Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Adpf 482

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 26

Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 26

03/03/2020 PLENÁRIO

ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 482


DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. ALEXANDRE DE MORAES


REQTE.(S) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
INTDO.(A/S) : CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO DOS MAGISTRADOS BRASILEIROS -
AMB
ADV.(A/S) : ALBERTO PAVIE RIBEIRO

EMENTA: CONSTITUCIONAL. FEDERALISMO E MINISTÉRIO


PÚBLICO. INEXISTÊNCIA DE UMA ÚNICA CARREIRA COMUM A
TODOS OS MINISTÉRIOS PÚBLICOS ESTADUAIS E AO MINISTÉRIO
PÚBLICO DA UNIÃO. INCONSTITUCIONALIDADE DA REMOÇÃO,
POR PERMUTA NACIONAL, ENTRE MEMBROS DE MINISTÉRIOS
PÚBLICOS DIVERSOS. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DO CONCURSO
PÚBLICO. SÚMULA VINCULANTE 43 DO STF. ARGUIÇÃO DE
DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL CONHECIDA E
JULGADA PROCEDENTE.
1. O Ministério Público da União e os Ministérios Públicos dos
Estados são disciplinados por leis complementares próprias, cuja
iniciativa é facultada aos respectivos Procuradores-Gerais, as quais
estabelecem a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério
Público (art. 128, § 5º, da CF).
2. Por força do princípio da unidade do Ministério Público (art. 127,
§ 1º, da CF), os membros do Ministério Público integram um só órgão sob
a direção única de um só Procurador-Geral. Só existe unidade dentro de
cada Ministério Público, não havendo unidade entre o Ministério Público
de um Estado e o de outro, nem entre esses e os diversos ramos do
Ministério Público da União.
3. A remoção, por permuta nacional, entre membros do Ministério
Público dos Estados e entre esses e membros do Ministério Público do
Distrito Federal e Territórios, admitida na decisão impugnada, equivale à

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 00B5-2AED-21F7-5B6B e senha 473F-5312-E2A8-523D
Supremo Tribunal Federal
Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 2 de 26

ADPF 482 / DF

transferência, ou seja, forma de ingresso em carreira diversa daquela para


a qual o servidor público ingressou por concurso, vedada pelo art. 37, II,
da Constituição Federal e pela Súmula Vinculante 43, segundo a qual “é
inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidor
investir-se, sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seu
provimento, em cargo que não integra a carreira na qual anteriormente
investido”.
4. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental conhecida
e julgada procedente.

AC ÓRDÃ O

Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros do Supremo


Tribunal Federal, em Sessão Virtual do Plenário, sob a Presidência do
Senhor Ministro DIAS TOFFOLI, em conformidade com a certidão de
julgamento, por unanimidade, acordam em conhecer da arguição de
descumprimento de preceito fundamental, em confirmar a medida
cautelar e em julgar procedente o pedido formulado para declarar a
inconstitucionalidade da decisão administrativa proferida pelo Conselho
Nacional do Ministério Público (CNMP) no pedido de providências (PP)
0.00.000.000229/2015-39, nos termos do voto do Relator. Os Ministros
EDSON FACHIN e LUIZ FUX acompanharam o Relator com ressalvas.
Não participou deste julgamento, por motivo de licença médica, o
Ministro CELSO DE MELLO.

Brasília, 3 de março de 2020.

Ministro ALEXANDRE DE MORAES


Relator
Documento assinado digitalmente

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 00B5-2AED-21F7-5B6B e senha 473F-5312-E2A8-523D
Supremo Tribunal Federal
Relatório

Inteiro Teor do Acórdão - Página 3 de 26

03/03/2020 PLENÁRIO

ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 482


DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. ALEXANDRE DE MORAES


REQTE.(S) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
INTDO.(A/S) : CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO DOS MAGISTRADOS BRASILEIROS -
AMB
ADV.(A/S) : ALBERTO PAVIE RIBEIRO

RE LAT Ó RI O

O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (RELATOR): Trata-se


de Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, proposta pelo
Procurador-Geral da República contra acórdão proferido pelo Conselho
Nacional do Ministério Público (CNMP) no Pedido de Providências (PP)
0.00.000.000229/2015-39, o qual autorizou e fixou balizas para disciplina
de remoção, por permuta nacional, entre membros de Ministérios
Públicos dos Estados e entre estes e membros do Ministério Público do
Distrito Federal e Territórios.
Segundo o Requerente, o acórdão do CNMP violou os seguintes
preceitos constitucionais: arts. 1º, 18, 37, II, 127, §§ 1º e 2º, 129, §§ 3º e 4º,
bem como a Súmula Vinculante 43 do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
(“É inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidor
investir-se, sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seu
provimento, em cargo que não integra a carreira na qual anteriormente
investido”).
O cabimento da ADPF é assim justificado: “a decisão administrativa
impugnada não tem natureza normativa, como expressa sua própria ementa, o
que impede seja ela objeto das demais ações objetivas previstas na Constituição”.
Afirma o requerente ainda que “a controvérsia (...) é constitucionalmente
relevante e mostra-se capaz de ensejar edição de inúmeras leis inconstitucionais e
consequente propositura de demandas judiciais contra cada uma delas”. É

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 6825-385C-A986-BD56 e senha 4F2E-50CB-2C01-DDFA
Supremo Tribunal Federal
Relatório

