2 - Formação Bíblica Pág. 1-138 Gn-2Rs
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2 - Formação Bíblica Pág. 1-138 Gn-2Rs
Bíblia
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Beabá da Bíblia – Ir. Rosana Pilga,fsp – Ed. Paulinas
Curiosidades
1. A Bíblia já foi escrita com capítulos numerados, como temos hoje?
Não. Nenhum livro da Bíblia foi escrito com capítulos numerados. Quem teve a idéia de dividir a Bíblia em
capítulos foi Estêvão Langton, arcebispo de Cantuária, professor na Universidade de Paris, em 1214 d.C.
2. Quem fez a divisão em versículos?
Em 1551 Robert Etiene, redator e editor em Paris, fez a experiência dividindo o NT de língua grega em
versículos.
Teodoro de Beza gostou da idéia e em 1565 dividiu toda a Bíblia em versículos.
3. Por que eles dividiram assim os livros da Bíblia?
Eles fizeram isso por dois motivos: facilitar as citações dos textos bíblicos e encontrar rapidamente os
textos citados.
4. Como a gente encontra na Bíblia os capítulos e os versículos?
Na citação, capítulo é o número que vem antes da vírgula, e versículo é o número que vem depois da
vírgula indicando onde começa e onde termina. Exemplo: Gn 11,1-9, isto significa que você deve
procurar o livro do Gênesis capítulo 11, versículos de 1 a 9. Na Bíblia, o capítulo é escrito em algarismo
grande e o versículo em algarismo pequeno. Repare, também, a abreviatura do livro do Gênesis (Gn).
Você deve aprender de memória as abreviaturas. Veja a lista no início de sua Bíblia.
5. Quem traduziu pela primeira vez toda a Bíblia e quando ela foi impressa assim como a temos hoje?
A primeira tradução, e a mais famosa, da Bíblia para o latim é a de são Jerônimo, conhecida como Vulgata
(do latim = a divulgada). Isto aconteceu por volta do ano 400 d.C., a pedido do Papa Dâmaso. Na
verdade, a primeira tradução da Bíblia foi a tradução da Bíblia hebraica (dos judeus) para o grego,
conhecida como tradução dos LXX (70), muito usada na época de Jesus e das comunidades.
6. E antes de surgir a imprensa, como a Bíblia se apresentava?
De diversas formas: em pedaços de papel vegetal; em rolos de pergaminhos (couro de animal); em papiro
(espécie de papel vegetal) e em "folhas".
7. A Bíblia de edição protestante é diferente das Bíblias de edições católicas?
O Novo Testamento é igual para todos. O Antigo Testamento na Bíblia de edição católica tem sete livros
a mais: Estes livros são: Tobias; Judite; 1º e 2º Livro dos Macabeus; Sabedoria; Eclesiástico; Baruc, que
são da tradução grega.
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O povo aumenta, mas não inventa
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Esta é uma pergunta que muitos se fazem. A Bíblia antes de ser escrita foi vivida, e depois foi
contada pelos pais e mães aos filhos. De geração em geração. Veja os Salmos 44; 78,3-4; 145,4; Ex 10,2.
Este período, que durou aproximadamente 900 anos, chama-se Tradição Oral.
A Bíblia começou a ser escrita durante o reinado de Salomão, por volta do ano 950 aC. Hoje, por
respeito à cultura judaica, alguns já preferem chamar o Antigo Testamento de Primeiro Testamento. O
Antigo Testamento ficou pronto por volta do ano 50 aC., e o Novo Testamento no final do I século.
Portanto, a Tradição Escrita durou aproximadamente outros 900 anos. Como mãe, que gesta seu filho na
intimidade oculta, e no entanto lhe fala... Assim Deus agiu com seu povo.
A BIBLIOTECA DA BÍBLIA
A divisão da Biblia
A Bíblia está dividida em duas grandes partes:
* O Antigo Testamento, que se abrevia AT, contém os livros que narram a história do Povo da
Bíblia e foram escritos antes de Cristo (aC.). Correspondem à primeira etapa, ou seja, Primeira
Aliança.
* O Novo Testamento, que se abrevia NT, contém os livros que narram a vida de Jesus e das
primeiras comunidades cristãs. Contam a história do novo Povo de Deus e foram escritos depois de
Cristo (d.C.). Correspondem à segunda etapa, ou seja, Nova Aliança.
A palavra Bíblia vem da língua grega e indica o conjunto de muitos livros. De fato, a Bíblia é uma
biblioteca de 73 livros de épocas, autores e estilos diferentes (veja o desenho e repare as diferentes
estantes).
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A Biblioteca da Bíblia
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Escritos = livros de: Salmos, Jó, Eclesiastes, Provérbios, Daniel, Lamentações, Ester, Ruth,
1-2 Crônicas, Esdras, Neemias e Cântico.
Total 73 livros.
Abra a sua Bíblia no índice e vamos conhecer o nome de todos os livros e de cada estante.
Antigo Testamento
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O Pentateuco - Os primeiros cinco livros do AT são chamados Pentateuco.
É uma palavra da língua grega que significa cinco livros. Eles contêm a Lei da Primeira Aliança.
Eles são chamados também de TORÁ (= Lei). São eles:
* Gênesis (abreviado Gn) = origens. O povo faz suas reflexões sobre perguntas existenciais, como:
Quem somos? Por que estamos neste mundo? Por que existe maldade? Onde está Deus? E reflete também
sobre as origens de sua história como Povo de Deus a partir da consciência que eles têm do Deus que é
fiel e caminha com eles.
* Êxodo (Ex) = saída. Reflete sobre a saída do povo hebreu do Egito sob a liderança de Moisés,
Aarão e Miriam.
* Levítico (Lv) = levita. Traz reflexões e leis referentes ao culto, aos servidores do culto (os
levitas) e às obrigações dos sacerdotes do Povo da Bíblia.
* Números (Nm) = lista. Este livro começa contando o número dos habitantes de Israel. Faz um
recenseamento.
* Deuteronômio (Dt) = segunda lei. Traz as reflexões sobre a releitura da lei e sua nova
proclamação. Faz um convite a uma vida de conversão e penitência.
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Livros históricos
São 16 os livros históricos e narram a história da formação do Povo da Bíblia com a vida, nome,
lutas e a fé de seus heróis e do próprio povo.
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Livros sapienciais
São sete os livros sapienciais ou de sabedoria. Nesses livros encontramos reflexões e expressões
de sabedoria, poesias, cantos, orações, hinos, provérbios nos quais o povo registra seus sentimentos e
expressa sua sabedoria tirada da experiência da vida.
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Livros proféticos — São 16 os livros proféticos. Estes livros trazem a mensagem, a ação e
alguns dados sobre a vida dos profetas. Entre eles estão outros três livros: o livro das Lamentações, o
livro de Baruc que têm uma marca profética, e Daniel, de cunho apocalíptico.
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Novo Testamento
Mateus, Marcos e Lucas são também chamados de evangelhos sinóticos porque colocados em
colunas paralelas se pode perceber muita semelhança entre eles (ver Mc 3,1-4; MT 12,9-14; Lc 14,1-6).
Atos dos Apóstolos (abreviado At.) — Este livro narra sobretudo a reflexão de Lucas sobre os atos
dos Apóstolos, mas especialmente de Pedro e de Paulo. Descreve, também, um pouco da organização e
das dificuldades de algumas das primeiras comunidades cristãs e reflete sobre isso com o olhar de Deus.
E assim que nos Atos está muito presente a ação do Espírito Santo. Ele é a força e a alegria profunda dos
Apóstolos e das comunidades.
Cartas — (Continuar olhando na Bíblia como se abrevia cada uma das cartas).
Cartas de Paulo — Hoje os estudiosos atribuem, com certeza, apenas sete cartas a Paulo:
As cartas pastorais — por se dirigirem aos líderes, ou seja, "pastores" das comunidades — são
a primeira e a segunda a Timóteo e a carta a Tito.
As cartas católicas — porque não se dirigem nem a uma comunidade e nem a um líder, mas a
todas as igrejas cristãs (católico significa universal) — são a carta de Tiago, a de Judas, as duas cartas de
Pedro, e as três cartas de João.
A "carta" aos hebreus é de autor desconhecido. Essa carta faz uma reflexão teológica sobre
Jesus Cristo, o grande sacerdote, mediador entre Deus e o povo. Tem o estilo de uma pregação e não de
uma carta.
O Apocalipse (abreviado Ap) — É um livro que reflete sobre a presença de Jesus na história e na
vida das comunidades em tempo de perseguição. Jesus é o Senhor, o Dono da história. A palavra
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apocalipse é da língua grega e significa tirar o véu, revelação. É a revelação de Jesus e das comunidades
que esperam na vitória de Deus. O Apocalipse é o último livro da Bíblia.
Testando a memória:
1. Que significa a palavra Bíblia?
2. Quantos são os livros da Bíblia?
3. Como se chamam as duas grandes divisões dos livros da Bíblia?
4. Quantos e quais são os livros do Pentateuco?
5. Quantos e quais são os livros históricos?
6. Quantos e quais são os livros sapienciais?
7. Quantos e quais são os livros proféticos?
8. Que significa a palavra evangelho? Quantos são os evangelhos? Do que tratam?
9. Quais são os evangelhos sinóticos? Por que recebem esse nome?
10. Quantas são as cartas de Paulo e de que falam?
11. Que são cartas pastorais? E cartas católicas?
12. Sobre o que reflete a carta aos hebreus?
13. Que significa a palavra apocalipse? Do que trata o Apocalipse?
14. Como aparece a ação do Espírito Santo no NT?
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O CAMINHO DE ISRAEL
O chão onde nasceu a Bíblia
A Bíblia nasceu no meio de um povo do Oriente Médio que morava perto do Mar Mediterrâneo. No
tempo de Abraão se chamava terra de Canaã, por causa dos cananeus que já moravam naquela terra. No
tempo da formação do povo se chamou terra de Israel. Bem mais tarde toda essa região recebeu o nome
de Palestina.
A Palestina era um famoso corredor de passagem para quem vinha do Oriente para o Ocidente, e
ligava a Ásia com a África e a Europa. Foi para ali que Deus guiou o seu povo. Um povo que como tantos
outros sofreu a influência de seus vizinhos. Do lado do Oriente: Assíria, Babilônia e Pérsia. Do lado do
Ocidente: Egito, Grécia e Roma. Hoje a Palestina ocupa, no planeta Terra, uma área de aproximadamente
25 mil km2 (ver mapa 1).
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sai com sua família e vai até o Egito e retorna para morar na terra de Canaã. Isto acontece por volta do
ano 1850 aC. (ver Gn 12).
Em Canaã nascem os filhos e os netos. A família vai se multiplicando, vai se unindo a outros grupos de
empobrecidos. Vão formando clãs e tribos (ver Gn 25).
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Abraão, Isaac e Jacó são chamados de PATRIARCAS. Sara, Rebeca, Lia e Raquel são chamadas
de MATRIARCAS. São os fundadores do Povo da Bíblia (ver Gn 29). Jacó é também chamado ISRAEL
(ver Gn 32,23-33).
Josué organiza com eles a Assembléia de Siquém e todos decidem colocar em comum a
experiência da opressão, a produção, as tradições e a fé num único Deus (ver Js 24). Mais tarde, essa
experiência de libertação será celebrada com o nome de Páscoa (saída, passagem). Depois da morte de
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Josué, o povo, organizado em 12 tribos, é liderado pelos Juízes, mulheres e homens, chefes sábios e
corajosos, que defendem o povo dentro de um sistema fraterno e igualitário: o Sistema Tribal. O último
dos juízes é Samuel.
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Testando a memória:
1. Como se chama a terra onde nasceu o Povo da Bíblia?
2. Esta terra teve também outros nomes. Quais? E por que é tão famosa?
3. Por que o Povo da Bíblia escreve sua história? Em que línguas a escreve?
4. Como se chamam os primeiros pais e mães do Povo da Bíblia?
Quais são os nomes de cada um deles?
5. Por que os descendentes de Jacó vão para o Egito?
6. Por que os faraós escravizam os hebreus? Quantos anos durou esta escravidão?
7. Quem chefia o movimento de libertação? E quem leva o povo de volta para a terra de Canaã?
8. Quatro grupos de oprimidos entram na formação do Povo da Bíblia. Quais são?
O que eles colocaram em comum?
9. Com que nome Deus se apresenta? Qual é o significado deste nome?
10. Como se chama a maior festa da libertação?
11. Quem eram os juízes? E como se chamava o sistema político que eles defendiam?
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Os primeiros reis
O povo hebreu começa a invejar o sistema dos outros povos e pede para Samuel que lhe dê um rei
(ver lSm 8,1-22). Samuel alerta o povo para os perigos da monarquia. Os primeiros reis de Israel são:
Saul. Davi e Salomão. Saul é o primeiro rei. Seu governo é muito breve, de transição (ver 1Sm 10 e 11).
O segundo rei é Davi. A Bíblia diz que ele governou segundo o coração de Deus, mas peca também (ver
2Sm 5,1-4 e 12,1-13). O terceiro rei é Salomão, filho de Davi (ver 1Rs 1). Ele constrói o palácio e o
templo. Chama à corte, sábios para que comecem a escrever a história do povo de Israel (rever as pp. 7, 8
e 9). Salomão é um rei sábio e orgulhoso. Contrai muitas dívidas à custa do povo. Para sustentar seu trono
faz aliança com os reis vizinhos e casa-se com muitas mulheres estrangeiras. Assim começou a introduzir
em Israel a idolatria (ver 1Rs 11,1-12) e o Sistema Tributário (ver 1Rs 5,1). Com a morte de Salomão, por
volta de 930 aC., o reino de Israel é dividido em dois: ao Norte com o nome de Israel e ao Sul com o
nome de Judá (ver 1Rs 12,12-24).
O reino do Norte/Israel se desenvolveu rapidamente. E formado pelas dez tribos que se apegam
mais às tradições de Moisés. O primeiro rei do Norte é Jeroboão (ver 1Rs 11,26-40). O reino do Sul/Judá
é constituído pela tribo de Benjamin e Judá, da qual recebe o nome. O reino do Sul se apega mais às
tradições do rei Davi.
Mas as grandes potências da época não deixam o Povo da Bíblia em paz.
O reino de Israel
O reino do Norte não resiste por muito tempo. Seus reis exploram o povo. Fazem coligações com
outros reis e lhes pagam altos tributos. Constroem santuários para as divindades (Baais) e colocam
bezerros de ouro, símbolos da força, como representação de Javé-Deus. Assim, os reis de Israel levam o
povo ao pecado da idolatria e quebram a Aliança com Javé. Por volta do ano 722 aC. a Assíria, querendo
expandir seu império e castigar Israel, que não queria mais lhe pagar impostos, invade o reino do Norte e
toma posse daquela região. A classe alta é deportada para a Assíria. Israel desaparece tomando-se provín-
cia da Assíria (ver lRs 17,7-18). Alguns conseguem fugir para o Sul levando consigo os "escritos" que já
possuem.
O reino de Judá
O reino do Sul/Judá, que pretende ficar fiel a Davi, também comete muitos pecados. Apesar da ação
dos profetas os reis de Judá quebram a Aliança com Deus, introduzem a idolatria e desobedecem aos
Mandamentos (ver 2Rs 21,10-16). Mais ou menos 150 anos depois da destruição de Israel, o império da
Babilônia vence a Assíria e começa a exercer seu domínio sobre Judá. Os reis lutam para sustentar o reino
do Sul e reagem contra as invasões do império Babilônico.
Num primeiro tempo, o rei e sua família são presos e levados para a Babilônia. Num segundo
tempo a Babilônia invade Jerusalém, destrói o templo e a cidade (ver 2Rs 25,8-12). Os babilônios levam
os dirigentes e boa parte da população para a Babilônia, onde permanecem uns 50 anos (587 a 538 a C.).
É o tempo do EXÍLIO. Este é o período mais duro da história do Povo de Deus, pois perdem sua própria
identidade. Porém, é também o período mais rico de sua fé e do reconhecimento de quanto Deus os ama
(ver Sl 137; Ez 37,1-14).
Mas a Babilônia, por sua vez, é vencida pela Pérsia. Ciro, o rei dos persas, deixa o povo Judeu
voltar para a sua terra, porém o mantém sob seu domínio político.
Em 333 aC. a Palestina toda é conquistada pelo general grego, Alexandre Magno, rei dos
macedônios. Com a morte de Alexandre seus três generais dividem entre si o grande império grego.
De 177 até 163 aC. os judeus passam por outro período de grande provação e perseguição debaixo
do domínio grego e egípcio. E a época dos defensores da fé — o período dos macabeus (ver 2Mc 7,1-41)
e da expansão da cultura grega.
No ano 63 aC. Pompeu, general do exército romano, invade a Palestina e a reduz a uma província
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romana.
Um caminho de resistência
Nessa longa caminhada, o Povo da Bíblia cria sua resistência popular através da sabedoria do povo.
São histórias populares, novelas como: Rute, Judite, Ester, Jonas. São ditados populares como:
Provérbios, Eclesiástico. São reflexões profundas diante do sofrimento do justo, como o livro de Jó e
muitos Salmos. E a luta pela dignidade da mulher e do próprio povo, como nos mostra o Cântico dos
Cânticos. São orações, hinos, cantos e poemas, para guardar na memória como se constrói a história do
povo.
Nessa situação de frustração e sofrimento o povo sente ainda mais viva a esperança de um Messias.
Um novo Davi, que venha para governar com justiça e salvar o povo de tanta opressão (ver Is 42,1-9).
Os livros que foram escritos desde o tempo de Salomão, de 930 aC. até aproximadamente 50 aC.,
formam o Antigo Testamento.
Testando a memória:
1. Como se chamam os primeiros reis do Povo da Bíblia?
2. Qual é o pecado de Davi?
3. Quem é Salomão e o que fez?
4. Como se chamam os dois reinos depois da divisão?
5. Quantas tribos formam o reino do Norte e quantas o reino do Sul?
6. Como se comportam os reis de Israel e de Judá?
7. Como se chamam os povos que dominam o Povo da Bíblia?
8. Que é o "Exílio na Babilônia?" Em que ano acontece e quanto tempo dura?
9. Qual é a nova esperança que nasce nesse período de grande sofrimento e frustração?
10. Quem é Ciro? O que fez?
11. A monarquia foi um sistema de governo positivo?
12. A Bíblia foi escrita de uma só vez?
A Aliança
A maior demonstração de amor entre duas pessoas ocorre quando elas decidem fazer aliança, isto é,
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comprometer-se uma com a outra a ponto de cada uma buscar a felicidade da outra. O anel é símbolo de
comprometimento de ambas as partes. Por isso nós costumamos chamar de aliança o anel de casamento.
Deus faz Aliança com seu povo e promete buscar sua felicidade. E Deus espera do seu povo fidelidade
total. Ao longo da caminhada o povo percebe que o amor de Deus "é forte, como a morte!" E que as
águas das dificuldades jamais poderão apagá-lo (ver Ct 8,6-7).
Porém, o povo falhou muitas vezes. Foi infiel. E, no entanto, Deus permanece sempre o mesmo.
Cheio de misericórdia acolhe outra vez o seu povo. O livro do Êxodo nos conta como Deus celebrou essa
Aliança com seu povo depois que atravessou o deserto e chegou ao monte Sinai. Aí Deus revelou o seu
grande amor (ver Ex 19,1-8 e 20,1-21).
Esta palavra "Aliança" recebeu outras traduções, como: "pacto", "testamento" etc. É São Paulo
quem vai chamar as Sagradas Escrituras de "Antigo Testamento" (ver 2Cor 3,14).
O Código da Aliança mostra as dificuldades enfrentadas pelas tribos, no seu esforço de viverem a
justiça (Ex 19-23).
A espiritualidade da Aliança
A Bíblia diz que Deus viu a aflição do seu povo, ouviu seus clamores e desceu para libertá-lo (ver
Ex 3,7). Fala também que o Povo da Bíblia atribuía a libertação à luta e à fé de Moisés, Miriam, Aarão e
Josué (ver Ex 3,10-12). A libertação é fruto do amor de Deus, da sua vontade de libertar seu povo. A
libertação continua a obra da criação.
"Eu sou Javé, teu Deus",
que te fez sair do Egito,
da casa da escravidão!”(Ex 20,2).
Os profetas gostam de recordar este amor de Deus para com seu povo como o amor de um esposo
para com sua esposa (ver Os 2,21-22), ou como mãe carinhosa (Os 11,3-4) ou como um filho querido (Jr
3,19). Assim, o Povo da Bíblia vai descobrindo, cada vez mais, quais são os laços que o ligam a Deus e
dizem: "de verdade, Deus nos ama!". Em vez de aliar-se a poderosos impérios, fazem Aliança com o
próprio Deus (Jr 32,38-41). Fazer aliança significa assumir um compromisso de fidelidade total. A
espiritualidade da "Aliança" perpassa toda a Bíblia e toda a vida.
Testando a memória:
1. Quem vem antes: a Bíblia ou a vida? Qual das duas é mais importante?
2. Qual é a diferença entre o Povo da Bíblia e os outros povos?
3. Como se chama a descoberta que o Povo da Bíblia fez?
4. Qual era o grande desejo do povo?
5. Por que Jesus é a grande comunicação do Pai?
6. O que quer dizer: "Deus fez Aliança com seu povo"?
7. O povo foi infiel à Aliança? E Deus, como se comporta?
8. Quem realiza a Nova Aliança?
9. Quantos são os Mandamentos de Deus? Quais são? (ver Ex 20,1-17).
10. Por que o Povo da Bíblia considera a Lei um presente de Deus?
11. Quem são os profetas?
12. Qual é sua missão? Recorde o nome de alguns profetas.
O CAMINHO DEJESUS
Jesus em Hebraico
Já vimos como Deus foi se revelando ao povo no Antigo Testamento. Como ele o libertou da
escravidão do Egito, o acompanhou carinhosamente durante toda a caminhada (ver Os 11,1-4), o
introduziu na terra de Canaã. Depois deu sua lei como um caminho de felicidade e fez Aliança com seu
povo esperando dele uma resposta de fidelidade. Mas essa resposta nem sempre foi dada. Então surgiram
os profetas que lembravam aos chefes e ao povo o seu compromisso de fidelidade.
Um novo reinado
Jesus inicia a sua missão dizendo: "O prazo já se esgotou. O Reino de Deus acabou de se
aproximar. Convertam-se e creiam no Evangelho" (ver Mc 1,15). O Reino acabou de se aproximar, mas
não de chegar. Teremos sempre de fazê-lo acontecer.
Começa um novo reinado - um Deus no meio de nós. Em Jesus, tudo é revelação daquilo que o
anima por dentro! Chama discípulos e discípulas a segui-lo; consola quem está triste; acaricia as crianças;
cura os doentes; perdoa os pecadores; ensina a rezar; acolhe os marginalizados; espalha bondade e paz;
revela o rosto de Deus e proclama um novo mandamento: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo
como a si mesmo.
Testando a memória:
1. Quem é Jesus?
2. Recorde alguma palavra ou gesto significativo de Jesus.
3. O que é o Reinado de Deus?
4. Qual é o novo ensinamento de Jesus?
5. A morte de Jesus foi um fracasso? O que ela significa para os cristãos?
6. Qual é a Boa Notícia que os apóstolos anunciam?
7. O que significa para os cristãos a ressurreição de Jesus? E qual é a maior festa do cristianismo?
8. Por que os cristãos interpretam as Escrituras com olhos novos depois da ressurreição de Jesus?
9. O que é que faz surgir a comunidade cristã?
10. Qual é a ação do Espírito Santo nas comunidades? E nos seguidores de Jesus?
Conforme já falamos, a Bíblia é um livro feito em mutirão. Tanto o Antigo como o Novo
Testamento. Além dos apóstolos, certamente outras pessoas contribuíram para a formação dos
evangelhos. Eles nascem da memória viva das comunidades (ver At. 21,8; Ef 4,11).
Marcos - O evangelho de Marcos é o primeiro ser redigido, por volta do ano 65 d.C. Marcos
apresenta o Evangelho de Jesus, Filho de Deus (ver Mc 1,1). Fo escrito em língua grega popular. É o
evangelho que narra os acontecimentos ainda muito próximos de Jesus de Nazaré da Galiléia, que passou
fazendo o bem a todos, e foi entregue à morte pelas autoridades civis e religiosas. Esse Jesus, que é o
Filho muito amado de Deus, foi crucificado. A comunidade de Marcos reflete que somente os que seguem
a Jesus pelo caminho da renúncia e da cruz vão saber quem é Jesus. Estes se tornam seus discípulos suas
discípulas e conhecerão o Filho de Deus.
Mateus - Mateus apresenta Jesus com o título de Emanuel: "Deus conosco" (ver MT 1,23). O
Evangelho de Mateus foi escrito em língua grega, e ficou pronto entre os anos 70 e 80 d.C. A comunidade
de Mateus reflete sobre as atitudes e ensinamentos de Jesus. Percebe que Jesus não é apenas o Messias
que realiza as promessas do AT, mas vai mais longe. Ele refaz e realiza a esperança do povo. Ele realiza
as obras da justiça. Ele é Deus no meio de nós! Assim, aquele que praticar a justiça e andar na lei do amor
conhecerá a verdade e fará parte do Reino de Deus (ver Mt 5,17-20).
Lucas - Lucas apresenta o caminho de Jesus como um caminho que se realiza na história.
Caminho que revela a misericórdia do Pai (Lc 15,3-7). O evangelho de Lucas foi escrito em língua grega
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e ficou pronto por volta dos anos 80-85 d.C. Ele é a primeira parte de uma obra. A segunda é os Atos dos
Apóstolos, que continua o caminho da Igreja. A comunidade de Lucas reflete sobre o caminho de Jesus
como um caminho que se realiza na história e que para percorrê-lo o Filho de Deus se encarna e entra na
história como pessoa humana. Assim, Jesus traz para nós o Projeto de Deus que inicia um novo
relacionamento a partir dos pobres, dos oprimidos e excluídos. Somente aquele que andar pelo caminho
de Jesus que se faz na misericórdia, no perdão, na partilha encontrará o Filho de Deus e este o ressuscitará
no último dia (ver Lc 15,11-32).
João - O evangelho de João, escrito em língua grega, é do final do primeiro século, 90-100 d.C.
Ele é muito diferente dos outros três nos quais encontramos muitas palavras de Jesus e muitos milagres.
Em João encontramos sete milagres de Jesus. Por isso ele é chamado: o evangelho dos sinais. Mas para o
Povo da Bíblia o número 7 tem significado de plenitude. Os sete sinais em João querem significar a
plenitude da vida que Jesus veio trazer com sua vida, paixão, morte e ressurreição (ver Jo 10,10).
Portanto, em João, Jesus é o caminho da vida. A comunidade joanina reflete no grande sinal de vida
plena que é o próprio Jesus. Ele é enviado pelo Pai para conquistar a vida em plenitude para todos os que
acreditam que ele é o Filho de Deus, o Cristo, que tem o poder de Deus para da vida plena. Somente
aquele que acreditar e realizar as obras da vida entrará na vida eterna. Cada um é livre para aceitar ou
rejeitar o Cristo, Filho de Deus. Mas quem c aceitar terá a vida, e quem o rejeitar terá a condenação (ver
Jo 8,23-26). O grande sinal dessas atitudes é o amor a Deus e ao próximo (ver Jo 13,12-17.34-35).
Testando a memória:
1. Como nasceram os evangelhos?
2. Como Marcos apresenta Jesus?
3. Quais são as condições para ser discípulo e discípula de Jesus?
4. Como Mateus apresenta Jesus?
5. Que é preciso para entrar no Reino de Deus?
6. Como Lucas apresenta Jesus?
7. Como podemos participar do caminho de Jesus?
8. Como João apresenta Jesus?
9. Por que o evangelho de João é diferente dos outros?
10. Descubra no evangelho de João os sete grandes sinais.
11. Qual é o grande sinal da vida?
12. Grave na mente e no coração: Jo 15,17.
O caminho da oração
Jesus foi um homem de muita oração. Os primeiros cristãos conservaram uma imagem de Jesus
oraste. De fato, a respiração de Jesus era fazer a vontade do Pai (ver Jo 5,19). Sua oração era constante:
"Eu, a cada momento, faço o que o Pai me mostra para fazer!" (Jo 5,19.30). Em muitas circunstâncias e
sobretudo nos momentos decisivos, ou difíceis, Jesus entra em oração. Ele mistura sua vida com os
Salmos, que, como todo judeu piedoso, conhecia de memória (ver Mc 14,34 e S1 42,5.6; Mc 15,34 e
S1 22,2; Lc 2,46-50; 3,21; 4,1-2; 10,21; Mt 26,38; Mc 7,34; 10,16; Jo 17,1-26).
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"A escola de Jesus era, antes de tudo, a vida em casa, na família, na comunidade. Foi lá que
aprendeu a conviver, a rezar e a trabalhar. O povo rezava muito naquele tempo. Todos os dias, de manhã,
à tarde e à noite. Até hoje se conservam aquelas orações. Desde criança, eles aprendiam os Salmos de
memória. A mãe ou a avó os ensinava" (ver 2Tm 1,5; 3,15).
(Do livro Com Jesus na contramão, do frei Carlos Mesters, Paulinas, 1995)
Bíblia Sagrada
Toda a Bíblia é narração, sob a inspiração do Espírito Santo, das experiências concretas de um
povo à procura de Deus e da ação desse Deus se revelando a este povo. Por isso, a Bíblia, como principal
fonte da fé, deve ser lida no contexto da vida, porém à luz da Tradição e do Magistério, que são a garantia
para nós de uma correta interpretação (cf. Dv 2-6; P 372; 1001).
BÍBLIA - A palavra Bíblia vem do grego (= os livros; os textos escritos em caniço de Biblos) . É
o conjunto de todos os livros do AT e do NT, a coleção completa de tudo o que foi escrito sob inspiração
do Espírito Santo.
TRADIÇÃO - é a Palavra de Deus não escrita mas transmitida de viva voz e conservada pela Igreja em
seus ensinamentos, na liturgia e na disciplina.
INSPIRAÇÃO –
* Deus moveu a inteligência do homem a formar idéias claras a respeito do que Ele queria que
fosse escrito: algumas idéias ele adquiria informando-se ou meditando; outras ,cujo conhecimento
superam a inteligência humana, eram-lhes fornecidas por revelação.
19
*Por fim, acompanhou-o enquanto escrevia, para que relatasse tudo e só o que Ele desejava. No
entanto, a inspiração não exclui que cada autor conserve o seu estilo próprio: daí a variedade incrível
entre os muitos livros.
O conceito de inspiração é bem ilustrado pela analogia do homem que, com um pedaço de giz,
escreve sobre o quadro-negro. O efeito produzido na pedra se deve atribuir tanto ao escritor como ao seu
instrumento; um sem o outro não o produziria. E nesse efeito encontram-se inevitavelmente os vestígios
de um e outro agente: ao homem se deve atribuir os pensamentos expressos, ao passo que ao giz se deve
reduzir a forma visível dos mesmos na pedra (cor, grossura, certa graciosidade, etc...) Analogamente se
relacionam Deus e o hagiógrafo na composição dos livros Sagrados: as idéias ensinadas pela obra provém
primariamente de Deus, autor principal; todavia a forma literária, a veste, que serve para exprimir tais
idéias, é condicionada ao hagiógrafo.
DIVISÃO DA BÍBLIA
2 . Os livros Históricos: Josué, Juízes, Rute, os dois livros de Samuel os dois livros dos
Reis, os dois livros das Crônicas, os dois livros de Esdras e Neemias, Tobias, Judite e Ester, e por fim os
dois livros dos Macabeus.
