As Excelências Da Santa Missa
As Excelências Da Santa Missa
As Excelências Da Santa Missa
MAURÍCIO
da Ordem dos Frades Menores
AS EXCELÊNCIAS
DA
SANTA MISSA
Conforme a edição romana de 1737 dedicada a S.S. o Papa Clemente XII
AS EXCELÊNCIAS
DA
SANTA MISSA
Dedicatória
Santíssimo Padre,
O mínimo dos Frades Menores, humildemente prostrado aos pés de V a Santidade, ousa
oferecer-vos este livrinho. Vai publicado sob o título de “TESOURO OCULTO”, mas para vossa
grande alma, é um tesouro há longo tempo conhecido, pois trata da excelência e utilidade da
Santa Missa, que constitui toda a vossa consolação e é o esplendor da Igreja de Deus.
Nada mais conveniente; pois já que trará do mais augusto de todos os sacrifícios, a quem
poderia ser melhor dedicado este livro do que ao primeiro de todos os Padres? E onde poderia eu
buscar apoio mais precioso, senão no patrocínio do Pastor supremo, que longe de guardar em si
sua grande piedade, deseja tão ardentemente espalhá-la em proveito dos povos tão necessitados
de luz? Igualmente, nada mais justo. Numerosos e poderosíssimos são os motivos que, de longa
data, me impelem a manifestar em atos, meu vivo reconhecimento a vossa Santidade. Oh!
Quantos benefícios que concedeu vossa clemência durante o pouco tempo que passei na Cidade
Eterna!
Estes motivos e muitos outros excitam em meu coração sentimentos do mais humilde
respeito, obrigam-me a manifestar o meu devotamento e encorajam-me a mandar imprimir no
frontispício destas páginas o vosso nome augusto, conferindo-lhes assim uma recomendação que
lhe aumentará o valor. O preito que vos rendo com este livro é, portanto conveniente e justo.
Mas será sempre de vossa parte, santíssimo Padre, pura benevolência se vos dignardes
aceita-la. È o que espero, vendo-vos tão inclinado a promover tudo que de qualquer modo, possa
facilitar o grande negócio da salvação das almas.
Este zelo admirável é que atrai sobre vós a proteção visível do Altíssimo.
É Deus, certamente, que a uma idade tão avançada ajunta santidade tão florescente:
DEUS, vosso conselheiro em tão difíceis conjunturas, DEUS, vossa Força nas provações tão
grandes da Igreja, DEUS mesmo, que será finalmente vossa recompensa por tão gloriosos
empreendimentos, dirigidos todos para o bem do universo católico.
Digne-se vossa Santidade permitir que eu me prostre, com profunda submissão, beijando
vossos pés sagrados, e oferecendo-vos minhas obras, minhas palavras e meu coração, e que me
confesse, de vossa Santidade, o mais humilde, respeitoso e obediente filho e servo,
Os tesouros, por grandes e preciosos que sejam, não podem ser estimados se não forem
conhecidos. Eis porque, caro leitor, muitos não têm pelo santo Sacrifício da Missa o amor que
deveriam ter, porque este tesouro, A MAIOR MARAVILHA e a MAIOR RIQUEZA da IGREJA
DE DEUS é um TESOURO OCULTO um tesouro muito pouco conhecido. Ah! se todos
conhecessem esta preciosidade celeste, tudo sacrificariam para adquiri-lo. A exemplo do
mercador do Evangelho, cada um, de boa vontade, daria tudo que possuísse para obter tão
precioso tesouro.(Mt 13, 46)
Para estabelecer, portanto, àqueles que não estimam suficientemente tão grande mistério,
publicamos este opúsculo.
Talvez a primeira vista, você não dê muito valor a ele, pois tantos outros livros foram já
impressos, que ensinam admiravelmente o método para participar com fruto da Santa Missa, que
outros novos não se podem desejar, como temerário, pois seria preciso mais talentos, a fim de
pôr, em evidência, todo o valor de um Mistério tão venerável, além da inteligência dos próprios
Serafins.
Com efeito, um dos maiores benefícios que se obtém das Missões é o incremento do culto
e do amor ao Santíssimo Sacramento. A finalidade delas é excitar em todos os cristãos um santo
fervor que os impila a nutrirem-se mais freqüentemente do Pão dos Anjos, a acompanhar o santo
Viático, cada vez que ele é levado aos doentes, a fim de que se forme um grande cortejo de
pessoas e luzes, numa palavra, se lhes prestem as honras e pompa adequadas. Muito esforço
também é feito no sentido de levar, todos os fiéis católicos, a assistir diariamente à Santa Missa; e
não podeis imaginar como é vantajoso, para atingir um fim tão santo, colocar, entre as mãos dos
fiéis, livros compostos em estilo simples e a seu alcance. Esses livros aplanam toda dificuldade
para excitar a devoção, aclarando a inteligência e aquecendo os corações; e muitas vezes tira-se
deles mais proveito que mesmo das pregações, pois nestas a palavra se dissipa enquanto que a
verdade escrita permanece sempre sob os nossos olhos.
Ainda que este opúsculo, não fizesse bem senão a uma única alma, não se poderia dizer
que ficasse sem fruto.
Esses que assim falam deixam perceber claramente que pouca ou nenhuma estima têm
pelo santíssimo Sacrifício da Missa.
Sabeis que é, na realidade, a Santa Missa? É o sol da cristandade, a alma da Fé, o centro
da religião Católica apostólica com a sede em Roma, a que tendem todos os seus ritos, todas as
suas cerimônias, todos os seus sacramentos. É uma palavra, A ESSÊNCIA DE TUDO O QUE
HÁ DE BOM E BELO NA IGREJA DE DEUS.
Por isso caros leitores meditem bem tudo que vou dizer-vos nesta instrução.
EXCELÊNCIA DO SANTO
SACRIFÍCIO DA MISSA
É uma verdade incontestável que todas as religiões, que existiram desde o começo do
Mundo, tiveram sempre algum sacrifício como parte essencial do culto devido a DEUS.
Mas porque essas religiões eram vãs ou imperfeitas, seus sacrifícios, também, eram vãos
ou imperfeitos.
Totalmente vãos eram os sacrifícios do paganismo, e nem acode ao espírito falar sobre
eles.
Só o Sacrifício que temos em nossa santa religião, que é a Santa Missa, é um sacrifício
santo, perfeito, e, em todo sentido, completo: por ele, cada fiel honra dignamente a DEUS,
reconhecendo, ao mesmo tempo, o próprio nada e o supremo domínio de DEUS. Davi o chama:
Sacrifício de Justiça, sacrificium justitiae; tanto porque contém o Justo dos justos e o Santo dos
santos, ou, melhor a própria Justiça e Santidade, como porque santifica as almas pela infusão das
graças e abundância dos dons que lhes confere.
PRIMEIRA EXCELÊNCIA
A Santa Missa é um sacrifício tão santo, o mais augusto e excelente de todos, e a fim de
formardes uma idéia adequada de tão grande tesouro, algumas de suas excelências divinas; pois
dize-las todas não é empreendimento a que baste a fraqueza da minha inteligência.
Um abre-nos os tesouros dos méritos de CRISTO Nosso Senhor, o outro no-los dá para os
utilizarmos.
Notai, portanto que na Missa não se faz apenas uma representação, uma simples memória
da Paixão e Morte do nosso Salvador; mas num sentido realíssimo, o mesmo que se realizou
outrora no Calvário aqui se realiza novamente: tanto que se pode dizer, a rigor, que em cada
Santa Missa nosso Redentor morre por nós misticamente, sem morre na realidade, estando ao
mesmo tempo vivo e como imolado: Vidi agunum stantem tanquan accisum. (Apoc 5, 6)
No santo dia de Natal, a Igreja nos lembra o nascimento do Salvador, mas não é verdade
que Ele nasça, ainda, nesse dia.
A obra de nossa Redenção aí se exerce: sim, exercetur, aí se exerce atualmente. Este santo
sacrifício realiza, opera o que foi feito sobre a Cruz. Que obra sublime! Ora, dizei-me
sinceramente se, quando ides à Igreja para assistir a Santa Missa, pensásseis bem que ides ao
Calvário assistir à morte do Redentor, que diria alguém que vos visse ai chegar numa atitude tão
pouco modesta? Se Maria Madalena fosse ao Calvário e se prostrasse aos pés da Cruz vestida,
perfumada e ataviada como em seus tempos de desordem, quanto não seria censurada! E que se
dirá de vós que ides à Santa Missa como se fôsseis a uma festa mundana?
Que aconteceria, sobretudo se profanásseis este ato tão santo, com gestos, risadas,
cochichos, encontros sacrílegos?
Digo que, em qualquer tempo e lugar, a iniqüidade não tem cabimento; mas os pecados
que se cometem na hora da Santa Missa e na proximidade do altar, são pecados que atraem a
maldição, de DEUS: Maledictus qui facit opus Domini fraudulenter (Jer 48,10). Meditai
seriamente sobre esse assunto.
SEGUNDA EXCELÊNCIA
Depois de dizer que o Sacrifício da Missa é o mesmo Sacrifício da Cruz, e não uma cópia,
era de imaginar que não se poderia encontrar prerrogativa melhor. O que o torna, entretanto, mais
sublime é o fato de ter como sacerdote o próprio Deus feito homem.
Três coisas, certamente são para considerar no santo Sacrifício: o Sacerdote que oferece.
A Vítima oferecida e a Majestade divina, a quem se oferece. Ora, três considerações: o Sacerdote,
que oferece, é um Homem-DEUS, JESUS CRISTO: a vítima é a vida de um DEUS; e não se
oferece a outrem senão DEUS.
Reanimai, portanto, a vossa fé, e reconhecei no padre que celebra, a pessoa adorável de
Nosso Senhor JESUS CRISTO.
Ele o principal oferente, não só porque instituiu este santo Sacrifício, e lhe dá, por seus
méritos, a eficácia, mas porque se digna, em cada Santa Missa e para nosso benefício mudar o
pão e o vinho em seu santíssimo Corpo e preciosíssimo Sangue.
Eis porque a maior excelência da Santa Missa consiste em ter por Sacerdote um DEUS
feito Homem. E quando virdes o celebrante no altar, sabei que sua maior dignidade é ser o
ministro deste Sacerdote invisível e eterno que é nosso Redentor.
Daí vem que o Sacrifício não deixa de ser agradável a DEUS, ainda que o padre
celebrante seja um pecador, visto que o principal oferente é CRISTO Nosso Senhor, e o padre seu
simples representante.
Do mesmo modo, aquele que dá esmola pela mão dum servidor, é verdadeiramente o
principal autor do benefício, e ainda que o servo fosse um celerado, se o patrão é um justo, a
esmola é santa e é meritória.
Bendito seja DEUS que nos deu um Sacerdote infinitamente santo, a própria Santidade, o
qual oferece ao PAI Eterno este divino Sacrifício, não só em todo lugar, pois hoje a fé está
difundida em toda parte, mas também em todo tempo, todos os dias e mesmo a toda hora, graças
a DEUS, o sol se levanta para outras regiões, quando pra nós desaparece. A toda hora, portanto
em qualquer parte da Terra, este Santíssimo Sacerdote oferece seu Corpo, seu Sangue, todo o Ser
ao PAI, por nós, e o faz tantas vezes quantas Missas se celebram em todo o Universo.
Que tesouro imenso! Que mina de inestimáveis riquezas possuímos na Igreja de DEUS!
Felizes de nós se pudéssemos assistir devotamente a todas as Santas Missas! Que capital de
méritos amontoaríamos! Que abundância de graças nesta vida, e que grau de glória na outra nos
proporcionará a devota e amorosa assistência a tantas Santas Missas!
Mas que digo? Assistência? Os que assistem a Missa à Santa Missa não fazem apenas o
ofício de assistentes, mas também o de celebrantes e pode-se chama-los sacerdotes: Fecisti nos
DEO nostro regnun et sacerdotes (Apoc 5,10). O sacerdote que oficia é como o ministro público
da Igreja inteira, o mediador de todos os fiéis, e especialmente daqueles que participam da Santa
Missa, junto do Sacerdote invisível que é JESUS. Com CRISTO, ele oferece ao Eterno PAI, em
seu Nome e em nome de todos, o resgate precioso da Redenção dos homens. Não está, porém,
sozinho nesta santa função.
Todos os que assistem a Santa Missa, concorrem com ele no oferecimento do Sacrifício.
Assim, voltado para os fiéis, o sacerdote diz: “Orate, fratres, ut meum ac vestrum sacrificium
acceptabile fiat”: “Orai, meus irmãos, para que o meu sacrifício, que é também o vosso, seja
agradável a DEUS”.
Estas palavras, que o sacerdote profere, é para nos dar a entender que, conquanto
desempenhe ele o papel de ministro principal, todos, que ali assistem, com ele oferecem a grande
Vítima. Quando assistis à Santa Missa, fazeis, portanto, de certo modo, o ofício de sacerdote.
Que dizeis agora? Ousaríeis ainda assistir à Santa Missa, sentados, tagarelando, olhando
para um e outro lado, e contentando-vos de recitar, bem ou mal, umas preces vocais, sem levar
em conta o ofício de tanta responsabilidade que exerceis, o ofício de sacerdote?
Ah! não posso evitar de exclamar aqui: Ó mundo insensato, que nada compreende de tão
augustos mistérios.
Como é possível permanecer ao pé dos altares com o espírito distraído e o coração
dissipado, num momento em que os Anjos e os Santos se absorvem em admiração e temo à vista
de tão maravilhosa obra!
TERCEIRA EXCELÊNCIA
Admirai-vos, talvez, de me ouvir dizer que a Missa é uma obra maravilhosa? E não é,
com efeito, inefável maravilha o que opera a palavra de um humilde sacerdote? Que língua
angélica ou humana poderia explicar poder tão excessivo? Quem, jamais, pode imaginar que a
palavra de um homem, que não tem, naturalmente, a força de levantar da terra uma palha,
receberia da graça o poder surpreendente de fazer descer do Céu o Filho de DEUS?
Aí está um poder maior que o de transportar montanhas, esgotar o mar e abalar os céus;
poder comparável, de certo modo, àquele primeiro Fiat com que DEUS fez surgir do nada todas
as coisas, e que pode mesmo parecer sobrepujar, em outro sentido, aquele Fiat pelo qual a
Virgem Santíssima atraiu a seu seio o Verbo Divino.
A Virgem Maria nada mais fez que fornecer a matéria do corpo de Cristo dela formado,
sem dúvida, isto é, de seu puríssimo sangue, mas não por ela nem por sua operação: enquanto que
a voz do sacerdote, sendo instrumento de CRISTO no ato da consagração, O reproduz de um
modo novo e admirável, quer dizer, sacramentalmente e isto tantas vezes quantas consagra.
Bastou isso para dissipar o engano do eremita, que, expulsando de seu espírito toda a
dúvida, fez grande penitência por seu pecado.
Um espírito, falando pela boca de uma pessoa, fez com que um judeu incrédulo
compreendesse esta verdade, por meio de uma comparação material e grosseira. O homem
achava-se numa praça com muitas pessoas, entre as quais a mulher possessa. Nesse momento
passou um padre que levava o Santo Viático a um doente. Todos os presentes se ajoelharam e
prestaram homenagem ao Santíssimo Sacramento. Só o judeu ficou imóvel e não deu sinal algum
de respeito. Vendo isso, a mulher levantou-se furiosa, arrancou-lhe o chapéu e deu-lhe um
vigoroso bofetão, dizendo-lhe.
“Desgraçado, porque não te prostras diante do verdadeiro DEUS presente neste Divino
Sacramento?” – “Que DEUS?”, replicou o judeu. “Se fosse verdade, a conseqüência seria haver
muitos deuses, pois, ao celebrarem a Santa Missa ele estaria em cada um dos vossos altares”.
A estas palavras, o espírito, que habitava naquela mulher, tomou um crivo e opondo-se ao
sol, disse ao judeu que olhasse os raios filtrando-se pelos buracos. Em seguida ajuntou: “Dize-
me, judeu, há então muitos sóis passando pelas aberturas deste crivo, ou um só?” E, à resposta do
judeu de que não havia senão um sol, a mulher replicou:
“Por que te espantas, então, de que DEUS, feito Homem e feito Sacramento, possa ter, por
um excesso de amor, uma presença real e verdadeira sobre vários altares, permanecendo, no
entanto, uno, indivisível e imutável?” Foi o suficiente para confundir a incredulidade do judeu,
que por esse raciocínio se viu constrangido a confessar a verdade de nossa Fé.
Ó santa Fé! Apenas um raio de tua luz, e exclamaremos com fervor: Quem ousaria
estabelecer limites à onipotência de DEUS?
Nesta grande concepção que tinha do poder de DEUS, Santa Teresa dizia, muitas vezes,
que quanto mais sublimes eram os mistérios de nossa fé, e profundos e impenetráveis à nossa
inteligência, com tanto mais força e felicidade neles acreditava, sabendo bem que DEUS todo-
poderoso pode fazer prodígios infinitamente maiores.
Se, porém, sua excelência prodigiosa não vos comove, que vos toque, ao menos, sua
soberana necessidade.
Se não houvesse o Sol, que seria da Terra? Oh! Tudo seria trevas, horror, esterilidade e
desolação.
E se o Mundo não tivesse a Santa Missa, que seria de nós? Infelizes! Ficaríamos privados
de todos os bens sobrecarregados de todos os males. Estaríamos expostos a todos os raios da
cólera de DEUS.
Alguns há que se admiram, e acham que, de certo modo DEUS mudou a sua maneira de
governar. Antigamente Ele se nomeava de DEUS dos exércitos, e falava ao povo do meio das
nuvens, manejando o trovão; e de fato, era com todo o rigor da justiça que castigava os pecados.
Por um único adultério, mandou passar a fio de espada vinte e cinco mil homens da tribo de
Benjamim. (Juiz 20,46).
Por um leve pecado de orgulho de Davi em computar o povo, enviou Ele uma peste tão
terrível que, em poucas horas pereceram setenta mil pessoas (II Sam. 24,15)
Por um só olhar curioso e desrespeitoso dos betsamitas, fez que cinqüenta mil deles
perecessem. (I Sam. 6, 19).
E agora suporta, com paciência, não só vaidades e irreverências, mas adultérios, os mais
vergonhosos, escândalos gravíssimos, e tantas blasfêmias horríveis que muitos cristãos vomitam
contra Seu Nome Santíssimo.
Por que assim acontece? Por que tão grande mudança de conduta? Serão as ingratidões
dos homens mais escusáveis hoje do que outrora? Bem ao contrário, são muito mais culpáveis, já
que os imensos benefícios de DEUS se multiplicam cada dia.
A verdadeira razão desta clemência espantosa é a Santa Missa, pela qual esta grande
Vítima, que se chama JESUS, se oferece ao Eterno PAI. Eis aí o sol da santa Igreja que dissipa as
nuvens e torna sereno o céu.
Eis aí o arco-íris que detém os raios da Divina Justiça. Creio para mim que, não fosse a
Santa Missa, o Mundo estaria já no abismo, incapaz de suportar o imenso fardo de suas
iniqüidades.
A Santa Missa é o poderoso sustentáculo que lhe permite subsistir.
Concluí, de tudo isto, quanto este divino Sacrifício é necessário; assim então, sabei
aproveitá-lo o máximo que for possível.
Para isto, quando participamos da Santa Missa, devemos imitar Afonso de Albuquerque.
Achando-se, com sua frota, em perigo de naufragar numa horrível tempestade, teve uma
inspiração: tomou nos braços uma criança que viajava em sua nau, e, elevando-a ao alto,
exclamou: “Se todos somos pecadores, esta criaturinha é certamente sem mácula, Ah! Senhor por
amor deste inocente compadecei-vos dos culpados!” Acreditareis? A vista dessa criança inocente
agradou tanto a DEUS, que Ele acalmou o mar e devolveu a alegria àqueles infelizes, gelados já
pelo terror da morte certa.
Ora, qual pensais seja a atitude do Eterno Pai, quando o sacerdote, levantando a Santa
Hóstia, lhe apresenta o Divino FILHO? Ah! seu amor não pode resistir à vista do inocente
JESUS; Ele se sente forçado a acalmar nossas tormentas, e acudir a todas as nossas necessidades.
