Afonso Neves Morais (2005)
Afonso Neves Morais (2005)
Afonso Neves Morais (2005)
Margarida Afonso
Isabel Pestana Neves
Ana Maria Morais
Centro de Investigação em Educação
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
1. INTRODUÇÃO
É essencial ensinar e aprender ciências pois o conhecimento e as competêncas científicas são uma
força cultural no mundo moderno e são nece ssários na tomada de decisões e na educação para a
cidadania (ver, por exemplo, De Boer, 2000; Wellington, 1998 a, b; Hodson, 1998, 2000; Saez &
Riquatz, 1996). Por outro lado, o ensino das ciências não deve ignorar a sua vertente
experimental, dado que esta é um dos pilares da ciência e uma educação científica sem trabalho
experimental falha em reflectir a sua verdadeira natureza. O ensino e a aprendizagem das ciências
devem envolver a aquisição de níveis elevados de conhecimentos científicos e competências
investigativas uma vez que, como afirma Wenham (1995), a ciência não é apenas um tipo de
1
conhecimento mas também um modo de fazer, e cada uma das partes modela e determina a outra.
Procurando, com este estudo, contribuir para o esclarecimento desta problemática, partimos do
2
seguinte problema: Analisar em que medida modalidades específicas de formação influenciam o
desempenho dos professores, em contextos de aprendizagem científica.
2. QUADRO CONCEPTUAL
Consideramos que a formação de professores deve ter uma clara fundamentação teórica e que a
sua conceptualização e caracterização devem ser coerentes e profundas e que deve também
contemplar uma vertente sociológica. Tendo por base estes princípios usámos, como principal
3
quadro teórico do estudo, o modelo do discurso pedagógico de Bernstein (Bernstein, 1990, 2000;
Bernstein & Solomon, 1999; Domingos et al, 1986). Pelo facto de possuir uma forte estrutura
conceptual e conceitos operativos de grande poder analítico, esta teoria permite conceptualizar e
caracterizar, com rigor e pormenor, a formação de professores, enquanto parte do meso-nível
daquele modelo.
As modalidades de formação podem ser consideradas como práticas pedagógicas e, neste sentido,
caracterizadas quanto ao contexto instrucional e ao contexto regulador. No contexto instrucional,
pode considerar-se a relação entre sujeitos (regras discursivas - selecção, sequência, ritmagem e
critérios de avaliação – que estão relacionadas com a transmissão-aquisição do discurso) e a
relação entre discursos (intra-disciplinaridade, inter-disciplinaridade e relação entre os
conhecimentos da investigadora e das professoras). No contexto regulador, pode considerar-se a
relação entre sujeitos (regras hierárquicas) e a relação entre espaços.
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De acordo com a teoria de Bernstein, os sujeitos adquirem o código pedagógico durante as
interacções sociais, isto é, os sujeitos adquirem as regras de reconhecimento que lhe permitem
distinguir entre contextos adequados e contextos inadequados e entre significados e realizações
relevantes e significados e realizações irrelevantes, e as regras de realização que lhe permitem
seleccionar e produzir o texto adequado ao contexto. Quanto à posse das regras de realização é
possível que o sujeito manifeste uma realização passiva (se apenas for capaz de seleccionar os
significados necessários à produção do texto) ou uma realização activa (se o sujeito além de
seleccionar os significados necessários, produz o texto adequado ao contexto). Se o sujeito
possuir as regras de reconhecimento e as regras de realização para um determinado contexto,
dizemos que possui a orientação específica de codificação para esse contexto.
No contexto de formação de professores, o sucesso dos professores requer a aquisição das regras
de reconhecimento para distinguir a especificidade dos múltiplos micro-contextos de
aprendizagem e ainda a aquisição das regras de realização para seleccionar e produzir os
significados apropriados a cada micro-contexto. Estes micro-contextos da sala de aula podem
envolver, ao nível da aprendizagem científica, trabalho experimental, actividades de discussão,
etc. Para um professor, ter as regras de reconhecimento e de realização significa, neste caso, ter
as competências científicas e pedagógicas para implementar uma determinada prática
pedagógica. A aquisição das regras de reconhecimento e de realização podem ser, contudo,
limitadas pelas disposições sócio -afectivas, isto é, motivações, interesses e valores favoráveis à
implementação de tal prática.
3. METODOLOGIA
O estudo envolveu quatro professoras de três escolas do 1º ciclo do ensino básico localizadas em
duas cidades do interior do país. As turmas, do quarto ano de escolaridade (9-10 anos), eram
socialmente heterogéneas em termos de género e classe social. A formação das professoras
seguiu uma metodologia de investigação-acção (Afonso, Morais & Neves 2002) e envolveu duas
investigadoras, cada uma trabalhando com duas professoras. Pretendíamos desenvolver uma
formação conjunta, de modo a controlar as variáveis “investigador” e “conhecimentos científicos
e competências a serem desenvolvidas”, mas tal não foi possível. Porém, a variável
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“investigador” foi, em grande medida, controlada porque as duas investigadoras tinham percursos
académicos semelhantes na sua formação inicial e contínua e funções académicas semelhantes 1 e
desenvolveram em conjunto o plano de formação (o que e o como), analisando-o e discutindo-o
sistematicamente.
O plano de formação durou dois anos e envolveu duas fases, uma mais estruturada e intensiva, no
primeiro ano, e outra mais flexível e expandida, no segundo ano em que decorreu o estudo.
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Durante a primeira fase, foi feita a pilotagem da prática pedagógica a ser implementada pelas
professoras, através da aplicação em sala de aula, de uma unidade de ensino de ciências. Na
segunda fase, as professoras implementaram a prática pedagógica, previamente pilotada, em duas
unidades de ensino: uma unidade sobre as mudanças de estado das substâncias no início do
primeiro período e uma unidade sobre experiências com o ar no início do terceiro período.
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de caracterização da modalidade de formação foi utilizado em dois momentos, o primeiro no final
do primeiro ano de formação e o segundo no final do segundo ano de formação. Esta
caracterização foi baseada em registos de observações feitos pelas investigadoras durante todo o
processo de formação e foi validado por duas outras investigadoras. Os dados obtidos a partir das
opiniões das professoras e da caracterização feita por elas, com base no mesmo instrumento de
análise, foram também usados para validar a caracterização feita pelas investigadoras.
