Sinos Pombeiro
Sinos Pombeiro
Sinos Pombeiro
Resumo
Os trabalhos arqueológicos tutelados pelo IPPAR no mosteiro de Pombeiro, têm vindo a
revelar na última década um importante património arqueológico ligado à indústria
artesanal da fundição de sinos na época Medieval. Este é constituído por um total de
quatro áreas de moldagem e fundição, localizadas na nave central da igreja e claustro,
das quais duas já foram alvo de estudo, encontrando-se as outras duas pendentes de
escavação.
Abstract:
The archaeological work in ward to IPPAR in the Monastery of Pombeiro has been
revealing in the last decade an important archaeological patrimony related to the manu-
facture industry of bell foundry during medieval times. It is constituted by a total of four
areas of moulding and melting, located in the central nave of the church and cloister,
two of which have already been subjected to studies, while two others are pending of
excavation.
*
Arqueólogo. Direcção da intervenção arqueológica do Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro.
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No entanto a relação dos sinos com o mosteiro não zia os custos consequentes de longas deslocações,
termina aqui, continuando no tempo até à sua extinção como permitia manter todo o processo longe de olha-
em 1834. Se a ferramenta fundamental para compre- res indiscretos que não precisavam de aceder a uma
ender esta relação na Idade Media são os restos arque- informação que se considerava um segredo gremial
ológicos escavados, a documentação escrita e as pe- ao alcance de poucos.
ças conservadas são igualmente importante para estu-
dar a sua evolução até a época Contemporânea. 3. O fosso de fundição da igreja
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Figura 3. Planta do fosso após fundição e após utilização da câmara de cozedura. Ricardo Erasun.
Os tijolos, com umas dimensões de 0.4 m x 0.25 A presença de carvões e bronze fundido entre a pasta
m x 0.1 m, apresentavam um cerne de barro fino, bem vítrea indica que estes seriam os tijolos usados na so-
decantado, misturado com caules picados de gramíneas leira da Câmara de fundição que estiveram em contac-
e algum elemento não plástico, de entre 0.5 cm e 1 cm to directo com o metal fundido (Fig.4).
de diâmetro. Nenhuma das faces dos fragmentos apre- O espólio exumado do interior do fosso, perten-
sentava um grau de rubefracção anormal, pelo que cente ao molde do sino fundido revelou, após um mi-
consideramos que pertenceriam às partes do forno que nucioso exame, que pertencia a quatro sinos de dife-
não estariam em contacto directo com o metal. rente perfil e tamanho, sendo possível reconstituir três.
Por sua vez, havia outro grupo de fragmentos de A análise visual dos fragmentos permitiu-nos com-
tijolo que, com as mesmas dimensões e idêntica pasta, provar que na elaboração dos quatro moldes se em-
apresentavam no seu cerne um marcado processo de pregaram técnicas que, não sendo idênticas, são muito
calcinação do barro, terminando à superfície numa similares às empregues actualmente nas oficinas de
pasta vítrea de 2cm de espessura, resultante da expo- fundição de sinos existentes em Portugal e Espanha
sição prolongada a temperaturas superiores a 1200ºC. (Erasun, 2007: 106).
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Os moldes de capa e macho estavam confecciona- fragmento identificável de capa, pertencente a um sino
dos com um barro fino, bem decantado, sem a presen- de menores dimensões com um ombro em ângulo ou
ça de elementos não plásticos, em cujo cerne se obser- vértice.