Inteiro Teor do Acórdão - Página 4 de 26

ADPF 482 / DF

formulado pedido subsidiário de admissão da petição como Ação Direta


de Inconstitucionalidade, caso se entenda que a decisão questionada
possui caráter normativo.
Na fundamentação da petição inicial, o Requerente sustenta que o
princípio da unidade e o caráter nacional do Ministério Público não
implicam a existência de estrutura administrativa singular em todo o
país, como se apenas houvesse um único ramo ou órgão do Ministério
Público brasileiro. Afirma, ainda, que o princípio da unidade deve
conviver com o princípio federativo, considerado cláusula pétrea pelo
ordenamento constitucional (art. 60, § 4º, I, da CF).
Argumenta que não consta autorização legal para a permuta versada
na decisão do CNMP, seja na Lei Orgânica do Ministério Público da
União (Lei Complementar 75/1993), seja na Lei Orgânica Nacional (Lei
8.625/1993), tratando-se o acórdão impugnado de ato não apenas
inconstitucional, mas também ilegal.
Aduz que a remoção por permuta entre membros vinculados a
Ministérios Públicos de Estados distintos, por importar migração entre
quadros funcionais, ofende o preceito constitucional do concurso público.
Observa, nesse sentido, haver ampla diversidade de procedimentos de
seleção, de níveis de concorrência e de conteúdos exigidos dos
candidatos, entre outros.
Salienta ainda haver aspectos remuneratórios e disciplinares que,
embora não devessem, estão sujeitos a importantes variações de um
Estado para outro e entre alguns dos Estados e o Ministério Público da
União, o que demonstraria a complexidade e irrazoabilidade da permuta
cogitada pelo CNMP.
Cita precedentes do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL e do
Conselho Nacional de Justiça que entende abonarem sua tese.
Formula requerimento cautelar para suspender a eficácia do acórdão
impugnado. O fumus boni juris estaria caracterizado pelos argumentos
deduzidos na inicial e o periculum in mora decorreria do fato de a decisão
questionada provocar estímulo a que Estados da Federação promulguem
leis para disciplinar a permuta interestadual entre membros do Ministério

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 6825-385C-A986-BD56 e senha 4F2E-50CB-2C01-DDFA
Supremo Tribunal Federal
Relatório

Inteiro Teor do Acórdão - Página 5 de 26

ADPF 482 / DF

Público a partir da autorização e das balizas estabelecidas pelo CNMP, o


que acarretaria dispêndio inútil de trabalho legislativo e necessidade de
propositura de diversas Ações Diretas de Inconstitucionalidade.
Concedi a medida cautelar postulada na presente ADPF, ad
referendum do Plenário (art. 5º, § 1º, da Lei 9.882/1999), com base no art. 5º,
§ 3º, da Lei 9.882/1999, suspendendo a eficácia da decisão administrativa
proferida pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) no
pedido de providências (PP) 0.00.000.000229/2015-39, até o julgamento de
mérito da presente arguição.
Na mesma decisão, solicitei informações ao Presidente do Conselho
Nacional do Ministério Público, no prazo de 10 (dez) dias, nos termos do
art. 6º da Lei 9.882/1999. Determinei a abertura de vista dos autos, na
sequencia, ao Advogado-Geral da União e ao Procurador-Geral da
República, para que, sucessivamente, no prazo de 5 (cinco) dias, ambos se
manifestassem na forma da legislação vigente.
O Conselho Nacional do Ministério Público prestou informações
(peça 25), apresentando cópia integral do Pedido de Providências
0.00.000.000229/2015-39 (peças 26 a 28).
A Advocacia-Geral da União (peça 31) manifestou-se,
preliminarmente, pelo não conhecimento da Ação, considerando que o
ato impugnado seria incapaz de gerar, por si só, violação a preceito
fundamental. No mérito, opinou pela procedência do pedido, aos
argumentos de que (i) haveria inconstitucionalidade formal, decorrente
de ofensa às regras constitucionais de iniciativa legislativa para
estabelecimento de normas gerais sobre a organização do Ministério
Público dos Estados; (ii) a investidura de servidor em cargo que não
integra a carreira à qual pertence, sem prévia aprovação em concurso
público destinado ao seu provimento, afronta o princípio do concurso
público disposto no art. 37, II, da Constituição Federal.
A Procuradoria-Geral da República (peça 34) apresentou
manifestação salientando os motivos para o conhecimento da Ação.
Quanto ao mérito, ratificou as razões apresentadas na petição inicial.
A Associação dos Magistrados Brasileiros – AMB (petição STF

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 6825-385C-A986-BD56 e senha 4F2E-50CB-2C01-DDFA
Supremo Tribunal Federal
Relatório

Inteiro Teor do Acórdão - Página 6 de 26

ADPF 482 / DF

57.631/2017, peça 9) formulou pedido de ingresso como amicus curiae na


presente Arguição. Inicialmente, destaca sua legitimidade e
representatividade diante da matéria discutida nos autos, o que
justificaria o ingresso na qualidade de amicus curiae, uma vez que a
controvérsia teria correspondência direta com a magistratura. No mérito,
entende constitucional a competência do CNMP, e também do CNJ, para
editar atos administrativos sobre a matéria, pois estar-se-ia diante de
direito previsto no art. 93, VII-A, da Constituição Federal. Alega, nesse
sentido, que a permuta de membros do Ministério Público, ou da
Magistratura, não viola o pacto federativo nem o princípio do concurso
público, sob o fundamento de que a permuta constituiria hipótese de
exceção constitucional, pois “o que a norma constitucional parece vedar é
apenas a possibilidade de a permuta propiciar alguma forma de promoção, mas
não de vedá-la entre o Poder Judiciário dos diversos Estados e mesmo entre eles e
a União”, sendo o mesmo entendimento aplicável no âmbito do Ministério
Público. Além disso, traz considerações do parecer de ANDRÉ RAMOS
TAVARES a respeito da possibilidade de permuta de magistrados
estaduais. Aduz, ainda, que “tanto a amplificação do caráter nacional e
unitário da magistratura e do ministério público, como a configuração de um
estado cada vez mais centralizado e unitário, constituem fundamentos que devem
ser considerados para permitir a permuta e transferência de membros do MP dos
Estados, assim como de magistrados”. Ao final, pugna pelo deferimento de
sua admissão nos autos e requer a improcedência do pedido. Decisão
publicada em 6/10/2017 acolheu o requerimento formulado de ingresso
da AMB na condição de amicus curiae.
Pleiteou também o ingresso como amicus curiae a Associação
Nacional dos Membros do Ministério Público – CONAMP (petição STF
60.020/2017, peça 18). Sustenta haver interesse direto da Associação com a
questão discutida nos autos, o que legitimaria seu ingresso nos autos.
Preliminarmente, defende o não conhecimento da ADPF, sob alegação de
que o ato atacado não atinge preceito fundamental. No mérito, alega que
(i) o ato impugnado não ofende o princípio do concurso público e nem a
Súmula Vinculante 43 do STF, pois a permuta ocorreria entre membros do

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 6825-385C-A986-BD56 e senha 4F2E-50CB-2C01-DDFA
Supremo Tribunal Federal
Relatório

