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AULA 2

TEORIAS DA APRENDIZAGEM

Profª Wiviany Mattozo de Araujo


CONVERSA INICIAL

Bem-vindo à aula 2 da disciplina de Teorias da Aprendizagem! No primeiro


tema desta aula, vamos discutir algumas das principais ideias sobre
aprendizagem ao longo do tempo, divididas aqui em inatismo, empirismo e
construtivismo. Nosso objetivo é construir uma linha do tempo sobre o processo
de aprendizagem nas diferentes linhas de pensamento para que, ao verificarmos
as principais teorias nas aulas, possamos entender as diferenças e similaridades
entre elas, além de permitir que as bases conceituais do conhecimento sejam
consolidadas para a vida acadêmica.
Na sequência, vamos analisar a teoria comportamental ou behaviorismo,
aprofundando a análise sobre o funcionamento dessa teoria, quais são os
principais autores que representam essa linha de pensamento, como surgiu e foi
aplicada no âmbito escolar, e como essa forma de pensar o processo de ensino-
aprendizagem ainda está presente nas práticas docentes atuais.

CONTEXTUALIZANDO

Ao falar sobre teoria comportamental sempre vem a ideia de reforço


positivo e negativo, não é mesmo? Sugiro uma reflexão com base nas seguintes
frases:

1. Ter um emprego e ir trabalhar todos os dias.


2. Um professor que elogia seus estudantes quando estes respondem
corretamente a uma questão.
3. Um gato tem petisco como recompensa por apertar uma campainha.
4. Um professor libera um aluno da prova final porque esse estudante
apresentou bom comportamento.
5. Uma criança faz birra na rua pedindo um brinquedo, o pai compra o
brinquedo e a birra para.
6. Um sujeito recebeu choque elétrico quando deu uma resposta errada.
7. Um adolescente bagunçou o quarto e não o limpou, então sua mãe disse
que ele não poderia sair com seus amigos.

O que as frases citadas possuem em comum? Você consegue identificar


essas situações no cotidiano? Até que ponto utilizar essa forma de pensamento é
proveitoso? O tempo todo estamos condicionados e praticando reforço positivo,
negativo, punições, tanto na vida pessoal como no ambiente profissional e

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escolar. Assim, vamos retomar essa reflexão ao final da nossa aula para
entendermos porque ela é tão enraizada nas nossas atitudes.

TEMA 1 – INATISMO, EMPIRISMO E CONSTRUTIVISMO

Sabe-se que o processo de aprendizagem é definido de acordo com


diferentes perspectivas teóricas. Para este tema, dividimos em três grandes ideias
o entendimento sobre a aprendizagem.
O primeiro deles é o inatismo, que tem relação direta com a ideia do saber
congênito. Esta linha de pensamento começa com os gregos e representa o início
do conhecimento racional baseado em explicações concretas para compreender
o mundo real. Nesse período temos conhecidos filósofos que acreditavam que o
saber era inato, como Platão (427–347 a.C.), que considerava que a pessoa
nascia com o saber e defendia a tese de que a alma precede o corpo, tendo
acesso ao conhecimento antes de nascer.
Assim, o inatismo é o conceito que diz que as pessoas nascem já com
habilidades, conhecimentos, qualidades e dons hereditários. Essa perspectiva
propõe que o professor deve auxiliar o aluno na organização do conhecimento,
como se fosse um florescimento de ideias adormecidas no subconsciente.
Sabemos que essa ideia se encontra em desuso, principalmente por não
encontrar respaldo científico. No entanto, parte desse discurso é encontrado nas
salas de aula da atualidade, quando professores justificam que alguns alunos não
têm habilidades para aprender determinados assuntos.
Numa reportagem veiculada na revista Nova Escola em 5 de novembro de
2010, há comentários sobre o tema, como: “Platão diz que o homem nasce com
certas características físicas e que elas justificam a posição social de cada um.
Ser apto a governar ou trabalhar como auxiliar é resultado de uma vontade divina.
Não se considera nenhuma possibilidade de mudança” (Santomauro, 2010).
A segunda ideia é baseada no empirismo e a capacidade de absorção de
conhecimento, sendo uma perspectiva contrária à anterior, baseada em
Aristóteles (384–322 a. C.). Ao falar sobre empirismo, deve-se entender que todos
possuem a capacidade de aprender, no entanto, esse fato só irá ocorrer como
fruto de uma experiência, sendo as informações recebidas pelos sentidos.
A corrente de pensamento que utiliza o empirismo propõe que a
memorização, imitação e repetição sejam usadas para que o processo de ensino-
aprendizagem seja efetivo. As ideias que mais se encaixam nessa explicação

