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A Patologia Da Normalidade

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262 Fabrício Maciel

ARTIGOS262

http://doi.org/10.1590/15174522-95752

A patologia da normalidade:
Erich Fromm e a crítica da cultura
capitalista contemporânea
Fabrício Maciel*

Resumo
Neste artigo, procuro problematizar a crítica de Erich Fromm à cultura do capitalismo
contemporâneo. Para tanto, faço uma releitura especialmente, mas não apenas, de
uma de suas principais obras maduras, o livro Psicanálise da sociedade contemporânea
(The sane society), no qual o autor sedimenta seu projeto analítico de uma “psicanálise
humanista”. Na primeira parte o artigo reconstrói, através da ideia de “patologia
da normalidade”, a crítica de Fromm aos fundamentos culturais do capitalismo
contemporâneo. Na segunda parte, a reconstrução é levada adiante através dos
conceitos de “caráter social” e “alienação”, de modo a compreender como o
capitalismo tardio do século XX aprofunda, como nunca antes, uma cultura anti-
humanista. Na conclusão, procuro argumentar como a obra de Fromm pode ser de
grande valia para a compreensão dos problemas tanto individuais quanto coletivos
da atualidade.
Palavras-chave: Erich Fromm. patologia da normalidade, caráter social, alienação,
capitalismo.

* Universidade Federal Fluminense, Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil.

Sociologias, Porto Alegre, ano 22, n. 55, set-dez 2020, p. 262-288.


A patologia da normalidade: Erich Fromm e a crítica da cultura capitalista contemporânea 263

The pathology of normalcy: Erich Fromm and the critique of


contemporary capitalist culture

Abstract 
In this article, I seek to problematize Erich Fromm’s critique of the culture of
contemporary capitalism. To this end, I especially review, but not only, one of his
main mature works, the book The Sane Society, in which the author establishes
his analytical project of a “humanistic psychoanalysis”. In the first part, the article
reconstructs, through the idea of a “pathology of normalcy”, Fromm’s critique
of the cultural foundations of contemporary capitalism. In the second part, this
reconstruction is carried forward through the concepts of “social character” and
“alienation”, to understand how the late capitalism of the 20h century deepens as
never before an anti-humanistic culture. In the conclusion, I argue that Fromm’s
work can be of great value in understanding both the individual and collective
problems of today.
Keywords: Erich Fromm, pathology of normalcy, social character, alienation, capitalism.

E
rich Fromm é, sem dúvida, um dos maiores pensadores da
modernidade. Sua vasta obra é de fundamental importância, tanto para
o desenvolvimento da psiquiatria e psicologia contemporâneas quanto
para a filosofia e as ciências sociais. Neste artigo, eu gostaria de explorar
alguns aspectos do seu pensamento, com o objetivo de demonstrar como
este é decisivo para a construção de uma crítica à cultura do capitalismo
contemporâneo. Para tanto, vou recorrer especialmente, mas não apenas, ao
seu livro Psicanálise da sociedade contemporânea (1970) (The sane Society,
1955), sem dúvida uma de suas principais obras. O livro é a parte final de
uma trilogia, que se inicia com O medo à liberdade (1974) (Escape from
freedom, 1941) e tem como sequência Análise do homem (1964) (Man
for himself, 1947). Neste seu projeto analítico, que encontra seu auge no
terceiro livro, Fromm leva a cabo a sua tentativa de compreender as razões
do mal-estar existencial predominante na modernidade, atentando para
suas consequências políticas negativas.

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A trilogia faz parte da obra madura de Fromm. Em O medo à liberdade


(1974), ele demonstra que os movimentos totalitários apelavam para o anseio
de fugir à liberdade conquistada na modernidade na qual o indivíduo, liberto
das amarras medievais, não estava em liberdade para construir uma vida
significativa baseada na razão e no amor, procurando, por isso, a segurança
na submissão a um líder, uma raça ou um Estado. Também em Análise do
homem (1964), Fromm procurou tratar de um mecanismo psicológico
específico, no quanto isso pareceu condizente com seu objetivo principal.
No primeiro livro da trilogia, ele enfrenta principalmente o problema do
caráter autoritário, como no caso do sadismo e do masoquismo. No segundo
livro, ele vai além e procura desenvolver a ideia de várias orientações de
caráter, substituindo o sistema freudiano do desenvolvimento da libido por
uma concepção da evolução do caráter em termos interpessoais (Fromm,
1964). Nesse livro, definido por ele mesmo como uma “psicologia da ética”,
o autor procurou discutir o problema da ética, das normas e dos valores
como condutores da realização e das potencialidades do eu.
Com isso, desde o primeiro livro da trilogia, no qual fez uma reconstrução
da ideia de liberdade desde a era da Reforma, passando pela tematização
de mecanismos de fuga como autoritarismo, destrutividade e conformismo
de autômatos, Fromm esteve preocupado, assim como outros teóricos da
primeira geração de Frankfurt, em compreender a “psicologia do nazismo”
(Fromm, 1974). Também Adorno se debruçou sobre o tema do fascismo e
a questão da autoridade, em ensaios emblemáticos como Antissemitismo
e propaganda fascista, Teoria freudiana e o padrão da propaganda fascista e
Observações sobre política e neurose (Adorno, 2015), além de seu clássico
Estudos sobre a personalidade autoritária, de 1950 (Adorno, 2019), no qual
procurou, a partir de pesquisa empírica, desenvolver um método para
medir os níveis de internalização de preconceitos (pensando a partir do
antissemitismo) e da ideologia totalitária, típicos da personalidade autoritária.
Horkheimer também apresenta contribuições importantes nessa direção,
como, por exemplo, em seu artigo Autoridade e família, no qual analisa a
família burguesa como cerne de reprodução dos padrões autoritários do

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capitalismo tardio (Horkheimer, 2015), com o que concorda totalmente


Fromm, como veremos adiante.
Para Fromm, em consonância com isso, seria preciso compreender a
ilusão da individualidade e os paradoxos da liberdade como impedimentos
culturais específicos para a construção de uma sociedade democrática.
Não por acaso, O medo à liberdade é escrito e publicado em 1941,
durante a segunda guerra mundial. Nele, Fromm ressalta que os eventos
políticos daquele momento e os riscos neles implícitos para as conquistas
máximas da cultura moderna, ou seja, a individualidade e a originalidade
da personalidade, fizeram-no concentrar-se no aspecto decisivo para a
compreensão da crise cultural e social dos seus dias, a saber, o significado
da liberdade para o indivíduo moderno (Fromm, 1974). A preocupação
central com o problema da liberdade também pode ser vista nas análises de
Marcuse, tanto em seu Eros e civilização, de 1955 (Marcuse, 1975), no qual
procura reconstruir o problema do domínio sob o princípio de realidade
freudiano, bem como posteriormente, em O homem unidimensional,
de 1964, no qual analisa o problema das novas formas de controle no
capitalismo tardio e, consequentemente, a construção de uma consciência
infeliz (Marcuse, 2015).
Outro ponto alto da obra madura de Fromm é seu livro A sobrevivência
da humanidade (1964) (May man prevail?, 1961). O livro é surge no ápice
da guerra fria e de suas consequentes preocupações, como seu título sugere.
Nele, o autor atualiza suas teses sobre o autoritarismo, a liberdade e a
democracia. Sua crítica agora é montada contra o perigoso senso comum
predominante nos Estados Unidos e no Ocidente como um todo, ou seja,
o de que o comunismo, representado pela União Soviética e a China, seria
um movimento revolucionário-imperialista empenhado na conquista do
mundo pela força ou pela subversão. Com isso, apenas um potencial de
contra-ataque e de retaliação suficientemente forte seria capaz de conter
tal ameaça e de assegurar a paz, o que dependeria de aliados militares em
todo o mundo (Fromm, 1964).