4 . Os Livros Proféticos: designado pelo nome dos Profetas: Isaías, Jeremias (ao qual se
acrescentam as Lamentações e Baruc), Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias,
Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.
NT – contém 27 livros que narram a vida e os ensinamentos de Jesus e dos Apóstolos e a história
dos primeiros 60 anos da Igreja. E são assim distribuídos:
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1 . Cinco Livros Históricos: Os Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas, João); e os Atos dos
Apóstolos.
2 . Vinte e uma carta dos Apóstolos. São Paulo escreveu 13 cartas: Rm, 1Cor, 2Cor, Gal,
Ef, Flp, Col, 1Tes e 2Tes, 1Tm e 2Tm, Tit, Flm. As outras cartas são as seguintes: 1 de S. Tiago; 2 de S.
Pedro; 3 de S. João; 1 de S. Judas e a epístola aos Hebreus.
A narrativa do NT teve início com a primeira Epístola aos Tessalonicenses, escrita por Paulo pelo ano 50
ou 52. O último livro é Evangelho de São João, pouco antes de sua morte, pelo ano 98 ou 100,
encerrando-se a Revelação Bíblica e a Era Apostólica.
A palavra Testamento significa “pacto”, “contrato”, “aliança”.
A ESCRITA DA BÍBLICA
Três são as línguas bíblicas:
Aramaica – Entre outros descendentes de Sem, conta-se ainda Aram, do qual tomou nome a
nação araméia ou Síria, residente na Síria e na alta Mesopotâmia; era dotada de língua muito semelhante
ao hebraico, mais rica, porém, e sutil do que este. O aramaico se foi tornando cada vez mais comum entre
os povos do Oriente (principalmente em suas relações diplomáticas; cf. II Cron 18,26 )de modo a vir a
21
ser nos séc. IV/III a .C. a língua usual do próprio povo de Abraão (cf. Ne 13,24), ficando o hebraico
reservado para o culto sagrado; no tempo de Cristo, era o aramaico o idioma falado entre os judeus.
Grego- Língua em que foi escrito o Novo Testamento ( exceto a primeira redação de Mateus e a
Epístola aos hebreus ),bem como as traduções antigas do AT, sobretudo a dos LXX.
Foi essa língua que por uma simplificação paulatina em comparação com o grego clássico e por
uma pluriformidade bastante rica foi eminentemente apta para se tornar a língua internacional do período
helenístico, facilitando certamente, e não pouco, a expansão do Cristianismo. Na Bíblia aparece
impregnada de semitismo ( vocábulos e construções hebraicas e aramaicas ) pois foi utilizada por
escritores hebreus.
TRADUÇÕES
Foram feitas duas grandes traduções da Bíblia para o grego.
*PALESTINENSE - A primeira se chama Bíblia Palestinense ou Esdrina, cuja codificação começou
quase 500 anos antes de Cristo e terminou 100 anos depois de Cristo.
Os livros que apareceram nas duas traduções da Bíblia se chamam Protocanônicos. Estes são
aceitos por todos como inspirados.
VULGATA
*A crescente diferenciação das antigas traduções latinas, as deficiências do texto transmitido e a sua
linguagem pouco elegante, foram os motivos por que o Papa Dâmaso procurou efetuar uma revisão
drástica. Por ordem dele, São Jerônimo traduziu do hebraico ( ou aramaico ) , entre os anos 390 a 406
em Belém, todo o AT ( menos Br, 1Macabeus, 2Macabeus, Eclo e Sab ).
O NT , ele o corrigiu apenas. Essa tradução passou merecidamente para a história com o nome de
“Vulgata de São Jerônimo”, declarada pelo Concílio de Trento, em 1546, autêntica, porque “contém
positiva e fielmente a Palavra de Deus escrita”.
O nome “vulgata” por causa de sua larga divulgação; nome esse que antes estava reservado à versão
dos LXX ou à tradução latina da mesma.
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CÂNON BÍBLICO
Quase todos os livros do AT foram escritos em hebraico. Por que muitos judeus emigraram da
Palestina para Roma, Alexandria, etc., tornou-se necessário traduzir a Bíblia para o grego, língua falada
no mundo todo.
Cânon –vem do grego kanón = regra, medida , catálogo, ou lista dos livros; no sentido
eclesiástico: a lista dos livros do AT e do NT que a Igreja católica considera como inspirados e que, por
conseguinte, são a base e o critério de sua pregação do mistério da salvação “segundo as Escrituras”.
HISTÓRIA DO CÂNON NO AT
As passagens bíblicas começaram a ser escritas desde tempos anteriores a Moisés.
A escrita era rara e cara na antiguidade, Moisés foi o 1 o codificador das tradições orais e escritos de
Israel, no séc. XIII a C.
Essas tradições ( leis, narrativas, peças litúrgicas ) foram acrescidas no decorrer dos séc. , sem que
os Judeus se preocupassem com a catalogação das mesmas. Assim foi-se formando a biblioteca Sagrada
de Israel.
No séc. I da era Cristã deu-se um fato interessante: começaram a aparecer os livros cristãos
(cartas de S. Paulo , Evangelhos..) que se apresentaram como a continuação dos livros Sagrados.
Os judeus não tendo aceito o Cristo, tentaram impedir que se fizessem a aglutinação de livros
Judeus e livros Cristãos.
Por isto, segundo bons autores modernos vários rabinos reuniram-se no Sínodo de Jamnia ou
Jambes ao Sul da Palestina, por volta do ano 100 dC. A fim de estabelecer exigências que deveriam
caracterizar os livros Sagrados ou inspirados por Deus.
Critérios adotados:
1 – O livro Sagrado não pode ter sido escrito fora da terra de Israel.
2 – ... Não em língua aramaica ou grega, mas só em hebraico.
3 - ...Não depois de Esdras ( 458-428 aC)
4 - ...Não em contradição com a Torá ou Lei de Moisés.
Em conseqüência, os judeus da Palestina fecharam seu cânon Sagrado, com esses critérios.
Na Alexandria (Egito) havia próspera Colônia Judaica que, vivendo em terra estrangeira e falando o
grego não adotou os critérios nacionalistas estipulados pelos judeus de Jâmnia.
Os judeus de Alexandria chegaram a traduzir os livros Sagrados hebraicos para o grego em 250 a
100 a .C dando assim origem à versão grega dita “Alexandrina” ou dos “Setenta Intérpretes”(LXX).
Livros deuterocanônicos do AT e não aceitos pelos protestantes de Lutero: Tb, Jt, Sb, Br, Eclo, 1o e
o
2 Mac, além de Ester 10,4 a 16,24 e Daniel 3,24-90; e caps. 13 e 14. ( cf. dicionário enciclopédico da
Bíblia – Verbete Cânon (II) ).
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HISTÓRIA DO CÂNON NO NT
Deuterocanônicos: Hb, Ap, Tg, 2Pd, Jd, 2 e 3Jo. Vejamos o porque das hesitações:
5
* Hebreus- a carta não indica nem autor, nem destinatário. Os cristãos orientais a tinham como
Paulina, os ocidentais não. Entre os Latinos no meado do séc. III , os novacianos rigoristas ( que
ensinavam haver pecados irreversíveis) valiam de Hb 6,4-8.
Por isto, os autores ortodoxos relegaram Hb para o esquecimento até segunda metade do séc. IV quando
S. Ambrósio e S. Agostinho a reconheceram como carta canônica.
*Apocalipse : Nos 1os séc. discutiam-se a autoria Joanéia, entre os orientais. Também ocorria que
uma facção dita “Milenarista” apelava para Ap 20,1-15 a fim de afirmar um reino milenar e pacífico de
Cristo sobre a terra, antes da consumação da história.
*Tiago – Parecia contradizer Paulo em Rm e Gal: “ A fé sem as obras seria morta” .Tiago 2,14
–24 Prevaleceu, porém a consciência conciliável com Paulo: ao passo que este afirma que a fé sem obras
(sem mérito do indivíduo) basta para entrarmos na amizade com Deus ( ninguém compra a amizade) .
S. Tiago quer dizer que ninguém persevera na graça se não pratica boas obras ou se não vive de acordo
com a fé.
*Judas – Também foi discutida a autoria desta carta. Ademais cita os apócrifos “assunção de
Moisés v.9” e” apocalipse de Henoque v.14”.
*2Pedro e 2/3João – Também foram controvertidas nos três primeiros séc. por motivos de pouca
monta. A de 2Pd aparentemente é uma reedição ampliada de Jo. E a 2/3Jo sendo bilhetes pequenos, de
pouco conteúdo teológico, nem sempre foram considerados canônicos.
*******************************************
Apócrifo – ( Em grego “apókryphon”= oculto, secreto): nome que designa livros redigidos por
judeus ou por antigos cristãos segundo estilo das Escrituras Sagradas, mas carecentes de prerrogativa da
inspiração bíblica. Esses escritos podiam edificar os fiéis e gozar de certa autoridade; contudo não eram
lidos nas assembléias de culto público; donde a designação de “ocultos” ou “secretos.
O cânon Católico compreende 46 livros do AT ( ou, 47, se se conta como unidade distinta a carta
de Jeremias (= Baruc 6 ) e 27 livros do NT o que perfaz 73 livros Sagrados ao todo.
a) A Bíblia católica contém todos os livros inspirados por Deus, que são 73 ao todo: 46 do AT e
27 do NT A Bíblia protestante contém apenas 66 livros: 39 do AT e 27 do NT. Os sete livros que faltam
são: Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, 1 o e 2o Macabeus. Também faltam os capítulos 10 a 16
do Livro de Ester e os capítulos 3,13 e 14 do livro de Daniel.
24
b) A Bíblia católica traz sempre no pé de cada página notas explicativas para facilitar o leitor a
compreender melhor a Palavra de Deus. A Bíblia protestante não tem nenhuma nota, nenhuma
explicação.
FONTES PESQUIZADAS:
* Olhando de longe - Vemos o todo formando uma unidade. Fazendo transparecer o rosto de
Deus com os traços humanos de Jesus Cristo. É Jesus que , de maneira discreta, dá unidade a todas as
partes da Bíblia. A Bíblia parece uma imensa parede.
* Olhando mais de perto - Cada livro da Bíblia é diferente um do outro, mas apesar da grande
variedade consegue construir uma unidade tão forte e tão bonita.
* Olhando bem de perto - Vemos realidades humanas concretas e distintas, mostrando que a Palavra
de Deus se encarnou realmente em palavras humanas. Tornou-se igual à nossa palavra em tudo, menos no
erro e na mentira. A ação do Espírito Santo, que faz com que a Bíblia seja Palavra de Deus, não passa
pelos distantes fios de alta tensão, mas sim pela fiação da rede doméstica, embutida na parede dos
conflitos, das contradições das confusões da vida humana.
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* Olhando novamente de longe – Descobrimos que a Bíblia não é uma parede isolada; mas é a parede
de nossa casa. Olhando a Bíblia, estamos olhando para nós.
I . Introdução
II . Um pouco de história
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Lectio ( palavra latina que significa: colher)
A Lectio Divina, nada mais era do que a leitura que os cristãos faziam da Bíblia; é tão antiga
quanto a própria Igreja, que vive da Palavra de Deus e dela depende como a água da sua fonte (DV
7.10.21). A Lectio Divina é a leitura crente e orante da Palavra de Deus, feita a partir da fé em Jesus, que
disse: “O Espírito vos recordará tudo o que Eu disse e vos introduzirá na verdade plena”(Jo 14,26); O
NT, é o resultado da leitura que os primeiros cristãos faziam do AT à luz dos seus problemas e à luz da
nova revelação que Deus fez de si através da ressurreição de Jesus, vivo no meio da comunidade. No
início, não era uma leitura organizada e metódica, mas era a própria Tradição que se transmitia, de
geração em geração.
A expressão Lectio Divina vem de Orígenes. Ele diz que para ler a Bíblia com proveito, é
necessário um esforço de atenção e de assiduidade: “Cada dia de novo, como Rebeca ( Gn 24,15-21 ),
temos de voltar à fonte da Escritura!” E o que não se consegue com o próprio esforço, deve ser pedido na
oração, “pois é absolutamente necessário rezar para poder compreender as coisas divinas”. Deste modo,
chegaremos a experimentar o que esperamos e meditamos. A Lectio Divina é a espinha dorsal da VR.
Sistematização da Lectio Divina - Por volta do ano 1150 (séc. XII), Guigo, um Monge
Cartucho, escreveu um livrinho chamado, “A escada dos Monges”, a um discípulo seu ( Ir. Gervásio), no
qual resume a tradição monástica da Lectio Divina, e a transforma em instrumento de leitura para servir
de instrução aos jovens que se iniciam na vida monástica.
Na sua sabedoria bem prática, Guigo, nada mais fez do que sistematizar em 4 degraus o processo
normal de uma leitura proveitosa da Bíblia:
Leitura - Ler e reler o texto, cada vez de novo, até entender tudo o que está escrito.
Meditação - Em seguida, deve assimilar o que leu, repeti-lo de memória, com a boca, e ruminá-lo até
que, da boca e da cabeça, passe para coração e entre no ritmo da própria vida.
Oração - Depois, você deve reagir diante da mensagem que captou e responder a Deus se aceita ou
não, e pedir a Ele que o ajude a praticar o que a sua Palavra pede.
Contemplação - Por fim, o resultado da leitura que fica nos seus olhos o ajudará a enxergar o mundo
de maneira nova e a saborear melhor as coisas de Deus e da vida.
Lê-se para meditar, medita-se para rezar, reza-se para contemplar, contempla-se para viver.
A Lectio Divina supõe alguns princípios, sempre presentes na leitura cristã da Bíblia:
3 – A fé em Jesus Cristo, vivo na comunidade . Jesus é a chave principal da leitura que fazemos.
A fé Nele ajuda a entender melhor a Bíblia, e a Bíblia ajuda a entender melhor o significado de Jesus para
a vida.
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IV – Os quatro degraus da Lectio Divina
As quatro atitudes existem e atuam, juntas, durante todo o processo da Lectio Divina, embora em
intensidade deferente conforme o degrau em que a pessoa ou a comunidade se encontra.
Antes de tudo, você deve ter sempre a preocupação de investigar: “O que o texto diz em si?”
Isto exige que faça silêncio. Dentro de você tudo deve silenciar, para que nada impeça de escutar o que o
texto tem a dizer, e para que não aconteça que você leve o texto a dizer só aquilo que você gosta de ouvir
O objetivo da leitura é este: furar a parede da distância entre o ontem do texto e o hoje da nossa
vida, a fim de poder iniciar o diálogo com Deus na meditação. Qual a broca que fura essa parede? De um
lado, é “ o estudo assíduo, feito com espírito atento”(Guigo). De outro, é “a própria experiência adquirida
da vida”(Cassiano).Paulo VI dizia que se deve “procurar uma certa conaturalidade entre os interesses
atuais (hoje) e o assunto do texto (ontem), para que se possa estar disposto a ouvi-lo (diálogo)” Às vezes,
a Lectio Divina não traz resultado e o texto não fala, não por falta de estudo do texto, mas sim por falta de
aprofundamento crítico da nossa própria experiência de vida.
A leitura, quando bem-feita, ajuda a superar o fundamentalismo, que anula a ação da Palavra de
Deus na vida. É a ausência total de consciência crítica. Ele distorce o sentido da Bíblia e alimenta o
moralismo, o individualismo e o espiritualismo na interpretação dela...O objetivo da leitura é ler e estudar
o texto até que ele, sem deixar de ser ele mesmo, se torne espelho de nós mesmo e nos reflita algo da
nossa própria experiência de vida. “Penetrados dos mesmos sentimentos em que foi escrito o texto, nos
tornamos, por assim dizer ,os seus autores” ( Cassiano).
Você também deve ter sempre a preocupação de se perguntar: “O que o texto diz para mim para
nós, para mim ?”
Neste segundo passo, você entra em diálogo com o texto, para que o sentido se atualize e penetre a
sua vida de Carmelita hoje. Como Maria, rumine o que escutou ( Lc 2,19.51), e “medite dia e noite na lei
do Senhor”, para que, assim, “a Palavra de Deus habite abundantemente na sua boca e no seu coração”.
Guigo dizia: “A meditação é uma diligente atividade da mente que, com a ajuda da própria razão,
procura o conhecimento da verdade oculta”, que é o valor permanente, é a mensagem do contexto em
que foi escrito o texto e que deve ser descoberta e atualizada pela meditação.
A meditação aprofunda a dimensão pessoal da Palavra de Deus. Uma palavra tem valor não só
pela idéia que comunica, mas também pela pessoa que a pronuncia e pela maneira como é pronunciada.
Na Bíblia, quem nos dirige a Palavra é Deus, e Ele o faz com muito amor. Uma palavra de amor desperta
forças, libera energias, recria a pessoa. Meditando a Palavra de Deus, o coração humano se dilata até
adquirir a dimensão do próprio Deus, que pronuncia a Palavra. Aqui aparece a dimensão mística da
Lectio Divina.
Pela leitura se atinge a casca da letra e se tenta atravessá-la para, na meditação, atingir o fruto do
espírito (S. Jerônimo). A meditação nos ajuda a descobrir o sentido espiritual, isto é, o sentido que o
Espírito de Deus quer comunicar hoje à sua Igreja através do texto da Bíblia.
Além disso, você deve estar sempre preocupado em descobrir: “O que o texto me faz dizer a
Deus?”
A atitude de oração diante da Palavra de Deus deve ser como aquela de Maria, que disse: “Faça-
se em mim segundo a tua palavra”(Lc 1,38). A palavra que Maria ouviu não era uma palavra da Bíblia ,
mas sim uma palavra percebida nos fatos da vida, por ocasião da visita do Anjo. Maria foi capaz de
percebê-la, porque a ruminou (Lc .2,19.51) tinha purificado o seu olhar e o seu coração. Os puros de
coração percebem a ação de Deus nos fatos (cf. Mt 5,8).Rezando e cantando ( cf. Lc 1,46-56), eles a
encarnam na vida.
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A oração, provocada pela meditação, inicia por uma atitude de admiração ao Senhor. A partir daí
brota a nossa resposta à Palavra de Deus. Desde os tempos do Novo Testamento, os cristãos descobriram
que nós não sabemos rezar como convém. É o próprio Espírito que ora em nós ( Rm 8,26). Quem melhor
fala a Deus é o próprio Deus. Por isso, a oração dos Salmos ainda é a melhor oração. O próprio Jesus
usou frequentemente os Salmos e orações da Bíblia. Ele é o grande cantor dos Salmos ( Sto. Agostinho).
Com Ele e nEle, os cristãos prolongam a Lectio Divina pela oração pessoal, pela oração litúrgica e pelas
preces da Igreja.
Dependendo do que se ouviu da parte de Deus na leitura e na meditação, a resposta pode ser de
louvor ou de ação de graças, de súplica ou de perdão, pode ser até de revolta ou de imprecação, como o
foi a resposta de Jó, de Jeremias e de tantos Salmos.
Pela leitura, procura descobrir a idéia, a mensagem, que a palavra transmite e ensina. Pela
meditação, e sobretudo pela oração, ela cria o espaço onde a palavra faz o que diz, traz o que anuncia,
comunica a sua força e nos revigora para a caminhada. Os dois aspectos não podem ser separados, pois
ambos existem unidos na unidade de Deus, no seio da Santíssima Trindade. Desde toda a eternidade, o
Pai pronuncia a sua Palavra e coloca nela a força do seu Espírito. A Palavra se fez carne em Jesus, no qual
repousa a plenitude do Espírito Santo.
Assim, “tudo o que deve ser feito, será feito de acordo com a Palavra do Senhor”.
Santo Agostinho dizia que, através da leitura da Bíblia, Deus nos devolve o olhar da contemplação e
nos ajuda a decifrar o mundo e a transformá-lo, para que seja, novamente, uma revelação de Deus, uma
teofania. A contemplação, assim entendida, é contrário da atitude de quem se retira do mundo para poder
contemplar a Deus. A contemplação como resultado da Lectio Divina é a atitude de quem mergulha
dentro dos atos para descobrir e saborear neles a presença ativa e criativa da Palavra de Deus e, além
disso, procura comprometer-se com o processo de transformação que esta Palavra está provocando
dentro da história. A contemplação não só medita a mensagem, mas também a realiza; não só ouve, mas
coloca em prática. Não separa os dois aspectos: diz e faz; ensina e anima; é luz e força.
A contemplação, como ponto final da escada, é patamar para um novo começo. É como subir numa
torre muito alta. Você alcança o primeiro patamar por uma escada de três lances: leitura, meditação e
oração. Na janela do primeiro patamar, você descansa e contempla a paisagem. Depois, continua a subida
até o segundo patamar por uma outra escada também de três lances: leitura, meditação e oração. Na janela
do segundo patamar, descansa mais um pouco e contempla, de novo, a mesma paisagem. Ela ficou mais
bonita! Dá vontade de subir mais para observá-la melhor. E assim vai subindo, até que cheguemos a
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contemplar Deus face a face ( 1 Cor 13,12) e , em Deus, os irmãos, a realidade, a paisagem, numa visão
completa e definitiva. A contemplação é tudo isto, e muito mais!
Os quatro degraus não são técnicas de leitura, mas sim etapas do processo normal da assimilação da
Palavra de Deus na vida, através da leitura meditada e orante.
INTRODUÇÃO GERAL
************************************************************************
A Sagrada Escritura é o conjunto dos livros escritos por inspiração divina, nos quais Deus se
revela a si mesmo e nos dá a conhecer o mistério da sua vontade. Divide-se em duas grandes seções:
→ANTIGO TESTAMENTO, que contém a revelação feita por Deus antes da vinda de Nosso Senhor
Jesus Cristo ao mundo;
→NOVO TESTAMENTO, que contém a revelação feita diretamente por Jesus Cristo e transmitida pelos
Apóstolos e outros autores sagrados.
→Condicionamentos de tempo - Os livros da Bíblia são fruto do seu tempo. Por isso, se quisermos
entender a mensagem de Deus, temos de conhecer o tempo e as circunstâncias históricas em que foi
escrito cada um deles.
→Condicionamentos de espaço - Os livros da Bíblia nasceram em vários lugares geográficos, cada qual
com o seu ambiente próprio: uns na Palestina, outros no mundo helênico e outros no Império Romano. E
um livro também é filho do meio em que nasceu.
→Condicionamentos de raça - Os livros da Bíblia procedem quase todos do povo semita, mais
concretamente do povo judeu, que tem um modo de pensar e de se exprimir muito diferente do nosso. É
preciso conhecê-lo, para entender a Palavra de Deus.
→Condicionamentos de cultura - Os livros da Bíblia são obra de muitos autores com mentalidade e
cultura diferentes, às vezes distanciados entre si por vários séculos. Tudo isso marcou a Bíblia e deve ser
tido em conta, pois os autores sagrados, embora escrevessem sob inspiração de Deus, não foram privados
da sua personalidade.
Jesus Cristo e os Apóstolos citaram-nos como Palavra de Deus (At 1,16; 4,25). Mas São Paulo e
São Pedro é que nos transmitem os dois textos clássicos sobre esta verdade. Paulo diz: "Toda a Escritura é
divinamente inspirada" (theopneustos: 2 Tm 3,14-17); e Pedro afirma: "Mas sabei, antes de mais, que
nenhuma profecia foi proferida pela vontade dos homens. Inspirados pelo Espírito Santo, é que os homens
santos falaram em nome de Deus." (2 Pd 1,21)
Os Santos Padres também são unânimes em afirmar que Deus é o autor da Sagrada Escritura e
que o hagiógrafo é instrumento de Deus. E a Igreja manifestou a sua fé nesta verdade em vários concílios
e documentos. O último e o mais expressivo é a constituição dogmática Dei Verbum (DV), do concílio
Vaticano II, que diz: "As coisas reveladas por Deus que se encontram escritas na Sagrada Escritura foram
31
consignadas por inspiração do Espírito Santo." E mais adiante, falando da natureza desta inspiração,
acrescenta: "porque escritos por inspiração do Espírito Santo, têm a Deus por autor e, como tais, foram
confiados à Igreja. Todavia, para escrever os livros sagrados, Deus escolheu e serviu-se de homens na
posse das suas faculdades e capacidades para que, agindo Deus neles e por eles, pusessem por escrito,
como verdadeiros autores, tudo aquilo e só aquilo que Ele queria." (n.° 11) Portanto, segundo a
constituição Dei Verbum, os livros sagrados são produto da ação transcendente de Deus que suscita,
dirige e envolve inteiramente a atividade humana, agindo em constante coordenação com ela.
Esta ação divina estendeu-se a todas as faculdades e atos do homem que concorreram para a
produção dos livros santos, e abrange todas as partes dos livros e todos os gêneros literários que neles se
encontram. No entanto, longe de tornar o hagiógrafo passivo, tal ação favorece a sua livre
espontaneidade; Porque o homem é tanto mais livre e ativo quanto mais o Espírito Santo o
acompanha.
Deus, quando atua no homem, fá-lo sempre com suma delicadeza, respeitando a sua liberdade e a sua
maneira de ser, mas valorizando-as e potenciando-as. A Bíblia não é, pois, fruto de um ditado mecânico,
mas uma obra em que Deus e o homem intervêm: Deus com as suas perfeições infinitas, e o homem com
as suas faculdades e conforme a sua capacidade. Por isso, os dois são verdadeiros autores dos livros
sagrados.
A VERDADE DA SAGRADA ESCRITURA
Diz também a Dei Verbum: "E assim como tudo quanto afirmam os autores inspirados ou
hagiógrafos deve ser tido como afirmado pelo Espírito Santo, por isso mesmo se deve aceitar que os
livros da Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro, a verdade que Deus, causa da nossa
salvação, quis que fosse consignada nas Sagradas Letras." (DV, 11)
A verdade da Bíblia é a consequência imediata da Inspiração. Com efeito, se Deus é o autor da
Bíblia, se toda ela é obra do Espírito Santo, não pode conter qualquer afirmação que vá contra a verdade e
a santidade do mesmo Deus. No entanto, não podemos buscar na Bíblia qualquer verdade, mas só a que
interessa à salvação do homem, ou seja, a verdade religiosa, e só aquela que Deus, causa da nossa
salvação, quis que fosse registrada nas Escrituras. Trata-se de uma verdade não puramente especulativa,
mas concreta, que não se dirige apenas à inteligência, mas ao homem todo; uma verdade que é preciso
descobrir através dos muitos e variados gêneros literários; uma verdade progressiva, revelada por etapas,
obedecendo à pedagogia de Deus em relação aos homens; uma verdade que está em toda a Bíblia e não
apenas num livro ou num texto isolado. Por isso, a verdade dos textos sagrados só resulta da totalidade da
Bíblia, como a santidade da Igreja resulta do conjunto dos batizados e não de cada um individualmente.
Alguns problemas com as diferentes formas da Bíblia: a católica, a protestante etc. Essas
diferenças compreendem-se a partir da história.
32
Egito, grande centro de cultura helenista (= grega), onde viviam muitos judeus. É chamada Septuaginta
(ou Bíblia dos Setenta, sigla: LXX). por ter sido atribuída a setenta escribas (número simbólico).
Ora, a tradução grega incluía alguns livros a mais que a Bíblia hebraica. Os primeiros cristãos -
muitos deles judeus de língua grega liam o Antigo Testamento na forma grega, mas os judeus não-
cristãos, talvez por reação, valorizaram a forma hebraica, com o cânon mais restrito. Os cristãos adotaram
a lista ampla, a da Bíblia grega (mesmo quando São Jerônimo traduziu diretamente do hebraico os livros
escritos nessa língua). Por isso, o cânon cristão contém, para o Antigo Testamento, sete livros a mais que
a Bíblia hebraica (1-2Mc, Jt, Tb, Eclo, Sb, Br), chamados "deuterocanônicos" (= incluídos no "cânon"
num segundo momento; os protestantes os chamam de "apócrifos").
Mais tarde, por volta de 1500-1600 dC, os reformadores protestantes (Lutero, Calvino, os
anglicanos etc.) criaram traduções em língua moderna. Para esse fim, voltaram ao original hebraico e
adotaram, quanto aos livros do Antigo Testamento, a lista restrita (a hebraica), enquanto os católicos
continuaram com a lista ampla (a grega). Seja lembrado, contudo, que Lutero guardou os livros da lista
ampla como anexo na sua edição da Bíblia.
33
*Com as iniciais das três categorias forma-se a abreviatura TaNaK, que indica a Biblia hebraica judaica.
**Na Septuaginta e nos livros litúrgicos das igrejas orientais e da igreja Católica, a numeração dos
Salmos é levemente diferente, e Est e Dn contêm fragmentos deuterocanônicos.
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aquele em que as palavras são tomadas no sentido conotativo ou figurado, por exemplo: "Vós sois o sal
da terra." (Mt 5,13)
ﻸO Sentido pleno é o significado mais profundo do texto; sendo inicialmente pretendido pelo autor
divino, só se descobre à luz de uma revelação posterior, especialmente à luz do Novo Testamento. Este
sentido resulta do fato de a Bíblia ter dois autores: Deus, para quem o futuro é presente, e que, ao inspirar
um determinado texto, já conhece toda a revelação posterior nele implícita; e o hagiógrafo ou autor
humano, que apenas conhece e tem presente o mistério que Deus quer revelar nesse determinado
momento histórico da escrita. Exemplo claro disto são as profecias messiânicas do Antigo Testamento:
para nós são claras, porque o Messias já veio; mas o significado que hoje lhes atribuímos não foi atingido
plenamente pelo autor sagrado, e só Deus o teve presente desde o princípio.
ﻸ O Sentido típico dá-se quando certos acontecimentos, instituições, pessoas, etc., por vontade de
Deus, representam e prefiguram acontecimentos, instituições e pessoas de ordem superior. Assim, a
serpente de bronze erguida por Moisés (Nm 21,8-9) é figura de Cristo crucificado (ver Jo 3,14); a
passagem do Mar Vermelho (Ex 14,22) é figura do Batismo (1 Cor 10,2); o maná (Ex 16,14) é figura da
Eucaristia (Jo 6).
ﻸO Sentido acomodatício consiste em dar às palavras da Sagrada Escritura um sentido diferente
daquele que o autor lhes quis dar, devido a uma certa semelhança entre a passagem bíblica e a sua
aplicação. Este sentido é muito usado na liturgia e na pregação. Temos um exemplo claro nas festas de
Nossa Senhora, em que a Liturgia relaciona com a Virgem Maria textos que se referem à sabedoria divina
(Pr 8,22-36; Sir 24,14-16)
Além do já aduzido, o Concílio aponta estes princípios que devem reger a interpretação da
Sagrada Escritura: "A Sagrada Escritura deve ser lida e interpretada com o mesmo Espírito com que foi
escrita" (DV,12); ou seja: o mesmo Espírito que inspirou os livros santos deve iluminar os teólogos que,
docilmente e com espírito de fé, se dedicam a interpretá-los. Cabe aos exegetas, "de harmonia com estas
regras, esforçar-se por entender e expor mais profundamente o sentido da Escritura, para que, mercê deste
estudo preparatório, vá amadurecendo o juízo da Igreja." A função dos exegetas é preparar e não
substituir o juízo último da Igreja, pois só esta "goza do divino mandato e do ministério de guardar e
interpretar a Palavra de Deus" (DV,12).
O reino dividido.
O reino do Norte (Israel). Os assírios.
