Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Capitulo 01

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 15

1 Carga e força eléctrica

A fotografia mostra a máquina de Wimshurst, inventada na década de 1880. Já no século


XVIII existiam outras máquinas electrostáticas usadas para gerar cargas electrostáticas,
usando o atrito; a inovação introduzida pela máquina de Wimshurst foi a separação de
cargas usando indução electrostática, em vez de atrito, conseguindo assim produzir
cargas muito mais elevadas por meios mecânicos. Há muitos mecanismos envolvidos no
funcionamento da máquina de Wimshurst, que serão estudados nos próximos capítulos:
garrafa de Leiden, rigidez dieléctrica, etc.
2 Carga e força eléctrica

Actividade prática

Cole aproximadamente 15 cm de fita-cola num lápis ou caneta, de forma a que, segurando


no lápis, possa aproximar a fita-cola de outros objectos para observar a força entre a
fita-cola e os objectos. Aproxime a fita-cola sempre pelo lado que não tem cola, para
evitar que fique colada, e tente evitar que toque outros objectos, para não perder a carga
acumulada nela.

Figura 1.1: Força repulsiva entre pedaços de fita cola com cargas do mesmo sinal, e força
atractiva entre pedaços com cargas de sinais opostos.

Comece por observar a força entre a fita-cola e outros objectos. O acetato do qual é feito a
fita-cola adquire cargas eléctricas facilmente. O simples facto de descolar um pedaço do
rolo, faz com que fique com alguma carga; outros objectos, como a mesa, um caderno, etc.,
geralmente não têm qualquer carga eléctrica.
Para observar a força entre diferentes cargas eléctricas, cole dois pedaços de fita cola à
mesa, cada um colado a um lápis que permita puxar a fita-cola, descolando-la da mesa e a
seguir colocar o lápis por baixo dum livro na borda da mesa, ficando a fita-cola pendurada
livremente para poder aproximar outros objectos dela. Observe a força entre os dois
pedaços.
Repita a experiência com quatro pedaços de fita-cola, dois deles colados à mesa, e outros
dois colados por cima dos primeiros. Para cada par de pedaços, descole o conjunto da
mesa, enquanto descola os dois pedaços entre si. Em cada par de pedaços, o que estava por
cima e o que estava por baixo ficam com cargas opostas (positiva ou negativa). Observe as
forças entre as pedaços com cargas do mesmo sinal ou de sinais opostos. Observe também
a força entre os pedaços de fita-cola com carga positiva ou negativa, e outros objectos sem
carga.
1.1 Estrutura atómica 3

1.1 Estrutura atómica


Toda a matéria está formada por átomos. Cada átomo tem um núcleo com dois tipos de
partículas, protões e neutrões, muito perto uns dos outros. Entre os protões existe uma
força repulsiva designada de força eléctrica. Entre neutrões não existe esse tipo de força,
e entre um neutrão e um protão também não.

Figura 1.2: Átomo de Hélio com dois electrões e dois protões mais dois neutrões no
núcleo.

À volta do núcleo existem partículas muito mais pequenas, os electrões, com massa 2 000
vezes menor que a do protão ou neutrão, a uma distância aproximadamente 100 000 maior
que o tamanho do núcleo. Entre dois electrões observa-se uma força eléctrica repulsiva da
mesma natureza e grandeza que a força entre dois protões. Entre um protão e um electrão
existe também uma força semelhante, da mesma grandeza, contudo, atractiva em vez de
repulsiva. Por tanto, existem dois tipos diferentes de carga eléctrica, a dos protões e a dos
electrões; a força entre cargas semelhantes é repulsiva, enquanto que a força entre cargas
diferentes é atractiva.
Um átomo com igual número de protões e de electrões (átomo neutro) não produz forças
eléctricas sobre outras partículas. Consequentemente, as duas cargas têm sido designadas
de positiva e negativa; o facto de que as forças entre electrões ou protões tenham a mesma
intensidade, é devido a que a carga de um electrão, é exactamente igual à do protão, em
valor absoluto, mas com sinal oposto. A carga total nula de um átomo neutro é, por tanto,
consequência de que a soma das cargas dos electrões e protões seja nula. A convenção
que foi adoptada historicamente é que os electrões têm carga negativa e os protões carga
positiva.
A unidade usada para medir a carga é o coulomb, indicado com a letra C. A carga de
qualquer protão é sempre igual e designada de carga elementar:

e = 1.602 × 10−19 C (1.1)

os electrões têm também todos a mesma carga, exactamente igual a −e.


