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5 - As Teorias Pós 2 Guerra Mundial

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Teorias da Arquitetura,

do Urbanismo e
do Paisagismo
Material Teórico
As Teorias pós 2ª Guerra Mundial

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Franklin Roberto Ferreira de Paula

Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
As Teorias pós 2ª Guerra Mundial

• Crítica e Contracrítica na Segunda Metade do Século XX;


• O Team X e a Crítica ao Funcionalismo.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Compreender os caminhos da teoria da arquitetura a partir de 1950 diante de um
novo cenário socioeconômico, político, tecnológico e cultural e a sua reverberação
na prática arquitetônica.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE As Teorias pós 2ª Guerra Mundial

Crítica e Contracrítica na
Segunda Metade do Século XX
A transição entre as duas metades do século XX é marcada por uma série de
acontecimentos que estabelecem um momento de inflexão na narrativa da história
da arquitetura. Com o suposto enfraquecimento do Movimento Moderno no final da
década de 1950, marcado não somente pelo fim dos Congressos Internacionais da
Arquitetura Moderna (CIAM) e pelo falecimento de alguns personagens responsáveis
pela formulação do projeto moderno nas décadas seguintes – como Le Corbusier
(Roquebrune-Cap-Martin, 1965), Walter Gropius (Massachusetts, 1969), Ludwig
Mies van der Rohe (Chicago, 1969) –, mas também pelo surgimento de novos gru-
pos, como o TEAM X.

O primeiro Congresso Internacional da Arquitetura Moderna [Còngres Internationaux


Explor

d’Architecture Moderne] ocorre em La Sarraz, Suíça, em 1928, e reúne vinte e quatro ar-
quitetos de diversas nacionalidades, entre eles Le Corbusier, além de Siegfried Giedion,
historiador de arte, eleito o secretário-geral da entidade. O objetivo desses arquitetos, por
meio dos CIAM, é formalizar, potencializar e divulgar internacionalmente as premissas do
modernismo. Entre a primeira e a última conferência que aconteceram em Dubrovnik, em
1956, os CIAM passam por três etapas. A primeira é liderada pelos alemães e é constituída
pelos CIAM II e III, cujas pautas são, respectivamente, a unidade mínima de habitação e o
desenvolvimento racional do lote. Ainda no CIAM II, é estabelecido o grupo de trabalho
chamado Comitê Internacional pela Resolução do Problema da Arquitetura Contemporâ-
nea [Comité International pour la Résolution du Problème de l’Architecture Contemporaine
– CIRPAC] responsável por preparar os temas a serem discutidos nos congressos seguintes.
A segunda etapa dos CIAM implicada na retomada de Le Corbusier como protagonista nos
congressos de Atenas (IV), em 1933, e de Paris (V), em 1937, sendo que os temas abor-
dados são, respectivamente, a cidade funcional, moradia e recreação. O destaque se dá ao
CIAM IV em Atenas, em que se aprofundam as discussões do ponto de vista urbanístico e
cujo fruto dessas reflexões é a Carta de Atenas, documento que reúne declarações sobre as
condições das cidades e propostas para a correção dessas condições. O terceiro estágio dos
CIAM reúne três conferências, Bridgewater (VI, 1947), Bergamo (VII, 1949) e Hoddesdon
(VIII, 1951). Em Bridgewater, seus membros se propõem a revisar a Carta de Atenas ao des-
tacar os aspectos frágeis do documento e alegam que a cidade, além de ser funcional, deve
criar um ambiente físico capaz de satisfazer as necessidades emocionais e materiais do
homem. O CIAM IX, realizado em Aix-en-Provence, em 1953, marca o rompimento decisivo
dos congressos. Nessa década, surge uma nova geração que contesta os valores defendidos
pelos cânones da modernidade e sugere uma revisão crítica, sobretudo daquilo que foi
debate em 1933 na Carta de Atenas e também do funcionalismo exacerbado sustentado
por Le Corbusier, Walter Gropius, entre outros. O CIAM X, realizado em Dubrovnik em 1956
marca o fim dos congressos e a ascensão do Team X que inaugura um novo cenário de dis-
cussões encabeçadas por Alison e Peter Smithson, Aldo van Eyck, Jacob Bakema, Georges
Candilis, Shadrack Woods, John Voelcker e William e Jill Howell em Otterlo em 1959.