O primeiro rei do norte é o rebelde Jeroboão I. Um dos seus sucessores, Amri, constrói Samaria
como nova capital. Seu filho Acab lhe sucede no trono. No tempo deles atuam os profetas Elias, Eliseu e
Miquéias de Jemla. Outro sucessor, Jeroboão II, é contemporâneo dos profetas Oséias e Amós. Em 722
aC, os assírios, novos "donos do mundo", invadem Samaria e deportam os samaritanos para outras
regiões de seu império (2Rs 17).
O judaísmo no helenismo.
Por volta de 330 aC, Alexandre Magno, "o grego", conquista o império persa, inclusive Judá. Assim
começa o helenismo (heleno = grego). Depois da morte de Alexandre, em 323, seu reino é dividido.
Durante o 3° século aC, Judá vive sob o poder dos sucessores de Alexandre no Egito (lágidas ou
ptolomeus). Os samaritanos, que no tempo dos persas obedeciam a Jerusalém, agora separam-se dos
judeus. Por outra lado, muitos judeus se instalam na magnífica metrópole Alexandria do Egito, onde, por
volta de 250, começam a traduzir a Bíblia para o grego. No 2° século, os reis helenistas da Síria
(selêucidas) abocanham Judá. Em 167 aC, o rei Antíoco Epífanes profana o templo. Isso provoca a
resistência armada de Judas Macabeu e seus irmãos: a luta dos macabeus. Em 164, Judas Macabeu
reconquista e reconsagra o templo (lMc 4,36-61). Os macabeus chegam a constituir uma dinastia
(linhagem hereditário de reis nacionais), chamada de hasmoneus. Mas essa não é muito santa. Encampam
o sumo sacerdócio, apoiados pelos sacerdotes do templo (saduceus). Isso provoca a oposição dos fariseus
(leigos) e dos essênios (sacerdotes). Acirra-se também o conflito com os samaritanos: em 128, o
hasmoneu João Hircano destrói o santuário dos samaritanos no monte Garizim.
37
Terminologia para o povo de Deus
Hebreus
O termo "hebreus”, outra designação para os Israelitas, é usado com frequência por estrangeiros (Gn 39, 14;
Ex 1,16), apesar de, ocasionalmente, o termo “hebreu" aplicar- se aos israelitas quando eles se referem a si mesmos Ex
1,15-19, Jn 1,9). Nesses casos, os termos hebreu e israelita são intercambiáveis. Por definição, o ancestral dos hebreus é
identificado como Héber, filho de Sem (Gn 10,21-32). Abraão, Nacor e Ló são incluídos entre seus descendentes (Gn
11,10-32). Abraão é o ancestral dos hebreus, Nacor, dos arameus, e Ló, dos moabitas e amonitas. Abraão é chamado de
"o hebreu" (Gn 14,13). Geralmente, o termo “hebreu" tem caráter étnico.
Judeus
No período pós-exílico, a designação "judeu" referia-se a um membro da província babilônica ou persa de
Judá (Ne 4,1; Zc 8,23). A designação "judeu" também aparece em Jeremias cujo ministério se desenvolveu no final do
século VII e começo do século VI aC. (32,12; 40, 11). Assim, o uso do termo "judeu'' era um tanto flexível nos tempos
bíblicos. Uma pessoa pode ser caracterizada como "judia’ em função da religião e/ou do grupo étnico de origem.
Israel
O nome "Israel" é usado, pela primeira vez, em referência ao patriarca Jacó depois de seu encontro com Deus
em Fanuel (Gn 32,28). No Antigo Testamento, Israel também serve de designação para o povo de Deus como um todo.
Israel, os filhos de Israel e as doze tribos de Israel referem-se ao povo de Deus durante sua permanência temporária no
Egito, no êxodo do Egito, em sua jornada pelo deserto, sua entrada em Canaã sob a liderança de Josué e durante o tempo
dos juízes e de Samuel (Gn 49,28; Dt 33,5.10.28).
Sião
Sião aparece no Antigo Testamento como uma designação para o povo de Jerusalém como uma
comunidade (Jl 2,23; Is 3,16; Jr 4,31
38
Terminologia para o reino dividido
Reino do Norte
Essa designação aplicava-se às dez tribos do Norte depois da divisão do reino (931 a.C)
Outras designações para o reino do Norte eram: Israel, Efraim e Samaria (Os 4,16-17; 7,1).
Efraim
A base para o uso do termo Efraim como designação para Israel veio do resultado da guerra
siro-efraimita (734 aC.), na qual Israel perdeu seus territórios periféricos a ficou reduzido à região
originalmente ocupada pelas tribos de Efraim e Manassés. Pelo falo de Efraim, a tribo mais influente do
Norte, ter muito mais proeminência do que Manassés, o título "Efraim" passou a ser associado a toda
essa região.
Samaria
Trata-se de outro nome para Efraim, o reino do Norte, e Israel. Essa região do Norte não
recebeu tal designação até que Samaria se tornasse sua capital, no reinado de Onri, no s~ec. IX aC.
Depois da queda do reino do Norte ( 722 a.C) e da deportação de seus habitantes, os assírios assentaram
cativos de outras regiões nas cidades de Samaria ( 2Rs 17,24-26). Eles chamavam o território de
província de Samerena e governaram-no até o final do século VII aC. O rei Josias de Judá, (640- 609
aC.), conseguiu destruir os, lugares altos nas cidades de Samaria (2Rs 23,19). Com a queda de Nínive, a
capital da Assíria, em 612 aC., o território de Samaria tornou-se uma província babilônica.
Após a queda do reino do sul em 586 aC., a região montanhosa do norte de Judá, incluindo
Jerusalém, tornou-se parte da província de Samaria. Com a conquista pelos persas em 539 aC., o
território tornou-se uma província ou satrápia do Império Persia. No período de Esdras (cerca de 350
aC.) e Neemias (cerca de 445-424 aC.), os governadores de Samaria tentaram evitar que os exilados
reconstruíssem o templo e suas muralhas (Es 4,4 24; Ne 2,9-20). Nos tempos de Neemias, a região
montanhosa do norte de Judá tornou-se uma província, e a fronteira com o sul da Samaria foi
estabelecida aproximadamente como era em tempos pré-babilônicos. Esta área tornou-se o centro dos
samaritanos, após a divisão entre judeus e samaritanos nos tempos de Esdras e Neemias.
Reino do Sul
O reino do Sul é outro nome dado a Judá e usado depois da divisão do reino em 931 aC. A
tribo de Simeão (e/ou Benjamim) estava incluída nessa denominação.
Judá
Judá era a designação para o reino do Sul depois da divisão do reino em 931 aC. Quando
Jeroboão I liderou as tribos do Norte a se revoltarem, a tribo de Judá, ao Sul, permaneceu leal a Roboão
e continuou fiel a dinastia davídica até sua queda em 586 aC.. Basicamente, essa área consistia no
território pertencente às tribos de Judá e Simeão. O cronista chamou os habitantes do Sul de "Judá e
Benjamim" ( 1Cr 12,16; 2Cr 11,1). Depois da queda do reino do Norte, Judá, algumas vezes, foi
designado Israel (Esd 1,3; 4,3).
Sião
O nome "Sião" apareceu pela primeira vez (2Sm 5,6-10; lCr 11,4-9) relacionado à conquista
de Jerusalém por Davi. Naquele tempo, "Sião" referia-se ,à um determinado monte fortificado. Mais
tarde, o termo ''São" estendeu-se para a área do templo (Sl 2,6; l32,13). Sião tornou-se equivalente a
Jerusalém (Is 28,16; 40,9; Jl 3,16; Mq 3,10). No Novo Testamento, Sião também tornou-se equivalente à
Jerusalém celestial (Ap 14,1).
39
OS LIVROS DA SAGRADA ESCRITURA
******************************************************************************************************
Os livros da Sagrada Escritura, tanto do Antigo como do Novo Testamento, agrupam-se em três
conjuntos: históricos, sapienciais e proféticos, conforme o gênero literário que neles predomina.
Nesta obra, cada conjunto e cada livro são precedidos de uma Introdução. Nela são dadas todas as
informações necessárias para enquadrar o texto no seu contexto histórico, geográfico e literário e se
apontam os seus objetivos e a sua mensagem teológica.
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ABREVIATURAS DOS LIVROS
DA SAGRADA ESCRITURA
41
Rt - Rute
Antigo Testamento
************************************************************
A formação da Sagrada Escritura foi lenta e muito complicada. A maior parte dos seus livros são
obra de muitas mãos e a composição de alguns deles durou séculos. Assim, o Pentateuco, marcado pelo
cunho de Moisés, só conheceu a forma definitiva muitos séculos depois da sua morte (séc. V aC.); a
literatura profética, iniciada com Amós e Oseias (séc. VIII aC.), terminou com Joel e Zacarias (séc. IV
aC.); os livros históricos, embora contendo tradições do séc. XIII aC., foram escritos aproximadamente
entre os séc. V e I aC.; e a literatura sapiencial, iniciada com Salomão (séc. X aC.), só a partir do
séc. V aC. recebeu a sua forma definitiva e alguns livros são do limiar do Novo Testamento.
Portanto, a ordem dos livros que a Bíblia apresenta não é histórica, mas lógica; e a atribuição do
Pentateuco a Moisés, dos Salmos a Davi, dos livros sapienciais a Salomão e dos 66 capítulos do Livro de
Isaías a este profeta não corresponde à realidade, mas é uma simplificação da História. Se quisermos
captar o verdadeiro sentido dos textos, não podemos contentar-nos com esta simplificação, pois cada um
deles tem o seu contexto vivo, do qual não pode ser separado. Por isso, antes de passarmos a outros
problemas, vamos tentar resumir a história da formação dos livros sagrados.
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Curiosamente, a lista mais recente é aquela que nos propõe apenas o texto original hebraico; a lista
final dos livros desta Bíblia Hebraica foi fixada por uma assembleia de rabinos em Jâmnia, só pelos finais
do séc. I d.C., e os critérios aí seguidos levaram a diminuir a lista de livros até então reconhecidos como
pertencendo à Bíblia. Ficaram assim de fora, no todo ou em parte, alguns livros incluídos há séculos na
Bíblia do judaísmo de Alexandria.
Por várias circunstâncias, nomeadamente pelo fato de estar na língua grega de uso internacional no
Mediterrâneo oriental, depressa o cristianismo fez sua a Bíblia Grega da Tradução dos Setenta (LXX) e
sempre aceitou sem grandes dificuldades o cânon do Antigo Testamento por ela apresentado. Entre os
cristãos, a posição a tomar diante destes dois cânones só foi discutida mais significativamente depois da
Reforma Protestante. Hoje em dia, as confissões protestantes em geral só aceitam os livros que pertencem
ao cânon hebraico, o chamado "cânon curto". Os livros que se encontram a mais na lista grega judaica e
cristã antiga são chamados deuterocanónicos ("apócrifos", entre os protestantes) ou pertencentes ao
"segundo cânon", chamado "cânon longo". Convencionou-se dar o nome de "primeiro cânon" à lista de
livros que são coincidentes tanto na Bíblia Hebraica como na Bíblia Grega.
NOMES DE DEUS
NOME DE DEUS
Os nomes de Deus que aparecem em nossas Bíblias:
* Yahweh
* Javé
* Jeová ( Bíblia protestante)
Nenhum dos três é certo, porque Deus não tem nome, e no AT também não tem
rosto. No NT, seu rosto é Jesus.
Porque Deus não tem nome?
1°. - Só damos nome ao que possuímos. O superior dá nome ao inferior: Adão
dá nome aos animais;
o adulto dá nome à criança.
2°. - O nome restringe a pessoa: se meu nome é Luís, não pode ao mesmo
tempo ser João ,nem pedro.
A palavra DEUS, não é um nome, mas sim um qualificativo. O Filho sim, tem
nome e rosto.
CONTEÚDOS E SEÇÕES
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A atual lista de livros do Antigo Testamento foi, ao longo da sua história e tradição, organizada
segundo princípios diferentes, daí resultando classificações que não são coincidentes. As duas principais
classificações representam, ainda hoje, as duas tradições da Bíblia Hebraica e da Bíblia Grega, no
judaísmo antigo. A primeira divide o Antigo Testamento em Torá (Lei), Nebi'îm (Profetas) e Ketubîm
(Escritos); a segunda divide-o em Pentateuco, Históricos, Sapienciais e Proféticos.
Apesar de as modernas traduções tenderem a utilizar sobretudo o texto hebraico da Bíblia, para
estas divisões e para o ordenamento dos livros dentro do Antigo Testamento, é muito mais frequente
seguirem o esquema da Setenta
Pentateuco
Este nome grego significa "cinco rolos", ou livros, e inclui Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e
Deuteronômio. A autoria do PENTATEUCO, tradicionalmente considerado como Lei de Moisés, foi
atribuída a este grande líder do povo hebreu tanto pelo judaísmo como pelo cristianismo antigos.
Hoje, sabe-se que nenhum destes livros se pode atribuir a um único autor e menos ainda a Moisés,
pois todos tiveram uma história literária complexa, como veremos. Para além desta referência a Moisés,
os livros do PENTATEUCO têm uma certa sequência temática, pois descrevem as origens do povo de
Israel até à sua definitiva instalação em Canaã. Nomeadamente: a origem da humanidade e do próprio
povo hebreu na época patriarcal, a saída do Egito e a longa travessia do deserto; é nesta última fase que
aparecem enquadradas as leis fundamentais para a vida religiosa e social dos israelitas. Longas seções
narrativas alternam com grandes conjuntos de leis. O modo de escrever daquele tempo, misturando
História, Direito e Liturgia, não coincide com o nosso modo de fazer História; ao mostrarem a interven-
ção de Deus nessa História, os autores do PENTATEUCO pretendem também apresentá-la como modelo
da presença de Deus na História de cada povo.
FORMAÇÃO DO PENTATEUCO
Segundo alguns estudiosos, o texto atual deste conjunto resultaria de uma história literária
anterior, a que chamam "fontes" ou "documentos" conhecidos com o nome de Javista (J), Eloísta (E),
Sacerdotal (P) e Deuteronomista (D). De qualquer modo, o PENTATEUCO não foi escrito de uma só
vez nem é obra de um único escritor. Foi escrito a partir de tradições orais e escritas que se foram
juntando progressivamente e formando unidades maiores ao longo da história. A junção de todo o
material só se deu na época pós-exílica, altura em que se pode falar da redação final do PENTATEUCO.
Certamente que o período à volta do Exílio influenciou a leitura de todo esse patrimônio histórico
e religioso; mas, as tradições e outros materiais podem ser bastante antigos e manter, na sua forma final,
os traços dessa antiguidade. Provavelmente, o processo de formação dos cinco primeiros livros da Bíblia
desenvolveu-se, nas suas linhas gerais, em vários períodos.
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No início estaria um núcleo narrativo histórico bastante restrito, da época de Salomão. Este núcleo
é depois retomado e ampliado por volta dos finais do séc. VIII aC., recolhendo tradições e fragmentos do
reino do Norte e relendo tradições antigas numa nova perspectiva.
No séc. VIII aparece o Deuteronômio primitivo, descoberto no tempo de Josias (622 aC.) e
incluindo essencialmente leis e um pequeno prólogo. É depois ampliado para dar o texto atual de Dt 1-28.
As questões levantadas pelo Exílio fazem aparecer a grande obra histórica "deuteronomista" que se vai
elaborando ao longo de várias fases, integrando, de algum modo, todos os materiais já recolhidos
anteriormente. Esta grandiosa reconstrução provoca uma série de retoques "deuteronomistas", ao longo de
todo o texto do PENTATEUCO, que já estaria redigido.
No exílio da Babilônia aparece o "escrito sacerdotal primitivo", obra dos sacerdotes exilados.
Depois do regresso do Exílio, no séc. V, este escrito é combinado com os precedentes, retocado e
aumentado nalguns aspectos e vai ocupar um lugar dominante no conjunto da narração. A esta redação
final se deve o termo de toda a trama narrativa na morte de Moisés e, logicamente, a delimitação do
Pentateuco, separando o Deuteronômio do resto da história deuteronomista. Este trabalho deve ter sido
concluído por volta do ano 400 aC..
1) A fonte javista - representando sobretudo o reino do Sul, Judá - é chamada assim porque usa o nome
próprio de Deus, Javé, desde o início, bem antes da revelação do "Nome" a Moisés em Ex 3. Fala das
origens do mundo, da humanidade e de Israel, dos patriarcas, do êxodo do Egito, da peregrinação pelo
deserto e termina com a morte de Moisés. Sua linguagem é concreta, imaginativa e seu conceito de Deus,
familiar e antropomórfico: Deus age como um ser humano, está próximo e convive com os "filhos de
Adão"(Gn 2-3)
2) A fonte eloista representa o reino do Norte (Israel) e é chamada assim por designar Deus pelo nome
genérico de elohim, reservando o nome Javé para depois da revelação a Moisés (Ex 3). Seu ensinamento
abrange a história dos patriarcas, o êxodo do Egito, a peregrinação pelo deserto, a teofania do Sinal e
termina com a morte de Moisés. Sua concepção de Deus é mais "severa", de onde a necessidade de
recorrer a intermediários na comunicação de Deus com o ser humano: anjos, sonhos, profetas.
3) A fonte sacerdotal representa os sacerdotes e levitas ligados (pelo menos a partir de certa data) ao
templo de Jerusalém. Caracteriza-se pelas genealogias, cronologia, números e a linguagem repetitiva.
Sublinha claramente a transcendência e a soberania divina sobre a criação (cf. Gn 1). Embora esteja
presente em todo o Pentateuco, esta fonte identifica-se sobretudo com o livro do Levítico.
4) A fonte deuteronomista representa a tradição profética, da qual surgiram os movimentos de reforma
religiosa em Israel e Judá. Por ocasião da reforma do rei Josias (620 aC), surgiu o primeiro esboço do
Deuteronômio (Dt 12-26). Depois, esta mesma "escola" completou o Deuteronômio e redigiu a
historiografia deuteronomista, os livros Js-Jz-Sm-Rs. No Pentateuco, sua presença restringe-se ao
Deuteronômio. Seu estilo é retórico, caracterizado por fórmulas como "ouve Israel", "o SENHOR teu
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Deus", "a terra onde corre leite e mel" etc. Insiste na centralização do culto em Jerusalém, na eleição
gratuita de Israel e no amor de Deus.
A redação final do Pentateuco depois do exílio babilônico, conservou o estilo, o espírito e a
teologia das tradições que recolheu. Não eliminou as incongruências e guardou certas partes em duas
versões (a promessa a Abraão, Gn 15 e Gn 17,1-8) ou até em três versões (a aventura da mulher do
patriarca, Gn 12,10-20; 20,1-18; 26,7-11). No caso da história da criação, a redação final antepôs ao
relato da criação do ser humano Gn 2,4b-25) um poema sobre a criação do universo (Gn 1,12,4a). Essa
justaposição de diversas tradições é significativa sobretudo no caso das coleções de leis: as leis não são
códigos legais sistematizados e unificados, mas antes, exemplos de procedimento. Conforme o sentido da
palavra torah ("instrução), antes ensinam do que impõem.
A diversidade de tradições converge em uma tradição interpretativa viva. Por isso, mais que a
hipotética distinção das fontes, importa saborear o teor do conjunto que foi acolhido e transmitido pela
comunidade de fé.
A lição do Pentateuco
O Pentateuco apresenta os grandes temas da promessa, da eleição, do amor, da fidelidade e da
esperança. Focalizando, no conjunto da humanidade, o povo eleito, descreve sua caminhada até à
fronteira da Terra Prometida, assim como, no tempo em que a obra foi redigida, os exilados da Babilônia
estavam querendo voltar a essa mesma terra, para reiniciar a vida sob a guia do Deus da aliança de
Moisés.
No Pentateuco, Israel olha para seu passado e descobre Deus como alguém que o elege, protege e
conduz, agindo em seu favor, mesmo quando desobedece. Restaurado depois do exílio babilônico, Israel
sentiu-se convidado a seguir o exemplo de Abraão, Isaac, Jacó e Moisés na fidelidade ao Deus das
promessas. Por isso, as exigências do culto e da Lei que permeiam esta obra devem ser vistas como
expressão do amor de Israel a Deus acima de todas as coisas.
O que os autores do PENTATEUCO pretendem manifestar nesta História Sagrada não é tanto o
povo com as suas virtualidades e peripécias históricas, mas o domínio absoluto de Deus sobre todas as
coisas e sobre todas as instituições humanas, incluindo a realeza, que no Médio Oriente era considerada
de origem divina. O poder vem de Deus e da sua Palavra, transmitida pelos seus intermediários.
Esta "Lei", como já foi dito não é um simples conjunto de leis humanas; é um "ensinamento" para
viver segundo a vontade de Deus, um chamamento à perfeição e à santidade: "Porque Eu sou o Senhor
que vos fez sair do Egito, para ser o vosso Deus. Sede santos, porque Eu sou santo." (Lv 11,45)
O PENTATEUCO recebeu inegáveis influências de todos estes documentos ou tradições e de
muitos outros fatores ligados à História e à religião de Israel. Mas, o que os autores do PENTATEUCO
pretendem manifestar nesta História Sagrada não é tanto o povo com as suas virtualidades e peripécias
históricas, mas o domínio absoluto de Deus sobre todas as coisas e sobre todas as instituições humanas,
incluindo a realeza, que no Médio Oriente era considerada de origem divina. O poder vem de Deus e da
sua Palavra, transmitida pelos seus intermediários.
Esta "Lei" não é um simples conjunto de leis humanas; é um "ensinamento" para viver segundo
a vontade de Deus, um chamamento à perfeição e à santidade: "Porque Eu sou o Senhor que vos fez sair
do Egito, para ser o vosso Deus. Sede santos, porque Eu sou santo." (Lv 11,45)
O PENTATEUCO é a Carta magna do judaísmo pós-exílico. Após esta difícil mas frutífera
experiência, o Estado judaico, antes apoiado nas estruturas da monarquia davídica, passa a reger-se
unicamente pela "Lei" de Deus e deixa-se orientar pelos que detêm o monopólio do culto, os sacerdotes.
Uma comunidade monárquica transforma-se numa comunidade cultual em honra do Deus da Aliança.
São os sacerdotes que editam e reeditam a Lei.
Sendo uma História Sagrada em que se manifesta a presença do Deus da Aliança na vida do seu
povo, o PENTATEUCO desenvolve-se a partir de três fatores principais: a epopéia do Êxodo, a Lei do
Sinai e a fé num Deus único. Por isso, mais tarde, e diferentemente de outros povos, Israel não necessitou
da monarquia para sobreviver.
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LEITURA CRISTÃ DO PENTATEUCO
O PENTATEUCO é uma história nunca terminada, mas sempre aberta às infinitas possibilidades
do Senhor da História. Podemos, pois, dizer que o resto do Antigo Testamento é, de algum modo, uma
releitura contínua do PENTATEUCO à luz de novos acontecimentos da História de Israel e do mundo
que o rodeia.
Mas o PENTATEUCO também aponta para um novo Êxodo, para uma outra Terra Prometida,
para uma outra presença de Deus - Jesus Cristo. Ele é a nova Lei, a nova manifestação de um Deus que
nunca cessa de renovar a Aliança com o seu povo. Cristo e os primeiros discípulos leram o
PENTATEUCO como uma história aberta que se completa na vinda do Messias. A partir daí, a relação do
homem com Deus já não passa pela observância material da Lei, mas pelo seguimento de Cristo. Porém,
aquilo que se põe de lado não é o PENTATEUCO, mas apenas a interpretação fechada que dele fez o
judaísmo rabínico.
Assim, o PENTATEUCO não só não impede, mas ajuda a compreensão de Cristo e do seu
Evangelho: ao lê-lo, pensamos no Evangelho, e quando lemos o Evangelho, encontramos as suas raízes
no PENTATEUCO; não se pode ler os mandamentos da Lei, sem os comparar com os mandamentos da
Nova Lei - as Bem-aventuranças. Os cristãos reconhecem em Cristo a Palavra de Deus encarnada, e no
Evangelho, a Nova Lei; Lei que não vem abolir a antiga, mas dar-lhe toda a perfeição (Mt 5,17-18).
Cristo, de que Moisés era apenas uma figura, veio fundar um novo povo, uma nova comunidade, liberta
na Páscoa da sua Paixão-Ressurreição. Numa palavra, Cristo é, para os seus discípulos, a nova Lei, a nova
Páscoa, o novo Templo de Deus entre os homens (Jo 2,21; Ap 21,3.22), a nova Aliança, não apenas com
um povo, mas com toda a Humanidade.
Gênesis
Ao primeiro livro da Bíblia - e, portanto, do Pentateuco - damos hoje o nome de GÊNESIS.
É termo grego e significa "origem", "nascimento". Os livros da Bíblia Hebraica não tinham qualquer
título. Eram chamados, simplesmente, pela primeira ou primeiras palavras. Este se chamava berechit.
Os autores da tradução da Bíblia Hebraica para o grego (Bíblia dos Setenta) acharam por bem dar aos
livros um título de acordo com o seu conteúdo. Como este livro trata do princípio de tudo, chamaram-lhe
GÊNESIS, isto é, Livro das Origens.
CONTEÚDO E ESTRUTURA
Todos os povos se perguntaram alguma vez: Donde viemos? Qual foi a nossa origem? Quem foi o
fundador do nosso povo? Qual o nosso destino? Umas vezes, essas perguntas eram formuladas a partir de
situações de desgraça coletiva: Que sentido tem o nosso fracasso e o nosso sofrimento? Que sentido tem a
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morte irremediável? Há um Alguém que possa responder a todas as interrogações do homem? Outras
vezes, tinham um fundo político, pretendendo legitimar situações de privilégio presente ou reclamar
direitos fundados num passado mais ou menos remoto.
O povo de Israel, na sua reflexão interna ou no confronto com outros povos, religiões e culturas,
colocou a si próprio estas e outras questões semelhantes e deixou-nos as suas respostas neste livro. O
GÊNESIS é, pois, o livro das grandes interrogações e das grandes respostas, não só do povo de Deus, mas
de toda a humanidade. Por isso se diz que este livro é uma espécie de grande pórtico da catedral da Bíblia,
pois de algum modo a resume na totalidade da sua beleza e conteúdo.
O GÊNESIS engloba, também, grande parte da História do povo de Israel: desde "as origens" até à
estadia de Jacó no Egito e a conseqüente formação das doze tribos. Pretendendo dar-nos uma concepção
histórica, horizontal e dinâmica da História da Salvação, este livro faz a ligação entre "as origens" da
humanidade (1,1) e a História concreta do povo de Israel. Por isso apresenta-nos, sobretudo nos 11
primeiros capítulos, teologia e catequese em forma de História, ou melhor, de histórias e não de fatos
históricos no sentido científico.
Conteúdo geral
1-11 12-50: Os patriarcas
Os Primórdios 12,1-25,18: 25,19-36,43: 37,1-50,26:
Abrão - Abraão Isaac e Jacó José e seus irmãos
I. Os primórdios (1 - 11)
Gn 1-11 situa Israel no contexto da humanidade. O autor trata da origem do universo, da cultura,
da dispersão dos povos e da pluralidade das línguas. Depois de ter evocado a criação do universo (cap. 1)
e do ser humano (2), descreve como, ao afastar se de Deus, o homem pecou, querendo ser "dono de seu
nariz" (3), entregando-se à violência (4) e a todo tipo de abusos (5-6). Mas depois do castigo purificador
do dilúvio, fica em pé a figura de Noé, eleito para dar um novo início à humanidade, projeto que Deus
confirma por uma aliança (7-10) E quando o orgulho babélico provoca a dispersão de povos e línguas
(11), surge a figura de outro eleito e 'aliado" de Deus: Abraão (11,27-32).
Na história dos patriarcas aparece a intervenção constante de Deus na vida dos pais da fé. Deus
escolhe Abraão, no qual todas as nações serão abençoadas. O projeto salvífico de Deus é levado adiante
por meio de sucessivas eleições:
- Deus elege Isaac, o filho da promessa, enquanto Ismael, fruto da "tentativa humana” de Abrão ter
descendente, é encaminhado para outro destino;
- Deus abençoa Jacó, apesar da primogenitura de Esaú, que segue por outro caminho;
- Deus escolhe Judá, ignorando os direitos de Rúben e Simeão e mesmo a preferência de Jacó por José.
Em suma, a história dos patriarcas mostra como o homem, muitas vezes contra seus próprios
planos, deve responder ao chamado de Deus e confiar no plano salvífico traçado por Deus e no dom
gratuito, a "graça ", por ele proposta.
As alianças de Gênesis
Alianças Referências Condições
No Éden Gn 2,15-17 Deus: Provê todas as necessidades humanas
Humanidade : Está proibida de comer do fruto do
conhecimento do bem e do mal.
............................................................................
Com Adão Gn 3,14-21 Deus: Promete o Messias
Humanidade : Nenhuma exigência, mas vai sofrer as
consequências do pecado.
...........................................................................
Com Noé Gn 9,1-19 Deus: Promete não mais destruir a terra com dilúvio
Humanidade : Nenhuma exigência.
Sinal : O arco-íris (vs.12-13)
..............................................................................
Com Abraão Gn 15,3-21 Deus: Promete fazer uma grande nação da descendência de
51
Abraão e dar-lhe a terra de Canaã e a benção
Abraão: andaria inculpável diante de Deus (Gn 17,1-2)
Sinal : A circuncisão (Gn 17,10-14)
..........................................................................................................................................................................
ADÃO - 930 anos (Gn 5,5) SEM - 600 anos (Gn 11,10-11)
SETE - 912 anos (Gn 5,8) HÉBER - 464 anos (Gn 11,16-17)
ENÓS - 905 anos (Gn 5,11) TARÉ - 205 anos (Gn 11,32)
HENOC - 365 anos (Gn 5,23) ABRAÃO - 175 anos (Gn 25,7)
MATUSALÉM - 969 anos (Gn 5,27) ISAAC - 180 anos (Gn 35,28)
LAMEC - 777 anos (Gn 5,31) JACÓ - 147 anos (Gn 47,28)
NOÉ - 950 anos (Gn 9,29) JOSÉ - 110 anos (Gn 50,26)
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FONTES E GÊNEROS LITERÁRIOS
Donde vem todo este material? O povo hebreu vivia numa região onde se cruzavam muitos povos
e civilizações. Este fato originou um inegável intercâmbio cultural entre eles. Os impérios que dominaram
a Mesopotâmia e o Egito, assim como as civilizações da Fenícia e de Canaã, são a fonte literária e
histórica do GÊNESIS e do AT em geral.
É inegável que nos 11 primeiros capítulos se encontram abundantes elementos dessas culturas,
incluindo alusões a certos mitos da Suméria, da Babilônia e de Ugarit, especialmente aos poemas da Criação,
Enuma-Elish e Atrahasis. O poema de Gilgamesh está também presente no relato do Dilúvio. Muitas vezes, os
autores do Gênesis colocam-se em polémica aberta contra os mitos pagãos, como no caso de 1,1-2,4a.
Na História Patriarcal (cap. 12-50) encontramos, igualmente, pequenos fatos alusivos ao
convívio com povos vizinhos. No que se refere à origem dos Patriarcas, há relatos sobre os antepassados
tribais, heróis antigos, genealogias ou listas de patriarcas (cap. 5) e de povos (cap. 10), e outras histórias
que pretendiam explicar a origem dos povos em geral e de Israel em particular. Por isso, este livro tem
gêneros literários variados:
* A lenda: é o mais comum e consiste em produzir um relato a partir de um fato real, nome de
pessoa ou de lugar. Há lendas etiológicas, que pretendem explicar, no passado, a "causa" de qualquer
fenômeno ou acontecimento do presente. Um belo exemplo de lenda etiológica é o relato da destruição de
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Sodoma e Gomorra. Há ainda lendas etiológicas para explicar a origem de nomes de pessoas (para Isaac,
que significa "rir", ver 18,9-15; 21,2-7).
