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Impugnação À Contestação

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO

ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE CARINHANHA – BAHIA

Processo n° 8000891-76.2021.8.05.0051

EVA ALVES PEREIRA, já qualificada nos autos do processo em epígrafe,


vem, à presença de V. Exa., apresentar

IMPUGNAÇÃO ÀS CONTESTAÇÕES

diante dos fatos alegados pelas partes requeridas, o que faz abaixo:

Em síntese, a Primeira Requerida, BANCO FICSA, contestou a Ação


(ID n°128872384) com os seguintes argumentos: Da impugnação ao
comprovante de residência juntado aos autos, do cumprimento da liminar,
ausência de requisitos para a concessão da tutela de urgência.
Necessidade de reconsideração, da incompetência absoluta dos juizados
especiais cíveis para julgamento de causas de alta complexidade, da
impugnação à assistência judiciária gratuita, da inexistência de vestígio de
qualquer ilegalidade ou ilicitude na conduta adotada pelo réu. Ausência
de comprovação da alegada fraude praticada por terceiros, da ausência de
cobrança indevida em virtude do livre consentimento entre as partes. Por
cautela: Do fato de terceiro como excludente de responsabilidade. Da
inexistência do dever de indenizar, ausência de danos morais, inexistência
de danos materiais, inaplicabilidade do Artigo 42 do CDC, impossibilidade
de restituição em dobro, da impossibilidade de inversão do ônus da prova
e os honorários advocatícios em sede de juizado especial.

Do mesmo modo, a Segunda Requerida, BANCO BRADESCO,


contestou a ação (ID n°130089639), com as seguintes alegações:
Inexistência de responsabilidade nas transações realizadas por empresa
de terceiros, falta de documento que comprove que tenha sido exposta a
qualquer situação humilhante e/ou vexatória pelo Banco ora réu que
justifique o pedido de indenização por danos morais, do indeferimento do
pedido de antecipação, do rompimento do nexo de causalidade, da
inadmissibilidade da inversão do ônus probatório, da impossibilidade da

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restituição em dobro - ausência de cobrança indevida, bem como a
inexistência de dano moral.

De logo, a Requerente impugna os argumentos e teses alegados pelas


partes Requeridas, vez que restou cabalmente demonstrado que houve
flagrante falha na prestação de serviços das rés, que, indiscutivelmente,
agiram de forma dolosa ao realizarem contratação de empréstimo e de
cartão em nome da autora, sem a anuência desta.

I - DAS PRELIMINARES

DA INCOMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL ALEGADA PELOS


RÉUS

Com efeito, não merece prosperar a alegação de incompetência do


juizado em razão da complexidade da matéria. Exa., é indiscutível que
houve falha no serviço das rés ao não agirem com cautela e observância
ao contratarem empréstimo e cartão em nome da autora sem que a
mesma tenha assinado qualquer contrato com esse intuito.

Em verdade, Exa., trata-se de mais uma manobra deplorável das


Rés, sem qualquer chance de êxito perante o JUÍZO COMPETENTE, sendo
ele o JUIZADO ESPECIAL.

Ademais, a demanda em discussão se encontra situada nos devidos


parâmetros fixados pelo art. 3º da Lei 9.099/95, sendo esta a norma a ser
observada em primeiro plano, dada a sua especialidade.

Portanto, verifica-se que não há necessidade de produção de prova


pericial, ante a existência de outros elementos de provas capazes e hábeis
de formarem a convicção do n. julgador, sendo a alegação das rés
MERAMENTE PROTELATÓRIA.

II - DO MÉRITO – BANCO FICSA

DO CONTRATO ASSINADO E DOS VALORES CREDITADOS À


AUTORA

Inicialmente, em que pese a juntada do contrato pela Ré, ratifica-se


aqui a afirmação de que nunca houve a contratação de empréstimo
consignado, tendo em vista que em momento algum a autora foi
informada acerca do mesmo.

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Além disso, Exa., conforme já se comprovou nestes autos, (ID n°
65742683), após a interposição da presente ação, a autora realizou
depósito judicial com o valor creditado em sua conta, uma vez que jamais
celebrou contrato com a ré, e jamais houve interesse em usufruir da
quantia depositada em sua conta. Tal fato demonstra a boa-fé da
postulante em esclarecer a situação.

A realidade é que de alguma forma os Réus conseguem a


documentação dos consumidores e realizam contratos sem anuência dos
contratantes e de imediato começam a realizar descontos nos benefícios
dos aposentados, com base nesses contratos inválidos que apresentam, na
modalidade consignada, representando um desconto mínimo diretamente
em folha, o que pode ser observado pelo significativo número de
consumidores que têm ingressado com ações da mesma natureza,
inclusive perante este juízo.
Como pode a ré alegar que a autora se apresentou à agência e
firmou contrato pessoalmente, se não existe sequer agência bancária da ré
no município, e a autora é pessoa idosa, simples, humilde e que jamais se
afastou da zona rural do município. Se deslocando apenas para sacar o
seu benefício previdenciário.

