Nutricao Mineral de Plantas
Nutricao Mineral de Plantas
Nutricao Mineral de Plantas
Peres 1
I- INTRODUÇÃO
II- ABSORÇÃO DOS NUTRIENTES MINERAIS
III- FUNÇÃO DOS NUTRIENTES MINERAIS
IV- DEFICIÊNCIA DE NUTRIENTES MINERAIS
V- APLICAÇÃO DA NUTRIÇÃO MINERAL: ADUBAÇÃO DOS SOLOS
VI - BIBLIOGRAFIA
I- INTRODUÇÃO
Sabemos que as plantas são organismos autotróficos, ou seja, que fabricam seu
próprio alimento. No entanto, qual é o alimento das plantas? Ou melhor, de que são
feitas as plantas? É evidente que as plantas e os demais seres vivos são constituídos por
alguns dos 89 elementos químicos existentes na natureza (lembrar que dezesseis dos
105 elementos que constam na Tabela Periódica são sintéticos). Apesar de mais de 60
desses elementos químicos já terem sido encontrados nos vegetais, somente pouco mais
de uma dezena é realmente essencial para os mesmos. Contudo, faz se necessário saber
o que torna um elemento químico essencial para os vegetais. Podemos dizer que um
elemento é essencial quando perfaz dois critérios:
Alguns elementos não são considerados essenciais, mas apenas benéficos para
algumas plantas. Esse é o caso do sódio (Na), do silício (Si) e do cobalto (Co). O sódio
é normalmente muito tóxico para os vegetais. No entanto ele é importante para as
espécies que possuem fotossíntese do tipo C4 1 . É interessante notar que boa parte das
plantas halófitas (resistentes ao sódio) são de fotossíntese C4 . Sabe-se que nessas
plantas, o sódio seja necessário para a entrada de piruvato na célula do mesofilo onde
ele regenera o fosfoenolpiruvato (PEP), que é substrato da enzima PEPCase.
Em plantas que acumulam silício, este é depositado como sílica (SiO 2 ) amorfa
na parede celular. O Si contribui para as propriedades da parede celular, incluindo
rigidez e elasticidade. Além disso, o Si previne a herbivoria já que prejudica o aparelho
bucal de insetos mastigadores. Plantas de arroz deficientes em Si são mais susceptíveis
ao acamamento (tombamento das plantas, o que impede sua colheita mecanizada) e ao
ataque de fungos.
O cobalto é necessário para as bactérias que fixam nitrogênio e, por conseguinte,
é imprescindível para as leguminosas que estão fazendo simbiose com esses
organismos. Contudo, plantas supridas com nitrogênio não necessitam mais de cobalto.
Embora não seja essencial para plantas, o cobalto faz parte da vitamina B12, a qual é
essencial para os animais. Nesse caso, é interessante que as plantas acumulem elemento,
principalmente aquelas empregadas em pastagens (espécies forrageiras).
Uma questão que se faz relevante é saber como as plantas adquirem os nutrientes
essenciais ou benéficos. O carbono, oxigênio e hidrogênio são adquiridos a partir do
CO2 atmosférico e da água presente no solo. Depois de adquiridos, eles são
incorporados às plantas pelo processo de fotossíntese. Como conseqüência da
fotossíntese, esses três nutrientes fazem parte de praticamente todas as moléculas
orgânicas dos vegetais e são responsáveis por cerca de 94-97% do peso seco de uma
planta. Os demais nutrientes (6-3 % restantes) fazem parte dos minerais presentes no
solo. Por derivarem dos minerais, esses elementos são denominados nutrientes
minerais e o processo pelo qual as plantas os adquirem é denominado nutrição
mineral.
A divisão entre micro e macronutrientes não tem correlação com uma maior ou
menor essencialidade. Todos são igualmente essenciais, só que em quantidades
1
As plantas C4 são aquelas que fixam o CO2 através da enzima PEPCase, a qual catalisa a junção do
fosfoenolpiruvato (PEP) com o CO2 formando o ácido oxalacético, uma molécula de quatro carbonos (C4
). Essa reação se dá nas células do mesofilo e o malato formado migra para as células da bainha do feixe
vascular onde se converte em piruvato + CO2 . O CO2 formado é novamente fixado pela enzima
RUBISCO, a qual junta o CO2 a uma molécula de 5 carbonos (ribulose 1,5 bifostato) formando duas
moléculas de 3 carbonos (C3 ).
