Desenvolvimento Psicomotor Dayse Vitor
Desenvolvimento Psicomotor Dayse Vitor
Desenvolvimento Psicomotor Dayse Vitor
O desenvolvimento psicomotor compreende a organização neurológica das sensações e dos movimentos. A integração
das sensações é processada no cérebro, onde se produz o desenvolvimento psicomotor que envolve a passagem de
informações e a nutrição dos neurônios, a fusão das várias sensações gera significações e produz respostas adaptativas, no
caso, o movimento. Desenvolvimento é a condição de aprendizagem (Fonseca, 1996).
A criança desde seu nascimento apresenta potencialidades para se desenvolver, mas para que este desenvolvimento se
processe, ela depende não só da maturação orgânica, mas também do intercâmbio com o outro. Este intercâmbio tem uma
influência muito grande na orientação do temperamento e da personalidade, porque é daí que o "ser" se descobre e que
sua personalidade se constrói gradualmente.
As modificações operadas na natureza, as relações de troca entre a motricidade do indivíduo e o meio, a qualidade dos
movimentos e das relações motoras influem na maturação do sistema nervoso central e na maturação do psiquismo.
A mielinização e a função nervosa dentro de uma dialética tônica, é no período fetal, um fator de maturação
importantíssimo, em que estão compreendidos os fenômenos de condução do influxo nervoso, que, partindo da periferia
(músculos), atinge o cérebro, desencadeando uma integração genética que apoia o desenvolvimento psicomotor da criança
(Fonseca, 1995). Nos primeiros anos, são os centros subcorticais que se encontram mais equipados e funcionalmente mais
ativos.
O córtex, ao receber as aferências sensoriais e afetivas, encarrega-se da percepção do meio que só pode ser adquirida
através das experiências motoras, integradoras dos fenômenos do espaço e do tempo e das relações com o mundo dos
objetos e com o mundo das pessoas.
A importância motora e a ausência de autonomia, que é inerente à fase inicial do desenvolvimento do ser humano,
transporta uma matriz simbólica que as teorias psicanalíticas têm captado exemplarmente, em que fluem dialéticas de
identificação projetadas nos fenômenos da imitação e da linguagem. Melanie Klein (1975) foi uma das primeiras autoras a
equacionar as frustrações orais e a liberação das pulsões edipianas relacionadas com a motricidade, emprestando a ela
toda uma significação comportamental e expressiva que convém não esquecer (Fonseca, 1995).
A criança não descobre o mundo por si própria. É através da mãe que ela atinge a relação objetal, através do corpo dela,
como primeiro objeto externo. Neste momento, lançamos mão da psicanálise como meio de ajuda da percepção do
problema da relação objetal e social. Considerando todos esses aspectos, percebemos que o movimento é algo mais do que
um simples mecanismo.
A criança, desde os primeiros dias de vida, estabelece um diálogo tônico-cinético: são os primeiros gestos úteis, em que
há descargas motoras, ou inibições de movimentos dos quais derivam tensões, mesmo sem a consciência do bebê. A mãe
interpreta essas reações de diversas formas: como desconforto, reagindo através de cuidados tenta acalmar a criança
alimentando-a ou trocando sua fralda: ou com tranqüilidade podendo reagir através de estimulação do bebê. Para Wallon
(1949) essas primeiras manifestações motoras inseridas no diálogo mãe-filho são expressivas, carregadas de emoções, que
mais tarde originarão o mundo da representação, através das atitudes e imagens postas em jogo pelo movimento.
Os movimentos especializados e esquemas reflexos permitem o contato com a realidade e a sobrevivência. Estes
esquemas se modificam pelo processo de adaptação e maturação, como por exemplo, a sucção, e começam a ter um papel
rudimentar de instrumento de conhecimento (Piaget, 1945).
A organização neurológica da motricidade e da linguagem muda com a aprendizagem, assim, a variação estrutural das
funções mentais superiores em diferentes períodos da ontogênese mostra que a organização cortical muda com a idade e
não se mantém estática. A mudança da organização cortical em diferentes estágios de desenvolvimento explica que as
mesmas funções passam a ser realizadas por diferentes constelações de trabalho (Luria, 1980). Portanto o
desenvolvimento motor humano, nos primeiros meses, envolve essencialmente a constelação de trabalho formada pelos
centros mesencefálicos que produzem os reflexos não condicionados, integrando-os progressivamente em padrões mais
diferenciados.
Em torno de um mês de idade, os músculos antegravíticos ainda não suportam o tronco e a cabeça. Aparecem os
elementos que constituem o arco reflexo. Mas, aos quatro meses, este controle tônico, para se opor à gravidade, começa
acontecer na postura de reptação e de sentado com suporte, postura simétrica e a exploração visual dos objetos agarrados
pelas mãos e a diferenciação dos territórios frontais dos parietais. Aos cinco meses, a mielinização das vias espinais dorsais
começa a desenrolar-se, simultaneamente com a via piramidal, a partir do córtex, seguindo a lei cefalo-caudal. Na lei
cefalo-caudal a evoluçäo motora da criança se da, da cabeça (controle e sustentaçäo da cabeça), para parte inferior do
corpo (até o controle dos membros inferiores que possibilita o andar). Já aos sete meses, a lei cefalo-caudal introduz novos
avanços na mielinização. Observam-se as primeiras conexões sensório-motoras (visão-mão), pseudo-identificação do
espelho e melhor controle tônico postural e a boca como órgão táctil de conhecimento corporal (a boca é o único local
entre a sensação e o movimento). Aos oito meses, a constelação talâmica, límbica e cerebelar encarregam-se de posturas
antegravíticas e de condutas emocionais e de socialização. Com dez meses, já existe o controle da postura do sentar, as
mãos já estão livres para agarrar, manipular e largar, dá-se o início da locomoção quadrúpede e despontam os ensaios para
a etapa bípede. Aos doze meses, outra constelação entra em jogo, é a constelação córtico-cerebelar, que produz a postura
bípede, que é um grande marco da antropogênese e da maturação cerebral.
O corpo começa a ampliar seu papel de instrumento de conhecimento de si mesmo e do mundo e de
instrumento expressivo. As sensibilidades interoceptivas, proprioceptivas exteroceptivas se diferenciam, e surgem os
rudimentos de um eu corporal, do mundo interno da criança, dividido em objetos bons e objetos maus, pelo processo de
introjeção e projeção. A criança usa seu corpo para entrar em contato com os objetos concretos. Ele começa a descobrir
coisas interessantes, como o movimento, o gesto que muitas vezes repete por um prazer funcional.
Formam-se as reações circulares, secundárias e a seguir as terciárias em que os resultados da ação são
integrados pela atividade assimiladora, numa espécie de conceituação sensório-motora (Piaget, 1936). Neste momento,
para o bebê, os objetos percebidos na ação não são ainda separados dele mesmo, sendo apenas um prolongamento de seu
gesto. Ele começa a coordenar precariamente espaços visuais, táteis, anestésicos e auditivos. Para ele, o mundo não é ainda
espacial e nem temporal. O primeiro intervalo tempo-espaço entre o mundo exterior e o bebê começa a surgir quando ele
vivencia frustração, isto num contexto de uma maternagem adequada, como por exemplo, na espera de uma mamada. Há
um paralelo entre a descoberta cognitiva do mundo e a elaboração afetiva das relações objetais. O bebê é onipotente em
relação aos objetos concretos sentidos como simples prolongamento dele e de sua ação. Ele lida também onipotentemente
com sua mãe, pois ela é um prolongamento dele e age da mesma forma com relação a seus objetos internos parciais.
Do mesmo modo que o mundo concreto e o objeto de amor começam a ser descoberto, também se inicia um
núcleo primário da imagem corporal. Este núcleo é ainda difuso e mal separado, mas nele as mãos, graças a sua crescente
mobilidade e às novas possibilidades de coordenação viso-motora, começam a ser privilegiadas como elementos
substitutivos da mãe. As mãos como algo que pertencem ao corpo próprio, evoluem no espaço externo e são mediadoras
entre os rudimentos do self (espaço bucal, cavidade bucal sentida pela primazia da interoceptividade e da zona erógena
oral) e o mundo do não self (espaço externo), (Kestemberg in Cabral, 1987).
A criança evolui em seu controle tônico e motor, assenta, engatinha e depois começa a andar. Coordena sua
preensão num tipo cúbito-palmar. Novas possibilidades de se locomover e de fazer manipulações mais finas ampliam seu
campo de ação. Inicia-se a coordenação dos esquemas de ação. Ela busca objetos desaparecidos, por exemplo, retira um
pano de cima de um brinquedo para se apossar dele. Esta conduta é um marco evolutivo, pois é sinal de que os objetos se
tornaram permanentes (Piaget in Cabral, 1987).
Afetivamente a criança evolui e seu relacionamento passa a ser com um objeto total. Internamente ela
localiza a mãe e a experiência ao desmame, que è a primeira separação clara vivenciada pela criança e que aumenta
ansiedades depressivas. O medo da criança é de que a mãe amada seja perdida, não só a mãe real, mas também a mãe boa
interna (Klein in Cabral, 1987). As brincadeiras de esconde-esconde, os gestos de adeus e aceno são meios de reconfortar
esta perda e essa mágoa. O engatinhar e o caminhar permitem a aproximação da criança ao seu objeto de amor e lhe ajuda
também na independência em relação a esse objeto. O andar, subir, descer, jogar são sinais de crescente independência. A
motricidade, portanto, exprime sentimento de ligação com o outro e é uma fonte de satisfação que permite afastar-se do
outro. Ela é instrumento de autonomia (Flagey in Cabral, 1987).