Não resta dúvida, portanto, que tais empréstimos são frutos de um


conluio do qual faz parte os três réus, que se aproveitam da simplicidade e
boa-fé dos idosos recém aposentados no exato momento em que
comparecem ao banco pagador do benefício para receberem a primeira
aposentadoria, pois, este foi o único momento que a parte autora se viu
obrigada a assinar papéis que não lhes foram lidos, logo, de conteúdos
não revelados.

Porém, a fim de que não paire nenhuma dúvida acerca dos abusos
aqui mencionados, reitera-se que a autora compareceu apenas na agência
Bradesco para recebimento de seu primeiro benefício.

O contrato de empréstimo consignado é, hoje, um dos instrumentos


de concessão de crédito mais utilizado por indivíduos que percebem
benefício previdenciário. Entretanto, o número de fraudes e crimes
cometidos no uso do contrato de empréstimo consignado é enorme e
extremamente preocupante, sendo um dos principais problemas
encontrados entre a classe idosa e os rurícolas.

É possível que alguém, a serviço do banco que paga seu benefício,


tenha se aproveitado da condição da Requerente que é muito idosa e semi-

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analfabeta, tenha sido enganada no ato da assinatura de documentos
para receber seu cartão de benefício do INSS. Contudo, a idosa não pode
ser obrigada a suportar os efeitos da contratação indevida, principalmente
porque a mesma poderia ter sido evitada caso fosse maior o zelo do
Requerido na realização de seus pactos.

Portanto, não há que se falar em conhecimento da autora quanto ao


contrato assinado, tampouco que a mesma tinha interesse no valor
fornecido em sua conta, uma vez, como já demonstrado, a mesma
devolveu integralmente a quantia recebida, o que o fez através de depósito
judicial.

DOS DANOS MORAIS

Além do quanto exposto, a alegação de inexistência de danos morais


menospreza a realidade contida nos autos, vez que, in casu, claramente
houve falha na prestação dos serviços da Ré que realizou empréstimo
consignado em nome da autora sem que a mesma tenha solicitado.

A propósito, vejamos:

APELAÇÃO CÍVEL. DECISÃO MONOCRÁTICA.


RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS. EMPRÉSTIMOS NÃO CONTRATADOS. DANO
MORAL. CONFIGURAÇÃO. Comprovada a ilicitude do ato
praticado pelo réu, que descontou indevidamente da conta
bancária do autor parcelas de empréstimos que este não
contraiu, causando-lhe angústia e transtornos que ultrapassam
a esfera do mero aborrecimento, caracterizado está o dano moral
puro, exsurgindo, daí, o dever de indenizar. Condenação
mantida.QUANTUM INDENIZATÓRIO. MANUTENÇÃO. Na fixação
da reparação por dano extrapatrimonial, incumbe ao julgador,
atentando, sobretudo, para as condições do ofensor, do ofendido
e do bem jurídico lesado, e aos princípios da proporcionalidade e
razoabilidade, arbitrar quantum que se preste à suficiente
recomposição dos prejuízos, sem importar, contudo,
enriquecimento sem causa da vítima. A análise de tais critérios,
aliada às demais particularidades do caso concreto, conduz à
manutenção do montante indenizatório fixado em R$ 7.000,00
(sete mil reais), quantum que se revela suficiente e condizente
com as peculiaridades do caso e aos parâmetros adotados por
este órgão fracionário em situações análogas, com incidência dos
juros de mora e correção monetária, nos termos do determinado
na sentença. HIPÓTESE DE NEGATIVA DE SEGUIMENTO DO
APELO.(TJ-RS - AC: 70037821006 RS, Relator: Paulo Roberto
Lessa Franz, Data de Julgamento: 25/11/2010, Décima Câmara
Cível, Data de Publicação: 10/12/2010).

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Portanto, Exa., patentes os elementos necessários da
responsabilidade civil - a conduta, o dano e o nexo causal -, surge para o
fornecedor, ora Ré, o dever de indenizar a parte autora, nos termos do art.
5º, X, da CRFB/1988, arts. 6º, VI, e 14, do Código de Defesa do
Consumidor, vigentes quando do evento danoso. 

DA LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ

Cumpre observar que a litigância de má-fé deve ser provada e não


simplesmente alegada, assim, a parte ré quando alegou genericamente
que a parte autora é litigante de má-fé, não trouxe provas da suposta
litigância de má-fé imputada à parte autora, o que demonstra a tentativa
famigerada de amedrontar a requerente.