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Essa lei estabelece que a produtividade de uma cultura é limitada pelo elemento
que está presente em menor quantidade. Nesse caso, mesmo se aumentarmos a
concentração dos demais nutrientes, não haverá um aumento da produtividade. Além de
se levar em conta a Lei do mínimo, é necessário considerar que também há um máximo
para a utilização de um nutriente (Fig 2). Enquanto a planta possui deficiência de um
certo nutriente (Fig 2, zona deficiente), há um crescimento exponencial proporcional à
quantidade do nutriente presente nos tecidos (nutriente absorvido). Contudo, depois de
um certo tempo o crescimento tende a desacelerar (zona de transição) e pode ficar
estagnado (zona adequada). No caso de macronutrientes, a zona adequada corresponde a
uma sobra de nutriente absorvido, o qual pode se acumular no vacúolo sem provocar
resposta no crescimento. No caso de micronutrientes, essa sobra pode provocar toxidez
nos tecidos e reduzir o crescimento da planta. Considera-se concentração crítica de um
nutriente no tecido aquela concentração em que abaixo dela a planta está crescendo
menos do que seu potencial e acima dela o incremento deixa de ser exponencial. Em
termos práticos, considera-se a concentração crítica como sendo aquela que corresponde
a 90% do máximo de crescimento (Fig. 2).
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O encontro dos nutrientes com as raízes pode envolver três processos diferentes
(Figura 3):
Nutrientes muito móveis na solução de solo tendem a chegar até as raízes por
fluxo de massa. Um exemplo é NO3 -, o qual é repelido pelas cargas negativas do solo e
por isso tende a se manter solúvel. Por outro lado, o PO4 3- tende a se ligar a cátions
como Fe2+, Fe3+ e Al3+, os quais possuem OH- que é deslocado pelo PO4 3-. Em
conseqüência, o fosfato tende a ser imobilizado pelo solo e tem dificuldade de ser
arrastado pelo fluxo de massa. O fosfato chega até as raízes predominantemente por
difusão.
A transpiração é importante para os nutrientes que entram em contato com a raiz
principalmente por fluxo de massa (nitrogênio, enxofre, magnésio e cálcio). Por outro
lado, o tamanho do sistema radicular é muito importante para a absorção de elementos
que entram em contato com a raiz por difusão (fósforo e potássio) e interceptação
radicular (cálcio).
Nem todas as partes das raízes são eficientes na absorção de nutrientes. A zona
de maior absorção de íons é a zona pilífera (Figura 4), a qual só está presente em raízes
novas como a radícula e as raízes secundárias das dicotiledôneas ou as raízes seminais e
nodais das monocotiledôneas. Células dessa zona já se expandiram, mas ainda não
possuem crescimento secundário, tendo, portanto uma maior absorção de solutos. Outra
questão relevante é que a velocidade de difusão tende a diminuir exponencialmente com
o aumento da distância. Desse modo, os elementos próximos das raízes se difundem até
elas, mas não são repostos pelos que estão longe, entrando em depleção. Portanto, para
uma boa absorção de nutrientes é necessário que o vegetal tenha um crescimento
radicular contínuo. A contínua formação de raízes garante raízes novas (absorventes)
que alcançam áreas do solo onde o nutriente difundido ainda não entrou em depleção.
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FIGURA 5. Experimento de Drew et al. (1975). Notar que com exceção do potássio, a
região da raiz tratada com maiores concentrações de nutriente cresceu mais que na
região com baixa disponibilidade de nutrientes. Cada raiz foi colocada em três
compartimentos diferentes separados por um filme de parafina que impede a passagem
de solução, mas não oferece resistência à penetração das raízes. A = alta concentração
de nutriente e B = baixa concentração de nutriente.