4 Carga e força eléctrica

1.2 Electrização

É preciso uma energia muito elevada para conseguir remover um protão, ou neutrão, do
núcleo. Isso só acontece no interior das estrelas, na camada mais externa da atmosfera,
onde chocam partículas cósmicas com muita energia, ou nos aceleradores de partículas,
onde os físicos conseguem reproduzir as energias no interior de uma estrela. No entanto, é
mais fácil extrair electrões de um átomo, ficando um ião positivo, com excesso de protões,
ou transferir mais electrões para um átomo neutro, ficando um ião negativo, com excesso
de electrões.

Vidro
+

Seda +

+
− −
− − −

Figura 1.3: Barra de vidro carregada esfregando-a com um pano de seda.

De facto, sempre que dois objectos diferentes entram em contacto muito próximo, passam
electrões dos átomos de um dos objectos para o outro. O objecto que for mais susceptível
a perder electrões ficará electrizado com carga positiva (n protões a mais) e o objecto que
for menos susceptível a perder os seus electrões ficará com a mesma carga, mas negativa
(n electrões a mais).
No caso da fita-cola, o contacto próximo com outros objectos, devido à cola, faz passar
electrões de um para o outro. A fricção entre dois objectos faz também aumentar a
passagem de electrões de um objecto para o outro, sendo usada como método para electrizar
objectos. Os diferentes materiais podem ser ordenados numa série triboeléctrica (tabela
1.1), em que os materiais no topo da série são mais susceptíveis a ficar com carga positiva
e os materiais no fim da lista têm uma maior tendência a ficar com carga negativa.
Por exemplo, se uma barra de vidro for esfregada com um pano de seda, a barra fica
carregada com carga positiva e a seda com carga negativa, porque o vidro está por cima da
seda na série triboeléctrica. Mas se a mesma barra de vidro for esfregada com uma pele
de coelho, a barra fica com carga negativa, e a pele com carga positiva, porque a pele de
coelho está por cima do vidro na série triboeléctrica.
1.3 Propriedades da carga 5

Tabela 1.1: Série triboeléctrica.

Pele de coelho
Vidro
Cabelo humano

Chumbo
Seda
Alumínio
Papel
Madeira
Cobre
Prata
Borracha
Acetato
Esferovite
Vinil (PVC)

1.3 Propriedades da carga

A carga eléctrica é uma propriedade intrínseca da matéria, assim como a massa. A diferença
da massa, existem dois tipos de cargas diferentes e existem partículas sem nenhuma carga.
Duas propriedades muito importantes da carga eléctrica são a sua quantização e a sua
conservação.
Quantização da carga. Nas colisões entre partículas a altas energias são produzidas
muitas outras novas partículas, diferentes dos electrões, protões e neutrões. Todas as
partículas observadas têm sempre uma carga que é um múltiplo inteiro da carga elementar
e (equação 1.1). Assim, a carga de qualquer objecto é sempre um múltiplo inteiro da carga
elementar.
Nas experiências de electrostática, as cargas produzidas são normalmente equivalentes
a um número muito elevado de cargas elementares. Por tanto, nesse caso é uma boa
aproximação admitir que a carga varia continuamente e não em forma discreta.
Conservação da carga. Em qualquer processo, a carga total inicial é igual à carga final.
No caso dos fenómenos em que existe transferência de electrões entre os átomos, isso
é claro que tenha que ser assim. No caso da criação de novas partículas não teria que
ser assim, mas de facto em todos os processos observados nos raios cósmicos, e nos
aceleradores de partículas, existe sempre conservação da carga; se uma nova partícula for
criada, com carga negativa, será criada uma outra partícula com carga positiva.
6 Carga e força eléctrica