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Organizados pelos jovens arquitetos nascidos nas primeiras décadas do século
em questão, um dos objetivos do TEAM X é questionar a tese modernista através
de propostas capazes de oferecer outra visão sobre os problemas da construção do
espaço habitado, tendo em vista o novo cenário que se estabelecia no panorama
mundial pós-guerra. Antes mesmo da ascensão dessa nova geração, Le Corbusier
já havia enviado uma carta ao congresso de 1956, em Dubrovnik, em que ele re-
conhece que a sua geração já não era mais capaz de lidar com os problemas con-
temporâneos e que, portanto, a nova geração deveria assumir tal responsabilidade.
São aqueles que hoje têm quarenta anos de idade, nascidos por volta de
1916 durante guerras e revoluções, e os que nessa época nem haviam
nascido, e estão hoje com vinte e cinco anos, os que nasceram por volta
de 1930, durante os preparativos para uma nova guerra e em meio a uma
profunda crise econômica, social e política, e que, portanto, se situam no
âmago do período presente, são esses os únicos indivíduos capazes de
sentir, pessoal e profundamente, os problemas concretos, os objetivos
a serem seguidos e os meios para alcança-los, e a patética urgência da
situação atual. São eles os que sabem. Seus antecessores foram excluídos,
ficaram de fora, não estão mais sujeitos ao impacto imediato da situação.
(FRAMPTON, 2003, p. 330)

Os questionamentos realizados por esses jovens arquitetos são postos na forma de


projetos, alguns executados, enquanto que outros, por beirarem a utopia, se validam
ainda na fase de proposta. Não obstante, as indagações dessa nova geração afirmam-
-se através de uma vasta publicação de importantes livros como: A imagem da cidade
(Kevin Lynch, 1960), Morte e Vida de Grandes Cidades (Jane Jacobs, 1961), Com-
plexidade e Contradição em Arquitetura (Robert Venturi), Arquitetura da Cidade
(Aldo Rossi), Território da Arquitetura (Vittorio Gregotti), ambos de 1966, Cidade
Colagem (Colin Rowe e Fred Koetter, 1978); entre vários outros títulos que colocariam
em xeque os preceitos modernistas.

Artigos, ensaios e trechos de obras importantes estão compilados no livro Uma nova agen-
Explor

da para a arquitetura: antologia teórica 1965-1995 de Kate Nesbitt. A autora organiza


cerca de 51 textos de autores variados, entre arquitetos de produção prática abrangente a
teóricos e intelectuais de outras áreas, em núcleos de temas específicos. Cada um dos textos
é precedido por uma apresentação escrita por Nesbitt em que ela oferece um panorama
geral do referido texto. De toda a sorte, o motivo dessa coletânea é abordar as diversas
linhas de pensamento que surgem a partir da década de 1960 com a crise da modernidade.

Percebe-se que há um reposicionamento por parte dos arquitetos que atravessa


o globo, desde os Estados Unidos, com a arquitetura populista de Venturi, passando
pelas estruturas fictícias dos ingleses do Archigram e chegando até as megaestru-
turas metabolistas de Kiyonori Kikutake. É evidente que essas inquietações, mui-
tas vezes pautadas por situações correlatas ao campo científico e tecnológico que
transcorrem o mundo na década de 1960, como a corrida espacial, implicam em
uma condição de contaminação bastante nítida nessas arquiteturas. Não somente a

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UNIDADE As Teorias pós 2ª Guerra Mundial

tecnologia, mas os movimentos socioculturais como o firmamento da contracultura


nessa década servem de estopim para a revisão da prática e das teorias arquitetôni-
cas e urbanas, frutos da arquitetura clássica e dominante até o momento.

Nesse cenário, as instituições de ensino, bem como os periódicos, transformam-se


em fontes férteis para a adoção dessa postura de caráter mais plural por parte dos
arquitetos que compõem essa nova geração. A Architetural Association School of
Architecture (AA) de Londres, fundada em 1847, o Institute for Architecture and
Urban Studies (IAUS), fundado por Peter Eisenman em Manhattan, em 1967, e o
Istituto Universitario di Architettura di Venezia (IUAV) são importantes locais que
fomentam a institucionalização da teoria arquitetônica através de simpósios, mesas-
-redondas e exposições.