Sem esta santa vítima, portanto, sem JESUS sacrificado por nós, primeiro sobre a Cruz, e todos
os dias sobre nossos altares, estaríamos perdidos, e poderia cada um dizer a seu companheiro:
“Até à vista no inferno! Sim, sim, no inferno, no inferno! Até à vista no inferno!”
Mas, com este tesouro da Santa Missa a nosso alcance, nossa esperança renasce; e se não
opusermos obstáculos, teremos assegurado o Paraíso.
Juntai as mãos e agradecei a DEUS PAI que nos deu o mandamento tão doce de oferecer-
Lhe muitas vezes a Vítima celeste. Agradecei-Lhe, sobretudo, pelo imenso proveito que dela
recebeis, se sois fiel não somente em oferecê-la, mas de fazê-lo para os fins a que nos foi
concedido este dom tão precioso.
VANTAGENS DO SANTO SACRIFÍCIO
A grandeza e a beleza são dois motivos assaz poderosos para tocar os corações; a
utilidade, porém, os persuade e, a despeito de toda repugnância, arrebata quase sempre à vitória.
Ainda que a excelência e a necessidade da Santa Missa não fossem para vós bastante
ponderáveis, como poderíeis deixar de apreciar a magna utilidade que ela proporciona aos vivos e
falecidos, aos justos e aos pecadores, para a vida e para a morte, e mesmo para depois da morte?
Imaginai que sois aquele devedor do Evangelho, cuja dívida se elevara à enorme quantia de dez
mil talentos. Chamado a prestar contas humilha-se, implora e pede adiamento para satisfazer
completamente o débito: Patientiam hiabe in me, et omnia rddam tibi.
“Tem paciência comigo, que tudo lhe pagarei” (Mt 18, 26)
Aí está o que deveis fazer, vós que tendes com a Justiça divina não uma, mas mil dívidas.
Deveis humilhar-vos e suplicar tempo bastante para assistir à Santa Missa; e ficai certos de que
estas Santas Missas saldarão completamente todas as vossas obrigações.
São Tomás de Aquino, o doutor angélico, nos ensina quais são as dívidas que temos com
DEUS. Ele diz que há especialmente quatro. Todas as quatro ilimitadas.
Ora, como é possível que pobres criaturas como nós, que nada possuímos, nem mesmo o
ar que respiramos, possam jamais satisfazer obrigações tão grandes? Consolemo-nos, pois aqui
está um meio facílimo. Façamos o possível para participar de muitas Missas e com a máxima
devoção; mandemos celebrá-la também o mais que pudermos: e, se bem que nossas dívidas sejam
enormes e inumeráveis, não há dúvida de que, com o tesouro contido na Santa Missa, poderemos
solvê-las inteiramente. E para melhor compreendermos estas dívidas, explicá-las-ei uma depois
da outra, e grande será vossa consolação ao ver a grande utilidade e inesgotável riqueza que
podeis haurir de mina abundante, para pagar todas.
Nossa primeira obrigação para com DEUS é adorá-Lo e honrá-Lo. É preceito da própria
lei natural que todo inferior deve homenagem a seu superior. E quanto maior a dignidade deste,
tanto maiores devem ser as honras que se lhes prestam. Daí resulta que, sendo DEUS de
majestade infinita, homenagens infinitas Lhe devemos.
Infelizes que somos! Onde encontraremos oferenda digna de nosso Criador? Passei vós
em revista todas as criaturas do Universo: coisa alguma encontrareis digna Dele.
Ah! é que uma oferenda digna de DEUS não pode ser senão o próprio DEUS. Necessário
é que Aquele, que está sentado no trono de Sua Majestade, desça para oferecer-se como vítima
sobre os nossos altares, a fim de que a homenagem corresponda perfeitamente à Excelência de
sua grandeza infinita.
Isto é o que se realiza na Santa Missa, pela qual DEUS é adorado na medida que merece,
porque é adorado por DEUS mesmo, isto é, por JESUS que, pondo-se sobre o altar em estado de
vítima, adora a SANTISSÍMA TRINDADE por um ato de inefável dependência e tanto quanto
Ela merece. E de tal modo que todas as outras homenagens que Lhe possam prestar as criaturas,
comparadas a essa humilhação de JESUS, desaparecem como as estrelas em presença do sol.
Conta-se de uma santa alma que, totalmente abrasada de amor a DEUS, traduzia em mil
desejos o ardor de sua ternura: “Ah! meu DEUS, dizia ela, quisera ter tantos corações e tantas
línguas como há de folhas nas árvores, de átomos no ar e de gotas d´água, para vos amar e louvar
como mereceis. Oh! Se eu tivesse em meu poder todas se consumissem de amor por vós,
contanto que eu vos amasse mais que todas juntas, mais que todos os Anjos, os Santos e todo o
Paraíso!” Certo dia em que tal desejo repetia com mais fervor do que nunca, ouviu o SENHOR
responder-lhe: “Consola-te, minha filha, pois com uma só Missa que participas com devoção,
dás-me toda esta glória que me desejas, e ainda mais infinitamente.”
Admirai-vos talvez esta afirmação? Não tendes motivo, pois visto nosso boníssimo
JESUS ser não somente Homem, mas DEUS verdadeiro e Todo-Poderoso, quando Ele se aniquila
sobre o altar, dá com este ato homenagem e adoração infinitas à SANTISSÍMA TRINDADE.
Deste modo que nós, que concorremos com Ele no oferecimento deste grande Sacrifício,
damos também de nossa parte, a DEUS, honra e homenagem infinitas. Oh! Que coisa sublime!
Digamos uma vez ainda, pois importantíssimo é sabê-lo: sim, assistindo à Santa Missa, prestamos
a DEUS adoração, honra e homenagem infinitas.
Por conseguinte, a homenagem e a honra que por meio d’Ele prestamos a DEUS na Santa
Missa, são homenagem e amor infinitos.
Sendo assim, como quitaremos bem a nossa primeira dívida com DEUS, assistindo à
Santa Missa! Ó mundo obcecado, quando abrirás os olhos para compreender verdade tão
importante.
E vós cristãos negligentes, tereis ainda a coragem de dizer: “Uma missa a mais, uma
missa a menos, pouco importa”? Que triste cegueira!
PELA SANTA MISSA
PODEMOS SATISFAZER A JUSTIÇA DIVINA
PELOS PECADOS COMETIDOS
A segunda obrigação que temos para com DEUS é de satisfazer à sua justiça por tantos
pecados cometidos. Oh! Que dívida imensa esta! Um único pecado mortal pesa tanto na balança
da Justiça Divina que não bastariam, para expiá-lo, todas as boas obras de todos os mártires e de
todos os santos passados, presentes e futuros.
No entanto com o Santo Sacrifício da Missa, se considerarmos o seu valor intrínseco e seu
preço, pode-se satisfazer plenamente por todos os pecados cometidos.
Assim conquanto às almas em estado de pecado mortal não lhes aproveite o valor no que
tem de propiciatório, todos os pecadores deviam assistir muitas vezes à Santa Missa para alcançar
mais facilmente a graça da conversão. Quanto às almas vivendo em paz com DEUS, o Sacrifício
da Santa Missa lhes dá uma força surpreendente para se manterem nesse estado e, conforme a
opinião comum, são apagados todos os pecados veniais, caso tenham ao mesmo tempo um
arrependimento geral.
É o que ensina claramente Santo Agostinho: “Se alguém assiste devotamente à Santa
Missa, não cairá em pecado mortal e os pecados veniais lhe serão perdoados”.
Narra São Gregório que uma pobre mulher encomendava a celebração de Santas Missas,
todas as segundas-feiras, em ação de graças, para o seu marido, que ela julgava morto, pois ele
caíra nas mãos dos bárbaros. Estava vivo, porém, e durante o tempo em que se celebravam essas
Santas Missas, a cadeias se lhe soltavam dos pés e das mãos e lhe caíam as algemas, e ele ficava
livre e desembaraçado, como, ao libertar-se da escravidão, pôde contar a sua mulher. Quanto
mais devemos crer na eficácia deste Sacrifício para desatar os laços espirituais, isto é, os pecados
veniais, que de certo modo mantém cativa a alma, impedindo-a de agir com a liberdade e o fervor
que ela teria, não fossem esses entraves.
Ó bem-aventurada Santa Missa, que nos restitui a liberdade de filhos de DEUS, e satisfaz
todas as penas devidas por nossos pecados!
Mas então, me direis, basta assistir ou encomendar uma única Santa Missa para pagar as
maiores dívidas com DEUS, em vista de tantos pecados cometidos, pois, sendo infinito o seu
valor, com ela daremos a DEUS uma satisfação infinita. – Devagar!, eu vos peço.
Realmente, se bem que o valor do Santo Sacrifício seja infinito, deveis saber entretanto,
que DEUS o aceita numa medida limitada e finita, mais ou menos, conforme a devoção maior ou
menor de quem o celebra, manda celebrar, ou a ele assiste.
Quorum tibi fides cógnita est et nota devotio, diz a Santa Igreja no Cânon da Santa Missa,
e, por esta linguagem, dá-nos a entender o que ensinam expressamente os Doutores, e é, que a
maior ou menor satisfação proporcionada pela Santa Missa, quanto à pena devida por nossos
pecados, depende da disposição de quem a celebra ou a ela assiste.
Note-se aqui o erro daqueles que preferem as missas mais curtas e menos devotas, ou, o
que é pior, que a elas assistem com pouca ou nenhuma devoção. É verdade que todas as Missas
são iguais do ponto de vista do Sacramento, como ensina São Tomás; não o são, porém, quanto
aos efeitos que delas provêm. Quanto maior a piedade atual ou habitual do celebrante, maior será
o fruto de seu sacrifício. Assim, não fazer diferença entre um padre mais fervoroso e outro
menos, seria o mesmo que, para pescar, lançar mão indiferentemente de uma rede de malhas
pequenas ou grandes.
Diga-se o mesmo dos que assistem à Santa Missa. E ainda que eu vos exorte, o mais que
posso, a assistir muitas vezes à Santa Missa, advirto-vos de procurar, sobretudo assistir a
cinqüenta, mais glória dais a DEUS com aquela única Missa, e retirais mais fruto, mesmo desse
que chamamos ex opere operato, do que o outro há de tirar de cinqüenta, apesar do número
considerável.
“Na satisfação, olha-se mais a piedade do oferente que a quantidade da oblação”. “In
satisfactione magis attenditur affectus offrentis quam quantitas oblationis”, diz São Tomás.
Pode acontecer, sem dúvida, (como afirma um sério autor) que, com uma única Missa,
assistida com extraordinária devoção, se dê satisfação à Justiça de DEUS, por todos os pecados
ainda do maior pecador, conforme se depreende do Santo Concílio de Trento, que diz: “Graças à
oferenda deste santo Sacrifício, DEUS concede o dom da verdadeira penitência, e por ela o
perdão dos pecados, ainda os mais graves”.
No entanto, visto que conhecermos claramente a disposição interior com que assistimos à
Santa Missa, nem a satisfação correspondente devemos ter o cuidado em assistir a muitas, o mais
que pudermos, e assistir com todo o amor e devoção possíveis. Felizes de vós se depositardes
uma grande confiança em DEUS, que tão admiravelmente exerce Seu Amor neste Divino
Sacrifício, e se assistirdes com fé, fervor e reverência, a todas as Santas Missas que puderdes!
Afirmo-vos que podeis alimentar a doce esperança de alcançar diretamente o Paraíso, sem
passar pelo Purgatório.
À Santa Missa, portanto, à Santa Missa! E que jamais se ouça de vossos lábios esta
palavra escandalosa: “Uma missa a mais, uma missa a menos não tem importância”.
PELA SANTA MISSA AGRADECEMOS DIGNAMENTE A DEUS TODOS OS
BENEFÍCIOS
A própria vida, enfim, de seu Filho JESUS, e a morte que por nós sofreu, elevam além de
qualquer medida a divida de gratidão que temos com DEUS. Como poderemos agradecer-Lhe
suficientemente?
Se, duma parte, a lei da gratidão é observada mesmo pelos animais selvagens, que às
vezes mudam sua ferocidade em afeição àqueles que lhe fazem bem, quanto mais deverá ser ela
observada entre os homens, dotados de razão e tão prodigiosamente favorecida pela liberalidade
de DEUS!
Doutra parte, porém, nossa miséria é tão grande que não temos sequer o meio de
satisfazer pelos menores benefícios recebidos de DEUS. Pois o menor de todos, provindo das
mãos de tão grande Rei e acompanhado dum amor infinito, adquire um preço infinito e nos
obriga a um reconhecimento também infinito. Infelizes que somos! Se não podemos suportar o
peso de um só benefício, como poderemos arcar com o fardo de graças inumeráveis?
Consolai-vos, pois o meio de dar ações de graças suficientes ao boníssimo DEUS nos é
ensinado pelo rei Davi, que, contemplando com espírito profético o divino sacrifício, confessava
que só ele bastava para dar a DEUS ações de graças adequadas. Quid retribuam Domino pro
omnibus quae retribuit mihi? Perguntava. “Que retribuirei ao Senhor por todos os benefícios que
me tem feito?”
E responde: Calicem salutaris, ou, segundo outra versão: Calicem levabo. “Elevarei ao
céu o cálice do Senhor”, isto é, “Oferecer-Lhe-ei um sacrifício que será infinitamente agradável,
e com o qual, somente, satisfarei a minha dívida por tantos e tão grandes benefícios.”
Acresce que este Sacrifício foi instituído pelo nosso Redentor, principalmente para este
fim, quero dizer, para reconhecer a divina munificência e agradecer-Lhe, e por isso chama-se
Eucaristia por excelência, o que significa “ação de graças”. Ele mesmo nos deu o exemplo,
quando na Última Ceia, antes de pronunciar nessa Missa as palavras da consagração, elevou os
olhos ao céu e deu graças a seu PAI: Elevatis oculis in caelum, tibi gratias apens fregit.
Ó divina ação de graças, que nos descobre o fim sublime para que foi instituído este
augusto Sacrifício, e nos convida a conformar-nos a nosso Chefe, a fim de que sempre, ao assistir
à Santa Missa, saibamos servir-nos de tão grande tesouro, oferecendo-o em ação de graças a
nosso soberano Benfeitor, e associando-nos ao Paraíso todo, à Santíssima Virgem, aos Anjos e
Santos, que se enchem de alegria ao ver-nos render a nosso adorável DEUS, este tributo de
reconhecimento!
A venerável irmã Francisca Farnese vivia em contínuos tormentos de amor, por se ver
inteiramente cumulada de benefícios divinos, sem encontrar o meio de depor tão pesado fardo,
dando ao Senhor um reconhecimento suficiente. Certo dia apareceu-lhe a Santíssima Virgem e,
depondo-lhe nos braços o divino infante, disse-lhe: “Toma-O, Ele é teu, e saibas dele servir-te,
pois com Ele pagarás todas as tuas dívidas.”
Ó bem aventurada Santa Missa, graças à qual o Filho de DEUS é depositado, não em
nossos braços, mas em nossas mãos e em nosso coração! Uma criancinha nos é dada, a fim de
que dela nos sirvamos, e não há dúvida de que com ela possamos solver completamente a dívida
de reconhecimento que temos com DEUS. Mais ainda: se bem refletirmos, na Santa Missa
damos, de certo modo, a DEUS algo mais do que Ele nos deu: pois DEUS PAI nos deu somente
uma vez o seu divino FILHO, na Encarnação, enquanto nós lho damos sem cessar neste santo
Sacrifício.
De modo que parece o sobrepujamos, por assim dizer, se não no próprio dom, pois maior
não pode haver que o FILHO de DEUS, mas ao menos em aparência, renovando tantas vezes o
mesmo dom.
Quem dera, pudéssemos ter uma infinidade de línguas para agradecer-vos pelo
incalculável tesouro que nos destes, instituindo a Santa Missa!
E vós, que fazeis? Abristes enfim os olhos para reconhecer tão preciosíssimo tesouro? Se,
no passado, ele foi para vós como um Tesouro Oculto, agora que começais a conhecê-lo, não
exclamais transportados de admiração: Oh! Que admirável tesouro! Que imenso tesouro!
Não termina, porém, aí a soberana utilidade da Santa Missa, pois ela nos permite ainda
cumprir a quarta obrigação que temos para com DEUS: ORAR E PEDIR-LHE NOVOS
FAVORES.
Já sabeis quão grande são vossas misérias, tanto de corpo como de alma, e por
conseqüência, a necessidade que tendes de recorrer a DEUS, a fim de que a todo momento Ele
vos assista e vos socorra, pois só Ele é o autor e o princípio de todos os nossos bens temporais e
eternos. Mas, doutra parte, ousaríeis pedir- Lhe novos benefícios, vendo s suprema ingratidão
com que tendes correspondido às suas graças anteriores? Não vos servistes, talvez, mesmo dessas
graças para ofendê-Lo? Todavia, tende confiança; pois se não mereceis essas graças, JESUS
mereceu-as pro vós, e para este fim. Ele quis ser na Santa Missa uma hóstia pacífica, isto é, um
sacrifício impetratório para obter-nos de Seu PAI tudo aquilo de que temos necessidade. Sim,
sim, na Santa Missa, nosso adorável JESUS, o primeiro e Sumo Pontífice, recomenda a Seu PAI
a nossa causa, intercede por nós constituindo-se nosso amoroso advogado.
Se soubéssemos que a augusta Virgem unia suas preces às nossas, para nos alcançar a
graça que desejamos; que confiança não teríamos, de ser atendidos? Que confiança, portanto, que
segurança não devemos ter, sabendo que na Santa Missa o próprio JESUS ora por nós, e se faz
nosso advogado? Ó bem aventurada Missa, que nos proporciona todos os bens!
É preciso, porém cavar bem fundo nesta mina para descobrir os grandes tesouros que ela
contém.
Oh! Que riquezas de graças, bênçãos, virtudes e de socorros nos obtém a Santa Missa! Em
primeiro lugar, ela nos alcança todas as graças espirituais e os bens que se relacionam com a
alma, como a contrição por nossos pecados, a vitória sobre as tentações, sejam vindas de fora, das
más companhias e do demônio, sejam produzidas no interior pelas revoltas da carne.
Obtém os socorros de graça, tão necessários para nos levantarmos depois de uma queda,
para permanecermos de pé e avançarmos nos caminhos de DEUS. Por ela nos vêem muitas
inspirações boas e santas e movimentos interiores que nos dispõem a sacudir a tibieza e nos
excitam a agir com mais fervor, com uma vontade mais generosa e uma intenção mais pura e
reta; e por isso mesmo, proporciona-nos um tesouro inestimável, pois todos esses meios são
eficacíssimos para alcançar de DEUS a graça da perseverança e penitência final, de que depende
a nossa salvação eterna, e nos dão a certeza moral tanto quanto é possível tê-la aqui na Terra, de
chegar à bem-aventurança eterna.
Além disso, a Santa Missa nos obtém todos os bens temporais, contanto que concorram à
salvação da alma, por exemplo, a saúde, a abundância, a paz, e nos preserva dos males que se lhe
opõem, como seja: epidemias, terremotos, guerras, fomes, perseguições, processos, inimizades,
miséria, calúnias, injustiças, etc.
Em suma, ela nos proporciona todos os bens. E para dizer tudo em só frase:
Vede, portanto, se não tinha toda a razão aquele bom sacerdote que costumava dizer que,
ao pedir algumas grandes graças para si, ou para outrem, ao celebrar o santo Sacrifício, parecia-
lhe pouco pedir, quando comparava aquilo que de DEUS solicitava com a oferenda que Lhe
fazia.
Assim argumentava ele: “Todas as graças que peço a DEUS na Santa Missa são bens
criados e finitos, enquanto que os dons que Lhe ofereço são dons incriados e infinitos. Feitas,
portanto, as contas, sou eu o credor e Ele o devedor.” E com este argumento, pedia e recebia
grandes graças.
E vós, por que não despertais, por que não pedis graças importantes? Se quiserdes
confirmação, pedi a DEUS em cada Santa Missa, que faça de vós um grande santo. Achareis,
talvez, que é pedir demais! Não, de modo algum. Não é o nosso boníssimo Mestre JESUS quem
promete no Santo Evangelho que, por um copo d´água dada em Seu nome, terá a sua
recompensa?
