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Ações de Controle Da Malária

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MINISTÉRIO DA SAÚDE

Secretaria de Vigilância em Saúde


Diretoria Técnica de Gestão

Ações de Controle da

Malária
Manual para Profissionais de Saúde na Atenção Básica

Série A. Normas e Manuais Técnicos

Versão Preliminar

Brasília – DF
2005
 2005 Ministério da Saúde.
Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e não seja para
venda ou qualquer fim comercial.
Série A. Normas e Manuais Técnicos
Tiragem: Versão preliminar – 2005 – 50 exemplares

Elaboração, distribuição e informações: Graciene Silveira


MINISTÉRIO DA SAÚDE José Lázaro de Brito Ladislau
Secretaria de Vigilância em Saúde Lubélia Sá Freire da Silva
Diretoria Técnica de Gestão Romeo Rodrigues Fialho
Esplanada dos Ministérios, Ed. Sede Revisores:
bloco G, 1.º andar, sala 110 Ângela Cristina Pistelli
CEP: 70058-900, Brasília – DF Carlos Catão Prates Loiola
E-mail: svs@saude.gov.br Carlos José Mangabeira da Silva
Home page: www.saude.gov.br/svs Graciene Silveira
Izabel Cristina Ponçadilha Barata
José Lázaro de Brito Ladislau
Elaboração: Lubélia Sá Freire da Silva
Elza Alves Pereira Maria Angélica Cúria Cerveira
Maria da Paz Luna Pereira
Fotos da capa: Pedro Luiz Tauil
Retiradas de banco de imagem cedido pela Ascom MS. Romeo Rodrigues Fialho
Roseli Lacorte dos Santos
Rui Moureira Braz
Colaboração: Vanja Suely Pachiano Calvosa
Ângela Cristina Pistelli

Impresso no Brasil / Printed in Brazil


Ficha Catalográfica

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Diretoria Técnica de Gestão.


Ações de controle da malária: manual para profissionais de saúde na atenção básica / Ministério da Saúde, Secretaria
de Vigilância em Saúde. Diretoria Técnica de Gestão. – Versão preliminar – Brasília: Ministério da Saúde, 2005.
56 p.: il. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos)

1. Malária – Prevenção e controle. 2. Malária – Epidemiologia. 3. Vigilância epidemiológica. I. Título. II. Série.

NLM WC 765
Catalogação na fonte – Editora MS/OS 2005/0001

Títulos para indexação:


Em inglês: Malaria Control Actions. A Manual for Basic Health Care Professionals
Em espanhol: Acciones de Control de la Malaria. Manual para Profesionales en la Atención Básica de Salud

EDITORA MS Equipe Técnica:


Documentação e Informação Normalização: Leninha Silvério
SIA, Trecho 4, Lotes 540/610 Revisão: Lilian Assunção e Claudia Profeta
CEP: 71200-040, Brasília – DF Capa e projeto gráfico: Marcus Monici
Tels.: (61) 3233-1774/2020 Fax: (61) 3233-9558
E-mail: editora.ms@saude.gov.br
Home page: http://www.saude.gov.br/editora
SUMÁRIO

LISTA DE QUADROS E TABELAS ..........................................................................................................5

APRESENTAÇÃO .....� 7

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................9

1 ATENÇÃO À SAÚDE ........................................................................................................................13


1.1 Atenção Básica à Saúde ................................................................................................................. 14
1.2 Organização dos Serviços de Saúde no Controle da Malária ......................................................... 14
1.3 Atribuições das Unidades Básicas de Saúde e dos Profissionais de Saúde no Controle da Malária ... 14
1.4 Participação Comunitária e Mobilização Social ............................................................................. 19

2 EPIDEMIOLOGIA DA MALÁRIA .....................................................................................................21


2.1 Histórico .......� 21
2.2 Descrição da Doença ..................................................................................................................... 21
2.3 Agente Etiológico .......................................................................................................................... 21
2.4 Reservatório ................................................................................................................................... 22
2.5 Vetores ...........� 22
2.6 Modo de Transmissão .................................................................................................................... 24
2.7 Período de Incubação .................................................................................................................... 24
2.8 Período de Transmissibilidade........................................................................................................ 24
2.9 Suscetibilidade e Resistência .......................................................................................................... 25
2.10 Distribuição Geográfica............................................................................................................... 25
2.11 Fatores de Risco e Estratos Epidemiológicos ............................................................................... 25

3 ASPECTOS CLÍNICOS ......................................................................................................................27


3.1 Ciclo Biológico dos Plasmódios ..................................................................................................... 27
3.2 Descrição dos Aspectos Clínicos .................................................................................................... 28
3.3 Diagnóstico ................................................................................................................................... 29
3.4 Diagnóstico Diferencial ................................................................................................................ 31

4 TRATAMENTO ..................................................................................................................................33
4.1 Considerações Gerais ..................................................................................................................... 33
4.2 Esquemas de Tratamento para Malária Recomendados pelo Ministério da Saúde .......................... 33
4.3 Noções sobre Malária Grave e Complicada.................................................................................... 39
4.4 Resistência dos Plasmódios aos Antimaláricos ............................................................................... 41

5 VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA ...................................................................................................43


5.1 Objetivos .....� 43
5.2 Definição de Caso ........................................................................................................................ 43
5.3 Classificação de Caso ................................................................................................................... 43
5.4 Sistema de Informação – Notificação ........................................................................................... 44
5.5 Investigação Epidemiológica ....................................................................................................... 44
5.6 Conduta Frente a um Caso .......................................................................................................... 44
5.7 Conduta Frente a um Surto ......................................................................................................... 44

6 MEDIDAS DE CONTROLE ..............................................................................................................47


6.1 Conduta em Relação à Doença (Diagnóstico e Tratamento) ......................................................... 47
6.2 Conduta em Relação ao Vetor (Controle Seletivo de Vetores) ....................................................... 47
6.3 Ações Educativas e Participação Comunitária............................................................................... 49

7 DIRETRIZES TÉCNICAS DO CONTROLE INTEGRADO DA MALÁRIA ...................................51

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................................53


LISTA DE
QUADROS
E TABELAS

QUADRO 1 – Avaliação semiquantitativa e quantitativa da


densidade parasitária por plasmódio na gota
espessa de sangue ........................................... 30

QUADRO 2 – Equivalência entre grupo etário e peso


corporal aproximado .............................. 34

TABELA 1 – Esquema recomendado para tratamento das


infecções por Plasmodium vivax com cloroquina
em 3 dias e primaquina em 7 dias .................. 34

TABELA 2 – Esquema recomendado para tratamento das


infecções por Plasmodium falciparum com quini-
na em 3 dias + doxiciclina em 5 dias + primaqui-
na no 6.º dia .................................................. 35

TABELA 3 – Esquema recomendado para tratamento das


infecções mistas por Plasmodium vivax +
Plasmodium falciparum com mefloquina em
dose única e primaquina em 7 dias................. 35

TABELA 4 – Esquema recomendado para tratamento das


infecções por Plasmodium malariae com
cloroquina em 3 dias ...................................... 36

TABELA 5 – Esquema alternativo para tratamento das


infecções por Plasmodium vivax em crianças
apresentando vômitos, com cápsulas retais de
artesunato em 4 dias, e primaquina por 7dias .. 36

TABELA 6 – Esquema alternativo para tratamento das


infecções por Plasmodium falciparum com
mefloquina em dose única, e primaquina
no 2.º dia ....................................................... 37

5
TABELA 7 – Tratamento alternativo das infecções por Plasmodium falciparum com quinina em 7
dias ............................................................................................................................37

TABELA 8 – Esquema alternativo para tratamento das infecções por Plasmodium falciparum em
crianças, com cápsulas retais de artesunato em 4 dias, dose única de mefloquina
no 3.º dia e primaquina no 5.º dia.......................................................................... 38

TABELA 9 – Esquema alternativo para tratamento das infecções mistas por Plasmodium vivax +
Plasmodium falciparum com quinina em 3 dias, doxiciclina em 5 dias e primaquina
em 7 dias .............................................................................................................. 38

TABELA 10 – Esquema de prevenção de recaída da malária por Plasmodium vivax, com cloroquina
em dose única semanal, durante 3 meses ................................................................ 39

QUADRO 3 – Tratamento de malária grave e complicada ............................................................. 41

QUADRO 4 – Perfil de resposta dos parasitos assexuados do Plasmodium falciparum às drogas


esquizonticidas sangüíneas ..................................................................................... 42

6
APRESENTAÇÃO

O contingente de pessoas envolvidas no processo de


construção do SUS, seja por meio das entidades representativas
da sociedade, gestores, profissionais, fazem deste, um momento
importante na história da saúde brasileira. Somos hoje, sem dúvida,
o maior movimento social, cujo objetivo é construir um modelo
de saúde que atenda a todos, de forma eficiente e eficaz.
Rever nossos passos, na consolidação do SUS, leva-nos a
reafirmar a importância histórica da estratégia de saúde da família,
como eixo estruturante da Atenção Básica, agregando a ela as
ações que irão garantir aos cidadãos o atendimento integral às suas
necessidades de saúde.
Em algumas regiões brasileiras, até mesmo pelas características
ambientais, alguns agravos permanecem como o maior empecilho
à construção de um modelo de saúde e de qualidade de vida,
especialmente a Região Endêmica, onde a malária vem assumindo
proporções alarmantes e, num momento em que a descentralização
das ações de controle de endemias passa ao nível municipal,
juntamo-nos no esforço de profissionais, prefeitos, secretários
estaduais e municipais de Saúde e da população em geral,
implementando um plano emergencial, para estruturar e assegurar
de forma permanente a vigilância da malária.
Estamos integrando ao PACS/PSF as ações de controle,
de prevenção e de tratamento, num contexto de ações integradas
e articuladas com outras instâncias governamentais para o
enfrentamento definitivo dessa situação.
Este caderno, que ora apresentamos, surge com a intenção
de subsidiar e nortear as ações de profissionais ligados à Atenção
Básica, portanto, perto da população, conhecendo bem este agravo,
acredita-se que possa, num esforço coletivo, controlá-las.

7
INTRODUÇÃO

A malária, ainda hoje, é uma das doenças prevalentes no


globo terrestre, ocorrendo em cerca de 90 países, principalmente
na faixa intertropical.
Quarenta por cento da população mundial está sob algum
risco de contrair malária. A Organização Mundial da Saúde (OMS)
considera a malária o maior problema de saúde pública em muitos
países, principalmente naqueles em desenvolvimento. Estima-
se que cerca de 300 a 500 milhões de pessoas sejam infectadas a
cada ano, sendo os países da África responsáveis por 90% dessas
pessoas. A mortalidade é bastante expressiva e chega a ocorrer mais
de 1 milhão de óbitos, principalmente em crianças menores de 5
anos e gestantes.
Na região das Américas, o Brasil é o país que mais registra
casos de malária, cerca de 50% das ocorrências.
A malária divide o território brasileiro em duas áreas: a
Região Endêmica, constituída pelos estados do Acre, Amapá,
Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima,
Tocantins e a Região Não-Endêmica, constituída pelos demais
estados da federação.
A Região Endêmica é responsável pela quase totalidade
dos casos de malária, cerca de 99,7%, ocorridos no Brasil, e,
atualmente, em números absolutos, o Estado do Amazonas é o
estado que apresenta maior número de casos da doença.
Mesmo na Região Endêmica, onde a doença é considerada
endêmica, a malária não se transmite com igual rapidez ou
intensidade. A dinâmica de transmissão da doença é variável,
dependente da interação de fatores ambientais, socioculturais,
econômicos e políticos. A conjugação desses fatores determina os
níveis de riscos para contrair a doença, bem como a viabilidade das
medidas de controle.
A luta contra a malária no Brasil já se perdura por mais de
meio século, passando por várias estratégias de combate.
Os registros indicam que, em 1889, já se regulamentava os
Serviços de Saúde dos Portos para o combate as endemias.
No início do século XX, começava-se estudos objetivando
definir procedimentos destinados a proteger as populações
residentes em áreas de transmissão da malária.
Em 1923, o Departamento Nacional de Saúde Pública já
estabelecia medidas para profilaxia e controle da doença, entre
as quais, o diagnóstico parasitoscópico de indivíduos suspeitos, a
determinação do índice endêmico, o uso de medidas antilarvárias,