va abundante caule picado de gramíneas e inclusive Por último e já dentro das camadas de enchimento
sementes carbonizadas, que podem ter sido incorpo- da câmara de cozedura, apareceram entre o espólio
radas no barro mediante o uso de estrume de ruminan- exumado 10 fragmentos de capa de ombro arredonda-
tes (Sánchez Real, 1982: 30) ou através de adição de do e um fragmento de coto com o arranque do suspiro
palha picada, a fórmula mais comum empregue nos de um sino de proporções intermédias aos dois anteri-
nossos dias. ores (Fig.5)
No cerne dos fragmentos da capa do molde maior Segundo indica Peixoto Real na sua obra manus-
detectou-se o uso de fio têxtil de aproximadamente crita de 1905 sobe o Mosteiro de Pombeiro: “…o sino
1mm de diâmetro que, pela sua disposição no molde, que fica á direita d´este e que da as meias horas tam-
seria enrolado horizontalmente a toda a volta da capa. bém é uma relíquia da primitiva egreja pois foi fundi-
Este sistema, usado para reforçar o cerne da capa, é do na era de 1442 (anno de christo de 1404) segundo
mencionado no livro de contas de 1405, mas substitu- a seguiente inscrição que o circunda: DE MIL CCCC
indo o fio por arame (Sánchez Real, 1982: 45). XLII ANNOS ESTE SINO ERA DOM VASCO LOU-
Do texto original, gravado na pança da capa do sino RENÇO” (Real, 1905: 81)
de maiores dimensões, conservavam-se quatro carac- A inscrição faz menção a D. Vasco Lourenço como
teres incompletos em letra gótica maiúscula, emoldu- Abade de Pombeiro na Era de 1442 o que cria uma
rados inferiormente por dois cordões plásticos, para- certa discordância entre a data e o nome gravados no
lelos entre si e horizontais face ao vaso. O corpo dos sino. Segundo a Benedictina Lusitana, existiu de fac-
caracteres apresentava uma secção em bisel, sendo to um D. Vasco Lourenzo como Abade de Pombeiro
destacável a ausência do típico rectângulo emolduran- que governo o Mosteiro pela Era de 1402, assim como
do o carácter, próprio das letras recortadas em cera um D. Frey Vasco Lourenço que governou esta mes-
que se documentam no sinos desde pelo menos o sé- ma casa entre a Era de 1437 e 1450 (Santo Tomas,
culo XIV. A inspecção ocular dos fragmentos não per- 1974: 73). Perante esta informação, há que pensar que
mitiu precisar se a letra foi gravada com um punção a inscrição faz referencia ao segundo abade, de nome
directamente na capa ou se esta foi previamente gra- e data coincidentes, com a consequente omissão no
vada num carimbo para depois tirar o positivo recor- texto por parte do mestre sineiro a qualidade de frade
tado em cera (Erasun, 2007: 107). do religioso.
Além dos restos mencionados, apareceu um único A referência dada por Peixoto Real relativa a este
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sino medieval é de grande interesse se consideramos pormenorizado dos restos nos poderia colocar (Erasun,
que a moeda encontrada no fosso de fundição é de tem- 2006: 295).
pos de D. João I, Rei de Portugal entre 1385 e 1433, Documentaram-se na sondagem 17, no paraíso do
pelo que não seria descabido pensar que algum dos desaparecido claustro medieval três fossas escavadas
três sinos identificados no fosso do interior da igreja, no saibro que, no seu conjunto ocupavam uma área de
seja o referido pelo autor, sino este que sobreviveu à 22.5m2, empregues na moldagem e fundição de sinos.
destruição das torres de fábrica medieval para ser in- O fosso, de planta elíptica, apresentava umas di-
corporado às maneiristas e desaparecido do mosteiro mensões de 3.44m de comprimento por 1.62m, na sua
em data posterior a 1905. parte mais larga, 1.07m na sua parte mais estreita e
1.38m de altura desde o nível de circulação do fosso
4. O fosso de fundição do Paraíso até o topo do mesmo, orientando-se o seu eixo longi-
do Claustro tudinal N-S, com o interior dividido em dois: na cabe-
ceira a câmara de cozedura e aos pés a zona de traba-
O segundo fosso foi localizado no paraíso do claus- lho, onde mestre e ajudante se situariam para poder
tro no decorrer da campanha de escavação do ano 2003. introduzir o combustível no canal de alimentação da
A experiência adquirida no ano 2000, com a escava- câmara (Fig.6).
ção do primeiro fosso de fundição de sinos descoberto A câmara de cozedura UE [1343], parcialmente
no interior da igreja, ajudou a abordar o achado com destruída, tinha planta em forma de “U” com umas
maior segurança em termos de registo, permitindo-nos dimensões interiores de 1.50 m de comprimento por
implementar para tal fim uma metodologia1 de reco- 1.66 m de largura, apresentando parede vertical e fun-
lha de informação baseada na já empregue mas com a do horizontal a 0.60m de profundidade. A parede da
incorporação de certas melhorias que serviram para câmara é feita parcialmente com pedras irregulares de
nos antecipar às futuras questões que o estudo mais granito ligadas com barro e sem revestimento de argi-
1
Esta metodologia foi apresentada no 3º Simpósio de Mineração e Metalurgia Históricas no Sudoeste Europeu intitulado: Métodos y
Técnicas para la excavación de un foso de fundición de campanas.
