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Ética e Moral - Pré-Socráticos

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Os pré-socráticos foram o grupo inaugurador da filosofia na Grécia antiga, seu

período foi entre os séculos VII ao V a.C, seu nascimento foi fruto de uma profunda
transformação na Grécia; política, religiosa, social, a noção da realidade do cidadão
grego estava prestes a mudar. Os pré-socráticos recebem esse nome por serem
eles a realizarem a filosofia antes do aparecimento de Sócrates (Grande filosofo
ateniense que nasceria posteriormente no século V), esses filósofos a princípio
detinham o objetivo de descobrir a origem do universo, formavam suas cosmologias
(estudo da origem e criação do universo) buscando melhores formas de provar suas
teorias e crenças por meio do logos (dialogo), desenvolveram a área da physis
(físico, estudo da natureza) e por conta dessa já foram enxergados como físicos e
químicos diante de muitas teorias que apresentavam sobre a constituição da matéria
e funcionamento da natureza em si. Adicionalmente seus conhecimentos chegavam
em outras áreas como matemática, medicina, geografia, relações públicas etc.
Posteriormente direcionavam seus ensinamentos ao público, estudantes e colegas.

Os vanguardistas que deram origem a esse movimento, alguns conhecidos


como “os sete sábios”, estabeleceram os elementos naturais como base de seus
paradigmas e estudos, a seguir alguns nomes importantes, Tales de Mileto (624-558
a.C.), fundador da escola jônica, por muitos historiadores ainda é considerado
primeiro filosofo ocidental e apontou sua arché (substancia primordial do grego,
aquilo do qual toda a criação partiria) a água, onde havia água também haveria a
vida. Após Tales vem Anaxímenes (585-524 a.C.) e Anaximandro (610-546 a.C.),
ambos seus alunos também da cidade de Mileto, o primeiro afirmava ser o ar sua
arché criadora, relacionado a ideia de religião-natureza o ar e a alma preencheriam
todo o mundo; Anaximandro por outro lado optou por um caminho diferente, Apeiron
(o ilimitado) o universo sempre e expansão e sem limites. Por fim revela se Heráclito
(540-470 a.C.), nascido em Eféso e de origem aristocrática, interpretava uma arché
em constante movimento e onde os opostos se conflitam, o fogo, o movimento
transformador, “devir” que deu origem a famosa frase:

Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se
entra novamente, não se encontra as mesmas águas, e o próprio ser
já se modificou. Assim, tudo é regido pela dialética, a tensão e o
revezamento dos opostos. Portanto, o real é sempre fruto da
mudança, ou seja, do combate entre os contrários. (HERÁCLITO).
A frase citada anteriormente pertence a Heráclito e foi concebida para
evidenciar sua ideia de substancia primordial, esse fragmento de seu pensamento
assim como da maioria dos filósofos arcaicos pode ser de difícil obtenção,
consequência de sua cultura em torno dos diálogos que não requisitava registros
recorrentes.

O século VI foi o principal responsável pela mudança e impactos na cultura e


na sociedade grega, tão logo a moral e a ética, novas situações geográficas e
políticas remodelaram o comercio, atingindo o valor da moeda na região, a
propriedade passou a ser mais concentrada na mão de poucos, a área militar pouco
antes era um território que poucos poderiam adentrar. A areté (virtude ou
excelência) pouco antes do período pré-socrático só podia ser alcançada por
poucos, por exemplo, os “hoplitas’’ (cavaleiros da antiga Grécia que possuíam a
coragem e a maestria em combate, atingiam o status de líder e virtude e eram bem
quistos pelos deuses e cidadãos), para se elevar a esse patamar despesas eram
necessárias e até mesmo uma origem nobre porém, a nova onda de pensamento
nascida antes dos pré-socráticos e consolidada com estes se compunha de críticas
a esse modelo, instaurado Hesíodo (poeta da antiguidade grega, seus textos
falavam sobre os deuses e contos míticos, implantando o pensamento clássico da
época sobre como se portar para ser bem visto pelos homens e pelos deuses),
agora modelos de Hesíodo eram deixados de lado para se iniciar uma nova
estrutura; a busca por uma cosmologia e novo modelo de cidadão, qualquer um
poderia se tornar um hoplita desde que possuísse o dinheiro para comprar
armaduras e armas, na ágora o logos tanto escrito quanto discursivo recebeu
reconhecimento e podia ser utilizado por todos, a areté se tornou mais acessível ao
povo mesmo diante dos conflitos que vivenciaria com os aristocratas.

A moral do pré-socrático é partilhada, todos buscavam a arché e se portavam


de forma a buscar “o melhor de si mesmo”. A nova onda de mudança chegou no
ambiente das relações públicas; Pitágoras (582-497 a.C.), nascido na ilha de Samos
no mar Egeu e fundador de sua escola, chegou a escrever textos sobre a lei e a
moral atingindo boa parte da população numa nova forma de se portar, Sólon (638-
558 a.C.), ateniense e legislador, iniciou reformas nas estruturas sociais e políticas
da cidade de Athenas, se entrepôs no crescente conflito de injustiças do povo e a
nobreza da cidade, sem tomar partido por nenhum dos lados. Escravidão por dívida,
assassinatos, furtos, etc. leis responsáveis por vários casos foram repensadas e
reestruturadas, algumas passaram a ser de prioridade do estado, portanto, não eram
mais processadas e julgadas no particular.