Inteiro Teor do Acórdão - Página 7 de 26

ADPF 482 / DF

Ministério Público que exercem as mesmas atividades e funções, além de


tal instituto não configurar transferência; (ii) também não haveria
violação ao pacto federativo, uma vez que “a própria Constituição Federal
de 1988 dispõe, em seu art. 128, que o Ministério Público é instituição nacional,
abrangendo os ramos do Ministério Público da União e dos Estados, do que se
depreende que o pacto federativo não se desenha nem expressa, em relação ao
Ministério Público, de forma normativa idêntica à que atua sobre os Poderes
Executivo e Legislativo, como já entendeu o STF em julgamento da ADI 3367, ao
se referir, explicitamente, ao Poder Judiciário”. Alega, ainda, que “a permuta
nacional apenas se conforma a um processo já consolidado de relativização da
autonomia federativa no que se refere ao Ministério Público”. Por fim, requer
sua admissão como amicus curiae, o não conhecimento da ação ou,
subsidiariamente, a improcedência do pedido.
Estando regularmente instruído, o processo foi incluído em pauta
para julgamento virtual.
A Associação dos Magistrados Brasileiros – AMB e a Associação
Nacional dos Membros do Ministério Público – CONAMP formularam
pedido de retirada do processo da sessão virtual para a realização de
sustentação oral (petição STF 62.524/2019, peça 35, e petição STF
63.132/2019, peça 38, respectivamente).
É o relatório.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 6825-385C-A986-BD56 e senha 4F2E-50CB-2C01-DDFA
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. ALEXANDRE DE MORAES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 8 de 26

03/03/2020 PLENÁRIO

ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 482


DISTRITO FEDERAL

VOTO

O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (RELATOR):


Inicialmente, reitero os argumentos lançados quando da concessão de
medida cautelar a respeito do conhecimento da presente Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental.
O cabimento da ADPF será viável desde que haja a observância do
princípio da subsidiariedade, que exige o esgotamento de todas as vias
possíveis para sanar a lesão ou a ameaça de lesão a preceitos
fundamentais ou a verificação, ab initio, de sua inutilidade para a
preservação do preceito (ADPF 186/DF, Rel. Min. RICARDO
LEWANDOWSKI, DJe de 20/10/2014). Caso os mecanismos utilizados de
maneira exaustiva mostrem-se ineficazes, será cabível o ajuizamento da
arguição.
Como na presente hipótese, se desde o primeiro momento se verificar a
ineficiência dos demais mecanismos jurisdicionais para a proteção do
preceito fundamental, será possível que um dos legitimados se dirija
diretamente ao SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, por meio de Arguição
de Descumprimento de Preceito Fundamental.
Observo que, no caso, apesar da ausência de caráter normativo
obrigatório da decisão administrativa impugnada, o CNMP passou a
autorizar que os Estados disciplinem a hipótese tratada em sua decisão. A
decisão administrativa questionada estimula os Estados da Federação e o
Distrito Federal a promulgar leis para tratar da permuta entre membros
do Ministério Público com base na autorização e nas balizas estabelecidas
pelo CNMP.
Atendido o requisito da subsidiariedade, conheço da presente
arguição, uma vez que proposta por autoridade dotada de legitimidade
ativa para a promoção de ações de controle concentrado de
constitucionalidade, além de estar suficientemente instruída e com a

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 3F74-018B-4D17-161B e senha 02FD-D9B6-49D8-313D
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. ALEXANDRE DE MORAES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 9 de 26

ADPF 482 / DF

indicação dos preceitos tidos por violados, do ato questionado e as


especificações do pedido.
Quanto ao mérito, entendo que a Ação merece ser julgada
procedente.
Invoco aqui os fundamentos reproduzidos na decisão que concedeu
a medida cautelar neste processo, a partir de voto que proferi, na
qualidade de Conselheiro do CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, no
Pedido de Providências nº 465/2006, de minha relatoria, em situação
análoga à presente, com relação a membros do Poder Judiciário. No caso,
analisando os mesmos princípios e preceitos constitucionais, o
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, por unanimidade (23ª Sessão
Ordinária, em 15 de agosto de 2006), respondeu NEGATIVAMENTE à
consulta realizada por associação de classe da magistratura com idêntico
objeto, da seguinte maneira:

EMENTA: 1. PODER JUDICIÁRIO NACIONAL – O Poder


Judiciário, nos termos do art. 92 da Constituição Federal, é
nacional, compondo-se dos ramos especializados da Justiça
Trabalhista, Eleitoral e Militar e da Justiça Comum, que abrange
as Justiça Federal e Estadual. 2. Cada ramo da Justiça brasileira
constitui carreira autônoma, cujo provimento, em regra, se dará
por concurso público, salvo as hipóteses excepcionais de
investidura político-constitucional. 3. PODER JUDICIÁRIO E
FEDERALISMO – Nos termos do art. 125 da Constituição da
República Federativa do Brasil, a organização da Justiça
Estadual deve absoluto respeito às regras federalistas da auto-
organização, auto-governo e auto-administração (CF, arts. 93 e
96). 4. INEXISTÊNCIA DE UMA ÚNICA CARREIRA
REFERENTE À TODAS AS JUSTIÇAS ESTADUAIS – Não há
um único Poder Judiciário Estadual, mas sim, existe a Justiça
Estadual como um dos importantes ramos da Justiça Brasileira,
exercida pelos Tribunais de Justiça Estaduais e por seus juízes
vinculados administrativamente, sem que haja qualquer vaso
comunicante – administrativo ou jurisdicional – entre eles. 5.
Impossibilidade de remoção por permuta de magistrados

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 3F74-018B-4D17-161B e senha 02FD-D9B6-49D8-313D
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. ALEXANDRE DE MORAES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 10 de 26

ADPF 482 / DF

pertencentes a Poderes Judiciários estaduais diversos, mesmo


com a concordância dos respectivos Tribunais de Justiça, por
corresponder à transferência, ou seja, forma de ingresso em
carreira diversa daquela para a qual o servidor público
ingressou por concurso, hipótese absolutamente vedada pelo
artigo 37, inciso II, do texto constitucional. 5. PEDIDO
IMPROCEDENTE.
RELATÓRIO
O presente procedimento foi instaurado por representação
da ASMEGO – Associação dos Magistrados do Estado de Goiás,
que solicita ao Conselho Nacional de Justiça a seguinte
consulta: “Há possibilidade de dois juízes, vinculados a
tribunais estaduais diversos, havendo aquiescência de ambas as
cortes e estando os magistrados na mesma entrância,
procederem a permuta?”.
A requerente justifica sua consulta afirmando que “desde
antes do advento da Emenda Constitucional nº 45, de 30 de
dezembro de 2004, já se buscava criar um judiciário estadual
minimamente padronizado”, bem como pelo fato do “caráter
nacional do Poder Judiciário” (fls. 02/03).
Além isso, alega que “existem inúmeros juízes que estão
em ‘locais trocados’, ou seja, a família de um está no Estado-
membro inverso do outro”, para concluir que a possibilidade de
permuta estaria de acordo com o interesse público, pois
“evidentemente, nesses casos, mais do que o interesse pessoal
prevalece o público, na medida que (sic) maior será a produção
do magistrado quanto melhor se sentir integrado e satisfeito na
carreira. Essa é a lógica do sistema” (fls. 03/04).
Aponta, ainda, como motivos para justificar uma eventual
resposta positiva à consulta, dois outros argumentos: doença e
motivos de segurança dos magistrados.
É o breve relatório.
VOTO
A Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de
outubro de 1988, adotou – seguindo a tradição nacional – como
forma de Estado o federalismo, que na conceituação de Dalmo de