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Nada poderia ser mais falso e perigoso, segundo Fromm. Tal posição
era fortalecida pela convicção de que a política norte-americana não era
apenas a única esperança de sobrevivência material, mas também a única
recomendada pelas considerações morais e espirituais. Este senso comum
acreditava representar a liberdade e o idealismo, enquanto os russos e
seus aliados representariam a servidão e o materialismo. Considerava-se
até mesmo o risco da guerra e da destruição, pois seria melhor morrer
do que ser escravo (Fromm, 1964). Diante disso, nesse importante livro,
atualmente esquecido no Brasil, assim como boa parte da obra de Fromm,
o autor procura desconstruir estas falsas premissas, guiadas por suposições
fictícias e deformadas de um “espírito confuso” que impunha um grave
perigo a toda a humanidade (Fromm, 1964). Qualquer semelhança com
a realidade atual não é mera coincidência. Depois de levar a cabo seu
importante projeto, com forte teor político, de diagnóstico e prognóstico
das patologias da sociedade contemporânea, Fromm vai se dedicar cada
vez mais a escritos de natureza existencial, como seus livros The art of
loving, de 1956 (2008), e To have or to be?, de 1976 (2013), que se destaca
dentre seus últimos trabalhos.
Dentre seus comentadores e críticos, podemos ressaltar o trabalho
de Rainer Funk. Em artigo recente, ele analisa como a obra de Fromm,
especialmente com sua percepção relacional da ação e sua teoria sobre
o caráter social, permite uma aproximação produtiva entre a psicanálise
e a sociologia (Funk, 2019). Nessa direção, o artigo de Adorno Sobre a
relação entre sociologia e psicologia apresenta interessantes considerações,
especialmente a partir de sua crítica a Parsons e às dificuldades deste em
perceber a complexidade da relação entre personalidade e sociedade
(Adorno, 2015). No artigo Adorno e a psicanálise, Sérgio Paulo Rouanet
(2003) também tematiza aspectos interessantes dessa discussão.
Além destes, Thomas Kühn tem utilizado a psicanálise humanista
de Fromm para tematizar as patologias e contradições atuais do mundo
corporativo (Kühn, 2019). Daniel Burston, por sua vez, ressaltou a importância
da obra de Fromm para a história da psicanálise, inclusive por conta de seu

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debate com Marcuse acerca das questões do instinto e do inconsciente


(Burston, 1991). Ademais, Neil McLaughlin analisou as razões complexas que
levaram Fromm a se tornar influente no pensamento crítico norte-americano
entre as décadas de 1940 e 1960, bem como sua redução ao ostracismo
nos anos de 1970 e 1980, com a ascensão de Derrida, muito articulado
academicamente, na Europa e nos Estados Unidos (McLaughlin, 1998).
Recentemente, Hartmut Rosa afirmou que Fromm é o primeiro teórico
da “ressonância” no século XX, conceito este cunhado por Rosa para retomar,
nas sociedades atuais, o caminho contrário ao da alienação, preocupação
esta sofisticada em Fromm, de modo a encontrar um verdadeiro lugar de
conforto e liberdade do “ser no mundo” (Rosa, 2019). Além disso, outras
leituras recentes procuraram fazer aproximações à obra de Fromm. Maccoby
e McLaughlin (2019), por exemplo, fizeram um diálogo crítico entre Fromm
e Bourdieu, a partir das semelhanças e diferenças entre os conceitos de
caráter social e habitus, tendo como referência analítica um estudo de
caso realizado por Fromm sobre o caráter social em uma comunidade
mexicana. Ehnis e Voigt (2019), por sua vez, ressaltaram a atualidade
de Fromm para se pensar a ascensão atual de movimentos de direita,
compreendendo a ideia de alienação como baseada em sentimentos como
ansiedade, sensação de impotência e indiferença. Além desses, Chancer
(2019) destacou a importância da obra de Fromm para os estudos feministas,
considerando suas críticas ao amor simbiótico e ao sadomasoquismo, às
necessidades de reconhecimento mútuo e às objeções aos pressupostos
patriarcais na obra de Freud. Por fim, Uozumi (2019) percebeu a influência
da tradição de análise do individualismo americano na obra de Fromm,
especialmente em O medo à liberdade, tradição aquela que se remete a
autores como Tocqueville, David Riesman e Robert Bellah. Nessa direção,
Fromm teria sugerido que o autoritarismo é resultado da solidão como fruto
do individualismo moderno.
Nas ciências sociais brasileiras, atualmente, a obra de Fromm é quase
inexistente, ao contrário de Habermas e Honneth, expoentes das gerações
posteriores da escola de Frankfurt. Uma busca recente na plataforma Scielo,

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tanto por “autor” quanto por “assunto”, não apresenta nenhum resultado.
Uma rara referência encontrada é um artigo de Jessé Souza, sobre Freud,
Fromm e Adorno, no qual procura comparar a obra dos três autores e analisar
a recepção da psicanálise nos trabalhos empíricos da primeira geração de
Frankfurt. Souza destaca o pioneirismo da obra de Fromm no sentido de
perceber as predisposições socialmente adquiridas que podem levar à
adesão de uma pessoa ao autoritarismo ou à democracia (Souza, 2008).
Voltando à Fromm, especialmente na parte final da trilogia, Psicanálise
da sociedade contemporânea, ele oferece um formato final para o projeto
que batizou como uma “psicanálise humanista” (Fromm, 1970, p. 12). A
tese central desta sua empreitada é

a de que as paixões básicas do homem não estão arraigadas em suas


necessidades instintivas, mas nas condições específicas da existência humana,
na necessidade de encontrar nova relação com o homem e a Natureza após
haver perdido a relação primária da etapa pré-humana (Fromm, 1970, p. 12).

