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A Importancia Da Insercao Do Direito A Alimentacao No Artigo 6o Da Constituicao Federal

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A importância da inserção do direito à alimentação no artigo 6º da Constituição

Federal (CF)

Já há uma série de normas constitucionais que, de forma não explícita, consagram a


alimentação como um direito constitucional, como, por exemplo, as normas que
determinam a função social da propriedade, as que dispõem sobre a demarcação de
terras indígenas e dos territórios quilombolas, as normas que dispõem sobre meio
ambiente, água, saúde, direito à vida, não tolerância à discriminação em qualquer de
suas formas de manifestação, etc. Além disso, a Constituição Federal estabelece como
um dos fundamentos da República Federativa do Brasil a dignidade da pessoa humana.

O Brasil assinou uma série de Tratados Internacionais que dispõem sobre o Direito
Humano à Alimentação Adequada e, em 2006, foi aprovada a Lei Orgânica de
Segurança Alimentar e Nutricional que prevê a garantia deste direito. Assim, a inclusão
do direito a alimentação no artigo 6º da Constituição Federal, através da aprovação da
PEC 047/2003, é uma forma do Estado Brasileiro reafirmar, mais uma vez, o seu
compromisso de cumprir as obrigações assumidas com a ratificação dos tratados
internacionais de direitos humanos e com a promulgação de normas nacionais relativas
a esse direito.

Porém, apesar de haver normas suficientes que garantam o reconhecimento do direito à


alimentação, a menção expressa desse direito na constituição facilita o uso de
argumentos para promover e exigir este direito por e perante aqueles que, por razões
ideológicas, políticas ou técnicas, não fazem uma interpretação da Constituição Federal
e de outras normas legais que garantam a promoção e a exigibilidade do Direito
Humano à Alimentação Adequada (DHAA). Assim, essa proposta de inclusão é
fundamental porque reforçam argumentos em prol do DHAA de duas ordens: jurídica e
política.

Importância Jurídica da inserção da alimentação como direito social previsto na


Constituição Federal:

Em primeiro lugar é importante frisar que os que militam com direitos humanos
defendem sua promoção e exigibilidade independente de previsão legal, pois a lei está
para servir aos povos e não o contrário. Contudo, é importante reiterar que os
argumentos aqui expostos podem contribuir para exigir a promoção do DHAA,
principalmente, perante os que negam o reconhecimento desse direito ou no seu
discurso e/ou na sua prática.
Feita essa consideração podemos citar alguns efeitos que serão mais difíceis de serem
questionados com a aprovação da PEC 047/2003:

1) Alguns doutrinadores conceituam os direitos humanos positivados na


Constituição Federal como direitos fundamentais. São fundamentais
materialmente pela sua importância para a vida. São formalmente fundamentais
porque estão consagrados na norma fundante do nosso país. Por isso a
Constituição, através do art. 5º, § 1º, definiu que as normas definidoras dos
direitos e garantias fundamentais possuem aplicabilidade imediata, ou seja,
deixam de ser meros programas e vinculam os poderes públicos. Além disso,
esses direitos foram incluídos no rol das “cláusulas pétreas”, o que significa que
não podem ser suprimidos, são bens intocáveis, conforme dispõe o art. 60, § 4º
da CF.
2) A Constituição Federal é a expressão superior do interesse público. Está no topo
da hierarquia normativa, é a base para toda ação pública. Os três poderes
(Executivo - em suas três esferas, Legislativo e Judiciário) devem envidar o
máximo de esforços para garantir-lhe efetividade e devem abrir mão de qualquer
ação que lhe seja prejudicial. Além disso, qualquer omissão que ponha em risco
a efetividade das normas jurídicas é inconstitucional e pode e deve ser
questionada.
3) A previsão expressa da alimentação no artigo 6º da Constituição Federal reforça
a capacidade de exigir esse direito, seja perante a própria administração pública,
seja perante o Judiciário ou perante outros órgãos de proteção de Direitos
Humanos, como, por exemplo, o Ministério Público. Não só os titulares de
direito, como a sociedade civil e movimentos sociais, ganham mais argumentos
para exigir esse direito. Os próprios gestores públicos, assim como os
parlamentares, terão ainda mais argumentos para exigir medidas, recursos e
ações como, por exemplo, ampliação do orçamento, para garantia do direito a
alimentação.
4) Há decisões judiciais que afirmam que as normas constitucionais que traçam
programas para o governo - garantia do direito a alimentação, por exemplo –
ganham maior força vinculante sobre os órgãos públicos se há uma lei
infraconstitucional que dispõe sobre essas metas impostas pela Constituição1. O
Brasil aprovou a LOSAN - Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional -
que já define, de forma ampla e contemplando o princípio da indivisibilidade
dos direitos humanos, o Direito Humano à Alimentação Adequada. Além de
definir o direito à alimentação, a LOSAN estabelece que o SISAN - Sistema
Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - é um instrumento importante
para garantir esse direito. Assim, a previsão constitucional da alimentação como
direito concede força para a concretude do SISAN, uma vez que reforça a base
legal que indica para os órgãos públicos a necessidade da adoção de medidas
para o funcionamento do SISAN e que obriga que sejam adotadas estratégias
eficazes para garantia de segurança alimentar e nutricional de todos os
habitantes do Brasil. Dessa forma, há um processo de reforço legal que é de mão