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Figura 7. Disposição original dos fragmentos de capa segundo o perfil ideal de um sino do Séc. XIII. Ricardo Erasun.
ram vestígios de argila crua, telhas partidas ou aduelas, de 1160-1260, datação muito similar à obtida através
materiais comuns na moldagem do molde, achamos do Calib Ver 5.0.1 que, com um 87% de probabilida-
que esta poderia ter sido a zona destinada à constru- de, apresentou uma data para 1 sigma de 1154-1259
ção do molde, sendo empregue no processo uma cércea (Erasun, 2006: 302). A conclusão, obtida após o estu-
vertical (Fig.8). do dos restos, inclina-nos a pensar que a estrutura per-
A análise visual dos moldes encontrados, verifi- tence a dois momentos de fundição, enquadrados na
cou o uso de materiais e técnicas quase idênticos aos técnica descrita por Theophilus Lombardus, entre o
empregues na elaboração dos moldes documentados século XII e XIII, período de implantação e desenvol-
no fosso do interior da igreja. A diferença principal vimento arquitectónico do Mosteiro de Pomberio, pelo
radicava no facto de que o cerne dos fragmentos não que poderíamos estar perante os vestígios do primei-
apresentava o uso de fio têxtil ou arame como reforço ros sinos fundidos no Mosteiro.
da estrutura mas sim, o uso de um pano de tecido cujo
negativo ficou gravado no barro e que poderia ter uma 5. Os fossos das alas claustrais
função similar à dos panos de fibra de cânhamo em-
pregues actualmente em algumas oficinas sineiras, os Nos últimos meses da campanha de 2005 foram de
quais são colocados durante a moldagem da capa en- novo localizados no paraíso do claustro, na sondagem
tre a segunda e terceira camada de barro para impedir 15 e 19, vestígios materiais em forma de pingos de bron-
a dilatação e dar maior resistência ao molde (Erasun, ze e pequenos fragmentos de molde de sino que anun-
2006: 301). ciavam a existência de mais duas áreas de fundição.
Entre os fragmentos recolhidos apenas se identifi- Os vestígios localizados na sondagem 15, após le-
cara um fragmento de macho com 8 cm de espessura, vantamento dos níveis arqueológicos de época moder-
dois de capa pertencente ao dente e à cabeça com par- na, pertenciam aos restos estruturais de um fosso de
te do perfil de um coto de secção circular de 3cm de fundição de sinos de grandes proporções e em óptimo
diâmetro e dois fragmentos de capa decorados com estado de conservação. Ainda que a estrutura não se
motivos vegetalistas (Fig.7). encontrasse na íntegra dentro dos limites da sonda-
A datação rádio-carbonica realizada a uma amos- gem, escavaram-se, após ampliação da sondagem, os
tra de carvões pertencente à primeira combustão do- primeiros níveis de enchimento do fosso para nos cer-
cumentada na câmara de cozedura, UE [1348], confir- tificarmos que de facto estávamos perante um fosso
ma a cronologia do séc. XII-XIII aportada pelo escas- de fundição de sinos. O resultado foi o que considera-
so espólio cerâmico recolhido (séc. XIII-XIV). A data mos até a data a melhor e mais completa amostra da
obtida nos laboratórios de Beta Analytic Inc, após tecnologia de fundição de sinos de época medieval no
calibração 1 sigma com uma probabilidade do 68%, é mosteiro de Pombeiro (Fig.9).
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6. Idade Moderna
e Contemporânea
Se impressionante é a informação
Figura 9. Vista parcial do fosso. Ricardo Erasun. que possuímos relativa à fundição de
sinos na Idade Média no mosteiro, pela
Por motivos de calendarização e perante a comple- sua quantidade e qualidade, não acontece assim para
xidade dos vestígios estruturais revelados, optou-se os períodos posteriores. Sabemos que as torres
unicamente por deixar ampliada a sondagem, retiran-
do mecanicamente os depósitos de época contempo-
rânea e não continuando a escavação, sendo o fosso
acondicionado com manta de geotêxtil e tapado com
areia de baixa granulometria dessalinizada e isenta de
matéria orgânica, para a sua melhor preservação à es-
pera de uma futura intervenção.
