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Resp 107426 2001 04 30

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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL N° 107.426 - RS (1996/0057519-3)

RELATOR : MIN. BARROS MONTEIRO


RECTE(S) : AMOPREV ADMINISTRADORA E CORRETORA DE
SEGUROS LTDA.
ADVDO(S) : FERNANDO ANTÔNIO ZANELLA E OUTROS
RECDO(S) : SINDICATO DOS TRABALHADORES NA INDÚSTRIA
DE ENERGIA ELÉTRICA NO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL - SENERGISUL
ADVDO(S) : CARLOS JOSIAS MENNA DE OLIVEIRA

EMENTA

INDENIZAÇÃO. CONTRATO DE MEDIAÇÃO DE SEGUROS. QUEBRA


DA EXCLUSIVIDADE. PRETENSÃO DA CORRETORA DE RECEBER
COMISSÃO A TÍTULO DE LUCROS CESSANTES. INTERESSE POSITIVO.
PROVA. AUSÊNCIA DE DANO.
- O lucro cessante não se presume, nem pode ser imaginário. A perda
indenizável é aquela que razoavelmente se deixou de ganhar. A prova da existência
do dano efetivo constitui pressuposto ao acolhimento da ação indenizatória.
- Caso em que a corretora não se desincumbiu do ônus de comprovar a
existência do dano sofrido com a quebra da exclusividade.
- A imposição da multa prevista no art. 538, parágrafo único, do CPC,
condiciona-se a que o Tribunal justifique o cunho protelatório dos embargos de
declaração. Escopo de promover o prequestionamento das matérias aventadas
(súmula n° 98-STJ).
Recuso especial conhecido, em parte, e provido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas:


Decide a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por maioria,
conhecer do recurso em parte e, nessa parte, dar-lhe provimento, na forma do
relatório e notas taquigráficas precedentes que integram o presente julgado.
Votaram com o Relator os Srs. Ministros Cesar Asfor Rocha e Sálvio de Figueiredo
Teixeira. Vencido em parte o Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar. Não participou da
votação o Sr. Ministro Aldir Passarinho Júnior, em virtude de ausência ocasional à
Sessão de 05.09.2000.
Brasília, 20 de fevereiro de 2000 (data do julgamento).

Ministro Ruy Rosado de Aguiar


Presidente

Ministro Barros Monteiro


Relator
Documento: IT57717 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 30/04/2001 Página 1 de 17
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL N° 107.426 - RS (1996/0057519-3)

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO BARROS MONTEIRO: -


"AMOPREV Administradora e Corretora de Seguros Ltda, " ajuizou ação
de resolução de contrato, cumulada com cobrança de penalidade contratual,
contra o "Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Energia Elétrica no Estado
do Rio Grande do Sul", alegando, em síntese, o seguinte:
Em 22.09.89, celebrou com o réu um contrato de mediação de seguros,
através do qual lhe restou assegurado o direito de intermediar, com exclusividade,
todo e qualquer seguro pelo mesmo contratado, no período de seis anos.
O suplicado, entretanto, descumpriu suas obrigações e "quebrou" o
contrato. A partir de 31.12.90, firmou ele outros contratos de seguro com a
intermediação de outras corretoras, violando a exclusividade pactuada. Além disso,
praticou atos que objetivaram impedir ou dificultar a consecução da avença,
chegando ao ponto de não pagar o valor dos prêmios correspondente a mais de
12.000 segurados.
Incorreu, assim, nas sanções da cláusula 5a do ajuste (responsabilidade
pelas cominações previstas no art. 1.059 do Código Civil).
Ao final, pleiteou a procedência da ação para o fim de declarar-se resolvido
o contrato, com a condenação do réu na penalidade convencionada, ou seja, o
pagamento das perdas e danos, representadas por todas as comissões de
corretagem decorrentes das apólices de seguro avençadas sem a intermediação
da autora, com exceção das resultantes da apólice n° 9.180 e outras a ela
vinculadas, objeto de ação própria.
O MM. Juiz de Direito da 1a Vara Cível da Comarca de Porto Alegre julgou
improcedente a ação.
A Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul deu
parcial provimento ao apelo da autora e negou provimento ao recurso adesivo do
réu, em Acórdão que porta a seguinte ementa:
"CIVIL. CONTRATO DE CORRETAGEM. RESOLUÇÃO POR
INADIMPLEMENTO. PROCEDÊNCIA.
1. Não se aplica a Lei nº 8.078/90 aos contratos celebrados antes de sua
vigência. Precedente do STJ. O contrato de corretagem, que é, de regra unilateral,
não se sujeita à forma prescrita em lei, nem é nulo, ou anulável, em razão de suas
características. improvado que um dos figurantes, estipulando outra apólice e
contratando outro corretor, alterou a base do negócio, esvaziando o serviço a ser
prestado pelo corretor, e, assim, diminuindo sua vantagem econômica, procede o
pedido resolutório. Não cabe, porém, o pedido autônomo de perdas e danos,
porque indenizaria interesse positivo e colocaria a vítima, já indenizada pelo ilícito,
em outra demanda, em situação econômica melhor do que a anterior ao ilícito
(lucratus non sit). Verba honorária bem fixada. Dolo processual inexistente.
APELAÇÃO PRINCIPAL PARCIALMENTE PROVIDA APELAÇÃO ADESIVA
DESPROVIDA. " (Fls. 509).
Documento: IT57717 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 30/04/2001 Página 2 de 17
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL N° 107.426 - RS (1996/0057519-3)