Esta afirmação parte de uma reconstrução do pensamento freudiano


e permite a Fromm um duplo movimento interpretativo: ele culturaliza as
paixões básicas da humanidade e sugere que elas podem mudar de acordo
com a época histórica e o contexto econômico e social. A primeira parte
do movimento ancora-se em sua ruptura com a perspectiva freudiana de
que nossas paixões mais profundas se explicam por nossas necessidades
instintivas. A segunda parte está embasada na identificação das “condições
específicas da existência humana” como base para a construção do conteúdo
de nossos desejos e da nossa vontade.
Com isso em mente, eu gostaria de fazer aqui um exercício teórico
no sentido de utilizar esta compreensão de nossa condição cultural
humana para tentar trazer à tona a especificidade do comportamento
e das paixões determinados pelo conteúdo específico da cultura do
capitalismo contemporâneo. Nesse sentido, a obra de Fromm apresenta
sua relevância por perceber que a principal doença de nosso tempo
não é aquela individualizada em pessoas que não se enquadram nos

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padrões do bom comportamento definidos pela cultura do mérito e do


sucesso, mas sim uma doença coletiva e objetiva compartilhada em alguma
medida por cada um de nós. Especialmente em Psicanálise da sociedade
contemporânea, Fromm (1970) procura ir além de seu preciso diagnóstico
nos livros anteriores da trilogia, ao esboçar sugestões concretas para a
construção de uma “sociedade sã”. Para tanto, Fromm estava muito convicto
de que o “progresso”, no melhor sentido deste conceito, apenas pode
existir quando acontecem simultaneamente determinadas modificações
nas esferas econômica, sociopolítica e cultural, ou seja, qualquer progresso
restrito a apenas uma dessas esferas seria destrutivo para o progresso em
todas as outras (Fromm, 1970).
De modo a desenvolver aqui os argumentos de Fromm, dividirei o texto
a partir de agora em duas partes. Primeiro, veremos como ele questiona
nossa condição de saúde mental e identifica o seu oposto. Nesse sentido,
será fundamental compreender o que Fromm define como “patologia da
normalidade”. Depois, será preciso reconstruir de que maneira ele situa
culturalmente o indivíduo na sociedade capitalista contemporânea, pensando
especialmente na condição existencial construída desde a segunda metade
do século XIX até a primeira do século XX. Nesta parte, precisaremos de
especial atenção à relação entre os conceitos de alienação e saúde mental.
Por fim, procuro esboçar uma conclusão que aponte para a atualidade da
obra de Fromm, a partir de tais pressupostos.

A patologia da normalidade na cultura capitalista


contemporânea
Devemos a ideia de patologia social, em boa medida, a Durkheim. Sua
preocupação com a coesão social e com as formas de divisão do trabalho
anômicas não por acaso estava intimamente articulada ao seu interesse em
compreender as razões sociais do suicídio (Durkheim, 2019). Recentemente,
Axel Honneth (2015) trouxe de volta a ideia de patologia como um elemento
central em sua reconstrução crítica para a compreensão dos paradoxos do

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que chamou, tomando emprestada a definição de Richard Sennett (2006),


de “novo capitalismo”. Desde os estudos clássicos de Durkheim até a obra
contemporânea de Honneth, a identificação da patologia social enquanto
chave interpretativa central das sociedades modernas encontra na obra de
Erich Fromm um divisor de águas. Para ele, a patologia da normalidade seria
a condição existencial insana das sociedades capitalistas contemporâneas,
que ao mesmo tempo se imaginam como racionais e mentalmente sadias
(Fromm, 1970).
Não por acaso, em Psicanálise da sociedade contemporânea, Fromm
inicia sua análise a partir de uma pergunta fundamental: somos mentalmente
sadios? O pano de fundo que orienta esta questão é o mesmo que incomodou
toda a primeira geração da escola de Frankfurt: um mundo que sobreviveu
a duas guerras mundiais e que, nos anos de 1950, se apavorava com a
possibilidade de uma terceira, nuclear, risco este que já naturalizamos em
nosso imaginário atual e agora se transfere para a aceitação da política de
morte da pandemia. Fromm inicia seu livro pintando um panorama geral
acerca das contradições a esse respeito, tanto na vida política quanto na
econômica e sociocultural. Em termos políticos, muitas vezes admiramos
estadistas por tentarem evitar a guerra, desconhecendo o fato de que muitas
vezes estes mesmos são os culpados. Em termos econômicos, restringimos
nossa produtividade agrícola a fim de estabilizar o mercado, embora milhões
de pessoas precisem de alimento. Nosso grau de alfabetização aumentou
consideravelmente, além de nosso acesso aos meios de comunicação.
Mas isso não nos tornou mais inteligentes nem nos deu acesso imediato
ao que há de melhor na literatura ou na música. Pelo contrário, a indústria
cultural toma boa parte de nosso tempo com coisas ordinárias, carentes de
“senso de realidade” (Fromm, 1970). Além disso, reduzimos a média de
horas de trabalho à metade do seu total, em comparação com meados do
século XIX, e com isso temos mais tempo livre. Não sabemos, entretanto,
como utilizá-lo.
Diante desse panorama paradoxal, Fromm estrutura sua crítica a boa
parte da psiquiatria e da psicologia, que se recusa a identificar na totalidade

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da sociedade (e não no indivíduo) uma carência de sanidade mental. Sua


percepção fundamental aqui identifica que o problema da sanidade mental
em uma sociedade não se resume ao número de indivíduos “desajustados”
ou “desviantes”, mas ancora-se no desajustamento da própria cultura.
Em outros termos, a preocupação fundamental de Fromm e sua principal
chave analítica nessa direção não residem na patologia individual, mas
sim na “patologia da normalidade” coletiva, particularmente referindo-se
ao contexto da sociedade ocidental contemporânea (Fromm, 1970). Um
indício do caminho equivocado tomado pela psiquiatria e pela psicologia
dominantes, para Fromm, em seu tempo, deve-se à inexistência de dados
que permitam identificar a incidência de doenças mentais nos vários países
do mundo ocidental.
No geral, Fromm procurou condensar psicanálise e sociologia,
reproduzindo aqui uma das marcas centrais da primeira geração de
Frankfurt. A separação acadêmica dessas disciplinas impede a realização
de análises mais amplas, como, por exemplo, perceber que a própria
sociedade é que se encontra doente, ou seja, perceber a vida coletiva,
em sua ação e representações, como um ente passível de padecimento e
sofrimento. Este movimento teórico se mostra, a partir de autores como
Fromm, Adorno, Marcuse e, posteriormente, Axel Honneth, fundamental
para o desdobramento de um dos aspectos centrais da teoria crítica, que
é exatamente identificar as patologias das sociedades contemporâneas e
a busca por suas razões. Inclusive, é possível que a separação acadêmica
entre psicanálise e sociologia tenha privado, nas últimas décadas, uma
sociologia da cultura capitalista, como tento fazer aqui, de recursos analíticos
provenientes do casamento entre as duas disciplinas.
Nesta perspectiva, Fromm considera correta a suposição de que um
alto índice de suicídio em uma sociedade reflita diretamente a sua falta
de estabilidade e de saúde mental. Para ele, estava claro que esse cenário
não resulta de pobreza material, considerando que os países mais pobres
apresentam os mais baixos índices de suicídio, segundo dados da década de
1950, e que a crescente prosperidade material da Europa foi acompanhada