1.4 Força entre cargas pontuais


No século XVIII Benjamin Franklin descobriu que as cargas eléctricas colocadas na
superfície de um objecto metálico podem produzir forças eléctricas elevadas nos corpos no
exterior do objecto, mas não produzem nenhuma força nos corpos colocados no interior.
No século anterior Isaac Newton já tinha demonstrado em forma analítica que a força
gravítica produzida por uma casca oca é nula no seu interior. Esse resultado é consequência
da forma como a força gravítica entre partículas diminui em função do quadrado da
distância.
Concluiu então Franklin que a força eléctrica entre partículas com carga deveria ser também
proporcional ao inverso do quadrado da distância entre as partículas. No entanto, uma
diferença importante entre as forças eléctrica e gravítica é que a força gravítica é sempre
atractiva, enquanto que a força eléctrica pode ser atractiva ou repulsiva:
• A força eléctrica entre duas cargas com o mesmo sinal é repulsiva.
• A força eléctrica entre duas cargas com sinais opostos é atractiva.
Vários anos após o trabalho de Franklin, Charles Coulomb fez experiências para estudar
com precisão o módulo da força electrostática entre duas cargas pontuais1
q1 q2
r

Figura 1.4: Duas cargas pontuais, separadas por uma distância r.

A lei de Coulomb estabelece que o módulo da força eléctrica entre duas cargas pontuais
é directamente proporcional ao valor absoluto de cada uma das cargas, e inversamente
proporcional à distância ao quadrado

k|q1 ||q2 |
F= (1.2)
K r2
onde r é a distância entre as cargas (figura 1.4), q1 e q2 são as cargas das duas partículas,
k é uma constante de proporcionalidade designada de constante de Coulomb, e K é a
constante dieléctrica do meio que existir entre as duas cargas. A constante dieléctrica do
vácuo é exactamente igual a 1, e a constante do ar é muito próxima desse valor; assim, se
entre as cargas existir ar, K pode ser eliminada na equação 1.2. No sistema internacional
de unidades, o valor da constante de Coulomb é:
N · m2
k = 9 × 109 (1.3)
C2
Outros meios diferentes do ar têm constantes dieléctricas K sempre maiores que o ar;
consequentemente, a força eléctrica será mais fraca se as cargas pontuais forem colocadas
dentro de um meio diferente do ar.
1 Uma carga pontual é uma distribuição de cargas numa pequena região do espaço.
1.4 Força entre cargas pontuais 7
Exemplo 1.1
Três cargas pontuais estão ligadas por fios que formam um triângulo rectângulo, como
mostra a figura. (a) Calcule a tensão no fio que liga as cargas de 7.4 nC e 9.3 nC. (b) Se a
carga de 5.6 nC fosse retirada, a tensão calculada na alínea a aumentava ou diminuía?
7.4 nC

1 cm

5.6 nC 1.5 cm 9.3 nC

Resolução: (a) O diagrama de forças sobre a partícula de carga 7.4 nC (designada de


partícula número 3) é

F13 F23

T23
T13

onde ~F13 e ~F23 são as forças electrostáticas produzidas pelas partículas 1 e 2, de cargas
9.3 nC e 5.6 nC, respectivamente, e ~T13 , ~T23 são as tensões nos fios que ligam a partícula 3
a essas duas cargas. Para que a partícula permaneça em equilíbrio é necessário que:

F13 = T13 F23 = T23

Antes de fazer as contas, é conveniente escrever o valor da constante k nas unidades usadas
no problema (nC e cm):

N · m2 6 4
9 10 µN × 10 cm
2 µN · cm2
k = 9 × 109 = 9 × 10 = 90
C2 1018 nC2 nC2
Assim, admitindo ar à volta das cargas, a tensão no fio que liga as cargas 1 e 3 é:
k |q1 | |q3 | 90 × 7.4 × 9.3
T13 = F13 = = µN = 1.9 mN
r2 12 + 1.52

