ALCIMAR VIDOLIN - Hipnose - Alterando e Desenvolvendo A Consciencia
ALCIMAR VIDOLIN - Hipnose - Alterando e Desenvolvendo A Consciencia
ALCIMAR VIDOLIN - Hipnose - Alterando e Desenvolvendo A Consciencia
ALTERANDO E DESENVOLVENDO A
CONSCIÊNCIA
ISBN 85-903668-1-2
Capa:
Alcimar José Vidolin
César Reginaldo de Almeida
Revisão:
Rosana Maria Vidolin Marques
Diagramação Eletrônica:
César Reginaldo de Almeida
INTRODUÇÃO
A consciência pode ser alterada.
O que quer que isso signifique.
Este é um livro sobre manipulação e utilização da consciência, e não
uma teorização tentando explicá-la. A moderna neurologia tenta definir
sua localização anatômica, vias e mecanismos. Por enquanto ainda se
perde nas complexidades, sulcos e giros desse órgão impressionante –
o cérebro, e de seu produto ainda mais refinado – a mente humana.
Para nossos objetivos, basta sintetizar (ou perverter) os áridos e
inférteis tratados de psicologia, e definir (vã tentativa) consciência como
a mágica que faz o indivíduo perceber a si mesmo e o mundo que o
cerca.
E isso pode de fato ser alterado. Na verdade, ao longo da história e
pré-história do homem, tal vem sendo feito, através dos mais variados
expedientes, ou acontecendo espontaneamente todos os dias.
Em rituais dos índios das Américas, foram e talvez ainda sejam
empregadas plantas alucinógenas, como o peiote na América do Norte
e a ayahuasca na América do Sul. O objetivo pode ser obter cura,
poder ou entrar em contato com os espíritos da natureza buscando
orientação (conforme a crença xamânica).
A prática da meditação é constituída por muitas técnicas diferentes,
incluindo posturas especiais, exercícios de respiração e de imaginação,
contemplação, todos objetivando um estado de grande concentração
onde a mente está livre de pensamentos. Os budistas o fazem
buscando desenvolvimento espiritual, iluminação. Os ioguis saúde e
serenidade, e os faquires na Índia conseguem realizar verdadeiras
façanhas com o próprio corpo, como deitar em camas de pregos e
simular a própria morte reduzindo a um mínimo as funções orgânicas.
A HIPNOSE
A Hipnose pode ser entendida como a ciência moderna que estuda
os estados alterados de consciência. Sua indução, características e
utilização. Também estuda maneiras de acessar, entender e influenciar
o processamento de informações que acontece em níveis de
funcionamento da mente diferentes da consciência ordinária
(subconsciente? inconsciente?).
Segundo uma tentativa de classificação, o fenômeno hipnótico pode
ocorrer sob duas formas principais de indução e apresentação:
Ergotropa e Trofotropa.
Hipersugestionabilidade
A sugestionabilidade é a capacidade de responder a idéias sem
antes verificá-las. É uma função normal da personalidade saudável e
está presente em todas as pessoas em maior ou menor grau. É
grandemente amplificada com o estabelecimento do rapport.
É o fenômeno primordial da hipnose, onde se baseiam todos os
outros.
Catalepsia
Sensação de peso e imobilidade que acompanha todos os níveis do
transe.
A catalepsia das pálpebras, onde ocorre grande dificuldade ou
mesmo impossibilidade de abri-las é um recurso muito utilizado para
apresentar ao paciente que algo interessante e diferente está realmente
acontecendo.
Amnésia
Da mesma forma que muitas vezes esquecemos os sonhos, pode
acontecer amnésia para os eventos ocorridos durante o período do
transe. Essa amnésia pode ser sugerida com objetivos terapêuticos,
como aumentar a efetividade de uma sugestão pós-hipnótica ou
proteger o paciente de uma emoção desagradável, ou pode ser
espontânea.
A apresentação deste fenômeno é muito variada. Alguns pacientes
lembram a experiência em detalhes logo após, vindo a esquecê-los
completamente depois. Outros despertam sem lembrar, e essas
lembranças vão aparecendo em tempo variável. Outros ainda
permanecem sem lembrar.
A capacidade de desenvolver amnésia é um divisor de águas entre
as etapas mais superficiais e as mais profundas da hipnose.
Analgesia e Anestesia
O estado hipnótico de “per si” já se caracteriza por aumento do
limiar de percepção de dor, e tal pode ser amplificado com sugestões
de forma a produzir anestesia de determinada região do corpo, até
mesmo com finalidades cirúrgicas. Este item, por também ser uma
aplicação da hipnose, será discutido mais extensamente em outra parte
deste texto.
Visualização Cênica
É a habilidade de perceber na mente imagens como se estas
tivessem sido percebidas pelos olhos. É possível o envolvimento de
outros sentidos, e o paciente criar em sua mente vivências cheias de
detalhes, como sons, perfumes e sensações táteis.
Hipermnésia
O estado hipnótico é um facilitador dos processos de memória. Há
experimentos demonstrando um aumento extraordinário da capacidade
de memorização durante o transe, tanto para textos, datas ou imagens.
Também é freqüente o paciente lembrar-se de eventos ocorridos há
muito tempo, às vezes com detalhes que sequer ocuparam sua atenção
no momento. Em Hipnose Forense os sujeitos são levados a lembrar
placas de carros, descrição detalhada de agressores ou horários exatos
de acontecimentos.
Pode ser associada à visualização cênica criando experiências
impressionantes.
Hiperestesia
Pode-se levar o paciente a experimentar um aguçamento das
sensações táteis, de tal forma que ele acuse o toque iminente que
ainda não foi efetuado, ou que estímulos discretos sejam percebidos
como dolorosos.
Os outros sentidos também podem ser alterados, em pacientes
especialmente responsivos.
Regressão de Idade
Um adulto, especialmente se for homem, acamado por uma gripe
forte ou outra doença, vai apresentar alguns sintomas interessantes.
Vai ficar muito carente e desejoso de carinho, manhoso, a às vezes
chega ao extremo de falar igual criança. Mas isso você já viu.
Dissociação
Dissociar é literalmente dividir em dois. Uma parte do paciente pode
estar na cadeira do dentista, enquanto outra está pescando num riacho,
ou relendo um capítulo de um livro. É como se houvessem dois dele.
Este é um recurso muito usado.
Já provoca-se um estado dissociativo ao fazer o paciente perceber
que tem duas mentes: a “consciente” e a “inconsciente”. Isso por si só
já é indutivo de hipnose.
Progressão de Idade
Todos têm planos, projeções para o futuro, e conseguem se
imaginar dentro de 5 anos, ou 10 anos, ou na velhice.
Hipnose e Parapsicologia
A comunicação é um fenômeno muito mais amplo do que se
costuma perceber. Ocorre em vários níveis. Pequenas variações no
tom da voz, postura corporal, tensões musculares localizadas, ênfase
em certas palavras, posição do olhar, diferenças na coloração da pele,
odores (ferormônios?), e ainda outros sinais podem passar
informações, que, se não são captados a nível consciente, o são
sempre pela mente inconsciente, que responde a eles.
Muito do que parece ser Percepção Extra-Sensorial ou “sexto
sentido” é na verdade comunicação não-verbal.
E é muito interessante considerar as diversas formas pelas quais
essas informações chegam à mente consciente. Impressões,
presságios, sonhos. Explícitos ou com linguagem simbólica. Ou filtrados
através das crenças do indivíduo e usando outros sistemas
representacionais (como outros sentidos). Um “guia espiritual” pode
fazer revelações sobre os outros e dar conselhos. Uma enfermidade
pode parecer uma “mancha escura na aura”.
Mas comunicação não-verbal não explica todos os fenômenos
documentados e estudados pela Parapsicologia.
Se existe uma natureza mágica no homem, ou outras possibilidades
para a percepção, a hipnose é uma larga porta de acesso.
Hipnose em Crianças
Crianças são especialmente suscetíveis à hipnose e podem se
beneficiar muito com seu aprendizado.
Um recurso muito utilizado é o treinamento dos pais em técnicas de
ensino com hipnose, chamadas hipnopedia. Os pais são reeducados na
maneira de se comunicar com a criança; ensinados a estabelecer
rapport com os filhos gradualmente durante o sono; e são construídos
sugestionamentos a serem realizados visando objetivos terapêuticos.
HISTÓRICO
Práticas que guardam relação com a hipnose acompanham todas as
populações humanas em todos os tempos. Geralmente na forma de
magia e superstições; talismãs e amuletos. Muitas ervas e poções
poderiam ter maior efeito psicológico do que propriamente na química
do organismo. Sortilégios, simpatias e encantamentos. A crença de que
certas pessoas teriam poderes especiais sobre os outros, levando-as a
serem temidas ou adoradas. Bênçãos, maldições e rezas. Feitiços.