9
a telagem das casas, a distribuição de quinina aos indivíduos sãos, o tratamento dos doentes e a realização
de inquérito epidemiológico relativo ao caso.
Em 1930, o Anopheles gambiae, procedente do continente africano, infestou a cidade de Natal, no
Rio Grande do Norte, provocando surtos de malária. Posteriormente se dispersou pelo litoral, chegando
aos vales dos rios Assú e Mossoró (1938), onde provocou violenta epidemia. O Departamento Nacional de
Saúde (DNS) assumiu a responsabilidade das ações contra esse mosquito que vinham sendo desenvolvidas
pelos estados. Em 1939, foi criado o Serviço de Malária do Nordeste (SMN), apoiado pela Fundação
Rockefeller; ambas instituições desenvolveram um programa que erradicou o Anopheles gambiae do
território brasileiro.
Estimulado pelo êxito da luta contra o citado transmissor, foi criado o Serviço Nacional de Malária
(SNM), em 1941, ocasião em que a malária afetava milhões de brasileiros, segundo estimativa da época.
O SNM, que iniciou a utilização do DDT no combate aos anofelinos em áreas urbanas, foi mantido
até a criação do Departamento Nacional de Endemias Rurais (DNERu), que foi uma instituição que
absorveu também os outros serviços nacionais de febre amarela (SNFA) e de peste (SNP).
O DNERu manteve o programa de malária que recebeu apoio do Instituto Nacional de Endemias
Rurais (INERu), encarregado de desenvolver estudos e pesquisas sobre as endemias no âmbito do
DNERu.
Em 1958, foi criada a Campanha de Erradicação da Malária (CEM), em que se iniciou a grande frente
de combate à doença. Essa estratégia logrou grande êxito, pois se conseguiu interromper a transmissão da
malária em toda Região Sul e Sudeste, em quase toda Região Nordeste e parte da Região Centro-Oeste.
Nessas regiões, as características das moradias, a estabilidade das populações e um maior grau
de desenvolvimento socioeconômico, facilitaram a efetividade do inseticida aplicado no interior das
residências, com a finalidade de eliminar o mosquito infectado.
Na Região Endêmica, em função da dificuldade de reduzir os fatores de risco de ordem social e
econômica, determinantes da incidência da doença, o que tornaria praticamente impossível a erradicação
da endemia na região, surge então, a necessidade de mudança dos objetivos do programa de luta contra a
malária na Amazônia, com conseqüente alteração das estratégias a serem adotadas.
Do ponto de vista conceitual, há consenso a respeito de que os problemas representados pela
malária já não comportam mais soluções que estabelecem, para todas as situações endêmicas, um único
conjunto de objetivos, estratégias e ações de combate. A experiência do esforço de erradicação demonstrou
que diferentes situações demandam o estabelecimento e a aplicação de distintos objetivos e medidas de
controle e que elas devem estar ajustadas às características epidemiológicas e entomológicas da endemia,
em cada local onde a malária se transmite.
Em outubro de 1992, em Amsterdã, na Holanda, a Conferência Ministerial patrocinada pela OMS
recomendou a adoção de uma nova estratégia global de luta contra a doença, com base na realidade
epidemiológica e social local, com incorporação de outras medidas de controle adequadas a cada situação,
ação multissetorial para redução da influência de fatores de risco de natureza socioeconômica, cultural,
política e ecológica e participação ativa da população.
O principal objetivo da luta contra a malária passa a ser o homem e não mais o mosquito, na
medida em que se busca primeiramente prevenir os casos graves e as mortes causadas pela doença. O
Controle Integrado da Malária (CIM), como uma ação conjunta do governo e da sociedade dirigida para
a eliminação ou redução dos riscos de morrer ou adoecer de malária, é a nova orientação da luta contra a
doença adotada pelo Brasil em consonância com as recomendações da Conferência de Amsterdã.
O princípio estratégico fundamental das ações de controle da malária no Brasil consiste na adoção
do diagnóstico precoce e tratamento imediato dos casos da doença, como prática geral do controle e
na escolha seletiva de objetivos, estratégia e métodos específicos de combate, ajustados às características
particulares de transmissão, existentes em cada localidade. Em virtude disso, e da diversidade das situações
maláricas existentes no território nacional, torna-se impossível definir objetivos e estratégias válidas para
todas as situações.
Além do diagnóstico precoce e o tratamento imediato dos casos, a estratégia do CIM prevê a
aplicação seletiva de medidas antivetoriais, orientadas para cada área específica que sejam de baixo custo,
10
viáveis para que se possa obter uma eficaz, significativa e permanente redução da densidade de anofelinos
de uma determinada área.
As medidas antivetoriais disponíveis compreendem o manejo ambiental, o tratamento químico
do domicílio (borrifações intradomiciliares com inseticidas de efeito residual), o tratamento químico
de espaços abertos que compreendem as borrifações espaciais com aplicação de inseticida a Ultra Baixo
Volume (UBV) e nebulizações térmicas (fumacê), além do tratamento dos criadouros.
É importante ressaltar que todas essas medidas tem grande aplicabilidade no controle de vetores
quando indicadas com absoluta precisão. A avaliação entomo-epidemiológica é de grande importância na
seleção e indicação das medidas a serem utilizadas.
Portanto, o controle da malária, especialmente na Amazônia, é um desafio. Desafio este que deve
ser enfrentado e vencido, pois não há como concretizar um efetivo desenvolvimento socioecônomico
dessa região, que traga melhoria da qualidade de vida à população, sem reduzir este mal que assola as
comunidades amazônidas e que, ao longo dos anos, tem sido um poderoso obstáculo ao desenvolvimento
da região.
A partir de julho de 2000, foi implantado o Plano de Intensificação das Ações de Controle da
Malária (PIACM), que foi aplicado prioritariamente em 254 municípios da Amazônia Legal, visando, por
intermédio de um compromisso político das três esferas de governo, a apoiar a estruturação dos sistemas
locais de saúde, capacitando-os para a coordenação e execução das ações de controle da malária e, desta
forma, fortalecer o processo de descentralização e garantir a sua sustentabilidade.
Com a inserção dessas atividades na programação das equipes do Programa Saúde da Família e
Programa de Agente Comunitário de Saúde (PSF/PACS), espera-se, também, otimizar as ações básicas de
saúde dos municípios da Região Endêmica, onde esta doença é a primeira causa de morbidade.

11
1 ATENÇÃO À
SAÚDE

Para a construção de um novo modelo assistencial que cumpra


os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), faz-se necessário
uma nova prática dos profissionais de saúde, pautada na visão
sistêmica e integral do indivíduo, da família e da comunidade.
É fundamental assumir o compromisso com a promoção da
saúde, a prevenção de agravos, o tratamento e a reabilitação, seja
na perspectiva individual ou coletiva, que tenha como fundamento
os princípios do SUS:
• Saúde como direito – a saúde é um direito fundamental
do ser humano, devendo o Estado prover as condições
indispensáveis ao seu pleno exercício, por meio de políticas
econômicas e sociais que visem à redução de riscos de
doenças e de outros agravos e no estabelecimento de
condições que assegurem acesso universal igualitário às
ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação
da saúde individual e coletiva.
• Integralidade da assistência – entendida como um
conjunto articulado e contínuo de ações e serviços
preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigido
para cada caso, em todos os níveis de complexidade do
sistema.
• Universalidade – acesso garantido aos serviços de saúde
para toda a população, em todos os níveis de assistência,
sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie.
• Eqüidade – igualdade na assistência à saúde, com ações e
serviços priorizados em função de situações de risco, das
condições de vida e da saúde de determinados indivíduos
e grupos de população.
• Resolutividade – eficiência na capacidade de resolução das
ações e serviços de saúde, por meio da assistência integral
resolutiva, contínua e de boa qualidade à população
adscrita, no domicílio e na unidade de saúde, buscando
identificar e intervir sobre as causas e fatores de riscos aos
quais essa população está exposta.
• Intersetorialidade – desenvolvimento de ações integradas
entre os serviços de saúde e outros órgãos públicos,
com a finalidade de articular políticas e programas de
13
interesse para a saúde, cuja execução envolva áreas não-compreendidas no âmbito do SUS,
potencializando, assim, os recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos disponíveis e
evitando duplicidade de meios para fins idênticos.
• Humanização do atendimento – responsabilização mútua entre os serviços de saúde e a
comunidade de estreitamento do vínculo entre as equipes de profissionais e a população.
• Participação – democratização do conhecimento do processo saúde/doença e dos serviços,
estimulando a organização da comunidade para o efetivo exercício do controle social na gestão
do sistema.

1.1 Atenção Básica à Saúde

Atenção Básica é um conjunto de ações, de caráter individual ou coletivo, situadas no primeiro nível
de atenção do sistema de saúde.
Compreender saúde, enquanto processo centrado na promoção de qualidade de vida, implica na
construção de uma nova lógica de assistência à saúde e organização do modelo assistencial.
Para atender essa concepção, o Ministério da Saúde (MS) elege a Estratégia de Saúde da Família,
reorganizando a Atenção Básica, na lógica da vigilância à saúde.

1.2 Organização dos Serviços de Saúde no Controle da Malária

Historicamente, as ações de controle da malária foram executadas pelo governo em nível federal,
inicialmente com o DNERu, CEM, Sucam e pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa), atividades
que eram planejadas de forma centralizada e executadas verticalmente por equipes especializadas dessas
instituições.
Respeitando as diretrizes de descentralização do SUS, a necessidade de organização dos serviços
de saúde, de forma hierarquizada, e a integralidade da atenção transfere a responsabilidade do controle
das endemias para os estados e municípios a partir do ano 2000 e, mais recentemente, essas ações foram
incorporadas às atividades da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde.
Ações executadas em forma de campanha ou de planos emergenciais nem sempre apresentam, ao
final, os resultados esperados pelo controle da malária ao longo dos anos.
Compreende-se que só mediante ações contínuas, inseridas nos serviços de saúde, nas diferentes
complexidades da atenção, poderiam reverter o grave quadro da malária na Amazônia Legal.
Considerando o conceito de integralidade da assistência, o controle da malária, enquanto ação
básica de saúde, passa a ser responsabilidade de toda a equipe de saúde.

1.3 Atribuições das Unidades Básicas de Saúde e dos Profissionais de Saúde no Controle da
Malária

UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE (UBS)

As UBS devem garantir o atendimento integral e humanizado aos suspeitos de malária com meios
para:
a) diagnosticar e tratar precocemente;
b) realizar tratamento supervisionado quando necessário;
c) desenvolver ações educativas e de mobilização social relativas ao controle da malária em sua área
de abrangência;
d) viabilizar capacitações dos membros da equipe quanto ao manejo do paciente e ações relativas à
vigilância epidemiológica da malária;

14
e) garantir o encaminhamento dos casos graves para Unidade de Referência, quando necessário;
f ) estabelecer o fluxo das informações epidemiológicas referentes à malária, promovendo análises
de incidência da doença na sua área de atuação para o planejamento das ações;
g) encaminhar lâminas para o controle de qualidade (todas as positivas e 10% das negativas);
h) articular e viabilizar as medidas de controle vetorial e outras ações de proteção coletiva.

MÉDICOS E ENFERMEIROS

a) Identificar suspeitos de malária.


b) Preencher a ficha de notificação.
c) Realizar diagnósticos precocemente.
d) Completar a ficha de notificação e encaminhá-la ao setor competente.
e) Realizar tratamento imediato e adequado dos casos de malária com esquema terapêutico
preconizado pelo Ministério da Saúde, e orientá-lo quanto à necessidade do tratamento completo
e medidas de prevenção.
f ) Solicitar o retorno do paciente para a coleta de Lâmina de Verificação de Cura (LVC) de acordo as
normas do programa (anexo II).
g) Orientar os ACS para acompanhamento dos casos em tratamento e, em ocasiões especiais,
realizar o tratamento supervisionado.
h) Capacitar os ACS e auxiliares de enfermagem em ações de controle da malária.
i) Solicitar mensalmente ao setor competente as informações epidemiológicas referentes à malária
na área de atuação da UBS para a necessária análise e intervenções.
j) Identificar sinais e sintomas de malária grave e referenciar o paciente para os serviços de maior
complexidade.

AUXILIARES DE ENFERMAGEM

a) Realizar ações de educação em saúde e de mobilização social.


b) Preencher ficha de notificação.
c) Completar a ficha de notificação e encaminhá-la ao setor competente.
d) Solicitar o retorno do paciente após o término do tratamento e, em situações especiais, realizar o
tratamento supervisionado.
e) Identificar sinais e sintomas de malária grave e referenciar o doente aos serviços de saúde de
maior complexidade.
f ) Identificar sinais e sintomas de malária e coletar a lâmina para o diagnóstico.
g) Acompanhar os pacientes em tratamento.
h) Solicitar o retorno do paciente para a coleta de LVC de acordo com as normas do programa (anexo
II).
i) Orientar o paciente quanto à necessidade de concluir o tratamento.
j) Orientar a comunidade quanto ao uso de medidas de proteção individual e familiar para
prevenção da malária.
k) Mobilizar a comunidade para desenvolver medidas simples de manejo ambiental com o objetivo
de fazer o controle de vetores.
15
l) Quando da constatação de um caso de malária, investigar a existência de outros casos na
comunidade e encaminhar.
m) Orientar medidas de proteção individual como:
• repelentes;
• uso de roupas e acessórios apropriados para diminuir o contato vetor/homem;
• uso de mosquiteiros impregnados ou não com inseticidas;
• telagem das portas e janelas das casas.