(inserir figuras 1 e 2)
A posse das regras de reconhecimento e de realização passiva foi analisada através das respostas
das professoras a questionários/entrevistas elaborados para o efeito (Afonso, 2002). Os
questionários/entrevistas continham questões gerais, relacionadas com aspectos de natureza
pessoal, social e profissional, e um conjunto de questões específicas relacionadas com a
modalidade de prática pedagógica a ser implementada na sala de aula. Estas questões foram
construídas de modo a fornecer informação sobre as características sociológicas que as
professoras valorizavam, ao nível dos contextos instrucional e regulador da prática pedagógica,
como sendo mais favoráveis à aprendizagem científica de todas as crianças (regras de
reconhecimento). As questões permitiam também obter informação sobre as razões que as
professoras apresentavam para justificar as práticas que valorizavam (regras de realização
passiva). As questões incidiam sobre as várias relações sociológicas consideradas na definição do
perfil teórico das práticas pedagógicas a serem implementadas e na caracterização das práticas
pedagógicas valorizadas e implementadas pelas professoras6 . Este aspecto está relacionado com o
8
facto de pretendermos, no decurso do processo de investigação-acção, que as professoras
adquirissem conhecimentos e competênc ias para implementar uma modalidade de prática
pedagógica com determinadas características sociológicas (ver ponto anterior).
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e caracterização da prática pedagógica (Afonso, 2002). Cada “comportamento-tipo” correspondia
a um indicador específico e a uma determinada posição numa escala de quatro graus de
enquadramento (E++/E--) e/ou de classificação (C ++/C --). As situações categorizadas foram
anotadas e contabilizadas em quadros-resumo sobre a prática pedagógica de cada professora. O
conjunto dos pontos determinou “manchas” que ajudaram a visualizar o(s) quadrante(s) para o(s)
qual(ais) tendia(m) os comportamentos da professora e a caracterizar mais facilmente as práticas
pedagógicas em análise. No caso de um comportamento poder ser analisado em mais do que um
aspecto da prática pedagógica, ele foi considerado para cada um desses aspectos. Estes dados
“mais quantitativos”, conjugados com a apreciação global das investigadoras que assistiram a
todas as aulas das duas unidades de ensino e com a apreciação feita pelas professoras das suas
aulas, conduziram à caracterização da prática pedagógica de cada professora.
O conjunto dos procedimentos usados para determinar a prática pedagógica de cada professor a é
descrito em Afonso (2002) e em Pires, Morais e Neves (2003), onde as características das quatro
práticas pedagógicas são apresentadas e comparadas com o modelo teórico proposto8 . De acordo
com esta comparação, a realização activa foi medida numa escala de quatro graus, onde o grau 1
indica uma situação em que a prática pedagógica da professora é muito distante do modelo
teórico e o grau 4 uma situação em que a prática pedagógica da professora é muito próxima do
modelo teórico. Por exemplo, se o modelo teórico indica E++ para os critérios de avaliação, eram
atribuídos os seguintes graus às professoras: E+ +- 4; E+ - 3; E- - 2; E- - - 1. Se o modelo teórico
--
indica E para as regras hierárquicas, os graus seguintes eram atribuídos às professoras: E- - - 4;
E- - 3; E+ - 2; E+ + - 1. Se o modelo teórico indica E- para as relações inter-disciplinares, eram
atribuídos, às professoras, os graus seguintes: E- - 4; E- - - 3; E+ - 2; E++ - 1.
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conhecer os princípios de como actuar/agir naquela prática pedagógica (têm regras de
realização passiva);
(c) Produziam o texto pretendido, isto é, usavam na sala de aula uma prática pedagógica
segundo os princípios subjacentes ao perfil teórico delineado (têm regras de realização
activa).
Pode ter RC - No 1º Ciclo acho que o professor deve explicitar aos alunos o que têm de fazer, mas não o como o
devem fazer, para que a criatividade e a imaginação sejam desenvolvidas.
Tem RC - Além das indicações dadas no início, eles [as crianças] vão pedindo sempre mais…sempre um bocado de
ajuda, e depois…mesmo quando eles não conseguem chegar aos objectivos que, em princípio, eu tinha
proposto…quando vamos fazer a avaliação do trabalho…eles próprios conseguem…se não é o próprio grupo é
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alguém de outro grupo…um dos outros grupos…as crianças dos outros grupos, conseguem dizer “ah! Pois aqui
faltou isto, faltou aquilo”, “aquilo não era preciso, está a mais”, “este assunto foi pouco desenvolvido”, “ah! Mas
também podia falar disto ou daquilo”.
Não tem RC - Às vezes oiço as razões deles [das crianças], mas neste momento os meus gostam muito de conversar e
às vezes só lhes digo que não podemos estar a conversar muito e às vezes tenho que me zangar com eles, para os
mandar calar, e digo-lhes que estamos a perder tempo […] eu não consigo fazê-los entender que se têm trabalho não
pode haver conversa […].
Tem RC - Portanto, dava-lhes qualquer trabalho e por exemplo passava o tempo e eu tentava fazer-lhes ver que o
tempo tinha passado e que para a próxima vez tinham que estar mais caladinhos […] estarem com mais atenção
sobre o que estavam a fazer […] porque depois passava o tempo e o trabalho ficava por fazer.
Pode ter RLp - Porque me parece que ao fazer assim, os conduzo [às crianças] a uma investigação mais deles. Não
tanto uma investigação minha, mas uma investigação deles. […] Se for eu a dar a forma ao trabalho, a enformar o
trabalho, limitam-se a fazer o que se lhes pede […] normalmente digo-lhes os pontos principais. Além desses, podem
depois tocar os que quiserem.
Tem RLp - Eu acho que é essencial [para a aprendizagem, os critérios ficarem clarificados] até para outros
trabalhos…sim normalmente [clarifico quando os alunos não o fazem], sim. E eles perguntam “ah! Então e o que é
que pensa?” “olha, eu penso que faltou isto ou aquilo, ou isto esteve a mais, isto esteve muito bem, mas se estivesse
mais abordado, mais explanado o assunto, tinha ficado melhor…ficou incompleto ou está completo.
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Regras hierárquicas – Professora-aluno
Não tem RLp – A professora não dá qualquer justificação [a professora começa por não ter regras de reconhecimento
– ver exemplo anteriormente referido]
Pode ter RLp – A professora não apresenta qualquer justificação para a característica que seleccionou e que
correspondia ao modelo teórico
Tem RLp - Porque eu acho que é muito importante chamá-los [às crianças] à atenção […] que não fizeram o trabalho
como devia ser, eles apanham um balde de água fria quando chegam ao ciclo [2º Ciclo]. […] estão habituados a estar
ali, e se ao fim de uma hora não acabaram a ficha ou o trabalho que estão a fazer, não há problema nenhum,
continua-se, não é?! E no ciclo [2º Ciclo] isso não vai acontecer, por isso temos que os chamar à atenção para os
preparar... é uma maneira de se habituarem a fazer as coisas bem feitas.