Em torno de um e meio aos dois anos de idade, a constelação frontal já programada, ações seqüenciais e
intencionais e engramas motores são integrados em padrões de reação cada vez mais diferenciados e humanizados. A
criança começa ampliar mais o seu mundo, com as conquistas tônico-motoras e posturais. Ela aprende a controlar graus de
tensões diferentes, fica de pé com maior controle, consegue explorar melhor o espaço, é capaz de usar instrumentos para
bater, e de segurar o lápis com os dedos. Usa os objetos de maneira adequada, como: luva/mão e sapato/pé. É o fim da
fase cefalo-caudal e início da próximo-distal. Na lei próximo distal o desenvolvimento motor responde pela seqüência
evolutiva direcionada do eixo do corpo para as extremidades dos membros, e dos grandes grupos musculares para as
menores unidades, ou seja, primeiro observa-se o controle do tronco até chegar ao controle motor mais fino dos dedos.
É interessante notar que em toda a movimentação da criança predomina um certo ritmo de mudanças de
tensão que segue um padrão investido afetivamente que é o da retenção/expulsão característico da fase anal (Cabral,
1987).
A criança pega um objeto e o observa atentamente e depois o atira no chão. Levanta-se e depois se deixa cair.
Oscila entre uma atividade incessante com uma certa irritabilidade devido a sua hiperestimulação nas novas conquistas
corporais e entre momentos de pausa em que busca um certo controle externo e um reasseguramento aproximando-se de
sua mãe É a mãe que a ajuda a se controlar inclusive com o treino dos hábitos de higiene (Cabral, 1987).
De acordo com o colorido das fantasias ligadas aos ritmos de retenção-expulsão a movimentação e o controle
esfincteriano serão melhores organizados ou, em certos casos, prejudicados. Por exemplo, se o mundo interno é povoado
de fantasias ameaçadoras, as fezes podem se ligar à agressividade e se tornar uma "arma" usada contra os pais levando à
culpa frente ao ataque imaginário (Klein in Cabral, 1987). A atividade restritiva dos pais reforça estas fantasias e o controle
esfincteriano se torna difícil como também os movimentos que requerem um controle e coordenação mais fina.
A maturação psicomotora e a vivência das fantasias anais, num contexto de relacionamento objetal
adequado, promovem o desenvolvimento global (Cabral, 1987). A criança que torna capaz de dominar o seu corpo e o
controlá-lo durante suas ações, consegue explorar melhor o mundo, lança-se em novas descobertas e inventa novos meios
para resolver melhor, situações-problema.
Há uma elaboração interior que se apoia na representação mental começando a se elaborar significados
práticos representados por significantes gestos, imitações, palavras simples e onomatopéias (Piaget in Cabral, 1987). Sons,
palavras e pensamentos tornam-se atividades privilegiadas. Toda compreensão de si mesmo e do mundo modifica-se com
as novas possibilidades de controle, de discriminação e de representação mental.
A criança já está separada da mãe e prossegue no caminho de sua individuação, mas ela ainda necessita da
presença daquela. Sua intencionalidade e auto suficiência ainda não são plenamente acompanhadas pela capacidade de
manter efetivamente a separação da mãe (Mahler in Cabral, 1987).
No caminho dessa individuação a imagem corporal torna-se unificada e se reflete exteriormente numa
atitude corporal que perde o "ar de bebê" (Kestemberg in Cabral, 1987). A autoconsciência revela-se no reconhecimento da
própria imagem refletida no espelho (Berthand in Cabral, 1987). A criança se vê como um todo: "sou eu que brinco com
minha imagem, fazendo mímicas, caretas e acrobacias frente ao espelho". Esta maior individuação é refletida através das
palavras eu, meu e do não.
A crise de oposição e negativismo é expressão desse self que tem consciência de si mesmo amando num
espaço e num tempo recém descobertos, e se relacionando com objetos independentes do eu (Spitz in Cabral, 1987).
Já com três anos de idade, com sua marcha automatizada, a criança a usa para se projetar no mundo através
de suas acrobacias, correndo, subindo em lugares altos, às vezes ainda levando quedas, que podem até machucá-la. Na fase
de achar que "eu mesmo faço", ainda precisa da mãe para ajudá-la a se controlar e restaurar sua integridade. A criança
estrutura melhor sua imagem corporal, integrando sensações e observações passadas e presentes. Com muitas atividades
incessantes, às vezes ainda deixa escapulir sua urina, do mesmo modo que não controla bem o início e o fim de suas ações
O desaparecimento da comida dentro do corpo e a saída das fezes e da urina focalizam a atenção da criança
no que se passa dentro dela. As fantasias subseqüentes de penetração e de ter um bebê levam-na a ingressar na fase fálica
e edipiana (Cabral, 1987). Neste momento o mundo externo começa a se espacializar e temporalizar de modo mais
simbólico.
As representações do self e do objeto de amor adquirem continuidade. A criança e a mãe passam a ter uma
história, um ontem, um hoje e um amanhã. O tempo torna-se regulador da vida (Kestemberg in Cabral, 1987). O controle
postural perfeito e o equilíbrio estático controlam objetos realizando simultaneamente gestos diferenciados nos membros
superiores e inferiores (dissociação). O jogo passa a ser uma constante e apresenta o controle óculo-mano-bucal, ex:
talheres.
O espaço começa a se organizar cognitivamente. A criança usa e percebe deslocamentos e inicia a orientação
em relação a seu próprio corpo e a pontos de referência externos. Entretanto, o espaço em que ela vive é ainda colorido
por todas suas fantasias e é, em princípio, um espaço afetivo. Noções de dimensões, de distância-proximidade, de direção
são vivenciadas com segurança ou insegurança, sentimentos estes ligados ao vínculo afetivo mãe-filho. Assim toda distância
é uma separação com a conseqüente vivência de angústia. Toda forma fechada é uma "casa" e, talvez mais
regressivamente, o ventre da mãe (Lapierre, 1986).
Em tomo de quatro a seis anos, a criança continua sua exploração do mundo. Tem condições de dominar a
imagem corporal, é capaz de compreender palavras, visualizar a imagem, e tem linguagem social. Apresenta domínio das
funções motoras globais e finas, apropriações perceptivas, motoras e pré-operacionais. Com menos sincinesias, seus
braços, tem mais força e seus movimentos tornam-se mais fáceis, pois apresenta uma intensa energia associada a uma
organização mental de grande mobilidade. É muito falante.
O corpo adquire seu valor pleno de instrumento de ação e de instrumento expressivo das fantasias e conflitos
inerentes à fase fálica edipiana (Cabral, 1987).
As pulsões estão exacerbadas e a criança vive o conflito de amar e o de odiar, podendo mudar de um
sentimento edípico para o outro (Kestemberg in Cabral, 1987).
Começa a se expressar corporalmente nos contrastes tônico-motores, pois a resolução do complexo de Édipo
leva à discriminação de desejos opostos e à afirmação da identidade. Esses contrastes evidenciam através dos saltos,
preparando-os com um aumento de forças e tensões, avançando no espaço, procurando expandir o seu corpo, ao mesmo
tempo mostrando leveza no final. Percebe-se bem esta dissociação pela atitude corporal. Vivendo esses opostos de seu
corpo surgem as noções de simetria em relação a seu próprio eixo, percebem que há o lado direito e o lado esquerdo, assim
a lateralidade vai se afirmando. A imagem corporal adquire uma certa estabilidade, que vai se remodelar na puberdade.
A imagem corporal remodela-se tanto no menino quanto na menina, em função das fantasias ligadas a
possuir ou não o pênis e se reorganiza em função dessas zonas erógenas e das fantasias edipianas. A identidade sexual
fundamental já está adquirida e afirmada, e no nível da imagem corporal a representação sexual vai se ligar a um esquema
castrado ou não castrado que marca toda problemática edípica (Barrés in Cabral, 1987).
Como a imagem corporal foi integrada, o espaço e o tempo são percebidos como um todo. Nessa fase a
criança começa a se situar como um ser no mundo, e procura elaborar cognitivamente as noções espaços-temporais. O
tempo é estruturado com noções de intervalo, sucessão e duração, mas ainda não é bem abstraído e socializado. Noções
como horas, dias, meses e anos, medidas temporais não são ainda bem compreendidas, mas os ritmos são vividos
intensamente pela criança. O espaço se organiza e se orienta em termos de direções e orientações contrastantes como: de
um lado, do outro, em cima, e em baixo, mas para representá-lo em termos gráficos ainda existem falhas. Falta para a
criança a compreensão dos invariantes só alcançada na próxima fase operatória com a noção de conservação descrita nas
conhecidas experiências de Piaget (1975).
Entendemos que o tempo, espaço, números, forma, textura, cor e causalidade são elementos principais do
mundo das coisas que a criança tem de encontrar por si mesma. Ela vai adquirindo o domínio desses elementos por graus
demorados, primeiro, através de seus músculos, de manuseamento, de locomoção, pelos olhos, mãos e pés. A criança não
consegue sequer a contar até três, enquanto não tiver aprendido a agarrar e largar objetos, um a um, com os olhos e com
os dedos. O domínio da forma surge, analogamente, através de explorações motora. Piaget (1975) definiu o
desenvolvimento com um continuum ao longo da vida, do nascimento até a morte, e definiu as mudanças e a aquisição do
conhecimento como algo gradual.