Por último, a escavação da Sondagem 19, possibi-
litou a identificação dos níveis de entulho de nivela-
mento de obra, prévios à construção do claustro
maneirista, correspondentes à 2ª Fase de desenvolvi-
mento arquitectónico do Mosteiro de Pombeiro, já na
Época Moderna, caracterizada pela destruição das fá-
bricas medievais, exceptuando a igreja, substituídas
por um novo edifício, articulado como o anterior, em
torno de um claustro de proporções notoriamente mai-
ores que o primeiro.
Os entulhos, que se encontravam bem delimitados
pelo interface de destruição da parede interior da ga-
leria claustral Oeste, cobriam os escassos restos con-
servados da parede medieval, desmontada até à pri-
meira fiada do alicerce [U.e.2155] e um piso interior,
associado a esta, em lajes de pedra, situado à cota de -
1.8m em relação ao nível de circulação da galeria do Figura 10. Vista da galeria claustral e ala Oeste do claustro me-
claustro medieval. dieval com a área fundição no primeiro termo, após conclusão
No canto NW desta dependência de tipo cave, numa da campanha de 2005. Ricardo Erasun.
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maneiristas de Pombeiro tinham capacidade para al- Durante o século XVIII fundiram-se quatro sinos
bergar um máximo de doze sinos, tantos quantos ras- e uma campainha para as torres e realizaram-se dife-
gos abertos nas suas janelas, oito para a torre Norte e rentes trabalhos de manutenção e concerto como o re-
quatro para a Sul, sendo seis das peças de proporções alizado no Triénio de 1722-17256, sendo Abade Frei
medias ou grandes. Bartholomeu de S. Jerónimo, “num dos grandes sinos
Infelizmente, não possuímos documento algum de da torre, que há muitos anos que não tangia por falta
carácter contratual no qual esteja indicado o nome dos de alguns consertos que necessitava se consertou, de
mestres sineiros que tenham fundido sinos para sorte que já tange e repica nas segundas classes” e no
Pombeiro até à extinção da Ordem em 1834 pelo que, Triénio de 1749-17527 com a realização de duas por-
ainda que conhecendo o valor pago por alguns destes cas novas pintadas a vermelho e arranjo dos badalos.
trabalhos, não sabemos se a casa tinha preferência por Para os novos sinos, era aproveitado, aquando exis-
um determinado mestre ou família, se estes provinham tia, o metal dos sinos partidos. No Triénio de 1753-
de cidades próximas como Guimarães e Braga, com 17558, sendo Abade Frei Bento de S. Luís, “fundiosse
uma industria sineira florescente já desde o século hum sino de outro que estava quebrado para a torre, que
XVII e se os sinos ainda eram fundidos ao pé de torre tem sette arobas”. Mas perece que no século XVIII em
ou eram acarretados já fundidos. Pombeiro, os sinos eram comprados para acrescentar o
Os Estados do Mosteiro de Pombeiro dão conta, número de vasos das torres e não para substituições,
triénio a triénio das fundições, refundições e repara- pois não se volta a mencionar na documentação o uso
ções sofridas pelos sinos das torres desde o Triénio de de sinos velhos para fundição. No Triénio de 1753-1755
1629 até ao de 1822. comprou-se uma campainha para tocar a refeitório, a
A primeira noticia que temos relativa aos sinos das acólitos e Sacristão9. No Triénio de 1755-175810, sendo
torres da igreja corresponde ao Triénio de 1629-1632, Abade Frei Manuel Santos, fundiu-se uma campainha
sendo Abade Frei Balthesar da Apresentação2, na qual para a torre e no Triénio de 1780-178311, sendo Abade
se indica a compra de uma porca3 nova e os seus fer- Frei Francisco de Jesus Maria de Braga, “fundiram-se
ros para o sino grande. dois sinos, fizeram-se porcas novas para substituir as já
Parece que no século XVII a passagem do tempo danificadas e aproveitou-se para pintar as outras”. Se-
foi benigna com os sinos de Pombeiro pois a seguinte gundo as contas do livro das obras foram pagos pelos
referencia a eles, aparece quase quinze anos depois, dois sinos 84$800 réis, 171$80 réis para o ferreiro, fer-
Triénio de 1644-16474, segundo a qual apenas são ragens, ferro, chumbo e estanho, 6$090 réis para pagar
substituídas, em todos os sinos, as cordas por cadeias novamente chumbo e estanho e 51$680 para pagar um
de ferro para estes poderem ser tangidos. mineiro e a quem o ajudou na furna12, perfazendo um
Este parêntesis na fundição é rompido no Triénio total de 314$37 réis.