*A genealogia: é uma lista de nomes que recua o mais longe possível até ao passado, a partir do
presente. Pretende justificar no aspecto jurídico certos acontecimentos, privilégios de uma classe social ou
de um povo (5,1-32; 10; 11,10-32). É sua intenção preencher o imenso espaço entre a Criação e a História
do povo hebreu.
*As sagas ou histórias antigas de todo o gênero: luta pelos poços, guerras tribais, histórias de
famílias...
*Também encontramos aqui a linguagem mítica. Sabemos que os autores do GÊNESIS
combateram os mitos. Mas, para falar dos grandes problemas da humanidade, não deixaram de utilizar a
linguagem e certos elementos mitológicos que estavam em voga, como a criação do homem a partir do
barro (2,7), a árvore da Vida e a árvore da ciência (2,9-10; 3,1-6), o mito da serpente (cap. 3).
Todo este material foi colecionado muito lentamente. Primeiro surgiram pequenos conjuntos à volta
de um santuário, de um acontecimento ou de uma personagem; podemos chamar-lhes tradições, e foram
transmitidas oralmente, ao longo de muitos séculos. Quando aparece a escrita, essas tradições são fixadas
em documentos. Com a queda do Reino do Norte (Samaria), em 722, essas tradições são trazidas para o
Sul (Jerusalém). Finalmente, no período do Exílio (587-538), os redatores da escola Sacerdotal reúnem
todas as grandes tradições e documentos existentes, imprimindo-lhes o seu próprio estilo e teologia.
Podemos dizer que o GÊNESIS contém material recolhido entre os séculos XIII ao século V aC.
- O homem e o chão, a terra e o povo. Na primeira parte do livro (l-1l) predomina a relação do
ser humano (adâm) com o solo, o chão (adamâ), na segunda (12-50), a relação da família (casa, clã) com
a terra, como marcam as promessas de descendência e do território. Deus deu o solo à humanidade, e a
Israel, filho de Abraão, o seu território. Israel se percebe como eleito por Deus para ocupar aquele
território e, nele, adorar o Senhor A eleição, portanto, não é algo que coloca Israel acima dos outros
povos, mas o destino que Deus lhe dá para ocupar esse pedaço de terra no meio do chão que Deus deu à
humanidade. (Não se procure ai muita especulação sobre o planeta terra: o conhecimento daquele tempo
não chegava a isso.)
- A fragilidade do barro e o amor gratuito de Deus. O ser humano (adâm) é formado do barro
(adamâ): "humano do húmus ": ele tem um laço natural com o chão e, por isso, o direito de trabalhar na
terra. Mas significa também que ele é quebrantável como o barro usado pelo oleiro para criar seus
produtos (cf: Jr 19). A auto-suficiência, a violência, o desrespeito à vida e qualquer forma de orgulho são
contrários à sua vocação. A realização dessa vocação vai ser mostrada na figura de Abraão e de seus
descendentes, através de uma história de amizade, eleição e aliança da parte de Deus, mas também de
orgulhosa rebeldia da parte do homem, devidamente "corrigido " por Deus.
- Os últimos serão os primeiros. Na mesma linha vale refletir sobre alguns traços
surpreendentes: Deus escolhe Isaac como "herdeiro", embora nascido depois de Ismael (ao qual ele
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designa um destino próprio, protegendo-o com a sua mãe, a escrava Agar e seu filho Ismael, 21,9-21).
Eleva José depois de ele ter sido tratado como escravo, escolhe sistematicamente quem parecia sem
chances: Sara, a infértil, Jacó, o segundo filho (não o primogênito), José, o excluído, Efraim, mais novo
que Manassés... Deus não depende das prioridades e muito menos das prepotências humanas.
-As alianças. Antes que os livros Ex, Nm, Lv e Dt descrevam a aliança do Sinai em que Moisés
recebeu a Lei, Gn descreve a Aliança com Noé (a humanidade, cap. 9) e com Abraão (os povos semitas,
cap. 15 e 17). Nessas alianças temos um fundamento simbólico para o diálogo com todos os povos e suas
religiões e, de modo especial, com as três religiões proféticas, que unem os 'filhos espirituais de Abraão".
islão, judaismo e cristianismo.
- Retrato do ser humano universal. Adão e Eva somos todos nós, e até certo ponto vale a mesma
coisa em relação a Noé, Abraão, Jacó, José, Sara, Rebeca, Lia, Raquel e até a mulher de Putifar, o
mordomo do faraó..
- Igualdade de mulher e homem. Vista sobre o fundo de uma sociedade patriarcal Com
resquicios de matriarcado), a afirmação da igualdade criatural de homem e mulher (à imagem e
semelhança de Deus, Gn 1,26-27) é muito significativa. Uma leitura atenta das figuras de Agar, Sara,
Rebeca, Raquel, Tamar ensina muita coisa.
- A luz do Novo Testamento, o Gênesis nos faz descobrir a "lógica" da eleição de Deus, que
chama o que é humanamente menos importante para ser o realizador de seu plano de salvação. Esta lógica
se consumará em Jesus de Nazaré, no qual o “primeiro Adão” é passado a limpo. Adão, com quem entrou
o pecado e a morte no mundo, é contraposto a Cristo, autor da justificação e da vida (Rm 5; lCor 15).
Por detrás das "histórias" contadas pelos seus autores, o GÊNESIS contém os grandes temas
teológicos, não somente do Pentateuco mas da Bíblia em geral:
O GÊNESIS não foi redigido para escrever História, mas para dizer que Deus domina a História.
Por isso, é essencialmente um livro de catequese e de teologia, mesmo nos 11 primeiros capítulos, em que
não há preocupação histórica ou científica, no sentido atual. Por isso, a Pontifícia Comissão Bíblica, já em
16 de Janeiro de 1948, dizia, a este respeito: "Estas formas literárias não correspondem a nenhuma das
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nossas categorias clássicas e não podem ser julgadas à luz dos gêneros literários greco-latinos e
modernos."
Todos os grandes temas teológicos do GÊNESIS foram relidos pelos cristãos à luz do autor da
nova criação, Jesus Cristo (Jo 1,1-3). As grandes personagens do GÊNESIS - Adão, Eva, Noé, Abraão e
os outros Patriarcas - aparecem frequentemente ao longo do Novo Testamento para lembrar aos crentes
que há uma só História da Salvação.
Por isso, o Apocalipse - o último livro da Bíblia - não se compreende sem o primeiro.
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ESCOLA MATER ECCLESIAE
CURSO BÍBLICO POR CORRESPONDÊNCIA (40)
EXEGESE DE TEXTOS SELETOS - A pré-história bíblica (I)
MÓDULO I: O Hexaémeron
A pré-história bíblica
1) a criação do mundo bom por parte de Deus, a elevação do homem à filiação divina e a violação
dessa ordem inicial pelo pecado (Gn 1, 1-3,24);
2) o fratricídio de Caím, consequência do fato de que o homem abandonou a Deus; perdeu
também o amor ao seu semelhante (Gn 4,1-16);
3)a linhagem dos cainitas, que mostra o alastramento do pecado (Gn 4,17-24);
4)a linhagem dos setitas ou dos homens retos (Gn 5, 1-32);
5)o dilúvio, provocado pela propagação do pecado (Gn 6, 1-9,28);
6)a tabela dos setenta povos (Gn 10, 1-32);
7)a torre de Babei, nova expressão do pecado (Gn 11,1-9);
8) as linhagens dos semitas (Gn 11, 10-26) e dos teraquitas (11,27-32), que fazem a ponte até
o
Patriarca Abraão,
Em síntese:
O mundo, criado bom, Fraticídio Genealogias Dilúvio
É violado pelo pecado (4,1-16) (4,17-5,32) (6-9)
(Gn 1-3)
Desta maneira, o autor mostra que Deus fez o mundo bom e convidou o homem para o consórcio
da sua vida (ordem sobrenatural). Todavia o homem disse Não. Deus houve por bem reafirmar seu
desígnio de bondade, prometendo restaurar, mediante o Messias, a amizade violada pelo pecado (Gn 3,
15). Ele foi-se alastrando cada vez mais, como atestam os episódios de Caím e Abel, o dilúvio e da torre
de Babel. Então, para realizar seu intento de reconciliação do homem com Deus, o Criador quis chamar
Abraão para constituir a linhagem portadora da fé e da esperança messiânicas. Assim chegamos a Gn 12
(a vocação de Abraão).
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O hexaémeron (Gn 1, 1-2, 4a)
O primeiro bloco não é unitária, mas consta de duas narrações: Gn 1 , 1-2, 4a, a obra dos seis dias
(hexaémeron, em grego), da fonte P (século V aC.), e Gn 2, 4b-3, 24, da fonte J (séc. X aC.) 1 . Isto se
deduz do estilo e do vocabulário próprios de cada uma dessas seções como também um fato seguinte: em
Gn 2, 1-4a o mundo está terminado, o homem e a mulher foram criados; todavia, em Gn 2, 4b.5, o autor
sagrado afirma que não havia arbusto, nem erva, nem chuva, nem homem, e narra a criação do homem a
partir do barro como se ignorasse a criação já narrada em Gn 1,27 ..
Se, pois, há duas peças literárias justapostas em Gn 1, 1-3, 24, é preciso estudar cada uma de per si,
pois cada qual tem sua mentalidade e sua mensagem próprias. Comecemos pelo hexaémeron
(Gn 1, 1-2, 4a).
Para poder depreender a mensagem deste trecho bíblico, precisamos, antes do mais, observar a sua
forma literária.
Ora verifica-se que tal peça apresentam um cunho fortemente artificioso: após a introdução (1, 1 s),
o autor descreve uma semana de seis dias de trabalho e um de repouso; os dias de trabalho poderíamos
dispor-se em duas séries paralelas, das quais a primeira trata da criação das regiões do mundo e a
segunda aborda a povoação dessas regiões, como se vê abaixo:
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1.º Dia Luz astros 4.º dia
e
1,3-5 1,14-19
1,6-8 1,20-23
Continentes Animais
3.º Dia vegetações terrestres
mares HOMEM6.º dia
1,9-13 1,24-31
2,1-4a
Notemos também que cada um dos dias da criação é descrito segundo fórmulas que se repetem e
que constituem estrofes de um hino litúrgico:
"Deus disse ... E houve ... E assim se fez ... E Deus chamou ... E Deus viu quer era bom ...
Deus fez ... Deus abençoou ... Houve tarde e manhã ... dia".
A imagem do mundo pressuposta pelo autor é bem diferente da nossa: haveria a região dos ares, a
das águas e a da terra. Esta seria uma mesa plana, pousada sobre colunas; debaixo da terra haveria as
águas donde emergem as fontes, e também a região dos mortos ou o cheol. A luz era concebida como
algo independente do sol e das estrelas, pois mesmo nos dias em que o sol não brilha, temos luz (por isto
a luz é criada no 1 º dia, ao passo que os astros no 4º dia). A vegetação seria o tapete verde inerente à
terra; por isto terá sido criada no 3º dia, anteriormente ao sol. - Tais concepções podem parecer irrisórias
ao leitor moderno; notemos, porém, que elas não são objeto de afirmação da parte do autor sagrado; o
autor se refere a elas tão somente para propor uma mensagem religiosa a respeito do mundo e do homem,
sem tencionar definir algum sistema de cosmologia.
Pergunta-se, pois: qual a mensagem de Gn 1, 1-2, 4a?
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A mensagem do hexaémeron
Três são as finalidades do texto em foco:
1) Antes do mais, o texto quer incutir a lei do repouso do sétimo dia (sábado). Com efeito,
imaginemos um grupo de sacerdotes recebendo fiéis judeus para celebrarem o culto do sábado
(hexaémeron é do Código P ou tem origem em ambientes de sacerdotes.) : era óbvio que explicassem a
estes fiéis o porquê daquela assembleia e do repouso do sétimo dia. Conceberam então um hino litúrgico,
no qual Deus é apresentado a trabalhar no quadro de seis dias úteis e a repousar no sétimo dia; em vez de
fabricar mesas ou cadeiras, como o homem, o Senhor Deus terá fabricado o mundo. O importante, porém,
é que nesse hino Deus observa o repouso do sétimo dia. Esse exemplo imaginário do Senhor seria a
melhor recomendação da lei do sábado; o homem deveria, pois, trabalhar em seis dias e no sétimo dia
afastar-se do trabalho para, no repouso, elevar mais detidamente o seu espírito a Deus. O exemplo divino
é evocado em Ex 20,11. Deve-se notar, porém, que a lei do sábado é anterior ao texto do hexaémeron
(séc. V aC.); ela decorre do ritmo natural da Lua, muito importante para os trabalhadores rurais de sete
em sete dias a Lua passa de nova para crescente, de crescente para cheia ... ). Por conseguinte, Deus
repousa poeticamente por causa do ritmo da semana do homem, e não vice-versa.
Alguns perguntarão: o cristão não deveria então observar o sábado assim incutido? - A propósito
lembramos que a palavra sábado vem do shabbath. A Bíblia prescreve o repouso do sétimo dia (d. Ex
20, 8-11) sem definir qual deva ser o primeiro dia da semana. Ora os cristãos sabem que Jesus ressuscitou
no dia seguinte ao sétimo dias (sábado) dos judeus; por isto começaram a contar os dias da semana no
segundo dia (ou na segunda-feira) dos judeus para fazer o sétimo dia coincidir com o da ressurreição de
Jesus. Assim fazendo, os cristãos observam todo sétimo dia (sábado); não é a material idade do nome
sábado que importa, mas é a observância de todo sétimo dia; o domingo dos cristãos vem a ser o sábado
(sétimo e repouso) dos cristãos.
2) Os autores sagrados quiseram também relacionar o mundo todo (como os hebreus o podiam
conhecer) com Deus, mostrando que tudo é criatura de Deus e, por conseguinte, não há muitos deuses.
Com outras palavras, estas são as verdades teológicas que o hexaémeron nos transmite:
a) Deus é um só. Não há, pois, astros sagrados (como os caldeus da terra de Abraão admitiam).
Nem há bosques sagrados como os cananeus da nova terra de Abraão professavam). Nem há animais
sagrados (como os egípcios, entre os quais viveu Israel, professava).
b) Deus é bom e, por isto, fez o mundo muito bom. Se há um mal no mundo, não vem de Deus, mas
do homem (como explica o relato de Gn 3). Os autores assim rejeitavam toda forma de dualismo ou de
repúdio a matéria como se fosse essencialmente má.
c) O mundo não é eterno, mas foi criado por Deus e começou a existir. Afirmando isto, o texto
sagrado não tenciona dirimir a questão "fixismo ou evolucionismo?", mas apenas assevera que a matéria e
o espírito têm origem por um ato criador de Deus; qualquer teoria científica que admitia isto, é aceitável
aos olhos da fé.
d) O homem é o lugar-tenente (imagem e semelhança) de Deus, não por sua corporeidade (Deus
não tem outro), mas por sua alma espiritual, dotada de inteligência e vontade. Tenhamos em vista o relevo
que o autor dá à criação do homem: quebrando o esquema habitual, o texto refere as palavras de Deus:
"Façamos o homem à nossa imagem e semelhança ... " (Façamos é um plural intensivo, que põe em
realce a grandeza do sujeito falante). Note-se, aliás, que não há origem diversa, neste texto, para o homem
e para a mulher, mas ambos surgem simultaneamente.
e) O casamento é abençoado por Deus, tornando-se uma Instituição natural, que não depende dos
deuses da fecundidade admitidos fora do povo bíblico.
f) O trabalho do homem é continuação da obra de Deus; é santo, qualquer que seja a sua
modalidade, desde que executado em consonância com o plano do Criador.
De maneira geral, pode-se dizer que toda a tendência do hexaémeron é apresentar o homem como
mediador entre o mundo inferior e Deus; esse mediador exerce, por sua posição e sua atividade na terra,
um sacerdócio ou a missão de fazer que todas as criaturas irracionais, devidamente utilizadas pelo
trabalho do homem, deem glória ao Criador. É o que o esquema abaixo ilustra:
DEUS
anim. Terrestres- HOMEM
peixes e voláteis 6.ºdia
astros 5.ºdia
terra 4.ºdia
águas 3.ºdia
ares 2.ºdia
1.ºdia
3) Pode-se também dizer que o autor sagrado, utilizando o esquema 6 + 1 = 7, quer realçar a índole
boa da obra de Deus. Sete é, sim, um símbolo de perfeição conforme os antigos; essa índole é enfatizada
pelo fato de se pôr em evidência a sétima unidade (há seis dias de trabalho, homogêneos entre si, e um
último, o sétimo, de índole diferente). Estes ensinamentos, como se vê, não pretendem dirimir questões
em ciências naturais. Podem parecer pobres aos olhos de quem procura na Bíblia uma resposta para
indagações de astronomia, cosmologia, geologia, botânica, zoologia ... Todavia, são de enorme valor,
pois nenhum povo anterior a Cristo, fora Israel, chegou a tão sublime conceito de Deus e de origem do
mundo. O Deus da Bíblia é o Senhor único que, com sua onipotência, domina a natureza; por
conseguinte, tudo produz a partir do nada ou por sua vontade criadora. Aliás, o verbo bará (= fez),
ocorrente em Gn 1,1, é sempre usado na Bíblia para indicar a ação prodigiosa e singular de Deus: d. Is
48, 7; 45, 18; Jr 31,22; SI 50(51 ), 12; 103(104), 30 ...
Resta ainda observar que os dias do hexaémeron não significam era ou períodos geológicos. No
século passado, quando as ciências naturais mostram claramente que o mundo não pode ter surgido em
seis dias de 24 horas, muitos autores julgaram que os dias de Gn 1 eram períodos longos correspondentes
aos da formação do globo terrestre (era azóica, primária, secundária ... ). Assim a Bíblia teria
antecipadamente descrito a origem do mundo, só a ciência do século XIX conseguiu averiguar! Tal
atitude chama-se "concordismo", porque tenciona obter concórdia '(ainda que forçada) entre a Bíblia e as
ciências, como se visassem ao mesmo objetivo de narrar os fenômenos físicos da origem do mundo. O
concordismo é errôneo por causa deste seus pressuposto. O autor sagrado não tinha as preocupações de
um cientista; não queria senão oferecer um ensinamento religioso tal como acabamos de enunciar; por
isto ele tinha em mira dias de 24 horas (nos quais houve tarde e manhã, cf. 1,5.8.13.19.23.31); em outras
palavras: ele imaginou uma semana como a nossa, mas uma semana que nunca existiu,. .. a semana na
qual Deus, como primeiro trabalhador, teria fabricado o mundo.
Dito isto, ficam ainda abertas certas questões como "monogenismo ou poligenismo?", "fixismo ou
evolucionismo?", "origem das raças?"
plantas animais
(o homem está só) (o homem está só)
Vê-se, pois, que o relato não tem em mira descrever a fenomenologia ou o aspecto científico da
origem das criaturas, mas, sim, visa a responder a uma pergunta: qual o relacionamento existentes entre o
homem e a mulher? Qual o papel da mulher frente ao homem? - Estas questões de ordem filosófica
religiosa perpassam todo o relato. Para responder-lhes, o autor apresenta o homem (varão) sozinho ( É
certo que o homem não pode viver sem vegetação e animais. Todavia sabemos que o autor não escreve
uma página de ciências naturais.) verifica duas vezes que ele está só, porque nenhuma planta e nenhum
animal se lhe equiparam; finalmente Deus tira matéria do próprio homem para com ela formar a mulher;
assim se justifica a exclamação: "Esta sim! É da minha dignidade!" Desta forma, o texto sagrado nos diz
que a mulher não é inferior ao homem, mas compartilha a natureza do homem; é o vis-à-vis do homem.
Esta afirmação é de enorme valor: já no século X aC. a S. Escritura propunha uma verdade que muitos
povos hoje não conseguem reconhecer e viver.
Lição 2: Evolucionismo e Criacionismo
O autor sagrado apresenta origem distinta para o homem e para a mulher. Analisemos um e outro
caso.
1. Origem do homem. Será que o texto de Gn 2, 7, quer dizer algo sobre o modo como apareceu o
homem na face da terra?
Respondemos negativamente. O autor sagrado utilizou a imagem do Deus-Oleiro, que era assaz
frequente nas tradições dos povos antigos. Com efeito; no poema babilônico de Gilgamesh conta-se que,
para criar Enkidu, a deusa Aruru "plasmou argila". Na lenda assiro-babilônica de Ea e Atar-hasis, a deusa
Miami, intencionando criar sete homens e sete mulheres, fez quatorze blocos de argila; com estes, suas
auxiliares plasmaram quatorze corpos; a deusa rematou-os, imprimindo-Lhes traços de indivíduos
humanos e configurando-os à sua própria imagem.
No Egito um baixo-relevo em Deir-el-Bahari e outro em Luxor apresentam o deus Cnum
modelando sobre a roda de oleiro os corpos respectivamente da rainha Hatshepsout e do Faraó Amenofis
III; as deusas colocavam sob o nariz de tais bonecos o sinal hieroglífico da vida ank, para que a
respirassem e se tornassem seres vivos,
Entre os Maoris da Nova Zelândia, conta-se o seguinte episódio: um certo deus, conhecido pelos
nomes de Tu, Tiki e Tané, tomou argila vermelha à margem.de um rio, plasmou-a, misturando-lhe o seu
próprio sangue, e dele fez uma cópia exata da Divindade; depois, animou-a soprando-lhe na boca e nas
narinas; ela então nasceu para a vida e espirrou. O homem plasmado pelo criador Maori parecia-se tanto
com este que mereceu por ele ser chamado Tiki-Ahua, isto é, imagem de Tiki.
Compreende-se, pois, que o tema de Deus-Oleiro, ocorrente também na Bíblia, não passa de
metáfora. Quer dizer que, como o oleiro está para o barro, assim Deus está para o homem. E como é que
está o oleiro para o barro? - Numa atitude de sabedoria, carinho, maestria, providência ... Assim também
Deus está para o homem, qualquer que tenha sido a modalidade de origem do ser humano. Não se queira
extrair desta passagem alguma lição do teor científico.
2. Origem da mulher. Que significa a costela extraída de Adão para dar origem à mulher? - Não
implica que esta tenha tido princípio diferente do homem. O tema da costela há de ser entendido a partir
das palavras finais de Adão: "Esta é osso dos meus ossos e carne da minha carne" (Gn 2, 23); tal
afirmação é metafórica e significa: a mulher é da natureza ou da dignidade do próprio homem, em
oposição aos demais seres (embora cercado destes, o autor enfatiza que o homem estava só). Ora, para
preparar e justificar esta asserção a respeito da dignidade da mulher, o autor descreve o próprio Deus a
tirar carne e osso (uma costela) do homem a fim de formar o corpo da mulher; a "extração" da costela e a
formação da mulher, no caso, não têm sentido literal, mas vêm a ser a maneira "plástica" de afirmar a
igualdade de natureza do homem e da mulher.
E à luz desta verdade que se deve entender também o desfile de animais perante o homem e a
imposição de nome a cada um deles (2, 19s). "Impor o nome", para os antigos, significa "reconhecer a
essência, a identidade do ser nomeado". O autor sagrado imagina Adão a impor nomes aos animais para
poder enfatizar de modo muito concreto que nenhum animal era adequado ao homem; notemos que, antes
e depois do "desfile", o texto verifica que o homem estava só (2, 18.20). Devemos, pois, concluir que tal
cena não tem sentido literal, mas visa apenas a fazer o contraste entre o homem e os animais inferiores e
assim preparar o surto da mulher "feita de costela" ou participante da dignidade do homem.
Não se deve, pois, na base do texto bíblico, atribuir à mulher origem diversa da que tocou ao
homem.
3. Resta, então, indagar: que diz o texto sagrado sobre a maneira como apareceu o ser humano?
A Bíblia não foi escrita para dirimir o dilema "criação ou evolução?" Todavia, a partir de premissas
filosóficas e teológicas, é preciso dizer que o dilema não existe. Vejamo-lo por partes.
Quanto ao homem, a pergunta é colocada popularmente nestes termos: "Vem do macaco ou não?" -
Responderemos distinguindo entre corpo e alma do homem. O corpo, sendo matéria, pode (Dizemos
pode, sem afirmar a tese). provir de matéria viva preexistente; não proviria dos macacos hoje existentes,
pois estes já são muito especializados e não evoluem mais; proviria, porém, do primata ou do ancestral
dos macacos e do corpo humano. A alma, contudo, não teria origem por evolução, mas por criação direta
de Deus; sendo espiritual, ela não provém da matéria em evolução (o espírito não é energia quantitativa
nem fluído nem éter; por isto não pode originar-se da matéria). Assim se conciliam criação e evolução no
aparecimento do homem: pode-se admitir que, quando o corpo do primata estava suficientemente do
homem: pode-se admitir que, quando o corpo do primata estava suficientemente evoluído ou organizado,
Deus lhe infundiu a alma espiritual, diretamente criada para dar-lhe a vida de ser humano. Isto terá
ocorrido tanto no surto do homem como no da mulher.
Considerando agora o universo, podemos dizer que a matéria inicial, caótica (nebulosa), donde terá
procedido a evolução, foi criada diretamente por Deus (não é matéria eterna). Deus lhe haverá dado as
leis de sua evolução, de modo que dela tiveram origem os minerais, os vegetais e os animais irracionais
até o limiar do homem. Quando o Senhor Deus quis que este aparecesse na face da terra, realizou outro
ato criador, infundindo a alma espiritual no organismo do primata evoluído. É o que se pode reproduzir
no seguinte esquema:
Alma espiritual
Matéria inicial minerais vegetais animais organismo aperfeiçoado
(nebulosa) irracionais
HM
No tocante à origem da vida, é preciso distinguir vida vegetativa, vida sensitiva e vida
intelectiva.
As duas primeiras modalidades dependem de um princípio vital material, que bem pode ter sido eduzido
da matéria em evolução. Ao contrário, a vida intelectiva depende de um princípio vital (alma) espiritual,
que só pode provir de um ato criador de Deus.
Polifiletismo: muitos troncos ou berços do gênero humano (na Ásia, na África, na Europa.)
2) A afirmação da unidade de origem de todos os povos significa que todos são chamados à
salvação. Verdade é que essa salvação há de vir através de Abraão e da sua linhagem; é o que indica a
tabela de Gn 11,10-26, que continua a listagem dos descendentes de Sem, de modo a chegar a Abraão (d.
11,26). Todavia a ênfase dada aos semitas e a Abraão em toda a história a partir de Gn 12 ainda não se faz
notar em Gn 10; Israel, em suas origens, aparece como um pequeno povo em meio aos demais povos (d.
Gn 10,22; 11, 11); não são as suas armas e nem a sua habilidade política que o fazem grande, mas
unicamente o beneplácito e a escolha de Deus; Abraão foi chamado gratuitamente, sem ter merecido a sua
vocação (d. G13, 6-9; Rm 4, 1-12).
Eis o significado religioso da tabela de Gn 10.
I. A libertação do Egito
Êxodo 12,43-51 Prescrições a respeito da Páscoa
1. ISRAEL NO EGITO 13,1-2 Os primogênitos 13,3-10 Os Ázimos
1,1-7 A prosperidade dos hebreus no Egito 13,11-16 Os primogênitos
1,8-14 A opressão dos hebreus 4 A SAÍDA DO EGITO
1, 15-22 A história das parteiras 13,17-22 A saída dos israelitas
14,1-4 De Etam ao mar dos Juncos
2. JUVENTUDE E VOCAÇÃO DE MOISÉS 14,5-14 Os egípcios perseguem Israel
2,1-10 O nascimento de Moisés 14,15-31 O milagre do mar
2,11-22 A fuga de Moisés para Madiã 15,1-21 O canto de vitória
VOCAÇÃO DE MOISÉS
2,23-25 Deus lembra-se de Israel II. A caminhada no deserto
3,1-6 A sarça ardente 15,22-27 Mara
3,7-12 A missão de Moisés 16,1-36 O maná e as codornizes
3,13-15 A revelação do Nome divino 17,1-7 A água da rocha
3,16-20 Instruções para a missão de Moisés 17,8-16 Combate contra Amalec
3,21-22 A espoliação dos egípcios 18 ,1-12 Encontro de Jetro com Moisés
4,1-9 O poder dos sinais dado a Moisés 18,13-27 A instituição dos Juízes
4,10-17 Aarão intérprete de Moisés
4,18-23 Moisés volta ao Egito. Partida de Madiã III. A aliança do Sinais
4,24-26 A circuncisão do filho de Moisés 1. A ALIANÇA E O DECÁLOGO
4,27-31 Encontro com Aarão 19,1-2 Chegada ao Sinai
5,1-5 A primeira entrevista com Faraó 19,3-8 Promessa da Aliança
5,6-14 Instrução aos inspetores do povo 19,9-15 Preparação da
5,15-18 A queixa dos escribas hebreus 19,16-25 A teofania
5,19-21 A reação do povo 20,1-21 O Decálogo
5,22-6,1 A oração de Moisés
6,2-13 Nova narração da vocação de Moisés 2. O CÓDIGO DA ALIANÇA
6,14-27 Genealogia de Moisés e Aarão 20,22-26 A lei do altar
6,28-7,7 Retoma-se a narração da vocação de 21,1-11 Leis acerca dos escravos
Moisés 21,12-17 Homicídio
3 AS PRAGAS DO EGITO A PÁSCOA 21,18-36 Golpes e ferimentos
21,37-22,3 Roubos de animais
7,8-13 A vara transformada em cobra. 22,4-14 Delitos que implicam indenização
7.14-25 I A água transformada em sangue 22,15-16 Violação de uma virgem
7,26-8,11 II As rãs 22,17-27 Leis morais e religiosas
8,12-15 III Os mosquitos 22,28-30Primícias e primogênitos
8,16-28 IV As moscas 23,1-9 A justiça. Os deveres para com os inimigos
9,1-7 V. A peste dos animais 23,10-13 Ano sabático e sábado
9,8-12 VI As úlceras. 23,14-19 As festas de Israel
9,13-35 VII A chuva de pedras 23,20-33 Promessas e instruções em vista da
10,1- 22 VIII. Os gafanhotos entrada em Canaã
10,21-29 IX. As trevas
11,1-11 Anúncio da morte dos primogênitos 3. CONCLUSÃO DA ALIANÇA
12,1-14 A Páscoa 24,1-11 Conclusão da aliança
12,15-20 A Festa dos Ázimos 24,12-18 Moisés sobre a montanha
12,21-28 Prescrições sobre a Páscoa
12,29-34 A décima praga: morte dos primogênitos 4.PRESCRIÇÕES REFERENTES À CONSTRU-
12,35-36 Espoliação dos egípcios ÇÃO DO SANTUÁRIO E AOS SEUS MINISTROS
12,37-42 A partida de Israel 25,1-9 A contribuição para o santuário
CONTEÚDO E DIVISÃO
Temas específicos:
- O êxodo do Egito é o evento referencial de Israel como povo. É considerado o tempo
privilegiado do encontro com Deus (Jr 2,2s; Os 11,1). Ao êxodo são referidas várias instituições: a Páscoa
(12,26s), os Ázimos ou Pães sem fermento (13,8), a oferta dos primogênitos (13,14s). A reflexão de Israel
volta sempre de novo ao êxodo e à aliança, cuja "renovação " (Js 24) constitui um ponto alto do culto em
Israel e dá origem à utopia do novo êxodo e da nova aliança " (Jr 31,31-34; Ez 16,59-63; 20,35-44; 37,20-
28; Is 40 55).
