa de um velho
é sempre experiência profunda: “repassada a nostalgia, revolta, resignação
pelo desfiguramento de paisagens caras [...] Para quem sabe ouvi-la é desa-
lienadora, pois contrasta a riqueza e a potencialidade do homem criador de
cultura com a mísera figura do consumidor atual” (Bosi, 1994).
Vimos, ouvimos tantas histórias, aprendemos que família e nossos laços
com o outro são importantes ao longo da vida, a difícil e incansável escolha
de tentar fazer sempre o melhor. Choramos com a morte dos que se foram,
nos deparamos com experiências frustrantes, sonhos concretizados e famí-
lias desfeitas. Com questões intimamente relacionadas às vulnerabilidades
nos diferentes aspectos sociais, financeiros, emocionais, entre outros.
Cabe ressaltar que mesmo sem dados conclusivos, as informações trazi-
das pelos profissionais e ativistas têm relevância, pois são consequências de
experiências individuais e coletivas, mas não substituem dados resultantes
de produções científicas.
É essencial saber as condições da ILPI para o cuidado dos idosos, e quais
os desafios a serem enfrentados na formação dos trabalhadores para o cui-
dado (Damaceno, Chirelli & Lazarini, 2019). Os desafios são múltiplos e de
ordem diversa. A perspectiva é que, em futuro próximo, exista uma equipe
multiprofissional mais homogênea, atendendo à legislação vigente (Salcher,
Portela & Scortegagna, 2015).
INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS - ILPI 159
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INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS - ILPI 161
Fonte: United Nations - World Population Prospects: The 2017 Revision; Hipótese média https://
population.un.org/wpp/
O envelhecimento da população corrobora o processo de transição de-
mográfica que ocorre no Brasil e se originou com a diminuição nos níveis
de fecundidade e mortalidade. Atualmente, a Taxa de Fecundidade Total no
país é de 1,7 filhos por mulher, e a expectativa de vida, ao nascer, de 76 anos,
em média (IBGE, 2020). Fatores demográficos que também impactam dire-
tamente a estrutura das famílias que no passado eram extensas e, na atuali-
dade, tornaram-se nucleares devido ao menor número de filhos. No tocante
à saúde sexual e reprodutiva da mulher, a fecundidade deliberada advém de
conquistas femininas galgadas nos diversos espaços.
As mulheres se empenham por mais anos de estudo e almejam conquis-
tas no mercado de trabalho. A grande maioria não se dedica mais, exclusiva-
mente, aos afazeres domésticos. No entanto, outras conquistas ainda estão
em pauta, como a equidade de salários em comparação aos homens em car-
gos similares, e a divisão das tarefas domésticas.
Mesmo se dedicando ao trabalho externo, as mulheres ainda são
sobrecarregadas com os afazeres diários da casa. Os núcleos familiares nos
domicílios brasileiros também reverberam mudanças. Dentre as diferentes
composições domiciliares, cita-se, por exemplo, o aumento dos casamentos
civis entre pessoas do mesmo sexo. No ano de 2018, as estatísticas do regis-
tro civil evidenciaram aumento de 61,7% das uniões homoafetivas quando
comparadas a dados do ano anterior (IBGE, 2019).
As mudanças na conformação das famílias impactam diretamente os cui-
dados a serem destinados às pessoas idosas. Culturalmente, em contextos
166 SEÇÃO 3
Fonte: reproduzido de Duarte (2019) - Sistema Único de Assistência Social – SUAS (2019)
170 SEÇÃO 3
Figura 3. População de 60 anos ou mais (mil pessoas) por Estado do Brasil (2020)
Considerações finais
As ILPIs podem ser espaços privilegiados para a convivência social e de-
vem se aprimorar constantemente no que se refere à promoção em saúde. Ao
se analisar, teoricamente, e na prática profissional de cada autor deste capítu-
lo, as possibilidades de cuidado para manutenção da funcionalidade e reabi-
litação de pessoas idosas institucionalizadas, observa-se a urgente obrigação
da elaboração coletiva de política pública voltada à integralidade do cuidado.
O referencial teórico indica instrumentos de rastreio e avaliação da fun-
cionalidade, e a importância do trabalho das ILPIs para manutenção da
capacidade funcional, estratégia de garantia da dignidade da pessoa idosa,
imprescindível à qualidade de vida. Pensar as ILPIs como espaços em que a
proporcionalidade terapêutica é viável torna-se o grande desafio no que se
refere ao contexto da institucionalização.
A condição de saúde e a participação em atividades sociais à institucio-
nalização são aspectos de significativa dimensão a serem avaliados, a fim
de se investir na manutenção e ganho de funcionalidade das pessoas ido-
sas. A pluralidade das ILPIs no Brasil em espaços físicos e oferta de serviços
revelam a imprescindibilidade da adoção de planejamento individualizado
para políticas públicas de melhorias da acessibilidade, além de fomentar o
ingresso de profissionais capacitados em Geriatria e Gerontologia. Os mar-
cos legais do Brasil estabelecidos para as pessoas idosas em geral, e às ins-
titucionalizadas, devem ser preservados e respeitados - direito à saúde, à
assistência social, à assistência multiprofissional especializada e garantia do
convívio familiar.
A proposição de marcadores de funcionalidade à institucionalização
emerge como fundamental na agenda de política pública para as ILPIs. Ga-
rantir-se-ia o direcionamento à reabilitação, quando essencial, e à manu-
tenção da capacidade funcional das pessoas idosas, permeando o modelo
biopsicossocial de saúde. Essa proposta de política pública guiaria, ainda, a
origem do financiamento governamental para as ILPIs públicas, tendo em
vista a inevitabilidade de atendimentos gerontogeriátricos. Por fim, os legis-
ladores de políticas públicas devem direcionar olhares ao empoderamen-
to das ILPIs como alternativas de moradias que garantam funcionalidade,
bem-estar e qualidade de vida na velhice.
174 SEÇÃO 3
Referencias Bibliográficas
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INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS - ILPI 177
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178 SEÇÃO 3
2 https://www.ondinalobo.org.br/quem-somos
180 SEÇÃO 3
No dia 22 de agosto foi feito um novo teste RT- PCR por meio do projeto
social “Todos pela Saúde” do Banco Itaú, não havendo nenhum colaborador
e morador positivo para Covid-19. Em setembro, 4 meses após a primeira
testagem, o teste sorológico foi disponibilizado pelo Laboratório Fleury, de-
monstrando que seis idosos e sete colaboradores apresentaram reagentes
para os anticorpos, embora sem apresentarem sintomas. A Casa Ondina
Lobo recebeu pela terceira vez, em 24 de novembro, a doação do teste RT-P-
CR para todos os idosos e colaboradores através do Rotary Club. Não houve
nenhum resultado positivo para Covid-19, graças ao trabalho exaustivo e o
cumprimento de todos os protocolos de cuidados da equipe.
Destaca-se a importância da presença dos médicos residentes em geria-
tra, parceria da Instituição com a FMUSP-SP, os quais foram cruciais para
que todas as medidas, diagnósticos e encaminhamentos fossem realizados.
Essa experiência mostrou a importância dos profissionais da área da saú-
de dentro da ILPI e da necessidade deste equipamento ser considerado um
serviço sócio-sanitário (BARCELOS et al., 2018; GARCIA e WATANABE, 2017;
CNP, 2016). As doações foram essenciais para que todos os protocolos fos-
sem implantados, visto que a instituição não disponibilizava de recursos
para tais investimentos, principalmente quando os itens (luvas de procedi-
mentos, máscaras, álcool em gel, hipoclorito, entre outros) foram superva-
lorizados em decorrência do aumento de demanda.
Neste momento de pandemia, a sociedade se mobilizou e apresen-
tou maior preocupação com os idosos institucionalizados. A Casa Ondina
Lobo foi agraciada com doações em espécie e produtos, o que possibilitou
a contratação temporária de colaboradores, para substituir os funcionários
afastados pelo COVID-19, proporcionando a continuidade do cuidado, sem
prejuízo da qualidade do serviço prestado. Outros itens que fizeram a dife-
rença para minimizar as dificuldades do isolamento social foram as doações
de tablets, televisores e rádios portáteis, os quais possibilitaram o contato
dos idosos com os familiares, amigos, voluntários e integrantes de empresas
parceiras. A Instituição tem com tradição realizar anualmente uma feijoada
beneficente, para aproximadamente 800 pessoas, com o objetivo de angariar
fundos para sua manutenção. No entanto devido a pandemia, este evento se
tornou inviável e foi necessária uma adaptação para a nova realidade, sendo
organizada uma rifa gastronômica virtual em outubro de 2020.
Novas necessidades
As consequências da pandemia trouxeram necessidades de adaptações
no ambiente institucional que, neste período, precisou se reinventar, crian-
do novas atividades, aproximação, viabilizando um maior convívio entre
os próprios moradores e uma aproximação também com os colaborado-
res, buscando juntos estratégias de enfrentamento e superação nesta fase
da pandemia. Cabe à instituição a responsabilidade do cuidado com todos
as pessoas que moram, trabalham e convivem neste espaço, estabelecendo
qualidade de relacionamento, seja presencial ou à distância.
As dificuldades financeiras encontradas nas ILPIs beneficentes fazem
parte de uma realidade nacional, pois sobrevivem de doações e promoções
de eventos (CAMARANO & BARBOSA, 2016). Nessa pandemia, a solidarieda-
de de pessoas físicas e jurídicas, que se sensibilizaram e passaram a contri-
buir com as instituições através de recursos e equipamentos, foi de funda-
mental importância para a sobrevivência deste serviço.
Foi imprescindível para as ILPIs o acesso às informações através da inter-
net, pois viabilizou a comunicação com o mundo e aproximou as Institui-
ções do conhecimento, troca de experiências e atualizações sobre a pande-
mia. Essa nova possibilidade de conectar pessoas e conteúdos relacionados
a COVID-19, favoreceu a efetividade e controle da disseminação do vírus na
ILPIs brasileiras. A conexão com a internet também colaborou para construir
INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS - ILPI 185
Considerações finais
Graças ao trabalho integrado da equipe da instituição e a mobilização
da sociedade, a Casa Ondina Lobo passou pela pandemia sem muitos agra-
vos. Contou com uma equipe comprometida e eficiente, com o propósito de
prestar um cuidado integral e humanizado. A pandemia mostrou a necessi-
dade de rever o quadro de profissionais e fortalecer a equipe interdiscipli-
nar, assim como repensar a composição dos ambientes de uso prolongado,
além de procedimentos mais apoiados em tecnologia.
Os equipamentos de moradia para idosos devem viabilizar e estreitar os
laços afetivos dos seus residentes, aproximando-os de suas famílias ou ami-
gos, criando estratégias para minimizar o impacto da pandemia, que causou
sensação de medo e insegurança. A tendência pós pandemia pauta-se na va-
lorização de ambientes amigáveis e enriquecidos que promovam bem-estar,
sentimento de pertencimento e o conforto ambiental.
A gestão da ILPI deve priorizar a garantia de direitos dos idosos e tornar-
-se um ambiente que proporcione a troca de conhecimentos gerontológi-
cos para promover um envelhecimento ativo, garantir um lugar inclusivo e
186 SEÇÃO 3
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INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS - ILPI 189
Desafio
No entanto, não apenas como adaptar-se a um novo universo, mas ao
universo de uma ILPI. Carrega inúmeras sensações, consequência do histó-
rico de tratos não tão humanizados, isto é, que desconsideram as individua-
lidades. Em um segundo momento, correspondem à ideologia vigente de
normatizar e domesticar corpos, mantendo-os inertes e fáceis aos tratos ge-
renciais, notadamente que não correspondem a nenhuma ideia ou compor-
tamento em desacordo com o que seja esperado socialmente (FOUCAULT,
1979, 2008, 2010a, 2010b, 2011, 2013).
Histórico caracterizado pela “instituição total” (GOFFMAN, 1987), desti-
nada aos desprovidos de condições de sobrevivência, rompimento imediato
e assustador da identidade. Teria de corresponder à ideologia vigente, com
total processo de despir a individualidade em favor dessa vertente. Gostos,
desejos, vontades, sonhos, relações sociais estabelecidas pelo sujeito fica-
vam da porta para fora. E teriam, como animais, que seguir determinações
locais em favor do “bom funcionamento da casa”.
Os maus-tratos psicológicos “evoluíam” aos maus-tratos físicos, de in-
tolerância, agressões verbais e físicas. Ambos geraram como consequên-
cia a visão não positiva da ILPI e de instituições a ela afins. Exercem efeito
na mentalidade social. Ao se deparar com uma ILPI e, sobretudo, ao pen-
sar que podem residir lá, recuam e se esquivam. Some-se a isso o fato da
mudança de universos.
Contudo, merece especial destaque o primeiro ponto. Quanto à não
facilidade que corresponde a todo ser humano migrar de um universo a
outro, em razão do primeiro universo ter sido construído com raízes sedi-
mentadas por inúmeras relações e tratos diários. Geraram diversos signifi-
cados, nos quais se orienta.
Se a necessidade de se apresentar à porta do idoso e precisar morar em
uma ILPI, o que fazer? A ILPI ainda consubstancia o passado nada humano?
É inerente apresentar esse trato às pessoas que lá vão morar e passar a for-
mar seu universo?
Segundo a definição da Agência Nacional da Vigilância Sanitária (Brasil,
2005a), as Instituições de Longa Permanência para Idosos são governamen-
tais ou não governamentais, de caráter residencial, criadas com a finalidade
192 SEÇÃO 3
Acessibilidade
Participação
Interdisciplinaridade
Integralidade Globalidade
Flexibilidade
Individualidade
Atenção Personalizada
Prevenção
Independência
Reabilitação
Coordenação
Continuidade da atenção
Convergência
O modelo de Atenção Centrada na Pessoa permite transformações pro-
fundas no modelo de gestão, operacionalização das atividades cotidianas
dos residentes, atividades administrativas, planejamento estratégico da
ILPI, oferecendo intervenções pontuais, considerando a possibilidade de
um período transicional ou experimental do modelo.
Cabe um relato de experiência dos autores a respeito da possibilidade de
oportunizar o protagonismo e a participação social do idoso, de transportar
a realidade extramuros e o estabelecimento de novas conexões e ampliação
da rede social do idoso institucionalizado. Trata-se de vivências intergera-
cionais em ILPIs, envolvendo crianças e adolescentes.
Por meio de parcerias com escolas de ensino fundamental e médio, os
estudantes são apresentados ao processo de envelhecimento e questionados
sobre o que entendem por velhice e quais os significados atribuídos. O que
é ser idoso? Qual tipo de contato possuem com idosos? Chegam a conversar
ou envolver idosos de seu convívio nas atividades? Como tratam os idosos?
204 SEÇÃO 3
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INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS - ILPI 211
Introdução
A Instituição de Longa Permanência para Idosos - Lar dos Velhinhos de
Rio Azul esteve prestes a encerrar suas atividades em 2012, quando as difi-
culdades financeiras se somaram às necessidades de melhorias estruturais,
melhorias no quadro de recursos humanos e de reorganização documental.
Com 28 anos, a ILPI passava pelo seu pior momento. Naquele ano, a mu-
dança de gestão e coordenação ainda não teria sido suficiente para salvar a
situação se não fosse também uma mudança de postura em relação ao en-
frentamento da possibilidade de fechamento. Além dos boatos, a imprensa
regional (rádios e jornais) noticiava o momento. A mudança de postura se
deu a partir da resposta a uma pergunta sucessivamente repetida naquele
momento: “Se o Lar dos Velhinhos fechar, para onde vão os idosos que mo-
ram na instituição?”. Ao ouvir mais uma vez essa indagação, percebeu-se a
chegada ao fundo do poço e a necessidade gritante de enfrentamento. As-
sim, a resposta foi dada: “A situação é muito delicada, mas tem uma diretoria
e uma equipe de funcionários trabalhando para que isso não aconteça”. Não
demorou, porém, para o que era estampado como problemas que estavam
levando a um possível fechamento da instituição passassem a problemas a
serem solucionados, o que favoreceu um forte engajamento de voluntários
(pessoas físicas e empresas) focados em ajudar, algo que foi de suma impor-
tância para evitar o pior. Entre várias mudanças relacionadas à organização,
foi decidido não acolher mais nenhum idoso enquanto a Instituição não
fosse reorganizada ao ponto de ter condições para isso. Naquele momen-
to, eram mais de 50 residentes na ILPI, havia vários quartos coletivos e dez
casas. Os quartos coletivos tinham de seis a oito idosos, já as casas eram
para quatro idosos, com dois quartos para dois em cada um, mas, no mo-
mento, algumas estavam com dois, outras, com três idosos e uma das casas
era ocupada pelos serviços de administração e enfermagem. Outra decisão
tomada logo em seguida foi a de não acolher idosos enquanto não tivessem
menos do que 40 acolhidos. Assim, a ideia seria desocupar a casa usada pe-
los serviços de administração e enfermagem e, pouco a pouco, transferir os
idosos para as casas, ocupando as 40 camas, visando extinguir os alojamen-
tos conjuntos. Com a reintegração de seis residentes com menos de 60 anos
às suas famílias, também a reintegração de alguns outros idosos e alguns
óbitos ocorridos ao longo do ano, ainda em 2012, o número de moradores
na ILPI baixou para 40 residentes, chegando ao momento da mudança, que
212 SEÇÃO 3
Caracterização
A Associação Lar dos Velhinhos de Rio Azul localiza-se na região centro
sul do estado do Paraná, no município de Rio Azul, com aproximadamente
14.500 habitantes. Foi fundada em 1984 e idealizada por Osvaldo Kosciuk
que, quando criança, ao visitar um “asilo”, começou a sonhar em um dia
construir uma instituição para idosos. Quase trinta anos depois começou
a efetivar este projeto com apoio do prefeito municipal da época, Ansenor
Girardi, que prontamente somou forças para a concretização deste sonho.
A instituição, que nesta época ainda se chamava “Lar dos Velhinhos Reve-
rendíssimo Padre João Salanczyk”, começou a funcionar em uma casa de
madeira pertencente à prefeitura municipal. Em1987, as instalações muda-
ram de uma casa de madeira para uma sede própria, em um terreno doado
pela própria prefeitura, com grande mobilização da sociedade para levantar
fundos para a construção deste novo espaço. A Instituição de Longa Perma-
nência para Idosos - Lar dos Velhinhos de Rio Azul tem característica assis-
tencial, com uma diretoria própria e escopo normativo baseado na políti-
ca de assistência social. O seu caráter filantrópico corrobora a pesquisa do
IPEA (2011) ao indicar que 65,2% das instituições são filantrópicas, ou seja,
identifica-se que o Estado, enquanto agente de proteção social, está distante
de assumir seu papel e transfere suas responsabilidades para grupos da so-
ciedade civil assumirem como atores de proteção social.
De acordo com a Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais
(2009), a instituição faz parte da proteção social especial de alta complexi-
dade com a prestação de serviços de acolhimento excepcional para pessoas
idosas, ofertando atendimento integral, tais como: alimentação, vestuário,
moradia, lazer, esporte, cultura, dentre outros. O acolhimento institucional
da ILPI tem como modalidade estruturante de organização o formato de di-
versas residências. Desse modo, o “Lar dos Velhinhos de Rio Azul” difere-se
por seu sistema de moradias.
pertences que levará consigo) ou pelo afastamento dos laços sociais (famí-
lia, vizinhos e amigos). E quais poderiam ser os impactos que uma mudança
interna poderia ocasionar? Embora este seja o ano da grande mudança, vale
ressaltar que, em 2006, havia somente os alojamentos conjuntos. Foi então
que começaram as construções das primeiras casas na ILPI, de 2006 a 2012.
Podemos dizer que, em sua estrutura, a instituição era um misto de quartões
e casinhas e, nesse período, as pequenas moradias foram sendo construídas
gradativamente, até que, em 2010, foram construídas as últimas, totalizando
assim dez casas. O foco era aumentar a capacidade de pessoas atendidas.
E foi logo após esse período que a ILPI atingiu o seu máximo em número
de moradores, chegando a 63 pessoas entre idosos e não idosos, mesmo o
público com idade inferior a 60 anos não sendo o público alvo em ILPIs.
Esse número era alarmante, considerando, principalmente, os recursos hu-
manos dos quais o Lar dos Velhinhos dispunha na época, sendo um quadro
de funcionários de apenas 12 profissionais em seu total, divididos ainda por
escalas. Considera-se que o ciclo vital da velhice traz transformações bio-
lógicas, sociais e psicológicas. Segundo COUTO (2008), a velhice é rodea-
da de transformações biológicas, sociais e psicológicas, exemplificadas por
perdas de contatos com amizades antigas (ou simplesmente perdas de ami-
gos que já faleceram) e perda de autonomia devido à saúde não ser mais a
mesma da juventude. Contribuindo com a ideia, FALCÃO (2010) diz que o
envelhecimento é, portanto, um processo biopsicossocial com variáveis cul-
turais, que começa na concepção e termina com a morte. Entendendo isso,
o intuito de trazer contribuições a essa faixa etária e ao público sempre foi
primordial. Embora a instituição tenha crescido em espaço físico, as condi-
ções estruturais gerais, os recursos humanos envolvidos, a desorganização
relacionada a documentações, rotinas diárias, possibilidades de desenvolvi-
mento da individualidade, pertença, relacionamentos saudáveis e as dívidas
direcionavam a ILPI para o fechamento. Foi então que a necessidade de mu-
danças se fez presente para que estas acontecessem em 2012. Entre todas as
mudanças, no que diz respeito aos residentes e à dinâmica da instituição, a
extinção dos quartos coletivos foi a que causaria e causou maior impacto,
principalmente a médio e longo prazo. O foco acordado entre a nova dire-
toria e a nova coordenação era o de não acolher novos moradores enquanto
não se reorganizassem as dependências do local, assim como a ideia poste-
rior de esperar baixar para 40 o número de residentes ajudaria mais tarde
nessa grande mudança. Quando aconteceu, esse processo demandou cuida-
do, afeto, responsabilidade e ética com cada um dos moradores, bem como
com suas histórias de vida, pertences e ideias. Alguns demonstraram um
pouco de resistência para o processo como foi possível identificar, princi-
palmente em um dos moradores, após 39 deles já estarem ocupando as ca-
sas. Na ocasião, um morador, na época com seus 49 anos, não aceitou se
mudar, já que o antes quartão, que compartilhava com mais sete homens,
agora, era unicamente dele. Possivelmente, de forma inicial, traria a ideia
214 SEÇÃO 3
a maior parte do dia junto com o casal José e Antônia na casa oito”. “Aristides e
Jorge assistem juntos o jornal da manhã na casa sete”. “Tem dias em que Olinda
visita Antônia, Antônia visita um ou outro idoso de mais idade quando está de-
bilitado”. “Darci tenta às escondidas conseguir cigarro com moradores de outras
casas”. “Rodrigues faz benzimentos, quando algum residente pede a ele”. Essas
situações são algumas das várias que podem ser observadas dia a dia numa
pequena vizinhança com dez casas, aonde o ir e vir é constante e diário. As
relações são estabelecidas de diferentes formas e incluem o poder de decisão
e escolhas, os residentes se observam, conversam, riem, brigam, guardam
segredos, paqueram, se evitam, se distratam, se visitam, se abraçam, com-
partilham chimarrão, confidenciam segredos, em resumo, compartilham
suas vidas. São oportunizados a terem seus momentos em particular, desen-
volvendo assim aspectos referentes aos relacionamentos intrapessoais e in-
terpessoais. O dia passa entre esses momentos e os que passam também nos
ambientes de uso coletivo nas áreas externas, e/ou momentos que passam
descansando nas camas, e/ou sofás das suas casas. Quando chega a noite,
alguns se encontram nas salas das casas para assistir jornal, outros, para
ver novela. A grande maioria nunca passou pela experiência dos quartos
coletivos (apenas cinco dos atuais residentes já residiam na ILPI na época
dos quartos coletivos), muitos, pela primeira vez, estão tendo a oportunida-
de de ter uma casa, de nesta casa ter companhia, muitos estão tendo uma
primeira ou segunda chance, chance que as circunstâncias da vida fora da
instituição fizeram com que não tivessem e/ou que tivessem perdido.
Pertences e pertencimento
Residir em uma casa possibilitou e tornou necessário ter muito mais
do que uma cama. As roupas, antes guardadas na rouparia, podiam agora
estar nos guarda-roupas e/ou nas cômodas, ao alcance dos seus donos, as
salas, precisando de sofás, mesas, apoio para TVs, entre outros, assim pou-
co a pouco as casas foram sendo mobiliadas. Já as mobílias precisavam de
algo a mais, capas para sofás, toalhas para as mesas, enfeites nos armários,
quadros e calendários pelas paredes, dessa forma, os moradores passaram
a ter a oportunidade de externar e se expressar por meio dos seus itens e
relações. Poder ter as coisas está ligado a poder guardá-las, com isso, os
residentes começaram a expor suas vontades de forma mais contundente,
pois, além de poderem guardar seus pertences, podiam usufruir destes com
maior privacidade. Olinda se tornou moradora quando não existiam mais os
quartos coletivos, mas havia residido em outra instituição com alojamento
conjunto, “naqueles quartão a gente nem podia ter nada, nem fazer nada dife-
rente que ficava todo mundo olhando, zóiudo, querendo”, no Lar dos Velhinhos,
ela é uma das residentes que gosta de zelar pela sua casa, mantendo-a ar-
rumada, passando pano e/ou varrendo, ao passo que o marido, Sebastião,
cuida do pequeno jardim frente a casa, “aqui é bão, a gente pode ter as coisas”,
completa ela. Ana mostra seu quarto com alegria, as roupas dobradas no
INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS - ILPI 219
A CASA DE ANTÔNIA
Em cada casa residem até quatro idosos, ou seja, ela é de todos. Mas dona
Antônia a transformou em SUA/DE TODOS de tanta coisa que trouxe e de
tudo que compartilha. O periquito com sua gaiola, à noite, pra dentro e, de
dia, pra fora. Entrando na casa já é possível avistar os quadros de santos e
os sofás, se quiserem é só sentar. “Naquele canto tudo também quem trouxe
fui eu, e o que procuro, acho, o que ali se perdeu. No quarto, minha máquina de
costura serve pra roupas, agora caso você se renda, costuro no paninho sem per-
der a compostura”. ANTÔNIA é costureira, benzedeira, namoradeira, miss
simpatia. Ela é celularzinho na mão, registrando passeios e ligando pras
amigas. Ainda tem quem acredite que quem pro Lar vem, vem pra aqui
acabar. Aqui é continuação, é recomeço. Quem sabe mais carente que de
visitantes, muitas pessoas sejam carentes de tipos tipo Antônia.