No IAUS, Eisenman publica as revistas Oppositions e October e, apesar da fa-


lência do instituto em 1985, o seu modelo é ressuscitado pelo Chicago Institute for
Architecture and Urbanism (CIAU), entre 1987 e 1994. Do IUAV, sob direção de
Giuseppe Samonà (1945-1970), surgem grandes nomes, como o de Manfredo Tafuri
que, em 1968, funda o Instituto de História da Arquitetura, para onde são atraídos
pesquisadores interessados na teoria crítica e no marxismo e sua relação com arquite-
tura. Ainda que tenham nascido em Milão, Aldo Rossi e Vittorio Gregotti são nomes
importantes vinculados ao instituo, que formam o grupo de arquitetos neorraciona-
listas conhecido como a Escola de Veneza. Rossi se dedica à atividade editorial e à
pesquisa no IAUV, enquanto Gregotti dirige a revista Casabella desde 1982.

Outros periódicos internacionais também servem para alavancar as discussões


sobre a arquitetura do período pós-guerra. O escritório de arquitetura de Hening
Larsen, radicado em Copenhague, patrocina arquitetos dinamarqueses para publi-
carem a revista Skala: Nordic Magazine of Architecture and Art, entre os anos de
1985-1995. Em paralelo, a Skala Gallery se torna responsável por, além de rece-
ber exposições, também ser palco de conferências de arquitetos visitantes, transfor-
mando-se em uma pequena versão escandinava do IAUS.

O Japão passa então a publicar a revista bilíngue em japonês e inglês A+U


– Architecture and Urbanism, em 1971, tornando os projetos e ensaios mais
acessíveis ao Ocidente. A revista inglesa AD – Architectural Design admite a
mesma importância da A+U e da italiana Lotus, para as quais muitos arquitetos
colaboram simultaneamente.

As próprias instituições de ensino começam a elaborar periódicos com a finalidade


de contribuir com as discussões que surgem na segunda metade do século XX, seguindo
os moldes da Perspecta: The Yale Architectural Journal criada em 1952. A revista
VIA, da Universidade da Pensilvânia, e a Architectural Association Quaterly (AAQ)
começaram a ser publicadas em 1968. Ainda que a AAQ seja interrompida em 1982,
é retomada posteriormente com o título de AA Files.

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A Modulus e a Precis, vinculadas respectivamente às universidades da Virgínia e
de Colúmbia, aparecem em 1979, sendo que essa última para de ser publicada em
1987. A Harvard Architecture Review estreia em 1980 com um número intitula-
do Beyond the Modern Movement [Além do Movimento Moderno], a Princeton
Journal of Architecture surge em 1983 e, dois anos mais tarde, a Pratt Journal
of Architecture se inaugura no campo da reflexão teórica com o seu primeiro vo-
lume intitulado Architecture and Abstraction (1985).

Paralelamente às publicações, uma série de exposições dá suporte à difusão de


novas teorias arquitetônicas, como ocorre entre as décadas de 1920 e 1930 durante
o ápice do Movimento Moderno marcado pela simultaneidade das publicações de pe-
riódicos radicais e frequentes exposições de protótipos habitacionais na Europa. Uma
das mais importantes exposições que marcam esse período de novas reflexões críticas
e de difusão de novos pensamentos é a Deconstructivist Architecture [Arquitetura
Desconstrutivista], organizada pelos arquitetos Phillip Johnson e Mark Wigley no Mu-
seu de Arte Moderna de Nova York [Museum of Modern Art – MoMA] em 1988.

Ainda que, de acordo com Nesbitt (2006, p. 29), “o nome ‘desconstrutivismo’ tenha
servido mais como um rótulo estilístico para a exibição de obras provocativas do que
talvez para assinalar maiores afinidades intelectuais entre elas”, a exposição serviu
para reunir grandes nomes da arquitetura como Rem Koolhaas e Zaha Hadid, que
trabalharam juntos e talvez sejam os arquitetos que mais se aproximam das matrizes
formais do construtivismo russo, Peter Eisenman, Bernard Tschumi, que se nutrem
da filosofia desconstrutivista de Jacques Derrida e também do pós-estruturalismo para
refletirem sobre a prática arquitetônica, e Frank Gehry, Daniel Libeskind e o Coop
Himmelblau, cujos trabalhos não possuem muito em comum.