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO BARROS MONTEIRO: -


"AMOPREV Administradora e Corretora de Seguros Ltda, " ajuizou ação
de resolução de contrato, cumulada com cobrança de penalidade contratual,
contra o "Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Energia Elétrica no Estado
do Rio Grande do Sul", alegando, em síntese, o seguinte:
Em 22.09.89, celebrou com o réu um contrato de mediação de seguros,
através do qual lhe restou assegurado o direito de intermediar, com exclusividade,
todo e qualquer seguro pelo mesmo contratado, no período de seis anos.
O suplicado, entretanto, descumpriu suas obrigações e "quebrou" o
contrato. A partir de 31.12.90, firmou ele outros contratos de seguro com a
intermediação de outras corretoras, violando a exclusividade pactuada. Além disso,
praticou atos que objetivaram impedir ou dificultar a consecução da avença,
chegando ao ponto de não pagar o valor dos prêmios correspondente a mais de
12.000 segurados.
Incorreu, assim, nas sanções da cláusula 5a do ajuste (responsabilidade
pelas cominações previstas no art. 1.059 do Código Civil).
Ao final, pleiteou a procedência da ação para o fim de declarar-se resolvido
o contrato, com a condenação do réu na penalidade convencionada, ou seja, o
pagamento das perdas e danos, representadas por todas as comissões de
corretagem decorrentes das apólices de seguro avençadas sem a intermediação
da autora, com exceção das resultantes da apólice n° 9.180 e outras a ela
vinculadas, objeto de ação própria.
O MM. Juiz de Direito da 1a Vara Cível da Comarca de Porto Alegre julgou
improcedente a ação.
A Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul deu
parcial provimento ao apelo da autora e negou provimento ao recurso adesivo do
réu, em Acórdão que porta a seguinte ementa:
"CIVIL. CONTRATO DE CORRETAGEM. RESOLUÇÃO POR
INADIMPLEMENTO. PROCEDÊNCIA.
1. Não se aplica a Lei nº 8.078/90 aos contratos celebrados antes de sua
vigência. Precedente do STJ. O contrato de corretagem, que é, de regra unilateral,
não se sujeita à forma prescrita em lei, nem é nulo, ou anulável, em razão de suas
características. improvado que um dos figurantes, estipulando outra apólice e
contratando outro corretor, alterou a base do negócio, esvaziando o serviço a ser
prestado pelo corretor, e, assim, diminuindo sua vantagem econômica, procede o
pedido resolutório. Não cabe, porém, o pedido autônomo de perdas e danos,
porque indenizaria interesse positivo e colocaria a vítima, já indenizada pelo ilícito,
em outra demanda, em situação econômica melhor do que a anterior ao ilícito
(lucratus non sit). Verba honorária bem fixada. Dolo processual inexistente.
APELAÇÃO PRINCIPAL PARCIALMENTE PROVIDA APELAÇÃO ADESIVA
DESPROVIDA. " (Fls. 509).
Documento: IT57717 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 30/04/2001 Página 3 de 17
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Opostos declaratórios pela demandante, foram eles rejeitados, aplicada a
multa de 1% sobre o valor da causa.
Ainda irresignada, a corretora manifestou o presente recurso especial com
fulcro nas alíneas "a" e "c" do admissor constitucional, alegando:
a) violação dos arts. 126 do Código Comercial; 81 e 82 do Código Civil e
126 do CPC, uma vez que, em se tratando de negócio jurídico válido e eficaz, o
julgado atentou contra o princípio da força obrigatória dos contratos; impunha-se
assim, como decorrência lógica do inadimplemento contratual do réu, a
procedência do pleito vestibular; o Juiz tem o dever de fazer cumprir a lei e o
pactuado;
b) contrariedade aos arts. 1.056, 1.059 e 1.092, parágrafo único, do Código
Civil. que abrigam o pagamento tanto dos danos emergentes como dos lucros
cessantes, vale dizer, a lei contempla tanto a indenização dos interesses negativos
como dos interesses positivos; ajustada a corretagem exclusiva, a comissão é
devida, ainda que o negócio seja concluído diretamente pelo comitente; os lucros
da autora seriam representados pelas comissões auferidas durante todo o lapso
da contratação;
c) infração ao art. 1.514 do Código Civil, pois o descumprimento da
promessa pelo comitente dá ao corretor o direito de exigir a recompensa
estipulada; o comitente não pode. sem pagar a corretagem do mediador, revogar a
opção que lhe foi dada ou contratar por intermédio de terceiro;
d) afronta aos arts. 916, 917, 921 e 927 do Código Civil: o decisório
recorrido imputou ao réu o inadimplemento contratual, que provocou a resolução
do pacto, mas, contraditoriamente, absolveu-o do pagamento da pena
convencional; demais, não precisa o credor alegar prejuízo para exigir a penalidade
estipulada;
e) vulneração do art. 6° da LICC, por desrespeito ao ato jurídico perfeito:
f) ofensa ao art. 538, parágrafo único, do CPC, porquanto os embargos de
declaração foram opostos, não com o intuito procrastinatório, mas sim com o
escopo de promover o prequestionamento da matéria.
Arrolou a recorrente julgados por ela lidos como dissonantes em tomo da
interpretação dos arts. 1.056, 1.059 e 1.092, parágrafo único, do CPC, e 1.514 do
Código Civil.
Oferecidas as contra-razões, o apelo extremo foi admitido na origem,
subindo em seguida os autos a esta Corte.
É o relatório.