220 SEÇÃO 3
com os casais passando a residir juntos, destacando que, embora nas três
casas não seja seguido o critério de apenas homem ou apenas mulher, esse
é outro fator para definir os residentes das demais casinhas, inclusive, fator
inicial para quem vai ocupar qual casa. Finalmente, além de todos esses,
outro critério usado de forma mais preponderante é a afinidade entre os ido-
sos. De qualquer forma, o pertencer a toda uma coletividade que envolvia os
quartos coletivos e tudo que estes englobavam já não existia mais, o perten-
cimento e resultados desta nova maneira de morar era algo que começava a
ser construído. Como já mencionado anteriormente e reafirmado agora, em
cada casa, os residentes passaram a viver situações de acordo com as pró-
prias daquele espaço, seja pela organização da residência por rotinas esta-
belecidas, pelos hábitos diários e também pelas ações individuais e/ou cole-
tivas com os demais residentes da mesma morada. Atualmente, é nítido ver
qual idoso reside com qual, por buscarem entre eles essa referência, mesmo
quando estão nos demais ambientes da instituição; é nítido qual pertence a
qual casa, seja pela organização ou, por exemplo, limpeza; também é nítido
pelos costumes que comentam ter quanto a horários de dormir, programas
de TV que assistem ou que ouvem no rádio e por assuntos comentados. Essa
troca entre os próprios hábitos e hábitos dos companheiros de casa resulta
na composição das casas e dos próprios moradores, portanto, assim, com o
passar do tempo, foram e são restabelecidas as novas sensações relaciona-
das ao pertencimento de cada indivíduo dentro daquela coletividade. Aliás,
a ILPI segue com caráter coletivo, porém com possibilidade de vivência em
grupos menores de até quatro idosos por casa, com no máximo dois por
quarto. De maneira geral, o ganho em qualidade e dignidade de vida aumen-
tou significativamente. A necessidade de pertencimento individual influen-
cia como o sujeito percebe e se comporta no meio social. A valorização da
aceitação e a necessidade de estabelecer laços tornam os indivíduos mais
bem adaptados para operar no meio social. Assim, o que a instituição ofere-
ce a cada idoso a partir de sua estrutura, este retorna de certa forma à insti-
tuição, dentro de uma coletividade formada e transformada pelas mudanças
relacionadas ao ambiente.
Considerações finais
Abordamos neste capítulo a influência transformadora que a extinção
dos quartos coletivos com a transição para as moradias no formato de
casas proporcionou aos residentes do Lar dos Velhinhos de Rio Azul en-
quanto indivíduos, tanto nas suas singularidades como com elas inseridas
dentro da coletividade, pontuando também as mudanças gerais no perfil
do grupo de idosos que residem nesta instituição. Ainda, de maneira mais
notável e abrangente, a transformação quanto à promoção de dignidade
proporcionada por parte da ILPI e o entusiasmo pela vida em relação a es-
tes idosos. Promover e garantir a autonomia do idoso é um dos propósitos
do Lar dos Velhinhos de Rio Azul. As mudanças nem sempre são aceitas
inicialmente, em especial, quando a pessoa encontra-se com mais vivên-
cias e experiências e, dentro dessas, desenvolve razões para não acreditar
no novo. Alguns tendem a optar pelo “sossego” e “conformismo”. Entre-
tanto, acredita-se que precisam ser apresentadas mudanças e possibili-
dades em todos os momentos do ciclo vital do ser humano, inclusive na
velhice. Para a Instituição, torna-se imperiosa e emergente a tarefa de
facilitar e propor ambientes, situações e possibilidades com o intuito de
melhorar o bem estar biopsicossocial dos residentes. O direito de ir e vir
também é considerado, com a possibilidade de que o próprio indivíduo
opte pelos momentos em que queira ir e quais momentos queira vir, ou
seja, as transformações dos ambientes tendem a possibilitar que escolhas
sejam feitas. Escolhas relacionadas a momentos particulares e momen-
tos coletivos em interações sociais. O ambiente tende a trazer impactos
significativos para o desenvolvimento das questões intrapessoais como
autoconhecimento da sexualidade, da responsabilidade e autonomia. Já o
desenvolvimento desses resultará na ampliação dos relacionamentos in-
terpessoais. Para o presente momento, o intuito foi de incluir o idoso re-
sidente no processo e nos relatos, pois dificilmente entenderemos sobre a
velhice se não nos aproximarmos de seus relatos, de suas mudanças, seus
olhares, suas paixões, amizades e transformações. Estas ocorrem cons-
tantemente, por isso, algumas questões tendem a ser despercebidas. A
busca pela aproximação do “universo” do idoso é diária e constante, seja
pela literatura, seja pela experiência de convívio com eles. A transição de
quartos coletivos para casas traz avanços significativos e resultados per-
cebidos. Acredita-se que mesmo aqueles que não tiveram a experiência
de quartos coletivos demonstram maiores sinais de pertencimento e de-
senvolvimento em suas questões biopsicossociais. A busca por melhorias
e qualidade de vida no Lar dos Velhinhos é diária, constante e gradativa,
contando com parceiros e pessoas que apoiam e acreditam no processo de
desenvolvimento. Entretanto, os residentes são os maiores motivadores
para a ILPI seguir em frente, proporcionando, conforme seu lema, um
“envelhecer com dignidade”.
INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS - ILPI 225
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226 SEÇÃO 3
Introdução
O envelhecimento populacional, consequência da diminuição da taxa de
natalidade e aumento da expectativa de vida, gera uma população cada vez
maior de pessoas acima de 60 anos. Veras (2009) ressalta que a cada ano 650
mil idosos são incorporados à população brasileira. Em 1960 o Brasil tinha
aproximadamente 3 milhões de idosos, 7 milhões em 1975 e, mais recente-
mente, em 2008, 20 milhões de idosos. Veras e Oliveira (2018) afirmam que
em 2020 a população idosa do Brasil deverá chegar aos 32 milhões, o que re-
presenta acelerado crescimento. Ribeiro (2016) coloca o Brasil como o sexto
país no mundo em número de idosos acima de 60 anos e nono em número
de idosos acima dos 80 anos.
Em recente revisão apresentada pelo IBGE (2018) acerca da população
projetada para unidades da Federação, estimou-se que, em 2060, um quar-
to da população (25,5%) no Brasil deverá ter mais de 65 anos. O Estado de
Santa Catarina, que hoje tem a maior esperança de vida ao nascer, para
ambos os sexos (79,7 anos), deverá manter a liderança até 2060, chegando
aos 84,5 anos. No outro extremo, o Maranhão tem a menor esperança de
vida ao nascer (71,1 anos) em 2018, condição que deverá ser ocupada pelo
Piauí em 2060 (77anos).
Ainda de acordo com o levantamento do IBGE, o Paraná é o sétimo Es-
tado com a mais longa expectativa de vida (77,6 anos), e deverá chegar aos
83, 86 anos, em 2060, quando será a terceira localidade brasileira, atrás de
Santa Catarina (84,49 anos) e Rio Grande do Sul (83,91 anos). Segundo estudo
do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes),
uma das principais tendências da dinâmica populacional no Estado diz res-
peito à crescente participação de pessoas idosas na população total.
A participação das pessoas de 65 ou mais anos de idade na população total,
que era de 7,5% em 2010, deverá ser de quase 20% em 2040. Por outro lado,
a participação dos menores de 15 anos reduziu-se de 23,4% para 16,6%, no
mesmo período. Esta dinâmica fará com que, a partir do final dos anos 2030,
o número de idosos passe a ser maior do que o de crianças. A relação entre os
dois segmentos etários, expressa pelo índice de envelhecimento, passará de
32 idosos para cada grupo de 100 crianças, em 2010, para 118 idosos para cada
100 crianças, em 2040. (IPARDES, 2018, p. 5)
Enquanto a população idosa paranaense triplicou nos últimos 30 anos, a po-
pulação de 0 a 15 anos apresenta progressiva redução (PEREIRA; ROSA, 2018).
Simultaneamente às modificações demográficas, experimentam-se mu-
danças no perfil epidemiológico da população, com alterações relevantes no
quadro de morbimortalidade (PEREIRA; ROSA, 2018).
INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS - ILPI 227
tinha cerca, eles andavam pelo meio do mato, eu e mais alguns moradores é
que cortávamos o mato, um pouquinho por dia pra não cansar eles, tinha pouco
funcionário, a gente fazia tudo, cuidava deles, limpava o chão, lavava a roupa”.
Na estrutura física, além das reformas, houve melhorias. O jardim foi
restaurado, as áreas de desnível foram isoladas, garantindo que os morado-
res circulassem apenas pelas áreas planas, reduzindo quedas, os caminhos
que eram de terra foram asfaltados, o piso passou a ser antiderrapante e
foram fixadas barras de segurança nos banheiros.
Com a estrutura reformada, passou-se a se pensar na qualidade de vida,
na individualidade e exigências, iniciando o processo de transformar a ILPI
em alternativa de vida e apagar o estigma de asilo, visto como “espaço de
segregação” (POLLO E ASSIS, 2008, p. 33).
Embora a instituição estivesse melhorando a passos largos, sem mais pro-
blemas com as estruturas, os moradores começaram a ser incentivados a re-
ceber visitas, estabelecer vínculos com a comunidade e reestruturar vínculos
familiares. Viam agora a ILPI como sua casa. Mas ainda eram acolhidas pes-
soas com idade inferior a 60 anos, quase sempre a pedido do poder público,
sem espaço gerido pelo município para a permanência de portadores de defi-
ciências físicas, transtornos mentais e pessoas em situação de rua.
Em 2002 foi, por fim, instituído o Conselho Nacional de Direitos da
Pessoa Idosa, a partir do Decreto Federal 4.227. Em outubro de 2003, a Lei
10.741, que instituía o Estatuto do Idoso, definindo, em seu artigo 4º: “Ne-
nhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, vio-
lência, crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou
omissão, será punido na forma da lei”.
Deveria ser construído um espaço no qual fossem restituídos, à pessoa idosa,
os direitos violados, e não apenas retirada do local em que ocorreu a violação.
Todos esses fatores culminaram na atual situação da ILPI, contribuindo
para a construção de um espaço de acolhimento. Por definição de acolhi-
mento um espaço em que o sujeito é recebido, respeitado em sua individua-
lidade, aceito pelos outros moradores, e estabelece vínculos afetivos com os
demais acolhidos, sentindo-se pertencente ao espaço em que está inserido.
Na história da ILPI Santa Rita é possível perceber que, embora ainda não
tenha chegado a um conceito de instituição ideal, fez progresso imenso em
relação à moradia: de instituição total passou a ser o lar dos acolhidos, e ali
são assegurados os direitos previstos em lei, trabalhados em sua individua-
lidade e incentivados a construir laços afetivos, caracterizando acolhimento
e não apenas abrigamento.
Considerações finais
A instituição acompanhou a necessidade de mudanças na “cultura” em
moradia para idosos. O tempo revelou serem prementes, ainda que se tenha
consciência de que um conceito “ideal” seja, em certos aspectos, mutável
e subjetivo. Alguns moradores afirmam que estão muito bem na ILPI, não
há intenção de sair mesmo que pudessem retornar ao seio familiar; outros,
apesar dos visíveis progressos para que a ILPI se torne uma moradia digna e
acolhedora, alegam saber que não existe possibilidade de retorno, são bem
tratados, mas preferiam retornar ao antigo lar. Por esses motivos, o progres-
so é contínuo, as singularidades são levadas em conta, cada caso é tratado de
forma individual, mesmo dentro da coletividade da instituição.
Houve um longo trajeto da preocupação com o acolhimento de idosos
em 1957 até os dias atuais, a forma de se enxergar o acolhimento mudou,
a Assistência Social teve conquistas importantes nesse intervalo de tempo
e as exigências para as instituições aumentaram. Em consequência, todos
os aspectos da instituição evoluíram. Os trabalhadores precisaram se es-
pecializar para desenvolver tarefas, buscando conhecimento em Ciências
Sociais e Saúde.
A estrutura física precisou acompanhar a evolução, indo de uma casa
adaptada ao coletivo até uma instituição funcional pensada para idosos.
Em um comparativo, onde antes havia lama hoje existe calçada e asfalto,
as áreas de desnível foram isoladas e ainda assim a área de circulação dos
acolhidos é grande, possibilitando que façam caminhadas nos arredores da
ILPI em terreno plano, reduzindo o número de quedas e impactando em
mobilidade e qualidade de vida. O principal é que a visão de que o idoso
precisava ser retirado da sociedade e isolado em abrigamento institucional
para descansar e levar uma vida tranquila hoje mudou. É visto como alguém
levado para uma moradia onde vai dar continuidade à sua vida, fazer planos,
receber auxílio na concretização e ser integrado ao convívio comunitário.
Os recursos da instituição, antes, em sua totalidade filantrópicos, hoje
têm fontes de renda mais sólidas. Não houve rompimento com a filantropia,
pois a instituição aceita doações de roupas, calçados, produtos de limpeza
e produtos alimentícios, mas as fontes de renda passaram a ser 70% do be-
nefício dos moradores, conforme deliberado pelo Conselho Municipal de
Direitos da Pessoa Idosa de Irati, termos de colaboração e contratos para
INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS - ILPI 237
Referências bibliográficas
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INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS - ILPI 241
O presente artigo aborda tema cada vez mais recorrente dentro do estudo da
longevidade: a escolha do local mais apropriado, mais “amigável” para o idoso
residir. Deve oferecer serviços de qualidade sob diferentes aspectos e apresen-
tar ambiente acolhedor aos residentes e a quem o frequenta. Igualmente rele-
vante é refletir sobre aspectos que contribuem para a opção pelo residencial
nesse momento da vida, com a efetiva institucionalização da pessoa idosa.
O estudo e as considerações têm por base dados coletados por instituições
de âmbito internacional, como ONU, OMS, IBGE, ANS e Centro Internacional
de Longevidade Brasil. Além desses órgãos capacitados, há a experiência ad-
quirida em quase cinco décadas de atuação do Lar Sant’Ana, residencial criado
em São Paulo pela Liga Solidária.
Ao deparar-se com o surgimento de limitações naturais decorrentes do en-
velhecimento, familiares ou da própria pessoa com 60 anos ou mais – sozinha
ou não, e fisicamente dependente, semidependente ou independente – sur-
gem dúvidas entre permanecer na casa em que vive, ou recorrer a instituições
especializadas, criadas com essa finalidade. A institucionalização passa a ser
aspecto significativo a ser considerado.
Ambas as opções oferecem pontos para reflexão. É possível intuir que, em
geral, a partir dos 60 anos, quanto mais cedo a pessoa buscar conhecer os ser-
viços dos residenciais, mais usufruirão (o idoso e familiares) dos benefícios.
A primeira alternativa pode fazer o idoso conservar o contato com o nú-
cleo familiar e o círculo próximo de amizades; a segunda representa o acesso
ao atendimento especializado, a priori, com respaldo técnico, ao qual se soma
a possibilidade de proximidade com a família.
Tomar a decisão de mudar-se da casa para um residencial de idosos não
são escolha e decisão simples, pois envolve distintos fatores socioemocio-
nais e familiares.
A vivência demonstra que os profissionais atuantes e dedicados ao estudo
da institucionalização do idoso que o ingresso efetivo da pessoa em residencial
ocorre quando fato relativamente marcante se torna a mola propulsora para a
tomada da decisão. Com frequência, as pessoas devem estar fisicamente mui-
to bem, mas algo desencadeou o processo de insegurança, fazendo com que
ele mesmo e seus familiares recorram à possibilidade da institucionalização.
O idoso passa por uma etapa marcada pela fragilidade no campo emocio-
nal em consequência da tomada de decisão. E é muito importante que, nessa
242 SEÇÃO 3
1 United Nations Department of Economic and Social Affairs Population Division. World Population Prospects: The
2012 Revision. Highlights and Advance Tables. Working Paper No. ESA/P/WP.228. New York: United Nations; 2013.
INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS - ILPI 243
4 http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/plano_cuidado_idosos.pdf
5 Idem, pág. 94.
INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS - ILPI 245
Atuação eficaz
Em 1980, como Unidade Provedora, surge o então Recanto Monte Ale-
gre, que em 1986 passa a se chamar Lar Sant’Ana Butantã. No início dos anos
2000, volta-se ao atendimento de idosos semidependentes e dependentes
com necessidades de cuidados diários. Ocorre a implantação da fisioterapia,
com o objetivo de melhorar a qualidade de vida e estimular a independência
e funcionalidade dos residentes.
O Centro-Dia para Idosos (CDI), que dá forma ao Geros Center, ofere-
ce atendimento destinado à permanência diurna de idosos com depen-
dência parcial nas atividades da vida diária (AVDs), e que exigem assis-
tência multiprofissional.
Com essa estrutura de funcionamento, dá atendimento eficaz aos resi-
dentes, considerando que a unidade de Pinheiros tem capacidade para 125
idosos, sendo o grupo hoje formado por mulheres (83%) e homens (17%),
com 38% acima de 80 anos. Na unidade Butantã, o público feminino repre-
senta 75% dos residentes e o masculino 25%, sendo que 47% do total estão
na faixa acima de 80 anos (a capacidade é de 48 residentes). Para efetivar o
acompanhamento, as duas unidades contam com cerca de 300 colaborado-
res, responsáveis pelo atendimento aos idosos.
INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS - ILPI 247
Considerações finais
Os pilares do Envelhecimento Ativo e as diretrizes da Liga da Solidarieda-
de em seu trabalho na sociedade têm muito em comum. Saúde, Aprendizagem
ao Longo da Vida, Participação e Segurança/Proteção são aspectos essenciais
que contemplam ações originadas na esfera civil, no âmbito governamental
de políticas e leis. Esperam-se iniciativas individuais, dos próprios idosos,
motivados por estímulos que os demais agentes apresentam.
A Liga Solidária, aproximando-se dos seus 100 anos de existência, propõe-se a
ser um agente eficaz em seu campo de atuação, no atendimento ao público
vulnerável, seja pelas condições socioeconômicas, seja por motivos de saú-
de. Uma trajetória marcada por ações eficazes e visão de futuro, apoiadas
pela captação e destinação de recursos, ao lado de forte investimento em
capital humano.
Fiel aos ideais, a Liga focou suas ações, pelo menos nas primeiras quatro
décadas, no público feminino e infantojuvenil, até aquele momento os mais
necessitados. Ações concretas, como o Restaurante Feminino, o residencial
Lar Sant’Ana e a construção do Flat 50, que visavam à oferta de atendimento
de qualidade e ambiente acolhedor às mulheres, prontamente tornaram-se
projetos rentáveis. Dos três exemplos citados, o restaurante foi desconti-
nuado, enquanto o residencial e o flat se tornaram entidades mantenedoras
para o Núcleo de Atendimento ao Idoso (NCI), de caráter social e gratuito,
instalado no bairro de Raposo Tavares, na Zona Sul de São Paulo. O mode-
lo de gestão permite que, nesse momento, 313 idosos beneficiem-se direta-
mente das atividades promovidas, sendo 80 atendidos em domicílio.
O êxito das iniciativas produz impacto positivo no dia a dia da popula-
ção mais carente da região, como resultado da proposta bem conduzida e
252 SEÇÃO 3
Referências bibliográficas
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INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS - ILPI 253
Introdução
Este artigo trata da importância da oferta de políticas públicas que visam
à melhoria da qualidade de vida dos idosos a partir da experiência do Pro-
grama Vila Dignidade. O programa, desenvolvido pelo governo do Estado
de São Paulo1, presta atendimento a idosos independentes e em situação de
vulnerabilidade social. Tem por objetivo implantar conjuntos habitacionais
em moradia assistida para idosos.
O Programa Vila Dignidade2 é parceria da Secretaria da Habitação, Com-
panhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo
(CDHU), Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, Secretaria de
Economia e Planejamento, Secretaria da Cultura, Fundo de Solidariedade e
Desenvolvimento Social e Cultural do Estado de São Paulo e Prefeituras de
municípios paulistas. No Estado há outras 18 vilas distribuídas em Avaré,
Botucatu, Caraguatatuba, Itapetininga, Itapeva, Ituverava, Jaú, Jundiaí, La-
ranjal Paulista, Limeira, Mogi-Mirim, Presidente Prudente, Ribeirão Preto,
Tupã, Araraquara, São José do Rio Preto e Sorocaba.
Diversos estudos indicam o aumento da população idosa no mundo, com
mudanças significativas nos perfis sociais, pois os indivíduos estão ficando
mais velhos e crescem as expectativas de vida, fenômeno que atinge todos
os países - desenvolvidos e em desenvolvimento. Reforça-se a necessidade
de condições mínimas de sobrevivência com dignidade e respeito nessa eta-
pa do envelhecimento (DEL-MASSO, 2015).
No Brasil, a oferta de políticas públicas voltadas à pessoa idosa teve
início no período imperial, mas atendia apenas a alguns pequenos grupos
populacionais e se limitava à cobertura de uma renda quando da perda da
capacidade laborativa. Somente após a década de 1960 as políticas públicas
brasileiras incluíram os direitos da população idosa, sob pressões da socie-
dade civil e pessoas envolvidas, como grupos políticos e cientistas interessa-
dos no estudo da velhice (RAUTH e PY, 2016).
A Constituição Federal de 1988 foi significativo avanço nas políticas
públicas para a pessoa idosa. Dela, nasceram a Política Nacional do Idoso
(BRASIL, 1994) e Estatuto do Idoso (BRASIL, 2003).
1 Decreto nº. 54.285, de 29 de abril de 2009, com nova redação dada pelo Decreto Estadual nº. 56.448/2010.
2 Perguntas frequentes sobre a Vila Dignidade, site: http://www.cdhu.sp.gov.br/perguntas-frequentes/programa-
vila-dignidade
256 SEÇÃO 4
3 Art. 47. Ficam revogados: I - o Decreto nº 1.948, de 3 de julho de 1996; II - o Decreto nº 5.934, de 18 de outubro
de 2006; III - o Decreto nº 6.800, de 18 de março de 2009; IV - o Decreto nº 8.114, de 30 de setembro de 2013; e
V - o Decreto nº 9.328, de 3 de abril de 2018 (BRASIL, 2019).
INICIATIVAS GOVERNAMENTAIS E SOCIAIS SOBRE MORAR 60 MAIS 257
Renda Quantidade
per capita até R$ 89,00 1668
per capita entre R$ 85,01 e R$ 170,00 36
O município tem 3526 idosos que recebem o BPC, e 92% desse total estão
inscritos no Cadastro Único. Aos idosos com 65 anos ou mais que na vida
não conseguiram contribuir com o INSS, é assegurado pela Lei Orgânica de
Assistência Social – Loas, o Benefício de Prestação Continuada – BPC, repas-
se de um salário mínimo mensal, a partir de critérios estabelecidos em lei.
O Benefício de Prestação Continuada previsto no art. 20 da Lei nº 8.742, de 7
de dezembro de 1993, é a garantia de um salário mínimo mensal à pessoa com
deficiência e ao idoso, com idade de sessenta e cinco anos ou mais, que com-
provem não possuir meios para prover a própria manutenção e nem de tê-la
provida por sua família... integra a proteção social básica no âmbito do Sistema
Único de Assistência Social - SUAS (Política Nacional do Idoso, 1994, pág. 19).
Há ainda o Renda Cidadã Idoso7, programa de transferência de renda tem-
porário do governo do Estado, que paga R$ 100 ao idoso de baixa renda, acima
de 80 anos e que não tenha benefício ou aposentadoria. Atualmente existem
12 idosos que recebem esse benefício no município. O Estado deve investir
significativamente em políticas de transferência de renda e incluir idosos na
faixa etária acima de 60 anos. O Quadro I mostra que no município há inscri-
tos 1781 idosos com renda inferior a meio salário mínimo morando sozinhos.
O BPC deveria atender a esses idosos, pois o Estatuto do Idoso prevê como
60 anos a idade de ser idoso.
Aspecto interessante, destaca estudo de políticas públicas à população
idosa, relaciona-se à renda dos idosos com a universalização dos benefícios
da seguridade social, ocorrida na década passada. Boa parcela das famílias
com idosos acrescenta o importante componente de sustentação, comple-
mentar aos rendimentos provenientes do trabalho e produção. Mais ainda,
muitas famílias, frente ao desemprego dos filhos, passaram a ter como fonte
de sustento e sobrevivência o rendimento da aposentadoria dos pais (BRA-
GA et al. 2016). Realidade constante nas famílias atendidas pela Assistência
Social. Os idosos, além de deter a principal renda familiar, assumem o cui-
dado com os netos para os filhos trabalhar.
Correia (2009) ressalta que ainda existe uma velhice segregada pela so-
ciedade. O abandono, o preconceito e a desvalorização recaem violentamen-
te sobre eles. Casos de maus-tratos no comércio, nos transportes coletivos,
nas ruas e mesmo na família são cada vez mais comuns. Algumas ocorrên-
cias são noticiadas nos jornais, mas há diversas silenciadas no âmbito so-
cial e pelos próprios idosos, às vezes por desconhecer direitos ou ainda se
sentirem envergonhados e culpados pela situação em que foram vítimas de
algum tipo de violência. A Assistência Social atua nesse cenário, em que é
segregado o idoso que não é mais capaz e independente.
Mogi das Cruzes aderiu a dois programas voltados ao idoso que visam à
articulação, expansão e efetivação de políticas públicas para o segmento - o
selo São Paulo Amigo do Idoso (Estadual) e Estratégia Brasil Amigo da Pessoa
Idosa (Nacional). Para a fase inicial de aquisição do selo São Paulo Amigo do
Idoso, houve oficinas com os idosos de diversos territórios. O objetivo era
coletar informações sob a ótica dos idosos, em relação a serviços e qualida-
de de vida na cidade. O sistema dos programas também afere indicadores de
atendimento e estruturação das políticas para idosos dos municípios, como
índice de vacinação - Mogi das Cruzes possui acima do previsto, segundo
relatórios da Vigilância Epidemiológica. Está sendo elaborado ainda o Ma-
nual do Idoso, com prevenção antiquedas, direitos da pessoa idosa e serviços
disponíveis no município.
Em Mogi há uma rede de serviços para o idoso, de acordo com a Tipifica-
ção Nacional de Serviços Socioassistenciais. São dez Núcleos de Serviços de
Convivência e Fortalecimentos de Vínculos, com capacidade de atender até
300 idosos; um Serviço de Proteção Básica no domicílio para Idosos - capaci-
dade de atendimento de 80 idosos; sete Centros de Referência de Assistência
Social - CRAS, distribuídos no município, com até 3500 famílias referenciadas
em cada equipamento; dois Centros de Referência Especializados de Assis-
tência Social - CREAS - em 2019 atendeu a 75 idosos com direitos violados; um
Centro-Dia do Idoso, com capacidade para atendimento de 40 idosos; quatro
ILPIs, com 97 vagas, além de mais um em construção, ou mais 20 vagas.
260 SEÇÃO 4
8 Serviço que oferece proteção, apoio e moradia subsidiada a grupos de pessoas maiores de 18 anos em
estado de abandono, situação de vulnerabilidade e risco pessoal e social, com vínculos familiares rompidos ou
extremamente fragilizados e sem condições de moradia e autossustentação (Tipificação Nacional dos Serviços
Socioassistenciais, 2009, página 51).
INICIATIVAS GOVERNAMENTAIS E SOCIAIS SOBRE MORAR 60 MAIS 261
No ano de 2019 dois dos idosos do local que ainda não tinham renda fo-
ram inseridos no BPC. No direito à renda percebeu-se significativa mudança
na vida. Passaram a ter maior autonomia, melhoraram condições materiais
- investimento em novos mobiliários, compra de alimentos diferenciados,
ampliação das atividades comunitárias, visitas a parentes e amigos, uma
vida mais sociável, com bem-estar. Anteriormente, havia uma cesta básica
do município mensalmente, além do gás, de acordo com a demanda. Res-
salta-se ainda que há uma idosa com idade inferior a 65 anos que recebe o
benefício do Bolsa Família e os itens citados.
Ainda no tema renda, uma das preocupações da equipe técnica é a ma-
neira como os usuários do serviço lidam com as finanças. Percebe-se que os
recursos oriundos de aposentadoria ou benefícios são utilizados no uso abu-
sivo de álcool. Situação que ocorre, em especial, com idosos do sexo mas-
culino. Quando situações são identificadas, o idoso é encaminhado aos ser-
viços de saúde do território, que podem auxiliá-lo a superar a dependência.