AGENTES DE ENDEMIAS

a) Realizar ações de educação em saúde e de mobilização social.


b) Identificar sinais e sintomas de malária.
c) Acompanhar os pacientes em tratamento.
d) Orientar o paciente quanto à necessidade de concluir o tratamento.
e) Orientar a comunidade quanto ao uso de medidas de proteção individual e familiar para
prevenção da malária.
f ) Mobilizar a comunidade para desenvolver medidas simples de manejo ambiental com o objetivo
de fazer o controle de vetores.
g) Realizar o diagnóstico precoce com os imunotestes quando indicado.
h) Realizar o tratamento imediato e adequado, conforme Tabelas de Tratamento deste manual.
i) Colher lâminas de pessoas suspeitas de malária e encaminhá-las para leitura conforme estratégia
local.
j) Receber o resultado e instituir o tratamento imediato conforme as tabelas.
k) Quando não for possível a realização da coleta de lâmina ou do imunoteste, encaminhar a pessoa
suspeita de malária para Unidade de Referência.
l) Solicitar o retorno do paciente para a coleta de LVC de acordo as normas do programa (anexo II).
m) Receber o resultado da LVC e, se for positivo, instituir o tratamento conforme Nota Técnica
(anexo II).
n) Orientar medidas de proteção individual como:
• repelentes;
• uso de roupas e acessórios apropriados para diminuir o contato vetor-homem;
• uso de mosquiteiros impregnados ou não com inseticidas;
• telagem das portas e janelas das casas.
o) Preencher e encaminhar ao setor competente a ficha de notificação conforme a estratégia local.
p) Realizar a aplicação de larvicidas químicos e biológicos quando indicado.
q) Realizar a borrifação intradomiciliar de efeito residual, conforme estratégia local.
r) Realizar aplicação espacial de inseticidas por meio de nebulizações térmicas e Ultra Baixo Volume,
conforme estratégia local.

16
AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE (ACS) – Portaria n.º 44, de 3 de janeiro de 2002

Art. 2.° Estabelecer as seguintes atribuições do ACS na prevenção e controle da malária:

I- Em Zona Urbana:

a) realizar ações de educação em saúde e de mobilização social;


b) orientar o uso de medidas de proteção individual e coletiva;
c) mobilizar a comunidade para desenvolver medidas simples de manejo ambiental para o controle
de vetores;
d) identificar sintomas da malária e encaminhar o paciente à unidade de saúde para diagnóstico e
tratamento;
e) promover o acompanhamento dos pacientes em tratamento, ressaltando a importância de sua
conclusão;
f ) investigar a existência de casos na comunidade, a partir de sintomáticos;
g) preencher e encaminhar à Secretaria Municipal de Saúde a ficha de notificação dos casos
ocorridos.

II- Em Área Rural:

Além das atribuições relacionadas no item I deste artigo:

a) proceder à aplicação de imunotestes, conforme orientação da Coordenação Municipal do PACS


e PSF;
b) coletar lâminas de sintomáticos e enviá-las para leitura ao profissional responsável e, quando não
for possível esta coleta de lâmina, encaminhar as pessoas para a unidade de referência;
c) receber o resultado dos exames e providenciar o acesso ao tratamento imediato e adequado, de
acordo com as orientações da Secretaria Municipal de Saúde;
d) solicitar o retorno do paciente para a coleta de LVC de acordo as normas do programa
(anexo II).

17
FLUXO DE ATENDIMENTO AO SUSPEITO DE MALÁRIA

Suspeitos de malária

Preencher ficha de notificação

Colher lâmina para diagnóstico

Realização do exame laboratorial

Complementar a ficha de notificação e


encaminhá-la com resultado positivo ou
negativo

Positivo Negativo

Iniciar tratamento imediato Sinais de perigo Investigar febre

Acompanhar tratamento Encaminhar com urgência


para Unidade de
Referência
Colher a LVC

Positivo Negativo

Notificar como LVC Alta com recomendações

Adotar conduta
recomendada pelo
supervisor

18
1.4 Participação Comunitária e Mobilização Social

A promoção da saúde é desenvolvida por meio de ações comunitárias concretas e efetivas, no


estabelecimento de prioridades, na tomada de decisão, na definição de estratégias e na sua implementação
visando à melhoria das condições de saúde.
O desenvolvimento da comunidade é feito sobre os recursos humanos e materiais nela existentes,
para intensificar a auto-ajuda e o apoio social. Isso requer acesso às informações e oportunidades de
aprendizado sobre assuntos da saúde.
Com isso, aumentam as possibilidades da comunidade no sentido de exercer maior controle sobre
sua própria saúde e o meio ambiente em que ela vive, e decidir pela opção que conduz a uma saúde
melhor.
A responsabilidade pela promoção da saúde, nos serviços de saúde, deve ser compartilhada com os
indivíduos, a comunidade, os profissionais de saúde e o Sistema de Saúde. Todos devem juntos trabalhar
no sentido de criar condições para que o Sistema de Saúde contribua para a conquista de um elevado nível
de saúde.
Enfim, a promoção da saúde é um processo de capacitação da comunidade, para atuar na melhoria
de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle desse processo.
Está garantida na Constituição a participação da comunidade no SUS, por meio de entidades
representativas, como Conselhos de Saúde e Conferências de Saúde, com o objetivo de discutir as
necessidades da comunidade e as ações que interferem na saúde dos indivíduos.
A existência de um controle social efetivo e eficiente sobre a ação do governo em todas as esferas é
essencial para o fortalecimento do SUS. Trata-se, portanto, de consolidar instrumentos que viabilizem a
prática da democracia participativa, criando condições para que a comunidade, por meio de seus órgãos
representativos, participe das decisões do governo que afetam suas vidas nas questões relativas à saúde.
No tocante às ações de controle da malária, a participação da comunidade e a mobilização social
podem produzir mudanças no comportamento da população frente ao problema e influenciar nas decisões
das instituições. Essa participação inicia-se com um processo de mobilização social, utilizando-se dos
meios de comunicação disponíveis e adequados às comunidades, e, ainda, por intermédio de parcerias
com outros segmentos da sociedade.
É importante garantir e preservar a identidade antropológica e cultural, mas inserindo mudanças
capazes de propiciar a melhoria das condições de vida e de saúde da comunidade.
No que diz respeito à malária, é necessário propiciar aos membros da comunidade, informações à
respeito da doença, dos mosquitos transmissores e das medidas de prevenção e controle.
É necessário que a comunidade, além das informações sobre a doença, tenha conhecimentos práticos
para participar das ações de proteção e controle dos vetores e assim reduzir o contato homem/vetor, por
meio de medidas simples de proteção individual e/ou coletiva e medidas de ordenamento do meio.
A organização social e política da comunidade, as lideranças comunitárias existentes e o nível
de informação que a comunidade dispõe sobre a malária são componentes importantes e devem ser
considerados no momento da programação de ações de controle da malária em qualquer comunidade.

19
2 EPIDEMIOLOGIA
DA MALÁRIA

2.1 Histórico

Muitas são as tentativas de se estabelecer a origem da malária


no mundo, muito embora os estudos acabem fragmentados e
escassos para determinar a real origem da doença. Porém, admite-se
que a malária tenha se originado na África tropical onde o parasito
se adaptou bem aos hospedeiros.
A malária humana existe desde a mais remota antigüidade.
A prova disso está evidenciada em estudos arqueológicos que
demonstram a doença por meio de relatos sobre a ocorrência de
febre e esplenomegalia, além de inscrições em templos egípcios
descrevendo casos de febre intermitente. Hipócrates, em seus
estudos, descreve quadros febris característicos de malária, além de
relatos de esplenomegalia.
Em relação à descoberta do agente infeccioso da malária,
coube a Laveran (1880) a identificação de corpos claros nos
eritrócitos, a observação da formação de gametas machos e fêmeas
e, posteriormente, evidenciar o fenômeno da exoflagelação.
A transmissão da malária por mosquitos só foi comprovada
em 1898, por Ronaldo Ross, estudando a malária em aves. Antes,
porém, outros pesquisadores já admitiam a transmissão da malária
por insetos hematófagos provavelmente mosquitos.

2.2 Descrição da Doença

A malária é também conhecida como impaludismo,


febre intermitente, febre terçã, febre quartã, maleita e outros. É
uma doença infecciosa, produzida por protozoários do gênero
Plasmodium, e se caracteriza por acessos intermitentes de febre,
calafrios, cefaléia e sudorese. Continua sendo uma das mais
importantes doenças parasitárias e acomete anualmente milhões
de pessoas, especialmente no continente africano.

2.3 Agente Etiológico

Os parasitos da malária são da família plasmodidae, gênero


Plasmodium. Os plasmódios se caracterizam por apresentarem dois
tipos de multiplicação: uma assexuada denominada esquizogonia,
que ocorre no hospedeiro vertebrado (aves, répteis e mamíferos), e
outra sexuada chamada de esporogonia, que se passa no hospedeiro
invertebrado (mosquitos do gênero Anopheles).
21
São quatro as espécies conhecidas de plasmódios que infectam o homem.
• Plasmodium malariae (LAVERAN 1881, GRASSI e FALETTI 1890), agente da febre quartã,
muito encontrada no continente africano;
• Plasmodium vivax (GRASSI e FALETTI 1890), responsável pela terçã benigna;
• Plasmodium falciparum (WELCH, 1897), responsável pela terçã maligna; e
• Plasmodium ovale (STEPHENS, 1922), causador de uma forma de terçã benigna, não-encontrado
no Brasil. Existe principalmente no continente africano.

2.4 Reservatório

O ser humano, com micro e macro gametócitos se constitui na principal fonte de infecção de
importância epidemiológica.

2.5 Vetores

Os mosquitos transmissores da malária são insetos da ordem dos dípteros da família Culicidae e do
gênero Anopheles. Este gênero compreende cerca de 400 espécies das quais apenas um número reduzido tem
importância epidemiológica. No Brasil, cinco espécies são consideradas como vetores principais. São elas:
Anopheles (Nyssorynchus) darlingi, Anopheles (Nyssorynchus) aquasalis, Anopheles (Nyssorynchus) albitarsis,
Anopheles (Kerteszia) cruzi e Anopheles (Kerteszia) bellator, além de outros de menor importância.
O principal vetor da malária no Brasil é o Anopheles (N) darlingi. Seus criadouros freqüentemente
são de águas limpas de baixa correnteza e sombreadas. O Anopheles (N) aquasalis, predomina no litoral e
tem preferência por criadouros de águas salobras (figura 1).

No Brasil, são conhecidos também por carapanã, muriçoca, mosquito-prego, suvela e pernilongo. A
denominação de mosquito-prego diz respeito à forma como ele pousa na parede (figura 2).

22
As fêmeas do anofelino põem seus ovos nesses criadouros e desses ovos saem as larvas que se
transformam em pupas, que, por sua vez, se transformam em adultos já dotados de asas. Portanto, o
anofelino tem uma fase de vida aquática (ovos, larvas e pupas) e uma fase aérea, o alado (figura 1).

Alguns fatores são necessários para que a espécie seja considerada como transmissora da malária
humana, por exemplo: ser suscetível à infecção pelo plasmódio humano; ser antropofílico, ou seja, ter
preferência por sangue humano; ter longevidade e alta densidade, dentre outros.
A maioria dos anofelinos tem hábitos crepusculares ou noturnos. Durante o dia, procuram lugares
onde ficam ao abrigo da luz excessiva, do vento e dos inimigos naturais (figura 3).

23
2.6 Modo de Transmissão

A transmissão baseia-se na existência de uma fonte de infecção constituída de anofelinos infectados


e de hospedeiros suscetíveis ao meio ambiente dos transmissores.
A malária é transmitida à pessoa sadia por meio da picada da fêmea infectada do anofelino; outros
mecanismos raros de transmissão são: transfusão sangüínea, uso de seringas contaminadas, acidentes de
laboratório e por ocasião de parto (figura 4).

2.7 Período de Incubação

Existe uma variação quanto ao período de incubação das diferentes espécies de plasmódios humanos
(figura 5).

Período de Incubação (média por espécie)

Nos casos de infecção por transfusão sangüínea, o período de incubação geralmente é breve, variando
de acordo com o número de parasitos encontrados no sangue transfusionado.