Mas na história da civilização ocidental houve um momento especial
no qual utilizar-se de influência psicológica sobre outro indivíduo para
curar tornou-se objeto de estudos científicos. E isso foi controverso; e
espetáculo; e contestado e por fim esquecido. Então renascido e
tornado no que hoje é a moderna ciência da Hipnose. Essa trajetória se
confunde com a vida e obra de homens de grande visão e capacidade.
O precursor da hipnose é Mesmer.
Elliotson (1791-1868)
Professor de medicina em Londres, famoso por ter introduzido a
utilização do estetoscópio na Inglaterra. Interessou-se pelo
mesmerismo, o que lhe trouxe grandes prejuízos à reputação e à
carreira. Foi responsável por grande difusão da hipnose na prática
médica através da publicação do jornal intitulado “The Zoist”.
Escola de Nancy
Ambroise-Auguste Liébault (1823-1904) e Hippolyte Bernheim
(1843-1917), médicos franceses, estabeleceram os alicerces da
hipnose que se pratica em nossos dias. Definiram o estado hipnótico
como uma função normal da personalidade sadia e desenvolveram
técnicas de indução baseadas no relaxamento e bem-estar. Trataram
cerca de 10.000 pacientes em sua clínica gratuita. Em 1886, Bernheim
publicou o valioso “Suggestive Therapeutics”.
HIPNOSE ALTERANDO E DESENVOLVENDO A CONSCIÊNCIA 33
Dr Alcimar José Vidolin
Jean-Martin Charcot (1825-1893)
Efetuou estudos sobre hipnose, embora limitados a poucos
pacientes histéricos.
Foi o primeiro a apresentar uma classificação para a profundidade
dos estados hipnóticos, dividindo-os em 3 estágios: catalepsia, letargia
e sonambulismo.
A Decadência da Hipnose
O advento da anestesia química e o entusiasmo com a psicanálise
de Freud relegaram a hipnose por décadas ao estado de pseudociência
e espetáculo circense.
Neste período, ainda alguns nomes merecem citação, embora a
descrição de suas obras não seja compatível com o porte do presente
trabalho. São eles Ivan Pavlov (1849-1936) e Pierre Janet (1849-1947).
Após a Segunda Guerra Mundial, o interesse científico pela hipnose
voltou a surgir, mesmo no Brasil, através dos cursos ministrados pelo
argentino Torres Norry em 1955.
APLICAÇÕES DA HIPNOSE
Segundo a própria Organização Mundial da Saúde, a grande maioria
das doenças têm origem psicossomática, isto é, começam a partir de
desequilíbrios emocionais que vão afetar o corpo físico.
Como já foi explicado anteriormente, a imaginação e as emoções
causam no organismo reações muito maiores que a própria vontade.
Antes de uma prova importante, como o vestibular, muitas pessoas vão
apresentar desarranjo nas funções intestinais, porque para elas a
expectativa acelera o movimento dos intestinos. Outras podem reagir
diferentemente, como as pessoas que ficam obstipadas ao viajar, como
se a função intestinal estivesse inibida longe de casa. E assim é com
vários outros órgãos, aparelhos e sistemas do organismo.
Os fenômenos que parecem guardar maior relação com a gênese
das doenças são as alterações do Sistema Imunológico e as alterações
do Tônus Vascular.
O Sistema Imunológico é o responsável pelas defesas do
organismo, e é extremamente complexo nas relações entre os seus
diversos componentes. Leucócitos e subtipos, tecido linfóide, baço,
timo, complemento, citocinas, prostaglandinas, histamina e vários
outros mediadores químicos. Teorias e tratados médicos tentam
explicar seu funcionamento e reações, e ainda permanece um campo
de estudos fascinante. É sabido, porém, que a mente influencia o
funcionamento das defesas do organismo. Tristeza faz adoecer,
possivelmente ao inibí-las. Ao contrário, fé e determinação predispõem
à recuperação. Mesmo a infecção mais grave começa com uma
pequena contaminação, e o próprio câncer com uma única célula
alterada.
Se você ficar assustado, seu rosto ficará pálido. Em qualquer
situação embaraçosa, corado. E da mesma forma no resto do corpo o
afluxo de irrigação sanguínea aos tecidos é determinado por diversos
mecanismos diferentes de regulação. Alguns são funcionais, como o
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aparelho digestivo que durante o processo digestivo necessita de maior
perfusão sanguínea, ou os músculos que ficam túrgidos de sangue
durante o exercício. O stress e a ansiedade, entre outros mecanismos,
desencadeiam a produção endógena de catecolaminas que vão
aumentar a pressão arterial, a freqüência cardíaca e contrair os vasos
sanguíneos das vísceras. Tensão e traumas emocionais podem se
refletir como contraturas musculares localizadas que podem estrangular
a circulação em certos pontos. Sangue é vida. A circulação sanguínea
leva aos tecidos oxigenação, nutrientes e elementos do sistema
imunológico, e traz de volta para depuração toxinas e produtos da
excreção celular e metabolismo (radicais livres, por exemplo). É natural
e fundamentado acreditar que um órgão com déficit crônico de
circulação sanguínea se torne predisposto a adoecer.
Outro aspecto, este já bastante estudado, mas não esgotado, é a
maneira como os hábitos de vida afetam a saúde. Tabagismo,
sedentarismo, alimentação desregrada, uso abusivo de bebidas
alcoólicas, posturas inadequadas. Viver errado, desrespeitar o corpo
(que pode ser entendido como não amar o corpo), também levam a
adoecer.
O descrito acima é apenas uma breve fundamentação para explicar
como é possível a saúde mental influenciar a saúde física. Claro que
tudo é muito mais complicado do que isso. Sempre é. Já há muito
conhecimento acumulado nessa área, que só vem a somar, e não a
confrontar os estudos convencionais das outras especialidades
médicas.
A pessoa que está desatenta e predisposta à auto-agressão por
haver, digamos, brigado com os filhos, e vem a bater o carro. Quebra a
perna. Ainda vai precisar de raios X, imobilização e eventualmente
cirurgia muito mais do que de suporte psicológico.
A hipnose, que isso fique muito claro, é apenas mais um recurso
para promoção e restabelecimento da saúde.
Situações há em que ela é a primeira escolha no tratamento de
certa patologia. Em outras ela deve ser associada a outros tratamentos,
como medicações, por exemplo. Em ainda outras situações o papel
reservado à Hipnose deve ser o de aliviar sintomas.
Nas páginas seguintes estão relacionados diversos usos da
hipnose, selecionados a partir de minha experiência pessoal e da
literatura. Estão divididos, embora os limites sejam muitas vezes
imprecisos, entre aplicações médicas, psicológicas e odontológicas.
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Dr Alcimar José Vidolin
Em qualquer destas indicações, o tempo de tratamento e o sucesso,
ou não, são influenciados por diversos fatores: as patologias em si são
umas mais e outras menos passíveis de serem tratadas com hipnose; o
nível de transe e os fenômenos que podem ou não serem
desencadeados em determinado paciente; o envolvimento do paciente
com o tratamento, e, principalmente, os laços emocionais e sociais que
prendem o paciente a um sintoma ou patologia.
Como em todas as atividades humanas vitoriosas, não há milagres
ou magia. Há apenas que colher os frutos de um trabalho árduo e
persistente.
Aplicações Médicas
Muito do que o médico faz, mesmo que não tenha formação ou
conhecimentos sobre hipnose, é empregar de influência psicológica
sobre o paciente.
Mesmo nos incrédulos dias de hoje a figura do médico se associa ao
arquétipo do mágico, curandeiro e possuidor de conhecimentos
secretos. As pessoas buscam seu conselho em momentos de aflição e
sorvem suas palavras como vaticínios sobre seus destinos e caminhos.
As roupas brancas, o instrumental de exame médico, o vocabulário
diferenciado e a postura sóbria e segura que se espera de um bom
médico impressionam e revestem de importância seus atos e palavras.
Em qualquer consulta médica bem-sucedida verifica-se o aparecimento
de rapport. Tanto que muitos pacientes referem melhora apenas com a
presença e atenção do médico.
Os conselhos e orientações médicas são como que sugestões pós-
hipnóticas, bem como as informações sobre o prognóstico da doença,
que podem motivar o paciente para melhora ou mesmo piora. Substituir
a palavra médica de poder que pode ser instrumento terapêutico por
meras informações científicas inúteis ao leigo é desprezar o valor
histórico da função médica.
O médico que mostra segurança e autoridade quanto ao diagnóstico
e à efetividade do tratamento proposto muitas vezes está fazendo maior
bem do que a própria ação química do medicamento seria capaz.