Figura 1 – Entrada da exposição Arquitetura Desconstrutivista no Museu de Arte Moderna, MoMA, Phillip
Johnson e Mark Wigley, Nova York, 1988. A exposição conta com trabalhos dos arquitetos Frank Gehry,
Peter Eisenman, Bernard Tschumi, Rem Koolhaas, Daniel Libeskind, Zaha Hadid e Coop
Himmelblau formado por Wolf D. Prix, Helmut Swiczinsky, and Michael Holzer
Fonte: MoMa

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UNIDADE As Teorias pós 2ª Guerra Mundial

Para saber mais sobre a exposição Arquitetura Desconstrutivista, visite o catálogo dessa em:
Explor

https://goo.gl/aavzx5

A partir desse cenário, percebe-se que a abundância de publicações, a aderência


de centros de estudos especializados, a pulverização de ensaios arquitetônicos com-
partilhados em exposições, o discurso arquitetônico teórico, a partir da segunda
metade do século XX, se comparada com as décadas anteriores, admitindo uma
pluralidade mais horizontal caracterizada pela proliferação de paradigmas teóricos,
muitas vezes importados de outros ramos do conhecimento.

O Team X e a Crítica ao Funcionalismo


As décadas de 1950 e 1960 marcam um momento de inflexão muito peculiar na
história da arquitetura internacional. Os preceitos modernistas começam a ser ques-
tionados por uma geração de novos arquitetos nascidos nas primeiras décadas do
século XX. As indagações surgem através de ensaios, artigos, publicações, experi-
ências realizadas em um cenário de grandes invenções e acontecimentos tecnológi-
cos. Essas experimentações práticas e teóricas se sedimentam, sobretudo na década
de 1960, com a publicação massiva de textos e também com reflexões projetuais
cada vez mais fundamentadas em uma condição que se mostra cada vez mais plural.

Ainda que o enfraquecimento do Movimento Moderno seja tido como um fator


para o encadeamento de novas teorias, grandes realizações fundadas no pensamento
modernista são alcançadas. Entre elas, a construção de Chandigarh, na Índia, projeto
de Le Corbusier (1951-1962), e o concurso para o Plano Piloto que dá origem à
nova capital federal brasileira, Brasília, inaugurada em 1960, projeto de Lucio Costa.
Ambos os projetos resgatam as diretrizes propostas por Le Corbusier na Carta de
Atenas, concebida em 1933 e publicada dez anos mais tarde.

Figura 2 – Plano de Chandigarh, Le Corbusier, 1951-1962 (à esquerda); Plano Piloto para Brasília,
Lucio Costa, 1957-1960 (à direita). Dois dos maiores experimentos urbanos modernistas
concebidos com base nas diretrizes da Carta de Atenas para a cidade funcional
Fonte: FLC/ADAG e Wikimedia Commons

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Conheça brevemente o projeto urbano para Chandigarh no link a seguir:
Explor

https://goo.gl/YqRavz

Outro fator que marca o suposto enfraquecimento do Movimento Moderno é o


término dos CIAM no fim da 1950 e o falecimento dos grandes mestres na década
seguinte – como no caso de Le Corbusier, em 1965, Walter Gropius e Ludwig Mies
van der Rohe, ambos em 1969.

Esses acontecimentos sugerem um panorama propício para a fundação do


Team X em 1953, na comuna de Aix-en-Provence, na França, durante o
CIAM IX. Em seu núcleo central, estão os arquitetos Alison e Peter Smithson,
Jacob Bakema, Georges Candilis e Aldo van Eyck, além de outros partici-
pantes e eventuais convidados a eventos específicos organizados pelo grupo.
Diferentemente daquilo que ocorria nos CIAM, em que os arquitetos, de forma
sistemática, objetivavam definir diretrizes globais e universais para a arquitetu-
ra moderna, os membros do Team X adotaram um método mais flexível a ser
seguido nas reuniões, baseado no pragmatismo e no empirismo:
Para os membros do Team 10, continuar com o projeto da arquitetura
moderna significa dar uma guinada nas pretensões universalistas e positivas
dos CIAM. Trata-se de continuar com esta vontade de se aproximar ao
mundo da ciência, da tecnologia e da produção, mas não definindo grandes
teorias ou projetando protótipos, mas sim imitando o método científico ex-
perimental e empírico que analisa caso a caso. (MONTANER, 2009, p. 31)