- Deus é quem age. Ele está com o povo com os profetas que são enviados ao faraó Ele elege o
povo não por ser poderoso, mas porque é oprimido. Deus opta pelos pobres e os oprimidos.
- O povo é resgatado por Deus para ser seu povo e dele receber a Instrução, o caminho da vida.
Não deve obedecer aos deuses (= os poderes, as estruturas) do Egito ou de outros povos. Por isso O
SENHOR da Aliança é "ciumento ", não permite que seu povo exclusivo vá atrás de outros poderes.
- O povo não compreende, é "duro de cabeça ", "murmura", rompe a Aliança, mas o SENHOR a
restaura e se mostra, sempre de novo, "compassivo, clemente, paciente, rico em misericórdia e fiel,
perdoando as culpas..." (Ex 34, 6s). A renovação da Aliança é fundamental na religião de Israel.
-A leitura deste livro nos convida a responder a uma pergunta básica: "O SENHOR está ou não
está no meio de nós?" (17,7; cf. 33,15-19). Com um olho nos acontecimentos de nossa vida e outro nas
páginas do Êxodo, seremos capaz de encontrar pessoalmente e em comunidade, com o Deus libertador.
- Sendo a Bíblia livro da vida, tudo o que é útil para a comunidade israelita tem nela seu lugar:
organizar e governar a sociedade (o Direito), construir o santuário (a arquitetura), executar obras de
ornamentação e manutenção do culto (a tecnologia, o artesanato)... A própria arte técnica é "sabedoria do
espírito de Deus " (31,3). Tudo isso deve, portanto, estar a serviço dele e de seu povo (também hoje).
AUTOR
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A antiga tradição judaica, tal como a antiga tradição cristã, atribuíam a Moisés a autoria de todo o
Pentateuco e, por isso, também do livro do ÊXODO. Este modo de pensar está hoje claramente
ultrapassado. Contudo, talvez hoje se avalie também, com mais clareza do que nunca, a eventual ação
determinante de Moisés na constituição de Israel e do corpo bíblico do Pentateuco e do ÊXODO.
GÉNERO LITERÁRIO
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O tecido literário deste livro resulta em parte da acostagem horizontal de temáticas por via
redacional (“teoria fragmentária”), mas fundamentalmente da complexidade dinâmica da vida de
múltiplos grupos cujas experiências no terreno vão sendo recolhidas e integradas em contextos
ideológicos mais amplos. É ainda a questão da “teoria documentária”, embora redimensionada, nas suas
componentes Javista (J), Eloísta (E), Deuteronômico-Deuteronomista (D-Dtr) e Sacerdotal (P); das
múltiplas “fichas” que recolhem e da ideologia e intenção das redações; sem esquecer, também, a redação
final.
CONTEÚDO E DIVISÃO
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Conteúdo geral
Levítico traz a "instrução” (hebr. torah) a respeito dos sacrifícios, dos sacerdotes, da pureza e das
relações comunitárias. Tudo isso é muito concreto, muito "do corpo”, da vida, e é assim que deve ser lido.
Lv ensina a todo israelita a santidade da vida e a santidade de vida, com vistas à comunhão com o Deus
vivo, meta última da vida humana.
O livro segue uma linha ascendente: depois de três blocos de leis propriamente rituais, culminando
na festa da Expiação, ou dia do Grande Perdão (caps. 1-16), expõe a grandiosa "Lei da Santidade", de
caráter ético, mostrando que a santidade ritual é a expressão da santidade da vida inteira (= dedicação a
Deus e à sua vontade, (caps. 17-26). O cap. 27 é um apêndice.
Os acontecimentos narrados pelo LEVÍTICO situam-se durante a grande viagem desde o Egito até
à terra de Israel, no ambiente geográfico e sobretudo teológico da aliança do Sinai e em estreita ligação
com o Êxodo e os Números: Os últimos capítulos do Êxodo (25-40) são litúrgicos e fazem uma ligação
perfeita com o LEVÍTICO, que é totalmente litúrgico, e a numerosa legislação deste relaciona-se
intimamente com o Êxodo (Ex 25,1-29; 31; 35-40).
Apenas algumas tradições antigas devem pertencer ao tempo histórico da travessia do Sinai, pois
toda a estrutura do culto aqui regulamentada supõe um povo sedentarizado e o culto do templo bem
organizado. Trata-se, talvez, de uma recolha feita pelos sacerdotes de Jerusalém, já depois do Exílio (séc.
VI).
O trágico acontecimento do Exílio diz bem da importância que o culto tinha para este povo. Sem
as seguranças que lhe vinham do rei, a Israel restava a Lei (proclamada agora talvez nas primeiras
sinagogas) e o sacerdócio que mantinha o culto do templo, onde o povo se reunia para as grandes festas,
que faziam reviver a sua consciência de povo de Deus.
O autor, ao situar todo este enorme conjunto de leis cultuais num único local e antes da partida do
Sinai, com a qual começa o livro dos Números, pretende atingir vários objetivos:
# primeiro, dizer que todas as leis devem ter o seu fundamento na aliança do Sinai, graciosamente
oferecida por Deus ao seu povo, e que o culto deve ser uma resposta a essa aliança;
# depois, atribuir toda esta legislação à mediação de Moisés, que foi o primeiro organizador do
povo de Deus. No entanto, quando estas leis cultuais foram codificadas aqui, já eram praticadas no culto
do templo. Isso não obsta a que algumas delas sejam tão antigas que se percam no tempo.
Mas o culto do povo da aliança não pode limitar-se apenas aos ritos litúrgicos. Daí a inserção, neste livro,
de um "Código de Santidade", que pertencia também ao ambiente dos sacerdotes-catequistas do templo.
O conteúdo do LEVÍTICO pode alinhar-se, então, em seis grandes secções, constituindo as quatro
primeiras um "Código sacerdotal". Teríamos, portanto, a seguinte divisão:
Holocausto: vem do hebraico 'olah, que significa "subir" e indica o fumo da vítima que sobe para
Deus. A sua característica essencial era a vítima ser totalmente queimada, não ficando para o sacerdote
mais do que a pele. Antes do sacrifício, o oferente colocava as mãos sobre a vítima, em sinal de que lhe
pertencia, reclamando, assim, os benefícios do seu sacrifício. Depois, ele próprio degolava a vítima, e o
sacerdote queimava-a sobre o altar. Este sacrifício pretendia reconhecer o direito absoluto de Deus sobre
todas as coisas (1,1-17; 6,1-6).
Sacrifício de comunhão (ou pacífico: zebah shelamîm): procurava a comunhão com Deus,
dando-lhe graças. Como o holocausto, incluía a imposição das mãos, a imolação da vítima e o
derramamento do seu sangue no altar (3,1-17). A parte mais gorda, considerada a melhor, pertencia a
Deus e era queimada; as outras duas partes eram distribuídas entre o sacerdote e o oferente; este comia-a
num banquete sagrado, para significar a comunhão com a divindade.
Oferta vegetal (minhah, "oferta"): era a oferta de produtos do campo, sobretudo de farinha misturada
com azeite. Este sacrifício estava ligado à oferta da primeira farinha na festa do Pentecostes, mas tornou-se
muito corrente, sendo feito juntamente com os sacrifícios de imolação de animais (ver 2,1-17).
Sacrifício pelo pecado (hata't): consistia em oferecer uma vítima por um pecado qualquer.
Variava conforme a gravidade do pecado e a importância da pessoa que pecava; para os pobres, podia
comutar-se pelos animais mais baratos: um par de rolas ou de pombas (5,7; 12,6-8; Lc 2,24). Este
sacrifício distinguia-se dos demais pela aspersão do sangue, "pois o sangue é que faz expiação porque é
vida" (17,10-11). Assumia especial importância na festa da Expiação.
Sacrifício de reparação da ofensa ('asham): era um sacrifício semelhante ao anterior (5,14-26; 7,7).
Pães da oferenda (ou da proposição, lit., "pães da face"): eram doze pães, colocados sobre uma
mesa que estava diante do Santo dos Santos. Simbolizavam a presença das doze tribos, cada semana,
diante do Deus da aliança. Eram renovados cada sábado e só os sacerdotes os podiam comer (24,5-9).
Ofertas de incenso: o incenso era considerado o perfume mais excelente e, por isso, oferecia-se a
Deus como sinal de adoração e da oração que sobe até Ele. No chamado altar do incenso, que estava
diante do Santo dos Santos, o incenso ardia todos os dias, de manhã e de tarde, em honra do Senhor
(2,1.15; 6,8; Ex 30,34-38; Mt 2,11; Lc 1,9).
Temas específicos
- O conceito central de Lv é a santidade. Porque Deus é santo, seu povo tem de ser santo também.
Mas enquanto a santidade de Deus nos faz pensar sobretudo em sua transcendência, por ser ele totalmente
outro e distinto do ser humano, a do ser humano se manifesta na ética, da qual a integridade do alto é o
símbolo (como se mostra sobretudo na Lei da Santidade, caps. 17-26). Impressionado pela grandeza e
perfeição de seu Deus, Israel procura honrá-lo com o culto mais perfeito possível (pureza ritual) e servi-lo
com a máxima fidelidade (pureza moral). Neste sentido, Lv ensina-nos a expressar no culto, o “amor a
Deus sobre todas as coisas” (19,2) e, na ética, o "amor ao próximo como a nós mesmos" (19,18).
- Esse acento posto no culto tem ainda atualidade? Qual a importância de Lv para gente oprimida e
explorada como são as massas do Terceiro Mundo, que certamente, não teriam condições de prestar o
culto puro que Lv prescreve. Decerto, Lv é um livro para levitas. Mas aprendemos dele que o aspecto
cultual é relativo e que a participação na santidade se dá essencialmente no amor ao próximo, urgido pelo
Deus 'santo", 0 Deus da Vida.
- À luz do NT fica ainda mais claro que o verdadeiro "temor de Deus" é o amor ao próximo (cf.
Lv 19,18). Com sua morte na cruz, Cristo superou todos os ritos e sacrifícios da antiga Lei (Hb 10,1-10).
A crítica ao ritualismo vazio se encontra nos profetas (Os 6,6) e em Jesus (Mt 9,13): a Deus agradam mais
o amor e a misericórdia do que os sacrifícios.
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Representa a resposta cultual do povo de Israel ao Deus da aliança. Os ritos descritos neste livro
são a forma humana cultual possível, nesse tempo, do povo a Deus.
Jesus Cristo não destruiu este culto (Mt 5,17-20); ele mesmo seguiu várias normas cultuais,
presentes no LEVÍTICO. No entanto, fez uma interpretação mais espiritual, apontando para um culto que
nasça do coração do crente e esteja sempre comprometido com a sua vida concreta e a do mundo que o
rodeia (Mt 5,21-48; Mc 7,1-23; Jo 4,20-21; Rm 12,1).
Hoje, continuamos a ler este livro para encontrar as raízes do culto cristão e para nos alimentarmos
com os seus temas teológicos, presentes em muitos textos do Novo Testamento. A Carta aos Hebreus é o
livro do Novo Testamento que mais explicitamente faz uma leitura cristã do Levítico.
O PRINCÍPIO DO SÁBADO
Nome Referências Época Propósito Significado
profético
Ex 20,8-11; Da noite do 1. Descansar do trabalho, honrar a
Sábado 31,12-17; sexto dia até à Deus e refletir sobre a aliança de Deus Jesus é o Senhor do
(heb. Lv 23,3; noite do dia com Israel sábado
Shabbat) Dt 15,12-15 seguinte 2. Comemorar o término da criação (Mc 2,23-28)
de Deus (Gn 2,2-3)
1. Permitir que a terra descansasse ou
Todo sétimo permanecesse sem plantio Deus nos deu
Ano sabático Ex 23,10-11; ano 2. Perdoar dívidas descanso,
Lv 25,1-7; 20-22; 3. Libertar os israelitas de sua perdão e liberdade
Dt 5,1-18 escravidão por pagamento de dívidas por meio de Jesus
Cristo (Mt 11,28;
Jo 8,36; Ef 1,7).
Ano do O 1. Proclamar liberdade para os que se Essa observância
Jubileu (lit. qüinquagésimo tornaram escravos por causa de dívidas retrata a libertação dos
"ano de soprar Lv 25,8-55; ano depois de 2. Retornar a terra a seus antigos laços da escravidão do
os chifres de 27,17-24; sete anos donos pecado que vem através
carneiro") Ez 46,17 sabáticos 3. Regozijar-se e celebrar - sem , de Cristo
plantar (Jo 8,36; Gl 5,1).
METÁFORAS FEMININAS PARA DEUS
Concebendo, carregando vida em seu útero, em trabalho de parto e dando à luz
Jó 38,3;Is 42,14; Jo 3,6
Mãe que amamenta Nm 11,12; Sl 131,1-2; Is 49,15; 1Pd 2,2-3
Mãe que cria Jó 10,10-12; Is 46,3-4; Os 11,3-4
Parteira Sl 22,9-10; Is 66,9
Serva da casa Sl 123,2
Mãe ursa Os 13,8
Mãe águia Dt 32,11-12
Lc 13,34
Mãe galinha
A Bíblia tem muitas e ricas metáforas femininas sobre Deus. Metáfora é uma figura de linguagem em que um termo ou frase
implica uma comparação entre duas coisas essencialmente diferentes, a fim de sugerir uma semelhança. Portanto, mesmo que
sejam encontradas nas Escrituras várias metáforas femininas para Deus, isso não quer dizer que o pronome masculino
escolhido por Deus para referir-se a Ele deva ser alterado ou jogado fora. No entanto, estas metáforas indicam, sim, que o
caráter de Deus se alinha e ultrapassa tanto a masculinidade como a feminilidade. Deus não é feminino nem masculino,
mesmo que tenha escolhido ligar seu papel àquilo que faz a mãe quando concebe, carrega, nutre, cria e cuida de seus filhos. A
metáfora bíblica é uma ferramenta útil para revelar a natureza de Deus e para nos comunicar seu amor e preocupação por
meio de exemplos simples, facilmente compreendidos por todas as pessoas.
Números
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I. O recenseamento 1,1-4 Violação do sábado — 15,32 - 36.
Os encarregados do recenseamento — 1,5-19 As borlas das vestes — 15,37- 41
O recenseamento — 1,20- 47 Rebelião de Coré, Datã e Abiram — 16,1- 15
Estatuto dos levitas — 1,48- 54 O castigo —16, 16 - 35
Ordem das tribos — 2,1- 34 Os incensórios — 17, 1- 5
A tribo de Levi: A intercessão de Aarão —17, 6 - 15
A. Os sacerdotes — 3,1- 4 A vara de Aarão — 17,16 - 26
B. Os levitas. Suas funções — 3,5- 10 O papel expiatório do sacerdócio — *17- 18, 1-7
C. A eleição dos levitas — 3,11- 13 A parte dos sacerdotes — 17,8 - 19
D. O recenseamento dos levitas —3, 14- 39 A parte dos levitas — 17, 20 - 24
E. Os levitas e o resgate dos primogênitos —3, 40- 51 Os dízimos — 17, 25 - 32
Os clãs dos levitas: As cinzas da novilha vermelha — 19,1- 10
A. Os caatitas — 4,1- 20 Caso de impureza — 19,11- 16
B. Os gersonitas — 4,21- 28 Ritual das águas lustrais — 19,17- 22
C. Os meraritas — 4,29- 33 VII. De Cades a Moab
Recenseamento dos levitas — 4,34- 49 As águas de Meriba — 20,1- 11
II. Leis diversas Castigo de Moisés e de Aarão — 20,12 - 13
Expulsão dos impuros — 5,1- 4 Edom recusa passagem — 20,14- 21
A restituição — 5,5 -10 Morte de Aarão — 20,22 - 29
A oferta pelo ciúme — 5,11- 31 Tomada de Horma — 21,1 - 3
O nazireato — 6,1- 21 A serpente de bronze — 21,4- 9
A fórmula da bênção —6, 22- 27 Etapas em direção à Transjordânia — 21,10- 20
III. Oferendas dos chefes e consagração dos levitas Conquista da Transjordânia — * 21-22,1
Oferenda de carros — 7,1- 9 O rei de Moab recorre a Balaão — 22,2 - 21
Oferenda da Dedicação — 7,10- 89 A jumenta de Balaão — 22,22- 35
As lâmpadas do candelabro — 8,1- 4 Balaão e Balac — *22-23, 1 - 3
Os levitas são consagrados a Iahweh — 8,5- 22 Oráculos de Balaão —* 23-24, 1- 25
O tempo de serviço dos levitas — 8,23- 26 Israel em Fegor — 25,1 -18
IV. A Páscoa e a partida VIII. Novas disposições
Data da Páscoa — 9, 1-5 O recenseamento — 26,19 - 56
Caso particular — 9,6- 14 Recenseamento dos levitas — 26,57- 65
A Nuvem — 9,15- 23 A herança das filhas — 27,1 - 11
As trombetas —10,1- 10 Josué, chefe da comunidade — 27,12 - 23
A ordem de partida —10, 11- 28 Especificações sobre os sacrifícios — 28,1- 3
Proposta de Moisés a Hobab — 10,29-32 A. Sacrifícios cotidianos —28,4- 8
A partida — 10,33- 36 B. O sábado — 28,9-10
V. Etapas no deserto C. A neomênia — 28,11 - 15
Tabera — 11,1-3 D. Os Ázimos — 28,16- 25
Cibrot-ataava. E. A festa das Semanas — 28,26 - 31
Queixas do povo — 11, 4- 9 F. A festa das Aclamações — 29,1- 6
Intercessão de Moisés — 11,10- 15 G. O dia das Expiações — 29,7 - 11
A resposta de Iahweh — 11,16 -23 H. A festa das Tendas — *29 -30,1
Efusão do Espírito — 11,24- 30 Leis sobre os votos — 30,2 - 17
As codornizes — 11,31- 35 IX. Despojos de guerra e partilha
Maria e Aarão contra Moisés — 12,1- 3 Guerra santa contra Madiã — 31, 1- 12
Resposta divina — 12,4 - 10 Massacre das mulheres e purificação dos despojos de guerra —
Intercessão de Aarão e de Moisés — 12,11- 16 31,13- 24
Exploração de Canaã — 13,1- 24 Divisão dos despojos de guerra — 31,25- 47
O relato dos enviados — 13,25- 33 As oferendas — 31,48- 54
Revolta de Israel — 14, 1- 9 Divisão da Transjordânia — 32,1 - 42
Ira de Iahweh e intercessão de Moisés — 14,10 - 19 As etapas do Êxodo — 33, 1- 49
Perdão e castigo — 14,20 - 38 Partilha de Canaã. A ordem de Deus — 33,50 - 56
Tentativa fracassada dos filhos de Israel — 14,39 - 45 Fronteiras de Canaã — 34,1 - 15
VI. Disposições sobre os sacrifícios. Os príncipes indicados para a partilha — 34,16 - 29
Poderes dos sacerdotes e dos levitas A parte dos levitas — 35,1 - 8
A oblação que acompanha os sacrifícios — 15,1 - 16 As cidades de refúgio — 35, 9- 34
As primícias do pão — 15,17- 21 A herança da mulher casada — 36,1- 12.
Expiação das faltas cometidas por inadvertência — 15,22 - Conclusão — 36,13
31
Integrado no grande bloco da Torá ou Pentateuco, o livro dos NÚMEROS recebeu este nome na
tradução grega dos Setenta, por abrir com os números do recenseamento do povo hebraico e, depois,
apresentar outros recenseamentos ao longo da narrativa (cap. 1-4 e 26). Relacionados com este título
podem estar ainda os números das ofertas dos chefes (cap. 7), das ofertas, libações e sacrifícios a oferecer
pelo povo (cap. 15 e 28-29).
Trata-se, porém, de um livro narrativo com alguns trechos legislativos, que se enlaça com o
Êxodo, do qual está literariamente separado pelo código legislativo do Levítico.
CONTEÚDO E DIVISÃO
Esquema:
Preparação para a partida Do Sinai a Cades: De Cades a Moab Nas planícies de Moab
do Sinai Rebeldia e castigo de
Israel
O livro, como todo o Pentateuco, apresenta-se como uma narrativa, e assim são a maioria dos
trechos que o compõem. Contém, todavia, algumas coleções de leis, antigas e novas, em parte já
apresentadas nos livros anteriores do Pentateuco, Ex e Lv, e em parte inéditas (como Nn 5,11- 6,21). Esta
composição, que mistura a narrativa da marcha aos trechos legislativos, visualiza como o povo de Israel
aprende a Torá (Instrução) durante a caminhada. (Até hoje o judaísmo chama a instrução da prática de
vida de halacá, 'procedimento" - do verbo halak, "caminhar".) Isso corresponde sem dúvida a uma
intenção didática: é mais fácil gravar leis e procedimentos em forma de história.
Assim como Gn, Ex e Lv, também Nn combina as tradições narrativas e legislativas de Israel
antigo. Ao lado das tradições javistas e eloístas, o predomínio cabe às tradições sacerdotais, que
representam mais da metade do material. O livro, tendendo a enraizar no período do deserto as
instituições do período da monarquia e mesmo do pós-exílio, apresenta Israel no deserto como um povo
bem organizado sob o ponto de vista civil e religioso. Ora, se esta imagem de Israel é antes ideal que real,
o livro mostra também as imperfeições do povo ainda em formação, a caminho da terra prometida,
sacudido por crises dramáticas (p. ex. , o envio dos exploradores a Canaã, Nm 13-14; a revolta de Coré,
Nm 16 - 17; a apostasia em Moab, Nm 25).
Na grande narrativa do Pentateuco, que vai de Gn até Dt, Nm faz a ponte entre Ex-Lv (centrados no
monte Sinai e nas primeiras etapas do deserto) e Dt, marcando o fim da travessia e localizado em Moab,
na fronteira da terra prometida. Se Nm condensa, assim, os trinta e oito anos passados no deserto depois
da proclamação da Lei no Sinai, evoca toda a caminhada de Israel até o tempo em que foi composto o
Pentateuco, na volta do exílio babilônico. Evoca a grande aprendizagem da Instrução de Deus (a Torá)
que Israel recebeu no caminho de sua história inteira. As diversas tentativas de entrar na terra prometida
prefiguram as dificuldades de restaurar o povo de Israel, em Judá, depois do exílio - tentativa que urgem
nova aprendizagem da Torá, oitocentos anos depois de Moisés.
O conteúdo deste livro abrange as peripécias ou vicissitudes da caminhada pelo deserto, desde o
Sinai até às margens do rio Jordão, fronteira oriental da Terra Prometida.
No aspecto histórico, a narrativa pode dividir-se em três grandes seqüências literárias:
I. No deserto do Sinai (1,1-10,10). Referem-se as ordens de Deus para a caminhada através do deserto
com a disposição do acampamento das tribos, os deveres dos levitas e outras leis de caráter ritual.
II. Do Sinai a Moab (10,11-21,35). Os acontecimentos mais importantes desta segunda parte estão
marcados por etapas geográficas, algumas das quais são difíceis de identificar.
Descreve-se a caminhada direta para Cadés-Barnea, mesmo na fronteira sul de Canaã e, depois, a inflexão
para oriente e a errância penosa durante quarenta anos através do deserto até à chegada a Moab, já na
fronteira da Terra Prometida.
III. Na região de Moab (22,1-36,13).
Começando com a bênção de Balaão, as narrativas desta terceira parte apresentam um novo
recenseamento dos israelitas. Descrevem a nomeação de Josué para substituir Moisés; contêm algumas
prescrições de caráter cultual; narram a luta contra os madianitas e a partilha de Canaã com a instalação
das tribos de Ruben, Gad e parte de Manassés em Galaad, na Transjordânia, e a recapitulação das etapas
do Êxodo.
Como tal, no seu encadeamento histórico, o livro dos NÚMEROS é inseparável da epopéia do Êxodo.
Mas, também nele, é preciso ter presente que as narrativas foram redigidas bastante depois dos
acontecimentos históricos, à luz da perspectiva da fé e da celebração litúrgica do templo de Jerusalém, já
na Terra Prometida.
A redação definitiva deste livro deve colocar-se em data posterior ao exílio da Babilônia. Certas leis,
sobretudo, são determinadas pela prática ritual estabelecida pelos sacerdotes após o Exílio (séc. VI-V).
De resto, só bastante tardiamente, graças a tradições orais muito antigas de proveniência diversa e a
fontes documentais variadas, transmitidas como "memória do passado histórico", é que terá sido possível
cerzir em unidade literária o conjunto das leis e a seqüência dos acontecimentos.
TEOLOGIA
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Como quer que seja, toda a narrativa está articulada dentro do binômio da fidelidade-infidelidade à
Aliança, evidenciando o movimento quaternário da História da Salvação: o povo peca, Deus castiga, o
povo arrepende-se, Deus perdoa.
Nos interlúdios do contrastante claro-escuro que as tentações acarretam, surge o difícil papel de Moisés,
como mediador das exigências de Deus e advogado das necessidades e angústias do povo; mas, até ele
acaba por sofrer um castigo, sendo privado de entrar na Terra Prometida, já com ela à vista. É a lei da
pedagogia divina, a que até os homens de Deus têm de se sujeitar.
Afinal, o Livro dos NÚMEROS não é factualmente
histórico; apresenta uma narrativa historicizante de
acentuado valor didático-pragmático para que, no drama
dos seus antepassados através do deserto, o povo eleito,
já na Terra Prometida, soubesse enfrentar os desafios e as
esperanças do seu futuro, tal como o pagão Balaão, qual
profeta inspirado de Israel, o soube prognosticar (cap. 23-
24).
Temas específicos
- À repetida ingratidão do povo (Nm 11-14; 16; 20), o autor sagrado contrapõe a continua
solicitude de Deus por Israel. Deus guia, castiga, perdoa, alimenta o seu povo, combate por ele e lhe dá a
vitória.
- Exalta-se também a figura do mediador Moisés (12,6-8). Ele é chefe e legislador, paciente
(12,3), sujeito ao desanimo (11,11-15) e à ira (16,15; 20,1-13), mas ao mesmo tempo generoso (11,29) e
pronto a interceder pelo povo (11,2; 12,13; 14,13-19; 21,7); um homem sempre fiel, que goza da
intimidade com Deus (12,6-8).
- Estranha-nos, neste livro, o conceito material, quase mágico, do sagrado (p.ex. o incenso de
Aarão (Nm 17), as cinzas da vaca vermelha (Nm 19) etc. Mas, ao olhar mais de perto, aparece sempre um
contexto de fé e de fidelidade a Deus e à comunidade por ele convocada. Talvez esse respeito muito
material pelo sagrado possa corrigir a tendência desbragada à profanação, que reina em nossa sociedade.
- Para os redatores de Nm, um ponto de atualidade era o registro detalhado dos nomes dos
israelitas e de suas cidades. Voltando do exílio babilônico, nos séculos 6°-5° aC, deviam reconstituir o
patrimônio que seus pais haviam recebido no tempo de Moisés e Josué. Daí as grandes semelhanças entre
Nm, por um lado e 1-2Cr, Esd e Ne por outro - todas obras fortemente marcadas pelos escribas
“sacerdotais”.
-A pedagogia divina e a rica experiência religiosa de Israel no deserto tornaram-se um modelo de
inspiração para todos os tempos Por isso, os fatos relatados neste livro foram com freqüência recordados
no AT (Mq 6,3-5, Ez 16, 20; Sl 106). O NT lembra os episódios da serpente de bronze (Jo 3,14s), da
revolte de Coré (2Tm 2,19; Jd 11), de Balaão (2Pd 2,15s; Ap 2,14), a fidelidade de Moisés e a
incompreensão do povo (Hb 3,2 - 4, 7). O apóstolo Paulo, ao referir-se às crises relatadas em Nm,
conclui: "Estas coisas lhes aconteciam, com sentido figurativo e foram escritas como advertência para
nós" (lCor 10,11).
- Para nós hoje, será exatamente a pedagogia divina a principal lição deste livro. A "Instrução" de
Deus aprende-se a caminho. Cada conflito nos faz compreender melhor o que Deus espera de nós.
"Caminhante, não há caminho; o caminho se faz caminhando”
- desde que caminhemos com nosso Deus (cf. Mq 6,8).
LEITURA CRISTÃ
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Este foi um dos livros da Bíblia que não mereceu especial atenção na tradição da Igreja. No
entanto, os modernos estudos sobre a Aliança e sobre a História da Igreja estão a fazer-lhe justiça.
Apesar de não aparecerem aqui explicitamente alguns dos grandes temas do Pentateuco (Criação,
Eleição, Promessa, Aliança, Lei), o livro dos NÚMEROS é já a realização da Aliança de Deus com o seu
povo, por meio do culto.
O tema da bênção, de que o povo é depositário nos quatro oráculos de Balaão (23-24), anuncia a
eleição da dinastia davídica (24,17).
Importante é ainda o tema da Tenda, lugar da Presença (Shekkinah) do Senhor, que caminha no
meio do seu povo. O tema do Deserto é também fundamental neste livro e foi dos que teve maior
ressonância, tanto no resto do Antigo Testamento como no Novo: o povo de Israel, peregrino pelo deserto
durante "quarenta anos", tornou-se o protótipo do novo povo de Deus, guiado por Jesus Cristo, que
também foi ao deserto (Mt 4,1-11; Mc 1,12-13; Lc 4,1-13). Jesus Cristo é, para este novo povo liberto, a
água viva (20,2-13; e Jo 4,1-26), o verdadeiro maná (11,6-9; e Jo 6,26-58), a verdadeira serpente de
bronze que salva o seu povo. (21,4-9; e Jo 3,13-15; 1Cor 10,9-11).
Deuteronômio
I. Discurso introdutório Os juízes levitas — 17,8 -13
PRIMEIRO DISCURSO DE MOISÉS Os reis —17, 14- 20
Tempo e lugar — 1,1- 5 O sacerdócio levítico —18, 1 - 8
Últimas instruções no Horeb — 1, 6 - 18 Os profetas — 18,9 - 22
Incredulidade em Cades — 1,19 - 33 O homicida e as cidades de refúgio — 19,1 - 13
Instruções de Iahweh em Cades — 1, 34 - 46 Os limites — 19,14
De Cades ao Arnon — 2, 1 - 25 As testemunhas — 19,15- 21
Conquista do reino de Seon — 2,26 - 37 O talião
Conquista do reino de Og — 3 ,1 - 11 A guerra e os soldados — 20,1 - 9
Partilha da Transjordânia — 3,12 - 17 A conquista das cidades — 20,10 - 20.