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utilizam o exemplo de uma esponja, na qual as informações são acumuladas e
reorganizadas à medida que novas informações são inseridas nesse sistema.
Utiliza-se também a ideia de que o aluno é como uma tábula rasa a ser
preenchida.
Nessa ideia podemos retomar nomes que citamos na primeira aula deste
módulo, como Francis Bacon (1561–1626) e outros, que em seus manuscritos
preconizavam que a escola seria capaz de formar pessoas racionais e que
aprenderiam a substituir respostas erradas pelas corretas por meio do
conhecimento científico.
Como citado, a forma de pensar empirista persiste até a atualidade nas
escolas e em muitas famílias – basta pensarmos que muitos acreditam que o
professor, e somente ele, é o detentor do conhecimento; outros propõem que a
repetição de atividades leva à perfeição ou ainda que o reforço negativo, com
punições e castigos, é válido dentro do processo de aprendizagem, do mesmo
modo que a premiação de destaques seria um estímulo positivo para todos os
envolvidos. Todos esses exemplos são conhecidos, mas é importante ressaltar
que acumular informação não é sinônimo de conhecimento adquirido. É preciso
muito mais nesse processo.
A terceira ideia é o construtivismo, que é uma perspectiva que propõe que
o sujeito que aprende tem potencialidades e habilidades próprias, mas se o meio
em que está inserido é problemático, a aprendizagem pode não ocorrer. Ou seja,
para que o processo de aprendizagem aconteça, é preciso que as organizações,
os espaços e o meio sejam propícios.
Assim, no construtivismo é necessário que o sujeito seja presente e atuante
no processo de aprendizagem. É preciso que exista a ação sobre o objeto, para
que então ocorra a transformação da informação em conhecimento. Um dos
principais nomes dessa corrente de pensamento é Jean Piaget (1896–1980), e
sua contribuição se dá pela influência exercida em inúmeras pesquisas. Outro
importante nome foi Paulo Freire (1921–1997), filósofo brasileiro de
reconhecimento internacional.
Na dimensão construtivista, o aluno deve ser desafiado para que a
aprendizagem seja efetiva, por meio de contextualização, ações, entre outros
contextos que funcionem como fundo de cena. O docente deve ser responsável
por construir um bom planejamento que leve em consideração as demandas e
questões, pensando em métodos que desafiem os alunos.

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Há outras correntes de pensamento que visam explicar o processo de
aprendizagem, como o sociointeracionismo de Lev Vygotsky (1896–1934) e Henri
Wallon (1879–1962), que sugere que a aprendizagem ocorre pela relação do
sujeito com o meio em que está inserido, seja no ambiente familiar, no meio
escolar com os professores ou com seus colegas, bem como com o próprio
conteúdo.

TEMA 2 – PRECURSORES DO BEHAVIORISMO

O termo behaviorismo tem origem inglesa e quer dizer “comportamento”.


Essa concepção abrange diferentes teorias psicológicas, mas o ponto em comum
é a ideia de que o comportamento pode ser modificado e/ou moldado. Vamos
dividir esse conteúdo em dois ramos para melhor explicar essa forma de pensar.
O início dessa teoria é marcado por John Watson (1878–1958), para quem
a psicologia precisa estudar o comportamento visível e observável, não os
processos mentais internos. O modelo S-R, em que S é o estímulo do ambiente e
R a resposta do organismo, vigorava e era visto como preponderante para que o
comportamento humano fosse sistematizado. Watson é o responsável pelo
behaviorismo metodológico, no qual acreditava-se ser possível controlar e prever
as formas de comportamento humanas. Essa ideia tinha como base experimentos
realizados por outro autor sobre o condicionamento do comportamento, tomando
como exemplo a salivação dos cachorros ao verem comida, pois ao escutarem
qualquer barulho ou referência a alimentos, os animais apresentavam salivação.
Watson se enquadrava como um behaviorista metodológico, e sua busca
era por uma psicologia de métodos subjetivos que permitia agrupar condições de
previsão e controle das ações. No entanto, o problema desse método era
estabelecer a relação entre o mundo real objetivo e o mundo abstrato. Assim, os
estudos se concentravam em lidar com o que é compartilhado e acessível para a
sociedade, criando a ideia de que potencialmente todos poderiam ser controlados
em função de variáveis existentes no meio, descrevendo as atitudes e ações do
comportamento e dando-lhes uma interpretação fisiológica.
Assim, esse autor afirma que se deve analisar o comportamento
observável, quantificado e possível. Para a teoria comportamental, a
aprendizagem é uma mudança ou aquisição de comportamentos observáveis,
desencadeados pelos estímulos externos ou ambientais. “A relevância de
estabelecer similaridade entre os problemas resolvidos, bem como a repetição é