QUANDO O O que o aluno diz é por- O que o aluno diz é É dito ao aluno o que O que o aluno diz
ALUNO
INTERVÉM COM
menorizadamente refor- reformulado/ corrigido/ está incorrecto mas não é não é sujeito a qual-
INCORRECÇÕES mulado/ corrigido/ com- completado de forma feita qualquer reformula- quer correcção ou
pletado genérica ção reformulação
Exemplos de transcrições
E+ Professora - Para o álcool evaporar o que é que tem que acontecer?...Grupo três
Criança (pelo grupo) - Eu acho que é porque dentro do frasquinho que tinha álcool estava quente e cá fora
estava mais frio e evaporou-se.
Professora - Então, não estás a dizer ao contrário? […] Como é que tu disseste? …. [disseste que] a
temperatura do frasquinho estava mais alta, que passou para uma temperatura mais baixa e que se evaporou
E- - Os alunos estão a analisar o que aconteceu aos cubos de gelo que foram retirados do congelador.
A professora ouve a resposta incorrecta mas não a rectifica em nenhum momento das aulas dedicadas à
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exploração do tema “mudanças de estado das substâncias”.
QUANDO SE A professora não recor- A professora utiliza con- A professora utiliza um A professora usa um
DIRIGE AOS
ALUNOS
re a qualquer tipo de trolo posicional, dando controlo pessoal ape- controlo pessoal apelan-
justificações, utilizando justificações com base lando para razões rela- do para atributos pes-
um controlo imperativo em regras estabelecidas cionadas consigo soais das crianças
na escola/sala de aula
Exemplos de transcrições
E- - Professora - […] Vamos lá pôr a nossa capacidade de atenção, de respeito pelos outros que estão ao nosso
lado, para que ninguém fique prejudicado [...] e agora vão, sim, pegar na ficha de trabalho, proceder como se
diz lá […] entendendo-se bem uns com os outros, esperando pela sua vez, está bem? E, sobretudo, falando
mais baixinho, só para o grupo está bem?. – Tem RLa
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Os exemplos que se seguem ilustram, para cada uma das duas dimensões do que da prática
pedagógica, situações correspondentes ao nível muito baixo e ao nível muito bom. O nível muito
baixo de conhecimento científico pode ser exemplificado quando uma professora considerou o
“desaparecimento” e a “dissolução” como sinónimos de evaporação de uma substância. O nível
muito bom pode ser exemplificado por uma professora que nunca considerou o “calor”, o “frio”,
o “sol” como causas das mudanças de estado da matéria e que corrigiu os alunos sempre que eles
utilizavam estes termos.
O nível muito baixo das competências investigativas pode ser exemplificado por uma professora
que nunca teve em consideração, durante o trabalho experimental, que é importante identificar e
controlar as variáveis presentes no trabalho. O nível muito bom pode ser exemplificado quando
uma professora revelou ter a capacidade de prever, controlar variáveis e explorar,
adequadamente, os resultados de uma experiência.
Tal como já referimos anteriormente, a evolução das professoras foi apreciada através da
comparação, em dois momentos, da posse das regras de reconhecimento e de realização passiva e
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activa, para implementar uma prática pedagógica com determinadas características sociológicas.
Na análise da realização activa é necessário considerar os dados referidos na nota 8 acerca da
caracterização da prática pedagógica. É necessário também ter presente que os dados sobre o
primeiro momento, referentes à realização activa, foram obtidos após a primeira fase da formação
e não antes do processo se ter iniciado, como ocorreu na análise da posse das regras de
reconhecimento e de realização passiva.
(inserir figura 3)
Fazendo uma síntese da evolução das professoras no que diz respeito à aquisição da orientação
específica de codificação, podemos dizer que houve evolução ao nível do contexto instrucional.
Ao considerarmos o conjunto das professoras, o estudo permite afirmar que todas evoluíram
positivamente, pois foram adquirindo as regras de reconhecimento e/ou de realização, passiva e
activa para vários indicadores da prática pedagógica, isto é, foram sendo capazes de implementar
uma prática pedagógica mais próxima do perfil pretendido.
Fazendo uma análise e reflexão mais detalhada e comparativa do trabalho desenvolvido pelas
professoras no que diz respeito ao como desenvolveram a sua prática pedagógica, isto é, à sua
competência pedagógica, e no que se refere ao contexto instrucional, pode afirmar-se que
relativamente às regras discursivas selecção e sequência, as professoras desempenharam
facilmente a prática pedagógica pretendida. Mesmo a professora Inácia que, no início da
investigação, não revelava possuir as regras de reconhecimento e de realização passiva
relativamente à sequência, mostrou ter adquirido essas regras durante a primeira fase de
formação. Esta evolução positiva de todas as professoras, ao nível da selecção e da sequência,
está relacionada, provavelmente, com as semelhanças entre o perfil proposto e a prática
pedagógica que é valorizada pelas professoras.
Em relação à regra discursiva ritmagem a professora Dulce revelou uma evolução evidente pois,
antes de se iniciar a formação, começou por nem sequer reconhecer o contexto e, durante a
implementação da primeira unidade de ensino, já apresentava as regras de realização activa para
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esta característica da prática pedagógica. Este facto mostra que esta professora tinha adquirido as
regras de reconhecimento e de realização passiva durante a primeira fase de formação. A
professora Céu parece revelar, no fim do estudo, uma evolução positiva, no que respeita à
aquisição das regras de reconhecimento e de realização passiva e, em certa medida, das regras de
realização activa. A professora Rita não apresentou qualquer evolução para esta regra discursiva,
dado que já possuía, desde o início, as regras de reconhecimento e de realização passiva e, em
parte, as regras de realização activa. A professora Inácia parece ter “perdido”, em parte, as regras
de realização activa que havia revelado no início. Contudo, esta situação pode não corresponder a
uma evolução negativa, pois constrangimentos de tempo, independentes da investigadora e da
professora, e relacionados com actividades escolares acrescidas, teriam influenciado a ritmagem
da prática pedagógica, durante a implementação da segunda unidade de ensino, no sentido
inverso do pretendido. O facto de nem todas as professoras terem revelado a orientação específica
de codificação para esta característica da prática pedagógica pode, de certo modo, surpreender
porque parece haver a ideia generalizada de que ao nível do primeiro ciclo do ensino básico são
os alunos que controlam o ritmo da sua aprendizagem. O presente estudo revelou não ser este o
caso.