As reuniões do Team X são realizadas de modo que cada convidado expõe as


suas ideias através de um ensaio ou projeto analisado frente aos demais partici-
pantes. Atitude que vai na contramão daquilo que acontecia nos CIAM, em que os
debates e as reflexões nos encontros aconteciam na forma de palestras específicas
ao redor de um tema predefinido. Logo, o resultado das reuniões do Team X são
opiniões, breves ensaios, fragmentos de hipóteses que os participantes condensam
em artigos publicados ao longo de sua existência; não são elaboradas teorias de-
finitivas de caráter dogmático e autoritário como ocorre nos CIAM. Nota-se, por-
tanto, a possibilidade de uma postura muito mais plural e abrangente das múltiplas
considerações que são baseadas em experiências pessoais, portanto, mutáveis e
passageiras de cada um dos membros.
Portanto, é necessária uma atitude pragmática – baseada nos projetos
concretos -, antidogmática – estruturada na aceitação da diversidade
de opiniões que se apresentam na arquitetura contemporânea – e não
doutrinária – evitando a tentação de congelar um processo de deba-
te e crescimento do conhecimento a partir de teorias insuficientes.
(MONTANER, 2009, p. 31)

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UNIDADE As Teorias pós 2ª Guerra Mundial

Mesmo fomentando esse tipo de metodologia, imediatamente após a formação


inicial do Team X, que também se constituiu por Gutman, John Voelker, Wiliiam
Howell, Shadrach Woods, Sandy van Ginkel e Hovens-Greve, é redigido o único
manifesto do grupo em 1954, com o nome de Doorn. Em linhas gerais, os in-
tegrantes se mostraram contrários às ideias de produção seriada de habitação e
também da cidade funcional ao defenderem que, para compreender o padrão das
associações humanas, há a urgência de se considerar cada comunidade no seu
ambiente ou contexto particular. Essa posição indica que a concepção universalista
do Movimento Moderno não mais se sustenta dentro de um cenário adverso ao do
período entre guerras.

Manifesto Doorn, Team X, 1954, revisado por Peter Smithson em 1960. Único documento
Explor

que, ainda que seja dotado de certo pragmatismo, não possui caráter dogmático.
https://goo.gl/Hex11N

A primeira reunião oficial do Team X em Otterlo, em 1959, teve como local


o Museu Kroller-Muller, projetado por Henry Van de Velde (Antuérpia, 1863 –
Oberageri, 1957) em 1930. Esse gesto inaugural reúne arquitetos italianos como
Ernesto Nathan Rogers, Ignazio Gardella, Vico Magistretti e Giancarlo De Carlo; o
português Fernando Tavora; Alfred Roth, André Wogensky (ex-colaborador de Le
Corbusier), Josic, Kenzo Tange e Louis Kahn.

O ápice do primeiro encontro se dá pelo embate entre os ingleses Alison e Peter


Smithson, juntos a Reyner Banham, e os italianos, dentre os quais, Rogers. Ainda que
Giancarlo De Carlo se mantenha no Team X, há a retirada massiva dos italianos em
função da incompatibilidade de ideologias e da falta de aderência à dinâmica do grupo.

Com a predominância dos nórdicos conduzidos pelos ingleses, o texto mais im-
portante do grupo compila centenas de artigos, comunicações ou cartas de cada um
dos dez integrantes, mantendo dessa forma o caráter democrático e liberal que per-
mite a abordagem mais ampla de ideias particulares sobre a arquitetura.

Os Smithson assumem uma postura mais doutrinária com os seus textos, em


que abordam ideias de comunidade visando à aproximação à comunidade, de suas
necessidades, gostos e aspirações. Defendem que a sociedade alcance os seus ob-
jetivos coletivamente de modo que a comunidade prospere. Esse conjunto de ideias
se transformarão em conceitos-chave para a investigação formal arquitetônica e
urbana no livro Urban Structing, publicado pelo casal em 1967.