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usada como mecanismo para favorecer o insight e a transferência da
aprendizagem” (Lakomy, 2008).
Com uma proposta filosófica sobre o comportamento humano surge o
behaviorismo radical de Skinner. Esse teórico não aceitava a atuação de fatores
cognitivos interferindo no comportamento dos indivíduos, e isso não ocorria por
limitação metodológica, mas sim por este se recusar a acreditar que o indivíduo
poderia ser único e homogêneo.
Assim, essa perspectiva não admite que a mente e as causas mentais
sejam utilizadas para explicar qualquer comportamento, porque isso seriam fatos
ficcionais, os quais deveriam ser evitados. Portanto, a hereditariedade ganha
força, assim como a situação do ambiente, seu passado e futuro influenciam
diretamente o comportamento do indivíduo.
É nessa formulação que Skinner propõe a ideia do condicionamento
operante, que sugere que o meio irá moldar os hábitos básicos que as pessoas
executam e que isso só mudaria caso ocorresse uma modificação no ambiente,
fazendo com que o comportamento se ajustasse rapidamente adquirindo novas
formas de ação e resposta. Além disso, o reforço contínuo seria importante para
a manutenção do novo comportamento. Essa teoria é muito conhecida nos
estudos pedagógicos, e nós a veremos nos próximos temas desta aula.
O behaviorismo é a filosofia da ciência do comportamento humano e
ignora a consciência e os estados mentais. Nessa forma de pensar, as
condições da mente e suas intenções são associadas às atitudes e ações
adotadas pelo indivíduo, deixando de ser uma área restrita da psicologia
para adentrar as questões desenvolvidas pela neurociência. No entanto,
essa área perde espaço para teorias mais atuais por não ter suficiente
embasamento teórico capaz de explicar os fenômenos da linguagem e
aprendizagem.

TEMA 3 – CARACTERÍSTICAS DA TEORIA COMPORTAMENTAL

O behaviorismo é a filosofia da ciência do comportamento humano e


ignora a consciência e os estados mentais. Para essa área de
pensamento, o conhecimento prévio e a cognição não são levados em
consideração, pois, como vimos anteriormente, o comportamento é
adquirido durante a vida, sendo resultado dos estímulos do ambiente e das
respostas do corpo.

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Uma das características dessa teoria é que a aprendizagem não é
explicada por meio de processos cognitivos, e nem consegue sustentar atividades
ligadas às áreas criativas da ciência, como o ensino de arte, música, literatura e
até mesmo matemática. Também não há a consciência do sujeito como ser ativo
no processo de aprendizagem nem um aprofundamento na personalidade ou
entendimento dos problemas psíquicos, limitando-se ao controle do
comportamento.
Os experimentos realizados para análise do comportamento se utilizavam
de animais, como ratos e cachorros, e o resultado era o produto dos traços
comuns entre homens e animais. Assim, entende-se que a própria noção de
comportamento era limitada, pois os resultados eram obtidos em laboratório, com
condições ambientais controladas. Portanto, os experimentos não conseguiam
reproduzir todos os elementos e as relações presentes na vida cotidiana, o que
sem dúvidas altera o resultado do estudo.
Muitas das relações empiristas podem ser explicadas pelo uso do senso
comum, e se as orientações geradas nessa teoria são válidas, o próprio
pesquisador se coloca em posição delicada, afirmando que foi condicionado a
responder a tais questionamentos por meio dos estímulos presente no ambiente,
e isso pode significar que os resultados obtidos não são verdadeiros. Além de
trabalhar na maior parte do tempo com princípios gerais, não levando em
consideração os problemas e conflitos individuais, o homem é assim
desumanizado. Como exemplo podemos nos aproximar de práticas de repetição
utilizadas com crianças que apresentam dificuldades na aprendizagem ou o uso
de aulas de reforço com a mesma metodologia aplicada nas aulas regulares.
Sendo o comportamento a palavra-chave da teoria de Skinner, a
aprendizagem se concentra na capacidade de estímulos e repressão aos
comportamentos desejáveis e/ou indesejáveis. A ideia do controle objetivo dos
estímulos presentes no ambiente determina as respostas do indivíduo; para tanto,
o meio desencadeia as mudanças do comportamento, resultando num processo
de condicionamento entre estímulo e resposta.