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por um número crescente de suicídios. Fromm também estava convicto


de que o alcoolismo é um sintoma de instabilidade mental e emocional.
Longe de reproduzir o clichê de que os países ricos são tristes e os pobres
são felizes, Fromm estava identificando no suicídio e no alcoolismo efeitos
de um problema experienciado coletivamente. Com efeito, ele sabia que
as causas estavam ancoradas em aspectos essenciais da cultura capitalista.
Não por acaso, Fromm identifica na combinação entre índices de
suicídio e homicídio um interessante fator sobre a insanidade mental de
seu tempo. O que mais chamou sua atenção foi que os dados derivavam de
países ricos como Estados Unidos, Suíça, Suécia e Dinamarca. Sua conclusão
é alarmante: os países da Europa que se situam entre os mais democráticos,
pacíficos e prósperos, ao lado dos Estados Unidos, são exatamente aqueles
que apresentam os mais sérios sintomas de perturbação mental (Fromm,
1970). Com isso, chegamos a um ponto alto da análise, quando ele identifica
a grande contradição cultural e existencial do Ocidente. Ou seja, o objetivo
de todo o desenvolvimento socioeconômico do mundo ocidental é a vida
materialmente confortável, além da distribuição relativamente igual de
riqueza, da democracia estável e da paz. Na prática, os países que mais
se aproximaram deste ideal são exatamente aqueles que apresentaram
os maiores sintomas de desequilíbrio mental. Isso o conduz a algumas
perguntas de ordem fundamental:

[s]erá que a vida de prosperidade da classe média nos deixa, a despeito de


atender às nossas necessidades materiais, com uma sensação de intenso
tédio, sendo o suicídio e o alcoolismo formas patológicas de fuga a esse tédio?
Serão aquelas cifras uma drástica ilustração confirmadora de que “nem só de
pão vive o homem”, e indicativas de que a civilização moderna malogra em
satisfazer às necessidades profundas do homem? Em caso afirmativo, quais
serão estas necessidades insatisfeitas? (Fromm, 1970, p. 24).

O enfrentamento a estas questões o leva a uma pergunta-síntese: pode


uma sociedade estar enferma? É a partir dela que ele procura desenvolver a
ideia de patologia da normalidade. Para tanto, Fromm se posiciona contra
um relativismo sociológico dominante em sua geração. Ele está se referindo

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aqui à postura da maioria dos sociólogos que acreditavam ser uma sociedade
normal enquanto esta aparentemente “funciona” e que uma patologia só
pode ser definida em termos da falta de ajustamento individual ao estilo
de vida coletivo (Fromm, 1970). Para ele, em contrapartida, falar de uma
“sociedade sã” implica uma premissa diferente desse relativismo sociológico.
Isso apenas faz sentido se admitirmos a existência de uma sociedade que
não seja sã, e esta suposição implica, por sua vez, a existência de algum
critério universal de saúde mental válido para toda a humanidade. Apenas
este critério pode permitir o julgamento do estado de saúde de cada
sociedade. Esta seria uma postura básica de seu “humanismo normativo”,
como ele mesmo o define (Fromm, 1970, p. 26).
Nesse sentido, o que em sua geração se chamava de “natureza humana”
não passa de uma de suas muitas manifestações e, com frequência, de
manifestação patológica, tendo sido geralmente a função dessa definição
equivocada defender um tipo particular de sociedade como sendo
consequência necessária da constituição mental da humanidade (Fromm,
1970). Assim, o verdadeiro problema, para Fromm, está em deduzir a
“essência” comum a toda a “raça humana” das inumeráveis manifestações
de sua natureza, tanto “normais” quanto patológicas, como podem ser
observadas nos diversos indivíduos e diferentes culturas.
O que a humanidade faz no processo histórico, segundo Fromm,
é desenvolver o seu potencial, transformando-o de acordo com as suas
próprias possibilidades. Este ponto de vista não é nem biológico nem
sociológico, mas transcende esta dicotomia pela suposição de que as
principais paixões e tendências humanas resultam da “existência total” da
humanidade, de que são definidas e determináveis, conduzindo algumas
delas à saúde e felicidade, outras, à doença e à infelicidade (Fromm, 1970).
Uma determinada ordem social não “cria” essas tendências fundamentais,
mas estabelece quais das paixões em potencial, que existem em número
limitado, deverão tornar-se manifestas ou dominantes.
Com isso, o humanismo normativo considera que a saúde mental só é
de fato alcançada se a humanidade se desenvolve até a plena maturidade,

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segundo as características da natureza humana. A insanidade mental, nesse


sentido, consiste no malogro de tal desenvolvimento. Baseado nesta premissa,
o critério de saúde mental não deve ser o de ajustamento individual a uma
determinada ordem social, mas um critério universal, válido para toda a
humanidade, que ofereça alguma resposta satisfatória ao problema da
existência humana (Fromm, 1970).
Tais percepções pavimentam o caminho para que Fromm identifique
uma importante diferença entre doença mental individual e doença mental
social. Para tanto, ele sugere uma diferenciação entre os conceitos de
“defeito” e “neurose” (Fromm, 1970). Isso nos conduz a uma reflexão
sobre a própria ideia de liberdade. Para Fromm, se uma pessoa malogra
em atingir a liberdade, a espontaneidade e a expressão genuína do eu, ela
pode ser considerada possuidora de sérios defeitos, desde que se admita
que a liberdade e a espontaneidade são fins objetivos a serem atingidos
por cada ser humano. Logo, se este fim não é atingido pela maioria de
uma determinada sociedade, temos um fenômeno de “defeito socialmente
modelado” (Fromm, 1970, p. 29). Com isso, uma pessoa pode ter perdido
algo em riqueza humana e em sentimento autêntico de felicidade, sendo
compensado pela segurança da harmonia com o resto da humanidade,
pelo menos da forma como ele a conhece. Na verdade, seu próprio defeito
poderá ter sido elevado à categoria de virtude por sua cultura, podendo,
com isso, proporcionar-lhe uma intensa sensação de êxito (Fromm, 1970).
Sendo assim, o defeito socialmente modelado pela cultura capitalista
contemporânea nos conduz à condição de criaturas que agem e sentem
como autômatos, que jamais experimentam algo de realmente seu, que
sentem o seu eu inteiramente como pensam que supostamente o seja.
Para ele, com isso, o sorriso artificial substituiu o sorriso espontâneo, a
tagarelice substituiu a palestra comunicativa e o surdo desespero substituiu
a dor autêntica (Fromm, 1970). Com efeito, para a maioria das pessoas,
a cultura oferece modelos que permitem “viver com um defeito sem se
tornar doente”. Tudo funciona como se cada cultura fornecesse o remédio