Documento: IT57717 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 30/04/2001 Página 4 de 17
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL N° 107.426 - RS (1996/0057519-3)

VOTO

O SR. MINISTRO BARROS MONTEIRO (Relator): -


1. A decisão recorrida acolheu, em parte, a postulação formulada pela
autora para decretar, de modo retroativo, a resolução do contrato de mediação
celebrado entre as partes, por inadimplemento imputável ao réu, mas, de outro
lado, negou o pedido concernente às perdas e danos.
Este o ponto nevrálgico da controvérsia: saber se, não obstante resolvida
a avença em virtude de inadimplência do demandado, deve prosperar ou não o
pleito relativo às perdas e danos, nos termos da penalidade instituída na cláusula
5a do contrato firmado. O cerne do litígio cifra-se, pois, à inteligência e aplicação à
espécie das normas inscritas nos 1.056, 1.059 e 1.092, parágrafo único, do Código
Civil.
É ler-se o voto condutor do V. Acórdão, da lavra do em. Desembargador
Araken de Assis:
"Em relação ao inadimplemento do Apelado, ele é evidente. Em síntese,
apesar de atado ao contrato de fls. 12/13, firmado - note-se bem - entre partes em
igualdade de condições, em instrumento que não agasalha condições
pré-dispostas ou se caracteriza como formulário para aderir -, estabeleceu outra
apólice e contratou outro corretor, visando a esvaziar a apólice relacionada ao
contrato em questão. Por este meio, o Apelado promoveu o esvaziamento das
rendas da Apelante, alterando a base do negócio, o que constitui inadimplemento a
ele imputável.
Com efeito, na melhor das hipóteses faltou o Apelado com o seu dever de
colaboração (ARAKEN DE ASSIS, ob. cit, n° 4 4.3.2, p. 103), impedindo a
prestação do serviço segundo a lógica do programa contratual. A este respeito,
invoco os fundamentos de meu voto na Ap. Cív. nº 595.052.309 (fls. 491/502), aqui
juntada, tendo se manifestado, naquela oportunidade, o Eminente Des. TAEL
JOÃO SELISTRE da seguinte forma:
'... os elementos existentes nos autos, em especial a prova oral.
permitem o reconhecimento de indícios suficientes da existência de
simulação, no que respeita à criação de uma nova apólice e à contratação
de nova corretora, com o indisfarçável propósito de fraudar o direito da
antiga corretora'.
No reexame dos fatos, examinando, outra vez, o assunto, com ânimo leve
como é do oficio do Magistrado, mantenho meu convencimento. O Apelado
convencionou certo contrato e, posteriormente, por razões verdadeiras que não
vieram aos autos, resolveu descumpri-lo. Portanto, procede a pretensão resolutiva,
fundada no art. 1.092, parágrafo único, do Código Civil.
Quanto à pretensão a perdas e danos, que é acessória da resolução, não
integrando sua essência - e prova-o o fato de que, mesmo na ação em que o
parceiro lesado pede a própria prestação, cabem perdas e danos -, não vinga a
pretensão da Apelante.
E isso, porque a Apelante já obteve indenização de seus interesses
naquele outro processo. Na resolução, as perdas e danos visam a compensar a
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RECURSO ESPECIAL N° 107.426 - RS (1996/0057519-3)