Ultimas ordens de Moisés — 3,18 - 29 Caso de homicida desconhecido — 21,1 - 9
A infidelidade de Fegor e As prisioneiras de guerra — 21,10 - 14
a verdadeira sabedoria 4,1 - 8 Direito de primogenitura — 21,15- 17
A revelação do Horeb e suas exigências 4,9 -20 O filho indócil — 21,18 - 21
Perspectivas de castigo e conversão — 4, 21- 31 Prescrições diversas — 22, 1 - 12
Grandeza da escolha divina — 4, 32- 40 Atentados à reputação de uma jovem — 22,13 - 21
As cidades de refúgio — 4,41- 43 Adultério e fornicação — *22-23, 1
SEGUNDO DISCURSO DE MOISÉS — 4,44 49 Participação nas assembléias cultuais — 23,2- 9
O Decálogo — 5,1 - 22 Pureza no acampamento — 23,10 - 15
Mediação de Moisés — 5,23 - 31 Leis sociais e cultuais — 23,16 - 26
O amor de Iahweh, essência da Lei — *5 – 6, 1- 13 O divórcio —24, 1 - 4
Apelo à fidelidade — 6,14 - 25 Medidas de proteção — *24-25, 1 - 4
Israel é um povo separado — 7,1 - 6 A lei do levirato — 25,5- 10
A eleição e o favor divino — 7,7- 16 O pudor nas brigas — 25,11 - 12
A força divina — 7, 17 - 26 Apêndice — 25,13 -19
A prova do deserto — 8,1- 6 As primícias — 26,1 -11
As tentações da Terra Prometida — 8,7- 20 O dízimo trienal — 26,12 - 15
A vitória veio graças a Iahweh, não pelas virtudes de III. Discurso conclusivo
Israel — 9, 1- 6 FIM DO SEGUNDO DISCURSO
O pecado de Israel no Horeb e a intercessão de Moisés Israel, povo de Iahweh — 26,16- 19
— 9,7 - 21 Inscrição da Lei e cerimônias cultuais 27,1- 26
Outros pecados. Oração de Moisés — 9, 22 - 29 As bênçãos prometidas — 28,1- 14
A Arca da Aliança e a escolha de Levi 10,1 -11 As maldições — 28,15- 46
A circuncisão do coração — 10,12 - 22 Perspectivas de guerra e de exílio — 28,47-69
A experiência de Israel — 11,1- 7 TERCEIRO DISCURSO
Promessa e advertências — 11,8 - 17 Recordação histórica — 29,1- 8
Conclusão — 11-12, 1 A Aliança em Moab — 29,9 - 20
II. O Código Deuteronômico Perspectivas de exílio — 29,21- 28
O lugar do culto —12, 2- 12 Volta do exílio e conversão — 30,1 - 14
Precisões sobre os sacrifícios — 12,13 - 28 Os dois caminhos —30, 15 - 20
Contra os cultos cananeus — *12-13, 1 IV. Últimos atos e morte de Moisés
Contra as seduções da idolatria — 13,2 - 19 A missão de Josué — 31,1- 8
Proibição de uma prática idolátrica — 14,1- 2 A leitura ritual da Lei — 31,9 - 13
Animais puros e impuros —14, 3- 21 Instruções de Iahweh — 31,14 - 18
O dízimo anual — 14,22- 27 O cântico testemunha — 31,19- 23
O dízimo trienal — 14,28- 29 A Lei é colocada ao lado da Arca — 31,24- 27
O ano sabático — 15,1- 11 Israel reunido para ouvir o cântico — *31 -32, 1-44
O escravo — 15,12- 18 CÂNTICO DE MOISÉS
Os primogênitos — 15,19 - 23 A Lei, fonte de vida — 32,45- 47
As festas: Páscoa e Ázimos — 16,1 - 8 Anúncio da morte de Moisés — 32,48- 52
Outras festas — 16,9 -17 As bênçãos de Moisés — 33,1- 29
Os juízes — 16,18- 20 A morte de Moisés — 34,1- 12
Desvios do culto — *16 – 17,7 1 - 7
Das cinco narrativas históricas que integram o Pentateuco, o DEUTERONÓMIO constitui a
unidade literária mais heterogênea e diferenciada. Com razão, os exegetas falam de uma nova tradição ou
fonte documental, que se distingue das outras fontes do Pentateuco por motivos de estilo e de teologia e
se prolonga até ao fim do 2.° Livro dos Reis, formando a "Fonte ou História Deuteronomística".
NOME
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"Deuteronômio" quer dizer "segunda Lei". Foi o nome dado a este livro nas traduções grega e
latina, porque se apresenta como a reedição ou síntese dos textos legislativos anteriores, enquadrada por
um estilo diferente.
Na tradição hebraica, chama-se apenas "Debarim" (Palavras), pelo modo como o texto começa:
"Estas são as Palavras". Mas a designação greco-latina sintetiza bem o conteúdo deste livro, o qual, mais
do que um final do Pentateuco, parece representar sobretudo o começo de uma nova maneira de escrever
a História do Povo Eleito.
TEXTO E CONTEXTO
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1- Como todo o livro é um discurso de despedida de Moisés na fronteira da Terra Prometida, a narrativa
histórica (1-4) é embutida no discurso e narrada em forma retrospectiva.
2- Convém sempre verificar de que ponto de vista o texto é formulado: do ponto de vista de Moisés,
contemplando Canaã desde o monte Nebo (na margem oriental, além do Jordão), ou do ponto de vista dos
leitores, que já vivem na terra de Canaã, do lado de cá (margem ocidental). Assim, em 3,8, o “outro lado
do Jordão" é o lado de lá, mas em 3,25; 11,30, é o lado de cá.
3 - O livro usa muito a linguagem da personalidade corporativa, ou seja, o modo de falar no qual o grupo
todo se incorpora numa pessoa única. Dai na mesma frase aparecer o “vós”, indicando os israelitas, ao
lado do "tu", que trata Israel como uma pessoa única. Este uso, estranho para nós, reforça a idéia da
solidariedade do povo.
4 - A atualização da mensagem para o leitor. Moisés usa nos seus discursos com freqüência o termo
"hoje". Isso parece dirigido aos israelitas na fronteira da terra prometida, no ano 1200 aC. Na realidade
porém dirige-se ao leitor, seis ou sete séculos depois! É o hoje de Deus.
DIVISÃO
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Em três grandes discursos atribuídos a Moisés. Com estilo direto, num tom exortativo e profético,
usando temas e frases estereotipadas e repetitivas, o redator final sintetiza o programa ou projeto que
torna possível fazer de Israel uma nova sociedade, segundo os ideais dos tempos puros da caminhada pelo
deserto, num "hoje" de eterno presente. Assim, temos:
Os exegetas apresentam ainda uma outra divisão, atendendo à estrutura da Aliança que percorre
o DEUTERONÓMIO do princípio ao fim:
Introdução: 1,1-5
1. Recordação do passado e exortação a servir o Senhor: 1,6-11,28
2. Proclamação da Lei da Aliança: 11,29-26,15
3. Compromisso mútuo entre Deus e Israel: 26,16-19
4. Bênçãos e maldições: 27,1-30,18
5. Testemunhas da Aliança: 30,19-20.
Este esquema vem confirmar que estamos perante o livro da Aliança por excelência.
Temas específicos
- Herdeiro da pregação profética, Dt insiste na fé em Deus, generoso nos seus dons e fiel nas promessas,
ciumento na exigência de fidelidade total e amor exclusivo. Ao amor demonstrado por Deus nos eventos
da história salvífica e na vida diária, deve o povo responder com o culto e com o cumprimento dos
deveres morais e sociais. Em Dt, o AT atinge assim uma de suas expressões religiosas mais sublimes..
Não admira, pois, que no tempo de Cristo, ao lado dos Salmos, o Dt tenha exercido uma influência ímpar
entre os livros do AT. O próprio Jesus cita várias passagens do Dt, tanto ao repetir a tríplice tentação (Mt
4,4-11) como ao apresentar o amor a Deus como "o maior e o primeiro mandamento” (Mt 22,35-39)
- Em razão das contínuas exortações a reconhecer a ação divina na história humana a celebrá-la na liturgia
e a responder a Deus acatando suas exigências de ordem moral e social, o Deuteronômio continua
gozando de uma atualidade permanente: o "hoje de Deus". A insistência no "hoje" faz o leitor atualizar o
que Moisés diz aos israelitas no deserto e, através deles, aos seus filhos seis séculos depois. E hoje, para
nós, que significa'
-Acento especial recebe a gratuidade do amor de Deus para com o povo que ele elegeu não por ser forte,
mas por ser fraco e para testemunhar-lhe seu amor (Dt 7,7-8). Na mesma perspectiva é acentuado o dom
da Lei (Dt 4, 5-8) e da terra "boa”, para que seja um âmbito de solidariedade fraterna e não de exploração
(Dt 15,4-11)
TEOLOGIA
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Apesar da visão profundamente religiosa e das preocupações teológicas mais voltadas para os
problemas institucionais e nacionais, não deixa de reclamar o amor fraterno e a justiça social,
apresentando leis verdadeiramente humanitárias.
Pela sua intenção de recapitular a Lei e repropor o conceito de aliança, e pela influência que teve
na reflexão sobre a História de Israel, o livro do DEUTERONÓMIO ocupa um lugar central dentro da
Bíblia. E é, por conseguinte, de primeira importância para qualquer tentativa de sistematização de uma
teologia bíblica.
Livros Históricos
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Os livros que chamamos “históricos”, Tem por tema principal as relações de Israel com Iahweh,
sua fidelidade ou infidelidade, sobretudo infidelidade, à palavra de Deus, cujos porta-vozes são os
profetas.
A seqüência dos livros da Bíblia tem vários traços de uma longa parábola histórica e o interesse
pela História já estava bastante presente nos livros do Pentateuco. Mas é costume chamar LIVROS
HISTÓRICOS a um conjunto que vem depois do Pentateuco.
Na verdade, só se consegue fazer uma História de Israel em sentido atual a partir da instalação do
povo em Canaã. E esse fato da atual historiografia coincide com a classificação tradicional do referido
conjunto, que inclui os livros seguintes:
Josué, que apresenta a entrada dos hebreus na terra de Canaã, como quem vai tomar solenemente
posse de uma herança que lhe fora atribuída. É uma construção simbólica, não representando inteiramente
os acontecimentos históricos reais, como se pode ver no livro dos Juízes.
Juízes, de fato, mostra-nos uma entrada bastante mais dispersa das tribos em Canaã e dominando
muito mais lentamente o conjunto do território. Por outro lado, descreve-nos as vicissitudes e a
insegurança da vida levada por essas tribos, numa época ainda distante do tempo da monarquia.
Rute é um romance histórico situado na época dos Juízes, mas sobretudo um livro contra a
xenofobia que marcou épocas mais tardias do judaísmo.A mais representativa e formal seqüência
historiográfica deste período, que já começara com Josué e Juízes, integra ainda o grande conjunto de 1.°
e 2.° de Samuel e 1.° e 2.° dos Reis.
A sua redação final parece ter-se inspirado já claramente na mentalidade deuteronomista; por isso,
costuma chamar-se-lhe a "Historiografia deuteronomista". Com ela pretendeu-se fazer o exame de
consciência da História nacional após o desastre do fim da monarquia.Mais tarde, os livros 1.° e 2.° das
Crônicas retomam toda a História de Israel desde as origens, ou por meio de genealogias e sínteses
históricas, ou relembrando alguns episódios coincidentes e outros complementares aos assuntos que
tinham aparecido narrados na História deuteronomista.
Esdras e Neemias contam alguns episódios relativos à restauração do povo de Israel e da cidade
de Jerusalém, depois do regresso da Babilônia. No entanto, a historiografia sobre esta época, marcada
pelo domínio persa, ficou bastante aquém da sua importância no aparecimento da Bíblia.
Ester descreve um drama de colorido algo semelhante, mas alargado à experiência de todo o
povo, que se vê ameaçado de destruição e consegue, no fim, cantar vitória.
O 1.° e 2.° Livro dos Macabeus espelham, por meio de uma historiografia muito ao gosto da
época helenista, a luta dos judeus para conseguirem libertar-se da política opressora dos Selêucidas. São o
último bloco historiográfico dentro da Bíblia.
SUMÁRIO DA HISTÓRIA DA SALVAÇÃO
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Ao começar a ler a Bíblia pela primeira vez, alguém pode sentir-se um pouco perdido neste
emaranhado de livros, personagens e acontecimentos diferentes, como quem chega pela primeira vez a
uma grande cidade. E assim como é útil, para se orientar nas grandes cidades, ter a referência dos
monumentos mais altos e das principais ruas e avenidas, também é bom um leitor da Bíblia começar a
reter e relacionar entre si os principais fatos e protagonistas da História da Salvação. Por isso,
apresentamos aqui alguns sumários.
Convém ler devagar estes textos, sublinhar com cores diferentes os fatos, os nomes das pessoas e
os nomes dos lugares.A pouco e pouco, veremos que vários deles se repetem e se vão tornando cada vez
mais familiares.
» Deuteronômio 26,1-10: inclui o pequeno "Credo Histórico" dos hebreus, nos v.5-9, com a
síntese dos passos principais até à sua entrada em Canaã.
» Josué 24,2-15: esta confissão de fé começa com Taré, pai de Abraão, e conclui na conquista da
Terra Prometida, com uma forte admonição de Josué, para que o povo seja fiel à Aliança jurada no
deserto do Sinai (Ex 19-20; 24,1-8; 34,10-17). Abrange, por isso, todos os Patriarcas, a epopéia do Êxodo
e da travessia do deserto, comandada por Moisés, e a conquista da Terra, comandada por Josué.
» Neemias 9,6-37: longa oração dos levitas, evocando as intervenções mais decisivas de Deus em
favor do povo de Israel e apelando à sua misericórdia para a situação naquele momento após o regresso
do Exílio.
» Judite 5,6-24: narrativa histórica - não é, propriamente, um credo histórico - colocada na boca
de Aquior, um dos chefes do exército de Holofernes, invasor de Israel. É muito pormenorizada, no que
diz respeito ao Êxodo e travessia do deserto, e termina com o exílio da Babilônia.
» Salmo 78 (77): as lições da História, em forma de oração, para a catequese familiar entre os
israelitas.
» Salmos 105 (104), 106 (105) e 107 (106): Deus e a História de Israel, também em forma de
oração. Segundo estes modelos, temos também Ne 9,6-37.
» Salmos 135 e 136: proclamação da presença de Deus na História de Israel, inserida numa oração
de louvor. Esta presença é vista, sobretudo, no Êxodo e na conquista da Terra.
» Ben Sira 42,15-50,29: resumo de toda a História de Israel, com um juízo de valor sobre as
personagens mais importantes que nela intervieram.
» Atos 7,1-53: discurso de Estêvão diante do Sinédrio de Jerusalém antes de ser condenado à
morte, mais para convencer os responsáveis de Israel de que Jesus era o Messias anunciado pelos seus
profetas, do que para se defender a si próprio.
» Hebreus 11: leitura teológica da História de Israel, em que os seus atores são vistos à luz da fé e
propostos como exemplo para os crentes de todos os tempo
Josué
O nome Josué quer dizer "Javé é salvaçao" (cf. Js 1,9). Josué era filho de Nun (Ex 33,11; Nm 11.28:
13,8.16). da tribo de Efraim (Nm 13.8). Distinguiu-se no combate contra os amalecitas (Ex 17,8-16).
acompanhou Moisés ao monte Sinai (Ex 24,13; 32,17): tomou parte na expedição de reconhecimento de
Canaã (Nm 13,8: 14,38). Guardou firme confiança no Senhor; por isto, Josué e Caleb foram os únicos
homens que, tendo saido do Egito, entraram na terra Prometida (Nm 14,30.38; 26,65; 32,12). Moisés
escolheu Josué como seu servidor (Ex 24,13), quando este era jovem (cf. 3,11). Quando Moisés, perto de
morrer, pediu ao Senhor que indicasse o seu sucessor, Javé designou Josué (Nm 27,15-23). Por
conseguinte, após a morte de Moisés, a chefia do povo tocou a Josué.
Josué teve que exercer árdua missão, a saber: zelar pela observância da Lei, introduzir o povo na
terra prometida, lutando contra os cananeus, e distribuir a terra entre as tribos de Israel. Estes encargos
tinham índole religiosa, pois eram etapa na organização do povo messiânico ou do povo que preparava a
vinda do Messias. Josué revelou-se um chefe enérgico e tenaz, ao mesmo tempo que prudente.
O livro de Josué. descrevendo o cumprimento da obra de Josué, quer mostrar a indefectível
fidelidade de Deus às suas promessas, fidelidade a qual o povo deve responder observando a aliança com
o Senhor. Cf Js 1,6-.9; 23s.
DIVISÃO E CONTEÚDO
Há quem considere o livro de JOSUÉ como um complemento do Pentateuco, constituindo a parte em que
se cumpre a promessa da doação da Terra Prometida: no Gênesis, Deus promete; em JOSUÉ, entrega e
cumpre a promessa.
Nesta hipótese, JOSUÉ seria constituído a partir da teoria clássica das quatro tradições: Javista,
Eloísta, Deuteronomista e Sacerdotal. Não é esta, porém, a hipótese aplaudida por muitos críticos
modernos, a quem agrada mais integrar o livro em plena História Deuteronomista, sem prejuízo de
considerarem nele, de fato, a promessa do Gênesis plenamente cumprida. É comum distribuir o conteúdo
de JOSUÉ por três partes distintas, após a introdução (1,1-18):
I. Conquista de Canaã (1,1-12,24): texto, predominantemente narrativo, conta os vários
episódios da conquista de Jericó; a batalha de Gabaon; a leitura da Lei perante a
multidão, que renova a sua promessa de fidelidade à aliança (8,29-35); a derrota das
várias coligações contra Josué, com a conseqüente submissão de todo o Sul ao sucessor
de Moisés.
II. Distribuição do território pelas tribos (13,1-21,45). Após a atribuição dos territórios
às tribos da Transjordânia e da Cisjordânia, conclui-se com uma lista das cidades
sacerdotais e de refúgio.
III. Apêndice e conclusão (22,1-24,33). Nesta parte merecem especial atenção o discurso
de despedida de Josué e a assembleia magna de Siquém, no final do livro.
A ORIGEM DE JOSUÉ
O titulo do livro não quer dizer que Josué seja o autor do mesmo, mas. sim, que o livro narra os feitos
de Josué.
A tradição dos judeus, talvez baseada em Eclo 46,1, atribuía o livro a Josué. Todavia o exame do
texto mostra que é posterior a Josué (séc. XIII aC.). Com efeito; no texto atual são narrados
acontecimentos tardios ou são consideradas situações que só se tornaram reais num período de tempo
mais ou menos longo após a morte de Josué; tenha-se em vista o seguinte:
- Js 24,29-33 narra a morte de Josué
- a fórmula “até o dia de hoje” supõe geralmente longo intervalo após os acontecimentos: Js 4,9;
5,9; 9,27; 15,63;
- Js 13,30 menciona "as aldeias de Jair”. Ora Jair era um dos juízes, posterior a Josué (cf. Jz 10,3-5).
Em conseqüência, o livro de Josué se deve a um escritor bem posterior, que utilizou e atualizou
fontes antigas.
A antigüidade e a fidelidade dessas fontes nos são confirmadas pela arqueologia: esta ensina que
Laquis foi destruida em 1230 aproximadamente (cf. Js 10,3.23-32): o mesmo se diga de Betel (Js 7,2;
17,22), Debir (Js 10,38), Hazor (Js 11,10)...
A situaçao polilica de Canaã suposta por Js é confirmada por documentos profanos, como as
tabuinhas de Tell-el-Amarna (séc. XV) e os documentos da XIX dinastia do Egito (1319-1200): assim a
descrição da região em 13,2-6; os nomes dos habitantes em 3,10; 11,3: a existência de vários pequenos
reinos em 10,1-5; 11,1-3;12,1-24. as cidades fortificadas (6,1; 10,20; 11,13), os exércitos dotados de armas,
carros e cavalos (10,2; 11,4; 17,18).
Pode-se admitir que muitos documentos-fontes tenham sido redigidos pouco depois dos
acontecimentos (cf. Js 8,32: 10,13; 18,4). Algumas descrições não foram escritas, mas ficaram na
tradição oral; eram recitadas nos santuários de Gálgata. Silo e Siquém (cf. Js 4,20-25; 18,1-10; 24,1-13).
Esse material escrito e oral foi sendo reunido aos poucos entre Davi (século XI) e Josias (século VII).
Aqueles que recolheram tais documentos e lhes deram a forma literária definitiva, tinham em vista fazer da
história uma lição para o povo de Deus: sim, queriam mostrar que a fidelidade à Lei de Deus é penhor de
bênçãos e prosperidade para Israel, ao passo que as transgressões acarretavam a desgraça e o castigo para
o povo: cf. Js 1,8; 8,30-35; 21,43-45; 22,1-6; 23,1-16.
O v. 13b indica a fonte donde foram transcritos os versos poéticos anteriores: o Livro dos Justos,
também citado em 2Sm 1,17s; tal livro era uma coleção de cantos poéticos de Israel, que exaltavam os
grandes feidos dos heróis nacionais. Os vv. 13c e 14 são um comentário em prosa da segunda parte do
texto citado; devem-se ao autor da transcrição.
Esta análise nos mostra que os vv. 12-14 se referem a batalha descrita em 7-11, realçando em estilo
poético o que ela teve de glorioso.
Pergunta-se agora: que significa a parada do sol no estilo poético?
Os judeus julgavam que a terra era plana e recoberta por um firmamento ou uma abóbada cristalina,
sobre a qual o sol e a lua giravam. Quando fazia mau tempo ou tempestade, diziam que o sol se retirava para
sua tenda no firmamento e lá ficava escondido e imóvel durante a tempestade (ver a propósito Hab 3,11).
Por conseguinte, quando o texto sagrado diz que Josué pediu o estacionamento do sol, quer significar que
Josué pediu uma tempestade para ajudá-lo a vencer os adversários. O texto diz-nos que Josué também pediu
o estacionamento da lua...; a menção da lua ocorre unicamente para atender a lei do paralelismo poético
(quem mencionasse o sol, mencionaria também a lua, no estilo poético). A tempestade deve ter sido longa
("quase um dia inteiro”. diz o v. 13c). Tão longa tempestade terá sido especialmente permitida por Deus
para atender a Josué, que implorava auxílio na batalha.
Conforme esta interpretação, vê-se que o propalado estacionamento do sol de que fala Js, não é
senão o desencadeamento de violenta e demorada tempestade de granizo. Duas narrativas - uma em prosa,
devida ao autor de Js, e outra em poesia, citada de outra fonte e inserida no livro - referem essa
tempestade; enquanto o primeiro relato usa estilo liso, o segundo recorre a uma imagem familiar aos
antigos orientais.
Em JOSUÉ, não temos História no sentido rigoroso deste conceito, uma vez que a aglutinação das
diversas tradições foi feita em época muito posterior aos fatos. O rigor histórico das narrações é que seria,
precisamente, de admirar.
Comparando JOSUÉ com Jz 1, aquilo que em JOSUÉ se nos apresenta como campanha militar
organizada, uma espécie de coligação de todo o Israel, na verdade, parece ter sido uma iniciativa
particular de cada tribo. Trata-se, pois, de apresentações esquematizadas.
Do mesmo modo, não é de excluir a hipótese de algumas tribos terem penetrado em Canaã pelo
Sul e não por Jericó (Nm 21,1-3). Tribos houve, como as da região central, que nem sequer terão estado
no Egito, mas permaneceram em Canaã.
Outra hipótese admitida é que teria havido vários êxodos de natureza diferente: êxodo-expulsão e
êxodo-libertação; assim no-lo deixam supor as várias formas de texto, quando se fala da saída do Egito.
Nesse caso, a campanha de Josué, na reconquista épica de Canaã, revestiria a forma de síntese narrativa
como reelaboração posterior das diversas tradições.
Os acontecimentos posteriores, até à época de Davi, mostram igualmente que a campanha da
reconquista protagonizada por Josué não acabou com a posse total do território: muitos grupos de várias
etnias não judaicas mantiveram-se autônomos por muitos anos, só mais tarde acabando por ser integrados
em Israel.
De quanto ficou dito, pode-se legitimamente concluir que, em JOSUÉ, se encontram misturados
vários tipos de textos literários: a narração, a descrição, a lenda popular, a epopéia, etc.. Sacrificou-se o
rigor da História ao interesse da doutrinação teológica, realçando esta última.
RESULTADO O povo vagou durante 40 anos no deserto O povo entrou na Terra Prometida
TEOLOGIA
Como já foi dito, JOSUÉ pretende mostrar que Javé é fiel à sua palavra: se prometeu, cumpre (Gn
12,1-3; 13,14-17; 15,7-21; 17,1-8). Como prometeu dar uma terra ao povo, tudo fará, mesmo milagres,
para os opositores de Israel serem derrotados e as suas terras entregues ao "povo de Javé". Daí a
freqüência da ação miraculosa da intervenção direta de Deus e dos seus anjos no decorrer das várias ações
militares, bem como a idealização do herói, qual novo Moisés: tudo lhe é atribuído, participa em todas as
batalhas e sobre ele se estende incessantemente a mão poderosa e protetora do Senhor.
Para isso concorre enormemente a importância do fator 'Terra' na trama da aliança: Javé faz um pacto
com um povo nômade, a quem promete entregar uma terra que vai ser o cenário dos fatos dessa aliança.
Sem uma terra sua, o povo carece de raízes para a sua subsistência real. Foi assim que todo o israelita
aprendeu a considerar a 'Terra Prometida' como um dom do Senhor.
Neste quadro, a guerra santa e a crueldade para com o vencido são um louvor a Javé, em cujo
nome são praticadas. O empolamento das ações, até se fazer delas milagres assombrosos, está plenamente
justificado, uma vez que interessa, acima de tudo, exaltar Javé e engrandecer Josué, figura central da
presente epopéia.
Esquema:
I. A conquista da terra (1.1 - 12.24) `
A. A preparação para a conquista (1.1 - 5.15)
1. A preparação de Josué (1.1-g)
2. A preparação dos líderes (1.10-18)
3. A preparação da estratégia (2.1-24)
4. A preparação da abordagem (3.1 4.24)
5. A preparação do povo (5.1-15)
B. A conquista da terra (6.1 - 12.24)
1. A conquista de Jericó (6.1-27)
2. A conquista de Ai (7.1 - 8.29)
3. A renovação da aliança (8.30-35)
4. O tratado com os gibeonitas (9.1-27)
5. A conquista do Sul de Canaã (10.1-43)
6. A conquista do Norte de Canaã (11.1-15)
7. Um resumo da conquista (11.16 - 12.24)
II. A divisão da terra (13.1 - 21.45)
A. A atribuição de terra para cada tribo (13.1 - 19.51)
1. Instruções de Josué (13.1-7)
2. Fronteiras para as tribos do Leste (13.8-33)
3. Fronteiras para as tribos do Oeste (14.1 - 19.51)
b. A designação de cidades especiais (20.1 - 21.45)
1. As cidades de refúgio (20.1-9)
2. As cidades dos levitas (21.1-45)
III. O assentamento na terra (22.1 - 24.33)
A. O assentamento das tribos do Leste (22.1-34)
1. A mensagem de Josué para as tribos do Leste (22.1-9)
2. A construção de um altar pelas tribos do Leste (22.10-34)
Juízes
**************************************
O Livro dos JUÍZES foi assim chamado pelo grande relevo que nele têm os chefes a quem se deu
tal nome (chofetîm). Praticamente o livro é constituído por doze histórias correspondentes aos doze juízes
que nele desfilam aos olhos do leitor.
CONTEXTO HISTÓRICO
Depois da sua chegada a Canaã e do seu estabelecimento no território, como está descrito em Josué,
as doze tribos ficaram um pouco à mercê dos povos que ainda ocupavam a terra. Cananeus e filisteus
continuavam a sua luta para expulsar as tribos israelitas que se tinham infiltrado em algumas parcelas do
seu território; e a conquista total da terra e o conseqüente predomínio dos israelitas sobre os povos locais
ficará para mais tarde, no tempo de Davi (séc. X aC.).
Depois da morte de Josué, por volta de 1200 aC. (Js 24), as tribos ficaram sem um chefe que
aglutinasse todas as forças para se defenderem dos inimigos estrangeiros. A única autoridade constituída
era a dos anciãos de cada tribo. Além disso, estas pequenas tribos eram muito independentes entre si, e
não era fácil congregá-las. Ficavam, assim, mais expostas aos ataques de filisteus, cananeus, madianitas,
amonitas, moabitas, todos inimigos históricos de Israel.
Não são chefes constituídos oficialmente, mas homens e mulheres carismáticos, atentos ao Espírito
do Senhor, pessoas marcadas por uma forte personalidade, capazes de se imporem moralmente perante as
outras tribos. Depois de terminarem a sua obra, não tinham continuidade nem dinastia; também não
promulgavam leis nem impunham tributos. Os juízes são testemunho vivo de que O Senhor nunca
abandonou o seu povo, mas foi dirigindo a história deste até mesmo dispensando carismas (ou dons)
extraordinários.
Deste modo, quando alguma tribo era atacada, o Juiz congregava as outras para irem em socorro da
tribo irmã. Uma outra função que lhes poderia ser atribuída era a de julgar (da raiz chaphat, que significa
"administrar a justiça", "proteger"), em casos especiais, função que terá estado na origem do nome de
"Juízes".
O tempo dos Juízes é, pois, o tempo da consolidação das tribos no seu território, perante os
inimigos estrangeiros, e o tempo das primeiras tentativas de federação entre as várias tribos com
diferentes origens (ver Js 24).
DIVISÃO E CONTEÚDO
#
Introdução Os juízes (* = “juízes maiores”, = “juízes menores”) Episódios finais
Na falta de escrita, as histórias e os feitos dos JUÍZES passaram pelas tradições orais locais,
sobretudo nos santuários, antes de fazerem parte da memória coletiva de Israel.
Com o aparecimento da monarquia e a conseqüente organização política, social e religiosa, todo
este material de caráter histórico, mítico, poético e etiológico entrou no espólio coletivo de Israel, sendo
posteriormente organizado por blocos literários mais amplos. É costume dividir o livro dos JUÍZES em
dois grandes blocos literários:
O livro dos Juizes nos refere as façanhas de doze Juizes. Destes, seis são tidos como
"Juízes Maiores" porque apresentados com mais minúcias, tais são: Otoniel - da tribo de Judá, (3,7-
11), Aod – da tribo de Benjamin (3,12-30), Débora e Barac – da tribo de Zabulon e Neftali (4,1-5,32),
Gedeão – da tribo de Manassés (6,11-8,35), Jefté – da tribo de Galaad (11,1-40) e Sansão – da tribo de Dã
(13,1-16,31); Cujos atos são contados de um modo mais ou menos detalhados.Os juízes maiores são
heróis libertadores; sua origem, seu caráter, suas ações variam muito, mas têm um traço comum:
receberam uma graça especial, um carisma, foram especialmente escolhidos por Deus para uma missão
salvífica.
"Juízes Menores", são ditos "menores', porque poucas noticias há a respeito deles: tais são: Samgar
(3,31), Tola – da tribo de Issacar (10,1-2), Jair – da tribo de Galaad (10,3-5), Abesã – da tribo de Zabulon
(12,8-10), Elon – da tribo de Zabulon (12,11-12) e Abdon – da tribo de Efraim (12,13-15).
Muito possivelmente existiram mais juizes nessa fase da história, mas o autor sagrado quis apresentar
precisamente um de cada tribo. Os principais são, sem dúvida. Gedeão (Jz 6-8), Jefté (Jz 11s) e Sansão (Jz 13-16).
Os 21 capitulos de Jz cobrem um período de quase 200 anos, que vai aproximadamente de 1200 a 1050 aC.. ou seja,
da morte de Josué até o primeiro rei de Israel, Saul.
A história de cada juiz maior é apresentada dentro de um esquema que põe em relevo a teologia ou o sentido
religioso dos acontecimentos. Esse esquema é claramente proposto no inicio do livro (2, 11-19) o compreende
quatro tempos:
“Os filhos do Israel fizeram o mal aos olhos de Javé (caíram na idolatria)”; cf. 2,11; 3, 7.12; 4, 1; 6, 1.
"Então acendeu-se contra Israel a ira do Senhor, que os entregou às mãos dos saqueadores"; cf. 2, 14; 3,
8.12; 4, 2: 6, 1; 10,7...