(b) O valor da tensão permanece igual, pois como mostramos na alínea anterior, T13 não
depende da força F23 produzida pela partícula de 5.6 nC.
8 Carga e força eléctrica

1.5 Campo eléctrico


Uma forma diferente de explicar a força electrostática entre duas partículas com carga
consiste em admitir que cada carga eléctrica cria à sua volta um campo de forças que actua
sobre outras partículas com carga. Se colocarmos uma partícula com carga q0 num ponto
onde existe um campo eléctrico, o resultado será uma força eléctrica ~F; o campo eléctrico
~E define-se como a força por unidade de carga:

~
~E = F (1.4)
q0

Consequentemente, o campo eléctrico num ponto é um vector que indica a direcção e o


sentido da força eléctrica que sentiria uma carga unitária positiva colocada nesse ponto.
Em forma inversa, se soubermos que num ponto existe um campo eléctrico ~E, podemos
calcular facilmente a força eléctrica que actua sobre uma partícula com carga q, colocada
nesse sítio: a força será ~F = q ~E. Precisamos apenas de conhecer o campo para calcular a
força; não temos de saber quais são as cargas que deram origem a esse campo. No sistema
SI, o campo eléctrico tem unidades de newton sobre coulomb (N/C).
Como vimos, a força eléctrica produzida por uma carga pontual positiva Q sobre uma
segunda carga de prova q0 positiva é sempre uma força repulsiva, com módulo que diminui
proporcionalmente ao quadrado da distância.
Assim, O campo eléctrico produzido por uma carga pontual positiva Q são vectores com
direcção e sentido a afastar-se da carga, como se mostra no lado esquerdo da figura 1.5.

F
E q0 E

r
Q Q

Figura 1.5: Campo eléctrico produzido por uma carga pontual positiva Q e representação
do campo usando linhas de campo.

Uma forma mais conveniente de representar esse campo vectorial consiste em desenhar
alguma linhas de campo, como foi feito no lado direito da figura 1.5. Em cada ponto,
1.5 Campo eléctrico 9

a linha de campo que passa por esse ponto aponta na direcção do campo. O módulo do
campo é maior nas regiões onde as linhas de campo estão mais perto umas das outras.
Para calcular o valor do campo eléctrico produzido pela carga pontual Q num ponto,
coloca-se uma carga de prova q0 nesse ponto e divide-se a força eléctrica pela carga q0 .
Usando a lei de Coulomb, equação 1.2, obtemos o módulo do campo eléctrico produzido
pela carga Q:
k |Q|
E= 2 (1.5)
r
onde r é a distância desde a carga Q, que produz o campo, até o ponto onde se calcula o
campo. O sinal da carga Q indicará si o campo é repulsivo (Q > 0) ou atractivo (Q < 0).
O campo eléctrico criado por uma única carga pontual é muito fraco para ser observado.
Os campos que observamos mais facilmente são criados por muitas cargas; seria preciso
somar vectorialmente todos os campos de cada carga para obter o campo total. No capítulo
6 retomaremos esse assunto; por enquanto, estaremos mais preocupados em estudar os
efeitos produzidos pelo campo eléctrico.
As linhas de campo eléctrico produzidas por um sistema de muitas cargas já não serão
rectas, como na figura 1.5, mas poderão ser curvas, como no exemplo da figura 1.6.

Figura 1.6: Exemplo de um campo eléctrico representado pelas linhas de campo.

Exemplo 1.2
A força sobre uma carga de prova de 5 nC, num determinado ponto é igual a 2 × 10−4 N e
tem a direcção do eixo dos x. Calcule o campo eléctrico nesse ponto. Qual seria a força
sobre um electrão no mesmo ponto?