Doenças Orgânicas
Neste grupo incluem-se as doenças em que existe lesão estrutural
em certo órgão ou infecção por algum dos diversos tipos de organismos
patogênicos.
Aqui onde há dano estrutural estabelecido a hipnose pode ser um
tratamento adjuvante, isto é, auxiliar ao procedimento cirúrgico ou à
terapia medicamentosa indicada.
Hipnose em Obstetrícia
A obstetrícia é a área da medicina que mais vem utilizando hipnose,
com resultados excelentes.
A hipnose é útil em todas as fases da gestação, com benefícios para
a mãe e o feto. Mesmo a futura mãe pouco responsiva à hipnose vai
beneficiar seu filho nos momentos de relaxamento, nos quais há um
incremento da circulação placentária, o que por si só já indicaria o seu
emprego.
Freqüentemente, porém, há vantagens ainda maiores a serem
obtidas:
-controle da hiperemese gravídica (vômitos da gravidez);
-alívio das dores lombares;
-maior disciplina na alimentação evitando ganho excessivo de peso;
-profilaxia da DHEG (doença hipertensiva da gestação);
-melhora da labilidade emocional associada à gravidez;
O parto é uma função fisiológica normal. Durante o parto a hipnose
pode ajudar:
-promovendo analgesia, relaxamento muscular e tranqüilidade (parto
sem dor);
Tratamento da Insônia
Embora a hipnose seja diferente do sono, é realmente muito, muito
fácil passar do estado hipnótico para o sono fisiológico. Por esse
motivo, produzir condicionamentos hipnóticos ou ensinar auto-hipnose
ao paciente podem efetivamente resolver ou melhorar muito sua
qualidade de vida.
O sono tem uma arquitetura toda especial, e é constituído de
diversas fases, todas essenciais e indispensáveis para a recuperação
do desgaste diário das funções mentais e do organismo como um todo.
Os medicamentos para dormir afetam sempre negativamente esta
arquitetura, diminuindo a qualidade do sono. Eles freqüentemente
também viciam, ao induzir tolerância e dependência. São ótimos
medicamentos, quando bem indicados pelo médico e com
acompanhamento e reavaliação freqüente.
Tratamento da Obesidade
Não se perde peso da noite para o dia. Pelo menos não sem impor
riscos e agredir o organismo com cirurgias desnecessárias, dietas
rigorosas e prejudiciais ou medicamentos perigosos. E mesmo assim
tais resultados raramente são duradouros.
As diferenças entre uma pessoa obesa e uma magra vão muito além
do que a balança e o espelho registram.
O tratamento baseado em hipnose propõe uma reestruturação da
personalidade, na qual magreza e elegância acompanham mudanças
profundas e definitivas na relação do indivíduo com o mundo.
Há que se diferenciar e tecer comentários sobre a obesidade
mórbida. Esta entidade é um aumento tão acentuado de peso, em que
ocorre um comprometimento do aparelho cardiovascular e risco de vida
ao paciente. Para o tratamento desta doença tem sido empregado nos
últimos anos tratamento cirúrgico que vem mostrando excelentes
resultados. A capacidade do estômago é reduzida e eventualmente
segmentos do intestino são ressecados. Essa cirurgia salva vidas. Esse
paciente, entretanto, vai passar por mudanças drásticas em sua vida e
na sua imagem corporal, e necessita de apoio e suporte psicoterápico,
que pode envolver hipnose com grandes benefícios.
O que preocupa é a realização deste procedimento drástico por
motivos estéticos e muitas vezes fúteis, o que vem acontecendo com
cada vez maior freqüência. Efeitos secundários graves, como
HIPNOSE ALTERANDO E DESENVOLVENDO A CONSCIÊNCIA 45
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incapacidade de eructação, necessidade de alimentação fracionada em
pequenas quantidades, desnutrição e outros. Riscos de complicações
associadas à cirurgia, como infecções e acidentes no procedimento
anestésico. Profissionais motivados pelo lucro e que cometem infração
ética. Como cometem infração ética ainda outros, ao prescrever
fórmulas contendo altas doses de anfetaminas, hormônios tireoideanos,
diuréticos, laxantes e calmantes, com prejuízos à saúde física e mental
de seus pacientes, por vezes definitivos. E ainda cirurgiões plásticos
que realizam cirurgias desnecessárias, às vezes várias em um único
paciente, que na verdade necessitava de suporte psicológico para
melhorar a auto-estima, tratar neuroses ou aceitar a progressão
inexorável do tempo, aproveitando cada fase da vida como ela é.
A função do médico é dar ao paciente o que ele precisa, a partir de
um diagnóstico, e não o que o paciente deseja.
Mas quase todas as vezes saúde e beleza andam lado a lado.
Um corpo saudável e exercitado vai exibir músculos e formas
graciosas, e não acúmulo de gordura. Uma pessoa equilibrada vai
desfrutar de tudo que a vida oferece sem exageros ou compulsões. Vai
sentir prazer com a atividade física e o movimento. E a vaidade natural,
o desejo de parecer belo aos semelhantes, é uma aspiração legítima
desde que temperada com amor e respeito ao corpo, e não com
desespero.
Através do emprego de técnicas hipnóticas é possível estimular e
desenvolver comportamentos que levem em direção a um
aprimoramento do corpo.
Pode-se reestruturar a interação entre o indivíduo e sua
alimentação, promovendo alterações saudáveis na qualidade e
quantidade. Pode-se também estimular a prática desportiva, com
assiduidade, envolvimento e prazer. O organismo pode ser predisposto
a mudanças e ao emagrecimento.
Muito importante para quem realmente quer mudar é a melhora da
auto-estima e o estudo dos laços sociais e familiares e da função da
obesidade (sim, função) nas suas estratégias e relacionamentos.
Quando a pessoa muda o corpo, ela também muda
psicologicamente e o mundo em que ela vive muda, passando a
responder de maneiras diferentes a ela agora que ela é magra. E mais
atraente. Corpo tem tudo a ver com sexo. Ser gordo é uma maneira de
lidar com sexo. E aqui entram tantas variações individuais quanto os
tons da cor do mar.
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Dr Alcimar José Vidolin
O fato é que uma pessoa obesa talvez suporte situações que não
vai precisar suportar quando for magra. Mas quando for magra vai ter
de lidar com outras coisas.
Ela vai mudar física e psicologicamente. Laços vão se romper. Vão
se abrir possibilidades. Muitos se assustam e preferem ficar onde
estão.
A hipnose também não vai fazer você perder peso da noite para o
dia. Na verdade não vai fazer nada por você, ou no seu lugar. A
hipnose é um recurso efetivo como suporte e auxílio à sua decisão
inflexível de modificar hábitos e assumir a responsabilidade pelo seu
destino.
Muitos pacientes realmente conseguem, aprendendo hipnose e
exercitando a persistência, ganhar uma figura mais elegante e esbelta –
passaporte para um mundo de possibilidades.
Patologias Psiquiátricas
Hoje há evidências de que muitas das doenças psiquiátricas são na
verdade doenças orgânicas. Nas depressões verifica-se desequilíbrio a
nível de neurotransmissores (mediadores químicos no cérebro), e em
outras, como o transtorno obsessivo-compulsivo, lesões estruturais em
determinadas regiões do cérebro. A terapia medicamentosa vem
obtendo resultados positivos e em muitos casos é imprescindível.
Em todas as situações em que a psicoterapia está indicada, como
tratamento principal ou de suporte, a hipnose pode ser utilizada com
vantagens.
Especialmente nos transtornos neuróticos, a hipnose mostra-se um
recurso importante ao ser capaz de modular a percepção do paciente
do mundo que o cerca e de si mesmo, o significado de tais coisas e as
respostas apresentadas.
Pacientes portadores de distúrbios de ansiedade, pânico e fobias
podem se beneficiar especialmente da hipnose. Mesmo os pacientes
com depressão e transtorno obsessivo-compulsivo podem obter alívio
dos sintomas e serenidade, se capacitando a apresentar respostas
mais saudáveis aos estímulos do meio, à sua própria história pessoal e
às suas emoções.
A utilização de hipnose em pacientes psicóticos é controversa,
sendo praticada por alguns e contra-indicada por outros. Tal aplicação
HIPNOSE ALTERANDO E DESENVOLVENDO A CONSCIÊNCIA 47
Dr Alcimar José Vidolin
extrapola minha experiência pessoal, e ao longo do tempo com certeza
os benefícios ou problemas hão de se tornar evidentes.
Medicina Legal
A hipnose vem sendo usada em situações médico-legais com
sucesso.
Ao se tomar depoimento de uma vítima de agressão, pode-se
dissociá-la do conteúdo emocional da experiência, de tal forma que o
relato seja mais preciso e não evoque sofrimento desnecessário.