2.8 Período de Transmissibilidade

O ser humano é considerado como fonte de infecção para o mosquito enquanto houver gametócitos
infectantes circulando no sangue em número suficiente, para que o mosquito, ao sugá-lo, possa ingerir
gametócitos de ambos os sexos.
As pessoas não-tratadas ou tratadas de forma inadequada podem ser fonte de infecção para o
mosquito por um período que varia de um a três anos, conforme a espécie. O mosquito, por sua vez,
permanece infectante enquanto ele viver. A transmissão por transfusão sangüínea pode ocorrer enquanto
permanecer no sangue circulante, formas assexuadas do parasito. O sangue armazenado pode continuar
infectante por cerca de 16 dias.
24
2.9 Suscetibilidade e Resistência

De um modo geral, todas as pessoas, independente de sexo, cor, raça, faixa etária, são suscetíveis à
infecção malárica. Os adultos em áreas de alta endemicidade, em que a exposição aos anofelinos infectantes
é contínua por muitos anos, desenvolvem uma certa tolerância ou resistência à infecção.

2.10 Distribuição Geográfica

No Brasil, a distribuição geográfica da malária é extensa. A área endêmica original, delimitada nos
anos 50 por meio de estudos entomológicos e detecção de casos, abrangia cerca de 6,9 milhões de km2
do território brasileiro. Na Amazônia onde, ao final de 2004, viviam cerca de 22 milhões de habitantes,
verifica-se uma concentração crescente de casos de malária nos últimos anos, passando de 94,9% (1980)
para 99,7% dos casos em 2004, sendo que dos estados amazônicos, neste último ano, o Amazonas é o que
concentra o maior número absoluto de casos de malária.
Embora o País apresente uma extensa superfície de seu território onde há risco de transmissão de
malária, este não é o mesmo em todas as áreas geográficas, originando níveis endêmicos diferentes na
dependência da variedade e intensidade de associação dos fatores de risco.
A Amazônia possui características geográficas e ecológicas altamente favoráveis à interação do
parasito (plasmódio) e do mosquito vetor (anofelino), com os fatores socioeconômicos, políticos e
culturais, determinando um nível de endemicidade, classificados como áreas de baixo, médio e alto risco
malarígeno.
Já na área não-endêmica, as condições não são muito favoráveis à interação dos fatores que
determinam a malária. A baixa receptividade e vulnerabilidade, que são condições criadas pela presença
do anofelino vetor, pela presença de indivíduos portadores de parasitos e a existência de outros fatores que
favorecem a transmissão da doença, são desfavoráveis ao reestabelecimento da transmissão, o que impõe a
manutenção permanente de um sistema de vigilância para a malária, objetivando detectar precocemente
a introdução de casos novos da doença.
Considerando a capacidade de combinação entre os diversos fatores que participam do processo de
transmissão, pode-se identificar quatro estratos de risco com níveis endêmicos diferenciados: alto, médio,
baixo e áreas sem transmissão de malária.

2.11 Fatores de Risco e Estratos Epidemiológicos

Fator de risco para a malária é qualquer variável ou conjunto de variáveis que tenham relação direta
com a incidência da malária, ou seja, qualquer condição que aumente a probabilidade de surgimento,
agravamento e morte pela doença num determinado momento. Os fatores de risco podem ser classificados,
entre outros, como:
• Biológicos – relacionados à população suscetível, agente etiológico e presença do vetor;
• Ambientais – modificações do meio ambiente, temperatura, umidade e presença de criadouros;
• Econômicos – relacionados à baixa renda, ao desemprego e às condições de trabalho, moradia e
migrações;
• Socioculturais – relacionados ao nível educacional, hábitos e costumes culturais e religiosos;
• Infra-estrutura de Serviços de Saúde – relacionados à insuficiência de serviços de saúde.
Considera-se que o conhecimento dos fatores de risco determinantes de uma doença é condição
fundamental para a classificação dos estratos, levando em consideração as características epidemiológicas
destes, de modo a favorecer o desenvolvimento de ações de controle adequadas a cada situação.
Assim, em relação ao risco de vir a adoecer ou morrer de malária, o território brasileiro está dividido
em quatro situações distintas:
- Áreas de alto risco malarígeno (Incidência Parasitária Anual – IPA > 49,9 casos/1.000
habitantes)

25
São áreas de transmissão intensa favorecida pelo tipo de ocupação das pessoas (extrativismo) ou
situações como assentamento ou invasões onde a população está muito exposta ao risco, em virtude de:
• populações migrantes com escassa imunidade;
• altas densidades de anofelinos;
• moradias precárias que não oferecem proteção;
• alta incidência com óbitos devido ao difícil acesso aos serviços de saúde;
• carência de serviços de saúde e infra-estrutura social;
• insuficiente participação da comunidade nas medidas de prevenção da doença;
• dificuldades operacionais para o desenvolvimento pleno de medidas de controle.
- Áreas de médio risco malarígeno (IPA de 10 a 49,9 casos/1.000 habitantes)
Este estrato é caracterizado por ocupações humanas mais estáveis, com populações e migrações
mais localizadas, com habitações em melhores condições, menores densidades de anofelinos, áreas de
transmissão bem delimitadas, melhores condições para o desenvolvimento de medidas de controle, melhor
infra-estrutura dos serviços de saúde e maiores facilidades de comunicação.
- Áreas de baixo risco malarígeno (IPA de 0,1 a 9,9 casos/1.000 habitantes)
Correspondem às áreas de ocupação estáveis, com baixa transmissão da malária, porém, continuam
sendo receptivas e vulneráveis, considerando o potencial malarígeno, o que eventualmente pode dar
origem a focos restritos. Nessa situação, é importante a manutenção de uma vigilância epidemiológica
eficiente pelos serviços de saúde existentes.
- Áreas não-endêmicas (IPA = zero)
O quarto estrato é caracterizado por áreas onde a transmissão de malária foi interrompida.

26
3 ASPECTOS
CLÍNICOS

3.1 Ciclo Biológico dos Plasmódios

Para que se possa conhecer bem a doença e entender a ação


dos medicamentos antimaláricos, para a administração adequada
do tratamento, é necessário o conhecimento do ciclo biológico dos
plasmódios.
Os plasmódios se reproduzem por dois processos distintos: a
reprodução assexuada, também denominada de esquizogonia que
se desenvolve no hospedeiro vertebrado, que é o ser humano, e
outra sexuada, também chamada de esporogonia, cuja evolução se
faz no hospedeiro invertebrado, o mosquito.
Esquematicamente, o ciclo evolutivo dos parasitos da malária
é o seguinte:
Partindo do ponto da picada infectante, os esporozoítos
(formas infectantes para o homem), após permanecerem por um
breve período na corrente sangüínea, vão localizar-se na célula
hepática (hepatócito), onde se multiplicam assexuadamente, dando
origem aos esquizontes teciduais primários. O tempo necessário
para o desenvolvimento desse ciclo corresponde ao período pré-
patente, durante o qual não se encontram parasitos no sangue
periférico. Esse período é variável para cada espécie de plasmódio.
Durante o período pré-patente, não há manifestação clínica.
Os esquizontes teciduais amadurecem e liberam merozoítos. Após
a liberação dos merozoítos, alguns são fagocitados pela células
de Küpffer e outra parte vai parasitar os eritrócitos (hemácias).
Dentro das hemácias, eles sofrem vários estágios de maturação
transformando-se em trofozoítos que se multiplicam pelo
processo da esquizogonia sangüínea, resultando em verdadeiros
conglomerados de merozoítos nos eritrócitos, os esquizontes
sangüíneos. Assim, as hemácias abarrotadas de parasitos se rompem
e liberam os merozoítos. É neste momento que o indivíduo
infectado começa a apresentar os sintomas da doença.
Os merozoítos liberados vão parasitar outras hemácias e
darão continuidade ao ciclo, até que algumas dessas formas deixem
de se multiplicar e sofram alterações morfológicas e funcionais,
passando a constituir os gametócitos (masculino e feminino)
formas sexuadas que não são patogênicas para o homem.
Quando a fêmea de um anofelino suga o sangue do
indivíduo com plasmódios circulantes, com razoável número de

27
formas sexuadas (gametócitos masculino e feminino), estas passarão por uma transformação no estômago
do mosquito. Há a fecundação dos gametos, originando o ovo ou o zigoto que se transforma em oocineto.
Este penetra na parede do estômago e cai na hemolinfa do mosquito, transformando-se em oocisto, o
qual dá origem a esporozoítos, que se alojam nas glândulas salivares do mosquito, quando a partir daí as
fêmeas tornam-se infectantes, estando, portanto, aptas a transmitirem a doença ao sugar o sangue de um
outro indivíduo, fechando assim, o ciclo evolutivo dos plasmódios.
O Plasmodium vivax tem a capacidade de, após instalação no hepatócito, permanecerem latentes,
originando os hipnozoítos (do grego hypnos = sono) permanecendo por um tempo variável, sendo os
responsáveis pelas chamadas recaídas da doença (figura 6).

3.2 Descrição dos Aspectos Clínicos

A febre geralmente vem precedida por sinais e sintomas inespecíficos caracterizados por mal-estar,
cefaléia, cansaço e mialgia. O ataque paroxístico inicia-se com calafrios seguido por uma fase febril,
com temperatura corpórea podendo atingir até 41ºC. Após um período de duas a seis horas, ocorre
defervecência da febre e o paciente apresenta sudorese profusa e fraqueza intensa.
Após a fase inicial, a febre assume um caráter intermitente, dependente do tempo de duração dos
ciclos eritrocíticos de cada espécie de plasmódio: 48 horas para P. falciparum e P. vivax (malária terçã); e
72 horas para P. malariae (malária quartã). Entretanto, a constatação desta regularidade é pouco comum,
em decorrência de: a) tratamento precoce realizado ainda na fase de assincronismo das esquizogonias
sangüíneas; b) infecção por populações distintas de plasmódios e c) infecção em primo-infectados por
retardo da resposta imune específica.
Em áreas de alta endemicidade malárica, é comum encontrar pessoas portando o parasito da
doença sem manifestações clínicas. Enfim, o quadro clínico para todas as espécies de plasmódio é muito
semelhante, fazendo exceção para os casos graves e complicados de Plasmodium falciparum.
Em crianças lactentes e pré-escolares, a expressão clínica da doença costuma ser inespecífica,
podendo, inclusive, inexistir a febre, o mais importante sintoma da doença. Manifestações como astenia,
anorexia, tosse, náuseas, vômitos, diarréia, dor abdominal, tonteiras, artralgia e mialgia podem ser as
primeiras queixas da doença.

28
Em crianças, é comum o aumento do fígado que pode se tornar palpável no final da primeira
semana a partir do início da sintomatologia, enquanto o baço poderá ser palpado com maior freqüência a
partir da segunda semana de doença.
A anemia também é um achado freqüente, podendo ser bastante acentuada, principalmente em
pacientes graves, crianças e gestantes. No entanto, o grau de anemia está na dependência de diversos
fatores, dentre os quais, a espécie do plasmódio (geralmente mais intensa nos casos onde o P. falciparum é
o causador da doença), o número de parasitos e a presença de outros fatores como desnutrição e parasitose
intestinal.
A icterícia geralmente só está presente em casos raros de malária, especialmente quando há demora
em iniciar a terapêutica específica. Outro sinal clínico observado com muita freqüência é a colúria,
determinando confusão diagnóstica com hepatite. Essa dúvida é facilmente esclarecida pela dosagem das
aminotransferases, que estão muito elevadas nos casos de hepatite e pouco elevadas ou mesmo em índices
normais na malária.
Na malária grave por P. falciparum, pode-se encontrar hiperparasitemia, anemia grave (hemoglobina
abaixo de 5g/dl), distúrbios hidroeletrolíticos e equilíbrio ácido-básico, edema agudo de pulmão, distúrbios
hemorrágicos, icterícia acentuada, insuficiência renal aguda, coma, convulsões, choque circulatório (malária
álgida) e hipoglicemia acentuada.
A insuficiência renal aguda pode ser decorrente de desidratação e/ou hipovolemia, sendo usualmente
reversível, desde que se realize a hidratação adequada e o tratamento específico da doença.

3.3 Diagnóstico

O diagnóstico da malária deve levar em consideração dados epidemiológicos clínicos e


laboratoriais.

DIAGNÓSTICO EPIDEMIOLÓGICO

Para o diagnóstico epidemiológico, é importante avaliar as seguintes informações:


• área de procedência do caso;
• existência de casos na região;
• tempo de permanência na área endêmica.