Resolução: A partir da força calcula-se o campo:


~F 2 × 10−4 N  
N
~E = 4
= ~ex = 4 × 10 ~ex
q0 5 nC C
A força sobre um electrão no mesmo ponto seria:
~F = −e ~E = −1.60 × 10−19 C × 4 × 104~ex ( N ) = −6.4 × 10−15~ex (N)
C
10 Carga e força eléctrica

1.6 Condutores e Isoladores


Em alguns materiais, como nos metais, o electrão mais externo em cada átomo é livre de se
movimentar pelo material; existe assim uma “nuvem” muito densa de electrões (electrões
de condução), com densidade constante se o material for homogéneo. Esse tipo de material
é designado de condutor.
Se o condutor for colocado numa região onde existe campo eléctrico, como a nuvem
electrónica tem carga negativa, desloca-se em sentido oposto às linhas de campo. Assim,
acumulam-se electrões num extremo, ficando com excesso de carga negativa, e no extremo
oposto aparece uma carga do mesmo valor mas com sinal positivo (falta de electrões).
Essa acumulação de cargas no condutor cria um campo interno oposto ao campo externo;
quando os dois campos se anularem, o movimento da nuvem electrónica cessará.
No lado esquerdo da figura 1.7 mostra-se o que acontece quando aproximamos uma barra,
com carga positiva, a uma esfera condutora isolada. A nuvem electrónica aproxima-se
da barra. Se a barra tivesse carga negativa, a nuvem electrónica afastava-se dela. Nos
dois casos, o resultado é a indução de carga de sinal oposto perto da barra, e carga do
mesmo sinal na região mais afastada da barra. A carga total da esfera continua a ser nula.
Se a esfera não estivesse sobre um suporte isolador, as cargas do mesmo sinal da barra
abandonavam a esfera, passando através do suporte para a terra.

++ ++
++ ++

− −
−+−+ +
−−
+
++

Figura 1.7: Efeito de uma barra com carga sobre uma esfera condutora (esquerda) e uma
esfera isoladora (direita).

Nos materiais isoladores, os electrões estão ligados a cada átomo. Quando uma carga
externa é colocada perto do material, os electrões e protões de cada átomo deslocam-se
na direcção das linhas de campo mas em sentidos opostos, sem sair do átomo. Assim
cada átomo deforma-se criando um pequeno dipolo eléctrico; nomeadamente, um sistema
com carga total nula, mas com as cargas positivas e negativas separadas por uma pequena
distância.
O lado direito da figura 1.7 mostra a deformação de alguns dos átomos de uma esfera
isoladora, quando é aproximada uma barra com carga positiva. Independentemente do
sinal da carga da barra, em cada átomo as cargas de sinal oposto às carga da barra estarão
1.7 Carga por indução 11

mais perto da barra e a as cargas do mesmo sinal estarão mais afastadas; portanto, a força
resultante da carga externa sobre cada átomo neutro será sempre atractiva, independente-
mente do sinal da carga externa. Assim, um material isolador é sempre atraído por um
objecto externo com carga, independentemente do sinal dessa carga.

1.7 Carga por indução


Um método usado para carregar dois condutores isolados, ficando com cargas idênticas
mas de sinais opostos, é o método de carga por indução ilustrado na figura 1.8.
Os dois condutores isolados são colocados em contacto. A seguir aproxima-se um objecto
carregado, como se mostra na figura 1.8. O campo eléctrico produzido pelo objecto
carregado induz uma carga de sinal oposto no condutor que estiver mais próximo, e uma
carga do mesmo sinal no condutor que estiver mais afastado. A seguir, separam-se os
dois condutores mantendo o objecto carregado na mesma posição. Finalmente, retira-se o
objecto carregado, ficando os dois condutores carregados com cargas opostas; em cada
condutor as cargas distribuem-se pela superfície, devido à repulsão entre elas, mas as
cargas dos dois condutores já não podem recombinar-se por não existir contacto entre eles.

++ ++
++ ++

−− −− −
− −
− +
+ + −
++ ++ + +

Figura 1.8: Procedimento usado para carregar dois condutores com cargas iguais mas de
sinais opostos.

