Enunciado AV2 (1) - Pratica Juridica
Enunciado AV2 (1) - Pratica Juridica
Enunciado AV2 (1) - Pratica Juridica
Carlos, primário e de bons antecedentes, 45 anos, foi denunciado como incurso nas
sanções penais dos artigos 302 da Lei nº 9.503/97, por duas vezes, e 303, do mesmo
diploma legal, todos eles em concurso material, porque, de acordo com a denúncia, “no
dia 08 de julho de 2017, em São Gonçalo, Rio de Janeiro, na direção de veículo
automotor, com imprudência em razão do excesso de velocidade, colidiu com o veículo
em que estavam Júlio e Mário, este com 9 anos, causando lesões que foram a causa
eficiente da morte de ambos”. Consta, ainda, da inicial acusatória que, “em decorrência
da mesma colisão, ficou lesionado Pedro, que passava pelo local com sua bicicleta e foi
atingido pelo veículo em alta velocidade de Carlos”.
As mortes de Júlio e Mário foram atestadas por auto de exame cadavérico, enquanto
Pedro foi atendido em hospital público, de onde se retirou, sem ser notado, razão pela
qual foi elaborado laudo indireto de corpo de delito com base no boletim de
atendimento médico. Pedro nunca compareceu em sede policial para narrar o ocorrido e
nem ao Instituto Médico Legal, apesar de testemunhas presenciais confirmarem as
lesões sofridas.
Após manifestação das partes, o juiz em atuação perante a 3ª Vara Criminal da Comarca
de São Gonçalo/RJ, em 10 de julho de 2019, julgou totalmente procedente a pretensão
punitiva do Estado e, apesar de afastar o excesso de velocidade, afirmou ser necessária a
condenação de Carlos em razão da imperícia do réu, conforme mencionado no exame
pericial.
No momento da dosimetria, fixou a pena base de cada um dos crimes no mínimo legal
e, com relação à vítima Mário, na segunda fase, reconheceu a agravante prevista no Art.
61, inciso II, alínea h, do CP, pelo fato de ser criança, aumentando a pena base em 3
meses. Não havendo causas de aumento ou diminuição, reconhecido o concurso
material, a pena final ficou acomodada em 04 anos e 09 meses de detenção. Não houve
substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos em razão do
quantum final, nos termos do Art. 44, inciso I, do CP, sendo fixado regime inicial
fechado de cumprimento da pena, com fundamento na gravidade em concreto da
conduta. O Ministério Público foi intimado e manteve-se inerte.
Obs.: a peça deve abranger todos os fundamentos de Direito que possam ser utilizados
para dar respaldo à pretensão. A simples menção ou transcrição do dispositivo legal não
confere pontuação.
Orientações:
- Entrega da peça somente pelo AVA (no card da AV2), até o dia 16/11/2020.
Nestes termos,
Pede deferimento.
Advogada
OAB ____
APELANTE: Carlos
Colenda câmara:
I- DOS FATOS
O apelante é réu primário e de bons antecedentes, foi denunciado como incurso nas sanções
penais dos artigos 302 da lei n ° 9.503/97, por duas vezes, e artigo 303, do mesmo diploma
legal, ambos em concurso material, isto posto, como dispõe a denúncia, na data de 08 de
junho de 2017 teria o apelante ,na direção de veiculo automotor, com imprudência em razão
do excesso de velocidade, colidiu com um veiculo em que estavam Júlio e Mario, este na época
com nove anos, causando lesões que resultaram com a morte de ambos. Pode se ler ainda da
inicial de que , em decorrência da mesma colisão, Pedro foi lesionado, pois passava pelo local
com a sua bicicleta e foi atingido pelo veículo em alta velocidade, este, que, após atendimento
médico em hospital público, se retirou do local, sem ser notado, razão pela qual foi elaborado
laudo indireto de corpo de delito com base no boletim de atendimento médico. Pedro nunca
compareceu em sede policial para narrar o ocorrido e nem ao Instituto Médico Legal. No curso
da instrução foram ouvidas testemunhas presenciais, não sendo Pedro localizado. Durante o
interrogatório o apelante negou estar em excesso de velocidade, esclarecendo que perdeu o
controle do o controle do carro em razão de um buraco que existia na pista. Foi acostado
exame pericial realizado nos automóveis e no local, concluído que, realmente, não houve
excesso de velocidade por parte do apelante, e que havia o buraco mencionado na pista. O
exame pericial, todavia, apontou que possivelmente haveria imperícia do apelante na
condução do automóvel, o que poderia ter contribuído para o resultado. O juiz a quo julgou
totalmente procedente a pretensão punitiva do Estado e, apesar de afastar o excesso de
velocidade, afirmou ser necessária a condenação do apelante em razão da imperícia. No
momento da dosimetria, fixou a pena base de cada um dos crimes no mínimo legal e, com
relação à vitima Mário, na segunda fase, reconheceu a agravante prevista no artigo 61, II,
alínea h do código penal, pelo fato, sendo fixado o regime inicial fechado de cumprimento de
pena, com fundamento na gravidade em concreto da conduta.