Como psicomotricistas entendemos que o desenvolvimento psicomotor deverá ser estimulado com a
Educação Psicomotora, desde o lar à Educação Infantil, de maneira preventiva dos distúrbios de aprendizagem. A Educação
Psicomotora abrange todas as aprendizagens da criança, processadas por etapas que são progressivas e específicas desde o
período sensório-motor ao final do pré-operatório, (estágios bem definido por Piaget), promovendo um trabalho de
prevenção na primeira infância.
Para Le Bouch (1986), a Educação Psicomotora refere-se à formação de base indispensável a toda criança
procurando assegurar seu desenvolvimento funcional tendo em conta a possibilidade da criança ajudar sua afetividade a
expandir-se e a equilibrar-se através do intercâmbio com o ambiente humano.
_______________________________________________________________
* Professor catedrático no departamento de educação especial e reabilitação da faculdade de motricidade humana da
Universidade Técnica de Lisboa. Doutorado PHD em Educação Especial e Reabilitação (Portugal)
3 TEXTO – PSICOMOTRICIDADE - Prof. Ricardo Alves - 27/08/2008
Esse material teórico foi elaborado para ajudar o aluno em seus estudos sobre a Psicomotricidade, servindo de base para o
aprofundamento dos temas apresentados em aula e na discussão e reflexão dos mesmos após leituras e pesquisas em outras
fontes.
“O desenvolvimento depende do amadurecimento do organismo neural e estrutural que resultará em aprendizagem”.
(Fabiana Albino, 2003). Aprendizagem é o resultado da estimulação do ambiente sobre o indivíduo em amadurecimento. É a
mudança do comportamento em função da experiência “. (Fabiana Albino, 2003)”.
Temos a “AÇÃO” e o “ATO” e a cada momento desenvolvemos uma “AÇÃO” que nos leva ao “ATO”. “AÇÃO”: necessita do
outro para que exista. O ser humano, na sua evolução, não conhece as coisas sozinho e sim na relação com o outro.. O primeiro
outro do ser humano é a sua mãe (ou quem exerceu essa função). “A mãe é o primeiro objeto exterior do sujeito”. (Esteban
Levin, 1995). “ATO”: é a “AÇÃO” intencional. Essa intencionalidade dá ao movimento um conteúdo consciente. O “ATO” está
ligado ao sujeito, ou seja, a nossa responsabilidade sobre nossas “AÇÕES”.
O sujeito se inicia na “AÇÃO” e aos poucos vai aprendendo (construindo) sobre seus “ATOS”. Evoluímos então da “AÇÃO” a
práxia (ao ATO). Em qualquer aprendizagem, esses dados acima devem ser levados em consideração, pois a criança, no ato de
aprender, precisa ser desejada pela pessoa que coordena o ensinar e pela escola também.
Nesse aspecto, o aluno que apresenta algum problema, deve ser investido positivamente, caso contrário, não suportará
viver em tamanha tensão. A tendência será o aumento desta tensão nas relações, até a exclusão total desse aluno do processo.
Enquanto o professor estiver voltado para a turma, não conseguirá enxergar um a um (individualmente cada aluno), o que
deveria ser seu compromisso, pois ele mesmo não é igual a todos os outros professores.
Nessa perspectiva, é importante o professor lembrar de sua história, de como foi ensinado, de como foi aluno, o que foi
construído em si próprio de crença em ser professor. Outro aspecto interessante na aprendizagem é o “NÃO”. Quem lida com
educação necessita trabalhar o “NÃO”. Para dizer “NÃO”, necessita-se de responsabilidade, pois com o “SIM”, o aluno lida desde
que nasceu. Todo professor deveria ter sido marcado por um Pai, que significa a Lei. O Pai é a metáfora da Lei, da ordem do
“NÃO” e do “SIM”.
O saber de uma criança, primeiro sobre seu corpo e depois sobre as coisas, é construído pelo outro. Ela precisa de um
outro para construir um saber sobre o seu corpo e sobre as coisas. Isso é próprio da humanização. Muitos professores ao longo
de sua carreira não inventam novas formas de construírem um saber nos alunos, repetem construções de saberes que muitas
vezes não servem para todos os alunos.
Nesse aspecto, uma parte da humanização desse aluno, ora na escola, está no ATO de suportar o ensino e a do professor,
equilibrar o prazer e a castração. O professor precisa perceber que com as alterações na estrutura da sociedade, na família ou
no ambiente familiar, o Pai muitas vezes não está nesse lugar de poder e cada vez mais o filho é que tem sido (transformado)
numa promessa, invertendo o simbólico, nas passagens importantes da infância para a adolescência, alterando a chegada na
fase adulta.
As meninas não brincam (simbolizam) com as bonecas, de serem suas mães e sim de modelos, com um modelo de corpo
(boneca) formado e elas passam, (se transformam) naquele modelo. Os meninos por sua vez, não brincam mais de futebol, eles
são treinados, na promessa de serem transformados no atleta formado, não construindo um saber pelas várias estratégias já
estudadas, como o jogo simbólico, a pré-operação e a operação. Esse saber é imposto.
Assim como com a boneca, ou com o futebol, na Educação Infantil, se algum saber for imposto não gerará base de
conhecimentos. Daí poder se pensar melhor na adolescência qual o saber construído no aluno, um a um, para que eu possa
investir nele e não exilá-lo do processo. A questão está, muitas vezes, em comofazer isso, e ao nosso ver essa possibilidade passa
a ser ampliada com a supervisão.
A imagem corporal de um aluno também é construída pelo olhar psicomotor do professor, que confirma nele o aprendido,
ou o deseja como aprendiz. Se esse professor não tem sua própria imagem corporal bem organizada, será difícil confirmar ou
ajudar a construir nesse sujeito, um aprendizado ou mesmo um sujeito.
O professor que não se trabalha corporalmente dificilmente compreenderá como trabalhar o corpo do outro (o aluno).
Algumas questões então nos preocupam: Como o professor lida com a falta? Com esse buraco que há na gente e que nunca
fecha ? Com a impaciência ou a incapacidade do aluno? Como ele lida com o seu próprio “não saber”? O educador deve criar
situações onde a criança tenha chance de vivenciar experiências de:
DISCRIMINAÇÃO CINESTÉSICA
Relação do corpo com os objetos circundantes no espaço e no tempo de uma forma consciente.
DISCRIMINAÇÃO VISUAL
Acuidade, acompanhamento, memória, figura-fundo, constância auditiva.
DISCRIMINAÇÃO TÁTIL (sensibilidade, percepção, etc...)
Também são importantes o controle da respiração, o relaxamento, a observação da tonicidade e a independência dos
membros em relação ao tronco.
“Com base nos estudos de Lúria (1973), o cérebro humano é composto por unidades funcionais básicas, onde cada uma
possui uma função específica em relação ao todo que constitui a atividade mental humana nas suas múltiplas e variadas formas.
Lúria, divide em três essas unidades funcionais fundamentais à organização cerebral básica, ou seja à evolução humana. Essas
unidades são necessárias a qualquer tipo de atividade mental, nos movimentos voluntários, na elaboração
práxica e psicomotora, na produção da linguagem falada ou escrita”. (ALBINO, 2003).
A Neuropsicologia, um ramo novo da ciência cujo objetivo específico e peculiar é a investigação do papel de sistemas
cerebrais individuais em formas complexas de atividade mental, surge para elucidar questões sobre os mecanismos
fundamentais da atividade (percepção e pensamento), de fala e de comunicação social, da formação de planos e programas de
comportamento e de regulação e controle de sua realização ativa, ou seja, descrever a estrutura da atividade humana.
“Os processos mentais do homem em geral, e a sua atividade consciente em particular, sempre ocorrem com a
participação das t rês Unidades Funcionais ”. (LÚRIA, p.26,1981)
Cada Unidade exige uma estrutura hierarquizada e consiste em três zonas corticais construídas uma acima da outra: Áreas
primárias – de projeção – recebem impulsos da periferia ou os enviam para ela; Áreas secundárias – de projeção – associação –
onde as informações que chegam são programadas e preparadas;
Áreas terciárias – de superposição – responsáveis pelas formas mais complexas de atividade mental que requerem a
participação em concerto de muitas áreas corticais.
“O Cérebro humano é composto, segundo Lúria, por unidades funcionais básicas, cada uma delas possuindo uma função
particular e peculiar, no todo, que constitui a atividade mental humana nas suas múltiplas e variadas formas.” (Vítor da
Fonseca).
1ª UNIDADE FUNCIONAL:
(DE REGULAÇÃO TÔNICA, DE ALERTA E DOS ESTADOS MENTAIS)
Mantém o tônus cortical ( e o tônus corporal); Experimentam as influências superiores do córtex; Trabalha em íntima
relação com os sistemas superiores corticais; Colabora com os sistemas superiores cort icais em todas as manifestações da
atividade consciente do ser humano – programações de ações voluntárias, processos de decodif icação e de codif icação
simbólica. The living Brain - (Fundamentos de Neuropsicologia) Grey Walter Explicação para os mecanismos íntimos de
funcionamento do cérebro humano – eletrofisiologia mode (O cérebro desperto) “Com o seu aparecimento o cérebro do
homem e dos animais deixou de ser encarado como um aparelho responsivo puramente passivo, e assim se deram os primeiros
passos para o seu reconhecimento como um sistema ativo, vigilante”. H. Magoun
2ª UNIDADE FUNCIONAL:
(DE RECEPÇÃO, ANÁLISE E ARMAZENAMENTO DA INFORMAÇÃO)
Localiza-se nas divisões posteriores dos hemisférios; Incorpora o lóbulo occipital (visão), o lóbulo parietal (tát
ilquinestésico) e o lóbulo temporal (audição);
Organização hierarquizada e subdividida em:
Zonas nucleares primárias (projetivas) – recebem aferências dos analisadores específ icos;
Zonas secundárias (projet ivo-associativas) – responsáveis pela codif icação e síntese
Zonas terciárias (associativas) – responsáveis pelo co-trabalho dos vários analisadores de sistemas supramodais
(simbólicos) – básicas para as atividades gnósicas e cognitivas.