TEMA 4 – CONCEITOS DA TEORIA COMPORTAMENTAL

Inserido no behaviorismo radical, Skinner teve grande relevância na


psicologia, mas suas pesquisas contribuíram principalmente com os estudos
pedagógicos. Essa vertente radical da teoria comportamental teve grande

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aceitação nos Estados Unidos e no Brasil também. Por esse motivo ainda temos
a reprodução desse modo de pensar em todos os níveis de ensino.
Como citado anteriormente neste material, para Skinner o comportamento
de toda e qualquer pessoa poderia ser modificado controlando os estímulos
ambientais. Sua teoria sempre estava voltada para uma proposta filosófica sobre
a forma de comportamento humano e não uma área de estudos experimentais.
Uma das experiências mais conhecidas desse teórico é a caixa de Skinner,
a qual se resumia em experimentos com ratos, tornando possível a descrição dos
estímulos pela observação. Esses estímulos foram identificados e classificados
em três: reforço positivo, reforço negativo e punição pelo erro.
Os reforços se resumem em estímulos e resultados produzidos pelo
indivíduo. O reforço positivo proporciona satisfação e elogios, sendo aplicado
após a realização do comportamento desejado, criando a perspectiva de que a
ação se repita. Já o reforço negativo é aplicado aos comportamentos indesejados,
mas em menor quantidade, pois o corpo tende a não repetir as ações devido aos
estímulos aversivos.
Consequentemente, o ensino passa a ser obtido quando o sujeito a ser
ensinado é submetido a condições de controle e seu comportamento ideal é
alcançado por meio dos reforços positivos e negativos, principalmente
incentivando um comportamento com um estímulo até que esse comportamento
se torne automático. Assim sendo, a aprendizagem se torna mecânica e
concentrada na obtenção de novos e desejáveis comportamentos.
A punição ou castigo ocorre como consequência do comportamento
inadequado do indivíduo. Num primeiro momento, o ato de punir parece o oposto
da recompensa, e tem-se a impressão de que, ao punir, o comportamento não se
repetirá. No entanto, sabe-se que o castigo sozinho não diminui um tipo de
comportamento. Podemos usar como exemplo professoras que deixam seus
alunos sem intervalo recreativo para punir comportamentos indisciplinados.
O condicionamento operante visa explicar como os comportamentos
adquiridos durante seu desenvolvimento ocorrem, sendo este ser ativo no
processo pela probabilidade de ocorrer um estímulo seguido da resposta
condicionada. Portanto, conforme o sujeito precisa realizar algo ou sobreviver, o
comportamento buscará atingir o resultado esperado, tendendo a se repetir.
Skinner denomina de operante exatamente esse mecanismo de repetição.