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 3F74-018B-4D17-161B e senha 02FD-D9B6-49D8-313D
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. ALEXANDRE DE MORAES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 11 de 26

ADPF 482 / DF

Abreu Dallari é uma “aliança ou união de Estados”, baseada em


uma Constituição e onde “os Estados que ingressam na
federação perdem sua soberania no momento mesmo do
ingresso, preservando, contudo, uma autonomia política
limitada” (DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral
do estado. 11. ed. São Paulo: Saraiva: 1985. p. 227).
A adoção da espécie federal de Estado gravita em torno do
princípio da autonomia e da participação política e pressupõe a
consagração de certas regras constitucionais, tendentes não
somente à sua configuração, mas também à sua manutenção e
indissolubilidade.
Como ressaltado por GERALDO ATALIBA, “exsurge a
Federação como a associação de Estados (foedus, foederis) para
formação de novo Estado (o federal) com repartição rígida de
atributos da soberania entre eles. Informa-se seu
relacionamento pela ‘autonomia recíproca da União e dos
Estados, sob a égide da Constituição Federal’ (Sampaio Dória),
caracterizadora dessa igualdade jurídica (Ruy Barbosa), dado
que ambos extraem suas competências da mesma norma
(Kelsen). Daí cada qual ser supremo em sua esfera, tal como
disposto no Pacto Federal (Victor Nunes)” (República e
constituição. São Paulo : Revista dos Tribunais, 1985. p. 10).
O mínimo necessário para a caracterização da organização
constitucional federalista exige, inicialmente, a decisão do
legislador constituinte, por meio da edição de uma constituição,
em criar o Estado Federal e suas partes indissociáveis, a
Federação ou União, e os Estados-membros, pois a criação de
um governo geral supõe a renúncia e o abandono de certas
porções de competências administrativas, legislativas e
tributárias por parte dos governos locais (JUAN BADIA, Juan
Ferrando. El estado unitario. el federal y el estado regional. Madri :
Tecnos, 1978. p. 77).
Essa decisão está consubstanciada nos arts. 1 o e 18 da
Constituição de 1988, sendo núcleo imodificável do texto
constitucional, conforme art. 60, §4º (Cf.: FERREIRA FILHO,

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 3F74-018B-4D17-161B e senha 02FD-D9B6-49D8-313D
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. ALEXANDRE DE MORAES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 12 de 26

ADPF 482 / DF

Manoel Gonçalves. O Estado federal brasileiro na Constituição


de 1988. Revista de Direito Administrativo, no 179, p. 1; HORTA,
Raul Machado. Tendências atuais da federação brasileira.
Cadernos de direito constitucional e ciência política, no 16, p. 17; e,
do mesmo autor: Estruturação da federação. Revista de Direito
Público, no 81, p. 53; VELLOSO, Caio Mário. Estado federal e
estados federados na Constituição brasileira de 1988: do
equilíbrio federativo. Revista de Direito Administrativo, no 187, p.
1; MARINHO, Josaphat. Rui Barbosa e a federação. Revista de
Informação Legislativa, no 130, p. 40; FAGUNDES, Seabra. Novas
perspectivas do federalismo brasileiro. Revista de Direito
Administrativo, no 99. p. 1).
A consagração do Estado Federal deve, entre outros
princípios, estabelecer na Constituição a repartição
constitucional de competências – inclusive judiciárias – entre
União, Estados membros, Distrito Federal e municípios e o
poder de auto-organização dos Estados-membros, Distrito
Federal e municípios, atribuindo-lhes autonomia constitucional.
A autonomia estadual também se caracteriza pelo
autogoverno, uma vez que é o próprio povo do Estado quem
escolhe diretamente seus representantes nos Poderes
Legislativo e Executivo locais, e regulamenta, por meio de sua
constitucional estadual, seu Poder Judiciário, sem que haja
qualquer vínculo de subordinação ou tutela por parte da União.
A Constituição Federal prevê expressamente a existência
dos Poderes Legislativo (CF, art. 27), Executivo (CF, art. 28) e
Judiciário (CF, art. 125) estaduais (cf.: SILVA, José Afonso. O
estado-membro na constituição federal; RDP, 16/15).
Em relação ao Poder Judiciário, em seu art. 125, a Carta de
1988 rege que os Estados-membros organizarão seu Poder
Judiciário, observados os princípios estabelecidos na
Constituição, determinando a competência dos tribunais na
Constituição do Estado e instituindo representação de
inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 3F74-018B-4D17-161B e senha 02FD-D9B6-49D8-313D
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. ALEXANDRE DE MORAES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 13 de 26