Na máquina de Wimshurst, usa-se esse método para separar cargas de sinais opostos. Os
condutores que entram em contacto são duas pequenas lâminas metálicas diametralmente
opostas sobre um disco isolador, quando passam por duas escovas metálicas ligadas a uma
barra metálica (figura 1.9). As duas lâminas permanecem em contacto apenas por alguns
instantes, devido a que o disco roda.
Se no momento em que duas das lâminas de um disco entram em contacto uma lâmina
do disco oposto estiver carregada, essa carga induzirá cargas de sinais opostos nas duas
lâminas que entraram em contacto. Essas cargas opostas induzidas em duas regiões do
disco induzem também cargas no disco oposto, porque nesse disco também há uma barra
que liga temporariamente as lâminas diametralmente opostas.
12 Carga e força eléctrica

Figura 1.9: Máquina de Wimshurst.

Em cada disco, após induzirem cargas no disco oposto, as cargas saltam para dois colectores
ligados a duas garrafas metálicas; uma das garrafas armazena carga positiva e a outra
carga negativa. Quando as cargas acumuladas nas garrafas forem elevadas produz-se uma
descarga eléctrica entre as pontas de duas barras ligadas às garrafas, ficando descarregadas.
Essa descarga eléctrica é um pequeno trovão com uma faísca bastante luminosa.
Os dois discos rodam em sentidos opostos e as duas barras que estabelecem o contacto em
cada disco e os dois colectores estão colocados de forma a que na rotação de cada lâmina
no disco, primeiro seja induzida uma carga que a seguir induz carga oposta no disco oposto
e logo passe para o colector, ficando descarregada e pronta para iniciar outro ciclo.
A cada ciclo as cargas induzidas aumentam, porque cada lâmina é induzida pelas cargas de
várias lâminas no disco oposto. Para iniciar o processo basta com que uma das lâminas
tenha acumulado alguma pequena carga por contacto com outro corpo como, por exemplo,
o ar à volta. A localização inicial dessa lâmina com carga determinará qual das garrafas
acumula carga positiva e qual negativa.

Perguntas

1. Uma barra com carga positiva é colocada C. Nula.


perto de uma folha de papel com carga D. Dependerá da barra ser condutora ou
nula. A força sobre o papel será: isoladora.
A. Atractiva. E. Atractiva se o papel estiver seco ou
B. Repulsiva. nula se estiver húmido.
1.7 Carga por indução 13

2. O que faz com que um condutor eléctrico delas tocando as outras duas, e a seguir
seja diferente de um isolador é: forem separadas:
A. Ter mais electrões do que protões. A. Todas ficam sem carga.
B. Ter mais protões do que electrões. B. Cada uma delas fica com carga Q.
C. Ter mais electrões do que o isolador. C. Duas delas ficam com carga Q/2 e
D. Ter moléculas que se deformam mais outra com carga −Q/2.
facilmente. D. Cada uma delas fica com carga Q/3.
E. Ter alguns electrões livres. E. Uma delas fica com carga Q e outra
3. Três cargas são colocadas sobre o eixo x: com carga −Q.
uma carga q1 = −6.0 µC em x = −2, 0 m, 5. Uma esfera metálica montada num su-
uma carga q2 = +4.0 µC em x = 0 m e porte isolador liga-se à terra com um fio
uma carga q3 = −6.0 µC em x = +2.0 m. condutor e a seguir aproxima-se da esfera
Calcule o módulo da força sobre a carga uma barra de plástico com carga positiva.
q3 . A ligação da esfera a terra é retirada e a
−2
A. 2.4 × 10 N. seguir afasta-se a barra de plástico. Com
B. 1.7 × 10−2 N. que carga fica a esfera metálica?
C. 0. A. Nula.
D. 2.7 × 10−2 N. B. Positiva.
E. 3.4 × 10−2 N. C. Negativa.
4. Temos três esferas condutoras, isoladas, D. Diferente de zero, mas não é possível
idênticas, uma delas com carga Q e as saber o sinal.
outras duas sem carga. Se as 3 esferas E. Positiva num extremo e negativa no
forem colocadas em contacto, cada uma extremo oposto.