Ao nível dos critérios de avaliação, a evolução foi também positiva. Todas as professoras
evoluíram no seu desempenho ao nível desta regra discursiva. A professora Rita mostrou
claramente ter adquirido as regras de realização passiva e revelou alguma evolução ao nível da
realização activa. A professora Inácia também mostrou possuir a realização passiva. Contudo,
esta professora implementou, na segunda unidade de ensino, uma prática pedagógica em que os
critérios de avaliação não foram tão clarificados e explicitados como na primeira unidade de
ensino; mas este aspecto deve-se particularmente ao facto de a ritmagem ter sido mais forte,
como anteriormente se referiu. A professora Dulce mostrou ter adquirido as regras de
reconhecimento e de realização passiva e activa. A professora Céu revelou evolução e a posse
quase total das regras de realização activa.
A evolução das professoras, no que diz respeito às regras discursivas, esteve relacionada com
dois aspectos comuns a todas. O primeiro aspecto refere-se ao facto de todas as professoras
(mesmo a professora Céu que tinha um curso superior em ciências e matemática), passarem a dar
mais valor à aquisição de conhecimentos científicos e ao desenvolvimento de competências
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investigativas por parte dos alunos do 1º ciclo do ensino básico. O outro aspecto diz respeito ao
facto de todas as professoras terem alterado a sua teoria de instrução, nomeadamente ao nível dos
critérios de avaliação. Inicialmente, e de uma forma mais ou menos explíc ita, elas consideravam
que a aprendizagem devia ficar ao critério dos alunos para não limitar a sua criatividade e o seu
desenvolvimento. À medida que a formação foi decorrendo, desenvolveram a ideia de que a
explicitação dos critérios de avaliação não impedia a criatividade e o desenvolvimento cognitivo
das crianças e que essa explicitação era muito importante para a aprendizagem científica dos
alunos.
No que diz respeito às relações entre discursos, verifica-se que houve também alguma evolução
em todas as professoras mas que foram estes os aspectos em que houve maior dificuldade de
mudança. Nenhuma das professoras conseguiu adquirir totalmente a orientação específica de
codificação, particularmente ao nível da realização activa, para qualquer das relações entre
discursos (intra-disciplinares, inter-disciplinares e académicos-não académicos). A profe ssora
Inácia, que foi aquela que no início estava mais próxima do modelo teórico, no que respeita às
relações intra-disciplinares e inter-disciplinares, chegou mesmo, no segundo momento, a afastar-
se do perfil teórico relativo às relações intra-disciplinares. Porém, este afastamento poderá estar
relacionado com a falta de tempo, atrás referida, para estabelecer as interligações desejadas entre
os conteúdos científicos.
Uma dificuldade comum sentida pelas professoras, ao nível das relações entre discursos, pode
estar relacionada com o princípio geral da sociedade de que “as coisas se devem manter
separadas”. Uma outra razão que se pode apontar para esta dificuldade pode residir no baixo
nível de conhecimentos científicos que as professoras revelaram ter e/ou na forma como
estabelecer relações entre diferentes conteúdos científicos e entre o conhecimento científico e
outros tipos de conhecimentos (de outras áreas disciplinares e do senso comum). Todas as
professoras teceram críticas à sua formação inicial e contínua, referindo que essa formação não
lhes havia proporcionado a aquisição de um nível suficiente de conhecimentos científicos e/ou o
desenvolvimento de competências que lhes permitissem exp lorar esses conhecimentos na sala de
aula. E quando esses conhecimentos foram considerados apropriados, como foi o caso da
professora Céu, a formação que recebeu reforçou ainda mais a ideia de que não se devem
estabelecer tais inter-relações. Uma terceira razão explicativa da dificuldade das professoras em
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estabelecer relações entre discursos pode estar relacionada com a própria concepção de inter-
relação. Pareceu que, por vezes, as professoras consideravam que bastava “falar sobre certos
assuntos” para serem estabelecidas relações entre discursos. Colocamos também a hipótese de a
modalidade de formação, embora caracterizada em termos globais por critérios de avaliação
explícitos, não ter sido suficientemente efectiva ao nível da explicitação do texto, a ser produzido
pelas professoras, referente às relações entre discursos.
(inserir figura 4)
Ao nível do contexto regulador, em particular no que diz respeito às regras hierárquicas que
regulam a relação entre as professoras e os respectivos alunos, a evolução foi muito evidente. A
professora Rita adquiriu as regras de reconhecimento e de realização passiva. A professora Inácia
mostrou claramente ter adquirido as regras de realização passiva e embora pareça ter retrocedido
ao nível da realização activa, tal foi, uma vez mais, um resultado do enquadramento mais forte na
ritmagem. A professora Dulce adquiriu as regras de realização passiva e mostrou ter realização
activa já na implementação da primeira unidade de ensino. A professora Céu mostrou claramente
ter adquirido as regras de realização passiva e, parcialmente, as de realização activa. As
professoras foram gradualmente consciencializando-se do significado e da verdadeira
importância de as regras hierárquicas serem caracterizadas, na relação professora-alunos, por
enquadrame ntos muito fracos e de que algumas atitudes que inicialmente haviam tomado,
poderiam influenciar negativamente o desenvolvimento cognitivo e sócio-afectivo dos alunos.
Em relação às regras hierárquicas que regulam as relações aluno-aluno, a evolução foi também
evidente. A professora Rita adquiriu as regras de reconhecimento, as regras de realização passiva
e, em parte, as regras de realização activa. A professora Inácia já tinha revelado, na primeira
unidade de ensino, a posse da orientação específica de codificação para este aspecto da prática
pedagógica. As professoras Dulce e Céu mostraram uma clara aquisição das regras de
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reconhecimento e de realização passiva e ainda a aquisição parcial (no caso da professora Céu)
ou total (no caso da professora Dulce) das regras de realização activa. A evolução das
professoras, em particular das professoras Rita e Céu, deveu-se essencialmente à
consciencialização progressiva de que algumas das atitudes e decisões que tomavam na sala de
aula, como por exemplo a formação de grupos homogéneos em termos de aproveitamento
escolar, embora tendo como objectivo criar melhores condições para o desenvolvimento e a
aprendizagem das crianças, acabavam por conduzir à criação de hierarquias entre os alunos com a
consequente diminuição do posicionamento dos alunos com aproveitamento escolar mais baixo.
Quanto às professoras Dulce e Inácia, que já tinham por hábito formar grupos de trabalho
heterogéneos, a formação ajudou-as a perceber melhor as suas vantagens e forneceu-lhes
argumentos mais sólidos a favor da metodologia que já implementavam.