Quando Lhe oferecemos, portanto todo o Sangue de Seu Divino Filho, ainda que tivesse
uma centena de paraísos, não no-los daria todos?
Como podeis duvidar de que Ele esteja disposto a conceder-vos todas as virtudes, todas as
perfeições necessárias para fazer de vós um grande santo no Céu? Ó bem-aventurada Missa! Abri
vosso coração e pedi grandes graças, pensando que as pedis a um DEUS que não se empobrece, e
que quanto mais pedirdes mais vos será dado.
A SANTA MISSA NOS LIVRA DUMA MULTIDÃO DE MALES
Acreditai que, além dos favores que solicitamos na Santa Missa, nosso boníssimo DEUS
nos concede muitos outros sem que o peçamos.
É o que ensina claramente São Jerônimo: Absque dúbio dat nobis Dominus quod in Missa
petimus; et, quod magis est, saepe dat quaod non petimus.
“Sem dúvida alguma, o Senhor nos dá todas as graças que pedimos na Santa Missa,
contanto que nos sejam de vantagem; mas, o que é mais admirável, muitas vezes nos dá o que
não pedimos.”
Podemos dizer, por isso, que a Santa Missa é o sol do gênero humano espalhando seus
raios sobre os bons e sobre os maus, e alma não há tão pérfida sobre a terra, que assistindo à
Santa Missa, dela não aufira qualquer grande bem, e muitas vezes mesmo sem nele pensar ou
pedi-lo. Santo Antonino conta que um dia dois jovens libertinos passeavam numa floresta. Um
deles havia assistido à Santa Missa e o outro não. Levantou-se subitamente furiosa tempestade, e
no meio dos trovões e relâmpagos ouviram eles uma voz que clamava: “Mata! Mata!” No mesmo
instante o raio esbraseou o ar e feriu aquele que não assistira à Santa Missa.
Oh! Quantas vezes DEUS não vos livrou da morte, ou, pelo menos, de numerosos e
graves perigos, graças às Santas Missas a que tiverdes assistido! Disso nos assegura São Gregório
no quarto de seus Diálogos: Per auditionem Missae homo liberatur a miltis malis at periculis, diz
o santo Doutor. “Sim, é verdade que aquele que assiste devotamente à Santa Missa será
preservado de muitos males e perigos, se bem que disto não se aperceba.”
Santo Agostinho chega a afirmar a preservação da morte súbita, o golpe mais terrível com
que a Justiça Divina fere os pecadores.
Qui! Missam devote audierit subitânea morte nom peribit. Eis, diz-nos este santo Bispo,
um preservativo admirável para evitar a morte imprevista: assistir todos os dias à Santa Missa e
com toda a devoção possível. Quem se munir de tão eficaz salvaguarda viverá sem temor dessa
terrível desgraça.
Existe certa crença, por alguns atribuída a Santo Agostinho, de que durante o tempo em
que se assiste à Santa Missa não se envelhece, mas a força e o vigor do fiel se ocupa saber se isto
é ou não verdade, mas digo sem receio que, mesmo envelhecendo em idade, não se envelhece me
malícia, pois, na expressão de São Gregório, uma pessoa que assiste com devoção à Santa Missa
conserva sua alma no caminho reto: Justus audiens Missam in via rectitudinis conservaturt.
Cresce sempre em mérito e em graça, e faz na virtude novos progressos, que o tornam
agradável a seu DEUS.
E muito mais, ajunta São Bernardo, se ganha assistindo a uma única Santa Missa (se
considerar seu valor intrínseco), do que distribuindo a fortuna aos pobres e peregrinando a todos
os santuários mais famosos da Terra. Audiesn devote Missam aut celebrans multo magis meretur,
quam si substantiam suam pauperibus, erogaret, et totam terram peregrinando transiret. Ó
tesouro incalculável da Santa Missa! Compreendei bem esta verdade: podemos merecer mais
assistindo ou celebrando uma só Santa Missa, se a considerarmos em si mesma e em todo o seu
valor intrínseco, do que se distribuíssemos nossa fortuna aos pobres, e em seguida partíssemos a
percorrer o Mundo como peregrinos, visitando com a maior das devoções os santuários de
Jerusalém, Roma, Compostela, Loreto, etc;
São Tomás de Aquino nos garante que na Santa Missa está encerrado todos os frutos,
todas as graças e todos os imensos tesouros tão abundantemente espalhados pelo Filho de DEUS
sobre a Igreja, sua Esposa, no Sacrifício cruento da Cruz. In qualibet Missa inventur omnis
fructus et utilitas quam CHRISTUS in die parasceve operatus est in Cruce.
Detende-vos aqui, um instante: fechai o livro, interrompei a leitura, e reuni todas estas
vantagens, tão abundantes, que proporciona a Santa Missa. Ponderai-as bem em silêncio e,
depois, dizei-me se tendes ainda dificuldade de crer que uma única Missa, considerada em si, e
em relação a seu preço e valor intrínseco, tenha uma eficácia tão grande que baste, como ensinam
os diversos doutores, para alcançar a salvação de todo o gênero humano.
Suponde que Nosso Senhor JESUS CRISTO não tivesse sido crucificado no Calvário e
que, em lugar do Sacrifício cruento da Cruz, houvesse instituído somente a Santa Missa, com a
ordem formal de não se celebrar senão uma sobre a Terra. Pois bem, admitindo esta suposição,
sabei que essa única Missa, celebrada pelo sacerdote mais humilde do Mundo, teria sido mais que
suficiente, considerado o seu valor intrínseco, para obter de DEUS a salvação de todos os
homens.
Sim, uma única Missa bastaria, no sentido que acabamos de explicar, para obter a
conversão de todos os hereges e cismáticos, de todos os infiéis e de todos os maus cristãos; para
fechar a porta do Inferno a todos os pecadores, e para esvaziar o Purgatório de todas as almas que
lá se purificam. E nós, miseráveis, com nossa tibieza, nossa falta de devoção, e as escandalosas
distrações com que assistimos à Santa Missa, quantas barreiras lhe opomos à ação e restringimos
a eficácia de seu poder!
Quisera subir ao cume das mais altas montanhas e de lá bradar com voz retumbante: Povo
insensato, povo transviado, que fazeis? Por que não acorreis às Igrejas para aí assistir a todas as
Santas Missas que puderdes? Por que não imitais os santos Anjos, que, no dizer de São
Crisóstomo, descem do Céu em legiões, quando se celebra a Santa Missa, e se mantêm diante de
nossos altares, velando-se com as asas em sinal de profundo respeito? Esperam o momento
bendito da Santa Missa a fim de, com mais sucesso, intercederem por nós, pois sabem muito bem
que é essa a ocasião mais propícia para nos alcançarem as graças celestes.
E vós! que confusão para vós terdes até agora pouco apreciado a Santa Missa; e mais, de
ter tantas vezes profanado uma ação tão santa, sobretudo se for do número daqueles que se
atrevem a dizer temerariamente: “Uma missa a mais, uma missa a menos, isto é ninharia!.”
A SANTA MISSA É DE GRANDE AUXÍLIO PARA AS ALMAS DO PURGATÓRIO
Para concluir esta instrução, refleti que não foi premeditado desígnio que disse
anteriormente que uma única Santa Missa, tomada em si e em relação ao seu valor intrínseco,
basta para esvaziar inteiramente o Purgatório e abrir a todas as almas, que lá se acham, as portas
do Paraíso. Com efeito, este Divino Sacrifício vai em auxílio das lamas dos falecidos, não só
satisfazendo por suas dívidas como propiciatório, mas ainda obtendo-lhes a libertação, como
impetratório. Isto decorrente claramente da conduta da Igreja, que não somente oferece a Santa
Missa pelas almas sofredoras, como também insere orações para libertá-las.
Ora, a fim de excitar vossa compaixão por essas santas almas, sabei que o fogo em que
estão mergulhados é tão devorador quanto o do próprio Inferno. Tal é a opinião de São Gregório.
Instrumento da Justiça Divina, ele age sobre as almas com tão grande ardor, que lhes causa dores
intoleráveis e superiores a todos os suplícios que jamais se pode ver, experimentar ou sequer
imaginar aqui na Terra. Muito mais, porém, sofrem elas pela pena de dano, e é, a privação da
bem-aventurada visão de DEUS. Elas experimentam, diz São Tomás, uma insuportável angústia,
causada pelo desejo que têm de ver o Soberano Bem, desejo que não pode ser satisfeito.
Pois bem, consulta-vos intimamente e respondei à pergunta: Se vísseis vosso pai e vossa
mãe a ponto de afogar-se num lago e que para salvá-los vos bastasse estender a mão, não seríeis
levados, pela caridade e pela Justiça, a socorrê-los!?
E então! vedes com os olhos da Fé tantas pobres almas de vossos parentes próximos,
queimando vivas num lago de fogo, e não quereis impor-vos um pequeno incômodo para assistir
devotamente à uma Santa Missa em seu sufrágio. De que é feito o vosso coração? Pois quem
pode duvidar que a Santa Missa leve um grande auxílio a essas pobres almas? Quanto a isto, ouvi
São Jerônimo. Ele vos dirá claramente que, ao celebrar-se a Santa Missa por uma alma do
Purgatório, o fogo tão devorante que ordinariamente a consome, suspende sua ação e ela não
sofre pena alguma enquanto dura o Sacrifício. Animae quae sunt in Purgatorio pro quibus solet
sacerdos in Missa orare, ínterim nullum tormentum sentiunt dum Missa celebratur.
Além disso, afirma que, a cada Santa Missa, muitas almas ficam livres do Purgatório e
voam para o Paraíso? Missa celebrata, plures animae exeunt de Purgatório.
Acresce que esta caridade, exercida em favor das pobres almas, redundará inteiramente
em vosso proveito. Infinidade de exemplos poderia eu apresentar-vos em apoio desta afirmação.
Contentar-me-ei com um fato perfeitamente autêntico, acontecido com São Pedro Damião.
Criança ainda, ele perdeu o pai e foi recolhido na casa de um dos irmãos, que o tratava com muita
desumanidade a ponto de deixá-lo andar descalço, em andrajos e lhe faltando tudo. Sucedeu que
um dia o menino achou, na rua, uma moeda qualquer. Imaginai a sua alegria e como lhe pareceu
ter achado um tesouro. Mas em que empregá-lo! A pobreza sugeria-lhe mil projetos. Por fim,
depois de refletir longamente, decidiu dar o dinheiro a um sacerdote para que celebrasse uma
Santa Missa pelas santas almas do Purgatório. Podeis acreditar: desde então a fortuna mudou para
ele. Recolheu-o outro dos irmãos, mais compassivo, que o amou como um filho deu-lhe roupas
convenientes, enviou-o à escola, contribuindo assim para que ele se tornasse esse grande homem
e grande Santo, ornamento púrpuro e forte sustentáculo da Igreja. Vede como uma única Santa
Missa, encomendada com ligeiro sacrifício, se tornou para ele a origem de tão grande bem.
Ó bem-aventurada Santa Missa! Que ajuda ao mesmo tempo os mortos e os vivos, que
alcança graças para o tempo presente e para a eternidade. Essas santas almas são tão gratas a seus
benfeitores, que chegando ao Céu, elas se constituem seus advogados e jamais os abandonam até
que os vejam de posse da glória.
Foi o que verificou uma mulher de má vida em Roma. Inteiramente esquecida de sua
salvação, não pensava senão em satisfazer suas paixões, e servia de agente de satanás para
corromper a mocidade.
Já não fazia nenhuma boa ação, a não ser encomendar quase todos os dias uma Santa
Missa pelas almas do Purgatório.
Oh! Essas almas, como se pode crer piedosamente, oraram tão bem por sua benfeitora,
que um belo dia, tomada de profunda contrição de suas faltas, ela abandonou sua casa infame, foi
prostrar-se aos pés de um zeloso confessor, fez sua confissão geral e pouco tempo depois morreu
em consoladoras disposições que todos ficaram persuadidos de sua salvação eterna. Esta graça
tão admirável foi atribuída à eficácia das Santas Missas que ela encomendava pelas lamas do
Purgatório.
Se fôsseis dessa raça de ingratos que não só faltam à caridade, que se esquecem de rezar
por seus falecidos, e não participam nunca de uma Santa Missa por esses pobres afligidos, mas
ainda, violando toda justiça, recusam aplicar os legados piedosos de Missas, indicados no
testamento de seus parentes.
Oh! Então eu me inflamaria a vos diria em face: “Retira-vos, sois piores que um demônio,
pois, realmente, os demônios só torturam as almas dos réprobos, mas vós, vós atormentais as
almas dos eleitos; os demônios exercem sua raiva sobre os condenados, mas vós sois cruéis com
os predestinados, os amigos de DEUS. Não, não há para vós, nem confissão que valha, nem padre
que vos possa absolver se não fizerdes penitência de tão grande pecado e não solverdes
inteiramente as dívidas que tendes com os mortos.”
- Mas, direis, não tenho meios de encomendar essas missas, não é possível.
- Não tendes meios? Não é possível? E para manter essa casa confortável, para andar
suntuosamente vestido, para gastar loucamente em festins, em recepções de prazer, e, às vezes,
em, divertimentos criminosos, tendes meios.
Depois quando se trata de pagar vossas dívidas, aos pobres defuntos; não possuís nada!
Não é possível?! Ah! compreendo: não há ninguém na Terra para cobrar essas contas. Mas tereis
que prestá-las a DEUS. Continuai, portanto, a comer os bens dos mortos, os legados piedosos, os
sacrifícios, mas sabei que é para vós que está escrito nos Profetas uma ameaça de desgraças, de
calamidades, de tribulações, de ruína irreparável para vossos bens, vossa honra e vossa vida. Eis a
palavra de DEUS que não poderá ficar sem efeito: Comederunt sacrificia mortuorum et
multiplicata est in eis ruína – “Comeram os sacrifícios dos mortos e multiplicou-se neles a ruína”
(Sl 102, 28-29). Sim, ruínas, infortúnios, perdas irreparáveis às casas que não se desobrigaram de
seus deveres para com os mortos.
Vede quantas famílias extintas, quantas casas arruinadas, lojas fechadas, comércio em
apuros, falências, quantos males, quantos lamentos! Mas qual é a causa? Um exame atento
revelaria que uma das causas principais é a crueldade para com os pobres mortos, recusando-lhes
os sufrágios devidos, negligenciando o cumprimento dos legados piedosos. Comederunt
sacrificia mortuorum et multiplicata est in eis ruín.
Entretanto, não consiste ainda nisto todo o castigo de DEUS àqueles sem amor a seus
falecidos: outro maior lhes está reservado na outra vida. São Tiago assegura que eles serão
julgados por DEUS com todo o rigor da justiça, sem misericórdia, pois que eles mesmos foram
impiedosos com os pobres mortos. Judicium sine misericordia illi qui non fecit misericordiam.
(Tg 2, 13). Permitirá DEUS que seus herdeiros lhes paguem na mesma moeda, e é, que suas
últimas disposições não sejam cumpridas, as Missas deixadas em testamento não sejam
realizadas: e, se forem celebradas, DEUS não as aplicará a eles, mas a outras almas que nesta
vida tiveram compaixão dos mortos.
Isto nos ensinam, outrossim, nossas crônicas, a respeito de um irmão que, após a morte,
apareceu a um de seus companheiros, revelando-lhe que no Purgatório sofria dores extremas,
especialmente por ter sido muito negligente em rezar por seus irmãos falecidos. Até aquele
momento ele não recebera nenhum alívio dos sufrágios e Missas oferecidos em seu favor. Como
punição por sua negligência, DEUS os aplicava a outras almas que em vida tinham sido devotas
das almas sofredoras.
Ante de terminar esta instrução, permiti-me caro leitor, suplicar-vos de joelhos e mãos
postas de não fechar este livro sem tomar a firme resolução de fazer, no futuro, todo o esforço
para assistir ou encomendar todas as Santas Missas que vossas ocupações e vossa condição vos
permitirem, não só pelas almas dos falecidos, mas também pela vossa, e isto por dois motivos.
Em primeiro lugar, para alcançardes uma boa e santa morte, pois é opinião constante dos teólogos
que não há meio mais eficaz para se chegar a um bom fim, do que a Santa Missa. Ainda mais,
Nosso Senhor JESUS CRISTO revelou a Santa Mectilde que aquele que, durante a vida, tiver
tido o hábito de assistir devotamente à Santa Missa, será consolado na morte pela presença dos
Anjos e dos Santos protetores, que o defenderão poderosamente contra todos os ataques dos
demônios. Ah! De que bela morte será coroada a vossa vida, se a tiverdes empregado em assistir
a todas as Santas Missas que puderdes.
Tanto mais que Santo Anselmo vos ensina que uma única Santa Missa assistida ou
celebrada por vossa intenção durante vossa vida, vos será talvez mais útil que mil depois de
morrerdes. Audire devote unicam Missam in vita vel dare eleemosynam pro ea, pordest magis
quam relinquere ad celebrandum mille post obitum.
Bem compreendera esta verdade aquele rico mercador de Gênova que ao morrer, não
deixou nenhuma disposição para assegura-se sufrágios.
Todos se admiravam de que um homem tão rico, tão piedoso e generoso para com todo
mundo, tivesse sido tão cruel consigo. Mas, terminados os funerais, encontraram-se lançadas, em
um de sus livros de contas, as grandes caridades que fizera por sua alma durante a vida.
“Missas celebradas por minha alma, dois mil escudos; para o casamento das jovens, dez
mil; para tal santuário, duzentos, etc.”
E no fim lá estava escrito: “Porque quem deseja o próprio bem, faça-o a si durante a vida,
e não conte com os outros para que lho façam depois de morto.”
É provérbio bastante conhecido que uma vela à frente clareia mais que uma tocha atrás.
Aproveitai tão belo exemplo e pesai bem a utilidade e as vantagens da Santa Missa.
Deplorai a cegueira em que tendes vivido até agora, desestimando o valor de tão grande tesouro,
que por longo tempo tem sido para vós um tesouro oculto.
Agora, portanto, que lhe conheceis o preço, bani de vosso espírito e mais ainda de vossos
lábios estas expressões escandalosas: “Uma missa a mais, uma missa a menos, pouco importa. Já
basta assistir à Santa Missa nos dias de preceito! A Missa daquele padre é uma Missa de semana
santa: quando ele sobe ao altar, eu fujo da Igreja.” E tomai novamente a resolução de assistir, de
hoje em diante, a todas as Santas Missas que puderes, e assistir com a devida devoção: e, para
que assim seja, servi-vos, com a graça de DEUS do método piedoso e fácil que segue.
Era opinião de São João Crisóstomo, opinião aprovada e confirmada por Gregório, no
quarto de seus Diálogos, que, no momento em que o padre celebra a Missa, os céus se abrem, e
multidões de anjos descem do Paraíso para assistir ao santo Sacrifício. São Nilo abade, discípulo
do mesmo São Crisóstomo, afirma que via, quando este santo doutor celebrava, uma grande
multidão daqueles espíritos celestes assistindo os ministros sagrados em suas augustas funções.
Eis o meio mais adequado para assistir com fruto à Santa Missa: consiste em irdes à Igreja
como se fôsseis ao Calvário, e de vos comportardes, diante do altar, como o faríeis diante do
trono de DEUS, em companhia dos Santos Anjos. Vede, por conseguinte, que modéstia, que
respeito, que recolhimento são necessários para receber o fruto e as graças que DEUS costuma
conceder àqueles que honram, com sua piedosa atitude, mistérios tão santos.
VÁRIOS MÉTODOS
PARA ASSISTIR À SANTA MISSA
O desígnio exclusivo do presente opúsculo é levar aqueles que o quiserem ler, a adotar
com fervo um método de assistir à Santa Missa, conforme vou expor.
Como, porém, muitas maneiras de assistir à Missa, todas louváveis e santas, têm sido
ensinadas até hoje, não tenho a intenção de impor-vos a minha.
Deixo-vos, portanto, a liberdade de escolher aquele modo que mais vos agradar e vos
parecer mais conforme a vossa devoção e capacidade, e farei junto de vós apenas o ofício de
Anjo da guarda, propondo-vos o método mais frutuoso, quero dizer, o que, a meu humilde
julgamento, poderá ser para vós mais vantajoso e fácil. Neste fim, distinguimos três classes de
métodos.