Os nutrientes podem chegar até o xilema das raízes via simplasto ou apoplasto
Uma vez entrando em contato com as raízes, os nutrientes precisam chegar até o
xilema. A seguir iremos considerar como isso acontece nos vegetais. Após entrar em
contato com a raiz, o nutriente pode chegar até o xilema via apoplasto (parede celular e
espaços intercelulares) ou simplasto (conjunto de citoplasmas interligados pelos
plasmodesmatas). Mesmo para aqueles elementos absorvido inicialmente via apoplasto,
para que cheguem até o xilema precisam entrar dentro da célula quando atingem a
endoderme. Isto ocorre porque a endoderme apresenta uma barreira ao apoplasto
denominada faixa caspariana. No xilema os solutos voltam a cair no apoplasto, já que
os elementos de vaso são células mortas. O processo pelo qual o íon deixa o simplasto e
entra no xilema é chamado “carregamento do xilema”. Tratamentos com citocininas
(BAP) inibem o carregamento de solutos no xilema sem afetar sua entrada na córtex. Há
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A força motriz para a ascensão dos elementos pode ser a transpiração ou a gutação
No xilema os elementos são transportados por fluxo de massa sendo que a força
motriz é a tensão gerada pela transpiração ou, alternativamente, a pressão de raiz
durante o processo de gutação. Como a força motriz normalmente é a transpiração, os
nutrientes tendem a se acumular nos órgãos que transpiram mais, como as folhas
maduras, em detrimento dos brotos novos e frutos. Para corrigir isso, os vegetais
redistribuem os nutrientes de um órgão para outro através do floema no sentido da fonte
(órgãos maduros) para os drenos (órgãos em crescimento). Alguns nutrientes são
móveis no floema (nitrogênio, fósforo, potássio e magnésio) e outros são pouco móveis
(cálcio, enxofre, boro e ferro). Como os frutos são drenos que recebem nutrientes
primordialmente através da redistribuição via floema, eles têm dificuldade de acumular
nutrientes pouco móveis. Em condições em que a transpiração é desfavorecida
(ambiente úmido e frio) e predomina a pressão positiva no xilema (gutação), há mais
chances dos nutrientes chegarem até os órgãos que transpiram pouco, sendo mais
relevante ainda no caso de nutrientes pouco móveis no floema. A exemplo disso, um
distúrbio fisiológico comum em fruto de tomateiro é a chamada podridão estilar, devido
à deficiência de cálcio. É notável que em períodos chuvosos (baixa transpiração) há
menos ocorrência de podridão estilar em tomateiro.
Para que um elemento chegue até o xilema ele precisa entrar dentro da célula,
seja ainda no pêlo radicular ou posteriormente quando ele precisa vencer a barreira da
endoderme. Para entendermos esse processo é necessário compreendermos um pouco
sobre a estrutura das membranas celulares.
Costuma-se dizer que a capacidade de replicação (tirar cópia de si mesmo) é
essencial à vida, daí a importância do DNA como unidade fundamental desse processo.
Contudo, não haveria vida se não houvesse um mecanismo para compartimentar e
organizar as várias reações químicas necessárias à vida, inclusive aquelas envolvidas na
replicação do DNA. As membranas são justamente o componente biológico
responsável pela compartimentação, e, portanto, a garantia da vida. As membranas
celulares são compostas por uma bicamada lipídica na qual estão imersas proteínas. A
camada lipídica confere às membranas um caráter polar (devido às cargas dos
fosfolipídeos) e apolar (devido aos ácidos graxos). As proteínas presentes nas
membranas podem ser estruturais ou podem possuir função de transdução de sinal
(receptores) ou transporte de substâncias (ver adiante).