Também os detalhes que podem ser recuperados são muito maiores,
podendo auxiliar na solução do caso.
Testemunhas em transe podem relatar dados aos quais sequer
prestaram atenção no momento do ocorrido, congelando a imagem em
suas mentes e fornecendo placas de veículos, descrições detalhadas e
outras informações importantes.
O Instituto Médico-Legal do Paraná possui um departamento
especializado em Hipnose Forense, com projeção e credibilidade a
nível nacional.
Aplicações em Psicologia
Conhecer e dominar aspectos da metodologia hipnótica pode dotar
o psicólogo de recursos esplêndidos para beneficiar seu paciente.
A hipnose pode ser útil para ajudar a pessoa em crise relacionada a
qualquer período ou situação da vida, desde problemas familiares e
conjugais, adolescência, perda de entes queridos, inadequação social e
por aí adiante.
Em todas as aplicações médicas listadas acima, o próprio psicólogo
pode realizar o tratamento com hipnose. De fato, hoje há mais
psicólogos do que médicos praticando hipnose, e creio que nem
mesmo todos os profissionais das duas áreas juntos poderiam ser
suficientes para estender a hipnose a todos os pacientes que poderiam
se beneficiar dela.
O que é realmente muito importante assinalar, entretanto, é que
todo tratamento deve ser indicado a partir de um diagnóstico preciso, e
o único profissional habilitado cientificamente a fazê-lo é o médico. O
48 HIPNOSE ALTERANDO E DESENVOLVENDO A CONSCIÊNCIA
Dr Alcimar José Vidolin
que a um não médico poderia parecer uma depressão, com todos os
seus sinais, sintomas e comemorativos, pode ser outra doença
completamente diferente, passível de tratamentos outros e, por vezes,
muito grave. Doenças como anemia, hipotireoidismo, insuficiência
renal, insuficiência adrenal, hidrocefalia, doenças degenerativas do
sistema nervoso, neoplasias, infecções crônicas, intoxicações e
diabetes, só para exemplificar, podem mimetizar os mesmos sintomas
da depressão. E isto é apenas o exemplo de um caso específico, o da
depressão. O mesmo se dá com todas as outras patologias. Somente o
médico pode fazer o diagnóstico e indicar qualquer tratamento.
Eu próprio aprendi hipnose com psicólogos aos quais reputo muito
respeito e admiração, e nos quais reconheço qualidades que ainda
estou trabalhando para desenvolver.
A hipnose não é propriedade de ninguém, é antes um refinamento
da arte da comunicação com o qual absolutamente todos podemos
aprender e crescer.
Aplicações em Odontologia
O paciente que recebe tratamento odontológico sob hipnose jamais
vai voltar ao tradicional. Dentista sem dor, sem ansiedade, sem
desconforto, sem demora.
Treinar o paciente odontológico para entrar em transe hipnótico
muda completamente a conotação do tratamento. Sob hipnose é
possível “dormir” confortavelmente na cadeira do dentista, enquanto
são realizados os procedimentos, e o tempo pode ser distorcido para
que a sessão pareça muito breve. Ou então a pessoa pode ser
dissociada e aproveitar este tempo para fazer outra coisa, como um
passeio, ou rever um programa de televisão. Pode ser induzida surdez
seletiva para o ruído da broca. O tratamento pode ser confortável e
indolor.
Qualquer grau de hipnose já beneficia o tratamento, mas é óbvio
que quanto maior a habilidade do paciente mais fenômenos a serem
explorados.
Para o profissional, é possível utilizar a hipnose para reduzir as
doses de anestésicos ou, conforme o paciente, utilizar somente a
hipnose como anestésico para procedimentos e até cirurgias maiores.
Miscelânia
SUGESTÃO, AUTO-SUGESTÃO E
PENSAMENTO POSITIVO
Como já foi explicado anteriormente, a sugestionabilidade é uma
função normal da personalidade saudável, variando nos diferentes
indivíduos e num mesmo indivíduo em diferentes situações. E
convencionamos a definição como a capacidade de responder a idéias
antes ou até mesmo sem verificá-las.
Todos nós criamos e mantemos nosso mundo com o diálogo
interno, e a comunicação em todas as suas diversas formas altera,
mesmo que temporariamente, este diálogo interno.
É indispensável para a compreensão da comunicação representar
na mente o que está sendo comunicado para então tomar um
posicionamento. Esta representação pode ser através de uma
lembrança, ou visualização de uma imagem, ou uma sensação. Se eu
disser que ensinei um elefante cor-de-rosa a entrar em hipnose, você
poderá pensar várias coisas. Que eu esteja mentindo, ou tenha bebido
demais, ou até mesmo imaginar quem teria pintado o elefante e se um
elefante pode ou não ser hipnotizado. Mas antes mesmo de formular
hipóteses ou tirar conclusões, você terá visualizado a cena. Se esta
cena tivesse um conteúdo emocional, que propositadamente estou
evitando na construção, você responderia instintivamente a ela antes
de raciocinar.
O dentista que explica ao paciente: “Não tenha medo! Não vai
doer!”, está na verdade fazendo terrorismo. Está levando o paciente a
pensar em medo e dor, e mesmo que seja em uma fração de segundo,
o paciente vai rever em sua mente situações dolorosas e de medo que
já tenha experimentado anteriormente. Seu corpo vai reagir ficando
tenso, o rosto se contorcendo em um esgar e os lábios ficando
apertados. A admoestação “não” no começo da sentença não tem
absolutamente valor nenhum, porque até ser processada o estrago já
HIPNOSE ALTERANDO E DESENVOLVENDO A CONSCIÊNCIA 53
Dr Alcimar José Vidolin
está feito e o profissional conseguiu exatamente o oposto do que
desejava. Na verdade, ele poderia muito propriamente ter colocado da
seguinte forma: “Fique tranqüilo! Vai ser confortável!”. Embora o
conteúdo das sentenças seja muito semelhante, a natureza das
respostas eliciadas é muito diferente. É a diferença entre boa e má
comunicação. Com um agravante: a pessoa que está apreensiva se
encontra em estado de hipersugestionabilidade!
E há um sem número de situações que levam a pessoa a alterar a
consciência e tornar-se mais sugestionável: dor física, como quem se
machuca ou está no hospital esperando atendimento; dor emocional,
como em quem perde um ente querido ou sofre uma humilhação;
emocões violentas como medo, ou susto, ou excitação; outras
situações que envolvam atenção concentrada, por qualquer motivo;
rapport, conforme explicado em outra parte deste livro.
A importância e as conseqüências da comunicação em todas as
suas formas e especialmente como palavra falada são indevidamente
menosprezadas.
O maior expoente do estudo das sugestões com finalidades
terapêuticas foi um farmacêutico francês: Emile Coué (1857-1926).
A ele é devida a elaboração da famosa frase usada em auto-
sugestão: “Melhor a cada dia, em todos os sentidos”. Ele coordenava
uma clínica de atendimento gratuito e ensinava seus pacientes a
reeducarem seu modo de pensar e com isso conseguir efeitos
benéficos. Também ensinava-os a construir sugestões para seus
problemas específicos. Sua técnica consistia em que o paciente se
colocasse em um estado de relaxamento e conforto e com o auxílio de
nós feitos em um cordão recitasse a auto-sugestão diariamente, como
se estivesse rezando.
Baseados na obra de Coué foram estabelecidos princípios que
ajudam a entender e aplicar as sugestões, também conhecidas como
Leis da Sugestão.
São elas:
1 Lei da Atenção Concentrada: quando uma idéia ocupa a atenção
de uma pessoa, essa idéia tende a se concretizar.
2 Lei da Emoção Dominante: as idéias associadas a emoções são
potencializadas, aumentando a chance de se tornarem reais.
3 Lei do Esforço Contrário: no conflito entre imaginação e vontade, a
imaginação sempre vence.
54 HIPNOSE ALTERANDO E DESENVOLVENDO A CONSCIÊNCIA
Dr Alcimar José Vidolin
Exemplifico:
Uma determinada pessoa pode desejar ardorosamente ser bem
sucedida em acumular riquezas, e trabalhar com afinco para obtê-las.
Porém pensa em si mesmo como alguém pobre, pela sua origem
humilde. Ressente-se disso e no fundo se acredita inferior e diminuído
em relação aos outros. Preocupa-se excessivamente com dificuldades
e já imagina o que vai fazer quando seus empreendimentos
fracassarem. Para este, não há esperança de sucesso. Por mais que
trabalhe, sua mente inconsciente trabalha contra ele, porque foi
programada para isso. Através de pequenas decisões, modos de se
comunicar ou a imagem que ele passa aos outros, ele mesmo está se
sabotando sem o perceber. Todos os seus esforços são inúteis.