O primeiro é o das pessoas que, de livro à mão, seguem atentamente todas as ações do
sacerdote, a cada um recitam outra prece vocal que lêem no livro, e assim passam todo o tempo
da Missa a ler. Não há dúvida que, se a essa leitura se junta a meditação dos grandes mistérios, é
uma excelente maneira de assistir ao santo Sacrifício; e produz também grandes frutos.
Visto, porém, exigir atenção excessiva, pois é necessário seguir todas as cerimônias que o
sacerdote efetua, e em seguida dirigir os olhos ao livro para aí ler a oração correspondente, torna-
se uma prática algo fatigante, na qual poucas pessoas, creio, hão de persistir, dada a fraqueza do
nosso espírito que se enfada facilmente de refletir sobre tantas ações diversas que o sacerdote
executa no altar. Enfim, aquele que se acha bem assim e tira proveito espiritual, continue a seguir
este sistema; pois à prática tão laboriosa não faltará uma recompensa da parte de DEUS.
A segunda maneira de assistir à Santa Missa é a das pessoas que não se servem de livros e
não lêem absolutamente nada durante todo o tempo do santo Sacrifício, mas que, com viva fé,
fixam os olhos da alma em JESUS crucificado, e, apoiados na árvore da Cruz, dela recolhem os
frutos por meio de doce contemplação. Passam todo esse tempo em piedoso recolhimento interior
e na consideração dos sagrados mistérios da Paixão de JESUS CRISTO, que são não somente
representados, mas misticamente reproduzidos na Santa Missa.
É certo que estas pessoas, mantendo suas almas assim recolhidas em DEUS, exercem atos
heróicos de Fé, de Esperança e de Caridade e de outras virtudes, e não há duvida que esta
maneira de assistir à Santa Missa é muito mais perfeita que a primeira, e também mais doce e
mais suave, como o atesta a experiência de um bom irmão converso.
Costuma ele dizer que, ao assistir à Santa Missa, não lia mais que três letras: a primeira,
negra, era a consideração de seus pecados que lhe produziam confusão e arrependimento, e
ocupava-o desde o começo até ao ofertório. A segunda era vermelha: a meditação da Paixão de
CRISTO, na qual considerava o preciosíssimo Sangue que JESUS derramou por nós no Calvário,
sofrendo morte tão cruel; nisto se entretinha até à Comunhão.
A terceira letra era branca pois quando o sacerdote comungava, ele se unia a JESUS pela
comunhão espiritual, ficando, em seguida, todo absorto em DEUS, contemplando a glória eterna
que esperava como fruto do divino Sacrifício. Esse homem simples assistia à Santa Missa com
grande perfeição e quisera eu que todos aprendessem dele tão alta sabedoria.
MÉTODO DE
SÃO LEONARDO DE PORTO-MAURÍCIO
O terceiro método para assistir com fruto à Santa Missa, é como que a média dos dois
precedentes. Não exige a leitura de inúmeras preces vocais do primeiro, nem obriga a um espírito
de contemplação tão elevado como o segundo. Bem compreendido, porém, é o mais conforme ao
espírito da santa Igreja, que almeja ver-vos unidos aos sentimentos do sacerdote que celebra.
Ora, o sacerdote deve oferecer o sacrifício pelos quatro fins explicados na instrução
precedente, pois que a Missa, no dizer de São Tomás, é o meio mais eficaz de cumprir os quatro
grandes deveres que temos para com DEUS. Por conseguinte, já que exerceis de certo modo o
ofício do sacerdote, ao assistir à Missa, deveis aplicar-vos quanto possível à consideração dos
ditos quatro fins, que atingis muito facilmente se, durante a Missa fizerdes as quatro ofertas
indicadas a seguir. Tomai convosco, durante algum tempo, este livrinho, até que tenhais
aprendido bem estes atos, ou ao menos até lhes terdes penetrado bastante o sentido, pois não
tenho em mira que estejais ligados demais às palavras.
Logo que a Santa Missa começa, enquanto o sacerdote se humilha ao pé do altar, dizendo
o Confiteor, fazei também um pequeno exame, excitai em vosso coração um ato de contrição
sincera, pedindo a DEUS perdão de vossos pecados.
Na primeira parte, que irá desde o começo até ao Evangelho, cumpris o primeiro dever de
honrar e louvar a majestade de DEUS, digno de receber honras e louvores infinitos. Para isso
humilhai-vos com JESUS, abaixando-vos na consideração do vosso nada, e confessai
sinceramente que nada sois absolutamente diante da imensa Majestade divina. Dize-lho,
humilhando-vos não só em vosso coração, como também exteriormente, pois importa assistir à
Santa Missa com uma atitude recolhida e modesta:
“Ó meu DEUS, adoro-vos e reconheço-vos como meu Senhor e o Mestre de minha alma.
Tudo que sou, tudo que tenho reconheço dever a vós. E, como vossa soberana Majestade merece
homenagem e adoração infinitas, e eu sou a mais pobre das criaturas, absolutamente incapaz de
pagar-vos esta grande dívida, ofereço-vos os méritos das humilhações e homenagens que JESUS
vos tributa sobre o altar. O que Ele faz, eu tenho a mesma intenção de fazer. Humilho-me e
prostro-me com Ele diante de vossa Majestade, e vos adoro pelas próprias humilhações que
JESUS vos oferece. Regozijo-me e felicito -me de vosso FILHO bem amado Vos preste por mim
uma homenagem e uma honra infinitas. Amém.”
Fechai agora o livro; continuai a fazer muitos atos interiores, comprazendo-vos de que
DEUS seja infinitamente honrado, e repeti muitas vezes:
“Sim, meu DEUS, regozijo- me da honra infinita que resulta deste Santo Sacrifício, para
Vossa Majestade; felicito-me e regozijo-me quanto posso.”
Não vos preocupeis em observar à risca as palavras que vos indico, mas usai aquelas que
vos inspirar vossa piedade, mantendo-vos recolhido e unido a DEUS. Deste modo tereis saldado
bem a primeira dívida.
Durante a segunda parte da Santa Missa, do Evangelho à elevação, desobrigar-vos-eis do
segundo dever. Lançando um rápido olhar aos vossos pecados, e vendo a dívida imensa que por
eles contraístes com a Justiça Divina, dizei, com o coração humilhado:
Eis aqui, ó meu DEUS, este traidor que tantas vezes se revoltou contra vós. Infeliz que
sou! Cheio de dor, detesto, odeio, com a mais viva contrição, meus enormes pecados, e ofereço-
vos em reparação a própria satisfação que JESUS vos dá sobre o altar.
“Ofereço-vos o CRISTO total, com seu preciosíssimo Sangue, e todos os Seus méritos,
DEUS e Homem, que na qualidade de vítima, de novo se sacrifica por mim. Pois que o Senhor
JESUS se faz, sobre este altar, meu mediador , meu advogado, e por seu Sangue implora o perdão
para mim, eu me uno à voz deste SENHOR tão amante, e vos peço misericórdia por tantos
pecados tão graves, que tenho cometido. Misericórdia! Clama-vos o Sangue de JESUS.
Misericórdia! Clama-vos meu coração desolado. Ah! Meu adorável SENHOR, se minhas
lágrimas não vos comovem, deixai-vos tocar pelos gemidos de JESUS. Por que não obteria Ele
para mim, sobre este altar, o perdão que, na Cruz, mereceu para todo o gênero humano? Em
virtude deste preciosíssimo Sangue, espero que me perdoeis, também todos os meus pecados, os
quais não cessarei de chorar até meu último suspiro. Amém.”
Fechai o livro e repeti muitos destes atos de profunda e sincera contrição. Dai livre curso
a vossos sentimentos e, com confusão de palavras, mas do fundo do coração dizei a JESUS:
Fazei muitos destes atos, todo recolhido em DEUS, e ficai certo de que assim pagareis
completamente todas as dívidas que, por vossos pecados, contraístes com DEUS.
Na terceira parte, isto é, depois da elevação até a Comunhão, considerai os imensos
benefícios de que fostes cumulados e, em troca oferecei a DEUS um presente de valor infinito: O
Corpo e o Sangue de JESUS CRISTO. Convidai mesmo todos os Anjos e Santos a render graças
a DEUS, por vós, da maneira seguinte, ou de outra qualquer equivalente:
“Eis-me aqui, meu amado SENHOR cumulado de benefícios, tanto gerais como
particulares, que me concedestes e quereis conceder-me no tempo e na eternidade. Reconheço
que vossas misericórdias para comigo foram e são infinitas. Eis aqui portanto, em
reconhecimento e em paga, este Sangue Divino, este Corpo Sacratíssimo, que vos apresento pela
mão do sacerdote. Estou certo de que esta oferenda é suficiente para vos pagar por todos os bens
que me tendes concedido. Este dom de valor infinito vale por si todos os dons que recebi, que
recebo, e que ainda receberei de vós. Ah! Santos Anjos e vós todos os habitantes do Céu, ajudai-
me a agradecer a DEUS, e oferecei-Lhe em ação de graças não só esta Santa Missa, mas todas as
que se celebram neste momento no Mundo inteiro, a fim de que sua bondade tão cheia de amor
seja dignamente agradecida, por tantas graças que me concedeu e que quer conceder-me agora e
nos séculos dos séculos. Amém.”
Ah! Quanto agradará a nosso boníssimo DEUS tão afetuoso reconhecimento! Como não
ficará pago com esta única oferta que vale mais que tudo, porque é de valor infinito! E, para mais
excitar estes piedosos sentimentos, convidai o Céu a cooperar convosco. Invocai os Santos aos
quais tendes devoção e dizei-lhes do fundo do coração:
“Ó queridos Santos, meus advogados, agradecei por mim a DEUS de infinita bondade,
não viva e morra eu como ingrato. Peço-vos, suplicai-lhe aceitar minha boa vontade e levar em
conta o agradecimento cheio de amor, que, por esta Santa Missa, Lhe oferece, por mim, o
adorável JESUS. Amém.”
Não vos contenteis me dizer isto uma vez, mas repeti-o, e ficai certo de que assim
chegareis a pagar completamente esta grande dívida. Maior sucesso ainda tereis se cada manhã
fizerdes o ato de oferecimento que começa com as palavras DEUS Eterno (pág. 83), a fim de com
este intuito oferecer todas as Santas Missas celebradas no Mundo inteiro. (A oração DEUS
Eterno está incompleta, pois não a conseguimos por inteiro).
Na quarta parte, depois da Comunhão até o fim da Santa Missa, enquanto o sacerdote
comunga sacramentalmente, fareis a comunhão espiritual como indico no capítulo seguinte. Em
seguida, contemplando a DEUS no íntimo de vosso coração, não receeis pedir- Lhe muitas
graças, pois neste momento JESUS une-se todo a vós e Ele mesmo ora por vós.
Expandi, portanto, vosso coração, pedindo, não coisas de pouca importância, mas grandes
graças. Já que tão grande é a oferenda que Lhe fazeis, o deu Divino Filho. Dizei-Lhe, então, com
o coração repleto de humildade:
“Ó meu DEUS, reconheço-me por demais indigno de vossos favores; confesso minha
suma indignidade, e que, tendo cometido tantos e tão grandes pecados, não mereço ser atendido.
Como poderíeis, porém, deixar de escutar vosso Divino Filho, que sobre este altar, pede pro
mim, oferecendo-vos sua vida e seu Sangue? Ó meu DEUS fonte do Amor, ouvi as súplicas deste
poderoso advogado, e, em consideração a Ele, concedei-me todas as graças que sabeis que
necessito para realizar o grande trabalho de minha salvação eterna. É agora que ouso pedi-vos
o perdão geral de todos os meus pecados e a graça da perseverança no bem.
Mais ainda, confiante nas preces de JESUS peço-vos meu DEUS, todas as virtudes num
grau heróico, e todas as graças eficazes para tornar-me um verdadeiro santo. Peço-vos a
conversão de todos os infiéis e de todos os pecadores e particularmente daqueles a quem estou
unido pelos laços do sangue ou por um parentesco espiritual.
Imploro -vos a libertação não só de uma, mas de todas as almas do Purgatório: libertai-
as todas e que, pela eficácia deste Divino Sacrifício, fique vazia aquela prisão. Peço-vos,
humildemente, a conversão de todos os vivos, a fim de que este miserável Mundo se transforme
num paraíso de delícias onde sejais amado, reverenciado, adorado pro todos no tempo, para
depois irmos louvar-vos e bendizer-vos por toda a eternidade. Amém.”
Pedi ainda, graças para vós, para as crianças, para vossos amigos, parentes e conhecidos;
implorai socorro para todas as vossas necessidades espirituais e temporais; rogai para a santa
Igreja Católica Apostólica Romana, pedindo a plenitude de todos os bens, e o fim de todos os
males.
“Rezai muito especialmente pelo Sacerdote que celebrou a Santa Missa, mais do que
todos, pois ele merece sua gratidão. Peça ao boníssimo DEUS a perseverança para ele e muito
especialmente que faça dele um grande santo.”
E não façais com negligência, mas com grande confiança, seguros de que vossas orações,
unidas às de JESUS, serão atendidas.
Dizei-me agora: se tivésseis assistido deste modo a todas as Santas Missas, do passado até
ao presente, de quantos tesouros não teríeis enriquecido vossa alma? Oh! Que enormes prejuízos
vos causastes, quando assistia à Santa Missa, olhando para um e outro lado, observando os que
entravam e saíam da igreja e, muitas vezes até, conversando ou cochilando, ou, sobretudo,
enrolando de qualquer jeito algumas preces vocais, sem o menor recolhimento interior. Tomais,
portanto, a resolução de adotar este método tão fácil, tão suave, de assistir com fruto à Santa
Missa, e que consiste me cumprirdes os quatro grandes deveres para com DEUS: não tenhais
dúvida que em pouco tempo reunireis um grande tesouro de graças especiais, e nunca mais vos
virá à idéia dizer: “Uma missa a mais, uma missa a menos, que importa!”
DA COMUNHÃO ESPIRITUAL
Quanto à maneira de fazer a comunhão espiritual de que falei antes, é preciso conhecer a
doutrina do santo Concílio de Trento, o qual ensina que se pode receber o Santíssimo Sacramento
de três modos: sacramentalmente, espiritualmente, ou sacramentalmente e espiritualmente ao
mesmo tempo.
Não se fala aqui do primeiro modo, que se verifica também nos que comungam em estado
de pecado mortal, como fez Judas; nem do terceiro, comum a todos os que comungam em estado
de graça; mas trata-se aqui e do segundo, adequado àqueles que, tomando as palavras do santo
Concílio, impossibilitados de receber sacramentalmente o Corpo de Nosso Senhor, “o recebem
em espírito, fazendo, atos de fé viva e ardente caridade, e com um grande desejo de se unirem ao
soberano bem, e, por meio, se põem em estado de obter os frutos do Divino Sacramento.”
“Qui voto propositum illum caslestem panem edentes fide viva quae per dilectionewm
operatur, fructum ejus et utilitatem sentium”. (Sess. XIII, c.8.)
Para facilitar-vos prática tão excelente, pesai bem o que vou dizer-vos. No momento em
que o sacerdote se dispõe a comungar, na Santa Missa, recolhei -vos no vosso íntimo, tomando a
mais modesta posição; formulai, em seguida, em vosso coração um ato de sincera contrição e,
batendo humildemente no peito, em sinal de que vos reconheceis indignos de tão grande graça,
fazei todos os atos de amor, oferecimento, humildade e os demais que costumais fazer quando
comungais sacramentalmente: Desejai, então, vivamente receber o adorável JESUS , oculto por
vosso amor, no Santíssimo Sacramento.
Para excitar em vós o fervor, imaginai que a Santíssima Virgem ou um de vossos santos
padroeiros vos dá a santa comunhão: suponde recebê-la realmente e, estreitando JESUS em vosso
coração, repeti-Lhe muitas e muitas vezes com ardente amor: “Vinde, JESUS adorável, vinde ao
meu pobre coração; vinde saciar meu desejo; vinde meu adorado JESUS, vinde ó dulcíssimo
JESUS!” E depois ficai em silêncio, contemplando vosso DEUS dentro de vós, e, como se
tivésseis todos os atos que habitualmente fazeis depois da comunhão sacramental.
Ora, sabei que esta santa e bendita comunhão espiritual, tão pouco praticada pelos cristãos
de nossos dias, é um tesouro que cumula a alma de bens incalculáveis; e, no sentir de muitos
autores, é de tal modo eficaz que pode produzir as mesmas graças que a comunhão sacramental, e
maiores ainda.
Com efeito, se vem que a comunhão sacramental, na qual se recebe a santa Hóstia, seja
por sua natureza de maior proveito, porque como sacramento, age ex operare operato, é possível,
no entanto, que uma alma faça a comunhão espiritual com tanta humildade, amor e fervor, que
obtenha mais graças que não obteria outra, comungando sacramentalmente, mas com
disposição menos perfeita.
Nosso Senhor, outrossim, ama tanto este modo de fazer a comunhão espiritual, que muitas
vezes se dignou atender com milagres visíveis os piedosos desejos de seus servos, dando-lhes a
comunhão ou por sua própria mão, como fez à bem-aventurada Clara de Montefalco, a Santa
Catarina de Sena, e a Santa Lidvina; ou pela mão dos Anjos, como aconteceu a São Boaventura e
aos santos bispos Honorato e Firmino; ou ainda, mais freqüentemente, por meio da augusta Mãe
de DEUS, que se dignou dar a comunhão ao bem aventurado Silvestre.
Não vos admireis desta condescendência tão terna, pois a comunhão espiritual abrasa a
alma no amor a DEUS, une-a Ele, e dispõe-na a receber as graças mais insignes.
Ora, o fim deste livrinho é despertar no coração de todos os que o lerem um santo ardor
para que se introduza entre os fiéis o costume de assistir todo dia piedosamente à Santa Missa e
de fazer ai a comunhão espiritual. Oh! Que felicidade se, se obtivesse este resultado! Teria, então,
a esperança de ver refletir em toda a Terra este santo fervor que se admirava na Idade de ouro da
primitiva Igreja. Nesse tempo os fiéis assistiam diariamente ao Santo Sacrifício, e diariamente
recebiam a Comunhão sacramental. Se dignos não sois de imitá-los, ao menos assisti a todas as
Santas Missas que puderdes e comungai espiritualmente. Se eu tivesse a dita de persuadir-vos,
creria ter ganho o Mundo inteiro, e daria por bem recompensados os meus débeis esforços.
Enfim, para desfazer todos os pretextos que se apresentam ordinariamente, a fim de não assistir à
Santa Missa, darei nos capítulos seguintes diversos exemplos que interessam a toda sorte de
pessoas. Por aí cada um compreenderá que, se, se priva de tão grande bem, é por sua culpa, por
sua preguiça e seu pouco zelo pelas coisas santas, e que assim se prepara amargo arrependimento
na hora da morte.
Aqueles que não têm gosto para assistir à Santa Missa, invocam inúmeros pretextos para
escusar sua tibieza. Podeis vê-los absolvidos por seus negócios. Cheios de solicitude e zelo pelo
progresso de seus miseráveis interesses.
Para isso toda fadiga é leve e não há dificuldade que os retenha. Ao contrário, para assistir
à Santa Missa, que é o mais importante dos tesouros, ei-los cheios de frieza e preguiça, invocando
centenas de escusas frívolas: sues números cuidados, sua saúde delicada, os embaraços da
família, a falta de tempo, o excesso de ocupações. Em suma, se a Santa Madre Igreja não os
obrigasse sob pena de pecado a assistir à Santa Missa ao menos, aos domingos e dias
santificados, sabe DEUS se visitariam jamais uma igreja ou dobrariam o joelho ante um altar.
Ó vergonha, ó profunda miséria de nossos tempos infelizes, que estamos longe do fervor
dos primeiros cristãos, os quais, como já disse, assistiam todo dia à Santa Missa e recebiam o pão
dos Anjos.
No entanto não lhes faltavam afazeres, cuidados, ocupações. Mas a própria Santa Missa
era para eles um auxílio para bem dirigir seus negócios e interesses espirituais e temporais.
Mundo obcecado! Quando abrirás os olhos para reconhecer tão palpável ilusão? Vamos!