Ainda no que diz respeito ao contexto regulador, mas quanto à relação entre os espaços dos
diversos intervenientes no processo educativo, verificámos que as professoras evoluíram no
sentido de se aproximarem do perfil de prática pedagógica desejado. Em relação aos espaços da
professora e dos alunos, a professora Rita adquiriu as regras de reconhecimento e de realização
passiva e as outras três professoras possuíam já na primeira unidade de ensino, realizada depois
da primeira fase de formação, as regras de realização activa. No que concerne à relação entre
espaços professora-alunos, a formação conseguiu levar a professora Rita, que parecia não
apresentar a orientação específica de codificação para esta relação, a tomar consciência de que a
organização e a utilização dos espaços é uma variável importante para a criação de um ambiente
de trabalho agradável e favorável à aprendizagem. Contudo, esta professora revelou alguma
resistência à implementação de uma prática pedagógica caracterizada por uma classificação fraca
na relação entre os espaços professora-alunos, justificando que lhe causava alguma confusão ver
os alunos levantados e a movimentarem-se pelos diversos espaços da sala de aula.
Na relação entre os espaços dos vários alunos, as professoras Inácia e Dulce revelaram, desde o
início, possuir a orientação específica de codificação para esta característica da prática
pedagógica. A professora Rita parece ter adquirido claramente as regras de realização passiva e a
professora Céu adquiriu as regras de reconhecimento e de realização passiva. Ambas as
professoras mostraram, já na primeira unidade de ensino, ter parcialmente as regras de realização
activa. As professoras Céu e Rita foram tomando uma consciência crescente sobre a importância
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da relação entre os espaços dos vários alunos na criação de um bom ambiente de trabalho. As
professoras Inácia e Dulce reforçaram a sua ideia de que uma sala de aula caracterizada por uma
utilização equitativa dos diversos espaços pelos alunos tinha o potencial para criar um bom
ambiente de trabalho e de aprendizagem.
Sintetizando, podemos afirmar que a evolução das professoras, no que diz respeito à aquisição da
orientação específica de codificação necessária para a implementação de uma prática pedagógica
com determinadas características sociológicas, se revelou mais ou menos evidente consoante os
contextos – instrucional e regulador – e as várias características da prática pedagógica. Olhando
para a evolução das professoras como um todo, o estudo revelou uma evolução positiva no
sentido de as professoras terem adquirido progressivamente as regras de reconhecimento e de
realização, passiva e activa, para vários aspectos da prática pedagógica, isto é, as professoras
tornaram-se mais eficientes em implementar uma prática pedagógica mais próxima da delineada
no perfil teórico.
A figura 5 mostra a evolução das professoras em termos das suas competências científicas.
(inserir figura 5)
21
sentindo, quanto aos conhecimentos científicos e competências investigativas, deveram-se
particularmente à sua formação, inicial e contínua, que apresentara lacunas relacionadas, por um
lado, com a pouca importância atribuída às ciências e, por outro lado, à ausência (para as
professoras Dulce, Inácia e Rita) de sensibilização para a importância e exploração das
competências investigativas. Mesmo quando a formação anterior foi considerada suficiente,
como foi o caso da professora Céu, ela não a preparou para saber explo rar e desenvolver tais
conhecimentos e competências investigativas no contexto da sala de aula.
5. CONCLUSÕES
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Um aspecto que, na modalidade de formação realizada, parece ter ajudado as professoras a
adquirir as regras de reconhecimento e de realização para uma dada prática pedagógica, foi a
explicitação dos critérios de avaliação. Esta explicitação foi, fundamentalmente, concretizada
tornando claro às professoras a especificidade dos contextos de aprendizagem científica e os
fundamentos que estão subjacentes às suas características e também tornando claro os aspectos
do seu desempenho em sala de aula que se aproximavam das características do modelo de prática
pedagógica a ser implementada.
Por outro lado, a relação aberta entre as formadoras e as professoras, em que se explicaram e
discutiram razões relacionadas com os conteúdos e os proced imentos, terá sido favorável à
aceitação e valorização, pelas professoras, dos vários aspectos da prática pedagógica que
pretendíamos que desenvolvessem nas suas aulas. Essa relação com as professoras terá tido, por
sua vez, influência na própria aquisição das regras de reconhecimento e de realização. Na
aquisição destas regras teve também, certamente, influência o enfraquecimento da classificação
entre os conhecimentos das investigadoras e das professoras que ocorreu durante as intensas
discussões nas muitas sessões de trabalho que constituíram a formação. As relações abertas entre
as professoras mostraram ser igualmente importantes. No caso das professoras Inácia e Rita, se a
formação tivesse sido caracterizada por uma classificação mais fraca nas relações de poder
professora-professora e por um enquadramento mais fraco nas relações de controlo ao nível das
regras hierárquicas profe ssora-professora, o progresso da professora Rita poderia ter sido mais
evidente. As duas professoras participaram e intervieram activamente mas a professora Inácia,
pelo tipo de intervenções que fazia e pelos conhecimentos que revelava, acabou por intervir mais
frequentemente e adquirir um estatuto um pouco superior ao da professora Rita. Estes aspectos
parecem ter levado a professora Rita a diminuir o seu posicionamento e a enfraquecer as suas
disposições sócio-afectivas positivas e, como consequência, a ter uma menor evolução.
Consideramos também que a formação foi muito positiva na evolução do próprio discurso das
professoras. As professoras tomaram maior consciência das características da sua prática
pedagógica e foram capazes de a caracterizar, justificando e fundamentando melhor as suas
opiniões. A formação forneceu às professoras instrumentos de análise e reflexão úteis para a sua
actividade docente. Quando questionadas sobre a importância da formação recebida, as
professoras salientaram a necessidade de considerar, na formação de professores, não só aspectos
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psicológicos mas também aspectos sociológicos da aprendizagem, se se pretender que todos os
professores adquiram competência profissional.
Podemos colocar como hipótese que a evolução das professoras poderia ter sido maior e, talvez,
mais rápida, se a formação desenvolvida se tivesse prolongado por mais tempo. De facto, as
professoras adquiriram, para a maioria das características da prática pedagógica, as regras de
reconhecimento e de realização passiva e, para várias características, as regras de realização
activa. A realização activa parece ser mais difícil de adquirir do que a realização passiva e o
reconhecimento. Isto foi particularmente evidente no caso das relações entre conhecimentos
(intra-disciplinares, inter-disciplinares e académicos-não académicos), onde as professoras
mostraram grandes dificuldades em estabelecer tais relações. Se a formação tivesse continuado,
poderia então focar-se (quase) exclusivamente na aquisição da dimensão activa das regras de
realização nos aspectos ainda não adquiridos pelas professoras. As professoras mostraram
também dificuldades ao nível do que ensinar, quer em termos de conhecimentos científicos, quer
em termos de competências investigativas (particularmente, competências de maior nível de
complexidade). Este aspecto poderia também ter actuado como um factor limitante da
competência das professoras, ao nível do como da prática pedagógica.