Na Vila Dignidade existe acompanhamento social. Como objetivo, a
socialização entre os idosos; facilitar acesso à rede de políticas públicas;
reconstrução de vínculos familiares e comunitários; preservação das con-
dições de autonomia e independência e estímulo à autossustentação. O téc-
nico de Serviço Social atende semanal e individualmente, ou em grupo, para
a discussão de assuntos coletivos. O objetivo do acompanhamento social é o
idoso ser protagonista da própria vida, que utilize os serviços do território,
como posto de saúde, CRAS; fortaleça os laços familiares e comunidade; fre-
quente um Serviço de Convivência para Idosos; usufrua do território e até
mesmo serviços privados, como comércio, supermercados, farmácia, pada-
ria, lazer, criando vínculos com a vizinhança; visite ou receba familiares, ser
um sujeito ativo.
A Vila Dignidade se articula com os serviços da rede socioassistencial
da região. Um dos aspectos positivos são atividades como o CRAS Vila Bra-
sileira, em integração com o território e moradores. Uma moradora esteve
em situação de rua por muitos anos e, a partir de uma Oficina Intergera-
cional promovida pelo CRAS, contou sua história a um grupo de adoles-
centes, que localizou seu filho nas redes sociais. Com o filho ela mantém
contato telefônico.
As oficinas ou encontros intergeracionais têm o objetivo de estimular ex-
periências entre as gerações fora do contexto familiar, rompendo o isolamen-
to social do idoso e proporcionando aos adolescentes integração com outra
faixa etária. No território, promove-se igualmente o encontro entre os idosos
e alunos de uma escola particular do município, dividido em dois momentos:
no primeiro, os alunos visitaram a casa dos idosos, conversaram e conhece-
ram as histórias de vida; no segundo, os alunos organizaram um bingo para os
idosos e participaram arrecadando brindes e auxiliando na conferência das
266 SEÇÃO 4
Considerações finais
O Brasil, anteriormente conhecido como país jovem, caminha para se
tornar um dos países com a maior população idosa do mundo. Essas mudan-
ças sociais requerem um novo modo de pensar a sociedade, investindo em
políticas públicas inovadoras que atendam às exigências do “novo idoso”,
que surge com a sociedade. Dar-lhe voz e escutar as necessidades, que já não
são as mesmas de décadas atrás.
Consideramos primordial para a qualidade de vida da pessoa idosa que se-
jam assegurados os direitos básicos e essenciais, além de envolvimento com
diversos atores que ratifiquem o acesso a serviços de qualidade. Embora o
Programa Vila Dignidade seja considerado um modelo de moradia assistida
ao idoso, a ampliação aos municípios ainda é desafio para o Estado. Conside-
rando a demanda reprimida apenas no município de Mogi das Cruzes, deve-
ria haver distintos equipamentos, seguindo o modelo, além da ampliação da
equipe técnica para assegurar acompanhamento eficaz e qualificado.
Devem ser consideradas as particularidades desse segmento, pois a
velhice apresenta várias interfaces, e cada indivíduo sua subjetividade. A
efetivação dos direitos do idoso requer empenho do poder público e da so-
ciedade, que devem se mobilizar para acompanhar as políticas públicas já
efetivadas, solicitando a ampliação. Todos os idosos em situação de vulnera-
bilidade seriam atendidos.
Verificamos que as políticas públicas devem caminhar na mesma dire-
ção - a melhoria na qualidade de vida. Ser eficazmente atendidas, em con-
junto, pois se complementam reciprocamente. O idoso não pode ser visto
como segmento “isolado” da sociedade. Ao contrário, integrado com crian-
ças, jovens e adultos, entendendo que o envelhecimento é processo natural
da vida. Investindo hoje será criada uma sociedade mais consciente do pa-
pel do idoso, com maior e mais substancial valorização.
INICIATIVAS GOVERNAMENTAIS E SOCIAIS SOBRE MORAR 60 MAIS 269
Figura 2
Figura 3
12 As imagens da Vila Dignidade foram retiradas do site oficial da Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes,
disponíveis em: http://www.mogidascruzes.sp.gov.br/unidade-e-equipamento/2/vila-dignidade
270 SEÇÃO 4
Figura 4
Figura 5
Figura 6
INICIATIVAS GOVERNAMENTAIS E SOCIAIS SOBRE MORAR 60 MAIS 271
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272 SEÇÃO 4
Introdução
O Conjunto Habitacional conhecido como Vila dos Idosos faz parte do
Programa Municipal de Locação Social (PMLS) da cidade de São Paulo, que
totaliza 903 Unidades Habitacionais (UHs), distribuídas em seis empreen-
dimentos diferentes. A Vila dos Idosos corresponde a 145 das UHs, em que
vivem quase 200 pessoas.
Para a Vila dos Idosos ser incluída no PMLS, a luta social de um grupo de
pessoas idosas pela moradia definitiva foi fundamental. As pessoas idosas,
de origens e histórias diferentes, convergiram interesses e demandas na fi-
gura do Garmic (Grupo de Articulação para a Conquista da Moradia do Idoso
da Capital), movimento social de pessoas idosas, que busca garantir o acesso
à moradia na cidade de São Paulo. Formado em 1999, conquistou a constru-
ção da Vila dos Idosos, inaugurada em 2007, e permanece ativo na militância
pela moradia e espaços deliberativos em diversas esferas de governo.
As pessoas idosas que formaram o Garmic tinham em comum dificul-
dades de acesso à moradia. Os diferentes cursos de vida representam rica
imagem de parte das velhices de um país como o Brasil, no qual persiste a
intrincada questão do acesso à moradia, do déficit habitacional e assenta-
mentos informais.
O grupo heterogêneo se articula, então, em torno do tema comum
da luta pela moradia definitiva. A locação social é uma forma de atendi-
mento habitacional definitivo que não conta com o crédito imobiliário,
aspecto relevante quando se se considera o envelhecimento populacio-
nal nas cidades brasileiras. Torna-se uma possibilidade de atendimento
habitacional a ser replicada, entre diferentes tipos de atendimento que
existem ou serão necessários/criados. Entretanto, deve-se ressaltar que
o papel ativo do Garmic na Vila dos Idosos, ainda nos dias atuais, facilita
a gestão do empreendimento. Cada empreendimento do PMLS apresenta
um contexto peculiar, mais ou menos complicado em relação à gestão
e outros temas. Trataremos de algumas delas, porém, não haverá uma
avaliação do programa.
Se por um lado o projeto como a Vila dos Idosos torna-se mais comple-
xo, envolvendo um movimento social, por outro, o papel na gestão de um
empreendimento como o apresentado pode colaborar para a experiência
ser exitosa e duradoura, em especial se comparada aos demais empreen-
dimentos do PMLS. É uma das particularidades da Vila dos Idosos de difí-
cil replicação e praticamente desconsiderada nos trabalhos que tratam do
Conjunto Habitacional.
INICIATIVAS GOVERNAMENTAIS E SOCIAIS SOBRE MORAR 60 MAIS 273
Desenvolvimento
Contextualização e apresentação da Vila dos Idosos
A Vila dos Idosos é um conjunto habitacional parte do PMLS, iniciado na
gestão da prefeita Marta Suplicy (2001-2004), cuja aprovação ocorreu pela
Resolução no 23, de 12 de junho de 2002. O PMLS totaliza 903 UHs, distribuí-
das em seis empreendimentos de locação social (Quadro 1). Os empreendi-
mentos foram entregues em anos diferentes, sendo a Vila dos Idosos, o Par-
que do Gato e o Olarias oriundos da construção dos conjuntos habitacionais.
O Asdrúbal do Nascimento, o Senador Feijó e o Palacete dos Artistas são
resultados da reforma - retrofit - de antigos edifícios.
274 SEÇÃO 4
1 Valores e demais informações podem ser encontrados em COHAB São Paulo, 2017.
2 Disponível em: http://www.vigliecca.com.br/pt-BR/projects/elderly-housing. Acesso em 01/03/2020.
INICIATIVAS GOVERNAMENTAIS E SOCIAIS SOBRE MORAR 60 MAIS 275
6 Secretaria Municipal da Família e Bem-Estar Social (Fabes) é, atualmente, denominada Secretaria Municipal de
Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS).
278 SEÇÃO 4
7 Roberta Freire (2019) estudou o programa habitacional Cidade Madura, da Paraíba. No trabalho trata do
convívio e gestão dos conjuntos habitacionais, por exemplo.
INICIATIVAS GOVERNAMENTAIS E SOCIAIS SOBRE MORAR 60 MAIS 285
Gestão do programa
Indicação da demanda
Divisão Técnica Regional Estabelecer convênios e parcerias
SEHAB
Centro (DEAR/Centro) Supervisão do trabalho socioeducativo
Avaliação da situação socioeconômica das famílias para
adequação dos subsídios
Fonte: organizado pelo autor com informações da COHAB SÃO PAULO, 2017
286 SEÇÃO 4
Nesses aspectos a função do movimento social pode ser vista como par-
ceira constante na manutenção dos conjuntos habitacionais. No caso da Vila
dos Idosos, além do projeto adequado e do trabalho multissetorial, o traba-
lho social do Garmic, pré e pós-ocupação, minimizaram problemas e poten-
cializaram parcerias e oportunidades.
Considerações finais
Neste capítulo, resgatamos a função do Garmic para a conquista do Con-
junto Habitacional Vila dos Idosos, que integra o PMLS na cidade de São
Paulo. O contexto atual é marcado pela profusão de movimentos de diversos
tipos e distintas camadas da sociedade. Paralelamente, movimentos e de-
mandas ganham visibilidade, mas o Garmic, movimento de pessoas idosas
em um país que envelhece, não encontra reverberação das lutas e conquis-
tas. O resgate é relevante para a história estar documentada, relembrada, e
os participantes reconhecidos, parte deles já falecidos.
Desejou-se apresentar a Vila dos Idosos além dos aspectos arquitetôni-
cos e das potencialidades como alternativa para o atendimento habitacio-
nal, em especial para pessoas idosas, que não precisam recorrer ao crédito
imobiliário. O reconhecimento de que a Vila dos Idosos é experiência exito-
sa ocorre ainda pela Associação Brasileira de COHABs e Agentes Públicos de
Habitação, ao premiar o projeto em 2017 na categoria Relevância Social e/
ou Urbana.
Como a Vila dos Idosos é resultado de luta social, priorizou-se a dimen-
são como eixo central do bom funcionamento do conjunto. É significativo
enfatizar o aspecto, pois haverá crescente necessidade de programas habi-
tacionais para as populações idosas no Brasil. Mas o trabalho social no con-
junto é uma das características que o diferenciam.
As cidades brasileiras tendem a envelhecer. O déficit habitacional entre
as pessoas idosas crescerá, como o envelhecimento trará novas exigências
nas condições de habitabilidade e programas que forneçam suporte ao en-
velhecer onde se está habituado ou no imóvel próprio. Apresentar a Vila dos
Idosos e o trabalho social não objetivou desencorajar novas experiências.
Esperamos ter evidenciado o papel da gestão compartilhada com os usuá-
rios como meio para melhores resultados. A diferença da Vila dos Idosos
ressalta, em especial para os gestores públicos, que as iniciativas construí-
das coletivamente tendem a minimizar problemas e potencializar oportuni-
dades e durabilidade das ações. Cabe utilizar os meios de participação local,
como os Conselhos Municipais das Pessoas Idosas e movimentos sociais,
para serem ouvidos e ativamente inseridos na formulação e execução das
políticas públicas que incidem sobre a vida cotidiana.
288 SEÇÃO 4
Referências bibliográficas
1. BOARETTO, R. C. Velhos à margem na margem das ruas: a experiência de
uma moradia provisória no município de São Paulo. (Dissertação [Mestrado]).
Campinas, Universidade Estadual de Campinas, 2005.
2. BONICENHA, R. C. Envelhecimento na cidade: o caso da Vila dos Idosos. (Tese
[Doutorado]), Santo André, Universidade Federal do ABC, 2019.
3. COHAB São Paulo. Locação social para idosos na cidade de São Paulo:
a iniciativa inovadora da Vila dos Idosos e do Palacete dos Artistas.
24 slides. Apresentação em Power-point, 2017. Disponível em :<http://abc.
habitacao.org.br/selo-de-merito-2017-projetos-premiados/>. Acesso em:
20/06/2019.
4. de DEUS, S. I. A. Um modelo de moradia para idosos: o caso da Vila dos Idosos
do Pari-São Paulo (SP). Caderno Temático Kairós Gerontologia, 2010, v. 13,
n.8, pp. 195-213.
5. D’OTTAVIANO, C. Política Habitacional no Brasil e Programa de Locação Social
Paulistano. Caderno CRH, 2014, v.27, n. 71, pp. 255-266.
6. ENTREVISTA. Entrevista Olga Luiza Leon de Quiroga. A Terceira Idade: estudos
sobre o envelhecimento, 2007, v. 18, n. 39, pp. 79-94.
7. FREIRE, R. M. H. Condomínio exclusivo para idosos como política equânime e
intersetorial no estado da Paraíba. (Tese [Doutorado]). São Paulo, Faculdade de
Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, 2019.
8. GARMIC. Carta. Histórico da luta pela moradia definitiva do idoso da
capital. Documento Fotocopiado. São Paulo, 2010, pp. 1-2.
9. GATTI, S. F. Entre a permanência e o deslocamento: ZEIS-3 como instrumento
para a manutenção da população de baixa renda em áreas centrais, o caso da
ZEIS-3 C016 (Sé) inserida no perímetro do Projeto Nova Luz. (Tese [Doutorado]).
São Paulo, Universidade de São Paulo, 2015.
10. MONTEIRO, L. C. A. Políticas públicas habitacionais para idosos: um estudo sobre
condomínios exclusivos. (Tese [Doutorado]). São Carlos: Universidade Federal de
São Carlos, 2012.
11. MONTEIRO, L. C. A.; ZAZZETTA, M. S.; ARAÚJO JUNIOR, M. E. Sustentabilidade:
relação entre espaço urbano e envelhecimento ativo. Revista Novos Estudos
Jurídicos – Eletrônica, 2015, v. 20, n. 1, pp. 116-145
12. PORTES, F. A.; VAROTO, V. A. G., CAMPOS, L. B. Construindo a moradia adequada: a
luta do Garmic pela implementação da Vila dos Idosos, Pari-SP. In: II CONGRESSO
INTERNACIONAL DE POLÍTICA SOCIAL E SERVIÇO SOCIAL: DESAFIOS
CONTEMPORÂNEOS. Anais, Londrina, Movimentos Sociais e Participação Social,
2017.
13. QUIROGA, O. L. L. O Garmic e a luta por moradia para idosos na cidade de São
Paulo. Revista Kairós, 2007, v. 10, n. 1, pp.213-220.
INICIATIVAS GOVERNAMENTAIS E SOCIAIS SOBRE MORAR 60 MAIS 289
com seu cônjuge, a este será transferida a concessão, desde que tenha mais
de 60 (sessenta) anos de idade e atenda aos demais critérios de seleção do
Programa. Se o cônjuge possuir idade inferior a 60 anos, este deve desocu-
par o imóvel. O falecimento do concessionário não gerará para seus suces-
sores qualquer direito hereditário com relação à unidade objeto da presen-
te concessão. Sendo constatada a perda de autonomia para realização das
tarefas diárias e a dependência de cuidado integral para sua manutenção,
o concedente poderá providenciar a remoção do concessionário para uma
Instituição de Longa Permanência para Idoso - ILPI. Entende-se por Insti-
tuição de Longa Permanência para Idoso(ILPI) as pessoas jurídicas, com
características residenciais e estrutura física adequada, que disponham de
serviços na área social, médica, psicológica, de enfermagem, fisioterapia,
terapia ocupacional, odontologia, para acolhimento de pessoas idosas com
60 anos ou mais de idade, de ambos os sexos, com diferentes necessidades e
graus de dependência, que não dispõem de condições para permanecer na
família, ou para aqueles que se encontram com vínculos familiares fragili-
zados ou rompidos, em situações de negligência familiar ou institucional.
Qualquer que seja o motivo de rescisão, a unidade deverá ser desocupada de
pessoas e coisas no prazo de 30 (trinta) dias.
As habitações foram construídas nos moldes de um condomínio fecha-
do, sendo 40 casas em cada condomínio, cercadas de uma ampla infraes-
trutura e cada casa tem 54 metros quadrados construídos com: 01 banheiro
adaptado com barras e cadeira de banho abaixo do chuveiro; 01 interfone
(para os moradores se comunicarem com vizinhos e a guarita); 01 quarto
de casal; 01 sala; 01 cozinha, 01 área de serviço e uma varanda ampla com
barras de apoio e rampas de acesso. Portanto as residências são totalmente
adaptadas às necessidades da pessoa idosa.
INICIATIVAS GOVERNAMENTAIS E SOCIAIS SOBRE MORAR 60 MAIS 293
Referências bibliográficas
1. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.
Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.
2. CAMARANO, A. A. Envelhecimento da população brasileira: uma contribuição
demográfica. Rio de Janeiro: IPEA, 2002.
3. Diário Oficial do Estado da Paraíba – DECRETO Nº 35.072 DE 10 DE JUNHO
DE 2014. Disponível em: http://static.paraiba.pb.gov.br/2014/06/Diario-
Oficial-11-06-2014.pdf Acesso em: 21 de março de 2021.
4. Estatuto do Idoso. Lei 10.741, de 1° de outubro de 2003. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm. Acesso em: 21 de março de 2021.
5. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico 2006:
projeção da população do Brasil. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.
gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/29502-em-
2019-expectativa-de-vida-era-de-76-6-anos. Acesso em: 21 de março de 2021.
6. OMS. Organização Mundial de Saúde. O papel da atividade física no
envelhecimento saudável. Florianópolis, 2006.
298 SEÇÃO 4
Fundação do Asilo
A cidade com uma densidade populacional considerável raramente dei-
xa de ter proteção à velhice desamparada. Mas nem sempre foi assim.
Entusiasta da causa, Pedro Alexandrino procurou difundir seu pensamen-
to, bastante ousado para a época. Acentua com firmeza que “aqueles que a
idade invalidou para o serviço ativo, assiste o direito de esperar dos aptos,
para a cura. O socorro e o amparo que a sua decrepitude reclama. Se o soldado
que as feridas ou o tempo tornaram inválido tem garantida a sua subsistência,
por que não terão moralmente os mesmos direitos os vencidos pela batalha
menos cruentes, porém mais encarniçada? Da luta pela existência”.
Com determinação, influência social, em 1905 foram arrecadados dona-
tivos em dinheiro para a fundação do Asylo de Velhos Desamparados. No se-
gundo semestre de 1906 essas doações tornaram-se mais frequentes e os doa-
dores seriam considerados fundadores do “Asilo de Velhice e Mendicidade
INICIATIVAS GOVERNAMENTAIS E SOCIAIS SOBRE MORAR 60 MAIS 299
ALTERNATIVA DE MORADIAS:
Moradias Vitalícias
Casa com dois quartos, sala, cozinha, banheiro, copa, abrigo para carro.
A construção é feita pelo Lar. Houve uma campanha, em que engenheiros
e arquitetos de Piracicaba ofereceram o projeto, todos compreendendo em
média 60 a 70 metros quadrados de construção. Porém, alguns morado-
res optaram por casas com 140 metros quadrados. Sistema de comodato.
A primeira casa em 1973, onde mora a sra. dra. Alaides Puppin Ruschel.
Flats
Em 2008 um projeto de 65 flats, de 26 a 52 metros quadrados cada flat.
INICIATIVAS GOVERNAMENTAIS E SOCIAIS SOBRE MORAR 60 MAIS 301
Pavilhões:
Pavilhão Vargas
Pavilhão Madalena
Pavilhões que atendem munícipes idosos, que não podem ser cuidados
pela família (não moradores do Lar) e moradores dos chalés e flats que
tenham perdido autonomia e independência e não dispõem de cuidados
particulares.
Pavilhões Filantrópicos:
Pavilhões Luciano Guidotti 1 e 2 – abrigam homens, na maioria vindos
de situação de rua, idosos que já não tinham condições de morar sozinhos,
outros com rompimento de vínculo familiar.
Pavilhão Doutor Luís Gonzaga de Campos Toledo e Pavilhão Valentina
Nogueira de Toledo - abrigam mulheres cujas famílias não têm recursos,
algumas recebem Benefício de Prestação Continuada, BPC, e mulheres que
vieram de situação de rua.
Funcionamento:
Administrado por uma diretoria e um conselho, possui departamentos
- pessoal, jurídico, setor de compras. Serviço social, médico, odontológico,
serviço de fisioterapia, orientados por professores, estagiários voluntários.
Funcionários:
Possui equipe de funcionários seguindo a legislação, composta de mé-
dicos, enfermeiros, cuidadores, fisioterapeuta, educadora física (orienta as
atividades), assistentes sociais, nutricionistas, cozinheiras, ajudantes de co-
zinha, copeiras, equipe de limpeza, parte administrativa, jurídica, atendi-
mento ao público, além de voluntários cadastrados.
Atendimento:
Além de todo o cuidado das equipes de profissionais, existe serviço gra-
tuito de remoção do idoso até um dos hospitais da cidade. Esse serviço, se de
urgência, funciona 24 horas. Sempre haverá alguém do Lar acompanhando
o idoso, independentemente de já ter uma equipe no veículo de remoção.
302 SEÇÃO 4
Chalés
Flats
Chalés:
• 38 chalés com casais
• 76 chalés com um morador
Total - 170 pessoas
Flats:
• Flats individuais: 27 moradores
• Flats coletivos: geralmente duas pessoas
Total: 41 moradores
• dois pavilhões individuais: 72 moradores
• quatro pavilhões filantrópicos: 141 moradores
Residem no Lar dos Velhinhos de Piracicaba/Cidade geriátrica: 451
moradores
INSTALAÇÕES
Capela
Doada pela família Carmigni, a decoração interior foi feita por artistas
piracicabanos.
Muitos casamentos aqui ocorrem todos os anos.
Lago decorativo
Com 1600m² de espelho d’água
Salão de festas
Amplo salão de festas, 900m², com capacidade para mil pessoas. Já ocor-
reram vários eventos, como festas de casamentos e promoções da cidade.
Por duas vezes a Bienal Internacional de Arte.
304 SEÇÃO 4
Gruta do Milagre
Com 170m², capacidade para 80 fiéis sentados.
Museu
Possui acervo com diversas obras, quadros, esculturas, objetos. Pode ser
visitado com agendamento.
Biblioteca
Dispõe de biblioteca em que os internos podem retirar obras para leitura.
Pavilhão refeitório
Além do refeitório, no pavilhão se localizam copa, cozinha e despensa.
Farmácia Popular
Abriga uma farmácia popular, com toda a infraestrutura, farmacêuti-
co responsável. Nela são distribuídos remédios gratuitamente, mediante
receituário médico. Atende aos abrigados e à população que busca seus
medicamentos.
Local de velório
Um local necessário para que quem ali reside receba as últimas homena-
gens daqueles com quem compartilhou a vida no Lar e com parentes.
Bazar
O bazar possui produtos bem variados, móveis, utensílios domésticos,
roupas, sapatos... A arrecadação é direcionada para suprir necessidades
do Lar.
Atividades:
Hidroginástica
Em piscina coberta, aquecida, temperatura controlada, como os cuida-
dos com a água, as atividades de hidroginástica acontecem três vezes por
semana. São três turmas, em três horários, no total de 50 alunos.
INICIATIVAS GOVERNAMENTAIS E SOCIAIS SOBRE MORAR 60 MAIS 305
Bingo
Colaboração do Rotary de São Dimas.
Objetivos: distração, socialização, concentração e divertimento.
Caminhada
Todas as terças-feiras.
Objetivos: trabalhar locomoção, parte aeróbica, equilíbrio.
Dificuldades encontradas: mais pessoas para ajudar a empurrar cadeiras
de rodas e segurar os que têm problemas visuais.
Forró:
Objetivos: socialização com as pessoas de fora. Diversão e confraternização.
Show da Alegria:
Aos sábados acontecem os shows. Oportunidade para grupo de escolas,
grupos de orações e igrejas compartilharem momentos com os idosos.
Objetivos: socialização, diversão. Encontrar talentos.
306 SEÇÃO 4
Academia ao ar livre:
Academia ao ar livre montada no Lar dos Velhinhos traz uma série de
benefícios aos idosos.
Objetivos: melhoria nas limitações da idade. Os aparelhos são grandes
aliados para ativar as articulações e a força muscular, deixando os idosos
com o corpo mais resistente. Isso ameniza o impacto de uma queda e evita
dores na coluna, ombros e articulações.
Quadra desportiva
Quadra coberta
Objetivos: atividade física recreativa, atrativa e adaptada. Com jogos de
voleibol e basquete.
INICIATIVAS GOVERNAMENTAIS E SOCIAIS SOBRE MORAR 60 MAIS 307
Festas:
Festa de aniversário nos pavilhões masculino e feminino
Objetivos: resgatar a criança interior, momentos de emoção ao lem-
brar dos aniversários, de situações felizes da vida, com músicas para
alegrar o ambiente.
Festas temáticas
Páscoa, Dia das Mães, Dia dos Pais, comemoradas com festas ou passeios.
Almoço de Natal
Para todos os moradores do Lar, especialmente para os pavilhões. Todos
os anos com a generosidade dos parceiros: João Tobias e família de Egydi-
nho Mauro, que fazem o churrasco. Diversas pessoas da cidade doam sor-
vetes, bolos e refrigerantes. Logo após há a entrega de lembrancinhas pelo
Papai Noel. Os idosos dançam e se divertem.
Passeios
Uma vez por mês fazem passeio na cidade, teatro, cinema, SESC ou cida-
des vizinhas - Itu, Americana ou Águas de São Pedro.
Colônia de férias
O Lar dos Velhinhos possui uma Colônia de Férias localizada na cidade
de Praia Grande, litoral de São Paulo. Uma vez por ano fazem excursão de
uma semana para a colônia.
Muitos idosos que moram nos pavilhões têm a oportunidade de ver o
mar pela primeira vez.
Diferentes velhices
As diferentes velhices convivem no Lar dos Velhinhos de Piracicaba. Vá-
rias histórias de vidas. As mais simples, dos que vivem nos pavilhões filan-
trópicos e aqui encontraram um lar. Eram moradores em situação de rua. Há
ainda professoras, doutores, altos executivos de grandes empresas nacionais
e estrangeiras, que construíram o chalé, além dos moradores dos flats.
308 SEÇÃO 4
Trechos da entrevista:
Em que ano a senhora prestou o vestibular?
Em 1951, me formei em 1955 como engenheira agrônoma.
A senhora chegou a fazer cursos fora do Brasil?
Fiz o meu Master of Science nos Estados Unidos, na Purdue University
Soil Science. Quando fomos já tínhamos quatro filhos, o mais novo com sete
anos. Permanecemos lá por dois anos e pouco. Meu marido fez PhD. Quan-
do voltei fiz doutoramento na Esalq. Aí fui trabalhar no Cena, onde perma-
neci por dez anos. Trabalhava com microbiologia. Voltei para a Embrapa,
ali permaneci por mais dez anos. Tive projeto durante 12 anos, ia a Viena
representar o Cena.
Quando a arte passou a ser uma atividade para a senhora?
Começou quando estava para me aposentar em Goiás.
INICIATIVAS GOVERNAMENTAIS E SOCIAIS SOBRE MORAR 60 MAIS 309
Norbert Brusche
Programa Piracicaba Histórias e Memórias
Jornalista e radialista
Entrevista publicada na Tribuna Piracicabana - 25 de julho de 2015.
http://blognassif.blogspot.com/
Trechos da entrevista:
O que o trouxe para o Lar dos Velhinhos?