Despertemos todos! E que nossa devoção preferida, a mais amada, seja assistir diariamente à
Santa Missa e nela comungar, pelo menos espiritualmente.
Para alcançar tão santo resultado, não sei de meio mais eficaz que o exemplo, pois é uma
máxima indiscutível que todos vivimus ab exemplo: isto é, que tudo que vemos feito por nossos
semelhantes se nos torna acessível e fácil. Não poderás fazer, dizia a si próprio Santo Agostinho,
o que fazem estes e aqueles? Tu non poteris qudo isti et istae?
Apresentarei, portanto, alguns exemplos interessantes de pessoas diversas, e por este meio
espero convencer todo o mundo.
Ó Sacerdote de CRISTO, procedei de tal modo que, antes de tudo, seja simples e pura a
vossa intenção, e que só tenhais a DEUS em vista.
Com esta finalidade, renovai ao menos mentalmente antes de começar a Santa Missa, as
quatro intenções ensinadas anteriormente, e em vosso memento, depois de feita a aplicação
devida, oferecei brevemente o Sacrifício ao altíssimo, para os fins a que foi instituído, isto é, para
honrar a DEUS, agradecer-Lhe dar-Lhe reparação, e obter de sua bondade todos os bens.
Pois, se as palavras não são bem articuladas e as cerimônias bem feitas, ao invés de
excitar a piedade e devoção tornam-se para os assistentes motivo de escândalo.
Isto posto, todo sacerdote deve tomar a firme e constante resolução de celebrar todos os
dias a Santa Missa.
Se na Igreja primitiva, os leigos comungavam diariamente, é de crer com mais forte razão
que os padres celebravam todos os dias.
Santo André dizia a seu perseguidor: Quotidie Emmolo DEO Agnum immaculatum.
“Ofereço diariamente a DEUS, o Cordeiro Imaculado.” E São Cipriano, em uma de suas cartas:
Sacerdotes que Sacrificium DEO quotidie immolamus. “Nós sacerdotes, que cada dia oferecemos
a DEUS o Sacrifício.”
São Gregório Magno conta que São Cassiano, Bispo de Narni, tinha o costume de celebrar
a Santa Missa todos os dias, e que seu capelão recebeu de DEUS a ordem de dizer-lhe que fazia
muito bem, e quão agradável lhe era a devoção do santo Bispo, estando-lhe reservada grande
recompensa no Paraíso.
Muito menos vale para escusar-me uma espécie de humildade como a de São Pedro
Celestino. A idéia sublime que ele fazia deste Mistério leva-o a abster-se de celebrar diariamente.
Apareceu-lhe, porém, um santo abade e lhe disse severamente: “E que Serafim digno de celebrar
encontrareis no Céu? A escolha de DEUS para ministros do Santo Sacrifício não recaiu sobre os
Anjos, mas sobre os homens, como tais sujeitos a mil imperfeições. Está bem que vos humilheis;
mas celebrai diariamente, que tal é a vontade de DEUS.”
No entanto, para que a freqüência não diminua o respeito, esforçai-vos por imitar estes
Santos que se salientaram especialmente pela modéstia e devoção nos santos Mistérios.
O grande e ilustre arcebispo São Herberto celebrava com tão extraordinário fervor, que
parecia um Anjo do Paraíso. São Lourenço Justiniano ficava imóvel no altar, seus olhos pareciam
rios de lágrimas, e seu espírito se empolgava todo em DEUS. Entre todos, porém, distingue-se
São Francisco de Sales; jamais se viu um padre subir ao altar com mais majestade, respeito e
recolhimento. Quando se revestia dos ornamentos sagrados, depunha e afastava todo pensamento
estranho, e, apenas punha o pé no primeiro degrau do altar, sua fisionomia, em que as refletia o
recolhimento de sua alma, assumia uma expressão toda Angélica que deixava encantados os
assistentes.
Mas como encontravam estes Santos tantas delícias espirituais na celebração da Santa
Missa! É que celebravam como se estivessem em presença de toda a corte celeste. Assim
acontecia realmente a São Bonet, Bispo de Clermont. Uma noite em que ficara sozinho na Igreja,
apareceu-lhe a Santíssima Virgem rodeada de uma multidão de Santos. Alguns dentre eles
perguntaram à augusta Rainha quem devia celebrar a Santa Missa. “Bonet, o meu servo bem-
amado”, respondeu ela. O santo Bispo, ouvindo pronunciar seu nome, recuou assustado,
buscando esconder-se, e a parede de pedra, sobre a qual se apoiou, por um grande milagre,
amoleceu; a forma de seu corpo aí ficou impressa e ainda se pode ver. Sua humildade só lhe
serviu para o tornar mais digno. Teve de celebrar em presença da Santíssima Virgem, com
assistência de todos aqueles cidadãos do Céu. Depois da Santa Missa a Santíssima Virgem Maria,
deu lhe uma alva de fulgente brancura e de estofo tão fino como não se pode encontrar nenhum
comparável.
Ainda hoje se venera esta alva como preciosa relíquia. Com que modéstia, pergunto-vos,
com que recolhimento e amor não terá ele celebrado aquela Santa Missa?
Se este exemplo, entretanto, vos parece por demais extraordinário, imitai então a conduta
do glorioso São Vicente Ferre. Diariamente ele celebrava a Santa Missa, antes de pregar a um
inumerável auditório.
Ora, duas coisas ele levava ao santo altar: uma soberana pureza de alma e uma extremada
compostura exterior. Para conseguir a primeira, confessava-se cada manhã; e eis o que quisera de
vós, ó sacerdote que buscai a maior honra de DEUS, ao celebrar os santos Mistérios.
É espantoso que alguns empreguem meia hora lendo livrinhos em preparação ao santo
Sacrifício, enquanto que um curto exame e um ato de viva contrição sobre qualquer pecado da
vida passada se não houver outra matéria, bastar-lhe-ia para adquirir grande pureza de coração.
Esta é a preparação mais perfeita que poderíeis fazer para a Santa Missa: confessar-vos, o mais
que puderdes, todas as manhãs.
Bani todo escrúpulo e não desprezeis o conselho que vos dou. Oh! Que messe abundante
de méritos amontoaríeis então! Como me agradeceríeis ao encontrar-nos na bem-aventurança
eterna!
Para alcançar a segunda, o Santo queria que o altar fosse ornamentado com
magnificência; exigia extremo asseio nos paramentos e vasos sagrados. Confesso que a pobreza
de muitas igrejas escusa-as de possuir paramentos ricos, bordados a ouro e seda; quem pode,
porém, dispensar o asseio e a decência convenientes? Zelo tão ardente pelos Santos Mistérios
animava o seráfico São Francisco, que, apesar de seu amor à santa pobreza, queria os altares
mantidos em perfeita limpeza, e mais ainda os sagrados paramentos que diretamente servem ao
Divino Sacramento. Ele mesmo punha-se muitas vezes a varrer as igrejas.
São Calos, em suas ordenações, mostra-se tão exigente em coisas que podem parecer
mesquinhas minúcias, que, na verdade é de admirar.
Para terminar, a augusta Mãe de JESUS, nosso DEUS, quis pessoalmente fazer-nos
compreender esta necessidade, quando em uma aparição a Santa Brígida, disse: “Missa dicinon,
debet nisi in ornamentis mundis.” “Não se deve celebrar a Santa Missa senão com paramentos
convenientes, que inspirem devoção por seu asseio e decência.”
Antes de terminar este parágrafo, resta dizer algo a respeito do ministro que serve à Santa
Missa. Em nossa época dá-se aos meninos e a ignorantes este encargo, de que nem os próprios
reis seriam dignos.
Diz São Boaventura que é um mister angélico, pois muitos Anjos assistem ao Santo
Sacrifício e servem a DEUS neste santo mistério.
São Tomás More, chanceler da Inglaterra, punha suas delícias nesta santa função; e certo
dia, admoestado por um grande do reino que lhe avisava de que o rei Henrique veria com
desprazer ação tão pouco digna dum primeiro ministro, respondeu: “Não pode segredar a meu
senhor, o rei, que eu sirva o Senhor de meu rei, o qual é o Rei dos reis e o Senhor dos senhores.”
Aí está o bastante parta confundir essas pessoas, às vezes até piedosas, a quem é preciso
pedir d suplicar para que ajudem à Santa Missa, quando deveriam porfiar e apoderar-se do missal
a fim de ter a honra de desempenhar emprego tão santo que faz inveja aos próprios Anjos e
Santos do Paraíso.
Importa, evidentemente, velar com cuidado para que os que ajudam à Santa Missa sejam
bem instruídos quanto a seu papel.
Devem manter os olhos baixos, uma atitude modesta e piedosa; cumpre-lhes pronunciar
as palavras, distintamente, docemente, em voz não baixa demais, que o sacerdote não os ouça,
nem por demais alta, que incomode os que celebram nos altares próximos.
Dever-se-ia, outrossim, excluir certos meninos muito levianos, que brincam e fazem
barulho e perturbam o recolhimento do sacerdote. Rogo a DEUS que inspira aos homens
prudentes dedicarem -se a este ofício tão santo e louvável. Competiria aos mais nobres a aos mais
instruídos dar este belo exemplo.
EXEMPLOS
DE VÁRIOS PRÍNCIPES
REIS E IMPERADORES
Os exemplos dos grandes causam ordinariamente muito mais impressão que a piedade
mesmo singular de simples particulares, conforme o axioma vulgar: “Conforme-se a terra ao
exemplo do rei.” “Regis ad exemplum totus componitu orbis.”
Ora, longa seria a lista que eu poderia desenrolar, para animar a seguir o exemplo
daqueles que assistiam todos os dias à Santa Missa.
Citaremos rapidamente alguns: Constantino Magno não só assistia todos os dias à Santa
Missa, mas, quando partia em qualquer expedição, em pleno fragor da guerra e ruído das armas,
fazia-se acompanhar dum altar portátil no qual mandava celebrar diariamente a Santa Missa, e
por este meio alcançou retumbantes vitórias. O Imperador Lotário observava sempre a mesma
prática. Em tempos de paz como de guerra, fazia questão de assistir, todos os dias, a três Santas
Missas. O piedoso Henrique III, rei da Inglaterra, assistia, do mesmo modo, a três Santas Missas
diárias, para grande edificação de sua corte.
Singulis diebus três Missas cum nota audire soletat, et piures audire cupiens privatim
celebrantibus assidue assistebat. O Senhor recompensou-o, ainda neste mundo, com um feliz
reinado de cinqüenta e seis anos.
Mas, para expor à luz a piedade dos monarcas ingleses e sua assiduidade em assistir à
Santa Missa, não é preciso remontar aos séculos passados; basta considerar a grande alma de
Maria Clementina, a piedosa rainha cuja perda Roma ainda chora. Como ele se dignou dizer-me
muitas vezes, punha todas as suas delícias em assistir ao Divino Sacrifício e todos os dias assistia
a todas as Santas Missas que podia. Mantinha-se imóvel, sem almofadas, sem apoio, como uma
estátua.
E por esta devota assistência à Santa Missa, acendeu-se em seu coração amor tão ardente
a JESUS-Hóstia, que se esforçava por assistir diariamente a três ou quatro bênçãos do Santíssimo
Sacramento.
Ora, dizei-me, este exemplo sublime não basta para rechaçar todas as desculpas dos que
demonstram tanta preguiça em assistir, todos os dias à Santa Missa e nela fazer a comunhão
espiritual? Não me satisfaz, entretanto, que imiteis esta boa rainha com o fervor do vosso coração
em desejar receber JESUS-HÓSTIA; mas quisera que a imitásseis, ocupando vossas mãos nos
trabalhos que tão freqüentemente ela efetuava, a fim de prover de objetos do culto às igrejas
pobres, exemplo seguido em Roma por muitas damas nobres, que se consideravam felizes em
trabalhar com suas mãos nos vários paramentos destinados ás igrejas. E fora de Roma, conheço
uma grande princesa, ilustre tanto por sua piedade como pelo nascimento, que assistia, todas as
manhãs, a várias Santas Missas, e ocupa suas damas nos trabalhos destinados ao altar, a ponto de
enviar caixas cheias de corporais, manutérgios e outras peças semelhantes aos missionários e
pregadores, para que distribuam ás igrejas pobres e a fim de que o Divino Sacrifício seja
oferecido a DEUS com toda a pompa, decência e solenidade adequadas.
Terminamos este parágrafo com o exemplo da São Venceslau, rei da Boêmia, que todos
devem imitar, se não em tudo, ao menos na medida do possível.
Este Santo rei, não contente em assistir diariamente a muitas Santas Missas, de joelhos
sobre o chão duro, e de servir aos padres no altar, com mais humildade que um seminarista,
presenteava, ainda, as igrejas com as jóias mais preciosas de seu tesouro e as mais ricas
tapeçarias de seu palácio.
Costumava, além disso, confeccionar, com suas próprias mãos, as hóstias destinadas ao
santo Sacrifício.
Para este fim e sem receio de diminuir sua dignidade real, com suas mãos feitas para
empunhar o cetro, cultivava um campo, conduzindo a charrua, semeava o trigo, fazia a colheita,
depois moía os grãos, peneirava a farinha, preparava e cortava as hóstias e as apresentava com o
mais profundo respeito aos sacerdotes, para que as convertessem no Corpo do Salvador.
Ó mãos dignas, de São Venceslau, de empunhar o cetro da Terra inteira! Qual foi, porém,
a recompensa de tão terna piedade?
Permitiu DEUS que o imperador Oto I concebesse pelo santo rei tal benevolência que lhe
concedeu o privilégio de gravar em seu brasão as armas do império: a águia negra sobre fundo
branco, favor nunca obtido por nenhum outro príncipe.
Deste modo, por intermédio do imperador, quis DEUS recompensar a grande devoção de
São Venceslau ao Sacrifício da Eucaristia. Magnífica, porém foi sua recompensa no Céu, quando,
por um glorioso martírio, obteve uma bela coroa de glória eterna.
E assim, graças a essa afeição profunda à Santa Missa, ele foi duplamente coroado, neste
mundo e no outro.
Uma mulher, que entra na Igreja com um traje espaventoso, atrai todos os olhares, e
queira DEUS n’ao atraia também os corações, arrebatando ao SENHOR as devidas adorações.
Não é preciso excitar estas pessoas a assistir todos os dias à Santa Missa; já são demais levadas a
freqüentar as igrejas. O importante será fazer-lhes compreender com que modéstia e respeito
devem portar-se na casa de DEUS, especialmente quando se celebra a Santa Missa. Tanto mais
me edificam senhoras da nobreza e princesas que só aparecem ante aos altares vestidas
simplesmente, sem luxo nem elegâncias refinadas, quanto me escandalizam certas pretensiosas
que, com seus penteados ridículos e ares de atrizes, assumem poses de deusas no lugar santo.
A bem-aventurada Ivete teve, certo dia, uma visão, que devia inspirar a essas pessoas o
temor respeitoso devida à Santa Missa.
Ao assistir à Santa Missa viu essa nobre flamenga um espetáculo terrível. Perto dela
estava uma dama distinta, cujo olhar se fixava aparentemente no altar; mas não era para seguir o
Santo Sacrifício, nem para adorar o Santíssimo Sacramento que ia receber, e sim, para satisfazer
uma paixão impura. Em volta dela estavam um grande número de demônios que dançavam e se
expandiam em demonstrações de regozijo. Quando ela se levantou para se dirigir à mesa sagrada,
uns lhe seguraram a cauda do vestido, outro lhe ofereceu o braço enquanto outros lhe faziam
cortejo e serviam-lhe como a sua senhora. No momento em que o sacerdote descia do altar com a
Santa Hóstia na mão a fim de dar a comunhão àquela infeliz, pareceu a Ivete que o Salvador
abandonava as santas espécies e volvia ao Céu, repugnando-Lhe entrar num coração assim
rodeado de espíritos das trevas.
Dir-me-eis que não sois do número dessas infelizes criaturas, e eu creio de boa vontade.
Se, entretanto, ides à Igreja com certos trajes escandalosos, mereceis todas as censuras.
Transformeis o templo sagrado em covil de ladrões, pois roubais a DEUS a honra, pelas
distrações que provocais aos sacerdotes, aos ministros, a todo o povo.
Por favor, considerai e tomai a resolução de imitar Santa Isabel da Hungria. Para assistir à
Santa Missa, ela se dirigia com grande pompa à Igreja. Mas, para assistir ao Santo Sacrifício
retirava da cabeça a coroa, os anéis dos dedos, depunha seus ornamentos e cobria-se com um véu,
ficando em atitude tão modesta que nunca foi vista desviar sequer os olhos. Tudo isso agradou de
tal modo a DEUS, que Ele quis manifestá-lo a todos: durante a Santa Missa a Santa aparecia
envolta de tal claridade que se velavam de deslumbramento os olhos dos assistentes; parecia-lhes
contemplar um anjo do Paraíso. Imitai exemplo tão ilustre, certos de que agradareis a DEUS e
aos homens, e que a Santa Missa será para vós de imenso proveito para esta vida e para a outra.
Grande é a utilidade que se aufere da assistência à Santa Missa, o que acaba de ser
demonstrado.
Pois, ainda que a Santa Missa seja um santo tesouro e de valor infinito, apesar de tudo, é
sempre ainda melhor obedecer e renunciar à própria vontade, pois a obediência é imensamente
valiosa.
Que sucederia, no entanto, se fôsseis à Santa Missa para vos entregardes à tagarelice, à
curiosidade, às distrações voluntárias, e voltásseis com as mãos vazias? Foi o que sucedeu a uma
camponesa, que morava em uma aldeia m pouco afastada da Igreja.
Querendo alcançar uma graça importante, ela prometeu assistir à Santa Missa durante um
ano. Com esta intenção, todas as vezes que ouvia repicar o sino anunciando a Santa Missa, em
alguma Igreja dos arredores, largava imediatamente seu trabalho e punha-se a caminho sem
atender sequer às inclemências do tempo. De volta a casa, para não perder a conta das Santas
Missas assistidas, que tencionava completar exatamente conforme se impusera, depositava cada
vez uma fava em uma caixa cuidadosamente guardada. Passou-se o ano, e ela, certa de ter
cumprido a promessa e alcançado muitos méritos, foi abrir a caixa. Ora, de tantas favas que
ajuntara, só encontrou uma. Surpreendida e consternada, invadiu-a um grande pesar, e dirigiu-se
a DEUS, dizendo-lhe lacrimosa: Ó SENHOR, como é possível que, de tantas Santas Missas que
participei, só uma se encontre de sobra? Nunca faltei, a despeito do esforço a fazer, do mau
tempo, da chuva, do frio e do caminho ruim!
DEUS então lhe inspirou a idéia de contar sua infelicidade a um piedoso sacerdote muito
prudente.
Este lhe perguntou de que modo ia ela à igreja, e com que devoção assistia ao santo
Sacrifício.
Fazei agora uma reflexão bem séria e dizei: Quem sabe, de tantas Santas Missas a que
tenho assistido em minha vida, quantas foram agradáveis a DEUS? Que vos responde a
consciência! Se vos parece que bem poucas dessas Santas Missas são dignas de mérito aos olhos
de DEUS, remediai esta situação e emendai-vos sinceramente para o futuro.
Mas se, o que não queira DEUS, sois do número dessas infelizes, asseclas dos demônios,
que vão à igreja ajudá-los a arrastar ao inferno, ouvi uma história apavorante e tremei!
Conta-se que certa mulher, tendo caído em grande miséria, errava em extremo desespero,
num lugar solitário. Apareceu- lhe satanás e disse-lhe que se ela quisesse distrair as pessoas na
igreja, por meio de conversinhas e falatório inútil e inconveniente, ele a tornaria rica como nunca.
A miserável mulher aceitou a proposta e pôs-se a executar o diabólico ofício, alcançando plenos
resultados: agia e falava de tal maneira que ninguém perto dela podia assistir atentamente à Santa
Missa, nem a outras cerimônias.
Não durou muito, porém, que não pesasse sobre ela a mão de DEUS.
Ó mulheres, aprendei à custa de outrem, e fugi das pessoas que por suas tagarelices e
irreverências nas igrejas exercem o ofício de ministros de satanás, se não quereis incorrer também
na cólera de DEUS.