VOTO

O SR. MINISTRO BARROS MONTEIRO (Relator): -


1. A decisão recorrida acolheu, em parte, a postulação formulada pela
autora para decretar, de modo retroativo, a resolução do contrato de mediação
celebrado entre as partes, por inadimplemento imputável ao réu, mas, de outro
lado, negou o pedido concernente às perdas e danos.
Este o ponto nevrálgico da controvérsia: saber se, não obstante resolvida
a avença em virtude de inadimplência do demandado, deve prosperar ou não o
pleito relativo às perdas e danos, nos termos da penalidade instituída na cláusula
5a do contrato firmado. O cerne do litígio cifra-se, pois, à inteligência e aplicação à
espécie das normas inscritas nos 1.056, 1.059 e 1.092, parágrafo único, do Código
Civil.
É ler-se o voto condutor do V. Acórdão, da lavra do em. Desembargador
Araken de Assis:
"Em relação ao inadimplemento do Apelado, ele é evidente. Em síntese,
apesar de atado ao contrato de fls. 12/13, firmado - note-se bem - entre partes em
igualdade de condições, em instrumento que não agasalha condições
pré-dispostas ou se caracteriza como formulário para aderir -, estabeleceu outra
apólice e contratou outro corretor, visando a esvaziar a apólice relacionada ao
contrato em questão. Por este meio, o Apelado promoveu o esvaziamento das
rendas da Apelante, alterando a base do negócio, o que constitui inadimplemento a
ele imputável.
Com efeito, na melhor das hipóteses faltou o Apelado com o seu dever de
colaboração (ARAKEN DE ASSIS, ob. cit, n° 4 4.3.2, p. 103), impedindo a
prestação do serviço segundo a lógica do programa contratual. A este respeito,
invoco os fundamentos de meu voto na Ap. Cív. nº 595.052.309 (fls. 491/502), aqui
juntada, tendo se manifestado, naquela oportunidade, o Eminente Des. TAEL
JOÃO SELISTRE da seguinte forma:
'... os elementos existentes nos autos, em especial a prova oral.
permitem o reconhecimento de indícios suficientes da existência de
simulação, no que respeita à criação de uma nova apólice e à contratação
de nova corretora, com o indisfarçável propósito de fraudar o direito da
antiga corretora'.
No reexame dos fatos, examinando, outra vez, o assunto, com ânimo leve
como é do oficio do Magistrado, mantenho meu convencimento. O Apelado
convencionou certo contrato e, posteriormente, por razões verdadeiras que não
vieram aos autos, resolveu descumpri-lo. Portanto, procede a pretensão resolutiva,
fundada no art. 1.092, parágrafo único, do Código Civil.
Quanto à pretensão a perdas e danos, que é acessória da resolução, não
integrando sua essência - e prova-o o fato de que, mesmo na ação em que o
parceiro lesado pede a própria prestação, cabem perdas e danos -, não vinga a
pretensão da Apelante.
E isso, porque a Apelante já obteve indenização de seus interesses
naquele outro processo. Na resolução, as perdas e danos visam a compensar a
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frustração do negócio, jamais colocar o parceiro fiel na posição em que estaria se
o contrato tivesse sido cumprido a contento (ARAKEN DE ASSIS, ob. cit, nº 5.2,
pp, 136 a 138).
Ademais deste argumento, pondero que a indenização do dano, no direito
pátrio, obedece à glosa lucratus non sit, ou seja, se impede que, através da
reparação, a vítima possa ter benefícios, vale dizer, possa estar numa situação
econômica melhor do que o que se encontrar anteriormente ao ato delituoso
(CLÓVIS DO COUTO E SILVAL O conceito de dano no direito brasileiro e
comparado, nº 1 4, p. 11, RT/667, São Paulo, 1991).
Com isto, não incide o art. 1.059 do Código Civil, nem interessa o
disposto na cláusula contratual, que reproduz o direito aí previsto, pois se cuida de
matéria de fato: inexistência de dano.
Não há qualquer contradição entre este julgado e o já deliberado na ação
fundada em ato ilícito, porquanto diferentes suas causas de pedir. conforme
apontou o ilustre advogado do Apelado na Tribuna." (Fls. 516/518).
Nos declaratórios, S. Exa, o Sr. Desembargador Relator, voltou a enfatizar
os motivos pelos quais as perdas e danos foram então denegados: "por uma
questão de fato -falta de prova do dano - e porque, na resolução, a embargante
quer dano positivo (fls. 518) " (cfr. fls. 554).
Restritos os fundamentos expendidos peta decisão ora objurgada a esses
dois aspectos e negada, ainda, a afronta ao princípio da força obrigatória dos
contratos(fls. 554/555), tem-se, preambularmente, que não foram ventilados pelo
V. Acórdão os temas alusivos aos arts. 916, 917, 921, 927 e 1.514 do Código Civil;
6º da LICC e 126 do Código de Processo Civil. Ausente ai o requisito do
prequestionamento, de tal sorte que, em relação ao preceito do art. 1.514 do CC,
não se pode falar nem mesmo em dissídio pretoriano.
2. Através cio supra aludido pacto, restou assegurado à corretora o direito
de exclusividade na intermediação de todo e qualquer seguro contratado pelo
sindicato estipulante, no período de seis anos. É certo, ainda, que o réu rompeu a
avença, passando, ainda dentro daquele prazo, a ajustar seguros mediante o
agenciamento de outra empresa mediadora.
Em princípio, por aplicação das normas insertas nos arts. 1.056.1.059 e
1.092, parágrafo único, do Código Civil, a autora faria jus à indenização pelas
perdas e danos (danos emergentes e lucros cessantes). No caso, somente estes
últimos sobrelevam, uma vez que a demandante - ora recorrente - está a exigir
aquilo que deixou de ganhar em face da "quebra" havida do contrato.
Consoante magistério do mestre Pontes de Miranda, "à diferença do direito
alemão e do suíço, o direito brasileiro admite que se levem em conta o interesse
negativo e o positivo (Tomo XXV, § 3.091,9), No direito brasileiro, não se indeniza
só o que concerne ao interesse negativo, como em direito suíço. O que o
contraente ou pré-contraente deixou de ganhar também é indenizado." (Tratado de
Direito Privado, tomo 38, pág. 340, ed. 1.962).
No mesmo sentido, o escólio em sede doutrinária do em. Ministro Ruy
Rosado de Aguiar Júnior, insigne integrante desta C. Turma, "in verbis":
"A composição doa danos pode compreender interesses negativos e
positivos. O interesse negativo é o 'dano derivado da confiança', conseqüente ao
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fato de ter a parte confiado no contrato, para cuja celebração e cumprimento pode
ter efetuado despesas e assumido obrigações, preterindo outras alternativas
(despesas com o operador que se mandou realizar curso na empresa fabricante da
máquina, afinal não entregue; financiamentos contratados para pagamento dos
serviços não realizados, etc). A indenização pelo interesse negativo há de repor o
lesado na situação em que estaria, hoje, não tivesse contado com a eficácia do
contraio. O interesse positivo é o interesse de cumprimento; corresponde ao
aumento que o patrimônio do credor teria experimentado se o contrato tivesse sido
cumprido. É o acréscimo que o contratante, caso tosse cumprido auferiria com o
valor da prestação, descontado o valor da contraprestação, e mais a vantagem
decorrente da disponibilidade desse acréscimo, desde o dia previsto para o
cumprimento até o da indenização. O que o contraente ou pré-contraente deixou de
ganhar também è indenizado. Toma-se por base, por exemplo, o bem a ser
prestado." (Extinção dos Contratos por Incumprimento do devedor (Resolução),
pág. 263, 1a ed. ).
Nota-se certa discrepância de conceituações acerca do que seja o
denominado "interesse positivo" na reparação dos prejuízos sofridos por alguém.
De qualquer forma, em princípio, a autora teria direito ao acréscimo que o seu
patrimônio teria experimentado caso o contrato tivesse sido inteiramente cumprido.
Só que. a título de lucros cessantes, veio a suplicante a exigir no caso o
recebimento de todas as comissões decorrentes das apólices de seguros
contratadas pelo réu sem a sua intermediação, até o termo da avença, com
exceção apenas daquelas pertinentes à apólice nº 9.180 e outras a ela vinculadas,
que estão sendo cobradas em ação à parte. Ora. Incensurável, em primeiro lugar,
o Acórdão combatido ao asseverar que as perdas e danos visam a compensar a
frustração do negócio, jamais colocar o parceiro fiel na posição em que estaria se
o contrato estivesse cumprido a contento. Claro está que a recorrente não faz jus
às próprias comissões relativas às apólices ajustadas mediante a mediação de
outras corretoras. Se as recebesse por inteiro, como pretende, ficaria em situação
melhor do que se encontrava anteriormente ao rompimento do pacto. É que ela
não prestou serviço algum tocante àquelas outras apólices: não despendeu
qualquer gasto e, mesmo assim, almeja receber a integralidade das respectivas
comissões.
Isto por um lado. Mas há um outro aspecto a considerar-se. Nas razões de
apelação, a demandante afirma sem rebuços, mais de uma vez, que as
comissões de corretagem não são pagas pelo sindicato-réu. mas sim pelas
seguradoras contratadas. Então, como responsabilizar-se o recorrido por tais
comissões?
Segundo o disposto no art. 1.059, parte final, do Código Civil, as perdas e
danos abrangem o que o credor razoavelmente deixou de lucrar. É da lei,
outrossim, a regra de que "ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as
perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito
dela direto e imediato". Nesse diapasão o ensinamento também da doutrina
(Cunha Gonçalves e Giorgi, citados por J. M. de Carvalho Santos - Código Civil
Brasileiro Interpretado, vol. XIV, pág. 255. 11ª ed. ). Logo, afigura-se um exagero e
sem amparo legal a pretensão de haver todas as comissões posteriores, mesmo
que ela - corretora - não tenha tido trabalho algum.