Justamente pelo Lar ter estrutura para abrigar idosos. À medida que a ida-
de avança sentimos que a saúde já não é mais a mesma. Há o risco de ne-
cessitar de um sistema de saúde. Como o que tem no Lar: aqui há médicos,
enfermeiros, cuidadores. Viemos para o chalé que estamos ocupando, mas
temos um contrato onde está escrito que no dia em que precisar iremos
para um pavilhão onde teremos todo o suporte que precisarmos: de saúde,
tratamento e o que for necessário. Hoje, como somos autônomos no sentido
de não depender de enfermeiros, cuidadores, vivo aqui como se estivesse em
um condomínio fechado. Tenho o meu carro e tenho toda a minha liberdade.
O que o Lar dos Velhinhos representa para Piracicaba?
Em primeiro lugar é uma entidade sui generis, no sentido de ter aqui
uma Cidade Geriátrica, há quase 500 idosos que são seus moradores. Em se-
gundo lugar, ele tem uma estrutura para atender a idosos que impressiona.
Não parece, mas esta entidade tem 215 funcionários.
O senhor acredita que a sociedade piracicabana vê no Lar dos Velhinhos
uma entidade representativa, tanto quanto seus valores maiores, como o Rio
Piracicaba, a Escola de Agronomia, Esporte Clube XV de Novembro de Pi-
racicaba, uma tradição tão forte que motivaria a população a ter orgulho do
Lar dos Velhinhos?
Isso foi a primeira coisa que me chamou a atenção quando vim para
Piracicaba. Ao perguntar a alguém se conhecia o Lar dos Velhinhos, perce-
beu-se no piracicabano exatamente esse orgulho. Como é uma Cidade Ge-
riátrica e é inusitada, diria que até na América do Sul há motivo de orgulho
para o piracicabano.
O fato de o Lar cuidar do bem-estar dos seus abrigados, da higiene, e ter
um ambiente sanitariamente saudável passa a imagem de um local provido
de muitos recursos?
Como temos todo um sistema de saúde, não digo que temos um ambien-
te hospitalar, mas sim um ambiente saudável. As pessoas que moram aqui
cuidam das próprias casas.
O senhor ocupou cargos de alto nível em multinacionais. Ao analisar o
currículo de um candidato, o fato de ser voluntário em alguma entidade é
importante?
Muito importante. Dir-se-ia que se pode dividir as pessoas em egocêntricas
e altruístas. No momento em que está contratando uma pessoa para trabalhar
na empresa, se você percebe que ela é do perfil egocêntrico, não terá muita
facilidade em relacionar-se com os outros. Terá dificuldade em formar um
grupo. Vai se tornar alguém que quer levar vantagem em tudo, em detrimento
dos interesses da empresa. Já uma pessoa altruísta é o contrário. Participa dos
grupos de trabalho, e comprovadamente as equipes de trabalho produzem
INICIATIVAS GOVERNAMENTAIS E SOCIAIS SOBRE MORAR 60 MAIS 311
Foto: Inês Rioto. Casal Norbert e Eunice Brusche moram na casa número 36
Considerações finais
Para o pessoal de poder aquisitivo maior o Lar é praticamente um condo-
mínio fechado. E para os que não têm nenhum recurso, é um pensionato, con-
forme as disponibilidades da Instituição. No Lar não falta nada do que é básico.
Lar dos Velhinhos de Piracicaba, primeira Cidade Geriátrica do Brasil
tem característica própria. Convivem pessoas de classes e camadas sociais
e econômicas bem distintas, pessoas com altíssimo nível cultural, médicos,
engenheiros, cientistas, pesquisadores, alguns foram executivos de grandes
multinacionais, artistas consagrados e pessoas de vida comum. Muitas pes-
soas idosas encontram no Lar o seu último refúgio, aqueles que antes sem
abrigo são acolhidos.
O maior diferencial do Lar dos Velhinhos de Piracicaba que o torna
único é ter quatro pavilhões filantrópicos para idosos dependentes e ser
um condomínio com chalés e flats onde moram idosos com autonomia
e independência.
312 SEÇÃO 4
Referências bibliográficas
1. Jornal Tribuna Piracicabana - http://blognassif.blogspot.com/
INICIATIVAS GOVERNAMENTAIS E SOCIAIS SOBRE MORAR 60 MAIS 313
AGERIP
Qualidade de vida a vida toda
Maria Cândida Pereira Azem
De um sonho à realidade
Em meados da segunda metade do século passado, um grupo de 19 ami-
gos, preocupados como seria a vivência de sua maturidade, resolveu se unir
e pensar em algo que abrangesse todos os que se interessassem em ter qua-
lidade de vida no envelhecer.
Foi então que em 9 de abril de 1975 conseguiram reunir em assembleia
para aprovação do primeiro Estatuto Social da Agerip – Associação Geronto-
geriátrica de São José do Rio Preto.
Durante dois anos, conseguiram interessados em adquirir cotas, para
comprarem uma área e construir a sede.
Alguns meses após a aquisição do imóvel, o grande idealizador morreu,
permanecendo 18 anos totalmente inativa a Agerip.
Em 1995 assumiu a presidência um dos associados, com a incumbência
de vender o imóvel e distribuir o valor entre todos. Mas já existia uma cláu-
sula pétrea no Estatuto Social: “Em caso de dissolução da Associação, tudo
deverá ir para uma instituição congênere”.
Diante da situação, mais uma vez um grupo de associados se uniu, li-
derados pelos irmãos José Eduardo Pereira e Maria Cândida Pereira Azem.
Houve um grande estudo para ser viabilizada a tão desejada comunidade.
314 SEÇÃO 4
Estrutura
316 SEÇÃO 4
Estrutura administrativa
Conselho Deliberativo
O Conselho Deliberativo é formado por 25 membros efetivos e dez su-
plentes, com mandato de dois anos, eleitos pela Assembleia Geral Ordinária.
Diretoria Executiva
É de responsabilidade da Diretoria Executiva administrar a Associação de
forma a atender suas finalidades e disposições estatutárias e regimentais.
Cumprir e fazer cumprir o Estatuto, o Regimento Interno, os Regulamentos
e Normas, Instruções Complementares e Resoluções do Conselho Delibera-
tivo, da Assembleia Geral e da própria Diretoria Executiva. Apresentação de
relatórios administrativos e financeiros para análise do Conselho Deliberati-
vo. Organizar o quadro de pessoal e fixar as funções e remuneração de cada
cargo. Admitir, premiar, licenciar, punir e demitir funcionários, observadas
as disposições legais em vigor, entre outras. O mandato é de dois anos. Ao
término de cada período há nova assembleia para eleição.
Em 2002 concretizamos o sonho - mudamos para nossa sede, ainda cons-
truída de forma singela, apenas com a área administrativa, restaurante e
espaço de convivência.
Atualmente a associação tem 161 moradias distribuídas em sete alquei-
res: 32 apartamentos (quarto com banheiro de 30m²), 31 suítes (63,55m²) e 98
chalés (mínimo de 60m² e máximo de 160m²), construídas na modalidade de
comodato e seguindo regras de acessibilidade. Ainda há disponibilidade de
terrenos (400m²) para construção de casas em área com toda a infraestrutu-
ra (rede de água, energia elétrica e telefonia). O conjunto de infraestrutura
tem estação de tratamento de esgoto, capaz de suportar 6 mil pessoas.
• Possui ampla área de convivência que interliga as salas de enferma-
gem, fisioterapia, acupuntura, nutricionista, secretaria, departamento
financeiro, refeitório, academia, piscina, biblioteca, auditório, canti-
nho da beleza, espaço-dia, apartamentos e suítes. Na área de convi-
vência há o acesso ao bosque, coreto, chalés e represa, interligados por
amplas passarelas, usadas para caminhadas.
INICIATIVAS GOVERNAMENTAIS E SOCIAIS SOBRE MORAR 60 MAIS 317
Cuidados e bem-estar
Há profissionais (parceiros ou terceirizados) que oferecem serviços de
fisioterapia, pilates, acupuntura, massagem, cabeleireiro, podóloga e mani-
cure, depilação, designer de sobrancelha e aula de informática.
Eventos
Espaço integração
Um local para os associados permanecerem durante o dia (das 8h às
17h), de segunda a sexta-feira, com várias atividades. Há acompanhamento
da equipe multidisciplinar; apoio da enfermagem; atividades físicas (hidro-
ginástica, natação, musculação, ginástica sentada, equilíbrio e dança); aula
de artesanato; café da manhã; café da tarde; cuidador compartilhado; fisio-
terapia; acompanhamento nutricional.
Suítes
Chalés
O modelo (em meio a áreas verdes e jardins) teve seu início em 2009,
destinado aos associados ativos e independentes, que gostam de maior pri-
vacidade e tranquilidade, e desejam se preparar para viver a maturidade no
local de sua moradia.
É preciso investir na construção da casa em forma de comodato, com
a vantagem de morar em um residencial com segurança. Desfruta-se e se
participa de todas as atividades de lazer e prevenção da saúde e bem-estar.
Fauna
Por estar localizada em uma área rural, os moradores convivem com os
animais nativos que já estavam aqui anteriormente. São várias espécies de
pássaros silvestres, como tucanos, bem-te-vis, maritacas, corujas, pardais,
beija-flores, patos, gansos e seriemas.
Todos coexistem pacificamente com dezenas de macaquinhos nativos,
lagartos, teiús e assim por diante.
322 SEÇÃO 4
Espaço dia
Um local para os associados moradores e não moradores permane-
cerem durante o dia (das 8 às 17 horas), de segunda à sexta-feira (com
pequenos custos):
• Saúde (apoio da enfermagem, acompanhamento nutricional, acompa-
nhamento terapeuta ocupacional, acompanhamento psicológico, cui-
dador compartilhado e fisioterapia);
• Atividades físicas (hidroginástica, natação, musculação, ginástica sen-
tada, equilíbrio e dança);
• Aula de artesanato;
• Café da manhã;
• Café da tarde;
• Serviço suspenso por conta da Pandemia
Depoimentos:
“Muitos sonhavam, mas poucos acreditavam. Porém, bastaram a fé e a
motivação dos poucos que trabalharam e perseveraram por mais de quatro
INICIATIVAS GOVERNAMENTAIS E SOCIAIS SOBRE MORAR 60 MAIS 323
Equipe multidisciplinar
A AGERIP conta com um time de profissionais altamente capacitados
formado por enfermeiras, técnicas e auxiliares de enfermagem, nutricio-
nista, educadora física, psicóloga, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais
e assistente social. Ele atua de formamultidisciplinar garantindo excelência
e segurança no atendimento aos associados.
“A formação da equipe multidisciplinar de saúde foi uma estratégia que
trouxe muitos benefícios para os moradores da AGERIP. Dessa forma, o aten-
dimento tornou –se efetivo e seguro. Além disso, proporcionamos a todos a
possibilidade de redução de custo com procedimentos desnecessários e oti-
mização quanto ao atendimento preventivo e recuperações mais eficientes.”
Milena Codreanski Fochi – Gerente Geral da AGERIP
“O trabalho do assistente social tem o foco no bem-estar do coletivo e
na integração dos indivíduos na sociedade. Através de atendimentos indivi-
duais, familiares e em grupo procuramos mobilizar os indivíduos para que
consigam tomar decisões através do seu próprio esforço. Todo trabalho é
voltado para temática social, um dos principais objetivos é a inclusão, fa-
zendo com que todas as pessoas sejam, verdadeiramente, parte do grupo
social.”
Michele Peres – Assistente social da AGERIP
“As intervenções podem ser realizadas por meio de atendimentos indi-
viduais ou em grupo, cujos objetivos consistem em auxiliar a pessoa idosa a
ter um desempenho ocupacional o mais independente possível, enfatizando
as áreas de autocuidado, do trabalho, cognitivo, do lazer, da manutenção
de seus direitos e papel social, de maneira a gerar uma melhor qualidade e
324 SEÇÃO 4
Referências bibliográficas
1. https://www.agerip.com.br/
INICIATIVAS GOVERNAMENTAIS E SOCIAIS SOBRE MORAR 60 MAIS 325
Definição:
“É uma modalidade de cuidado domiciliar biopsicossocial a pessoas idosas
em situação de fragilidade clínica e vulnerabilidade social, que disponibiliza a
prestação dos serviços de profissionais da saúde e acompanhantes de idosos, para
apoio e suporte nas Atividades de Vida Diárias (AVD) e para suprir outras neces-
sidades de saúde e sociais” (SMS, 2017).
Objetivo e diretrizes:
A equipe realiza ações de assistência integral com o objetivo de desenvol-
ver autocuidado, buscando a manutenção ou melhoria da capacidade fun-
cional e bem-estar e a integração às redes de suporte formais ou informais.
Assim, esta promove a quebra do isolamento e exclusão social, evitando ou
adiando a institucionalização, e auxilia na manutenção e resgate da qualida-
de de vida, autonomia e independência das pessoas atendidas. Para atingir
os objetivos do programa, as equipes devem seguir as seguintes diretrizes
conforme documento norteador (SMS, 2017):
• Assegurar o acesso da pessoa idosa frágil ao sistema de saúde e aos
recursos da comunidade;
• Garantir a inclusão e o acompanhamento das pessoas idosas matricu-
ladas na Unidade de Saúde de referência;
• Propiciar a inserção social da pessoa idosa atendida na comunidade e
a sua participação social;
• Respeitar o espaço de moradia da pessoa idosa, bem como os seus per-
tences pessoais, móveis e utilidades domésticas;
• Incentivar a autonomia e a independência da pessoa idosa atendida;
• Desenvolver uma ética de respeito e dignidade aos valores humanos e,
principalmente, do respeito à individualidade da pessoa idosa;
• Respeitar os valores, costumes e crenças da população atendida, in-
cluindo a opção religiosa;
328 SEÇÃO 4
Planejamento:
O foco do programa é o atendimento domiciliar e as equipes devem ser
planejadas de modo a serem instaladas em local onde exista espaço físico
suficiente para abrigar os profissionais nas reuniões e nos momentos em
que há necessidade de realizar as anotações em prontuários ou para reali-
zação de alguma atividade coletiva e até mesmo individual. Dessa forma, as
equipes estão instaladas preferencialmente em unidades básicas de saúde,
sendo sua abrangência dependente do tempo de deslocamento dos profis-
sionais, o qual não deve exceder em uma hora.
Para o funcionamento adequado das equipes, são necessários equipa-
mentos de apoio à anamnese e ao exame físico e, também, insumos bási-
cos para assistência (EPI). Todo material médico hospitalar necessário para
continuidade dos tratamentos deve ser retirado na UBS de referência de
cada usuário.
Equipe:
Cada equipe de PAI é composta por 17 profissionais com diferentes ní-
veis de formação a saber: 1 assistente social, 1 médico, 1 enfermeiro, 2 téc-
nicos ou auxiliares de enfermagem, 1 auxiliar administrativo, 1 motorista
e 10 acompanhantes de idoso. Destaca-se que cada um desempenha papel
específico na integração do plano de cuidado de cada idoso em atendimen-
to. O quadro 2 apresenta de forma resumida as atividades dos profissionais
integrantes da equipe.
Quadro 2. Atividades desempenhadas pelos profissionais integrantes da equipe de PAI.
Profissional Atividades
• Coordenação técnica de programa.
• Supervisão das ações realizadas levando-se em conta as diretrizes e as
necessidades sociais e sanitárias de seus usuários.
• Realização da avaliação social.
• Desenvolvimento do plano de ação para compor uma rede de apoio, utilizando-
Assistente
se dos recursos disponíveis no micro e macro território, seja através da integração
Social
aos serviços públicos ou da integração com os recursos disponibilizados na
comunidade (rede de suporte formal e informal).
• Supervisão permanente do plano de ação.
• Avaliação da necessidade de reavaliação dos idosos (semestralmente ou
quando necessário).
Médico e • Desenvolvimento de ações de promoção da saúde e prevenção de agravos.
Profissionais de • Realização da avaliação clínica, monitoramento e reabilitação (sempre em
Enfermagem integração com a rede de atenção à saúde conforme os fluxos e protocolos de
(Equipe de encaminhamento vigentes e, sempre mantendo proximidade com a equipe da
saúde) UBS e fazendo a interface com toda a rede de atenção à saúde).
• Desenvolvimento de tarefas de apoio.
Auxiliar • Organização documental.
Administrativo • Realização de contato externo com a rede, usuários e familiares.
• Realização de agendamento e regulação de vagas.
• Transporte exclusivo dos idosos para compromissos externos como realização de
Motorista exames ou consultas com especialistas.
• Transporte de profissionais em territórios de alta periculosidade.
• Desenvolvimento ações diversas em atendimento domiciliares e externos
(passeios, ida a supermercado, farmácia, benefício social, banco, atividades
Acompanhante comunitárias e outras).
de Idosos • Desenvolvimento de ações de prevenção de agravos e promoção à saúde,
respeitando os valores, as crenças e a privacidade da pessoa atendida e, também,
de acordo com o plano de cuidados elaborado em equipe.
Fonte: SMS, 2016
330 SEÇÃO 4
Acesso:
O encaminhamento dos idosos é feito pela UBS, após avaliação multidi-
mensional da pessoa idosa e identificação dos critérios de inclusão no pro-
grama a saber:
• Dependência funcional nas Atividades da Vida Diária (AVD’s) decor-
rentes de agravos à saúde e mobilidade reduzida;
• Dificuldade de acesso aos serviços de saúde;
• Insuficiência no suporte familiar e social;
• Isolamento ou exclusão social; e
• Risco de institucionalização.
INICIATIVAS GOVERNAMENTAIS E SOCIAIS SOBRE MORAR 60 MAIS 331
Plano de Cuidados:
O plano de cuidados (PC) é definido a partir da reunião de equipe que
analisa: fragilidade, vulnerabilidade, especificidade das avaliações, neces-
sidades e desejos relatados pelos próprios idosos e familiares, resgate da
autoestima e pertencimento, determinando:
332 SEÇÃO 4
Desligamento:
O desligamento do programa pode ocorrer por óbito, transferência (mu-
dança de endereço ou institucionalização), a pedido do paciente ou familiar
e alta. Com exceção do óbito, todos os demais casos devem ser feitos paula-
tinamente, integrando a UBS de referência como uma forma de garantir a
continuidade do cuidado.
INICIATIVAS GOVERNAMENTAIS E SOCIAIS SOBRE MORAR 60 MAIS 333
Considerações Finais
O envelhecimento populacional, a situação em que se encontra a socie-
dade brasileira, com dificuldades econômicas crescentes e precarização
das políticas sociais (sobretudo a política previdenciária), e a mudança no
perfil das famílias, nos trazem a necessidade urgente de implantação de
políticas públicas que incluam o cuidado continuado e prolongado. É de
extrema importância que este suporte seja oferecido no âmbito nacional,
visto os índices crescentes de fragilidade e vulnerabilidade nas faixas
etárias mais velhas.
Assim, é necessário que a sociedade civil se organize, participando dos
processos decisórios e determinando a prioridade de atenção integral à
população idosa, para assegurar aos idosos brasileiros dignidade e qualidade
de vida até a finitude.
O Programa Acompanhante de Idosos e o Programa Melhor Cuidado são
exemplos de estratégias de sucesso, mas que carecem de reconhecimento
como política pública federal. A partir deste reconhecimento e, consequen-
temente, do financiamento com recursos federais, será possível ampliar e
garantir a continuidade da assistência, implementando outras estratégias
que possibilitem o acolhimento quando não há mais possibilidade de per-
manência da pessoa idosa em domicílio e quando a institucionalização não
é uma escolha possível e/ou desejável.
Referências bibliográficas
1. ANDRADE, Suzana Carvalho Vaz de et al. Perfil de saúde dos idosos
assistidos pelo Programa Acompanhante de Idosos na Rede de
Atenção à Saúde do Município de São Paulo. Journal Einstein, v. 18,
n. eAO5263, 30 mar 2020. Disponível em: DOI: 10.31744/einstein_
journal/2020AO5263. Acesso em: 8 abr. 2021.
2. AREDES, Janaína S. Relatório de Pesquisa. “Melhorando a efetividade e a
eficiência dos serviços de cuidados sociais e de saúde para idosos”. MRC/
FAPEMIG/NESP E-Fiocruz, Minas Gerais, 2020.
INICIATIVAS GOVERNAMENTAIS E SOCIAIS SOBRE MORAR 60 MAIS 337
p. 95-109, abril 2018. Disponível em: https://www.cadernos.prodisa.fiocruz.br/
index.php/cadernos/article/view/485. Acesso em: 1 abr. 2021.
25. PARANHOS, Denise M; ALBUQUERQUE, Aline; GRRAFA, Volnei. Vulnerabilidade
do paciente idoso à luz do princípio do cuidado centrado no paciente. Saúde e
Sociedade, v. 24, n. 6, outubro 2017. Disponível em: https://www.scielosp.org/
article/sausoc/2017.v26n4/932-942/#. Acesso em: 2 abr. 2021.
26. PMSP, SMS. Documento Norteador: Programa Acompanhante de
Idosos. Documento Norteador: Programa Acompanhante de Idosos, São
Paulo, 2016. Disponível em: https://docs.bvsalud.org/biblioref/sms-sp/2016/sms-
12107/sms-12107-9278.pdf. Acesso em: 1 fev. 2021.
27. SARTINI, Cristina M.; CORREIA, Arlene M. Programa Maior Cuidado: qualificando
humanizando o cuidado. Revista Pensar, Belo Horizonte, v. 31, 2012.
340 SEÇÃO 4
Evolução histórica
Em 1999 celebrava-se o Ano Internacional do Idoso, promovido pela
ONU - Organização da Nações Unidas, e o Papa daquela época, João Paulo
II, para marcar essa celebração da ONU, escreveu a Carta aos Anciãos. Apro-
veitando essa ocasião, foi formulado um pedido à Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil - CNBB, para dedicar uma Campanha da Fraternidade (CF)
à temática do envelhecimento. Diante da mobilização popular e do recebi-
mento de grande quantidade de abaixo-assinados com essa reinvindicação,
a CNBB atendeu ao pedido e, em 2003 lançou a CF com o tema: “Fraternida-
de e as Pessoas Idosas”, e o lema: “Vida, Dignidade e Esperança”.
No ano de 2004, durante a Assembleia Geral da CNBB, os Bispos apro-
varam a proposta de iniciar uma pastoral que se dedicasse às pessoas
idosas. Para organizar, implantar e acompanhar esse processo, foram in-
dicados Dom Aloysio José Leal Pena, como Bispo referencial, e Dra. Zilda
INICIATIVAS GOVERNAMENTAIS E SOCIAIS SOBRE MORAR 60 MAIS 341
Arns Neumann, como Coordenadora Nacional, que, por sua vez, indicaram
a Ir.Terezinha Tortelli como Secretária Nacional. A indicação desses nomes
foi em função de que essas pessoas já vinham acompanhando o programa
voltado às pessoas idosas, dentro da Pastoral da Criança.
Imediatamente após a Assembleia dos Bispos, foi lançada uma consulta
a todas as dioceses do Brasil para identificar em quais já havia algum traba-
lho pastoral voltado às pessoas idosas. Uma vez conhecidos os resultados
dessa consulta, convocou-se a Assembleia de Fundação dessa nova pastoral.
Participaram da mesma, pessoas de 14 Estados, vindas das dioceses que res-
ponderam à consulta e que haviam apresentado um trabalho pastoral rela-
tivo à temática do envelhecimento. Essa Assembleia aconteceu nos dias 3 a
5 de novembro de 2004, com aprovação dos Estatutos e definição do nome
PASTORAL DA PESSOA IDOSA - PPI, sendo o dia 5 de novembro de 2004 a
data oficial de fundação.
As discussões na definição do NOME dessa nova pastoral, foram: não
defini-la por uma faixa etária, por exemplo, terceira idade. Primeiro, que
estaria numa forma impessoal; e segundo, que com o avanço da expectati-
va de vida, previa-se que não demoraria a serem introduzidas outras faixas
de idade: quarta idade, quinta... e mais. E outra discussão acalorada, foi a
de não chamá-la de pastoral do idoso, porque dizia-se, estaria se excluindo
o lado feminino, a idosa. Assim, definiu-se pelo nome: Pastoral da Pessoa
Idosa. Com realce na palavra PESSOA.
Interessante notar que nessa época já existia a Política Nacional do Ido-
so, o Conselho Nacional dos Direitos do Idoso - CNDI, o Estatuto do Idoso.
E passados alguns anos, exatamente no ano de 2006, por ocasião da reali-
zação da I Conferência Nacional, seria chamada de I Conferência Nacional
dos Direitos do Idoso. Mas, por influência e persistência da representante
da Pastoral da Pessoa Idosa no CNDI, que na ocasião estava como conse-
lheira titular a Irmã Terezinha Tortelli, convenceu a que fosse adotado o
nome de I Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa – CNDPI. E
assim se sucederam outras Conferências Nacionais, sempre considerando
a Pessoa Idosa. Pode parecer um detalhe pequeno essa questão do nome,
mas para nós da PPI, traz a grande importância da valorização, da conside-
ração, do respeito, da inclusão, do resgate da dignidade do aspecto femini-
no do envelhecimento.
Continuando na linha do tempo, já no início de 2005 foi convocado um
grupo de pessoas, representando todas as regiões do Brasil: sul, sudeste,
centro oeste, norte e nordeste, com formação na área do envelhecimento,
para traçar as linhas mestras da Pastoral e pensar estratégias de implanta-
ção e de expansão dessa nova pastoral. Pois agora se tratava de um novo
Organismo, uma nova Pastoral, e não mais um programa dentro de outra
Pastoral. Por isso era necessário investir na formação de voluntários que
342 SEÇÃO 4
Metodologia
O método de trabalho da Pastoral da Pessoa Idosa baseia-se na Palavra
de Deus, no Evangelho de Marcos 6,34–44, a descrição da multiplicação dos
pães e dos peixes. Neste texto percebe-se uma sequência de passos utiliza-
dos por Jesus e nos quais a PPI se inspira no seu dia a dia. Os passos são: Ver
– Julgar – Agir – Avaliar - Celebrar.
VER: ao sair da barca, Jesus viu uma grande multidão e teve compaixão. O
Líder comunitário da PPI, ao chegar numa nova comunidade, vê a realidade
em que vive a pessoa idosa em seu contexto familiar, comunitário, sócio
assistencial. Muitas vezes têm os mesmos sentimentos de Jesus: compaixão,
por ver tantas carências vividas por nossas pessoas idosas.
INICIATIVAS GOVERNAMENTAIS E SOCIAIS SOBRE MORAR 60 MAIS 343
JULGAR: não quer dizer tecer um julgamento, muito pelo contrário, é bus-
car uma iluminação, olhar ao redor e ver quais possibilidades de solução
para cada problema encontrado. Assim como fez Jesus junto àquela multi-
dão que, após uma longa jornada e chegando o anoitecer, não quis despedir
aquela gente sem dar-lhe de comer. Provocou os seus discípulos a ir ver o
que tinham para saciar a fome das pessoas. Esse “vão ver”, significa quais
recursos temos¿ É inteirar-se e buscar conhecer os serviços que estão dis-
poníveis na comunidade para dar suporte às necessidades da pessoa idosa
visitada. E iluminado pela Palavra de Deus, procura compreender cada si-
tuação antes de agir.
AGIR: Jesus pediu que a multidão se organizasse em grupos de 100 e de 50
e se sentassem. Jesus nos ensina que para qualquer atividade é necessário
organização, caso contrário pode virar uma bagunça. Seguindo esse passo
no método de Jesus, a PPI quando chega num novo local para a implantação
ou mesmo para a expansão onde já estiver presente, primeiro faz o reco-
nhecimento da área. Calcula quantos voluntários são necessários para esse
tamanho de comunidade. Quantas quadras, ruas, becos, conjuntos etc. A
ação concreta para a PPI se traduz na visita domiciliar mensal, de forma
sistemática e contínua.