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contra a exteriorização de sintomas neuróticos manifestos resultantes do


defeito produzido por elas mesmas.
A esta altura, já podemos compreender aquilo que boa parte da
sociologia definiu como “desvio”. Para Fromm, o modelo proporcionado pela
cultura não funciona para uma determinada minoria. Trata-se de pessoas
cujo “defeito” individual é mais sério do que o da média das pessoas, de
forma que os remédios culturalmente oferecidos (em grande parte pela
indústria cultural) não são suficientes para impedir a eclosão da doença
manifesta (aqui, Fromm está pensando, por exemplo, em pessoas fortemente
motivadas a buscar poder e fama). Por outro lado, há também aqueles cuja
estrutura de caráter e, portanto, cujos conflitos diferem dos da maioria, de
forma que os remédios eficazes para a maioria não lhes causam nenhum
efeito. Nesse grupo de pessoas, nosso autor situa indivíduos de integridade
e sensibilidade maiores do que as da maioria e que, exatamente por isso,
se negam a aceitar o “narcótico cultural”, enquanto, ao mesmo tempo, não
se encontram suficientemente fortes e sadios para viverem salutarmente
“contra a correnteza” (Fromm, 1970).
Em suma, Fromm define este projeto investigativo, remetendo-se
explicitamente ao seu mestre Freud, como uma “pesquisa da patologia das
comunidades civilizadas” (Fromm, 1970, p. 34). Para tanto, baseia-se na
ideia de que uma sociedade sã precisa corresponder às necessidades da
humanidade, e isso não necessariamente se refere ao que a humanidade
sente como suas necessidades, considerando que até os mais patológicos
desejos podem ser subjetivamente sentidos como aquilo de que a
pessoa mais necessita. O que ele quer dizer é que as sociedades devem
corresponder ao que constitua objetivamente as necessidades humanas,
nas formas em que estas possam ser determinadas pela investigação da
natureza “cultural” humana. No próximo tópico, avançaremos em sua
análise com os conceitos de caráter social e alienação, bem como com a
identificação da situação humana determinada pelo capitalismo do século
XX, de modo a compreender como esta se apresenta, ao que tudo indica,

Sociologias, Porto Alegre, ano 22, n. 55, set-dez 2020, p. 262-288.


276 Fabrício Maciel

como a forma mais acabada de “patologia da normalidade” experienciada


pela humanidade.

Caráter social e alienação na sociedade capitalista do


século XX
Caráter social e alienação serão os dois conceitos-chave que guiarão
nossa reconstrução do pensamento de Fromm nesta parte. Esta articulação
nos permitirá compreender um tema central em sua obra, a saber, o
incômodo e a insuficiência da experiência humana no contexto criado pela
cultura capitalista contemporânea. Para tanto, Fromm acreditava que seria
preciso chegarmos a uma ideia da “personalidade do homem médio” que
vive e trabalha sob os grilhões dessa cultura. Este seria um aspecto central
para compreendermos o conceito de “caráter social”. Com este conceito,
Fromm procura dar conta do “núcleo da estrutura do caráter compartilhada
pela maioria dos indivíduos de uma mesma cultura”, o que difere do caráter
individual, distinto em cada um dos indivíduos pertencentes a esta mesma
cultura (Fromm, 1970, p. 86).
Fromm acreditava que os membros de uma sociedade, suas classes e
seus grupos de status precisam necessariamente comportar-se de maneira
que lhes permita funcionar no sentido exigido pela cultura capitalista.
Com efeito, a função do caráter social consiste exatamente em modelar
as energias dos membros da sociedade de forma que sua conduta não
seja assunto de decisão consciente quanto a seguir ou não uma norma
social, mas uma questão de simplesmente desejarem comportar-se como
têm de comportar-se, alcançando, com isso, prazer em proceder da forma
exigida pela cultura. Em suma, a função do caráter social consiste em
“moldar e canalizar a energia humana em uma determinada sociedade,
para que esta possa continuar funcionando” (Fromm, 1970, p. 87). Como
exemplo, Fromm argumenta que a sociedade industrial moderna não teria
alcançado os seus objetivos, caso não tivesse arregimentado a energia dos
indivíduos livres para trabalhar com uma intensidade sem precedentes. Ou

Sociologias, Porto Alegre, ano 22, n. 55, set-dez 2020, p. 262-288.


A patologia da normalidade: Erich Fromm e a crítica da cultura capitalista contemporânea 277

seja, a “necessidade” de trabalhar, de pontualidade e de ordem precisou


se transformar em “impulso” interior para tais objetivos, o que significa
que a sociedade precisou produzir um caráter social de modo a que tais
impulsos fossem a ele inerentes (Fromm, 1970).
Nessa direção, podemos considerar as estruturas da sociedade e
a função do indivíduo na cultura como determinantes do conteúdo do
caráter social. Com efeito, Fromm considerava a família como uma espécie
de “agência psíquica da sociedade”, ou seja, a organização que assume a
missão de transmitir as exigências da sociedade à criança em crescimento
(Fromm, 1970). Considerando que o caráter da maior parte dos pais
é expressão do caráter social predominante, transmitem-se à criança,
dessa maneira, os traços essenciais da “estrutura de caráter socialmente
desejável” (Fromm, 1970, p. 90). Assim, os métodos educativos só podem ter
importância como mecanismo de transmissão e ser corretamente entendidos
se compreendermos, antes de tudo, quais tipos de personalidade são
desejáveis e considerados necessários em uma determinada cultura.
De modo a compreender exatamente como a cultura capitalista
conforma o caráter social no século XX, precisamos entender primeiramente
a conformação do capitalismo no século XIX, segundo Fromm. Para ele, é de
fundamental importância o papel do mercado moderno como “mecanismo
central da distribuição da produção social” (Fromm, 1970, p. 94), sendo
esta instituição, exatamente por isso, a base da formação das relações
humanas na sociedade capitalista. O mercado, assim, seria um mecanismo
de distribuição, já no século XIX, que se regula automaticamente, o que
torna desnecessário dividir a produção social segundo um plano novo ou
tradicional e, com isso, elimina a necessidade de se usar a força como base
central da reprodução social. Com isso, o funcionamento econômico do
mercado repousa sobre a competição de indivíduos que querem vender
suas mercadorias, assim como o seu trabalho ou os seus serviços no
“mercado de trabalho e de personalidade” (Fromm, 1970), concordando
aqui com a interpretação de seu contemporâneo Wright Mills (1976). A
conclusão é que, nessa luta pelo sucesso, ruíram as regras sociais e morais

Sociologias, Porto Alegre, ano 22, n. 55, set-dez 2020, p. 262-288.