de 1665-1668 com o Abade Frei Mathias de Cyrne, que Ainda dentro do século XVIII, Triénio de 1798-
encarrega a fundição do sino de São Bento para o qual 1801, sendo Abade Frei Thome de Stº. António, fun-
deu 36$000 réis, sendo pagos pela casa 27$520 réis5. diu-se o sino denominado como “sino maior”, sino que
2
ADB, Monástico Conventual, Congregação de São Bento, Pasta 121, [fl.5r]. Estado do Mosteiro de Pombeiro. Triénio 1629-1632.
3
Denomina-se porca ou cabeçalho ao contrapeso de madeira ou metal fixado aos cotos do sino.
4
ADB, Monástico Conventual, Congregação de São Bento, Pasta 121, [fl.6v]. Estado do Mosteiro de Pombeiro. Triénio 1644-1647.
5
ADB, Monástico Conventual, Congregação de São Bento, Pasta 121, [fl.6v]. Estado do Mosteiro de Pombeiro. Triénio 1665-1668.
6
ADB, Monástico Conventual, Congregação de São Bento, Pasta 121, [fl.7v]. Estado do Mosteiro de Pombeiro. Triénio 1722-1725.
7
ADB, Monástico Conventual, Congregação de São Bento, Pasta 121, [fl.15v]. Estado do Mosteiro de Pombeiro. Triénio 1749-1752.
8
ADB, Monástico Conventual, Congregação de São Bento, Pasta 121, [fl.19v]. Estado do Mosteiro de Pombeiro. Triénio 1753-1755.
9
Idem
10
ADB, Monástico Conventual, Congregação de São Bento, Pasta 121, [fl.11v]. Estado do Mosteiro de Pombeiro. Triénio 1755-1758
11
ADB, Monástico Conventual, Congregação de São Bento, Pasta 122, [fl.24v]. Estado do Mosteiro de Pombeiro. Triénio 1780-1783.
12
ADB, Monástico Conventual, Congregação de São Bento, Pasta 121. Estado de 1783. Contas do livro das obras.
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não sabemos se correspondia ao referido no triénio de na qual se indica que “fundiu-se e acrescentou-se com
1629-1632 como “sino grande”, para o qual “acres- algumas arrobas um sino que quebrou”.
centam um sino outro pequeno”13. É com certeza, como consequência do processo de
No eram fundidos sinos somente para o Mosteiro. extinção das ordenes monásticas em 1834 e a venda
Para a igreja de Julgueiros foram fundidos dois sinos do património do Mosteiro em hasta pública, que os
nos Triénios de 1798-180114 e 1804-180715, sendo Aba- sinos das torres foram vendidos, os mais degradados
des Frei António das Neves e Frei Thomas de Stº como metal ao peso para refundição e os que se en-
António. contravam em melhor estado para outras igrejas, de-
A última referência feita nos Estados, relativa a si- saparecendo paulatinamente das torres.