Antes da publicação do livro, antes mesmo da primeira reunião do Team X, os


Smithson projetaram o conjunto habitacional de Golden Lane, em 1952. Ainda que
haja semelhança com o projeto Ilot Insalubre de Le Corbusier, de 1937, Golden
Lane se estabelece como uma crítica à Ville Radieuse e ao zoneamento funcionalista
defendido pelo arquiteto franco-suíço.

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Figura 3 – Ilot Insalubre, Le Corbusier, 1937 (primeira dupla de imagens), e Golden Lane,
Alison e Peter Smithson, 1952 (segunda dupla de imagens). Semelhanças entre os projetos
em que é possível ver um sistema rizomático de habitações e via elevada em Golden Lane
que se adapta a uma condição preexistente vista na axonométrica da fotocolagem
Fonte: Wikimedia Commons

Os Smithson opõem as funções da cidade – habitar, trabalhar, cultivar o corpo


e o espírito e circular – às categorias mais fenomenológicas de casa como unidade
familiar; rua, como um sistema de acesso com base em galerias unilaterais elevadas
de largura generosa; bairro e cidade sem uma definição física. Ainda que a crítica à
cidade funcional pré-guerra, Golden Lane incorpore um caráter racionalista como
os projetos debatidos nos CIAM. Uma das justificativas dos Smithson é a versatili-
dade do projeto se adaptar a uma condição preexistente, ao contrário dos planos
modernistas que previam demolição geral. Esse raciocínio pode ser observado na
fotocolagem que mostra o protótipo em perspectiva axonométrica se adequando
às ruínas de Coventry, bombardeada durante a Segunda Guerra Mundial.

Após uma passagem pelos Estados Unidos, em 1958, os Smithson retomam


a noção da cidade permanentemente “em ruínas” no sentido da velocidade de
transformação do meio urbano cuja arquitetura não é mais capaz de se ajustar a
padrões formais. O casal compreende a dinâmica da cidade contemporânea cuja
morfologia se transforma de maneira jamais vista na história e que, portanto, é
constituída por uma série de palimpsestos, camadas e se destruindo, reconstruindo
e construindo arquiteturas. Exploram essa perspectiva no projeto de concurso para

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UNIDADE As Teorias pós 2ª Guerra Mundial

o bairro Haupstadt em Berlim. A tese da cidade aberta dos Smithson influenciados


pelos conceitos urbanísticos de Louis Kahn é determinante para fundamentar os
conceitos para a implantação da estrutura que, de certa forma, recupera o caráter
rizomático de Golden Lane.

Figura 4 – Plano para o concurso para o bairro Haupstadt, Alison e Peter Smithson, Berlim, 1958.
A cidade é compreendida como um organismo autônomo formado por inúmeras camadas
que são geradas numa velocidade jamais vista em outro momento da história
Fonte: Wikimedia Commons

Por outro lado, o holandês Aldo van Eyck se mostra mais inovador e iconoclasta.
Ainda que por um lado o arquiteto possua a vontade vanguardista de contínua ino-
vação, por outro, estabelece fortes críticas e rompe com alguns paradigmas da mo-
dernidade. De acordo com Montaner (2009, p. 32), “Aldo van Eyck reagiu contra
a noção de que a experiência de uma única geração e mesmo de uma única década
fosse suficiente para procurar o conhecimento e discernimento das necessidades do
homem”. Van Eyck se dedica aos estudos antropológicos em alguns momentos de
sua carreira durante a década de 1960 e conclui que:

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[...] é necessário relativizar a nossa cultura e civilização; é vital superar a
abstração alienante da arquitetura moderna; é básico reencontrar aquilo que
é comum às formas construídas pelo homem. É necessário olhar para os
arquétipos do passado para recuperar a dimensão humana, cultural e sim-
bólica das formas arquitetônicas; e tentar de maneira idealista recriar formas
geométricas desalinhadas, selvagens, desnudas e puras, distantes do consu-
mo contemporâneo de formas e imagens. (MONTANER, 2009, p. 32)

Logo, van Eyck estuda o habitat de povoados primitivos africanos em uma de-
fesa do retorno às formas ancestrais de moradia como meio de legitimação da
arquitetura e, dessa forma, o arquiteto se contrapõe às correntes historicistas, mo-
dernistas e racionalistas da história.