278 Fabrício Maciel

da solidariedade humana, considerando que a importância da vida agora


consiste em simplesmente ser o primeiro em uma corrida competitiva
(Fromm, 1970). Com isso, Fromm arrisca uma definição da situação moral
da sociedade capitalista já no século XIX:

[o] que caracteriza a distribuição da renda no capitalismo é a falta de proporção


equilibrada entre o esforço e o trabalho de um indivíduo e a consideração
social que se lhe concede sob a forma de compensação financeira. Em uma
sociedade mais pobre do que a nossa, essa desproporção teria por consequência
extremos de luxo e pobreza maiores do que poderiam tolerar as nossas
normas morais.[1] Porém eu não desejo acentuar os efeitos materiais dessa
desproporção, mas seus efeitos morais e psicológicos. Um dos efeitos é a
desvalorização do trabalho, dos esforços e habilidades do homem. O outro
está em que, enquanto o meu ganho estiver limitado pelo esforço por mim
desenvolvido, o meu desejo também o estará. Por outro lado, se minha
renda não é proporcional ao meu esforço, não haverá limitações para os
meus desejos, pois sua satisfação depende das oportunidades oferecidas por
determinadas situações do mercado e não de minhas próprias capacidades
(Fromm, 1970, p. 97).

Com isso, Fromm percebe, no século XIX, o germe de uma condição


moral que se intensificará no século XX. Isso lhe permite compreender que
o prazer da propriedade em si, independentemente da produção e da busca
de lucros, é um dos aspectos fundamentais do caráter das classes média e
alta do século XIX. Em resumo, o caráter social no século XIX é uma mescla
de autoridade racional e irracional. Trata-se de um caráter essencialmente
hierárquico, embora não mais, como na sociedade feudal, baseado no direito
divino e na tradição, mas simplesmente na posse de capital, com todos
os efeitos descritos acima. Em suma, o conflito entre capital e trabalho se
coloca acima do próprio conflito entre as classes e da luta pela participação
no produto social. Trata-se de um conflito entre princípios de valorização,
ou seja, “entre o mundo das coisas e sua acumulação e o mundo da vida
e sua produtividade” (Fromm, 1970, p. 101).
Aqui Fromm está naturalmente pensando em sociedades centrais, como os Estados Unidos
1 

e a Alemanha. A reflexão se posiciona como uma crítica aos efeitos ainda mais perversos
que a cultura capitalista produz em sociedades periféricas, como a brasileira.

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A patologia da normalidade: Erich Fromm e a crítica da cultura capitalista contemporânea 279

Vamos agora reconstruir, segundo Fromm, as principais mudanças,


tanto materiais quanto morais e psicológicas, na sociedade capitalista do
século XX, bem como seus efeitos na experiência individual. Para ele, a
mudança mais flagrante, do século XIX para o XX, é a da técnica e o maior
uso da máquina a vapor, do motor de combustão interna, da eletricidade,
bem como o começo do emprego da energia atômica. Articulado a isso,
presenciamos o aumento da importância do mercado interno de cada
nação. Toda a organização econômica repousa no princípio da produção
e do consumo em massa. Com isso, presenciamos o que ele define como
“milagre da produção” e “milagre do consumo”. Agora, os seres humanos
manejam forças infinitamente maiores e mais poderosas do que aquelas
que a natureza outrora lhes oferecera. Já não há barreiras tradicionais que
impeçam que alguém compre o que quiser, teoricamente. Tudo está ao
alcance de todos, tudo pode ser comprado e consumido.
Diante desse panorama, Fromm se coloca as seguintes questões, de
ordem vital: de que tipo de pessoas a nossa sociedade atual necessita? Qual é
o caráter social adequado ao século XX? Sua resposta sugere uma direção para
uma reinterpretação radical do sentido da cultura capitalista. O capitalismo
do século XX, para ele, necessita de pessoas que cooperem sem atritos
em grandes grupos, que desejem consumir cada vez mais, e cujos gostos
estejam padronizados e possam ser facilmente influenciados e previstos.
Também necessita de indivíduos que se sintam livres e independentes, que
se percebam não submetidos a nenhuma autoridade, a nenhum princípio e a
nenhuma consciência, mas que desejem ser mandados, fazer simplesmente
o que deles se espera e adaptar-se sem atritos à ordem social. Isso o conduz
a outra pergunta: como pode o ser humano ser guiado sem se recorrer à
força, ser conduzido sem chefes, ser incitado sem metas, a não ser aquela
de tomar parte no desenvolvimento, de atuar e de avançar? (Fromm, 1970).
O conceito de alienação de Marx, psicologizado por Fromm, será a chave
mestra que o guiará rumo à resposta. Para tanto, ele inicia reconstruindo
duas características essenciais do capitalismo no século XX: a quantificação
e a abstratificação. Nesse sentido, a transformação do “concreto” em

Sociologias, Porto Alegre, ano 22, n. 55, set-dez 2020, p. 262-288.


280 Fabrício Maciel

“abstrato” desenvolveu-se muito além do simples balanço e da quantificação


dos incidentes econômicos na esfera da produção. O homem de negócios
moderno não só lida com dinheiro aos milhões, mas também com milhões
de clientes, milhares de acionistas e milhares de operários e empregados de
escritório. Todas essas pessoas são peças de uma máquina gigantesca que
precisa ser controlada e cujos efeitos precisam ser calculados. Com isso,
cada pessoa é representada por uma entidade abstrata, por uma cifra, e
sobre tal base calculam-se os incidentes e riscos econômicos, preveem-se
as tendências e tomam-se as decisões (Fromm, 1970).
A separação entre proprietários e diretores das grandes empresas,
já existente no século XIX e agora mais intensa, é um aspecto central
para a compreensão desse cenário. Os trabalhadores são contratados por
instituições cujos diretores são partes impessoais da empresa e não indivíduos
em contato pessoal com outros indivíduos que eles empregam. A única
pessoa que está em contato com o produto de uma empresa (ou uma
seção) em sua totalidade é o diretor. Entretanto, para ele, o produto é uma
abstração, cuja essência é o valor em câmbio, enquanto o trabalhador, para
quem o produto é uma coisa concreta, não trabalha nunca com ele como
um todo (Fromm, 1970). Com isso, a cultura contemporânea abriu caminho
a uma referência quase exclusiva às qualidades abstratas das coisas e das
pessoas e ao esquecimento de nossa relação com sua constituição material
e singularidade. As pessoas agora são avaliadas como encarnações de um
valor de câmbio quantitativo. Para Fromm, este processo de abstratificação
tem raízes profundas que se remetem às próprias origens da era moderna,
ou seja, à dissolução de todo o quadro concreto de referência no processo
da vida.
Até o fim do século XIX, a natureza e a sociedade ainda não haviam
perdido seu caráter concreto e sua precisão. Os mundos natural e social
ainda eram manejáveis, ainda tinham contornos definidos. Por outro lado,
as grandezas com as quais lidamos hoje são cifras e abstrações, estando
muito além dos limites alcançáveis pela experiência concreta. Não restou
nenhuma estrutura de referência manejável, observável, que se adapte

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A patologia da normalidade: Erich Fromm e a crítica da cultura capitalista contemporânea 281