A origem dessa nova forma de pensar que permitia a qualquer homem grego
encontrar o melhor de si e, assim, se tornar virtuoso, possui sua gênese pouco antes
dos pré-socráticos, um momento onde a hybris (excesso) passa a ser condenada
porque o homem não deve se render aos excessos e vícios da vida (sexual,
material, narcísico), e a sophrosyne (moderação) agora é valorizada. O homem
grego busca a sophrosyne para alcançar um caráter moderado e justo, esse preceito
vai ganhar força e forma para ser presente na moral do grego pré-socrático.

Essa nova face da moral está intimamente ligada ao proverbio “conhece-te a


si mesmo” comumente associado à Sócrates, mas que na realidade já era uma ideia
existente antes deste. Conhecer você mesmo está ligado ao oraculo de Delfos
(Famoso oraculo do povo grego antigo, recebia visões entregues pelos deuses para
guiar e alertar os homens na terra) e o sua interpretação bruta se direciona a noção
de autoconhecimento, valorizar seu EU numa relação de buscar compreende-lo se
aprofundando no caminho dos sábios, da bondade e justiça; é necessário saber
quem tu és para se consultar com o oraculo pois, somente nesse estado, você é
capaz de dar à luz sua real pergunta aos deuses. Observa se mais claramente como
a religião também passou por uma ascensão (junto da moral, ética, política grega) e
ainda faz parte do crescimento cultural da Grécia, “conhece-te a si mesmo” se aplica
a todo homem que busque ser sábio e evita excessos.

A ética grega pode ser mais evidente agora, nesse conhecer a si mesmo,
uma espécie de excelência moral guia que foca o “si” mesmo de maneira
individualizada, onde segue o raciocínio: se me conheço, uso da sophrosyne e tão
logo detenho total controle sobre mim mesmo, possuindo esse poder carrego a
responsabilidade inegável de me responsabilizar por meus atos, tanto criminosos
e/ou ofensivos como outros de menor calão. Um cidadão acusado de um crime deve
se defender caso esteja sendo injustiçado ou assumir sua culpa e pagar seus
tributos diante do estado e dos deuses, porém a tendencia de um cidadão que
cometa crimes seria de alguém sem arethé, sem virtudes (moderação, bondade,
justiça, sabedoria) ou seja, uma pessoa sem ética e imoral. As buscas dos sábios,
pré-socráticos, cidadãos, acaba alinhando moral e eticamente; buscar conhecer a si
mesmo para possuir domínio de si, por conseguinte sendo capaz realizar suas
funções sociais que lhe desrespeitam e adicionalmente focar precisamente em seus
objetivos, busca pela nova cosmologia, reorganização do cidade-estado incluindo
leis e direitos, repensar relações sociais.

O caminho seguido pelos pré-socráticos apesar de possuir um objetivo em


comum, entrelaçando seu modo de agir no mundo, seus paradigmas possuíam
muitas divergências, como foi dito na primeira parte desse texto eles variavam entre
elementos como água, fogo, ápeiron, ar, etc. Com o tempo as preocupações com a
origem e criação do mundo foram se tornando secundarias na sociedade, ainda se
devolviam conhecimentos sobre a natureza, física e química, no entanto, a
emergência dos sofistas (professores itinerantes que ensinavam aos demais
cidadãos da cidade mediante uma compensação monetária) surgidos numa época
na qual o povo grego estava ligado e interessado na política e relações públicas,
esses ditos professores deixaram de lado a pesquisa sobre questões naturais e
focaram nas discussões da vida pratica e relações civis no cotidiano da cidade-
estado. Finalmente é possível reconhecer, apesar de qualquer conflito na dinâmica
da moral e ética pré-socrática, seu impacto e importância no legado da Grécia
enquanto mãe da filosofia, essa foi a sociedade que deu luz a pensadores como
Sócrates, Platão, Aristóteles, etc. Todos herdariam o legado, ou parte deles,
deixados pelo período pré-socrático.
Resumo

O presente trabalho visa o objetivo de apresentar as noções e a realidade da moral


e a ética durante o período do século V ao VII, momento onde nasceriam os
primeiros filósofos da história, os pré-socráticos que buscavam a origem da criação,
uma substancia primordial, junto deles uma iminente mudança no cenário do mundo
grego, afirmando o nascimento de uma nova visão de mundo e transmutando os
ideias, a política, a arethé, tudo então convergindo para uma nova forma de viver em
sociedade de forma ética e de acordo com a moral vigente trazida pelos novos
pensadores, da ciência e filosofia.

PALAVRAS-CHAVE: Arethé. Moral. Ética. Filosofia.

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