Por outro lado, como já demonstrado, in casu, trata-se justamente


do inverso, pois ao realizar depósito judicial com a quantia disponibilizada
em sua conta, a autora demonstra sua boa-fé ao não usufruir de um valor
que não lhe pertencia por não haver demonstrado nenhum interesse na
solicitação do crédito.

Veja, Exa., que a parte autora embasa as suas afirmações em


documentos e não está aqui se prestando a uma aventura jurídica, ao
contrário do que faz a parte ré ao utilizar documentos produzidos
unilateralmente que podem ser facilmente alterados e que não
demonstram a origem do suposto negócio jurídico, assim, os documentos
não servem como meio de prova.

III - DO MÉRITO – BANCO BRADESCO

DA DISPONIBILIZAÇÃO DO VALOR DO SAQUE – RESTITUIÇÃO


DO VALOR PELA PARTE AUTORA (Item 2.7 da peça contestatória)

Exa., em que pese o Réu haver afirmado pela colação de uma TED
em favor da parte autora, a verdade é que a Requerente jamais celebrou o
contrato n° 61736750 com o Requerido – Banco BMG, pois desconhece
qualquer funcionário, endereço, ou representantes com os quais a parte
autora tenha falado, solicitado, ou assinado qualquer documento
relacionado ao aludido crédito. Portanto, não realizou nenhum saque
autorizado no valor de R$ 1.390,00 (mil trezentos e noventa reais).

A propósito, a autora somente tomou conhecimento da


disponibilização do crédito mencionado pelo BMG na data de hoje,
26/04/2021, todavia, se de fato houve lançamento de crédito em favor da
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parte autora – indevido e não solicitado -, tal crédito não ingressou na
conta corrente da autora, conforme extrato da conta corrente já anexado
aos autos, ID n° 65593040.

Todavia, considerando a afirmação contida na peça de defesa, pode


ter ocorrido que, indevidamente, e sem autorização, a parte ré tenha feito
o crédito na conta poupança da requerente, que, por sua vez, por ser
pessoa simples, humilde e semi-analfabeta, nunca consultou sua conta
poupança, pois nela jamais depositou qualquer valor.

Diante disso, e para que não paire nenhuma dúvida sobre os


abusos cometidos pelos réus, e em especial pelo banco BMG, requer-se
prazo de 5 (cinco) dias úteis para a requerente solicitar novo extrato de
sua conta corrente e conta poupança junto ao banco Bradesco – onde
recebe sua aposentadoria rural -, a fim de demonstrar que, se algum valor
lhe foi indevidamente creditado, ali se encontra sem qualquer
movimentação de saque, cuja monta será depositada em juízo, tal como foi
depositado o valor indevidamente creditado pelo Réu – Banco Safra (ID n°
65742683).

DOS DANOS MORAIS

O Requerido alega em sua contestação que inexiste ato ilícito


imputável a ele, e não teria a obrigação de indenizar.

Ocorre que a Autora tem plena convicção que nunca contratou


Cartão de Crédito com a requerida, sendo consequência lógica a
inexistência do pacto. Se porventura ocorreu a contratação foi através de
fraude, posto que sem o consentimento.

A Autora é um alvo fácil para as instituições financeiras ou mesmo


de terceiros que se aproveitam comumente de sua hipossuficiência para
realizar negócios fraudulentos.

O nexo causal entre o agir ofensivo e o prejuízo experimentado pelo


Requerente são extraídos do fato e do dano, pois foi o fato das cobranças
indevidas de débitos e a suas manutenções que lhe causaram prejuízos de
ordem moral.

Ademais, é importante destacar o art. 14 do Código de Defesa do


Consumidor que preceitua a respeito da responsabilidade objetiva no
fornecimento de serviços, in verbis, “O fornecedor de serviços responde,
independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos
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causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos
serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre
sua fruição e riscos”.

Assim, estão devidamente comprovados os requisitos aptos a gerar o


dever de indenizar a Requerente, devendo o Requerido ser condenado à
reparação civil postulada.

DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

A inversão de que trata o artigo 6º, VIII, do Código de Defesa do


Consumidor, dispõe que é direito básico do consumidor a facilitação da
defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu
favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a
alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias
de experiência.

Destarte, demonstrado no caso em tela que a autora é


hipossuficiente, e que, além de restar caracterizado verdadeiro o fato de
que a mesma jamais realizou contratação de Cartão de Crédito com a
requerida, caberia somente a ela, parte ré, o zelo e o cuidado necessário
para evitar a contratação de pacto jamais solicitado pela autora.

Por fim, a Requerente ratifica todos os termos da inicial, ao tempo


em que impugna na sua inteireza as peças contestatórias

Nestes termos, pede deferimento.

Carinhanha, BA, 26 de abril de 2021.

Milton Pereira Pinto


OAB/BA 19.225

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