Julgamos que um aspecto importante da modalidade de formação que teria contribuído para a
aquisição da orientação específica de codificação para a prática pedagógica a ser implementada é
o isomorfismo existente entre a modalidade de formação e a modalidade de prática. Este facto
pode ter facilitado a transferência dos conhecimentos e competências do contexto de formação
para o contexto de intervenção na sala de aula. Aliás, um dos grandes problemas relacionados
com a formação, inicial e contínua, dos professores, e que é apontado por diversos autores
(Tilgner, 1990; Perrenoud, 1993; Monk & Dillon, 1995; Lea, 1997) e que foi referido pelas
professoras envolvidas neste estudo, é que os modelos de ensino -aprendizagem usados em
contextos de formação, contradizem, na prática, o que é defendido teoricamente pelos
formadores. Os formadores apelam a um ensino construtivista mas impleme ntam um ensino
expositivo, incentivam um processo de ensino-aprendizagem activo mas implementam um
processo de ensino-aprendizagem passivo, apelam a uma “pedagogia aberta” mas desenvolvem
uma “pedagogia fechada”.
Um outro aspecto a salientar deste estudo, é que os resultados da formação desenvolvida, através
24
de uma metodologia de investigação-acção, contrariam de certo modo a ideia globalmente
defendida por várias correntes da investigação-acção de que as relações no contexto de formação
devem ser caracterizadas por valores de classificação e de enquadramento fracos. Os resultados
do estudo sugerem que, embora os valores globais da classificação e do enquadramento devam
ser tendencialmente fracos, não o devem ser no que respeita às relações de poder investigador-
professores e no que respeita a alguns aspectos da selecção e sequência e também aos critérios de
avaliação. É de toda a conveniência que esses valores sejam fortes de modo a garantirem a
viabilização e sucesso do processo em curso. Mais concretamente, a classificação forte na relação
de poder investigador-professores permite mais facilmente distinguir os diversos intervenientes
no processo e permite que o investigador (formador) determine como devem ser definidas as
outras relações presentes no contexto de formação. Contudo, deve ser salientado que a forte
classificação entre investigador e professores deverá ser sempre acompanhada por um
enquadramento fraco nas regras hierárquicas que regulam esta interacção. O enquadramento forte
ao nível da selecção e da sequência é necessário, se pretendermos que os professores aprendam.
Com efeito, os professores não podem seleccionar um assunto que ainda não conhecem e não
podem explorá- lo segundo uma sequência apropriada. Assim, uma macro-selecção e uma macro-
sequência de enquadramentos fortes parecem ser mais adequadas no início da formação, pois
nesta fase não será de esperar que os professores tenham conhecimento científico suficiente para
intervir ao nível da escolha e ordenação dos temas/conhecimentos científicos e pedagógicos
necessários à sua formação. Numa segunda fase, depois de um período de discussão, análise e
reflexão com base em quadros teóricos, será mais fácil os professores seleccionarem e
sequenciarem a sua formação.
25
influenciou positivamente o desenvo lvimento das professoras. A valorização da prática evitou
que a formação fosse “demasiado teórica”, “distante dos problemas reais” sentidos pelas
professoras. Por outro lado, a valorização da teoria evitou que a formação fosse “demasiado
prática”, “demasiado contextualizada” e “sem fundamentos e razões”, permitindo uma maior
profundidade, relação e coerência.
Outro aspecto fundamental, e que vai ao encontro da opinião de alguns autores (Silva, 1996;
Calderhead & Gates, 1995), é o importante papel que as investigadoras desempenharam no
desenvolvimento profissional das professoras, ao actuarem como facilitadoras no
desenvolvimento da reflexão, na (re)aquisição de conhecimentos, na alteração da prática
pedagógica, na resolução de conflitos ao nível de concepções e crenças, no domínio da
linguagem e dos conceitos necessários para descrever e compreender as práticas dos professores e
a aprendizagem dos alunos, no envolvimento das professoras num diálogo construtivo, entre si e
com as formadoras, acerca do seu trabalho. Consideramos que o professor deve ter algum grau de
responsabilidade no seu desenvolvimento profissional, mas também consideramos que um
professor individual tem um poder limitado para mudar conhecimentos e desempenhos social e
culturalmente construídos. Mesmo um adulto competente pode beneficiar da participação de
outros para melhorar e manter o seu desempenho (Manning & Payne, 1993; Jones, Rua & Carter,
1998).
O papel do formador pode alterar-se ao longo das diferentes fases do ciclo de investigação-acção,
contribuindo, deste modo, para o desenvolvimento profissional futuro dos professores
(Calderhead & Gates, 1995). Contudo, parece-nos, que ele terá sempre um papel importante na
colaboração que pode dar ao desenvolvimento profissional dos professores, embora a sua
importância possa diminuir ao longo do processo, pois os professores, em princípio, já terão
adquirido os conhecimentos e as competências necessários para a prossecução do seu
desenvolvimento de uma forma mais autónoma e independente.
Estamos conscientes de que o desenvolvimento profissional dos professores não depende apenas
das características da formação mas que é influenciado por inúmeros factores pessoais, sociais e
profissionais. As características pessoais, o ambiente de trabalho na escola, as relações entre
colegas, a relação com os pais dos alunos e com a comunidade em geral, também influenciam o
desempenho profissional. Uma outra variável que influenciou a evolução das professoras na
26
aquisição da orientação específica de codificação, que conduziria ao desempenho da prática
pedagógica com o perfil pretendido, foi a formação inicial e contínua recebida. As quatro
professoras tiraram o seu curso em escolas diferentes, em anos diferentes, em locais diferentes,
mas tiveram uma formação semelhante e bastante diferente da modalidade de prática pedagógica
proposta, no que diz respeito ao que e, particularme nte, ao como foram ensinadas. Quanto ao que,
quer científico quer pedagógico, as professoras referiram-se à formação como apresentando
várias lacunas, essencialmente relacionadas com a forma teórica como o conhecimento foi
ensinado, e que não incluía o desenvolvimento de competências investigativas e a ligação com a
prática e os problemas do dia-a-dia dos professores. Quanto ao como da sua formação contínua,
mas particularmente da formação inicial, a prática esteve predominantemente centrada no
professor tanto no contexto instrucional como no contexto regulador. O estágio, que constitui
uma fase muito importante para o desenvolvimento de futuros professores, de modo a
desempenharem uma prática pedagógica eficiente, foi também desenvolvido no sentido de as
professoras centrarem todo o processo de ensino-aprendizagem em si, limitando o controlo do
aluno naquele processo. Levar os professores a impleme ntar uma prática pedagógica mista,
centrada no aluno, em certos aspectos (como por exemplo, a ritmagem) e centrada, no professor,
noutros aspectos (como, por exemplo, os critérios de avaliação), pode, de facto, constituir uma
tarefa difícil/árdua quer para professores, quer para formadores.