3ª UNIDADE FUNCIONAL:
(REGULAÇÃO E VERIFICAÇÃO DA ATIVIDADE)
Localizada nas regiões anteriores do córtex, formando os lóbulos frontais; Regula os movimentos voluntários; Responsável
pela programação, regulação e verif icação da atividade; “Propicia ao ser humano a capacidade de reagir ativamente à
informação recebida e, simultaneamente, da capacidade de criar intenções, formar planos e est ratégias e programar as suas
ações, inspecionando a sua realização e, conseqüentemente, regulando seu comportamento de forma a estar conforme os fins
para que foi estruturado e organizado” (Vítor da Fonseca); A ação (área 4) e a coordenação (áreas 6 e 8), são as unidades dialét
icas e funcionais da 3ª Unidade Funcional; Governa as funções de expressão – sistemas motores eferentes. “O desenvolvimento
desta 3ª Unidade Funcional está naturalmente, pelas razões apresentadas, associado à progressiva cortialização das funções de
programação, regulação e verif icação das atividades conscientes, funções essas inseparáveis do instrumento fundamental da
linguagem, que se tornou no “maior regulador do comportamento humano”. (Luria, 1969).
As ações humanas são guiadas pela consciência, por intenções e por motivações individuais e sociais complexas. Para
manter essa intenção é necessário: “Estabelecer uma relação inteligível entre ação e a situação, fixar a finalidade na memória e
dirigir o decurso da ação”; “Analisar, posteriormente, os efeitos e relacioná-los com as intenções iniciais”.
A ação voluntária acontece então, a partir de um projeto e um plano consciente, resultante de uma memória prévia de
dados intracorporais que interagem num programa interior com os dados extracorporais, além de integrar uma seqüencialização
e uma ordenação temporal de comandos motores.
PRÁTICA PSICOMOTORA
É a forma como a Psicomotricidade, nas suas áreas de atuação, se realiza. A Prática Psicomotora pode acontecer através de
dinâmicas, sensibilizações, jogos regressivos, dramatizações, exercícios psicomotores, dinâmicas reeducativas, no corpo a corpo
com o Psicomotricista, nas atividades lúdicas e vivências corporais.
Ela necessita ser precedida de anamnese e entrevistas, quantas forem necessárias, com os pais ou mesmo com outros
elementos da família, tentando esclarecer dados referentes ao cliente ou seu momento vivido. Seu conteúdo ou contexto se
realizará no desenvolvimento e estruturação do sujeito trabalhado, na evolução das habilidades psicomotoras, na estimulação
das funções psicomotoras, nas relações com o Psicomotricista, numa cena, num gesto, numa linguagem que organiza e localiza
esse sujeito em relação ao seu Eu referencial, ao outro e aos objetos.
Podemos dizer também que ela acontece, através do fortalecimento das possibilidades de recuperação, de adaptações, do
alívio da dor, ou da redução do sintoma, harmonizando o sujeito numa inteireza, consigo mesmo, com o outro e com o objeto.
Esteban Levin diz que o adulto vive das suas reminiscências infantis e que a infância não se acomoda a um tempo. Na
infância a criança necessita de um tempo para o fazer, pois um jogo é um fazer que constrói o ato num prazer pulsional
tônicopostural-motor. Em nossa sociedade consideram a infância como um tempo do fazer nada, mas isso é o próprio
desconhecimento da criança e da infância transformando-se o tempo, conforme a passagem da infância para a adolescência,
num novo tempo de amadurecimento e de um fazer consciente. O nada é quase proibido aos adolescentes e definitivamente
impróprio aos adultos.
“A tendência de uma criança muito pequena é satisfazer seus desejos imediatamente; normalmente, o intervalo
entre um desejo e sua satisfação é extremamente curto. (...) Para resolver esta questão a criança em idade préescolar
envolve-se num mundo ilusório e imaginário onde os desejos não realizáveis podem ser realizados, e esse mundo é o que
chamamos de brinquedo. A imaginação é um processo psicológico novo para a criança;representa uma forma especificamente
humana de atividade consciente. (...) Como todas as funções da consciência, ela surge originariamente na ação. O velho adágio
de que o brincar da criança é imaginação em ação deve ser invertido; podemos dizer que a imaginação nos adolescentes e nas
crianças em idade pré-escolar, é o brinquedo sem ação”. (VIGOTSKY, 1984 p. 106).
Trabalho e Lazer são antagônicos nesse tempo adulto de se fazer tudo, ocupar-se, não se permitir muitas vezes entrar em
férias.
Com isso não é difícil perceber quais as questões que envolvem uma passagem da produção à aposentadoria e do trabalho
ao lazer na vida de um adulto que está preste a se tornar um idoso que fatalmente desconhecerá o tempo livre como um tempo
possível de produção.
“Ensinamos ao homem como fazer dinheiro, mas não como gastá-lo. Ensinamos ao homem como obter horas livres, mas
não como empregá-las”. (ALMEIDA, p. 38,1978)
Não é identificado o tempo livre como um momento de nada fazer, como se fazer nada fosse sempre ruim. A pausa é
sempre necessária para a continuidade, sem ela a continuidade poderá estar ameaçada, comprometida. Nessa perspectiva,
adultos se tornam idosos que não sabem fazer nada e não sabem definitivamente lidar com o tempo livre. O jogo do adulto
transformou o jogo em guerra, já que ela não é aceita permitida, joga-se.
Alguns autores abordam o tema com muita rigidez: “O esporte é violência, violência permitida” – Bernard Jeu, “O jogo de
bocha requer um parceiro, a partida de bocha, um adversário, e um torneio, inimigos” – Joseph Leif e Brunelle. Podemos
concluir que as culturas formam hábitos positivos ou negativos ao processo de desenvolvimento e estruturação do sujeito,
sendo que desenvolvimento é da ordem do ter e estrutura da ordem do ser.
CLASIFICAÇÃO DOS JOGOS SEGUNDO PIAGET
JOGO DE EXCERCÍCIOS
Inicia-se os 1º meses – a criança repete movimentos por puro prazer, sem finalidade.
JOGO SIMBÓLICO
Inicia-se durante o 2º ano de vida – implica na representação de um objeto, de um conflito, de um desejo que não foi
realizado. É o jogo do faz-de-conta.
JOGO DE REGRAS
Inicia-se dos 4 aos 7 anos e subsiste na idade adulta (jogo social, esportes, etc...) O obstáculo de vencer estimula a
investigação, a análise e o estabelecimento de relações.
JOGOS FUNCIONAIS: consistem em movimentos simples como agitar os dedos, tocar objetos, produzir ruídos e sons,
estender e fletir os braços e pernas...
JOGOS DE IMITAÇÃO: brincar de casinha, de avião, de trem, vestir ou calçar objetos dos pais;
JOGOS DE FABRICAÇÃO: permitem a execução de tarefas, tais como: cortar, modelar, construir coisas, desenhar...
DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR
Podemos dizer que o desenvolvimento psicomotor é o resultado das transformações que ocorrem no ser humano desde
sua concepção ao seu envelhecimento, até sua morte, transformações essas que envolvem vários aspectos na organização
psíquica e orgânica de um ser.
FILOGÊNESE:
Filogenia – história genealógica de uma espécie ou grupo biológico, fundamentada principalmente pela Anatomia
Comparada, Paleontologia e pela Embriologia. Filo (do grego – Phýllon) unidade taxionômica dos organismos que participam de
um plano fundamental de organização e de uma descendência comum.
Muitas explicações surgiram para a origem da vida ao longo da existência humana. Uma delas seria as explicações
teleológicas, espiritualistas, que marca um ponto no princípio espiritual e sobrenatural, desde Platão a Aristóteles, passando por
Plotino, Santo Agostinho e São Tomaz de Aquino, chegando até os nossos tempos, onde a vida é determinada por uma força
vital, de um dom supremo, divino.
Além desse ponto de vista outras explicações surgiram e desde Anaximandro (noção de que os mundos nascem e morrem)
passando por Anaxágoras com a concepção heliocêntrica, até outros pensadores como Lucrécio, Copérnico, Bruno e Galileu
(alguns considerados hereges), o mistério da origem da vida foi sendo estudado.
O estudo da origem da vida não objetivo, apenas por analogias e inferências, seria o estudo das transformações físico-
químicas geradoras de mutações genéticas.
Vida = energia (libertada a partir do aniquilamento da matéria e da antimatéria). A origem da vida põe em jogo uma
evolução pré-orgânica que antecedeu a evolução orgânica. Ela requer um conjunto de fenômenos físicos, químicos e biológicos
que põem em destaque os fenômenos de assimilação, acomodação e de reprodução, além da observância de certas condições
de radiação, temperatura, gravitação (gravitação e contração de gases – hidrogênio e hélio - que resultam em forças
eletromagnéticas que explicam a atração recíproca entre as estrelas e planetas na formação das galáxias), etc... Terra =
atmosfera, hidrosfera e litosfera (elementos fundamentais).
Após o assentamento da poeira (nuvens e gases) a luz solar atingiu a terra provocando reações nas estruturas resultantes
da aglomeração e contração de gases = minerais primitivos e a desintegração de materiais radioativos (nêutrons, prótons e
elétrons) reunindo-se num só próton mais complexo, daí a formação de poeiras cósmicas. Após a libertação de gases (bióxido de
carbono, metano, sulfurosos e combinações de azoto) originaram-se as atividades vulcânicas e a vaporização, permitindo o
aparecimento dos mares primitivos.