“Os filhos de Israel, em grande angústia, clamaram ao Senhor”: cf. 2, 15; 3, 9-15; 4,3; 6,7...
“O Senhor lhes suscitou um juiz ou salvador: cf. 2,16; 3,9-15; 4, 23s... Este liberta do domínio estrangeiro
a sua gente.
Geralmente acrescenta-se o número do anos de paz que se seguiram à façanha vitoriosa do juiz. Tal número
é esquemático ou arredondado (20, 40 ou 80 anos), indicando um período definido, ora mais, ora menos longo; cf.
3, 11.30; 5, 31; 8,28; 10,2s...
Mediante este esquema, o autor sagrado quer incutir o principio que já o livro de Josué recomendava: a
infidelidade à Lei do Senhor é penhor de desgraças e ruina material para Israel, ao passo que o arrependimento e a
fidelidade são penhor de bênção divina, concretizada em vitória sobre os inimigos e prosperidade material. Este modo
de pensar é chamado pragmático ou também deuteronômico, porque se acha claramente exposto em Dt 11, 26-32;
28,1-68. Deriva-se do fato de que os judeus antigos não tinham noção de uma vida póstuma consciente, capaz de
receber a sanção de Deus (recompensa ou punição); os israelitas, por isto, julgavam que a retribuição do bem e do
mal ocorria nesta vida mesma, antes da morte; conseqüentemente identificavam saúde, vida longa, dinheiro, vitória
sobre os inimigos como prémios de uma vida virtuosa, e doença, vida breve, pobreza, derrotas como punição de
infidelidade à Lei de Deus.
- a breve noticia sobre Samgar (3,31) interrompe o relato que vai de 3,30 a 4,1.
- a história de Débora e Barac é relatada em poesia (5, 1- 31), que parece mais presa aos acontecimentos,
e em prosa (4, 1-24), que põe mais em relevo o sentido religioso da história.
- as histórias de Abimelec (9,1-57) e de Jofté (10,6-12,7) têm caráter antimonárquico, dando a ver as
hesitações do povo, que também aspirava à monarquia (17, 6; 18, 1; 19,1; 21,24s).
Julga-se que o livro dos Juizes assim redigido resulta da compilação de documentos diversos feita no decorrer
de séculos e terminada em sua forma atual na época de Esdras (séc. V aC.). Nesta fase da história era muito
oportuno lembrar ao povo que voltava do exílio para sua terra: a infidelidade é penhor de desgraças; não existe
vantagem em adotar costumes pagãos; o Senhor é sempre fiel às suas promessas e não abandona o seu povo;
mesmo quando este O esquece.
A cabeleira de Sansão
A história de Sansão (Jz 13-17) nos diz que, enquanto Sansão tinha longa cabeleira, vencia seus
inimigos; mas, desde que lhe cortaram os cabelos, perdeu a sua força extraordinária. Esta história é, à
primeira vista, fabulosa. Todavia pode ser entendida dentro do quadro religioso de Israel.
Os israelitas praticavam o voto de nazireato, que significava total consagração a Javé. Esta
implicava que nem os cabelos do indivíduo poderiam ser cortados porque pertenciam ao Senhor; o nazireu
não poderia tomar vinho, nem suco de uvas nem comer uvas; não devia tocar cadáveres... Cf. Nm 6, 1-21.
Ora Sansão foi consagrado a Deus como nazireu; cf. Jz 13, 3-5. Enquanto ele foi fiel à sua consagração e
tinha a cabeleira longa, o Senhor lhe dava força para vencer qualquer inimigo; o seu poder lhe vinha de
Deus e não dos cabelos (estes eram apenas um sinal da fidelidade de Sansão a Javé). Eis, porem, que Sansão
foi moralmente fraco e revelou o segredo da sua fortaleza a Dalila, mulher estrangeira, à qual se entregou
indevidamente; Dalila então lhe cortou a cabeleira, o que era sinal da infidelidade interior de Sansão a Javé.
Em conseqüência, o Senhor já não deu ao herói a força necessária para o combate, de modo que Sansão foi
vítima de seus inimigos filisteus. Vê-se, pois, que a história do Sansão nada tem de mitológico ou infantil.
É verdade que ela vem descrita com um tanto de humor ou sátira: Sansão incendeia os campos acendendo
tochas presas às caudas de raposas ligadas em pares (Jz 15,1-6): Sansão arranca e carrega sobre os
ombros as portas da cidade de Gaza (Jz 16,1-3)...
Com outras palavras: o episódio de Sansão comprova as palavras de São Paulo: 'A força de Deus se
manifesta plenamente na fraqueza do homem que se lhe confia' (2Cor 12, 9).
TEMAS PRINCIPAIS
- A conquista incompleta da terra resultou na necessidade de conviver com povos não-israelitas "até
hoje", como uma espécie de teste da fidelidade de Israel a seu Deus salvador. Isso não se refere somente à
época dos Juízes (por volta de 1100 aC), mas ganha atualidade no tempo em que o livro é redigido,
quando pesam as conseqüências da colonização assíria na Samaria (722 aC) e do exílio babilônico de
Judá (586-538). O tema tem atualidade também para nós, vivendo numa sociedade pluricultural e
plurirreligiosa.
- Os líderes participam das imperfeições do povo. Há espertos como Aod e ingênuos como Jefté.
Gedeão é valoroso, mas não seguro quanto ao culto, o que causa a ruína de sua casa. Sansão tem força nos
braços, mas é fraco de cabeça e de coração, além de desrespeitar seu voto de deixar intactos os cabelos.
- O papel do profeta é visualizado em Débora e em Joatão - a primeira mostrando a presença e a
vontade de Deus ao medroso juiz Barac, o segundo denunciando a usurpação de Abimelec. Joatão é
precursor da critica aos reis, chave dos livros Samuel-Reis, que dão continuação a Jz. A critica de Joatão
(Jz 9, 7-15) não perdeu nada de sua atualidade. - Se o livro da mostras cruas de machismo, as figuras das
mulheres Débora e Jael são marcantes. Num contexto sociocultural que pressupõe a supremacia do
homem, esta se revela relativa, podendo ser superada pela mulher, e isso, de acordo com a vontade de
Deus (p.ex., Jz 4,9)
- “Os israelitas cometeram o que é mau aos olhos do Senhor" (3,7.12; 4,1; 6,1; 10,6; 13,1): cada
seção da história dos juízes começa com esta frase, típica da teologia deuteronomista. Os líderes
suscitados por Deus devem salvar o povo da opressão que é conseqüência do “mal” que é essencialmente
a adesão às práticas religiosas de Canaã, a "prostituição” em vez da fidelidade ao Senhor.
- "Não havia rei em Israel": este refrão (17,6; 18,1;19,1; 21,25) revela a convicção dos redatores
deuteronomistas de que o reinado, com todos os perigos que acarreta (Jz 9,1-15; 1Sm8,1-18), é necessário
e abençoado por Deus, desde que o rei seja alguém do próprio povo e fiel à sua missão em prol do povo
(Dt 17,14-20; Sl 72).
VALOR HISTÓRICO
O livro dos JUÍZES é um dos chamados "Livros Históricos" da Bíblia, mas é histórico segundo o
modo de escrever História no seu tempo. Nesse gênero literário cabiam não apenas os fatos e os
documentos, como acontece na historiografia moderna, mas também o mito, discursos (veja-se o belo
apólogo de Joatão: 9,7-20), etiologias, pequenos fatos do dia a dia, etc.
Este livro fornece-nos um quadro geral único do modo de vida das tribos de Israel, depois da
instalação em Canaã, no que toca à vida política, social e religiosa. É também interessante o fato de nos
falar já do difícil relacionamento entre algumas tribos, que irá ter o seu desenlace na separação entre o
Norte e o Sul, depois de Salomão.
O tempo dos JUÍZES corresponde a mais de dois séculos de História, o que lhe confere um valor
especial, embora a contagem dos anos fornecidos pelo texto nos dê exatamente 410 anos. Este fato é
certamente devido ao uso corrente do número simbólico 40, que significa uma geração, isto é, a vida de
uma pessoa. Esta indicação diz-nos bem do caráter aproximativo dos dados cronológicos do livro.
A cronologia real da época dos JUÍZES nunca poderá afastar-se muito do período entre 1200 e 1030.
TEOLOGIA
Como qualquer livro da Bíblia, também o dos JUÍZES não foi escrito para nos fornecer
simplesmente a História fatual das tribos de Israel. Antes de mais, foi escrito para manifestar como Deus
acompanha o seu povo na sua história concreta, mesmo no meio dos mais graves acontecimentos, como
as guerras contra os povos inimigos.
A sua teologia fundamental é proposta pelos redatores deuteronomistas nas Introduções (1,1-3,6),
em que aparecem fórmulas características como "os filhos de Israel fizeram o que era mau aos olhos do
Senhor" (2,11; 3,7.12; 4,1; 6,1; 10,6; 13,1). Desta infidelidade do povo ao Deus fiel da Aliança segue-se o
castigo, que aparece nas derrotas perante os povos estrangeiros; e depois, a vitória, mediante os
intermediários do Senhor, os Juízes "salvadores" (3,31; 6,15; 10,1).
A idéia teológica que ressalta deste livro é, pois, a imagem que um povo livre tem de Deus, que o
acompanha para libertá-lo. Não nos devem escandalizar os "pecados" destes Juízes, homens rudes que
precisamos de situar no seu tempo e que procedem segundo a moral de então. Caso paradigmático é a
história de Sansão. Teremos que tentar, antes, descobrir o que há neles de positivo: a ação de Deus, que os
anima com o seu espírito para conduzir o povo de Deus (3,10; 6,34; 11,29; 13,25). Neste sentido, eles
foram uma antecipação dos reis de Israel.
TRADIÇÃO JAVISTA (JAVÉ)
Origem: Reino de Judá — Sul
Conteúdo: Origem do mundo, da humanidade e de Israel. Patriarcas; Êxodo; Caminhada pelo
deserto e termina com a morte de Moisés. Linguagem: concreta e imaginativa
Deus: E familiar, próximo e aparece com formas humanas (Gn 2-3)
TRADIÇÃO SACERDORAL
SACERDOTES E LEVITAS — TEMPLO Origem: Exílio — Babilônia
Conteúdo: Genealogias; cronologias; números. Presente em todo Pentateuco mas predomina no
Levítico.
Linguagem: Repetitiva, monótona.
Deus: Transcendente e ao mesmo tempo presente na criação (Gn 1)
TRADIÇÃO DEUTERONOMISTA
DEUTERONOMIO Origem: núcleo do Reino de Israel, Norte
Reino de Judá — Sul
Escola Deuteronomista: completou Dt e redigiu: Js; Jz; Sm; Rs Estilo; retórico; expressões
típicas "ouve Israel"; "O Senhor teu Deus"...
Deus: Santo, cultuado no templo de Jerusalém. Elegeu gratuitamente o seu povo,
Israel e o ama.
O autor dessa classificação dos textos segundo as tradições ou fontes do Hexateuco (6 livros) tem
consciência de ser uma hipótese, sobretudo, em relação à tradição eloísta ( E ) que é contestada por alguns
estudiosos da Bíblia. Esses classificam muitos textos que seguem a linha do eloísta, mas que
provavelmente são acréscimos posteriores, considerados deuteronomísticos. Por isso, as citações são
colocadas entre parêntesis, muito próximas da fonte E quanto, ao tempo, do que do deuteronomista.
Com o avançar dos estudos houve tentativas de subdividir a tradição J em (J1; J2; J3) ou como
fontes quenitas, de Seir, normádica. O que acontece na verdade é que o autor percebe que há textos mais
antigos que ele atribui ao J (patriarcas) e textos mais recentes ao E (Moisés).
Há textos que não são classificáveis segundo estas tradições, como por exemplo, Gn 14 e Ex 15,1-8,
ou ainda, acréscimos posteriores, de cunho deuteronomístico como Dt. 32,1-43.
Os textos de P., colocados entre parêntesis, são de origem sacerdotal, mas provavelmente não
faziam parte do núcleo inicial de P., isso vale especialmente para as citações em itálico.
As letras a, b, correspondem à partes de um versículo e o sinal + indica mistura de fontes ou parte
de versículos. Pequenas frações de versículos não foram consideradas, neste elenco de textos.
Rute
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Na Bíblia Hebraica, a história de RUTE vem colocada entre os Escritos (Ketuvim). A tradição grega e
latina apresentam outra ordem: recuam-na para junto do livro dos Juízes,e a ele prende pelas suas palavras
iniciais: 'No tempo em que os Juízes governavam, houve uma fome no pais". Há comentadores que o
consideram como o terceiro apêndice de Jz.
1. Conta-nos a seguinte história:
Numa época de fome, um homem de Belém de Judá chamado Elimelec abandonou sua cidade,
juntamente com sua esposa Noemi e seus filhos Maalon e Quelion; foi para a terra de Moab. Nesta
Elimelec faleceu e, pouco depois, faleceram também os dois filhos, que tinham esposado as moabitas
Orpa e Rute. Noemi então decidiu voltar à Belém: as duas noras quiseram acompanhá-la, mas a sogra as
dissuadiu. Orpa acabou retirando-se, mas Rute fez questão de seguir Noemi até Belém (c. 1).
Em Belém. Rute, querendo atender ás necessidade da sogra, foi colher espigas num campo: soube
mais tarde que tal campo pertencia a um parente próximo de Elimelec, chamado Booz. Este se interessou
fortemente pela moabita (c. 2). Noemi viu que poderia suscitar uma descendência legal de Elimelec e
Maalon se recorresse à lei do levirato (esta mandava que, quando um homem morresse sem filhos, o
parente mais próximo devia esposar a viúva para dar uma descendência legal ao falecido: cf. Dl 25,5-10).
Por isto mandou que Rute informasse Booz a respeito do dever de esposar a moabita; Booz
aceitou a idéia, mas observou que havia um parente ainda mais próximo, cujo direito era prioritário (c. 3).
Este, porém. renunciou solenemente, de modo que Booz esposou Rute: desta união nasceu um filho, que
legalmente era filho e herdeiro de Elimelec. Noemi, mãe legal da criança, deu-lhe o nome de Obed e
encarregou-se de criá-lo: Obed tornou-se o pai de Jessé (ou Isaí), pai do rei Davi (c. 4).
A principal finalidade do livro é transmitir uma história edificante referente ás origens da familia de Davi.
Este teve entre os seus antepassados uma moabita, isto é, um membro de um povo que por séculos se
mostrou hostil a Israel (cf. Gn 19, 30-37: 2Rs 3, 4-27): o livro, portanto, se opõe a um nacionalismo
exagerado que sempre marcou os filhos de Israel: ensina a universalidade da salvação preparada por Deus
para todos os homens (cf. Rt 2, 12), f azendo parelha assim com o livro de Jonas, que é outra obra prima
do universalismo da salvação- Mateus, ao descrever a genealogia de Jesus, filho de Davi, fez questão de
mencionar Rute entre os antepassados do Messias (cf. Mt 1, 5), para significar que este não é filho apenas
de israelitas, mas tem sangue de não israelitas e, por conseguinte, é o Salvador não só dos judeus, mas de
todos os homens.
DIVISÃO
Mostra como a aplicação da Lei de Deus, na terra de Israel, significa proteção para os fracos, no
caso a velha Noemi e sua nora viúva e estrangeira, Rute: os antigos costumes comunitários ensinados pela
Lei é que garantem a verdadeira restauração do povo depois da volta do exílio.
Mais do que no amor, o livro de RUTE centra o seu enredo no motivo legal do levirato e do
resgate: quando um homem morre, sem deixar descendência, o irmão ou o parente mais próximo deve
receber a viúva e gerar filhos, que perpetuarão a memória do defunto; e deve ter igual atenção em relação
aos bens patrimoniais. Assim se cumpria a lealdade familiar no quadro da legislação antiga (Dt 25,5-10).
É esta lealdade que torna exemplar, mesmo admirável, o livro de RUTE.
TEOLOGIA
RUTE é uma história bíblica em que Deus se faz presente, não através de acontecimentos
extraordinários, mas no cumprimento das normas sociais mais comuns. Este Deus discreto, quase
silencioso, não é, porém, menos atuante e surpreendente na manifestação da sua fidelidade.
Em linguagem aparentemente inofensiva, o livro parece conter um protesto muito hábil contra o rigor
exagerado da época de Esdras e Neemias, relativamente aos casamentos mistos (Esd 9-10; Ne 13,1-3.23-
27). Na história de RUTE pode ver-se como o Deus de Israel, que permitiu a uma moabita entrar na
genealogia de Davi (e por isso mesmo, na do próprio Jesus Cristo: Mt 1,5-17), não podia ser tão rigoroso
que excluísse as estrangeiras do seu povo
1/2 Samuel
Primeiro Samuel
Na Bíblia Hebraica, os livros de SAMUEL fazem parte dos chamados "profetas anteriores"
(juntamente com Josué, Juízes e Reis). A sua atribuição a SAMUEL talvez provenha de uma antiga
tradição rabínica (Baba Bathra, 14b) baseada numa incorreta interpretação de 1 Cr 29,29. Na realidade, a
presença de SAMUEL fica circunscrita à primeira parte do primeiro livro, sendo Saul e Davi os
protagonistas do resto da obra.
Originariamente, os livros de SAMUEL eram uma só obra. A divisão em duas tem origem na
versão grega dos Setenta (séc. III-II aC.); e esta divisão terminou por impor-se, mesmo na Bíblia
Hebraica, a partir do séc. XV. Os tradutores gregos uniram os dois livros de SAMUEL aos dos Reis
(também divididos em dois) para formar os quatro "Livros dos Reis", correspondendo os dois primeiros a
1 e 2 Sm.
A tradução latina da Vulgata respeitou esta divisão em quatro livros e chamou-lhes "Livros dos
Reis". E assim, na Vulgata, 1 e 2 Reis equivalem aos nossos 1 e 2 SAMUEL; 3 e 4 Reis equivalem aos
nossos 1 e 2 Reis.
Três figuras principais de 1/2Samuel
Samuel
Uma mulher estéril, chamada Ana (= graça), sofria por não ter filhos, ou por não poder colaborar
para a vinda do Messias, prometido à linhagem de Abraão. Isto lhe parecia uma maldição de Deus. Tendo
rezado, obteve um filho Samuel (= Deus ouviu). Na Biblia, o filho dado a uma mulher estéril tem sempre
uma missão particular (ver Isaac Gn 18, 1-15; Sansão Jz 13,1-25; João Batista Lc 1, 5-17); assim também
Samuel.
De fato, Deus chamou Samuel enquanto dormia e confiou-lhe a chefia do povo em lugar de Eli, o juiz
fraco que governava o povo. Compare a vocação de Samuel em 1Sm 3,1-18 com a de Abraão em Gn 12,1-
3, a de Moisés em Ex 3,1-12, a de Isaias em Is 6,1-13, a de Jeremias em Jr 1,4-10, a de Ezequiel em Ez 3,
1-11, a do Servidor de Javé em Is 49,1-9, a de Amós em Am 7,14s. Eli, sabendo que Deus rejeitara sua
descendência, morreu triste aos 98 anos de idade (lSm 4,12-18) . Os filisteus então infligiram tremenda
derrota a Israel, capturando a arca da Aliança em Afec (1Sm 4,1-11; 5,1-12). mas resolveram devolvê-la (1
Sm 6,1-7,1).
Saul
Dada a insegurança das tribos em seus territórios, os anciãos do Israel pediram a Samuel um rei, o
Senhor, consultado por Samuel, quis atender ao pedido, fazendo ver que o rei poderia extorquir os bens dos
filhos de Israel (1Sm 8,1-22). Foi escolhido, por revelação do próprio Deus, o jovem Saul, da tribo de
Benjamin, que Samuel ungiu como rei (1Sm 9, 1-10,16).
Desde o começo do seu reinado, Saul teve que enfrentar os inimigos estrangeiros: venceu os amonitas
(1Sm 11, 1-11). Mas foi rejeitado por Deus, pois transgrediu preceitos do Senhor (1Sm 13,7-15:15, 1-31).
O resto da vida de Saul é descrito em 1Sm 16-31; consta de perseguição a Davi, que Deus escolhera
para lhe suceder (Saul parece ter sofrido de doença psíquica, que lhe tirava a paz e a capacidade de
conviver; cf. lSm 18,1-16); batalhas (1Sm 14, 52: "enquanto viveu Saul, houve encarniçada guerra contra
os filisteus"), derrota final e morte em Gelboé (1Sm 31,1-13).
Davi
Tendo rejeitado Saul, Deus mandou que Samuel procurasse o seu sucessor: seria Davi, o mais novo
dos filhos de Isaias ou Jessé, que Samuel ungiu rei (1Sm 16, 1-13): "O Espirito do Senhor se derramou
sobre Davi" (16, 13).
Tocador de harpa, Davi foi chamado por Saul para suavizar o seu mau humor, passando assim para a
corte real (1Sm 16, 14-23). Os filisteus desafiavam Israel, representados pelo gigante Golias; Davi se
apresentou então para enfrentar e combater Golias, obtendo, por graça de Deus, maravilhosa vitória (1Sm
17,1-58). esta aumentou muito o prestígio de Davi. O jovem guerreiro tornou-se grande amigo de Jônatas,
filho de Saul, que passou a enciumar-se do seu rival e procurou ferir mortalmente Davi (1Sm 18,1-19,17);
Davi teve que fugir, mas antes celebrou uma aliança com Jônatas (20,1-21, 1) Começou então a via dolorosa
de Davi, que vivia em cavernas (1Sm 22, 1-23) e no deserto (1Sm 23,1-24,23). Apesar da malvadez de
Saul. Davi soube ser generoso para com o rei, que ele podia ter assassinado (lSm 26,1-25).
O segundo livro de Samuel é inteiramente consagrado a Davi, visto que a princípio constituia uma só
e mesma obra com o precedente. Notemos que 2Sm tem seu paralelo em1Cr 11-29: é interessante ler este
outro livro depois de 2Sm para se perceberem as diferenças de enfoque: o 2Cr omite as faltas de Davi,
procurando pôr em relevo a figura do rei "segundo o coração de Deus".
Em 2Sm merecem atenção o cap. 7, com a sua profecia messiânica (7, 5-17), os cc. 11 e 12, que
falam do pecado e do arrependimenlo de Davi (o rei procedeu corno um homem sensual e cruel, mas soube
reconhecer Natã o enviado de Deus), o c. 24, que narra outro pecado de Davi, do qual o rei se arrependeu.
Diz S. Ambrósio que pecar é comum a todos os homens, mas arrepender-se é próprio dos santos.
ORIGEM E HISTORICIDADE
Quem lê 1/2Sm com atenção, verifica que não foram escritos de uma vez nem pelo mesmo autor,
mas que são obras de compilação. Com efeito ai se encontram numerosas repetições:
Em 1Sm 16,14-23; 17,1-11.32-39, Davi é introduzido na corte como músico que acalma o espirito
atormentado do rei. Mas em 1Sm 17,12-31.40-58: 18,1-5 Davi aparece como jovem pastor que
casualmente entra no acampamento dos israelitas e é admitido à corte de Saul depois de ter derrotado
Golias (1 Sm 17,12-31.40-58; 18, 1-5).
Ha dois atentados contra a vida de Davi: 1Sm 18,10s e 19,9s. Há duas narrações da instituição da
monarquia: uma favorável à monarquia (9,1-10, 16; 11,1-15), outra desfavorável (8,1-22; 10, 17-25; 12,1-
25).
Duas vezes são narrados o sucesso e a popularidade de Davi, 1Sm 18, 12-16 e 25-30.
Duas vezes ocorre a promessa de dar como mulher a Davi uma f ilha de Saul: 1Sm 18,17-19 e 2O-
27.
Duas vezes Jônatas intervém em favor de Davi: 1Sm 19, 1-7 e 20, 1-10.18-39.
Duas vezes é narrada a fuga de Davi: 1Sm 19,10-17 e 20,1-21,1.
Duas vezes Davi poupa a vida de Saul: 1Sm 24 e 26.
Duas vezes é relatada a morte de Saul: 1Sm 31,1-6; 2Sm 1,1-16.
Por conseguinte, Samuel não é autor de 1/2Sm, mas uma das suas principais figuras. Estamos diante
de uma obra que tem vários autores desconhecidos, que elaboraram paulalinamente a narração na base de
documentos e fontes (cf. 2Sm 1,18: o livro do Justo é citado). Deram-lhe a forma final possivelmente no
séc. VII aC.
A fidelidade histórica de 1/2Sm se deduz das seguintes considerações:
as fontes usadas pelos redatores são assaz antigas, como reconhecem os pesquisadores. Em parte,
trata-se de narrações confeccionadas na corte mesma do rei Davi, que tinha seus escribas ou cronistas. Os
acontecimentos relativos a Saul foram consignados por escrito pouco depois de ocorridos (ver
especialmente 1Sm 9,1-10,16). O chamado "ciclo da arca" (1Sm 4-6: 2Sm 6) deve derivar-se do colégio
de sacerdotes do tempo de Davi e Salomão.
os livros de 1/2Sm descrevem com imparcialidade as fraquezas e desgraças pessoais e familiares
não só dos personagens menos importantes como Eli e seus filhos (1Sm 2,12-17.27-36; 3, 11-18; 4,12-18),
mas também de Samuel (1Sm 8,1-14), de Saul (1Sm 13; 15) e Davi (2Sm 11, 1-12, 23).
Essa maneira objetiva de apresentar personagens históricos é pouco habitual nas crônicas da
antiguidade oriental, que se caracterizam por histórias fabulosas (no Egito) ou por secos anais (Assíria e
Babilônia). Somente os historiadores gregos possuiam tal senso de objetividade. Aliás,somente em Israel e
na Grécia a história foi, na época pré-crista, cultivada com seriedade. Em Israel, o fato se explica pelo
conceito que os israelitas tinham de história: consideravam-na revelação de Deus, discurso do Senhor que
se dava a conhecer através de fatos históricos e de palavras proféticas; as palavras explicavam e
interpretavam os fatos, estes confirmavam e ilustravam as palavras. Na verdade, o judaismo e o cristianismo
são religiões baseadas na história, que é altamente estimada pelas duas tradições.
Do ponto de vista religioso.,1/2Sm têm especial importância por apresentarem a figura de Davi, "o
homem conforme o coração de Deus" (1Sm 16,14). Sem dúvida, Davi foi homem sensual, violento, fraco
em relação aos filhos. Mas também foi penitente e piedoso. Tinha confiança no auxilio de Deus (1Sm, 45-
47), zelava pelo culto de Deus (2Sm 6,1-22; 7,1s); ouvia reverente as palavras do Senhor (1Sm 30, 8s; 2S
1,1s; 12,13): sabia ser grato pelos benefícios da Providência (2Sm 7,18-29; 22,1-51); orava e adorava a
Deus com fervor (2Sm 12, 20; 15,25s)... Recebeu do profeta Natã a promessa de um trono perpétuo, sobre O
qual se sentaria seu Filho por excelência, o Messias Jesus (2Sm. 7,1-17, especialmente 12-16), por isto, a
partir de Davi a esperança messiânica em Israel e nas Escrituras está associada a Davi. Os profetas. ao
anunciarem o Messias, propõem-no como Filho de Davi. cf. Jr 23,5s; Ez 34,23s; Is 9, 1-6; 11,1-9; Am
9,11; Os 3, 5. Mesmo depois que em Judá a monarquia caiu, persistiu a fé nas promessas de Deus em
favor de Davi. cf. SI 68 (69), 20-52; Jr 33,14-26: Is 55, 3s.
Por isto também os Evangelhos apresentam Jesus como Filho de Davi: Mt 1,1; 2,5s; Jo 7, 42; Mc 10,
47s; 11, 1. O reino, porém, do Messias não é simplesmenle a continuação do reino terrestre de Davi, não é
reino deste mundo (Jo 18, 36).
CONTEÚDO E DIVISÃO
O que melhor se nota, ao determinar a estrutura dos livros de SAMUEL, é que os cap. 1-12
apresentam claras afinidades com o livro dos Juízes e que os cap. 1-2 de 1Rs parecem o prolongamento
lógico de 2Sm 9-20. A atual divisão interna corta o relato da morte de Saul (1Sm 31; 2Sm 1) e, sobretudo,
a unidade mais ampla da "subida de Davi ao trono" (1Sm 16; 2Sm 5). Apesar disso, a obra apresenta-se
como uma unidade literária, histórica e teológica, ligada por três protagonistas: Samuel, Saul e Davi.
O seu conteúdo poderá ser dividido nas seções que apresentamos seguidamente:
1Sm 1 - 7 1Sm 8 -15 1Sm 16 - 31 2Sm 1-5 2Sm 6 -8 2Sm 9 -20 2Sm 21-24
Infância de Samuel e Saul; Ascensão de Ascensão de Davi no A sucessão de (suplementos:
Samuel, a arca O povo pede Davi ao Davi ao trono trono, em Davi (I): a “casa a guerra,
da aliança, Um rei trono(I):Saul, (II):Davi rei de Jerusalém; de Davi”; despedida
os filisteus E Samuel Davi, Jônatas Israel e de Judá transferência Absalão de Davi,
Indica Saul da arca; (continuação: os valentes,
profecia 2Rs 1-2) a peste)
de Natã.
FONTES
A crítica literária detectou a existência de fontes documentais e tradicionais diversas, as quais,
unidas a elementos redacionais de origem deuteronomista, seriam os materiais dos livros de SAMUEL.
Relativamente à sua antiguidade, há concordância quanto a reconhecer-lhes uma aproximação aos fatos,
embora no estado atual já sejam resultado de diversos retoques sofridos na época salomônica e, inclusive,
exílica.
Entre as unidades mais importantes e antigas estariam os relatos da sucessão de Davi (2Sm 9-20) e
da sua ascensão ao trono (1Sm 16,1-13; 2Sm 5,5; 8,1-18), ainda que este apresente maiores problemas: há
duas versões da entrada de Davi ao serviço de Saul (1Sm 16,14-23; 17,55-58), e dos relatos do atentado
falhado de Saul contra Davi (1Sm 18,10-11; 19,9-10), da intervenção de Jônatas a favor de Davi (1Sm
19,4-7; 20,1-42), da chegada de Davi à terra filistéia (1Sm 21,11-16; 27,1-12), do perdão de Davi a Saul
(1Sm 24 e 26) e das denúncias dos habitantes de Zif (1Sm 23,19; 26,1).
Na mesma linha, poderiam situar-se as tradições favoráveis a Saul (1Sm 9-11; 13-14; 31), a história
da Arca (1Sm 4-6; 2Sm 6) e o núcleo inicial da profecia de Natã (2Sm 7).
Pode também considerar-se como fontes a documentação oficial da corte, de que seriam reflexo as
listas dos filhos de Davi (2Sm 3,2-5; 5,13-16), dos oficiais de Davi (2Sm 8,16-18; 20,23-26), dos heróis
de Davi (2Sm 23,8-39) e dos gigantes filisteus, a quem venceram (2Sm 21,15-22), os resumos das
campanhas de Davi e Saul (1Sm 14,47-52; 2Sm 5,17-25; 8,1-14), o recenseamento do povo e a compra da
eira de Araúna (2Sm 24,16-23).
A estas unidades se teriam juntado, por volta do séc. VIII, novos materiais aparecidos em círculos
proféticos. Podem colocar-se neste período as tradições sobre a infância de Samuel (1Sm 1-3), a rejeição
de Saul (1Sm 13,7b-15a; 15), a unção de Davi (1Sm 16,1-13), o combate entre Davi e Golias (1Sm 17) e
o relato da vidente de Endor (1Sm 28,3-25). Outras unidades menores isoladas, como dois salmos (1Sm
2,1-10; 2Sm 22), duas lamentações de Davi (2Sm 1,19-27; 3,33-34) e um oráculo (2Sm 23,1-7) foram
sendo integradas na obra, ao longo do seu processo de formação.