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E o que Skinner apresenta de diferente dentro dessa concepção na
contribuição à instituição escolar? Para esse teórico, não havia a possibilidade de
excluir o ser de sua essência social, pois a ideia é que esta inclui-se naquele.
Prova disso é que a família é levada em consideração no processo de
aprendizagem, pois nos primeiros anos de vida é no seio familiar que se inicia o
processo educacional da criança. Tudo é aprendizado: andar, falar, comer, vestir-
se e comportar-se de acordo com aquela sociedade em que a criança está
inserida.
E se estamos falando de teoria comportamental, é óbvio que há
reforçadores para que o comportamento desejável seja obtido, como a atenção
recebida, a constante aprovação dos que convivem com a criança, as
recompensas por comer um determinado alimento ou a punição por não executar
uma tarefa. No entanto, cada um desses elementos é aplicado em maior ou menor
grau a depender do nível sociocultural da família e das tradições que esta adota.
Além do núcleo familiar, o processo de aprendizagem continua de maneira
informal por meio do convívio com membros da comunidade que exercem certo
controle ético, ou seja, que definem o que é certo ou errado naquele local. Por
exemplo, se um sujeito frequenta uma igreja, ele deve se enquadrar nos costumes
preconizados naquele ambiente, desde o modo de falar, de se vestir e de se
relacionar com os membros daquela comunidade e com outras pessoas, como
conduzir suas relações afetivas e respeitar os costumes, se houver algum tipo de
proibição.
Skinner aponta a escola como um dos principais agentes no controle
comportamental, porque muitas vezes a família escolhe a instituição de ensino
que dará continuidade aos ensinamentos iniciados em casa e na comunidade.
Como exemplo, podemos citar as escolas particulares religiosas, que são
escolhidas por seguirem os mesmos ideais da família em questão.
No ensino escolar público, há o controle comportamental, mas essa
supervisão ocorre pensando que estas crianças adquirirão comportamento
adequado para conviver em sociedade. A ideia é que o aluno seja passivo e
receptor do conhecimento transmitido pelo professor, cujo principal papel é criar
e modificar comportamentos dos alunos para que estes realizem os trabalhos
exigidos e possuam uma postura padrão. Então, a questão é: quem já vivenciou
algumas dessas situações, como treinos e competições escolares de exercícios e
práticas que recompensavam os destaques e melhores alunos, seja em

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desempenho físico ou intelectual, com boas notas, promoções, diplomas de honra
e mérito, entre outros?
Outros exemplos poderiam ser expostos aqui, pois parte dos professores
das escolas brasileiras utilizam métodos baseados na teoria comportamental. No
entanto, a maior parte desses docentes não tem a consciência dessa aplicação,
pois estão reproduzindo suas memórias sobre aquilo que viveram no seu período
escolar, ou repetindo técnicas aprendidas no processo de formação docente.

TEMA 5 – BEHAVIORISMO NA ESCOLA

Na teoria comportamental, o professor figura como um dos principais


elementos no processo de ensino-aprendizagem dos sujeitos. Para Skinner,
ensinar é um ato importante que facilita a aprendizagem, e o aluno deve ser
dependente do professor, pois quem é ensinado aprende mais rápido do que
quem não é.
Nessa teoria, a escola deve ser organizada e programar reforços a serem
oferecidos aos alunos, para que estes mantenham o comportamento desejado,
pois aprender a ter o comportamento desejado facilitaria o processo de
aprendizagem dos conteúdos programáticos. Por exemplo, no treinamento do
aluno para memorizar as contas matemáticas de multiplicação, ao acertar as
respostas o sujeito atinge tanto o objetivo do acerto como do comportamento
adequado pela repetição mecânica. Desse modo, encontramos salas de aula em
que a repetição constante é incentivada, o que levaria à memorização e
consequentemente ao aprendizado.
Sendo o professor o conhecedor do assunto, é responsabilidade dele a
transmissão do conhecimento de forma clara e objetiva, pois ele é o responsável
pela aprendizagem, como já mencionado. Assim, o aluno é o receptor passivo das
informações e cumpridor de ordens. Para tanto, é necessário que o professor
construa um planejamento centrado nos conteúdos obrigatórios, nas condições e
ferramentas externas disponíveis. Esses estímulos são os reforços aplicados aos
alunos, o que ao final do processo geraria a alteração de comportamento. Dentro
do planejamento sistemático, a organização desses estímulos e a obtenção de
respostas a serem premiadas ou reforçadas com punição já estão previstos.
Na construção do planejamento pedagógico a ação docente é programada
e centrada nos conteúdos, e a interação entre os alunos não é valorizada, pois a