Com a decomposição do vapor de água se origina a liberação de oxigênio – condição indispensável para a vida dos seres
vivos.
Sol - núcleo energético gigantesco e superaquecido
Terra – 4.400 milhões de anos. Nuvem de poeira cósmica – atividade vulcânica complexa
Litosfera – estrutura dependente da solidificação dos metais.
Atmosfera – invólucro gasoso da terra.
Proteína – Após as combinações dos elementos químicos alterados por pressões atmosféricas e forças eletromagnéticas e
radioativas, surgem novas propriedades e a mais importante delas gera a proteína – composto a partir do qual se justifica o
aparecimento da vida.
Aminoácidos – tijolos do grande edifício da vida – deles se fazem as proteínas e estas são, nem mais nem menos, os
constituintes de todos os seres vivos.
A filogênese da motricidade é uma seqüência de motricidades construtivas. A filogênese da motricidade fornece-nos os
dados necessários para compreendermos como ela implicou libertações anatômicas, que, por sua vez, introduziram libertações
cerebrais.
A Filogênese nos mostra então semelhanças na embriogênese do ser humano e com a seqüência da embriogênese dos
animais iniciamos anfíbios, nosarrastamos como répteis, logo após, quadrupedamos como os quadrúpedes e por fim nos
organizamos como os bípedes na posição em pé, atingindo então a marchacruzada do Homo Sapiens.
Um aspecto importante é a sequencialização (passagem da reptação ao bipedismo - evolução da horizontalidade para a
verticalidade) ajudando-nos a perceber a simetria bilateral, onde a coluna vertebral sustenta a cabeça, o tronco e o abdômen,
num eixo corporal, marcando a passagem da imobilidade à flexibilidade.
ONTOGÊNESE:
Transformações na evolução de um ser desde sua geração até seu completo desenvolvimento individual (Gênese – do
Latim Gênese e do grego Gênesis), evolução de um ser, origem e formação dos seres organizados. A Ontogênese da motricidade
decorre de um desenvolvimento intra-uterino, assim como as origens do comportamento humano encontram-se na
embriologia e na neonatologia. A embriologia estuda a forma ontogenética, quer nos aspectos morfológicos, químicos ou
fisiológicos. Ela estuda a organização, estruturação e a função da morfologia somática além da energia dos agentes genéticos de
crescimento, o que nos permite aprofundar os estudos neurobiológicos do comportamento seguindo um percurso (evolução) do
período pré-embrionário, passando pelo embrionário e fetal até o neonatal.
PERÍODOS DA ONTOGÊNESE
Pré-embrionário - da concepção ao 1º mês de vida intra-uterina;
Período embrionário - do 1º mês ao 2º mês de vida intra-uterina;
Período fetal - dos 2 aos 9 meses de vida intra-uterina;
Período neonatal - nascimento – passagem de meio fluido (líquido amniótico)
para um meio gasoso (ar).
“O movimento e o seu fim são uma unidade, e desde a motricidade fetal até a maturidade plena, passando pelo momento
do parto e pelas sucessivas evoluções, o movimento é sempre projetado face a uma satisfação de uma necessidade relacional. A
relação entre o movimento e o fim aperfeiçoa-se cada vez mais, como resultado de uma diferenciação progressiva das
estruturas integrativas do ser humano.” (FONSECA, p. 163, 1998)
Neste sentido a motricidade sem cognição é possível, mas a cognitividade sem a motricidade, não. A motricidade é um
sistema regulador melhorado no decurso da filogênese, na medida em que materializa a transformação de estruturas
anatômicas e de estruturas funcionais.
Quanto mais complexa é a motricidade, mais complexo é o mecanismo que a planifica, regula, elabora e executa. No
cérebro dos animais estão mais representados os segmentos corporais que tem maior número e complexidade de relações e
interações com o meio. A boca nos herbívoros, a pata em alguns carnívoros e a mão nos primatas são efetivamente as
estruturas da motricidade que maior número de neurônios reguladores mantêm no córtex daqueles animais. Quanto mais
dissociada for a motricidade das extremidades, mais complexa é também a reorganização dos circuitos nervosos
correspondentes.
RETROGÊNESE:
Mudança e adaptabilidade. Inicialmente se pensava nas mudanças dessa involução, como patologias e não como
decorrência do processo dialético da evolução e da adaptação humana. Envelhecer pressupõe: inicialmente uma desorganização
vertical descendente – céfalo-caudal evoluindo até a 3ª idade num inverso – do córtex à medula (do mais complexo ao mais
simples). “O cérebro humano captou informações, integrou informações e elaborou transformações” (FONSECA, p.167, 1998).
Ação – produto final de uma organização central do cérebro. “O produto final da evolução é a involução” (FONSECA. p. 169,
1998) Da protomotricidade à arquimotricidade, se sucedem metamorfoses sequencializadas que são caracterizadas pela
maturidade de fases anteriores até o alcance de uma desmaturidade declinat iva, uma involução chamada 3ª idade.
Essa desorganização vertical descendente, antes era observada como patologia e hoje é estudada como decorrente do
processo dialético da evolução e da adaptação humana.
“ . . .as eras e os períodos estão inscritos na natureza do homem como um organismo biológico, psicológico e social , eles
representam o ciclo da vida das espécies. Cada indivíduo atravessa os períodos das formas infinitamente mais variadas,
mas os períodos, esses, são universais”. (LEVINSON – FONSECA, p. 347, 1998)
Antes do século XVIII a criança não existia, ou não era considerada, assim como a infância, já que a criança, ou aquele ser
vivente, só passava a existir quando alcançava mais ou menos os doze anos. Ela praticamente vivia com e como os animais e se
sobrevivesse seria notada pela família como um adulto em miniatura, até seu crescimento corporal, atingindo a fase adulta.
“As pessoas se divertiam com a criança pequena como um animalzinho, um macaquinho impudico. Se ela morresse então,
como muitas vezes acontecia, alguns podiam ficar desolados, mas a regra geral era não fazer muito caso, pois uma outra criança
logo a substituiria. A criança não chegava a sair de uma espécie de anonimato.” (ARIÈS, p. 10, 1986)
A partir do século XVII a criança é separada do adulto sendo colocada na escola, um espaço de enclausuramento
(escolarização), promovido pelo grande movimento de moralização dos homens. Com a importância dada a Educação, a família
tornou-se o lugar de afeto. Rousseau (século XVIII) inaugura o processo como fator importante na evolução, pois antes dele não
se discutia o processo. A escola só tratava do ensino e não da aprendizagem. As explicações inatistas e empiristas eram, e ainda
são, muito fortes na Educação. Nos séculos XVIII e XIX o desenvolvimento tinha explicações inatistas e empiristas e a partir do
século XX passaram a ter explicações interacionistas.
Podemos citar como pensadores interacionistas, Piaget, Vigotsky, Paulo Freire, etc...
No século XX, essas mudanças alteram as perspectivas e a aprendizagem passa a ser considerada e não apenas o ensino.
Vigotsky por exemplo disse que a aprendizagem se localiza entre o indivíduo e o meio, entre a criança e o adulto.
Em outras palavras ele também afirmava que o mais importante não é o peito, nem a mãe e sim a interação entre eles, o
que é construído nessa relação. As perspectivas pós Rousseaunianas falavam de um sujeito psicológico, em seu processo
evolutivo, no afeto em desenvolvimento, no pensamento construído e na socialização em relação.
Com isso surgiram inúmeros estudos sobre o pensamento e sobre o movimento e desenvolvimento humano. Gesel foi um
deles, formulando uma escala de desenvolvimento infantil e após ele muitos outros. Devemos entender que cérebro e
pensamento são diferentes, o pensamento é construído a partir de estruturas cerebrais e que a ação é fundamental para a
construção e desenvolvimento do pensamento.
Nesse aspecto, duas teorias pós Rousseaunianas apresentavam discordância que muitos ainda hoje não observam. A teoria
Vigotskyana tem como espinha dorsal a linguagem e a de Piaget a ação. Na escola tradicional a infância era controlada e
desenvolvida por teorias passivas e muitas continuam ainda hoje. Com os estudos de Wallon, Winnicott, Vigotsky, Piaget e
outros, a escola passou a repensar a infância e verificar que a criança se coloca além do que ela pode fazer, executar.
O pensamento dito simbólico, gerou vários outros tipos de concepções sobre a construção do conhecimento. A criança
antes dos dois anos faz e pensa a mesma coisa, após essa etapa, ela pode fazer uma coisa e pensar noutra extremamente
diferente. a imaginação, a idéia, questionaram essa teoria passiva transformando o processo em algo a ser descoberto e
pesquisado, mais do que era antes.
O faz-de-conta, por exemplo, mobiliza a criança no conhecimento das regras e dos papéis sociais, nos comportamentos em
maior dimensão, na conceitualização e expansão do imaginário, na elaboração dos desejos, da qualidade afetiva e possibilita a
manifestação e resolução de conflitos, como representação da realidade da criança.