DIAGNÓSTICO CLÍNICO

Por orientação dos programas oficiais de controle, em situações de epidemia e em áreas de difícil
acesso da população aos serviços de saúde, indivíduos com febre são considerados portadores de malária.
Entretanto, os sintomas da malária são extremamente inespecíficos, não se prestando à distinção entre
a malária e outras infecções agudas do ser humano. Além disso, indivíduos semi-imunes ao plasmódio
podem ter parasitos da malária, mas sem sintomas da doença (portador são ou assintomático). Portanto,
o elemento fundamental no diagnóstico clínico da malária, tanto nas áreas endêmicas como nas não-
endêmicas, é sempre pensar na possibilidade da doença. Como a distribuição geográfica da malária não
é homogênea nem mesmo nos países onde a transmissão é elevada, tornam-se importantes, durante a
elaboração do exame clínico, resgatar informações sobre a área de residência ou relato de viagens indicativas
de exposição ao parasito, confirmando a importância do diagnóstico epidemiológico.
Além disso, informações sobre transfusão de sangue ou uso de agulhas contaminadas podem sugerir
a possibilidade de malária induzida.
O diagnóstico clínico é baseado nas manifestações clínicas da doença associado aos achados
epidemiológicos. Contudo, o diagnóstico de certeza da malária é laboratorial, que, além da confirmação
clínica, identifica a espécie de plasmódio, fundamental para orientar o tratamento.
O diagnóstico laboratorial pode ser específico e inespecífico.

29
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
Exames específicos:
- Gota Espessa
Essa é a técnica mais utilizada para o diagnóstico laboratorial da malária e continua sendo considerada
como o “padrão ouro” para a confirmação específica da doença.
Após coleta de sangue, por meio de punção digital e sua distribuição adequada em lâmina de vidro,
é realizada a coloração e leitura ao microscópio. Essa técnica é importante, pois permite a visualização do
parasito, identificação da espécie e o estágio de desenvolvimento e quantificação, imprescindíveis para a
avaliação clínica e controle de cura do paciente.
O exame da gota espessa deve ser de 100 campos microscópicos examinados com aumento de
600 a 700 vezes, o que equivale a 0,25ml de sangue. A avaliação da parasitemia pode ser expressa
semiqualitativamente em “cruzes” ou quantitativamente em mm3, conforme quadro a seguir.
Quadro 1. Avaliação semiquantitativa e quantitativa da densidade parasitária por plasmódio na gota
espessa de sangue

Parasitemia
Número de parasitos contados / Parasitemia quantitativa
semiquantitativa
campo (por mm3)
(cruzes)
40 a 60 por 100 campos + /2 200 a 300
1 por campo + 301 a 500
2 a 20 por campo ++ 501 a 10.000
21 a 200 por campo +++ 10.001 a 100.000
200 ou mais por campo ++++ > 100.000
Obs.: para exames com menos de 40 parasitos por 100 campos, expressar o resultado pelo número de parasitos contados.

- Esfregaço Sangüíneo
O diagnóstico parasitológico da malária pelo esfregaço sangüíneo tem a vantagem de facilitar a
identificação da espécie por permitir maior detalhe da morfologia dos plasmódios, mas, por outro lado,
em baixas parasitemias, há uma redução da sua sensibilidade cerca de dez vezes, se comparado à gota
espessa.

- Imunotestes
Também chamado de testes rápidos, os imunotestes para diagnóstico de malária vêm sendo
amplamente avaliados.
Recentemente, outro método de diagnóstico rápido foi desenvolvido. Tem a vantagem de capturar
antígenos de P. falciparum e não P. falciparum. Trata-se de um teste baseado em fitas de detecção por
imunocromatografia, o qual utiliza anticorpos monoclonais e policlonais, marcados com ouro e dirigidos
contra a enzima desidrogenase do lactato específica do parasito (pDHL) presente no sangue total do
paciente. É um método bastante rápido, de fácil manuseio e que, dependendo de seus resultados, poderá
ser aplicado no campo quando indicado, levando-se em consideração o seu custo benefício.

- Outros métodos
Existem ainda outros métodos que podem ser utilizados no diagnóstico da malária, como a
Imunofluorescência Indireta, Elisa e a Reação em Cadeia da Polimerase (PCR), de grande importância em
pesquisa, porém, não usados rotineiramente para diagnóstico laboratorial. O PCR é de grande importância
em laboratórios de referência para a malária.

30
Exames inespecíficos:

Hemograma

A anemia é um achado comum, geralmente do tipo normocítica e normocrômica. Anemias severas


podem ocorrer em portadores de malária por P. falciparum, quando o número de formas assexuadas chega
facilmente a 50.000 e mesmo a 100.000/mm3 de sangue.
As infecções por P. vivax têm parasitemias usualmente entre 1.000 e 5.000 formas assexuadas/mm3
de sangue, sendo raras as parasitemias mais elevadas. Nos casos de infecções por P. malariae, mais raras
entre nós, as parasitemias, geralmente, situam-se entre 100 e 500 parasitos/mm3 de sangue. As infecções
por estes dois últimos parasitos produzem graus de anemia menos significativos.
Os portadores de malária podem apresentar leucopenia, entretanto, não raramente os leucócitos
podem estar normais. Eventualmente, a leucocitose pode ocorrer, geralmente pela depressão imunitária
que acompanha o doente da malária, predispondo-o a infecções concomitante, geralmente por
microorganismos Gram-negativos. Na análise diferencial dos leucócitos, costuma-se encontrar com mais
freqüência uma linfocitose.
As plaquetas, em geral, estão diminuídas sobretudo nos casos de malária por P. falciparum, nos quais
é possível encontrar trombocitopenias inferiores a 20.000 plaquetas/mm3 de sangue.

Alterações Bioquímicas

Pode existir também elevação da uréia, da creatinina, das bilirrubinas e das enzimas, por exemplo,
aminotransferases (transaminases), 5’-nucleotidase e gama-transpeptidase (GAMA-GT). Os pacientes mais
graves estão acidóticos, com baixa concentração de bicarbonato e baixo pH plasmático nos capilares. As
alterações hidroeletrolíticas (sódio, potássio, cloro, cálcio e fósforo) variam. As concentrações de ácido láctico
no sangue e no líquido céfalo-raquidiano são altas tanto nos adultos como nas crianças.

3.4 Diagnóstico Diferencial

Qualquer processo infeccioso, que tenha a febre como um dos elementos clínicos para nortear
o diagnóstico, se constitui em diagnóstico diferencial com a malária, como, por exemplo, hepatites,
leptospirose, pneumonia, infecção do trato urinário, septicemias, meningoencefalites, febre amarela,
calazar, dengue, etc.
Em crianças que podem apresentar quadros clínicos mais variados e menos típicos, há que excluir
as outras doenças febris, tais como doenças infecciosas do trato respiratório, urinário e digestivo, seja de
etiologia viral ou bacteriana. Daí a importância da confirmação diagnóstica, por meio da gota espessa, antes
da instituição do tratamento.

31
4 TRATAMENTO

4.1 Considerações Gerais

O tratamento imediato e adequado da malária tem como objetivo a prevenção de formas graves da
doença, bem como a redução da mortalidade, além de eliminar a fonte de infecção para o mosquito, e,
conseqüentemente, reduzir a transmissão da doença.
Para que o tratamento da malária possa ser realizado de forma adequada, é fundamental o
conhecimento do ciclo biológico do parasito no homem, pois há drogas que agem com maior especificidade
em certas formas evolutivas do plasmódio, além das drogas que apresentam maior efetividade conforme a
espécie que está parasitando o homem (figura 6).
Dependendo da espécie do plasmódio causador da doença, da ocorrência de resistência na área de
transmissão, da gravidade do quadro clínico e da idade do paciente, há drogas primariamente indicadas
para cada caso, e, portanto, seu uso poderá variar em função do conhecimento do profissional de saúde e
da disponibilidade dos medicamentos antimaláricos no local de atendimento.
Para maior aprofundamento, deve ser consultado o Manual de Terapêutica da Malária – MS, 6.ª
edição revisada – dezembro de 2001 ou o mesmo atualizado.

Condutas Gerais

Na febre causada pela malária, métodos físicos, como o uso de compressas de água morna
e ventilação, são mais eficazes na diminuição da temperatura corporal do que o uso de antitérmicos.
Entretanto, os antitérmicos poderão ser usados na tentativa de evitar que ocorram convulsões febris em
crianças suscetíveis. O tratamento de convulsões segue o padrão convencional.
Sendo a cefaléia decorrente da liberação de cininas, que são responsáveis pela vasodilatação, o uso de
bolsas de gelo traz um grande alívio aos pacientes, podendo, ainda, ser usados os analgésicos.
A transfusão de concentrado de hemácias, ou mesmo sangue fresco (nos casos de distúrbios
hemorrágicos com choque hipovolêmico), está indicada apenas nos casos de anemia grave, quando o
hematócrito está abaixo de 20% e a hemoglobina abaixo de 5g/100ml.
Na hipoglicemia, pode-se administrar injeção endovenosa “em bolo” de 50 ml de glicose a 50% (1
ml/kg nas crianças) e a seguir manter infusão endovenosa de glicose a 5 ou 10%.
Após a reidratação adequada, não havendo restabelecimento da função renal nos pacientes que
evoluíram de oligúria para anúria, havendo condições, deve-se realizar diálise peritoneal ou hemodiálise.
Há contra-indicações dos corticosteróides e outros agentes antiedematosos no coma malárico, assim
como o uso da heparina nos pacientes.

4.2 Esquemas de Tratamento para Malária Recomendados pelo Ministério da Saúde

O Ministério da Saúde, por intermédio da Funasa, editou em 2001 o Manual de Terapêutica da


Malária que apresenta 10 tabelas com esquemas terapêuticos antimaláricos utilizados no Brasil, de acordo
com o grupo etário do paciente. Embora as dosagens constantes nas tabelas levem em consideração o
peso pela idade do paciente, é recomendável que, sempre que possível e para garantir boa eficácia e baixa
toxicidade no tratamento da malária, as doses dos medicamentos sejam fundamentalmente ajustadas

33
ao peso do paciente. Entretanto, como nem sempre é possível dispor de uma balança para a verificação
do peso, apresenta-se no quadro abaixo a relação do peso segundo a idade. Chama-se atenção para a
necessidade de sempre que surgirem dúvidas, recorrer-se ao Manual de Terapêutica de Malária ou outras
fontes de consulta do Ministério da Saúde.

Quadro 2. Equivalência entre grupo etário e peso corporal aproximado

Grupos Etário Peso Corporal

Menor de 6 meses Menos de 5 Kg


De 6 a 11 meses 5 a 9 Kg
De 1 a 2 anos 10 a 14 Kg
De 3 a 6 anos 15 a 19 Kg
De 7 a 11 anos 20 a 29 Kg
De 12 a 14 anos 30 a 49 Kg
De 15 ou mais anos 50 Kg ou mais
Fonte: Manual de Terapêutica da Malária – MS, 6.ª edição revisada – dezembro de 2001.

- ESQUEMAS DE PRIMEIRA ESCOLHA

TABELA 1

Esquema recomendado para tratamento das infecções por


Plasmodium vivax
com cloroquina em 3 dias e primaquina em 7 dias

DROGAS e DOSES

1.º dia 2.º e 3.º dias 4.º, 5.º, 6.º e 7.º dias
GRUPOS
ETÁRIOS Primaquina Primaquina Primaquina
Cloroquina Comprimido Cloroquina Comprimido Comprimido
Comprimido Comprimido
Adulto Infantil Adulto Infantil Adulto Infantil

Menor de 6 meses 1/4 - - 1/4 - - - -

6 a 11 meses 1/2 - 1 1/2 - 1 - 1

1 a 2 anos 1 - 1 1/2 - 1 - 1

3 a 6 anos 1 - 2 1 - 2 - 2

7 a 11 anos 2 1 1 1 e 1/2 1 1 1 1

12 a 14 anos 3 1 e 1/2 - 2 1 e 1/2 - 1 e 1/2 -

15 anos ou mais 4 2 - 3 2 - 2 -

Primaquina: comprimidos para adultos com 15mg da base e para crianças com 5mg da base.
Cloroquina: comprimidos de 250mg contendo 150mg de cloroquina base.
A cloroquina e a primaquina deverão ser ingeridas preferencialmente às refeições. Não administrar primaquina para gestantes e crianças até 6
meses de idade (ver tabela 10). Se surgir icterícia, suspender a primaquina.

34
TABELA 2

Esquema recomendado para tratamento das infecções por


Plasmodium falciparum
com quinina em 3 dias + doxiciclina em 5 dias + primaquina no 6.º dia

DROGAS E DOSES

1.º, 2.º e 3.º dias 4.º e 5.º dias 6.º dia


GRUPOS ETÁRIOS
Quinina Doxiciclina Doxiciclina Primaquina
Comprimido Comprimido. Comprimido Comprimido

8 a 11 anos 1 e 1/2 1 1 1

12 a 14 anos 2 e 1/2 1 e 1/2 1 e 1/2 2

15 anos ou mais 4 2 2 3

* A dose diária da quinina e da doxiciclina devem ser divididas em 2 tomadas de 12 em 12 horas.


A doxiciclina e a primaquina não devem ser dadas a gestantes. Nesse caso, usar tabela 7.
Para menores de 8 anos e maiores de 6 meses de idade, usar a tabela 6.