às dimensões propriamente humanas. Enquanto nossos olhos e ouvidos


recebem impressões somente em proporções humanamente manejáveis,
nosso conceito do mundo perdeu precisamente esta qualidade e não mais
corresponde às nossas dimensões humanas. A ciência, os negócios e a
política perderam todos os fundamentos e proporções que fazem sentido
humanamente. Como nada é concreto, nada é real, tudo se torna possível,
de fato e moralmente. Em suma, a humanidade foi arrancada de toda a
posição definida de onde possa dominar e manejar sua vida. Somos agora
arrastados velozmente por forças que nós mesmos criamos (Fromm, 1970).
A esta altura, temos pavimentado o caminho para o início da
compreensão do conceito de alienação, em seu formato desenvolvido
por Fromm. Ele nos remete à questão mais fundamental, ou seja, perceber
quais são os efeitos mais profundos do capitalismo contemporâneo na
personalidade humana. Para tanto, Fromm compreende a alienação
enquanto um modo de experiência no qual a pessoa se sente como
um estranho, alienado de si mesmo. Não se sente como centro de seu
mundo, criador de seus próprios atos, tendo estes e suas consequências
sido transformados em seus senhores, aos quais precisa obedecer. A pessoa
alienada não tem contato consigo mesma e com as outras pessoas. Percebe
a si e aos demais como coisas, com os sentidos e com o senso comum,
mas, ao mesmo tempo, sem relacionar-se produtivamente consigo mesma
e com o mundo exterior (Fromm, 1970).
Com isso, a pessoa que é movida principalmente por sua sede de
poder ou dinheiro, por exemplo, já não sente a si mesma com a riqueza
e a ausência de limitações de um ser humano, mas torna-se escrava de
um impulso parcial nela existente, que se projeta em objetivos externos e
pelo qual está possuída. Em suma, para Fromm, o fato em comum a vários
fenômenos humanos, como a adoração de ídolos, o amor idolátrico a uma
pessoa, o culto idolátrico de Deus, a adoração de um chefe político ou do
Estado e o culto idolátrico às exteriorizações de paixões irracionais resume-
se ao fenômeno da alienação. Com isso, o fato é que a humanidade não
sente a si mesma como portadora ativa de seus poderes e riquezas, mas

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282 Fabrício Maciel

como uma coisa empobrecida que depende de poderes exteriores a ela e


nas quais projetou sua substância vital (Fromm, 1970).
Nesse contexto, é muito interessante o papel que Fromm atribui aos
diretores de empresas no processo de alienação da cultura capitalista
contemporânea. Para ele, os executivos manejam o todo e não a parte, mas
também são, eles mesmos, alheados de seu produto como coisa concreta
e útil. Sua tarefa consiste em empregar proveitosamente o capital investido
por outros. É muito sintomático, com isso, o fato de os diretores, que têm
a seu cargo as relações de trabalho e as vendas, ou seja, os encargos de
manipulações humanas, adquirirem uma importância cada vez maior
no capitalismo. Os executivos, assim como os trabalhadores, lidam com
gigantes impessoais: a empresa competitiva gigantesca, o gigantesco mercado
interno e mundial, um consumidor gigantesco que precisa ser incitado e
manejado, sindicatos gigantescos e governos igualmente gigantescos. Todos
esses gigantes possuem vida própria e são eles que determinam a atividade
dos diretores e executivos de empresa (Fromm, 1970).
Não foi por acaso que Fromm identificou a centralidade da função de
diretor na reprodução da cultura capitalista alienada. O problema sobre
o papel dos diretores suscita um dos fenômenos mais significativos dessa
cultura, ou seja, o problema da burocratização, conhecidamente analisado
por Max Weber. O que está em jogo aqui? Tanto a administração dos
grandes negócios como a dos governos é realizada por uma burocracia. Com
isso, os burocratas se tornam especialistas na administração de coisas e de
pessoas. Por isso, em razão da grandeza do aparato a ser administrado e da
consequente abstratificação, a relação dos burocratas com as pessoas é de
alienação total. Isso nos possibilita compreender a frieza e o distanciamento
com os quais um diretor de empresa, com uma assinatura, é capaz de
demitir milhões de pessoas de uma só vez. Assim, as pessoas administradas
são apenas objetos que o administrador vê, sem amor ou ódio, de modo
impessoal. O burocrata-diretor não deve sentir nada, com respeito a sua
atividade profissional, ou seja, deve manipular as pessoas como se fossem
cifras ou coisas. Com isso, os burocratas-diretores são inevitáveis: sem eles

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A patologia da normalidade: Erich Fromm e a crítica da cultura capitalista contemporânea 283

a empresa entraria em colapso em pouco tempo, já que ninguém mais


conhece o segredo que a faz funcionar (Fromm, 1970).
A validade dessa análise se confirma pelo fato de que, ao longo do
século XX, a importância dos grandes negócios tornou-se cada vez maior
em seu papel normativo em nossa cultura. Neste ponto, Fromm recorre ao
pensamento de Peter Drucker, o conhecido mentor das organizações, para
encontrar uma sucinta e precisa definição. Para este último, as corporações
crescem como instituições determinantes da vida, mesmo daqueles que não
fazem parte delas diretamente. Com isso, “todo o caráter da sociedade é
determinado e moldado pela organização estrutural da grande empresa, pela
tecnologia da instalação de produção em massa e pelo grau de realização das
nossas convicções e promessas sociais nas grandes empresas e pelas grandes
empresas” (Drucker apud Fromm, 1970, p. 131). Como consequência, os
proprietários das grandes empresas também têm com elas uma relação
de quase total alienação. Sua propriedade consiste em um pedaço de
papel representativo de certa quantidade de dinheiro. Não têm nenhuma
obrigação com a empresa e nenhuma relação concreta com ela.
Em suma, a função dos diretores de empresa no capitalismo nos permite
compreender alguns aspectos gerais da tese de Fromm. Nessa direção, ele
ressalta que, diferente da maior parte das outras sociedades, nas quais as
regras sociais são explícitas e fixadas à base do poder político ou da tradição,
o capitalismo não tem regras explícitas. Contrariamente, baseia-se no
princípio de que somente quando cada indivíduo luta por seus interesses
no mercado o resultado será o bem comum, e a consequência será a ordem
e não a anarquia. Nesse sentido, a alienação entre os indivíduos resulta na
perda dos vínculos gerais e sociais que caracterizavam a sociedade medieval
e quase todas as sociedades pré-capitalistas (Fromm, 1970).
Com isso, a “personalidade alienada” que se põe à venda no mercado
de personalidades tem necessariamente que perder grande parte de seu
sentimento de dignidade, característico das pessoas nas culturas pré-
modernas. A personalidade alienada acaba perdendo o “sentimento de seu
eu”, de si mesmo como entidade única e irreproduzível. Nessa direção, o