O primeiro exercício terapêutico que é proposto aos meus pacientes
é transformar suas listas de problemas em listas de objetivos.
A idéia do sucesso e a alegria associada a ele têm de saturar sua
mente com mais intensidade do que as mazelas o faziam.
Claro que gastar no cartão de crédito acreditando que a mente
inconsciente proverá os recursos para o pagamento é um ato de fé do
qual mesmo eu sou incapaz. Pelo menos até o momento.
Mas a implementação da atitude positiva, que pode ser entendida
como a somatória de pensamento positivo com ação positiva, pode
efetivamente levar a progresso e superação de limites auto-impostos.
Em todas as áreas da experiência humana.
A um certo amigo solitário que desejava uma namorada e não tinha
pretendentes em vista, sugeri que pensasse em um presente especial
para dar a essa namorada quando a conseguisse, e que o comprasse.
Esta tarefa deslocou a sua atenção do quão solitário ele se encontrava
para o que poderia agradar a sua futura namorada. Eu não sei se ele se
comportava de outras maneiras, ou como ele passou a olhar as
mulheres, e nem sei ao certo se o fato de ele ter realmente começado
um relacionamento teve a ver com a tarefa. A tristeza associada à
solidão desapareceu, entretanto, no mesmo momento em que ele
aceitou a missão.
Remoendo nossas dificuldades damos a elas dimensões maiores
que as nossas forças.
O objetivo deste capítulo é apresentar idéias que podem produzir
transformações importantes ao serem aplicadas. Elas serão benéficas
ANÁLOGOS DA HIPNOSE
Nesta sessão do livro cito e dou informações básicas, noções, sobre
outras abordagens da consciência, algumas desenvolvidas a partir da
hipnose, como a Programação Neuro-Linguística, e outras que, embora
seus defensores e praticantes neguem a relação, lidam com a mesma
matéria, como a Dianética.
Elementos, conceitos, ou eventualmente técnicas pertencentes a
estas disciplinas são freqüentemente empregados com sucesso na arte
de estimular o desenvolvimento do paciente.
Sob muitos nomes são apresentadas teorias como se fossem
novidades científicas quando na verdade são apenas aspectos
conhecidos e praticados da velha e boa hipnose. Talvez seus autores
busquem o mérito por desenvolver algo original, ou apenas desejem
afastar suas práticas dos muitos estigmas e idéias errôneas
preconcebidas a cerca da hipnose. De qualquer forma, as boas idéias e
contribuições são sempre bem-vindas.
Sofrologia, Programação Autógena, Medicina Comportamental e
mesmo alguns que se intitulam “Ericksonianos” tentam reduzir o
hipnólogo a alguém que se limita a dizer ao paciente para olhar para a
luz e dormir. Nada mais longe da verdade. Quão vasto o arsenal
terapêutico do hipnólogo! Que honra dar continuidade ao caminho
apontado por Mesmer!
O fenômeno hipnótico é desconcertante e as suas implicações
freqüentemente incompatíveis com crenças pessoais ou práticas
profissionais prévias. Muitos preferem lidar com isso evitando o
fenômeno. Negá-lo e difamá-lo é outra maneira. Uma forma mais
ardilosa é estudar, racionalizar e classificar, tudo na teoria.
Nas páginas seguintes as informações apresentadas são um
resumo e, temo, muitas vezes uma simplificação de teorias
Dianética
A Dianética pode ser descrita mais precisamente como um corpo
doutrinário do que uma terapia. Foi desenvolvida por L. Ron Hubbard
(1911-1986), engenheiro americano e famoso escritor de ficção das
décadas de 30 e 40, e a primeira sistematização foi apresentada em
1950 com o seu livro Dianética: a Ciência Moderna da Saúde Mental.
O axioma básico da teoria é de que o objetivo principal de todos os
esforços dos organismos vivos é a sobrevivência. Hubbard afirmava
que o prazer era resultante de ações a favor da sobrevivência e que a
dor resultava de agravos a esse determinante. Dividiu a mente em
mente analítica e mente reativa. A mente analítica seria a consciência
individual e os processos normais de inteligência. Nas situações em
que houvesse perigo real ou inferido, de acordo com o princípio da
sobrevivência, a mente reativa assumiria o controle das ações do
indivíduo.
A mente reativa já apresentaria uma programação básica coerente
com as necessidades da espécie, e essa programação seria ampliada
com as experiências. A Dianética afirma que essa programação
aconteceria nos momentos de alteração da consciência, por dor física
intensa, forte emoção ou uso de drogas, como na anestesia química.
A uma unidade de programação corresponderia o termo engrama. O
engrama seria a forma como a mente reativa armazenaria a
informação, e seria baseado em um pacote de informações sensoriais
que seria um gatilho para o acionamento da mente reativa em ocasiões
futuras. Fariam parte do engrama, no exemplo de uma dor física
intensa: o estímulo doloroso, os ruídos ambientes no momento de
alteração da consciência, os odores, o tom de voz dos presentes, a
vegetação ao redor ou a cor das paredes e tudo o mais. A repetição de
qualquer dessas informações a partir daí seria um sinal para que a
mente reativa assumisse o comando. Os engramas poderiam ocorrer
em qualquer momento da vida, mas os mais importantes e graves
teriam acontecido no período de vida intra-uterina e logo após o
nascimento. Relações sexuais durante a gravidez, ameaças de aborto,
brigas entre os pais e outros seriam determinantes patológicos na vida
adulta.
60 HIPNOSE ALTERANDO E DESENVOLVENDO A CONSCIÊNCIA
Dr Alcimar José Vidolin
Tais engramas fundamentais seriam agravados ao longo da vida
com situações fortuitas ou conseqüentes a eles em que fossem
reforçados. Tais situações são chamadas encadeamentos (locks).
Segundo Hubbard, a ativação da mente reativa levaria o indivíduo a
responder com ações automáticas e inconscientes, de maneira igual ao
previsto no engrama (como chorando, ficando tenso ou fugindo, por
exemplo), ou ainda previa a atuação em outra valência, que seria a
dramatização do papel de outra pessoa envolvida no engrama – e
nesse caso uma pessoa que tivesse sofrido a situação original como
vítima poderia agir como o havia feito o agressor, se for este o caso.
O que a Dianética quer realmente dizer é que a consciência de
todas as pessoas está grandemente comprometida pelos engramas e a
ativação da mente reativa. Que a mente reativa é benéfica ao animal
porém desnecessária ao homem, e que a sua eliminação resultaria em
expansão da consciência, da lucidez e do livre-arbítrio. Aqui ela diverge
da hipnose tradicional ao afirmar que todos os condicionamentos são
maléficos, e que é impossível a mente reativa ser programada para
auxiliar o indivíduo. De fato, para a Dianética a hipnose é uma situação
geradora de engramas, numa observação superficial.
De posse destes princípios e conceitos, foi desenvolvida a terapia
da Dianética, cujo objetivo é desfazer, desprogramar todos os
engramas, transformando a pessoa num Clear, que é como seria
chamada a pessoa cuja mente reativa fora desprogramada e cuja
consciência, criatividade e lucidez ampliadas. Tal pessoa apresentaria
sempre ações racionais, sem qualquer traço de condicionamento.
Como benefícios extras Hubbard mencionava o incremento da saúde e
sexualidade. Previam-se também conseqüências políticas e sociais
quando da difusão das práticas e proliferação dos Clears.
A terapia consiste em colocar o paciente em leve estado de
relaxamento (chamado reverie), e através do esgotamento da carga
emocional dos engramas pela experimentação repetida a sua liberação.
O operador da terapia é chamado auditor. Os engramas seriam
localizados e liberados a partir das queixas e sintomas do paciente
(denominado pré-clear). Repetir e repetir a queixa é um dos métodos
empregados para chegar ao conteúdo emocional e por vezes à
situação primitiva que porventura o tenha gerado.
A Dianética ao longo do tempo sofreu acréscimos teóricos e
práticos. Hoje é englobada numa perspectiva mais ampla com
conotações religiosas e políticas denominada Cientologia. A Cientologia
HIPNOSE ALTERANDO E DESENVOLVENDO A CONSCIÊNCIA 61
Dr Alcimar José Vidolin
abraça a crença em vidas passadas e na percepção extra-sensorial. É
muito difundida nos Estados Unidos, e pessoas de notoriedade como
os atores John Travolta e Tom Cruise incrementam as fileiras dos
adeptos, que alegam mudanças radicais e grande progresso em suas
vidas.