ADPF 482 / DF

municipais em face da Constituição estadual, vedada a


atribuição da legitimação para agir a um único órgão. Faculta-
se, ainda, à lei estadual, de iniciativa do Tribunal de Justiça, a
criação da Justiça Militar estadual, com competência para
processar e julgar os policiais militares e bombeiros militares
nos crimes militares definidos em lei, constituída, em primeiro
grau, pelos Conselhos de Justiça e, em segundo, pelo próprio
Tribunal de Justiça, ou por Tribunal de Justiça Militar nos
Estados em que o efetivo da polícia militar seja superior a vinte
mil integrantes.
Dessa forma, o caráter nacional do Poder Judiciário,
consubstanciado por regras expressas e de observância
obrigatória a todos os Tribunais e seus respectivos membros,
sejam da União ou dos Estados membros, e previstas nos
artigos 93 a 96 da Constituição Federal, não se confunde com a
existência de um único ramo do Poder Judiciário estadual, o
que – flagrantemente – desrespeitaria a forma federativa
adotada pelo Poder Constituinte originário.
Na Federação, cada Estado-membro é autônomo para
efetivar sua auto-organização, seu auto-governo e sua auto-
administração, com as limitações estabelecidas pela
Constituição Federal, uma vez que autonomia não se confunde
com soberania.
Consequentemente, cada um dos três Poderes estaduais
possui a tríplice capacidade de auto-organização, auto-governo
e auto-administração, sem qualquer submissão à União, aos
demais Poderes estaduais, ou mesmo, aos poderes congêneres
nos demais Estados-membros.
Essa regra se aplica ao Poder Judiciário estadual, tendo
sido a Constituição Federal expressa nesse sentido, ao
estabelecer competência privativa aos diversos tribunais
estaduais para eleger seus órgãos diretivos e elaborar seus
regimentos internos, com observância das normas de processo e
das garantias processuais das partes, dispondo sobre a
competência e o funcionamento dos respectivos órgãos
jurisdicionais e administrativos; previsão essa, no dizer do

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 3F74-018B-4D17-161B e senha 02FD-D9B6-49D8-313D
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. ALEXANDRE DE MORAES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 14 de 26

ADPF 482 / DF

Ministro CELSO DE MELLO, configuradora “de garantia


institucional, inerente a todos os Tribunais do País, que se
destina a assegurar o autogoverno da magistratura”.
Diversos são os julgados do SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL, que sob diversos enfoques, consagram a autonomia
de cada UM RAMOS DO PODER JUDICIÁRIO ESTADUAL,
sujeita somente às normas constitucionais e ao domínio
normativo da lei complementar (STF – Adin nº 1.152/RJ –
Medida cautelar – Rel. Min. Celso de Mello, Diário da Justiça,
Seção I, 3 fev. 1995, p. 1.022; STF – Pleno – Adin nº 2.012/SP –
Medida cautelar – Rel. Min. Marco Aurélio, decisão: 4-8-1999.
Informativo STF, nº 156; STF – Pleno – Adin nº 1.503-6/RJ – Rel.
Min. Maurício Corrêa, Diário da Justiça, Seção I, 9 abr. 2001, p. 2;
STF – Pleno – Adin nº 1.385/PE – Medida cautelar – Rel. Min.
Néri da Silveira, Diário da Justiça, Seção I, 16 fev. 1996, p. 3.023;
STF – MS 20.911-PA, Rel. Min. Octávio Gallotti; STF – ADI 841-
2-RJ, Rel. Ministro Carlos Velloso; STF – Pleno – Adin nº 1.422-
6/RJ – Rel. Min. Ilmar Galvão, Diário da Justiça, Seção I, 6 dez.
1999, p. 2; STF – Pleno – Adin nº 2.422-6/RJ – Rel. Min. Ilmar
Galvão, Diário da Justiça, Seção I, 12 nov. 1999, p. 89; STF – Pleno
– Adin nº 1.936-0/PE – Rel. Min. Gilmar Mendes, Diário da
Justiça, Seção 1, 6 dez. 2002, p. 51; STF – Pleno – Adin nº 1.105-
7/DF – Rel. Min. Paulo Brossard, Diário da Justiça, Seção I, 27 abr.
2001, p. 57).
O caráter federalista da Justiça estadual é repetido pela
LOMAN, especialmente, em seus artigos 16 e 21, que
consagram a autonomia dos Tribunais de Justiça, no âmbito de
suas jurisdições.
Dessa maneira, a Constituição Federal previu regras de
observância obrigatória para todos os ramos do Poder
Judiciário, seja Federal, estadual, trabalhista, eleitoral ou
militar, sem deixar, porém, de consagrar o auto-governo e auto-
administração de cada um dos ramos do Poder Judiciário
estadual, em respeito, repita-se, do caráter federativo de nosso
Estado (cf. no sentido das competências privativas
institucionais de cada Tribunal de Justiça: RTJ 147/345; RTJ

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 3F74-018B-4D17-161B e senha 02FD-D9B6-49D8-313D
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. ALEXANDRE DE MORAES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 15 de 26

ADPF 482 / DF

163/816).
A Constituição Federal, igualmente, concedeu a cada ramo
do Poder Judiciário estadual, iniciativa de lei, afirmando
competir, privativamente, aos Tribunais de Justiça propor ao
Poder Legislativo respectivo, observado o disposto em seu art.
169, a criação e a extinção de cargos e a remuneração dos seus
serviços auxiliares e dos juízos que lhes forem vinculados, bem
como a fixação do subsídio de seus membros e dos juízes, nos
termos do inciso XI, do art. 37 (cf.: SILVA MARTINS, Ives
Gandra da. A lei complementar da magistratura à luz dos arts.
93 e 96 da constituição federal. Cadernos de Direito Constitucional
e Ciência Política, São Paulo: Revista dos Tribunais, ano 1, nº 1, p.
287, out./dez. 1992).
Trata-se da reafirmação do auto-governo dos Tribunais de
Justiça estaduais para organização judiciária, cujas limitações
são somente as previstas na Constituição Federal e no Estatuto
da Magistratura, atual LOMAN (cf. no tocante ao auto-governo
dos Tribunais de Justiça: STF – Pleno – Adin nº 1.682/SC –
Medida cautelar – Rel. Min. Octávio Gallotti, decisão: 1º-10-
1997. Informativo STF, nº 86; RTJ 157/456; RTJ 157/456; STF –
Pleno – Adin nº 1.682/SC – Medida cautelar – Rel. Min. Octávio
Gallotti, decisão: 1º-10-1997. Informativo STF, nº 86).
Não existe, portanto, um único PODER JUDICIÁRIO
ESTADUAL, mas sim, existe a JUSTIÇA ESTADUAL como um
dos importantes ramos da JUSTIÇA NACIONAL, exercida
pelos TRIBUNAIS DE JUSTIÇA ESTADUAIS e por seus juízes
vinculados administrativamente, sem que haja qualquer vaso
comunicante – administrativo ou jurisdicional – entre eles.
A CONSULTA feita pela Associação dos Magistrados do
Estado de Goiás - ASMEGO, quando indaga se “HÁ
POSSIBILIDADE DE DOIS JUÍZES, VINCULADOS A
TRIBUNAIS ESTADUAIS DIVERSOS, HAVENDO
AQUIESCÊNCIA DE AMBAS AS CORTES E ESTANDO OS
MAGISTRADOS NA MESMA ENTRÂNCIA, PROCEDEREM À
PERMUTA?”, está indagando se o inciso VIII-A, do art. 93 da
Constituição Federal (“a remoção a pedido ou a permuta de