TABELA 3

Esquema recomendado para tratamento das infecções mistas por


Plasmodium vivax + Plasmodium falciparum
com mefloquina em dose única e primaquina em 7 dias

DROGAS e DOSES

1.º dia 2.º ao 7.º dia


GRUPOS
ETÁRIOS Mefloquina Primaquina Primaquina
Comprimido Comprimido Comprimido
(dose única) Adulto Infantil Adulto Infantil

Menor de 6 meses * - - - -

6 a 11 meses 1/4 - 1/4 - 1

1 a 2 anos 1/2 - 1/4 - 1

3 a 4 anos 1 - 1/2 - 2

5 a 6 anos 1 e 1/4 - 1/2 - 2

7 a 8 anos 1 e 1/2 - 1 1 1

9 a 10 anos 2 - 1 1 1

11 a 12 anos 2 e 1/2 - 2 1 e 1/2 -

13 a 14 anos 3 - 2 1 e 1/2 -

15 anos ou mais 4 2 - 2 -

* Calcular 15 a 20 mg/kg de peso.


A dose única de mefloquina pode ser dividida em duas tomadas com intervalo de até 12 horas.
Não usar primaquina em gestantes e menores de 6 meses (Ver tabela 10).

35
TABELA 4

Esquema recomendado para tratamento das infecções por


Plasmodium malariae
com cloroquina em 3 dias

DROGA e DOSES
GRUPOS Cloroquina
ETÁRIOS Comprimido
1.º dia 2.º dia 3.º dia
Menor de 6 meses 1/4 1/4 1/4
6 a 11 meses 1/2 1/2 1/2
1 a 2 anos 1 1/2 1/2
3 a 6 anos 1 1 1
7 a 11 anos 2 1 e 1/2 1 e 1/2
12 a 14 anos 3 2 2
15 anos ou mais 4 3 3

Obs.: diferente do P. vivax, não se usa primaquina para o P. malariae.

- ESQUEMAS ALTERNATIVOS

TABELA 5

Esquema alternativo para tratamento das infecções por


Plasmodium vivax
em crianças apresentando vômitos, com cápsulas retais de artesunato em
4 dias, e primaquina em 7dias

DROGAS e DOSES

1.º, 2.º e 3.º dias 4.º dia 5.º ao 11.º dia


GRUPOS
ETÁRIOS Primaquina
Artesunato Artesunato Comprimidos
Cápsula retal Cápsula retal
Adulto Infantil

1 a 2 anos 1 1 - 1

3 a 5 anos 2 (A) 1 1/2 -

6 a 9 anos 3 (B) 1 - 2

10 a 12 anos 3 (B) 3 (B) 1 -

Cápsula retal com 50mg. A cápsula retal pode ser conservada à temperatura ambiente.
Primaquina infantil e adulto com 5mg e 15 mg de primaquina-base, respectivamente.
A dose de primaquina é de 0,50 mg/kg de peso deve ser ingerida, preferencialmente, às refeições.
(A) Administrar uma cápsula retal de 12 em 12 horas.
(B) Administrar uma cápsula retal de 8 em 8 horas.
Para menores de 1 ano e maiores de 12 anos, usar a Tabela 1 deste manual.
Obs.: não usar este esquema para crianças com diarréia.

36
TABELA 6

Esquema alternativo para tratamento das infecções por


Plasmodium falciparum
com mefloquina em dose única, e primaquina no 2.º dia

DROGAS e DOSES

1.º dia 2.º dia


GRUPOS
ETÁRIOS
Primaquina
Mefloquina Comprimidos
Comprimido
Adulto Infantil

Menor de 6 meses * - -
6 a 11 meses 1/4 - 1
1 a 2 anos 1/2 1/2 -
3 a 4 anos 1 1 -
5 a 6 anos 1 e 1/4 1 -
7 a 8 anos 1 e 1/2 1 e 1/2 -
9 a 10 anos 2 1 e 1/2 -
11 a 12 anos 2 e 1/2 1 e 1/2 -
13 a 14 anos 3 2 -
15 anos ou mais 4 3 -

* Calcular 15 a 20 mg/kg de peso.


A dose diária de mefloquina pode ser dada em duas tomadas com intervalo máximo de 12 horas.
Não usar mefloquina se tiver usado quinina nas últimas 24 horas.
Não se deve usar mefloquina em gestantes do primeiro trimestre.
Não usar primaquina em gestantes e menores de 6 meses.

TABELA 7

Tratamento alternativo das infecções por


Plasmodium falciparum
com quinina em 7 dias

DROGA e DOSES
GRUPOS
ETÁRIOS Quinina Comprimidos
(Dose diária durante 7 dias)
Menor de 6 meses 1/4
6 a 11 meses 1/2
1 a 2 anos 3/4
3 a 6 anos 1
7 a 11 anos 1 e 1/2
12 a 14 anos 2
15 anos ou mais 3
A dose diária de quinina deve ser fracionada em três tomadas de 8 em 8 horas.

37
TABELA 8

Esquema alternativo para tratamento das infecções por


Plasmodium falciparum
em crianças, com cápsulas retais de artesunato em 4 dias,
dose única de mefloquina no 3.º dia e primaquina no 5.o dia

DROGAS e DOSES

GRUPOS 1.º e 2.º dias 3.º dia 4.º dia 5.º dia
ETÁRIOS
Artesunato Artesunato Mefloquina Artesunato Primaquina
Cápsula Retal Cápsula Retal Comprimido Cápsula Retal (Adulto)

1 a 2 anos 1 1 1/2 1 1/2

3 a 5 anos 2 (A) 2 (A) 1 1 1

6 a 9 anos 3 (B) 3 (B) 1 e 1/2 1 1 e 1/2

10 a 12 anos 3 (B) 3 (B) 2 e 1/2 3 (B) 2

A cápsula retal pode ser conservada à temperatura ambiente.


A mefloquina pode ser administrada na dose de 15-20 mg/kg de peso dividida em duas tomadas, com intervalo de 12 horas.
(A) Administrar uma cápsula retal de 12 em 12 horas.
(B) Administrar uma cápsula retal de 8 em 8 horas.
Para menores de 1 ano, usar a tabela 7, e maiores de 12 anos, usar as tabelas 2 ou 6 deste manual.
Obs.: Não usar este esquema para crianças com diarréia.

TABELA 9

Esquema alternativo para tratamento das infecções mistas por


Plasmodium vivax + Plasmodium falciparum
com quinina em 3 dias, doxiciclina em 5 dias e primaquina em 7 dias

DROGAS e DOSES

1.º, 2.º e 3.º dias 4.º dia 5.º dia 6.º ao 11.º dia
GRUPOS
ETÁRIOS
Primaquina Primaquina
Quinina Doxiciclina Doxiciclina Doxiciclina
Comprimido Comprimido
Comprimido Comprimido Comprimido Comprimido
(Adulto) (Adulto)

8 a 11 anos 1 e 1/2 1 1 1 1 1

12 a 14 anos 2 e 1/2 1 e 1/2 1 e 1/2 1 e 1/2 1 e 1/2 1 e 1/2

15 anos ou mais 4 2 2 2 2 2

A dose diária de quinina e de doxiciclina devem ser fracionadas em duas tomadas de 12 em 12 horas.
Não usar doxiciclina e primaquina em gestantes. Nesses casos, usar a tabela 7 e ver a tabela 10.
Para menores de 8 anos, usar as Tabelas 2 ou 6 deste manual.

38
TABELA 10

Esquema de prevenção de recaída da malária por Plasmodium vivax,


com cloroquina em dose única semanal, durante 3 meses*

Peso Número de comprimidos de cloroquina


Idade
(kg) por semana (150mg/dose)

5 a 6 kg < 4 meses 1/4

7 a 14 kg 4 meses a 2 anos 1/2

15 a 18 kg 3 a 4 anos 3/4

19 a 35 kg 5 a 10 anos 1

36 kg ou mais 11 anos ou + 2

* Esquema recomendado para pacientes que apresentam recaídas, após o término do tratamento correto, para gestantes e para crianças
menores de 1 ano. Só deve ser iniciado após o término do tratamento com cloroquina em 3 dias.
Cloroquina: comprimidos de 250mg contendo 150mg de cloroquina base.

4.3 Noções sobre Malária Grave e Complicada

Adultos não-imunes, crianças, gestantes e idosos constituem os grupos que mais comumente evoluem
de forma desfavorável, podendo apresentar manifestações clínicas mais graves da infecção e chegar ao
óbito mais freqüentemente quando a infecção se dá por P. falciparum. A hipoglicemia, o aparecimento
de convulsões, vômitos incoercíveis, icterícia, hipertermia contínua e distúrbios da consciência, são
indicativos de mau prognóstico, necessitando de uma ação imediata no sentido de realizar a terapêutica
adequada ou, quando não for possível, providenciar o encaminhamento do paciente com urgência para
uma Unidade de Referência.

Sinais e Sintomas de Perigo

O paciente com malária grave ou complicada pode apresentar alteração do nível de consciência,
prostração, fraqueza extrema e icterícia. Além disso, podem ocorrer as seguintes complicações:
• malária cerebral;
• convulsões generalizadas;
• anemia normocítica;
• insuficiência renal;
• distúrbio hidroeletrolítico e ácido-básico;
• colapso e choque circulatório (malária álgida);
• sangramento espontâneo (coagulação intravascular disseminada);
• hipertermia contínua;
• parasitemia elevada;
• hemoglobinúria;
• edema agudo de pulmão;
• hipoglicemia.
É importante notar que essas manifestações graves podem ocorrer isoladamente ou – o que é mais
comum – combinadas, no mesmo paciente.

39
Conduta Geral

As seguintes medidas devem ser aplicadas a todos os pacientes com suspeita de malária grave:
• na ausência de confirmação parasitológica de malária, deve-se preparar uma lâmina de sangue e
começar o tratamento com base no quadro clínico;
• a quimioterapia antimalárica deve ser administrada por via parenteral (endovenosa ou
intramuscular), devendo ser substituída pelo tratamento oral quando se julgar adequado;
• as doses devem ser calculadas com base em mg/kg de peso, por conseguinte, é importante pesar
o paciente sempre que for possível, especialmente as crianças;
• não se deve confundir as doses de sal e de base;
• os pacientes devem ser admitidos em unidade de tratamento intensivo, sempre que for possível;
• quando estão sendo administradas soluções por via endovenosa, deve-se dispensar cuidadosa
atenção ao equilíbrio hídrico, a fim de evitar a hiper-hidratação;
• quando possível, é importante fazer um rápido exame inicial para determinar o nível de glicose
sangüínea para detectar hipoglicemia e monitorá-lo, quando não for possível, administrar
glicose;
• os pacientes que estiverem inconscientes devem receber cuidadosa assistência de enfermagem. As
sondas vesicais de demora devem ser removidas, assim que não forem mais necessárias;
• outras eventuais causas de coma devem ser esclarecidas ou tratadas;
• é importante monitorar a resposta terapêutica, tanto parasitológica como clínica;
• identificar e controlar qualquer infecção associada;
• monitorar a diurese e observar a coloração da urina;
• é imperativo observar regularmente a temperatura corpórea, a freqüência respiratória, a pressão
sangüínea, a pressão venosa central quando possível, o nível de consciência e outros sinais
vitais;
• deve-se colher sangue para hemocultura, se o paciente entrar em choque durante o tratamento,
e iniciar antibioticoterapia empírica enquanto se aguarda o resultado da hemocultura;
• acompanhar o paciente com os seguintes exames, como hematócrito, glicemia, uréia, creatinina,
eletrólitos e exame de urina;
• o precoce exame oftalmoscópico do fundo do olho é importante porque a existência de hemorragia
da retina tem alta significância para o diagnóstico e o prognóstico da malária grave;
• evitar o uso de drogas que aumentem o risco de sangramento gastrointestinal (aspirina,
corticosteróide);
• uma monitoração mais sofisticada pode ser útil, se aparecerem outras complicações. Obviamente
dependerá da disponibilidade local de equipamentos e experiência;
• para maior aprofundamento, sugerimos consultar o Manual de Tratamento de Malária Grave e
Complicada – Condutas Práticas – 2.ª edição – OMS.