CELEBRAR: Jesus tomou os 5 pães e os 2 peixes que lhe haviam sido apre-
sentados, ergueu os olhos ao céu, abençoou-os, deu-os aos seus discípulos e
estes os distribuíram às pessoas, nos grupos que se haviam organizado. O ce-
lebrar para a PPI, acontece em muitos momentos, mas de maneira especial
na reunião mensal, que se dá entre os Líderes comunitários de cada comu-
nidade. Ali celebram-se as conquistas, os avanços, os resultados e também
os aniversários de cada um dos Líderes que faz parte desta comunidade.
AVALIAR: Após todos terem sido servidos, comerem e ficarem saciados, Je-
sus pediu aos discípulos que recolhessem os pedaços dos pães e peixes que
haviam sobrado. Esse é um detalhe que não passa despercebido para a PPI. A
avaliação se dá a cada mês na comunidade, onde os Líderes comunitários, em
uma reunião para reflexão e avaliação das atividades desenvolvidas no mês
anterior, elaboram a FADOPI - Folha de Acompanhamento Domiciliar da Pes-
soa Idosa, como a recolher o resultado. A FADOPI, elaborada e enviada à Sede
Nacional todos os meses, alimenta o Sistema de Informação da PPI.
Este método é dinâmico porque concluída a missão de um mês, nova-
mente o Líder comunitário revê a realidade, busca compreender as novas
situações, procura novas estratégias de ação, reavalia e volta a celebrar as
conquistas; mantém-se atento e articulado, participando do controle social,
sempre com o foco na construção da rede local de apoio às pessoas idosas
daquela comunidade.
As capacitações são contínuas e a Pastoral da Pessoa Idosa possui material
didático próprio de capacitação. São reunidos grupos de pessoas interessadas
344 SEÇÃO 4
a Lei n.10.741 que dispõe sobre o Estatuto do Idoso, regulamenta uma série
de direitos, como o direito à vida, à saúde, à educação, à cultura, ao esporte,
ao lazer, à assistência e previdência social, à habitação e transporte. E colo-
ca a proteção social à velhice como um direito fundamental.
A Política Nacional de Saúde do Idoso foi revisada pela Portaria nº
2.528/2006, reafirmando os princípios da Política Nacional do Idoso no âm-
bito do SUS - Sistema Único de Saúde. As suas principais diretrizes são:
promoção do envelhecimento saudável; manutenção da autonomia e da ca-
pacidade funcional; assistência às necessidades de saúde da pessoa idosa;
reabilitação da capacidade funcional comprometida; apoio ao desenvolvi-
mento de cuidados informais.
Não resta dúvida de que iniciativas importantes foram empreendidas no
sentido de melhorar as condições de vida da população idosa. O Benefício de
Prestação Continuada - BPC, da Assistência Social é um exemplo disso. É o be-
nefício de um salário mínimo mensal pago às pessoas idosas com 65 (sessenta
e cinco) anos ou mais de idade, que não dispõe de outra aposentadoria ou ou-
tra fonte, conforme o estabelecido no artigo 34 do Estatuto do Idoso. Estudos
mostram que há muitos ganhos na vida das pessoas idosas, das famílias e até
mesmo na comunidade, a partir da concessão desse benefício.
Apesar das dificuldades enfrentadas por uma parcela enorme de pes-
soas idosas fragilizadas e que vivem com baixos recursos econômicos, ob-
servamos que houve avanços nas últimas décadas. O segmento das pessoas
idosas tem despertado interesse de um número crescente de profissionais.
Esta aproximação tem lhe proporcionado ganhos, quando o idoso é acom-
panhado por toda a rede de serviços; a pessoa idosa se sente mais forta-
lecida emocionalmente, descobre novas possibilidades de vivenciar o seu
próprio envelhecer.
É evidente que há muito a ser conquistado pelas pessoas idosas e a sua
participação é fundamental para efetivação de direitos, pois, como nos en-
sina Bobbio (2004), os direitos humanos não nascem todos de uma vez e
nem de uma vez por todas. Assim, com tantas conquistas, continuamos ca-
minhando juntos, na garantia do envelhecimento digno, como Líderes da
Pastoral da Pessoa Idosa.
Ao longo da história, percebe-se que as pessoas idosas eram respeita-
das e valorizadas nos grupos ou comunidade, que atribuíam importância
à história do seu povo e da possibilidade de transmiti-lo para as próximas
gerações. As pessoas idosas tinham a função de manter vivas as tradições, as
crenças, os costumes e os valores dos seus antepassados. Atualmente tam-
bém há famílias que valorizam a convivência amorosa entre avós e netos,
a troca entre gerações. Mas às vezes as pessoas idosas são desrespeitadas,
sofrem maus tratos. Nessa situação é preciso que as pessoas idosas e os Lí-
deres da PPI procurem orientação de profissionais da Assistência Social, da
346 SEÇÃO 4
Considerações Finais
É notável o grande impacto positivo que o trabalho da Pastoral da Pessoa
Idosa causa na vida de cada pessoa idosa visitada e nas comunidades onde
atua. Além de possibilitar a melhora na qualidade de vida da pessoa ido-
sa acompanhada, os Líderes comunitários conseguem realizar articulações
para o acesso dos direitos dessas pessoas por meio dos serviços disponibi-
lizados aos idosos em cada Município, de maneira que a PPI se torna um
ponto desta rede de proteção e garantia de direitos.
Outro fator de destaque, conforme mencionado acima está ligado à sig-
nificativa economia de recursos públicos que este trabalho de Pastoral é
capaz de gerar. Um trabalho de prevenção, de estímulo de independência
por maior tempo possível das pessoas idosas, de valorização da vida, de in-
centivo à participação nos espaços onde possam desfrutar de momentos de
alegria e convivência familiar e comunitária.
Os líderes voluntários, além de cumprirem com um papel fundamental
fazendo mensalmente as visitas domiciliares para as pessoas idosas, tam-
bém são motivados a ocuparem espaços onde são discutidos e deliberados
os direitos das pessoas idosas, como, por exemplo, nos Conselhos Munici-
pais, Estaduais e Nacional dos Direitos das Pessoas Idosas.
Desta forma, a Pastoral da Pessoa Idosa torna-se cada vez mais uma ins-
tituição que fomenta os direitos da Pessoas idosas, tendo possibilidade de
replicar sua metodologias para muitos outros países de cultura similares
Referências bibliográficas
1. BIBLIA SAGRADA. Tradução da CNBB.7.ed. Cachoeira Paulista: Edições CNBB;
Editora Canção Nova, 2008.
2. BOBBIO, Norberto. A Era dos direitos. (trad. Carlos Coutinho), Rio de Janeiro:
Elsevier, 2004.
3. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de Outubro de
1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/
ConstituicaoCompilado.htm. Acesso em: 12 jan. 2021.
4. ______. Lei Federal Nº 8.742, de 7 de Dezembro de 1993. Lei Orgânica da
Assistência Social. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/
L8742compilado.htm> acesso em: 12 jan. 2021.
5. ______. Decreto no 1.948, de 3 de julho de 1996. Regulamenta a Lei no 8.842, de
4 de janeiro de 1994, que dispõe sobre a Política Nacional do Idoso, e dá outras
providências. Diário Oficial da União, Brasília, 1996.
INICIATIVAS GOVERNAMENTAIS E SOCIAIS SOBRE MORAR 60 MAIS 351
de conhecimento por meio da oralidade ainda ocorre e pode ser muito efeti-
va e prazerosa entre pessoas idosas negras. Canções repletas de mensagens
otimistas ou de lamento sobre o período da escravização e das condições de
trabalho vivenciadas ainda hoje, além de crenças e práticas sobre o preparo
de alimentos e cuidados com a espiritualidade podem ser exemplos da impor-
tância da sensação de pertencimento a um local de moradia e de tudo o que
ali existe, material ou imaterial. Pode ser um espaço de trocas afetivas, da avó
trançando o cabelo da neta, do avô contando um fato do passado e querendo
transmitir uma mensagem sobre a vida, as rodas de samba no quintal que
sempre agregam familiares, vizinhos e amigos e que transmitem a alegria que
há no compartilhamento de comida, bebida, do cantar junto e celebrar o ani-
versário, o casamento, a casa reformada e outros tantos bons motivos.
As moradias, nos territórios negros, podem ser chefiadas por idosas ou
idosos e, quando falamos da moradia de idosas negras estamos falando do
papel que muitas assumem, de pai e mãe de seus netos e netas, dadas as
violências que atravessaram a vida de seus filhos e filhas. E o ser mãe ou
pai novamente pode nem sempre ser prazeroso. Para essa pessoa idosa, há
a presença de incapacidades funcionais, o “não plano” de, com 60 anos ou
mais, ter que cuidar de uma outra criança em tempo integral, dificuldade
para a busca por cuidados e tratamentos não médicos, a limitação para no-
vos aprendizados e para novas relações de amizade ou de conjugalidade. Por
outro lado, para muitas pessoas idosas pode ser uma nova oportunidade de
oferecer aos netos e bisnetos condições de vida que, na sua fase adulta, o tra-
balho e a renda as impediam de estar juntas e construindo uma vida melhor
para seus filhos e filhas.
A moradia também pode ser o local de uma pessoa só e, ainda assim,
o estar sozinho ou sozinha pode ser uma escolha ou a única alternativa se
analisarmos pela perspectiva étnica-racial que aponta para desigualdades
e iniquidades construídas ao longo do tempo. Enquanto que para pessoas
idosas brancas o viver sozinha pode estar associado a uma escolha e que
tem a presença de uma rede social e muitas pessoas residindo próximas a
ela, respeitando sua autonomia e independência financeira, para as pessoas
idosas negras o viver sozinha se assemelha a uma solidão, dada as perdas
familiares ao longo da vida: filhos, filhas e cônjuge, por mortes geradas por
causas externas (como violência), não naturais (como parto) e injustas dian-
te das evidências científicas conhecidas, como infecções.(Batista, Escuder e
Pereira, 2004). Reforça essa condição de morar sozinha (solitário ou solitá-
ria) ou com uma rede social bem reduzida a condição de trabalho que pes-
soas negras tiveram ao longo da vida, que inviabilizou ou dificultou a criação
de laços de amizade, de conjugalidade e ter filhos.(Silva et al., 2019)
Na sequência, serão abordados estes e outros aspectos na perspectiva
do envelhecimento e das relações étnico-raciais em três destes padrões es-
356 SEÇÃO 5
O quilombo
O quilombo hoje é um dos maiores símbolos de resistência do povo ne-
gro brasileiro de origem africana. É nele onde se encontra muito da his-
tória do Brasil e não somente das pessoas negras. Quilombos representam
a moradia de um povo que, desde o início do processo de colonização do
Brasil, resistiu e buscou estratégias para o enfrentamento da escravização
de pessoas vindas de diversas regiões do continente africano. Atualmente,
assim como os indígenas, os quilombolas enfrentam dificuldades para o re-
conhecimento de suas terras, da sua cultura, dos seus valores e das garantias
para uma cidadania plena, pois suas áreas são cobiçadas pelos setores imo-
biliário, da agricultura e da pecuária. (TAVEIRA, 2020)
Figura 2. Imagem de moradia de um dos quilombos do estado de Minas Gerais
Fonte: https://www.cedefes.org.br/wp-
content/uploads/2017/07/QU29_001.jpg
VELHOS E NOVOS DESAFIOS SOBRE LONGEVIVER 359
2 http://www.incra.gov.br/pt/quilombolas#:~:text=Por%20for%C3%A7a%20do%20Decreto%20
n%C2%BA,%2C%20social%2C%20econ%C3%B4mica%20e%20cultural.
360 SEÇÃO 5
Figura 3. Evento festivo de uma comunidade quilombola do estado de Minas Gerais, Brasil
Fonte: https://www.cedefes.org.br/wp-content/uploads/2017/07/QU27_002.jpg
Figura 4: Evento festivo de uma comunidade quilombola do estado de Minas Gerais, Brasil
Fonte: https://www.cedefes.org.br/wp-content/uploads/2017/07/QU32_001-1.jpg.
(Acesso em 24/10/2020)
Por lei, o Decreto no. 4887 de 2003,3 as terras ocupadas pelos quilom-
bolas pertencem a eles. Entretanto, o que se observa é a dificuldade dessa
legitimação e da eficiência de políticas e programas públicos nesses terri-
tórios, causando prejuízos à vida social, infringindo a cidadania de todos e
comprometendo a qualidade do envelhecimento também. Apesar do reco-
3 http://www.incra.gov.br/pt/quilombolas#:~:text=Por%20for%C3%A7a%20do%20Decreto%20
n%C2%BA,%2C%20social%2C%20econ%C3%B4mica%20e%20cultural.
VELHOS E NOVOS DESAFIOS SOBRE LONGEVIVER 361
Fonte: https://www.cedefes.org.br/wp-content/uploads/
2017/07/QU31_002-1.jpg (Acesso em 24/10/2020)
Fonte: https://www.cedefes.org.br/wp-content/uploads/
2017/07/QU31_001-1.jpg (Acesso em 24/10/2020)
362 SEÇÃO 5
O cortiço
Os cortiços foram e continuam sendo territórios negros também. Para a
questão do envelhecimento, no entanto, destaca-se de início que este nem
sempre possui as adequações necessárias ou planejadas para a ocupação de
pessoas idosas, uma vez que uma das razões atuais para a sua existência é a
proximidade com o local de trabalho dos seus residentes, na maioria jovens
e adultos, como forma de reduzir custos com deslocamentos e oferecer boas
condições de saúde e educação para seus filhos e filhas.(Markun e Roizenbli,
2018). Nos cortiços muitas vezes ocorre “uma superpopulação” dentro de
uma habitação. Um cômodo tem mais de uma função e, na perspectiva de
análise deste capítulo, é também lugar que, mesmo diante de dificuldades e
restrições, permite o convívio em comunidade onde emoções e responsabi-
lidades são compartilhadas.
Os espaços reduzidos dos cômodos, no entanto, podem ser uma grande
barreira para a vida de pessoas idosas comumente afetadas por incapaci-
dades funcionais. E aqui cabe relatar que dados sobre o inquérito Saúde e
Bem-Estar de Idosos (SABE) já apontou que, funcionalmente, idosos pretos
e pardos residentes no município de São Paulo possuem maior prevalência
de incapacidades funcionais (Silva, 2017) e isso pode dificultar o bem-estar
dessas pessoas quando residentes nos cortiços. A vantagem da proximidade
com os centros urbanos que os cortiços possuem se contrapõem aos altos
valores de compra ou locação das unidades. Em documentário realizado
pelo Serviço Social do Comércio (Sesc), uma unidade chegava a custar R$ 70
mil reais.(Markun e Roizenbli, 2018)
O compartilhamento de áreas comuns pode ser prazeroso em termos
afetivos, de relacionamentos, mas também ser o palco da precariedade da
infraestrutura, da reduzida área de lazer, do não respeito ao silêncio ou
VELHOS E NOVOS DESAFIOS SOBRE LONGEVIVER 363
privacidade que uma pessoa ou família quer. Pode também ser um local da
violência compartilhada, aprendida e naturalizada, desde a infância. Pen-
sando o envelhecimento nesses espaços, agravos como quadros demenciais
e comprometimentos físicos severos da pessoa idosa, como hemiplegia, tor-
nariam o convívio familiar e em comunidade muito difícil, pois muitas vezes
são necessárias mudanças ambientais. A impossibilidade de realização ou a
não concordância com outros residentes aumentariam as limitações dessa
pessoa idosa. Pode-se também destacar a dificuldade de cuidados mais in-
tensivos para pessoas idosas que residem nesses espaços, já que a lógica de
funcionamento parece ainda estar mais centralizada para a vida externa,
isto é, adultos e jovens na rua em busca de oportunidades.
Figura 8. Foto de um cortiço do município de São Paulo, Brasil
Figura 10. Foto de um cortiço do município de São Paulo da Rua Serra de Jairé,
janeiro de 2010, São Paulo, Brasil
A favela
As favelas são moradias frequentes na maioria dos municípios nacionais
e são resultado de diversos processos ao longo do tempo, como o êxodo ru-
ral, arrocho salarial, especulação imobiliária, falta de assistência social e
oferta de residências próximas aos grandes centros da cidade. As favelas
têm recebido diversas definições e, atualmente, são chamadas de aglomera-
dos subnormais4 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Essa dificuldade para a definição já mostra a complexidade desse espaço
urbano e como a sociedade a trata diferente de uma moradia “normal, tra-
dicional”(GONÇALVES, 2020). Criadas inicialmente pela população negra
recém-liberta, ainda no século XIX, seu crescimento foi vertiginoso, princi-
palmente a partir da segunda metade do século XX e atingiu números ain-
da maiores entre 2000 e 2010 quando seu crescimento foi doze vezes maior
que o número de moradias tradicionais brasileiras, sendo pessoas negras a
maior parte dos moradores (61%).(Sawaya, Albuquerque e Domene, 2018)
Podem ser construídas nos morros ou em terrenos não planos e quase sem-
pre em áreas sem todas as condições de moradia e de direitos mínimos de
cidadania, como água, esgoto, energia elétrica e transporte público.
Um dos primeiros problemas que se coloca para o envelhecimento é o
comprometimento da mobilidade decorrente das limitações intrínsecas da
pessoa idosa residente neste lugar e por fatores extrínsecos, como dificul-
dade para andar nas calçadas, ter lazer e outras atividades recomendadas
por especialistas em gerontologia, saúde pública e em atenção primária.
A violência presente por ausência de ações intersetoriais de mitigação res-
tringe boa parte das pessoas idosas de explorar de forma livre e mais au-
tônoma o espaço público das favelas, aumentando as chances de agravos
e doenças crônicas como Diabetes, obesidade, osteoartrose e transtornos
mentais, além de dificultar as práticas salutares para a promoção de saúde
como caminhada e corrida. Como as favelas são construídas, muitas vezes,
em terrenos irregulares, o risco de remoção ou mudança é frequente. Isso,
para a pessoa idosa, também é muito prejudicial, pois perde-se relações so-
ciais construídas e também aumenta o risco de quedas, pois a nova mora-
dia poderá apresentar riscos novos dos quais ainda não haverá um manejo
adequado por parte dela. O estigma já criado de que nas favelas há muita
violência, drogas e traficantes – esses que muitas vezes ocupam o vácuo dei-
xado pelo Estado -, dificulta a construção e diálogo com os diversos atores
do cenário das políticas públicas, dos setores privado e terceiro setor para
4 Aglomerado Subnormal é uma forma de ocupação irregular de terrenos de propriedade alheia – públicos
ou privados – para fins de habitação em áreas urbanas e, em geral, caracterizados por um padrão urbanístico
irregular, carência de serviços públicos essenciais e localização em áreas com restrição à ocupação. No Brasil,
esses assentamentos irregulares são conhecidos por diversos nomes como favelas, invasões, grotas, baixadas,
comunidades, vilas, ressacas, loteamentos irregulares, mocambos e palafitas, entre outros.(Fonte: IBGE.
https://www.ibge.gov.br/geociencias/organizacao-do-territorio/tipologias-do-territorio/15788-aglomerados-
subnormais.html?=&t=o-que-e)
366 SEÇÃO 5
tornar as favelas como um lugar Amigo do Idoso, isto é, que permita o en-
velhecimento ativo, que é uma política cujos pilares são: saúde, segurança,
proteção, aprendizado ao longo da vida e participação.(Kalache, Voelcker
e Plouffe, 2015)
As condições de vida são desiguais desde a infância para quem mora nas
favelas e isso pode ter desfechos desfavoráveis e injustos para o envelhe-
cimento. Subnutrição na infância,(Sawaya, Albuquerque e Domene, 2018)
dificuldade para manter-se na escola, saída precoce da escola na adolescên-
cia, sobrepeso e obesidade na fase adulta, maiores chances de empregos
informais e de baixa remuneração são algumas situações que atravessam
a trajetória de vida de quem mora nas favelas. Muitos estudos já apontam
o quanto fatores socioeconômicos interferem negativamente no corpo hu-
mano, trazendo precocemente o envelhecimento celular e repercussões fi-
siopatológicas em diversos sistemas, como o cardiovascular, imunológico,
nervoso e até celular. (Diez Roux et al., 2009; Williams e Priest, 2015)
A religiosidade enquanto forma de apoio e aumento das relações sociais
é uma prática comum para os idosos que ali residem e podem servir tam-
bém como forma de lazer, dada as condições de violência e redução de opor-
tunidades ofertadas no território. Segundo Christina Cunha, (Cunha, 2009)
nota-se o aumento da presença das igrejas pentecostais e neopentecostais
em favelas do Rio Janeiro. Como já observado no município de São Paulo,
idosos pretos e pardos têm praticado mais as religiões evangélicas, (Silva et
al., 2019) contrariando uma expectativa de manutenção de valores culturais
de seus antepassados africanos. Isso, sem dúvida, faz parte do racismo, que
faz com que o grupo discriminado passe a negar sua cultura. Muitas vezes,
o grupo que discrimina, posteriormente, passa a se a apropriar desse valor
cultural discriminado anteriormente. No Brasil, observa-se isso na prática
do candomblé, por exemplo, que acaba sendo exercido por muitas pessoas
brancas e com declínio muito acentuado de pessoas negras praticantes des-
sa religião. (Eugenio, 2014)
A convivência intergeracional também é um fator importante na vida
de pessoas idosas que vivem na favela. Pode ser positivo na perspectiva de
que sempre haverá pessoas que cuidam e que serão cuidadas por essa pes-
soa idosa, ajudando na manutenção da sua capacidade funcional. Por outro
lado, é negativo pois pode diminuir seu poder aquisitivo para uso próprio,
quando precisa contribuir para situações em que seus filhos e filhas não
conseguem garantir as despesas da casa e cuidados de seus netos e netas,
prejudicando as possibilidades das pessoas idosas em sair para trabalhar,
passear, aprender ou aumentar sua rede de amizade.
Dada a quantidade de favelas existentes no país, o panorama descrito
neste capítulo ainda pode ser insuficiente para retratar as suas característi-
cas e particularidades. Especificidades geográficas e históricas, associadas
VELHOS E NOVOS DESAFIOS SOBRE LONGEVIVER 367
(A)
(B)
(C)
5 https://www.ibge.gov.br/geociencias/organizacao-do-territorio/tipologias-do-territorio/15788-aglomerados-
subnormais.html?=&t=downloads&utm_source=covid19&utm_medium=hotsite&utm_campaign=covid_19
368 SEÇÃO 5
Conclusões
As reflexões deste capítulo apontam para as particularidades do enve-
lhecimento da população negra nos territórios negros, espaços onde a sen-
sação de pertencimento, trocas intergeracionais, transmissão de saberes e
de práticas são aspectos positivos para a condição de vida. Para as famílias
negras, este nível do habitar carrega memórias ancestrais e práticas cultu-
rais que se configuram, em muitos aspectos, entre as culturas trazidas de
África. Entretanto, os processos históricos (políticos, econômicos e sociais)
e as formas de organização da sociedade, vetores que configuram os espaços
sociais, trazem em seu bojo o racismo e as iniquidades, impactando sobre-
maneira os territórios negros, reduzindo a expectativa e qualidade de vida
das pessoas negras, inclusive as pessoas idosas.
É importante reescrever a narrativa da diáspora negra ocorrida no Brasil
e acelerar programas e ações de equidade racial para que seus efeitos já se-
jam percebidos pela atual população idosa.
Afetividade, mais relações sociais saudáveis, menos violência, mais es-
paços públicos e privados de promoção de saúde, menos oferta de oportuni-
dades para adoecer, menos discriminações, são demandas urgentes para a
população idosa negra brasileira. A desnaturalização das iniquidades raciais
vividas pelas pessoas idosas negras é urgente e precisa ser pactuada entre
setores e atores diretamente envolvidos com o envelhecimento da popula-
ção idosa brasileira.
As políticas habitacionais precisam ser fortalecidas e não desconstruí-
das, como se vê nos últimos anos. Os espaços e representantes da popula-
ção idosa perderam muito da sua representatividade nos dias de hoje. E isso
também precisa ser restabelecido.
O Brasil envelhece muito mais rápido do que muitos imaginam ou con-
seguem ver. Já temos esse reflexo no campo do trabalho, da educação,
conjugalidade e entre outros. Não pode se perpetuar a omissão diante de
preocupações emergentes para a população idosa. E, sem dúvida alguma, a
moradia é um desses assuntos.
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VELHOS E NOVOS DESAFIOS SOBRE LONGEVIVER 369
1. Introdução
Com a acelerada transição demográfica, em que o envelhecimento po-
pulacional é desafio para o Estado, principalmente nos contextos de países
em desenvolvimento, nos quais, em sua maioria, como no Brasil, não se
prepararam para a crescente realidade, é relevante a criação de políticas
públicas que atendam às demandas oriundas do envelhecimento e das pes-
soas idosas. Uma necessidade emergencial de comprometer-se com a ve-
lhice digna e ativa.
As questões que envolvem políticas públicas para moradia são complexas,
pois compreendem distintos aspectos que vão além do espaço físico. Deman-
das fundamentais que asseguram a segurança e proteção, acessos e oportuni-
dades básicas para um processo de envelhecimento e velhice digna.
De acordo com o capítulo XXV da Declaração Universal de Direitos Hu-
manos, a habitação é um dos aspectos a serem garantidos a todas as pessoas.
Mas a ele estão atrelados outros pontos que se relacionam diretamente à
moradia, como alimentação, vestuário, saúde, serviços sociais e seguridade:
“Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar-lhe, e
a sua família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação,
cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança
em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos
de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.”
United Nations Information Centre, 1948
Em 2008, a Organização Mundial da Saúde propôs, no documento Guia
Global: Cidade Amiga do Idoso (OMS, 2008), protocolo de pesquisa em que
grupos de pessoas idosas inseridas em diferentes contextos na cidade foram
convidados a participar da estruturação de um plano, com o poder público
local, a fim de tornar as cidades acessíveis para todas as idades.
Com participação e escuta, a OMS considera que atuando nas necessida-
des das pessoas idosas, há a tendência em tornar as ações comprometidas
com o processo de envelhecimento de todas e todos. Favorecendo o Enve-
lhecimento Ativo, contribuindo com a independência e autonomia à medida
que envelhecem.
Na época do lançamento, o projeto apresentou as experiências que acon-
teceram em 33 cidades em diferentes países. Entre elas, o bairro de Copaca-
bana – Rio de Janeiro.
VELHOS E NOVOS DESAFIOS SOBRE LONGEVIVER 371
3. Relato de Sissy Kelly
Para contextualizar a problemática apresentada neste artigo, conversa-
mos com Sonia Sissy Kelly – idosa trans, soropositiva, uma das principais
militantes pelo direito à moradia para pessoas em situação de rua e LGBT de
Belo Horizonte (MG).
Inicialmente, Sissy, partindo de sua história de vida e experiências com
outras pessoas idosas LGBT, considera que a moradia sempre foi o grande
desafio para a população transgênera e travesti.
Até mesmo para alugar um quarto ou quitinete éramos exploradas pelo falso
proprietário, que na verdade era como se fosse um cafetão. Nos sentimos
excluídas de tudo, incluindo as políticas de moradia.