O transporte de uma substância através da membrana depende do seu tamanho e
polaridade. Substância apolares (O 2 , CO2 ) ou muito pequenas (H2 O) costumam passar
livremente pela membrana. Contudo, a maior parte das moléculas que a célula vegetal
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Até o momento sabemos que os canais estão envolvidos no transporte de K+, Cl-,
Ca2+, e água. Existem carreadores para NO3 -, PO4 3-, K+, Na+, Ca2+, Mg2+ e metais
pesados. Os carreadores de Na+ e metais pesados são utilizados não para a entrada
desses elementos, mas para isola-los do citoplasma jogando-os no vacúolo ou fora da
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célula (apoplasto). Como dito anteriormente, os únicos tipos de bombas encontrados nas
plantas são as de Ca2+ e prótons. As plantas não possuem as chamadas bombas de Na+ e
K+, tão comuns nos animais. O cálcio, apesar de ser um nutriente importante para as
plantas, precisa ser mantido em baixas concentrações no citoplasma, pois é um
sinalizador celular. Desse modo, a bomba de Ca2+ é utilizada para retirar Ca2+ do
citoplasma jogando-o no apoplasto e o carreador de cálcio joga esse elemento no
vacúolo. Contudo, existem canais de cálcio responsáveis pela entrada desse elemento no
citoplasma vindo do meio externo ou do vacúolo.
Os mecanismos envolvidos na absorção de alguns micronutrientes são um pouco
mais específicos do que até agora foi exposto. Em solos com pH elevado, nutrientes
como Fe, Zn, Mn e Cu costumam ficar imobilizados na forma de hidróxidos. Muitas
dicotiledôneas exudam compostos fenólicos em suas raízes para quelatar e solubilizar o
ferro presente na solução de solo. Normalmente as plantas absorvem ferro na forma
reduzida e por isso o Fe3+ é reduzido a Fe2+ quando ele é liberado pelo quelato na
superfície da raiz. Dentro da planta o Fe pode ser quelado novamente pelo citrato
quando ele é transportado a longas distâncias no xilema. Nas dicotiledôneas, tanto a
exudação de compostos fenólicos (quelatos) quanto à atividade das redutases, que
reduzem o Fe3+, são induzidas pela atividade da H+-ATPase (Figura 8). Mutantes de
soja defectivos para produção da redutase de Fe3+ exibem sintomas de deficiência de
ferro mesmo com suprimento adequado desse nutriente. Existe um outro tipo de
transportador de solutos denominado sideróforo. Os sideróforos são comuns em
gramíneas e constituem uma segunda estratégia para absorver o Fe, bem como Zn, Mn e
Cu. Os sideróforos também funcionam como quelatos e parecem entrar na célula
vegetal junto com o metal sem que ele precise ser reduzido (Figura 8). Por fim, a
exudação de substâncias orgânicas também pode ser um mecanismo para impedir a
entrada de íons tóxicos. Algumas plantas resistentes ao alumínio exudam ácidos
orgânicos que complexam esse elemento impedindo sua absorção.
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Uma questão que pode ser levantada até esse ponto seria o que determina se um
nutriente será transportado por um canal, um carreador ou uma bomba, ou em outras
palavras, quais os tipos de transporte e suas características.
O transporte de íons para dentro ou fora da célula é regulado por dois potenciais:
1) o potencial gerado pela concentração do íon (potencial químico) e o potencial gerado
pela carga que esse íon carrega (potencial elétrico). Todas células vivas exibem um
potencial de membrana que é devido à distribuição desigual de íons dentro e fora da
célula. As células nos caules e raízes de plântulas jovens geralmente possuem potencial
transmembrana de –130 a –110 mV. Esses valores negativos significam que o citossol é
carregado negativamente em relação ao meio extracelular. Qualquer desequilíbrio de
cargas entre o citossol e o meio externo é prontamente corrigido pelo metabolismo
celular. A manutenção do potencial de membrana é extremamente importante para a
viabilidade e funcionamento das células.
Grande parte do potencial eletroquímico é conferido pela H+-ATPase. A H+-
ATPase, ou bomba de prótons, da membrana plasmática cria um gradiente de potencial
eletroquímico de H+ na plasmalema enquanto a H+-ATPase vacuolar (V-ATPase) e a
H+-pirofosfatase (H+-Ppase) bombeiam prótons dentro do lúmen do vacúolo. O
gradiente de potencial eletroquímico para H+ é chamado de força motriz de prótons ou
∆p e representa uma energia livre estocada na forma de gradiente de H+.
No transporte das substâncias carregadas eletricamente, o equilíbrio só será
atingido quando a força que promove o fluxo dessas substâncias a favor do gradiente de
potencial químico se equipara à força que favorece o fluxo dessas mesmas substâncias a
favor do gradiente elétrico, visando a manutenção do potencial de membrana constante.