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 3F74-018B-4D17-161B e senha 02FD-D9B6-49D8-313D
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. ALEXANDRE DE MORAES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 16 de 26

ADPF 482 / DF

magistrados de comarca de igual entrância atendem, no que


couber, aos disposto nas alíneas a, b, e, e e do inciso II”) é
aplicável no âmbito de cada Tribunal de Justiça ou no âmbito
da Justiça estadual como um todo.
A resposta me parece óbvia, a partir da análise
anteriormente feita sobre o caráter federalista de nossa Justiça,
com a consagração de auto-governo e auto-administração do
Poder Judiciário estadual por cada um de seus Tribunais de
Justiça.
A remoção a pedido ou a permuta de magistrados de
comarca de igual entrância somente podem ocorrer no âmbito
administrativa do Tribunal de Justiça ao qual o magistrado ou
magistrados estejam vinculados, sob pena de centralizarmos
uma Justiça estadual que é NACIONAL, porém
FEDERALISTA.
O Poder Judiciário, nos termos do art. 92 da Constituição
Federal, é nacional, compondo-se dos ramos especializados da
Justiça Trabalhista, Eleitoral e Militar e da Justiça Comum, que
abrange as Justiça Federal e Estadual. 2. Cada ramo da Justiça
brasileira constitui carreira autônoma, cujo provimento, em
regra, se dará por concurso público, salvo as hipóteses
excepcionais de investidura político-constitucional.
A remoção por permuta, da mesma maneira que a
promoção, é provimento derivado dentro da mesma carreira
(STF – Pleno – Adin nº 1.193-6 – Rel. Min. Maurício Corrêa,
Diário da Justiça, Seção I, 17 mar. 2000, p. 2).
A remoção por permuta entre magistrados vinculados a
Tribunais de Justiça diversos equivale à transferência, ou seja,
forma de ingresso em carreira diversa daquela para a qual o
servidor público ingressou por concurso, e absolutamente
vedada pelo artigo 37, inciso II, do texto constitucional (cf. a
respeito: RTJ 165/684; STF – Pleno – Adin nº 402-6/DF – Rel.
Min. Moreira Alves, Diário da Justiça, Seção I, 24 maio 2001, p.
24).
Nesse sentido, a SÚMULA 685 do STF: “É inconstitucional
toda modalidade de provimento que propicie ao servidor

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 3F74-018B-4D17-161B e senha 02FD-D9B6-49D8-313D
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. ALEXANDRE DE MORAES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 17 de 26

ADPF 482 / DF

investir-se, sem prévia aprovação em concurso público


destinado ao seu provimento, em cargo que não integra a
carreira na qual anteriormente investido”.
Em conclusão, respondo NEGATIVAMENTE a presente
consulta, no sentido de impossibilidade de remoção por
permuta de dois juízes vinculados a tribunais estaduais
diversos, mesmo com aquiescência de ambas as cortes por
caracterizar forma de provimento, sem prévia aprovação em
concurso público destinado ao seu provimento, em cargo que
não integra a carreira na qual anteriormente investido.

Não há dúvidas sobre a absoluta simetria da situação em exame com


a referida no precedente do CNJ citado acima, pois também o art. 128, §
5º, do texto constitucional determina que leis complementares da União e
dos Estados, cuja iniciativa é facultada aos respectivos Procuradores-
Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada
Ministério Público, observadas, relativamente a seus membros, as
previsões do artigo 129, §§ 2º, 3º e, especialmente, o § 4º, que inclusive
determina a aplicação ao Ministério Público, no que couber, do disposto
no art. 93, aplicável à Magistratura.
Da mesma maneira, a existência dos princípios constitucionais da
unidade e indivisibilidade da Instituição, conforme já afirmei em sede
doutrinária, não afasta essa conclusão, pois:

Os princípios institucionais do Ministério Público devem


ser analisados e interpretados em relação a cada um dos ramos
do Parquet – MPU (com suas quatro previsões: MPF, MPT,
MP/DF e MPM) e MPEs –, uma vez que inexiste hierarquia
entre eles, mas tão somente distribuição constitucional de
atribuições. (...) A unidade significa que os membros do
Ministério Público integram um só órgão sob a direção única de
um só Procurador-geral, ressalvando-se, porém, que só existe
unidade dentro de cada Ministério Público, inexistindo entre o
Ministério Público Federal e os dos Estados, nem entre o de um
Estado e o de outro, nem entre os diversos ramos do Ministério

10

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 3F74-018B-4D17-161B e senha 02FD-D9B6-49D8-313D
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. ALEXANDRE DE MORAES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 18 de 26

ADPF 482 / DF

Público da União. (Direito Constitucional. 33ª ed., São Paulo:


Atlas, 2017, p. 636 e 637)

Acrescente-se, ainda, que, ao promover a permuta de ocupantes de


cargos diversos em carreira estranha à de origem, a decisão impugnada
ofende a regra constitucional do concurso público, prevista no art. 37, II,
da Constituição e reafirmada na Súmula Vinculante 43, segundo a qual “é
inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidor
investir-se, sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seu
provimento, em cargo que não integra a carreira na qual anteriormente
investido”.
A propósito, já tive a oportunidade de observar, em sede doutrinária,
que:

“(...) a investidura em cargos ou empregos públicos


depende de aprovação prévia em concurso públicos de provas
ou provas e títulos, não havendo possibilidade de edição de lei
que, mediante agrupamento de carreiras, opere transformações
em cargos, permitindo que os ocupantes dos cargos originários
fossem investidos nos cargos emergentes, de carreira diversa
daquela para a qual ingressaram no serviço público, sem
concurso públicos” (MORAES, Alexandre de. Direito
Constitucional. 33 ed. São Paulo: Atlas, 2017, p. 373).