Sissy Kelly, 62 anos
Sem dar voz a pessoas como Sissy, diversos indivíduos repetem discursos
nos quais expressam que todos deveriam ser iguais ou deveriam ser trata-
dos de maneira igual. Entretanto, a fala hegemônica de igualdade é perversa
quando inserida em contextos que reforçam a invisibilidade e o silenciamen-
to de grupos marginalizados. As expressões tendem a desconsiderar as difi-
culdades de acesso das minorias sociais, geralmente partindo de visão que
relativiza e desqualifica a violência estrutural, ou seja, violência naturalizada
e consentida socialmente, que reforça a desigualdade social e o preconceito.
Há necessidade emergencial em favorecer frentes que atuem nos prin-
cípios da equidade, tornando justas as formas de acesso, de modo que todas
as pessoas possam, independentemente de qualquer fator que as marginali-
zam, ser atendidas. Ribeiro (2017) enfatiza que “se não se nomeia uma reali-
dade, sequer serão pensadas melhorias para uma realidade que segue invi-
sível”, ou seja, devem ser nomeadas situações e realidades em que diversas
pessoas estão condicionadas a viver. Para isso é fundamental haver espaços
que viabilizem o seu lugar de fala.
376 SEÇÃO 5
Nestes longos anos de ativismo social militando pelos direitos humanos LGBT, já
estou cansada de ouvir sempre as mesmas falas que me deixam indignada cada
vez mais... Se nós, pessoas LGBT, exigimos uma casa de acolhimento exclusiva
para pessoas LGBT, sempre vai levantar alguém pra dizer que isso é segregar,
que melhor seria incluir LGBT nos abrigos existentes como “forma de evolução”,
integração. Aí eu sempre digo que opinam de seus lugares de privilégios, ao ter
tudo e ninguém questionar. Já tivemos essa experiência e nunca dá certo. Os
espaços específicos pra acolhimento LGBT são espaços de promoção de saúde e
cidadania, assim como Ambulatório Trans. Precisamos lutar pelas candidaturas
coletivas LGBT nas próximas eleições para termos representatividade.
Sissy Kelly
VELHOS E NOVOS DESAFIOS SOBRE LONGEVIVER 377
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380 SEÇÃO 5
Considerações finais:
O suporte social, responsável pelo apoio emocional, estrutural e forta-
lecedor frente às questões da vida das pessoas idosas, não é suficiente para
prover o necessário para continuar em casa e na comunidade.
Morar sozinho deve ser considerada uma opção, fruto da autonomia, ca-
pacidade de gerir a vida.
Porém, é significativo quando pessoas que necessitam de apoio não têm
com quem contar.
Cabe à família cuidar, porém, apenas a família muitas vezes não conse-
gue oferecer atenção continuada sem o apoio de rede formal, provinda de
profissionais capacitados, como preconizado pelas Políticas Públicas para a
Pessoa Idosa.
Em especial nas situações de rede informal muito diminuta, com poucos
parentes, amigos, vizinhos e voluntários para solicitar apoio mínimo, há grave
descumprimento de políticas públicas, que não permitem se tornar viável o
preconizado pela OMS para se viver em casa e na comunidade, Age in Place.
A sugestão, portanto, é que se efetivem políticas sociais e de saúde
voltadas ao apoio integral às pessoas idosas, articulando os cinco pilares
do AiP: lugar, pessoas, serviços centrados na pessoa, produtos e políticas
de apoio social.
É imprescindível uma gestão gerontológica que coordene serviços, pro-
gramas e ações de curto, médio e longo prazo em favor da população idosa,
estimulando iniciativas que valorizem a vida, a dignidade e a possibilidade
de viver em casa e na comunidade da melhor maneira possível, pelo máxi-
mo tempo que for viável.
388 SEÇÃO 5
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fapesp.br/epidemia-de-coronavirus-exige-da-sociedade-maior-atencao-ao-
idoso/32990/>. Acesso em: 22 mai. 2020.
390 SEÇÃO 5
Desenvolvimento
Para entender as possibilidades de acolhimento dessa população, cabe
ressaltar as principais normas da Constituição Federal de 1988, que assegura
alguns direitos. Em seu artigo 1º, inciso III, a dignidade da pessoa humana é
tida como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil. O princí-
pio estabelece o “mínimo existencial”, ou seja, a soma de bens e atribuições
essenciais para a vida humana digna: direito à educação, à proteção integral
da criança e do adolescente, à saúde, à assistência social, à moradia, à ali-
mentação e à segurança. Portanto, o acolhimento institucional é garantido
como direito básico da CF, englobando, além da moradia, saúde, alimenta-
ção, segurança e assistência social.
A Assistência Social se firma na Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS
- Lei 8.742, de 7 de dezembro de 1993), que determina a instituição de pro-
gramas de amparo à população em situação de rua (art. 23, II) e proteção à
velhice em inserção no mercado de trabalho e garantia de um salário mí-
nimo de benefício mensal ao idoso que demonstre não conseguir prover a
própria manutenção, nem tê-la provida por sua família (art. 2). O auxílio,
conhecido como Benefício de Prestação Continuada (BPC) é estabelecido
no artigo 20 da LOAS, essencial para idosos em situação de rua que não pos-
suem qualquer outra possibilidade de renda e subsistência.
A partir da LOAS originou-se a Política Nacional de Assistência Social
(PNAS), instituída na Resolução nº 145, de 15 de outubro de 2004, e o Sistema
Único de Assistência Social (SUAS), estabelecido na Lei nº 12.435, em 6 de
julho de 2011. Com base na PNAS e SUAS surgem os chamados Centros de
Acolhida Especiais para idosos em situação de rua.
Somado a isso, há a Resolução nº 109, de 11 de novembro de 2009, do
Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), que edifica a Tipificação
Nacional dos Serviços Socioassistenciais (TNSS), instituindo serviços desti-
nados à população em situação de rua: Serviço Especializado em Aborda-
gem Social; Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua; Serviço
de Acolhimento Institucional e Serviço de Acolhimento em República. As
394 SEÇÃO 5
Objetivos:
Possibilitar condições de acolhida na rede socioassistencial; contribuir para
a construção de novos projetos de vida, respeitando as escolhas dos usuários
e as especificidades do atendimento; contribuir para restaurar e preservar a
integridade e a autonomia da população em situação de rua; promover ações
para a reinserção familiar e/ou comunitária.
A forma de acesso ocorre por encaminhamentos de serviços socioas-
sistenciais (como Serviço Especializado em Abordagem Social menciona-
do no tópico anterior), políticas públicas setoriais e demais órgãos do Sis-
tema de Garantia de Direitos, além da demanda espontânea, em Centros
de Referência Especializados para População em Situação de Rua, conhe-
cidos como Centro POP.
De acordo com o sítio eletrônico da Prefeitura de São Paulo, o municí-
pio possui seis unidades: Centro POP Bela Vista (região central), Centro POP
Barra Funda/Santa Cecília (região central), Centro POP Vila Maria (região
norte), Centro POP Santana (região norte), Centro POP Mooca (região leste)
e Centro POP Santo Amaro (região sul).
Possui abrangência municipal e funciona em dias úteis (com possibilida-
de de atuação em feriados, finais de semana e período noturno).
A TNSS reconhece que a articulação desse serviço acontece com redes
sociais locais, serviços de políticas públicas setoriais, serviços socioassisten-
ciais de Proteção Social Básica e Proteção Social Especial, demais órgãos do
Sistema de Garantia de Direitos, sistema de Segurança Pública, instituições
de ensino e pesquisa e serviços, programas e projetos de instituições não
governamentais e comunitárias.
O impacto social esperado e descrito nesse caso é que o serviço contri-
bua para:
Redução das violações dos direitos socioassistenciais, seus agravamentos
ou reincidência; proteção social às famílias e indivíduos; redução de da-
nos provocados por situações violadoras de direitos e construção de novos
projetos de vida.
Morada São João (região central); 3) Centro de Acolhida Especial para Idosos
Casa Verde (região norte); 4) Centro de Acolhida Especial Casa de Simeão (re-
gião central); 5) Sítio das Alamedas (região central); 6) Centro de Acolhida Espe-
cial para Idosos Boracea-Aconchego ( região oeste); 7) Umuarama (região sul).
De acordo com a TNSS, o acolhimento institucional possui abrangência
municipal e regional e funciona em período integral. Articula-se com os de-
mais serviços socioassistenciais e serviços de políticas públicas setoriais, pro-
gramas e projetos de formação para o trabalho, profissionalização e inclusão
produtiva, serviços, programas e projetos de instituições não governamentais
e comunitárias e demais órgãos do Sistema de Garantia de Direitos.
O impacto social esperado:
Redução das violações dos direitos socioassistenciais, seus agravamentos ou
reincidência; redução da presença de pessoas em situação de rua e de aban-
dono; indivíduos e famílias protegidas; construção da autonomia; indivíduos
e famílias incluídas em serviços e com acesso a oportunidades; rompimento
do ciclo da violência doméstica e familiar.
A Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS)
e a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) do Município de São Paulo, em cum-
primento à Portaria nº 1, de SMADS, de 31 de outubro de 2018, elaboraram o
Protocolo Preliminar para atuação conjunta do equipamento sociossanitário.
Isso significa que ILPIs, CAEIs e Centros-Dia para Idosos (CDI) são atualmente
reconhecidos como serviços sociossanitários híbridos e, portanto, possuem
como gestão a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social,
para atuar em articulação com a Secretaria Municipal de Saúde. A atuação
conjunta faz com que os serviços disponibilizados pelos equipamentos sejam
mais amplos e atendam às necessidades sociais e de saúde.
Considerações finais
Com o aumento da população idosa, há maior interesse em pesquisar
e promover ações que busquem satisfazer as demandas desse segmento. A
população idosa em situação de rua é composta por indivíduos em contexto
de extrema vulnerabilidade, muitas vezes invisível aos olhos da sociedade.
SILVA (2018) destaca que devido às demandas sociais, econômicas e es-
truturais existentes em um país como o Brasil, torna-se um desafio envelhe-
cer satisfatoriamente, ainda mais quando o processo ocorre nas ruas.
O acolhimento institucional e demais serviços destinados a esses in-
divíduos podem ser ferramentas significativas na aplicação de direitos e
progresso da qualidade de vida da população em situação de rua. Porém,
como se observa em estudos e censos demográficos, até o presente mo-
mento há um longo caminho de diversos desafios a se enfrentar. Há inú-
meros indivíduos não inclusos no acolhimento institucional e, mesmo en-
tre os acolhidos, consideráveis carências a serem supridas para o cenário
ter melhora significativa.
O intuito deste capítulo foi mostrar possibilidades já existentes e fomen-
tar o interesse pelo tema, para se pensar cada vez mais em formas de aten-
der às diversas necessidades desse público.
Referências bibliográficas
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moradia provisória do município de São Paulo. 2005. Dissertação (Mestrado em
Gerontologia)-Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, 2005.
VELHOS E NOVOS DESAFIOS SOBRE LONGEVIVER 399
Envelhecimento e fragilidade
O envelhecimento é um processo natural, universal, progressivo, com
declínio fisiológico do desenvolvimento e iniciado na maturação sexual
do indivíduo. O ritmo de envelhecer é singular, pois a saúde física e a
mental dependem de determinantes ambientais e biológicas ao longo da
vida (NERI, 2014).
Para TORRES et al. (2015), a velhice é constituída por aspectos positivos
e negativos. Os elementos positivos são definidos como experiência e sa-
bedoria, enquanto os negativos são mais heterogêneos e se relacionam ge-
ralmente com inatividade, desânimo, degradação física e doenças, tristeza,
solidão e morte. Aspectos que podem ser influenciados conforme os grupos
sociais e a representação social do próprio idoso, que nega assumir essa fase
da vida. Entre as mudanças, pode surgir a fragilidade.
A fragilidade nos idosos geraria consequências adversas para a saúde,
como quedas, fraturas, hospitalização, institucionalização, demência e
mortalidade (KOJIMA, 2017).
Segundo FRIED et al. (2001), existe diminuição da reserva energética e
da resistência aos estressores. A fragilidade é considerada síndrome, con-
sequência do declínio dos sistemas fisiológicos e diminuição da eficiência
da homeostase em situações estressantes, baseada em três alterações, re-
lacionadas ao envelhecimento: sarcopenia, desregulação neuroendócrina e
disfunção imunológica, as quais irão compor o fenótipo da fragilidade.
Estudo desenvolvido por KOJIMA (2017) concluiu que a fragilidade nos ido-
sos é significativa nos riscos futuros, influenciando a capacidade das Atividades
de Vida Diária (AVDs) e Atividades Instrumentais de Vida Diária (AIVDs).
As AVDs se caracterizam pela quantidade de ajuda instrumental que
ele necessitar, hierarquizadas em três níveis – básicas, instrumentais e
avançadas. As básicas (ABVDs) são determinadas nas tarefas de autocuida-
do, como tomar banho, vestir-se, usar o banheiro, transferir-se da cama para
a cadeira e se alimentar; as instrumentais (AIVDs) indicam a possibilidade
de manter uma vida ativa e independente na comunidade; e as avançadas
(AAVDs) significam o desempenho de papéis e atividades sociais, como elu-
cidadas anteriormente (NERI, 2014).
IMPACTO SOCIAL E CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS EM FACE DA LONGEVIDADE 403
CAMINHO METODOLÓGICO
A fenomenologia social de Alfred Schütz procura compreender o mundo
em seu significado intersubjetivo, analisando as relações mútuas que envol-
vem pessoas. Trata de estrutura de significados na vivência intersubjetiva
da relação social, desejando entender as ações sociais e não puramente o
individual (SCHÜTZ, 1972).
Do ponto de vista de Alfred Schütz, o homem é o sujeito que age e inte-
rage dentro do mundo social, envolvendo-se nas relações estabelecidas por
ele no mundo e com o mundo, com o princípio em determinada experiência
(MERIGUI et al., 2013).
A fenomenologia fundamenta-se no indivíduo que vivencia a experiência
e no significado que atribui à experiência, dentro da sociedade na qual está
inserido (SCHÜTZ, 1972). Para Schütz, a ação é originada na consciência,
voluntária e projetada para o futuro, em sua estrutura temporal, relacionada
como projeto, que antecipa o resultado da ação. O projeto é antecipação pela
imaginação da conduta futura. Toda ação é atividade natural orientada para
o futuro, sendo dirigida “para” (SCHÜTZ, 1972).
Em teoria da motivação, SCHÜTZ (1972) definiu que o motivo é o objetivo
desejado a conquistar com ação, e o entende a partir de duas ordens defini-
das: motivos “porque” e motivos “para”. No entanto, neste estudo, abordare-
mos apenas os motivos “porque”.
De acordo com SCHÜTZ (1972), o motivo “porque” se estrutura e consti-
tui um conhecimento do acúmulo de conhecimentos sociais adquiridos na
406 SEÇÃO 6
Mas assim, eu já tive até discussões com a minha irmã, por achar que qualquer
coisa que eu falasse e que estivesse reclamando. [...] - Ah! Porque a nossa mãe a vida
inteira cuidou da casa, cuidou de tudo e agora há pouco tempo que está com você,
já está sendo um fardo pra você (irmã).
Hoje em dia, ela é uma pessoa totalmente dependente de mim, de se vestir, de
escovar os dentes, tomar o banho, mas eu direcionando de perto, olhando.
Tomo diariamente o remédio, aí esta semana, mesmo eu tomando remédio, deu
de novo o mal-estar, é uma sensação do peito tremendo, uma coisa trêmula, como
se você estivesse pra receber uma notícia ruim ou uma notícia muito importante e
tal, é uma sensação muito desagradável. Eu já tive momentos assim de me sentar e
chorar de soluçar de cansaço. (Begônia)
Dália foi a segunda participante do estudo: 49 anos, administradora de
empresa, divorciada, evangélica, filha da idosa que frequenta todos os dias
da semana o CDI. Divide na semana os cuidados da mãe com a irmã, com a
presença de cuidadoras. Buscou o CDI pela sobrecarga de seu pai, que fale-
ceu pouco tempo após a inserção da mãe no CDI. Ela tinha doença de Par-
kinson, apresentava alteração de comportamento e piora do quadro clínico
após o falecimento do cônjuge. A fala de Dália revela a dificuldade do pai
durante o processo de cuidar da mãe por causa da inquietação.
Ela era realmente terrível, porque ela tinha a parte física total. Então, ela não pa-
rava, ficava mexendo nas coisas o tempo todo, e meu pai enlouquecendo. [...] as
noites eram muito difíceis, não deixava a gente dormir, era bem difícil. [...] Meu
pai teve tanto desgaste e acabou… ele que tinha uma saúde mental e física perfeita
e acabou falecendo.
A minha mãe sempre foi uma mulher de ficar em casa, e assim, quando ela tinha
saúde, tinha companhia, então as pessoas visitavam a casa dela, sempre foi mui-
to anfitriã. Então, sempre tratou muito bem, então as pessoas eram conveniente
ir na casa dela, só que depois que ela ficou doente, todo mundo sumiu, não sobrou
ninguém, não sobrou ninguém, então ficou muito sozinha. Foi se fechando de
uma maneira! (Dália)
Arquiteta, Gérbera tem 43 anos, ateísta, casada, sobrinha da idosa que fre-
quenta três dias da semana o CDI. A única irmã viva de seu pai, sempre foram
muito próximas. Como era solteira e nunca teve filhos, na fase da terceira idade
a relação das duas se aprofundou. Buscou o CDI após a doença da tia se agravar,
foi diagnosticada com doença de Alzheimer. Possui a curatela da tia. Contou
que decidiu pela inserção da idosa no CDI porque estava com depressão.
[...] Por depressão, uma série de fatores, ela não aceitava mais ir trabalhar, acom-
panhada e tudo mais, não aceitava, e se colocou em casa 24 horas por dia. Era
muito difícil convencê-la até a ir ao supermercado fazer uma compra e tudo. Tinha
que caminhar, tinha que fazer uma série de coisas por prescrição médica e tudo,
mas havia um movimento de resistência, parte pela depressão. (Gérbera)
408 SEÇÃO 6
Fonte: as autoras
IMPACTO SOCIAL E CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS EM FACE DA LONGEVIDADE 411
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Frente à exposição de sete histórias das quais emergiram distintos sen-
timentos negativos e preocupações, a busca pelo CDI representa a tentativa
de aliviar o sofrimento do binômio idoso/cuidador familiar.
O CDI é extensão do cuidado da casa, evitando a institucionalização e
preservando a identidade e o conforto do residente. Propicia ao idoso a ma-
nutenção de seu vínculo familiar. A responsabilidade dos gestores e de toda
a equipe ultrapassa a prestação do cuidado ao idoso, que deve abarcar a inte-
gralidade do cuidado do binômio idoso/cuidador familiar. O acalento deverá
ser notado por toda a sociedade.
Referências bibliográficas
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em família. In: ELSEN, I., MARCON, S. S., SILVA, M. R. S. (Org.). O viver em família e
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IMPACTO SOCIAL E CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS EM FACE DA LONGEVIDADE 413
Introdução
O que é uma casa segura para uma pessoa idosa?
Frequentemente uma casa segura está associada à preocupação de evi-
tar invasões e roubos. Quase imediatamente, se pensa em grades, trancas,
câmeras de segurança e alarmes. Certamente, a casa segura deve proporcio-
nar a sensação de segurança. A violência nas grandes cidades condena mui-
tas pessoas idosas a se tornar prisioneiras nas próprias casas, por sentirem a
ameaça iminente da criminalidade em seu entorno. No entanto, outra fonte
de insegurança em casa são os acidentes domésticos, como incêndios, quei-
maduras, explosões, intoxicações, choques elétricos e quedas. Uma casa
segura é ainda aquela que proporciona menor risco de acidentes, melhor
acessibilidade e maior funcionalidade.
As alterações próprias da idade e consequências negativas de doenças
crônicas podem gerar, em maior ou menor grau, incapacidades sensoriais,
físicas ou cognitivas. No entanto, é importante destacar que nem todos enve-
lhecem da mesma forma. Ser e fazer aquilo que é importante e significativo
é resultado da interação entre a capacidade intrínseca (reserva fisiológica),
ambiente e aspectos psicológicos e existenciais. Portanto, ter limitações fun-
cionais na velhice não é necessariamente uma regra. Além disso, a presença
de determinadas construções dentro de casa, como degraus e escadas, não
pode ser considerada sempre barreira para todos os idosos. O exercício de
subir e descer escadas pode ser muito bem aproveitado, desde que a escada
tenha dimensionamento correto, corrimãos adequados, boa iluminação e
piso não escorregadio. Vencer obstáculos no dia a dia seria excelente treino
funcional desde que esteja adequado às capacidades de cada um. Uma casa
segura tem caraterísticas que devem ser individualizadas.
Entretanto, há aspectos genéricos que definem de forma mais ampla o
que torna uma casa mais segura para pessoas idosas. A segurança não pode
estar dissociada da condição de autonomia, privacidade, senso de pertenci-
mento e funcionalidade. A autonomia é a condição para que os desejos e as
necessidades de uma pessoa sejam satisfeitos por ela mesma, mantendo a
capacidade de agir e decidir sobre como estabelecer as rotinas. Muitas ve-
zes, até por excesso de zelo, familiares limitam as ações dentro da moradia
por temerem acidentes, gerando a sensação de inutilidade e dependência.
Pessoas idosas têm grande preocupação ao perceberem que estão sendo
alijadas do processo de decisão e cerceadas do direito de escolha. A casa é o
local no qual as escolhas e propósitos são imperiosos. Idosos com diferen-
tes níveis de dependência podem continuar a exercer a autonomia. A casa
416 SEÇÃO 6
Domínio Estratégias
Condições de saúde
funcional para casa segura
Inúmeras condições podem • Bom uso da ergonomia (tanto para o ambiente
comprometer a mobilidade, construído quanto para o mobiliário)
como AVE (derrame), • Adequação dos espaços para uso de dispositivos
Doença de Parkinson, de auxílio à marcha
Mobilidade e neuropatias, fraturas,
• Uso de tecnologia para otimizar atividades de
problemas reumatológicos;
atividades do forma segura com o maior grau de independência
idosos podem ser
dia a dia possível
dependentes de dispositivos
(bengalas, andadores, • Mobiliário e utensílios que amenizem a fadiga e
cadeiras de roda) e/ou aumentem a tolerância a atividades; bancos em
dependentes de ajuda locais estratégicos, por exemplo, na entrada da
pessoal casa e no jardim
• Acessibilidade, mobiliário e equipamentos
adequados para amplificar percepções sensoriais e
Comunicação/ Comprometimentos visual, evitar excesso de estímulos e ruídos
interação auditivo e de linguagem • Arquitetura inclusiva para promover maior
participação social dentro dos espaços da casa,
pertencimento
A ergonomia (Human Factors) é o conhecimento sobre habilidades e
limitações humanas e outras características importantes para o design de
produtos, sistemas, atividades e ambientes seguros, confortáveis, fáceis de
usar, eficientes e funcionais. O design de uma casa segura inclui uma boa
concepção ergonômica. Características de boa ergonomia devem ser leva-
das em consideração:
• Antropometria: considera aspectos como altura, peso, comprimento
dos membros, postura e força. Altura do vaso sanitário, cadeiras, sofás,
prateleiras nos armários, disposição de barras de segurança, corrimãos,
interruptores, são fundamentais para garantir segurança, prevenir
lesões por movimento repetitivo e otimizar a função. Por exemplo, a
postura fletida comum entre os idosos diminui a capacidade de extensão
da cabeça e do tronco (diminuindo a capacidade de olhar para cima),
diminui o alcance dos braços e altera as medidas antropométricas
“padrão”. Medidas de barras de segurança devem levar em consideração
essa possível alteração e não apenas ser medida padrão para todos os
idosos. Cadeiras ou outros mobiliários que não estão adequados podem
causar acidentes e lesões, como hematomas e equimoses, lacerações e
até fraturas (como quedas na posição sentada).
• Biomecânica: considera ângulos e vetores de força dos membros
(articulações) e deve levar em conta a diminuição de amplitude de
420 SEÇÃO 6
Na cozinha:
• Fogões elétricos em geral apresentam sinais luminosos de alta tem-
peratura e alertam para o risco de queimadura. Devem ser preferíveis
aos fogões a gás. Fogões a gás podem gerar incêndios e explosões.
• Uso de chaleiras elétricas que desligam automaticamente é mais indi-
cado do que as de uso em fogão.
• Instalar timers com avisos sonoros e visuais perto do fogão;
• Evitar uso de torneiras elétricas que esquentam rapidamente ao serem
manipuladas ou instalar misturadores com termostato que controlam
a temperatura.
• Instalar detectores de fumaça em todos os ambientes. O U.S. Fire Ad-
ministration, em seu manual para evitar incêndios em pessoas ido-
sas, recomenda que esses detectores estejam todos interconectados,
de forma que se um deles detectar fumaça todos disparam ao mesmo
tempo. Isso fornece um alarme mais eficiente e maior tempo para eva-
cuação da casa, mesmo para pessoas com dificuldade de locomoção.
Prefira detectores de fumaça com sinais sonoros e luminosos.
No quarto/sala:
• Usar estratégias de conforto térmico em ambientes construídos para
extremos de temperatura (dias frios e muito quentes)
• Instalar aparelhos de aquecimento na parede para evitar uso de aque-
cedores elétricos portáteis
• Instalar ventiladores de teto
• Sistemas de detectores de fumaça têm dispositivos que fazem vibrar
colchões e travesseiros para sinalizar incêndios durante a noite
• Preferir velas elétricas ao invés das convencionais
No banheiro:
• Chuveiro e duchas higiênicas com uso de misturador com termostato
que permita a fácil regulagem e controle de temperatura, com trava
de segurança para altas temperaturas. O volume de água misturada é
controlado por um registro integrado ao aparelho, o que não interfere
na temperatura
• Instalar recursos de aquecimento do ambiente (piso aquecido) para
evitar uso de aquecedores elétricos no banheiro
Caixa de eletricidade (caixa de energia com circuitos e disjuntores) em
casas antigas muitas vezes está desatualizada, e não comporta novos equi-
pamentos, podendo causar incêndios. A revisão/manutenção da caixa de
energia é fundamental para evitar incêndios. Não sobrecarregar os circuitos
com muitos equipamentos na mesma tomada é bastante aconselhável. Ca-
sas seguras têm mais tomadas por ambiente.
IMPACTO SOCIAL E CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS EM FACE DA LONGEVIDADE 423
Cortes e abrasões
Os cortes e abrasões, em geral, são decorrentes de quedas. No entanto,
é possível que se devam à presença de quinas em mobiliários pontiagudos
(mesas, aparadores) e maçanetas de portas. Idosos podem ter desequilíbrio
e desorientação espacial, esbarrando em móveis ao caminhar pela casa.
Além disso, muitas casas não têm o vão de porta adequado para passagem
com cadeira de rodas.
• Retire os móveis que se encontram na passagem ou instale protetores
de quina de borracha ou silicone
• Evite materiais cortantes ou que com o tempo possam lascar e causar
ferimentos, como tampos de vidro, mármore, etc
• Portas devem ter vão livre de 90 cm para acomodar com folga idosos
que usam cadeira de rodas. São comuns lesões de pele nas regiões do
cotovelo e antebraço por vãos de porta estreitos
Quedas
As causas das quedas são multifatoriais e decorrem, em geral, da com-
binação de fatores intrínsecos (problemas de equilíbrio e marcha, uso ina-
dequado de medicamentos, problemas visuais e somatossensoriais, etc). No
entanto, o ambiente pode conter riscos que potencializam a ocorrência de
uma queda, especialmente para os idosos com alto risco de cair, em particu-
lar com problemas neurológicos.