Se quisermos equacionar o movimento de um íon para dentro ou fora da célula termos
que levar em conta tanto seu potencial químico quanto elétrico. A equação de Nernst
tem essas características:
Considerando-se esta equação, tem-se três variáveis que são mensuráveis pela
utilização de metodologias próprias. Desse modo, o potencial da membrana pode ser
determinado com auxílio de microeletrodos e as concentrações dos íons nas células e na
solução externa podem ser medidas através de métodos químicos analíticos. Pela
equação de Nernst, tendo-se o potencial de membrana e a concentração externa do íon
poderemos calcular a concentração interna esperada (concentração calculada - Cical )
deste íon quando o sistema estiver em equilíbrio. Ao compararmos a concentração
interna observada (Ciobs ) de um íon (medida através de análise química das células) com
o valor da concentração interna calculada pela equação de Nernst (Cical) poderemos
saber se o transporte daquele íon foi ativo ou passivo:
Exemplo: em uma célula com potencial –110 mV cuja concentração externa (Ce) do
potássio é 1 mM temos,
A tabela 2 apresenta valores de Cical e Ciobs para uma série de íons em raízes de
ervilha. Por ela podemos verificar que os ânions tendem a entrar no citossol por
transporte ativo, já que a célula já é carregada negativamente. De modo inverso, há uma
facilidade para entrada de cátions na célula. No caso do K+, essa facilidade faz com que
a célula economize energia para seu transporte, mas necessita gastar energia para retirar
o excesso de Ca2+ e Mg2+, além de também ter que excluir o Na+, o qual é tóxico para a
maioria dos vegetais. Nos vegetais o transporte ativo é realizado por carreadores e
bombas e o transporte passivo é realizado por canais. Contudo, mesmo o transporte por
canais é conduzido pela H+-ATPase, pois a difusão de K+ necessita de um potencial de
membrana negativo o qual é mantido pela H+-ATPase. Um transportador de K+ pode
transportar Rb + e Na+, além do K+, mas há uma preferência por K+.
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Quando um íon é transportado por uma bomba, esse transporte gasta ATP
diretamente e por isso chamamos o processo de transporte ativo primário. Por outro
lado, o transporte de um íon em um carreador normalmente é feito em conjunto com
prótons, e por isso é denominado co-transporte. Como esse próton foi transportado
inicialmente pela H+-ATPase, a qual gasta ATP para isso, dizemos que o co-transporte
nos carreadores é um transporte ativo secundário. Com relação à direção do fluxo, o co-
transporte pode ser simporte, quando o íon e próton caminham no mesmo sentido, ou
antiporte, quando o íon e próton caminham em sentido inverso. A Figura 9 trás um
resumo dos tipos de transporte e da atividade dos carreadores, canais e bombas.
pela bomba para criar um gradiente de prótons. Do mesmo modo, a saída de cátions
(Na+) da célula também precisa ser realizada com gasto de energia pelos carreadores.
Modificado de Taiz & Zeiger (1998).
A disponibilidade de cada íon no solo costuma ser um fator regulador das taxas de
absorção e atividade de carreadores. Atualmente são conhecidos três sistemas de
absorção de íons, cada um constituído por grupos de carreadores diferentes.
De muito tempo se sabe que a cinética de absorção de certos íons segue duas
fases, uma característica das baixas concentrações e outra mais relacionada às altas
concentrações. (Epstein, 1972). A cinética de absorção em baixas concentrações possui
um Km muito baixo (o que indica alta afinidade do transportador) e a de altas
concentrações possui Km alto e parece não mostrar saturação. Hoje, sabe-se que no
transporte de K+, o sistema de alta afinidade (Km = 0,02 e 0,03 nM) é atribuído ao
transporte ativo por simporte; e o sistema de baixa afinidade é atribuído aos canais. O
transporte ativo de K+ ocorre quando ele está em concentrações externas muito
pequenas e o passivo (de baixa afinidade) ocorre quando há altas concentrações desse
elemento. É possível que as diferenças na taxa de absorção de um nutriente ao longo do
ciclo de vida da planta também seja regulada por um controle no tipo ou da atividade do
transportador. Através da Figura 10 podemos observar a taxa de absorção de N e K ao
longo do ciclo de vida de uma cultivar de tomateiro. É interessante notar que o máximo
da capacidade de absorção ocorre no período de florescimento e início de frutificação
(Figura 10A). Fica evidente que as plantas conseguem regular a taxa de absorção de
seus nutrientes ajustando tanto com relação à disponibilidade no solo, quanto ao seu
ciclo de vida. Uma aplicação prática desse controle é que não compensa adubar uma
cultura quando ela já está em final de ciclo, pois sua capacidade de absorção é muito
reduzida (Figura 10B).