EXEMPLOS PARA
OS NEGOCIANTES E ARTÍFICES
Infelizmente o deus dos nossos tempos é o dinheiro. Quão numerosos são os que se
prostram diante dele e lhe oferecem adoração em todo tempo e lugar!
O resultado é que, correndo atrás deste ídolo, esquecem o verdadeiro DEUS, e, por
conseqüência, precipitam-se num abismo de desgraças e perdem toda a felicidade, enquanto que,
na afirmação do profeta e rei, aqueles que buscam a DEUS antes de tudo, não caem em nenhum
verdadeiro mal e têm acréscimo de todos os bens, Inquirentes Dominum non minuentur omni
bono (Sl 33,11). Esta palavra se verifica ainda mais naqueles que , antes de se entregarem a seu
trabalho ou a seus negócios, têm o cuidado de assistir ativa e atentamente à Santa Missa.
É o que prova a história dos três negociantes de Gúbio. Dirigiram-se a uma feira que se
realizava num burgo chamado Cisterno. Depois de vender suas mercadorias, dois deles
começaram a pensar na volta e resolveram partir no dia seguinte de madrugada, a fim de estarem
em casa ao cair da tarde. O terceiro discordou desta resolução e declarou que, sendo o dia
seguinte um domingo, não se punha a caminho se antes ter assistido à Santa Missa.
E exortou os outros, se queriam voltar como tinham vindo, teriam primeiro que assistir à
Santa Missa; em seguida fariam uma refeição e partiriam abençoados.
Além disso, se não pudessem chegar naquela mesma noite a Gúbio, não faltariam
albergues confortáveis no caminho.
Os dois negociantes meteram-se por ela com suas alimárias, mas, bem não tinham
chegado ao meio, rompeu-se o madeirame à pressão da água e os dois cavaleiros precipitaram-se
no rio onde se afogaram, perdendo assim dinheiro, mercadorias e a vida.
O terceiro, entretanto, que se deixara ficar para cumprir o preceito de assistir à Santa
Missa, pôs-se a caminho alegre e animado. Ao chegar à mesma torrente, viu na margem os dois
mortos, e por curiosidade se deteve para olhá-los. Reconheceu imediatamente seus dois amigos e
ouviu emocionado a descrição da tragédia.
Sansão, todos o sabem, foi amarrado com nervos de boi, com cordas novas que nunca
tinham servido; por fim ele revelou à pérfida Dalila que sua força residia em seus cabelos: e
apenas lhe foram cortados, perdeu Sansão todo o vigor e caiu me poder dos filisteus que lhe
vazaram os olhos e condenaram a girar a mó.
Pois, bem, dizei-me: qual foi a falta maior de Sansão? Deixar-se amarrar com tantos
laços? Não. Ele sabia perfeitamente que toda a força do país não poderia detê-lo. Todo o seu mal
constituiu em revelar o que lhe dava força, e deixar que lhe cortassem os cabelos, sem os quais
Sansão não era mais Sansão.
Ora, suponhamos que um comerciante se deixe ligar por centenas de ocupações de balcão,
de tráfico, de contas, de bancos: é uma avareza culpável? Não, não representa isso avareza. Todo
o mal consiste em deixar-se cortar os cabelos. Explico-me. Este negociante está assoberbado de
negócios. Mas, de manhã, cedinho, ouve o sino chamando para a Santa Missa, e diz: “Meus
negócios, um momento de paciência: o primeiro ganho está na assistência a Santa Missa.” Ai
tendes Sansão atado, mas com a cabeleira intacta.
Outro comerciante está ligado e apertado por sete cordas e mais: trabalhos a realizar,
contas a saldar, cartas a escrever, sócios a atender. Este espera uma resposta, aquele um
pagamento. Que labirinto! Quantos laços!
Mas qual! Chega o domingo, ele se desembaraça de suas ocupações, e vai fervorosamente
assistir a muitas Santas Missas e fazer suas devoções. Eis ainda Sansão amarrado, mas não
despojado dos cabelos, pois com todos os afazeres ele não perde de vista o máximo dos negócios,
sua salvação eterna. Atendei, porém, a isto: quando estais sobrecarregados de mil cuidados
interesseiros e não tendes tempo de freqüentar os Sacramentos e assistir à Santa Missa, ah!
Pobres Sansões! Então estais amarrados e com os cabelos totalmente cortados!
Ainda que lícitos sejam vossos ganhos, não o é vossa paixão do lucro. É uma avareza
vergonhosa que atrairá sobre vôos a desgraça de Sansão, e, como aconteceu a ele, a casa ruirá
sobre vossa cabeça. E então, as coisas que ajuntastes, de quem serão? (Lc 12, 20)
Mas como bem se pode imaginar, esses avarentos não se renderão nunca, se não os
pegarmos pelo ponto fraco. Pois bem, seja. Que pretendeis?
Enriquecer, acumular, ganhar sem cessar? Ora, qual o meio mais seguro? Ei-lo: assistir,
ativa e devotamente à Santa Missa todos os dias.
Não lhe faltavam nem fregueses em sua loja, nem encomendas de trabalhos; e todos os
anos ainda punha de lado boas economias para o casamento das filhas. O segundo nunca tinha
trabalho, passava fome, e caminhava para a ruína. Um dia disse confessadamente ao vizinho: mas
o que é que fazes! As bênçãos de DEUS chovem sobre a tua família, enquanto eu, infeliz de mim,
vivo embaraçado nos negócios e todas as desgraças caem sobre a minha casa.
O amigo replicou, vou ensinar-te. Amanhã de manhã estarei em tua casa, e te mostrarei
onde encontro tantos bens.
Na manhã seguinte levou o amigo á Igreja para assistir à Santa Missa, e reconduziu-o,
após, à oficina. Fez a mesma coisa duas ou três vezes. Disse então o outro: Não precisas mais
dar-te o trabalho de levar-me à Santa Missa: já sei o caminho, se está nela o teu segredo.
Concordo respondeu o amigo. Vá todos os dias assistir à Santa Missa, e verás que tua sorte há de
mudar.
Aconteceu, com efeito, que, desde que ele começou a assistir diariamente à Santa Missa,
começou a aparecer-lhe trabalho, e em pouco tempo pagou suas dívidas e repôs sua casa em
excelente estado.
Credes no Evangelho? Ora, se credes, como podeis por em dúvida esta verdade que ele
claramente:
“Buscai, em primeiro lugar, o reino de DEUS e sua justiça, e todas estas coisas vos serão
acrescentadas. Querite primum regnum DEI, et haec omnia adjicientur vobis” (Mt 6,33)
Se duvidais ainda, fazei a experiência: assisti, com devoção e ativamente, à Santa Missa,
durante um ano, e se vossos interesses temporais não tomarem melhor andamento, aceitarei todas
as censuras. Não será, porém assim. Pelo contrário tereis amplos motivos para agradecer-me.
O apóstolo São Paulo diz que aquele que não cuida de seus servos é pior que um infiel: Si
quis suorum et máxime domesticorum curam non habet, fidem negavit, et est infideli deterior (I
Tim 5,8). Estende-se este cuidado não só ao corpo, como também, e muito mais, à alma.
Se, portanto, seria grande injustiça deixar faltar aos próprios servos o alimento corporal,
seria trair mais gravemente ainda o seu dever, privá-los de alimentos espirituais, e especialmente
não lhes facilitar a assistência diária à Santa Missa, cuja privação é uma perda que patrão
nenhum, por poderoso e rico que seja, conseguiria, jamais compensar.
Quando DEUS fez aliança com Abraão, ordenou-lhe circuncidar não só a si, mas ainda
todos os servos e escravos: Tam vernaculus quam empititius circuncidetur (Gn 1,12). É evidente
que um bom cristão não deve contentar-se de ser fiel, só ele, ao culto divino, principalmente
assistindo ao Sacrifício da Santa Missa, mas deve cuidar que seus servos e os outros membros da
família também o sejam.
Era este o piedoso costume de São Elzéar, conde de Arian. Entre as boas regras que deu á
sua casa, a primeira era que cada manhã todos assistissem à Santa Missa: servos, servas, lacaios,
todos, queria ele ver na Igreja à hora da Santa Missa.
É costume santo, que muitos fidalgos praticam em Roma, cardeais e prelados que
diariamente assistem à Santa Missa e fazem questão de ver ao seu redor todos os componentes de
sua casa.
E não creiais que o tempo assim empregado pelos servidores seja perdido para vós. DEUS
vos há de computá-lo.
Santo Isidoro não passava de um pobre lavrador, mas tomava cuidado, de nunca faltar à
Santa Missa pela manhã. DEUS então, para demonstrar-lhe quanto prezava esta devoção,
mandava aos Anjos lavrar o campo de Isidoro enquanto ele estava na Igreja. Não é de esperar que
DEUS faça para vós milagres tão sensíveis, mas de muitas maneiras irá Ele recompensar-vos por
vossa piedade! Podeis conjeturá-lo pelo que sucedeu a um pobre operário.
Era um vinhateiro que mantinha sua família com o suro de seu rosto, e que tinha o hábito
de assistir, cada dia à Santa Missa, antes de ir para o trabalho. Dirigindo-se uma manhã bem cedo
ao local onde se tratava trabalho, esperava que algum patrão viesse contratá-lo para aquele dia.
Ouviu, porém o repicar do sino, e, conforme o costume, foi à igreja fazer suas orações.
Terminada aquela Santa Missa, foi celebrada outra, e ele, levado por sua devoção, deteve-
se para assisti-la. De volta, enfim, ao lugar costumado, encontrou-o deserto, pois todos os
trabalhadores tinham sido já contratados e haviam partido para o trabalho nos campos. O pobre
homem encaminhava-se muito triste para a casa, quando encontrou um cidadão muito rico, o
qual, notando-lhe o ar preocupado, perguntou-lhe o motivo daquele pesar.
- Que se há de fazer? Hoje de manhã, para não perder a Santa Missa, perdi minha
diária, respondeu.
“Não se aflija, replicou o rico, vá a igreja, assista à outra Missa, em minha intenção, e
logo a tarde pagar-lhe-ei sua diária. O operário obedeceu e assistiu a todas as Santas Missas
celebradas naquele dia. A tarde, foi receber sue salário, idêntico ao que se costuma pagar na
região. Voltava ele muito satisfeito, quando lhe veio ao encontro um desconhecido (era o próprio
JESUS), que lhe perguntou qual o salário recebido por um dia tão bem empregado”.
E ao ficar informado da quantia, exclamou: “Tão pouco, por trabalho de tão grande
mérito?! Volta a esse rico e dize-lhe que se não aumentar tua recompensa, seus negócios irão
muito mal.” O homem com toda simplicidade deu o recado ao rico, e este lhe deu mais cinco
moedas, despedindo-o em paz. O vinhateiro deu-se pro muito satisfeito com o aumento, mas
JESUS não se contentou. Ao saber que o aumento fora somente de cinco moedinhas, disse: “Não
basta, volta a esse ricaço e adverte-o que se não der melhor retribuição, pode esperar terrível
desgraça.” Foi-se novamente o trabalhador, e um tanto embaraçado fez sua comunicação em
meias palavras. O rico ouvi-o, e, tocado interiormente por DEUS, deu-lhe uma boa quantia para
comprar uma roupa nova.
Admirais, sem dúvida, a atenção da Divina Providência socorrendo esse pobre vinhateiro,
em retribuição à sua terna piedade de assistir diariamente à Santa Missa, e tender razão. Mais
admirável ainda foi, porém, a graça que a soberana Misericórdia concedeu ao rico. Com efeito, na
noite seguinte JESUS apareceu-lhe em sonho, e lhe revelou que, em consideração às Santas
Missas assistidas por aquele pobre trabalhador, poupava-o de uma morte súbita que naquela
mesma noite devia precipitá-lo no Inferno.
Portanto, à Santa Missa, meus queridos amigos, à Santa Missa; e ficai certíssimos de que
nesta maravilhosa devoção encontrareis o que há de melhor para todos.
EXEMPLO TERRÍVEL
PARA AQUELES QUE NÃO APRECIAM
O GRANDE TESOURO DA SANTA MISSA
São Tomás e São Boaventura, os dois doutores da Igreja, ensinam, como dissemos
anteriormente, que o Santo Sacrifício da Missa é de valor infinito, tanto pela Vítima que é ai
oferecida, que é o Corpo e Sangue, a alma e Divindade de Nossa Senhor JESUS CRISTO que
principalmente o oferece. No entanto, muitos há que o têm em tão pouca estima que colocam este
tesouro sacratíssimo, abaixo do mínimo interesse. Outra finalidade não tem este livrinho, da
primeira á última página, senão dar uma idéia justa desta preciosidade tão grande que não tem
preço.
E se, até aqui, este santo Sacrifício era para eles um tesouro oculto, agora que lhe
conhecem o valor infinito, tomem a resolução de aproveitá-lo, assistindo à Santa Missa, todos os
dias! Para a isso mais incitá-lo, vou contar uma história apavorante, que será a conclusão desta
obra.
Enéias Silvio Piccolomini, mais tarde Pio II, refere que em certa região da Alemanha
havia um fidalgo de grande linhagem que, tendo caído na pobreza, vivia retirado em uma de suas
terras. Aí acabrunhado pela melancolia, estava prestes deixar-se dominar pelo desespero, e
satanás o impelia, cada dia, a pôr uma corda ao pescoço a fim de dar cabo da vida. Nesse
combate contra a tristeza e a tentação, recorreu a um santo confessor, que lhe deu o excelente
conselho de não passar, nem um dia, sem assistir à Santa Missa.
O fidalgo aceitou o conselho e logo o colocou em prática; e fez mais, para ficar seguro de
nunca faltar à Santa Missa, tomou um capelão que devia estar pronto a oferecer, cada manhã, o
Santo Sacrifício, a que ele assistia com grande fervor e devoção. Um dia, porém, o capelão
dirigiu-se bem cedo a uma aldeia pouco afastada para assistir um padre recém-ordenado, que lá
celebrava sua primeira Missa. O fidalgo, receoso de ficar privado da Santa Missa naquele dia,
dirigiu-se apressadamente para a tal aldeia. No caminho, porém, encontrou um camponês e este
lhe disse que podia voltar dali, pois a Santa Missa do novo sacerdote já havia terminado, e que na
aldeia não se celebraria outra. A esta notícia, o fidalgo perturbou-se e exclamou entre lágrimas:
“Que vai ser de mim hoje?” O camponês, que nada podia entender de tão pungente aflição,
replicou num tom de gracejo e ímpio ao mesmo tempo: “Não choreis, senhor, eu vos venderei a
Missa que acabo de assistir. Dai-me o manto que trazeis e eu vo-la cedo.”
Duas coisas de grande importância eu quisera que notásseis neste terrível caso. Primeiro a
grosseira ignorância de grande número de cristãos que, não sabendo apreciar as riquezas imensas
na Santa Missa, vão a ponto de taxá-la por um preço material.
Daí vem a linguagem inconveniente de algumas pessoas que falam em pagar ao sacerdote
a sua Missa. Pagar a Missa! E onde encontrareis fortuna capaz de igualar o valor de uma única
Santa Missa, já que ela vale mais que todo o Paraíso! Ó ignorância revoltante.
Esse pouco de dinheiro que dais ao sacerdote, vós lho dais para seu sustento, mas não
como pagamento, pois a Santa Missa é um tesouro sem preço.
Porque vos exortei, neste livrinho, a assistir, todos os dias, à Santa Missa e encomendar
quantas puderdes, é possível que satanás vos coloque no espírito esta idéia: “Os padres nos
exortam a encomendar muitas Missas, por motivos muito bonitos e especiais. Mas nem tudo que
brilha é ouro. Sob esta aparência de zelo eles escondem seu proveito e no fim de contas vê-se
que o interesse é que lhes inspira a conduta e as palavras.” Que erro o vosso, se pensais assim!
Dou graças a DEUS de me ter inspirado abraçar uma ordem na qual se professa a mais
estrita pobreza, e não se recebem espórtulas pelas Missas. Se nos oferecessem cem escudos por
uma só Missa, jamais os aceitaríamos, pois dizemos todas as nossas Missas na intenção que tinha
CRISTO na Cruz, quando ofereceu ao Eterno PAI o primeiro Sacrifício do Calvário. Se, portanto,
alguém há que possa elevar a voz sem receio de censura, sou eu que só busco o vosso interesse.
Ora, tudo que vos aconselhei neste opúsculo vo-lo repito novamente, rogo-vos assisti a
muitas Santas Missas e encomendai o mais que puderdes.
Tereis amontoado um grande tesouro que vos aproveitará neste Mundo e no outro.
Resta-me ainda dar-vos um aviso, que se dirige também tanto aos sacerdotes, aos
religiosos, como aos leigos: é que, para receber com grande abundância os frutos da Santa Missa,
importa ir a ele com a máxima devoção. Vós, leigos, portanto, assisti com toda a devoção, à da
Santa Missa, e para isto, se quiserdes, utilizai-vos deste livrinho e ponha em prática,
cuidadosamente, tudo o que nele vai indicado.
Em pouco tempo, posso assegurar-vos pela experiência, verificareis uma mudança
sensível em vosso coração, e tocareis com o dedo o grande bem que daí há de auferir a vossa
alma.
E vós, sacerdotes, deveis temer a justiça de DEUS, quando, por uma pressa exagerada ou
por negligência irreverente, executardes mal as santas cerimônias, precipitardes as palavras,
confundirdes os movimentos, numa palavra, despachardes a Missa. Refleti que consagrais, que
tocais e recebeis o FILHO DO ALTÍSSIMO, e que não podeis, sem falta, omitir a menor
cerimônia ou fazê-la de modo negligente ou defeituoso, como a ensina o sábio Suarez: Vei unius
caeremoniae omissio culpae reatum inducit!
Por isso, João d´Ávila, o oráculo da Espanha, não punha em dúvida que o Soberano Juiz
pedirá aos sacerdotes uma conta mais rigorosa de todas as Missas que tiverem celebrado, do que
qualquer outra obrigação.
Por este motivo, tendo ouvido dizer que um jovem sacerdote passara à outra vida, ao
terminar sua primeira Missa, aquele santo homem soltou um suspiro e disse:
“Ele celebrou, então, a Santa Missa?” E como lhe respondessem que o neo-sacerdote
tivera a felicidade de morrer logo depois de celebrá -la, replicou: “Ah! Grande conta tem ele de
dar a DEUS, se celebrou uma Missa!”
E vós e eu, que tantas temos celebrado. Como nos arranjaremos no tribunal de DEUS?
Tomemos por tanto a salutar resolução de rever, ao menos no próximo retiro que fizermos, todas
as rubricas do Missal e todas as cerimônias sacras, a fim de celebrar com a máxima perfeição
possível. E estou certo de que se nós, sacerdotes, celebramos com um exterior grave e recolhido,
e, sobretudo com grande fervor, os leigos, de sua parte, hão de decidir-se a assistir diariamente à
Santa Missa. E teremos a consolação de ver renascer entre os cristãos de nossos dias o fervor dos
primeiros fiéis da Igreja.
E vós, que é que estais fazendo? Por que é que não ides correndo para as igrejas para
lá assistirdes fervorosamente a todas as Santas Missas que puderdes? Por que é que não
quereis imitar os Anjos que, quando se celebra a Santa Missa, descem do Paraíso em grande
número e vêm ficar ao redor do altar em adoração, intercedendo por nós? E DEUS será
soberanamente honrado e glorificado: é esta a única finalidade desta pequena obra.
Em uma palavra, tenho a intenção de executar hoje todas as minhas ações, em união com
as intenções perfeitíssimas que tiveram nesta vida JESUS e Maria, e todos os santos que estão no
Céu, e todos os justos da Terra. Quisera assinar com meu próprio sangue esta resolução e repeti-
la a todo momento, tantas vezes quantos instantes houver na eternidade. Recebei, meu DEUS,
minha vontade, dai-me vossa santa benção, com a graça eficaz de não cometer pecado mortal, em
todo o tempo de minha vida, muito especialmente neste dia. A Vós toda a glória, honra, amor,
louvor e adoração, no mais alto grau de perfeição. Amém.
Nas páginas seguintes, outras considerações sobre a Santa Missa, a Sagrada Comunhão,
uma Novena e Orações, todas com aprovação da Igreja Católica Apostólica Romana.