De fato, 55% das lesões decorrentes de quedas ocorrem dentro de casa, e
as quedas perto de casa representam 23% (calçadas e meio-fio), em geral em
trajetos conhecidos. Os outros 22% dos casos ocorrem em geral em ambien-
tes construídos, públicos ou privados (bancos, supermercados etc). Cerca
de 30% a 40% das causas das quedas estão de alguma forma relacionadas ao
ambiente e à prevalência de riscos ambientais dentro de casa. Perto de 80%
das casas dos idosos têm pelo menos um risco ambiental e cerca de 40%
contêm cinco ou mais riscos.
• Pisos e tapetes: além do banheiro, cozinha e área de serviço, exige-se o
cuidado em relação a pisos escorregadios, em função do chão molha-
do (respingos e gorduras). Verificar o coeficiente de atrito do piso an-
tes de fazer a instalação. Para áreas de piso molhado, como banheiro,
cozinha e quintal, é recomendado estar entre 0.4 e 0.7. Instale tapetes
antiderrapantes dentro do box ou considere usar pisos com maior coe-
ficiente de atrito. Evitar pisos muito desenhados ou que reflitam muito
a luz, pois podem causar confusão visual ou ofuscamento. Tapetes po-
dem ser usados desde que não escorreguem (instalar antiderrapantes),
façam facilmente rugas e/ou orelhas.
• Degraus e escadas: desníveis devem ser evitados, mas caso existam é im-
portante as bordas serem sinalizadas, e caso necessário, a instalação
424 SEÇÃO 6
Considerações finais
Adaptações ambientais e uso de dispositivos para uma casa segura de-
pendem de ampla gama de ações e processos. Requerem a identificação das
adaptações e produtos necessários para se alinhar ao conceito pessoa-am-
biente, seleção de produtos e materiais, identificação de instaladores quali-
ficados, certificação de que as adaptações foram feitas de forma adequada e
disponibilidade de recursos para financiamento. São muitas etapas a serem
efetivadas e, em geral, os serviços são fragmentados, dependendo de vários
profissionais. Novas moradias para idosos têm a oportunidade de ser conce-
bidas de forma segura e inovadora, usando premissas, do desenvolvimento
IMPACTO SOCIAL E CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS EM FACE DA LONGEVIDADE 427
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428 SEÇÃO 6
+2
30%
+85%
Logo, o local ideal para nossa moradia deverá propiciar condições e faci-
lidades para as pessoas fazerem novos amigos e criarem uma boa integração
com a sociedade ao redor ao longo de todas as idades, tornando o local e o
acesso multigeracional.
Essencial - Saúde
O Condomínio do Futuro contará com o suporte adequado à saúde para
abordar e atender as necessidades do processo de envelhecimento, focan-
do-se nas atividades preventivas e equipado para eventos emergenciais. Vai
reunir de forma presencial ou remota:
• Unidade Ambulatorial
• Pronto Atendimento
• Centro de Diagnósticos e Análises Clínicas
• Consultórios
• Fisioterapias e T.O. em geral
• Enfermagem e Cuidadores – como ponto de apoio e suporte conforme
necessário
Essencial - Moradia
Vamos dar atenção especial para que o Condomínio tenha unidades com
boa luminosidade, que estejam bem localizadas, facilitando e permitindo
caminhadas e atividades físicas com absoluta segurança, espaço para áreas
verdes, hortas e convivência dos pets que se tornaram amigos inseparáveis
dos idosos e sejam construídas próximas de lagos ou represas.
Terá mais de 10 opções de tamanho e modelos de unidades, casas, vilas
e apartamentos, com unidades que variam de 37m2 a 160m2. Isto permitirá
que as pessoas escolham a melhor opção de acordo com sua capacidade eco-
nômica e ideal de vida.
Algumas unidades adotarão o conceito das vilas urbanas europeias que
são estrategicamente localizadas, facilitando a locomoção a pé, estando pró-
ximas ao clube e diversas atividades do condomínio para aumentar a inte-
gração com a comunidade.
Figura 6. Exemplos de Apartamentos
IMPACTO SOCIAL E CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS EM FACE DA LONGEVIDADE 437
Essencial - Custos
Hoje, a classe média tem poucas opções que atendam às necessidades dos
50 mais independentes. Usualmente temos mais opções de ILPIs a um custo
significativamente acima do que é possível para o orçamento da classe média.
Para ser compatível com o orçamento da classe média, é relevante que
o custo geral seja acessível nos dois parâmetros: no custo de aquisição e no
custo recorrente mensal. O condomínio terá os mesmos custos, em R$/m2
de uma unidade de classe média usada e localizada nos bairros de classe
média das grandes cidades do País. Com isso, as pessoas que já possuem
ou locam seus imóveis possam tranquilamente adquirir ou locar seu novo
imóvel, mas agora se mantendo em um condomínio que lhe ofereça infraes-
trutura adequada aos 50 mais, sem a necessidade de comprometer seus or-
çamentos atuais.
Essencial - Segurança
O conceito de segurança para o Condomínio do Futuro é amplo. Passa
pela adequada segurança física em si dos moradores, a segurança dos am-
bientes, passeios, residências, todas as dependências do condomínio com
acessibilidade e se estende até a segurança que a tecnologia possa oferecer
para dar conforto e tranquilidade aos moradores que optarem por morar
sozinho em suas residências. Caso haja uma queda ou ocorra um mal súbito,
eles recebam o suporte necessário no mais curto espaço de tempo.
Sobre a segurança física, o condomínio é fechado. Assim, os moradores
podem caminhar tranquilamente pelas ruas internas e viver em suas resi-
dências sem as ameaças e a crescente onda de violência urbana das cidades
médias e grandes.
438 SEÇÃO 6
440 SEÇÃO 6
Brilho - Sociabilização
Esta é a parte mais importante para o Condomínio do Futuro.
Vários estudos mostram que é fundamental para uma Qualidade de Vida
de Excelência e uma boa saúde que o público da maturidade conte com ami-
gos e mantenha contatos com a sociedade. No Condomínio do Futuro, have-
rá um Instituto para coordenar e facilitar as novas conexões dos moradores
com seus vizinhos e com a comunidade do entorno nas áreas de interesse de
cada um dos moradores.
O Instituto contará também com auditório para apresentações, confe-
rências e clube com piscina coberta e aquecida, prática de exercícios físicos
assistidos, quadras poliesportivas, salão de jogos, salas para atividades cul-
turais e sociais. Haverá uma pousada para atender a demanda de familiares
e amigos que queiram se hospedar e permanecer no condomínio com total
liberdade, aberta também ao público em geral, além de restaurantes e mini
shopping.
Referências Bibliográficas
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130-anos-nesteseculo
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12. BCG The Boston Consulting Group (BCG)
13. ilocomotiva.com.br (Instituto de Pesquisa)
14. FDCLongevidade –Trend Book Volume 2 –Nov. 2020
15. Mortais - Atul Gawande - Editora Objetiva 1ª edição (3 junho 2015)
16. Habitação e Cidade para envelhecimento digno - Portal do Envelhecimento
17. Organização: Maria Luisa Trindade Bestetti e Bibiana Graeff
18. A arte de envelhecer - Maria Teresa Toríbio Brittes Lemos
19. Editora Ideias e Letras - 1ª edição (9 dezembro 2004)
20. O Grande Arcano - Eliphas Levi - Editora Pensamento (2021)
21. Vida - Um presente do universo - Gill Edwards - Editora Cultrix (2011)
22. É tempo de cuidar. Eles envelheceram. E agora? - Marta Pessoa - Editora
Batel (2019)
23. Ansiedade. Como enfrentar o mal do século - Augusto Cury - Editora
Benvirá (2013)
24. Liberdade, Felicidade & Foda-se – Mirian Goldenberg – Editora Planeta (2019)
25. Manobrando as energias do amor - Robert Happe – Editora Bússola (2017)
26. Revolucione sua qualidade de vida - Augusto Cury - Editora Sextante (2011)
27. A Entropia e a busca da posição-Deus - Fernando Pitanga Távora Editora
IBLC (1992)
28. New Aging (Menina da Nova Era) - Matthias Hollwich - Penguin Books (2016)
29. O que o dinheiro não compra – Os limites morais do mercado
30. Michael J. Sandel - Editora Civilização Brasileira (2012)
442 SEÇÃO 6
Introdução
Que a população está envelhecendo é um fato, exaustivamente tratado.
Mas devemos falar sobre números. Não somente o perfil etário da popula-
ção está mudando, mas ainda os arranjos domiciliares. De acordo com o
IBGE, o número de pessoas morando sozinhas pulou de 10,4% em 2005 para
14,6% em 2015.1 Com um olhar específico para a população idosa, em 2015
15,7% moravam sozinhas, e 35,8% correspondiam a um casal morando so-
zinho. Dados que levam ao impressionante número de 51,5%1 das pessoas
idosas morando em situação de risco maior no que diz respeito a enfermi-
dades, autocuidado, segurança física e insuficiência econômica.2 Por outro
lado, morar sozinho traz a sensação de liberdade, não apenas para a pessoa
idosa, mas para a sua família.3 Não mudar a forma de morar escolhida na
vida adulta carrega o símbolo da independência e autonomia. Por isso, os
números são sensivelmente importantes. Precisamos pensar na moradia
dessas pessoas. Não vamos questionar se estão envelhecendo, mas como.
Desenvolvimento
O envelhecer na própria casa, conhecido como “aging in place”, pode ser
considerado um fenômeno, meta ou mesmo um processo,4 dependendo do
ponto de vista. Inúmeros estudos mostram as vantagens sociais, psicológi-
cas, emocionais e até mesmo financeiras4 de se optar por permanecer em
sua casa. E não é para menos. Morar em um local onde se carrega a história,
espaços, móveis ou objetos, faz com que se reconheça no ambiente. Um dos
maiores medos enfrentados na velhice é a perda da identidade.
“Na velhice, a casa, a rua, o bairro constituem-se como principais (senão os
únicos) referenciais de sua construção identitária e de seu posicionamento en-
quanto ser social”.5
A casa faz parte de um contexto maior, começando em uma escala peque-
na, como o refúgio do quarto, passando pelo convívio social com os vizinhos
e comerciantes do bairro até a escala macro de localização de referência na
própria cidade. Por isso, o impacto de ter que sair de casa é tão grande.
Então, por que os idosos saem de casa e se mudam? Normalmente algo
acontece. Uma queda, um acidente, um esquecimento. Os filhos ficam preo-
cupados forçando uma mudança, ou mesmo os próprios idosos se sentem
inseguros e começam a cogitar a possibilidade. A questão da segurança é
sempre uma das primeiras a serem levadas em consideração. Diversas vezes
o idoso ainda é independente e tem autonomia, mas se vê em situação de
IMPACTO SOCIAL E CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS EM FACE DA LONGEVIDADE 443
Foto: Blum
448 SEÇÃO 6
Foto: Blum
As empresas de ferragens para armários já entenderam que o mercado
é promissor. Conseguimos encontrar várias soluções como as da Blum, com
distintas aberturas e organização de objetos.
Fotos: Blum
IMPACTO SOCIAL E CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS EM FACE DA LONGEVIDADE 449
Sempre que vou a alguma loja observo objetos do dia a dia que podem
ser úteis. Máquinas de lavar roupas são de empresas diferentes, mas há so-
luções superinteressantes. A primeira que usei em um projeto é mais alta,
fácil para pegar as roupas. Ela acende uma luz interna ajudando a visualizar
os itens sem precisar abri-la.
Foto: Samsung
IMPACTO SOCIAL E CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS EM FACE DA LONGEVIDADE 451
Foto: Luiz Franco / Smart Loft – Longevidade ExpoForum 2019 / Acervo pessoal
A cama é outro item fundamental. A dificuldade de alguns idosos para se
levantar e como procuravam apoio no momento de sentar me inspiraram a
desenhar este modelo. Ela possui uma alça lateral que dá suporte quando se
faz os dois movimentos.
Ainda no quarto há o armário. As maiores dificuldades são alcançar as
roupas no cabideiro, enxergar corretamente as cores das roupas e abrir as
gavetas. Nessa peça optei pelas portas de vidro justamente para facilitar a
visualização das peças. Quando se fala da Doença de Alzheimer costuma-se
dizer que se não se vê, o objeto não existe. Acrescentei luzes internas que
ficam na frente das roupas e se acendem quando se abrem as portas. As al-
IMPACTO SOCIAL E CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS EM FACE DA LONGEVIDADE 453
Foto: AlarmBR
Uma das grandes preocupações em relação a quedas é o banheiro. Co-
loquei um sensor de movimento que acendia as luzes de vigília no período
noturno. No primeiro projeto, foram instaladas uma luz balizadora ao lado
do vaso sanitário e uma fita de LED embaixo da bancada. No segundo, o LED
foi embutido na parede, iluminando todo o caminho.
Foto: Villaferg
Considerações finais
Projetar para o público idoso é exercício de empatia. Talvez porque ain-
da não chegamos lá ou não nos reconheçamos em padrões estereotipados
ou perfis previamente definidos. Mas não há nada mais rico ou recompen-
sador. Não devemos mudar a forma como ele vive, mas ajudá-lo a viver como
sempre fez. É preciso respeitar o ser humano por trás da idade. Respeitar
sua história, respeitar gostos e desejos.
A tecnologia deve ser somente meio para chegar ao objetivo. Não impo-
sição. Ou mesmo substituta do toque, do calor humano, das conexões. De-
vemos usá-la para estimular o convívio social, estimular o aprendizado con-
tínuo, dar segurança para não deixar de exercer o que ama e não permitir a
doença falar mais alto que a vida. Envelhecer é isso. Processo e não um fim.
Referências bibliográficas
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Indicadores Sociais. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de
vida da população brasileira. Rio de Janeiro: IBGE; 2016.
458 SEÇÃO 6
VERANÓPOLIS
Alexandre Kalache, Ina Voelcker, Emilio Hideki Moriguchi,
Berenice Maria Werle, Neide Maria,
Lilian Vivian Netson, Waldemar de Carli
O município
O município de Veranópolis, hoje conhecido como o Berço Nacional da
Maçã e a Terra da Longevidade, foi criado em 15 de janeiro de 1898. Veranó-
polis teve sua colonização iniciada em 1884, quando chegaram os primeiros
imigrantes italianos advindos principalmente das províncias de Treviso, Pá-
dua, Cremona, Mântua, Belluno, Tirol e Vicenza.1
Veranópolis está situada na região nordeste do estado do Rio Grande do
Sul, a 170 quilômetros da capital Porto Alegre, a 705 metros de altitude e com
clima subtropical. Sua área de extensão é de 289,4 Km2.2
A população de Veranópolis, com base no CENSO de 2010, era de 22.810
habitantes, sendo 3.493 (15,3%) pessoas com 60 anos ou mais.3 Destes, 1.519
(6,6%) eram homens e 1.974 (8,7%) mulheres. A população idosa rural era
composta de 734 indivíduos, ou seja, 21% dos idosos estavam na zona rural.
Segundos dados atualizados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), estima-se que em 2019 a população era de 26.241 habitantes.4
Os resultados e conclusões
O perfil dos idosos
A quantidade de idosos veranenses consultada para a pesquisa quanti-
tativa foi constituída de 864 indivíduos, número um pouco maior que o cal-
culado (836), e respeitou as proporções dentro das faixas etárias para cada
sexo. Os indivíduos avaliados somaram 491 (56,8%) pessoas do sexo femini-
no e 373 (43,2%) do sexo masculino; 675 (78,1%) residentes na área urbana e
189 (21,9%) na área rural.
Para interpretar o contexto dos idosos veranenses, alguns dados do perfil
destes idosos foram, a seguir, detalhados. No que se refere ao estado civil, ca-
tegorizado de acordo com a classificação do IBGE, 568 (65,7%) indivíduos en-
trevistados eram casados, 200 (23,1%) viúvos(as), 46 (5,3%) solteiros, 21 (2,4%)
divorciados, 16 (1,9%) separados e 13 (1,5%) constituíam união estável.
468 SEÇÃO 7
(2) Transporte
Quantitativo
• Qualificando o transporte público se é confortável e acessível para pes-
soas com problemas de mobilidade, 71,7% dos entrevistados respon-
deram que não utilizam o transporte e não saberiam opinar. As demais
avaliações foram: 14,0% “bom”, 9,3% “fraco” e 5,0% “razoável”.
• Com relação aos motoristas, se são educados e respeitam as regras de
trânsito, 46,5% dos entrevistados responderam “bom”, 32,1% “razoá-
vel” e 10,4% “fraco”. Um percentual de 11,0% dos idosos não soube
responder.
• Na questão se existem vagas suficientes de estacionamento para car-
ros próximo aos serviços, um número expressivo de idosos, 596 ou
69,0% qualificaram como “fraco”, apenas 68 entrevistados ou 7,9%
acham “bom” e 16,2% “razoável”. Um percentual de 6,9% não soube
responder.
• Com relação ao serviço de táxi se é confiável e de preço acessível,
49,5% dos idosos não souberam responder, 37,8% acham “bom”, 9,5%
“razoável” e 3,1% “fraco”.
472 SEÇÃO 7
Qualitativo
Quando aprofundada, a temática ‘transporte’ através da pesquisa qua-
litativa confirmou-se que a maioria dos idosos não utilizava o transporte
público. A não utilização se dava pelos seguintes motivos: possuíam carro
próprio; pela proximidade dos lugares que frequentavam; muitos pegavam
carona com filhos e outros familiares; custo elevado; e por fim, porque o
ônibus não atendia a região onde residem.
“Moro longe do centro, mas tenho carro.” (M)
Por parte dos que utilizavam o transporte público, foram identificadas
algumas lacunas como o alto custo para quem ainda não tinha 65 anos; a
falta de educação por parte de alguns motoristas; a inadequação das paradas
de ônibus, sem proteção para o sol ou para a chuva; e a altura do próprio
ônibus como fator de dificuldade de acesso.
“Eu acho que os ônibus pra pessoas de idade são muito altos, é difícil.” (M)
Em relação à escassez de vagas de estacionamento, a grande queixa gi-
rou em torno da falta de conscientização das pessoas em relação à ocupação
das vagas durante muito tempo, principalmente por parte de quem trabalha
no comércio no centro da cidade. Observou-se também pouca fiscalização
em relação às vagas para idosos e para deficientes físicos.
“Eu acho que deveria ter limite de tempo, não é porque é idoso que pode ficar
o dia todo estacionado.” (M)
O serviço de táxi, de modo geral, foi bem avaliado em ambas as pes-
quisas, mas houve queixas em relação à falta de padronização da tarifa e a
ausência do serviço durante a noite e madrugada.
(3) Moradia
Quantitativo
• Quando os idosos foram questionados sobre se consideravam que seus
custos de moradia estariam acessíveis, incluindo as taxas de condomínio,
gás e eletricidade, as opiniões quanto à qualificação foram semelhantes:
36,2% dos idosos julgavam “bom”, 31,9% “fraco” e 31,0% “razoável”.
• Quando os idosos foram indagados para a questão “Posso me movimen-
tar pela minha casa sem dificuldades”, 96,1% consideravam que sim sem
dificuldades, 3,2% responderam “razoável” e 0,7% tinham dificuldades.
• Ao questionamento sobre a proximidade da residência do idoso aos
serviços, às pessoas que visita e ao transporte, 66,0% consideravam
próximo, 25,0% “razoável” e 8,7% julgavam que não.
• Quando os idosos foram questionados para o aspecto “Posso me movi-
mentar nos arredores de minha casa com facilidade”, 92,7% achavam
que sim com facilidade, 3,8% responderam “razoável” e 3,2% conside-
ravam que não.
CIDADE PARA TODAS AS IDADES - CENTRO INTERNACIONAL DA LONGEVIDADE BRASIL - ILC BR 473
Qualitativo
A maioria dos idosos entrevistados relatou, num primeiro momento,
sentir-se inserido na comunidade, valorizado e respeitado.
Quando a questão de respeito aos direitos e valorização dos idosos foi
aprofundada nos fóruns comunitários, grupos focais e entrevistas em pro-
fundidade, surgiram diversas falas que revelavam a existência de preconcei-
to em relação aos idosos por parte dos mais jovens, denunciando conflito e
distanciamento entre as gerações.
“Quantas vezes já cheguei em alguns lugares e fiquei em pé, e tinha muito
jovem sentado, eles não oferecem o lugar deles para a gente sentar.” (M)
“Desde pequena a gente aprendeu que as pessoas de idade têm preferência,
agora as mães dão preferência para as crianças, se tu vais num almoço é as-
sim, na Igreja é assim, em qualquer lugar é assim e nós estamos na Terra da
Longevidade. A gente sente que não tem o devido valor.” (M)
Qualitativo
Na abordagem de fontes de informação e meios de comunicação, o que
mais foi ressaltado, foi a importância das rádios locais. Para a maioria dos
participantes ela proporciona todas as informações necessárias sobre even-
tos, notícias e serviços.
“Acho que através da rádio é um veículo mais fácil, mais acessível, as pessoas
têm muito mais contato com esse meio de comunicação, principalmente as
pessoas com um pouco mais idade...” (M)
Em relação ao uso de equipamentos eletrônicos e às novas tecnologias
de comunicação, como mídias sociais e ferramentas como, por exemplo, o
Skype e o WhatsApp, as opiniões variaram bastante. Enquanto algumas pes-
soas reconheceram que a internet é uma ótima fonte de informações, outras
pessoas mostraram resistência, inclusive, em aprender a usar. Ainda, houve
diversas falas referentes às dificuldades de acessar a internet, contudo al-
guns idosos disseram estar contentes de ter superado o medo do computador
e recomendaram a outros.
“(...) Eu levei até agora [para aprender] e eu tenho ainda dificuldade em saber
o que é um programa, aplicativo, arquivo. Essa nomenclatura não é muito
familiar, para eles [os jovens] é tranquilo.” (M)
JAGUARIÚNA
Alexandre Kalache, Ina Voelcker, Anita Liberalesso Neri,
Taiguara Bertelli Costa, Giovanni Vendramini Alves,
Márcia Alves Guimarães Costa
O município
Jaguariúna é um dos municípios da Região Administrativa de Campi-
nas (SP). Ocupa uma área de 141.39 km2 e tinha população estimada em
51.248 habitantes em 2016. Sua densidade demográfica é de 363,46/km2 e
a taxa geométrica anual de crescimento da população, 2.51 ao ano, no pe-
ríodo 2010-2016.
482 SEÇÃO 7
O desenho de pesquisa
Conduzimos uma pesquisa de levantamento de natureza quantitativa,
com os seguintes propósitos: (a) investigar variações nas avaliações que
idosos de Jaguariúna fazem das condições do ambiente físico e social, com
base em critérios objetivos e subjetivos, e no grau de ligação afetiva com
a moradia, a vizinhança, o bairro e a cidade, considerando variáveis, de
saúde e psicossociais, e (b) caracterizar perfis dos participantes, conside-
rando a multivariação entre as mesmas variáveis. Em estudo qualitativo,
os resultados foram exibidos a 175 adultos e idosos organizados em nove
grupos focais, realizados com os objetivos de (a) obter informações adicio-
nais sobre as principais tendências dos dados e sobre questões não ava-
liadas no estudo quantitativo, e de (b) angariar sugestões sobre formas de
solução dos problemas.
Estudo de levantamento das avaliações dos idosos sobre os domínios do
ambiente físico e social estabelecidos pelo protocolo da OMS, considerando
variáveis sociodemográficas, de saúde e psicossociais
Cálculo amostral, critérios de elegibilidade e critério de exclusão. O
planejamento da amostra foi baseado nas estimativas da Fundação SEADE
(Sistema Estadual Análise de Dados, do Estado de São Paulo) para a popu-
lação de homens e mulheres de 60 anos e mais residente em Jaguariúna
no ano de 2016, quando a população a cidade foi estimada em 51.248 ha-
bitantes e o percentual de idosos de 60 anos em 12,02%, 54.4% dos quais
eram mulheres 36. Para um nível de confiança de 95% e margem de erro =
5.95%, população finita de 3.050 homens e de 3.110 mulheres, projetada
CIDADE PARA TODAS AS IDADES - CENTRO INTERNACIONAL DA LONGEVIDADE BRASIL - ILC BR 483
a partir dos dados da Fundação Seade para o ano de 2016, a amostra foi
estimada em 550 idosos, sendo 250 homens e 300 mulheres,178 (32,3%) de
60 a 64 anos), 138 (25,0%) de 65 a 69; 101 (18,3%) de 70 a 74, e 133 (24,2%)
de 75 anos e mais37.
Os critérios de elegibilidade foram: ter 60 anos ou mais e ter residência
permanente em Jaguariúna há pelo menos um ano. Pontuação no Miniexa-
me do Estado Mental (MEEM)38 inferior à nota de corte para o nível de esco-
laridade, menos um desvio padrão, foi critério de exclusão adotado no início
da sessão de coleta de dados (analfabetos/sem escolaridade formal: < 17; 1 a
4 anos de escolaridade: < 22; 5 a 8 anos < 24 e 9 anos ou mais, < 26 pontos39
Recrutamento. Nos 20 dias anteriores ao início da coleta de dados, fo-
ram realizados procedimentos de sensibilização dos idosos, por meio de
mensagens divulgadas por emissoras de rádio e TV, jornais locais, folhetos
impressos e palestras com especialistas. O recrutamento ocorreu em domi-
cílios, centros-dia, parques e centros de esportes e lazer, unidades básicas
de saúde, sedes de grupos religiosos e de voluntariado, locais de trabalho e
logradouros públicos distribuídos por barros centrais, de localização me-
dial e periféricos ou distais. Profissionais que atuavam nos locais de fluxo
de idosos colaboraram apresentando os pesquisadores aos frequentadores,
estimulando-os a participar e abrindo a agenda para acomodar horários de
recrutamento e coleta de dados.
Coleta de dados. Os idosos foram convidados a participar de uma en-
trevista sobre a qualidade de vida dos idosos na cidade de Jaguariúna, com
30 a 60 minutos de duração, em datas e horários previamente agendados.
Atuaram como entrevistadores 16 alunos de graduação de Educação Física
e de Psicologia e seis estudantes de mestrado e doutorado de Gerontologia,
devidamente treinados. Eles se apresentavam com a camiseta, o crachá e o
material da pesquisa e identificados pelas cores e pelos logotipos do projeto
e das instituições parceiras. As entrevistas foram individuais e face-a-face,
baseadas em formulário impresso, onde as respostas eram anotadas.
Cuidados éticos. Os participantes foram informados sobre os objetivos,
as condições de participação e os aspectos éticos da pesquisa. Foram infor-
mados de que receberiam informações sobre os resultados em fóruns aber-
tos, que poderiam participar de grupos focais para discuti-los e que os dados
resultantes seriam um dos elementos a serem utilizados na implementação
do Projeto Jaguariúna, Cidade Amiga dos Idosos. Todos assinaram um ter-
mo de consentimento livre e esclarecido. O projeto de pesquisa foi aprova-
do pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual de Campinas (C.A.A.E.
62580416.7.0000.5404).
Variáveis e medidas. Os dados do Projeto Jaguariúna, Cidade Amiga dos
Idosos derivaram da aplicação de um instrumento multidimensional conten-
do as seguintes variáveis e medidas, todas de autorrelato.
484 SEÇÃO 7
Resultados
Participaram 443 idosos, selecionados entre os 459 que se apresentaram
para a entrevista. Foram excluídos 7 idosos por pontuação inferior à nota
de corte no MEEM, 6 porque não tinham 60 anos e 3 porque moravam em
Jaguariúna há menos de 1 ano. Não foram observadas diferenças estatis-
ticamente significativas entre as cotas esperadas e obtidas de mulheres (p
= 0,422) e de idosos de ambos os gêneros (p = 0,062), mas as cotas das sub
amostras de homens de 60 a 64 e de 70 a 74 anos foram menores do que o
esperado (p = 0,011).