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aprendizagem depende do treino e do exercício executado por cada aluno, seja
por meio da memorização ou outro método.
Outra questão diz respeito ao ambiente. Desse modo, a construção de uma
sala de aula montada para estimular o aluno e que propicie o ambiente adequado
para a execução das atividades é de extrema importância. Ao organizar a sala de
aula, o professor passa a mensagem do que pretende alcançar com o exemplo e
o incentivo de comportamentos esperados. Essas são as chamadas estratégias
de ensino, que servem para o professor prever os resultados esperados com a
montagem de uma situação de aprendizagem. Além disso, a depender do
resultado, o professor tem a possibilidade de rever sua estratégia de ensino,
tornando-a mais eficaz.
Para Skinner, outro ponto relevante envolve as condições dos indivíduos
para o desenvolvimento da aprendizagem, sejam elas físicas, psíquicas e/ou
sociais. Um sujeito em situação de vulnerabilidade apresentará maior dificuldade
em aprender, pois seu organismo estará debilitado e não responderá de forma
adequada aos estímulos recebidos. Por exemplo, quantas crianças em áreas
carentes fazem sua única refeição completa e adequada no ambiente escolar?
Isso fará com que esse sujeito apresente dificuldade de concentração,
principalmente pela falta de nutrientes no organismo, gerando uma resposta
inadequada aos estímulos recebidos. Outro exemplo: crianças com problemas em
casa apresentam dificuldade de aprendizagem? Com certeza problemas
familiares se refletem nas atividades escolares.
Os dois exemplos citados mostram como o sujeito em condição física,
social ou psíquica precária tende a apresentar dificuldades no processo de
aprendizagem. Isso exigirá que o professor crie mais atividades de fixação e
memorização, visando a um melhor resultado.
Ao analisarmos a teoria comportamental e refletirmos sobre as práticas
pedagógicas existentes na atualidade, fica evidente que essa teoria mesma está
presente mesclada a outras teorias. Diante do exposto e das leituras sobre
Skinner, observa-se a proposta do autor de que o reforço, tanto positivo quanto
negativo, deve ser usado com moderação e de forma correta. Por exemplo, um
aluno indisciplinado em sala assume tal postura para chamar a atenção e
atrapalhar. A lógica ideal seria elogiar e recompensar aqueles que estão
comportados.
Assim, o reforço positivo fica evidente por meio da oralidade, de notas e
premiações, entre outros, e ao aplicar esse reforço positivo incentivando o bom
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comportamento, a tendência é que ele se repita. Em contrapartida, ao perder
pontos ou deixar de participar de alguma atividade interessante, espera-se que o
aluno modifique seu comportamento.
Nesse ponto é relevante que o professor atue com cautela, pois o excesso
de reforços negativos e punições pode gerar o efeito oposto, principalmente se
forem aplicados em conjunto com o abuso de autoritarismo dentro da escola.
Ao conhecer mais profundamente o behaviorismo com base em Skinner,
percebe-se que é necessária uma visão mais humanizada e cuidadosa no uso e
na aplicação dessas técnicas repetitivas e de memorização. Para determinados
conteúdos é válida a utilização de parte dessas técnicas, mas é preciso observar
cada caso individual e coletivamente.
“Esse é especificamente o processo real de ensino-aprendizagem de
Skinner: não é um ato espontâneo, assim como o ensino não deve deixar para
trás a individualidade de aprendizado de cada aluno” (Remor, 2016).
O processo de ensino-aprendizagem no ambiente escolar não se restringe
somente ao conteúdo básico de português e matemática: ele vai muito além! O
sistema educacional deve se preocupar em proporcionar subsídios aos alunos
para que eles sejam capazes de viver em sociedade. Com base nisso, é
responsabilidade do professor criar demandas e mecanismos capazes de auxiliar
os alunos no processo de aprendizagem do conteúdo básico, para que os
estudantes utilizem esses conteúdos na sua vida.
Como já citado, o planejamento é de extrema importância para uma
atuação docente de qualidade e voltada para o crescimento dos alunos. Essa
situação se torna explícita na medida em que há a necessidade de
contextualização e associação a situações reais na aplicação dos conteúdos.
Como professores, tornamo-nos responsáveis por oferecer um ensino útil e de
qualidade.
Por fim, ao falarmos sobre teoria comportamental é preciso desmistificar a
ideia de que essa teoria é ruim e não pode ser aplicada na atualidade, pois o que
há são equívocos na interpretação de autores que disseminam sua própria leitura
do tema.