Embora os resultados apresentados neste trabalho tenham sido obtidos com uma amostra de
professores e de alunos relativamente pequena, pensamos que o estudo pode dar algum contributo
no campo da investigação educacional, no âmbito da formação de professores, e no campo da
intervenção pedagógica. Do ponto de vista da investigação educacional o estudo ajuda a
compreender parte da incapacidade de alguns professores em implementar, em sala de aula,
práticas pedagógicas distintas das práticas que costumam desenvolver e compreender que tal
incapacidade não depende apenas das características pessoais, sociais e profissionais, mas
também dos contextos da formação inicial e contínua em que os professores estiveram
envolvidos.
27
todos os professores mas que dêem também algum co ntrolo aos professores no seu processo de
desenvolvimento profissional e na aquisição da orientação específica de codificação necessária à
implementação de modalidades de prática pedagógica inovadoras e facilitadoras do
desenvolvimento científico e sócio -afectivo de crianças de diferentes grupos sociais. É também
importante para o desenvolvimento profissional dos professores que a relação entre
investigador/formador e professores seja caracterizada por uma forte classificação, de forma a
permitir que o investigador/formador possa decidir quais os aspectos que deve controlar e quais
os aspectos que os professores devem controlar.
Gostaríamos de salientar ainda a importância de dois aspectos. O primeiro tem a ver com a
importância de consciencializar os formadores de professores de que, além de razões de natureza
psicológica, existem razões de natureza sociológica que interferem no desenvolvimento
profissional dos professores e de que determinadas características sociológicas das modalidades
de formação constituem aspectos importantes que devem ser contemplados se, de facto, se
pretende alcançar uma melhoria do desempenho profissional de todos os professores. O segundo
aspecto tem a ver com a importância de se recorrer a modelos de análise em investigação
educacional que possibilitem a análise a vários níveis do discurso pedagógico, usando os mesmos
princípios e conceitos. No caso do presente estudo, foram usados os mesmos conceitos ao meso-
nível (na formação de professores) e ao micro- nível (na sala de aula). Ta l foi possível devido à
forte estrutura conceptual e grande poder explicativo da teoria em que a investigação se
fundamentou.
28
um primeiro passo. Há ainda muito a ser feito, nomeadamente no modo de analisar as regras de
reconhecimento e de realização passiva e a sua relação com a realização activa. Também a
avaliação da posse/ausência das regras de reconhecimento e de realização deverá ser feita no
mesmo momento da investigação. A entrevista aplicada, neste estudo, às professoras, como
instrumento de obtenção de dados acerca das regras de reconhecimento e de realização passiva,
precisa também ser melhorada. Por exemplo, será importante dar aos professores uma maior
diversidade de situações de aprendizagem do que as que foram incluídas nas entrevistas deste
estudo e criar situações que permitam discriminar melhor a posse/ausência de tais regras.
NOTAS
1. As duas investigadoras fizeram a sua formação inicial na mesma universidade, terminaram o mesmo grau
académico, tiraram o curso de mestrado na mesma universidade e a sua dissertação usou como referência teórica
a teoria de Bernstein para analisar questões relacionadas com a aprendizagem das ciências. As duas
investigadoras são professoras em Escolas Superiores de Educação.
2. Uma descrição mais completa das relações sociológicas que caracterizam os perfis teóricos das modalidades de
código pedagógico das duas fases que constituíram a formação das professoras pode ser encontrada em Afonso
(2002) e em Afonso, Morais e Neves (2002).
3. Os nomes com que designamos as professoras são fictícios pois, pretende-se manter o seu anonimato.
5. Uma descrição detalhada do instrumento pode ser encontrada em Afonso, Morais e Neves (2002) e em Afonso
(2002).
6. De forma a mostrar o tipo de questões que foram colocadas na entrevista, apresentamos, como exemplos, uma
questão relacionada com a regra discursiva critérios de avaliação e uma questão relacionada com as regras
hierárquicas.
Critérios de avaliação
Acha que, quando os alunos têm que fazer e apresentar trabalhos, o professor deve explicitar-lhes o que têm de
fazer e como devem fazê -lo ou acha que fica ao critério dos alunos? Justifique.
Regras hierárquicas
Quando os alunos não fazem o que o professor manda, como acha que deve chamar a atenção dos alunos
(zangando-se, dando as suas razões, ouvindo as razões dos alunos)? Justifique.
7. O sistema de categorias usado para analisar a posse/ausência das regras de reconhecimento e de realização passiva
foi o seguinte:
29
Regras de reconhecimento
Não possui regras de reconhecimento
• Indica características da prática pedagógica diferentes/opostas das características preconizadas pelo modelo
teórico
• Indica características da prática pedagógica descontextualizadas/não consideradas no modelo teórico
Pode possuir regras de reconhecimento
• Não indica as características da prática pedagógica - Sem elementos
• As características apontadas para a prática pedagógica são ambíguas/pouco claras
• As características apontadas para a prática pedagógica são contraditórias
Possui regras de reconhecimento
• As características apontadas para a prática pedagógica são semelhantes às características preconizadas pelo
modelo teórico
8. As figuras que se seguem mostram a caracterização da prática pedagógica de cada professora, nos contextos
instrucional e regulador e o modelo teórico proposto (Afonso, 2002).
RELAÇÕES DE CONTROLO
(Ei) CONHECIMENTO CONHECIMENTO CONHECIMENTO
INTRA- INTER - ACADÉMICO/ NÃO
PROFESSORAS/ FASES RELAÇÕES DE DISCIPLINAR DISCIPLINAR ACADÉMICO
Regras discursivas
DA INVESTIGAÇÃO PODER (Ci) (Ci Fi) (Ce Fe)
(C i)
Selecção Sequência Ritmagem Critérios de
avaliação
Modelo
C +
E+ E+ E -- E ++ C --
C +
E- C +E - -
teórico
1ª fase C + E+ E+ E- E -- C + C ++E + C ++ E +
Rita + C ++ E +
2ª fase C E+ E+ E- E -
C +
C +
E + / E-
1ª fase C + E+ E+ E- E ++ C - C +E -- C ++ E +
Inácia
2ª fase C +
E+ E+ E+ E+ C +
C +
E -- C ++ E +
1ª fase C +
E +
E +
E --
E +
C +
C ++
E + C ++ E +
Dulce C +E -
2ª fase C + E+ E+ E -- E ++ C+ C ++E +
1ª fase C + E+ E+ E+ E -/ E + C + C ++E + C ++ E ++
Céu
2ª fase C +
E+ E+ E- E + / E ++ C +
C ++
E+ C ++ E +
30
Caracterização da prática pedagógica das professoras – Contexto regulador
Modelo +
C E -- C- -
E- -
C- C --
teórico
1ª fase C +
E+ C ++ E+ C+ C-
Rita +
2ª fase C E+ C+ E- C +
C-
+
1ª fase C E- C- - E- - C- C --
Inácia +
2ª fase C E - /E + C- -
E- -
C- C --
1ª fase C +
E --
C - - E- C- C- -
Dulce
2ª fase C + E -- C - - E -- C- C- -
1ª fase C+ E+ C ++ E+ C- C-
Céu +
2ª fase C E- C+ E- C- C-
AGRADECIMENTOS
As autoras agradecem à Fundação Calouste Gulbenkian e ao Instituto de Inovação Educacional o apoio financeiro
que tornou possível a investigação.