Cento e sessenta e cinco idosos (37,2%) foram recrutados e entrevistados em
centros de esporte, lazer e promoção de saúde localizados nos parques da cida-
de; 100 (22,5%), nos seus domicílios; 64 (14,5%) em Unidades Básicas de Saúde,
47 (10,6%)em centros-dia, 34 (7,8%) em casas paroquiais e obras assistenciais;,
26 (5,8%) em locais de convivência espontânea, como praças e jardins, 7 (1,6%)
em seus locais de trabalho. 182 (41.1%) residiam na região central da cidade,
102 (23%) em bairros localizados em posição medial e 159 (35.9%) em bairros
periféricos. As entrevistas duraram em média 45.2 + 10.7 min.
A maioria dos participantes eram mulheres, tinham entre 60 e 69 anos de
idade, eram casados, viviam com o cônjuge e tinham de 3 a 5 filhos; decla-
raram-se brancos, alfabetizados, com até 4 anos de instrução formal, católi-
cos, chefes ou contribuintes para o sustento da família e proprietários da re-
sidência; não exerciam trabalho remunerado, eram aposentados e achavam
que o dinheiro que entra mensalmente no orçamento da família é suficiente
para seu sustento. A maioria morava com o/a cônjuge ou companheiro/a.
O tempo de escolaridade formal alcançou a média de 5.24 + 4.16 anos. O
número médio de filhos foi de 3.46 + 2.21. Minorias tinham acesso a planos
privados de serviços médicos e odontológicos e haviam prestado cuidados
nos últimos 12 meses, geralmente a cônjuges ou progenitores (Tabela1).
Tabela 1 (anexo)
A maioria tinha doenças crônicas. Os que se avaliaram como bem nutri-
dos foram mais numerosos do que os que se avaliaram como desnutridos.
Maiorias estavam em processo de fragilização, avaliaram a popria saude
como boa ou muito boa e apresentaram-se com niveis intermediário ealto
de participação social (Tabela 2 ).
Tabela 2 (anexo)
Foi alta a consistência interna dos itens dos domínios do instrumen-
to que serviu para avaliar os domínios do ambiente: ambiente urbano,
486 SEÇÃO 7
Tabela 3 (anexo)
Aqueles com 3 ou mais doenças crônicas pontuaram mais baixo em
participação social do que os grupos sem ou com 1 ou 2 (µ=12,96±5,36 x
µ=15,37±5,31 e 14,98±5,28), em comunicação e informação e em apoio e cui-
dado. Os idosos com 1 ou 2 doenças pontuaram mais alto do que os sem
doenças em avaliação subjetiva de saúde (µ=29,56±7,09 x µ=28,42±6,39. A
avaliação subjetiva do ambiente teve pontuação mais baixa entre os bem nu-
tridos do que entre os malnutridos (µ=27,61±7,29 x µ=29,63±6,30). A tabela 4
mostra que os idosos frágeis avaliaram mais negativamente as condições de
moradia, participação social, comunicação e informação e oportunidades
para realizar novas aprendizagens do que os pré-frágeis e os robustos; estes
pontuaram mais negativamente do que os pré-frágeis e os frágeis em avalia-
ção subjetiva do ambiente.
Tabela 4 (anexo)
A tabela 5 revela que os participantes que avaliaram negativamente a sua
saúde, avaliaram mais negativamente os domínios moradia, participação
social, comunicação e informação e apoio e cuidado do que os que avalia-
ram a própria saúde como boa ou muito boa, ou de qualidade intermediária.
A tabela 6 informa que os idosos que realizavam menos atividades sociais
avaliaram mais negativamente as condições de moradia, participação so-
cial, comunicação e informação e apoio e cuidado, assim como revelaram
ter menor ligação afetiva com a cidade do que os grupos com participação
social elevada ou de nível intermediário.
488 SEÇÃO 7
Tabelas 5 e 6 (anexo)
O último passo da análise de dados foi a análise de conglomerados,
estratégia de análise multivariada que se baseia na proximidade geométrica
entre os objetos estudados no espaço euclidiano. É uma boa alternativa para
a caracterização de perfis de grupos, quando se dispõe de medidas categó-
ricas ordinais e contínuas. Não tem representação gráfica55. Dada a quanti-
dade de variáveis e de idosos, foi escolhido o método de partição55, que deu
origem a soluções com 2, 3 e 4 conglomerados. Este trabalho selecionou a
solução com 3 grupos, que explicam 20,5% da variabilidade total dos dados.
As variáveis que mais contribuíram para sua formação foram os escores de
participação social (R2 = 0,431), de avaliação da moradia (R2 = 0,386) e de
qualidade de vida percebida (CASP-19) (R2 = 0,379) (ver composição dos con-
glomerados na tabela 7).
Conglomerado 1. Composto por 111 idosos, teve maior frequência de
mulheres, de idosos com 60 a 69 anos e de moradores de bairros perifericos;
de idosos com níveis baixo ou intermediário de participação social, com e
sem restrições em mobilidade no espaço de vida, com nível intermediario
de capacidade funcional, com maior número de doenças, nutridos e frágeis;
com avaliação negativa da propria saúde e da saude em comparação com
outros da mesma idade, baixa pontuação em qualidade de vida percebida e
em consciencia das mudanças associadas ao proprio envelhecimento; com
pontuações baixas em ambiente urbano, transporte, moradia, participação
social, respeito e inclusão social, comunicação e informação, oportunidades
de aprendizagem, apoio e cuidado, avaliação subjetiva dos ambientes físico
e social e ligação afetiva com a moradia, a vzinhança, o bairro e a cidade.
Conglomerado 2. Composto por 170 idosos, teve maior frequência de
homens, de idosos com 70 anos ou mais e de moradores de bairros centrais
e localizados no entorno do centro; de idosos com baixa participação social,
espaço de vida restrito, nivel intermediário e alto de incapacidade funcio-
nal, 1 ou 2 doenças crônicas, desnutridos e frágeis e com avaliaçãoes da
própria saude e da saúde comparada com outros da mesma idade como de
nivel intermediário; com baixa pontuação em qualidade de vida percebida e
em consciencia das mudanças associadas ao próprio envelhecimento; com
pontuações altas em avaliação do ambiente urbano, transportes, respeito e
inclusão social, avaliação subjetiva dos ambientes físico e social e ligação
afetiva com a moradia, a vizinhança, o bairro e a cidade; com escores inter-
mediários na avaliação da moradia, da participação social, da comunicação
e informação, de oportunidades de aprendizagem e de apoio e cuidado.
Conglomerado 3. Composto por 162 participantes, apresentou-se com
maior frequência de mulheres, de idosos com 60 a 69 anos e de residentes
nas regiões central e medial; de idosos com alta participação social, am-
plo espaço de vida e capacidade funcional preservada; com baixo número
CIDADE PARA TODAS AS IDADES - CENTRO INTERNACIONAL DA LONGEVIDADE BRASIL - ILC BR 489
Tabela 7 (anexo)
Discussão
As análises permitiram identificar um numeroso grupo de idosos que
eram residentes de longa data nas regiões centrais e mediais da cidade. Esse
grupo continha dois subgrupos. Em um deles, no qual predominavam mu-
lheres e idosos jovens (60-69 anos) vigoravam boas condições de saúde, fun-
cionalidade, participação social e bem-estar psicologico. No outro, em que
preponderavam homens e idosos com 70 anos ou mais, predominavam ex-
periências de doença, fragilidade, incapacidade, menor participação social
e menos bem-estar psicológico. O interessante foi que, independentemente
desses contrastes,ambos os grupos tinham forte ligação afetiva com a mora-
dia, a vinhança, o bairro e a cidade, assim como apresentaram pontuações
mais elevadas nas avaliações baseadas em criterios subjetivo do que objetivos.
Esses dados apontam para a importância atribuída pelos idosos aos seus lo-
cais de pertencimento, história e identidade. São indicativos da relevância dos
vínculos afetivos, da familiaridade e da proteção oferecidas pelos ambientes
onde se dão as relações sociais mais próximas, entre eles a vizinhança e o lar.
Estão em linha com dados obtidos por outras pesquisas que notaram a prima-
zia da ligação afetiva e das avaliações subjetivas positivas sobre as condições
objetivas de saúde, funcionalidade e participação social 56-59.
Um grupo menor de idosos, cerca de 30% da amostra, foi formado por
residentes de bairros periféricos, que não só tinham piores condições de
saúde, funcionalidade e participação social, como se mostraram descon-
tentes na avaliação dos aspectos objetivos e com avaliações subjetivas ne-
gativas sobre o ambiente e com baixa pontuação em ligação afetiva com a
moradia, a vizinhança e a cidade. Tais resultados podem ser originários do
fato de esses cidadãos serem socialmente excluídos pela pobreza. Residem
em bairros com menos recursos urbanísticos e de convivência, dos quais
não têm orgulho. Parte deles são migrantes, com menor senso de perten-
cimento, prestigio e capital social do que os antigos residentes e do que os
economicamente mais favorecidos8. Têm piores condições de saúde, refle-
tida em pior mobilidade, mais inatividade e menos iniciativa do que idosos
mais saudáveis, funcionais, ativos e com melhores condições de realizar os
490 SEÇÃO 7
exclusão social, mas essas queixas foram mais comuns entre os com mais
doenças, fragilidade e incapacidades, um dado que foi igualmente observa-
do em pesquisas realizadas em outros países 16-17; 64-66. Nesta pesquisa, as ava-
liações subjetivas positivas feitas por idosos de 80 anos e mais com relação
a itens que exigem recursos físicos e sociais podem ser sinal de uso da ne-
gação como recurso psicológico de enfrentamento das pressões ambientais
que não conseguem manejar diretamente63.
As mulheres terão avaliado os transportes de forma mais negativa do que
os homens porque suas condições de saúde e de mobilidade são piores do
que as deles. A avaliação mais negativa dos transportes pelos idosos de 60 a
69 anos do que pelos dee mais de 70 anos pode ser interpretada como fruto
de maior conhecimento, já que os primeiros saem mais de casa e utilizam
mais os transportes do que os segundos. Por saírem mais de casa, os idosos
mais jovens são provavelmente mais expostos a situações envolvendo dis-
criminação por idade. Essa percepção se reflete em avaliação negativa dos
itens do domínio respeito e inclusão social, e também, em avaliação subje-
tiva global menos positiva dos domínios do ambiente físico e social13; 21, 66-67.
Parte dos indivíduos avaliou que há escassez de serviços de apoio a idosos
que sofrem abusos e maus tratos e que necessitam de apoio emocional; que
há falta de respeito aos direitos dos mais velhos e de inclusão social para os
mais pobres, e que há pouco acesso a equipamentos de comunicação eletrô-
nica à disposição dos idosos. São questões éticas e sociais importantes que
excedem os limites das necessidades em saúde.
A amostra tinha um percentual de mulheres maior do que o existente na
população, fato comum nas pesquisas, não só porque elas são mais numero-
sas, mas porque, em virtude de questões culturais, elas são mais presentes
em atividades sociais, físicas e de lazer do que os homens adultos e idosos.
Além disso, em função da sua maior familiaridade com cuidados à saúde e
à sociabilidade, elas aderem mais a propostas de intervenção e pesquisa do
que os homens.
Os homens de 60 a 64 anos e os de 70 a 74, assim como o grupo de mulhe-
res de 75 anos e mais estiveram levemente super-representados na amostra,
mas, de modo geral, não foram observadas grandes distorções em compa-
ração com a população geral. O fato de os idosos terem sido recrutados em
diferentes espaços na cidade terá contribuído para aumentar a validade dos
dados, na medida que diferentes tipos de idosos frequentam esses locais. De
toda maneira, seria bom que, na medida do possível, novas investigações
venham a utilizar amostras probabilisticas..
O alto nivel de consistência interna dos itens dos dominios da avaliação
do ambiente indicam que foram compreendidos como integrantes dos con-
ceitos integrantes do modelo de ambientes amigáveis para idosos e que são
válidos para avalia-los. A presente pesquisa tratou das opiniões dos idosos
492 SEÇÃO 7
Métodos
Participantes. Durante duas semanas, após o encerramento da coleta
de dados do estudo quantitativo e da divulgação dos resultados ao Conselho
Municipal do Idoso e ao público em geral, foram realizados nove grupos
focais com 90 a 120 minutos de duração e com 15 a 20 participantes cada
um. Cento e setenta e cinco adultos e idosos (55 anos e mais) residentes em
CIDADE PARA TODAS AS IDADES - CENTRO INTERNACIONAL DA LONGEVIDADE BRASIL - ILC BR 493
Resultados
Ambiente Urbano. Sobressaíram queixas de falta de manutenção ou ine-
xistência de calçamento, existência de grandes quantidades de entulhos e
árvores que impedem ou dificultam a passagem do pedestre, e de calçamen-
tos com pisos inapropriados (escorregadios, irregulares). Na região central
a queixa nova a respeito das calçadas referiu-se aos obstáculos interpostos
pelos comerciantes (produtos, placas, mesas e cadeiras) à livre circulação
de pedestres. Os participantes consideraram que esses problemas não são
apenas da alçada do poder público, mas de toda a população. Assim, cada
um deve realizar a manutenção da própria calçada, cabendo ao poder públi-
co estabelecer normas e fiscalizar. A inadequação da iluminação pública em
diversos bairros também foi vista como um problema, principalmente nos
bairros periféricos ou em locais muito arborizados.
Foram apresentadas as seguintes sugestões de melhoria para o ambien-
te urbano: criação de um canal de comunicação eficaz no qual a população
possa denunciar calçadas inexistentes ou com manutenção precária, terrenos
baldios com mato alto e entulho acumulado, e problemas de iluminação dos
494 SEÇÃO 7
Conclusões
A busca de informações adicionais sobre o ambiente da cidade e, prin-
cipalmente, de sugestões sobre como enfrentar os problemas, foram os ob-
jetivos deste estudo. Um subproduto importante e desejado pelo protocolo
Cidades Amigas dos Idosos foi a promoção do envolvimento dos idosos em
um processo que, se levado a bom termo, deverá produzir benefícios à sua
adaptação e incremento nas condições de cidadania dos idosos e dos não
idosos. O Conselho Municipal do Idoso deverá ser mais presente e operativo,
tanto intermediando a relação entre a população idosa e o poder público,
como assumindo a liderança de projetos representativos das políticas de en-
velhecimento ativo da OMS.
Os dados obtidos poderão ajudar na construção de instrumentos e pa-
râmetros para futuras pesquisas, uma contribuição importante para a Ge-
rontologia Ambiental no Brasil e para o movimento mundial de Cidades
Amigas dos Idosos.
CIDADE PARA TODAS AS IDADES - CENTRO INTERNACIONAL DA LONGEVIDADE BRASIL - ILC BR 499
Tabelas
Tabela 1. Caracterização da amostra.
Projeto Jaguariúna, Cidade Amiga dos Idosos, 2016-2018
500 SEÇÃO 7
O município
O município de São José do Rio Preto, localizado ao norte do estado de
São Paulo e a 451Km de distância da capital São Paulo. Possui uma extensão
territorial de 431,30 km² e uma área urbana de 160.734km² com uma taxa de
urbanização de 93,93% possuindo dois distritos: Schimitt e Talhado. Conta
com uma população estimada de 447.924 habitantes (SEADE, 2019), com uma
taxa de crescimento anual de 0,96%. Classificado no Grupo 1 do Estado de São
Paulo (grupo de elite), com bons níveis de riqueza, longevidade e escolaridade
(SÃO JOSÉ DO RIO PRETO, 2019), tendo um Índice de Desenvolvimento Hu-
mano Municipal (IDHM) em 2013 de 0,797 e Índice Firjan de Desenvolvimento
CIDADE PARA TODAS AS IDADES - CENTRO INTERNACIONAL DA LONGEVIDADE BRASIL - ILC BR 503
Social Municipal (IFDM), referente ao ano base 2018, de 0,8753, que classifica
São José do Rio Preto em 9º lugar entre os municípios paulistas e 14º lugar no
Brasil (http://www.firjan.org.br/ifdm/consulta-ao-indice.)
Sede da região administrativa de São José do Rio Preto para 96 municí-
pios do estado de São Paulo. Tem como principal característica econômica a
prestação de serviços e comércio sendo referência para toda região noroes-
te do estado, se destacando principalmente no setor de saúde. Em razão de
sua localização estratégica, ligada às regiões Norte e Sul pela BR153 (Rodo-
via Transbrasiliana) e regiões Leste (Porto de Santos) e Oeste (Goiás e Mato
Grosso), pelas rodovias Washington Luiz, Euclides da Cunha e Feliciano Sa-
les Cunha, a região oferece condições de acesso a mercados em expansão e
centros fornecedores tradicionais (São José do Rio Preto, 2019). Apresenta
um PIB per capta de R$ 37.720,07, o que representa 0,778% do PIB do Estado.
O sistema de abastecimento de água cobre 92,87%, 99,08% de esgoto sanitá-
rio e 99,94% de coleta de lixo do município (SEADE, 2019).
Atualmente teve seu território divido em 10 regiões administrativas (Bos-
que, Céu, Pinheirinho, Talhado, Cidade da criança, Central, Represa, Vila
Toninho, Schimitt e HB) conforme Figura 1, por meio do Decreto 18.073-
29/06/18 com o intuito de constituir uma única divisão, potencializando a
gestão pública e contribuir para ações integradas no território (São José do
Rio Preto 2018).
Figura 1: Mapa da divisão dos territórios de São José do Rio Preto e estimativa
populacional em 2018. (São José do Rio Preto, 2018; São José do Rio Preto, 2019)
504 SEÇÃO 7
A metodologia
A pesquisa, realizada pela União das Faculdades dos Grandes Lagos –
Unilago em parceria com Centro Internacional de Longevidade do Brasil
506 SEÇÃO 7
Figura 2. Mapa de idosos vulneráveis nos territórios de São José do Rio Preto 2019
Considerações Finais
O projeto em andamento e o estudo aqui descrito de escuta qualificada
dos idosos da cidade, como uma linha de base para a produção de políticas
públicas, tem se mostrado de extrema importância para o diagnóstico das
condições de vida dos idosos e sobre o ambiente físico e urbano em que vi-
vem e contribuem de forma robusta na construção de uma política voltada
para as reais necessidades desta população.
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518 SEÇÃO 7
ORGANIZADORES
Áurea Soares Barroso
Pedagoga, Mestre em Gerontologia, Doutora em Serviço Social, Pós-Doutora em Ensino.
Tem experiência em pesquisa, docência e gestão pública. Especialista em Gerontologia
pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia(SBGG). Avaliadora de periódicos
indexados. Integra Bancas de Monografia, Mestrado e Doutorado em diversas Universidades.
- Voluntária na Pastoral da Pessoa Idosa: www.ppi.org.br
- Voluntária na Pastoral da Pessoa Idosa: HYPERLINK http://www.ppi.org.br www.ppi.org.br,
e-mail: HYPERLINK “mailto:barrosoaurea@gmail.com” barrosoaurea@gmail.com
Edgard Borsoi Viana
CEO desde 2008 da Brighton e simultaneamente a partir de 2019, diretor e fundador
da KTV - Retail as a Service. Conselheiro - Conselho Administrativo do Grupo Soneda e
do Conselho Consultivo da Creative Display. Diretor estatutário até 2008 do Unibanco,
membro dos Comitês de Ética e de Sustentabilidade do conglomerado e gestor da
Usina Termoelétrica Bandeirantes.Diretor executivo do Instituto Unibanco. Principal da
A.T. Kearney por 7 anos. CEO em 1997 da Savtech. Executivo nas áreas de Planejamento
Estratégico, Produtos e Desenvolvimento de Negócios, da Autolatina e Ford.
Ex-professor de Planejamento Estratégico em um programa desenvolvido em conjunto
com a FGV - Fundação Getúlio Vargas, o CEA – Centro de Estudos Automotivos e a
Peugeot no curso de Pós-Graduação em Gestão Automotiva para Executivos – 2010.
Membro do IBGC - Instituto Brasileiro de Governança Corporativa há mais de 15 anos,
do Harvard Business School Alumni Club desde 1994.Ex-diretor e conselheiro de ONGs,
como o Instituto Unibanco e Educacional Labor.
Formação Acadêmica (principais cursos). MBA Executivo PMD - Program for Management
Development Harvard Business School - Boston - MA-USA. Pós-graduação: CEAG -
Curso de Especialização em Administração para Graduado F.G.V. - Fundação Getúlio
Vargas - São Paulo - S.P. Especialização em: Finanças, Recursos Humanos; Marketing;
Sistemas e Métodos Quantitativos. Graduação Engenharia de Produção Mecânica - F.E.I.
- Faculdade de Engenharia Industrial -SBC- S.P. e-mail: edgard.viana@brighton.adm.br
AUTORES:
Adailton Almeida Mendonça
Enfermeiro. Mestrando do Programa de Pós-graduação em Gerontologia da
Universidade Católica de Brasília. E-mail: adailtonmendonca@hotmail.com
Alexandre da Silva
Doutor em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (FSP-USP). Professor Adjunto
da Faculdade de Medicina de Jundiaí (FMJ) – Departamento de Saúde Coletiva. Mestre
em Reabilitação pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Especialista em
Gerontologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Membro dos Grupos
Temáticos GT Racismo e Saúde e GT Envelhecimento e Saúde Coletiva da Associação
Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco). Membro Focal sobre Iniquidades e Desigualdades
Raciais e de Gênero do Centro Internacional de Longevidade (ILC-Brasil). Contato:
alexandre.geronto@gmail.com. Orcid id: https://orcid.org/0000-0002-5714-8992.
Andrezza Santos
Graduanda em Gerontologia. Membro do Centro Acadêmico de Gerontologia da
EACH|USP.andrezza.santos@usp.br - http://lattes.cnpq.br/3523824935909132.
António M. Fonseca
Licenciado em Psicologia e doutorado em Ciências Biomédicas pela Universidade do
Porto. Psicólogo membro efetivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses. Professor
Associado na Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa
(UCP). Coordenador do Mestrado em Gerontologia Social Aplicada na Faculdade de
Filosofia e Ciências Sociais da UCP. Membro integrado do Centro de Investigação em
Desenvolvimento Humano (UCP). Consultor da Fundação Calouste Gulbenkian (área do
Envelhecimento). Autor de publicações nos domínios do desenvolvimento psicológico
e do processo de envelhecimento. Publicou em 2018 a obra Guia de Boas Práticas de
Ageing in Place (https://gulbenkian.pt/publication/boas-praticas-de-ageing-in-place-
divulgar-para-valorizar/).E-mail: afonseca@porto.ucp.pt
Berenice Werle
Médica Geriatra, Mestrado em Clínica Médica com área de concentração em Geriatria
pela PUCRS, especialização em Cuidados Paliativos, vice-presidente da SBGG-RS. Possui
graduação em Medicina pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(1997). Atualmente é membro do corpo clínico do Hospital Moinhos de Vento, Diretora
Médica no Núcleo de Geriatria e Gerontologia. Tem experiência na área de Medicina,
com ênfase em Geriatria e em Cuidados Paliativos. Colaboradora do Centro Internacional
de Longevidade Brasil -ILC Br.
Caio Brunelli Brasiliense
Psicólogo, internacionalista, especialista em Gerontologia pelo Instituto Paulista de
Geriatria e Gerontologia José Ermírio de Moraes/Centro de Formação em Recursos
Humanos Dr. Antônio Guilherme de Souza – SES-SP, docente do curso de pós-graduação
em Gerontologia do Centro Universitário São Camilo.
Flavia Ranieri
Natural de Belo Horizonte, formou-se em Arquitetura e Urbanismo pela UFMG, pós-
graduação em Conforto Ambiental e Conservação de Energia pela USP, especialização
em Empreendedorismo e Novos Negócios pelo programa da Goldman Sachs e FGV,
além de pós-graduada em Gerontologia pelo Albert Einstein, Sociedade Beneficente
Israelita Brasileira.
Francisco Fabrício Firmino de Oliveira
Psicólogo – CRP 13/6490; Terapeuta exclusivo de Idosos; Gerontologista; Presidente da
Rede Social de Direitos Humanos para um Envelhecimento Ativo e Saudável – RSDHEAS
no Brasil; Professor de Pós de Graduação; Mestrando em Gerontologia; Pesquisador de
área do Envelhecimento; Congressista; Palestrante; Colaborador da Revista ENVELHECER
– Portugal; Facilitador de Cursos de Psico Estimulação; Voluntário no Condomínio
Programa Cidade Madura.
Ina Vöelcker
Gerontóloga pela Universidade de Vechta na Alemanha (2008), estágio na Organização
Mundial de Saúde em 2007 e intercambio universitário na UFPB em 2008; Mestrado em
Política Pública e Envelhecimento pelo King’s College London (2009/10); Global Ageing
Officer na HelpAge International em Londres 2012; de 2013 até 2019 Diretora Técnica
do Centro Internacional de Longevidade Brasil onde iniciou o projeto Cidade Amiga
do Idoso em Veranópolis e Jaguariúna e atuava em projetos e políticas internacionais
voltadas para pessoas idosas junto a Aliança Global de ILCs; desde abril 2019 trabalha na
BAGSO, Associação Alemã das Organizações de Pessoas Idosas.
Karla C. Giacomin
Médica Geriatra, Doutora em Ciências da Saúde pela FIOCRUZ, Coordenadora da Área
Técnica de Atenção à Saúde da Pessoa Idosa na Secretaria Municipal de Saúde de Belo
Horizonte, docente na PUC-MG e na UFMG, líder fundadora da Frente Nacional em
Defesa das ILPI no combate a pandemia COVID-19. Contato: kcgiacomin@gmail.com
Juliana Marinski
Graduada em Letras/Português, especialista em ensino da Língua Portuguesa, atua
como secretária administrativa na ILPI Santa Rita desde 2003 - jumarinski@bol.com.br
Marisa Accioly
Assistente Social .Doutora em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da USP.
Especialista em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.
Professora doutora do curso Gerontologia, bacharelado e pós-graduação da Escola
de Artes, Ciências e Humanidades da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da
Universidade de São Paulo - EACH|USP
Waldemar de Carli
Prefeito de Veranópolis gestão 2021–2024. Possui graduação em Medicina pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1976). Residência em Medicina Interna no
Hospital de Clinicas de Porto Alegre. Especialização em Cardiologia no Instituto Nacional
de Cardiologia do México. Mestrado em Cardiologia pela Universidade Nacional
Auonoma do Mexico (1981). Sócio colaborador da Associação Veranense de Assistência
em Saúde -AVAES. Médico cardiologista do Hospital Comunitário São Peregrino Lazziozi.
Coordenador clinico do Projeto Veranópolis Estudos em Envelhecimento Longevidade e
Qualidade de Vida.
Walquíria Cristina Batista Alves
Mestre em Ensino em Saúde (Cesupa), especialista em Gerontologia (SBGG).
Coordenadora da Especialização em Envelhecimento e Saúde do Idoso (Cesupa),
licenciatura plena em Educação Física (UEPA), professora efetiva da Secretaria de Estado
de Educação do Pará. E-mail: walquiriacris2012@gmail.com
Morar com a
família
Maria Odila Borsoi, 93 anos,
nascida em 1928, superativa, lú-
cida e totalmente independen-
te, decidiu morar com a família,
muito mais pela interação do
dia a dia. Tendo com esta opção
o privilégio de interagir diaria-
mente com a filha, netos e algu-
mas vezes na semana com a linda
bisneta de 7 anos. Uma vibran-
te interação entre 4 gerações.
Esta matriarca, filha de italianos,
adora a casa cheia.
Muito obrigado a ela por este
exemplo de vida.