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FINALIZANDO

Nesta aula construímos uma comparação entre algumas das principais


ideias sobre as teorias da aprendizagem; na sequência exploramos o que significa
a teoria comportamental, quais são suas principais características e sua presença
no ambiente escolar.
No primeiro tema vimos como o inatismo, empirismo, construtivismo e
outras formas de pensar o processo de aprendizagem permeiam as escolas na
atualidade. Para relembrar, o inatismo se refere ao saber como sendo congênito.
Dessa forma, a pessoa receberia a carga de conhecimento antes de nascer e ao
longo da sua vida despertaria esse conhecimento que está adormecido. O filósofo
que sustenta essa forma de pensar é Platão, e essa teoria justificaria o fato de
algumas pessoas terem mais facilidades em determinadas áreas, alegando que
elas nasceram com um dom.
Sobre o empirismo, retomamos ideias baseadas no filósofo Aristóteles e a
concepção de que o aluno funcionaria como uma folha em branco esperando que
o conhecimento seja construído do zero, pois o empirismo desconsidera o
conhecimento prévio existente. Essa forma de se pensar a aprendizagem é
amplamente utilizada na atualidade. Isso se verifica no uso de atividades de
memorização, repetição, entre outras, sem a utilização de uma situação-problema
que tenha por objetivo treinar o aluno para melhorar seu desempenho. Observa-
se o empirismo também na aplicação de reforços positivos e/ou negativos para
elogiar e punir, respectivamente.
Já em relação ao construtivismo, a proposta é que o aluno seja desafiado
todo o tempo a construir juntamente com o professor seu conhecimento. O papel
do professor ganha destaque, exigindo um bom planejamento de atividades
questionadoras e de variados métodos que estimulem novas formas de pensar.
Vimos também que existem outras linhas de pensamento sobre o processo de
aprendizagem, como o sociointeracionismo de Vygotsky, em que se sugere que a
aprendizagem acontece por meio da interação.
Ao explorarmos a teoria comportamental ou behaviorismo, entendemos
que ela é baseada no empirismo, mas amplamente utilizada ainda na atualidade.
O modelo é baseado em estímulos programados no ambiente e em
respostas esperadas por parte do sujeito através do comportamento. Desse
modo, vimos que a palavra-chave é comportamento, que é controlado pelos

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estímulos. Esses estímulos podem ser reforços positivos ou negativos, e ainda
podem existir punições.
O autor dessa teoria apresentou um famoso experimento, chamado de a
caixa de Skinner, que conseguia mostrar como o condicionamento operante
ocorre por meio do controle do comportamento. O ambiente em que o sujeito se
insere também altera a resposta condicionada, seja pela estrutura do núcleo
familiar, das relações socioculturais ou econômicas.
A teoria comportamental ainda é muito presente nas escolas brasileiras,
mas discutimos como interpretações equivocadas distorceram parte da teoria
proposta por Skinner, e nem sempre a aplicação dela na escola é ruim. Por
exemplo, o uso da memorização é importante em algumas áreas do
conhecimento, como na geografia e na matemática, entre outras.
Por fim, as questões lançadas na nossa contextualização pareceram
familiares? Todas elas foram extraídas de situações cotidianas, como quando
elogiamos nossos alunos ao agirem corretamente ou damos uma bronca ao
aprontarem. Esses são reforços que enfatizam a forma ideal de se comportar.
Mas, por exemplo, se o professor compensa um aluno com um doce ou presente
por acertar uma resposta e os demais não ganham, esse fato pode gerar um
conflito e originar problemas entre os alunos e/ou com o professor.

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REFERÊNCIAS

BARONE, L. M. C.; MARTINS, L. C. B.; CASTANHO, M. I. S. Psicopedagogia:


teorias da aprendizagem. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2011.

LAKOMY, A. M. Teorias Cognitivas da aprendizagem. Curitiba: InterSaberes,


2014.

NOGUEIRA, M. O. G.; LEAL, D. Teorias da aprendizagem: um encontro entre


os pensamentos filosóficos, pedagógicos e psicológicos. Curitiba: InterSaberes,
2015.

PILETTI, N. Aprendizagem: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2013.

REMOR, I. Behaviorismo na educação. Filosofia do cotidiano, 1 out. 2016.


Disponível em: <http://filosofiadocotidiano.org/behaviorismo-na-educacao/>.
Acesso em: 11 dez. 2017.

SANTOMAURO, B. Inatismo, empirismo e construtivismo: três ideias sobre a


aprendizagem. Revista Nova Escola, 5 nov. 2010. Disponível em:
<https://novaescola.org.br/conteudo/41/inatismo-empirismo-e-construtivismo-
tres-ideias-sobre-a-aprendizagem>. Acesso em: 11 dez. 2017.

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