Programação Neuro-Linguística
Richard Bandler e John Grinder desenvolveram esse conjunto de
teorias e técnicas baseados na observação detalhada do trabalho de
três terapeutas que conseguiam resultados impressionantes. São eles:
Fritz Perls, o inventor da terapia Gestalt; Virginia Satyr, terapeuta
familiar de renome; e especialmente Milton Erickson, que a esse ponto
já dispensa apresentações. Esses expoentes da terapia faziam o que
parecia ser feitiçaria, e foram estudados em detalhes todos os aspectos
das suas práticas para que elementos pudessem ser apreendidos e
praticados por outras pessoas. Esses elementos incluíam suas
estratégias de comunicação verbal e não-verbal e refinamentos do
carisma individual de cada um. A partir desses dados Bandler e Grinder
desenvolveram a sistematização de uma técnica de comunicação que
visava extrapolar mesmo o ambiente terapêutico e otimizar as relações
interpessoais em outros setores.
A Programação Neuro-Linguística (PNL) vem se mostrando uma
disciplina efetiva e o tempo dedicado ao seu estudo e prática me foi
muito proveitoso.
Abaixo relaciono alguns dos princípios e técnicas da PNL, com
breves explicações. É claro que há sutilezas e refinamentos associados
a todos os tópicos da PNL que extrapolam os objetivos deste texto.
Porém toda informação que se consegue aprender pode vir a ser útil ou
servir de base para pesquisas futuras.
Sistemas Representacionais: segundo a PNL, toda comunicação vai
ser representada dentro da mente utilizando idéias relacionadas aos
sentidos. Os principais seriam o visual, o auditivo e o cinestésico. Em
cada pessoa, entretanto, a utilização de um dos sistemas seria
predominante. Embora os três funcionem ao mesmo tempo, um deles
seria constantemente predominante em determinada pessoa. Dessa
forma, a população seria também dividida em visual, auditiva ou
cinestésica, conforme o sistema representativo mais utilizado. Os
auditivos seriam minoria, limitando-se a alguns músicos ou outras
62 HIPNOSE ALTERANDO E DESENVOLVENDO A CONSCIÊNCIA
Dr Alcimar José Vidolin
pessoas para as quais os sons fossem a principal fonte de informações
a respeito do ambiente. Os cinestésicos seriam pessoas que prestariam
especial atenção aos estímulos que podem ser percebidos pela pele,
como a pressão, a textura e a temperatura. Por definição seriam
pessoas mais relaxadas e de gestos mais lentos, “bonachões”,
valorizando o conforto e o contato físico. Os visuais, na outra ponta,
seriam dinâmicos e propensos à ansiedade, de movimentos rápidos e
interessados na praticidade, formas, cores e design. A maior porção da
população hoje seria predominantemente visual.
Essa divisão propõe-se a ser útil porque de antemão já se sabe a
quais características de um objeto ou situação uma certa pessoa vai
responder melhor. Para vender um carro a uma pessoa cinestésica,
você deverá saber que o conforto poderá despertar seu interesse,
enquanto uma pessoa visual estará mais interessada na aparência,
praticidade e desempenho. Da mesma forma a argumentação a que ele
vai responder: “Acompanhe o meu ponto de vista”, “Sinta a situação”,
“Ouça o que eu digo” e assim por diante.
Em terapia, muitos mecanismos de processos patológicos, como as
fobias, estariam associados ao sistema representacional onde o
estímulo é verificado, e abordar este processamento é uma estratégia
para a solução.
Pistas Oculares: as diferentes regiões do cérebro tem funções
também diversas. Bandler e Grinder perceberam que a ativação de
certas regiões correspondia a um certo movimento dos olhos,
automático, como um reflexo que mostrasse que esta determinada
região está sendo solicitada. Este movimento seria constante para o
indivíduo, e na população em geral a maioria esmagadora seguiria o
esquema que se segue:
1 Olhar para a esquerda e para cima: evocando imagens da
memória, como em quem está lembrando algo.
2 Olhar para a direita e para cima: imaginando uma cena, como em
quem está planejando ou inventando.
3 Olhar para a esquerda e para baixo: conversando consigo mesmo,
ponderando.
4 Olhar para a direita e para baixo: experimentando uma sensação.
As outras posições do olhar também são significativas, mas não tão
fáceis de perceber e correlacionar.
O SHOW DE HIPNOTISMO
Há em muitos países, inclusive no Brasil, legislação condenando a
prática de hipnose para fins de entretenimento sem finalidades
científicas e o seu emprego por pessoas que não sejam médicos,
psicólogos ou dentistas.
É também consenso entre os hipnólogos terapeutas que estes
shows podem ser prejudiciais aos voluntários e à prática terapêutica da
hipnose, pela abordagem muitas vezes utilizada e que faz a pessoa
hipnotizada parecer tola ou sob o comando do operador, como se este
possuísse poderes sobrenaturais.
Não há comprovação, entretanto, de que tenham efetivamente
ocorridos prejuízos à saúde física e mental dos participantes destes
espetáculos. O show apresentado na televisão por Paul McKenna,
exibido em muitos países há muitos anos, infelizmente não no Brasil, é
um exemplo de que tal prática é segura. Recentemente, o hipnotista
Fábio Puentes vem se apresentando na televisão brasileira e
arrebanhando audiências fantásticas.
Embora a utilização da hipnose com fins puramente recreativos não
se coadune com meus princípios e interesses, reconheço tais pessoas
como artistas extraordinários, cujo mérito não é propriamente o de
provocar os fenômenos hipnóticos, e sim o de dar à apresentação
destes fenômenos a dinâmica de espetáculo e entretenimento. Se os
voluntários depositam sua confiança nestes artistas e se dispõem a
subir ao palco para experimentar hipnose, brincar e provocar risos na
platéia, é um ato consentido entre adultos e, pelo que se sabe até o
momento, sem conseqüências danosas à saúde.
Não cabe em minha imaginação que alguém se arvore dono do
fenômeno hipnótico a ponto de dizer onde e com que fins este deve ou
não acontecer. O mesmo motor de combustão que move ambulâncias
pode mover carros de corrida. A televisão que informa e educa (ou
deveria) também pode divertir.
HIPNOSE ALTERANDO E DESENVOLVENDO A CONSCIÊNCIA 71
Dr Alcimar José Vidolin
Se os hipnotistas de palco causarem dano a seus voluntários, sejam
responsabilizados por isto. E se o seu crime for mau gosto na seleção
dos números do show, recaia sobre eles a desaprovação e o abandono
do público.
Passando dos méritos à descrição, muitas pessoas há que não
acreditam no que vêem acontecer no show de hipnose. De fato podem
haver representações, mistificações e uso de expedientes para enganar
o público, como a utilização de atores contratados. Mesmo muitos
hipnólogos sérios não conseguem entender e acreditar que alguém
possa ser levado a hipnose profunda em segundos, como a televisão o
faz parecer. O texto que se segue tenta lançar alguma luz sobre este
assunto tão controverso, e dar substratos ao leitor para aprender a
apreciar ou não a hipnose de palco. É claro que existem variações da
performance e da organização do espetáculo dos diversos artistas que
não serão estudados aqui. Não é minha pretensão esgotar o assunto.
Fenômenos Iniciais
Alguns fenômenos podem ser provocados rapidamente no sujeito
mais sugestionável, causando um efeito impressionante. A própria
catalepsia pode ser utilizada de formas interessantes. Pode-se fazer
Induções Formais
Muitos hipnotistas vão iniciar sua apresentação com uma indução
formal de hipnose, utilizando técnicas de relaxamento, fixação visual,
músicas, exercícios de respiração ou outros, e a partir das respostas
obtidas selecionar seus melhores voluntários. Já quando a
apresentação tem tempo reduzido, como em programas de auditório
em televisão, eles partem diretamente dos testes de suscetibilidade
para a demonstração de fenômenos.
Vários dos fenômenos mencionados no capítulo II vão ser utilizados
para criar números que entretenham e divirtam a platéia. Alterações de
personalidade, alterações de funções orgânicas, ilusões e alucinações
são substratos para criações impressionantes.
Fenômenos em Desuso
A anestesia dos estados hipnóticos costuma ser demonstrada pela
introdução de agulhas na pele, e eventualmente transfixação de
tecidos, nos braços, face ou nas mãos. Por ser chocante, hoje em dia é
pouco utilizado.
A “Ponte Humana” era obtida ao se provocar rigidez em todo o
corpo de um voluntário e estendendo-o entre duas cadeiras, de forma
que se apoiasse apenas pelos calcanhares e a parte de trás da cabeça.
Sobre a pessoa assim suspensa subiriam uma ou mais pessoas, que
eventualmente pulariam. Outra variação consistia em colocar uma
grande pedra sobre a barriga do indivíduo e partí-la com golpes de
marreta. É uma realização impressionante. Muito embora a pessoa não
referisse desconforto, e mesmo ao acordar não lembrasse do ocorrido,
o organismo era exigido a um ponto absurdo e potencialmente
lesionado. A sua prática nos dias de hoje seria completamente
inadequada.