Apenas em hipóteses excepcionalíssimas, em que os requisitos de


qualificação e escolaridade, a remuneração e as atribuições sejam
idênticos ou essencialmente similares, a jurisprudência desta CORTE
admite transposição ou transformação de cargo público, com o
reenquadramento de seus ocupantes em cargo diverso, tal como nos
precedentes firmados na ADI 2.713/DF e na ADI 1.591/RS.
Pelo que se denota da situação descrita na inicial, o caso não se
amolda aos precedentes, conforme esclarece a Procuradoria-Geral da
República (peça 1):

11

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 3F74-018B-4D17-161B e senha 02FD-D9B6-49D8-313D
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. ALEXANDRE DE MORAES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 19 de 26

ADPF 482 / DF

“Permitir que agentes públicos de diferentes entes


federados migrem dos quadros de um para o outro mediante
permuta, ou seja, sem o necessário concurso público, fere
diretamente o princípio federativo, pela afetação de sua
autonomia administrativa.
A despeito de serem agentes políticos e estarem
vinculados a regime jurídico distinto dos servidores públicos
em geral, os membros do Ministério Público ocupam cargos
cuja investidura também se submete a prévia aprovação em
concurso público de provas e títulos, nos termos do art. 129, §
3º, da Constituição. Por essa razão, são também alcançados pela
vedação espelhada na súmula vinculante 43, do Supremo
Tribunal Federal. Segundo esta, é ‘inconstitucional toda
modalidade de provimento que propicie ao servidor investir-se,
sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seu
provimento, em cargo que não integra a carreira na qual
anteriormente investido’.
Nos debates que levaram à aprovação da súmula, o então
Presidente da Corte, Ministro RICARDO LEWANDOWSKI,
deixou claro o alcance da vedação (sem destaques no original):

[...] o tema albergado pelo enunciado sob


encaminhamento revela-se atual e dotado de nítido efeito
de multiplicação, não usar se mostra frequente a
necessidade de reforçar o primado de que o provimento
de cargos somente pode ser realizado com a prévia
realização do concurso público de provas ou de provas e
títulos.
Ademais, [é] importante frisar que a matéria em
debate é aplicável aos três Poderes, alcançando a
Administração Pública como um todo (União, Estados e
Municípios), seja para a admissão de pessoas que não
compõem o quadro geral de servidores, seja para o
provimento de cargo por meio de concurso interno [...].

Não há fundamento razoável que justifique afastar a

12

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 3F74-018B-4D17-161B e senha 02FD-D9B6-49D8-313D
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. ALEXANDRE DE MORAES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 20 de 26

ADPF 482 / DF

incidência desse enunciado para membros dos Ministérios


Públicos estaduais”. (grifos no original)

Nesse sentido, a jurisprudência do SUPREMO TRIBUNAL


FEDERAL registra censura às leis ou atos do Poder Público que permitem
o provimento de cargos públicos efetivos em afronta à regra do concurso
público (CF, art. 37, II), como se vê nos precedentes seguintes: ADI 1.757,
de minha Relatoria, Tribunal Pleno, DJe de 8/10/2018; ADI 2.364, Rel. Min.
CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, DJe de 7/3/2019; ADI 1.476, Rel. Min.
CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, DJe de 31/8/2018); ADI 5.163, Rel.
Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, DJe de 18/5/2015; ADI 1.269, Rel. Min.
CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, DJe de 28/8/2018; e ADI 1.202, Rel.
Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, DJe de 28/8/2018.
Diante do exposto, CONHEÇO da presente Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental, confirmo a medida cautelar e
JULGO PROCEDENTE o pedido, para declarar a inconstitucionalidade
da decisão administrativa proferida pelo Conselho Nacional do
Ministério Público (CNMP) no pedido de providências (PP)
0.00.000.000229/2015-39.
É o voto.

13

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 3F74-018B-4D17-161B e senha 02FD-D9B6-49D8-313D
Supremo Tribunal Federal
Voto Vogal

Inteiro Teor do Acórdão - Página 21 de 26

03/03/2020 PLENÁRIO

ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 482


DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. ALEXANDRE DE MORAES


REQTE.(S) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
INTDO.(A/S) : CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO DOS MAGISTRADOS BRASILEIROS -
AMB
ADV.(A/S) : ALBERTO PAVIE RIBEIRO

O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN: Adoto o bem lançado


relatório proferido pelo Ministro Alexandre de Moraes. Apenas para
explicitar as premissas que subsidiam minha manifestação, rememoro
tratar-se de arguição de descumprimento de preceito fundamental
ajuizada pelo Procurador-Geral da República em face de acórdão
proferido pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) nos
autos de pedido de providências n.º 0.00.000.000229/2015-39, por meio do
qual disciplinou a remoção, por permuta nacional, entre membros de
Ministérios Públicos de Estados e entre estes e membros o Ministério
Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).
Acompanho o e. Relator quanto ao conhecimento da presente
arguição, eis que apresentada por autoridade dotada de legitimidade
ativa para a promoção de ações de controle concentrado de
constitucionalidade, além de ter restado suficientemente instruída e
terem sido indicados os preceitos tidos por violados.
Em relação ao mérito, manifesto-me pela procedência, porém, por
fundamentos diversos. O Relator consignou que a remoção, por permuta
nacional, entre membros do Ministério Público dos Estados e entre esses e
membros do MPDFT, admitida na decisão do CNMP ora impugnada,
equivale à transferência, ou seja, propicia ingresso em carreira diversa
daquela para a qual o servidor realizou concurso, incidindo em vedação
preconizada pelo art. 37, II, CFRB e pela Súmula Vinculante 43, segundo a

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 6D72-B52F-BD1E-00EE e senha 3DDD-4C05-559F-EB7A
Supremo Tribunal Federal
Voto Vogal

Inteiro Teor do Acórdão - Página 22 de 26

ADPF 482 / DF

qual: “é inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao


servidor investir-se, sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seu
provimento, em cargo que não integra a carreira na qual anteriormente
investido”.
Em meu sentir, a remoção de agentes de Ministérios Públicos
Estaduais, por permuta, entre unidades federativas diversas ou entre
estas e o MPDTF não enseja violação ao inciso II do art. 37 da
Constituição.
A arquitetura constitucional do Ministério Público qualifica-o como
instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, cuja
missão envolve defender a ordem jurídica, o regime democrático e os
interesses sociais e individuais indisponíveis. O art. 129, § 1º enuncia os
princípios institucionais da carreira: unidade, indivisibilidade e
independência funcional. As garantias constitucionais foram conferidas
ao Ministério Público para permitir o exercício de seu mister. Nesse
sentido, haure-se da doutrina de José Afonso da Silva:

“Como agentes políticos, os membros do MP precisam de


ampla liberdade funcional e maior resguardo para o
desempenho de suas funções, não sendo privilégios pessoais as
prerrogativas da vitaliciedade, irredutibilidade de subsídio, na
forma dos arts. 37, XV, e 39 § 4º (EC 19/1998) e inamovibilidade
(art. 128, § 5º, I, “b”) que se lhes reconhecem, mas garantias
necessárias ao pleno exercício de suas elevadas funções, que
incluem até mesmo o poder-dever da ação penal contra
membros dos órgãos governamentais.“ (SILVA, José Afonso da.
Comentário Contextual à Constituição. Malheiros: São Paulo,
2012, p. 612).