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Os danos a serem ressarcidos só poderiam dizer respeito àqueles
diretamente resultantes da quebra de exclusividade conferida à autora. Nem
tampouco poder-se-ia conceder- lhe as próprias comissões posteriores ao
rompimento da avença. De ressaltar-se que a presente ação não é uma ação de
cobrança de comissões em si devidas até o termo do ajuste. Não; o que se aqui
reclama é a indenização por perdas e danos, em conformidade com o estipulado
na cláusula 5a do contrato de mediação. Daí por que não se aplicam na espécie
dos autos as anotações feitas pelos ínclitos juristas Caio Mário da Silva Pereira e
Carvalho Neto no sentido de que. acertada a corretagem exclusiva, a comissão
passa a ser devida ainda que o negócio venha ser concluído diretamente pelo
comitente ou por outra mediadora.
Pois bem. Esses danos derivados diretamente da quebra de exclusividade
não foram demonstrados pela autora, como lhe incumbia. Precisava a
demandante comprovar a existência de um dano efetivo. "Para que ocorra o direito
aos lucros cessantes, a título de perdas e danos, deve-se comprovar haver, com
certeza, algo a ganhar, uma vez que só se perde 'o que se deixa de ganhar' (cf.
Pontes de Miranda, Tratado de Direito Privado, t. XXV, p, 23 j. Aliás, estabelece
o art. 1.059 do Código Civil, que a perda indenizável é o que razoavelmente deixa
de ganhar', sendo de se exigir venha o esbulhado demonstrar haver possibilidade
precisa de ganhos; sem o que não há que falar em lucros cessantes' (1o TACSP -
3º C. - Ap. 476.842/1 - Rel. Antônio de Pádua Ferraz Nogueira - j. 01.06.93)" (in
Responsabilidade Civil e sua Interpretação Jurisprudencial. Rui Stocco. pág. 748.4ª
ed. ).
Segundo observação do Prof. Álvaro Villaça Azevedo, "o lucro cessante
não se presume, não pode ser imaginário ". É ainda comentário do ilustre jurista
citado o que de "a prova da existência do dano é essencial, como, depois, a
extensão do seu exato valor" (Curso de Direito Civil. Teoria Geral das Obrigações,
pág. 242, 8ª ed. )- Para o saudoso Professor Washington de Barros Monteiro,
"referentemente aos lucros cessantes, porém, não serão atendidos se não ao
menos plausíveis ou verossímeis. Não se levam em conta benefícios ou
interesses hipotéticos, porquanto estes, pela sua própria natureza, não admitem
direta comprovação, tendo-se, pois, como inexistentes em direito" (Curso de
Direito Civil. Direito das Obrigações. 1ª parte. pág. 342, 30a ed. ). Confiram-se em
igual diretriz as lições de Aguiar Dias (Da Responsabilidade Civil, vol. II, pág. 719,
10a ed., 4ª tiragem) e de Caio Mário da Silva Pereira (Responsabilidade Civil, pág.
314, 4a ed. ).
A jurisprudência desta Casa harmoniza-se com os mencionados escólios
doutrinários. Quando do julgamento do REsp n° 20.386-0/RJ. relator Ministro
Demócrito Reinaldo. a Eg. Primeira Turma decidiu sob a seguinte ementa, no que
ora interessa:
"Para viabilizar a procedência da ação de ressarcimento de prejuízos, a
prova da existência do dano efetivamente configurado, é pressuposto essencial e
indispensável".
De igual teor são os julgados proferidos nos REsp's n°s 192.834-SP,
relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, e 159.793-SP, relator Ministro
Cesar Asfor Rocha.
Documento: IT57717 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 30/04/2001 Página 9 de 17
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Além disso, a prova do dano deve ser produzida no processo cognitivo;
pode relegar-se para a liquidação tão-só o respectivo montante (cfr. Resp's nºs
35.997-0/RJ. relator Ministro Eduardo Ribeiro; 60.090-MS, relator Ministro Carlos
Alberto Menezes Direito: 36.784- SP e 263.443-SP, relator Ministro Ari Pargendler;
REsp's n°s 44.992-PR e 52.106-SP. por mim relatados).
Ressai, destarte, que à autora competia demonstrar em tempo hábil a
existência efetiva dos danos por ela suportados.
Na hipótese em apreciação, não se desincumbiu ela, contudo, do ônus de
comprová-los, não sendo admissível aqui simplesmente presumi-los. É que, a par
da falta de qualquer prova a respeito, a espécie presente conta com duas
peculiaridades salientadas pelo V. Acordao, quais sejam: a) o contrato de
corretagem aqui é unilateral, vale dizer, geraram-se encargos tão somente para o
sindicato-réu; a autora, beneficiada graciosamente com a exclusividade concedida,
não foram atribuídas obrigações mais sérias (tratar-se-ia de um serviço de
agenciamento de caráter rotineiro); b) a resolução da avença foi declarada de
maneira retroativa; como disse o voto condutor do Acórdão: efeito primordial da
resolução "consiste na dissolução retroativa do vínculo, 'como se 'o contrato
jamais existisse" (fls. 513/514).
Feitas estas colocações, chega-se à idêntica inferência emanada da
decisão recorrida: a inexistência, a não comprovação pela autora, dos danos (fls.
518). Contemplada com uma exclusividade desprovida de maiores encargos,
sendo, portanto, a maior e praticamente única beneficiária do ajuste, era de inteiro
rigor que restassem evidenciados os prejuízos de forma cabal, mormente no caso
em que a resolução do contrato se operou retroativamente.
Perquirir-se, a esta altura, na via angusta deste apelo especial, acerca da
eventual e remota possibilidade de que tenha a recorrente deixado de ganhar algo
em razão do rompimento da exclusividade, constituiria inobservância do
estabelecido no verbete sumular n° 07 desta Casa.
Não há falar, assim, em ofensa aos arts. 1.056, 1.059 e 1.092, parágrafo
único, do CC. nem tampouco em divergência interpretativa em relação aos
mesmos dispositivos legais nao somente em virtude dos aspectos próprios da
presente demanda, como também porque os arestos paradigmas invocados se
referem às situações fáticas distintas, concernentes à corretagem em negócios de
compra e venda de bem imóvel.
De resto, o decisório hostilizado nao atentou contra o princípio da força
obrigatória dos contratos (em atenção sobretudo ao art. 126 do Código Comercial).
A clásula 5a do pacto ora em foco reporta-se à norma do art. 1.059 do Código Civil,
sobre cuja aplicação se debruçou a turma julgadora do Tribunal Gaúcho. Negando
a reparação por perdas c danos a C. Câmara mais não fez do que aplicar o direito
à espécie debatida.
3. Apenas num ponto assiste razão ã recorrente.
Diz com a imposição da multa cominada no art. 538. parágrafo único, do
CPC. Primeiro, a incidência da pena condiciona-se a que o Tribunal justifique a
assertiva de que os declaratórios tiveram finalidade meramente protelatória. "In
Documento: IT57717 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 30/04/2001 Página 10 de 17
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casu", os motivos expostos pelo Acórdão recorrido não evidenciam o intento de
procrastinar o desfecho da causa, visto que. inclusive, se trata a embargante da
autora do feito. Depois, os embargos de declaração tiveram por escopo precípuo o
prequestionamento das matérias alegadas, circunstância que torna pertinente a
invocação do enunciado na súmula n° 98-STJ.
4. Do quanto foi exposto, conheço, em parte, do recurso pela alínea "a" do
permissivo constitucional e, nessa parte, dou-lhe provimento, a fim de cancelar a
multa prevista no art. 538, parágrafo único, do CPC.
É como voto.