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Uma das maneiras da planta controlar a taxa de absorção dos nutrientes seria a
através do controle da expressão dos genes que codificam para seus carreadores, canais
e bombas. O isolamento dos genes que codificam proteínas transportadoras vem sendo
conseguido em diversos modelos vegetais e abrem perspectivas para o entendimento e
manipulação da absorção de nutrientes em culturas de interesse comercial. Desse modo,
genes que codificam transportadores de alta afinidade para K (Schachtmann &
Schroeder, 1994), P (Smith et al., 1997) e S (Smith et al., 1995) já foram isolados. Para
muitos deles, a expressão está sujeita à regulação por “feedback” sendo aumentada em
plantas sob deficiência e reprimida em plantas com um suprimento adequado. A
exemplo disso, os genes que codificam transportadores de alta afinidade para absorção
de H2 PO4 - e SO4 2- são desreprimidos pela deficiência de fósforo e enxofre,
respectivamente. Além disso, a expressão dos genes que codificam transportadores de
NO3 - é induzida pela presença de nitrato. Pode se dizer, portanto que as plantas utilizam
apenas uma pequena fração de sua capacidade de adquirir nutrientes, já que para os
nutrientes que não chegam até as raízes por fluxo de massa, é mais importante que as
plantas invistam em crescimento radicular do que na produção de transportadores. Essa
constatação sugere importantes estratégias para o melhoramento e manejo de plantas
visando uma maior eficiência na utilização de nutrientes minerais.
As descobertas recentes no que concerne o isolamento e caracterização de canais
e transportadores de nutrientes também podem abrir perspectivas para o melhoramento
de plantas específicas para o cultivo hidropônico. Em solução hidropônica, a princípio
há pouca depleção dos nutrientes que estão em contato com as raízes. Nesse caso,
genótipos mutantes ou plantas transgênicas com alta expressão de transportadores para
N, P, K e S poderiam ser mais adequados para esse tipo de cultivo. Tais genótipos
também teriam que possuir altas taxas de crescimento, caso contrário, os nutrientes
absorvidos em grandes quantidades ficariam em concentrações tóxicas tanto para as
plantas quanto para o consumo como alimento.
vez, ativa uma série de enzimas. O magnésio está presente na molécula da clorofila,
juntamente com o nitrogênio. O magnésio também faz parte de muitas metaloenzimas,
ou seja, as enzimas que possuem um metal em sua estrutura.
Como foi dito anteriormente, os micronutrientes possuem um papel mais
regulatório que estrutural. Desse modo, o ferro faz parte de enzimas relacionadas com
os processos de oxidação e redução e das enzimas responsáveis pela síntese da clorofila.
O molibdênio é cofator da enzima nitrato redutase. O zinco também faz parte de várias
enzimas e inclusive daquelas relacionadas com a síntese do aminoácido triptofano. O
boro é importante para os processos de divisão e alongamento celular. Acredita-se que
ele influencie esses processos alterando o nível de um hormônio vegetal, a auxina,
através da ativação de enzimas que oxidam esse hormônio. Por fim, os outros
micronutrientes como o manganês, o cobre, o cloro e o níquel também estão
envolvidos na regulação da atividade de várias enzimas.
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FIGURA 11: Representação de algumas moléculas essenciais para os vegetais e que contém
nutrientes minerais com papel estrutural.