A ilusão de fazer a pessoa acreditar que está mordendo uma fruta
enquanto na verdade está comendo alho ou cebola costuma provocar
muito desagrado na platéia e distorcer os objetivos da apresentação.
Qualquer número em que se exija demais do corpo ou se leve
alguém a fazer algo de mau gosto deve ser execrado e abolido. É óbvio
que certas brincadeiras que são adequadas a uma platéia poderão não
ser a outras. Classe e bom senso, sempre, por favor.
Ilusões e Alucinações
Fazer o indivíduo hipnotizado acreditar que está vendo um
passarinho, ou perseguindo borboletas, são exemplos desses
fenômenos. Outro são os “óculos de raios-X”, onde um par de óculos,
ao ser colocado, faz com que a pessoa enxergue os outros em roupas
íntimas. As variações destes são inesgotáveis.
Passeios Hipnóticos
Passeios no campo com direito a lanche e formigas, ônibus
sacolejante, frio, calor e chuva são representados como atores jamais o
fariam. E há ainda todas as variações possíveis, como viagens para o
Havaí, ou viagens interplanetárias para Marte e encontros com
alienígenas.
Hipnose Instantânea
Um voluntário que já foi hipnotizado pode ser recolocado em transe
com ordens diretas, como “Durma, agora!”. Da mesma forma alguém
que esteja na platéia exibindo a “constelação hipnótica”, isto é, já em
estado hipnótico ou à beira do mesmo, pode responder a este comando
direto. A aparência para o espectador é de que o hipnotista está
fazendo mágica ou tem superpoderes, quando na verdade está
aplicando técnicas e utilizando fenômenos que já estão presentes e que
seu olhar treinado descobriu acontecendo.
Algo muito interessante de verificar é que estar junto a alguém em
transe hipnótico altera a consciência. Isto isoladamente já configura
uma técnica de indução. Crianças e certos animais são especialmente
suscetíveis, mas qualquer um pode ser afetado e entrar em transe ao
observar outra pessoa hipnotizada.
Hipnose Animal
Embora os animais não compreendam a palavra falada, através de
técnicas não-verbais eles podem ser levados a um estado hipnótico.
Alguns animais responsivos são cachorros, cobras e especialmente
cavalos. Outra abordagem é provocar estados peculiares a certas
espécies, como a galinha que quando se segura a cabeça colada ao
solo e se traça uma linha reta adiante de seus olhos partindo do bico,
vai exibir alteração de comportamento, ficando estática ou andando
sobre linha. Outro exemplo são os sapos que ficarão imóveis por algum
tempo se imobilizados de barriga para cima.
AUTO-HIPNOSE
Quando um problema ou situação ocupa nossas mentes, podemos
até sonhar com algo relacionado. Esse sonho pode ser simbólico, ou
apontar soluções, ou apenas refletir nosso envolvimento emocional com
o assunto. Isso é uma evidência de que a mente inconsciente pode ser
sensível às nossas necessidades.
É incorreto pensar, todavia, que se pode entrar em estado auto-
hipnótico e realizar este ou aquele propósito. Da mesma forma que é
muito difícil poder escolher com o que se vai sonhar ao dormir.
Quando se tem objetivos específicos, pode ser interessante aplicar
outros princípios da hipnose, como a auto-sugestão nos moldes de
Coué, visualização criativa ou a gravação de fitas cassete com
mensagens (dreamers).
Praticar auto-hipnose é benéfico em muitos aspectos.
O corpo entra em relaxamento e ocorre lentificação com aumento da
eficiência dos processos fisiológicos. Poucos minutos de auto-hipnose
parecem descansar como horas de sono. Dores musculares,
hipertensão arterial, taquicardias e cefaléias já de início podem ser
melhor controladas com este recurso. Qualquer processo álgico
(doloroso) será amenizado com auto-hipnose.
Ao longo do tempo, a prática regular fornece as mesmas vantagens
apregoadas para a meditação, como melhora do nível geral de energia
e atenção, da capacidade de linguagem, promoção de saúde,
serenidade e progresso das funções cognitivas conforme demonstrado
em testes psicológicos específicos.
Na minha prática como médico clínico, fui freqüentemente procurado
por pessoas pedindo vitaminas ou remédios para dar mais vigor ao
corpo e à mente, melhorar a memória, a atenção e a capacidade de
aprender. Ou ainda obter melhor desempenho esportivo ou sexual. Isso
não existe em pílulas. A auto-hipnose pode levá-lo a isso. Mas também
HIPNOSE ALTERANDO E DESENVOLVENDO A CONSCIÊNCIA 79
Dr Alcimar José Vidolin
não é milagre. É mais parecido com aprender uma arte marcial, cujos
princípios e a prática constante vão moldando o corpo e a mente em
desenvolvimento lento e seguro. Ganho real, resultado de disciplina e
perseverança.
O trabalho não é tão duro assim ao se levar em conta como é
agradável o estado auto-hipnótico. Após aprender, qualquer instante de
folga já pode ser aproveitado para relaxar o corpo e interiorizar a
atenção. Dois minutos ou uma hora. Muito superficial ou realmente
profundo.
Receber treinamento de um hipnólogo seria sempre a maneira ideal
de aprender, mas também há muitas técnicas que se pode empregar
para alterar a própria consciência. Você, assim como todos, pode fazê-
lo por conta própria e obter excelentes resultados.
As pessoas vão apresentar respostas diferentes às diversas
técnicas existentes, a depender de seu temperamento, habilidades e
outras tantas variantes. Quem não responder a uma poderá
experimentar outra, ou praticar até conseguir. Se não conseguir poderá
tentar em outra ocasião. A atitude adequada é aquela mesma com a
qual você abre um livro de seu interesse: curiosidade.
É mais próximo da verdade pensar na hipnose como algo que
acontece quando você fixa a sua atenção do que como uma coisa que
se faça.
Nas próximas páginas apresento exercícios selecionados de auto-
hipnose. Experimentá-los será divertido e certamente proveitoso.
De um modo geral, será maior o aproveitamento em ambiente
tranqüilo e reservado, com tempo disponível, bem acordado (hipnose é
um fenômeno de concentração), e após “diminuir a velocidade”. Música
de fundo é desnecessária e até indesejável.
O melhor posicionamento para a maioria dos exercícios é sentado,
com os pés plantados no chão e as mãos sobre o colo (posição de
cocheiro). Quanto à cabeça, ela pode estar apoiada num encosto ou
almofada ou você pode permitir, à medida que o exercício progride, que
ela penda confortavelmente com o queixo aproximando-se do peito.
Não é necessário preocupar-se em como “acordar”. Isto ocorrerá
espontaneamente quando você desejar ou conforme o estímulo. Se a
limitação do tempo é um determinante, programe o rádio relógio com
música suave, ou peça que o despertem delicadamente.
Técnica do Polegar-Indicador
Esta técnica associa a fixação do olhar com ação ideomotora e
indução de catalepsia.
Comece na posição de cocheiro, conforme explicado acima.
Determine um espaço entre os seus dedos polegar e indicador em
pinça, como se estivesse mostrando o tamanho de um pintinho, ou o
quanto de bebida você desejaria que lhe servissem. Durante todo o
exercício mantenha seu olhar fixo em seus dedos.
Aprecie então a possibilidade de entrar em transe hipnótico. À
medida que isso for ocorrendo, seus dedos vão começar a se
aproximar, muito lentamente no princípio. Preste atenção às sensações
em seus dedos. Não faça nada. Deixe que eles se fechem, desde que
eles o façam sozinhos, em pequenos movimentos involuntários.
O espaço delimitado pelos seus dedos corresponde à sua
consciência, que vai se estreitando ao mesmo tempo que você está
entrando em transe hipnótico.
Quando as pontas dos dedos se tocarem, este será o sinal para que
você feche os olhos e entre em profundo estado hipnótico.
Às vezes os olhos ficam cansados mais rápido, e as pálpebras dão
a impressão de estarem pesadas. Se isto ocorrer, é perfeitamente
correto fechar os olhos e continuar prestando atenção ao que está
acontecendo em seus dedos.
Você pode imaginar curioso como definir melhor esta força que os
aproxima. Talvez seja para você como o magnetismo de um imã ou um
elástico esticado, por exemplo.
Quando seus dedos se tocarem eles estarão colados, e será para
você impossível separá-los enquanto estiver em transe hipnótico.
Parabéns pelo sucesso.
Você poderá responder prontamente ao exercício ou após algumas
tentativas.