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sentimento do eu precisa nascer da experiência que uma pessoa tem de


si como sujeito de seus pensamentos, sentimentos, decisões, julgamentos
e atos. Pressupõe que a experiência seja exclusivamente individual e não
alienada. As coisas não possuem um eu, da mesma forma que as pessoas
que se tornaram coisas também não podem possuir (Fromm, 1970).
Por fim, Fromm vai articular a relação entre o caráter social alienado
produzido pela cultura capitalista e os problemas do mérito e do suicídio.
Para ele, o indivíduo moderno tem um problema inédito, ou seja, refletir
sobre se a vida merece ser vivida e, como consequência, depara-se com
as sensações de que a vida é um fracasso ou um êxito. Tal experiência tem
como base um conceito da vida como um empreendimento que deve
produzir necessariamente algum lucro. Com isso, o fracasso é sentido
como a falência de um negócio, no qual as perdas são maiores do que
os lucros (Fromm 1970). Para ele, esta interpretação da vida como um
empreendimento comercial parece ser a base do aumento de suicídios
na sociedade ocidental contemporânea. Para Fromm, a tese da anomia
de Durkheim, ou seja, a perda dos vínculos sociais tradicionais, para
explicar o suicídio, teria ignorado o importante fato de que nós modernos
internalizamos a necessidade incontornável de perceber a vida através de
uma ideia de “balanço” de uma empresa comercial, que pode fracassar.
Em termos gerais, com isso, Fromm constrói uma crítica radical da cultura
capitalista, no sentido de perceber seus efeitos inevitáveis na construção
do sofrimento humano em nosso tempo.

Conclusão: a atualidade de Erich Fromm


Diante do exposto, a percepção de um caráter social alienado, conforme
realizada por Fromm, pode ser um importante caminho para se pensar o
“capitalismo flexível” atual. Ela nos ajuda a definir os aprofundamentos
e a radicalização propriamente culturais de aspectos vitais do capitalismo
contemporâneo. A ideia de caráter social alienado é decisiva para a
compreensão das práticas e da mentalidade criadas como norma e como

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A patologia da normalidade: Erich Fromm e a crítica da cultura capitalista contemporânea 285

expectativa atualmente pelo capitalismo. Com isso, podemos problematizar


em que medida o comportamento padronizado pelo “novo” capitalismo
flexível, fenômeno este definido por Richard Sennett (2006) como “corrosão
do caráter”, não seria uma atualização da condição de “patologia da
normalidade”, como compreendido por Fromm em seu tempo.
Contrário às promessa de felicidade, reconhecimento e realização
no capitalismo atual, o que uma observação atenta da cultura capitalista
atual sugere, conforme analisado por Sennett (2006), aproxima-se bastante
da descrição de Fromm com sua tese do caráter social alienado: entrega
total ao sistema de trabalho, busca incessante e sublimação de todas as
necessidades no consumo, ausência de tempo livre e perda do sentido de
uma vida realmente preenchida de significado. E isso sem contar o conteúdo
do trabalho realizado pelos principais diretores e executivos, ou seja, a
construção consciente e a reprodução de uma dominação social de classes
ainda mais invisível e insensível do que aquela vista em períodos anteriores,
como deixa claro a comparação realizada por Boltanski e Chiapello (2009)
entre a mentalidade e a ação dos executivos das décadas de 1960 e 1990.
Com isso, diante do exposto, podemos notar que a obra de Erich
Fromm é responsável por um tipo de crítica profunda da cultura capitalista,
tendo esta como aspecto central a identificação da produção objetiva do
sofrimento humano na forma de sua sensação de incompletude e mal-estar.
Para ele, a liberdade precisa ser interpretada como um problema de ordem
sociológica e coletiva, e não simplesmente de ordem psicológica e individual
(Fromm, 1974). Em sua ruptura com o pensamento freudiano, Fromm
sedimenta sua percepção de que a “psicologia do nazismo” explica-se pela
necessidade que o indivíduo moderno tem de fugir de suas possibilidades de
liberdade. Por um lado, a liberdade moderna proporcionou independência
e racionalidade, quando permitiu ao indivíduo romper com os grilhões da
sociedade pré-individualista. Por outro, fez com que ele se sentisse sozinho,
angustiado e impotente. Assim define Fromm a ambiguidade da liberdade
dos modernos. Esta análise pode ser de grande valia para compreendermos
o fenômeno de ascensão da extrema direita na atual conjuntura global.

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Isso fica claro, por exemplo, quando Fromm compreende que o


indivíduo moderno, angustiado por seu isolamento, pode tentar fugir
do peso de sua liberdade para a busca de novas dependências e para a
submissão a algum líder ou a alguma forma de autoridade. Este seria um
aspecto central da conformação específica do fenômeno contemporâneo
da alienação. Por um lado, a vida econômica, estruturada por um mercado
de trabalho cada vez mais indigno e seletivo, tende a empurrar as pessoas
para uma forma de individualismo negativo, contrário à realização da
liberdade e da autenticidade do eu. Tal realização exigiria formas de vida
contrárias ao caráter social alienado, caráter este que encontra profundas
afinidades com o perfil profissional individualista e desprendido exigido
hoje pelo “novo” capitalismo flexível. Essa realidade se intensifica diante
da desconstrução de direitos e da institucionalização da indignidade do
trabalho, entregando milhões de pessoas à condição econômica e existencial
de vulnerabilidade e descartabilidade.
Em consonância, a vida política também é seriamente comprometida,
na medida em que os mesmos indivíduos alienados na busca de segurança
material e realização pessoal, diante de uma sequência de frustrações podem
fugir dessa falsa liberdade e individualidade na submissão a líderes autoritários
que prometam alguma redenção. Esta possibilidade se amplia diante de
um processo, que acompanhamos agora, de banalização, novelização e
deslegitimação da esfera política no mundo inteiro, reduzida pela grande
mídia a um espaço de corrupção intrínseca e não de ação coletiva legítima.
Como consequência, a realização plena do eu, como idealizada por Fromm,
perde-se de seu caminho, confirmando o valor de sua análise sobre nossa
patologia da normalidade, que esconde suas verdadeiras razões, como ele
diria, no “espírito confuso” que domina a cultura capitalista. Sua obra, com
isso, é de grande valia para a compreensão da obscuridade em nosso tempo.

Fabrício Maciel é Doutor em Ciências Sociais, professor adjunto do Departamento de


Ciências Sociais da UFF Campos e professor permanente da Pós-Graduação em Sociologia
Política da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. Pesquisador do CNPq.
 macielfabricio@gmail.com

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A patologia da normalidade: Erich Fromm e a crítica da cultura capitalista contemporânea 287

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Recebido: 22 ago. 2019.


Aceito: 09 jan. 2020.

Sociologias, Porto Alegre, ano 22, n. 55, set-dez 2020, p. 262-288.


A patologia da normalidade: Erich Fromm e a crítica da cultura capitalista contemporânea 289

Sociologias, Porto Alegre, ano 22, n. 55, set-dez 2020, p. 262-288.

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