Com efeito, o art. 128 da Constituição dispõe que o Ministério


Público abrange o Ministério Público da União, que compreende
Ministério Público Federal, do Trabalho, Militar e do Distrito Federal e
Territórios; bem como os Ministérios Públicos dos Estados. Nada
obstante, nos termos do § 5º do mesmo dispositivo, leis complementares

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 6D72-B52F-BD1E-00EE e senha 3DDD-4C05-559F-EB7A
Supremo Tribunal Federal
Voto Vogal

Inteiro Teor do Acórdão - Página 23 de 26

ADPF 482 / DF

da União e dos Estados estabelecem a organização, atribuições e o


estatuto de cada Ministério Público, observadas as garantias da carreira,
bem como as vedações a que os agentes se sujeitam.
A organização da carreira do Ministério Público, portanto, está
disciplinada na Constituição e nas Leis Orgânicas – Lei Orgânica do
Ministério Público (LOMP – Lei n.º 8.625/1993); Lei Orgânica do
Ministério Público da União (LOMPU – Lei Complementar n.º 75/1993) e
as leis orgânicas estaduais. A forma de remoção engendrada pela decisão
do CNMP ora atacada não foi prevista no robusto arcabouço
constitucional e legislativo que disciplinou a instituição. Trata-se de uma
inovação veiculada em norma administrativa que extrapola a
competência regulamentar conferida ao CNMP, em violação ao princípio
da legalidade. Haure-se, portanto, que ao disciplinar a transferência de
agentes de ramos diversos do Ministério Público, o CNMP desbordou de
sua competência, adentrando em seara que lhe é imprópria.
Ante o exposto, acompanho o e. Relator, no conhecimento e
julgamento procedente da presente arguição de descumprimento de
preceito fundamental, para declarar a inconstitucionalidade da decisão
administrativa proferida pelo CNMP no pedido de providências n.º
0.00.000.000229/2015-39 por violação ao art. 5º, II, da Constituição da
República.
É como voto.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 6D72-B52F-BD1E-00EE e senha 3DDD-4C05-559F-EB7A
Supremo Tribunal Federal
Voto Vogal

Inteiro Teor do Acórdão - Página 24 de 26

03/03/2020 PLENÁRIO

ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 482


DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. ALEXANDRE DE MORAES


REQTE.(S) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
INTDO.(A/S) : CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO DOS MAGISTRADOS BRASILEIROS -
AMB
ADV.(A/S) : ALBERTO PAVIE RIBEIRO

VOTO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO – Atentem para a


organicidade do Direito, em especial dos procedimentos relativos ao
itinerário processual das demandas trazidas à apreciação do Supremo.
Nada obstante a iniciativa em prol da racionalidade no regular
andamento dos trabalhos do Pleno, cuja atividade judicante está
sobremaneira dificultada pela invencível avalanche de processos, tem-se
por premissa inafastável, levando em conta a formalização de ação direta
de inconstitucionalidade, a impropriedade de pronunciar-se, não em
ambiente presencial, mas no Plenário Virtual, quando há o prejuízo do
devido processo legal, afastada a troca de ideias e a sustentação da
tribuna.
Faço a observação reiterando, por dever de coerência, ser o
Colegiado – órgão democrático por excelência – somatório de forças
distintas, pressupondo colaboração, cooperação mútua entre os
integrantes, quadro de todo incompatível com a deliberação em âmbito
eletrônico.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código CA57-380C-4292-6D2B e senha 5C94-3EEE-FBE3-A8EF
Supremo Tribunal Federal
Voto Vogal

Inteiro Teor do Acórdão - Página 25 de 26

ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 482


DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. ALEXANDRE DE MORAES


REQTE.(S) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
INTDO.(A/S) : CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO DOS MAGISTRADOS BRASILEIROS -
AMB
ADV.(A/S) : ALBERTO PAVIE RIBEIRO

VOTO

O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX: Acompanho o Relator, Ministro


Alexandre de Moraes, quanto ao conhecimento desta arguição de
descumprimento de preceito fundamental e à procedência do pedido nela
formulado, no afã de declarar a inconstitucionalidade da decisão
administrativa proferida pelo Conselho Nacional do Ministério Público
(CNMP) no Pedido de Providências n.º 0.00.000.000229/2015-39, adotadas
as ressalvas de fundamentação expendidas no voto do Ministro Edson
Fachin.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 525C-7115-23A5-72BA e senha 422C-BA79-BA76-B155
Supremo Tribunal Federal
Extrato de Ata - 03/03/2020

Inteiro Teor do Acórdão - Página 26 de 26

PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA

ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 482


PROCED. : DISTRITO FEDERAL
RELATOR : MIN. ALEXANDRE DE MORAES
REQTE.(S) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
INTDO.(A/S) : CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO DOS MAGISTRADOS BRASILEIROS - AMB
ADV.(A/S) : ALBERTO PAVIE RIBEIRO (07077/DF, 53357/GO)

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, conheceu da arguição de


descumprimento de preceito fundamental, confirmou a medida
cautelar e julgou procedente o pedido formulado para declarar a
inconstitucionalidade da decisão administrativa proferida pelo
Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) no pedido de
providências (PP) 0.00.000.000229/2015-39, nos termos do voto do
Relator. Os Ministros Edson Fachin e Luiz Fux acompanharam o
Relator com ressalvas. Não participou deste julgamento, por motivo
de licença médica, o Ministro Celso de Mello. Plenário, Sessão
Virtual de 21.2.2020 a 2.3.2020.

Composição: Ministros Dias Toffoli (Presidente), Celso de


Mello, Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Cármen
Lúcia, Luiz Fux, Rosa Weber, Roberto Barroso, Edson Fachin e
Alexandre de Moraes.

Carmen Lilian Oliveira de Souza


Assessora-Chefe do Plenário

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código FDC4-340C-FDA4-BBB6 e senha 984D-55A8-8467-FC0A

Você também pode gostar