Elástico
Comece este exercício na posição de cocheiro, com a palma da
mão esquerda sobre a coxa. Recolha então o polegar, exatamente
como você faria se estivesse mostrando com os dedos o número 4.
Suspenda a mão alguns centímetros, como se ela estivesse pairando
sobre a coxa esquerda e feche os olhos. Estique bem os 4 dedos (do
indicador ao mínimo) e mantenha-os retesados. Imagine, finja ou faça
Pêndulo
Para treinar este exercício, é necessário um pêndulo, que pode ser
de madeira, vidro, cristal ou metal. Hoje em dia é muito fácil encontrar
um em livrarias ou lojas de presentes, e o preço é bem acessível. Ou
construa um, se desejar.
O pêndulo não funciona sozinho, é claro. O que ele faz é amplificar
pequenos movimentos inconscientes de forma que você possa
percebê-los melhor. Não se torna menos mágico por isso. Muito pelo
contrário.
Você vai perceber, ao segurá-lo, que vai haver um ponto no fio a
certa distância do peso em que ele parece mais responsivo. É melhor
segurá-lo aí, portanto faça um nó nesse ponto e assim não precisará
procurá-lo novamente.
A posição para este exercício é novamente a de cocheiro, desta vez
diante de uma mesa ou outra superfície.
Coloque um pano ou papel de uma cor só sobre essa mesa.
Segure o pêndulo entre seus dedos e observe-o atentamente, sem
pressa. Procure não mover a mão intencionalmente. Divirta-se com seu
brinquedo. Talvez ele fique imóvel, ou talvez ele vá para a frente e para
trás. Ou de um lado para outro. Ou ainda faça círculos. Esses
movimentos podem ser discretos ou amplos. Quaisquer que sejam
esses movimentos, quem os está produzindo é sua mente inconsciente.
Ela já está se comunicando com você, já está se manifestando.
A SESSÃO DE HIPNOSE
As maneiras de se utilizar os conhecimentos sobre hipnose para
beneficiar o paciente são muito variadas. Muitas vezes o termo hipnose
sequer é mencionado, e a hipnose é apresentada como um
relaxamento ou um exercício para o paciente praticar em casa. Em
situações de emergência, como em pronto-socorro, é utilizada
comunicação hipnótica em um paciente que já está hipersugestionável,
para eliciar tranqüilidade ou potencializar outros tratamentos ou
analgesia. Os psicólogos vão freqüentemente utilizar técnicas
hipnóticas associadas às outras formas de psicoterapia que praticam.
A descrição a seguir corresponde principalmente ao atendimento
que eu desenvolvo em consultório particular, com pacientes que
procuram aprender hipnose para diversos fins, como relacionados no
capítulo IV. Outros profissionais certamente possuem diferentes
abordagens.
O princípio básico empregado é de que a hipnose é um treinamento,
um aprendizado. Nada será feito ao paciente, nem em seu lugar. Ele
deve estar consciente de que está sendo auxiliado a desenvolver um
recurso inato, que é o de aprimorar sua consciência e se programar
para melhorar nas áreas em que sente necessidade. O conceito de que
se vai adormecer e acordar curado, ou de que em uma ou duas
sessões o indivíduo será uma nova pessoa não poderia ser mais
distante da verdade. Todo progresso envolve investimento
indispensável de energia na forma de trabalho e persistência.
O próprio estado hipnótico por si já tem resultados terapêuticos, e o
terapeuta utiliza as características especiais e os fenômenos da
hipnose para enriquecer o modelo de mundo do paciente, facultando-o
ter opções de como perceber e agir. O significado, as conseqüências e
as respostas aprendidas em momentos traumáticos podem ser
reavaliados, como se nós estivessem sendo desatados. Ao
desprogramar automatismos, promove-se a consciência e a
HIPNOSE ALTERANDO E DESENVOLVENDO A CONSCIÊNCIA 87
Dr Alcimar José Vidolin
flexibilidade do paciente. Condicionamentos adequados às
necessidades especiais de cada pessoa podem ser realizados.
Fenômenos fisiológicos relacionados ao sistema nervoso autônomo são
produzidos com finalidades terapêuticas. Em outras partes deste livro já
foram explicadas diferentes maneiras através das quais a hipnose vai
agir. De um modo geral, dota-se o paciente de recursos e se observa
que mundo ele vai construir com as novas ferramentas.
Para aqueles menos responsivos aos fenômenos da hipnose, se
ensinam técnicas de relaxamento e controle do estresse. Utilizam-se
também técnicas mais sutis de comunicação hipnótica para eliciar os
comportamentos desejados. Outra abordagem é ensiná-los os
princípios de funcionamento da mente inconsciente e treiná-los em
auto-sugestão e visualização criativa. Todos podem se beneficiar da
hipnose, mesmo que em diferentes graus.
A sessão de hipnose costuma ter aproximadamente uma hora de
duração, e é invariavelmente uma experiência interessante e
envolvente para o paciente.
Num primeiro contato, discutem-se os objetivos específicos de cada
pessoa. O paciente recebe informações adicionais sobre hipnose e
obtém respostas para suas dúvidas sobre o tratamento. Dependendo
da situação, procede-se a anamnese (entrevista médica) e
eventualmente exame físico. A partir de uma impressão diagnóstica,
podem ser necessários exames complementares ou avaliação e
acompanhamento com médico especialista de alguma área. O
tratamento proposto pode ser a hipnose ou a hipnose associada a
tratamento médico convencional. É importante que as expectativas do
paciente guardem as proporções corretas, ficando claro quais
patologias são passíveis de tratamento pela hipnose e em quais a
hipnose será tratamento auxiliar. Jamais impondo limites, entretanto, à
capacidade de cura física e psicológica da sua mente.
Mesmo na primeira sessão, o tempo é freqüentemente suficiente
para que se demonstre algum fenômeno hipnótico oportuno ou breve
indução de transe, oferecendo ao paciente já um primeiro contato com
o conforto do transe hipnótico.
As sessões subseqüentes são aproveitadas se ensinando o
paciente a aprimorar a habilidade de exibir os fenômenos hipnóticos e a
utilização dos mesmos para concretização dos seus objetivos. Os
benefícios são imediatos e crescentes. A duração do tratamento pode
variar desde poucas até muitas sessões. A postura do paciente frente
88 HIPNOSE ALTERANDO E DESENVOLVENDO A CONSCIÊNCIA
Dr Alcimar José Vidolin
ao tratamento, seus objetivos específicos, a assiduidade e a
capacidade individual de responder às técnicas empregadas vão ser
determinantes do tempo e da taxa de sucesso.
Via de regra, o tratamento é considerado completo quando se
alcançam os objetivos almejados, e é coroado com o aprendizado da
auto-hipnose.
Alguns pacientes preferem comparecer sozinhos às sessões,
enquanto outros vão necessitar de acompanhantes íntimos (pais,
cônjuges, amigos) para se sentirem à vontade para desfrutar de uma
experiência hipnótica proveitosa.
A freqüência das sessões pode ser semanal ou outra a ser definida
conforme as necessidades. O custo da sessão de hipnose corresponde
ao valor de uma consulta médica praticado na localidade.
Variações e flexibilizações vão depender das necessidades
específicas de cada paciente, e vão incluir sessões em grupo ou
transes hipnóticos prolongados.
SOBRE O CD ANEXO
Como parte integrante deste livro é distribuído um CD cujo conteúdo
é a gravação de um exercício de hipnose.
O objetivo deste exercício é apresentar o estado hipnótico a quem
desejar experimentá-lo.
Não se pode deixar de enfatizar as vantagens de uma sessão real,
presidida por um hipnólogo, que vai individualizar a indução levando em
conta as características pessoais e necessidades do paciente, e
flexibilizá-la conforme as respostas exibidas. Os aspectos não-verbais
da indução hipnótica também não podem ser reproduzidos em uma
gravação.
Mesmo levando em conta essas desvantagens, este CD propõe-se
a levar muitos dos que o ouvirem a desfrutar algum grau de hipnose e
alguns dos fenômenos associados às etapas leve e moderada deste
transe. Após a indução de estado hipnótico ocorre uma rotina de
utilização deste estado, visando produzir sensações agradáveis e
benefícios.
Para aproveitar melhor este recurso há certas orientações a serem
observadas:
1 A duração total do exercício é de aproximadamente 30 minutos,
portanto certifique-se que o tempo e a ocasião são adequados.
2 Interrupções poderão distraí-lo. Avise aos familiares, se
necessário, e desligue o telefone.
3 Como hipnose é um fenômeno de concentração, evite estar com
muito sono, ou sob o efeito de álcool ou sedativos.
4 Esteja preferencialmente sozinho.
5 Ajuste o volume para um nível agradável.
6 Coloque-se em posição confortável.
O AUTOR