Por fim, Bakema e Candilis representam o núcleo pragmático do grupo e defen-


dem uma vertente mais social da arquitetura. Bakema compreende uma utilização
mais humanista da tecnologia, enquanto que Candilis defende uma relação qualita-
tiva do entorno para a valorização da arquitetura. Candilis se empenha na reflexão
urbanística através de planos urbanos e conjuntos residenciais, como ATBT no
Marrocos (1951-1956), em parceria com Woods e Bodiansky, a Universidade Li-
vre de Berlim (1962-70) e Toulouse-le-Mirail (1962-77), sendo as duas últimas em
parceria com Josic e Woods.

O período fértil do Team X é breve, posto que as críticas aos CIAM são realiza-
das com intensidade até o ano de 1963. A partir daí, o grupo existe apenas nomi-
nalmente e através de alguns ensaios realizados por Woods e De Carlo. O último
encontro oficial do Team X acontece em 1977, mas o núcleo principal dos par-
ticipantes assume que o falecimento de Bakema em 1981 marca o fim do grupo.

Com a perda de Bakema como a força motriz, a magia dos encontros se eva-
porou aparentemente. Ao mesmo tempo, esse foi o momento em que Van Eyck
e os Smithsons envolveram-se em discussões sem reparo por uma disputa que
prejudicaria o seu relacionamento. Alguns membros individuais continuaram a se
encontrar, mas o núcleo principal do grupo finalmente se desmanchou.

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UNIDADE As Teorias pós 2ª Guerra Mundial

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Livros
Era dos Extremos: O Breve Século XX 1914 - 1991
HOBSBAWM, E. Era dos Extremos: O Breve Século XX 1914 - 1991. São Paulo: Companhia
das Letras, 1995.

 Leitura
Team 10: Manifesto de Doorn
Team 10: Manifesto de Doorn. Tradução e comentários de Fernando Vázquez Ramos.
https://goo.gl/1Fu4EC
Catálogo da Exposição Arquitetura Desconstrutivista
https://goo.gl/aavzx5
Team X e Espaço Urbano nos Conjuntos Habitacionais Brasileiros: o Conjunto Terras Altas em Pelotas
CIAM, Team X e Espaço Urbano nos Conjuntos Habitacionais Brasileiros: O Conjunto
Terras Altas em Pelotas, Celia Gonsales.
https://goo.gl/CjsA9R

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Referências
BANHAM, R. Megaestruturas: Futuro Urbano del Pasado Reciente. Barcelona:
Gustavo Gili, 2001.

COHEN, J. L. O Futuro da Arquitetura desde 1889: Uma História Mundial. São


Paulo: Cosac Naify, 2013.

COLIN, S. Pós-Modernismo: Repensando a Arquitetura. Rio de Janeiro: UAPÊ, 2004.

CONSIGLIERI, V. As Metáforas da Arquitectura Contemporânea. Lisboa: Edi-


torial Estampa, 2007.

FRAMPTON, K. História Crítica da Arquitetura Moderna. São Paulo: Martins


Fontes: 2003.

MONEO, R. Inquietud Teórica y Estrategia Proyectual en la Obra de Ocho


Arquitectos Contemporáneos. Barcelona: Actar, 2004.

MONTANER, J. M. A Modernidade Superada: Arquitetura, Arte e Pensamento


do Século XX. Barcelona: Gustavo Gili, 2001.

________. Arquitetura e Crítica. Barcelona: Gustavo Gili, 2007.

________. Depois do Movimento Moderno: Arquitetura da Segunda Metade do


Século XX. Barcelona: Gustavo Gili, 2009.

NESBITT, K. (org.). Uma Nova Agenda para a Arquitetura: Antologia Teórica


1965-1995. São Paulo: Cosac Naify, 2006.

PORTOGHESI, P. Depois da Arquitetura Moderna. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

ROSSI, A. A Arquitetura da Cidade. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

VENTURI, R. Complexidade e Contradição em Arquitetura. São Paulo: Martins


Fontes, 2004.

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Você também pode gostar