Verdadeira assistência à Santa Missa é aquela que nos torna vítimas imoladas como
JESUS, que consegue o escopo de “reproduzir em nós os sofrimentos de JESUS”, dando-nos
“uma união comum com CRSITO em seus sofrimentos e a conformidade com Ele e sua morte”
(Fl 3,10).
Tudo o mais é somente rito litúrgico, uma veste exterior. São Gregório Magno ensinava:
“O santo Sacrifício do altar será para nós uma Hóstia (vítima) verdadeiramente aceita por
DEUS, quando nós mesmos nos fizermos vítimas.”
Por isso, nas antigas comunidades cristãs os fiéis, para a celebração da Santa Missa, tendo
à frente o Papa, iam em procissão até o altar, vestidos com vestes de penitência e cantando a
Ladainha dos Santos.
Na verdade, quando vamos à Santa Missa, devemos ir, repetindo com São Tomé:
“Vamos, nós também, para morrermos com Ele!” (Jô 11, 16)
Quando Santa Margarida Maria Alacoque assistia à Santa Missa, e ficava olhando o altar,
não deixava nunca de lançar um olhar para o crucifixo e para as velas acessas. Para quê?
Para que se imprimissem bem duas coisas na mente e no coração: o crucifixo fazia-lhe
lembrar o que JESUS tinha feito por ela; e as velas acesas lhe recordavam o que ela devia fazer
por JESUS, isto é, sacrificar-se e imolar-se por Ele e pelas almas.
Nunca refletimos bastante sobre o mistério inefável da Santa Missa que renova sobre os
nossos altares o Sacrifício do Calvário. Nunca amaremos demais esta suprema maravilha do
Amor divino.
O SANGUE DE CRISTO CORRE NA SANTA MISSA
Nosso Senhor JESUS disse a Santa Matilde: “Pelo meu Sangue, venço a cólera de meu
PAI e reconcilio o homem com o seu DEUS.” Isso se realiza principal e especialmente no
Sacrifício da Santa Missa. O Seu Sacrifício na Cruz torna-se presente pela Santa Missa. Por isso,
o preciosíssimo Sangue de CRISTO corre na Santa Missa como se saísse das Chagas de JESUS
na Cruz.
Se o ateísmo, o esquecimento e desprezo a DEUS são cruéis ultrajes que pesam sobre o
nosso século e provocam a ira divina, podemos reparar este horrível sacrilégio pela fonte de
Sangue redentor que encerra o cálice da Nova e Eterna Aliança.
Podemos também oferecer todos os dias, logo pela manhã, a DEUS PAI, todas as Santas
Missas bem celebradas em todo o Mundo, nesse dia, e unir-nos aos sacerdotes celebrantes, para
que o Sangue redentor de JESUS desça abundantemente sobre as nossas almas e as almas dos
pecadores e aflitos, como um banho salvador, justificador e santificador.
São as seguintes as palavras de JESUS a Maria Graf-Sutter: “Aqueles que se unem, sem
cessar, ao meu Sacrifício na Cruz e oferecem a DEUS PAI, o meu Preciosíssimo Sangue pela
salvação das almas, podem, de certo modo, explorar o meu Coração, porque têm poder sobre
Ele. Eu purificarei as suas almas, lavando-as no meu Sangue.”
“Se uma alma oferece ao meu PAI Celeste o Santo Sacrifício, com o sacerdote e através
dele, com verdadeiro espírito de imolação, ela participa de todas as graças deste Sacrifício.”
“Se assiste a uma Santa Missa, mas tendo no seu coração o desejo de oferecer muitas
vezes a DEUS o Santo Sacrifício e, com esta pura intenção, se une a todos os sacerdotes da
Santa Igreja, para oferecer com eles os meus sofrimentos, e a minha Morte, com esta perpétua
oferta ela obterá perpetuamente graças. Com a minha Graça, esta alma unir-se-á a todas as
Santas Missas celebradas no Mundo inteiro, e a sua vida tornar-se-á uma perpétua união de
sacrifício coMigo e em Mim.”
(11 de Março de 1957).
Somente no Céu iremos compreender que divina maravilha é a Santa Missa. Por mais que
nos esforcemos, e, por santos inspirados que sejamos, nada mais podemos fazer, a não ser
balbuciar pobres palavras como as crianças, se quisermos falar sobre esta obra divina, que está
acima da compreensão dos homens e dos Anjos.
Segundo São Lourenço Justiniano, “Nenhuma língua humana, pode contar os favores,
que nascem, como de uma fonte, do Sacrifício da Santa Missa: o pecador que se reconcilia com
DEUS, o justo que se torna mais justo, as culpas que são canceladas, os vícios que são
erradicados, as virtudes e os méritos que crescem, as insídias de satanás que são confundidas.”
Os efeitos salutares, pois que cada Santa Missa produz na alma de quem dela participa,
são admiráveis: obtém o arrependimento e o perdão das culpas, diminui a pena temporal devida
por causa dos pecados, desarma o império de satanás e abranda os furores da concupiscência.
A Santa Missa também reforma os vínculos de nossa incorporação com JESUS CRISTO,
preserva de perigos e desgraças, abrevia a duração do Purgatório e aumente o grau de glória no
Céu.
Santa Teresa de Jesus dizia às suas filhas: “Sem a Santa Missa, que seria de nós? Tudo
pereceria neste Mundo, pois somente ela pode deter o braço de DEUS.”
Sem a Santa Missa, certamente a Igreja não teria durado até agora, e o Mundo já se teria
perdido sem remédio. “Sem a Santa Missa, a Terra já teria sido aniquilada, há muito tempo, por
causa dos pecados dos homens.”, ensinava Santo Afonso de Ligório.
Segundo São Boaventura, “A Santa Missa é a obra na qual DEUS coloca sob nossos
olhos todo o amor que Ele nos tem; é, de certo modo, a síntese de todos os benefícios que Ele
nos faz.”
São João Bosco recomendava vivamente: “Tende o máximo cuidado em assistir à Santa
Missa, mesmo nos dias de semana, ainda que para isso tenhais que sofrer algum incômodo. Pois
com isso obtereis do SENHOR toda espécie de bênçãos.”
“São João Berchmans, quando ainda jovem, saia bem cedo de casa para ir à igreja. Um dia
a avó lhe perguntou porquê é que saia tão cedo. O santo respondeu-lhe: Para atrair as bênçãos
de DEUS, eu consigo ajudar a celebrar três Santas Missas, antes de ir para a escola.”
“Fica sabendo, ó cristão, que a Santa Missa é o ato mais santo da Religião cristã; tu não
poderias fazer mais nada de gloriosos em honra de DEUS, e nada mais vantajoso para a tua alma
do que assistir piedosamente à Santa Missa, quanto mais vezes te for possível.”
Por tudo isso devemos julgar -nos felizes toda vez que se nos oferece a possibilidade de
assistir à Santa Missa, e façamos todos os Sacrifício possíveis a fim de assistir a todas que
pudermos, principalmente nos domingos e dias de festas, nos quais a obrigação de assistência à
Santa Missa é preciso e, portanto, quem deixa de assistir comete pecado mortal.
Santo Agostinho dizia aos cristãos do seu tempo: “Todo os passos que alguém dá para ir
assistir à Santa Missa são contados por um Anjo e por eles DEUS lhe concederá um prêmio
muito grande nesta vida e na eternidade.” Segundo o Santo Cura d´Ars O Anjo da Guarda fica
feliz quando acompanha uma alma que vai assistir à Santa Missa.
Se é verdade que todos nós temos necessidade das graças de DEUS para esta vida e para a
outra, nada no-las pode melhor obter de DEUS como à Santa Missa. Segundo São Felipe Néri
“Com a oração pedimos mais graças a DEUS; mas na Santa Missa obrigamos a DEUS a no-las
conceder.”
O Santo Cura d´Ars dizia: “Todas as obras tomadas juntas, não têm o valor de uma única
Santa Missa, porque são obras dos homens, enquanto que a Santa Missa é obra de DEUS.”
São Francisco de Paula ia cada manhã para a igreja e se ocupava lá dentro em assistir a
todas as Missas que eram celebradas. São Luís Gonzaga, S. Afonso Rodrigues, São Geraldo
Magela cada manhã ajudavam tantas Missas quantas podiam, e o faziam de um modo tão cheio
de devoção, que atraíam muitos fiéis à igreja.
São Francisco de Assis tinha por costume assistir a duas Missas cada dia; e, quando estava
doente, pedia a algum dos co-irmãos sacerdotes que lhe celebrasse a Santa Missa na cela,
contando que não ficasse sem o Santo Sacrifício!
São Tomás de Aquino, cada manhã, depois de ter celebrado sua Santa Missa, ajudava a
uma outra Missa, em ação de graças pela que celebrava antes. Também ele escreveu: “Tanto vale
a celebração da Santa Missa quanto vale a Morte de JESUS na Cruz.”
São José Cottolengo garante que terá uma santa morte aquele que assiste muitas vezes à
Santa Missa. Também São João Bosco considera um sinal de predestinação a participação de
muitas Santas Missas.
JESUS disse a Santa Gertrudes: “Fica certa de que quem assiste devotamente à Santa
Missa, eu lhe mandarei, nos últimos instantes de sua vida tantos dos meus Santos para confortá-
lo e protege-lo, quantas tiverem sido as Missas por ele assistidas.”
O venerável Francisco do Menino Jesus, carmelita, ajudava, cada dia, a dez Missas.
Se conhecêssemos o dom de DEUS, que é Amor, e que dando-se a nós, nos dá todo o
Amor, compreenderíamos, então, que segundo São Bernardo: “A Eucaristia é o amor que supera
todos os outros amores no Céu e na Terra.”
Então o oficial respondeu: “È porque vós tendes só uma idéia da imensa grandeza de
DEUS, mas não conheceis o Seu Amor.”
A SAGRADA COMUNHÃO
É o que se segue das palavras de JESUS: “Se não comerdes a carne do Filho do Homem e
não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós.” A sagrada Comunhão, por conseguinte, é o
alimento da alma. Assim como o corpo morre sem alimentação, assim também a alma.
A sagrada Comunhão une-nos a CRISTO; pois JESUS diz: “Aquele que comer a minha
carne e beber o meu Sangue permanece em Mim e Eu nele.”
A sagrada Comunhão também apaga os pecados veniais, de sorte que, se tiver cometido
um pecado venial, depois da Confissão, não é preciso reconciliar-se novamente antes de
comungar.
Quando um soberano ou político proeminente vai a uma cidade, logo ali se apressam em
limpá- la e ornamentá-la; assim também devemos fazer quando o Reio do Céu e da Terra vem até
nós; cumpre que purifiquemos o nosso coração pelo sacramento da penitência e o ornamento com
boas obras.
Em lavando os pés dos apóstolos, JESUS deu-nos a entender que devemos receber a
sagrada Comunhão com o coração puro.
Somente um coração purificado por CRISTO, por meio da confissão, pode ser a morada
digna de DEUS. Aquele que comunga sabendo que está em pecado mortal, como Judas, comete o
crime do sacrilégio.
Santo Agostinho nos adverte: “Ninguém se atreva a comer a carne de JESUS CRISTO
antes de havê-La adorado!” Por isso é bom assistir à Santa Missa antes de comungar, fazer os
atos de fé, esperança, caridade e contrição. O melhor seria receber ajoelhados, em sinal de
adoração, a sagrada Comunhão.
JESUS CRISTO não pôde contentar o seu amor apenas dando-se todo ao gênero humano
pela encarnação e paixão, morrendo por todos os homens. Quis ainda encontrar o meio de dar-se
todo a cada um. Instituiu, por isso, o sacramento do altar a fim de unir-se todo a cada um de nós.
“Quem come a minha carne permanece m Mim e Eu nele.”
Na sagrada Comunhão, JESUS une-se à pessoa e a pessoa a JESUS. Esta união não é
apenas de simples afeto, mas real e verdadeira. Por isso São Francisco de Sales diz: “Em
nenhuma outra ação se pode considerar o Salvador mais carinhoso, mais amoroso do que nesta.
Aniquila-se, por assim dizer, e se reduz a alimento para penetrar nossas almas e se unir ao
coração de seus fiéis.”
Diz São João Crisóstomo: JESUS CRISTO quer de tal modo unir-se conosco, pelo amor
ardente que nos tem, que nos tornemos um só coração com Ele.
São Lourenço Justiniano diz: Ó DEUS, que tanto nos amais, com este sacramento
quisestes fazer com que nosso coração se tornasse um só com o vosso, inseparavelmente unidos.
Acrescenta São Bernardino de Sena: O dar-se JESUS CRISTO a nós como alimento foi o
último grau de amor. Deu-se a nós para unir-se totalmente conosco como se une o alimento
diário com quem o toma. Oh! Quanto JESUS CRISTO se alegra em estar unido conosco.
DISPOSIÇÕES E EFEITOS
Primeiramente, como ensina o Concílio de Trento, a comunhão é o remédio que nos livra
dos pecados veniais, e nos preserva dos mortais: “Remédio pelo qual somos livres das falhas
cotidianas e preservados dos pecados mortais.”
Diz-se que somos livres das falhas de cada dia porque, segundo São Tomás, por meio
deste sacramento, o homem é estimulado a fazer atos de amor e por eles se apagam os pecados
veniais. Somos preservados dos pecados mortais, porque a sagrada comunhão confere o aumento
da graça que nos preserva das culpas graves.
Por isso escreveu Inocêncio III: “JESUS CRISTO com sua Paixão nos livrou do poder do
pecado, mas com a Eucaristia nos livra do poder de pecar.”
Além disso este sacramento inflama de modo especial as pessoas no amor de DEUS:
“DEUS é amor. É fogo que consome todos os afetos terrenos em nossos corações: É fogo
devorador.” JESUS CRISTO veio precisamente acender este fogo de amor na Terra. Não tinha
outro desejo senão ver aceso este santo fogo em cada um de nós.
Santa Catarina de Sena imaginava JESUS Sacramentado nas mãos do sacerdote como se
fosse um globo de fogo e a Santa admirava-se de não ficarem abrasados e consumidos todos os
corações dos homens. Santa Rosa de Lima, depois da comunhão, impressionava a todos que dela
se aproximavam por sua grande piedade e recolhimento.
Para as almas do Purgatório, a Santa Comunhão é o dom pessoal que elas podem receber
de nós. Quem pode dizer quanto ajudam para a sua libertação as Santas Comunhões?
São Boaventura se fez Apóstolo desta verdade, e dela falava em termos vibrantes: “Ó
almas cristãs, quereis dar provas de verdadeiro amor aos vossos defuntos? Quereis enviar-lhes os
mais preciosos socorros e as chaves de ouro do Céu? Fazei freqüentemente a Santa Comunhão
pelo descanso de suas almas.”
Reflitamos, também, que na Santa Comunhão, não nos unimos somente a JESUS
CRISTO, mas também a todos os membros do Seu Corpo Místico, especialmente às almas mais
caras a JESUS e mais caras ao seu Coração. “Visto que não temos mais do que um só pão, nós,
mesmo sendo muitos, formamos um só corpo: todos, com efeito, participamos do mesmo pão.”
(I Cor 10, 17)
Sempre que, com o coração puro comungamos, realiza-se plenamente aquela palavra de
JESUS: “Eu neles...a fim de que sejam perfeitos na Unidade.”
(Jo 17, 23)
Com a Eucaristia, sim, não só tudo podemos, mas até obtemos o que deveria encher-nos
de espanto e comover-nos, a saber, a nossa identificação com JESUS, como nos diz Santo
Agostinho:
“Não somos quem transformamos JESUS CRISTO em nós, como fazemos com os
outros alimentos que comemos, mas é JESUS CRISTO que nos transforma Nele.”
Portanto devemos estar certos de que uma pessoa não pode fazer nem pensar fazer coisa
mais agradável a JESUS CRISTO, do que assistir à Santa Missa e comungar com as disposições
convenientes a tão grande hóspede. Assim se une a CRISTO, pois esta é a intenção deste
adorável Senhor.
Prestem atenção no que eu disse: com as disposições convenientes; não disse “dignas”
porque se estas fosses exigidas, quem poderia comungar? Só um outro DEUS seria digno de
receber um DEUS.
Entendo como “convenientes” aquelas disposições que convêm a uma miserável criatura
vestida de pecadora carne de Adão.
Basta, ordinariamente falando, comungar em estado de graça e com vivo desejo de crescer
no amor a JESUS CRISTO.
Dizia São Francisco de Sales: “Só por amor se deve receber JESUS CRISTO na
comunhão já que só por amor ele se dá a nós.”
Entendamos, pois, que não existe coisa tão proveitosa a nós como a comunhão. O PAI
Eterno pôs nas mãos de JESUS CRISTO todas as suas riquezas divinas: “O PAI tudo lhe colocou
nas mãos”. Por isso, quando CRISTO vem até a uma pessoa pela comunhão, traz consigo
imensos tesouros de graças. Uma pessoa que recebeu bem a comunhão, pode dizer: “Com ela me
vieram todos os bens”. São Dionízio diz que o sacramento da Eucaristia tem poder de santificar
as pessoas mais do que todos os outros meios espirituais.
São Vicente Ferrer escreveu que maior proveito se tira da comunhão, do que de uma
semana de jejum a pão e água.
São Cristóvão dizia: “Vós invejais a sorte da mulher que tocou nas vestes de JESUS, ou
da pecadora que banhou os pés dEle com suas lágrimas, ou das mulheres da Galiléia que tiveram
a felicidade de acompanhá-lo em suas peregrinações, ou dos Apóstolos com os quais ele
conversava familiarmente; da população daquele tempo que podia ouvir as palavras de graças e
salvação, que saiam dos seus lábios adoráveis. Vós chamais felizes aqueles que O viram... Mas,
vinde ao altar, e O vereis, e tocareis nEle, e Lhe darei beijos santos, e O banhareis com as vossas
lágrimas, e O levareis dentro de vós, como Maria Santíssima!”
Por isso os Santos desejavam ardentemente a Santa Comunhão com um amor que os
inflamava. São Pascoal Baylon, Santa Verônica, São Geraldo Majela, Santa Margarida Maria
Alacoque, São Domingos Sávio, Santa Gema Galgani...; impossível continuar, pois seria preciso
colocar o nome de todos eles!
Conta-se que São Venceslau, ao visitar as igrejas onde estava o Santíssimo Sacramento,
transformava-se exteriormente a ponto de chamar a atenção de quem o seguia. Por isso, diz São
João Crisóstomo; O Santíssimo Sacramento é fogo que nos inflama de modo que, comungando
sacramentalmente, espargimos tais chamas de amor que tornam terríveis ao inferno.
Quando um adorador de DEUS, comunga JESUS, toda a Igreja exulta, a dos Céus, a do
Purgatório e a da Terra.
Quem poderá exprimir a alegria dos Anjos e dos Santos a cada Comunhão bem feita?
Uma nova corrente de amor chega ao Paraíso e faz vibrar os espíritos bem-aventurados, cada vez
que uma criatura se une a JESUS. Vale muito mais uma santa Comunhão do que um êxtase, um
arrebatamento, uma visão.
ATO DE CONTRIÇÃO
(Para se rezar na Confissão)
“DEUS PAI, eu Vos ofereço, pelo Coração Imaculado de Maria, o sacrifício da Santa
Missa, com o sacerdote e através dele, com verdadeiro espírito de imolação.
Ofereço-vos constantemente o Sacrifício de todas as Santas Missas que se celebram no
Mundo inteiro, e com pura intenção me uno ao Santo Papa e a todos os sacerdotes, oferecendo-
Vos os méritos dos sofrimentos da Paixão e Morte de vosso Unigênito Filho.
Com a graça de Nosso Senhor JESUS CRISTO, torno-me uma constante união de
Sacrifício n´Ele e com Ele, para Vos adorar no mais alto grau de perfeição. Amém.”
Sendo que a Comunhão constitui a ação mais excelente, mais proveitosa e divina, temos
que nos convencer da necessidade de prepararmos o nosso espírito e coração com o máximo
cuidado.
Tomemos Maria por guia e modelo e supliquemos-lhe que ela mesma orne a nossa alma
com as devidas disposições.