Problemas
1. Quando uma lâmina de acetato, electrizada por fricção, se aproxima a 1 cm de pequenos
pedaços de papel sobre uma mesa, estes ascendem colando-se ao acetato. Cada pedaço
de papel é aproximadamente um quadrado com 0.5 cm de lado, cortados de uma folha
de papel de 80 g/m2 . Faça uma estimativa da ordem de grandeza da carga do acetato,
admitindo que uma carga idêntica e de sinal oposto é induzida em cada pedaço de papel.
2. Duas cargas q1 e q2 têm a carga total q1 + q2 = 10 µC. Quando estão a uma distância
de 3 m, o módulo da força exercida por uma das cargas sobre a outra é igual a 24 mN.
Calcule q1 e q2 , se: (a) Ambas forem positivas. (b) Uma for positiva e a outra for
negativa.
3. Admita que, num átomo de hidrogénio, a distância entre o protão no núcleo e o electrão
é de 5.3 × 10−11 m. Calcule o campo eléctrico devido ao núcleo, no ponto onde está o
electrão.
14 Carga e força eléctrica

4. O campo eléctrico na atmosfera terrestre é da ordem dos 150 N/C e é dirigido para
o centro da Terra. Calcule a relação entre o peso de um electrão e o módulo da
força eléctrica oposta exercida pelo campo eléctrico da atmosfera (a massa do electrão
encontra-se no Apêndice A e admita que a aceleração da gravidade é 9.8 m/s2 ).
5. Três cargas pontuais estão ligadas por dois fios isoladores de 2.65 cm cada um (ver
figura). Calcule a tensão em cada fio.

3.2 nC 5.1 nC 7.4 nC

Figura 1.10: Problema 5.

6. Entre duas placas paralelas de cargas opostas existe um campo eléctrico uniforme.
Um electrão libertado na superfície da placa carregada negativamente será acelerado
uniformemente, a partir do repouso, em direcção da placa carregada positivamente (o
peso do electrão pode ser desprezado em comparação com a força eléctrica e admitimos
que as placas encontram-se dentro de um tubo com vácuo). Sabendo que a distância
entre as placas é de 2.0 cm e que cada electrão libertado demora 15 µs até atingir a placa
positiva, calcule: (a) o módulo do campo eléctrico (a massa do electrão encontra-se no
apêndice A) e (b) a velocidade com que os electrões batem na placa positiva.
7. Um sistema de três cargas pontuais está em equilíbrio (a força electrostática sobre cada
carga é zero). Sabendo que duas das cargas são q e 2q, separadas por uma distância d,
calcule o valor e a posição da terceira carga.
8. Calcule a força eléctrica resultante que actua sobre cada uma das cargas representadas
na figura, e o campo eléctrico produzido pelas 3 cargas no ponto P.
7 nC

1c
m

1 cm
P 1c
m

−5 nC √3 cm 9 nC

Figura 1.11: Problema 8


Soluções das perguntas e
problemas

1. Carga e força eléctrica

Perguntas

1. A. Atractiva 4. D. Cada uma delas fica com Q/3.


2. E. Ter alguns electrões livres. 5. C. Negativa.
3. E. 3.4 × 10−2 N.

Problemas
1. Ordem de grandeza de 10−10 C.

2. (a) 6 µC, e 4 µC (b) 12 µC, e −2µC

3. 5.1 × 1011 N/C.

4. A força electrostática é 2.7 × 1012 vezes maior que o peso.

5. A tensão no fio do lado esquerdo é 285 µN e no fio do lado direito 560 µN.

6. (a) 1.01 × 10−3 N/C (b) 2.67 × 103 m/s.

7. A terceira carga é −0.343 q, e encontra-se entre as outras duas cargas, a uma distância
0.414 d da carga q

8. Com origem na carga q1 = −5 nC, eixo dos x na direcção de q2 = 9 nC, e eixo dos y
na direcção de q3 = 7 nC, as forças são:
~F1 = (1.35~ex + 3.15~ey ) mN
~F2 = (−0.12~ex − 0.71~ey ) mN
~F3 = (−1.23~ex − 2.44~ey ) mN
O campo em P é: (−0.545~ex − 0.135~ey ) N/µC

Você também pode gostar