Documento: IT57717 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 30/04/2001 Página 11 de 17
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA

Nro. Registro: 1996/0057519-3 RESP 00107426 / RS

PAUTA: 05/09/2000 JULGADO: 05/09/2000

Relator
Exmo. Sr. Min. BARROS MONTEIRO

Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Min. RUY ROSADO DE AGUIAR

Subprocurador-Geral da República
EXMO. SR. DR. WASHINGTON BOLIVAR DE BRITO JUNIOR

Secretário (a)
CLARINDO LUIZ DE SOUZA FLAUZINA

AUTUAÇÃO

RECTE : AMOPREV ADMINISTRADORA E CORRETORA DE SEGUROS


LTDA
ADVOGADO : FERNANDO ANTONIO ZANELLA E OUTROS
RECDO : SINDICATO DOS TRABALHADORES NA INDUSTRIA DE
ENERGIA ELÉTRICA NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL -
SENERGISUL
ADVOGADO : CARLOS JOSIAS MENNA DE OLIVEIRA

SUSTENTAÇÃO ORAL

Sustentou, oralmente, o Dr. Fernando Antônio Zanella, pela recorrente.

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia QUARTA TURMA ao apreciar o processo em


epigrafe, em sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Após o voto do Sr. Ministro Relator, conhecendo em parte do recurso e,
nessa parte, dando-lhe provimento, no que foi acompanhado pelo Sr. Ministro Cesar
Asfor Rocha, pediu VISTA o Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar.
Aguarda o Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira.

Documento: IT57717 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 30/04/2001 Página 12 de 17
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA

Nro. Registro: 1996/0057519-3 RESP 00107426 / RS

PAUTA: 05/09/2000 JULGADO: 05/09/2000

Relator
Exmo. Sr. Min. BARROS MONTEIRO

Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Min. RUY ROSADO DE AGUIAR

Subprocurador-Geral da República
EXMO. SR. DR. WASHINGTON BOLIVAR DE BRITO JUNIOR

Secretário (a)
CLARINDO LUIZ DE SOUZA FLAUZINA

AUTUAÇÃO

RECTE : AMOPREV ADMINISTRADORA E CORRETORA DE SEGUROS


LTDA
ADVOGADO : FERNANDO ANTONIO ZANELLA E OUTROS
RECDO : SINDICATO DOS TRABALHADORES NA INDUSTRIA DE
ENERGIA ELÉTRICA NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL -
SENERGISUL
ADVOGADO : CARLOS JOSIAS MENNA DE OLIVEIRA

SUSTENTAÇÃO ORAL

Sustentou, oralmente, o Dr. Fernando Antônio Zanella, pela recorrente.

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia QUARTA TURMA ao apreciar o processo em


epigrafe, em sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Após o voto do Sr. Ministro Relator, conhecendo em parte do recurso e,
nessa parte, dando-lhe provimento, no que foi acompanhado pelo Sr. Ministro Cesar
Asfor Rocha, pediu VISTA o Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar.
Aguarda o Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira.