Quando uma criança desenha, ela não retrata nesse desenho aquilo que ela vê e sim o que ela imagina e com isso ela
elabora o caminho para a escrita. Podemos dizer então que para a escrita convencional, desenhar e brincar deveriam ser
estágios preparatórios ao desenvolvimento da linguagem escrita da criança. A Ed. Física nos anos 80 produziu muito material
sobre o desenvolvimento motor numa perspectiva biologicista, expressando ainda modelos inatistas sobre o assunto, mas logo
os mesmos biologicistas começaram escrever sobre esse desenvolvimento e até sobre o movimento com outro significante: a
cultura corporal, que sem uma Epistemologia fica um discurso vazio dando continuidade ao modelo cartesiano de se trabalhar,
olhar e imaginar o corpo e o movimento.
O desenvolvimento psicomotor está intimamente ligado à cultura do ser humano, embora hajam diretrizes essenciais e
básicas neste processo, a evolução psicomotora em algumas regiões podem parecer caracterizar alguns atrasos, ou , ao
contrário, uma rica plasticidade de movimentos e expressões. Isso é apenas questão de estimulação ou não, dessa ou daquela
cultura. Alguns exemplos das questões culturais podem ser citados como:
a) Questões históricas: uso de cabeleiras brancas em séculos passados;
b) Questões sexistas: direitos, padrões e comportamentos diferenciados dos sexos;
c) Outras questões: econômicas, políticas, etc...
A Psicomotricidade oferece neste sentido, uma visão sistêmica, holística em relação ao desenvolvimento, discutindo-o
como parte indivisível de uma estruturação do sujeito, dizendo que o sujeito ou se estrutura ou não há sujeito. O músculo e o
motor ficam fora do discurso – automatismo maturativo e biológico, deixando o corpo carne-motor limitado à função de órgão.
“O motor por si só não estabelece laço social. Não há desenvolvimento fora do discurso, justamente porque não há estrutura”
(LEVIN, p. 28 1997)
A infância é uma construção do saber sobre o corpo, o outro, a natureza, inconscientemente; Ela precisa do outro para
construir um saber sobre seu corpo, o outro e as coisas, os objetos; Através do corpo, do tônus, do gesto, a mãe iniciará esse
saber (histórico, inventado, experimentado,...); A mãe pega tudo o que o bebê faz e traduz, numa linguagem, decodificando esse
saber sobre ele mesmo; Ainda não há um sujeito formado, mas a mãe constrói, numa suposição, que seu bebê sabe o que faz
com isso ela inventa um suposto sujeito (dr., prof., eng., ...)
DISTÚRBIOS PSICOMOTORES
“Distúrbio Psicomotor significa um transtorno que atinge a unidade indissociável formada pela inteligência, pela
afetividade e pela motricidade”. (Andrade – 1984) Por muitos anos os distúrbios psicomotores ou dispraxias, foram vistos sob o
nome de “debilidade motora”. Mais tarde, Ajuriaguerra define como distúrbios psicomotores, as dispraxias e a instabilidade
psicomotora, englobando-as sob o nome de “DISFUNÇÕES PSICOMOTORAS”. Segundo J. Paz, a dificuldade ou distúrbio de
aprendizagem é um sintoma, pois o aprender não é permanente. A educação psicomotora atua na profilaxia, no ajustamento
das dificuldades e dos distúrbios, em relação ao desenvolvimento. Fatores determinantes:
Fatores orgânicos – saúde física, SN doentio, alimentação....
Fatores psicológicos – inibição, ansiedade....
Fatores ambientais – educação familiar, grau de estimulação...
CLASSIFICAÇÃO:
Distúrbio do sono, da alimentação, da motricidade, da palavra e linguagem, da sociabilidade, da sexualidade, de hábitos e
manipulações, da escolaridade.
NORMAL OU PATOLÓGICO ?
“Para podermos conceituar o que é normal, devemos basear-nos no progresso da criança, em sua evolução e
desenvolvimento, comparando-a com suas próprias habilidades e capacidades em épocas diversas”.(Mielnik)
“Os critérios de normalidade não podem limitar-se à avaliação da conduta que motivou o pedido de exame e resumir-se a
uma simples grade de decodificação sintomática”.(Ajuriaguerra)
“Os campos respectivos do normal e do patológico interpenetram-se em grande parte: uma criança pode ser
patologicamente normal, da mesma forma que normalmente patológica. Ao 1º podem pertencer estados tais como a
hipermaturidade de filhos de pais psicóticos ou divorciados ou o conformismo. Ao 2º pertencem as fobias da tenra infância, as
condutas de ruptura da adolescência e ainda muitos outros estados”.(Ajuriaguerra)
“A normalidade não pode mais ser confundida com a perfeição”.(Ajuriaguerra)
Esgotar as observações com o aluno, verificar a permanência ou não das atitudes, investigar sua história acadêmica e
familiar, produzir encontros com a família ( disfarçados, programados e individuais), são algumas das providências mais
acertadas, antes de fazer, até mesmo, alguma indicação clínica ou terapêutica. Para Izaak Mielnik o comportamento anormal
pode ser de ordem genética ou social e devem ser considerados os seguintes fatores: idade / constituição física /
desenvolvimento (período em que a criança se encontra) / ambiente cultural / conduta e personalidade dos pais e irmãos /
tensões e traumas da vida cotidiana aos quais a criança fica exposta / tendências externas e defesas psíquicas do ego infantil /
influência de pressões externas e internas / meio de adaptação a essas pressões / processos envolvidos na maturação da
personalidade infantil.
Alguns aspectos devem ter toda a atenção na observação da evolução da criança: Dificuldades emocionais /
supersensibilidade / sentimento de rejeição / sensação de pânico / ansiedade / regressão (mesmo crescendo) / medo /
agitação / sono intranqüilo / ausência de relação / instabilidade emocional.
1907 – Dupré e outros, descrevem, pela primeira vez em crianças, um quadro que chamam de “DEBILIDADE MOTORA”.
(Ajuriaguerra – 1974)
DEFINIÇÃO: “Distúrbio Psicomotor significa um transtorno que atinge a unidade indissociável formada pela inteligência,
pela afetividade e pela motricidade”. (Andrade – 1984) Por muitos anos os distúrbios psicomotores ou dispraxias, foram vistos
sob o nome de “debilidade motora”. Mais tarde, Ajuriaguerra define como distúrbios psicomotores, as dispraxias e a
instabilidade psicomotora, englobando-as sob o nome de “DISFUNÇÕES PSICOMOTORAS”.
ABORDAGENS:
PSICOGENÉTICA – Compreensão do psiquismo humano através do estudo do desenvolvimento da criança.
PSICONEUROLÓGICA – Os transtornos comportamentais são a tradução psicológica de déficit’s neurológicos.
PSICANALÍTICA – Estudo da gênese do desenvolvimento emocional visto como uma sucessão de fases instintivas.
“Os transtornos psicomotores da primeira idade surgem em oposição aos sinais neurológicos, porque não são
sistematizados, manifestando-se de forma global, envolvendo muitas funções”. (Jean Bergès, Paris – 1985)
TIPOS DE DISTÚRBIOS
“Qualquer distúrbio psicomotor liga-se a problemas que envolvem o indivíduo em sua totalidade”. (José e Coelho)
INSTABILIDADE PSICOMOTORA
Tipo mais complexo causa uma série de transtornos pelas reações que o
portador apresenta:
Instabilidade emocional e intelectual;
Falta de atenção e concentração;
Atividade muscular contínua;
Falta de coordenação geral e de coordenação motora fina;
Equilíbrio prejudicado, hiperatividade;
Deficiência na percepção espaço-tempo / figura-fundo;
Atraso na linguagem;
Atraso nos níveis de desenvolvimento motor e na maturidade geral;
Alterações emocionais (impulsivas, explosivas, destruidoras, sensíveis e
frustram-se com facilidade);
Alterações no processo de pensamento (dificuldade para abstrair,
pensamento desorganizado, memória pobre e atenção deficiente);
Alterações durante o sono, no processo de pensamento;
Dificuldade na sociabilização;
Dificuldades escolares – descalculia
Babavam muito quando pequenas;
Problemas disciplinares graves na família, escola e na sociedade.
Obs: Podem aparecer também, os “TIQUES” – depois dos quatro anos.
DEBILIDADE PSICOMOTORA
Distúrbios de Linguagem (articulação, ritmo e simbolização);
Hábitos manipuladores (enrolar o cabelo, chupar os dedos);
Tremores na língua, nos lábios ou nas pálpebras;
Disciplina difícil;
Atenção deficiente e coordenação motora pobre;
Dificuldade de realizar movimentos finos, sutis;
Afetividade e intelectualidade comprometidas (indiferença e apatia);
Sonolência maior que a de outras crianças;
Enurese noturna e até diurna por muitos anos;
Isolamento social e crises de birra ou de ansiedade ao enfrentarem situações
difíceis;
Dificuldade na aprendizagem da leitura, escrita e aritmética.
INIBIÇÃO PSICOMOTORA
Tem as características da Debilidade Psicomotora com uma distinção
fundamental: existe a presença constante da “ANSIEDADE”.
Os portadores apresentam:
Ansiedade constante;
Problemas na coordenação motora;
Distúrbios de conduta;
Distúrbios glandulares;
Rendimento superior aos portadores de debilidade psicomotora podendo
fracassar nas provas finais devido a ansiedade.
LATERALIDADE CRUZADA
Existem as dominâncias: da mão, do pé, do olho e do ouvido. Quando elas não se apresentam do mesmo lado, dizemos que
o indivíduo tem “lateralidade cruzada”.
Os portadores apresentam:
Alto índice de fadiga; Quedas freqüentes; Coordenação pobre; Atenção instável; Dislalias; Distúrbios do sono; Escrita e
leitura omprometidas; Intranqüilidade.
IMPERÍCIA
Distúrbio de menor gravidade.
Dificuldades na realização de tarefas de apurada habilidade manual.