2
A pouca mobilidade do Fe pode ser devido à sua precipitação nas folhas velhas sob a forma de fosfatos
ou óxidos insolúveis ou pela complexação com a fitoferritina, uma proteína que se liga a Fe presente nas
folhas.
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produtividade das pastagens era tornar o Mo mais disponível (Fig. 12). Após essa
descoberta, ao invés da aplicação de toneladas de calcário por ha, passou-se a aplicar 30
g de MoO3 por ha.
A CTC ou capacidade de trocas catiônicas é um parâmetro que mede o nível de
cargas negativas do solo, ou seja, as cargas que irão trocar cátions (Ca2+, Mg2+, K+, Al3+,
H+) com a solução de solo, a qual é absorvida pelas raízes.
Solos com pequenas partículas (argila) tendem a ter alta CTC, pois terão uma
alta relação superfície/volume (S/V). Lembrar que para uma esfera: S = 4πr2 e V =
4/3πr3 . Logo, S/V = 3/r e quanto menor o raio maior a relação S/V. Solos com alta S/V
expõem maior superfície de cargas por volume de solo e por isso geram maior CTC.
Um solo com alta CTC geralmente tem uma grande reserva de nutrientes
minerais. Matematicamente, a CTC equivale à expressão:
Quanto maior for o valor de S e menores forem os níveis de Al3++ H+, mais fértil
será o solo. Por isso, a fertilidade de um solo é avaliada por sua saturação de bases
(V%):
Como a CTC é função das cargas negativas do solo, quanto mais fontes de
cargas negativas, maior será sua CTC. As fontes de cargas negativas de um solo são as
soluções coloidais de argila e de matéria orgânica. Quanto à presença de argilas, é
importante considerar que alguns tipos de argila possuem maior CTC que outros (Tab.
3).
Através da tabela 3 observamos que a caolinita possui CTC muito baixa. Nos
solos dos cerrados a argila predominante é a caolinita o que explica a baixa capacidade
desses solos de reter suas bases solúveis e sua alta concentração de ferro e alumínio. O
processo de formação de solos onde as bases solúveis são lixiviadas para áreas baixas
(matas de galeria) permanecendo apenas os metais insolúveis como o ferro e o alumínio
é denominado latossolização. Por outro lado, a argila predominante nos solos mais
férteis do mundo (planícies da Ucrânia) é a montmorilonita. A tabela 3 também
evidencia a importância da matéria orgânica (MO) na CTC dos solos. Além de aumentar
a CTC dos solos, a MO proporciona uma maior retenção de água e aeração dos mesmos.
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NC = CTC*(V2 - V1 )* f /100
3
A nitrificação, ou oxidação da amônia (ou íon amônio) formando nitrato, se dá através da ação de dois
gêneros de bactérias. O primeiro deles, Nitrosomonas, forma nitrito a partir de amônia: 2NH3 + 3O2 -->
2NO2 - + 2 H+ + 2 H2 O . O segundo gênero, Nitrobacter, forma nitrato à partir do nitrito pela reação:
2NO2 - + O2 --> 2NO3 - . Como se vê, ambas as reações requerem oxigênio e por isso esse processo não
ocorre em solos enxarcados (com baixo potencial de oxigênio).
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Uma questão relevante é saber o quanto de adubo mineral ou orgânico deve ser
adicionado para que uma cultura esteja bem adubada. Esse cálculo é realizado levando-
se em conta a análise do solo (as quantidades de nutrientes que o solo já possui) e as
exigências nutricionais de cada cultura. A seguir iremos fazer esse cálculo para o plantio
de uma cultura cuja análise de solo e as exigências nutricionais levaram a recomendação
das seguintes quantidades de fertilizantes:
1. adubação de plantio:
o 50 Kg/ha de N
o 175 Kg/ha de P2 O 5
o 100 Kg/ha de K2 O
2. adubação de cobertura: 40 kg/ha de N
No exemplo acima, a quantidade de NPK 4-14-8 que deve ser adicionado seria 1250
Kg/há, pois
• 50 Kg N/ 4 * 100 = 1250 ou
• 175 Kg P2O5/14 = 1250 ou
• 100 Kg K2O /8 = 1250 Kg de NPK/ha.
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VI- BIBLIOGRAFIA
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