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33
Relação entre sujeitos Relação entre discursos
(Investigadora-Professoras)
(Ci Ei) (Cie)
Relações Relações de controlo Relações Intra- Relações inter- Conhecimento da
de poder (Ei) disciplinares disciplinares investigadora-conhecimento
Regras discursivas das professoras
(Ci) Selecção Sequência Ritmagem Critérios (Ci) (Ci) (Ce)
Modelo Teórico + + + -- ++ - - -
C E E E E C C C
(1ª fase)
+ + + -- ++ - - -
Rita - Inácia C E E E E C C C
+ + + -- ++ - - -
Dulce - Céu C E E E E C C C
Modelo Teórico + - - -- ++ - - -
(2º fase) C E E E E C C C
+ - + - + -- ++ - - -
Rita - Inácia C E /E E /E E E C C C
+ - + - + -- ++ - - -
Dulce - Céu C E /E E /E E E C C C
+ -- - -- - -
Dulce -Céu C E C E C C
Modelo Teórico
+ -- - -- - -
(2ª fase) C E C E C C
Rita -Inácia + -- + - - -
C E C E C C
Dulce -Céu C
+
E
--
C
-
E
--
C
-
C
-
34
REGRAS DE
REGRAS DE REALIZAÇÃO
RECONHECIMENTO
PROFESSORAS/
CONTEXTOS Passiva Activa
Antes da Depois da
formação formação Antes da Depois da Unidades de ensino
formação formação 1ª 2ª
Selecção + + ? + 4 4
discursivas
Regras
Sequência + + ? + 4 4
Ritmagem + + + + 3 3
RITA
Critérios + + ? + 1 2
Intra-disciplinares + + + + 2 2
discursos
Relação
entre
Inter-disciplinares + + ? ? 2 2,5
Académicos-não
+ + ? + 2 2
académicos
Selecção + + + + 4 4
discursivas
− −
Regras
Sequência + + 4 4
Ritmagem + + + + 3 2
INÁCIA
Critérios + + ? + 4 3
Intra-disciplinares + + ? + 3 2
discursos
Relação
entre
Inter-disciplinares + + + + 3 3
Académicos-não
+ + + + 2 2
académicos
Selecção + + ? + 4 4
discursivas
Regras
Sequência + + + + 4 4
Ritmagem − + − + 4 4
DULCE
Critérios ? + ? + 3 4
Intra-disciplinares + + + + 2 2
discursos
Relação
entre
Inter-disciplinares + + ? ? 2 2
Académicos-não
+ + + + 2 3
académicos
Selecção + + ? + 4 4
discursivas
Regras
Sequência + + + + 4 4
Ritmagem ? + ? + 2 3
CÉU
Inter-disciplinares + + + + 2 2
Académicos-não
+ + + + 1 2
académicos
− Ausência
+ Presença
? Pode ou não ter
Mudança
1-4 níveis de desempenho
Aluno-Aluno − + − + 2 3
RITA
Professora-Aluno − + − + 2 2
Relação
espaços
entre
Aluno-Aluno + + ? + 3 3
hierárquicas
Professora-Aluno + + ? + 3 2,5
Regras
Aluno-Aluno + + ? + 4 4
INÁCIA
Professora-Aluno + + ? + 4 4
Relação
espaços
entre
Aluno-Aluno + + + + 4 4
hierárquicas
Professora-Aluno + + ? + 4 4
Regras
Aluno-Aluno ? + ? + 3 4
DULCE
Professora-Aluno ? + ? + 4 4
Relação
espaços
entre
Aluno-Aluno + + + + 4 4
hierárquicas
Professora-Aluno + + ? + 2 3
Regras
Aluno-Aluno ? + ? + 2 3
CÉU
Professora-Aluno + + + + 4 4
Relação
espaços
entre
Aluno-Aluno − + − + 3 3
− Ausência
+ Presença
? Pode ou não ter
Mudança
1-4 níveis de desempenho
37
Processos de formação e sua relação com o desenvolvimento profissional dos professores:
Um estudo sociológico no 1º ciclo do ensino básico
Resumo
O artigo descreve parte de um estudo cujo objectivo era investigar a relação entre modalidades de
formação de professores e modalidades de prática pedagógica implementadas em contextos de
aprendizagem científica. O estudo foca-se no primeiro ciclo do ensino básico e analisa a evolução
do desempenho dos professores, em termos de aquisição de regras de reconhecimento e de
realização, isto é, de orientação de codificação, para contextos específicos de aprendizagem das
ciências.
Teoricamente, o estudo baseia -se na teoria do discurso pedagógico de Bernstein (1999, 2000) que
forneceu os conceitos usados para caracterizar as modalidades de formação de professores e as
práticas pedagógicas implementadas na sala de aula e para analisar a evolução dos professores
em termos de regras de reconhecimento e de realização. A amostra era constituída por quatro
professoras e respectivas turmas, socialmente heterogéneas. Foi implementada uma metodologia
de investigação-acção.
Abstract
The paper describes part of a study whose aim was to investigate the relation between modalities
38
of teacher training and modalities of pedagogic practice implemented in the science classroom.
The study is focused on primary school and analyses the evolution of teachers performance in
terms of their acquisition of recognition and realisation rules, i.e. coding orientation, to specific
scientific learning contexts.
Theoretically, the study is based on Bernstein’s theory of pedagogic discourse (1999, 2000)
which provided the concepts to characterise the modalities of teacher training and of classroom
pedagogic practices and to analyse teachers’ evolution in terms of recognition and realisation
rules. The sample was made up of four teachers and their four socially heterogeneous school
classes. An action-research methodology was followed.
The results suggest that the teacher training implemented was favourable to the teachers’
professional development and their competence to lead all children to a high level of scientific
development. The efficienc y of the training process has to be mostly attributed to the strong
classification of the researcher-teachers relation and to the strong framing of evaluation criteria,
selection and sequence, together with weak framing of hierarchical rules and pacing.
39