Os portadores apresentam: Dificuldade na coordenação motora fina; Quebra objetos constantemente; Letra irregular;
Movimentos rígidos; Alto índice de fadiga.
Exames contemporâneos:
Baseiam-se nas atitudes espontâneas;
Valorizam a linguagem corporal;
A relação com o objeto e seu conteúdo simbólico;
A relação com o terapeuta através do jogo e do brincar;
Subjetividade – sujeita a critérios pessoais da formação do examinador;
Ausência do confronto do paciente com os dados de sua realidade.
Exames Psicomotores ecléticos:
essa corrente propõe uma aliança entre os exames psicomotores tradicionais
e os contemporâneos, numa intervenção não tão objetiva nem extremamente
subjetiva.
CUIDADOS QUANTO A OBSERVAÇÃO DE UM CASO OU ALUNO:
Observar os aspectos iniciais aparentes e os não aparentes;
Caracterizar as funções psicomotoras;
Identificar as alterações das habilidades psicomotoras;
Significar o que está em demanda;
Levantar alternativas de continuidade da evolução.
ETAPAS DA AVALIAÇÃO:
1. Entrevista:
Momento inicial do trabalho quando gestos, atos e palavras, expressões faciais, um o olhar, uma mímicas, um silêncio
repentino, as hesitações, o não dito e vários outros aspectos são apresentados de forma antagônica no discurso. Etapa de
organização das observações que deverão gerar um caminhar, um percurso particular para cada história, orientando o terapeuta
em seu olhar psicomotor e no desenvolvimento do trabalho.
2. Sessões de avaliação
Atividades espontâneas
Exames psicomotores.
3. Atividades livres;
Prática psicomotora
Observações de preferências e desejos do cliente-aluno
4. O exame psicomotor;
Escolha do exame ou bateria de testes;
Agenda de fases e testagem.
5. Diagnóstico e Conclusão;
“Análise de analogias e discrepâncias” – (Larousse medical)
“Diagnósis” do grego – discernimento.
Instrumento de conclusão – diagnóstico
6. Encaminhamentos – recomendações.
Indicação e planejamento do processo;
Definição de estratégias e métodos de tratamento/acompanhamento
SUPERVISÃO EM PSICOMOTRICIDADE
Segundo Morizot: "Num primeiro plano,"visão" é apenas o ato ou efeito de ver; mas "ter uma visão" nos remete à
revelação, fantasma e fantasia; "ter visão" é o modo de compreender e perceber... "Olhar" é estudar, interessar-se, ocupar-se;
olhar é estar voltado ou tomar conta de alguém." (1997, p.242).
Essa abordagem chamou bastante a atenção de todos. Os terapeutas já a conheciam, mas os educadores, acostumados às
coordenações pedagógicas, às reciclagens, aos conselhos de classe, vivenciavam naqueles momentos, uma experiência para a
educação bastante interessante. Falar, não apenas do aluno, mas falar de si, das suas sensações, dos seus
medos e das suas conquistas. Ser interpretado, olhado, às vezes até tocado, respeitado e colocado de frente às suas ações,
numa reflexão que possibilite essa visão da sua prática pedagógica parecia, naquele momento, ser uma grande alternativa.
As sessões dessa "supervisão" podem ser em grupo, ou individuais e a cada encontro são levantados casos ou situações,
apresentadas pelo(s) participante(s).
"Nestes grupos de supervisão trabalhamos em um campo de articulação no qual o saber teórico, o saber técnico, o saber
corporal e o saber relacional se entrelaçam." (1997, p.244).
Diz ela ainda que: "super-visão é a forma de ampliar a visão do terapeuta e não substituí-la pela própria, levando-o a
descobrir seu próprio envolvimento e permitindo gradativamente a sua própria diferenciação e autonomia." (1997, p.243).
Torna-se cada vez mais clara a necessidade do educador rever sua postura, sua visão, sua fala, sua relação como o aluno,
beneficiando todo o processo, não só do "ensinar", mas também, e principalmente, o caminho do "aprender".
A supervisão não se propõe a trabalhar conteúdos com o educador e sim sua relação com eles, num questionamento
constante da importância que este profissional dá a esta relação, aos significados e significantes da aprendizagem, nesta relação.
Acreditamos que muitas vezes pessoas que ocupam na escola funções de supervisão escolar ou educacional, coordenação
e mesmo a de direção, se acostumaram ao estereótipo do poder e apesar do conhecimento e do potencial, se tornam, ao longo
dos anos, incapazes de operar no educador mudanças que não sejam estritamente técnicas.
As práticas, dinâmicas e vivências psicomotoras não têm apenas um caráter lúdico recreativo; elas estimulam o
autoconhecimento, a compreensão do outro, o desenvolvimento desse sujeito que necessita preparar-se também, num contato
corpóreo-verbal. Esse profissional, para trabalhar com tantas crianças, com o outro, precisa antes, ter seu corpo, seu EU-
REFERENCIAL trabalhado.
Observamos que pressupostos teórico-práticos como este acima, ainda não são sensíveis ao processo educativo que
exacerba, em nome da didática e da pedagogia, conteúdos e ideologias muitas vezes distantes das realidades das comunidades
em que atua.
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Ricardo C. S. Alves 27/08/2008
TRANSTOROS PSICOMOTORES
Nestes transtornos o esquema e a imagem corporal bem, como o tônus muscular aparecem comprometidos,
impedindo que a criança tenha domínio de seu próprio corpo. Assim, ela apresentará dificuldades em todos os elementos
psicomotores.
Os principais transtornos são:
1. Instabilidade psicomotora – neste transtorno a criança não consegue começar e terminar a brincadeira e é assim com
todas as suas produções corporais. Há uma dificuldade em inibir seus movimentos, provocando ações explosivas e
agressivas. São crianças agitadas, ansiosas e inquietas, pois possuem uma grande necessidade em movimentar-se.
Encaixam-se nos diagnósticos de hiperatividade, precisando, em alguns casos com perturbações severas no sono e na
atenção, de medicamentos como anfetaminas e psicotônicos. As crianças com este transtorno podem ter uma grande
tensão muscular e paratonias severas caracterizando uma instabilidade tensional, ou serem hipotônicas, elásticas e
bastante flexíveis, o que chamamos de estado de deiscência. Em ambos os casos, a causa do transtorno é a falta de limite,
a ausência de corte simbólico.
2. Inibição psicomotora – neste transtorno a criança não usa seu corpo para relacionar-se com o mundo ou com os outros.
É o oposto da instabilidade, pois também há uma falta de limite, mas esta falta barra o agir da criança. Ela mostra-se então
sempre cansada, demonstrando pouca expressão facial e corporal. Seu aspecto é de extrema fragilidade e debilidade e é
nele que se reconhece e é reconhecida. São crianças “quietinhas demais”. Segundo Levin, “a criança inibida,
diferentemente da instável, possui outra estratégia para não se separar do Outro, ser o ‘objeto bom’ de seus pais, os quais
usam expressar-se do seguinte modo: ‘É como se não estivesse’, ‘Nem dá para ouvir’, ‘Não briga com ninguém’, ‘Passa
inadvertidamente”.
3. Debilidade - é caracterizada pela presença de paratonias e sincinesias. A paratonia é a persistência de uma rigidez
muscular caracterizada por uma inadequada incontinência das reações tônicas. Pode aparecer nos quatro membros ou
apenas em dois. Há uma instabilidade na posição estática ou quando a criança caminha ou corre devido à rigidez. A
sincinesia é caracterizada pela ação de músculos que não atuam em determinado movimento. Um exemplo desta situação
é a criança fechar também a mão esquerda quando pega um objeto com a mão direita. Isto a impede de realizar atos
coordenados e com ritmo devido a sua descontinuidade nos gestos e imprecisão dos movimentos. Podem aparecer ainda
outros sintomas como tremores na língua, lábios, pálpebras e dedos quando estes são solicitados para a execução de um
determinado movimento. A afetividade e a intelectualidade também podem estar comprometidas. A criança geralmente
demonstra certa apatia e tem sonolência maior que as outras crianças. Mantém por muitos anos a enurese noturna, e, às
vezes, a diurna, podendo apresentar também a encoprese. A linguagem é atrasada e a atenção, prejudicada.
4. Dispraxia – dificuldade de associar movimentos para realizar uma tarefa. Há um transtorno espacial (dificuldade de
lateralizar, de nomear objetos, espelhamento de letras, assimetria nos movimentos – todos estes aparecendo
persistentemente). Há também um fracasso nos jogos. Há um desvio no desenvolvimento cognitivo no que diz respeito à
distinção de aspectos figurativos, o que impede que a criança atinja a fase de operações concretas. Há uma perturbação do
esquema corporal. Quando a dispraxia é no olhar, além das perturbações perceptivas, há dificuldades posturais e de
equilíbrio.
OS DISTÚRBIOS PSICOMOTORES
2 - TEXTO DE Maria de Lourdes Cysneiros de Morais
Disponível em:
http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=919
Segundo José & Coelho (2002. p. 108), “podemos definir psicomotricidade como a educação do movimento com atuação
sobre o intelecto, numa relação entre pensamento e ação, englobando funções neurofisiológicas e psíquicas”. Ainda
segundo as autoras, como o comportamento físico da criança expressa, uma a uma, suas dificuldades intelectuais e
emocionais, pode-se dizer que a psicomotricidade é a ciência do corpo e da mente, integrando várias técnicas com as quais
se pode trabalhar o corpo (todas as suas partes), relacionando-o com a afetividade, o pensamento e o nível da inteligência.