40
Quadro 3. Tratamento de malária grave e complicada
Esquema recomendado para malária grave por P. falciparum

DROGA OBSERVAÇÕES IMPORTANTES

A 1. Primeira Escolha Completar o tratamento com: clindamicina, 20 mg/kg de


DERIVADOS DA ARTEMISININA peso/dia, por cinco dias, dividida em duas tomadas (12
Artesunato endovenoso: 2,4 mg/kg como dose de ata- em 12 horas), via oral; ou doxiciclina, 3,3 mg/kg de peso/
que e 1,2 mg/kg nos momentos 4, 24 e 48 horas. Diluir dia dividida em duas tomadas (12 em 12 horas), por cin-
cada dose em 50ml de solução isotônica (de preferência co dias, via oral; ou mefloquina, 15 a 20 mg/kg de peso,
glicosada a 5 ou 10%), EV em uma hora, ou em dose única, via oral. Estes medicamentos devem ser
administrados ao final do tratamento com os derivados
Artemeter intramuscular: aplicar 3,2 mg/kg de peso, da artemisinina. A doxiciclina não deve ser administrada
em dose única no 1.º dia. Após 24 horas, aplicar 1,6 mg/ a gestantes e menores de 8 anos. A mefloquina não deve
kg de peso, a cada 24 horas, por quatro dias, totalizando ser usada em gestantes do primeiro trimestre.
cinco dias de tratamento.

B 2. Segunda Escolha Quando o paciente estiver em condições de ingestão


QUININA ENDOVENOSA oral e a parasitemia estiver em declínio, utiliza-se a apre-
Infusão de 20 a 30 mg do sal de dicloridrato de quini- sentação oral de sulfato de quinina, na mesma dosagem,
na/kg/dia, diluída em solução isotônica, de preferência a cada 8 horas. Manter o tratamento até 48 horas após a
glicosada, a 5 ou 10% (máximo de 500 ml), durante 4 negativação da gota espessa (em geral sete dias).
horas, a cada 8 horas, tendo-se o cuidado para a infusão
ocorrer em 4 horas.

C 3. Terceira Escolha Esquema indicado para gestantes.


QUININA ENDOVENOSA ASSOCIADA À CLIN-
DAMICINA ENDOVENOSA
A quinina nas mesmas doses do item anterior até três
dias. Simultaneamente, administrar a clindamicina, 20
mg/kg de peso, dividida em duas doses, uma a cada 12
horas, diluída em solução glicosada a 5 ou 10% (15 ml/
kg de peso), infundida, gota a gota, em 1 hora, por sete
dias.

Obs.: os derivados da artemisinina têm se mostrado muito eficazes e de ação muito rápida na redução e eliminação da parasitemia. Assim,
é necessário que estes medicamentos sejam protegidos de seu uso abusivo e indicados fundamentalmente para casos graves e complicados.
Em gestantes, o esquema terapêutico específico preferencial é a associação quinina e clindamicina endovenosa (item 3), pela sua eficácia e
inocuidade para a mãe e para o feto.

4.4 Resistência dos Plasmódios aos Antimaláricos

Define-se como resistência a capacidade de sobrevivência ou multiplicação dos plasmódios de


uma cepa, apesar da administração e absorção de uma droga em doses iguais ou mesmo maiores àquelas
usualmente recomendas e que estejam dentro dos limites de tolerância do paciente.
Das espécies causadoras de malária humana, apenas o P. falciparum mostra diferentes graus de
resistência aos antimaláricos. Em relação ao P. vivax, existem relatos de autores brasileiros a respeito de
resistência à cloroquina.
A resistência do P. falciparum à cloroquina, à amodiaquina, à quinina e à mefloquina tem sido
registrada no Brasil, em diferentes níveis, daí a importância da realização do controle de cura dos
doentes.
A resistência ou a sensibilidade do P. falciparum aos antimaláricos não são absolutas, pois entre uma
e outra há gradações, que vão desde a negativação da parasitemia, com desaparecimento da sintomatologia
e posterior aparecimento de formas sangüíneas detectáveis, por meio dos exames hemoscópicos de rotina
até uma resistência tão acentuada onde a droga parece não apresentar nenhum efeito.

41
A importância do conhecimento dos padrões de respostas às drogas e, principalmente, a avaliação
de cada caso tratado, é fundamental para que a vigilância epidemiológica seja capaz de definir as áreas
onde há maior ou menor resistência aos antimaláricos rotineiramente usados.
Esta gradação, aplicável em resposta às drogas antimaláricas, encontra-se no quadro a seguir.
Quadro 4. Perfil de resposta dos parasitos assexuados do Plasmodium falciparum às drogas esquizonticidas
sangüíneas

Perfil Símbolo Resposta


Sensibilidade RTA* Negativação da parasitemia, sem reaparecimento da mesma
durante os controles de cura.

Presença de sinais de gravidade entre os dias 1 e 2;


Maior parasitemia no D2 que em D0;
Parasitemia em D3 ≥ 25% que em D0.
Resistência FTP*
Presença de sinais de gravidade após D3;
Retorno não-programado do paciente, por manifesta-
ções clínicas;

FTT* Presença de parasitemia entre D4 e D28.

RTA – Resposta Terapêutica Adequada;


FTP – Fracasso Terapêutico Precoce;
FTT – Fracasso Terapêutico Tardio.

As recaídas são definidas como o reaparecimento das manifestações clínicas do paciente que
podem ocorrer nas infecções pelo P. vivax. Ocorrem provavelmente por uma reinvasão das hemácias por
forma exoeritrocíticas, podendo ser assintomáticas ou sintomáticas, dependendo do grau de imunidade
desenvolvido contra a doença, e do intervalo de tempo decorrido para o diagnóstico.
A recrudescência, ao contrário, constitui-se no reaparecimento a curto prazo dos sintomas,
provavelmente pelo não-desaparecimento completo dos parasitos na circulação. Ocorrem na malária por
P. falciparum e P. malariae (neste último, raramente).

42
5 VIGILÂNCIA
EPIDEMIOLÓGICA

5.1 Objetivos

Estimar a magnitude da morbidade e mortalidade da


malária; identificar grupos de risco; detectar surtos e epidemias;
impedir a reintrodução da endemia nas regiões não malarígenas,
por intermédio do diagnóstico, tratamento dos casos e eliminação
de novos focos; avaliar o impacto das medidas de controle.

5.2 Definição de Caso

a) Suspeito
Área endêmica: toda pessoa com quadro febril, que seja residente
ou que tenha se deslocado para área onde haja transmissão de
malária, no período de 8 a 30 dias antes dos primeiros sintomas.
Área não-endêmica: toda pessoa que apresente quadro de
paroxismo febril com os seguintes sintomas: calafrios, tremores,
cansaço, mialgia e que seja procedente de área de transmissão
malárica, 8 a 30 dias antes dos primeiros sintomas.
b) Confirmado por critério clínico laboratorial
Todo caso suspeito com presença de parasitos no sangue, cuja
espécie e parasitemia tenham sido identificadas, por intermédio do
exame laboratorial. Nas regiões não-endêmicas, sem transmissão
de malária, os casos confirmados devem ser classificados, por
intermédio da investigação epidemiológica, de acordo com o item
5.3 abaixo.

5.3 Classificação de Caso

Para manter livres da malária, nas áreas onde a transmissão


da doença foi interrompida, é necessário a manutenção de uma
eficiente vigilância epidemiológica que impeça a reintrodução da
endemia, por meio do diagnóstico e tratamento dos casos, que
devem ser investigados e classificados como autóctones, importados,
introduzidos ou induzidos de acordo com a procedência e situação
do caso.
• Caso autóctone: caso de malária contraído pelo enfermo
na zona de sua residência.
• Caso importado: caso de malária contraído fora da zona
onde se fez o diagnóstico. O emprego dessa expressão

43
dá a idéia de que é possível situar, com certeza, a origem da infecção numa zona malárica
conhecida.
• Caso introduzido: caso secundário direto quando se pode provar que o mesmo constitui o
primeiro elo da transmissão local após um caso importado conhecido.
• Caso induzido: caso de malária que pode ser atribuído a uma transfusão de sangue ou a outra
forma de inoculação parenteral, porém não à transmissão natural pelo mosquito. A inoculação
pode ser acidental ou deliberada e, nesse caso, pode ter objetivos terapêuticos ou de pesquisa.
• Caso críptico: caso de malária diagnosticado em área com transmissão interrompida quando não
se consegue comprovar o local de infecção.
Para a manutenção da vigilância é necessário:

5.4 Sistema de Informação – Notificação

A malária é uma doença de notificação em todo País, na área não-endêmica, além de ser uma
doença de notificação compulsória é de investigação obrigatória, visando à adoção de medidas de controle
para manter essa parte do território brasileiro livre da doença. Na área endêmica, a notificação é feita por
meio do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica – Malária (Sivep–Malária). Para alimentar
o sistema de informação, os casos são notificados por meio da Ficha de Notificação que cada notificante
preenche e encaminha para o setor competente para o processamento (anexo I – Ficha de Notificação de
Malária).

5.5 Investigação Epidemiológica

Recomendada para a Região Não-Endêmica e deve se desenvolver na seguinte seqüência:


a) busca de caso, diagnóstico e tratamento;
b) investigação para identificar a origem do caso;
c) identificação de vetores e, se comprovada a existência de foco, desenvolver ações de controle de
anofelinos e tratamento de pessoas portadoras de plasmódio.

5.6 Conduta Frente a um Caso

Na Região Não-Endêmica, todo caso suspeito ou confirmado de malária deve ser investigado com
o objetivo de:
• instituir o diagnóstico precoce e o tratamento imediato e de modo adequado;
• prevenir surtos, caso haja mosquitos transmissores na área.
Na investigação deve-se buscar:
• confirmação laboratorial do caso;
• preenchimento da ficha de notificação;
• classificação do caso como autóctone ou importado;
• avaliação entomológica quando for indicada;
• desencadeamento das medidas de controle de acordo com a situação apresentada.

5.7 Conduta Frente a um Surto

Na Região Endêmica, onde a transmissão da malária é expressiva, o aparecimento de surtos nas


áreas de alto risco malarígeno é freqüente. As medidas de controle, que devem ser desencadeadas, visam à
contenção do surto por meio de:

44
• identificação da situação;
• diagnóstico precoce e tratamento imediato dos casos;
• medidas de controle seletivo de vetores;
• desenvolvimento de ações educativas por meio da participação da comunidade e mobilização
social visando à prevenção de novos casos.
Nas áreas classificadas, como de médio risco malarígeno, o aparecimento de surtos correspondem a
focos novos de malária, estando indicado as medidas de controle adequadas à situação.
Na Região Não-Endêmica, há necessidade de determinar a natureza e extensão do surto, e desenvolver
as medidas de controle que o caso requer.

45
6 MEDIDAS DE
CONTROLE

As medidas de prevenção e controle da malária devem ser


úteis no cumprimento dos objetivos estratégicos mencionados.
O diagnóstico precoce e o tratamento imediato e adequado dos
casos da doença, especialmente os casos graves, constituem ações
de relevância capital no controle da malária.
Essas medidas devem ser desenvolvidas por todas as Unidades
Básicas do SUS em toda a área endêmica para malária.
As medidas de controle do vetor devem ser seletivas, ajustadas
à realidade entomo-epidemiológica, de modo a garantir a redução
da prevalência e interrupção da transmissão.
No desenvolvimento das ações de controle da malária no
Brasil, deve-se levar em consideração as seguintes condutas.

6.1 Conduta em Relação à Doença (Diagnóstico e


Tratamento)
O elemento fundamental no controle efetivo da malária
é dispor de meios para a realização do diagnóstico precoce e
tratamento imediato e adequado dos casos. Esse é um direito
constitucional das pessoas e comunidades afetadas pela malária,
independente das condições locais existentes. A efetivação desse
procedimento garante a prevenção de óbito por malária, a redução
do aparecimento de casos graves, a redução de fonte de infecção
e a diminuição da transmissão, mantendo a doença em níveis
endêmicos, epidemiológica e socialmente suportáveis.