II- DO DIREITO
No caso em questão, é cediço ao apelante o que diz respeito a extinção da punibilidade no que
tange ao crime de lesão corporal praticada da direção de veiculo automotor , que teria como
vitima Pedro, tendo em vista que não houve representação por parte da vítima, condição essa
indispensável para o oferecimento da denuncia por parte do ministério publico. Como se não
bastasse tal situação, tomando- se por base o paradigma, ter-se-ia um crime de lesão corporal
na direção de veiculo automotor, em que, regra , a ação é publica condicionada a
representação, transformada por expressa disposição da lei, artigo 291, § 1°, CTB, em ação
penal publica incondicionada . o artigo 88 da lei 9.099/95 determina que nos crimes
de lesões corporais leves e lesões culposas a ação penal dependerá de representação
da vitima, o que ,foi excepcionado pelo legislador no que tange aos delitos de transito.
Conta do enunciado que Pedro nunca compareceu na delegacia e nem em juízo, não
havendo qualquer circunstancia a indicar que ele tinha interesse em ver o autor do fato
responsabilizado criminalmente. Dessa forma, passado mais de seis meses da
identificação da autoria, houve decadência, nos termos do artigo38 do código do
processo penal:
Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que
reconheça:
[...]
VII – não existir prova suficiente para a condenação. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
[...]
Vale ressaltar que não poderia o magistrado ter condenado com fundamento de que houve
imperícia na direção do veículo, tendo em vista que tal conduta não foi narrada na denúncia,
violando o principio da correlação, o qual representa uma das mais relevantes garantias do
direito de defesa, visto que assegura a não condenação do acusado por fatos não descritos na
peça acusatória, sendo certo que o Ministério Público não aditou a inicial acusatória em
momento adequado. Denta senda. Não sendo comprovado o fato imputado na denuncia, a
absolvição é medida que se impõe.
No que tange ao processo de dosimetria da pena, primeiro cabe explanar sobre o afastamento
da agravante do artigo 61, I, alínea h do código penal Art. 61 - São circunstâncias que sempre
agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime: h) contra criança, velho,
enfermo ou mulher grávida [...], tendo em vista que tal agravante somente pode ser
aplicada em casos dolosos . quis a lei punir mais severamente aquele que, dolosamente
,pratica crime contra criança. Na hipótese de crime culposo, não há que se falar em
agravante, sob pena de adotarmos a responsabilidade penal objetiva.
Com relação ao concurso material dos crimes, conforme a denuncia, teria ocorrido o
concurso, já que com uma única conduta o agente teria causado maus de um resultado.
Assim, aplica-se a regra do artigo 70 do código penal:
Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes,
idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma
delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se,
entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes
resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior. (Redação dada
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Ou seja, as penas cabíveis ou se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer
caso, de um sexo até metade. A pena aplica-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou
omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de designíos autônomos, ou seja, as
penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, em qualquer caso, em detrimento do
artigo 69 do código penal:
Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais
crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em
que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção,
executa-se primeiro aquela.
Sem prejuízo, ainda que haja o entendimento de que deve ser mantida a condenação , não
poderia ser aplicado o regime inicial fechado. Desta forma, cumpre requerer o afastamento
do regime mais severo, seja aplicado o regime semiaberto ou aberto. A de detenção, em
regime semiaberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado”, não
admitindo, em nenhuma hipótese, que seja aplicado regime inicial fechado ao crime punido
unicamente com pena de detenção, como ocorre nos crimes culposos da lei 9.503/97.
Cabe, ainda, o pedido de substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de
direito, independentemente do quantum de pena aplicada, já que o limite do artigo 44,
inciso I, do código penal aplica-se apenas aos crimes dolosos:
Por tudo que dos autos consta, requer a reforma da sentença condenatória, sendo
imprescindível a imposição da absolvição ao caso em tela, alicerçado no artigo 386, inciso
VII, do código do processo penal.
Nestes termos
Perde deferimento.
Advogada,
OAB