nos corresponde ao Triénio de 1807-181016, sendo Deste modo, em 1905 apenas se conservavam qua-
Abade pela segunda vez Frei Thome de Stº Antonio, tro sinos nas torres (Fig.11). A já mencionada obra de
Peixoto Leal da conta de que “cada torre tem dous
sinos, dos quais três teem denominação, sino da se-
nhora, guerrida do senhor e sino de São Bento. O sino
grande que dá as horas foi colocado em 1780 e o sino
que fica á direita d´este e que da as meias horas tam-
bém é uma relíquia da primitiva egreja pois foi fundi-
do na era de 1442 (anno de christo de 1404) segundo
a seguiente inscrição que o circunda: DE MIL CCCC
XLII ANNOS ESTE SINO ERA DOM VASCO LOU-
RENÇO” (Leal, 1905: 81)
Actualmente o património sineiro do mosteiro
de Pombeiro mantém-se em quatro sinos, todos na
torre Norte. O mais antigo é um dos dois sinos fun-
didos no Triénio de 1780, dedicado a Santa
Escolástica cuja inscrição no terço e médio-pé em
letra capital maiúscula diz: “CONGREGATE
POPULUM IHS VOCAT CEOTUM” e “SENDO
DE ABBADE O.M.R.P.P FR FRANCISCO DE
JEZUS MARIA DE BRAGA ANNO DE 1780”. O
sino, de autoria anónima pois não ostenta sinete,
apresenta bom estado de conservação sendo ainda
usado para dar as horas.(Fig. 16)
Os três restantes, fundidos em 1919 com números
sequenciais, saíram da mesma oficina de Braga para
substituir os três sinos citados por Peixoto Leal. São
Figura 11. Fotografia de finais do séc. XIX inícios do séc. XX da sinos de perfil gótico ou antigo, idênticos na sua fac-
fachada da igreja do Mosteiro de Pombeiro ainda com os sinos tura mas diferentes em peso e medida, variando entre
descritos por Leal. AFMB – Arquivo da Família Marçal Brandão.
Álbum de autographos Nº.1, de AMB, Propriedade de Maria Luísa os 105 cm de diâmetro e 720 kg aproximados de peso
Salgado Ferreira. do nº 4219 e os 85 cm de diâmetro e 400 kg aproxima-
13
ADB, Monástico Conventual, Congregação de São Bento, Pasta 122, [fl.15r]. Estado do Mosteiro de Pombeiro. Triénio 1798-1801.
14
ADB, Monástico Conventual, Congregação de São Bento, Pasta 122, [fl.15v]. Estado do Mosteiro de Pombeiro. Triénio 1798-1801.
15
ADB, Monástico Conventual, Congregação de São Bento, Pasta 122, [fl.13v]. Estado do Mosteiro de Pombeiro. Triénio 1804-1807.
16
ADB, Monástico Conventual, Congregação de São Bento, Pasta 122, [fl.10v]. Estado do Mosteiro de Pombeiro. Triénio 1807-1810.
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dos do n º422117. (Fig. 17, 18 e 19) Apresentam ins- <<Receby do m.to Ver.do S.or conigo bento Maciel
crição em letra capital humanística no médio-pé: fabriq.º desta S. ta Sée sinq.ta mil e seis sentos reis q.
MANDADO REFUNDIR PELA JUNTA DA montou o sino que fis de S. Giraldo, entre o feitio e
PAROCHIA NO ANNO DE 1919, tendo no pé cada acréscimo do metal novo e vara de fero e conserto de
um o número de série 4219, 4220 e 4221. badalo, q. ao tudo montou a d.ta quantia e por claresa
O sinete é da FABRICA DE SINOS REBELLO de verdade foi esta q. asiney, do coal me dou por pago
DA SILVA & Cª. BRAGA, propriedade do Sr. Narci- e satisfeito oje 19 8.bro de 1708>>
so António Rebello da Silva, tendo gravado nos ex-
tremos: 1670 MANUEL FERREIRA GOMES; 1750 Manuel Ferreira Gomes
JOÃO FERREIRA LIMA, fábrica que já tinha fundi- Em 1678 funde dois sinos para o mosteiro de S.
do sinos para Pombeiro numa data anterior a 1910 Martinho de Tibães, com as marcas EMANUEL
(Araújo, 1910: 33). FERREIRA GOMESIUS FECIT e FACIEBAT
EMMANUEL FRR.A GOMES mandados fundir pelo
7. A família Rebello da Silva Doutor Frei Jerónimo de São Tiago, duas vezes Geral
Beneditino (Jerónimo, 2003: 42), e refunde em 1708
No ano de 1910 a Firma Rebello da Silva & Cª o sino de S. Geraldo da Sé de Braga, fundido em 1501
encarrega ao jornalista bracarense M. Araújo a redac- pelo mestre Matricalense, do qual conservou na ínte-
ção de uma monografia sobe a história da família des- gra a sua primitiva inscrição.