6.2 Conduta em Relação ao Vetor (Controle Seletivo de


Vetores)
A Estratégia de Controle Integrado prevê a aplicação seletiva
de medidas antivetoriais, orientadas para cada área específica que
sejam de baixo custo, viáveis, para que se possa obter uma eficaz,
significativa e permanente redução da densidade de anofelinos de
uma determinada área.
A seleção das medidas antivetoriais a serem utilizadas pressupõe
um conhecimento prévio da área onde serão aplicadas e relativos ao
comportamento do vetor e das pessoas. Para o conhecimento do
vetor, utilizam-se avaliações entomológicas e, para o conhecimento
do comportamento das pessoas, deve-se utilizar as análises sociais.
As medidas antivetoriais disponíveis compreendem o manejo
adequado do ambiente, o tratamento químico do domicílio, o

47
tratamento químico de espaços abertos e o tratamento de criadouros, os quais exigem pessoal capacitado
para a aplicação das mesmas.
O manejo adequado ao meio ambiente pode reduzir a densidade de anofelinos, eliminando criadouros
por meio de aterro, drenagem ou limpeza da vegetação. As obras de saneamento são medidas de eficácia
indiscutíveis e resultados permanentes para o controle da malária, em que é possível a sua aplicação.
Por isso, devem ser medidas de escolha quando o objetivo do controle é a redução e/ou eliminação da
transmissão em áreas urbanas e periurbanas. Em áreas de alta transmissão da Região Endêmica, esta medida
é de suma importância e deve ser indicada e executada sempre que possível, mediante a participação da
comunidade.
O tratamento químico domiciliar foi a principal medida de intervenção na estratégia de erradicação
e, ainda hoje, é um importante instrumento de controle de vetores em uso. Contudo, a borrifação
intradomiciliar deve ter sua indicação avaliada, mediante os aspectos entomo-epidemiológicos da
localidade, pois a aplicação desta medida sem uma indicação precisa pode comprometer sobremaneira sua
eficácia. Quando indicada, a borrifação intradomiciliar deve ser feita com inseticidas de contato e longo
efeito residual.
O tratamento químico de espaços abertos deve ser indicado em situações especiais onde a densidade
anofélica é bastante elevada e quando o tratamento químico domiciliar e manejo ambiental não for eficaz
para a redução dos anofelinos. Nessa situação, a aplicação espacial de inseticida a Ultra Baixo Volume
(UBV) e nebulização térmica (FOG ou fumacê) pode ser indicada, levando em consideração que é uma
medida de alto custo, de baixa efetividade e produz impacto ecológico desfavorável. Seu uso deve ser bem
avaliado e monitorado.
O tratamento de criadouros é uma medida de uso limitado e deve ser usado quando não for possível
a eliminação definitiva do criadouro. Para a sua indicação, deve-se levar em conta, principalmente na
Amazônia, as características físicas, químicas e biológicas dos criadouros.
Na avaliação entomológica, é importante considerar o vetor em sua fase imatura (larvas e pupas) e
na fase adulta.
Para o combate ao vetor na fase adulta há que se considerar:
• densidade;
• quando e onde picam;
• hábitos de repouso;
• suscetibilidade aos inseticidas.
Na fase imatura é necessário:
• caracterizar os criadouros e identificar a espécie de anofelinos existentes;
• mapear os criadouros.
O comportamento das pessoas tem um papel igualmente importante na seleção das medidas a
serem utilizadas para o controle da malária.
Isso diz respeito aos fatores sociais que estão relacionados ao maior ou menor contato homem/vetor,
determinando sobremaneira a dinâmica de transmissão da doença. Alguns desses fatores estão relacionados
a seguir e devem ser criteriosamente analisados.
• Tipo de habitação.
• Distribuição dos casos de malária na localidade.
• Uso de medidas de proteção individual.
• Atividades crepusculares ou noturnas.
• Deslocamentos humanos (migrações).
• Tipo de ocupação.
• Participação comunitária.
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• Vias de acesso.
• Educação e escolas.
De forma resumida, são apresentados os principais métodos utilizados no controle da fase imatura
do vetor.
Ordenamento do meio, por meio de:
• drenagem de criadouros;
• aterro;
• aumento do fluxo da água;
• limpeza da vegetação aquática;
• uso de larvicidas químicos e biológicos;
• borrifação intradomiciliar de efeito residual;
• aplicação espacial por meio da termonebulização (FOG ou fumacê); e
• aplicação a Ultra Baixo Volume (UBV).
As aplicações espaciais de inseticidas devem ser utilizadas em áreas de alta incidência de malária,
urbana ou aglomerados populacionais das áreas rurais, onde o uso fica restrito ao redor da casa, pressupondo
que este seja o local de repouso do mosquito.
Não se recomenda o uso dessa medida em áreas rurais onde as casas são dispersas, pois o impacto
da medida é mínimo e não produzirá o efeito desejado. Esses métodos devem ser monitorados e avaliados
regularmente. Além do mais, os equipamentos devem estar absolutamente calibrados.
As medidas de proteção individual e familiar têm como finalidade proteger o indivíduo, sua família
ou sua comunidade e leva em consideração as características das atividades humanas, mas, de um modo
geral, os métodos mais indicados são:
• uso do repelente;
• uso de roupas e acessórios apropriados;
• uso de mosquiteiros impregnados ou não com inseticidas;
• telagem de portas e janelas das casas;
• melhoria das habitações.

6.3 Ações Educativas e Participação Comunitária

O setor Saúde não pode, sozinho, melhorar a qualidade de vida das pessoas. Problemas ligados a
saneamento, alimentação, produção econômica, escolarização e condições de trabalho constituem grandes
dificuldades e só poderão encontrar soluções efetivas, a partir de decisões políticas e da integração de
esforços de outros setores da sociedade. Pensar a saúde como prática social é o que se propõe devido à
configuração das relações entre os “atores sociais”, o que implica em reconhecer a possibilidade de sua
alteração na medida em que podemos intervir concretamente sobre os fatores multicausais da relação
saúde/doença. Discutir com as pessoas, as famílias e as populações a história natural, real, das doenças
que mais as afligem, considerando todas as variáveis de causa e efeito que interferem na situação de saúde
– função importante do setor Saúde, e fortemente ligado à área de Educação em Saúde. A educação passa
a ser repensada como um processo capaz de desenvolver nas pessoas a consciência crítica das causas dos
seus problemas e, ao mesmo tempo, criar prontidão para atuar no sentido de mudança.
As ações educativas no controle da malária são de suma importância e devem ser buscadas e
valorizadas permanentemente. Devem estar inseridas em todas as ações, de modo a garantir a eficiência e
a eficácia das atividades desenvolvidas.
49
Componentes como, reuniões, seminários, encontros, palestras, planejamento participativo,
conferências e oficinas de educação em saúde e mobilização comunitária podem ser utilizados para o
desenvolvimento de práticas educativas relativas ao controle da malária, como forma de trocar experiência,
aprimorar idéias e avançar em novos conhecimentos de forma integrada.
Mediante componentes educativos, a população busca melhores condições de vida a partir do
conhecimento da realidade malárica em que ela vive e participa de:
• discussão da situação de saúde de sua comunidade;
• análise dos determinantes da doença; e
• programação e execução de medidas que venham a melhorar a qualidade de vida das pessoas e
da comunidade.
A participação da comunidade e o desenvolvimento de ações de informação, educação e comunicação deverá
produzir mudanças de condutas e hábitos da população, respeitada a sua identidade cultural e antropológica, capaz
de melhorar a eficácia das ações de controle da malária.

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7 DIRETRIZES
TÉCNICAS DO
CONTROLE
INTEGRADO DA
MALÁRIA

A Conferência Mundial de Amsterdã, em outubro de 1992,


recomendou a adoção da estratégia de Controle Integrado da
Malária. Os objetivos principais dessa estratégia são:
• impedir a mortalidade por malária;
• reduzir a morbidade e as perdas sociais e econômicas
devidas à doença.
Para o cumprimento dos objetivos indicados, ficou definido
alguns elementos fundamentais:
1) diagnóstico precoce e tratamento imediato e adequado
dos casos. Esse fundamento técnico visa prioritariamente
a prevenir as mortes por malária, reduzir o aparecimento
de formas graves da doença, reduzir o número de casos,
além da redução da fonte de infecção e conseqüentemente
redução da transmissão;
2) planejamento e aplicação constante e permanente de
medidas de prevenção e controle apropriados para os
diferentes tipos de ocorrência da doença. Inclui também,
nesse conjunto, a utilização de medidas antivetoriais, de
forma seletiva, programadas e desenvolvidas de acordo
com a indicação precisa das avaliações entomológicas;
3) detecção precoce de epidemias e a aplicação de medidas
eficazes para o seu controle;
4) detecção precoce, contenção e prevenção da reintrodução
da endemia na área não-endêmica ou em outras áreas onde
a transmissão da doença já tenha sido interrompida;
5) sendo a malária uma doença dinâmica, é importante a
reavaliação periódica e regular das situações maláricas
existentes no Brasil, bem como, a atualização constante

51
do conhecimento técnico-científico relacionado à malária, incluindo levantamento dos aspectos
ecológicos, sociais e econômicos que determinam o aparecimento da doença.
No entanto, para a implementação dessa estratégia é necessário:
• existência de compromisso político no controle da malária em todas as esferas de governo;
• existência de recursos humanos e financeiros suficientes para o enfrentamento da luta contra a
malária;
• que as ações de controle da malária estejam integradas ao SUS, sendo suas atividades desenvolvidas
em toda rede de serviços de saúde;
• que a participação comunitária e mobilização social sejam componentes efetivos da luta contra
a malária;
• que o SUS, por meio do fortalecimento progressivo do Sistema Local de Saúde, possa:
− identificar, delimitar e caracterizar as distintas situações de transmissão entomo-epidemiologica
existentes no País;
− estabelecer os objetivos específicos e os níveis de controle a serem perseguidos, em cada local,
onde há transmissão de malária, conforme as características epidemiológicas e o potencial de
resolução disponível;
− estabelecer estratégias locais com sistemas de monitoramento e avaliação;
− avaliar periodicamente o impacto das medidas de intervenção aplicadas em cada realidade
epidemiológica, promovendo as devidas correções, se for o caso.
As ações de controle da malária, na Amazônia, pressupõem a adoção de instrumentos ágeis e flexíveis
capazes de:
• identificar, delimitar e caracterizar as inúmeras situações de transmissão existentes;
• estabelecer os níveis de controle e os objetivos a serem alcançados;
• selecionar e aplicar medidas de controle ajustadas à realidade entomo-epidemiológica;
• articular com outros setores públicos e/ou privados, a fim de estabelecer controle sob fatores
entomo-epidemiológicos que estão fora do alcance do setor Saúde.
De um modo geral, constituem objetivos da ação de controle da malária na área endêmica:
• reduzir a incidência da malária;
• reduzir a mortalidade por malária;
• reduzir as formas graves da doença;
• reduzir a transmissão da malária em áreas urbanas nas capitais;
• manter a ausência da transmissão da doença nos locais onde ela tiver sido interrompida.
Para a área não-endêmica, onde a transmissão foi interrompida há algum tempo, mas ainda continua
a presença de mosquitos vetores, a entrada de pessoas infectadas procedentes de áreas endêmicas podem
reintroduzir a transmissão. Portanto, é necessária a manutenção nos serviços de saúde, de uma vigilância
epidemiológica eficiente, capaz de detectar e tratar precocemente qualquer evento inusitado relativo à
malária. As medidas de controle consistem no diagnóstico precoce e tratamento oportuno e correto dos
portadores do parasito de malária, com a finalidade de reduzir a fonte de infecção para os mosquitos, e na
aplicação de medidas de controle de vetores mais adequadas à situação.
Enfim, para que esta estratégia seja efetivamente aplicada, é necessário que exista compromisso das
diferentes esferas governamentais; que a luta contra a malária seja parte integrante do sistema de saúde
e que se articule com os programas de desenvolvimento afins de outros setores; que as comunidades
participem plenamente das atividades de controle e que se mobilizem os recursos humanos e financeiros
adequados. As atividades antimaláricas devem estar adaptadas às condições epidemiológicas locais e seus
objetivos devem ser tecnicamente viáveis e financeiramente sustentáveis.

52
8 REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS

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plena da saúde: o que cabe ao município. Brasília: [Ministério
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Básica. O trabalho do agente comunitário de saúde. Brasília:
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––––––. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde.
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––––––. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde.
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Saúde], 1996.
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ESTADO DO PARÁ. Secretaria-Executiva de Saúde Pública. Diretrizes técnicas do programa de controle da
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ESTADO DO PARÁ. Secretaria-Executiva de Saúde Pública. Núcleo Estadual de Endemias. Manual do
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GERÊNCIA TÉCNICA DE MALÁRIA. Grupo Técnico Assessor em Malária da OPS; OMS. Projeto
para controle da malária nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Maranhão, Rondônia, Roraima e
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INSTITUTO BRASILEIRO DE ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL À SAÚDE NO MUNICÍPIO.
Organização e Gestão. Rio de Janeiro: [s. n.], 1992.
LEÃO, R. N. Q. Doenças infecciosas e parasitárias: enfoque amazônico – 645-670. Belém: [s. n.], 1997.
MARQUES, A. C. Situação atual do controle da malária no Brasil: relatório da gerência técnica de malária.
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––––––. GUTIERREZ H. C. Combate à malária no Brasil: evolução situação e perspectivas. Revista da
Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. [S. l.: s. n.], n. 27, p. 91-108, 1994. Suplemento 3.
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WORLD HEALTH ORGANIZATION. Global malaria control strategy. In: MINISTERIAL
CONFERENCE IN MALARIA – AMSTERDAM, October, 26-27, – CTD/MCM/92.3.

54
A coleção institucional do Ministério da Saúde
pode ser acessada gratuitamente na
Biblioteca Virtual em Saúde:
http://www.saude.gov.br/bvs

O conteúdo desta e de outras obras da Editora MS


pode ser acessado gratuitamente na página:
http://www.saude.gov.br/editora

EDITORA MS
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MINISTÉRIO DA SAÚDE
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Brasília – DF, julho de 2005
OS 0001/2005

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