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Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior.

O referido é verdade. Dou fé.

Brasília, 5 de setembro de 2000

CLARINDO LUIZ DE SOUZA FLAUZINA


Secretário(a)

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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL N° 107.426 - RIO GRANDE DO SUL (1996/0057519-3)

VOTO VISTA

O MINISTRO RUY ROSADO DE AGUIAR: -


1. O recurso foi assim relatado pelo Min. Barros Monteiro, que dele
conheceu em parte, apenas quanto ao art. 538 do CPC, e nessa parte lhe deu
provimento, para cancelar a multa: Leu relatório e voto.
O eminente Relator foi acompanhado pelo Min. Cesar Asfor Rocha.
Pedi vista para examinar a questão relacionada com a indenização.
2. Em primeiro lugar, o nosso ordenamento permite o deferimento de
indenização que reponha a parte na situação em que estaria, se o contrato tivesse
sido cumprido, o que depende da natureza da relação jurídica e das circunstâncias
do seu descumprimento.
No caso dos autos, porém, não me parece que se possa atender ao
interesse positivo porque se trata de negócio muito peculiar, em que se garante a
uma das partes a exclusividade da intermediação de contratos de seguro, com
nítida vantagem apenas para a corretora, que tem o garantia de certa
exclusividade, sem, contraprestar. Repito as palavras do il. Min. Relator: o contrato
"contempla uma exclusividade desprovida de maiores encargos, sendo portanto (a
autora) a maior e praticamente única beneficiária do ajuste". Sem a sua prestação
para os negócios que deixaram de ser feitos, não é caso de deferir indenização
pelo interesse positivo.
3. No entanto, o pedido de indenização pelo rompimento do contrato pode
ser atendido em parte. É que o dano está in re ipsa, decorre do simples
rompimento do contrato de exclusividade, que afastou a autora de todas as
possibilidades de intermediação - e conseqüente recebimento de comissão - pelo
tempo previsto na avença. Dizer que não há dano significa afirmar que o contrato
não tinha causa econômica, a permitir a sua extinção sem nenhuma conseqüência
patrimonial. Todavia, é o próprio contrato que dispõe sobre o direito à comissão, e
a perda dessa possibilidade consiste no dano, cujo valor pode não estar
determinado, mas de existência certa e decorrente do só desfazimento do pacto.
Assim, estou em conhecer do recurso em maior extensão, também por
ofensa ao art. 1059 do CC, e lhe dar provimento em parte, para reconhecer que o
rompimento do contrato nas condições aceitas pela egrégia Câmara
(inadimplemento imputável ao recorrido, que diminuiu a vantagem econômica do
autor, esvaziou a apólice, alterou a base do negócio e faltou com o dever de
colaboração) e deferir indenização que não corresponde ao interesse positivo, mas
deve de algum modo reparar a perda da expectativa que decorria da existência do
contrato, uma vez que o acórdão recorrido afirmou ter havido "diminuição da
vantagem econômica do contratado". Arbitro a indenização à falta de outros
elementos, em 10% sobre o valor das comissões recebidas durante o tempo de
vigência do contrato (22.9.89 a 31.12.90). Ampliada a procedência do pedido na
inicial, altero a distribuição dos ônus da sucumbência, a partir do decidido no r.
Documento: IT57717 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 30/04/2001 Página 15 de 17
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL N° 107.426 - RIO GRANDE DO SUL (1996/0057519-3)

VOTO VISTA

O MINISTRO RUY ROSADO DE AGUIAR: -


1. O recurso foi assim relatado pelo Min. Barros Monteiro, que dele
conheceu em parte, apenas quanto ao art. 538 do CPC, e nessa parte lhe deu
provimento, para cancelar a multa: Leu relatório e voto.
O eminente Relator foi acompanhado pelo Min. Cesar Asfor Rocha.
Pedi vista para examinar a questão relacionada com a indenização.
2. Em primeiro lugar, o nosso ordenamento permite o deferimento de
indenização que reponha a parte na situação em que estaria, se o contrato tivesse
sido cumprido, o que depende da natureza da relação jurídica e das circunstâncias
do seu descumprimento.
No caso dos autos, porém, não me parece que se possa atender ao
interesse positivo porque se trata de negócio muito peculiar, em que se garante a
uma das partes a exclusividade da intermediação de contratos de seguro, com
nítida vantagem apenas para a corretora, que tem o garantia de certa
exclusividade, sem, contraprestar. Repito as palavras do il. Min. Relator: o contrato
"contempla uma exclusividade desprovida de maiores encargos, sendo portanto (a
autora) a maior e praticamente única beneficiária do ajuste". Sem a sua prestação
para os negócios que deixaram de ser feitos, não é caso de deferir indenização
pelo interesse positivo.
3. No entanto, o pedido de indenização pelo rompimento do contrato pode
ser atendido em parte. É que o dano está in re ipsa, decorre do simples
rompimento do contrato de exclusividade, que afastou a autora de todas as
possibilidades de intermediação - e conseqüente recebimento de comissão - pelo
tempo previsto na avença. Dizer que não há dano significa afirmar que o contrato
não tinha causa econômica, a permitir a sua extinção sem nenhuma conseqüência
patrimonial. Todavia, é o próprio contrato que dispõe sobre o direito à comissão, e
a perda dessa possibilidade consiste no dano, cujo valor pode não estar
determinado, mas de existência certa e decorrente do só desfazimento do pacto.
Assim, estou em conhecer do recurso em maior extensão, também por
ofensa ao art. 1059 do CC, e lhe dar provimento em parte, para reconhecer que o
rompimento do contrato nas condições aceitas pela egrégia Câmara
(inadimplemento imputável ao recorrido, que diminuiu a vantagem econômica do
autor, esvaziou a apólice, alterou a base do negócio e faltou com o dever de
colaboração) e deferir indenização que não corresponde ao interesse positivo, mas
deve de algum modo reparar a perda da expectativa que decorria da existência do
contrato, uma vez que o acórdão recorrido afirmou ter havido "diminuição da
vantagem econômica do contratado". Arbitro a indenização à falta de outros
elementos, em 10% sobre o valor das comissões recebidas durante o tempo de
vigência do contrato (22.9.89 a 31.12.90). Ampliada a procedência do pedido na
inicial, altero a distribuição dos ônus da sucumbência, a partir do decidido no r.
Documento: IT57717 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 30/04/2001 Página 16 de 17
Superior Tribunal de Justiça
acórdão, impondo à autora 30% dessas verbas, e ao réu 70%.
4. Quanto ao mais, estou de inteiro acordo com o em. Min. Relator.
Com isso, com respeitosa vênia, conheço do recurso em maior extensão,
e nessa parte lhe dou parcial provimento.
É o voto.