Enfoca a educação dos movimentos, ao mesmo tempo em que põe em jogo as funções intelectuais. As primeiras evidências
de um desenvolvimento mental normal são manifestações puramente motoras (JOSÉ & COELHO, 2002, p. 108, grifo nosso).
Qualquer distúrbio psicomotor tem ligação com problemas que envolvem o indivíduo em sua totalidade. Distúrbios
psicomotores e afetivos estão, intimamente, associados, razão porque o diagnóstico não é facil de ser feito. Os sintomas
mais comuns desse distúrbio estão associados à área do ritmo, da atenção, do comportamento, esquema corporal,
orientação espacial e temporal, lateralidade e maruração (retardos).
Esses distúrbios podem ser classificados em quatro grupos, segundo Grünspun (apud JOSÉ & COELHO, 2002, p. 111):
1. INSTABILIDADE PSICOMOTORA – É o tipo mais complexo e causa uma série de transtornos pelas reações que o portador
apresenta, com o predomínio de uma atividade muscular contínua e incessante. Essas crianças revelam instabilidade
emocional e intelectual; falta de atenção e concentração; atividade muscular contínua (não terminam tarefas iniciadas);
falta de coordenação geral e coordenação motora fina; hiperatividade e equilíbrio prejudicado; deficiência na formulação
de conceitos e no processo de percepção (discriminação de tamanho, figura-fundo, orientação espaço-temporal); alteração
da palavra e da comunicação (atraso na linguagem e distúrbios da palavra); alterações emocionais (são impulsivas,
explosivas, sensíveis, frustram-se com facilidade, destruidoras); alterações do sono (terror noturno, movimentos enquanto
dormem); alterações no processo do pensamento abstrato; dificuldades de escolaridade ( leitura, escrita, aritmética,
lentidão nas tarefas, dificuldade de copiar da lousa, entre outras manifestações.
2. DEBILIDADE PSICOMOTORA – Caracterizada por PARATONIA: Limitação nas quatro extremidades do corpo (ou apenas
em duas) – “deselegância” ao correr – limitações e rigidez nas mãos e nas pernas; e SINCINESIA – Participação de músculos
em movimentos aos quais eles não são necessários – descontinuidade de gestos; imprecisão nos movimentos dos braços e
das pernas; dificuldade de realizar os movimentos finos dos dedos…
3. INIBIÇÃO PSICOMOTORA – Além das características da DEBILIDADE PSICOMOTORA, neste caso a ansiedade é presença
constante – a criança apresenta sobrancelha franzida; cabeça baixa; problemas de coordenação motora; distúrbios de
conduta, dentre outros.
4. LATERALIDADE CRUZADA – A maioria dos autores acredita que existe no cérebro um hemisfério predominante
responsável pela lateralidade do indivíduo – desta maneira, de acordo com a ordem enviada pelo cérebro dominante,
teremos o destro ou o canhoto. No entanto, segundo José & Coelho (2002, p. 114), além da dominância da mão, existe
também a do pé, do olho, do ouvido. Quando essas dominâncias não se apresentam do mesmo lado diz-se que o indivíduo
tem lateralidade cruzada – os distúrbios psicomotores são evidentes e resultam em deformação do esquema corporal. São
algumas as formas mais comuns desse distúrbio: mão direita dominante X olho esquerdo dominante; mão direita
dominante X pé esquerdo dominante e o inverso. Geralmente essas crianças apresentam alto índice de fadiga; quedas
freqüentes; coordenação pobre; atenção instável; problemas de linguagem (dislalias, língua enrolada…).
5. IMPERÍCIAS – É um distúrbio de menor gravidade, a criança apresenta inteligência normal, apesar de certa frustração
pela dificuldade de realizar certas tarefas que exijam apurada habilidade manual. Apresentam dificuldades na coordenação
motora fina; quebra constante de objetos; letra irregular; movimentos rígidos; alto índice de fadiga.
Podem ser agrupados em três núcleos: desatenção (falha freqüente na atenção a detalhes, dificuldade de focar a atenção
em tarefas ou atividades lúdicas, parece não escutar quando lhe falam diretamente, não consegue seguir instruções risca
ou terminar tarefas escolares, tem dificuldade de organização, evita atividades que solicitem esforço mental contínuo,
distrai-se com estímulos externos, esquece-se das atividades diárias…); hiperatividade (é inquieto, fica com os pés e as
mãos mexendo constantemente quando sentado, levanta-se constantemente de seu lugar na sala, corre ao redor, sobe nas
coisas em momentos impróprios, tem dificuldade em sentar e brincar com atividades mais quietas, está “pronto para
decolar”, ou age como se estivesse “ligado a um motor”, fala excessivamente…); impulsividade ( responde de forma
intempestiva, antes do t´ermini da pergunta, tem dificuldade para aguardar sua vez, intromete-se ou interrompe os outros
em jogos ou conversas…). Segundo Araújo (2004, p. 28) “apesar de a Medicina não contar com dados conclusivos sobre
formas de tratamento, o TDA (ou TDAH, quando associado à hiperatividade) é considerado um distúrbio psiquiátrico,
portanto, uma doença”. Na escola, os indícios de que a criança possui esse distúrbio precisa ser analisados por uns seis
meses antes de encaminhamento médico que, em geral, é multidisciplinar, com utilização, muitas vezes, de medicação.
SINTOMAS PSICOSSOMÁTICOS
Conversar é sempre a melhor forma de expor sentimentos e superar o que está incomodando. Quando a boca se fecha,
porém, quem acaba falando é o corpo. E o corpo fala através de doenças e sintomas que, muitas vezes, não têm explicação
científica.
Pais e médicos tentam encontrar a origem do problema e não conseguem. Esses casos são chamados de psicossomáticos e
são muito comuns na adolescência, afirma a pediatra Maria de Fátima Goulart Coutinho, do Instituto de Pediatria da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Por não conseguir exteriorizar os sentimentos, o adolescente arruma, de
forma inconsciente, outra maneira de "dizer" o que sente, o que o incomoda, o que o faz sofrer.
Segundo Maria de Fátima, existem dois tipos de doenças psicossomáticas: as que têm alguma base orgânica, mas são
desencadeadas por fatores emocionais, e as que são completamente desprovidas de causas orgânicas. No primeiro caso
estão, por exemplo, gastrites, úlceras e problemas de pele em geral. No grupo dos sintomas sem causa orgânica aparecem
dores crônicas, enxaqueca, vômitos freqüentes, falta de ar (dispnéia), fobias em geral e anorexia.
- Cada caso é um caso e um diagnóstico de doença psicossomática só deve ser dado depois que todas as outras
possibilidades já foram excluídas. Primeiramente, o pediatra precisa fazer todos os exames necessários para se certificar de
que realmente não existe um fator orgânico desencadeando o sintoma - diz Maria de Fátima. Segundo ela, os sintomas
psicossomáticos são mais comuns em famílias muito rígidas, nas quais falar sobre os seus sentimentos é uma tarefa muito
difícil, às vezes impossível. Como não tem espaço para verbalizar os seus sentimentos, o adolescente recorre - sem se dar
conta conscientemente - a ferramentas pré-verbais. Ele usa o corpo para expressar o que sente.
- Raiva sufocada e amor não verbalizado são as principais causas dos sintomas psicossomáticos. É como uma panela de
pressão que sufoca os sentimentos. Chega uma hora em que eles começam a vazar porque não é possível reprimi-los a vida
inteira - explica Maria de Fátima. Depois de examinar o paciente e chegar à conclusão de que os seus sintomas são
psicossomáticos, o pediatra tem outra luta pela frente: explicar a ele e aos pais do que se trata. Em grande parte das vezes,
eles não aceitam que a causa do problema seja emocional. Negar o fator emocional é, segundo Maria de Fátima, mais fácil
que admitir que exista um problema que vai muito além do físico.
- Para combater o inimigo é preciso conhecê-lo. Este é o primeiro passo para se vencer a guerra. A partir do momento que
detectamos a origem dos sintomas psicossomáticos é muito mais fácil superar o problema e levar a criança ou o
adolescente a ter uma vida normal - diz a pediatra. Ao falar sobre o que o aflige, o adolescente consegue superar suas
dificuldades mais facilmente. Depois, são recomendadas atividades de socialização para que ele se solte, aprenda a
dialogar. Ter amigos, por exemplo, ajuda muito, porque é uma possibilidade de diálogo, caso isso não seja possível dentro
de casa.
Entre as possíveis causas que levam a criança ou o adolescente a usar o corpo para expressar suas dores emocionais, Maria
de Fátima aponta para uma falta de sintonia na relação mãe e filho. Segundo a pediatra, o período da amamentação é um
dos mais importantes na vida de uma pessoa. É ele que vai determinar, em grande parte, a forma de se lidar com a
afetividade:
- Um desmame abrupto, por exemplo, leva a um trauma de separação. Quando a criança ou o adolescente revive, mais
tarde, um trauma parecido, ela remete-se ao original. Como não sabe lidar com a situação, desenvolve os sintomas
psicossomáticos. Os sintomas podem surgir até um ano depois de a criança ter revivido a dor.
Por isso, às vezes, é tão difícil para pais e médicos detectarem a origem do problema. Aparentemente, nada explica o que
está acontecendo e as ligações emocionais entre o presente e o passado não são feitas por quem convive com a criança.
Segundo a pediatra, raramente os pais têm sensibilidade suficiente para entender o que se passa:
- Em qualquer doença, sempre existe um componente emocional. Cabe ao médico, porém, saber qual a real interferência
do afetivo nos sintomas que estão sendo apresentados pelo paciente.