de as suas origens em Vila Real. O resultado deste Exerce igualmente como mestre de artilharia du-
trabalho é uma completa árvore genealógica que co- rante o reinado de D. Pedro II, executando magníficas
meça nos primórdios do século XVII, a qual nos limi- peças de diferentes calibres18.
tamos a acrescentar mais alguns dados recolhidos de O seu filho António Ferreira Gomes, nascido em
outras fontes consultadas. 21 de Junho de 1679, casou em 30 de Abril de 1708,
A saga familiar surge com Gaspar Alvares, na igreja de S. João do Souto com Antónia de Barros.
picheleiro mor de S. Domingos de Vila Real e mora- Continua com a tradição familiar e ajuda o pai a fun-
dor na mesma vila em 1613, segundo provisão de D. dir em 1713 e 1720, sinos para as Capuchinas e o Con-
Filipe II funde um sino para a igreja do Populo em vento de Santa Clara de Guimarães, ainda com o sinete
Braga em 1598 (Araújo, 1910: 12). Casado com Isa- EMMANUEL FRR GOMES FECIT.
bel Fernandes teve em 4 de Maio de 1624 a Pedro João Ferreira Lima, filho de António Ferreira Go-
Ferreira, que casa em Villa Real em 25 de Fevereiro mes e Antónia de Barros. Nascido em 24 de Julho de
de 1647 com Maria de Oliveira Gomes. 1720, na rua das Aguas. Casou em 1758 em S. Este-
Fruto deste matrimónio nasce Manuel Ferreira Go- vão de Geraz com Susana Antónia, Filha de António
mes em 13 de Março de 1648. Casa em Braga, na igreja Alves da Silva e de Maria Vieira de Brito. Toma conta
de S. Victor, em 17 de Março de 1670, com Catharina do negócio no ano de 1750, controlando grande parte
Rodrigues, filha de António Francisco, da Rua de S. do mercado em Portugal e espalhando os seus servi-
Lazaro, fundando nesse mesmo ano uma fábrica de si- ços pela vizinha Espanha e Brasil. Os seus vasos iden-
nos em Braga. Entre os numerosos exemplares fundidos tificam-se com o sinete: JOANNES FERREIRA LIMA
pelas suas mãos destaca o sino da torre norte da igreja do ME FECIT BRACARAE (Fig.12), sendo este, usado
Populo, antigo convento de S. Agostinho, Braga datado até pelo menos 1910 no sino da igreja de São Cristó-
de 1677, com o sinete M.EL FRR.A GOMES FECIT. vão em Évora.
17
Informação obtida da tabela de Dimensões e pesos da Fábrica de sinos Rebello da Silva & C.ª, Braga (Araújo, 1910: 60).
18
Em 1676 funde uma boca de fogo de 4 libras de calibre decorada com as armas reais portuguesas, duas asas de golfinhos com o brasão
de armas de Marques de Minas e por baixo um sinete com a inscrição: DOM PEDRO PRINCEPE DE PORTUGAL GOBERNANDO
D. ANTº LUIZ DE SOUZA MARQUES DAS MINAS AS ARMAS DA PROVCª DO MINHO ME FRRª GOMES ME FEZ 1676
(Catalogo das Collecções do Museu de Artilharia reorganizado em 1897, Lisboa, 1897, pp.99)
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Calculamos esta cifra considerando que os números sequenciais 4219-4221, apresentados pelos sinos de Pombeiro, corresponde ao
número total de sinos fundidos pela família até a data de 1919, ainda que na publicidade à empresa com data de 03.01.1918 o número
indicado pela própria firma é de mais de cinco mil sinos, fundidos desde 1670 até essa data.
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Publicidade 03.01.1918, p.4.
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Num comunicado, dirigido de Braga ao primeiro de Janeiro, e publicado por esta folha em 23 de Setembro de 1893, leia-se: “As
importantes oficinas de fundição de sinos Rebello da Silva & C. e de relojoaria de Francisco José Rodrigues, acabam de ser encomendados
um sino grande afinado por música, e um relógio para a torre da igreja do Senhor dos Aflitos, de Lousada”. (Sousa Viterbo, 1915: 50).
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Temos referência que no ano de 1600 morava na Vila de Guimarães Bartholameu Somariva, mestre de artilharia e sinos (Carvalho,
1944:79).
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Figura 19. Sinos da família Rebello da Silva, fundido em 1919