Documento: IT57717 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 30/04/2001 Página 17 de 17
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL N° 107.426 - RS

VOTO

O SR. MINISTRO SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA:


Sr. Presidente, peço vênia a V. Exa. para acompanhar o Sr.
Ministro-Relator, conhecendo em parte do recurso e, nessa parte, dando-lhe
provimento.

Documento: IT57717 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 30/04/2001 Página 18 de 17
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL N° 107.426 - RS

VOTO

O SR. MINISTRO SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA:


Sr. Presidente, peço vênia a V. Exa. para acompanhar o Sr.
Ministro-Relator, conhecendo em parte do recurso e, nessa parte, dando-lhe
provimento.

Documento: IT57717 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 30/04/2001 Página 19 de 17
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL N° 107.426 - RS

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA:


Sr. Presidente, acompanho o voto do eminente Ministro-Relator, apenas
por não haver nenhuma demonstração, como bem destacado por S. Ex.a, da
ocorrência dos prejuízos.
Em face das peculiaridades do caso concreto, acompanho o eminente
Ministro- Relator.

Documento: IT57717 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 30/04/2001 Página 20 de 17
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL N° 107.426 - RS

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA:


Sr. Presidente, acompanho o voto do eminente Ministro-Relator, apenas
por não haver nenhuma demonstração, como bem destacado por S. Ex.a, da
ocorrência dos prejuízos.
Em face das peculiaridades do caso concreto, acompanho o eminente
Ministro- Relator.

Documento: IT57717 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 30/04/2001 Página 21 de 17
Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA

Nro. Registro: 1996/0057519-3 RESP 107426 / RS

PAUTA: 05/09/2000 JULGADO: 20/02/2001

Relator
Exmo. Sr. Min. BARROS MONTEIRO

Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Min. RUY ROSADO DE AGUIAR

Subprocurador-Geral da República
EXMA. SRA. DRA. CLAUDIA SAMPAIO MARQUES

Secretário (a)
CLAUDIA AUSTREGESILO DE ATHAYDE BECK

AUTUAÇÃO

RECTE : AMOPREV ADMINISTRADORA E CORRETORA DE SEGUROS


LTDA
ADVOGADO : FERNANDO ANTONIO ZANELLA E OUTROS
RECDO : SINDICATO DOS TRABALHADORES NA INDUSTRIA DE
ENERGIA ELÉTRICA NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL -
SENERGISUL
ADVOGADO : CARLOS JOSIAS MENNA DE OLIVEIRA

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia QUARTA TURMA ao apreciar o processo em


epigrafe, em sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Ruy Rosado
de Aguiar, conhecendo em parte do recurso e dando-lhe provimento em maior
extensão, e do voto do Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, acompanhando o
voto do Sr. Ministro-Relator, a Turma, conheceu do recurso em parte e, nessa parte,
deu-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Vencido em parte o
Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar.

Documento: IT57717 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 30/04/2001 Página 22 de 17
Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA

Nro. Registro: 1996/0057519-3 RESP 107426 / RS

PAUTA: 05/09/2000 JULGADO: 20/02/2001

Relator
Exmo. Sr. Min. BARROS MONTEIRO

Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Min. RUY ROSADO DE AGUIAR

Subprocurador-Geral da República
EXMA. SRA. DRA. CLAUDIA SAMPAIO MARQUES

Secretário (a)
CLAUDIA AUSTREGESILO DE ATHAYDE BECK

AUTUAÇÃO

RECTE : AMOPREV ADMINISTRADORA E CORRETORA DE SEGUROS


LTDA
ADVOGADO : FERNANDO ANTONIO ZANELLA E OUTROS
RECDO : SINDICATO DOS TRABALHADORES NA INDUSTRIA DE
ENERGIA ELÉTRICA NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL -
SENERGISUL
ADVOGADO : CARLOS JOSIAS MENNA DE OLIVEIRA

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia QUARTA TURMA ao apreciar o processo em


epigrafe, em sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Ruy Rosado
de Aguiar, conhecendo em parte do recurso e dando-lhe provimento em maior
extensão, e do voto do Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, acompanhando o
voto do Sr. Ministro-Relator, a Turma, conheceu do recurso em parte e, nessa parte,
deu-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Vencido em parte o
Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar.

Documento: IT57717 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 30/04/2001 Página 23 de 17
Superior Tribunal de Justiça
Não participou da votação o Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior, em virtude
de ausência ocasional à sessão de 05.09.2000.

O referido é verdade. Dou fé.

Brasília, 20 de fevereiro de 2001

CLAUDIA AUSTREGESILO DE ATHAYDE BECK


Secretário(a)

Documento: IT57717 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 30/04/2001 Página 24 de 17

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