1
Abaixo o posicionamento do Ministro do STJ, Luiz Fux, sobre o tema:
“10. As meras diretrizes traçadas pelas políticas públicas não são ainda direitos senão promessas
de lege ferenda, encartando-se na esfera insindicável pelo Poder Judiciário, qual a da
oportunidade de sua implementação.
11. Diversa é a hipótese segundo a qual a Constituição Federal consagra um direito e a
norma infraconstitucional o explicita, impondo-se ao judiciário torná-lo realidade, ainda
que para isso, resulte obrigação de fazer, com repercussão na esfera orçamentária.
12. Ressoa evidente que toda imposição jurisdicional à Fazenda Pública implica em
dispêndio e atuar, sem que isso infrinja a harmonia dos poderes, porquanto no regime
democrático e no estado de direito o Estado soberano submete-se à própria justiça que
instituiu. Afastada, assim, a ingerência entre os poderes, o judiciário, alegado o
malferimento da lei, nada mais fez do que cumpri-la ao determinar a realização prática da
promessa constitucional. (...) ver: (Resp 753565/MS; Recurso Especial 2005/008658-2,
Relator Ministro Luiz Fux. T1 – Primeira Turma, Data do julgamento 27/03/2007, Data da
Publicação/Fonte DJ 28.05.2007 p.290).” (Sem grifos no original).
dupla: a LOSAN reforça a o potencial de efetividade da CF e a CF traz uma
referência importante para a LOSAN.

Importância política da inserção da alimentação como direito social previsto na


Constituição Federal e da realização de uma campanha com esse propósito:

1) A crise mundial de alimentos tem como elemento de fundo os valores do


capitalismo. Quando os interesses econômicos - e não o acesso ao alimento e a
dignidade humana - é o que determina o planejamento da agricultura e as ações
do Estado, pessoas são seriamente afetadas. Reconhecer a alimentação como
direito é reagir contra os valores que tem gerado uma série de violações de
direitos humanos. Esse é um ganho político relevante e que pode reforçar as
ações de contestação e resistência ao que tem gerado fome, má nutrição e que
tem comprometido a soberania alimentar no Brasil.
2) Quando inserimos alimentação na Constituição usamos a legalidade, um
instrumento hegemônico, para apoiar lutas contra-hegemônicas, como, por
exemplo, a luta pela terra e por território, a luta pelo direito à cidade, entre
outras. Assim, conciliamos a luta através de uso dos instrumentos do Estado
com a luta direta do povo brasileiro.
3) A campanha em si, tem uma dimensão política importantíssima. A lei, a
Constituição, nada mais é que um argumento. Sem sujeitos que usem esse
argumento não se pode ir longe. Assim, é muito importante que haja uma
mobilização para a inclusão da alimentação no artigo 6º da Constituição Federal,
porque essa mobilização vai garantir que muitas pessoas possam se apropriar
desse direito e essa apropriação é a principal garantia que temos para a
efetividade dessa norma, quando ela for inserida na CF. É essa apropriação o
principal instrumento para garantir uma proximidade entre o que está na norma e
o que está em nosso mundo real e, assim, garantir a efetividade do Direito
Humano à Alimentação Adequada a todos os povos do nosso país.

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