MENSAGEM TEOLÓGICA
Os livros de SAMUEL fazem parte de um grande projeto teológico, conhecido como "História
Deuteronomista". Designa-se assim o trabalho de reflexão histórico-teológico realizado cerca do ano 550
aC. por um grupo de teólogos, guiados ideologicamente pelos princípios da teologia do Deuteronômio, a
partir de fontes plurais e heterogêneas preexistentes, orais e escritas. O seu propósito não era apresentar
uma "exposição neutral" da História, mas afirmar a sua "importância teológica" a partir da dolorosa
experiência do desterro na Babilônia (586 aC.).
Esta história está estruturada em quatro grandes etapas:
* conquista da terra (Josué),
* confederação tribal (Juízes),
* instituição da monarquia (SAMUEL),
* desenvolvimento e final dramático da monarquia (Reis).
Trata-se de uma "releitura histórica" destes acontecimentos. Os elementos redacionais, ainda que
mais perceptíveis em Juízes e Reis, não estão ausentes nos livros de SAMUEL (1Sm 2,22-36; 4,18; 7; 8;
10,17-27; 2Sm 2,10-11; 5,4-5; 7).
Dentro deste projeto teológico, os livros de SAMUEL sublinham três aspectos:
1. Origem, natureza e exigências da monarquia israelita: a introdução da monarquia em Israel, como
forma de governo, não esteve isenta de reticências e ambigüidades: podia supor um afastamento de Javé,
o único e verdadeiro Senhor. Além disso, os modelos monárquicos existentes em redor de Israel
implicavam certa divinização do rei, e adotá-los supunha um risco acrescentado por causa das estruturas
da religião javista. O equívoco desfaz-se porque o próprio Senhor dá a sua aprovação. No entanto,
permanece claro que a monarquia israelita não é democrática nem autocrática, mas teocrática. Tanto Saul
como Davi (e Salomão) são "ungidos" de Deus e "obrigados" a manterem-se submissos à sua vontade,
pois Deus é o verdadeiro rei do povo.
2. Importância do profeta (como intérprete e mediador de Deus): o profeta aparece como contraponto
do poder monárquico; é a memória constante do senhorio de Deus. Face à tendência institucional
(2Sm 7), significa o elemento carismático; e, perante a pretensão absolutista do poder, assegura a
consciência crítica (2Sm 12). Samuel e Natan encarnam, de maneira especial, essas funções. A História,
em todas as suas instâncias (políticas, sociais, religiosas), deve estar aberta ao juízo de Deus; e o profeta é
o instrumento de que Deus se serve para isso.
3. Centralidade de Jerusalém: convertida por Deus em capital política e religiosa, Jerusalém passa a ser
um dos sinais de identidade mais importantes do judaísmo. Embora a sua importância política tenha
decaído, a sua estrutura religiosa adquiriu grande desenvolvimento. A teologia de Sião, expressa nos
chamados "Cantos de Sião" (Sl 46; 48; 76; 87) e em grande parte da pregação de Isaías, é uma prova disso.
Os livros de SAMUEL sublinham intencionalmente estes aspectos (2Sm 5; 6; 24,18-25). Por isso,
Jerusalém será também o centro de todas as instituições teológicas de Israel até ao Apocalipse (Ap 21-22).
Temas específicos
-Davi, o modelo de rei. Certamente, Davi serve de modelo real, não idealizado (como nos livros
Crônicas). Apesar de todas as suas fraquezas e pecados, ele é modelo porque foi fiel a Javé e observou a
aliança e, portanto, também a Lei (de Moisés). Ora, isso era uma garantia para que as regras da justiça não
se perdessem na arbitrariedade do regime político. A Lei está acima do rei e seu regime. Por isso, à
diferença dos déspotas do Oriente, o rei de Israel está ligado ao “não matar” e ao “não cometer adultério”:
é isso que o profeta Natã ensina a Davi, depois que este pecou com a mulher de Urias, ao qual mandou
matar (2Sm 11-12)..
- A amizade leal. No centro destes livros encontra-se a amizade de Davi e Jônatas, filho do rei Saul.
Jônatas protege Davi contra o ciúme mortal de Saul. É uma amizade que supera os interesses políticos.
Mesmo quando tem de exterminar os inimigos do regime para proteger seu poder, Davi deixa com vida o
descendente de Jônatas, Mefiboset (Meribaal). Somente depois da morte de Davi, seu filho Salomão, não
ligado pelo pacto de Jônatas, passará a espada no clã de Saul.
1/2 Reis
PRIMEIRO REIS
I. A SUCESSÃO DE DAVI III. O CISMA POLÍTICO E RELIGIOSO
Velhice de Davi e conspiração de Adonias — 1,1- 10 A assembléia de Siquém — 12,1 -19
Intriga de Natã e de Betsabéia — 1,11- 27 O cisma político —12, 20 -25
Salomão, designado por Davi, é sagrado rei 1,28 - 40 O cisma religioso — 12,26- 33
O medo de Adonias — 1,41 - 53 Condenação do altar de Betel — 13,1-10
Testamento e morte de Davi —2, 1-11 O homem de Deus e o profeta — 13,11- 34
Morte de Adonias — 2,12 - 25
O destino de Abiatar e de Joab — 2,26-35 IV. OS DOIS REINOS ATÉ ELIAS
Desobediência e morte de Semei — 2,36 - 46 Cont. do reinado de Jeroboão I (931-910) — 14,1- 20
Reinado de Roboão (931-913) — 14,21- 31
II. HISTÓRIA DE SALOMÃO, O MAGNÍFICO Reinado de Abiam em Judá (913-911) — 15,1- 8
1. SALOMÃO, O SÁBIO Reinado de Asa em Judá (911-870) — 15,9- 24
Introdução — 3,1- 3 Reinado de Nadab em Israel (910-909) —15, 25 -32
O sonho de Gabaon — 3,4- 15 Reinado de Baasa em Israel (909-886) — 16, 1- 7
O julgamento de Salomão — 3,16- 28 Reinado de Ela em Israel (886-885) — 16,8 - 14
4 Os principais chefes de Salomão — 4,1- 6 Reinado de Zambri em Israel (885) — 16,15 - 22
Os prefeitos de Salomão — *4-5, 1- 8 Reinado de Amri em Israel (885-874) — 16,23- 28
A fama de Salomão — 5,9-14 Introdução ao reinado de Acab (874-853) 16,29-34
2. SALOMÃO, O CONSTRUTOR
Preparativos para a construção do Templo 5,15 - 32 V. O CICLO DE ELIAS
A construção do Templo — 6,1 - 14 1. A GRANDE SECA
A decoração interna. O Santo dos Santos — 6,15 - 22 Anúncio do castigo — 17, 1
Os querubins — 6,23- 30 Na torrente de Carit — 17,2- 6
As portas. O pátio —6, 31- 36 Em Sarepta. O milagre da farinha e do óleo 17,7 - 16
Datas — 6,37 A ressurreição do filho da viúva — 17,17 - 24
O palácio de Salomão — 7,1- 12 Encontro de Elias com Abdias — 18,1 - 15.
O bronzista Hiran — 7,13- 14 Elias e Acab — 18,16-19
As colunas de bronze — 7,15- 22 O sacrifício no Carmelo — 18,20 - 40
O Mar de bronze — 7,23- 26 O fim da seca — 18,41 - 46
As bases e as bacias de bronze —7, 27- 39 2. ELIAS NO HOREB
A mobília do Templo. Resumo — 7,40 - 51 A caminho do Horeb — 19,1-8
Trasladação da Arca da Aliança — 8,9 -8b O encontro com Deus — 19,9- 18
Deus toma posse do seu Templo — 8,10 - 13 Vocação de Eliseu — 19,19 - 21
Discurso de Salomão ao povo — 8,14 - 21 3. GUERRAS CONTRA OS ARAMEUS
Oração pessoal de Salomão — 8,22 - 29 Samaria é sitiada —20, 1- 12
Oração pelo povo — 8,30- 40 Vitória israelita —20, 13-21
Suplementos — 8,41 - 51 Entreato — 20,22- 25
Conclusão da prece e bênção do povo — 8,52 - 61 Vitória de Afec — 20, 34
Os sacrifícios da Festa da Dedicação — 8,62- 66 Um profeta condena a atitude de Acab — 20,35-43
Nova aparição divina — 9,1- 9 4. A VINHA DE NABOT
Contrato com Hiram — 9,10- 14 Nabot recusa-se a ceder sua vinha — 21,1-3
Trabalhos forçados para as construções — 9,15- 24 Acab e Jezabel — 21,4-7
O serviço do Templo — 9,25 Assassínio de Nabot —21, 8 - 16
3. SALOMÃO, O COMERCIANTE Elias fulmina a condenação divinal — 21,17- 26
Salomão armador — 9,26 - 28 Arrependimento de Acab — 21,27-29
Visita da rainha de Sabá — 10,1- 13 5. OUTRA GUERRA CONTRA OS ARAMEUS
A riqueza de Salomão — 10,14 - 25 Acab faz uma expedição a Ramot de Galaad 22,1-4
Os carros de Salomão — 10,26- 29 Os falsos profetas predizem a vitória — 22,5 - 12
4. AS SOMBRAS DO REINADO O profeta Miquéias prediz o fracasso — 22,13 - 28
As mulheres de Salomão — 11,1- 13 Morte de Acab em Ramot de Galaad — 22,29 - 38
Os inimigos externos de Salomão — 11,14- 25 6. DEPOIS DA MORTE DE ACAB
Revolta de Jeroboão — 11,26- 40 Conclusão do reinado de Acab — 22,39-40
Fim do reinado — 11,41- 43 Reinado de Josafá em Judá (870-848) —22,41- 51
O rei Ocozias (853-852) e o profeta Elias 22-1, 1-18
SEGUNDO REIS
VI. O CICLO DE ELISEU Reinado de Selum em Israel (743) — 15,13-16
1. INÍCIOS Reinado de Manaém em Israel (743-738) — 15,17- 22
Elias é arrebatado ao céu e Eliseu lhe sucede — 2,1- 18 Reinado de Facéias em Israel (738-737) — 15,23-26
Dois milagres de Eliseu —2,19-25 Reinado de Facéias em Israel (737-732) — 15,27-31
2. A GUERRA MOABITA Reinado de Joatão em Judá (740-736) — 15,32-38
Reinado de Jorão em Israel (852-841) — 3,1- 3 Reinado de Acaz em Judá (736-716)— 16,1-20
Expedição de Israel e de Judá contra Moab —3,4 - 27 Reinado de Oséias em Israel (732-724) — 17,1-4
3. ALGUNS MILAGRES DE ELISEU Tomada de Samaria (721) — 17,5-6
O óleo da viúva — 4,1-7 Reflexões sobre a ruína do reino de Israel — 17,7-23
Eliseu, a sunamita e seu filho — 4,8- 37 Origem dos samaritanos — 17,24-41
A panela envenenada — 4,38-41
A multiplicação dos pães — 4,42 - 44 VIII. FIM DO REINO DE JUDÁ
A cura de Naamã — 5,1-27 1. EZEQUIAS, O PROFETA ISAÍAS E A ASSÍRIA
O machado perdido e encontrado — 6,1-7 Introdução ao reinado de Ezequias (716-687) — 18,1-8
4. GUERRAS CONTRA OS ARAMEUS Relembrando a queda de Samaria — 18,9-12
Eliseu captura todo um batalhão arameu — 6,8-23 Invasão de Senaquerib — 18,13-16
A fome durante o cerco de Samaria — 6,24-31 Missão do copeiro-mor —18,17-37
Eliseu anuncia o fim iminente da provação — 6,8-7,2 Apelo ao profeta Isaías —19, 1- 7
Descoberta do acampamento arameu abandonado — 7,3-8 Partida do copeiro-mor —19, 8- 9
Fim do cerco e da fome — 7,9-20 Carta de Senaquerib a Ezequias — 19,10-19
Epilogo da história da sunamita — 8,1-6 Intervenção de Isaías — 19,20-34
Eliseu e Hazael de Damasco — 8,7-15 Fracasso e morte de Senaquerib — 19,35-37
Reinado de Jorão em Judá (848-841) — 8,16-24 Doença e cura de Ezequias — 20,1-11
Reinado de Ocozias em Judá (841) — 8,25,29 Embaixada de Merodac-Baladã — 20,12-19
5. HISTÓRIA DE JEÚ Conclusão do remado de Ezequias — 20,20-21
Um discípulo de Eliseu confere a unção real a Jeú — 9,1-10 2. DOIS REIS ÍMPIOS
Jeú é proclamado rei — 9,11-13 Reinado de Manassés em Judá (687-642) —21,1-18
Jeú prepara a usurpação do poder — 9,14-21 Reinado de Amon em Judá (642-640) — 21,19-26
Assassínio de Jorão — 9,22-26 3. JOSIAS E A REFORMA RELIGIOSA
Assassínio de Ocozias — 9,27- 29 Introdução ao reinado de Josias (640-609) — 22,1-2
Assassínio de Jezabel — 9,30-37 Descoberta do livro da Lei — 22,3-10
Massacre da família real de Israel —10, 1-11 Consulta à profetisa Hulda — 22,11-20
Massacre dos príncipes de Judá — 10,12- 17 Leitura solene da Lei — 23,1-3
Massacre dos fiéis de Baal e destruição do seu templo 10,18-27 Reforma religiosa em Judá — 23,4-14
Reinado de Jeú em Israel (841-814) — 10,28-36 A reforma se estende ao antigo reino do norte — 23,15-20
6. DO REINADO DE ATALIA À MORTE DE ELISEU Celebração da Páscoa —23,21-23
História de Atalia (841-835) — 11,1-20 Conclusão sobre a reforma religiosa — 23,24-27
Reinado de Joás em Judá (835-796) —12, 1-22 Fim do reinado de Josias — 23,28-30
Reinado de Joacaz em Israel (814-798) — 13,1-9 4. A RUÍNA DE JERUSALÉM
Reinado de Joás em Israel (798-783) — 13,10-13 Reinado de Joacaz em Judá (609) — 23,31- 35
Morte de Eliseu — 13,14-21 Reinado de Joaquim em Judá (609-598) — *23-24, 1-7
Vitória sobre os arameus — 13,22-25 Introdução ao reinado de Joaquin (598) — 24,8-9
Primeira deportação —24, 10 -17
VII OS DOIS REINOS ATÉ A TOMADA DE SAMARIA Introdução ao reinado de Sedecias em Judá (598-587) 24,18-20
Reinado de Amasias em Judá (796-781) — 14,1-22 Cerco de Jerusalém — 25, 1-7
Reinado de Jeroboão II em Israel (783-743) — 14,23-29 Saque de Jerusalém e segunda deportação — 25,8-21
Reinado de Ozias em Judá (781-740) — 15,1-7 Godolias, governador de Judá — 25,22-26
Reinado de Zacarias em Israel (743) — 15,8-12 Perdão para o rei Joaquin — 25,27- 30
HISTORICIDADE
A atual redação dos LIVROS DOS REIS não pretende apresentar uma simples e despretensiosa
historiografia da monarquia hebraica. Apesar disso, os dados históricos referidos e os seus contextos
concordam bem, no geral, com a imagem quer dos dados da Arqueologia quer das numerosas fontes
extra-bíblicas que hoje se podem aproveitar e comparar. O quadro internacional em que se desenvolve
esta História, à sombra da sucessiva hegemonia do Egito, da Assíria e da Babilônia como impérios
dominantes e condicionantes, corresponde fielmente à imagem real que a História do Próximo Oriente
Antigo nos oferece. No entanto, mantêm-se em aberto alguns complexos problemas de cronologia
relativamente aos dois reinos.
HISTÓRIA LITERÁRIA
Os LIVROS DOS REIS são parte nuclear de uma das unidades literárias mais influentes na
Bíblia, além do Pentateuco: a História Deuteronomista, empreendimento de grande vulto e enorme
repercussão em Israel. Por isso, a questão histórica da sua redação fica envolvida na complexidade das
hipóteses levantadas e muito discutidas sobre autores, lugares e datas daquela História.
Para essa redação foram utilizadas fontes escritas relativas à História dos reis das monarquias hebraicas,
nomeadamente a História de Salomão (1Rs 11,41), a Crônica da Sucessão de Davi (1Rs 1-2), o livro dos
Anais dos Reis de Israel e de Judá, freqüentemente citados no texto atual, além de outras fontes
documentais neles referidas, mas hoje desconhecidas (1Rs 5,7-8). Outras narrativas, como as de Elias e
Eliseu, provavelmente, já existiam também antes de serem integradas na redação deuteronomista
Os dois livros constituem, a principio, uma só obra: foi desdobrada em duas pelos tradutores
alexandrinos (LXX), a fim de facilitar o uso dos manuscritos; essa divisão se tornou comum a todas as
edições da Bíblia. A Vulgata latina intitula esses escritos “3º. e 4º. dos Reis", pois considera 1º. e 2Sm
como se fossem o 1º. e 2º. dos Reis. Tal nomenclatura da Vulgata já não é utilizada em nossos dias.
1/2Rs narram a história de Israel desde Salomão até o exílio babilônico (587-538 aC.). Começa com
os últimos dias de Davi (972) e termina com a libertação de Jeconias, rei de Judá, que estava detido na
Babilônia (561); abrange, pois, cerca de quatrocentos anos de história, que contém os elementos mais
significativos da história de Israel: o apogeu da monarquia sob Salomão, sua divisão em dois reinos rivais
(o de Samaria e o de Judá), a queda de ambos (em 722 e 587 respectivamente), a destruição da cidade
santa de Jerusalém e o exílio na Babilônia (ponto importantíssimo da história do povo hebreu). Tal é
também a época dos grandes profetas (Elias, Eliseu, Amós, Oséias, Isaías, Jeremias, Ezequiel...).
1/2Rs se dividem em três partes, de proporções desiguais: a mais extensa é a segunda, que cobre
dois séculos e duas séries de reinados:
A segunda parte é uma galeria de reis que ocupam sucessivamente o trono de Judá e o da
Samaria. Doze reis se sucedem em Judá, todos da mesma dinastia davídica; esta é posta em perigo, mais
de uma vez, por revoluções, mas o Senhor a preserva providencialmente a fim de cumprir a promessa
feita a Davi (cf. 2Sm 7, 14-16). Ao contrário, na Samaria reinam sucessivamente dezenove monarcas,
pertencestes a um conjunto de nove dinastias; perdeu-se ai a sucessão dentro da linhagem de Davi. Eis os
episódios mais notáveis desse segmento da história (930-721):
Jeroboão proclama a separação das dez tribos do Norte; constitui os santuários de Betel e Dã, onde
colocou bezerros de ouro, símbolos da Divindade (1 Rs 12,1 -13,34); para que o povo não descesse a
Jerusalém, o rei criou santuários próprios, cismáticos;
- o ciclo do profeta Elias, que ficou sendo muito popular e caro a Israel (1 Rs 17,1 -2Rs 1 17). Tem-
se aqui uma figura corajosa, que enfrenta reis e falsos profetas para defender a causa do único Deus. A
leitura de tais episódios é agradável por seus pormenores muito vivazes. Ver em Eclo 48,1 -11 como Elias
foi posteriormente apreciado;
- o ciclo Eliseu, discípulo de Elias, também muito popular e autor de milagres (1 Rs 19,19-21; 2Rs
2,1 -25; 3-9; 13). Ver em Eclo 48,12-14 a imagem que de Eliseu faziam os pósteros;
- o golpe de estado de Jeú, da Samaria (2Rs 9,1 -10, 36);
- façanhas de Joás de Judá (2Rs 11,1 -12,22). salvo de um morticínio que atingiu todos os seus
irmãos, foi escondido por sua tia no Templo do Senhor, onde permaneceu seis anos com sua ama. Quando
subiu ao trono após a morte de Atalia, sua perseguidora, resolveu restaurar o templo de Jerusalém;
- o reinado de Acaz de Judá (736-716). Deve-se levar em conta que a Terra Santa ficava entre os
poderosos impérios da Mesopotâmia (Assíria e Babilônia) e do Egito; estes disputavam entre si o domínio
sobre os povos da Palestina, da Síria e vizinhanças. Isto obrigava os filhos de Israel a procurar apoiar-se
sobre um dos dois contendestes: ora, sobre o Egito para se defender da Assíria ou da Babilônia, ora sobre
os mesopotâmios para se defender do Egito (ver mapa do próximo oriente no fim de sua edição da
Bíblia). Esta política de alianças com estrangeiros era espontânea aos filhos de Israel, mas proibida pelo
Senhor Deus, que queria evitar o perigo de contaminação religiosa do povo santo. Muitas vezes os
profetas se insurgiram contra as alianças com povos pagãos; ver is 30,1 -7; 31,1 -3, Jr 2,18; também is
36,4-10. - Ora, sob o rei Salomão as relações de Israel com o Egito eram muito boas, como se percebe das
uniões conjugais de Salomão (1 Rs 3,1; 9, 1 5s); os egípcios deram asilo a Jeroboão, que se rebolara
contra Salomão (1 Rs 11,40; 14,25-27). Mas no século IX aC., com o rei Assur-nasir-apal (884-859), os
assírios se fortaleceram e passaram a se impor no cenário da Palestina. Foi precisamente então que Acaz
de Judá (2Rs 16, 7-19) resolveu pedir auxilio a Tiglat-pileser III da Assíria contra os reis de Samaria e da
Síria, que ameaçavam Judá (2Rs 16,7-10). Nesse período desenvolveu-se parte da atividade do profeta
Isaias; este interveio junto ao rei Acaz para lhe recomendar a confiança em Javé, e não no auxilio dos
estrangeiros; cf. Is 7,1 -1 7;
- o rei Oséias da Samaria tentou emancipar-se do tributo que os assírios Lhe haviam imposto. Em
conseqüência, Salmanassar V cercou a Samaria, que capitulou em 722. Deu-se então o fim do reino de
Israel ou Samaria, com a deportação dos israelitas mais capacitados para Hala, na Mesopotâmia do Norte
(2Rs 17,1 -6; cf. Is 28,1 -6). A queda de Samaria levou o autor sagrado a uma meditação sobre o triste
acontecimento; segundo a mentalidade deutoronomista, ele atribui a ruína do reino setentrional ao pecado
e à infidelidade da Samaria à Lei do Senhor. É muito típica da corrente deuteronomista a reflexão posta
em 2Rs 1 7, 7-23. - Em lugar dos israelitas deportados, os assírios enviaram colonos para a Samaria; estes
se mesclaram com os israelitas remanescentes no pais, dando origem a um povo bastardo, os samaritanos,
que os judeus não toleravam, porque resultavam de matrimônios ilícitos; cf. Jo 4, 9; Lc 9, 53; 10, 33; At 8, 5.
A terceira parte (2Rs 18,1 -25, 30) descreve a história do reino de Judá desde 721 até a sua
queda em 587. Foi este um período de declínio religioso, em que se destacaram duas figuras de reis
reformadores: Ezequias (717-687) e Josias (649-609).
Ezequias (2Rs 18, 1-20, 21) foi um rei piedoso, que eliminou todas as formas de culto pagão,
inclusive o culto dos bosques e nas colinas (reminiscência do culto pagão dos cananeus). Sob Ezequias
desenvolveu-se intensa atividade literária; foram recolhidos provérbios preferidos por Salomão (cf. Pr
25,1), assim como leis e histórias do povo eleito.
Josias (2Rs 22,1 -23,30) foi outro entusiasta reformador do culto de Javé. Durante as obras de
restauração do Templo, foi encontrado um exemplar da Lei do Senhor (2Rs 22,3-23), o chamado
"Deuteronômio" (ao menos o núcleo central; Dt 12-26); em conseqüência, foram eliminados os cultos
idolátricos e celebrada solenemente a Páscoa. Infelizmente Josias morreu em expedição contra Necao, o
faraó do Egito, na batalha de Meggido (2Rs 23, 29s). Sob Josias teve inicio a atividade profética de
Jeremias.
. A MENTALIDADE DE 1/2RS
Os livros 1/2Rs são a expressão de mentalidade profundamente religiosa, muito inspirada pelos
princípios deutoronomistas. Notemos, por exemplo, os seguintes traços:
1) Biografia dos reis
Cada rei é apresentado dentro de um esquema bem definido:
Introdução: sincronismo de um rei com o contemporâneo do outro reino, anos de reinado e, para
os reis de Judá, idade que tinham quando subiram ao trono, muitas vezes também o nome da mãe.
Corpo: juízo sumário sobre o rei, preferido na base da sua atitude frente à Lei do Senhor. Os reis da
Samaria são condenados em bloco por terem seguido o modelo do cismático Jeroboão (cf. 1Rs 14, 7-9;
16, 26-28; 2Rs 15, 9.18.24.28...). Os reis de Judá são julgados em relação a Davi, "o rei segundo o
coração de Deus"; o autor os distribui em três categorias:
- reis maus, por terem permitido ou praticada a idolatria; assim Abdias,1 Rs 15,3-5; Acaz, 2Rs 16,
2-4; Manassés, 2Rs 21, 2-9; Joacaz, 2Rs 23, 32;
- reis bons, por terem combatidos a idolatria, embora tenham deixado subsistir o culto a Javé nos
bosques e nas colinas, à semelhança dos cananeus; assim Asa, 1 Rs 15,11 -13; Josafá, 1 Rs 22, 43-47;
Joas, 2Rs 12, 2-3; Amasias, 14, 4, Azarias 15, 3s; Joatam, 15, 34;
- reis ótimos, por terem combatido a idolatria e também o culto nas colinas; assim Ezequias, 2Rs
18,3-5, e Josias,2Rs 22,2; 23,25. Entre os reis da Samaria, os pecados se foram sucedendo na escala de
crescente gravidade: Jeroboão proclamou a ruptura de Samaria com Judá e construiu dois santuários
cismáticos em Betel e Dã respectivamente (1 Rs 12, 20-33); Baasa e seu filho Elá introduziram a idolatria
(1 Rs 16, 1 2s; cf. 21. 22); Omri e seu filho Acab "superaram os seus antecessores", chegando ao culto
oficial do deus fenício Baal (1 Rs 16,25.30-33).
2) inspiração deuteronômica
Os dois livros dos Reis não tencionam narrar a história pela história, mas, sim, para realçar que os
acontecimentos humanos são orientados por Javé, para cumprimento do seu plano de salvação.
Especialmente os golpes e reveses sofridos pelo povo eleito são vistos como sinais da justiça divina, que
assim quer chamar os infiéis à consciência do seu pecado e à conversão. O leitor de 1/2Rs, segundo o
autor sagrado, deve reconhecer as culpas dos antepassados e suas próprias culpas, que são resposta
inadequada aos benefícios recebidos do Senhor; em conseqüência, procure voltar a Deus, que o pecado
menospreza. A tese teológico do livro se encontra em 2Rs 17,7: "Isto aconteceu, porque os filhos de Israel
tinham pecado contra Javé seu Deus, que os tirara da terra do Egito".
Muito sabiamente comenta o exegeta contemporâneo S. Garofalo:
"O hagiógrafo... repensou a história da própria nação, de modo a destacar a providência daquele
Deus que governa os acontecimentos humanos. Estes, aos olhos míopes do observador naturalista, ficam
muitas vezes desligados entre si ou parecem devido à pura trama de política humana e de exigências
econômicas... No fundo, a história do livro dos Reis é a história vista com os olhos de Deus".
1Rs 1-2 1Rs 3-11 1Rs 12-16 1Rs 17-22 2Rs 1-17 2Rs 18-21 2Rs 22-25
A sucessão de Reinado Divisão No tempo História Ezequias e De Josias até
Davi (II): de Salomão; do Reino; da guerra sincrônica sucessores a queda de
Salomão construção Primeiros reis Siro- dos Jerusalém
prevalece do Templo; de Judá efraimita, dois reinos
Profecia e de Israel o rei Acab até a queda
De Aías de Samaria
Versando sobre a história dinástica de Israel, o conteúdo dos LIVROS DOS REIS divide-se em três
fases principais:
Em 1Rs 1-11 descreve-se o reinado de Salomão: com alguma pompa e pormenor, narram-se as
vicissitudes e os jogos de corte, por ocasião da sua designação para a sucessão, na dinastia de Davi, a
grandeza do seu reinado, a sua sabedoria e riquezas.
No final, e quase em ar de transição, como quem abandona um recinto de festa, são-lhe feitas
algumas críticas, apresentadas como causas do desmoronamento da realeza única, levando à separação
dos dois reinos antes unificados.
De 1Rs 12 a 2Rs17 decorre a parte mais longa deste conjunto, que apresenta a História paralela
dos dois reinos separados: o do Norte, também chamado de Israel ou da Samaria, e o do Sul, também
referido como de Judá ou de Jerusalém. O fio condutor desta História é a exposição paralela das duas
séries de reis que personificavam, a cada momento, as dinastias dos Hebreus.
O esquema de apresentação é uniforme para quase todos, traduzindo o essencial da sua biografia
política e, muito particularmente, a qualificação de bom ou mau rei, segundo os critérios religiosos de
valor sistematicamente aplicados.
Algumas das mais significativas interrupções deste esquema rígido acontecem com o aparecimento
de personagens especiais, sobretudo Elias (1Rs 17-19 e 21; 2Rs 1) e Eliseu (2Rs 2-9). As suas histórias
tratam não apenas dos dois profetas mais prestigiados desta primeira parte da monarquia, mas de duas
personagens cuja atividade profética influenciou as opções tomadas por alguns reis, condicionando o
destino da própria monarquia hebraica.
A parte final (2Rs 18-25) constitui quase um epílogo sobre a ameaçada sobrevivência da dinastia
davídica de Jerusalém e a sua dramática destruição. É intensa e dramática, tanto pelos efeitos imediatos
do cataclismo da Samaria, como pelas necessidades de reforma que constituíram uma reação a médio
prazo às mesmas preocupações, e pelos sinais cada vez mais claros da próxima destruição de Jerusalém,
cujos sinais se tornavam cada vez mais evidentes.
A lógica que une essas matérias é a seguinte: Deus fez com Israel uma aliança. Os profetas são os
guardiães dessa aliança. Os Reis, chamados por Deus mesmo (Davi é o modelo) e intimamente unidos ao
“povo” (= os cidadãos israelitas) são responsáveis, pela observância da aliança; se a observarem, reinarão
da Samaria (2Rs 17) e a queda de Jerusalém (2Rs 25).
Mas esse castigo é pedagógico, é uma “correção”. Não é a última palavra. O conjunto Samuel/Reis
termina, por isso, na reabilitação do rei Jeconias em pleno exílio babilônico.existe esperança, um
recomeço é possível. Por isso, o lugar central é ocupado pela promessa de que a dinastia davídica estará
firme para sempre
Dentre os reis Davi é a figura central.ele é pintado como pecador, mas...fiel à aliança! Salomão é
destacado por causa da construção do Templo,anunciada na profecia de Natã. Os reis Ezequias e Josias
são destacados porque, ao modelo de Davi, foram fiéis observantes da aliança.
Assim, teríamos nestes dois livros as partes seguintes:
I. Fim do reinado de Davi e reino de Salomão: 1Rs 1,1-11,43;
II. Divisão do Reino. Reis de Israel: 1Rs 12,1-22,54;
III. Fim da História Sincrônica de Israel e Judá: 2Rs 1,1-17,41;
IV. Fim do reino de Judá: 2Rs 18,1-25,30.