ATO DE FÉ
“Senhor JESUS CRISTO , eu creio firmemente que estais real e verdadeiramente presente
no Santíssimo Sacramento, com vosso Corpo, Sangue, alma e Divindade. Creio que sois o pão
vivo descido do Céu. Sim, JESUS, creio em Vós. Amém.”
ATO DE ADORAÇÃO
“SENHOR, eu Vos adoro neste augusto sacramento e Vos reconheço por meu Criador,
Redentor e Soberano.
Senhor, meu único e sumo bem.
Eu Vos adoro com minha inteligência, meus afetos e todas as faculdades de minha alma.
Sim, JESUS, eu Vos adoro. Amém.”
ATO DE ESPERANÇA
“Senhor, espero que, dando-Vos a mim neste divino sacramento, usareis comigo de
misericórdia e me concedereis todas as graças, que são necessárias à minha eterna salvação.
JESUS, em vossas promessas confio. Sim, JESUS, eu espero em Vós. Amém.”
ATO DE HUMILDADE
“Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha casa, mas dizei uma só palavra e
minha lama será salva. JESUS, eu me humilho diante de vós. Amém.”
ATO DE CARIDADE
“Senhor, Vós sois infinitamente amável, sois meu PAI, meu Redentor, meu DEUS; e por
isso Vos adoro de todo o coração, sobre todas as coisas, e por amor de vós amo a meu próximo
como a mim mesmo, e de boa vontade perdôo aos que me têm ofendido. Sim, JESUS, eu Vos
adoro de todo o meu coração. Amém.”
ATO DE CONTRIÇÃO
“Senhor, detesto todos os meus pecados, porque me tornam indigno de receber-vos em
meu coração, e proponho, com vossa graça, nunca mais os cometer, evitar as ocasiões de pecar e
fazer penitência.
Imploro pois a abundância de Vossa imensa liberalidade Para que Vos digneis curar minha
fraqueza,
Lavar minhas manchas, iluminar minha cegueira, Enriquecer minha pobreza, e vestir minha
nudez.
Dai-me receber não só o Sacramento do Corpo e do Sangue do Senhor, mas também seu efeito e
sua força. Ó DEUS de mansidão,
Dai-me acolher com tais disposições o Corpo que Vosso Filho Único, Nosso Senhor JESUS
CRISTO, Recebeu da Virgem Maria,
Que eu seja incorporado ao seu Corpo místico Contado entre seus membros. Ó PAI cheio de
amor,
Fazei que, recebendo agora o Vosso Filho sob o véu do
Sacramento, possa na eternidade contemplá-lo Face a face.
Ele que convosco vive e reina,
Na unidade do ESPÍRITO SANTO. Amém.”
(São Tomás de Aquino)
MEU DEUS! SE ME QUERES BEM
SENHOR! Tu que vestes os lírios dos vales Com mais magnificência que vestiu Salomão
Vem e veste minha alma
Com esses mil detalhes
Que tanto Te enamora
Não tardes SENHOR!
“Virgem Maria, Santíssima Mãe de Nosso Senhor JESUS CRISTO, saúdo- vos com
devoção e reverência. Proclama-vos Senhor do meu destino e Rainha do meu coração.
Venha hospedar-se em minha casa como hospedastes na casa de São João. Ficai sempre
em meu coração, como estais no Coração de JESUS, vosso adorável divino Filho.
Recebei a JESUS CRISTO por mim, pois minha alma suspira pelo seu Sacratíssimo
Corpo, meu coração deseja ardentemente estar unido a Ele. Quero sempre recebê-Lo com amor e
adoração, para alcançar a salvação e a santificação. Vosso Divino Filho é a suave e santa refeição
da minha alma. Amém.”
AÇÃO DE GRAÇAS
PARA DEPOIS DA COMUNHÃO
ATO DE FÉ
“Senhor, JESUS CRISTO, creio que estais verdadeiramente dentro do meu coração com
vosso Corpo, Sangue, Alma e Divindade, e o creio mais firmemente do que se o visse com os
próprios olhos.
ATO DE ADORAÇÃO
“Ó meu JESUS, eu Vos adoro presente dentro de meu coração, e uno-me a Maria
Santíssima, aos Anjos e aos Santos, para Vos adorar como mereceis. Eu vos adoro, ó JESUS, em
meu coração. Amém.”
ATO DE AGRADECIMENTO
“Ó JESUS, Senhor meu, eu Vos agradeço de todo o coração, por terdes querido vir habitar
em minha alma. Virgem Santíssima, Anjo de minha guarda, e vós todos, Anjos e Santos do Céu,
agradecei a JESUS por mim.”
ATO DE CARIDADE
Ó JESUS, meu DEUS, e meu Senhor, eu Vos amo de todo o coração e desejo amar-Vos
quanto mereceis; fazei que Vos ame sobre todas as coisas, agora e por toda a eternidade.
JESUS, quero amar-Vos sempre mais. Amém.
ATO DE OFERECIMENTO
Ó meu JESUS, vós Vos destes todo a mim e eu me dou todo a Vós; ofereço-Vos toda a
minha via e quero ser vosso pro toda a eternidade.
ATO DE ESPERANÇA
Ó meu JESUS, agora que estais presente dentro de minha alma, espero que jamais Vos
separeis de mim, mas ficará sempre me comunicando vossa divina graça. Não sou eu quem vive,
mas Vós é que viveis em mim.
ATO DE PETIÇÃO
Ó meu JESUS, dai-me eu Vo-Lo peço, todas as graças espirituais e temporais, que
conheceis serem necessárias à minha alma; encomendo-Vos também as necessidades de meus
superiores, parentes, amigos, benfeitores e as das santas almas do Purgatório.
Seja para mim armadura da fé, escudo de boa vontade e libertação dos meus vícios.
Pacifique inteiramente todas as minhas paixões, unindo-me firmemente a Vós, DEUS uno e
verdadeiro, feliz consumação de meu destino.
E peço que Vos digneis conduzir-me, a mim pecador, a aquele inefável convívio em que Vós
com o Vosso FILHO e o ESPÍRITO SANTO, Sois para os Vossos Santos a luz verdadeira, a
plena saciedade e a eterna alegria,
a ventura completa e a felicidade perfeita.
Por CRISTO, Nosso Senhor. Amém.
De joelhos me prostro em Vossa divina presença e Vos suplico com todo o fervor de
minha alam que Vos digneis gravar no meu coração, os mais vivos sentimentos de fé, esperança e
caridade, verdadeiro arrependimento de meus pecados e firme propósito de emenda, enquanto
vou considerando, com vivo afeto e dor, as Vossas cinco chagas, tendo diante dos olhos aquilo
que o profeta Davi dizia de Vós, ó boníssimo JESUS: Transpassaram minhas mãos e meus pés e
contaram todos os meus ossos. Amém.
(Sl. 21,17)
NOVENA AO
SANTÍSSIMO SACRAMENTO
Nas práticas de devoção, freqüentemente as almas esquecem que JESUS CRISTO, Nosso
DEUS e Mediador, está presente no Santíssimo Sacramento para receber a expressão dos nossos
desejos e necessidades, com as mãos repletas de graças.
Julgamos, por isso, prestar serviço às almas piedosas aconselhando-as a que adotem para
si e recomendem a outras a prática da NOVENA AO SANTÍSSIMO SACRAMENTO,
lembrando que JESUS, neste Mistério de Amor, é a primeira fonte transbordante de graças e
benefícios.
“Pela Eucaristia fareis milagres, e curareis as almas. Oh! Quão grande é o seu poder
para emocionar, converter, reconduzir e regenerar as almas mais desgarradas, mais afastadas
de DEUS!...”
Tendes Nosso Senhor para curar também os corpos: Ele é o bálsamo divino que cicatriza
toda chaga. Não é verdade que da santa humanidade de JESUS, se desprendia uma virtude
curativa de toda doença, de todo mal físico? Bastava tocá-lo para ficar curado. Ele não diminui de
poder, o seu contacto continua a produzir o mesmo efeito, e sempre salutar.
Prostrado diante de vós, eu vos adoro, ó DEUS oculto, realmente presente sob os véus
deste Sacramento. Contemplando-Vos o meu coração desfalece, aniquila-se, a vós se submete e
inteiramente se abandona.
A vista, o tato, o paladar aqui se enganam e atônitos repelem esse mistério; apenas o
ouvido confirma minha fé.
Creio em tudo quanto disse JESUS, o Filho de DEUS: nada é mais verdadeiro do que a
palavra da própria Verdade.
Na Cruz só a divindade estava oculta, aqui também a humanidade está velada; mas crendo
numa e noutra, e ambas confessando, peço-vos ó JESUS o que vos pedia o bom ladrão.
Não posso ver as vossas sagradas chagas como São Tomé; entretanto, com absoluta
certeza vos reconheço por meu DEUS.
Fazei, Senhor, que sempre mais aumente a minha fé, que em vós espere, e vos adore sobre
tudo o que existe.
Pão vivo que alimentais o homem, concedei-me que minha alma só de vós viva, e em vós
encontre sempre delicioso sabor.
Pelicano cheio de ternura, ó Senhor JESUS purificai-me de todas as minhas máculas por
meio do vosso Sangue preciosíssimo, de que apenas uma gota basta para tirar todos os pecados
do Mundo.
Ó JESUS! Que só através de um véu agora contemplo, satisfazei o desejo ardente de
minha alma: os meus olhos, atravessando as nuvens que vos escondem, gozem a visão de vossa
glória. Amém.
Reza-se aqui a ORAÇÃO ESPECIAL PARA CADA DIA, e depois se continua com as
orações que agora se seguem:
ORAÇÃO
3 Ave Marias...
Obtende-nos, enfim, ó São Pedro Julião, a vossa devoção filial a Nossa Senhora do
Santíssimo Sacramento, para aprendermos desta divina Mãe a servir e adorar a JESUS sob os
véus eucarísticos a fim de podermos adorá-Lo e glorificá-Lo face a Face no Céu. Amém.
PRIMEIRO DIA
Pela virtude do vosso Poder e da vossa Divindade, dignai-vos, vo-Lo conjuro, atender às
minhas humildes súplicas, afastar de minha alma e do meu corpo os perigos a que estão expostos,
e conceder-me a graça de que tenho premente necessidade.
Com inabalável confiança vo-Lo peço, e, retribuição dos vossos benefícios, ofereço-me
sem reserva para vos amar, servir, glorificar e adorar no Santíssimo Sacramento. Amém.
SEGUNDO DIA
Adoro em Vós, divino JESUS vivo e presente a Eucaristia, o amor de DEUS ao homem,
levado ao extremo e aos últimos excessos, o próprio DEUS amando-nos a ponto de aniquilar-se
por nós, e consumir-se a nosso serviço e proveito.
Pela virtude dessa incomensurável caridade, dignai-vos atender, vo-Lo conjuro, às minhas
humildes súplicas, afastar de minha alma e de meu corpo os perigos a que estão expostos, e
conceder-me a graça de que tenho premente necessidade.
Com inabalável confiança vo-Lo peço, e, em retribuição dos vossos benefícios, ofereço-
me sem reserva para vos amar, servir, glorificar e adorar no adorável Sacramento da Eucaristia.
Amém.
TERCEIRO DIA
Adoro em Vós, divino JESUS vivo e presente a Eucaristia, o dom de DEUS por
excelência, no qual Ele, com tudo quanto possui, a nós se entrega sem limites, sem reservas, sem
fim.
Pela riqueza infinita deste dom sagrado, dignai-vos, vo-Lo conjuro, atender às minhas
humildes súplicas, afastar de minha alma e de meu corpo os perigos a que estão expostos, e
conceder-me a graça de que tenho premente necessidade.
Com inabalável confiança vo-Lo peço e, em retribuição doso vossos benefícios, ofereço-
me sem reserva para vos amar, servir e glorificar no adorável Sacramento da Eucaristia. Amém.
QUARTO DIA
Adoro em Vós, divino JESUS vivo e presente a Eucaristia, Homem verdadeiro, que por
amor aos homens baixastes à Terra, em tudo semelhante a nós: alma para nos compreender,
coração para nos amar e vontade sempre benévola para nos socorrer.
Pela virtude da vossa santa Humanidade e do vosso amor fraternal, dignai-vos, vo-Lo
conjuro, atender às minhas humildes súplicas, afastar de minha alma e de meu corpo os perigos a
que estão expostos, e conceder-me a graça de que tenho premente necessidade.
Com inabalável confiança vo-Lo peço e, em retribuição doso vossos benefícios, ofereço-
me sem reserva para vos amar, servir e glorificar no adorável Sacramento da Eucaristia. Amém.
QUINTO DIA
Adoro em Vós, divino JESUS vivo e presente a Eucaristia, Redentor de nossas almas; por
vós foram elas limpas do pecado, arrebatadas do inferno, reintegradas na herança celestial, e sem
cessar continuais a salvá-las das próprias misérias e dos seus cruéis inimigos.
Pela virtude dessa abundante Redenção, dignai-vos, vo-Lo conjuro, atender às minhas
humildes súplicas, afastar de minha alma e de meu corpo os perigos a que estão expostos, e
conceder-me a graça de que tenho premente necessidade.
Com inabalável confiança vo-Lo peço e, em retribuição doso vossos benefícios, ofereço-
me sem reserva para vos amar, servir e glorificar no adorável Sacramento da Eucaristia. Amém.
SEXTO DIA
Adoro em Vós, divino JESUS vivo e presente a Eucaristia, Vítima adorável que foi
imolada pelos pecados do Mundo e, em particular dos meus. Vosso perpétuo Sacrifício aplaca a
cólera de DEUS PAI, detém a Sua vingança, e nos torna merecedores do Seu amor e dos seus
favores.
Pela virtude dessa inefável imolação, dignai -vos, vo-Lo conjuro, atender às minhas
humildes súplicas, afastar de minha alma e de meu corpo os perigos a que estão expostos, e
conceder-me a graça de que tenho premente necessidade.
Com inabalável confiança vo-Lo peço e, em retribuição doso vossos benefícios, ofereço-
me sem reserva para vos amar, servir e glorificar no adorável Sacramento da Eucaristia. Amém.
SÉTIMO DIA
Adoro em Vós, divino JESUS vivo e presente a Eucaristia, Alimento das nossas almas,
Pão vivo que descido do Céu, conserva e aumenta o amor divino, fortifica e conforta nas fadigas
diárias, e faz fruir incomparáveis delícias.
Pela virtude desse maná celestial, dignai -vos, vo-Lo conjuro, atender às minhas humildes
súplicas, afastar de minha alma e de meu corpo os perigos a que estão expostos, e conceder-me a
graça de que tenho premente necessidade.
Com inabalável confiança vo-Lo peço e, em retribuição dos vossos benefícios, ofereço-
me sem reserva para vos amar, servir e glorificar no adorável Sacramento da Eucaristia. Amém.
OITAVO DIA
Adoro em Vós, divino JESUS vivo e presente a Eucaristia, Mestre e Mediador da oração.
Pelas vossas lições e o vosso exemplo nos ensinais a orar; tornais eficientes as nossas preces,
apoiando-as com os vossos merecimentos, e nos dais plena certeza de que serão sempre ouvidas.
Pela virtude dessa infalível promessa dignai -vos, vo-Lo conjuro, atender às minhas
humildes súplicas, afastar de minha alma e de meu corpo os perigos a que estão expostos, e
conceder-me a graça de que tenho premente necessidade.
Com inabalável confiança vo-Lo peço e, em retribuição doso vossos benefícios, ofereço-
me sem reserva para vos amar, servir e glorificar no adorável Sacramento da Eucaristia. Amém.
NONO DIA
Adoro em Vós, divino JESUS vivo e presente a Eucaristia, Tesouro inesgotável dos dons
celestes; fonte universal, de onde o bem, a luz, as virtudes, a felicidade, a benção, a perfeição e
tudo que há de mais puro, belo e santo dimanam e difundem-se na Igreja e nas almas.
Pela virtude dessa admirável plenitude, dignai-vos, vo-Lo conjuro, atender às minhas
humildes súplicas, afastar de minha alma e de meu corpo os perigos a que estão expostos, e
conceder-me a graça de que tenho premente necessidade.
Com inabalável confiança vo-Lo peço e, em retribuição doso vossos benefícios, ofereço-
me sem reserva para vos amar, servir e glorificar no adorável Sacramento da Eucaristia. Amém.
Senhor JESUS, que dissestes: Pedi e recebereis, buscai e encontrareis, batei e vos será
aberto. Confiando plenamente nesta vossa promessa, procurei com perseverança, e implorei com
insistência o socorro da vossa graça, durante toda a Novena que acabo de fazer.
Se for conforme a vossa Divina Vontade, tornai eficazes as minhas súplicas, fazei com
que sejam atendidas.
Mais uma vez, ó meu DEUS, nesta hora em que estais unido à minha alma, presente em
mim, prestai ouvidos às minhas ardentes súplicas!
Hóstia Santa! Creio em vós, mas aumentai a minha fé!
Com inteira confiança, com absoluta certeza e em perfeita união com a vossa santíssima
vontade, espero, a partir de hoje, a hora da vossa misericórdia.
Sede, ó Divina eucaristia, a minha força e o meu refúgio, a minha paciência e a minha
consolação, a minha alegria e o meu amor, em todos os instantes desta vida, e guiai-me para a
vida eterna. Amém.
A NOSSA SENHORA
DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO
Ó Virgem Imaculada, Mãe do Salvador do Mundo, cuja carne e sangue tomados em vosso
castíssimo seio nos alimentam na Divina Eucaristia, nós vos saudamos sob o título de Nossa
Senhora do Santíssimo Sacramento, porque fostes a primeira a praticar os deveres da vida
eucarística, ensinando-nos com o vosso exemplo a assistir ao Santo Sacrifício da Missa, a
comungar, conforme as exigências da Santa Igreja e a visitar freqüentemente, e com devoção, o
augustíssimo Sacramento do Altar.
Ó Maria! Fazei que seguindo vossos passos, possamos cumprir sempre mais
perfeitamente nossos sagrados deveres e mereçamos assim a eterna recompensa. Amém.
SÚPLICAS
INVOCAÇÕES E SÚPLICAS
Para que se propague a vossa devoção sob o título de Nossa Senhora do Santíssimo
Sacramento.
Para que se difunda, cada vez mais, a prática da Comunhão freqüente e cotidiana e a da
adoração.
Ó imaculada Virgem Maria, Mesa sobre a qual foi apresentado ao Mundo o Pão do
Céu.
Ó Imaculada Virgem Maria, verdadeira Mulher forte que trouxestes o nosso Pão, o
Filho de DEUS descido do Céu ao Vosso seio.
Ó Imaculada Virgem Maria, Árvore da vida, que produziu o fruto da eterna salvação.
Ó Imaculada Virgem Maria, de cuja estirpe divina veio JESUS, nosso Emanuel e Viático dos
últimos momentos.
Ó Imaculada Virgem Maria, Paraíso de delícias, cujo fruto é mais doce do que o mel para os
nossos lábios.
Ó Imaculada Virgem Maria, Rainha dos Sacerdotes, que oferecestes no Templo, para nossa
salvação, a Hóstia Santa aceita pelo SENHOR.
ROGAI POR NÓS
É, por meio deles, que o recém-nascido se torna filho de DEUS, o pecador recupera a paz,
os fiéis têm o benefício dos Santos Sacramentos, os desamparados se refugiam junto do Sacrário
de onde recebem o divino Pão dos Anjos e o moribundo vê fechar-se-lhe a porta do inferno e
abrir-se-lhe a porta do Céu.
Sacerdotes de mãos puras e sem mancha, que levantem ao Céu o cálice e a Hóstia
Imaculada, interpondo-se poderosos pela paz dos povos e prosperidade das nações, sacerdotes
que devorados pela caridade, se rodeiem de almas inocentes, para guiá-las ao Céu; de mocidade,
conservando-a para DEUS, e se consumam pelo tesouro da Fé e da Religião.
Por amor do Coração Imaculado Coração de Maria, dai-nos santos sacerdotes, ó JESUS.
Sacerdotes que, famintos de Vosso amor, abandonem a Pátria, parentes e amigos pela
salvação do próximo; que perseguidos pelo Mundo, por Satanás pelas paixões, progridam sempre
na santidade, apregoando a Fé e a Vossa doutrina. Amém.